14
1 2 E-mail: [email protected] E-mail: [email protected] Resumo Abstract O presente trabalho discute os usos do termo motivação na psicologia, apresentado resumida e superficialmente as origens históricas da pesquisa da motivação humana e alguns problemas epistemológicos na conceituação de motivos. O presente trabalho traz ainda uma pequena amostra da variedade das definições de motivação encontradas nos compêndios de psicologia. São discutidos também os conceitos de ciência, psicologia e a questão das hierarquias nos motivos humanos, enfatizando-se a necessidade de reconhecer como relevantes, no estudo da motivação, processos de interação: (1) como certos comportamentos, em determinadas condições, invariavelmente ocorrem depois de certas alterações no meio ambiente; (2) como certas alterações no ambiente, em determinadas condições, são seguidas por certos comportamentos e não por outros possíveis; (3) como certos comportamentos ocorrem ciclicamente, mesmo na ausência de alterações no ambiente; (4) como certos comportamentos, em determinadas condições, ocorrem mesmo na ausência de alterações no ambiente; (5) como certas alterações no ambiente passam a fazer parte de interações organismo-ambiente e outras não. Palavras-chave: Motivação; Usos do termo motivação, Psicologia This article discusses the uses of the term motivation in the psychological field, presenting, briefly and superficially, historical origins of human motivation research and a few epistemological problems related to conceptualization of motives. This article also presents a brief overview of the variety of definitions of motivation, found in psychological books and manuals. Also discussed are the concepts of science, psychology, and the issue about human motives hierarchies, emphasizing the need to recognize interaction processes as relevant in the study of motivation: (1) how certain behaviors, under certain conditions, invariably occur after certain environmental changes; (2) how certain environmental changes, under certain conditions, are followed by certain behaviors, not others that would be possible; (3) how certain behaviors occur cyclic, even in the absence of environmental changes, (4) how certain behaviors, under certain conditions, occur even in the absence of environmental changes; and (5) how certain environmental changes happen to be part of organism-environment interactions, while others don't. Key-words: Motivation; Uses of the term motivation, Psychology ISSN 1517-5545 2005, Vol. VII, nº 1, 119-132 Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva 119 O Conceito de Motivação na Psicologia The Concept of Motivation in Psychology João Cláudio Todorov Márcio Borges Moreira 1 2 Universidade Católica de Goiás Universidade de Brasília Universidade Católica de Goiás - Universidade de Brasília Instituto de Educação Superior de Brasília.

AULA 1 e 2 - ARTIGO - O Conceito de Motivação na Psicologia

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: AULA 1 e 2 - ARTIGO - O Conceito de Motivação na Psicologia

1

2E-mail: [email protected]: [email protected]

Resumo

Abstract

O presente trabalho discute os usos do termo motivação na psicologia, apresentado resumida esuperficialmente as origens históricas da pesquisa da motivação humana e alguns problemasepistemológicos na conceituação de motivos. O presente trabalho traz ainda uma pequena amostrada variedade das definições de motivação encontradas nos compêndios de psicologia. Sãodiscutidos também os conceitos de ciência, psicologia e a questão das hierarquias nos motivoshumanos, enfatizando-se a necessidade de reconhecer como relevantes, no estudo da motivação,processos de interação: (1) como certos comportamentos, em determinadas condições,invariavelmente ocorrem depois de certas alterações no meio ambiente; (2) como certas alteraçõesno ambiente, em determinadas condições, são seguidas por certos comportamentos e não poroutros possíveis; (3) como certos comportamentos ocorrem ciclicamente, mesmo na ausência dealterações no ambiente; (4) como certos comportamentos, em determinadas condições, ocorremmesmo na ausência de alterações no ambiente; (5) como certas alterações no ambiente passam afazer parte de interações organismo-ambiente e outras não.

Palavras-chave: Motivação; Usos do termo motivação, Psicologia

This article discusses the uses of the term motivation in the psychological field, presenting, brieflyand superficially, historical origins of human motivation research and a few epistemologicalproblems related to conceptualization of motives. This article also presents a brief overview of thevariety of definitions of motivation, found in psychological books and manuals. Also discussed arethe concepts of science, psychology, and the issue about human motives hierarchies, emphasizingthe need to recognize interaction processes as relevant in the study of motivation: (1) how certainbehaviors, under certain conditions, invariably occur after certain environmental changes; (2) howcertain environmental changes, under certain conditions, are followed by certain behaviors, notothers that would be possible; (3) how certain behaviors occur cyclic, even in the absence ofenvironmental changes, (4) how certain behaviors, under certain conditions, occur even in theabsence of environmental changes; and (5) how certain environmental changes happen to be partof organism-environment interactions, while others don't.

Key-words: Motivation; Uses of the term motivation, Psychology

ISSN 1517-5545

2005, Vol. VII, nº 1, 119-132

Revista Brasileira deTerapia Comportamentale Cognitiva

119

O Conceito de Motivação na Psicologia

The Concept of Motivation in Psychology

João Cláudio Todorov

Márcio Borges Moreira

1

2

Universidade Católica de GoiásUniversidade de Brasília

Universidade Católica de Goiás - Universidade de BrasíliaInstituto de Educação Superior de Brasília.

Page 2: AULA 1 e 2 - ARTIGO - O Conceito de Motivação na Psicologia

João Cláudio Todorov Márcio Borges Moreira-

Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn. 2005, Vol. VII, nº 1, 119-132120

Motivação , assim como aprendizagem, é umtermo largamente usado em compêndios depsicologia e, como aprendizagem, é usado emdiferentes contextos com diferentes significados. O mesmo autor pode empregar o termode maneira diversa num mesmo parágrafo.Vernon (1973) faz isso logo na primeira páginado primeiro capítulo de seu livro “MotivaçãoHumana”:

Na primeira sentença do trecho citado, motivação é uma sem que se especifique deque natureza. Logo a seguir, motivação é uma

, algo que sentimos eninguém podem observar. No uso comum, oleigo costuma utilizar esses dois significadoscomo dois aspectos de um mesmo fenômeno.Motivação é uma força interna que nos leva aagir, e por ser interna só nós mesmos a podemos sentir. O uso técnico/científico do conceito é bem mais diversificado, por razões queexporemos a seguir.Um outro exemplo interessante de como o ter-mo motivação pode assumir diferentes signi-ficados em um mesmo texto está em Berga-mini (1997):

No trecho acima, no primeiro momento, amotivação está relacionada a um de

controle interno, ela está dentro do indivíduo.No segundo momento, a motivação passa aestar relacionada a um de controleexterno, ou seja, ela depende de situaçõesespecíficas, depende do que está acontecendocom o indivíduo. O autor afirma que, no iníciodo século, procurava-se “descobrir aquilo quese deveria fazer para motivar as pessoas”, ouseja, as situações específicas que tornam oindivíduo motivado. Logo em seguida afirmaque este é o caminho errado: a motivação nãoocorre de fora para dentro, mas de dentro parafora. Entretanto, ao final do trecho, o autorparece expor a idéia que é rechaçada no iníciode sua argumentação: a motivação ou “desmotivação” depende de situações específicas, logo, o que deve ser feito é buscar por taissituações específicas (“aquilo que se deveriafazer”) para motivar os indivíduos ou, nomínimo, não desmotivá-los.

Birney e Teevan (1962) notam que o interessecontemporâneo pela pesquisa da motivaçãohumana origina-se de três fontes: psico-terapia, psicometria, e teoria da aprendi-zagem. Além de serem áreas diferentes, háentre elas divergências quanto aos objetivosdo trabalho dos pesquisadores, e tambémquanto aos métodos a serem empregados.

Para os psicoterapeutas, oproblema maior sempre foi o alívio dos desconfortos do cliente. Especialmente comFreud, esses desconfortos eram vistos comoresultantes de um jogo de equilíbrio dinâmicode forças psíquicas (motivacionais), e o próprio psicoterapeuta era o instrumento de medida dessas forças. Não se colocava comoimportante o problema de diferenças individuais, pois o modo de definir o objetivo de seutrabalho levava à preocupação primordialcom o caso individual. Buscava-se a melhorcaracterização possível para essas forças hipotetizadas, desenvolvendo um sistema moti

3

-

“A motivação é encarada como uma espécie deforça interna que emerge, regula e sustenta todasas nossas ações mais importantes. Con-tudo, éevidente que motivação é uma expe-riênciainterna que não pode ser estudada direta-mente”.(Vernon, 1973, p.11).

“Se, no início do século, o desafio era descobriraquilo que se deveria fazer para motivar aspessoas, mais recentemente tal preocupaçãomuda de sentido. Passa-se a perceber que cadaum já traz, de alguma forma, dentro de si, suaspróprias motivações. Aquilo que mais inte-ressa,então, é encontrar e adotar recursos organi-zacionais capazes de não sufocar as forças moti-vacionais inerentes às próprias pessoas... (p. 23)...não existe o pequeno gênio da motivação quetransforma cada um de nós em trabalhadorzeloso ou nos condena a ser o pior dospreguiçosos. Em realidade, a desmotivação não énenhum defeito de uma geração, nem umaqualidade pessoal, pois ela está ligada a situaçõesespecíficas (p. 27)”.

-força

experiência interna

--

lócus

lócus

- -- -

Origens históricas da pesquisa da motivação

Psicoterapia.

-

-

-

-

-

-

3Este texto foi originalmente preparado com o intuito de servir como texto introdutório sobre Motivação para alunos de Graduação. Nãoé sua pretensão exaurir ou aprofundar em quaisquer dos tópicos abordados, mas sim apresentar, resumidamente, a diversidade queevolve o assunto e sugerir que a mudança no de controle (interno para externo) parece ser uma alternativa viável.locus

Page 3: AULA 1 e 2 - ARTIGO - O Conceito de Motivação na Psicologia

Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn. 2005, Vol. VII, nº 1, 119-132 121

O Conceito de Motivação na Psicologia

vacional que pudesse ser aplicado ao entendimento das aflições de diferentes indivíduos .

O desenvolvimento dos testespsicológicos de aptidões e de desempenhorepresentou uma fonte de interesse em motivação muito diferente da psicoterapia. Constatou-se, de início, que a utilização dessestestes para a classificação e/ou seleção deindivíduos dependia de um pressupostofundamental, o de igualdade na dedicação àstarefas. O interesse por testes de aptidõeslevou, necessariamente, ao desenvolvimentode testes de motivação. Obviamente, osestudos sobre motivação originários dessasduas áreas, psicoterapia e psicometria, não sedesenvolveram totalmente independentes.Birney e Teevan (1962) lembram esforços deaproximação das duas abordagens. Historicamente, entretanto, não há como negar odesenvolvimento inicial independente .

Considerando-seque da psicoterapia e da psicometriadesenvolveram-se interesses pela psicologiada motivação humana, seria lícito esperar-se omesmo de outra área aplicada, a educação.Como veremos, o estudo de problemas deaprendizagem levou à invocação de variáveismotivacionais. A influência dos interesses daárea educacional é indireta, via psicologia daaprendizagem e pesquisas de laboratório. Osprincipais teóricos da aprendizagemestudaram experimentalmente o papel devariáveis motivacionais na memória, naaprendizagem, etc. O trabalho mais complexonessa direção, sem dúvida, foi o de Hull(1943). Dessa tradição de laboratório vem aassociação de variáveis motivacionais àsdiversas teorias de reforço, culminando comSkinner (1953) e a colocação do tópico motivação dentro de um contexto mais geral dosvários tipos de interação organismo-ambiente .Psicoterapia, psicometria e teoria da apren-

dizagem, com objetivos e métodos dife-rentes,necessariamente levaram a tratamen-tosdiferentes de conceitos motivacionais. En-tender a psicologia da motivação humana sematentar para esses aspectos é tarefa impos-sível; falar de motivação sem mencionar essesesforços, pode aumentar a confusão já exis-tente.

Independentemente das áreas de aplicação dapsicologia que mais pressionaram pelodesenvolvimento de uma teoria da motivaçãohumana, há fatores históricos que condicionam esse desenvolvimento, e que antecedemde muito a própria constituição da Psicologiacomo disciplina científica. Allport (1953), aoavaliar as tendências nas teorias da motivaçãoda primeira metade do século passado,encontra suas origens em algumas convergências entre pensadores do século 19, e citaSchopenhauer, Darwin, Bergson e Freud,todos - no sentido de que as ex-plicações para o comportamento humano se-rão subjacentes ao que pode ser diretamenteobservado e/ou está na consciência de quemage. Outra característica marcante é o gene-ticismo. Os motivos básicos seriam depen-dentes da herança genética e/ou de expe-riências na infância, muito pouco ou quasenada afetados pelo ambiente no qual vive oindivíduo adulto.

-

Psicometria.

-

-

-

Teorias da aprendizagem.

-

-

Problemas epistemológicos na conceituaçãode motivos

4

5

6

“Diz-se frequentemente que há duas concepções,mais ou menos incompatíveis, da natureza hu-mana. Uma delas sustenta que o homem é um seressencialmente racional, seletivo, dotado de von-tade, que conhece as fontes de sua conduta ouque está cônscio das razões para a sua conduta eé, portanto, responsável por ela. O outro ponto devista afirma por vezes que o homem, por natu-reza, é irracional, e que seus impulsos e desejosdevem ser controlados pela força das sanções dasociedade.” (Cofer, 1972, p. 3).

-

-

irracionalistas

4

5

6

Para um estudo das teorias psicanalíticas da motivação, veja-se Rapaport (1960), Peters (1958), Bolles (1967), Atinkson (1964) e Hall eLindzey (1957).O uso de conceitos motivacionais em testes psicológicos é grande e variado. Mais informações sobre o assunto podem ser obtidas em

Birney e Teevan (1962) e Atinkson (1964).Bindra e Stewart (1966) apresentam uma coletânea de textos sobre conceitos motivacionais que inclui os principais teóricos da

aprendizagem. Veja-se também de Bolles (1967), Atinkson (1964), Cofer e Appley (1964), Brown (1961) e Ferguson (1976).

Page 4: AULA 1 e 2 - ARTIGO - O Conceito de Motivação na Psicologia

João Cláudio Todorov Márcio Borges Moreira-

Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn. 2005, Vol. VII, nº 1, 119-132122

Essas influências sobre o moderno pensamento a respeito de variáveis motivacionaistêm um passado que remonta aos filósofosgregos. Bolles (1967) inicia um capítulo sobreorigens históricas de conceitos motivacionaisdiscutindo a era racionalista, que se inicia comPlatão e continua a influenciar a maneira depensar sobre motivação até hoje. Platão,segundo Bolles (1967), constrói uma filosofiado homem sem conceitos motivacionais: se a

tem liberdade para escolher seusobjetivos, a escolha de objetivos é odeterminante de sua ação futura. A vontadedo homem é livre porque é sempre dirigidapara o futuro, e, portanto, escapa dasrestrições situacionais. Comportamentos quefogem a essa descrição eram tidos comoessencialmente aleatórios e não característicosdas ações naturais do homem.A oposição a essa linha de pensamento também tem sua origem nos gregos e igualmenteperdura, ainda que muito transformada, aténossos dias. Demócrito, contemporâneo dePlatão, já defendia um sistema de explicaçõespara as ações humanas baseado num princípio segundo o qual todos os objetos e eventos no mundo poderiam ser reduzidos a átomos de diferentes formas e tamanhos. Os átomos da , por serem redondos e lisos,tinham o poder de interpenetrar outros átomos, possibilitando ao homem conhecer omundo (Bolles, 1967).A história do desenvolvimento dessas idéias apartir de Platão e Demócrito é fascinante emsi, mas foge aos limites do presente trabalho. Éimportante frisar apenas que as contradiçõesnos modernos tratamentos do assunto são tãoantigas quanto o pensamento ocidental .Ao lado dessas duas linhas filosóficas tradi-cionais, encontramos hoje um outro fator quevem a complicar qualquer tentativa de seentender as diferentes abordagens de concei-tos motivacionais. Qualquer compêndio deintrodução à psicologia em uso atualmente dámuita importância ao caráter científico dapsicologia. Ao discorrer sobre motivação, osautores discutem as várias teorias existentes,

como se houvesse uma ciência estabelecidacom várias abordagens alternativas do mes-mo tema, motivação. É raro encontrar-se umaapresentação do assunto em que o autor dis-cuta os diversos conceitos de ciência exis-tentes em diferentes abordagens.

Consideradas as fontes de diversidade notrato do conceito de motivação, vejamos umaamostra, encontrada na literatura sobre o as-sunto, de como os mais diversos autores fa-zem referência à motivação. Não houve inten-ção de usar algum princípio organizador naseqüência desses exemplos (exceto a crono-logia); as definições apenas indicam as varie-dades de abordagens na psicologia da motiva-ção humana.

-

razão

-

----

psyché-

7

Definições de motivação

“Um motivo é uma necessidade ou desejo aco-plado com a intenção de atingir um objetivoapropriado”(Krench & Crutchfield, 1959, p. 272).

“Uma busca dos determinantes (todos os deter-minantes) da atividade humana e animal”.(Young, 1961, p. 24).

“A propriedade básica dos motivos é a ener-gização do comportamento”.(Kimble & Garmezy, 1963, p. 405).

“O energizador do comportamento”(Lewis, 1963, p. 560).

“Um exame cuidadoso da palavra (motivo) e deseu uso revela que, em sua definição, deveráhaver referência a três componentes: o compor-tamento de um sujeito; a condição biológicainterna relacionada; e a circunstância externarelacionada”.(Ray, 1964, p. 101).

“Pode-se falar em uma teoria da motivação esignificar uma concepção coerente dos deter-minantes contemporâneos da direção, do vigor eda persistência da ação”.(Atkinson, 1964, p. 274).

“Motivação: o termo geral que descreve o com-portamento regulado por necessidade e instintocom respeito a objetivos”.(Deese, 1964, p. 404).

7Ver Marx e Hillix (1963).

Page 5: AULA 1 e 2 - ARTIGO - O Conceito de Motivação na Psicologia

Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn. 2005, Vol. VII, nº 1, 119-132 123

O Conceito de Motivação na Psicologia

“Motivação é um termo como aprendizagem nosentido de que tem sido usado de numerosas maneiras, com vários graus de precisão. Não nospreocuparemos com seu sentido exato, principalmente porque tem sido usado de maneiraprecisa neste contexto”.(Logan & Wagner, 1965, p. 91).

“Entendemos por algo que incita o organismoà ação ou que sustenta ou dá direção à ação quando oorganismo foi ativado”.(Hilgard & Atkinson, 1967, p. 118).

“A psicologia tende a limitar a palavra ...aos fatores envolvidos em processos de energia, e aincluir outros fatores na determinação do comportamento”.(Cofer, 1972, p. 2).

“Motivação, como muitos outros conceitos napsicologia, não é facilmente delimitado... Inferimosque 'uma pessoa está motivada' com base emcomportamentos específicos que a pessoa manifestaou com base em eventos específicos que observamosestarem ocorrendo”.(Ferguson, 1976, p. 3).

“A questão da motivação é a questão 'por que'formulada no contexto do comportamento. Inter-rogações desse teor podem ser feitas indefini-damente e limitamos o âmbito de nossas respostas aoque delineamos, com certa precisão, como a disci-plina da psicologia”.(Evans, 1976, p. 23).

“O estudo da motivação é a investigação dasinfluências sobre a ativação, força e direção do com-portamento”.(Arkes & Garske, 1977, p. 3).

“Mudanças na significância de estímulos são a preo-cupação básica do estudo da motivação”.(Catania, 1979, p. 61).

“Para cada ação que uma pessoa ou animal executa,nós perguntamos: 'Por que ele ou ela fez aquilo'.Quando fazemos esta pergunta, estamosperguntando sobre a daquela pessoa ouanimal... Questões sobre motivação, então, sãoquestões sobre de uma ação específica”.(Mook, 1987, p. 3).

“Sempre que sentimos um desejo ou necessidade dealgo, estamos em um estado de motivação. Moti-vação é um sentimento interno é um impulso quealguém tem de fazer alguma coisa”.(Rogers, Ludington & Graham, 1997, p. 2)

“Os motivos são concebidos... como forças que sãomoldadas pela experiência”.(Dweck, 1999, p. 134).

“... a motivação é o conjunto de mecanismosbiológicos e psicológicos que possibilitam o desen-cadear da ação, da orientação (para uma meta ou, aocontrário, para se afastar dela) e, enfim, da intensi-dade e da persistência: quanto mais motivada apessoa está, mais persistente e maior é a atividade”.(Lieury & Fenouillet, 2000, p. 9).

“Em abordagem operacional, (motivação) é o con-junto de relações entre as operações de estimulaçãoou privação e as modificações observadas no com-portamento que se processa após as citadasoperações”.(Penna, 2001, p. 19).

“... intrinsic motivation occurs when three''psychological states” are present: experienced

of the work, experiencedof the work, and

of the work.”(Thomas, 2002, p. 116)

“A motivação tem sido entendida ora como um fatorpsicológico, ou conjunto de fatores, ora como umprocesso. Existe um consenso generalizado entre osautores quanto à dinâmica desses fatorespsicológicos ou do processo, em qualquer atividadehumana. Eles levam a uma escolha, instigam, fazeminiciar um comportamento direcionado a umobjetivo...”.(Bzuneck, 2004, p. 9).

-

-não

motivo

motivação

-

motivação

as causas

meaningfulness responsibilityfor outcomes knowledge of actualresults

Nos trechos supracitados vemos claramenteque o conceito de motivação é abordado demaneiras muito diferentes e, muitas vezes,contraditórias. Essa miscelânea conceitualevidência não a quantidade de conhecimentoque se tem sobre a motivação, mas a falta dele.Skinner (1953), ao justificar a necessidade deuma psicologia científica, afirma que a ciênciaevolui dos erros, não da confusão. Conside-rando como corretas as palavras de Skinner,podemos concluir então que grande parte daabundante produção teórica sobre motivaçãonão levará a psicologia a compreender melhoreste fenômeno. Para que a psicologia possalidar melhor com tão importante assunto énecessário refinar os conceitos que se referema ele (Cunha & Isidro-Marinho, 2005; Michael,1982, 1993, 2000) estabelecendo referenciais

Page 6: AULA 1 e 2 - ARTIGO - O Conceito de Motivação na Psicologia

João Cláudio Todorov Márcio Borges Moreira-

Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn. 2005, Vol. VII, nº 1, 119-132124

teóricos que possam ser falseados, que pos-sam ser testados.Outra interessante análise que pode ser feita apartir da leitura dos conceitos apresentados,se levarmos em conta sua cronologia, refere-seà evolução do conceito ou, melhor dizendo, dafalta de evolução. Comparemos Krench eCrutchfield (1959, p. 272) com Bzuneck (2004,p. 9). Alguns dos conceitos apresentados aci-ma, muitos deles norteadores do estudo sobrea motivação em determinados períodoshistóricos, parecem não ir além de simples re-elaborações do senso comum, ornamentadoscom o uso de termos que, numa análise maiscuidadosa, evidenciam nada mais que umraciocínio tautológico. Comparemos algunsdos conceitos apresentados com as frases aseguir, frases estas que poderiam serelaboradas em uma conversa descontraídaentre psicólogos sobre a natureza humananuma mesa de bar:

“Psicologia, em especial a área da motivação,é bastante confusa pela prática de considerarmotivos, ou impulsos, ou instintos, ou neces-sidades, como a causa do comportamen-to”.(Bolles, 1967, p. 8).Um primeiro problema a ser resolvido quan-

do se discute o conceito de motivação relacio-na-se diretamente ao papel da psicologiacomo uma ciência. Historicamente, conceitosmotivacionais surgem como causas docomportamento, e confundem-se com os pró-prios objetivos da psicologia.“Por que as pessoas se comportam desta oudaquela maneira?” Por mais importante que aquestão possa parecer, está formulada de talmaneira que não leva a respostas aceitáveis.Tem sido muito usada por aqueles que pre-ferem tratar de questões que não podem serempiricamente respondidas. Reformulando aquestão, a ciência pode ajudar com seus méto-dos. “Em quais condições as pessoas se com-portam desta ou daquela maneira?” é umapergunta bem diferente, ainda que à primeiravista não o pareça. Na primeira formulação,pergunta-se “por que?”, na segunda indaga-se “como?”. A história dos conceitos motiva-cionais esta principalmente ligada a questões“por que?”. Lindgreen e Byrne (1982), porexemplo, assim se expressam em um manualde psicologia publicado no Brasil em 1982:“As teorias da motivação são uma tentativa...de explicar por que (1) os estímulos evocamrespostas; (2) um determinado estímulo evocauma certa resposta em vez de quaisqueroutras concebíveis; (3) certos estímulos têmum valor de recompensa e outros não; (4)certas respostas parecem surgir por simesmas, sem nenhum desencadeante exterioraparente” (Lindgreen & Byrne, 1982, pp. 214-215).Esses quatro itens não foram listadosoriginalmente por Lindgreen e Byrne, masparecem ter caído no domínio público, poisesses autores não fazer referência à fonteoriginal. O importante aqui é que, em umtexto didático que acaba de ser publicado noBrasil, a questão “por que?” é colocada semdiscussão. Não é por acaso que esses mesmosautores chegam à conclusão de que “a moti-vação permanece sendo um conceito indefi-nível”. Se reformulassem a questão, talvezchegassem à conclusão de que a motivação,como tem sido definida, é um conceito inútil.

“Um motivo é um desejo ardente que impulsionao ser à ação”“A motivação está intrinsecamente relacionadaaos desejos e impulsos humanos”.“Os impulsos estão intrinsecamente relacio-nados à motivação e desejos humanos”.“Motivação pode ser entendida como um motivoque leva o indivíduo à ação”.“Motivação é uma força que aciona e direciona ocomportamento”.“Motivação é uma energia que aciona e direcionao comportamento”.“Impulso é uma energia que aciona e direciona ocomportamento”.“Desejo é uma energia que aciona, motiva edireciona o comportamento”.“Um motivo é um desejo imbuído de significaçãoem si mesmo que impulsiona o ser à execução econsecução de metas, que orienta e estrutura adinâmica psicológica que, por seu turno,energiza o comportamento”.

Os conceitos de ciência, psicologia e moti-vação

Page 7: AULA 1 e 2 - ARTIGO - O Conceito de Motivação na Psicologia

Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn. 2005, Vol. VII, nº 1, 119-132 125

O Conceito de Motivação na Psicologia

Parafraseando o texto citado, poderíamos es-crever:As teorias da motivação deixarão de levar ospsicólogos à confusão quando a psicologiapuder descrever as condições nas quais (1) osestímulos evocam respostas; (2) um deter-minado estímulo evoca uma certa resposta emvez de quaisquer outras concebíveis; (3) certosestímulos têm um valor de recompensa eoutros não; (4) certas respostas parecem surgirpor si mesmas, sem nenhum desencadeanteexterior aparente.Na psicologia, as questões “por que” têmfrequentemente levado a respostas hipotéticas. Supõe-se uma causa para o comportamento, dá-se um nome a essa causahipotetizada, e encaixa-se esse conceito numadeterminada teoria. Não há preocupação,neste trabalho, de discorrer sobre essas“causas” comuns na literatura psicológica; oleitor interessado pode recorrer a Millenson(1975) e Skinner (1974), entre outros autores.Importa frisar que na ciência as questões “porque” sempre se transformam em questões“em quais condições” antes que haja progresso no conhecimento .A ciência não estuda , estuda .Marx e Hillix (1963) colocam muito bem aquestão. A ciência, afirmaram, e a psicologiacomo parte de uma ciência, estuda relações.Distingue-se de outras disciplinas porqueestuda relações entre comportamentos equase tudo que pode estar relacionado aocomportamento. Exemplos de relações estudadas pela psicologia são tantos e tão diversos, que uma descrição exaustiva é impossível. Assim, uma maneira adequada de caracterizar o objeto de estudo da psicologia é aquela oferecida por Harzem e Miles (1978), entreoutros: a psicologia estuda interações de organismos, vistos como um todo, com seu meioambiente.Nestas condições, se a motivação do compor-tamento humano for interpretada, como fre-qüentemente o é, (Millenson, 1975) como oconjunto de determinantes ou causas do

comportamento, a psicologia da motivação étoda a psicologia. E a tarefa do pesquisadorpoderia ser a de preparar um elenco de todosos motivos, sua classificação e hierarquização.Assim é como muitos têm tentando proceder.Os resultados têm sido díspares e confusos,deixando transparecer posições ideológicasque dirigem aprioristicamente as conclusões(vejamos o trabalho de Maslow, 1954, porexemplo). Por outro lado, reconhecendo quetudo o que tem sido estudado como moti-vação compõe o campo da psicologia comoum todo, a alternativa é evitar-se a carac-terização de um campo especial para a moti-vação. Quem estiver interessado em moti-vação humana deve estudar psicologia.Tentativas de resumir e classificar os váriosconceitos motivacionais provenientes dediferentes áreas estão condenadas ao fracassopor um imperativo lógico. Conceitos não têmexistência independentemente do contextoteórico no qual surgem. Caio Prado Jr., aodiscutir a natureza das figuras geométricas,nos oferece um bom exemplo:“Dir-se-á então que os elementos ou partes docírculo o precedem e determinam? Não épossível, porque não podemos concebercircunferência, raios, cordas, etc. sem ocírculo. Será então a circunferência que determina todo o resto, como poderia fazer crer ofato de que quando nos vamos ocupar comqualquer questão relativa a círculos começamos a traçar uma circunferência? Mas o quevem a ser essa circunferência senão uma linhatraçada num plano e cujos pontos sãoeqüidistantes de outro ponto situado nessemesmo plano? Já temos aí, imediatamente esimultaneamente com a circunferência, aintrodução de dois elementos estranhos: ocentro e os raios (eqüidistância do centro). Etanto assim é que intimados a traçar umacircunferência, somos obrigados, a lançar mãodo compasso, a de determinar um(colocação da haste fixa do compasso) queserá o ; e os (afastamento dashastes). Algumas considerações da mesma

-

-

-

8

causas relações

-----

-

-

-

ponto

centro raios

8No capítulo 2 de Bolles (1967) encontra-se uma visão histórica da evolução dessas duas linhas tradicionais. Veja-se também o primeirocapítulo de Von Wright (1971) e de Stegmuller (1977).

Page 8: AULA 1 e 2 - ARTIGO - O Conceito de Motivação na Psicologia

João Cláudio Todorov Márcio Borges Moreira-

Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn. 2005, Vol. VII, nº 1, 119-132126

natureza nos mostram que antes de existir acircunferência já existem necessariamente to-dos os demais elementos do circulo, que, noentanto, por seu turno, implica todos aqueleselementos.”“Essa incoerência resulta fatalmente de todopensamento baseado na concepção de 'coisas'.O exemplo acima, que não é senão o caso detoda Geometria (aliás, de toda conceituaçãoem geral, sendo que a particularização queestamos fazendo aqui é unicamente porquenos ocupamos especificamente com a Mate-mática), mostra que os conceitos não têmindividualidade própria e existência à parteuns dos outros e dos conjuntos em que seintegram. Eles existem em função uns dosoutros, bem como dos sistemas que compõe ede que somente para comodidade deexpressão os podemos destacar. ” (Prado Jr.,1980, p. 208-209).A busca de um refinamento dos principaisconceitos motivacionais desenvolvidos noúltimo século seria um exercício inútil. Veja-mos o exemplo do conceito de impulso e astentativas de caracterizá-lo, chegar à sua es-sência. “Impulso” (drive) é uma palavra quetem sido utilizada para designar diferentesconceitos em diferentes contextos teóricos .Comparações das individualidades dessesdiversos conceitos que recebem um mesmonome não levam a nada. Análises conceituaisque revelem as relações envolvidas noscontextos em que esses conceitos são usadossão mais frutíferas. Um magnífico exemplodessa utilidade de uma análise conceitual éencontrado em Keller e Schoenfeld (1950).

“Tem sido observado que a maior parte docomportamento humano, em contraste com odos animais inferiores, é caracterizado por suanatureza organizada, altamente motivada eorientada para um fim.” (Vernon, 1973, p 189).

Pela afirmação acima, parece que Vernondesconhece a literatura sobre comportamentoanimal. É imperdoável que um texto para ini-ciantes coloque tão superficialmente asdiferenças entre o comportamento humano eaquele de animais infra-humanos. Infeliz-mente, equívocos como esse são comuns naliteratura de que dispomos em português. Aaparente ignorância esconde um fato maisgrave. Encobre um posicionamento idealistaque permeia grande parte da literatura sobremotivação. Os exemplos clássicos são ostrabalhos de Maslow (1965) e McClelland(1961). Os preconceitos não são apenasrelacionados ao comportamento animal. Refe-rem-se principalmente ao comportamentohumano, mostrando uma visão elitista dasuperioridade das classes sócio-economi-camente mais favorecidas e dos paísesindustrializados . Apenas para situar o leitor,listamos alguns dos notáveis seres humanoscujas biografias foram estudadas por Maslow(1965) para a composição de sua obra sobre osmotivos humanos: Abraham Lincoln (16ºpresidente dos Estados Unidos da América;preservou a União durante a Guerra Civiltendo conseguido a emancipação dos escra-vos); Thomas Jefferson (terceiro presidentedos Estados Unidos; redigiu a declaração daIndependência norte-americana); BenjaminFranklin (estadista norte-americano); GeorgeWashington (primeiro presidente norte-americano); Albert Einstein (físico, matemá-tico e filósofo alemão); Aldous Huxley (escri-tor inglês; é dele o livro “Admirável MundoNovo”); Goethe (escritor e filósofo alemão);Pierre Renoir (renomado pintor francês); Elea-nor Roosevelt (norte-americana; participouda criação da UNICEF e da elaboração daDeclaração dos Direitos Humanos); e Mahat-ma Gandhi - que dispensa apresentações.Na filosofia da ciência, esse posicionamentotambém se refere à distinção entre explicaçãoe entendimento (Von Wright, 1971). Essa dis-

9

10

A questão das hierarquias dos motivos hu-manos

9

10

A história dos vários conceitos de impulso pode ser encontrada em Atinkson (1964), Bindra e Stewart (1966), Bolles (1967) Cofer eAppley (1964).

Esta afirmação merece um tratamento mais aprofundado, que escapa às limitações do presente trabalho. Uma boa discussão dos trabalhos de Maslowe McClelland é a deAtinkson (1964).

Page 9: AULA 1 e 2 - ARTIGO - O Conceito de Motivação na Psicologia

Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn. 2005, Vol. VII, nº 1, 119-132 127

O Conceito de Motivação na Psicologia

tinção está intimamente ligada às duas gran-des vertentes na história das idéias, a tradiçãoaristotélica e a tradição galiléica - a de explica-ções teleológicas e a de explicações causais. Natradição de Aristóteles, o objetivo da ciência étornar os fatos inteligíveis teleológica oufinalisticamente; na tradição de Bacon e Gali-leu, é explicar e predizer fenômenos. Nahistória do método científico, parece ter sido ohistoriador e filósofo alemão Droysen ointrodutor da dicotomia

(Von Wright, 1971) no âmbitometodológico. A finalidade das ciências naturais seria explicar; a da história seria entenderos fenômenos de seu domínio.Von Wright (1971) nota que no sentido usualdos termos, não fazemos muita distinção entreexplicar e entender, porque explicações, sejamcausais, sejam teleológicas, visam aumentarnosso entendimento sobre alguma coisa. Mas

tem algo mais que . “Entender” tem a ver com intencionalidade.“Entendem-se os fins e propósitos de umagente, o significado de um signo ou símbolo,e a significância de uma instituição social ourito religioso.” (Von Wright, 1971, p. 6).Esta separação de metodologias para as ciên-cias naturais e para a história deixou as ciên-cias do comportamento como uma área delitígio, onde muitas vezes os dois métodos sealternam e/ou confundem no trabalho de ummesmo autor: “Marx mostra uma ambiva-lência entre uma orientação 'causalista', 'cien-tística' de um lado e outra 'hermenêutica-dialética', 'teleológica'... Marx pode, nesteaspecto,... ser comparado a Freud, em cujotrabalho, freqüentemente há uma tendênciahermenêutica e teleológica implícita, fre-quentemente distorcida por uma busca explí-cita de explicações causais, de orientação típi-ca das ciências naturais.” (Von Wright, 1971,p. 173).É comum encontrarmos o componente deintencionalidade, próprio de análises teleológicas, em pseudo-explicações causalistitasdo comportamento motivado (cf., Atkinson,1964), assim como re-interpretações de dadosobtidos pela utilização do método das ciências

naturais em visões humanistas do comportamento ( , Rogers, 1963). Torna-se importante, pois, especificar as vantagens de sedeixar claros nossos pressupostos, métodos eorientação teórica quando falamos demotivação (ou de psicologia em geral). Nesseponto, uma visão comportamentalista (ou,utilizando o neologismo já consagrado, behaviorista) não tem mistérios. Procuramos nãolidar com essências, mas com relações. Asvantagens dessa decisão poderão ser maisbem percebidas no seguinte trecho deStegmuller:

Vejamos, na psicologia da motivação, umexemplo do que estamos discutindo. Primeirouma visão humanista, depois nossos comentários. Maslow (1954) propôs um sistemahierárquico de necessidades básicas que teminfluenciado especialmente o trabalho na psicologia organizacional e na psicologia dodesenvolvimento. Maslow classifica as necessidades humanas, na ordem de prioridade,em fisiológicas, de segurança, de amor e atenção, de estima, e de auto-realização. A hierarquização utiliza dois sistemas de categorias,das necessidades mais puramente biológicasàs mais socializadas e das mais simples àsmais complexas. Os problemas com a hierarquia começam por aí. Deixando de lado umapreocupação apriorística com hierarquias, ve

explicação versus en-tendimento

-

entender explicar -

-

-cf. -

-

-

-

-

--

-

-

“Entender essa filosofia requer que se vejaclaramente por que as questões que visam àessência, questões do tipo 'Que é...?' não sãorespondíveis. Segundo já constatamos, não setrata apenas de nos libertarmos duma concepçãofundamental da . Também acorrespondente e 'moderna' transformação dessaconcepção (por exemplo: 'Que é a definiçãocorreta de compreender?') fornece algo que, emprincípio, é tão irrespondível como a questãooriginal 'Que é...?'. Ao invés disso, devemostentar obter uma imagem quanto maisabrangente possível da multiplicidade e da heterogeneidade das situação nas quais empregamosaquelas expressões, cujos significados procuramos captar. De início, tencionávamos alcançartais significados, dando respostas corretas àsquestões do tipo 'Que é ...?'. Cientificamo-nosagora de que somente aprendemos o significadodaquelas expressões examinando como sãocorretamente empregadas em várias situações.”(Stegmuller, 1977, p. 466).

filosofia da essência

-

-

Page 10: AULA 1 e 2 - ARTIGO - O Conceito de Motivação na Psicologia

João Cláudio Todorov Márcio Borges Moreira-

Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn. 2005, Vol. VII, nº 1, 119-132128

mos que a lista de necessidades obedece à seqüência temporal de desenvolvimento doindivíduo, e refere-se a tipos de interaçãoorganismo-ambiente que podem ser observados em diferentes tempos de seu desenvolvimento. Mas da constatação de que certostipos de interação surgem antes que outros nahistória do indivíduo, não decorre necessariamente a conclusão de que há necessidades hierarquicamente superiores ou inferiores. Vejamos, por exemplo, o tratamentoalternativo dado por Bijou e Baer (1961) àquestão. O conceito de hierarquia utilizado naclassificação é um conceito , pertencente a um sistema ideológico que se antepõeaos dados de observação. As razões para essautilização do conceito não serão encontradasnos dados provenientes da experimentação eda observação em psicologia. Encontraremosmais informações se estudarmos as ideologiasdos psicólogos que se utilizam do conceito.Se resta alguma dúvida sobre os pressupostosde Maslow e sua hierarquia, as afirmações quetranscrevemos a seguir talvez bastem paracaracterizar seu posicionamento em relaçãoaos motivos e necessidades humanos.Evitando possíveis equívocos de traduçãopara tão rica terminologia; eis o texto original:“

.” (Maslow, 1967, item XXVIII).Esperamos ter esclarecido o que queremosdizer quando afirmamos que o conceito demotivação, ou de motivo, ou de impulso, ouhierarquia de necessidades, não é útil a umaanálise do comportamento humano. Quandoexaminamos os contextos teóricos nos quaisesses conceitos foram desenvolvidos e usados,nos deparamos com uma multiplicidade de

usos e, muitas vezes, com pseudo-explicaçõesdo comportamento. Descobrimos que essesusos quase sempre levam nossa atenção para abusca de essências, deixando-nos num becosem saída; desviam-nos de um interesse pelainvestigação de relações e de condições ante-cedentes. Ao fazer um apanhado dos exem-plos utilizados para falar de motivação, pode-remos ver que os conceitos motivacionais sãousados para explicar:1. como certos comportamentos, em deter-minadas condições, invariavelmente ocorremdepois de certas alterações no meio ambiente;2. como certas alterações no ambiente, emdeterminadas condições, são seguidas porcertos comportamentos e não por outrospossíveis;3. como certos comportamentos ocorremciclicamente, mesmo na ausência de altera-ções no ambiente;4. como certos comportamentos, em determi-nadas condições, ocorrem mesmo na ausênciade alterações no ambiente;5. como certas alterações no ambiente passama fazer parte de interações organismo-am-biente e outras não.No trabalho de análise do comportamento,procuramos explicações adequadas paraessas situações. Ao analisar instâncias dessescinco tipos de interações, percebemos que adicotomia aprendizagem/motivação é inadequada, e que a explicação dessas instâncias requer o reconhecimento de

.

Conhecer os “ éalgo que fascina a todos, psicólogos ou não.Àqueles que não são psicólogos é reservado odireito de “dar qualquer tipo de explicaçãopsicológica” sobre o ser humano (sobre osporquês de seus comportamentos), aos psicó-logos não.O comportamento humano (ou processospsicológicos, ou cognição, ou mente, ou

, ou psicodinâmica, etc.) é extremamente

-

--

---

a priori -

From the point of view of the eternal and absolutethat mankind has always sought, it may be that theB-values could also, to some extent, serve thispurpose. They are per se, in their own right, notdependent upon human vagaries for theirexistence. They are perceived, not invented. Theyare trans-human and trans-individual. They existbeyond the life of the individual. They can beconceived to be a kind of perfection. They couldconceivably satisfy the human longing forcertainty

--

processos de inte-ração

porquês das mazelas humanas”

psi-qué

11

Uma última nota

11Ver Bijou e Baer (1961), Harzem e Miles (1978), Catania (1979), Todorov (1989) entre outros.

Page 11: AULA 1 e 2 - ARTIGO - O Conceito de Motivação na Psicologia

Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn. 2005, Vol. VII, nº 1, 119-132 129

O Conceito de Motivação na Psicologia

complexo. Um grande erro da Psicologia temsido tentar toda essa complexidade,quando o mais adequado seria tentardescrever sob quais circunstâncias tais comportamentos complexos ocorrem. Quando aPsicologia assim o faz, ela sempre corre o riscode se aproximar da “psicologia do sensocomum”. Descobrir sob que circunstânciastais processos ocorrem é um caminho bemmais seguro e efetivo.É comum em textos introdutórios sobre Motivação e/ou Aprendizagem, sob a perspectivaanalítico-comportamental, encontrar exemplos simples como “pressionar uma barra queproduz água”, “receber um choque e mudarpara outro compartimento da caixa”, entreoutros. Comportamentos aparentemente tãosimples que parecem não ter relevância parauma formação em Psicologia. É comumtambém encontrar alunos de Psicologia queacusam o pobre rato de ser preguiçoso, ou denão estar com sede, quando, na realidade, esteestá apenas se comportando em um esquemade intervalo fixo, e se mostraria “bem maismotivado” caso simplesmente mudássemos oesquema para intervalo variável. Atribui-seao pobre animal , quando a“explicação” está simplesmente na relaçãoentre seus comportamentos e seu ambiente.Imagine então quantos equívocos podem sercometidos ao se falar de comportamentohumano no mundo fora do laboratório. Se nãocompreendermos antes os “

dos comportamentos mais simples, correremos grandes riscos na hora de tentarmoscompreender os complexos “problemaspsicológicos” humanos.Ainda, todas as vezes que atribuímos ao serhumano uma essência intangível pela ciência,que não pode ser compreendida, que nãopode ser controlada ou estudada, e que é dadapela subjetividade de cada um, estamos fe-chando as portas para nós mesmos, fechandoas portas para a construção de uma Psicologiamais efetiva, que produza mais resultados eem menos tempo. A essência, por ser essência,não pode ser tocada ou modificada. Cada umdos seis bilhões de habitantes do planeta Terra

é um ser diferente, único. Nossa tarefa, depsicólogos, não é contemplar a subjetividadeou a essência de cada ser humano, mas simcompreender como ela é construída ou, colo-cado de maneira mais adequada, compre-ender como são aprendidos os padrões com-portamentais a partir dos quais inferimos aexistência de um motivo, de uma essência, deuma força propulsora, de uma motivaçãointrínseca, de uma força motriz, de um ins-tinto, de um impulso, de um desejo, de umaenergia libidinal, de uma necessidade, de umavontade, de uma...

1. Qual a contradição existente no conceito demotivação de Vernon (1973). Você concordacom os autores de que há contradição? Justi-fique.

2. Qual a contradição existente no conceito demotivação de Bergamini (1997). Com qualparte desta definição você concorda? Justi-fique sua resposta.

3. Com relação à motivação, qual o interesseespecífico da:a. Psicoterapiab. Psicometriac. Teorias da aprendizagem

4. O que é epistemologia? E um problemaepistemológico?

5. Os conceitos de motivação geralmente sãoacompanhados dos termos desejo, impulso,instinto, força, energia e vontade. Respondacom suas palavras:a. O que é um desejo?b. O que é uma vontade?c. O que é um impulso?d. O que é uma força interna?e. O que é uma energia interna?f. O que é um instinto?

6. Você percebeu que existem várias defi-nições diferentes de motivação? Toda esta va-

explicar

-

s” -

-

-

falta de motivação

verdadeiros por-quê

Questões de Estudo

Page 12: AULA 1 e 2 - ARTIGO - O Conceito de Motivação na Psicologia

João Cláudio Todorov Márcio Borges Moreira-

Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn. 2005, Vol. VII, nº 1, 119-132130

riedade é boa ou ruim para a Psicologia?Justifique sua resposta.

7. "Entendemos, por motivo, algo que incita oorganismo à ação ou que sustenta ou dá dire-ção à ação quando o organismo foi ativado."(Hilgard e Atkinson, 1967, p. 118). Mas o queincita o motivo?

8. "Um motivo é uma necessidade ou desejoacoplado com a intenção de atingir um obje-tivo apropriado" (Krench e Crutchfield, 1959,p. 272). Qual a diferença entre motivo eintenção?

9. Sempre que sentimos um desejo ounecessidade de algo, estamos em um estadode motivação. Motivação é um sentimentointerno - é um impulso que alguém tem defazer alguma coisa." (Rogers, Ludington eGraham, 1997, p. 2). O impulso leva a ação.Mas o que produz o impulso?

10. "Por que as pessoas se comportam desta ou

daquela maneira?... 'Em quais condições aspessoas se comportam desta ou daquelamaneira?'". Sobre estas duas perguntas,responda:a. Qual a diferença estas duas formas deperguntar?b. Por que os autores afirmam que a Psicologiadeve buscar o "como", e não o "porquê"?c. "A ciência não estuda causas, estuda rela-ções".

Relacione esta frase com as perguntas "porque as pessoas..." e "Em quais circunstânciasas pessoas..."

11. "Um grande erro da psicologia tem sidotentar explicar toda essa complexidade,quando o mais adequado seria tentar des-crever sob quais circunstâncias tais compor-tamentos complexos ocorrem".Por que os autores afirmam que a psicologiadeve descrever em que circunstâncias os com-portamentos ocorrem e não tentar explicarporque eles ocorrem?

Referências

Allport, G. W. (1953). The trend in motivational theory. , 107-119.

Arkes, H. R. & Garske, J. P. (1977). . Monterey: Brooks/Cole.Atkinson, J. W. (1964). . New York: Van Nostrand.Bergamini, C. W. (1997). . São Paulo: Atlas.Bijou, S. W. & Baer, D. M. (1961). . New

York: Van Nostrand.Bindra, D. & Stewart, J. (1966). . Harmondsworth: Penguin.Birney, R. C. & Teevan, R. C. (1962). . New York: Van Nostrand.Bolles, R. C. (1967). . New York : Harper & Row.Brown, J. S. (1961). . New York: McGraw-Hill.Bzuneck, J. A. (2004). A motivação do aluno: aspectos introdutórios. Em: E. Boruchovitch e J. A.

Bzuneck (Orgs.) , 3ª. Edição, pp. 9-36. Petrópolis: Vozes.Catania, A. C. (1979). . Englewood Cliffs: Prentice-Hall.Cofer, C. N. (1972). . Glenview: Scott, Foresman and Company.Cofer, C. N. & Appley, M. H. (1964). . New York: Wiley.Cunha, R. N. & Isidro-Marinho, G. (2005). Operações estabelecedoras: um conceito de motivação.

Em J. Abreu-Rodrigues & M. R. Ribeiro (Orgs.),, 1ª. Edição, pp. 27-44. Porto Alegre: Artmed.

Deese, J. (1964). . Boston: Allyn & Bacon.

American Journal of Orthopsychiatry, 25

Psychological theories of motivationAn introduction to motivation

Motivação nas organizaçõesChild development. Vol. 1. A systematic and empirical theory

MotivationMeasuring human motivation

Theory of motivationThe motivation of behavior

A motivação do alunoLearning

Motivation and EmotionMotivation: theory and research

Análise do Comportamento: pesquisa, teoria eaplicação

Principles of psychology

Page 13: AULA 1 e 2 - ARTIGO - O Conceito de Motivação na Psicologia

Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn. 2005, Vol. VII, nº 1, 119-132 131

O Conceito de Motivação na Psicologia

Dweck, A. S. (1999). . Lillington:Edwards Brothers.

Evans, P. (1976). . Tradução de A. Cabral. Rio de Janeiro: Zahar. (trabalho originalmentepublicado em 1975).

Ferguson, E. D. (1976). . New York: Holt, Rinehart & Winston.Hall, C. S. & Lindzey, G. (1957). . New York: Wiley.Harzem, P. & Miles, T. R. (1978). . Chichester: Wiley.Hilgard, E. R. & Atkinson, R. C. (1967). . New York: Harcourt, Brace

& World.Hull, C .L. (1943). . New York: D. Appleton-Century.Keller, F. S. & Schoenfeld, W. N. (1950). . New York: Appleton-Century-

Crofts.Kimble, G.A. & Garmezy, N. (1963). . New York: The Ronald

Press.Krench, D. & Crutchfield, R. S. (1959). . New York: Alfred A. Knopf.Lewis, D. J. (1963). . Englewood Cliffs: Prentice-Hall.Lieury, A. & Fenouillet, F. (2000). . Tradução de Y. M. C. T. Silva.

São Paulo: Loyola. (trabalho originalmente publicado em 1996).Lindgreen, H. C. & Byrne, D. (1982) . Rio de Janeiro: LTC.

(trabalho originalmente publicado em 1971).Logan, F. A. & Wagner, A. R. (1965). . Boston: Allyn and Bacon.Marx, M. H. & Hillix, W. A. (1963). . New York: McGraw-Hill.Maslow, A. H. (1954). . New York: Harper.Maslow A. H. (1965). Some basic propositions of a growth and self-actualization psychology. Em

G. Lundzey e C.S. Hall (Orgs.), , pp. 177-200. New York: Wiley.Maslow, A. H. (1967). A theory of metamotivation: the biological rooting of the value-life.

, 93-127.McClelland, D. C. (1961). . Princeton: Van Nostrand.Michael, J. (1982). Distinguishing between discriminative and motivational functions of stimuli.

, 149-155.Michael, J. (1993). Establishing operations. 191-206.Michael, J. (2000). Implications and refinements of establishing operations.

401-410.Millenson, J. R. (1975). . Tradução de A. A. Souza e D. Rezende.

Brasília: Coordenada. (trabalho original publicado em 1967).Mook, D. G. (1987). New York: W. W. Norton & Company.Penna, A. G. (2001). . Rio de Janeiro: Imago.Peters, R. S. (1958). . London: Routledge & Kegan Paul.Prado Jr., C. (1980). . São Paulo: Brasiliense.Rapaport, D. (1960). On the psychoanalytic theory of motivation. Em M. R. Jones (Org.),

, Vol. 8, pp. 173-274 Lincoln: University of Nebraska Press.Ray, W. S. (1964). . New York: MacMillan.Rogers, C. R. (1963). Toward a science of the person. , 72-92.Rogers, S., Ludington, J. & Graham, S. (1997).

. Evergreen: Peak Learning Systems.Skinner, B. F. (1953). . New York: MacMillan.Skinner, B. F. (1974). . New York: Alfred A. Knopf.

Self-theories: their role in motivation, personality, and development

Motivação

Motivation: an experimental approachTheories of personalityConceptual issues in operant psychology

Introduction to psychology, 4 Ed

Principles of behaviorPrinciples of psychology

Principles of general psychology. 2 Ed

Elements of psychologyScientific Principles of psychology

Motivação e aproveitamento escolar

Psicologia: Processos Comportamentais

Reward and punishmentSystems and theories in psychology

Motivation and personality

Theories of personalityJournal of

Humanistic Psychology, 7The achieving society

Journal of the Experimental Analysis of Behavior, 37The Behavior Analyst, 16,

Journal of AppliedBehavior Analysis, 33,

Princípios de análise do comportamento

Motivation: the organization of action.Introdução à motivação e emoção

The Concept of MotivationDialética do conhecimento

Nebraskasymposium on motivation

The Science of psychology: an introductionJournal of Humanistic Psychology, Fall

Motivation & learning: A teacher's guide to buildingexcitement for learning & igniting the drive for quality. 3 Ed

Science and human behaviorAbout behaviorism

th

nd

Th

Page 14: AULA 1 e 2 - ARTIGO - O Conceito de Motivação na Psicologia

João Cláudio Todorov Márcio Borges Moreira-

Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn. 2005, Vol. VII, nº 1, 119-132132

Stegmuller, W. (1977). . Tradução organizada por A. Fiorotti. SãoPaulo: EPU/EDUSP.

Thomas, K. W. (2002). . San Francisco: Berrett-Koehler.Todorov, J. C. (1989). A psicologia como o estudo de interações. , 325-

347.Vernon, M. D. (1973). . Tradução de L. C. Lucchetti. Petrópolis: Vozes. (trabalho

original publicado em 1969).Von Wright, G. H. (1971). London: Routledge & Kegan Paul.Young, P. T. (1961). .

New York: Wiley.

A filosofia contemporânea. Vol. 1

Intrinsic motivation at workPsicologia: Teoria e Pesquisa, 5

Motivação humana

Explanation and Understanding.Motivation and emotion: a survey of the determinants of human and animal activity

Recebido em:

Primeira decisão editorial em:

Versão final em:

Aceito em:

17/02/200517/05/200522/06/200525/06/2005