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CURSO ON-LINE – MACROECONOMIA E ECONOMIA BRASILEIRA PARA ANALISTA DO BANCO CENTRAL PACOTE DE TEORIA E EXERCÍCIOS PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI 1 Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br Aula Sete Olá, Pessoal! Nesta aula sete, e na próxima, abordaremos basicamente os aspectos relativos ao passado recente da economia brasileira. Trata-se de uma aula bastante dissertativa, motivo pelo qual peço bastante atenção de vocês. A proposta das aulas é a de ser a mais objetiva possível, ou seja, faremos a abordagem dos conteúdos de forma direta, debatendo e apresentando os principais temas e assuntos pertinentes a cada item do conteúdo programático. Se o objetivo do curso fosse um aprofundamento sobre os diversos pontos inerentes à economia nacional, daí então, com certeza, precisaríamos um tempo muito maior de estudo, o que não é possível neste momento, haja vista o curto tempo até a prova. Quero ressaltar, entretanto, que muito embora um curso preparatório deva ir “direto ao ponto”, especialmente em períodos de edital na praça, não se pode jamais passar batido por pontos considerados fundamentais, e mais do que isso, que são presença constante nas provas. Em sendo assim, optei em estender um pouco a abordagem desta aula, na verdade retroagindo um pouco mais na abordagem referente à economia brasileira, conforme ficará claro já no início da aula. Em negrito, na caixa a seguir, encontram-se os pontos adicionados. Economia Brasileira: crise de 1930 e a origem do modelo de substituição de importações no Brasil. As políticas de intervenção do Estado na primeira metade da década de 1950. O Plano de

Aula 42 - Macroeconomia e Economia Brasileira - Aula 07.pdf

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1 Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br

Aula Sete

Olá, Pessoal!

Nesta aula sete, e na próxima, abordaremos basicamente os aspectos

relativos ao passado recente da economia brasileira. Trata-se de uma aula

bastante dissertativa, motivo pelo qual peço bastante atenção de vocês.

A proposta das aulas é a de ser a mais objetiva possível, ou seja,

faremos a abordagem dos conteúdos de forma direta, debatendo e

apresentando os principais temas e assuntos pertinentes a cada item do

conteúdo programático.

Se o objetivo do curso fosse um aprofundamento sobre os diversos

pontos inerentes à economia nacional, daí então, com certeza, precisaríamos

um tempo muito maior de estudo, o que não é possível neste momento, haja

vista o curto tempo até a prova. Quero ressaltar, entretanto, que muito

embora um curso preparatório deva ir “direto ao ponto”, especialmente em

períodos de edital na praça, não se pode jamais passar batido por pontos

considerados fundamentais, e mais do que isso, que são presença constante

nas provas.

Em sendo assim, optei em estender um pouco a abordagem desta aula,

na verdade retroagindo um pouco mais na abordagem referente à economia

brasileira, conforme ficará claro já no início da aula. Em negrito, na caixa a

seguir, encontram-se os pontos adicionados.

Economia Brasileira: crise de 1930 e a origem do modelo de

substituição de importações no Brasil. As políticas de intervenção

do Estado na primeira metade da década de 1950. O Plano de

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Metas e a industrialização pesada. A crise da economia brasileira

na primeira metade da década de 1960 e as reformas estruturais

no início do governo militar. Auge e declínio do “milagre”

econômico (1968-1973). II PND.

Vamos então à aula.

Contem comigo nesta empreitada!

Um grande abraço e bons estudos a todos (as),

Mariotti

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1. A Crise de 1930 e a origem do modelo de substituição de

importações no Brasil

A evolução do entendimento econômico, devidamente aplicado à

economia brasileira, passou por um grande processo de mudanças a partir da

ascensão de Getúlio Vargas à Presidência do país, ainda nos anos de 1930.

Começava ali o chamado modelo econômico de Substituição de

Importações, o qual consistia na troca de compra da produção externa de

bens e serviços pela escolha de produção interna ao país. Com a queda de

Getúlio e, posteriormente, com a chegada do mineiro Juscelino Kubitschek na

presidência da república, foi implantado no país o chamado Plano de Metas.

Passamos a discorrer mais criteriosamente sobre este período, de forma

a estruturarmos os impactos econômicos sofridos pela economia, bem como o

modelo de desenvolvimento adotado pelo país no pós-guerra (fim da segunda

guerra mundial).

1.1 O Processo de Substituição de Importações

No período compreendido entre a proclamação da República até a

chegada de Getúlio Vargas ao poder, a economia brasileira dependia

basicamente do bom desempenho das exportações, que na época se

restringiam a algumas poucas commodities agrícolas, especialmente o café,

caracterizando a economia brasileira como essencialmente agroexportadora.

O bom desempenho dependia das condições do mercado internacional de

café, sendo a variável-chave nesta época o seu preço internacional. As

condições deste mercado não eram totalmente controladas pelo Brasil.

Mesmo sendo o principal produtor de café, outros países também influíam

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na oferta, sendo boa parte do mercado controlado por grandes companhias

atacadistas que especulavam com estoques.

A demanda dependia das oscilações no crescimento mundial,

aumentando em momentos de prosperidade econômica e retraindo-se quando

os países ocidentais (especialmente EUA e Inglaterra) entravam em crise ou

em guerra. Deste modo, as crises internacionais causavam problemas muito

grandes nas exportações brasileiras de café, criando sérias dificuldades para

toda economia brasileira, dado que praticamente todas as outras atividades

dentro do país dependiam direta ou indiretamente do desempenho do setor

exportador cafeeiro.

As condições do mercado internacional de café tendiam a tornarem-se

mais problemáticas na medida em que as plantações do produto no Brasil se

expandiam. Nas primeiras décadas do século XX a produção brasileira cresceu

desmensuradamente. O Brasil chegou a produzir sozinho mais café do que o

consumo mundial, obrigando o governo a intervir no mercado, estocando e

queimando café (lembre-se que quando estudamos história do Brasil, na

graduação, acabamos por sempre abordar o Convênio de Taubaté.). Neste

período as crises externas sucederam-se em função tanto de oscilações na

demanda (crises internacionais), como em decorrência da superprodução

brasileira.

Em 1930, estes dois elementos se conjugaram, a produção nacional era

enorme e a economia mundial entrou numa das maiores crises de sua história.

A depressão no mercado internacional de café logo se fez sentir e os preços

vieram abaixo. Isto obrigou o governo a intervir fortemente, comprando e

estocando café, desvalorizando o câmbio com o objetivo de proteger o setor

cafeeiro e ao mesmo tempo sustentar o nível de emprego, de renda e de

demanda. Este conjunto que problemas deixava claro que a situação de

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dependência da economia brasileira, especialmente das exportações de um

único produto agrícola, era insustentável.

A crise dos anos 30 foi um momento de ruptura no desenvolvimento

econômico brasileiro; a fragilização do modelo agroexportador trouxe à tona a

consciência sobre a necessidade da industrialização como forma de superar os

constrangimentos externos e o subdesenvolvimento. Não foi o início da

industrialização brasileira (esta já havia se iniciado desde o final do século

XIX), mas o momento em que um novo modelo econômico, sustentado por um

novo governo, passou a ser meta prioritária da governo.

Este objetivo, porém, envolvia grandes esforços em termos de geração

de poupança e sua transferência para a atividade industrial. Isto só seria

possível com uma grande alteração na política econômica vigente, baseado no

rompimento com o Estado oligárquico e descentralizado da República Velha,

além da transferência e centralização do poder e dos instrumentos de política

econômica nas mãos do Governo Federal. Este foi o papel desempenhado pela

Revolução de 30. Dela decorreram o fortalecimento do Estado Nacional e a

ascensão de novas classes econômicas ao poder, o que permitiu colocar a

industrialização como meta prioritária, como um projeto nacional de

desenvolvimento.

A forma assumida pela industrialização foi o chamado Processo de

Substituição de Importações (PSI). Devido ao estrangulamento externo ora

existente, gerado de forma especial pela crise internacional ocasionada pela

quebra da Bolsa de Nova York, houve a necessidade de produzir internamente

o que antes era importado, defendendo-se dessa forma o nível de atividade

econômica. A industrialização feita a partir deste processo de

substituição de importações foi uma industrialização voltada para

dentro, ou seja, que visou atender o mercado consumidor interno.

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O modelo de Substituição de Importações consistiu no processo forçado

de industrialização brasileira, como forma de superação dos problemas

externos e, consequentemente, da mudança da pauta exportadora do país no

médio prazo.

Em linhas gerais, podemos dizer que o PSI foi derivado do chamado

processo de estrangulamento externo, referenciado na queda no valor das

exportações de produtos agrícolas, mas com a crescente demanda interna por

bens importados.

A política de PSI teve continuidade durante o período de saída e retorno

de Vargas ao poder, o que significou, em linhas gerais, o fim inequívoco da

dependência externa do país à exportação cafeeira.

1.1.1 As políticas de intervenção do Estado na primeira metade

da década de 1950.

No cenário internacional Pós-Segunda Guerra Mundial, iniciou-se a

grande rivalidade entre os EUA e a União Soviética, que no aspecto econômico

coincidiu com o período de escassez de dólares. O Brasil passou por sucessivas

crises de Balanço de Pagamentos, o que fez com que o governo abandonasse

literalmente o aspecto liberal das políticas econômicas e assim adotasse um

modelo de desenvolvimento industrial com a relevante participação estatal.

O elevado volume de importações da economia nacional, no período

compreendido entre 1945-1955, levou o governo à adoção de medidas de

controle do câmbio como forma de minimizar os impactos sobre o balanço.

O caráter social do governo Vargas levou à publicação de uma extensa

legislação, especialmente trabalhista, que beneficiou grande parte dos

trabalhadores. No plano de intervenção econômica o governo Vargas fundou a

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Companhia Vale do Rio Doce e a Companhia Siderúrgica Nacional, empresas

estas que passariam a ter papel fundamental no processo industrial do país.

Ainda tomava corpo no âmbito da intervenção econômica promovida por

Vargas a necessidade de financiamento do desenvolvimento econômico, o que

coincidiu com a criação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico –

BNDE1 e da PETROBRAS.

O BNDE foi fruto de profunda discussão entre o governo brasileiro, o

Banco Mundial e o Eximbank2. A promessa de repasse de recursos para a nova

Instituição no montante de US$ 500 milhões permitiu que o projeto fosse

efetivado, criando-se o Banco em 1952. Muito embora tenha ocorrido uma

série de mudanças nas promessas feitas pelos bancos internacionais quanto ao

repasse de recursos ao BNDE, o projeto da Instituição foi levado à frente,

entretanto, com um menor volume de recursos disponíveis para a realização

de financiamentos.

A criação da PETROBRAS no ano de 1953 foi decorrente da intensa

campanha iniciada no Pós-Guerra sob o título “O Petróleo é nosso”. Após uma

série de discussões de cunho político foi dada à empresa o Monopólio na

extração do petróleo3.

1.2 O Plano de Metas e a industrialização pesada

O Plano de Metas adotado no governo Juscelino Kubitschek pode ser

considerado o auge deste modelo de desenvolvimento; o rápido crescimento

do produto e da industrialização no período acentuou as contradições

1 Somente em 1982 o BNDE teve a sua denominação alterada para BNDES, isto em função da criação de uma Diretoria

destinada à análise de financiamento de projetos sociais. 2 Instituição Norte-Americana responsável pelo financiamento de importações e exportações ao EUA. 3 O processo de distribuição foi atribuído às companhias estrangeiras.

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mencionadas. O principal objetivo do plano era estabelecer as bases de uma

economia industrial madura no país, introduzindo de ímpeto o setor produtor

de bens de consumo duráveis.

O Plano foi dividido especialmente nos seguintes objetivos:

• Investimentos estatais em infra-estrutura, com destaque para os

setores de transporte e energia elétrica. No que diz respeito aos

transportes, cabe destacar a mudança de prioridade que até o

governo Vargas se centrava no setor ferroviário e no governo JK

passou para o rodoviário, que estava em consonância com o

objetivo de introduzir o setor automobilístico no país;

• Estímulo ao aumento da produção de bens intermediários, como o

aço, o carvão, o cimento, o zinco etc., que foram objetos de planos

específicos;

• Incentivos à introdução dos setores de bens de consumo duráveis e

bens de capital (máquinas e equipamentos utilizados na produção);

e

• Incentivo à produção industrial privada por meio da concessão de

crédito em massa.

É interessante observar a coerência que existia entre as metas do plano,

em que se visava impedir o aparecimento de pontos de estrangulamento na

oferta de infra-estrutura e bens intermediários para os novos setores, bem

como, através dos investimentos estatais, garantir a demanda necessária para

produção adicional.

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O cumprimento das metas estabelecidas foi bastante satisfatório, sendo

que em alguns setores estas foram superadas, mas em outros ficaram aquém.

Com isso, observou-se rápido crescimento econômico no período com

profundas mudanças estruturais, em termos da base produtiva do país.

Não obstante, o plano trouxe uma série de problemas. O financiamento

dos investimentos públicos, na ausência de uma reforma fiscal condizente com

as metas e os gastos estipulados, teve que se valer principalmente da emissão

monetária, observando-se no período uma grande aceleração inflacionária. Do

ponto de vista externo, observou-se uma deterioração do saldo em transações

correntes e o crescimento da dívida externa. A concentração da renda ampliou-

se devido ao desestímulo à agricultura e o consequente investimento de capital

intensivo na indústria.

1.3 A crise da economia brasileira na primeira metade da década

de 1960 e as reformas estruturais no início do governo militar.

O início dos anos 60 caracterizou-se pela primeira grande crise

econômica do Brasil em sua fase industrial. Neste período ocorreu uma queda

importante dos investimentos e a taxa de crescimento da renda brasileira caiu

fortemente em função da materialização das contradições inerentes ao

processo de substituição de importações. Para dar prosseguimento ao

desenvolvimento econômico, tornava-se necessário desenvolver o setor de

bens de capital e ampliar o setor de bens intermediários que estavam

defasados, assim como a infra-estrutura urbana. Vários problemas se

colocaram neste sentido, em especial a ausência de mecanismos de

financiamento adequados, tanto para o setor público, que se encontrava com

elevado déficit público devido aos gastos realizados no Plano de Metas

(durante o governo de Juscelino Kubitschek), como para o setor privado, em

um momento em que as altas escalas de capital dos setores a serem

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implantados necessitavam de maiores recursos financeiros para viabilizar o

investimento.

Outro problema que se colocava ao prosseguimento do desenvolvimento

era que tanto o setor de bens de capital como o setor de bens intermediários,

chamados setores de “demanda derivada”, isto é, setores em que a demanda

pelos produtos depende diretamente da demanda pelos produtos finais na

economia. Em virtude da concentração de renda da economia e da ausência de

mecanismos de financiamento ao consumidor, a demanda pelos produtos do

setor de bens de consumo duráveis era bastante limitada, restringindo os

impactos (estímulos) deste setor para o resto da economia. A consequência

desta situação foi a retração nas taxas de crescimento e a aceleração

inflacionária.

Era um consenso na época a necessidade de reformas institucionais que

promovessem um quadro favorável à retomada dos investimentos.

O governo Jânio Quadros procurou adotar medidas que cunho ortodoxo,

baseando-se na contenção gasto público e de uma política monetária

contracionista. Muito embora as medidas tenham sido muito bem recebidas, no

nível político Jânio enfrentava sérias dificuldades para aprovação de suas

medidas, haja vista a inexistência de base parlamentar. Por meio de um gesto

enigmático Jânio renunciou, esperando contar com a população para que o

trouxesse de volta ao poder e assim pudesse dar continuidade às suas

pretensões. O resultado todos nós sabemos. Jânio não obteve sucesso, e ainda

ainda gerou um sério problema a ser administrado pelo Congresso, pois

Constituição brasileira à época previa que o Vice-Presidente deveria assumir.

Por meio de uma solução de conciliação o Congresso alterou o regime do

governo do país do Presidencialismo para o Parlamentarismo, o que permitiu o

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tempo de retorno de João Goulart ao Brasil e, ao mesmo tempo, que Tancredo

Neves assumisse como Primeiro Ministro.

A fase do parlamentarismo do Parlamentarismo durou até 1962. Neste

período o PIB do país teve elevado crescimento, derivado da fase de

maturação do Plano de Metas. Não obstante, a inflação no período teve forte

elevação, passando de 40% ao ano. Por meio de um plebiscito convocado por

Jango, a população votou pelo retorno do Presidencialismo, o que permitiu ao

governante mais estabilidade para condução da Economia.

Liderado por Celso Furtado o governo lançou o Plano Trienal,

baseando-se nas propostas de impulso ao crescimento econômico com

combate à inflação e a adoção de reformas sociais. Os objetivos específicos do

Plano eram:

• Reduzir a taxa de inflação para 25% em 1963, e até 1965 alcançar

o patamar de 10%;

• Crescimento dos salários na mesma proporção do aumento da

produtividade da mão-de-obra;

• Realização da Reforma Agrária tanto para redução da crise social

que afetava o país à época quanto para permitir a elevação do

consumo de ramos industriais;

• Busca pela renegociação de dívida externa, a qual gerava grande

pressão sobre o pagamento de juros e, consequentemente, sobre o

balanço de pagamentos; e

• Promover o crescimento do PIB de 7% a.a..

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Muito embora as propostas do Plano fossem positivas, não encontraram

guarida. A vertente esquerdista do governo contribui para o isolamento do

país, de forma a impedir com boa parte do plano obtivesse sucesso. A

publicação da Lei no 4.131/62, que tratava do controle de capital, em que a

remessa de lucros provenientes dos investimentos produtivos no país ficava

limitada a 10%, provocou uma sensível redução de novos investimentos na

economia nacional.

Afora estes aspectos, mas em linha com a vertente esquerdista da

política, Jango resolveu aumentar o salário do funcionalismo público e

restabeleceu subsídios agrícolas abolidos no início do programa, contribuindo

para a escalada inflacionária no ano de 1963.

A elevação das tensões no campo político, conjuntamente com a política

de expropriação de empresas estrangeiras, contribuíram para a insatisfação

das forças armadas, cansadas de exacerbada filosofia adotada pelo governo. O

resultado deste contexto foi queda de João Goulart, destituído por meio do

Golpe Militar de março de 1964.

Em resumo, pode-se dizer que tanto o governo de Jânio Quadros quanto

o governo de João Goulart foram prisioneiros da situação política e, apesar de

buscarem diferentes formas de resolver a questão e encaminhar a solução

econômica, ocorreu certo imobilismo no campo nacional e internacional. Neste

contexto, o golpe militar de 1964, impondo de forma autoritária uma solução

para a crise política, foi uma precondição ao encaminhamento “técnico” das

medidas de superação da crise econômica - reformas constitucionais e

condução da política econômica de forma adequada e segura.

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1.3.1 O PAEG e o governo militar

O governo Castelo Branco lançou o PAEG (Plano de Ação Econômica do

Governo), com vistas a resolver os problemas econômicos. O PAEG pode ser

dividido em duas linhas de atuação: políticas conjunturais de combate à

inflação, associadas a reformas estruturais que permitiram o equacionamento

dos problemas inflacionários e das dificuldades que se colocavam ao

crescimento econômico.

Os objetivos colocados pelo PAEG eram: acelerar o ritmo de

desenvolvimento econômico, conter o processo inflacionário, atenuar os

desequilíbrios setoriais e regionais, aumentar o investimento e com isso o

emprego, e corrigir a tendência ao desequilíbrio externo. O controle

inflacionário e/ou as formas de conviver com ela eram vistos como

precondições para a retomada do desenvolvimento, e o combate à inflação só

poderia ser feito acoplado às reformas institucionais.

O diagnóstico sobre a inflação, que havia subido para 83,2% a.a. em

1963, centrava-se no excesso de demanda. Este era explicado em função da

tendência ao déficit público, da elevada propensão a consumir (decorrente da

política salarial frouxa dos períodos anteriores - os chamados “arroubos

populistas”) e também da falta de controle sobre a expansão do crédito. Estas

pressões inflacionárias propagavam-se com a expansão monetária, que era o

veículo para sua perpetuação.

Especificamente, as principais metas do PAEG eram:

• Redução do déficit público mediante a redução dos gastos e da

ampliação das receitas através da reforma tributária e do aumento

das tarifas públicas (a chamada inflação corretiva). Com isso, o

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déficit público reduziu-se de 4,2% do PIB em 1963 para 1,1% em

1966;

• Restrição do crédito e aperto monetário. Houve aumento das taxas

de juros reais e consequentemente do passivo das empresas. Este

fato levou a uma grande onda de falências, concordatas, fusões e

incorporações, processo este que atingiu principalmente as

pequenas e médias empresas dos setores de vestuário, alimentos e

construção civil. Esta “limpeza de terreno” e consequente geração

de capacidade ociosa foi um importante fator para a futura

retomada do crescimento econômico;

• O terceiro elemento da política de contenção da demanda foi a

política salarial, em que se supunha a existência de uma taxa de

desemprego relativamente baixa, o que levava a elevados salários

reais e inflação crescente. Para romper esta dinâmica, o governo

passou a determinar os reajustes salariais, via política salarial,

objetivando romper as expectativas e conter as reivindicações. A

fórmula de reajustes decidida pela política salarial teve por

consequência uma grande redução do salário real.

Com estas medidas, a inflação reduziu-se, entre os anos de 1964 e 1967,

da casa dos 90% a.a. para os 20% a.a. Este resultado se deveu em grande

parte a uma retração nas taxas de crescimento econômico.

1.3.2 Reformas Institucionais do PAEG

Quanto aos problemas institucionais, identificou-se como ponto básico a

ausência de correção monetária em uma economia com altas taxas

inflacionárias. Vários eram os problemas gerados pelo processo inflacionário:

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• A inflação, conjugada à lei da usura (que impedia juros nominais

superiores a 12% a.a.), desestimulava a canalização de poupança

para o sistema financeiro;

• A lei do inquilinato, numa situação inflacionária, constituía-se em

forte desestímulo à aquisição de imóveis e, consequentemente, à

construção civil;

• Desordem tributária, pois a ausência de correção monetária, no

caso dos débitos fiscais, estimulava o atraso de pagamentos e, no

caso dos ativos e do patrimônio das empresas, levava à tributação

de lucros ilusórios.

Neste sentido, se por um lado se fazia necessária a redução das taxas de

inflação, também se procurou criar mecanismos que possibilitassem o

crescimento econômico em um ambiente de inflação moderada.

As principais reformas instituídas pelo PAEG foram: a reforma tributária,

a reforma monetária e financeira e a reforma do setor externo.

1.3.3 A Reforma Tributária

Os principais elementos envolvidos nesta reforma foram:

• A introdução da correção monetária no sistema tributário, visando

reduzir as distorções já mencionadas;

• A alteração do formato do sistema tributário. Transformaram-se os

impostos tipo cascata (que incidem a cada transação sobre o valor

total), em impostos tipo valor adicionado. Criou-se o IPI (imposto

sobre produtos industrializados), o ICM (imposto sobre circulação

de mercadorias) e o ISS (imposto sobre serviços). A importância

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desta alteração foi romper o estímulo até então existente à

integração vertical da produção, e facilitar a utilização dos

impostos como instrumento de política de desenvolvimento e de

redução de distorções, ao permitir as diferenciações de alíquotas e

facilitar a concessão de isenções e incentivos fiscais às atividades

específicas;

• A redefinição do espaço tributário entre as diversas esferas do

governo. A União ficou com o IPI, o Imposto de Renda, os

Impostos Únicos, os Impostos de Comércio Exterior, o Imposto

Territorial Rural (ITR). Os estados ficaram com o ICM e os

municípios, com o ISS e o IPTU (imposto sobre propriedade

territorial urbana). Além disso, foram criados os fundos de

transferência intergovernamentais: o fundo de participação dos

estados e dos municípios, que se baseavam em parcelas de

arrecadação do IPI, do IR e do ICMS. Os critérios de distribuição

dos recursos baseavam-se na área geográfica, na população e no

inverso da renda per capita, com vistas a favorecer estados mais

pobres. Houve importante centralização das decisões sobre a

legislação tributária, inclusive definindo as alíquotas dos impostos

das demais esferas, procurando eliminar a “guerra fiscal”.

Dessa forma, as principais consequências da reforma tributária foram o

aumento da arrecadação e uma grande centralização tanto da arrecadação

como das decisões em termos de política tributária, constituindo-se em

importante instrumento político, ao subordinar os estados ao governo central.

Permitiu ainda, através da vinculação da receita e da criação de órgãos ao lado

da administração direta, uma descentralização dos gastos, com maior

flexibilidade operacional.

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1.3.4 A Reforma Monetária – Financeira

Os principais objetivos nesta reforma eram: criar condições de condução

independente da política monetária e direcionar os recursos montantes

promovendo condições adequadas às atividades econômicas.

Esta reforma divide-se em quatro grupos de medidas:

• A instituição da correção monetária e criação da ORTN (Obrigação

Reajustável do Tesouro Nacional). A introdução da correção

monetária tornava sem sentido a “Lei da Usura”, eliminando uma

série de ineficiências do sistema financeiro. Ao permitir a prática de

taxas de juros reais positivas, estimulava a poupança e ampliava a

capacidade de financiamento da economia. A criação das ORTNs,

cuja variação determinaria o índice de correção monetária, tinha

por objetivo dar credibilidade e viabilizar o desenvolvimento de um

mercado de títulos públicos que fornecesse instrumentos de

financiamento não inflacionários do déficit público, bem como

possibilitasse as operações de mercado aberto, visando o controle

monetário. Este último objetivo só se viabilizou de fato a partir de

1970, com a criação das LTNs (Letras do Tesouro Nacional), pois

as características das ORTNs (títulos pós-fixados de longo prazo)

dificultavam as operações de mercado aberto, que devem ser feitas

com títulos prefixados de curto prazo;

• A Lei n.º 4.595/64 - criação do CMN (Conselho Monetário Nacional)

e do BACEN (Banco Central do Brasil). Com esta lei procurava-se

criar condições para que a política monetária fosse conduzida de

forma independente. O CMN substituiu o conselho da SUMOC

(Superintendência da Moeda e do Crédito), e passou a ser o órgão

normativo da política monetária, com a função de definir as regras

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e as metas a serem atingidas. O BACEN foi criado (assumindo a

antiga Carteira de Câmbio e Redesconto do Banco do Brasil e o

Serviço de Meio Circulante do Tesouro Nacional), para ser o agente

executor da política monetária. Além disso, ele também seria o

agente fiscalizador e controlador do sistema financeiro. O Banco do

Brasil, além de suas funções de banco comercial, permaneceu com

os serviços de compensação de cheques, depositário das reservas

voluntárias, e caixa do BACEN e do Tesouro Nacional, ou seja,

constituía-se no agente bancário no governo.

Vários problemas ainda permaneciam para a consecução do objetivo de

controle independente da política monetária, a saber:

• A subordinação do BACEN ao CMN, o que permitia ingerência

política na atuação do BACEN;

• A Conta Movimento, criada inicialmente para transferir recursos do

BB para o BACEN entrar em operação, fez com que o BB não

perdesse a condição de Autoridade Monetária, uma vez que podia

expandir sem limites suas operações de crédito, pois possuía uma

linha direta de financiamento junto ao BACEN;

• O chamado “Orçamento Monetário”, que deveria ser peça para

juntar as duas autoridades monetárias (BACEN e BB). Este

orçamento passou a receber vários gastos de origem fiscal, com a

criação de vários fundos e programas que seriam administradas

pelas Autoridades Monetárias - PROAGRO, PROEX, FUNRURAL etc.

Com isso, o BACEN, que deveria ser órgão de controle monetário,

transformava-se também em banco de fomento, criando-se um

entrelaçamento entre contas monetárias e fiscais, de tal modo que o

Orçamento Fiscal poderia aparecer equilibrado, enquanto todo o rombo se

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colocava no Orçamento Monetário. O BACEN era responsável pela

administração da dívida pública, podendo emitir títulos em nome do Tesouro

Nacional. Dessa forma, a dívida pública e os gastos com juros do Tesouro

poderiam crescer, independentemente da existência de um déficit a ser

financiado, mas simplesmente por objetivos de controle monetário. Além disso,

criava-se um mecanismo para o Tesouro Nacional forçar o BACEN a financiar

seus déficits via emissão monetária.

Percebe-se, portanto, que estas medidas acabaram por criar um

estranho arcabouço institucional, em que se misturavam as políticas fiscal e

monetária; o BACEN não controlava a política monetária nem o Tesouro

Nacional controlava a política fiscal, sendo que o resultado deste quadro foi o

de inviabilizar o conhecimento e o controle social sobre as operações do

governo.

As demais instituições do mercado de capitais - Bolsa de Valores,

Corretoras e Distribuidoras - também foram regulamentadas e subordinadas

ao BACEN. Criaram-se vários tipos de incentivos fiscais para dinamizar este

segmento, entre os quais se destaca o Decreto-lei n.º 157, no qual os

indivíduos poderiam adquirir cotas de fundo de ações com parcela do Imposto

de renda (pessoa física) devido. Merece ainda destaque a criação do Sistema

Nacional de Crédito Rural (SNCR), sendo o BB o agente central, e os bancos

comerciais agentes subsidiários. A fonte de recursos para o sistema era, além

dos fundos fiscais e da “Conta Movimento”, uma parcela dos depósitos à vista

captados pelos bancos comerciais, que deveriam obrigatoriamente ser

utilizados no financiamento agrícola.

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1.3.5 A Reforma do Setor Externo

A reforma do setor externo tinha por objetivo estimular o

desenvolvimento econômico, evitando as pressões sobre o Balanço de

Pagamentos e assim eliminando uma das principais distorções do PSI.

Destacam-se duas linhas de atuação neste sentido: melhorar o comércio

externo brasileiro e atrair o capital estrangeiro:

• Em relação ao comércio externo, buscou-se, por um lado,

estimular e diversificar as exportações através de uma série de

incentivos fiscais (isenções fiscais - IPI, ICM, IR - crédito-prêmio do

IPI etc.) e da modernização e dinamização dos órgãos públicos

ligados ao comércio internacional (CACEX e CPA). Quanto às

importações, a idéia era eliminar os limites quantitativos e utilizar

apenas a política tarifária como forma de controle. A principal

medida adotada na área do comércio externo foi a simplificação e

unificação do sistema cambial, que objetivava eliminar as

incertezas decorrentes da condução errática da política cambial,

bem como os desestímulos à exportação decorrentes da

valorização cambial. Para tal, adotou-se o sistema de

minidesvalorizações a partir de 1968, pelo qual a valorização

cambial deveria refletir o diferencial entre a inflação doméstica e a

internacional;

• Quanto à atração do capital estrangeiro, buscou-se inicialmente

uma reaproximação com a política externa norte-americana, a

chamada Aliança para o Progresso. Em seguida, efetuou-se a

renegociação da dívida externa e firmou-se um Acordo de

Garantias para o capital estrangeiro. As ligações com o sistema

financeiro internacional foram feitas através de dois mecanismos: a

Lei n.º 4.131/64, que dava acesso direto das empresas ao sistema

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financeiro internacional, e a Resolução n.º 63, que possibilitava a

captação de recursos externos pelos bancos comerciais e de

investimentos para repasse interno. Esta última significava a

colagem do sistema financeiro nacional ao internacional e o início

do processo de internacionalização financeira no Brasil.

Conclui-se assim que a política adotada no PAEG obteve grande êxito na

redução das taxas inflacionárias e em preparar o terreno para a retomada do

crescimento. Este quadro, como veremos, permitiu altas taxas de crescimento

ao longo da década de 70, durante o período do chamado Milagre Econômico.

1.4 Auge e declínio do “milagre” econômico (1968-1973).

O chamado Milagre Econômico foi o período entre 1968 e 1973 em que o

PIB brasileiro apresentou as maiores taxas de crescimento, derivados de todas

as reformas e estruturação do parque fabril nos 15 anos anteriores. Associado

a este crescimento encontrou-se também todo o contexto favorável da

economia mundial na época.

As diretrizes do governo em 1967 já colocavam o crescimento econômico

como objetivo principal, acompanhado de contenção da inflação, sendo que se

admitia o convívio com uma taxa de inflação em torno de 20 a 30% a.a.. Nesta

fase, alterou-se o diagnóstico sobre as causas da inflação, destacando os

custos como principal determinante. Com isso, afrouxaram-se as políticas de

contenção da demanda (monetária, fiscal e creditícia) - exceção feita à política

salarial, considerada como elemento de custos. Teve início uma política de

controle de preços, onde os reajustes deveriam ter aprovação prévia do

governo, com base nas variações de custos. Para tal fim, criou-se o CIP

(Conselho Interministerial de Preços) em 1968.

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A busca do crescimento, segundo o governo, deveria processar-se com o

investimento em setores diversificados e com menor participação do Estado,

ou seja, deveria basear-se no setor privado. É importante destacar que o

crescimento se colocava também como uma necessidade para legitimar o

Regime Militar, que procurou justificar sua intervenção na necessidade de

eliminar a desordem econômica e político-institucional, e recolocar o país nos

trilhos do desenvolvimento.

Tendo como ponto de partida o plano denominado I Plano Nacional de

Desenvolvimento – I PND, teve dentre as principais fontes de crescimento do

período do milagre, as seguintes:

• A retomada do investimento público em infra-estrutura - possibilitada

pela recuperação financeira do setor público, devido à reforma fiscal e

aos mecanismos de endividamento interno (financiamento não

inflacionário dos déficits);

• Aumento dos investimentos das empresas estatais, observando-se, no

período, um aumento nos investimentos e o processo de conglomeração

destas empresas, através da criação de várias subsidiárias; a Petrobrás e

a Vale do Rio Doce foram exemplos típicos deste processo;

• Demanda por bens duráveis - devido à grande expansão do crédito ao

consumidor pós reforma financeira. Percebe-se que a opção para a

ampliação do mercado consumidor se deu em grande medida pelo

endividamento familiar;

• Crescimento das exportações, especialmente a de bens manufaturados,

graças ao crescimento no comércio mundial e à melhoria nos termos de

troca, bem como às alterações promovidas na política externa no país e

aos incentivos fiscais, verificou-se no período um crescimento no valor

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das exportações (volumes em termos de troca), o que representou

ampliação significativa na capacidade de importar da economia (quanto

mais moeda estrangeira entra proveniente de exportações, maiores são

os recursos para compra de bens importados, também cotados em

moeda estrangeira);

• Tanto o setor de bens de consumo leve (não duráveis) como a

agricultura apresentaram desempenhos mais modestos. O crescimento

que apresentaram deveu-se ao aumento da massa salarial, que, por sua

vez, se deve ao aumento de emprego, e ao crescimento das exportações

de manufaturados tradicionais e de produtos agrícolas. A agricultura

cresceu 4,5% a.a., em média, no período, apesar da forte expansão do

crédito agrícola, centrado no BB. Nesta fase, deu-se o início do processo

de modernização agrícola, através da mecanização, fazendo com que

esta se tornasse importante fonte de demanda para indústria;

• Quanto ao setor de bens de capital, seu desempenho pode ser dividido

em duas fases. Na primeira, até 1970, apresentou menor crescimento,

dado que o crescimento observado se baseou na ocupação de capacidade

ociosa e não na ampliação da capacidade instalada. Conforme foi sendo

ocupada esta capacidade, aumentava-se a taxa de investimento na

economia, sendo que a formação bruta de capital fixo superou os 20%

do PIB no período de 1971/73;

• O aumento da demanda por bens de capital fez com que este setor fosse

o de maior crescimento nesta segunda fase. Ao longo de todo o período

1968/73, a taxa de crescimento médio do setor foi de 18,1% a.a.,

concentrando-se principalmente nesta segunda fase; e

• Finalmente, destaca-se que o setor de bens intermediários apresentou

uma taxa média de crescimento de 13,5% a.a. no período.

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Tanto no setor de bens de capital como no de bens intermediários, a

expansão econômica gerava pressão por importações, causada pela

insuficiência de oferta interna. Esta pressão importadora ainda foi estimulada

pela política do CDI (Conselho de Desenvolvimento Industrial), que concedeu

incentivos de forma indiscriminada e foi bastante liberal nas importações, e

pode ter contribuído inclusive para o atraso na produção interna de bens de

capital, cujo crescimento ocorreu apenas depois de 1970.

A pressão por importações poderia levar à necessidade de recursos

externos, para cobrir o Balanço de Pagamentos, não fosse o elevado

crescimento do valor das exportações brasileiras. Além da política cambial

(minidesvalorizações cambiais) e comercial (incentivos fiscais e monetários), o

crescimento das exportações foi também beneficiado pela expansão do

comércio mundial, decorrente do excesso de liquidez internacional, ocasionado

pelos déficits público e externo dos EUA, financiados com expansão monetária.

A conjugação desses fatores levou tanto ao crescimento da quantidade

exportada como à melhora dos termos de troca, redundando numa balança

comercial equilibrada no período.

Além da boa performance do setor exportador, assistiu-se neste período

à primeira onda de endividamento externo, com ampla entrada de recursos. A

dívida externa, no período, cresceu em torno de US$ 13 bilhões, sendo que

aproximadamente US$ 6,5 bilhões se transformaram em reservas, ou seja, a

dívida líquida correspondia a algo em torno de US$ 6 bilhões, o que com o

crescimento das exportações resultava em um coeficiente de vulnerabilidade

(dívida líquida sobre exportações) menor que 1 em 1973.

Assim, percebe-se que naquele momento a situação cambial estava

bastante tranquila. O volume de reservas existentes em 1973 correspondia a

mais de um ano de importações, enquanto o critério técnico utilizado pelo FMI

recomendava um volume de reservas equivalentes a três meses de

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importações. Isso evidenciaria a existência de um sobreendividamento no

período.

Embora a justificativa oficial para este endividamento tenha sido a

necessidade de recurso à poupança externa para viabilizar as altas taxas de

crescimento ao longo do milagre, grande parte da explicação para o

endividamento externo neste período reside nas profundas transformações do

sistema financeiro internacional e na ampla liquidez existente, e na ausência

de mecanismos de financiamento de longo prazo na economia brasileira,

exceto as linhas oficiais.

Os principais tomadores de recursos externos, nesta primeira fase, foram

as empresas multinacionais e os bancos de investimento estrangeiros. A

contrapartida da entrada excessiva de recursos, que se transformavam em

reservas, era o crescimento da dívida pública interna, visando controlar a base

monetária, através das operações de mercado aberto.

Um último ponto que merece destaque é a elevada participação e

intervenção do setor público na economia que se percebe nos seguintes

aspectos:

• Estado controlava os principais preços da economia - câmbio,

salário, juros, tarifas -, além de praticar uma política de preços

administrados via CIP, com a justificativa da inflação de custos e o

objetivo de eliminar os problemas alocativos vindos de uma

economia inflacionária; e

• O Estado respondia pela maior parte das decisões de investimento,

quer através dos investimentos da administração pública e das

empresas estatais, que correspondiam a praticamente 50% da

formação bruta de capital, quer através da captação de recursos

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financeiros - fundos de poupança compulsória, títulos públicos,

cadernetas de poupança, agências financeiras estatais -, dos

incentivos fiscais e dos subsídios.

A concentração de renda que ocorreu no período pode ser considerada a

principal crítica ao Milagre. Os críticos argumentam que as autoridades tinham

a concentração como estratégia necessária para aumentar a capacidade de

poupança da economia, financiar os investimentos e com isso o crescimento

econômico, para que depois todos pudessem usufruir. Esta ficou conhecida

como a “Teoria do Bolo”, segundo a qual o bolo deveria crescer primeiro para

depois ser dividido. Outros analistas concordavam com a posição oficial de que

a concentração de renda era uma tendência natural de um país que se

desenvolvia e que demandava crescentemente mão-de-obra qualificada.

Dada a escassez dessa mão-de-obra, houve aumento maior da renda dos

profissionais mais qualificados em relação aos menos especializados (cuja

oferta era abundante). Defendiam ainda que, apesar da concentração de renda

ter aumentado, a renda per capita de toda a população cresceu, o que significa

que todos devem ter melhorado em termos de condições de vida, embora as

classes mais ricas tivessem melhorado mais que as classes mais pobres.

1.5 O primeiro choque do petróleo e o II PND

O rápido crescimento econômico ao longo do Milagre, com a ocupação de

toda capacidade ociosa, levou ao aparecimento de alguns desequilíbrios que

gerariam pressões inflacionárias e/ou problemas na balança comercial. A

manutenção do ciclo expansionista, em fins de 1973, dependeria cada vez

mais de uma situação externa favorável. Esta situação foi rompida pela crise

internacional desencadeada pelo primeiro choque com o petróleo em 1973,

quando os países membros da OPEP quadruplicaram o preço do barril de

petróleo.

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Em 1974, houve aumento das taxas de inflação que passaram de 15,5%

em 1973 para 34,4%. No balanço de pagamentos, verificou-se um déficit no

saldo de transações correntes da ordem de US$ 6,5 bilhões, provocado não só

pelo aumento do valor das importações de petróleo, mas também em função

dos bens de capital e insumos básicos, necessários para manter o nível de

produção corrente. Este déficit não foi totalmente coberto pela entrada de

recursos, levando a uma queima de reservas, o que revelava o elevado grau

de vulnerabilidade externa da economia brasileira.

Em nível interno, a situação política aparecia como uma complicação

adicional; a crise mostrava os limites políticos do modelo do Milagre. Em ano

de mudança de presidente, começavam a surgir várias pressões por melhor

distribuição de renda e maior abertura política, o que gerava certo imobilismo

no Estado.

O debate sobre o que fazer em 1974 situou-se na dicotomia ajustamento

ou financiamento. O choque do petróleo significava transferência de recursos

reais ao exterior e, com a existência de um “hiato potencial de divisas”, a

manutenção do mesmo nível de investimento trazia a necessidade de maior

sacrifício sobre o consumo, e, para alcançar as mesmas taxas de crescimento

do período anterior, seria necessária maior taxa de investimento. Neste

contexto, percebe-se que as opções de crescimento se haviam estreitado, e a

tendência natural da economia seria a desaceleração da expansão.

As opções que se colocavam naquele momento eram:

• Ajustamento, que continha a demanda interna e evitava que o choque

externo se transformasse em inflação permanente e correção do

desequilíbrio externo; e

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• Financiamento do crescimento, visando ganhar tempo para ajustar a

oferta interna, mantendo o crescimento elevado e fazendo um ajuste

gradual dos preços relativos (alterados pela crise do petróleo), enquanto

houvesse financiamento externo abundante.

A opção tomada foi a de financiar o crescimento econômico. O plano

significou uma alteração completa nas prioridades da industrialização

brasileira: de um padrão baseado no crescimento do setor de bens de

consumo duráveis com alta concentração de renda, a economia deveria

passar a crescer com base no setor produtor de meios de produção - bens

de capital e insumos básicos. Dois problemas centrais para a execução do

plano eram as questões do apoio político e do financiamento do processo.

Neste sentido, percebe-se isolamento do Estado, que se transformou em

“Estado-empresário” e centrou o plano em si, tendo como agente central

das transformações as empresas estatais.

As metas do II PND eram manter o crescimento econômico em torno de

10% a.a., com crescimento industrial em torno de 12% a.a.

Destacavam-se as metas de insumos básicos e de substituição de

energia. Previa-se uma mudança no setor de transporte, com maiores

incentivos para ferrovias e hidrovias. E contemplavam-se, também,

expectativas otimistas para o setor de bens de capital, em que se esperava

redução na participação das importações no setor de 52% para 40%, além de

gerar excedente exportável em torno de US$ 200 milhões.

A lógica do modelo estava em que, conforme as empresas estatais

avançassem seus projetos de investimentos no setor de insumos, gerariam

demanda derivada que estimularia o setor privado a investir no setor de bens

de capital. Além da garantia de demanda, vários incentivos foram dados ao

setor privado através do CDE (Conselho de Desenvolvimento Econômico),

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principal órgão de implementação do plano. Entre os incentivos, destacavam-

se: o crédito do IPI sobre a compra de equipamentos, a possibilidade de

depreciação acelerada, a isenção do imposto de importação para compra de

bens intermediários, formas mais ou menos explícitas de reserva de mercado

para novos empreendimentos (por exemplo, a Lei da Informática), garantia de

política de preços compatível com as prioridades da política industrial.

Torna-se importante destacar as diferenças existentes nos investimentos

realizados pelas empresas estatais e o setor privado. Quanto às empresas

estatais, verificou-se a restrição do acesso destas ao crédito interno e uma

política de contenção tarifária, que visavam conter as pressões inflacionárias, e

forçá-las ao endividamento externo, o que serviria para cobrir o “hiato de

divisas” existentes na execução do plano. Iniciou-se com isso o processo de

estatização da dívida externa. Já o setor privado foi financiado basicamente

com créditos subsidiados de agências oficiais, entre as quais ganhou destaque

o BNDES, que teve seu funding praticamente duplicado com a transferência

para este dos recursos do PIS-PASEP, antes administrados pela CEF.

A dívida externa cresceu rapidamente no período, US$ 10 bilhões entre

74/77 e mais US$ 10 bilhões em 78/79. Nos dois primeiros anos a entrada de

recursos serviu para cobrir os déficits em transações correntes, mas já a partir

de 1976 o país voltou a acumular reservas. A facilidade de obtenção de

recursos externos está relacionada ao processo de reciclagem dos

petrodólares, isto é, aos superávits dos países da OPEP que, sem

oportunidades de aplicação interna, retornavam ao sistema financeiro

internacional. Como a demanda de crédito nos países desenvolvidos estava

retraída, os países em desenvolvimento voltaram a ser vistos como clientes

preferenciais.

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Apesar da ampla liquidez internacional e da série de estímulos dados ao

setor privado para captar recursos externos, as estatais constituíram-se nos

principais tomadores.

Para realizar o II PND, o Estado foi assumindo um passivo para manter o

crescimento econômico e o funcionamento da economia. Dados os níveis

extremamente baixos das taxas de juros internacionais, o mesmo Estado era

capaz de pagar os juros, mas correndo o risco de que qualquer alteração na

estrutura das taxas poderia inviabilizar as condições de pagamento,

principalmente tendo-se em vista a característica flutuante das taxas de juros

dos empréstimos. A deterioração da capacidade de financiamento do Estado,

que socializou todos os custos no período do II PND (com grande aumento nos

gastos, ao se autonomizar para realizar o desenvolvimento) sem criar

mecanismos adequados de financiamento, constituir-se-ia no grande problema

enfrentado posteriormente pela economia brasileira.

E com base nestes últimos comentários podemos dar por encerrada a

aula um. Na próxima aula daremos continuidade à abordagem da conjuntura

econômica nacional desde o início dos anos de 1980 até a atualidade.

Passemos agora à realização de alguns exercícios baseados em provas

anteriores.

Um grande abraço,

Mariotti

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Questões Propostas:

1 – (ADMINISTRADOR/BNDES – CESGRANRIO/2008) O processo de

substituição de importações na economia brasileira

a) ocorreu apenas a partir de 1960.

b) levou à implantação no Brasil de indústrias substitutivas das importações.

c) esgotou-se por volta de 1960, logo após o governo Kubitschek.

d) causou crises constantes de déficits do balanço comercial.

e) fez com que as regiões mais atrasadas do país crescessem mais

rapidamente.

2 – (ECONOMISTA/BNDES – CESGRANRIO/2009) Entre 1956 e 1960

(correspondendo ao governo JK), houve, no Brasil, um(a)

a) aumento da participação do setor agropecuário no PIB do País.

b) aumento do valor em dólar das exportações.

c) aceleração da inflação.

d) redução da taxa de crescimento do PIB.

e) redução do déficit orçamentário do governo federal.

3 – (ECONOMISTA/BNDES – CESGRANRIO/2009) O Plano Trienal,

elaborado por Celso Furtado e sua equipe para o governo de João Goulart,

tinha vários objetivos específicos, dentre os quais NÃO se encontra o de

a) realizar a reforma agrária com finalidade social e de expansão do mercado

interno.

b) garantir o crescimento real dos salários a uma taxa anual 3% superior ao

aumento da produtividade.

c) garantir uma taxa de crescimento do PIB de 7% a.a.

d) resolver a situação do balanço de pagamentos renegociando a dívida

externa.

e) reduzir a inflação para 10% a.a. até 1965.

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4 – (ECONOMISTA/BNDES – CESGRANRIO/2008) O PAEG (Plano de

Ação Econômica do Governo) e as reformas implementadas em 1964 e

nos anos imediatamente subseqüentes, no Brasil,

a) aumentaram substancialmente os salários.

b) aumentaram as restrições à entrada de capitais externos.

c) diminuíram a carga fiscal dos contribuintes.

d) criaram o Banco Central do Brasil.

e) eliminaram a correção monetária no país.

5 – (ECONOMISTA/BNDES – CESGRANRIO/2008) Assinale, entre as

opções abaixo, a que NÃO corresponde a uma das principais

características da política de industrialização brasileira no Pós-Guerra.

a) Fornecimento de crédito a longo prazo para implantação de novos projetos.

b) Proteção à indústria nacional, mediante tarifas de importação e barreiras

não tarifárias.

c) Participação direta do Estado no suprimento da infra-estrutura (energia,

transporte).

d) Participação direta do Estado na produção em alguns setores tidos como

prioritários (siderurgia, mineração, petróleo).

e) Intensa preocupação de atender o consumidor doméstico com produtos de

qualidade e baratos.

6 – (ENGENHEIRO/BNDES – CESGRANRIO/2008) O processo de

substituição de importações, como instrumento para a promoção do

desenvolvimento econômico, NÃO se caracteriza pelo(a)

a) encarecimento dos produtos importados dentro do país.

b) aumento dos investimentos produtivos nos setores protegidos dentro do

país.

c) estímulo às exportações do país.

d) proteção tarifária contra as importações, em favor das atividades produtivas

dentro do país.

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e) intervenção do estado na economia do país.

7 - (ECONOMISTA/BNDES – CESGRANRIO/2008) O período de 1974-78

foi de adaptação da economia brasileira e mundial à enorme alta dos

preços do petróleo. Nesse período houve mudanças importantes, tais

como:

a) redução substancial dos gastos brasileiros com a importação de petróleo.

b) redução das taxas de juros no mundo e no Brasil, devido à grande oferta de

“petrodólares” pelos países exportadores de petróleo.

c) aumento considerável dos déficits em conta corrente dos países

importadores de petróleo, financiados pela reciclagem dos “petrodólares” via

sistema financeiro internacional.

d) expansão econômica mundial, financiada pela reciclagem dos “petrodólares”

promovida pelo sistema financeiro internacional.

e) grande aumento das exportações brasileiras, mais do que compensando os

maiores gastos com a importação de petróleo.

8 – (ECONOMISTA/PETRORAS – CESGRANRIO/2005) O II Plano

Nacional de Desenvolvimento (PND), no governo Geisel, foi montado

no sentido de complementar o processo de substituição de

importações no Brasil, além de estimular a criação de setores

exportadores e reduzir a dependência de petróleo da economia

brasileira. Com relação ao setor externo, é correto afirmar que:

a) aumentou bastante o fluxo de empréstimos externos para o Brasil,

sobretudo assumidos pelas empresas estatais.

b) houve uma rápida reversão do saldo comercial brasileiro ainda na década de

1970.

c) observou-se uma grande retração das transferências unilaterais no Balanço

de Pagamentos.

d) criou-se uma dívida externa fundamentalmente privada no Brasil naquele

momento.

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e) foram fortemente elevadas as exportações de petróleo do Brasil com a

descoberta dos campos gigantes da Bacia de Campos.

9 – (APO/MPOG – ESAF/2010) Desde a década de 1940, diversos

governos utilizaram o planejamento como alavanca para o

desenvolvimento nacional. Indique qual dos planos abaixo foi

elaborado na fase do “milagre brasileiro”.

a) Plano SALTE.

b) I Plano Nacional de Desenvolvimento.

c) Plano Plurianual 1996-1999.

d) Plano de Metas.

e) Plano de Ação Econômica do Governo (PAEG).

10 –(Analista de Ativ. Meio Ambiente/SEPLAG-DF – CESPE/2009) A

análise da economia brasileira é importante para compreender os

fenômenos econômicos que caracterizam o país. A esse respeito,

julgue os itens seguintes.

76 Os esforços de promoção do desenvolvimento econômico empreendidos no

âmbito do II Plano Nacional de Desenvolvimento contaram não somente com

inversões públicas, mas também com estímulos diversos ao investimento

privado, exceto aqueles representados pelas barreiras comerciais, formadas

pelos impostos de importação, fortemente reduzidos nesse período.

11 – (Analista de Gestão Pública/PMV – CESPE/2008) O estudo da

economia brasileira, incluindo-se aí o fenômeno inflacionário que a

caracterizou durante um longo período, é importante para a

compreensão da situação econômica atual. No que concerne a esse

assunto, julgue os itens subseqüentes.

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100 O financiamento do Plano de Metas se realizou, principalmente, por meio

da inflação, decorrente da expansão monetária, que financiava o gasto público,

e do aumento do crédito, que viabilizava os investimentos privados.

101 A expansão da indústria de bens de consumo e o desempenho marcante

do setor agrícola constituíram as principais fontes de crescimento da economia

brasileira durante o período do denominado milagre econômico.

102 O foco do II PND (Plano Nacional de Desenvolvimento) foi eliminar as

restrições, tanto estruturais como externas, ao crescimento da economia

brasileira, mediante investimentos nos setores de infra-estrutura, bens de

produção, energia e exportações.

103 Em face dos choques externos — incluindo-se aí o aumento do preço do

petróleo e a alta das taxas de juros no mercado internacional —, o ajuste

estrutural do governo Geisel, embora bem-sucedido, aumentou a

vulnerabilidade externa da economia e o estoque da dívida pública.

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Gabarito Comentado:

1 – (ADMINISTRADOR/BNDES – CESGRANRIO/2008) O processo de

substituição de importações na economia brasileira

a) ocorreu apenas a partir de 1960.

b) levou à implantação no Brasil de indústrias substitutivas das importações.

c) esgotou-se por volta de 1960, logo após o governo Kubitschek.

d) causou crises constantes de déficits do balanço comercial.

e) fez com que as regiões mais atrasadas do país crescessem mais

rapidamente.

Comentários:

Essa é uma questão quase que autodidata, ou seja, a resposta da está no

próprio enunciado.

O processo de substituição de importações - PSI, adotado no Brasil no início do

governo Vargas, visava reduzir drasticamente a dependência da economia

brasileira da exportação de café. Por meio de um processo de industrialização

induzido pelo governo o país buscava produzir os bens dos quais era

diretamente dependente de importação.

Gabarito: letra “b”.

2 – (ECONOMISTA/BNDES – CESGRANRIO/2009) Entre 1956 e 1960

(correspondendo ao governo JK), houve, no Brasil, um(a)

a) aumento da participação do setor agropecuário no PIB do País.

b) aumento do valor em dólar das exportações.

c) aceleração da inflação.

d) redução da taxa de crescimento do PIB.

e) redução do déficit orçamentário do governo federal.

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Comentários:

Trata-se de uma questão relativamente tranqüila de ser respondida. Conforme

estudado, o governo JK provocou uma profunda mudança da estrutura de

desenvolvimento do país, expandindo atividades sustentadoras do crescimento

econômico. De acordo com o abordado em aula, foram tomadas as seguintes

medidas:

• Investimentos estatais em infra-estrutura, com destaque para os

setores de transporte e energia elétrica. No que diz respeito aos

transportes, cabe destacar a mudança de prioridade que até o

governo Vargas se centrava no setor ferroviário e no governo JK

passou para o rodoviário, que estava em consonância com o

objetivo de introduzir o setor automobilístico no país;

• Estímulo ao aumento da produção de bens intermediários, como o

aço, o carvão, o cimento, o zinco etc., que foram objetos de planos

específicos;

• Incentivos à introdução dos setores de bens de consumo duráveis e

bens de capital (máquinas e equipamentos utilizados na produção);

e

• Incentivo à produção industrial privada por meio da concessão de

crédito em massa.

Esta série de medidas contribuiu para o grande desenvolvimento brasileiro nos

anos seguintes. De todo modo, na esteira destes benefícios, algumas

consequências negativas ocorreram. O resultado da política implementada por

JK, via financiamento da atividade produtiva, não foi acompanhada de uma

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reforma fiscal adequada, fazendo com que o governo se utilizasse da emissão

de moeda para atendimento à sua política. Como não poderia deixar de ser, o

resultado foi a aceleração da inflação.

No plano externo ocorreu a deterioração do saldo em transações correntes e o

crescimento da dívida externa. Ainda como impactos negativos da política

econômica de JK verificou-se o desestímulo à agricultura, haja vista a opção

feita pelo governo de direcionar sua atuação para a indústria intensiva em

capital.

Gabarito: letra “c”.

3 – (ECONOMISTA/BNDES – CESGRANRIO/2009) O Plano Trienal,

elaborado por Celso Furtado e sua equipe para o governo de João

Goulart, tinha vários objetivos específicos, dentre os quais NÃO se

encontra o de

a) realizar a reforma agrária com finalidade social e de expansão do mercado

interno.

b) garantir o crescimento real dos salários a uma taxa anual 3% superior ao

aumento da produtividade.

c) garantir uma taxa de crescimento do PIB de 7% a.a.

d) resolver a situação do balanço de pagamentos renegociando a dívida

externa.

e) reduzir a inflação para 10% a.a. até 1965.

Comentários:

O Plano Trienal, ou Plano para os três anos de João Goulart no poder, foi

estruturado como forma de dar a sociedade brasileira que o apoio no plebiscito

de retorno ao presidencialismo no Brasil, uma reposta ao ambiente econômico

fragilizado deixado pela renúncia de Jânio Quadros.

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Entre os objetivos específicos do plano encontravam-se:

• Redução da taxa de inflação para 25% em 1963, e até 1965 alcançar o

patamar de 10%;

• Crescimento dos salários na mesma proporção do aumento da

produtividade da mão-de-obra;

• Realização da Reforma Agrária tanto para redução da crise social que

afetava o país à época quanto para permitir a elevação do consumo de

ramos industriais;

• Busca pela renegociação de dívida externa, a qual gerava grande pressão

sobre o pagamento de juros e, consequentemente, sobre o balanço de

pagamentos; e

• Promover o crescimento do PIB de 7% a.a..

A elevação dos salários estava associada á igual magnitude do aumento da

produtividade da mão-de-obra, e não 3% acima.

Gabarito: letra “b”.

4 – (ECONOMISTA/BNDES – CESGRANRIO/2008) O PAEG (Plano de

Ação Econômica do Governo) e as reformas implementadas em 1964 e

nos anos imediatamente subseqüentes, no Brasil,

a) aumentaram substancialmente os salários.

b) aumentaram as restrições à entrada de capitais externos.

c) diminuíram a carga fiscal dos contribuintes.

d) criaram o Banco Central do Brasil.

e) eliminaram a correção monetária no país.

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Comentários:

Uma série de medidas e reformas foram implementadas com a ascensão do

governo militar ao poder. Afora os aspectos de cunho político, na esfera

econômica, as medidas implementadas trouxeram grandes mudanças para o

país.

Entre as medidas institucionais adotadas pelo governo Castelo Branco estava a

adoção de reajustes salariais controlados pelo governo, a qual buscava entre

outros aspectos a contenção da inflação. Ainda no escopo das reformas

implementadas estavam:

- a introdução da correção monetária no sistema tributário, de forma a se

evitar a perda de receita decorrente da inflação;

- Melhoria das relações de comércio exterior e estimulo à atração de capital

estrangeiro para o país;

- A reforma tributária implementada teve como resultado o aumento da

arrecadação e uma grande centralização tanto da arrecadação como das

decisões em termos de política tributária, constituindo-se em importante

instrumento político, ao subordinar os estados ao governo central.

- Criação, por meio da Lei 4.595/64, do Conselho Monetário Nacional e do

Banco Central do Brasil, sendo que este último passaria a ter a atribuição do

de realizar a política monetária.

Com base nestas informações, pode-se anotar a letra “d” como gabarito da

questão, uma vez que se trata da única assertiva correta.

Gabarito: letra “d”.

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5 – (ECONOMISTA/BNDES – CESGRANRIO/2008) Assinale, entre as

opções abaixo, a que NÃO corresponde a uma das principais

características da política de industrialização brasileira no Pós-Guerra.

a) Fornecimento de crédito a longo prazo para implantação de novos projetos.

b) Proteção à indústria nacional, mediante tarifas de importação e barreiras

não tarifárias.

c) Participação direta do Estado no suprimento da infra-estrutura (energia,

transporte).

d) Participação direta do Estado na produção em alguns setores tidos como

prioritários (siderurgia, mineração, petróleo).

e) Intensa preocupação de atender o consumidor doméstico com produtos de

qualidade e baratos.

Comentários:

Entre as diversas características das políticas de industrialização adotadas pelo

país no Pós Guerra, estas devidamente debatidas em aula, a única não

verdadeira relaciona-se à preocupação em atendimento ao consumidor interno

com produtos baratos. A proteção à industrial nacional, que por sinal ocorreu

até o início dos anos de 1990, acabou por levar à elevação dos preços do bens

sem, logicamente, estar associada à melhoria da qualidade dos produtos.

Gabarito: letra “e”.

6 – (ENGENHEIRO/BNDES – CESGRANRIO/2008) O processo de

substituição de importações, como instrumento para a promoção do

desenvolvimento econômico, NÃO se caracteriza pelo(a)

a) encarecimento dos produtos importados dentro do país.

b) aumento dos investimentos produtivos nos setores protegidos dentro do

país.

c) estímulo às exportações do país.

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d) proteção tarifária contra as importações, em favor das atividades produtivas

dentro do país.

e) intervenção do estado na economia do país.

Comentários:

O processo de substituição de importações – PSI foi caracterizado pelo

estímulo dado pelo governo federal, no âmbito do Estado Novo (ascensão de

Getúlio Vargas ao poder), no sentido de que a produção do país fosse voltada

para dentro, sendo a demanda gerada pelos bens suprida por produção interna

ao invés da importação de bens. Os estímulos realizados estavam associados

entre outras coisas à imposição de barreiras tarifárias. Do mesmo modo,

buscou-se a redução da dependência externa do país, uma vez que este não

mais poderia contar apenas com suas exportações como forma de geração de

renda ao país.

Gabarito: letra “c”.

7 - (ECONOMISTA/BNDES – CESGRANRIO/2008) O período de 1974-78

foi de adaptação da economia brasileira e mundial à enorme alta dos

preços do petróleo. Nesse período houve mudanças importantes, tais

como:

a) redução substancial dos gastos brasileiros com a importação de petróleo.

b) redução das taxas de juros no mundo e no Brasil, devido à grande oferta de

“petrodólares” pelos países exportadores de petróleo.

c) aumento considerável dos déficits em conta corrente dos países

importadores de petróleo, financiados pela reciclagem dos “petrodólares” via

sistema financeiro internacional.

d) expansão econômica mundial, financiada pela reciclagem dos “petrodólares”

promovida pelo sistema financeiro internacional.

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e) grande aumento das exportações brasileiras, mais do que compensando os

maiores gastos com a importação de petróleo.

Comentários:

O período entre 1974 e 1978 foi caracterizado pelo primeiro Choque do

Petróleo. Neste período houve uma grande elevação nos gastos com a

importação de petróleo, o aumento das taxas de juros no Brasil e no mundo no

sentido de captação dos Petrodólares que migravam para os países

componentes da OPEP. Estes Petrodólares serviram como ferramenta de

fechamento dos déficits das transações correntes, via resultado positivo do

balanço de capitais (que contabiliza a entrada de Petrodólares). No período,

apenas o Brasil, por meio do II PND, buscou o crescimento via financiamento

externo, tendo as demais economias reduzido o seu ritmo de crescimento por

meio de acomodações nas principais variáveis impactadas pela alta no preço

do Petróleo. A diminuição do ímpeto dos demais países impactou diretamente

o Brasil, prejudicando direta a exportação de bens e serviços.

Gabarito: letra “c”.

8 – (ECONOMISTA/PETRORAS – CESGRANRIO/2005) O II Plano

Nacional de Desenvolvimento (PND), no governo Geisel, foi montado

no sentido de complementar o processo de substituição de

importações no Brasil, além de estimular a criação de setores

exportadores e reduzir a dependência de petróleo da economia

brasileira. Com relação ao setor externo, é correto afirmar que:

a) aumentou bastante o fluxo de empréstimos externos para o Brasil,

sobretudo assumidos pelas empresas estatais.

b) houve uma rápida reversão do saldo comercial brasileiro ainda na década de

1970.

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c) observou-se uma grande retração das transferências unilaterais no Balanço

de Pagamentos.

d) criou-se uma dívida externa fundamentalmente privada no Brasil naquele

momento.

e) foram fortemente elevadas as exportações de petróleo do Brasil com a

descoberta dos campos gigantes da Bacia de Campos.

Comentários:

Uma das principais características associadas ao período em que se sucedeu a

implantação do II PND foi o excesso de liquidez externa decorrente do fluxo de

petrodólares gerados pelo aumento dos ganhos obtidos pelos países

componentes da OPEP. Atraídos pela alta remuneração dada pelo governo,

estes recursos na forma de empréstimos financiaram em grande parte a

expansão econômica do país na primeira metade dos anos de 1970.

A maior parte da captação de empréstimos foi assumida por empresas

estatais.

Gabarito: letra “a”.

9 – (APO/MPOG – ESAF/2010) Desde a década de 1940, diversos

governos utilizaram o planejamento como alavanca para o

desenvolvimento nacional. Indique qual dos planos abaixo foi

elaborado na fase do “milagre brasileiro”.

a) Plano SALTE.

b) I Plano Nacional de Desenvolvimento.

c) Plano Plurianual 1996-1999.

d) Plano de Metas.

e) Plano de Ação Econômica do Governo (PAEG).

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Comentários:

O chamado Milagre Econômico foi o período entre 1968 e 1973 em que o PIB

brasileiro apresentou as maiores taxas de crescimento, derivadas de todas as

reformas e estruturação do parque fabril nos 15 anos anteriores. Associado a

este crescimento encontrou-se também todo o contexto favorável da economia

mundial na época.

A busca do crescimento, segundo o governo, deveria processar-se com o

investimento em setores diversificados e com menor participação do Estado,

ou seja, deveria basear-se no setor privado. É importante destacar que o

crescimento se colocava também como uma necessidade para legitimar o

Regime Militar, que procurou justificar sua intervenção na necessidade de

eliminar a desordem econômica e político-institucional, e recolocar o país nos

trilhos do desenvolvimento.

Tendo como ponto de partida o plano denominado de I Plano Nacional de

Desenvolvimento – I PND, teve dentre as principais fontes de crescimento

do período do milagre, os seguintes pontos:

• A retomada do investimento público em infra-estrutura - possibilitada

pela recuperação financeira do setor público, devido à reforma fiscal e

aos mecanismos de endividamento interno (financiamento não

inflacionário dos déficits);

• Aumento dos investimentos das empresas estatais, observando-se, no

período, um aumento nos investimentos e o processo de conglomeração

destas empresas, através da criação de várias subsidiárias; a Petrobrás e

a Vale do Rio Doce foram exemplos típicos deste processo;

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• Demanda por bens duráveis - devido à grande expansão do crédito ao

consumidor pós reforma financeira;

• Crescimento das exportações, especialmente a de bens manufaturados,

graças ao crescimento no comércio mundial e à melhoria nos termos de

troca;

• Quanto ao setor de bens de capital, seu desempenho pode ser dividido

em duas fases. Na primeira, até 1970, apresentou menor crescimento,

dado que o crescimento observado se baseou na ocupação de capacidade

ociosa e não na ampliação da capacidade instalada. Conforme foi sendo

ocupada esta capacidade, aumentava-se a taxa de investimento na

economia, sendo que a formação bruta de capital fixo superou os 20%

do PIB no período de 1971/73.

O período do “Milagre Econômico” foi interrompido pela Primeira Crise do

Petróleo em 1973, momento no qual os países componentes da Organização

dos Países Exportadores do Petróleo – OPEP decidiram aumentar os preços do

barril de petróleo. A economia brasileira foi afetada em conjunto com o resto

do mundo. Nesta oportunidade o Brasil adotou o que ficou conhecido com

“crescimento forçado”, adotando o chamado II Plano Nacional de

Desenvolvimento – II PND.

Letra a – O plano SALTE foi considerado o primeiro grande planejamento

econômico do país. Ocorrida no governo Eurico Gaspar Dutra (1947), dava

prioridade as áreas de Saúde, ALimentação, Transporte e Energia.

Letra c – O Plano Plurianual é um instrumento de planejamento da

administração pública, não podendo ser considerado como um plano

econômico.

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Letra d – O Plano de Metas foi criado pelo governo Juscelino Kubitschek, tendo

como objetivo estabelecer as bases de uma economia industrial madura no

país, introduzindo de ímpeto o setor produtor de bens de consumo duráveis.

Letra e – Este Plano não foi abarcado entre os planos cobrados pelo edital. De

todo modo, vamos aos comentários: O governo Castelo Branco lançou o PAEG

(Plano de Ação Econômica do Governo), com vistas a resolver os problemas

econômicos. O PAEG pode ser dividido em duas linhas de atuação: políticas

conjunturais de combate à inflação, associadas a reformas estruturais que

permitiram o equacionamento dos problemas inflacionários e das dificuldades

que se colocavam ao crescimento econômico. Os objetivos colocados pelo

PAEG foram: acelerar o ritmo de desenvolvimento econômico, conter o

processo inflacionário, atenuar os desequilíbrios setoriais e regionais, aumentar

o investimento e com isso o emprego, e corrigir a tendência ao desequilíbrio

externo. O controle inflacionário e/ou as formas de conviver com ela eram

vistos como precondições para a retomada do desenvolvimento, e o combate à

inflação só poderia ser feito acoplado às reformas institucionais.

Gabarito: letra “b”.

10 – (Analista de Ativ. Meio Ambiente/SEPLAG-DF – CESPE/2009) A

análise da economia brasileira é importante para compreender os

fenômenos econômicos que caracterizam o país. A esse respeito,

julgue os itens seguintes.

76 Os esforços de promoção do desenvolvimento econômico empreendidos no

âmbito do II Plano Nacional de Desenvolvimento contaram não somente com

inversões públicas, mas também com estímulos diversos ao investimento

privado, exceto aqueles representados pelas barreiras comerciais, formadas

pelos impostos de importação, fortemente reduzidos nesse período.

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O II PND contou com incentivos ao investimento privado. Realizados

por meio do CDE (Conselho de Desenvolvimento Econômico), os

incentivos centraram-se na concessão de crédito do IPI sobre a

compra de equipamentos, a possibilidade de depreciação acelerada, a

isenção do imposto de importação para compra de bens

intermediários, formas mais ou menos explícitas de reserva de

mercado para novos empreendimentos (por exemplo, a Lei da

Informática), garantia de política de preços compatível com as

prioridades da política industrial etc.. Assim sendo, não há porque se

falar em barreiras comerciais, afinal de contas a redução do Imposto

de Importação teve o condão de estimular a produção de bens de

capital por meio da redução dos bens intermediários utilizados neste

processo produtivo.

ERRADO

11 – (Analista de Gestão Pública/PMV – CESPE/2008) O estudo da

economia brasileira, incluindo-se aí o fenômeno inflacionário que a

caracterizou durante um longo período, é importante para a

compreensão da situação econômica atual. No que concerne a esse

assunto, julgue os itens subseqüentes.

100 O financiamento do Plano de Metas se realizou, principalmente, por meio

da inflação, decorrente da expansão monetária, que financiava o gasto público,

e do aumento do crédito, que viabilizava os investimentos privados.

O financiamento dos investimentos públicos ocorrido no período, na

ausência de uma reforma fiscal condizente com as metas e os gastos

estipulados, teve que se valer principalmente da emissão monetária, o

que levou à aceleração inflacionária. Adiciona-se que, conforme

afirmado no tópico referente ao Plano de Metas, o aumento do crédito

dos bancos públicos contribuiu para o estímulo ao investimento

privado.

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CERTO

101 A expansão da indústria de bens de consumo e o desempenho marcante

do setor agrícola constituíram as principais fontes de crescimento da economia

brasileira durante o período do denominado milagre econômico.

Conforme destacado na aula, tanto o setor de bens de consumo leve

(não duráveis) como a agricultura apresentaram desempenhos

modestos durante a duração do plano. O crescimento que

apresentaram deveu-se ao aumento da massa salarial, que, por sua

vez, se deve ao aumento de emprego, e ao crescimento das

exportações de manufaturados tradicionais e de produtos agrícolas. A

agricultura cresceu 4,5% a.a., em média, no período, apesar da forte

expansão do crédito agrícola, centrado no BB. Nesta fase, deu-se o

início do processo de modernização agrícola, através da mecanização,

fazendo com que esta se tornasse importante fonte de demanda para

indústria.

ERRADO

102 O foco do II PND (Plano Nacional de Desenvolvimento) foi eliminar as

restrições, tanto estruturais como externas, ao crescimento da economia

brasileira, mediante investimentos nos setores de infra-estrutura, bens de

produção, energia e exportações.

Estes foram de fato as opções de investimento feito pelo governo em

decorrência do estrangulamento externo. Não obstante, este

crescimento foi financiado por meio do financiamento contraído via

empresas estatais.

CERTO

103 Em face dos choques externos — incluindo-se aí o aumento do preço do

petróleo e a alta das taxas de juros no mercado internacional —, o ajuste

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estrutural do governo Geisel, embora bem-sucedido, aumentou a

vulnerabilidade externa da economia e o estoque da dívida pública.

Com o segundo choque do petróleo o país se viu diante de uma difícil

situação, haja vista tanto os elevados déficits do balanço de

pagamentos como a elevação da inflação. O diagnóstico básico, tanto

para o desequilíbrio externo quanto para a aceleração inflacionária,

era o excesso de demanda interna, materializada no déficit público. A

política econômica procurou centrar-se no controle da demanda

agregada, evitando que esta crescesse ainda mais (era o chamado

choque ortodoxo, caracterizado pela elevação nos juros). Destaca-se,

no entanto, que a ameaça de profunda queda da atividade econômica

levou à grande reação política, e à substituição do ministro Simonsen

por Delfim Neto.

CERTO