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www.cers.com.br LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL CARREIRA JURÍDICA 2014 Lei de Contravenções Penais Marcelo Uzeda 1 Conforme entendimento da doutrina, o DECRETO Nº 3688/1941 foi recepcionado pela Constituição Federal de 1988 como lei ordinária. CR, Art. 5º, XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal; Interpretação extensiva para incluir as contravenções penais como espécies do gênero infração penal. De acordo com o DECRETO-LEI Nº 3.914, DE 9 DE DEZEMBRO DE 1941 (Lei de introdução do Código Penal e da Lei das Contravenções Penais): Art 1º Considera-se CRIME a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; CONTRAVENÇÃO, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente. SISTEMA BIPARTIDO OU CRITÉRIO DICOTÔMICO:crimes (delitos) e contravenções Infração penal é gênero do qual são espécies os crimes e as contravenções. As contravenções, em tese, são espécies de infração penal de menor gravidade em relação aos crimes. Não há diferença substancial entre crimes e contravenções, considerando que as duas espécies caracterizam ilícitos penais. A diferença legal é meramente formal, em razão da gravidade (ou quantidade de pena). As Contravenções Penais, inclusive as previstas em outras leis especiais, em regra, são infrações de menor potencial ofensivo: Lei 9099/95, Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa. Exceções: 1) os arts. 45, 53 e 54 do Decreto-Lei n. 6.259/44, que não são de menor potencial ofensivo. 2) De acordo com a Jurisprudência UNÂNIME dos Tribunais Superiores, não se aplica a lei 9099/95 às Contravenções praticadas com violência contra a mulher, em razão da vedação do art. 41 da Lei Maria da Penha. ex.: vias de fato e importunação ofensiva ao pudor. Em sentido contrário, doutrina minoritária entende aplicável a lei 9099/95, interpretando restritivamente o art. 41, que usa a expressão crimes. De acordo com o STJ: Alinhando-se à orientação jurisprudencial concebida no seio do Supremo Tribunal Federal, a Terceira Seção deste Superior Tribunal de Justiça adotou o entendimento de serem inaplicáveis aos crimes e contravenções penais pautados pela Lei Maria da Penha, os institutos despenalizadores previstos na Lei n. 9.099/95, dentre eles, a suspensão condicional do processo. (HC 196.253/MS, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEXTA TURMA, julgado em 21/05/2013, DJe 31/05/2013) COMPETÊNCIA Justiça Estadual JECRIM O art. 109, inc. IV da CF: os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas

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Conforme entendimento da doutrina, o DECRETO Nº 3688/1941 foi recepcionado pela Constituição Federal de 1988 como lei ordinária. CR, Art. 5º, XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal; • Interpretação extensiva para incluir as

contravenções penais como espécies do gênero infração penal.

De acordo com o DECRETO-LEI Nº 3.914, DE 9 DE DEZEMBRO DE 1941 (Lei de introdução do Código Penal e da Lei das Contravenções Penais): Art 1º Considera-se CRIME a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; CONTRAVENÇÃO, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente. SISTEMA BIPARTIDO OU CRITÉRIO DICOTÔMICO:crimes (delitos) e contravenções • Infração penal é gênero do qual são

espécies os crimes e as contravenções. • As contravenções, em tese, são espécies

de infração penal de menor gravidade em relação aos crimes.

• Não há diferença substancial entre crimes e contravenções, considerando que as duas espécies caracterizam ilícitos penais.

• A diferença legal é meramente formal, em razão da gravidade (ou quantidade de pena).

As Contravenções Penais, inclusive as previstas em outras leis especiais, em regra, são infrações de menor potencial ofensivo: Lei 9099/95, Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa. Exceções: 1) os arts. 45, 53 e 54 do Decreto-Lei n. 6.259/44, que não são de menor potencial ofensivo. 2) De acordo com a Jurisprudência UNÂNIME dos Tribunais Superiores, não se aplica a lei 9099/95 às Contravenções praticadas com violência contra a mulher, em razão da vedação do art. 41 da Lei Maria da Penha. ex.: vias de fato e importunação ofensiva ao pudor. Em sentido contrário, doutrina minoritária entende aplicável a lei 9099/95, interpretando restritivamente o art. 41, que usa a expressão crimes. De acordo com o STJ: Alinhando-se à orientação jurisprudencial concebida no seio do Supremo Tribunal Federal, a Terceira Seção deste Superior Tribunal de Justiça adotou o entendimento de serem inaplicáveis aos crimes e contravenções penais pautados pela Lei Maria da Penha, os institutos despenalizadores previstos na Lei n. 9.099/95, dentre eles, a suspensão condicional do processo. (HC 196.253/MS, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEXTA TURMA, julgado em 21/05/2013, DJe 31/05/2013) COMPETÊNCIA – Justiça Estadual – JECRIM O art. 109, inc. IV da CF: os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas

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públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral; STJ Súmula nº 38: Compete à Justiça Estadual Comum, na vigência da Constituição de 1988, o processo por contravenção penal, ainda que praticada em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades. Segundo entendimento do STJ e a doutrina majoritária, as regras processuais de conexão e continência, se submetem à regra constitucional do art. 109, IV, da CR, determinando a separação obrigatória dos processos se houver conexão entre crime federal e contravenção. ATENÇÃO: Se o autor da contravenção for Juiz Federal será julgado pelo TRF, pois possui foro por prerrogativa de função. O critério funcional se sobrepõe à competência material. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. PENAL. CONTRAVENÇÃO. EXPLORAÇÃO DE JOGOS DE AZAR (ART. 50 DECRETO-LEI Nº 3.688/41). CONTRABANDO (ART. 334 DO CP). CONEXÃO. INVIABILIDADE DE JULGAMENTO PERANTE O MESMO JUÍZO. SÚMULA Nº 38/STJ. DESMEMBRAMENTO. 1. Apesar da existência de conexão entre o crime de contrabando e contravenção penal, mostra-se inviável a reunião de julgamentos das infrações penais perante o mesmo Juízo, uma vez que a Constituição Federal expressamente excluiu, em seu art. 109, IV, a competência da Justiça Federal para o julgamento das contravenções penais , ainda que praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da União. Súmula nº 38/STJ. Precedentes. 2. Firmando-se a competência do Juízo Federal para processar e julgar o crime de contrabando conexo à contravenção penal, impõe-se o desmembramento do feito, de sorte que a contravenção penal seja julgada perante o Juízo estadual. (CC 120.406/RJ, Rel. Ministra ALDERITA RAMOS DE OLIVEIRA (DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/PE), TERCEIRA

SEÇÃO, julgado em 12/12/2012, DJe 01/02/2013) CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. CONTRAVENÇÃO PENAL PRATICADA A BORDO DE AERONAVE. ARTIGO 109, INCISOS IV E IX, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988. SÚMULA Nº 38/STJ. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. 2. O artigo 109, inciso IX, da Constituição Federal de 1988, utilizado pelo Juízo suscitado para embasar o declínio da competência para o Juízo Federal, refere-se tão somente aos crimes cometidos a bordo de navios e aeronaves, excluídas, portanto, as contravenções penais. (CC 117.220/BA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 26/10/2011, DJe 07/12/2011) Art. 1° - Aplicam-se às contravenções as regras gerais do Código Penal, sempre que a presente Lei não disponha de modo diverso. Exemplos: abolitio criminis – art. 2º, CP. Novatio legis in mellius – art. 2º, p. único, CP Divergência: art. 14, p. único, CP x art. 4º, LCP. Além das regras gerais do CP, aplicam-se subsidiariamente, as disposições do Código de Processo Penal e da Lei 9.099/95. Art. 2° - A lei brasileira só é aplicável à contravenção praticada no território nacional. REGRA: TERRITORIALIDADE DA LCP. Não há extraterritorialidade da lei de contravenções penais. Divergência entre o art. 2º, LCP e o art. 7º, CP. De acordo com o STF, não é possível extradição de estrangeiro por Contravenção: A exploração ilícita de jogo e a exposição ilícita de material de jogo configuram contravenções penais no ordenamento jurídico brasileiro. A extensão, nesse ponto, não pode ser concedida, por expressa vedação do artigo 77, II, da Lei n. 6.815/80.

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(Ext 787 extensão, Relator(a): Min. EROS GRAU, Tribunal Pleno, julgado em 23/03/2006) Art. 3° - Para a existência da contravenção, basta a ação ou omissão voluntária. Deve-se, todavia, ter em conta o dolo ou a culpa, se a lei faz depender, de um ou de outra, qualquer efeito jurídico. • Trata-se de disposição elaborada à luz da

Teoria Psicológico-normativa, em que dolo e culpa eram espécies de culpabilidade.

• De acordo com a doutrina, o artigo foi revogado tacitamente, pela reforma de 1984 do Código Penal.

• Aplica-se o artigo 18, CP (dolo e culpa). Art. 4° - Não é punível a tentativa de contravenção. “ITER CONTRAVENCIONIS” • No aspecto fático, obviamente, é possível

tentar-se praticar uma contravenção, mas o legislador trata a hipótese como irrelevante penal.

• Pode-se dizer que é atípica a tentativa de contravenção.

• Para Damásio, há exclusão da ilicitude. Aplicam-se: Art. 14, I, CP – contravenção consumada. Art. 16, CP – arrependimento posterior. Art.17, CP – crime impossível. • Dificilmente será aplicado o artigo 15, CP –

desistência voluntária e arrependimento eficaz – pois, na maioria das contravenções, não há resultado naturalístico ou este não é exigido para consumação.

• Em sua maioria, trata-se de infrações de perigo abstrato. Exceção: art. 29, LCP.

REINCIDÊNCIA Art. 7° - Verifica-se a reincidência quando o agente pratica uma contravenção depois de passar em julgado a sentença que o tenha condenado, no Brasil ou no estrangeiro, por qualquer crime, ou, no Brasil, por motivo de contravenção.

Atenção! A contravenção penal no estrangeiro não gera reincidência no Brasil, conforme o disposto no art. 2º da LCP. Combinando-se o art.7º da LCP com o artigo 63 do CP, temos as seguintes situações de reincidência:

ERRO DE DIREITO Art. 8° - No caso de ignorância ou de errada compreensão da lei, quando escusáveis, a pena pode deixar de ser aplicada. De acordo com a doutrina, o artigo 8º trata da ignorância da lei e da errada compreensão da lei. A Ignorantia legis é o desconhecimento da existência da lei – erro de direito. De acordo com o art. 21 do Código Penal, o desconhecimento da lei é inescusável, sendo tratado como mera atenuante (art. 65, II, CP). De acordo com a doutrina, nesse caso, a Lei de Contravenções Penais deve ser aplicada, porque é mais benéfica, já que a ignorância legis enseja o perdão judicial – causa de extinção da punibilidade. Todavia, quanto à errada compreensão da lei – erro de proibição – o art. 8º da Lei de Contravenções Penais estaria tacitamente revogado pelo art. 21 do Código Penal, que permite a isenção de pena – excludente de culpabilidade -, em caso de erro escusável. Art. 5° - As penas principais são: I - prisão simples; II – multa. • Aplicação da pena privativa de liberdade

segue o critério trifásico - art. 68, CP.

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• A pena de multa também segue os critérios do CP (art. 49 e 60).

PRISÃO SIMPLES (PRIVATIVA DE LIBERDADE) Art. 6° - A pena de prisão simples deve ser cumprida, SEM RIGOR PENITENCIÁRIO, em ESTABELECIMENTO ESPECIAL ou seção especial de prisão comum, em regime SEMIABERTO ou ABERTO. § 1° - O condenado à pena de prisão simples fica sempre separado dos condenados à pena de reclusão ou de detenção. § 2° - O trabalho é facultativo, se a pena aplicada não excede a 15 (quinze) dias. Regras: • Cumprimento da pena em regime aberto ou

semi-aberto. • É vedada a imposição de regime fechado,

ressalvada a hipótese de transferência, à luz do artigo 33, CP.

• Sem rigor penitenciário. • Estabelecimento prisional especial ou

seção especial de prisão comum. • Separação obrigatória em relação aos

presos condenados à reclusão ou detenção.

• No caso de prisão até 15 dias, o trabalho é facultativo.

LIMITE DA PENA Art. 10 - A duração da pena de prisão simples não pode, em caso algum, ser superior a 5 (cinco) anos, nem a importância das multas ultrapassar cinqüenta contos de réis. • O tempo máximo de prisão simples é de 5

ANOS. Mesmo que haja concurso de contravenções, a pena unificada não deve ultrapassar esse limite.

• As causas de aumento e redução de pena da parte geral do CP aplicam-se às contravenções.

SURSIS E LIVRAMENTO CONDICIONAL

Art. 11 - Desde que reunidas as condições legais, o juiz pode suspender, por tempo não inferior a 1 (um) ano nem superior a 3 (três), a execução da pena de prisão simples, bem como conceder livramento condicional. • Sursis – regras dos art. 77 a 82, CP – com

Prazo especial de 1 a 3 anos. • Livramento condicional – ART. 83 a 89, CP. Art. 9° - A multa converte-se em prisão simples, de acordo com o que dispõe o Código Penal sobre a conversão de multa em detenção. Parágrafo único - Se a multa é a única pena cominada, a conversão em prisão simples se faz entre os limites de 15 (quinze) dias e 3 (três) meses. • De acordo com a doutrina, tal norma foi

REVOGADA, uma vez que o art. 51, CP veda a conversão da multa em prisão, sendo considerada dívida de valor e executada na Vara da Fazenda Pública.

PENAS ACESSÓRIAS • É AMPLAMENTE MAJORITÁRIO o

entendimento da doutrina de que O ARTIGO 12 FOI REVOGADO pela reforma penal de 1984, que aboliu as penas acessórias, convolando-as em efeitos da condenação.

• Nucci entende que não houve revogação. Art. 12 - As penas acessórias são a publicação da sentença e as seguintes interdições de direitos: I - a incapacidade temporária para profissão ou atividade, cujo exercício dependa de habilitação especial, licença ou autorização do poder público; II - a suspensão dos direitos políticos. Parágrafo único - Incorrem: a) na interdição sob nº I, por 1 (um) mês a 2 (dois) anos, o condenado por motivo de contravenção cometida com abuso de

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profissão ou atividade ou com infração de dever a ela inerente; b) na interdição sob n° II, o condenado à

pena privativa de liberdade, enquanto dure a execução da pena ou a aplicação da medida de segurança detentiva.

SUBSTITUIÇÃO DAS PENAS De acordo com a doutrina e a jurisprudência, é cabível a aplicação dos art. 44 e seguintes do CP, no tocante à substituição das penas privativas de liberdade por restritivas de direitos e/ou multa. É possível a substituição da pena nas vias de fato (art. 21), mesmo se tratando de violência contra a mulher. De acordo com o STJ: 1. Constatando-se que a sanção imposta foi inferior a 4 (quatro) anos e que se cuida da contravenção penal prevista no art. 21 do Decreto-Lei 3.888/41 - vias de fato - infração de natureza menos grave, POSSÍVEL E SOCIALMENTE RECOMENDÁVEL a substituição da sanção privativa de liberdade por restritivas de direitos, desde que não se resuma ao pagamento de cestas básicas, de prestação pecuniária ou de multa, isoladamente, como expressamente determinado no art. 17 da Lei 11.340/06 (Lei Maria da Penha). Precedente deste STJ. 2. A concessão da permuta, na espécie, de forma alguma colidiria com a proposta de combate à violência doméstica, tendo em vista a sua adequação às finalidades da aplicação da pena, que são a retribuição e a ressocialização do condenado, servindo ainda para prevenção geral, na medida em que afasta a idéia de impunidade. 3. O deferimento do benefício também não ofenderia o previsto no art. 41 da Lei Maria da Penha, pois aqui o que se impede é a aplicação das medidas benéficas previstas na Lei 9.099/95 aos delitos cometidos no âmbito doméstico ou familiar contra a mulher, independentemente da pena prevista ou efetivamente aplicada.

(HC 207.978/MS, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 27/03/2012, DJe 13/04/2012) Art. 13 - Aplicam-se, por motivo de contravenção, as medidas de segurança estabelecidas no Código Penal, à exceção do exílio local. • De acordo com a doutrina, os artigos 13 a

15 estão REVOGADOS, pois se referem ao período em que o Código Penal adotava o sistema do duplo binário (aplicação cumulativa de pena e medida de segurança).

• A reforma de 1984 adotou o Sistema Vicariante, com aplicação de pena para os imputáveis e de medida de segurança para os inimputáveis.

ARTIGO REVOGADO Art. 15 - São internados em colônia agrícola ou em instituto de trabalho, de reeducação ou de ensino profissional, pelo prazo mínimo de 1 (um) ano: I - o condenado por vadiagem (art. 59). II - o condenado por mendicância (art. 60 e seu parágrafo). III - (Revogado pela Lei n.º 6.416, de 24.05.77.) PRESUNÇÃO DE PERICULOSIDADE REVOGADA. Art. 14 - Presumem-se perigosos, além dos indivíduos a que se referem os ns. I e II do art. 78 do Código Penal: I - o condenado por motivo de contravenção cometida em estado de embriaguez pelo álcool ou substância de efeitos análogos, quando habitual a embriaguez; II - o condenado por vadiagem ou mendicância; Art. 16 - O prazo mínimo de duração da internação em manicômio judiciário ou em casa de custódia e tratamento é de 6 (seis) meses. Parágrafo único - O juiz, entretanto, pode, ao invés de decretar a internação, submeter o indivíduo a liberdade vigiada.

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• 1) O prazo mínimo da medida de segurança de internação é de 6 MESES.

• 2) O juiz pode aplicar a substituição da Medida de Segurança por liberdade vigiada.

DAMÁSIO afirma que deve prevalecer a regra do artigo 97 do CP: Art. 97 - Se o agente for inimputável, o juiz determinará sua internação (art. 26). Se, todavia, o fato previsto como crime for punível com detenção, poderá o juiz submetê-lo a tratamento ambulatorial. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Prazo § 1º - A internação, ou tratamento ambulatorial, será por tempo indeterminado, perdurando enquanto não for averiguada, mediante perícia médica, a cessação de periculosidade. O prazo mínimo deverá ser de 1 (um) a 3 (três) anos. Conforme orientação majoritária da doutrina, não se aplica mais da liberdade vigiada, em face de sua extinção pela reforma da parte geral do Código Penal em 1984. Em sentido contrário, NUCCI entende que o parágrafo continua em vigor, aplicando-se a liberdade vigiada ao contraventor, por ser mais favorável. Art. 17 - A ação penal é pública, devendo a autoridade proceder de ofício. • O processo das Contravenções Penais se

dá por meio de Ação Penal Pública Incondicionada.

• Rito: sumaríssimo, em regra, se tramitar no JECRIM.

• Se tramitar no juízo comum, o rito é sumário.

• Fase pré-processual – termo circunstanciado/inquérito policial.

PARTE ESPECIAL

CONTRAVENÇÕES PENAIS EM ESPÉCIE

Art. 18 - Fabricar, importar, exportar, ter em depósito ou vender, sem permissão da autoridade, arma ou munição:

Pena - prisão simples, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa, ou ambas cumulativamente, se o fato não constitui crime contra a ordem política ou social. • Segundo a maioria, a vigência do art.18

restringe-se às ARMAS BRANCAS. • O artigo foi derrogado pela Lei de Armas

de Fogo (Lei n.º 9.437/97), posteriormente, revogada pelo Estatuto de Desarmamento - Lei 10826/2003.

Se o objeto material é arma de fogo/munição: 1) ter em depósito ou vender estão

tipificados na lei 10826/2003, nos artigos 14 (arma/munição de uso permitido) ou 16 (arma/munição de uso proibido).

2) Vender, fabricar no exercício de atividade comercial ou industrial, configura o crime é de comércio ilegal - art.17.

3) importar e exportar caracterizam o crime de trafico internacional de arma de fogo, - art. 18 do Estatuto.

Art. 19 - TRAZER CONSIGO ARMA fora de casa ou de dependência desta, sem licença da autoridade: Pena - prisão simples, de 15 (quinze) dias a 6 (seis) meses, ou multa, ou ambas cumulativamente. § 1° - A pena é aumentada de um terço até metade, se o agente já foi condenado, em sentença irrecorrível, por violência contra pessoa. Segundo a doutrina, a vigência do art. 19 restringe-se às ARMAS BRANCAS. § 2° - Incorre na pena de prisão simples, de 15 (quinze) dias a 3 (três) meses, ou multa, quem, possuindo arma ou munição: a) deixa de fazer comunicação ou entrega à autoridade, quando a lei o determina; b) permite que alienado, menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa inexperiente no manejo de arma a tenha consigo; c) omite as cautelas necessárias para impedir que dela se apodere facilmente alienado, menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa inexperiente em manejá-la.

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1. Conforme entendimento adotado por esta Corte Superior de Justiça, o art. 19 da Lei de Contravenções Penais não foi revogado pela Lei n.º 9.437/97 - que instituiu o Sistema Nacional de Armas e tipificou como crime o porte ilegal de arma de fogo - mas tão somente DERROGADA, na medida em que ainda CONTINUA EM VIGOR EM RELAÇÃO À ARMA BRANCA. (HC 255.192/MG, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 02/04/2013) Aplica-se a este artigo, o mesmo raciocínio utilizado no artigo anterior, quanto à derrogação e à manutenção da vigência para a arma branca, desde que tenha potencialidade lesiva e que seja manuseada como arma. “TRAZER CONSIGO” significa ter a pronta disponibilidade do uso da arma, que deve estar junto ao corpo ou em local de fácil acesso. Caso o sujeito esteja somente transportando a arma branca, não se caracterizará a contravenção, pela ausência da intenção de usar o objeto como arma. É pacífico o entendimento na jurisprudência que esta Contravenção Penal se classifica como de mera conduta e de perigo abstrato. O simples porte indevido da arma branca já configura Contravenção Penal, independentemente de demonstração de causar perigo a alguém. OBS: É efeito da condenação – o confisco da arma branca ou perdimento em favor da União, conforme art. 91, inc. I, “a” do Código Penal – jurisprudência do STF e do STJ. Art. 21 - Praticar VIAS DE FATO contra alguém: Pena - prisão simples, de 15 (quinze) dias a 3 (três) meses, ou multa, se o fato não constitui crime. • Norma subsidiária - somente é aplicável

se o fato não constituir crime (ex. injúria real).

Parágrafo único. Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) até a metade se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos. • O parágrafo único foi acrescentado pelo

Estatuto do Idoso. VIAS DE FATO se caracterizam como toda agressão física sem dolo de lesionar. Ex.: empurrão, bofetada, puxar cabelo, arremesso de líquido contra a pessoa, rasgar roupa da pessoa, tapas, causando eritemas (vermelhidão). • A Lei 9.099/95 transformou a lesão

corporal leve em crime de Ação Penal Pública Condicionada à representação (art. 88).

• Segundo parte da doutrina, deveria ser a ação penal pública condicionada à representação também para a contravenção vias de fato.

• Segundo o STJ e o STF, a Contravenção Penal de vias de fato continua sendo de Ação Penal Publica Incondicionada (STF - HC 80058/RJ (02.09.07), não ensejando, a lei 9099/95, qualquer alteração na lei de contravenções penais.

Art. 24 - FABRICAR, CEDER OU VENDER gazua ou instrumento empregado usualmente na prática de crime de furto: Pena - prisão simples, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. • “Gazua” é chave falsa, mixa. • Condutas: fabricar, ceder ou vender este

instrumento. • Se o agente é surpreendido adquirindo

“gazua” o fato é atípico. Também não comete receptação, porque se trata de produto de contravenção penal e o objeto material da receptação é produto de crime.

• A contravenção do art. 24 não se caracteriza para qualquer crime patrimonial, somente para crime de furto.

• O objeto material deve ter destinação própria para prática de furto, atentando-se para o termo usualmente, sendo necessário o exame pericial para a sua caracterização.

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Art. 25 - Ter alguém em seu poder, depois de condenado por crime de furto ou roubo, ou enquanto sujeito à liberdade vigiada ou quando conhecido como vadio ou mendigo, gazuas, chaves falsas ou alteradas ou instrumentos empregados usualmente na prática de crime de furto, desde que não prove destinação legítima: Pena - prisão simples, de 2 (dois) meses a 1 (um) ano, e multa. • Conduta: ter em seu poder (possuir). • Objeto material é chave falsa ou

instrumento usualmente utilizado na prática de furto.

• Sujeito ativo é o condenado definitivo por furto ou roubo, o vadio ou, ainda, o mendigo.

• Se o sujeito usa a chave falsa para furtar alguma coisa, a contravenção penal configura ato preparatório para o furto qualificado, sendo, a contravenção absorvida.

• A doutrina entende que o dispositivo é inconstitucional, por criar uma presunção de periculosidade não mais admitida por nosso sistema constitucional.

No julgamento do Recurso Extraordinário (RE) 583523, o Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF), por unanimidade, declarou NÃO RECEPCIONADO pela Constituição Federal (CF) de 1988 o artigo 25 da Lei de Contravenções Penais (LCP), ... Informativo 722/STF: O art. 25 da Lei de Contravenções Penais não é compatível com a Constituição de 1988, por violar os princípios da dignidade da pessoa humana (CF, art. 1º, III) e da isonomia (CF, art. 5º, caput e I). No mérito, destacou-se que o princípio da ofensividade deveria orientar a aplicação da lei penal, de modo a permitir a aferição do grau de potencial ou efetiva lesão ao bem jurídico protegido pela norma. Observou-se que, não obstante a contravenção impugnada ser de mera conduta, exigiria, para a sua configuração, que o agente tivesse sido condenado anteriormente por furto ou roubo; ou que estivesse em

liberdade vigiada; ou que fosse conhecido como vadio ou mendigo. Assim, salientou-se que o legislador teria se antecipado a possíveis e prováveis resultados lesivos, o que caracterizaria a presente contravenção como uma infração de perigo abstrato. Frisou-se que a LCP fora concebida durante o regime ditatorial e, por isso, o anacronismo do tipo contravencional. Asseverou-se que a condição especial “ser conhecido como vadio ou mendigo”, atribuível ao sujeito ativo, criminalizaria, em verdade, qualidade pessoal e econômica do agente, e não fatos objetivos que causassem relevante lesão a bens jurídicos importantes ao meio social. Consignou-se, no ponto, a inadmissão, pelo sistema penal brasileiro, do direito penal do autor em detrimento do direito penal do fato. No que diz respeito à consideração da vida pregressa do agente como elementar do tipo, afirmou-se o não cabimento da presunção de que determinados sujeitos teriam maior potencialidade de cometer novas infrações penais. Por fim, registrou-se que, sob o enfoque do princípio da proporcionalidade, a norma em questão não se mostraria adequada e necessária, bem como afrontaria o subprincípio da proporcionalidade em sentido estrito. (...), em acréscimo, que a tipificação em comento contrariaria, também, o princípio da presunção de inocência, da não culpabilidade. RE 583523/RS, rel. Min. Gilmar Mendes, 3.10.2013. Art. 28 - Disparar arma de fogo em lugar habitado ou em suas adjacências, em via pública ou em direção a ela: Pena - prisão simples, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa. Parágrafo único - Incorre na pena de prisão simples, de 15 (quinze) dias a 2 (dois) meses, ou multa, quem, em lugar

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habitado ou em suas adjacências, em via pública ou em direção a ela, sem licença da autoridade, causa deflagração perigosa, QUEIMA FOGO DE ARTIFÍCIO ou solta balão aceso. QUEIMAR FOGOS DE ARTIFÍCIO – é a única conduta do art. 28 que mantém vigência. Há contravenção quando não há licença da autoridade, conforme a potencialidade lesiva dos fogos de artifício. Os fogos que possuem queima livre não precisam de autorização. DISPARO DE ARMA DE FOGO - revogada, configura o crime do art. 15 do Estatuto do Desarmamento. CAUSAR DEFLAGRAÇÃO PERIGOSA – revogada pelo art. 251, §1º do Código Penal e art. 16, parágrafo único, inc. III da L.10826/2003. SOLTAR BALÃO ACESO - revogada. Trata-se de crime ambiental (art. 42, Lei 9605/98). Art.31 - Deixar em liberdade, confiar à guarda de pessoa inexperiente, ou não guardar com a devida cautela animal perigoso: Pena - prisão simples, de 10 (dez) dias a 2 (dois) meses, ou multa. ELEMENTO SUBJETIVO: CULPA – OMISSÃO DE CAUTELA - NEGLIGÊNCIA Para haver a contravenção, a omissão é relativa a animal perigoso, capaz de causar danos a alguém. CONTRAVENÇÃO DE PERIGO CONCRETO Parágrafo único - Incorre na mesma pena quem: a) na via pública, abandona animal de tiro, carga ou corrida, ou o confia a pessoa inexperiente; b) excita ou irrita animal, expondo a perigo a segurança alheia; c) conduz animal, na via pública, pondo em perigo a segurança alheia. ELEMENTO SUBJETIVO: dolo

Art. 32 - Dirigir, sem a devida habilitação, veículo na via pública, ou embarcação a motor em águas públicas: Pena - multa. Derrogado quanto à direção de veículo automotor pelo art. 309/CTB. Continua em vigor quanto à condução inabilitada de embarcação a motor em águas públicas. Contravenção Penal de perigo abstrato. Súmula 720/STF O ART. 309 DO CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO, QUE RECLAMA DECORRA DO FATO PERIGO DE DANO, DERROGOU O ART. 32 DA LEI DAS CONTRAVENÇÕES PENAIS NO TOCANTE À DIREÇÃO SEM HABILITAÇÃO EM VIAS TERRESTRES. De acordo com a súmula 720, se a conduta não gerar perigo de dano, é mera infração administrativa do CTB. Se gerar perigo de dano, ocorre o crime do art. 309, CTB. Art. 34 - Dirigir veículos na via pública, ou embarcações em águas públicas, pondo em perigo a segurança alheia: Pena - prisão simples, de 15 (quinze) dias a 3 (três) meses, ou multa. • Segundo o STF (HC 86276/MG), o art.

34/LCP ainda continua em vigor quanto à direção perigosa de veículo automotor, nas hipóteses não abrangidas pelos crimes tipificados no CTB

Ex.: cavalo de pau; freadas bruscas; trafegar na contramão; ultrapassar pela direita. Modalidades de direção perigosa no CTB:

• Embriaguez ao volante (art. 306) • Racha (art. 308) • Dirigir sem habilitação (art. 309)

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• Excesso de velocidade ou velocidade incompatível (art. 311)

“VIAS PÚBLICAS” - São as vias de acesso ao público (ruas, estradas,etc.). Estacionamento de supermercado, shopping etc segundo a jurisprudência MAJORITÁRIA, NÃO caracteriza via pública. Art. 42 - Perturbar alguém, o trabalho ou o sossego alheios: I - com gritaria ou algazarra; II - exercendo profissão incômoda ou ruidosa, em desacordo com as prescrições legais; III - abusando de instrumentos sonoros ou sinais acústicos; IV - provocando ou não procurando impedir barulho produzido por animal de que tem guarda: Pena - prisão simples, de 15 (quinze) dias a 3 (três) meses, ou multa. Elemento subjetivo: dolo de perturbar. A expressão “alheios” faz concluir que a perturbação de uma única pessoa não configura esta contravenção. O STF, no HC 85032/RJ, decidiu que a perturbação deve alcançar um numero considerável de pessoas. Devem ser considerados outros aspectos, tais como costumes e cultura. Segundo o STJ (HC 54536/MS), se ocorrer poluição sonora em níveis prejudiciais à saúde humana, haverá crime ambiental. Art. 45 - Fingir-se funcionário público: Pena - prisão simples, de 1 (um) a 3 (três) meses, ou multa. • Sujeito Ativo: Qualquer pessoa. • Segundo a doutrina minoritária, o

funcionário público pode ser sujeito ativo se fingir ocupar cargo diverso do que exerce.

• Corrente majoritária: caracteriza apenas infração administrativa.

• Não se exige reiteração, bastando uma ação para consumar a contravenção – não é crime habitual.

• Se a intenção do agente é obter vantagem ou causar prejuízo da outrem, presente estará o crime de estelionato (art.171) ou o crime de falsa identidade do art. 307 do Código penal.

• Na contravenção, a finalidade do agente é somente satisfazer a própria vaidade.

• Se o particular praticar ato privativo de funcionário público, responde pelo crime de usurpação de função pública. (art. 328/CP).

Art. 47 - Exercer profissão ou atividade econômica ou anunciar que a exerce, sem preencher as condições a que por lei está subordinado o seu exercício: Pena - prisão simples, de 15 (quinze) dias a 3 (três) meses, ou multa. • Só haverá Contravenção Penal se a

profissão ou atividade for realizada sem cumprimento das exigências legais (norma penal em branco).

• Segundo a doutrina, o art. 47 busca garantir sejam determinadas profissões exercidas por profissionais habilitados, coibindo o abuso e a dissimulação em desfavor daqueles que acreditam estar diante de profissionais aptos.

• A Contravenção existe mesmo que não haja finalidade de lucro ou prejuízo a terceiros.

• De acordo com o STF, se não houver lei regulamentando atividade, o fato é atípico.

STF: Impossibilidade de prosseguimento da ação penal quanto à acusação de exercício ilegal da profissão de árbitro, ou mediador. Ausência de requisito necessário à configuração do delito, contido na expressão "sem preencher as condições a que por lei está subordinado o seu exercício". Profissão cuja regulamentação é objeto de Projeto de Lei, em trâmite no Congresso Nacional. (HC 92183, 1ªTurma, 18/03/2008). • Outras figuras mais graves:

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� Exercício ilegal de profissão de médico, dentista ou farmacêutico (art. 282,CP).

� Se o agente exercer atividade da qual está impedido por decisão administrativa, responde pelo crime do art. 205, CP.

� Se exercer atividade ou profissão da qual está suspenso ou privado por decisão judicial pratica o crime do art. 359,CP.

GUARDADOR DE AUTOMÓVEIS/FLANELINHA De acordo com o STJ: Assim, a simples ausência de inscrição no órgão competente, em casos como o presente, em que não se exige do profissional conhecimento especial ou habilitação específica, não tipifica o delito, inexistindo justificativa para a intervenção do Direito Penal. (HC 190.186/RS, QUINTA TURMA, DJe 14/06/2013) De acordo com o STF: I – A profissão de guardador e lavador autônomo de veículos automotores está regulamentada pela Lei 6.242/1975, que determina, em seu art. 1º, que o seu exercício “depende de registro na Delegacia Regional do Trabalho competente”. II – Entretanto, a não observância dessa disposição legal pelos pacientes não gerou lesão relevante ao bem jurídico tutelado pela norma, bem como não revelou elevado grau de reprovabilidade, razão pela qual é aplicável, à hipótese dos autos, o princípio da insignificância. (...) V - Como é cediço, o Direito Penal deve ocupar-se apenas de lesões relevantes aos bens jurídicos que lhe são caros, devendo atuar sempre como última medida na prevenção e repressão de delitos, ou seja, de forma subsidiária a outros instrumentos repressivos. In casu, a questão pode ser facilmente resolvida na esfera administrativa. (HC 115046, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma, julgado em 19/03/2013)

Art. 50 - Estabelecer ou explorar JOGO DE AZAR em lugar público ou acessível ao público, mediante o pagamento de entrada ou sem ele: Pena - prisão simples, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa, estendendo-se os efeitos da condenação à perda dos móveis e objetos de decoração do local. § 1° - A pena é aumentada de um terço, se existe entre os empregados ou participa do jogo pessoa menor de 18 (dezoito) anos. § 2° - Incorre na pena de multa, quem é encontrado a participar do jogo, como ponteiro ou apostador. § 3° - Consideram-se jogos de azar: a) o jogo em que o ganho e a perda dependem exclusiva ou principalmente da sorte; b) as apostas sobre corrida de cavalos fora de hipódromo ou de local onde sejam autorizadas; c) as apostas sobre qualquer outra

competição esportiva. § 4° - Equiparam-se, para os efeitos penais, a lugar acessível ao público: a) a casa particular em que se realizam jogos de azar, quando deles habitualmente participam pessoas que não sejam da família de quem a ocupa; b) o hotel ou casa de habitação coletiva, a cujos hóspedes e moradores se proporciona jogo de azar; c) a sede ou dependência de sociedade ou associação, em que se realiza jogo de azar; d) o estabelecimento destinado à exploração de jogo de azar, ainda que se dissimule esse destino. • A lei pune o dono do local e o responsável

pelo negócio, inclusive, na hipótese de cassino clandestino. Será partícipe, o funcionário que colabora com a efetivação do negócio no estabelecimento.

• Núcleos: estabelecer (organizar, instituir), explorar (auferir lucro)

• Jogo de azar: §3º - cujo ganho ou perda dependem exclusivamente da sorte.

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• O Jogo do bicho, previsto no art. 58 da Lei de contravenções penais, foi revogado pelo decreto lei 6259/44 que passou a regulamentar o tema.

EXPLORAÇÃO DE MÁQUINA CAÇA-NÍQUEL 1. Para que se vislumbre a suposta prática do crime de descaminho é necessário que haja indícios acerca da origem estrangeira das mercadorias, já que a adequação típica se perfaz justamente quando o agente introduz no mercado interno produto sem o devido recolhimento, no todo ou em parte, do respectivo tributo. 2. Não sendo possível atestar a procedência estrangeira das máquinas eletrônicas apreendidas, ressaltando que o laudo de exame pericial sequer indicou o fabricante ou fornecedor do produto, permanece a competência da Justiça Estadual para processar e julgar o feito. (CC 117.352/RJ, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 28/09/2011, DJe 07/12/2011) A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é assente em afirmar que a EXPLORAÇÃO E FUNCIONAMENTO das máquinas de jogos eletrônicos, caça-níqueis, bingos e similares é de natureza ilícita, revelando prática contravencional descrita no art. 50 da Lei de Contravenções Penais. (RMS 21.422/PR, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma, julgado em 16.12.2008, DJe 18.2.2009.). Precedentes. Súmula 83/STJ. Ademais, ficou decidido por esta Corte que a Lei Complementar n.116/2003 não legitima a prática de jogos de azar, como os denominados caça-níqueis, deixando de prever, expressamente, que se enquadram no conceito de diversões eletrônicas; e que também não revogou a norma contida no art. 50 do Decreto-Lei n. 3.688/1941 (Lei de Contravenções Penais). Sobretudo, em razão da realização de jogos de azar, sem amparo legal, vulnerar a ordem pública, a economia popular e o direito dos consumidores (além de infringir a legislação penal, notadamente os arts. 50 e 51 da Lei de Contravenções Penais).

(Precedente: REsp 813.222/RS, Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em 8.9.2009, DJe 4.5.2011.) Dessa forma, impossível prestar suporte à ação interposta pela recorrente visando que lhe fosse garantido o regular exercício do direito de explorar as atividades de bingo, sob o fundamento de que é lícita a exploração da atividade. Agravo regimental improvido. (AgRg no AREsp 98.031/SP, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 19/02/2013, DJe 25/02/2013) VADIAGEM Art. 59 - Entregar-se alguém habitualmente à ociosidade, sendo válido para o trabalho, sem ter renda que lhe assegure meios bastantes de subsistência, ou prover a própria subsistência mediante ocupação ilícita: Pena - prisão simples, de 15 (quinze) dias a 3 (três) meses. Parágrafo único - A aquisição superveniente de renda, que assegure ao condenado meios bastantes de subsistência, extingue a pena. • Fundamento: a cautela com a ociosidade,

presumindo-se que quem não pode prover a subsistência, seguirá na direção da prática de crimes contra o patrimônio.

• Entregar-se à ociosidade: conduta omissiva habitual

• sendo apto para o trabalho - o sujeito não trabalha porque não quer.

• Prover a própria subsistência mediante ocupação ilícita: conduta comissiva habitual daqueles que optam se manter através de atividades ilícitas.

Art. 61 - Importunar alguém, em lugar público ou acessível ao público, de modo ofensivo ao pudor: Pena - multa. • Segundo Nelson Hungria, pudor é o

sentimento de timidez ou de vergonha de que se sente possuída a pessoa normal

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diante de certos fatos ou atos que ferem a decência.

• A Contravenção é de forma livre, podendo

ser realizada através de palavras, atos ou gestos, configurando-se quando praticada em local público ou de acesso ao público.

• Não se confunde com o ato obsceno (art.233, CP), no qual o agente pretende ser visto ou assume o risco de ser visto, praticando ato que o expõe.

Segundo a jurisprudência desta Corte, o contato físico do Acusado com as vítimas, consistente em passar as mãos nas nádegas e pernas para satisfazer a lascívia, é suficiente para caracterizar o delito de atentado violento ao pudor. Precedentes. (AgRg no AgRg no AREsp 152.704/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 18/06/2013, DJe 01/07/2013) Esta Corte Superior tem entendimento pacífico quanto à caracterização do crime de atentado violento ao pudor por meio de atos libidinosos de diferentes níveis, inclusive os toques e contatos voluptuosos. (AgRg nos EDcl no AREsp 44.854/MG, Rel. Ministro CAMPOS MARQUES (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/PR), QUINTA TURMA, julgado em 09/04/2013, DJe 15/04/2013) Art. 63 - Servir bebidas alcoólicas: I - a menor de 18 (dezoito) anos; II - a quem se acha em estado de embriaguez; III - a pessoa que o agente sabe sofrer das faculdades mentais; IV - a pessoa que o agente sabe estar judicialmente proibida de frequentar lugares onde se consome bebida de tal natureza: Pena - prisão simples, de 2 (dois) meses a 1 (um) ano, ou multa. • Em relação aos menores de 18 anos, parte

da doutrina entende que a venda da bebida a menores caracterizaria crime do ECA e não contravenção.

• Em sentido contrário, sustenta-se que a contravenção continuaria em vigor, por apontar especificamente a bebida alcoólica.

• Nessa linha, o STJ afirma que o art. 81 do ECA faz distinção entre bebidas alcoólicas e outras substancias.

• Assim, a tipificação do art. 243 do ECA envolve somente as referidas substâncias, configurando-se a contravenção para as bebidas alcoólicas:

“A entrega a consumo de bebida alcoólica a menores é comportamento deveras reprovável. No entanto, é imperioso, para o escorreito enquadramento típico, que se respeite a pedra angular do Direito Penal, o princípio da legalidade. Nesse cenário, em prestígio à interpretação sistemática, levando em conta os arts. 243 e 81 do ECA, e o art. 63 da Lei de Contravenções Penais, de rigor é o reconhecimento de que neste último comando enquadra-se o comportamento em foco”. (HC 167.659/MS, 6ª TURMA, DJe 20/02/2013)