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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas Departamento de História Tópicos de História IV Disciplina Optativa – 1º Semestre 2014 Império Romano e cristianismo antigo (séc. I-V) Módulo 1 Império Romano, Palestina e o “movimento de Jesus” Aula 2 Documento Histórico Tácito, Historiae, Liber V, 8: 8 (1) Grande parte da Judeia (Iudaea) é salpicada de aldeias, mas também existem cidades (oppida). A capital da população (gens) é Jerusalém. Ali há um templo de incomensurável riqueza. Uma primeira muralha fecha a cidade (urbs), uma segunda, a parte régia e, por fim, a muralha mais interna que fecha o templo. Um judeu (Iudaeus) podia entrar somente até a soleira do templo, sendo vetado ultrapassar esse limite, exceto aos sacerdotes. (2) Enquanto o Oriente estava sob o poderio dos assírios, medos e persas, os [judaítas] eram a parte mais desprezível dos povos escravizados. Quando os macedônios passaram a predominar, o rei Antíoco se esforçou para tirar [dos judaítas] sua superstição (superstitio) e introduzir entre eles costumes gregos (mores Graecorum), mas a guerra contra os partas o impediu de melhorar (in melius mutare) essa gente abominável (gens taeterrima), posto que, naquele tempo, Arsácio rebelou-se. (3) Então os judeus (Iudaei), aproveitando da fraqueza dos macedônios e do poder ainda não afirmado dos partas (sendo que os romanos se encontravam ainda bem longe), escolheram, eles próprios, reis para si (Judaei sibi ipsi reges imposuere). Esses, embora expulsos pela inconstância da massa do povo (vulgus), restabeleceram o domínio pela força das armas, não recuaram diante das fugas de cidadãos (cives), destruição de cidades (urbes), assassínio de irmãos, esposas e pais e tudo o mais que costuma acontecer aos reis. Eles também favoreceram aquela superstição, pois admitiam que a dignidade sacerdotal sustentava seu próprio poder (potentia). 1 1 CORNELII TACITI. Historiae. The history of Tacitus according to Text of Drelli. Edited, with English 1 notes and Introduction by William Henry Simcox. Books III, IV, V. Oxford/Cambridge: Rivingtons, 1876. p. 187-190.

Aula 2 - Optativa 1-2014 - Documento

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS!Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas!

Departamento de História!!Tópicos de História IV!

Disciplina Optativa – 1º Semestre 2014!!Império Romano e cristianismo antigo (séc. I-V)!!

Módulo 1!Império Romano, Palestina e o “movimento de Jesus”!!

Aula 2!!Documento Histórico!

Tácito, Historiae, Liber V, 8:!!8 (1) Grande parte da Judeia (Iudaea) é salpicada de aldeias, mas também existem cidades (oppida). A capital da população (gens) é Jerusalém. Ali há um templo de incomensurável riqueza. Uma primeira muralha fecha a cidade (urbs), uma segunda, a parte régia e, por fim, a muralha mais interna que fecha o templo. Um judeu (Iudaeus) podia entrar somente até a soleira do templo, sendo vetado ultrapassar esse limite, exceto aos sacerdotes. (2) Enquanto o Oriente estava sob o poderio dos assírios, medos e persas, os [judaítas] eram a parte mais desprezível dos povos escravizados. Quando os macedônios passaram a predominar, o rei Antíoco se esforçou para tirar [dos judaítas] sua superstição (superstitio) e introduzir entre eles costumes gregos (mores Graecorum), mas a guerra contra os partas o impediu de melhorar (in melius mutare) essa gente abominável (gens taeterrima), posto que, naquele tempo, Arsácio rebelou-se. (3) Então os judeus (Iudaei), aproveitando da fraqueza dos macedônios e do poder ainda não afirmado dos partas (sendo que os romanos se encontravam ainda bem longe), escolheram, eles próprios, reis para si (Judaei sibi ipsi reges imposuere). Esses, embora expulsos pela inconstância da massa do povo (vulgus), restabeleceram o domínio pela força das armas, não recuaram diante das fugas de cidadãos (cives), destruição de cidades (urbes), assassínio de irmãos, esposas e pais e tudo o mais que costuma acontecer aos reis. Eles também favoreceram aquela superstição, pois admitiam que a dignidade sacerdotal sustentava seu próprio poder (potentia)  .!1

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� CORNELII TACITI. Historiae. The history of Tacitus according to Text of Drelli. Edited, with English 1

notes and Introduction by William Henry Simcox. Books III, IV, V. Oxford/Cambridge: Rivingtons, 1876. p. 187-190.