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Capacitação dos profissionais do Sistema Municipal de Atendimento Socioeducativo (SIMASE) com base nos parâmetros de gestão, teórico-metodológicos do Plano Decenal de Atendimento Socioeducativo do Município de São Paulo 1 TEXTO DE REFERÊNCIA AULA 5 - O PIA ENQUANTO PROJETO DE VIDA, FACILITADOR DA INTEGRAÇÃO SOCIAL DO ADOLESCENTE. O PIA ENQUANTO PROJETO DE VIDA, FACILITADOR DA INTEGRAÇÃO SOCIAL DO ADOLESCENTE. 1 Juracy José da Silva A Lei 12594/2012, que instituiu o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo - SINASE que em seu Artigo 1º, Inciso 2, define como um dos objetivos da medida socioeducativa: [...] “II - a integração social do adolescente e a garantia de seus direitos individuais e sociais, por meio do cumprimento de seu plano individual de atendimento”. A tarefa de integração social do adolescente em conflito com a lei é desafiadora e complexa. Seu sucesso depende da compreensão do que seja adolescência e de como se dá o desenvolvimento humano, particularmente nessa fase da vida. Não há planejamento eficiente sem que se tenha clareza sobre os aspectos que influenciam a formação do sujeito ao longo dos diversos ciclos de sua vida. Para tal compreensão, buscar-se-á referências nos estudos sobre o desenvolvimento humano, trafegando pelos núcleos fundamentais da proposta teórica de Bronfenbrenner, a saber: contexto, processo, pessoa e tempo, com uma análise perfunctória sobre as crises na adolescência. Toda base teórica terá o condão de demonstrar a complexidade da medida socioeducativa em sua intenção de integração social do adolescente examinando diferentes variáveis do processo, vez que se parte da crença de que é necessário que o Plano Individual, executado durante o cumprimento da medida socioeducativa, seja concebido na perspectiva de um projeto de vida. Os fundamentos sobre o projeto de vida serão abordados com o respaldo da obra de Jean-Pierre Boutinet (2002) - Antropologia do Projeto -, cujas reflexões sobre o processo de elaboração, apreensão e efetivação de um projeto podem agregar às análises do tema proposto uma visão sobre as questões subjetivas, sociais e culturais do envolvimento direto do adolescente em um projeto pessoal com expectativas externas de mudança que nem sempre se tornarão efetivas no curto prazo. a) O Estatuto e sua essência autônoma e formadora. A reflexão que se fará nesta pesquisa visitará os aspectos do adolescente enquanto sujeito de direitos, privilegiando o olhar pedagógico e não meramente punitivo, embora não deixaremos de apontar a relevância da intervenção estatal no caráter da responsabilização, todavia, iremos procurar avaliar a potencialidade do PIA na sua eficácia plena, apostando inclusive na responsabilização como processo de construção de um projeto de vida. 1 Capitulo 2 da Dissertação de Mestrado de Juracy José da Silva: O Plano Individual de Atendimento (PIA) como instrumento de potencialização do projeto de vida do adolescente em conflito com a lei. Universidade Anhanguera de S. Paulo. São Paulo, 2015. pp.31-54

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Capacitação dos profissionais do Sistema Municipal de Atendimento Socioeducativo (SIMASE) com base nos parâmetros de gestão, teórico-metodológicos do Plano Decenal de Atendimento Socioeducativo do Município de São Paulo

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TEXTO DE REFERÊNCIA AULA 5 - O PIA ENQUANTO PROJETO DE VIDA, FACILITADOR DA INTEGRAÇÃO SOCIAL DO ADOLESCENTE.

O PIA ENQUANTO PROJETO DE VIDA, FACILITADOR DA INTEGRAÇÃO SOCIAL DO ADOLESCENTE.1

Juracy José da Silva

A Lei 12594/2012, que instituiu o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo - SINASE que em seu

Artigo 1º, Inciso 2, define como um dos objetivos da medida socioeducativa: [...] “II - a integração social do

adolescente e a garantia de seus direitos individuais e sociais, por meio do cumprimento de seu plano

individual de atendimento”.

A tarefa de integração social do adolescente em conflito com a lei é desafiadora e complexa. Seu sucesso

depende da compreensão do que seja adolescência e de como se dá o desenvolvimento humano,

particularmente nessa fase da vida. Não há planejamento eficiente sem que se tenha clareza sobre os

aspectos que influenciam a formação do sujeito ao longo dos diversos ciclos de sua vida. Para tal

compreensão, buscar-se-á referências nos estudos sobre o desenvolvimento humano, trafegando pelos

núcleos fundamentais da proposta teórica de Bronfenbrenner, a saber: contexto, processo, pessoa e tempo,

com uma análise perfunctória sobre as crises na adolescência.

Toda base teórica terá o condão de demonstrar a complexidade da medida socioeducativa em sua intenção

de integração social do adolescente examinando diferentes variáveis do processo, vez que se parte da

crença de que é necessário que o Plano Individual, executado durante o cumprimento da medida

socioeducativa, seja concebido na perspectiva de um projeto de vida. Os fundamentos sobre o projeto de

vida serão abordados com o respaldo da obra de Jean-Pierre Boutinet (2002) - Antropologia do Projeto -,

cujas reflexões sobre o processo de elaboração, apreensão e efetivação de um projeto podem agregar às

análises do tema proposto uma visão sobre as questões subjetivas, sociais e culturais do envolvimento direto

do adolescente em um projeto pessoal com expectativas externas de mudança que nem sempre se tornarão

efetivas no curto prazo.

a) O Estatuto e sua essência autônoma e formadora.

A reflexão que se fará nesta pesquisa visitará os aspectos do adolescente enquanto sujeito de direitos,

privilegiando o olhar pedagógico e não meramente punitivo, embora não deixaremos de apontar a

relevância da intervenção estatal no caráter da responsabilização, todavia, iremos procurar avaliar a

potencialidade do PIA na sua eficácia plena, apostando inclusive na responsabilização como processo de

construção de um projeto de vida.

1 Capitulo 2 da Dissertação de Mestrado de Juracy José da Silva: O Plano Individual de Atendimento (PIA)

como instrumento de potencialização do projeto de vida do adolescente em conflito com a lei. Universidade

Anhanguera de S. Paulo. São Paulo, 2015. pp.31-54

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É certo que o Estatuto, no que toca as medidas socioeducativas, tem caráter híbrido, mesclando o caráter

pedagógico com o punitivo, mas adota-se aqui a compreensão de que as sanções previstas ao adolescente

têm um caráter pedagógico e que, portanto, seus efeitos penais ficam submetidos muito mais às

possibilidades e limites do adolescente em cumprir as obrigações resultantes da medida, sendo mais

profícuo o caminho que poderá extrair da medida um movimento de construção prospectiva de uma nova

trajetória diferente de seu passado.

A leitura do ECA é sistêmica, sempre, e no caso específico dos atos infracionais também, o que leva a

compreensão de que a medida socioeducativa não possui esse viés meramente punitivo, e sim procura criar

outras possibilidades para o adolescente como a de participar de um programa visando sua integração social

através de ações educativas.

Certamente, o nível de desenvolvimento pessoal alcançado na adolescência leva a crer que o adolescente

não desconhece totalmente os limites intrínsecos e extrínsecos da punição a que está sujeito e as

consequências dela, ou seja, não é, em decorrência de sua condição de desenvolvimento, incapaz de

entender o caráter ilícito de certos fatos e de determinar-se de acordo com esse entendimento. Isto não

significa, entretanto, que tenha um grau de autonomia condutual similar à sua autonomia cognitiva (SENNA;

DESSEN, 2012; REICHERT; WAGNER, 2007). Tal reflexão vem também sinalizada em documento publicado

pela Secretaria de Direitos Humanos, destacando as razões para a não redução da idade penal e apontando

entre estes motivos:

7°. Porque a fase de transição justifica o tratamento diferenciado. A Doutrina da Proteção

Integral é o que caracteriza o tratamento jurídico dispensado pelo Direito Brasileiro às

crianças e adolescentes, cujos fundamentos encontram-se no próprio texto constitucional,

em documentos e tratados internacionais e no Estatuto da Criança e do Adolescente. Tal

doutrina exige que os direitos humanos de crianças e adolescentes sejam respeitados e

garantidos de forma integral e integrada, mediando e operacionalização de políticas de

natureza universal, protetiva e socioeducativa. A definição do adolescente como a pessoa

entre 12 e 18 anos incompletos implica a incidência de um sistema de justiça especializado

para responder a infrações penais quando o autor trata-se de um adolescente. A imposição

de medidas socioeducativas e não das penas criminais relaciona-se justamente com a

finalidade pedagógica que o sistema deve alcançar, e decorre do reconhecimento da

condição peculiar de desenvolvimento na qual se encontra o adolescente (BRASIL, 2015).

O adolescente como sujeito em desenvolvimento não está prejudicado pela ausência de consciência. A

nosso sentir, são duas coisas distintas. A referência à consciência supõe ter o entendimento, a referência ao

desenvolvimento nos conduz à necessidade de formação. Entendemos que a tutela do adolescente não

ocorre porque é um ser humano em inferioridade de condições, por sua condição e estágio de

desenvolvimento físico, intelectual e afetivo. Com efeito, a adolescência faz parte de um ciclo do

desenvolvimento humano, que começa na infância e termina na senilidade. Considera-se que tendo um

projeto de vida no horizonte, o adolescente encontrará mais sentido nas atividades propostas pelas equipes

das unidades de internação e irá esforçar-se mais na busca de sua autonomia – finalidade importante da

educação.

[...] podemos dizer que autônomo é aquele indivíduo que tem iniciativa, que consegue

identificar seus desejos, sabe como fazer para colocá-los em prática e toma para si a

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responsabilidade de seus atos. Autônomo é o indivíduo que reconhece suas potencialidades

e suas fragilidades. Consegue expor suas emoções, pois está seguro de suas atitudes, tem

confiança em si e nos outros, podendo mostrar-se sem se desvalorizar ou diminuir; tem

confiança em si, em seu entorno (REICHERT; WAGNER, 2007)

Nesse sentido, compreender um adolescente exige o estudo das mudanças físicas que marcam

corporalmente a transição da infância para a idade adulta, do desenvolvimento intelectual que orienta os

esforços para pensar logicamente sobre questões da vida. Isso não representa considerá-lo um ser menor ou

inferior, mas apenas conflituoso e em transição. Mas, de toda sorte, consciente e passível de ser

responsabilizado. No debate entre a natureza educativa e punitiva da medida socioeducativa, Antônio

Carlos Gomes da Costa (1994) encontrou um caminho que pretendemos explorar nesta pesquisa:

O primeiro desafio é localizar um território comum em que pedagogos e juristas possam se encontrar e, a

partir da perspectiva de cada um, lançar as bases de um relacionamento construtivo e maduro. Este

território - não tenho nenhuma dúvida - é o da responsabilização do adolescente (COSTA, 2006).

Tratando-se do ato infracional, a proposta tem total razão, a nosso juízo, pois o adolescente autor do ato

exercerá sua responsabilidade não por ausência de consciência ou incapacidade, mas se pode considerar

que sua capacidade de autodeterminar-se está submetida a diferentes circunstâncias. Nem se pode falar em

mente ou personalidade voltada para o crime, mas em prejuízos e fatores que condicionam a favor ou

contra, em maior ou menor grau, o envolvimento em atividades delituosas. Assim, considera-se que toda

estrutura endógena e exógena, a saber, critérios internos aliados aos fatores do ambiente, é que

determinarão ou, melhor dizendo, influenciarão sua conduta. Sob essa ótica que o Estatuto Infanto-Juvenil

tem por princípio a abordagem psicológica desenvolvimentista, na medida em que adota a concepção de

criança e adolescente como sujeitos de direitos, já que, ao se desenvolverem, amadurecem no e para o

mundo do direito, para as relações sociais, afetivas, familiares e para a vida.

Pensar no sistema de justiça e na prevenção especial revelada da medida socioeducativa aplicada ao

adolescente tem que ter em mente a estrutura mestra do tratamento da questão do Direito da Criança e do

Adolescente, definindo-lhe seu conteúdo os desideratos do desenvolvimento saudável e da integridade.

Seus instrumentos genéricos de garantia estão materializados nos princípios do respeito à condição peculiar

de pessoa em processo de desenvolvimento e de prioridade absoluta. O respeito à condição peculiar de

pessoa em processo de desenvolvimento encerra obviedade manifesta.

b) Breves considerações sobre o Desenvolvimento Humano

É consabido que o sujeito adolescente na sua individualidade e subjetividade, deve ser compreendido como

um ser completo, harmonizado com seu tempo e processo de desenvolvimento. Com efeito, o que traduz o

respeito as suas especificidades é a forma como ele vê e reage as suas experiências. Seu comportamento

comumente produz uma tensão, sugerindo uma inquietação permanente que afeta a ele, sua família e sua

comunidade num ciclo comumente associado à ideia de crise. A ela também se associa a ideia de

transgressão e insubordinação às regras vigentes:

A descoberta da adolescência como problema é, portanto, contemporânea da associação entre juventude e

delinquência. Neste domínio, o marco teórico constitui o modelo stormand stress ("agitação e tensão"),

formulado originalmente pelo psicólogo americano Stanley Hall, para quem a adolescência era concebida

como um período de "agitação hormonal" durante o qual adolescentes tanto requeriam liberdade para dar

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vazão a seu potencial explosivo quanto reclamavam maior controle para incutir-lhes disciplina social (Adorno

et ad, apud Newburn, 1998).

Eis a razão da importância da formalização do PIA sob um aspecto de perseguir respostas, visando contribuir

para que o adolescente saiba lidar com essa conflitualidade, insatisfação, evasão e apatia, sem ter que

buscar na prática de atos infracionais formas de decifração.

Aliás, essas são as razões de acreditarmos no PIA como um instrumento valioso de intervenção, pois é nesse

momento de desenvolvimento, diante dos conflitos, insatisfação, evasão e apatia que é possível propor,

dentro do Plano Individual de Atendimento, programas com ênfase no investimento de seu

desenvolvimento pessoal e social, mediante uma responsabilidade prospectiva, conforme Guará (2015)2.

Além disso, conscientizá-lo da responsabilização de seu ato, visando retrospectivamente acenar para uma

necessidade de reflexão. O adolescente, conforme a literatura psicológica recebe com emoção toda

experiência que lhe chega, que é sempre nova em sua vida, e porque não consegue fazer a mediação entre o

impulso e o mundo externo, passa logo para a instância da ação. Aí está a grande essência do

desenvolvimento, o sujeito adolescente, o processo de desenvolvimento, o tempo da maturidade e o

contexto ambiental. A conjugação desses fatores é que deverá ser levado em conta a fim de determinar a

extensão de sua responsabilização pelo ato infracional.

A bem da verdade, quando nos deparamos com o adolescente autor do ato infracional a pergunta que vem à

tona é qual ou quais os motivos subjetivos e externos, no contexto da simbiose entre o indivíduo e

ambiente, que foram determinantes para levá-lo a conduta desviante. Sempre existe um gatilho, nunca vem

simplesmente de uma decisão isolada. A elaboração do PIA tem que alcançar esse momento para se ter a

ideia por onde começar. Nas ponderações, que Urie Bronfenbrenner descreve, existe uma relação

substancial entre o indivíduo e o ambiente, cujas influências recíprocas interagem a maneira de formar o

sujeito e sua personalidade. A investigação passa pela gênese da delinquência juvenil, vale dizer: o

paradigma sociológico; o paradigma biológico; o paradigma psicológico.

Trafegando nesse labirinto talvez se consiga encontrar, não uma explicação, mas, repete-se, o fator

determinante que sugeriu o adolescente a optar pela decisão de praticar o ato infracional. Percebe-se que

essa análise se revela de suma importância para construção de um Plano Individual de Atendimento, cuja

meta é pensar na trajetória de vida do adolescente a partir da medida, orientando sobre quais as respostas

que buscará ante as suas possibilidades frente sua realidade, mesmo que influenciado por fatores biossocial,

cognitivo ou psicossocial. Vejamos, com base nas mais respeitadas teorias, as fases desse desenvolvimento,

à guisa sucinta.

É cediço que a sequência de eventos que fazem parte da puberdade é a mesma em todas as culturas para os

jovens de ambos os sexos. Contudo, o momento da puberdade apresenta uma variação considerável. As

crianças normais experimentam suas primeiras mudanças corporais em algum momento entre os 8 e os 14

anos.

b) Síntese da Teoria do Desenvolvimento

O impacto dos hormônios na adolescência reflete automaticamente nas emoções e depende enormemente

das reações pessoais às mudanças óbvias no tamanho e na forma do corpo, e o modo como esse impacto é

afetado pelo contexto social (BERGER, 2000, p. 283).

2 Palestra na Câmara de Vereadores de Vitória\ES em 03 de setembro de 2015.

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As teorias do desenvolvimento humano, afirmam que no aspecto do desenvolvimento cognitivo, diferente

das crianças mais novas, cujos pensamentos estão atrelados à realidade tangível, os adolescentes podem

construir sistemas formais e teorias gerais que transcendem (e algumas vezes ignoram) a experiência

prática. Seu raciocínio pode ser formal e abstrato, ao invés de empírico e concreto. Essa habilidade também

os torna capazes de considerar princípios abstratos, tais como aqueles que se relacionam ao amor, à justiça

e ao significado da vida humana (COLE; COLE, 2007).

Entre as características especificas do pensamento operacional formal está a habilidade para pensar

hipotética e racionar de maneira dedutiva. Os adolescentes imaginam um princípio geral que possa ser

verdadeiro e então deduzem ideias específicas a partir da generalidade. Entretanto, eles nem sempre

pensam nesse nível avançado (BERGER, 2000, p. 306).

O pensamento adolescente é representado, e algumas vezes desfigurado, pelo egocentrismo, ou seja, a

razão é subtraída pela exagerada exaltação da própria personalidade, até a considerar como centro da

atenção e de atividades gerais. Na pessoa egocêntrica se encontram a imaginação e o pensamento tão

permanentemente ocupados com o próprio eu e os seus interesses que é incapaz de se colocar no lugar de

outro indivíduo e de contemplar, do ponto de vista de outro eu, a matriz ou aspecto que têm as coisas e

acontecimentos, exemplificado pela invencibilidade e pelas lendas pessoais. Intensifica a consciência de si,

típica durante esse período da vida, e caracterizada pela presença de uma plateia imaginária que avalia cada

movimento do adolescente (ELKIND, 1967, 1984).

Um dos fatores mais desafiadores na elaboração do PIA acredita-se, seja a desconstrução desse

egocentrismo, visando trazer o adolescente a sua realidade e a pensar de forma prospectiva e projetada

para fora de si, considerando sua posição no meio onde vive.

Não obstante isso, a adolescência é normalmente um período de abertura e medo, quando os adolescentes

se tornam ávidos por estímulos intelectuais, mas estão altamente vulneráveis à dúvida com relação a si

mesmos. Eis, nessa esteira, a tensão entre o real e o projeto. Os adolescentes têm capacidades

diversificadas com relação à tomada de decisões. Se por um lado os adolescentes testemunham o

desenvolvimento de muitas habilidades cognitivas que são essenciais para um bom julgamento, sozinhas,

não os conduzem a boas decisões.

Na esfera psicossocial, o desenvolvimento da compreensão de si mesmo toma uma nova dimensão na

adolescência, com os jovens começando a reconhecer e escolher através de “possíveis eus”, os quais

refletem aspectos da personalidade diferentes e algumas vezes contraditórios. Em busca de seu eu real, os

adolescentes frequentemente representam intencionalmente um falso e, algumas vezes para obterem

aceitação, algumas vezes para testarem um novo papel (BERGER, 2000, p. 308).

De acordo com Erikson (1972), a crise psicossocial da adolescência é a crise da identidade versus a confusão

de papeis. Idealmente os adolescentes resolvem essa crise desenvolvendo tanto a própria individualidade

quanto seus relacionamentos em uma sociedade mais ampla, estabelecendo no processo, uma identidade

sexual, política, moral e profissional.

Algumas vezes a pressão para resolver a crise de identidade é muito grande e, ao invés de explorar papeis

alternativos, os jovens não têm como resistir às opções dos outros, pegando grande quantidade dos valores

de outra pessoa. Eles talvez impugnem a busca se apoderando dos valores de seus pais ou talvez escolham

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os valores de um herói do culto. Outros talvez assumam uma identidade negativa, desafiando as

expectativas da família ou da comunidade.

Alguns adolescentes experimentam uma difusão de identidade, fazendo poucos compromissos com

objetivos, princípios ou uma particular definição de si mesmo. Muitos jovens declaram uma moratória

decidindo esperar antes de estabelecer uma identidade madura (BERGER, 2000, p. 325). O grupo de colegas

é uma fonte vital de informações e encorajamento. A subcultura adolescente fornece um amortecimento

entre o mundo das crianças e o mundo dos adultos, permitindo, por exemplo, um contexto social para o

começo dos relacionamentos (BERGER, 2000, p. 310).

A transgressão da lei é comum na adolescência mais do que em qualquer outro período do decorrer da vida.

Acredita-se que a forma como olham ou se envolvem em algum tipo de delinquência e que muda, como uma

espécie de autoafirmação, não significa que tenham ou devam passar por sistemas de justiça, pois a

delinquência aqui mencionada pode ocorrer desde uma desobediência a uma regra escolar, como a prática

de um ato infracional propriamente dito. A bem da verdade reitera-se a questão posta nas ponderações já

levantadas, quando nos deparamos com o adolescente autor do ato infracional e a pergunta que vem à tona

é qual ou quais os motivos subjetivos e externos, no contexto da simbiose entre o indivíduo e ambiente, que

foram determinantes para perda da autonomia condutal.

Resta deixar claro que embora não seja especialidade deste autor, nem pretensão, debruçar nas teorias do

desenvolvimento, o objetivo é entender melhor como um programa pode investigar e detectar em que

momento houve uma ruptura, ou seja, em que momento dentro do ambiente, vale dizer, dentro do

contexto familiar e comunitário, pode ter ocorrido um evento desviante que levou o adolescente a servir a

prática da ilicitude. Essa indagação, entende-se, tem que ser encontrada, identificada, num primeiro

momento, através do programa individual para, então, iniciar-se o processo de potencialização de suas

capacidades a levá-lo a pensar na vida sob outra perspectiva.

Pode-se questionar: em que consiste essa relação com a elaboração de um projeto de vida para o

adolescente em conflito com a lei. Pode-se explicar: não há como se pensar em um projeto de vida sem uma

percepção analítica da história de vida do socioeducando, considerando as suas particularidades, limites e

potencialidades. Essa análise reclama uma escuta qualificada, com registro de todo os fatos, com foco na

elaboração do PIA, como instrumento que possibilitará intervenções preventivas, reflexivas e prospectivas.

Conhecendo a realidade familiar, seu ambiente e contexto social, a partir de um diagnóstico e estudo social,

a equipe técnica terá condições de estabelecer um compromisso entre o núcleo familiar na construção de

um projeto de vida, a fim de superar gradativamente as vulnerabilidades vivenciadas, fortalecendo os

vínculos afetivos e fomentando suas potencialidades. Falando em vínculos, é crucial abordar o serviço de

convivência e fortalecimento de vínculos que é, segundo a Tipificação Nacional de Serviços

Socioassistenciais, um serviço realizado com grupos, organizado de modo a prevenir as situações de risco

social, ampliar trocas culturais e de vivências, desenvolver o sentimento de pertença e de identidade,

fortalecer vínculos e incentivar a socialização e a convivência comunitária. Possui caráter preventivo,

pautado na defesa dos direitos e desenvolvimento das capacidades e potencialidades de cada indivíduo,

prevenindo situações de vulnerabilidade social.

Trata-se de um Serviço da Proteção Social Básica do Sistema Único de Assistência Social, regulamentado pela

Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais (Resolução CNAS nº 109/2009). Com efeito, o

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fortalecimento dos vínculos, a nosso sentir, é que irá refletir o sucesso do PIA, em especial com dito, em

relação ao ambiente familiar. Para Carvalho (1995, p. 27):

O mundo familiar mostra-se numa vibrante variedade de formas de organização, com crenças, valores e

práticas desenvolvidas na busca de soluções para as vicissitudes que a vida vai trazendo. Desconsiderar isso

é ter a vã pretensão de colocar essa multiplicidade de manifestações sob a camisa-de-força de uma única

forma de emocionar, interpretar, comunicar.

De toda sorte, fortalecer vínculos vai além do contexto familiar, mas seu objetivo é contribuir para a

inclusão, construção, resgate e fortalecimento de laços familiares, comunitários e sociais da população

atendida, bem como a prevenção de situações de risco e proteção social. Vamos ilustrar o caso, contar a

história de Amala e Kamala, destacando o processo de construção de vínculos:

Amala e Kamala, também conhecidas como as meninas lobo, foram duas crianças selvagens

encontradas na Índia no ano de 1920. A primeira delas tinha um ano e meio e faleceu um

ano mais tarde. Kamala, no entanto, já tinha oito anos de idade, e viveu até 1929. Elas eram

como lobos crianças, muito estranhas mas com uma história interessantíssima. Suas idades

presumíveis eram por volta de 2 e 8 anos. Deram-lhes os nomes de Amala e Kamala,

respectivamente. Após encontrá-las, o Reverendo Singh levou-as para o orfanato que

mantinha na cidade de Midnapore. Foi lá que ele iniciou o penoso processo de socialização

das duas "meninas-lobo". Elas não falavam, não sorriam, andavam de quatro, uivavam para a

lua e sua visão era melhor à noite do que ao dia. Amala, a mais jovem, morreu com dois anos

e meio de idade devido à adaptação dolorosa ao abrigo (como ela não tinha a alimentação

que ela estava acostumada, de carne crua e podre). Kamala viveu durante oito anos na

instituição que a acolheu, humanizando-se lentamente. Ela necessitou de seis anos para

aprender a andar e pouco antes de morrer só tinha um vocabulário de 50 palavras. Atitudes

afetivas foram aparecendo aos poucos. Ela chorou pela primeira vez por ocasião da morte de

Amala e se apegou lentamente às pessoas que cuidaram dela e às outras crianças com as

quais viveu (LEYMOND, 1965, 12-14).

Percebe-se que o ambiente define a personalidade, seus hábitos, seus valores, etc. Assim, a ideia não é criar

um manual de vida para os adolescentes. Longe disso, até porque seria um devaneio acreditar nessa

hipótese. Mas, como Amala e Kamala, é atuar como o Reverendo Singh que aproveitou o momento no

orfanato e iniciar um penoso processo de integração social, estimulando atitudes afetivas, criando vínculos

referenciais, reacendendo a chama da esperança, as possibilidades de sonhar, fortalecendo os apoios

comunitários, explicando o sentido do choro e que é possível sempre recomeçar.

c) Crise Necessária da Adolescência

Como afirmado no tópico anterior a adolescência é o período próprio do desenvolvimento físico e

psicológico. Nessa fase, além da incidência dos fatores biológicos, surgem também com intensidade os

conflitos, em especial na área do comportamento, como insegurança, ansiedade, timidez, instabilidade,

angústia, facultando o espaço para desenvolvimento e definição da personalidade, aparecimento das

tendências e das vocações. Joanna Angelis (2012), em competente artigo aduz que, em regra, o

adolescente se vê inadaptado ao hodierno meio social, enfrentando sobre uma dinâmica incipiente que o

impulsiona, sofre o grande conflito interno, ou seja, não ser mais criança, encontrando-se, no entanto, sem

esqueleto organizado para os jogos da idade adulta. É, portanto, o período interposto entre as duas fases

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importantes da existência terrena, que se encarrega de alinhavar o ser para as atividades existenciais mais

profundas. Inseguro, quanto aos rumos do futuro, o adolescente encara o mundo que lhe parece hostil,

refugiando-se na timidez ou expandindo o temperamento, conforme sejam as circunstâncias nas quais se

apresentem as propostas de vida.

As bases de sustentação familiar, religiosa e social, sentem os embates dos desafios que enfrenta, pois

relaciona tudo quanto aprendeu com o que encontra pela frente. Em processo de transição cognitiva,

fascinado pelas oportunidades sedutoras que lhe surgem de um para outro momento, atira-se com

ansiedade sobre os novos prazeres sem dar-se conta dos comprometimentos que passa a firmar,

entregando-se às sensações que lhe tomam todo o corpo (ANGELIS, 2012).

Além disso, sem fugir do assunto, vitima-se por conflitos naturais que surgem da incerteza de como

comportar-se, abriga-se no medo de assumir responsabilidades decorrentes das atitudes e faz quadros

psicopatológicos, como depressão, melancolia, irritabilidade, escamoteando o medo que o assalta e o

intimida.

Segundo Berger (2000, p. 315) noutro giro, no mundo pós-moderno os permissivos morais são muito

agressivos seduzindo o adolescente, ainda desapropriado para os jogos velozes do prazer, a lances

audaciosos principalmente na área da sexualidade, que parece ganhar relevo como meta prioritária em que

chafurda até o esgotamento, dando surgimento a praxe de meios escapistas, que não correspondem às

necessidades presentes, antes mais o perturbam, comprometendo-o de maneira lamentável. Conquanto

aparentemente incompreensível para a vida adulta, a escala de valorização da vida do adolescente se

modifica ante o mundo estranho e atraente que ele descortina, contestando tudo quanto antes lhe

constituía segurança e estabilidade. Essa é a tônica. O painel estupefato de cores deslumbrantes, e não

encontrando assente orientação ou educação sólida, firmadas no entendimento das suas necessidades,

contesta e agride os valores convencionais, compondo uma tela compatível com sua concepção, no qual

passa a comprazer-se, ignorando os cânones e paradigmas nos quais se baseiam os grupos sociais, que

perdem para ele, momentaneamente, o significado. Ademais, a velocidade do fenômeno midiático e

tecnológico, amedronta os caracteres mais frágeis, enquanto estimulam os mais audaciosos, propondo-lhes

o descobrimento do mundo e o sorver de todos os deleites propensos que de um só gole. A indicação e

valores religiosos, o comportamento ético-moral, que reivindicam empenhos mais prolongados e respostas

mais lentas, fica à margem, quase sempre desprezados, em favor dos outros esforços que gratificam de

imediato, ensoberbecendo o ego e exibindo a personalidade. O culto do corpo ou a ego idolatria, nas

disputas da glorificação das formas, agrada, às vezes um sacrifício inútil, em razão da própria fragilidade de

que se reveste o corpo, na sua transitoriedade no seu desenvolvimento. Como relembra Joanna Angelis

(2012), a moderação cede lugar ao excesso e o equilíbrio passa a plano secundário, porque o adolescente,

nesse momento, receia desperdiçar as facilidades que se multiplicam e o exaurem, sem dar-se conta das

finalidades reais da existência física. Não olvidando da fase biológica, na qual o adolescente é um

laboratório de hormônios que trabalham em favor das definições orgânicas, como foi dito, ao mesmo tempo

em que o psiquismo se adapta às novas formulações passando por um período de ajustamento, deve

facultar o amadurecimento dos valores éticos e comportamentais.

Então, um belo dia, a lagarta inicia a construção do seu casulo. Este ser que vivia em contato íntimo com a

natureza e a vida exterior, se fecha dentro de uma “casca”, dentro de si mesmo. E dá início à transformação

que o levará a um novo ser, mais livre, mais bonito (segundo algumas estéticas) e dotado de asas que lhe

permitirão voar. Se a lagarta pensa e sente, também o seu pensamento e o seu sentimento se

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transformarão. Serão agora o pensar e o sentir de uma borboleta. Ela vai ter outro corpo, outro astral, outro

tipo de relação com o mundo (BECKER, 1997, p 14).

Decerto, como já afirmado, reitera-se que na medida em que lidam com a crescente diversidade e

complexos aspectos de sua personalidade, os adolescentes se defrontam com desafios psicossociais

classificados por Erikson como identidade versus confusão. Para os seguidores da teoria do

desenvolvimento, como o autor, a busca pela identidade leva à principal crise da adolescência – uma crise na

qual os jovens lutam para conciliar a busca pela “consciência de sua própria individualidade” com “um

esforço inconsciente para uma continuidade da experiência e adaptação às ideias de seu grupo” (ERIKSON,

1968, apud BERGER, p. 325). Nesse sentido, podemos considerar que a adolescência é fase de amoldamento,

de adaptação, ao mesmo tempo de transformações, que merece e exige paciência e habilidade psicológica.

De um lado, existe o interesse de todos, que conhece que somente a melhor educação pode decidir por

muitos, mas por outra parte o grupo social não se sustenta, pois lhe falta equilíbrio, na escola, na

comunidade, na rua, no trabalho, conspirando contra as atitudes saudáveis que se deseja oferecer e que

naturalmente atraem o adolescente, porque ele gosta de ser igual aos demais, não chamar a atenção, ou

quando, em conflito, quer destacar-se, exibir-se, exatamente porque vive inseguro, experimenta dramas,

que mascara sob o descaramento. Aqui temos como inexorável a política do fortalecimento de vínculo como

um processo reparatório e curativo para o projeto de vida. Trazendo para o propósito do trabalho, ao

adolescente em conflito com a lei que, aliás, não é imune a essas crises, ao revés, talvez experimentem com

mais intensidade, recomenda-se que o PlA leve em consideração essa dinâmica, cuja abordagem deverá

respeitar essa subjetividade, devendo trazer respostas a partir de uma flexibilidade em direção ao

amadurecimento, mediante a reflexão, suportes afetivos e o trabalho, através do estudo e das aspirações

superiores que se devem ministrar com cuidado, para que ele passe a identificar-se com o mundo, com as

pessoas e por fim com ele mesmo. Essa autoidentificação é, deveras, um processo lento, pois dependerá do

sujeito, do contexto e do tempo, conquanto lento, porque mais profundo, podendo refletir por toda a

existência, quando bem orientada pelo dever e pelas aspirações enobrecidas.

A perseverança e a ação a um ideal responderão pelo investimento iniciado. O adolescente não deve temer

nunca o porvir, porquanto isso seria limitar as aspirações, nem subestimar as lições do cotidiano

(responsabilização), que lhe devem constituir mensagens de advertência, próprias para ensinar-lhe como

conseguir os resultados prospectivos. Assim, o PIA se prestará para esse período de formação, de

identificação do consigo mesmo, a docilidade no trato, a confiança nas realizações, a gentileza na

afetividade, o trabalho constante, ao lado do estudo que aprimora os valores e desenvolve a capacidade de

entendimento, devem ser o programa normal de vivência.

Acreditamos que as aspirações do desejo, as buscas intérminas pelo preenchimento do vazio, cedem lugar

aos compromissos instrutivos, que desenham a felicidade na alma e materializam-na no comportamento.

Pensar no PIA como projeto de vida, é revelar ao adolescente que ele não é somente, uma força orgânica,

mas é munido da capacidade de sonhar e de produzir, sobretudo, apoderando com fim de discernir o que

precisa ser feito, como executá-lo e para quê realizá-lo.

A promoção de valores pessoais necessita ser muito bem considerada, a fim de que o tempo não seja

empregado de forma caótica em projetos de inferior importância, em detrimento de outros esforços

matriciais, que constituem a primeira meta existencial, da qual decorrerão todas as outras realizações. São

imensuráveis, portanto, as possibilidades da vida, limitadas pelas circunstâncias, pelo estágio de evolução de

cada homem e de cada mulher, que devem, desde adolescentes, programar o roteiro do projeto e seguir

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com segurança, etapa a etapa, até o momento de sua autorrealização. Reitera-se que é possível

compreender as crises da adolescência sem abrir mão de, prospectivamente, pensar numa forma de

potencializar sua trajetória de vida.

Como já definido acima, o PIA é um instrumento que tem como coração a individualização do atendimento,

traçando-se para isto um plano de metas e compromissos coerente com a atenção personalizada, a que tem

direito o sujeito-adolescente, como delimitado pelo SINASE, ao tratar o Plano com uma ação socioeducativa

que deve respeitar as fases de desenvolvimento integral do adolescente levando em consideração suas

potencialidades, sua subjetividade, suas capacidades e suas limitações, garantindo a particularização no seu

acompanhamento. O intuito principal é o de garantir a compreensão de cada adolescente, enquanto pessoa

revestida de uma singularidade faz jus a um plano construído com ele e para ele. Todas as esferas envolvidas

no atendimento ao adolescente (judicial, administrativa, pedagógica, de saúde, segurança, família e

comunidade) devem respeitar sempre a ideia de que cada um desses jovens é único, tal como será o

desenvolvimento de seu processo socioeducativo. Nesse prisma, é possível perceber que a construção do

PIA reivindica vários fenômenos e circunstâncias que devem ser considerados para o alcance dos seus

objetivos.

Fala-se, portanto, na pessoa do adolescente, sua fase de desenvolvimento, processo socioeducativo, lapso

temporal de verificação de sua conduta durante o cumprimento da medida, a particularização no seu

acompanhamento, participação da família e da comunidade. Preferimos, sob essa ótica, tomar como base

teórica os escritos de Bronfenbrenner (1977, 1996) que começou a formular sua teoria de desenvolvimento

humano no final da década de 70, expondo ao campo científico importantes premissas para o planejamento

e desenvolvimento de pesquisas em ambientes naturais. Seus escritos faziam uma séria crítica ao modo

tradicional de se estudar o desenvolvimento humano, referindo-se entre outras coisas, à grande quantidade

de pesquisas concluídas sobre desenvolvimento “fora do contexto”. Para ele, essas investigações

focalizavam, somente, a pessoa em desenvolvimento dentro de ambiente restrito e estático, sem a devida

consideração das múltiplas influências dos contextos em que os sujeitos viviam.

A Teoria Ecológica do Desenvolvimento Humano tem a figura de Urie Bronfenbrenner como seu principal

expoente. Urie, natural de Moscou, Rússia, foi um Ph.D. em zoologia e um naturalista, criado acompanhando

seu genitor nas instalações de uma instituição estadual para portadores de sofrimento psíquico. Segundo

ele, os conhecimentos percebidos na atuação de seu pai, aliado ao ambiente de sua infância foram o terreno

biológico e social que influenciaram seu pensamento (NARVAZ; KOLLER, 2004, p. 51).

Bronfenbrenner, com a contribuição de outros pesquisadores, empreendeu várias reformulações a partir de

seus primeiros trabalhos, sobre o modelo ecológico de desenvolvimento humano, criando, por fim, a teoria

chamada de bioecológico que tende a reforçar a ênfase nas características biopsicológicas da pessoa em

desenvolvimento.

Outro aspecto proposto no novo modelo é o construto teórico “processos proximais”, entendido como

“formas particulares de interação entre organismo e ambiente, que operam ao longo do tempo e

compreendem os primeiros mecanismos que produzem o desenvolvimento humano” (BRONFENBRENNER;

MORRIS, 1998, p. 994). A compressão do modelo teórico bioecológico poderá contribuir no sentido de se

pensar em um novo sentido na elaboração do Plano Individual de Atendimento.

De início, cobra relevo abordar os núcleos fundamentais que permeiam a teoria, de maneira que se procura

trazer definições formuladas de cada elemento desse sistema bioecológico, para então se demonstrar a

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importância desse entendimento para construção de um plano individual de atendimento como um

instrumento em potencial para um projeto de vida, como poderá ser visto na página seguinte.

Pessoa: refere-se ao fenômeno de constâncias e mudanças na vida do ser humano em

desenvolvimento, no decorrer de sua existência. A abordagem reformulada ressalta a importância

de se considerar as características do indivíduo em desenvolvimento, como suas convicções, nível de

atividade, temperamento, além de suas metas e motivações. Para o autor, isso tudo tem

considerável impacto na maneira pela qual os contextos são experienciados pela pessoa, tanto

quanto os tipos de contextos nos quais o sujeito se insere. Características do tipo pessoais, como

gênero ou cor da pele, que podem influenciar na maneira pela qual outros lidam com a pessoa em

desenvolvimento, como valores e expectativas que se têm na relação social devem ser consideradas.

Qualidades pessoais como estas podem nutrir ou romper a operação de processos de crescimento

psicológico. Além disso, o autor aponta que nenhuma característica da pessoa pode existir ou

exercer influência sobre o desenvolvimento isoladamente. No modelo bioecológico proposto por

Bronfenbrenner e Morris (1998), são distintos três tipos de características da pessoa que influenciam

e moldam o curso do desenvolvimento humano. O primeiro é: disposições que podem colocar os

processos proximais em movimento e continuam sustentando a sua operação. O segundo diz

respeito aos recursos bioecológicos de habilidade, experiência e conhecimento para que os

processos proximais sejam efetivos em determinada fase de desenvolvimento e, por último, há

características de demanda, que convidam ou desencorajam reações do contexto social que pode

nutrir ou romper a operação de processos proximais.

Processo: tem a ver com as ligações entre os diferentes níveis e se acha constituído pelos papéis e

atividades diárias da pessoa em desenvolvimento. Para se desenvolver intelectual, emocional, social

e moralmente um ser humano, criança ou adulto, requer - para todos eles - a mesma coisa:

participação ativa em interação progressivamente mais complexa, recíproca com pessoas, objetos e

símbolos no ambiente imediato. Para ser efetiva, a interação tem que ocorrer em uma base bastante

regular em períodos estendidos de tempo. Tais formas duradouras de interação no ambiente

imediato referem-se a processos proximais (proximal process). São achados exemplos de padrões

duradouros destes processos na relação pais-criança e atividades de criança-criança em grupo ou

jogo solitário, como lendo, aprendendo habilidades novas, resolvendo problemas, executando

tarefas complexas e adquirindo conhecimento e experiências novas (BRONFENBRENNER; CECI, 1994,

p. 6).

O autor ainda aponta que processos proximais são como máquinas ou motor do desenvolvimento.

Contexto: quando o autor fala em contexto de desenvolvimento, está se referindo ao meio ambiente

global em que o indivíduo está inserido e onde se desenrolam os processos desenvolvimentais. Os

vários ambientes subdivididos pelo autor, abrangendo tanto os ambientes mais imediatos nos quais

vive a pessoa em desenvolvimento, como os mais remotos, em que a pessoa nunca esteve, mas que

se relacionam e têm o poder de influenciar o curso de desenvolvimento humano. Esses ambientes

são denominados micro, meso, exo e macrossistemas e sobre eles será escrito mais adiante.

Tempo: pode ser entendido como o desenvolvimento no sentido histórico ou, em outras palavras,

como ocorrem as mudanças nos eventos no decorrer dos tempos, devido às pressões sofridas pela

pessoa em desenvolvimento. Para Bronfenbrenner e Morris (1998), eventos históricos podem alterar

o curso de desenvolvimento humano, em qualquer direção, não só para indivíduos, mas para

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segmentos grandes da população. A passagem de tempo em termos históricos tem efeitos

profundos em todas as sociedades. Pequenos episódios da vida familiar, como a entrada da criança

na escola, o nascimento de um irmão ou a mudança de trabalho dos pais, podem ter significativa

influência no desenvolvimento das pessoas da família num dado momento de suas vidas. Outro

exemplo de como o tempo influencia o desenvolvimento da pessoa, é a diferença na maneira dos

pais criarem seus filhos, na década de 40 e na década de 80, ou na atualidade (MARTINS;

SZYMANSKI, 2004, p. 65).

Acredita-se que a articulação dos núcleos fundamentais teóricos, na análise do Contexto, Processo, Pessoa e

Tempo, permitirá decifrar algumas importantes influências no comportamento dos adolescentes em conflito

com a lei. Tais abordagens consubstanciam um eixo para compreensão da função do Plano Individual de

Atendimento.

Em primeiro lugar é importante explicar melhor o que Bronfenbrenner chama de processos proximais, já

mencionados anteriormente. A análise das relações de reciprocidade entre as pessoas da família ou seus

membros que interagem, deve considerar como os processos proximais, pois, tanto Bronfenbrenner, como

Morris, apontam que o desenvolvimento humano ocorre mediado por esses processos progressivos de

interação duradoura entre o organismo biopsicológico, as pessoas, objetos e símbolos, em seu ambiente e

em períodos estendidos de tempo.

Dessa forma, quando existe qualquer tipo de interação no âmbito da família, tais como a relação dos pais e

seus filhos; o cuidado; a relação e grau de intimidade paterna e materna; o tempo de convivência e de

diálogo desse núcleo familiar; como são resolvidos os problemas do cotidiano; como se dá a execução de

algum tipo de tarefa complexa ou fazem planos para o futuro. Tudo isso refere-se ao desempenho de

atividades que atravessa os processos proximais (BRONFENBRENNER; MORRIS 1998).

Aduzem, ainda, os autores, o poder, o conteúdo e a direção que os processos proximais contemplam para

promover o desenvolvimento, variam sistematicamente, o que pode ser levado em conta as características

da pessoa em desenvolvimento; dos contextos em que ela se encontra inserida; das continuidades sociais e

mudanças que ocorrem no decorrer do tempo; assim como o período histórico durante o qual a pessoa vive.

Dentro dessa perspectiva, no modelo bioecológico, o conceito de processos proximais ganha relevo bastante

distinto.

À luz de Bronfenbrenner (1999, p. 5), para que esses processos ocorram, a pessoa tem que se ocupar de uma

atividade de desenvolvimento. Para que sejam efetivos, a atividade tem que acontecer em uma base

bastante regular, num período estendido de tempo. Os processos de desenvolvimento proximais efetivos

não são unidirecionais, deve haver influência em ambas as direções. No caso de interação interpessoal, as

iniciativas não vêm de uma só pessoa, deve haver algum grau de reciprocidade na troca. Outra propriedade

dos processos proximais é que não são limitados a interações com pessoas; eles também podem envolver

interação com objetos e símbolos. Nas interações recíprocas, por exemplo, os objetos e símbolos no

ambiente imediato devem ser convidativos, de um tipo que atraia a atenção para a sua exploração,

manipulação, elaboração e imaginação (BRONFENBRENNER, 1999, p. 6).

Percebe-se a importância de conhecer os processos proximais relativos ao adolescente perante o qual está

se construindo um PIA. Ora, para que se possa pensar nas suas potencialidades, sua subjetividade, suas

capacidades e suas limitações, visando garantir a particularização no seu acompanhamento, cobra entender

aprioristicamente sua história, no que diz respeito às interações recíprocas, quer com pessoas, quer com

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objetos e símbolos. Precisa-se conhecer sua relação familiar, o grau de envolvimento e comprometimento

dos membros desse núcleo, como se dava os conflitos e suas soluções. O estado de afetividade entre eles,

bem assim, como se deu a interação enquanto criança, com outras pessoas mais velhas, como professores,

parentes, irmãos e pares. Vale dizer: os processos proximais têm que ser bem claros aos olhos da equipe

técnica. A equipe técnica responsável pela elaboração do PIA, imbuído de um pensando prospectivo, deverá

considerar primeiramente estes processos.

É necessário, conforme Mioto (2001) verificar se os processos proximais tiveram uma base regular e a

atividade de interação foi duradoura. Com efeito, nesse pormenor, é comum notarmos que os atos

infracionais revelam uma expressão das dificuldades vividas pelas famílias no seu curso de vida, não como o

fim de um processo educativo mal sucedido, mas como um momento dramático do processo de viver do

adolescente e sua família que pode provocar transformações.

Os atos infracionais denunciam dificuldades familiares, muitas vezes a família acaba por manter este sintoma

para que não sejam abertas feridas difíceis de serem tratadas, como o sentimento de fracasso dos pais

frente à educação dos filhos ou a identificação de abandonos sofridos ao longo de gerações anteriores.

Desta forma, ainda que não se possa afirmar que em todos os casos incidem os mesmos fenômenos sociais,

a história demonstra que o adolescente quando decide pela prática do ato infracional, a maioria das vezes, é

por ter vivido situações de rupturas afetivas, advindas de bases frágeis e de relacionamentos inconsistentes

no núcleo familiar. Abandonos, rejeições, hipossuficiência, consumismo e outros fenômenos que materializa

as interações entre os adolescentes, outras pessoas e os objetos e símbolos, podem ser considerados os

pontos vulneráveis a comprometer um projeto de vida.

A equipe técnica deve se permitir uma análise reflexiva sobre todos os dados colhidos dos processos

proximais, para antes de tudo estabelecer um modelo restaurativo ou reconciliador a ser desenvolvido

dentro do contexto do Plano Individual, que deverá, na espécie, ser sustentado por um programa onde todo

eixo de garantia de direitos devem interagir para construção de um projeto de vida em torno desse

adolescente, de que apesar de estar inserido em um processo socioeducativo, deve ser ajustado nos seus

conflitos internos, sob pena de seus compromissos assumidos não transpor ao cumprimento da medida, sem

qualquer impacto para sua vida.

Nesse sentido, o PIA aponta, na perspectiva dos processos proximais, de uma busca pela normatividade e

estabilidade familiar, no primeiro momento, em vista a capacitá-los a solucionar seus problemas, devendo as

intervenções serem voltadas para o atendimento direto, individualizante, objetivando restaurar a

possibilidade das famílias de desempenhar suas funções corretamente. A atenção é voltada para os aspectos

disfuncionais ou patológicos das famílias, privilegiando principalmente a dinâmica interna e, depois avançar,

no segundo momento, para a relação com o contexto social. Esses são fatores primordiais para o projeto de

vida. E mais, se se pensar na importância destas relações nos momentos de interação promovidos dentro da

família, ainda que em ambientes externos (unidades) pode-se antecipar que tais atividades irão contribuir

para que as práticas educativas da família resultem em elementos que podem favorecer o desenvolvimento

do adolescente.

Doutro norte, ao declinar sobre o modelo biológico do desenvolvimento humano, conseguimos alcançar

algumas respostas para compreender o fenômeno aumentativo da violência juvenil. Na esteira, tendo em

conta o estudo do adolescente em conflito com a lei, o ambiente, portanto, ganha relevo na interação, tanto

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antes de seu ingresso no sistema de internação, como durante a execução da medida, bem como seu

egresso, considerando um ser em desenvolvimento.

Ao se pensar no PIA, nota-se forte influência dos fatores que aqui estamos abordando, com base na teoria

selecionada, pois há que se destacar a importância de se considerar as características do adolescente em

desenvolvimento, como suas convicções, nível de atividade, temperamento, além de suas metas e

motivações. Essas ponderações realmente têm considerável impacto na maneira pela qual os contextos são

experimentados por ele, contextos esses nos quais está inserido e passa fazer parte.

Características de cunho pessoal, guarda relevante representação para o adolescente em conflito com a lei,

como gênero ou cor da pele, que podem influenciar na maneira pela qual outros lidam com ele, como

valores e expectativas que se têm na relação social que devem ser consideradas. Qualidades pessoais como

estas podem nutrir ou romper a operação de processos de crescimento psicológico. No modelo bioecológico

proposto, Bronfenbrenner e Morris (1998), afirmam que são distintos três tipos de características da pessoa

que influenciam e moldam o curso do desenvolvimento humano. O primeiro é: disposições que podem

colocar os processos proximais em movimento e continuam sustentando a sua operação. O segundo diz

respeito aos recursos bioecológicos de habilidade, experiência e conhecimento para que os processos

proximais sejam efetivos em determinada fase de desenvolvimento e, por último, há características de

demanda, que convidam ou desencorajam reações do contexto social que pode nutrir ou romper a operação

de processos proximais.

As disposições ativas de comportamento são as características da pessoa que mais provavelmente

influenciam seu futuro desenvolvimento. Podem afetar os processos proximais sendo então chamadas de

características instigadoras de desenvolvimento. Bronfenbrenner (1993) chama atenção para o fato de que

tais características não determinam o curso do desenvolvimento. Elas podem favorecê-lo, porém isso

depende também de outras forças e recursos. Exemplos dessas características são: a curiosidade, a iniciativa

e a responsividade. Por outro lado, quando as disposições retardam ou dificultam a ocorrência dos

processos proximais, elas são chamadas de características que dificultam o desenvolvimento. Exemplos

dessas são: a impulsividade, distração, apatia, insegurança, timidez.

O modo de funcionar da pessoa estimula reações diferenciadas nos ambientes e nas pessoas. Para

Bronfenbrenner (1993) essas são características de estímulo pessoal, importantes para o desenvolvimento

pelo fato de que mobilizam processos de interação interpessoais recíprocos ao longo do tempo,

influenciando o curso do desenvolvimento. O autor aponta três tipos de disposições ativas que podem

funcionar como instigadoras do desenvolvimento. Os três tipos de disposições instigadoras de

desenvolvimento, segundo Bronfenbrenner, 1993, Bronfenbrenner e Morris (1998) são muito poderosas

pelo impacto que têm no desenvolvimento. Elas não evocam reações do ambiente, mas modulam a

responsividade da pessoa em relação a ele. Elas surgem desde a infância e têm reflexo progressivamente

mais complexo no funcionamento psicológico. É importante ressaltar que tais características por si só não

determinam o curso do desenvolvimento, pois seus efeitos são dependentes de todo o funcionamento do

sistema ecológico.

No entanto, são elas que determinam a maneira pela qual o indivíduo se relacionará com seu ambiente e

pessoas. A primeira e mais precoce disposição ativa instigadora de desenvolvimento é a responsividade

seletiva, que implica diferentes respostas, atrações e explorações de aspectos do ambiente físico e social. A

segunda dessas disposições é a capacidade de se engajar e persistir em atividades de progressiva

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complexidade, sendo chamadas de propensões estruturantes. A terceira classe de disposições instigadoras

do desenvolvimento são as crenças diretivas, ou seja, as crenças que a pessoa tem sobre si como um agente

ativo na relação consigo mesma e com o ambiente (BRONFENBRENNER, 1993; BRONFENBRENNER; MORRIS,

1998).

Os recursos da pessoa, por sua vez, também são características que influenciam o desenvolvimento, mas

não se relacionam com a disposição seletiva para a ação. Entretanto, elas constituem os componentes

biopsicossociais que influenciam a capacidade do organismo para engajar-se efetivamente em processos

proximais. A primeira dessas características são as condições que limitam ou dificultam a integridade

funcional do organismo (problemas genéticos, baixo peso ao nascer, deficiências, doenças, processos

degenerativos, etc.). Por outro lado, as propriedades do desenvolvimento também se constituem das

capacidades, do conhecimento, das habilidades e experiências, que, nesse caso, favorecem a ocorrência dos

processos proximais (BRONFENBRENNER, 1993).

e) Pensando na Complexidade de um Projeto de Vida Para Adolescente.

Objetivando criar os primeiros parâmetros para construção do PIA como instrumento de potencialização na

trajetória de vida do adolescente em conflito com a lei, deve-se avaliar inicialmente a pessoa (quem é esse

adolescente, quais são suas convicções, motivações, temperamento, seus valores e suas expectativas); como

está ocorrendo o seu processo de desenvolvimento, a saber: intelectual, emocional, social e moral; avaliar

seu contexto, investigando quais são as influências positivas e negativas que exercem sobre esse indivíduo

adolescente; o tempo, se teve significativas mudanças no ambiente familiar e se esse ambiente lhe trouxe

pressões refletindo no seu desenvolvimento, se ocorreram eventos duradouros que marcaram ou trouxeram

sofrimentos passíveis de alteração no comportamento. Enfim, a realização de uma análise histórica.

Esses são os primeiros passos sentidos a caminho do projeto de vida, após deve-se adentrar nas disposições,

ou seja, o que se pode fazer para sustentar o movimento de socialização iniciado na unidade socioeducativa;

o que aproveitar de suas experiências e habilidades para construção desse projeto. E por fim, identificar os

fatores de desencorajamento que obsta a ele prospectar seu futuro e seu projeto. Com base nesses dados

existe a possibilidade de delimitar os obstáculos que devem ser superados a partir do conhecimento e da

complexidade de um projeto de vida, na compreensão do adolescente. Um confronto entre o projeto de

hoje, cotidiano e um pensar no projeto do amanhã, uma prospecção do futuro. Essa proposta é sobremodo

desafiadora, pois em um nível psicológico, muitas vezes empírico, o conceito de projeto permite aos

indivíduos que tenham chegado a uma certa etapa de sua existência, antecipar a sequência seguinte diante

de um enfraquecimento, até mesmo de um desaparecimento dos tradicionais ritos de passagem.

Ele serve para definir as condições de escolha e de orientação que se apresentam nas etapas-chave da

existência. O projeto segue então as etapas da vida, esforçando-se para pré-formar a etapa subsequente

(JOSSO, 1991, apud BOUTINET, p. 88). Trocando em miúdos, pode-se dizer que na medida em que se

amadurece, com as experiências negativas ou positivas, aconteceria como reação natural antecipar a

sequência da vida, pré-formando o projeto de vida, definindo as escolhas e as orientações para alcançar

objetivos. Ou seja, na medida em que se decida um projeto de vida, observando ou não os ritos de passagem

(criança, adolescente, juventude e adulto), isto deve servir a um planejamento considerando o mapa e o

território. Explicação: olha-se o mapa, de acordo com cada ambiente, contexto e processos proximais,

orientando o caminho. Mas, apenas não se pode prever o que ocorrerá no período da viagem.

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Assim, de acordo com os obstáculos que se apresentam, passa-se a repensar a viagem, estabelecendo novas

metas e segue-se para a etapa seguinte. Parece simples tais ilações teóricas, no entanto, para o adolescente

esse projeto não tem essa funcionalidade, o que o orienta é o inatual, aquilo que é abstrato. O adolescente

tenta, através do projeto, explorar novas relações entre o possível e o real (PIAGET e INHELDER, 1965). A

bem da verdade, os adolescentes têm a impressão de serem colocados diante de escolhas que dependem

em grande parte deles, conforme o que ouvem repetidamente. Nesse sentido, para ressaltar aspectos

psicológicos da inserção profissional, sugere-se utilizar a teoria do projeto de orientação, circunscrito por

Dubet (1973), que, em uma pesquisa sobre os adolescentes, pensar o modo de adaptação dos jovens a partir

da noção de projeto, distinguindo dois níveis: um projeto de mobilidade a curto prazo e um projeto adulto a

longo prazo, assim, o modo de adaptação dos jovens resultaria da maneira como articulariam seu projeto

adulto a seu projeto de mobilidade.

Dubet evidencia a esse ponto modos típicos de adaptação: satisfação, conflito, evasão e apatia. A esses

projetos, de mobilidade, também considerado como projeto de orientação, e o referente ao adulto,

chamado de inserção. H. Rodrigues-Tomé e F. Bariaud (1987) acrescentam o terceiro projeto, mais global e

que interessa sobremaneira a este estudo, o projeto de vida.

No projeto de orientação, ligado a escolarização, temos variáveis, a depender das motivações ou ausência

delas. Aqui o processo e o contexto, definidos na teoria ecológica do desenvolvimento, possuem intensa

influência. Pode-se encontrar adolescentes com aspirações determinadas, progressivas, e em outros casos,

mais frequentes, com os adolescentes em conflito com a lei, com projetos vagos, cuja mobilidade é sair logo

da escola e fazer algo diferente.

O adolescente que não acredita no sistema de ensino, passa como se o processo de orientação escolar

representasse um processo em retrocesso, que procederia mais por exclusões sucessivas de eventualidades

do que por escolha deliberada. Seu olhar é para a satisfação. É apático e evasivo ao projeto de orientação.

Nessa mesma esteira, o projeto de inserção, onde o adolescente tenta se locar ao mercado de trabalho,

precocemente, buscando uma profissão que não sabe definir e normalmente associada a sua realidade. Em

regra, fracassa, passando para o grupo do fora-de-projeto ou sem-projeto. São esses os adolescentes em

conflito com a lei. E a eles que se deve voltar a pretender devolvê-los aos projetos de orientação e inserção,

desenvolvendo a responsabilidade pelo futuro e a responsabilização concorrente pelo passado.

Por que responsabilização concorrente, simples, sempre haverá, a nosso sentir, a corresponsabilização pelo

ato infracional praticado pelo adolescente, quer seja a família, o Estado ou a sociedade. Um projeto afetivo e

familiar, a um projeto de prazo maior, tirá-los da não reprodução daquilo que estão condenados socialmente

pela falta de projeto.

Projeto escolar, projeto profissional e projeto de vida deve constituir atualmente as três perspectivas de

qualquer adolescente, cuja rota desses projetos deve estar na mira do Plano Individual de Atendimento, que

visará potencializá-los na trajetória de vida do socioeducando. Essas perspectivas são parcialmente

autônomas, parcialmente imbricadas umas às outras.

Cabe a equipe técnica valorizar o projeto adolescente, sem a lógica da evidência, compreendendo que a

passagem à vida adulta sempre será emblemática, devendo sempre ser considerada as diferentes faixas

etárias e também a evolução da nossa sociedade que aponta para uma individualização maior dos

comportamentos, sem, no entanto, eliminar as imposições que pesam sobre tais comportamentos. Emerge

neste contexto a importância do projeto de vida destes adolescentes, fruto da crise desta idade, que a partir

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das suas experiência e relações com o outro e com o mundo, vão se formando quanto sujeitos conscientes e

críticos. Segundo Nascimento (2006, p. 76) “entendemos que os sentidos que definem o Projeto de Vida

para esses adolescentes refletem e revelam as relações que estes estabelecem com o mundo. Tanto a

educação quanto o trabalho são fundamentais na constituição desses sujeitos-adolescentes.”

E, nessa linha, arremata Teixeira (2005, p.131):

Os jovens verbalizam seu sonho de futuro, mas não relacionam sua vida presente com ele, e

muitas vezes não souberam dizer nem que ações deveriam realizar no presente para que o

futuro desejado fosse concretizado, pois para a maioria deles parece não haver relação entre

o que eles estão fazendo hoje com o que querem ser amanhã (Teixeira (2005, p. 131).

Decerto, nesse cenário, é preciso invocar as reações do ambiente no adolescente, que possa modular a

responsividade, da sua pessoa em relação a ele, pela necessidade de resiliência. Assim, a construção de um

projeto de vida, desde a perspectiva assinalada, parece ser um forte potencializador para garantir a eficácia

do plano, viabilizando, como desejado, que ele de fato contribua para a integração social do adolescente.

Contudo, há outros objetivos das medidas socioeducativas para os quais o Plano também se apresenta como

um instrumento de singular utilidade.

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