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5 AULA ENEM | 2019 51 99955.7502 [email protected] EscoladaLinguaPortuguesa carlosluzardo Texto II Texto IV Texto III ENEM 2015 UCS 2016/2 A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira A partir da leitura dos textos motivadores seguintes e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija um texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita formal da lín- gua portuguesa sobre o tema “A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira”, apresentando proposta de intervenção que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista. PROPOSTA 1 YouTubers são a nova “turma” de crianças e adolescentes e ficaram famosos por criarem vídeos em uma dada plataforma e por falarem basicamente sobre comportamento, de jovem para jovem. Será que eles po- dem ser considerados os novos formadores de opinião? Mas que valores eles passam para seus seguidores? Disponível em:<http//www.entretenimento.uol.com.br/noticias/redacao/2015/10/19/youtubers- sao-formadores-de-opiniao-de-jovens-mas-que-valores-elespassam. htm> Acesso em: 23 maio 2016. (Parcial e adaptado.) Em sua opinião, YouTubers são os novos formadores de opinião? Por quê? PROPOSTA 2 Moda é tendência: formas de se vestir, costumes, vontades. É, mesmo assim, efêmera, momentânea. Além disso, a mídia parece colaborar e, em geral, impõe um padrão de beleza estereotipado à sociedade. Disponível em:<http//www.observaotoriodaimprensa.com.br/diretoria-academico/ _ed794_o_padrao_de_beleza_imposto_pela_midia/htm> Acesso em: 5 jun. 16. (Parcial e adaptado.) Em sua opinião, é possível resistir à “ditadura” imposta pela moda? Por quê? PROPOSTA 3 A causa do empoderamento feminino não é prerrogativa de uma pessoa, organização ou de uma instân- cia social. É o que se pode fazer para fortalecer mais mulheres e desenvolver a igualdade de gênero (homens e mulheres com mesmos direitos e deveres) em todos os ambientes onde a mulher é minoria. Disponível em:<http//www.planofeminino.com.br/a-inportancia-do- empoderamento-feminino.> Acesso em: 23 maio 2016. (Parcial e adaptado.) Em sua opinião, no Brasil, existe igualdade de gênero? Por quê? Texto I Nos 30 anos decorridos entre 1980 e 2010 foram assassinadas no país acima de 92 mil mulheres, 43,7 mil só na última década. O número de mortes nesse período passou de 1.353 para 4.465, que representa um aumento de 230%, mais que triplicando o quantitativo de mulheres vítimas de assassinato no país. (WALSELFISZ. J. J. Mapa da Violência 2012. Atualização: Homicídio de mulheres no Brasil. Disponível em: www.mapadaviolencia.org.br. Acesso em: 8 jun. 2015). O impacto em números Com base na Lei Maria da Penha, mais de 330 mil processos foram instaurados apenas nos juizados e varas especializados

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5AULA ENEM | 2019

51 [email protected]

EscoladaLinguaPortuguesa carlosluzardo

Texto II

Texto IV

Texto III

ENEM 2015 UCS 2016/2 A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira

A partir da leitura dos textos motivadores seguintes e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija um texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita formal da lín-gua portuguesa sobre o tema “A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira”, apresentando proposta de intervenção que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.

PROPOSTA 1

YouTubers são a nova “turma” de crianças e adolescentes e fi caram famosos por criarem vídeos em uma dada plataforma e por falarem basicamente sobre comportamento, de jovem para jovem. Será que eles po-dem ser considerados os novos formadores de opinião? Mas que valores eles passam para seus seguidores?

Disponível em:<http//www.entretenimento.uol.com.br/noticias/redacao/2015/10/19/youtubers-sao-formadores-de-opiniao-de-jovens-mas-que-valores-elespassam. htm> Acesso em: 23 maio 2016. (Parcial e adaptado.)

Em sua opinião, YouTubers são os novos formadores de opinião? Por quê?

PROPOSTA 2

Moda é tendência: formas de se vestir, costumes, vontades. É, mesmo assim, efêmera, momentânea. Além disso, a mídia parece colaborar e, em geral, impõe um padrão de beleza estereotipado à sociedade.

Disponível em:<http//www.observaotoriodaimprensa.com.br/diretoria-academico/_ed794_o_padrao_de_beleza_imposto_pela_midia/htm> Acesso em: 5 jun. 16. (Parcial e adaptado.)

Em sua opinião, é possível resistir à “ditadura” imposta pela moda? Por quê?

PROPOSTA 3

A causa do empoderamento feminino não é prerrogativa de uma pessoa, organização ou de uma instân-cia social. É o que se pode fazer para fortalecer mais mulheres e desenvolver a igualdade de gênero (homens e mulheres com mesmos direitos e deveres) em todos os ambientes onde a mulher é minoria.

Disponível em:<http//www.planofeminino.com.br/a-inportancia-do-empoderamento-feminino.> Acesso em: 23 maio 2016. (Parcial e adaptado.)

Em sua opinião, no Brasil, existe igualdade de gênero? Por quê?

Texto INos 30 anos decorridos entre 1980 e 2010 foram assassinadas no país acima de 92 mil mulheres, 43,7

mil só na última década. O número de mortes nesse período passou de 1.353 para 4.465, que representa um aumento de 230%, mais que triplicando o quantitativo de mulheres vítimas de assassinato no país.

(WALSELFISZ. J. J. Mapa da Violência 2012. Atualização: Homicídio de mulheres no Brasil. Disponível em: www.mapadaviolencia.org.br. Acesso em: 8 jun. 2015).

O impacto em númerosCom base na Lei Maria

da Penha, mais de 330 mil processos foram instaurados apenas nos juizados e varas especializados

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dados da violência

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FEMINICÍDIO: A FACETA FINAL DO MACHISMO NO BRASIL

Feminicídio é uma palavra nova para uma prática antiga, uma vez que mulheres morrem de formas trágicas todos os diasno Brasil: são espancadas, estranguladas, agredidas brutalmente até o momento em que perdem a vida. Apalavra feminicídio passou a ser usada para designar um crime no Brasil a partir de 2015, pois existe nele umaparticularidade. Vamos falar sobre feminicídio?

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O QUE É FEMINICÍDIO?Feminicídio é uma palavra que define o homicídio de mulheres como crime hediondo quando envolve menosprezo oudiscriminação à condição de mulher e violência doméstica e familiar. A lei define feminicídio como “o assassinato de umamulher cometido por razões da condição de sexo feminino” e a pena prevista para o homicídio qualificado é de reclusão de12 a 30 anos.

Um terço dos homicídios de mulheres no mundo – 35% – são cometidos por seus companheiros, de acordo com aOrganização Mundial da Saúde, enquanto 5% dos assassinatos de homens são cometidos por suas parceiras. A projeçãoda Organização das Nações Unidas é que 70% de todas as mulheres no mundo já sofreram ou irão sofrer algum tipo deviolência em algum momento de suas vidas. Em 2016, um terço das mulheres no Brasil – 29% – relataram ter sofridoalgum tipo de violência. Delas, apenas 11% procuraram uma delegacia da mulher e em 43% dos casos a agressão maisgrave foi no domicílio.Esses são alguns dados de muitos outros – sobre os quais falaremos adiante – e que ilustram pontos-chave paraentendermos a diferença entre feminicídio e homicídio de mulheres.

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O principal motivo para o uso da palavra feminicídio é de que o crime édiferente por si só, por ser um crime de discriminação, cometido contra umamulher pelo fato de ela ser mulher. Essa discriminação provém no machismo edo patriarcado, que são maneiras culturais de a sociedade colocar a mulher numlugar de inferioridade, submissão e subserviência; de acordo com essa lente, aautoridade máxima é exercida pelo homem e automaticamente a mulher setorna um ser desimportante, que deve dedicar sua vida à servir (principalmenteos homens).Por vezes, mulheres sofrem diversos tipos de violência de gênero – sexual,psicológica, moral, física, doméstica – até que lhe seja tirada a vida. Esse foi ocaso de Eloá Cristina Pimentel, de 15 anos, assassinada em 2008 após sermantida refém por mais de 100 horas pelo ex-namorado Lindemberg FernandesAlves. A existência dessas formas de violência na vida de tantas mulheres chamaa nossa atenção para o fato de que o feminicídio pode ser evitado, por muitasvezes ser o ápice de um processo de violência contínua e que muitas vezes estádentro de casa.A tipificação do feminicídio como crime de gênero se faz necessária por estardiretamente ligado à violência de gênero e por ser um crime passível de serevitado – principalmente às vítimas de violência doméstica, que podem tersuporte e seus agressores punidos conforme prevê a lei. De acordo com o Atlas

da Violência e outros relatórios, “os dados apresentados [sobre violência contra a mulher e feminicídio] revelam um quadro grave, e indicamtambém que muitas dessas mortes poderiam ter sido evitadas. Em inúmeros casos, até chegar a ser vítima de uma violência fatal, essa mulheré vítima de uma série de outras violências de gênero, como bem especifica a Lei Maria da Penha (Lei 11.340/06). A violência psicológica,patrimonial, física ou sexual, em um movimento de agravamento crescente, muitas vezes, antecede o desfecho fatal.”

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O QUE É A LEI DO FEMINICÍDIO?O artigo 121, que define homicídio no Código Penal, foi alterado e teve o feminicídio incluso como um tipo penalqualificador – como um agravante ao crime. A condição do feminicídio como uma circunstância qualificadora do homicídio oinclui na lista de crimes hediondos, cujo termo hediondo é usado para caracterizar crimes que são encarados de maneiraainda mais negativa pelo Estado e tem um quê ainda mais cruel do que os demais. Por isso, têm penas mais duras. Latrocínio,estupro e genocídio são exemplos de crimes hediondos – assim como o feminicídio.Há circunstâncias em que a pena do feminicídio pode ser aumentada em 1/3. Se a pessoa for condenada a 15 anos de prisãoe a situação do crime se encaixar em um dos motivos abaixo, terá mais 1/3 da pena acrescida ao tempo de reclusão,totalizando 20 anos de prisão. As situações agravantes são quando o feminicídio é realizado:

Durante a gestação ou nos três primeiros meses posteriores ao parto;Contra menor de 14 anos ou maior de 60 anos de idade;Contra uma mulher com deficiência;Na presença de ascendentes ou descendentes da vítima – exemplos de parentes ascendentes podem ser os pais eavós, já os descendentes podem ser filhos, netos e assim por diante.

É importante salientar que o feminicídio não define o assassinato de todas as mulheres que morrem dessa maneira: umamulher que foi morta após um roubo, por exemplo, sofreu o crime de latrocínio; já uma mulher que sofria ameaças de um ex-companheiro e depois foi morta por ele, é uma vítima de feminicídio, pois o caso envolveu discriminação à condição demulher.As Diretrizes Nacionais para Investigar, Processar e Julgar com Perspectiva de Gênero as Mortes Violentas de Mulheres foi umdocumento feito pela ONU para Mulheres Brasil e a então Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência daRepública em 2016. Com ele, busca-se melhorar a inserção do conceito de feminicídio e qualificar a investigação policial, oprocesso judicial e o julgamento desses crimes.

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Essas foram as diretrizes que resultaram na formulação da Lei do Feminicídio, lei nº 13.104, que entrou em vigor em 2015.Uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito foi formada para tratar da violência contra a mulher no país, investigar qualera a situação nos estados brasileiros e tomar providências sobre. O processo durou de março de 2012 a julho de 2013,quando foram percebidas as relações diretas entre crime de gênero e feminicídio.

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O panorama de feminicídio no Brasil é grave: a cada dia, 13 mulheres são assassinadas no Brasil. Há diversas pesquisas,relatórios e estudos que mostram esse comportamento sistêmico não só no Brasil, mas no mundo.O Brasil tem a quinta maior taxa de feminicídios no mundo: 4,8 homicídios para cada 100 mil mulheres – de acordo com aOrganização Mundial da Saúde. O Mapa da Violência de 2015 que trata sobre o homicídio de mulheres mostra que 106.093mulheres foram assassinadas entre 1980 e 2013, sendo 4.762 só em 2013. Em 2015 o número diminuiu, mas pouco: 4.621mulheres foram assassinadas no Brasil, contabilizando 4,5 mortes para cada 100 mil mulheres, de acordo com o Atlas daViolência de 2017.

A pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública de 2017 sobre aviolência contra a mulher indica em 29% das entrevistadas afirmou tersofrido algum tipo de violência no último ano. Outra pesquisa sobreviolência doméstica e violência contra a mulher, feita pelo DataSenadodesde 2005, apresenta outros dados na sua edição de 2017: o percentualde entrevistadas que declararam ter sofrido violência se manteve constantenesse período, entre 15% e 19%.Aumentou o número de mulheres quedeclaram ter sofrido algum tipo de violência doméstica: o percentualpassou de 18%, em 2015, para 29%, em 2017. E os tipos de violênciasofridas são:

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Quanto à percepção dos brasileiros sobre o aumento ou a diminuição da violência, 73% da população brasileira diz que aviolência contra a mulher aumentou nos últimos 10 anos. Já para as mulheres brasileiras, 76% acredita no aumento daviolência contra pessoas de seu gênero e dentre as vítimas de violência o último ano, o percentual vai para 79% (FBSP, 2017).Houve um aumento perceptivo de mulheres que declaram ter sido violentadas sexualmente. Em 2011, eram 5% dasmulheres; em 2017 passou para 15%.Assim como aumentou o número de mulheres que dizem conhecer alguma mulher quejá sofreu violência doméstica ou familiar praticada por um homem: em 2015 era de 56%; já em 2017 passou para 71%(DataSenado, 2017).Aí fica uma reflexão: será que a violência contra a mulher realmente aumentou ou as mulheres estão falando mais arespeito? Há de se considerar a existência da Lei Maria da Penha, que visa a punir violência doméstica, e de maneiras dedenunciar essa violência – como o número 180 ou em delegacias da mulher, que são iniciativas oficiais do governo. Há, alémdisso, iniciativas e campanhas populares de mulheres que dizem um basta à violência, a exemplo da Chega de Fiufiu (ThinkOlga), da Mexeu com uma mexeu com todas (usada por meio da hashtag #mexeucomumamexeucomtodas) e mesmoa hashtag #MeuPrimeiroAssédio, usada por mulheres nas redes sociais para denunciar assédios e violências sofridas em suasvidas.

Feminicídio de mulher negra: os números são ainda mais maiores

O recorte de realidade precisa ser feito também quando tratamos de mulheres negras com relação a mulheres brancas: emdez anos, de 2003 a 2013, o número de homicídio de mulheres brancas caiu 9,8% – de 1.747 para 1.576 – e o de mulheresnegras cresceu 54,2%, passando de 1.864 para 2.875 (Mapa da Violência, 2015). Dentre as mulheres que declararam tersofrido algum tipo de violência, enquanto o percentual de brasileiras brancas que sofreram violência física foi de 57%, opercentual de negras (pretas e pardas) foi de 74%. (DataSenado, 2017).

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Além de a taxa de mortalidade de mulheres negras ter aumentado, cresceu a proporção de mulheres negras entre mulheresvítimas de mortes por agressão: em 2005 era de 54,8% e em 2015 era 65,3% (Atlas da Violência, 2017). Resumindo, 65,3%das mulheres assassinadas no Brasil no último ano eram negras, evidenciando que a combinação entre desigualdade degênero e racismo é um ponto fundamental para compreendermos a violência letal contra a mulher no país.Essa disparidade pode ser observada nas respostas à pergunta sobre ter visto algum tipo de violência mulheres no seu bairrono último ano praticada por companheiros, maridos ou namorados (atuais ou não): 26% das mulheres negras respondeuque sim, em oposição a 22% das mulheres brancas. Quando questionadas sobre ter visto essa violência na casa de suasvizinhas, 42% das mulheres negras afirmou ter visto, assim como 30% das mulheres brancas. (FBSP, 2017).Os números nos levam a concluir que quanto menos privilégios um grupo de mulheres tem, mais sofrerá com a violência emais altos serão os números de feminicídio. São poucas as pesquisas que segmentam as entrevistadas por uma perspectivade renda, por exemplo, o que pode ser um impeditivo de uma leitura mais ampla do problema. Não há outros recortes feitospor essas pesquisas que tragam dados sobre feminicídio de mulheres lésbicas, bissexuais, transsexuais, travestis, nemcruzem as suas demais características, como as de ser uma mulher negra e lésbica, por exemplo.

E COMO É O FEMINICÍDIO NO MUNDO?

Ainda é um desafio mundial criar leis que tipifiquem o crime defeminicídio, conforme feito no Brasil, o que consequentemente diminuio problema da invisibilidade e inicia uma discussão. Na América Latina,15 países têm leis específicas contra o feminicídio, com diferentes tiposde penalidade.

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Mas muitos países não penalizam sequer a violência contra a mulher, quanto mais o feminicídio. Dos 193 países, 140 têmleis contra a violência doméstica. As regiões no mundo com menos punição para a violência contra a mulher estão na ÁfricaSubsaariana, no Oriente Médio e Norte da África (um em cada quatro), de acordo reportagem do El País.Atualmente, 140 países no mundo punem a violência doméstica e 46 não o fazem. Alguns países têm quebrado a lógica daregião em que estão inseridos: na Tunísia, o parlamento criou uma lei contra a violência de gênero, a mais abrangentedentro da região árabe, que pune todo tipo de agressão sexista e assédio sexual. Já a Rússia, que é um país consideradohostil às mulheres – a cada 40 minutos, uma mulher é assassinada lá – descriminalizou a violência de gênero. Uma pessoaque seria presa por cometer tal crime, hoje só recebe uma multa.

Por fim…

Depois da Lei Maria da Penha, passou a haver maior discussão sobre a violência doméstica e a violência contra a mulher nopaís. Mas, quanto ao feminicídio, a discussão ainda é muito pequena e está restrita a grupos feministas e pessoas que já têmconsciência do problema. Considerando que a violência contra a mulher é uma das causas que leva ao feminicídio, combatê-la pode evitar casos de feminicídio.De acordo com a pesquisa Avaliando a Efetividade da Lei Maria da Penha (Ipea, 2015), a lei de combate à violênciadoméstica fez diminuir cerca de 10% a taxa de homicídios contra mulheres praticados dentro das suas residências: “[Adiminuição da taxa] implica dizer que a Lei Maria da Penha foi responsável por evitar milhares de casos de violênciadoméstica no País”. De qualquer maneira, não há no Brasil hoje políticas públicas de combate ao feminicídio, o que deve sero próximo passo a ser dado no combate à violência contra a mulher.

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contexto global

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As leis mais misóginas do mundoPelo menos 44 países desfavorecem as mulheres em suas constituições; conheça as leis mais sexistas do mundo.

Muita gente diz que a desigualdade de gênero não existe mais, que machismo é coisado passado. Seria bom se fosse assim, mas isso não é verdade. No mundo inteiro,ainda existem leis que discriminam mulheres das mais diversas formas – desde aculpabilização da vítima em casos de estupro e abuso até a proibição de açõessimples, como dirigir ou usar calças compridas.Era mesmo para ser um papo ultrapassado. Há 20 anos, 189 países assinaram umaplataforma das Nações Unidas chamada Beijing Platform for Action, com o objetivo dediscutir e revogar leis que se baseassem em gênero. No entanto, desde então, só

metade deles conseguiu diminuir parcialmente o sexismo de suas constituições. Para lutar contra isso, a ONG EqualityNow criou uma lista das leis mais absurdas que estão em vigor até hoje. Conheça alguns dos países que perpetuam omachismo de forma constitucional.Onde quem manda é o maridoCasamento no Sudão só se um guardião legal permitir. Sem a permissão dele, mulher nenhuma pode se casar. Depois docasório, a “guarda” da mulher passa ao marido – e deve obediência a ele.Assim como as esposas do Yêmen. A lei por lá obriga as mulheres a satisfazer seu marido na cama, quer ela queira ou não,quando ele desejar. É ele também quem decide qual o caminho profissional sua esposa vai seguir.A coisa complica ainda mais em outros países. Na Nigéria, o marido pode bater na esposa para “corrigi-la”. No Afeganistão,as mulheres só saem de casa se o marido permitir. Na República do Congo, elas só podem assinar contratos, seja para

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contratar um serviço telefônico ou alugar uma casa, se o marido estiver presente. O mesmo acontece na Nicarágua, emGuiné e em Mali.Em Mali, aliás, a mulher precisa esperar três meses para se casar após o divórcio ou falecimento do marido. Já os homenspodem se casar outra vez quando quiserem. No Japão, esse espaço obrigatório entre um casamento e outro é de seismeses.Por falar em divórcio, em alguns lugares, como Israel, esse direito é garantido apenas aos homens. Na Argélia elas atéconseguem pedir a separação, desde que paguem uma grana a eles.Onde a lei define o emprego das mulheresExistem até constituições que definem quais empregos uma mulher pode ou não aceitar. Na China, elas não podem trabalhar na mineração – é proibido a elas fazer muito esforço físico. A Rússia tem uma lista com 456 tipos de trabalho que as mulheres não podem realizar, também ligados à capacidade física. Em Madagascar, as mulheres não podem trabalhar à noite, só em “estabelecimentos familiares”.Onde feminicídio tem pena menor“Crimes de honra” são aqueles realizados para “limpar a honra” de um homem traído. Pode até parecer uma coisa medieval, mas ainda existe – e com pena relativamente branda em alguns países. Na Síria, um homem que mata a sua esposa, mãe ou irmã por ter descoberto um “ato ilícito” ou imoral pode pegar, no máximo, sete anos de prisão. No Egito, homens recebem penas menores quando os assassinatos são pela honra do que por qualquer outro crime grave.Onde a palavra da mulher vale menos que a do homemNo Irã, assim como no Paquistão, o testemunho de uma mulher vale pelo menos do que o do homem. Qualquer crime deve ter pelo menos duas testemunhas masculinas para que o testemunho seja válido. Em casos de zina (crime de sexo fora do casamento), livat, tafkhiz, ou musaheqeh (formas criminosas de relação homossexual), deve haver quatro homens testemunhas.

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Onde a mulher não pode dirigir ou usar determinadas roupas Na Arábia Saudita, mulheres não podem nem sequer tirar licença para dirigir. É que, assim, com essa liberdade toda, seria mais fácil para elas se encontrarem com homens de forma privada (um crime chamado de “khilwa”) ou abandonarem o hijab (véu islâmico). E se isso acontecesse, o número de estupros poderia aumentar – por culpa delas, claro.No Sudão, o problema é outro: as mulheres muçulmanas podem ser condenadas ao chicote por usarem calças, que são consideradas roupas indecentes. Esses tipos de proibição são formas de culpabilizar a mulher, e não o homem, por abusos e até por estupros.Onde o estupro é aceitávelEm vários países, o estupro não é punido em algumas situações. Em geral, isso acontece quando o marido é o agressor. Nas Bahamas, por exemplo, um homem pode ter relações sexuais sem consentimento com sua esposa, se ela for maior de 14 anos – em Singapura e na Índia, a lei é similar, mas as idades mínimas são 13 e 15 anos, respectivamente.

Outra situação comum é a punição ser revogada ou minimizada se o estuprador se casar com a vítima após o ato: no Líbano, a lei simplesmente ignora o crime quando o agressor pede a mulher em casamento, mesmo em casos em que o estupro vem combinado com sequestro. Em Malta, assim como na Palestina, a pena do estuprador é diminuída se ele tiver a intenção de se casar com a vítima, e anulada se o casamento for realizado.

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resumo

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6 dados que revelam a gravidade da violência contra a mulher no BrasilMulheres sofrem com diversos tipos de violência, especialmente dentro de casa. Isoladas, não se sentem confortáveis para denunciar os crimes.

1 – Mulheres são assassinadas em casaEntre 2009 e 2011, o Brasil registrou 16,9 mil feminicídios (mortes de mulheres por conflito de gênero). Esse número indica uma taxa de 5,8 casos para cada grupo de 100 mil mulheres.Aproximadamente 40% de todos os homicídios de mulheres no mundo são cometidos por um parceiro íntimo. Com os homens, a situação é bem diferente: o número cai para 6%. Ou seja, a proporção de mulheres assassinadas por parceiro é 6,6 vezes maior do que a de homens assassinados por parceira.No Brasil, entre 2001 a 2011, ocorreram mais de 50 mil feminicídios. São 5 mil por ano. Acredita-se que grande parte foram decorrentes de violência doméstica e familiar, uma vez que aproximadamente um terço das mortes aconteceram em casa.2 – Agressões são comuns – e não paramPesquisa do Senado brasileiro estima que mais de 13,5 milhões de mulheres já tenham sofrido algum tipo de agressão. Esse número equivale a 19% da população feminina com 16 anos ou mais.Das que sofreram violência, 31% ainda precisam conviver com o agressor. E pior: das que convivem com o agressor, 14% continuam sofrendo violência.Outra pesquisa mostra que 77% das mulheres que relatam viver em situação de violência sofrem agressões semanal ou diariamente. E 82,5% das mulheres relataram que elas são praticadas por homens com quem mantêm ou mantiveram algum vínculo afetivo.

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3 – Mulheres jovens estão em relacionamentos violentosVocê acha que a violência está longe de você ou é coisa do passado? Pois saiba que 3 em cada 5 mulheres jovens, entre 16 e 24 anos, já sofreram violência em relacionamentos amorosos.E, de cara, ninguém admite. A pesquisa mostrou que, embora apenas 8% das mulheres admitam espontaneamente já terem sofrido violência do parceiro, 66% das mulheres afirmaram ter sido alvo de alguma das ações citadas no questionário – entre as violências, constavam: xingar, empurrar, agredir com palavras, dar tapa, dar soco, impedir de sair de casa e obrigar a fazer sexo.Para os homens, admitir a violência também é difícil. Só 4% dos rapazes reconhecem que já tiveram atitudes violentas contra parceiras – mas 55% dos homens declararam ter realizado tais práticas na pesquisa.4 – Crianças sofrem junto com suas mãesEm levantamento realizado pela Central de Atendimento à Mulher (Disque 180), ficou constatado que as crianças estão diretamente envolvidas nos casos de violência doméstica. Dentre as vítimas ouvidas em 2014, 80% tinham filhos. Só que 64,35% presenciaram a violência e 18,74% eram vítimas diretas junto com as mães.5 – Quase todo mundo conhece uma vítimaÉ bem possível que você, que está lendo agora, também. 54% das pessoas conhecem uma mulher que já foi agredida e 56% conhecem um homem que já praticou agressão contra uma mulher.6 – Uma mulher é estuprada a cada 11 minutos no BrasilSó em 2014, o Brasil teve pelo menos 47 mil estupros. Mas o Fórum Brasileiro de Segurança Pública acredita que podem ter ocorrido entre 136 mil e 476 mil casos.O problema na falta de conclusão sobre os dados é a subnotificação do crime. Existem dois cenários: o estudo “Estupro no Brasil: uma radiografia segundo os dados da Saúde“, do Ipea, que aponta que apenas 10% dos casos chegam ao conhecimento da polícia; o outro é um cenário internacional, em que apenas 35% das vítimas desse tipo de crime prestam queixa.E elas estão isoladas: falta confiança na Justiça e na polícia. 52% das pessoas acham que juízes e policiais desqualificam o problema da violência contra a mulher.

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Região nordeste é a mais violenta contra a mulherOs homicídios contra a mulher estão espalhados por todo o país, mas o Nordeste se destaca negativamente, com a maior taxa do crime: 6,9 mortes para cada 100 mil mulheres. Entretanto, o Espírito Santo é o pior estado quando se trata do assunto (11,24) e o Piauí é o melhor (2,71).