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 PACOTE PARA A CAIXA ECONÔMICA FEDERAL Prof. Antonio Nóbrega www.pontodosconcursos.com.br 1 Aula um Prof. Antonio Nóbrega Prezados amigos, estamos de volta para dar continuidade aos nossos estudos. Espero que nosso primeiro encontro tenha sido suficiente para uma compreensão das noções básicas acerca do regime legal inaugurado pela Lei nº 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor), passo fundamental para que esta aula e as seguintes possam fluir de modo tranquilo e agradável. Recordo que, naquela oportunidade, foram apresentadas algumas noções básicas acerca dos princípios e regras trazidos pelo CDC, além dos fundamentos legais e das circunstâncias históricas que levaram à criação de um sistema protetivo dos direitos dos consumidores. Ademais, tratamos da classificação normativa de consumidor, fornecedor, produto e serviço, conceitos indispensáveis para compreensão plena dos temas que serão debatidos adiante e que se encontram previstos em nosso edital. Nesta segunda etapa, começaremos a nos aprofundar na matéria. Inicialmente, serão discutidos alguns pontos relativos à Política Nacional de Relações de Consumo, bem como sobre os Direitos Básicos do Consumidor, os quais se encontram elencados no art. 6º do CDC. Em momento posterior, entraremos na parte mais densa de nosso conteúdo, ao iniciarmos a discussão sobre a qualidade dos produtos e serviços e a reparação dos danos por eles causados. Esse tópico requer redobrada atenção por parte do candidato, pois serão debatidos uns tantos conceitos de grande relevância – como os de fato e vício do produto ou serviço -, além da apresentação dos prazos decadenciais e prescricionais referentes àqueles assuntos. Merecem destaque, ainda, os pontos relativos à oferta e publicidade, além do rol de prática abusivas previstas no art. 39 do CDC. Em relação a este último assunto, nosso estudo consistirá em apresentar cada uma daquelas práticas, seguidas de muitos exemplos, para que o candidato possa familiarizar-se com aquele elenco. Vamos aos estudos!

Aula 12 -Tica, to e Estatuto - Aula 01

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PACOTE PARA A CAIXA ECONMICA FEDERAL Aula um Prof. Antonio Nbrega Prezados amigos, estamos de volta para dar continuidade aos nossos estudos. Espero que nosso primeiro encontro tenha sido suficiente para uma compreenso das noes bsicas acerca do regime legal inaugurado pela Lei n 8.078/90 (Cdigo de Defesa do Consumidor), passo fundamental para que esta aula e as seguintes possam fluir de modo tranquilo e agradvel. Recordo que, naquela oportunidade, foram apresentadas algumas noes bsicas acerca dos princpios e regras trazidos pelo CDC, alm dos fundamentos legais e das circunstncias histricas que levaram criao de um sistema protetivo dos direitos dos consumidores. Ademais, tratamos da classificao normativa de consumidor, fornecedor, produto e servio, conceitos indispensveis para compreenso plena dos temas que sero debatidos adiante e que se encontram previstos em nosso edital. Nesta segunda etapa, comearemos a nos aprofundar na matria. Inicialmente, sero discutidos alguns pontos relativos Poltica Nacional de Relaes de Consumo, bem como sobre os Direitos Bsicos do Consumidor, os quais se encontram elencados no art. 6 do CDC. Em momento posterior, entraremos na parte mais densa de nosso contedo, ao iniciarmos a discusso sobre a qualidade dos produtos e servios e a reparao dos danos por eles causados. Esse tpico requer redobrada ateno por parte do candidato, pois sero debatidos uns tantos conceitos de grande relevncia como os de fato e vcio do produto ou servio -, alm da apresentao dos prazos decadenciais e prescricionais referentes queles assuntos. Merecem destaque, ainda, os pontos relativos oferta e publicidade, alm do rol de prtica abusivas previstas no art. 39 do CDC. Em relao a este ltimo assunto, nosso estudo consistir em apresentar cada uma daquelas prticas, seguidas de muitos exemplos, para que o candidato possa familiarizar-se com aquele elenco. Vamos aos estudos!

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PACOTE PARA A CAIXA ECONMICA FEDERAL AULA UM

ROTEIRO DA AULA TPICOS

1) Poltica Nacional de Relaes de Consumo e Direitos dos consumidores 2) Proteo sade e segurana do consumidor 3) Responsabilidade nas relaes de consumo 4) Prazos de decadncia e prescrio 5) Desconsiderao da personalidade jurdica 6) Oferta e publicidade 7) Prticas abusivas de mercado 8) Cobrana de dvidas 9) Bancos de dados e cadastros, servios de proteo ao crdito 6) Exerccios

1) Poltica Nacional de Relaes de Consumo e Direitos dos Consumidores

Com o escopo de criar slidos alicerces para a implementao de um microssistema jurdico que proteja os direitos dos consumidores, a Lei n 8.078/90 nos traz um elenco de princpios e objetivos (art. 4) que devem permear o regime legal inaugurado por aquela norma. Busca-se desenvolver, desta forma, uma poltica real voltada s relaes de consumo, de modo que os conceitos e regras trazidos pelo Cdigo de Defesa do Consumidor (CDC) sejam considerados na aplicao das regras ali insculpidas. Alm disso, os direitos dos consumidores (art. 6) visam garantir a construo de um sistema de normas e princpios que busque a proteo e a efetiva realizao daqueles direitos, por meio de regras de necessriaProf. Antonio Nbrega

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PACOTE PARA A CAIXA ECONMICA FEDERAL observncia por parte de todos aqueles que fazem parte do mercado de consumo.

1.1 Princpios e execuo da Poltica Nacional das Relaes de Consumo

Ao dispor sobre a Poltica Nacional das Relaes de Consumo, o caput do art. 4 do CDC dispe o seguinte:

A Poltica Nacional das Relaes de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito sua dignidade, sade e segurana, a proteo de seus interesses econmicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparncia e harmonia das relaes de consumo (...)

Trata-se de um rol de objetivos que devem ser buscados pelo aplicador das regras trazidas pela Lei n 8.078/90. Tendo em vista a relevncia deste contedo, sugere-se ateno ao quadro abaixo:

Objetivos Necessiidades dos consumiidores Necess dades dos consum dores Diigniidade D gn dade Sade Sade Segurana Segurana Interesses econmiicos Interesses econm cos Qualliidade de viida Qua dade de v da Transparnciia e harmoniia Transparnc a e harmon a

Para uma anlise mais precisa deste tpico, trataremos dos princpios consignados nos incisos do art. 4 da Lei n 8.078/90, que constituem um relevante instrumento norteador para que sejam identificados o alcance e real significado dos objetivos acima transcritos.

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PACOTE PARA A CAIXA ECONMICA FEDERAL A vulnerabilidade do consumidor reconhecida pelo inciso I do art. 4 do CDC. O consumidor no dispe das condies econmicas e tcnicas que se encontram disposio do fornecedor, o que cria um desequilbrio na relao. Em virtude desta desigualdade entre as partes, h uma tentativa de se igualar a posio jurdica do consumidor do fornecedor, com a criao de um microssistema jurdico prprio para a proteo do primeiro. Esta hipossuficincia que, na realidade, o principal fundamento para o regime consumerista pode se manifestar em diversos aspectos da relao, tais como: tcnico (falta de conhecimento das especificaes do produto ou servio), jurdico (falta de conhecimento das regras legais que regem sua relao com o fornecedor) ou scioeconmico (maior capacidade econmica do fornecedor). Os incisos II, VI e VIII do art. 4 tm como escopo impulsionar uma atuao positiva do Estado no sentido da tutela os direitos dos consumidores. assumido nesses preceitos que o Estado deve garantir a todos o acesso aos produtos e servios essenciais, alm de regular a qualidade e adequao destes, por meio de aes que busquem o atendimento dos objetivos insculpidos no caput do art. 4. Essa poltica tem como amparo a ideia de criao de um Estado Social, com o aumento do intervencionismo estatal nas relaes entre particulares. Criam-se, ento, mecanismos para que o Poder Pblico possa, por meio de normativos ou de rgos e entidades integrantes da estrutura da Administrao (Procons, INMETRO, CADE), atuar no mercado de consumo. O inciso III do art. 4, alm de reportar-se harmonizao dos interesses dos participantes nas relaes de consumo e necessria compatibilizao das regras protecionistas do CDC com os princpios da ordem econmica os quais encontram-se previstos no art. 170 da Constituio Federal -, tambm menciona a boa-f e o equilbrio nas relaes de consumo. A boa-f princpio da mais alta relevncia nas relaes de consumo exige das partes uma conduta adequada com os objetivos do contrato, o qual no deve ser considerado mera sntese de interesses conflitantes, mas sim um instrumento de cooperao entre os contratantes. Com efeito, as partes devem agir com lealdade e confiana, antes, durante e aps a contratao, de modo que os anseios depositados por ambas as partes naquele acordo possam livre e justamente prosperar. O equilbrio mencionado no referido dispositivo impede que os contratos de consumo estabeleam prerrogativas a uma das partes, sem fixar vantagens

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PACOTE PARA A CAIXA ECONMICA FEDERAL outra. Ou seja, no pode o fornecedor obter benefcios do ajuste em detrimento dos direitos do consumidor. No tocante ao inciso IV do art. 4, oportuno notar que a educao e informao acerca dos direitos e deveres das regras consolidadas pela legislao consumerista aplicam-se tanto a consumidores quanto a fornecedores. O inciso V do art. 4 faz aluso a meios eficientes de controle de qualidade e segurana de produtos e servios, que devem ser criados pelos fornecedores. Assim, deve o Estado incentivar a implantao de ouvidorias e servios de atendimento ao consumidor (SAC), importantes mecanismos que buscam o aprimoramento das relaes de consumo e a realizao dos objetivos estatudos no caput do art. 4 da CDC. Ao tratar dos servios pblicos, o inciso VII do art. 4 dispe que se deve buscar sua racionalizao e melhoria. Como mencionamos em nossa primeira aula, os contratos celebrados entre consumidores e rgos pblicos, ou empresas concessionrias ou permissionrias, tambm podem, em regra, ser considerados de consumo. Desta forma, a melhora e otimizao destes servios os quais tm uma natureza prpria e muitas vezes so indispensveis para o bem-estar do cidado, tais como os servios de gua, energia eltrica e gs atinge diretamente a qualidade de vida de seus usurios, nos termos do caput do j aludido art. 4. O art. 5 conclui o captulo em anlise, com um elenco de instrumentos para utilizao na execuo e planejamento da Poltica Nacional de Relaes de Consumo, de modo que possam ser concretizados os objetivos e princpios previstos no artigo anterior.

1.2 Direitos do consumidor

A proteo vida, sade e segurana inaugura o rol de direitos previstos no art. 6 do Cdigo de Defesa do Consumidor. Assim, o inciso I daquele dispositivo busca impedir que se coloquem no mercado de consumo produtos e servios que possam ser nocivos segurana do consumidor. As prticas comerciais que coloquem em risco incolumidade fsica dos consumidores devem ser retiradas do mercado, com a devida responsabilizao dos fornecedores.Prof. Antonio Nbrega

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PACOTE PARA A CAIXA ECONMICA FEDERAL Os incisos II e III do art. 6 tratam da educao e informao dos consumidores. Como decorrncia da norma a estatuda, caber aos fornecedores e ao Poder Pblico alertar os consumidores acerca de eventuais riscos gerados pelo produto e servio, alm de esclarecer a forma adequada de sua utilizao. Alm disso, necessrio que o consumidor tenha cincia da quantidade, caractersticas, composio, qualidade e preo do produto ou servio contratado ou adquirido. relevante registrar que o inciso III tambm menciona a liberdade de escolha. A escolha livre e consciente, no impulsionada por oferta ou publicidade exagerada ou enganosa, um direito do consumidor e pressupe o conhecimento acerca das caractersticas e particularidades do produto ou servio contratado. Frise-se que a previso de igualdade nas contrataes decorrncia do princpio da isonomia, lapidado no art. 5 da Constituio Federal. Com efeito, no pode o fornecedor preterir um consumidor em favor de outro, sem que haja justa causa para tanto. A oferta de produtos e servios no mercado de consumo deve ser a mesma para todo o conjunto de possveis consumidores, sem qualquer distino. A proteo contra a publicidade enganosa e abusiva, bem como contra prticas e clusulas abusivas encontra-se estatuda no inciso IV do art. 6. No tocante publicidade enganosa ou abusiva, as definies de tais figuras encontram-se previstas nos 3 e 4 do art. 37 e sero discutidas nas aulas seguintes. Por ora, relevante observar, na esteira do que foi dito linhas acima, que o regime consumerista busca criar mecanismos prprios para impedir que o consumidor seja persuadido a adquirir produtos e servios por impulso, sem que haja uma reflexo sobre suas reais necessidades. As prticas e clusulas abusivas tambm sero objeto de nossos prximos encontros. Contudo, frise-se, desde j, que a proteo destinada ao consumidor para estas hipteses tem como fundamento sua vulnerabilidade em face do fornecedor. Ou seja, diante de um quadro desigual, a legislao passou a prever mecanismos justamente para que se tenha equilbrio nesta relao. O inciso V do art. 6 segue na mesma direo do inciso anterior e prev a possibilidade de modificao das clusulas contratuais que estabeleam prestaes desproporcionais ou sua reviso em razo de fatos supervenientes que as tornam excessivamente onerosas. Como vimos, o equilbrio contratual est consignado no inciso III do art. 4 e, desta forma, evidencia-se que a norma em comento tem como escopoProf. Antonio Nbrega

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PACOTE PARA A CAIXA ECONMICA FEDERAL justamente manter essa relao de igualdade entre as partes contratantes. A clusula que no estabelece direitos e obrigaes recprocas entre fornecedores e consumidores no deve prosperar, sendo lcito ao prejudicado pleitear em juzo a reviso do contrato. Da mesma forma, o advento de fato novo que torne o contrato excessivamente oneroso pode gerar a reviso de determinadas clusulas contratuais. Tal direito visa adequao do contrato a uma nova realidade ftica que se impe. Adiante, os incisos VI e VII do art. 6 tratam da preveno e reparao de danos morais e materiais causados aos consumidores. Neste ponto, oportuno salientar que a redao do aludido dispositivo utiliza-se do termo efetivo, o que indica que no deve haver limitao indenizao de eventual prejuzo causado aos consumidores, tanto no mbito material como moral. A preveno de danos deve ocorrer por meio da observncia das normas dispostas na legislao consumerista, por parte do fornecedor, e na execuo da Poltica Nacional de Relaes de Consumo, por parte do Estado. Cria-se, assim, um ambiente de respeito dignidade, sade e segurana do consumidor, nos termos do caput do art. 4 da Lei n 8.078/90. Note, tambm, que a regra em discusso no se limita aos direitos individuais dos consumidores, mas tambm abriga a tutela dos direitos difusos e coletivos, os quais sero debatidos em nossos prximos encontros. O inciso VIII, ao prever a facilitao da defesa dos direitos do consumidor, apresenta-nos uma relevante figura jurdica: a inverso do nus da prova. A redao daquele dispositivo a seguinte:

VIII - a facilitao da defesa de seus direitos, inclusive com a inverso do nus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critrio do juiz, for verossmil a alegao ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinrias de experincias;

Como vimos, o consumidor a parte vulnervel em uma relao de consumo e, por esta razo, encontra limitaes de ordem tcnica, jurdica e econmica. Neste diapaso, patente que, em certas hipteses, encontrar srias dificuldades em provar determinado fato em juzo. Por exemplo, imagine-se que uma quadrilha de estelionatrios efetue diversos saques indevidos na conta de um cliente de uma instituio financeira.Prof. Antonio Nbrega

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PACOTE PARA A CAIXA ECONMICA FEDERAL O prejudicado entra em contato com o banco, que lhe informa da impossibilidade de lhe ressarcir o valor, pois no h prova da atuao de terceiros, e que, desta forma, se presume que os saques foram realizados pelo prprio cliente. Caso o cliente proponha uma ao judicial em face da instituio financeira, com o objetivo de ser ressarcido pelos prejuzos suportados, dificilmente lograr xito na comprovao de que os saques foram feitos por uma quadrilha, j que no tem acesso a instrumentos e meios adequados para tanto. Para estas situaes, o Cdigo de Defesa do Consumidor positivou o mecanismo da inverso do nus da prova. Assim, a obrigao inicial de provar determinado evento ou fato passa a ser do fornecedor. No caso ventilado, o banco que dever demonstrar que o saque foi feito pelo prprio cliente, com a utilizao, por exemplo, de cmeras de filmagem ou qualquer outro instrumento de prova. Todavia, para que ocorra a inverso do nus da prova, h necessidade, conforme a letra do inciso VIII do art. 6, da verosimilhana da alegao do consumidor ou a configurao de sua hipossuficincia. A verosimilhana estar presente quando o fato alegado, de acordo com as regras ordinrias de experincias, tiver a aparncia de verdadeiro. H uma probabilidade considervel de que as razes trazidas baila pelo consumidor sejam pertinentes e correspondam realidade ftica em torno do evento. J a hipossuficincia encontra-se associada vulnerabilidade econmica de uma das partes, a qual, em virtude desta condio, ficar em desvantagem na discusso de seus interesses e direitos. No exemplo acima citado, certo que ambas as condies so preenchidas, tendo em vista que as alegaes do cliente do banco apresentamse como possveis e que a vulnerabilidade econmica do consumidor em face da instituio financeira evidente.

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Inverso do nus da Prova

Verossimilhana da alegao.

Hipossuficincia

O inciso VIII da Lei n 8.078/90 o ltimo do art. 6, e dispe sobre a adequada e eficaz prestao dos servios pblicos em geral. Conforme tratamos nos pargrafos anteriores, os ajustes pactuados entre consumidores e rgos pblicos, ou empresas concessionrias ou permissionrias que prestem servio pblico, tambm podem ser submetidos s regras do CDC. A adequada e eficaz prestao dos servios pblicos ser vista adiante quando falarmos sobre o art. 22 do CDC, mas relevante recordar que tais servios devem atender s necessidades de seus usurios, considerando que impactam diretamente na qualidade de vida daqueles consumidores. Por fim, o art. 7 permite a abertura do microssistema legal trazido pela Lei n 8.078/90 incidncia de outras regras e princpios previstos nas mais diversas fontes legislativas. Deste modo, candidato, sempre que outra lei assegurar direitos ao consumidor, estes direitos no entram em conflito nem se sobrepe ao contedo do CDC. Pelo contrrio, devem ser somados ao microssistema protetivo do consumidor, de modo que se harmonizem e dialoguem com as regras trazidas pela Lei n 8.078/90. Na hiptese, a regra de que a lei especial derroga a lei geral no que for incompatvel afastada. Com efeito, ainda que a regra mais benfica para o consumidor encontre-se prevista fora do mbito da Lei n 8.078/90 que a lei especial que trata das relaes de consumo -, ira produzir efeitos no mundo jurdico. Para mais claro entendimento, oportuno trazer as palavras da

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PACOTE PARA A CAIXA ECONMICA FEDERAL doutrinadora Claudia Lima Marques, que ao discorrer sobre o art. 7, assevera que:

O CDC um sistema permevel, no exaustivo, da determinar o art. 7, que se utilize a norma mais favorvel ao consumidor, encontre-se ela no CDC ou em outra lei geral, lei especial ou tratado do sistema de direito brasileiro. Esta abertura tanta que o art. 7 do CDC permite a utilizao da equidade para preencher lacunas em favor dos consumidores. Seguindo ainda na lio daquela autora, conveniente apresentar as razes aduzidas acerca de eventual conflito entre as regras do CDC e do Cdigo Civil de 2002:

(...) no caso do CC/2002, o ideal no e mais perguntar somente qual o campo de aplicao de Novo Cdigo Civil de 2002, quais seus limites, qual o campo de aplicao do CDC e quais seus limites, mas visualizar que a relao jurdica de consumo civil e especial, tem uma lei geral subsidiria por base e uma (ou mais) lei especial para proteger o sujeito de direito, sujeito de direitos fundamentais, o consumidor. () Neste sentido, no o CDC que limita o Cdigo Civil, o Cdigo Civil que d base e ajuda o CDC, e se o Cdigo Civil for mais favorvel ao consumidor do que o CDC, no ser esta lei especial que limitar a aplicao da lei geral (art. 7 do CDC), mas sim dialogaro procura da realizao do mandamento constitucional de proteo especial do sujeito mais fraco.

O art. 7 trata tambm, em seu pargrafo nico, da solidariedade. Tal fenmeno, que resulta da lei ou da vontade das partes, permite que a vtima venha a exigir e receber de um ou alguns dos autores da ofensa, parcial ou totalmente, a reparao dos danos morais e materiais eventualmente suportados. curioso notar que a redao lapidada no dispositivo legal ventilado semelhante parte final do caput do art. 942 do Cdigo Civil que dispe que se a ofensa tiver mais de um autor, todos respondero solidariamente pela reparao. Adiante, ao discorrermos sobre a responsabilidade do fornecedor por vcio ou fato do produto ou servio, voltaremos a falar da solidariedade.Prof. Antonio Nbrega

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2) Proteo sade e segurana do consumidor

Os arts. 8, 9 e 10 do Cdigo de Defesa do Consumidor esto nitidamente vinculados entre si, tratando das questes relativas segurana e a nocividade dos produtos e servios que so colocados disposio do consumidor. Isto posto, relevante notar que a redao do art. 8 permite a colocao no mercado de produtos e servios que acarretem riscos sade ou segurana dos consumidores, desde que tais riscos sejam normais e previsveis em decorrncia de sua natureza e fruio. Alm disso, imperativo que os fornecedores divulguem as informaes necessrias e adequadas a seu respeito. Mais a frente, veremos que o art. 31 do CDC, ao tratar do dever de informao, dispe que a oferta e a apresentao de produtos ou servios devem assegurar informaes acerca dos riscos que apresentam sade e segurana dos consumidores. mister observar que, ao mencionar que os riscos devem ser normais e previsveis, a Lei Consumerista permite que os produtos e servios tenham um potencial nocivo, desde que tal perigo possa ser controlado e de conhecimento do consumidor padro que h no mercado. Caso contrrio, ficaria invivel a comercializao dos mais diversos produtos. Exemplificando: um fogo pode potencialmente causar um incndio ou uma exploso caso seja mal utilizado. Da mesma forma, um remdio ou suplemento alimentar pode gerar um grave dano sade se for consumido sem a devida orientao. O objetivo da norma justamente impedir que o consumidor seja exposto a produtos e servios que tenham um potencial lesivo desconhecido, considerando que so novos no mercado ou apresentam caractersticas que so desconhecidas da populao em geral. Para essas situaes, necessria a divulgao de informaes adequadas sobre a segurana destes produtos e servios. O CDC no exige que o produto ou servio sejam absolutamente seguros, mas demanda que o eventual potencial lesivo seja de conhecimento do consumidor. Observe-se que o art. 9 da Lei 8.078/90 foi enftico ao tratar dos produtos e servios potencialmente nocivos ou perigosos sade, dispondoProf. Antonio Nbrega

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PACOTE PARA A CAIXA ECONMICA FEDERAL que o fornecedor deve informar, de maneira ostensiva e adequada, a respeito da sua nocividade ou periculosidade, sem prejuzo da adoo de outras medidas cabveis em cada caso concreto. Tal obrigao decorre da racionalidade do art. 4 da Lei n 8.078/90, que prev o dever da transparncia. Se o fornecedor apresentar as informaes acerca dos riscos do produto ou servio de forma insuficiente ou inadequada como, por exemplo, por meio de letras minsculas inseridas no rtulo de um produto estar atuando de modo contrrio a este mandamento. Adiante, o art. 10 impede que sejam colocados no mercado os produtos e servios que apresentem alto grau de nocividade ou periculosidade sade ou segurana. Perceba, candidato, que, no obstante permitir que produtos e servios que apresentam certo risco sejam colocados no mercado, o legislador impede tal oferta caso seja alta a medida deste risco. Infere-se, desta forma, que a permisso normativa est estabelecida entre o que potencialmente danoso sade ou segurana do consumidor e o que se apresenta com um alto grau de nocividade ou periculosidade. Denota-se que a avaliao de quando o produto ou servio tem este alto grau de risco dever ser feita caso a caso, j que o termo vago e impreciso, sendo prudente o exame detalhado do contexto ftico em que a norma ser aplicada. Os pargrafos primeiro a terceiro do art. 10 criam uma obrigao, tanto para os fornecedores, quanto para o prprio Estado. O chamado recall tratado no referido 1. O objetivo deste instrumento jurdico impedir que o consumidor venha a sofrer algum prejuzo moral ou material em razo de vcio que o produto ou servio tenha apresentado aps sua comercializao. Nem sempre o fornecedor consegue vislumbrar a totalidade dos riscos que certo produto ou servio podem apresentar. Muitas vezes, somente atravs de evolues cientifica, pesquisas ou pela prpria ocorrncia de situaes pontuais que o fornecedor descobre os males causados por um produto. De acordo com o regime deflagrado pelo CDC, no seria razovel admitir que a responsabilidade do fornecedor seja totalmente afastada pelo fato de o produto j estar na posse do consumidor. De fato, h um complexo de obrigaes ps-contratuais para o fornecedor, e, dentre elas, a de comunicar os

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PACOTE PARA A CAIXA ECONMICA FEDERAL consumidores acerca desta periculosidade do produto que fora colocado no mercado. Imagine a produo em srie de certo tipo de aparelho de arcondicionado. Aps tal produto ter sido colocado no mercado e adquirido por diversos consumidores, a fabricante (fornecedora) percebe que o uso prolongado do aparelho pode gerar um superaquecimento e, consequentemente, um princpio de incndio. Nesta hiptese, a periculosidade do produto foi detectada somente aps sua comercializao, gerando para o fornecedor a obrigao de comunicar o fato imediatamente s autoridades competentes e aos consumidores, mediante anncios publicitrios (1). Se os possveis danos sade causados por um composto de vitaminas s vm a ser descobertos aps a colocao daquele produto no mercado, certo que o laboratrio dever agir para que todos os possveis consumidores sejam cientificados daquela nocividade. Devero ser veiculados anncios publicitrios na imprensa, rdio e televiso, s expensas do fornecedor do produto ou servio (2). Repare, candidato, que a comunicao deve ser feita tanto para os consumidores, quanto s autoridades competentes. imperativo registrar que a inobservncia desta regra pode configurar um ilcito penal, nos termos do art. 64 do CDC, que dispe que crime deixar de comunicar autoridade competente e aos consumidores a nocividade ou periculosidade de produtos cujo conhecimento seja posterior sua colocao no mercado. Alm disso, o recolhimento, a troca, o reparo ou a substituio dos produtos reconhecidamente nocivos ou que possam representar uma ameaa sade ou segurana dos consumidores devem ser feitos sob o nus do fornecedor, sem cobrana de quaisquer valores dos respectivos adquirentes. Para concluir, insta ressaltar que a obrigao debatida nas linhas anteriores tambm se aplica ao Poder Pblico. Eis que o pargrafo terceiro do art. 10 determina que sempre que tiverem conhecimento de periculosidade de produtos ou servios sade ou segurana dos consumidores, a Unio, os Estados, o Distrito Federal e os Municpios devero inform-los a respeito.

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PACOTE PARA A CAIXA ECONMICA FEDERAL 3) Responsabilidade nas relaes de consumo

Candidato, ingressaremos agora em um dos tpicos mais relevantes de nosso curso e, por essa razo, sugiro especial e dedicada ateno aos temas que sero aventados adiante, tanto em relao aos aspectos doutrinrios acerca da matria, quanto ao texto da lei. O inciso VI do art. 6 da Lei n 8.078/90 prev como um dos direitos do consumidor a efetiva preveno e reparao dos danos patrimoniais e morais por ele suportados. Para tutelar esta garantia e dar sustentao a um sistema de proteo ao consumidor, criou-se um regime prprio para responsabilizao dos fornecedores de produtos e servios. A responsabilidade dos fornecedores por fato do produto ou servio encontra-se estatuda nos arts. 12 a 17 do CDC, enquanto a responsabilidade por vcio est lapidada nos arts. 18 a 25 daquele mesmo diploma legal. Contudo, antes de adentrarmos na anlise do texto legal (arts. 12 a 25), necessrio que seja compreendida a diferena entre fato e vcio do produto ou servio, bem como as peculiaridades do regime de responsabilidade civil adotado pelo CDC.

3.1 Diferena entre fato e vcio do produto ou servio

Imagine que uma pessoa adquira um computador domstico em uma loja de informtica. Antes de realizar a compra, o vendedor especificara, dentre outras caractersticas do produto, a possibilidade de gravao de DVDs e o acesso internet. Ao chegar em casa, o consumidor percebe que o computador no consegue conectar internet, devido a um problema em seus componentes internos. Alm disso, o gravador de DVDs tambm no est funcionando de modo adequado. Diante desse quadro, certo que o bem adquirido no corresponde exatamente ao que foi oferecido na loja, frustrando as legtimas expectativas depositadas pelo consumidor na ocasio em que efetuou a compra. Tais defeitos constituem vcios, que geram uma diminuio no valor do produto.

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PACOTE PARA A CAIXA ECONMICA FEDERAL Essa desvalia pode se originar de impropriedades na qualidade ou quantidade do bem. Ademais, tambm possvel considerar viciado um produto que apresente distores em relao s informaes publicitrias divulgadas a seu respeito. Perceba, candidato, que o vcio faz com que ocorra uma desconformidade do produto ou servio, o que compromete sua prestabilidade ou servibilidade e acaba por lhe reduzir o valor. Agora, seguindo no mesmo exemplo, caso o monitor do computador, por uma falha de fabricao, venha a aquecer e gerar uma pequena exploso, causando danos fsicos ao consumidor, ainda possvel se falar em vcio do produto? Nesta hiptese, evidencia-se que a pessoa do consumidor foi diretamente atingida pelo defeito. Por uma falha de segurana no processo de produo do bem, o mesmo acabou por gerar um acidente de consumo. Nestes casos estamos diante de um fato do produto. No vcio os prejuzos so meramente econmicos, o que gera uma desvalorizao no produto ou servio, tornando-os imprprios ou inadequados para o uso. No fato h um defeito de segurana, o que acaba por gerar um prejuzo integridade fsica ou moral do consumidor. Para solidificar o entendimento acerca da diferena entre fato e vcio, vamos pensar em outra situao, envolvendo agora a prestao de um servio. Imagine que uma pessoa celebre um contrato de transporte com uma empresa de nibus, com o objetivo de viajar de um Estado para outro. Considerando o longo perodo de viagem, o passageiro adquire passagens de valor elevado, para viajar em um nibus executivo com cadeiras mais espaosas. Todavia, no momento em que embarca no veculo, nota que o nibus disponibilizado igual a todos os outros e que, alm disso, encontra-se em pssimo estado de conservao. Ao ser questionada acerca desta situao, a empresa de nibus limita-se a alegar que, em virtude de um imprevisto, no foi possvel disponibilizar o nibus executivo. Neste caso, estaremos diante de um fato ou vcio do servio oferecido pela empresa fornecedora? certo que se trata de vcio do servio. Evidencia-se que, aparentemente, no houve dano pessoa do consumidor. O que ocorreu foi uma ruptura entre a legtima expectativa depositada no fornecedor e o modo como o servio foi prestado, o que caracterizou um vcio de qualidade.Prof. Antonio Nbrega

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PACOTE PARA A CAIXA ECONMICA FEDERAL Por outro lado, depreende-se que, caso tivesse ocorrido um acidente durante a viagem, os danos fsicos e morais suportados pelo passageiro iriam caracterizar um fato do servio, o que geraria a responsabilidade por parte da empresa fornecedora.

Fato do serviio ou produto Fato do serv o ou produto

H um dano pessoa do consumiidor H um dano pessoa do consum dor

Vciio do serviio ou produto V c o do serv o ou produto

H uma iinadequao do produto H uma nadequao do produto s llegtiimas expectatiivas do s eg t mas expectat vas do consumiidor consum dor

3.2 Regime de responsabilidade civil do CDC

Nos termos dos arts. 186, 187 e 927 do Cdigo Civil de 2002, o regime de responsabilidade que predomina em nosso ordenamento jurdico tem como fundamento a culpa1. Assim, para que se configure o dever de reparao de uma pessoa em face de outra, necessrio que o causador do dano tenha atuado com dolo tenha agido com inteno ou assumido o risco de produzir o resultado ou culpa nas modalidades de imprudncia, negligncia ou impercia. Caso um dano seja causado em virtude de um fato involuntrio, como na hiptese de caso fortuito ou fora maior, no h de se falar em responsabilidade do causador do dano. Para melhor ilustrar essa situao, vamos imaginar uma coliso causada por um automvel em uma moto. Ora, para que o motorista do carro seja responsabilizado e tenha a obrigao de indenizar o motoqueiro pelos prejuzos suportados, necessrio demonstrar que aquele atuou, pelo menos, com imprudncia. Caso reste comprovado que o acidente ocorreu, por exemplo, por deficincia da via ou queda de uma rvore, patente que estar afastada a responsabilidade do condutor do automvel. Com o advento do Cdigo de Defesa do Consumidor, a responsabilidade dos fornecedores nas relaes de consumo passou a ser tratada de modo1

Frise-se que o pargrafo nico do art. 927 do Cdigo Civil prev a responsabilidade sem culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.

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PACOTE PARA A CAIXA ECONMICA FEDERAL diferenciado pela legislao. A justificativa para essa mudana na forma com que aferida a responsabilidade tem como um dos principais fundamentos a massificao dos meios de produo. Considerando que atualmente o consumidor encontra-se exposto a bens e servios oferecidos em grande escala, possvel vislumbrar uma hiptese em que o fornecedor atue com diligncia e cautela durante a produo do bem, mas o produto final comercializado no mercado venha a apresentar um defeito apto a causar um dano ao seu adquirente. Evidencia-se que no houve dolo ou culpa do fornecedor, j que este agiu de modo cuidadoso, com a observncia de um rigoroso controle de qualidade na confeco do produto. Ocorre que, ainda assim, o bem foi colocado defeituoso no mercado. Trata-se de uma consequncia da produo em massa e pode ter as mais variadas justificativas tais como: defeitos em uma pea entregue por outro fornecedor, problemas no transporte do produto, desconhecimento acerca de alguma caracterstica do bem etc. Neste caso, no seria razovel que o dano suportado pelo consumidor ficasse sem reparao. Deste modo, a soluo encontrada pelo legislador foi atribuir a responsabilidade objetiva aos fornecedores. De acordo com essa teoria, o fornecedor assume os riscos pelo exerccio de sua atividade, e ir responder, independentemente da existncia de culpa ou dolo, por eventuais prejuzos suportados pelo consumidor, desde que haja um nexo de causalidade entre o vcio ou defeito do produto ou servio e o dano. Caso um alimento seja colocado disposio do pblico em geral e, posteriormente, seja comprovado que um fungo gerou danos a diversos consumidores, o fornecedor dever ser acionado para reparar o prejuzo causado. Tal responsabilidade persistir mesmo diante da prova de que o fornecedor atuou de modo diligente no controle de qualidade do alimento. No houve culpa, mas h o dever de reparao. Por fim, oportuno recordar que a dificuldade na demonstrao de culpa por parte do fornecedor constitui um relevante fundamento para a adoo do regime da responsabilidade objetiva por parte do Cdigo de Defesa do Consumidor. De fato, caso se adotasse o regime de responsabilidade subjetiva, a mera comprovao de que agiu de modo zeloso e prudente seria suficiente para afastar a responsabilidade do fornecedor. Como demonstrar que uma fbrica no adotou a cautela devida na produo de um bem? Como comprovar que osProf. Antonio Nbrega

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PACOTE PARA A CAIXA ECONMICA FEDERAL problemas ocorridos aps a contratao de um servio de TV a cabo ou internet so causados pela gesto inadequada da empresa? O regime de responsabilidade objetiva afasta esta problemtica. A comprovao de que o fornecedor adotou um comportamento diligente no suficiente para afastar sua responsabilidade em ressarcir os prejuzos suportados pelo consumidor. O que interessa o dano e o vnculo deste com o defeito do produto ou servio. Tem como ffundamento a cullpa ou Tem como undamento a cu pa ou dollo,, por ao ou omiisso.. do o por ao ou om sso

Responsabiilliidade Subjjetiiva Responsab dade Sub et va

Responsabiilliidade Objjetiiva Responsab dade Ob et va

Tem como ffundamento o riisco da Tem como undamento o r sco da atiiviidade.. A obriigao de iindeniizar at v dade A obr gao de nden zar iindepende da exiistnciia de cullpa ndepende da ex stnc a de cu pa

3.3 Responsabilidade pelo fato do produto ou servio

Aps estes dois tpicos introdutrios, em que discorremos acerca da diferenciao de fato e vcio do produto ou servio e do regime de responsabilidade adotado pela Lei Consumerista, vamos tratar das disposies legais especficas que versam sobre estes temas. O art. 12 do CDC inaugura a seo relativa responsabilidade pelo fato do produto ou servio, dispondo o seguinte:

O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existncia de culpa, pela reparao dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricao, construo, montagem, frmulas, manipulao, apresentao ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informaes insuficientes ou inadequadas sobre sua utilizao e riscos.

De acordo com a racionalidade da norma supratranscrita, e nos termos do que foi debatido at o momento, depreende-se que a responsabilidade doProf. Antonio Nbrega

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PACOTE PARA A CAIXA ECONMICA FEDERAL fornecedor do produto pelos danos causados independentemente da existncia de culpa. ao consumidor ocorre

Da leitura do aludido dispositivo normativo, percebe-se que o legislador no utilizou o termo fornecedor, que gnero, optando por mencionar algumas espcies daquela categoria (fabricante, produtor, construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador). Deste modo, vislumbra-se que, no caso de acidente de consumo, somente aqueles agentes podero ser inicialmente responsabilizados mais a frente veremos as excees previstas no art. 13, que permitem que o comerciante seja acionado. Neste diapaso, segue a doutrina de Rizzato Nunes, celebrado autor de Direito do Consumidor, que, ao tratar deste assunto, apresenta um esclarecedor exemplo:

Na hiptese de dano por acidente de consumo com produto, a ao do consumidor tem de se dirigir ao responsvel pelo defeito: fabricante, produtor ou construtor e, em caso de produto importado, o importador. Veja-se o exemplo dos dois consumidores que vo concessionria receber seu automvel zero-quilmetro no mesmo momento. Ambos recebem seu carro com o mesmo problema de fabricao: o sistema de freios no funcionar quando acionado. O primeiro conduz o veculo, e quando aciona o breque no consegue par-lo. Mas, aos poucos, reduzindo as marchas, consegue encostar o carro na guia e, assim, estacion-lo. O outro, ao atingir a esquina em certa velocidade, depara com o sinal vermelho. Pisa no breque e este no funciona. Acaba numa coliso, com danos no seu e em outro veculo. No primeiro caso, dia a lei (art. 18) que a escolha do responsvel por consertar o veculo (vcio) do consumidor (...) pode tanto acionar a concessionria quanto a montadora. Na segunda hiptese, no. Como se trata de acidente de consumo e defeito (art. 12), o consumidor lesado obrigado a pleitear o ressarcimento dos danos junto montadora, na qualidade de fabricante.

conveniente observar que tambm considerado fato do produto o dano causado em virtude de informaes insuficientes ou inadequadas sobre o bem. Nesta situao, caso o manual de determinado eletrodomstico no mencione a necessidade da utilizao de uma trava de segurana e o 19 Prof. Antonio Nbrega www.pontodosconcursos.com.br

PACOTE PARA A CAIXA ECONMICA FEDERAL consumidor venha a sofrer um prejuzo material em virtude desta omisso, certo que o fornecedor dever ser responsabilizado. Repare que no houve mau funcionamento ou grave defeito no bem. O que ocorreu foi somente a falta de informao adequada acerca do produto. Em relao aos defeitos que o bem pode apresentar, possvel conceitulos como: de confeco (relativos criao e formulao), de produo (montagem, manipulao e acondicionamento) e de informao (informao ou publicidade inadequada ou insuficiente). Insta registrar que o pargrafo primeiro lista trs circunstncias que devem ser consideradas na anlise acerca de eventual defeito em produto: a apresentao, o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam e a poca em que foi colocado em circulao. No tocante a esta ltima circunstncia, denota-se que a anlise da qualidade e das caractersticas deve ser feita de acordo com a ocasio em que o produto foi disponibilizado no mercado. Com efeito, a colocao de produto de qualidade superior ou mais seguro em circulao no tem o condo de justificar a alegao de defeito no anterior. O 2 do art. 12 do CDC segue esta direo e prev que o produto no considerado defeituoso pelo fato de outro de melhor qualidade ter sido colocado no mercado. Caso fosse adotado entendimento contrrio, o parque industrial nacional estaria condenado a permanecer obsoleto, pois no haveria um incentivo ao desenvolvimento de novas tecnologias. Adiante, o 3 apresenta o relevante elenco de hiptese nas quais a responsabilidade do fornecedor pode ser afastada. So trs os casos previstos por aquela norma: no ter colocado o produto no mercado; ter colocado o produto no mercado, mas o defeito inexistir; culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. Apesar de ter previsto que o fornecedor responder objetivamente pelos danos causados pelos produtos colocados no mercado no h necessidade da existncia de culpa ou dolo -, h situaes pontuais que excluem este dever jurdico. A primeira hiptese (inciso I) consiste na prova de que o fornecedor no colocou o produto no mercado. Ora, se algum tem acesso a um bem que ainda est em fase experimental e, consequentemente, no foi colocado emProf. Antonio Nbrega

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PACOTE PARA A CAIXA ECONMICA FEDERAL circulao, ainda que o produto venha a causar um dano em seu usurio, no h de se falar em responsabilidade do fornecedor. Do mesmo modo, se uma empresa tem sua marca ilegalmente copiada e utilizada em produtos falsos, no poder ser acionada para ressarcir eventuais prejuzos gerados por esses bens. Se o defeito inexistir (inciso II), afastado estar o nexo de causalidade e tambm a responsabilidade do fabricante, construtor, produtor ou importador. H uma ruptura na relao causal. Se um consumidor alegar que sentiu fortes dores em virtude da ingesto de um remdio e posteriormente restar comprovado que, na realidade, os danos foram provocados pela ingesto de outro produto, o laboratrio no ter qualquer obrigao indenizatria. O inciso III menciona a culpa exclusiva do consumidor ou terceiro. Repare que, para a incidncia deste dispositivo, necessria a presena de culpa, a qual no discutida na responsabilidade objetiva do fornecedor. Deve o consumidor ou terceiro estranho relao de consumo agir de modo determinante para que o dano seja causado, de forma que fique definitivamente excluda a existncia de defeito no produto. De incio, oportuno repisar que no Direito Consumerista vigora o princpio da inverso do nus da prova, de acordo com a racionalidade do inciso VIII, do art. 6. Assim, considerando que milita em prol do consumidor a presuno de defeito do produto, caber ao fornecedor demonstrar a presena de uma conduta culposa, nas modalidades de negligncia, imprudncia e impercia. Outro ponto que merece ateno fato de que grande parte da doutrina entende que a culpa mencionada no inciso III, do pargrafo 3 do art. 12 do CDC refere-se culpa exclusiva da vtima. Com efeito, entende-se que, caso esteja configurada a culpa concorrente que ocorre quando tanto o fornecedor, como o consumidor ou terceiro, agiram com culpa , no h como excluir a responsabilidade do fabricante, construtor, produtor ou importador. A culpa exclusiva seria a nica hiptese com aptido para afastar o dever de indenizar, j que extingue a relao de causalidade entre o defeito do produto e o evento danoso. Como exemplo, imagine que um aparelho eltrico, no obstante todos os avisos no respectivo manual de utilizao, venha a causar um princpio deProf. Antonio Nbrega

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PACOTE PARA A CAIXA ECONMICA FEDERAL incndio em virtude de ter sido ligado em uma sada de energia inapropriada. Nesta hiptese, evidente que o dano foi causado exclusivamente devido a uma conduta imprudente do consumidor, no sendo possvel vislumbrar defeito do produto. Na culpa concorrente, a responsabilidade se atenua, em virtude da concorrncia de um defeito do bem com uma conduta culposa. Todavia, remanesce a obrigao do fornecedor de reparar parte do dano. Repare, candidato, que, ainda que o produto apresente um mau funcionamento, se o dano foi oriundo exclusivamente da conduta do consumidor ou terceiro, no haver responsabilidade do fornecedor, considerando que o defeito no contribuiu para o evento. Insta salientar que, no elenco de hipteses que excluem a responsabilidade do fornecedor, no h meno ao caso fortuito ou a fora maior o primeiro decorre de fato ou ato inevitvel que independe da vontade das partes; o segundo ocorre em virtude de foras fsicas, superior s foras do agente. Contudo, a doutrina majoritria entende que a configurao destes eventos seria suficiente para afastar responsabilidade do fornecedor quando o produto j se encontra em circulao. Nesta linha de entendimento, vale trazer baila trecho da obra Cdigo Brasileiro de Defesa do Consumidor, comentado pelos autores do anteprojeto, na qual um dos autores discorre sobre o tema nos seguintes termos:

(...) quando o caso fortuito ou fora maior se manifesta aps a introduo do produto no mercado de consumo, ocorre uma ruptura do nexo de causalidade que liga o defeito ao evento danoso.(...) Na verdade, diante do impacto do acontecimento, a vtima sequer pode alegar que o produto se ressentia de defeito, vale dizer, fica afastada a responsabilidade do fornecedor pela inocorrncia dos respectivos pressupostos.

Superada esta etapa, vamos discutir agora acerca do art. 13 do Cdigo de Defesa do Consumidor. Como debatido nos pargrafos anteriores, vimos que, no caso de fato do produto, a responsabilidade por danos causados ao consumidor limita-se ao fabricante, produtor, construtor e importador, de acordo com a regra positivadaProf. Antonio Nbrega

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PACOTE PARA A CAIXA ECONMICA FEDERAL no art. 12 da Lei n 8.078/90. Diante deste quadro, pergunta-se: o comerciante pode ser responsabilizado por fato do produto? Pois bem, o art. 13 do CDC apresenta trs hipteses nas quais o comerciante tambm pode ser acionado: RESPONSABILIDADE DO COMERCIANTE

Fabricante, construtor, produtor ou importador no podem ser identificados (Inciso I) Produto fornecido sem identificao clara do seu fabricante, produtor, construtor ou importador (inciso II) Falta de conservao adequada dos produtos perecveis (Inciso III)

Trata-se de responsabilidade subsidiria. O comerciante s poder ser responsabilizado nestes casos. Busca-se, deste modo, permitir que o consumidor possa ser ressarcido de outra forma pelo prejuzo suportado, tendo em vista que no logrou xito na identificao do fabricante, produtor, construtor e importador. Alm disso, tambm no seria justo responsabilizar estes agentes quando o dano se originou do indevido armazenado do produto pelo comerciante (inciso III). Se o rtulo de um suco industrializado no identifica seu produtor, eventual dano provocado pela ingesto da bebida dever ser ressarcido pelo estabelecimento que comercializou o produto (incisos I e II). Da mesma forma, se aquele comerciante no estoca adequadamente um alimento perecvel, ser possvel acion-lo na hiptese de o produto gerar um prejuzo sade do consumidor. Na primeira situao, caso reste comprovado que o comerciante no teve qualquer responsabilidade na m qualidade do suco, no seria razovel queProf. Antonio Nbrega

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PACOTE PARA A CAIXA ECONMICA FEDERAL suportasse sozinho os prejuzos causados. Assim, o pargrafo nico do art. 13 do CDC prev que aquele que efetivar o pagamento ao prejudicado poder exercer o direito de regresso contra os demais responsveis, segundo sua participao na causao do evento danoso. Da leitura daquele dispositivo, infere-se que, depois de satisfeito o consumidor, o comerciante que arcar com a indenizao poder exercer seu direito de regresso contra aquele que efetivamente responsvel pelo fato do produto. Note, candidato, que, na hiptese do inciso III do aludido dispositivo, no se vislumbra a possibilidade do exerccio do direito de regresso, pois a responsabilidade pelos danos ser, em regra, exclusiva do comerciante.

Consumidor (direito de ressarcimento) comerciante regresso) fabricante, produtor, construtor e importador

(direito

de

A responsabilidade por fato do servio aferida nos termos do art. 14 do Cdigo de Defesa do Consumidor:

Art. 14. O fornecedor de servios responde, independentemente da existncia de culpa, pela reparao dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos prestao dos servios, bem como por informaes insuficientes ou inadequadas sobre sua fruio e riscos.

A responsabilidade por fato do servio tem os mesmos contornos que a responsabilidade por fato do produto. Com efeito, no h necessidade da demonstrao de culpa. Trata-se da responsabilidade em sua modalidade objetiva. Como no texto do art. 12 aventado acima, o art. 14 tambm prev, no que se refere a acidente de consumos envolvendo servios, que a informao insuficiente, ou inadequada, considerada um defeito e pode gerar a responsabilidade do fornecedor. Ainda no caput do art. 14, enfatize-se que o termo fornecedor usado em seu sentido amplo. No h determinao legal para que a responsabilidade fique limitada somente a alguns daqueles agentes, o que ocorre no caput do art. 12,

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PACOTE PARA A CAIXA ECONMICA FEDERAL sendo possvel utilizar o conceito genrico de fornecedor (art. 3), de acordo com o que foi discutido em nosso primeiro encontro. O servio considerado defeituoso quando no fornece a segurana que o consumidor dele pode esperar (art. 14, 1). Para tanto, deve-se considerar:

o modo de seu ornec mento; -o modo de seu fforneciimento; o resu tado e os r scos que razoave mente de e se esperam; -o resulltado e os riiscos que razoavellmente delle se esperam; a poca em que o ornec do -a poca em que ffoii fforneciido..

Como exemplo de servios defeituosos, podemos imaginar: o conserto mau feito de um veculo antigo, o qual, posteriormente, envolve-se em um acidente justamente em virtude do defeito que no fora sanado; o indevido lanamento do nome de um cliente de uma instituio financeira em um cadastro de devedores, o que o impede de celebrar diversos negcios; ou o furto de objeto que estava sob a guarda do transportador, que no observou os critrios mnimos para proteger o bem. Em todos esses casos, patente o prejuzo causado ao consumidor, o que cria a obrigao de ressarcimento por parte do fornecedor do servio, independentemente da existncia de culpa. Como no caso do produto, o servio tambm no considerado defeituoso pela adoo de novas tcnicas (art. 12). Se uma empresa de dedetizao desenvolve um veneno mais eficiente, no possvel afirmar que os servios anteriores prestados por aquele fornecedor so defeituosos. O pargrafo terceiro, nos mesmos moldes do dispositivo equivalente do art. 12, prev que a responsabilidade do fornecedor de servios afastado nos casos em que o defeito inexistir (inciso I) ou culpa exclusiva da vtima (inciso II). O pargrafo seguinte versa sobre um importante tema e, por isso, requer uma ateno especial por parte do candidato:

4 A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais ser apurada mediante a verificao de culpa

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PACOTE PARA A CAIXA ECONMICA FEDERAL Diante do texto do dispositivo legal acima transcrito, percebe-se que h uma exceo regra geral de responsabilidade objetiva do CDC. De fato, tratando-se de profissional liberal, a sua responsabilidade se estabelece somente mediante verificao de culpa. Para melhor compreendermos a razo deste tratamento diferenciado, necessrio que alguns fatores sejam considerados. Inicialmente, imperativo recordar que uma das razes da legislao consumerista ter adotado o regime da responsabilidade objetiva foi equilibrar a contundente relao de desigualdade econmica existente entre fornecedor e consumidor, notadamente em virtude da dificuldade do segundo de produzir provas que demonstrem a responsabilidade do primeiro. Pois bem, quando se trata de profissional liberal, tais como mdicos, advogados, dentistas, dentre outros, tal desigualdade no se apresenta de forma to ntida. Em certos casos, o profissional encontra-se em posio de igualdade ftica e econmica em relao ao consumidor, o que faz com que a dificuldade de produo das provas em torno de um evento danoso seja igual para ambos. Outrossim, os servios prestados por aqueles profissionais tm caracterstica pessoal (intuitu personae). A confiana que inspiram nos respectivos clientes o que possibilita a contratao. A prestao do servio no voltada para o mercado de massa, e sim para a individualidade do consumidor. No dispe o profissional liberal de um aparato industrial ou de uma organizao econmica por trs do servio oferecido. Assim sendo, a anlise de sua responsabilidade de forma objetiva, sem que se verifique se sua conduta foi imprudente, negligente ou imperita, poderia no se mostrar adequada aos critrios de razoabilidade. Para concluir, ressalte-se que, na maioria das vezes, a obrigao do profissional liberal de meio e no de resultado o advogado no se compromete a ganhar a causa e nem o mdico a curar o paciente, at porque tais sucessos podem escapar ao seu controle. A obrigao daqueles profissionais em relao s diligncias que devem ser efetuadas e as tcnicas utilizadas na prestao do servio.

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PACOTE PARA A CAIXA ECONMICA FEDERAL

Os profissionais liberais mediante a verificao de culpa.

respondem

pelos

seus

atos

O art. 17, que dispe sobre uma das hipteses de consumidor por equiparao, j foi discutido na aula passada.

3.4 Responsabilidade por vcio do produto ou servio

O art. 18 do CDC trata da responsabilidade do fornecedor por vcios do produto nos seguintes termos:

Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo durveis ou no durveis respondem solidariamente pelos vcios de qualidade ou quantidade que os tornem imprprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade, com a indicaes constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitria, respeitadas as variaes decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituio das partes viciadas.

O texto legal determina que os fornecedores incluindo a os fabricantes e comerciantes respondam solidariamente pelos vcios de qualidade ou quantidade. E o que significa dizer que a responsabilidade solidaria? Imagine que uma televiso no esteja funcionando adequadamente, o consumidor lesado poder acionar somente a empresa que fabricou o produto ou poder tambm responsabilizar o comerciante? Como a responsabilidade solidria, o consumidor poder acionar qualquer dos agentes que participaram da cadeia de fornecimento do produto, inseridos na relao jurdica de consumo. Qualquer deles pode ser demandado para adotar as medidas previstas no 1 do art. 18, que sero debatidas adiante.

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PACOTE PARA A CAIXA ECONMICA FEDERAL A solidariedade tambm se encontra consignada no 1 do art. 25, que dispe que, havendo mais de um responsvel pela causao do dano, todos respondero solidariamente pela reparao. importante notar que no qualquer vcio de qualidade ou quantidade que se amolda hiptese normativa do art. 18. O vcio com aptido para gerar a responsabilidade do fornecedor aquele que torna o produto imprprio ou inadequado ao consumo a que se destina, diminui o valor do produto ou decorre de disparidade entre o contedo lquido e suas indicaes. Podemos dividir os vcios em de qualidade e de quantidade. Os primeiros so aqueles que tornam os produtos imprprios ou inadequados ao consumo, ou lhes diminuam o valor (atente-se ao art. 23, que dispe que a ignorncia do fornecedor sobre os vcios de qualidade por inadequao dos produtos e servios no o exime de responsabilidade). Como exemplo, podemos citar o defeito no som de uma televiso ou no motor de um veculo. Repare que o 6 do art. 18 acrescenta, ainda, os vcios aparentes, que ocorrem quando o produto: est com prazo de validade vencido; est deteriorado, alterado, adulterado, avariado, falsificado, corrompido, fraudado, nocivo vida ou sade, perigoso ou, ainda, est em desacordo com as normas regulamentares de fabricao, distribuio ou apresentao; e, por qualquer motivo, se revele inadequado ao fim a que se destina. O art. 19 versa especificamente sobre os vcios de quantidade, os quais se apresentam quando o contedo lquido do produto for inferior s indicaes constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou de mensagem publicitria. Recorde-se a previso do art. 18, que se refere disparidade entre o contedo lquido e as indicaes do produto. Como exemplo, vale mencionar a garrafa de suco ou refrigerante que tem contedo inferior ao anunciado na embalagem. Superada esta etapa, pergunta-se: qual ser a responsabilidade do fornecedor no caso de vcio constatado em um produto? Nos termos do pargrafo primeiro do art. 18, caso o vcio no tenha sido sanado no prazo de 30 dias lapso temporal que pode ser modificado conforme o pargrafo segundo -, o consumidor poder exigir uma das seguintes medidas: a substituio do produto por outro da mesma espcie, em perfeitas condies de uso (atente-se para o texto do 4), a restituio imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuzo de eventuais perdas e dano ou o abatimento proporcional do preo.Prof. Antonio Nbrega

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PACOTE PARA A CAIXA ECONMICA FEDERAL relevante registrar que a opo por uma das trs providncias deve ser feita pelo consumidor. No h participao do fornecedor. Assim, caso um computador esteja com problemas de acesso internet, o consumidor poder se dirigir ao estabelecimento que lhe vendeu o produto, solicitando que o defeito seja reparado. Aps trinta dias, caso no haja uma resposta da loja, o consumidor pode simplesmente exigir que lhe seja entregue outro computador de igual qualidade, a restituio do que foi pago, ou a devoluo do computador danificado com o respectivo abatimento do preo. Todavia, h casos em que o vcio no pode ser sanado sem o comprometimento do valor do produto. Imagine que um quadro seja adquirido em uma loja especializada. Aps a entrega, percebe-se que, no transporte feito pelo estabelecimento, o bem foi danificado. Ora, certo que no h como reparar o quadro sem causar algum prejuzo no seu valor. Para estes casos, a regra estatuda no 3 prev que as trs alternativas elencadas acima podem ser imediatamente escolhidas pelo consumidor sempre que, em razo da extenso do vcio, a substituio das partes viciadas puder comprometer a qualidade ou caractersticas do produto, diminuir-lhe o valor ou se tratar de produto essencial. Em relao a produtos in natura aqueles colocados no mercado sem sofrer qualquer processo de industrializao, tais como produtos agrcolas o pargrafo quinto reza que o fornecedor imediato em regra, o comerciante que ser o responsvel. H ressalva, contudo, na hiptese de identificao do produtor. No caso dos vcios de quantidade, as medidas previstas no art. 19 so praticamente as mesmas, com pequenas diferenas: abatimento proporcional do preo, complementao do peso ou medida, substituio do produto por outro da mesma espcie, marca ou modelo e restituio imediata da quantia paga monetariamente atualizada, sem prejuzo de eventuais perdas e danos. Repare, candidato, que permanece o direito do consumidor de escolher qual a providncia ser adotada pelo fornecedor. Deste modo, podemos apresentar o seguinte quadro:

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PACOTE PARA A CAIXA ECONMICA FEDERAL

No caso de vcio de produto, o consumidor pode escolher, aps trinta dias, as seguintes providncias: Art. 18 Art. 19

-substituio do produto por outro da -substituio do produto por outro da mesma espcie. mesma espcie, marca ou modelo. -restituio da quantia paga. -abatimento proporcional do preo. -restituio da quantia paga. -abatimento proporcional do preo. -complementao do peso ou medida.

O art. 20 passa a tratar da responsabilidade por vcios nos servios com a seguinte redao:

Art. 20. O fornecedor de servios responde pelos vcios de qualidade que os tornem imprprios ao consumo ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade com as indicaes constantes da oferta ou mensagem publicitria (...)

O servio estar viciado quando se mostrar inadequado para os fins para o qual foi contratado, ou no atender s normas regulamentares para a prestao dos servios (2). Podem, ainda, estar viciados em razo da diminuio do seu valor ou pela divergncia com a oferta ou informao publicitria. So inmeros os exemplos de vcios na prestao de servios, tais como: m prestao de servios bancrios, configurada pelo bloqueio indevido da conta do cliente; consertos realizados que no resolvem o defeito de eletrodomsticos ou veculos; pacote de viagem, na qual o turista pego desprevenido com a baixa qualidade do hotel; dentre muitos outros. As opes para o consumidor so: a reexecuo dos servios, sem custo adicional e quando cabvel (observe-se a regra do 1);

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PACOTE PARA A CAIXA ECONMICA FEDERAL a restituio imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuzo de eventuais perdas e danos; o abatimento proporcional do preo. Adiante, oportuno mencionar o teor do art. 22 do Cdigo de Defesa do Consumidor, que dispe que os servios pblicos devem ser adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contnuos. Recorde-se que, conforme aventado em nosso primeiro encontro, no h impedimento legal para que prestadores de servios pblicos sejam considerados fornecedores, desde que haja uma contraprestao por parte do consumidor, deve haver o pagamento pelo servio. Aos servios prestados em carter universal (chamados de UTI universi) no se aplicam as regras consignadas na Lei Consumerista. Candidato, necessrio atentar, na esteira do que resta positivado no aludido art. 22, que os servios pblicos podem ser prestados pelo prprio Estado, por meio da Administrao Direta ou Indireta como, por exemplo, no caso de empresas pblicas e sociedades de economia mista -, ou por empresas privadas. No tocante prestao de servio adequado, mister lembrar que a prpria Constituio, no inciso IV do ser art. 175 j prev que a lei dever dispor sobre a obrigao de manter servio adequado. Alm disso, a Lei n 8.987/95, que dispe sobre o regime de concesso e permisso de servios pblicos, conceitua servio adequado como aquele que satisfaz as condies de regularidade, continuidade, eficincia, segurana, atualidade, generalidade, cortesia e modicidade das tarifas. Os servios devem ser eficientes, com a produo de um efeito positivo para o consumidor. Neste passo, ressalte-se que a eficincia um dos princpios que regem a Administrao Pblica, nos termos do art. 37 da Constituio Federal. Pode-se afirmar que a eficincia um plus da adequao. Afinal para que o servio seja eficiente, necessariamente dever estar adequado s necessidades de seus usurios. A falta de segurana de um servio, como vimos, pode gerar um dano ao consumidor, o que caracteriza o fato do servio e a consequente obrigao de ressarcimento. Caso, por exemplo, da exploso de uma tubulao de gs no domiclio de um consumidor, causando prejuzos materiais e morais ao morador.

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PACOTE PARA A CAIXA ECONMICA FEDERAL O conceito jurdico de servio essencial aberto, e deve ser analisado caso a caso para que doutrina ou jurisprudncia possa determinar o seu real campo de atuao2. Da leitura do art. 22, depreende-se que os servios essenciais no poderiam ser interrompidos, tendo em vista que devem ser contnuos. Tal questo no pacfica em nossos tribunais e na doutrina, haja vista a racionalidade do 1, do art. 6 da Lei n 8.987/95, que prev a possibilidade de interrupo dos servios em situao de emergncia ou aps prvio aviso, quando: motivada por razes de ordem tcnica ou de segurana das instalaes; e por inadimplemento do usurio, considerado o interesse da coletividade. Desta forma, no obstante a determinao contida no art. 22 do CDC, seria possvel, em certas hipteses e de acordo com alguns entendimentos esposados no meio jurdico, a descontinuidade do servio pblico de carter essencial. Em seguida, o art. 24 dispe que a garantia legal de adequao do produto ou servio independe de termo expresso, vedada a exonerao contratual do fornecedor. De fato, a Lei n 8.078/90 introduziu um sistema prprio de garantias, de acordo com o que foi visto nos temas ventilados nas pginas anteriores. No h necessidade de que os direitos discutidos acima estejam previstos nos respectivos instrumentos contratuais. Decorrem da prpria fora normativa do Cdigo de Defesa do Consumidor. A garantia do produto ou servio um nus que deve ser suportado por todos aqueles que atuam na cadeia de fornecedores do mercado de consumo. Outrossim, no se limita a vcios e defeitos. uma garantia que abarca todo o complexo de funcionalidades do produto ou servio, de modo que estes atendam aos fins a que se prope. Neste mesmo diapaso, o art. 25 do CDC tambm veda clusula contratual que impossibilite, exonere ou atenue a obrigao de indenizar. Assim, busca-se garantir a efetiva reparao dos prejuzos suportados pelo consumidor em virtude de fato ou vcio de produto ou servio. Saliente-se que tal disposio atende a um dos direitos bsicos do consumidor, estatudo no inciso VI, do art. 6 do CDC.2

possvel fazer aluso Lei n 7.783/89, que trata do direito de greve e enumera os servios considerados essenciais em seu art. 10.

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PACOTE PARA A CAIXA ECONMICA FEDERAL 4) Prazos de decadncia e prescrio

No regime consumerista, a decadncia e a prescrio tm caractersticas prprias. A primeira aplica-se a vcio de produto ou servio, enquanto a segunda vale para o caso de acidente de consumo, em virtude de fato do produto ou servio. Trata-se de uma garantia legal (art. 24) estipulada em favor do consumidor. A doutrina reconhece na prescrio a extino de uma pretenso em razo da inrcia de seu titular durante um certo lapso temporal. A decadncia gera a extino do prprio direito, em virtude de o titular no o ter exercido dentro de um determinado perodo de tempo. Tais institutos visam garantir estabilidade e segurana nas relaes jurdicas. Ora, no seria razovel que um credor pudesse acionar o devedor 30 ou 40 anos depois de contrada a dvida. Da mesma forma, a aplicao de uma sano penal vrias dcadas aps o cometimento do crime tambm no se ajusta ao nosso sistema jurdico. No obstante o tratamento dado prescrio e decadncia em nosso ordenamento legal, a legislao consumerista inovou. Quanto a esse aspecto e matria, por ser despiciendo o aprofundamento neste tema to vasto e cheio de peculiaridades, iremos nos ater s regras trazidas pelos arts. 26 e 27 da Lei n 8.078/90. O art. 26 do Cdigo de Defesa do Consumidor trata da decadncia do direito de reclamar pelos vcios de produtos e servios. Desta forma, o prazo decadencial de trinta dias, tratando-se de fornecimento de servio e de produtos no durveis, e de noventa dias, tratando-se de fornecimento de servios e de produtos durveis. Um produto ou servio considerado durvel quando sua utilidade no se esgota no primeiro uso, tais como uma geladeira, um carro ou um computador. Os produtos e servios no durveis so aqueles que se exaurem aps a sua aquisio, como um alimento, um remdio ou a contratao de um servio de garom para uma determinada festa. E quando tem incio a contagem deste prazo decadencial? Seria razovel que este perodo se iniciasse sempre no momento em que o consumidor recebesse o produto ou em que o servio fosse concludo? certo que no. De fato, h situaes em que o vcio de um produto s passa a ser conhecido semanas ou meses aps sua aquisio. Como exemplo, imagine umProf. Antonio Nbrega

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PACOTE PARA A CAIXA ECONMICA FEDERAL veculo que apresente um mau funcionamento somente quando alcana velocidades elevadas. Supondo que seu proprietrio s venha a descobrir o defeito aps dirigir em uma estrada, meses depois da aquisio do carro, seria desarrazoado que o prazo decadencial para reclamao em face do fornecedor se iniciasse na data da entrega do bem, e no do momento em que o vcio passou a ser conhecido. Deste modo, perceba, candidato, que o caput do art. 30 reporta-se aos vcios aparentes e de fcil constatao como um arranho na lataria do carro ou um problema nos freios. O pargrafo primeiro ento dispe que se inicia a contagem do prazo decadencial a partir da entrega efetiva do produto ou do trmino da execuo dos servios. E nos casos em que o vcio estava oculto? Nestas hipteses, aplica-se a regra do pargrafo terceiro do mesmo art. 26, que reza que, tratando-se de vcio oculto, o prazo decadencial inicia-se no momento em que ficar evidenciado o defeito. Conclui-se que, para que o prazo decadencial se deflagre no momento em que o produto for recebido pelo consumidor ou em que o servio for terminado, o vcio deve ser facilmente constatvel e perceptvel durante o seu uso e consumo regular. O paragrafo segundo prev duas causas que podem obstar o prazo decadencial: a reclamao perante o fornecedor (inciso I) e a instaurao de inqurito civil (inciso II). Na primeira hiptese, o prazo fica suspenso at que o fornecedor manifeste-se negativamente acerca do pleito do consumidor. Aps a resposta, o prazo decadencial volta a correr, ou seja, o consumidor ainda ter um perodo para decidir se ir ou no propor uma ao judicial. No caso de inqurito civil instaurado pelo Ministrio Pblico, instrumento usado para esclarecimento de fatos e verificao de eventual violao da Lei Consumerista, a decadncia fica obstada at a concluso do procedimento.

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Decadncia Prazos 30dias produtos e servios no durveis 90 dias produtos e servios durveis Incio do prazo prazo da entrega do produto ou concluso do servio. Exceo: vcio oculto - momento em que ficar evidenciado o defeito

Obsta a decadncia: -Reclamao do consumidor -Instaurao de inqurito civil

Em relao prescrio, tal fenmeno ventilado no art. 27 do CDC. Conforme o teor daquela norma, a pretenso reparao pelos danos suportados em virtude de acidente de consumo prescreve no prazo de cinco anos. Insta ressaltar que, para que ocorra o incio deste lapso, necessrio o conhecimento do dano, bem como de sua autoria. Com efeito, se um incndio causa prejuzos no apartamento de um consumidor em virtude da falha eltrica de um eletrodomstico, o prazo prescricional s comear a correr a partir do momento em que o aparelho defeituoso e, consequentemente, o respectivo fornecedor - for identificado.

A pretenso reparao em viirtude de danos causados por ffato de produto A pretenso reparao em v rtude de danos causados por ato de produto ou serviio prescreve em ciinco anos.. ou serv o prescreve em c nco anos

Por fim, imperativo registrar que os prazos previstos nos arts. 26 e 27 do CDC so de ordem pblica e, portanto, no podem ser alterados pela vontade das partes.Prof. Antonio Nbrega

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5) Desconsiderao da Personalidade Jurdica

No momento em que uma sociedade adquire personalidade jurdica distinta da dos scios, ela passa a ter obrigaes e deveres em seu nome, alm de possuir patrimnio prprio. Para evitar abusos na utilizao desta fico jurdica, foi desenvolvida uma teoria que permite a desconsiderao da personalidade jurdica em relao a certos atos, para atingir o patrimnio dos scios. Esta situao excepcional, e que ocorrer somente em casos especficos, no tem como escopo a declarao de nulidade da personificao da sociedade, mas sim sua ineficcia para determinados atos. Busca-se, desta forma, a preservao do instituto, com a separao do patrimnio da sociedade e dos scios, medida que, de certa maneira, limita a perda destes ltimos e incentiva o investimento em novos negcios. A matria, alm de ser aventada no art. 50 do Cdigo Civil, tambm encontra amparo no art. 28 do CDC, que dispe o seguinte:

O juiz poder desconsiderar a personalidade jurdica da sociedade quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infrao da lei, fato ou ato ilcito ou violao dos estatutos ou contrato social. A desconsiderao tambm ser efetivada quando houver falncia, estado de insolvncia, encerramento ou inatividade da pessoa jurdica provocados por m administrao..

A utilizao da expresso em detrimento do consumidor evidencia que, na legislao consumerista, a desconsiderao da personalidade jurdica tem como principal escopo justamente a proteo daquele participante da relao de consumo, considerando a sua situao de vulnerabilidade. Para que esta medida seja determinada note que, nos moldes do caput do art. 50, tal providncia deve ser adotada pela autoridade judiciria uma das seguintes hipteses deve estar presente: abuso de direito, excesso de poder, infrao da lei, fato ou ato ilcito ou violao dos estatutos ou contrato social. Todas estas situaes configuram espcies de atos fraudulentos. O abuso de direito e o excesso de poder decorrem de atos que, no obstante sua 36 Prof. Antonio Nbrega www.pontodosconcursos.com.br

PACOTE PARA A CAIXA ECONMICA FEDERAL licitude, geram um resultado condenvel pelo ordenamento jurdico. A infrao da lei e fato ou prtica de ato ilcito constituem condutas contrrias s disposies legais vigentes, com prejuzo a direitos dos consumidores. A violao do estatuto ou do contrato social de uma sociedade tambm pode ter como escopo impedir o exerccio de um direito por parte do consumidor. A desconsiderao tambm possvel quando houver falncia, estado de insolvncia, encerramento ou inatividade da sociedade; mas, nesta hiptese, necessrio que tal situao configure-se em virtude de m administrao. A ltima hiptese legal para a desconsiderao encontra-se estatuda no 5 do mesmo art. 28. Destarte, tal providncia pode ser determinada sempre que a personalidade jurdica for, de alguma forma, obstculo ao ressarcimento dos prejuzos causados aos consumidores. Esta possibilidade normativa causa alguma divergncia no meio jurdico, tendo em vista que a desconsiderao poderia ocorrer ainda que no houvesse desvio de finalidade ou demonstrao de confuso patrimonial. Bastaria a prova de que a existncia da pessoa jurdica constitui um bice ao efetivo ressarcimento dos danos causados aos consumidores. Os pargrafos segundo, terceiro e quarto tm como objetivo criar um sistema mais eficiente de proteo ao consumidor, estendendo a responsabilidade a outras pessoas jurdicas alm do fornecedor, desde que aquelas tenham algum liame com este. Denota-se, da leitura daqueles pargrafos, que o CDC permite a responsabilizao subsidiria e a responsabilidade solidria. O primeiro caso aplica-se s sociedades integrantes dos grupos societrios e s sociedades controladas, enquanto o segundo s sociedades consorciadas. Ainda que seja improvvel que o examinador venha a cobrar detalhes acerca deste tema, enfatize-se que o grupo societrio composto pela sociedade controladora e suas controladas, nos termos do art. 265 da Lei 6.404/76 (Lei das S.A.). Nos termos daquele dispositivo legal, a sociedade controladora e suas controladas podem constituir, nos termos deste Captulo, grupo de sociedades, mediante conveno pela qual se obriguem a combinar recursos ou esforos para a realizao dos respectivos objetos, ou a participar de atividades ou empreendimentos comuns. Ainda, de acordo com o teor do 2 do art. 243 do mesmo diploma legal, considera-se controlada a sociedade na qual a controladora, diretamente ou atravs de outras controladas, titular de direitos de scio que lhe assegurem, 37 Prof. Antonio Nbrega www.pontodosconcursos.com.br

PACOTE PARA A CAIXA ECONMICA FEDERAL de modo permanente, preponderncia nas deliberaes sociais e o poder de eleger a maioria dos administradores. No tocante s sociedades consorciadas, oportuno fazer aluso ao art. 278, que reza que as companhias e quaisquer outras sociedades, sob o mesmo controle ou no, podem constituir consrcio para executar determinado empreendimento, observado o disposto neste Captulo. Ademais, o pargrafo primeiro prev que o consrcio no tem personalidade jurdica e as consorciadas somente se obrigam nas condies previstas no respectivo contrato, respondendo cada uma por suas obrigaes, sem presuno de solidariedade. A responsabilidade exclusivamente por culpa tambm encontra guarida no art. 28 do CDC, que determina que as sociedades coligadas s respondem desta forma. Registre-se que, conforme o teor do 1 do art. 243, consideram-se coligadas as sociedades nas quais a investidora tenha influncia significativa.

6) Oferta e publicidade

6.1 Oferta

No regime normatizado pelo Cdigo de Defesa do Consumidor, a oferta recebe um tratamento especial. poca da promulgao da Lei 8.078/90 no havia uma legislao suficientemente apta a defender os interesses dos consumidores. Partia-se do pressuposto de que as partes eram iguais no que diz respeito sua capacidade e disposio para contratar, e que a oferta ocorria entre pessoas determinadas. No era exatamente verdade. Na prtica das relaes de consumo, a oferta pode dar-se entre pessoas indeterminadas. Assim, alcana tanto aquele que, de fato, ir adquirir o produto ou servio, como tambm aqueles que esto propensos a se tornarem consumidores. At a edio do CDC, a falta de uma regulao acerca da questo acabava por gerar abusos por partes dos fornecedores, os quais podiam atuar com pouqussimas restries no mercado de produtos e servios. Os limites impostos oferta e a publicidade no eram suficientemente claros e davam margem s prticas nocivas ao mercado de consumo.

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PACOTE PARA A CAIXA ECONMICA FEDERAL Neste particular aspecto, o CDC inovou, ao desenhar e impor um conjunto de regras que passaram a disciplinar o regime jurdico da oferta, pelas quais se buscava tutelar o consumidor na defesa de seus direitos em um mercado evidentemente massificado. Conceitualmente, podemos afirmar que a oferta uma declarao unilateral de vontade que se utiliza de tcnicas e instrumentos para aproximar o consumidor dos produtos e servios oferecidos pelo fornecedor. O art. 30 inaugura a seo relativa oferta no Cdigo de Defesa do Consumidor com o seguinte texto:

Art. 30 Toda informao ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qualquer forma ou meio de comunicao com relao a produtos e servios oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado.

Assim concebido, esse dispositivo legal venho positivar uma importante regra para o regime consumerista: o efeito vinculante da oferta. Com efeito, desde que suficientemente precisa, a oferta vincula o fornecedor. Como exemplo, imagine-se que uma concessionria de veculos resolva fazer uma promoo relmpago de veculos semi-novos, possibilitando que, na primeira semana do ms, os compradores paguem a entrada 90 dias aps a entrega efetiva do automvel. Para que esta promoo atinja o pblico-alvo, a concessionria decide ento publicar um anncio em um jornal de grande circulao. Todavia, por um erro da prpria concessionria, o anncio publicado de forma incorreta, com a informao de que a promoo iria ocorrer nas duas primeiras semanas. Pedro, interessado em trocar de carro, comparece concessionria na segunda semana do ms para se informar acerca das condies de compra. Neste caso, vindo ele a se interessar por um dos veculos colocados a venda, Pedro poder exigir que o primeiro pagamento tenha data de efetivao marcada para noventa dias aps a entrega do automvel? A resposta positiva. Na realidade, no obstante a promoo s ter ocorrido na primeira semana do ms, o fornecedor ficar desde ento vinculadoProf. Antonio Nbrega

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PACOTE PARA A CAIXA ECONMICA FEDERAL oferta publicada no jornal nas mesmas condies oferecidas, e dever atender aos termos exatos da expectativa e do desejo de Pedro. imperativo frisar que a oferta deve ser suficientemente precisa para que ocorra este fenmeno. O mero exagero nas qualidades do produto ou servio no tem o condo de vincular o fornecedor. Se o dono de um restaurante assegura que a sua feijoada a melhor da cidade, ou se uma empresa de automveis afirma que sua garantia a mais completa do mercado, certo que no haver vinculao com esses termos da oferta, tendo em vista a impreciso das expresses utilizadas. O que deve ser levado em conta se a oferta cumpriu seu objetivo e chegou de modo razoavelmente preciso e mensurvel ao consumidor, o que gera uma expectativa de consumo. Neste caso, evidente a vinculao do fornecedor. Insta salientar que, em determinadas hipteses, possvel que a informao constante em determinada oferta publicitria traga um erro grosseiro. Imagine que o anncio de um veculo que custa R$ 50.000,00 seja publicado com o valor de R$ 50,00. Ora, ainda que existam entendimentos contrrios na doutrina e jurisprudncia, trata-se de erro flagrante, facilmente perceptvel pelo consumidor, no sendo razovel vincular o fornecedor a este tipo de oferta. De outro modo, estar-se-ia permitindo o desequilbrio contratual entre as partes da relao jurdica de consumo, alm de se afastar o princpio da boa-f, que deve ser rigorosamente observado por fornecedores e consumidores. oportuno notar que, para que ocorra o efeito vinculante, a oferta deve ser veiculada de modo que chegue ao conhecimento dos consumidores em potencial do produto ou servio. Se a divulgao de um anncio publicitrio suspensa horas antes da publicao do jornal, certo que no h de se falar em fora vinculante da oferta. Merece nfase, ainda, a determinao para que a oferta integre o contrato que vier a ser celebrado. Deste modo, uma clusula contratual que apresente contedo contrrio quilo que foi divulgado na oferta no ir prevalecer. Os termos e condies consubstanciados na oferta devem fazer parte do contrato que ser celebrado pelas partes. E se o contrato no contiver tais clusulas? Poderia admitir-se que o consumidor abriu mo dos termos da oferta ao assinar o contrato? No. Os termos da oferta consideram-se como integrantes do contrato, ainda que no estejam previstos no instrumento contratual. 40 Prof. Antonio Nbrega www.pontodosconcursos.com.br

PACOTE PARA A CAIXA ECONMICA FEDERAL Esta regra mantm harmonia com o princpio da boa-f objetiva, que impe s partes um dever de agir com lealdade e cooperao durante todas as fases do contrato (antes, durante e depois da concluso do ajuste). O art. 31 do CDC est em sintonia com o direito informao, previsto no inciso III, do art. 6. Cumprindo-se a norma e preservando-se a integridade do direito, assegura-se a liberdade de escolha (inciso II, do art. 6), j que o consumidor conhecer todas as caractersticas do produto e servio. Este dever jurdico trazido pelo art. 31 decorre da prpria racionalidade do microssistema de defesa do consumidor inaugurado pela Lei n 8.078/90 e, ainda que no encontrasse amparo normativo, deveria ser imposto aos fornecedores. Repare, candidato, que o dispositivo legal em comento no se refere somente oferta. Abarca, tambm, a apresentao, que aquela informao presente no rtulo ou embalagem de um produto. Nos termos do art. 31, as informaes da oferta ou apresentao devem estar corretas, claras, precisas, ostensivas e em lngua portuguesa, e devem versar sobre caractersticas, qualidades, quantidade, composio, preo, garantia, prazos de validade, origem, riscos que apresentam sade e segurana dos consumidores, dentre outros dados. Atente-se que ao mencionar dentre outros dados, o legislador teve como intuito esclarecer que se trata de um elenco exemplificativo. Na realidade, qualquer elemento relevante que possa interessar ao consumidor deve ser informado. A oferta a etapa que antecede a concluso do ato de consumo e deve ser feita de forma clara e transparente, para que o consumidor possa exercer com tranquilidade o seu direito de livre escolha. Saliente-se que, apesar da determinao para que a informao seja passada em lngua portuguesa, no h impedimento para que o fornecedor utilize certos termos importados de lnguas estrangeiras que j se incorporaram ao uso local, tais como cheeseburger ou leasing. O objetivo da regra que a mensagem seja compreendida em toda sua plenitude pelo consumidor.

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Art. 31. A oferta e apresentao de produtos ou 1. o de os servios devem assegurar informaes corretas, em es claras, precisas, ostensivas e em lngua portuguesa em ua sobre suas caractersticas, qualidades, quantidade, re as composio, preo, garantia, prazos de validade e origem, entre outros dados, bem como sobre os re os em mo riscos que apresentam sade e segurana dos e m e u a d a consumidores (elenco exemplificativo).

Adiante, no regime de oferta, o caput do art. 32 da Lei n 8.078/90 reza que fabricantes e importadores devero assegurar a oferta de componentes e peas de reposio enquanto no cessar a fabricao ou importao do produto. O pargrafo nico esclarece que cessadas a produo ou importao, a oferta dever ser mantida por perodo razovel de tempo, na forma da lei. Como j discutido em diversos momentos neste curso, vimos que o dever de boa-f objetiva apresenta-se em todas as fases do contrato, no se limitando ao momento da contratao. Ento, da mesma forma que o fornecedor deve observar todos os deveres atinentes apresentao e contedo da oferta, tambm deve atuar na fase ps-contratual. Com fulcro neste entendimento, o CDC inseriu a regra prevista no mencionado art. 32. Assim, ao comprar um eletrodomstico novo em uma loja, o consumidor ter a garantia de que, por um perodo de tempo razovel claro que a impreciso deste termo exige a anlise ftica de cada caso -, se o aparelho vier a apresentar um defeito, haver peas de reposio para conserto. Se um automvel parar de ser fabricado no Pas, os fornecedores devero dispor de peas de reposio para os compradores daqueles veculos.Prof. Antonio Nbrega

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PACOTE PARA A CAIXA ECONMICA FEDERAL A regra consubstanciada no art. 33 do Cdigo de Defesa do Consumidor decorre do princpio da transparncia que deve reger as relaes de consumo. Note que, recentemente, a Lei n 11.800/08 inseriu um pargrafo nico naquele dispositivo legal. Assim, em caso de oferta por telefone, o fornecedor s poder faz-las quando a ligao for gratuita ao consumidor. No permitido que o fornecedor aproveite-se de uma ligao originada pelo consumidor para fazer publicidade de seus bens e servios. A responsabilidade solidria do fornecedor por atos de prepostos e representantes autnomos ventilada no art. 34 da Lei n 8.078/90. Na aula passada vimos que a solidariedade na cadeia de fornecedores permite que o consumidor acione qualquer um deles por eventual prejuzo suportado. No tratamento dado oferta pelo CDC, foi determinado que o fornecedor tambm responda pelos atos de seus prepostos e representantes autnomos. Imagine que um funcionrio de uma instituio financeira ligue para a casa do consumidor e faa uma proposta de emprstimo com uma taxa de juros altamente atrativa. Ao chegar ao banco, o consumidor informado que a taxa fora informada incorretamente e que os juros, na realidade, so mais elevados. Neste caso, o consumidor poder exigir o emprstimo nos moldes oferecidos pelo funcionrio naquela primeira oportunidade? Claro que sim. O funcionrio considerado preposto tem vnculo trabalhista com a instituio , e todos os atos por ele praticados no exerccio de sua funo vinculam o fornecedor, ainda que exorbitem ou contrariem as determinaes do seu empregador. A idia-princpio de responsabilizar o empregador pelos atos de seus prepostos antiga. Presente no art. 1.521, inciso III do Cdigo Civil de 1916, tendo sido reproduzida no art. 932, inciso III de seu sucessor. Alm desses dispositivos, tambm teve acolhimento na jurisprudncia, ao ser consagrada pela Smula 341 do STF que prev que presumida a culpa do patro ou comitente pelo ato culposo do empregado ou preposto. O que surpreende, ento, no texto do Art. 34 do CDC, no a novidade, mas a previso legal da responsabilidade solidria do fornecedor por atos cometidos por seus representantes autnomos. O que decorre impositivamente da lei que os atos dos representantes autnomos aqueles que no possuem vnculo que atuarem em nome de uma pessoa jurdica tambm vinculam o fornecedor.Prof. Antonio Nbrega

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PACOTE PARA A CAIXA ECONMICA FEDERAL Neste passo, oportuno transcrever a lio de Claudia Lima Marques acerca do as