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ESCOLHA PÚBLICA - EMPRESAS SEM FINS LUCRATIVOS - NOTAS DE AULA PROF. GIACOMO BALBINOTTO NETO [ECONOMIA - UFRGS] 1 Empresas Sem Fins Lucrativos Prof. Giácomo Balbinotto Neto Notas de Aula Curso de Especialização em Direito e Economia Introdução às Empresas Sem Fins Lucrativos A característica que define uma empresa sem fins lucrativos é a restrição de distribuição de lucros. Isto significa que ninguém têm direitos legais sobre o saldo financeiro positivo de uma f l df 2 empresa sem fins lucrativos, ou seja, a diferença entre suas receitas e custos, ou o que uma empresa chamaria de lucros. Como não há ninguém a reclamar esse saldo, é possível que os objetivos das empresas sem fins lucrativos sejam outros que não o lucro. Introdução às Empresas Sem Fins Lucrativos Além disso, as organizações sem fins lucrativos são tipicamente isentas de impostos, e as doações a empresas sem 3 impostos, e as doações a empresas sem fins lucrativos recebem tratamento tributário favorável.

Aula UFRGS - Entidades Sem Fim Lucrativos

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    PROF. GIACOMO BALBINOTTO NETO [ECONOMIA - UFRGS] 1

    Empresas Sem Fins LucrativosProf. Gicomo Balbinotto Neto

    Notas de Aula

    Curso de Especializao em Direito e Economia

    Introduo s EmpresasSem Fins Lucrativos

    A caracterstica que define uma empresa sem fins lucrativos a restrio de distribuio de lucros. Isto significa que ningum tm direitos legais sobre o saldo financeiro positivo de uma

    f l d f

    2

    g pempresa sem fins lucrativos, ou seja, a diferena entre suas receitas e custos, ou o que uma empresa chamaria de lucros.

    Como no h ningum a reclamar esse saldo, possvel que os objetivos das empresas sem fins lucrativos sejam outros que no o lucro.

    Introduo s EmpresasSem Fins Lucrativos

    Alm disso, as organizaes sem fins lucrativos so tipicamente isentas de impostos, e as doaes a empresas sem

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    impostos, e as doaes a empresas sem fins lucrativos recebem tratamento tributrio favorvel.

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    Introduo s EmpresasSem Fins Lucrativos

    Causa ComumSociedades

    Museus de ArteOrquestas Sinfnicas

    Mtuos

    Donativos

    Empresarial

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    Clubes Polticos

    Country ClubAmerican Automobile AssociationAssociao de consumidores

    Hospitais comunitrioAsilosNational Geografic Society

    Donativos

    Comercial

    Adaptado de Hausmann (1980, p.842)

    O Modelo de Weisbrod (1975, 1988)A Teoria dos Bens Pblicos

    Por que existem organizaes sem fins lucrativos?

    O Modelo de Weisbrod (1975, 1988)

    A teoria de Weisbrod (1975) para a existncia de organizaes sem fins lucrativos prope que as empresas sem fins lucrativos surgem para

    f d d b bl

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    satisfazer as demandas por bens pblicos no atendidas.

    Ou em outras palavras, firmas sem fins lucrativos servem como produtoras privadas de bens pblicos.

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    Por que existem organizaes sem fins lucrativos?

    O Modelo de Weisbrod (1975, 1988)

    Weisbrod (1975) conclui que as organizaes sem fins lucrativos surgem porque os mercados privados e motivados

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    porque os mercados privados e motivados pelo lucro tendem a produzir bens e servios aqum da demanda, devido aos problemas de externalidades positivas.

    Por que existem organizaes sem fins lucrativos?

    O Modelo de Weisbrod (1975, 1988)Por outro lado, o governo tambm pode fornecer esses bens e servios aqum do ideal aos olhos de uma significativa minoria de eleitores devido aos problemas polticos numa eleio (teorema do eleitor mediano)

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    eleio (teorema do eleitor mediano).

    Assim, este ltimo grupo tende a incluir cidado que tm uma percepo mais aguada do benefcio externo para a comunidade. Tais cidados estabelecem suas prprias empresas sem fins lucrativos.

    O Modelo de Weisbrod (1975, 1988)

    Considere o caso em que o governo fornece um bem pblico.

    Sejam as curvas D1 a D5 as curvas de demanda de 5 dif t i di d t f d i d

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    diferentes indivduos que votam a favor da proviso de um bem pblico pelo governo.

    As curvas de demanda representam os benefcios externos para esses diferentes grupos de contribuintes.

    As curvas de demanda representam os benefcios marginais para doadores do bem aos contribuintes.

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    O Modelo de Weisbrod (1975, 1988)

    Para pagar por esse bem pblico, assumido que os cinco contribuintes sejam tributados igualmente com uma alquota de imposto por

    d d l

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    unidade, MT, que o imposto marginal.

    Isto implica que o imposto marginal para cada um deles ser exatamente (1/5) do custo marginal para a sociedade.

    O Modelo de Weisbrod (1975, 1988)

    Se o governo, por exemplo, fosse prover a quantidade de produo OC, ento a cada um dos 5 contribuintes seria cobrado (OC x MT), e a

    d l b

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    arrecadao total cobriria exatamente o custo do projeto.

    Se a quantidade de produo fosse OB, ento seria arrecadado (OB x MT) de cada indivduo, e assim por diante.

    O Modelo de Weisbrod (1975, 1988)

    Aqui assumimos que o governo tem que escolher um nico nvel de produo.

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    Quem nvel de produo o governo vai prover se o resultado for deixado a cargo do processo poltico democrtico?

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    O Modelo de Weisbrod (1975, 1988)

    Se o nvel proposto fosse AO, quatro de cinco eleitores iriam preferir um nvel mais alto, tal como OB.

    S l f O d l

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    Se o nvel proposto fosse OB, trs de cinco eleitores iriam preferir um nvel mais alto e votariam contra o nvel proposto.

    Se o nvel proposto fosse OD, trs eleitores achariam que haveria uma quantidade demasiada de bem pblico e votariam contra. O meso aconteceria par ao nvel OE.

    O Modelo de Weisbrod (1975, 1988)

    neste exemplo, vemos ento que somente o nvel OC ganhar a maioria dos votos.

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    Esta maioria comporta pelo eleitor 3, que est exatamente satisfeito porque seus benefcios marginais se igualam ao imposto marginal, e pelos eleitores 4 e 5, que gostariam de ter mais, mas esto satisfeitos com o nvel OC.

    O Modelo de Weisbrod (1975, 1988)

    O nvel escolhido pela governo implica que eleitores insatisfeitos na margem, cujas demandas so exatamente atendidas. A alquota do imposto marginal s se encaixa ou adequada ao eleitor #3, o eleitor mediano.

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    Neste caso, alguns eleitores vo preferir ter mais do bem pblico (sade por exemplo) e o governo ter fracassado em satisfazer as demanda daqueles que preferem ter mais. Esses eleitores insatisfeitos tero incentivos para criar ou fundar uma empresa sem fins lucrativos e passar a fornecer eles mesmos os bens.

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    O Modelo de Weisbrod (1975, 1988)

    $

    D1 D2 D3 D4D5

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    0 Quantidade de bem pblico

    MT= Imposto marginal

    A B DC E

    O Modelo de Weisbrod (1975, 1988)

    Weisbrod (1975, 1988) argumentou que o governo ir tender a prover bens pblicos somente at o nvel que satisfaa o eleitor mediano; conseqentemente haver alguns eleitores residuais insatisfeitos com relao ao f i d b bli j f i j

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    fornecimento de bens pblicos cujas as preferncias seja maiores do que a do eleitor mediano.

    Assim, as organizaes sem fins lucrativos surgem para atender a esta demanda residual pela proviso de bens pblicos num montante suplementar aquele fornecido pelo governo.

    Por que existem organizaes sem fins lucrativos?

    O Modelo de Weisbrod (1975, 1988)

    A anlise de Weisbrod (1975) se aplica sade nos casos em que ela no um bem puramente privado.

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    Assistncia sade fornecida ao indigente , por si prpria, um bem privado, porque a pessoa indigente poderia ter sido excluda se assim o desejssemos.

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    Por que existem organizaes sem fins lucrativos?

    O Modelo de Weisbrod (1975, 1988)

    A assistncia sade fornecida ao indigente acarreta numa externalidade benfica a qualquer pessoa consciente de caridade.

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    este benefcio externo que um bem pblico, e neste sentido que a assistncia sade no um bem puramente privado.

    Por que existem organizaes sem fins lucrativos?

    O Modelo de Weisbrod (1975, 1988)

    O modelo de Weisbrod (1975) aplicar este princpio a quaisquer servios que forneam benefcios externos a uma grande comunidade.

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    Assim, as empresas de assistncia sade e hospitais podem surgir onde uma minoria suficiente de eleitores est insatisfeita com a quantidade ou qualidade de assistncia fornecidos pelo setor sem fins lucrativos ou pelo governo.

    Por que existem organizaes sem fins lucrativos?

    O Modelo de Weisbrod (1975, 1988)

    A teoria de Weisbrod (1975) fornece uma explicao plausvel para o surgimento e proliferao de hospitais sem fins

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    proliferao de hospitais sem fins lucrativos, provendo assistncia aos pobres e dependendo pesadamente de doaes.

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    Por que existem organizaes sem fins lucrativos?

    O Modelo de Weisbrod (1975, 1988)

    Resumindo, no modelo de Weisbrod (1975) as organizaes sem fins lucrativos satisfazem a demanda por bens pblicos que no so fornecidos pelo governo. O governo satisfaz a d d d l d

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    p g gdemanda do eleitor mediano e portanto, prov um nvel de bem pblico a menos para alguns indivduos os quais o nvel de demanda maior do que desejo do eleitor mediano.

    Estas organizaes sem fins lucrativos so financiadas por doaes de indivduos que desejem aumentar a produo do bem pblico.

    Implicaes do Modelode Weisbrod (1975)

    Uma das principais implicaes empricas do modelo de Weisbrod (1975) o teste da hiptese da heterogeneidade que afirma que

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    em comunidades mais heterogneas, na qual os cidados tem preferncias mais diversas por bens pblicos do que o eleitor mediano, dever haver mais organizaes com fins no lucrativos produzindo mais bens pblicos.

    Empresas sem fins lucrativos como uma resposta ao fracasso de contrato: O Modelo de Hansmann (1980)

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    Empresas sem fins lucrativos como uma resposta ao fracasso de contrato

    A teoria do fracasso de contrato assume que a existncia de empresa sem fins lucrativos so vantajosas sob circunstncias em que difcil ou

    l d d b f

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    impossvel para o comprador do bem verificar a entrega e a qualidade do mesmo.

    O Modelo de Hansmann (1980)

    Arrow (1963, p.950) sugeriu que a freqncia das organizaes sem fins lucrativos se deveria incerteza ao se tentar identificar a qualidade d d l

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    da assistncia a sade, por exemplo.

    Modelo de Hansmann (1980)

    Hansmann(1980) assumiu que o setor sem fins lucrativos ajudaria a reparar os problemas de fracasso de contrato que ocorrem devido a assimetria de informao quando a quantidade

    l d d d d d f l d

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    ou qualidade da produo difcil ou cara de ser observada.

    Assim sendo, a assimetria de informao entre a firma e o comprador de servios se torna importante ao se explicar o papel da organizao sem fins lucrativos.

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    Modelo de Hansmann (1980)

    No modelo de Hansmann (1980), as organizaes sem fins lucrativos seriam ou funcionariam como uma espcie de

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    ou funcionariam como uma espcie de sinal de confiana sobre a qualidade e a quantidade de bens fornecidos.

    Modelo de Hansmann (1980)

    Para Hansmann (1980), em essncia, a teoria da falha de contrato v as firmas sem fins lucrativos como uma resposta aos problemas de

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    agncia, onde o principal no pode monitorar o desempenho doa gente que ela tenha contratado para desempenhar uma atividade ou servio.

    Modelo de Hansmann (1980)

    Assim, haveria um forte incentivo para adotar uma outra estrutura de governana [Oliver Williamson (1979)] que busca mitigar os

    d d b f

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    incentivos do agentes de no agir em benefcio dos interesses do principal.

    A forma ou estrutura de governana na forma de empresa sem fins lucrativos serviria a este propsito.

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    O Modelo dos Grupos de Interesse de Bays (1983)

    Hospitais sem fins Lucrativos [O Modelo de Bays (1983)]

    A teoria dos grupos de interesse como explicao da existncia de hospitais sem fins lucrativos prope que os mdicos so

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    fins lucrativos prope que os mdicos so a favor de organizaes hospitalares sem fins lucrativos porque nelas eles podem exercer maior controle econmico.

    Hospitais sem fins Lucrativos [O Modelo de Bays (1983)]

    Com o avano da tecnologia, os hospitais se tornaram o ponto de concentrao e trabalhos dos mdicos. Deter privilgios em um ou mais hospitais passou a ser crucial para a prtica

    d

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    mdica.

    O controlando os privilgios de admisso ao hospital, organizaes de mdicos ganharam mais poder de mercado inclusive a capacidade de exercer disciplina sobre mdicos cujas prticas tendiam a erodir o poder de mercado do grupo organizado.

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    Hospitais sem fins Lucrativos [O Modelo de Bays (1983)]

    No modelo de Bays (1983), os mdicos preferem os hospitais sem fins lucrativos, porque neles o seu poder maior. E este

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    porque neles o seu poder maior. E este poder sobre as decises permite que os mdicos aumentem a sua renda pessoal.

    Hospitais sem fins Lucrativos [O Modelo de Bays (1983)]

    Alm disso, o tratamento fiscal privilegiado e os subsdios aos hospitais sem fins lucrativos se devem, segundo Bays (1983), em parte, ao

    l d d l

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    apoio poltico do mdicos, que, em ltima instncia, beneficia o mdico atravs da proviso de insumos hospitalares complementares por custos menores.

    Hospitais sem fins Lucrativos [O Modelo de Bays (1983)]

    Sob a teoria dos grupos de interesse, pequenos grupos ganham poder quando os seus interesses so altamente concentrados e a f l h

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    afiliao ao grupo homognea. Passa ento a valer a pena, nesses casos, que os mdicos apiem o lobbylobby a favor de medidas que resultem em benefcios significativos para eles prprios, ao passo que a perda par ao pblico em geral fica difusa.

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    Hospitais sem fins Lucrativos [O Modelo de Bays (1983)]

    Embora o consumidor individual possa se beneficiar do desafio do status quo, os ganhos pessoais so pequenos em relao aos custos

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    pessoais.

    Esta situao retratada no modelo de Bays (1983) favorece ao mdico s custas do pblico em geral, pode, no entanto, representar um equilbrio regulatrio.

    Hospitais sem fins Lucrativos [O Modelo de Bays (1983)]

    Bays (1983) formulou a teoria dos grupos de interesse sob a qual os mdicos preferem uma organizao sem fins lucrativos e usam a sua influncia enquanto grupo de presso com interesses latentes para estender o papel das

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    presso com interesses latentes para estender o papel das organizaes sem fins lucrativos alm dos interesses destas e em benefcio prprio.

    Assim, pela teoria de Bayes (1983), o tratamento privilegiado de hospitais sem fins lucrativos no to obviamente pelo interesse pblico, mas sim, em benefcio principalmente de um grupo organizado, os mdicos.

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