15
Profª Renata Leonel Nunes “Direito e Legislação” e-mail:[email protected] Aula: 01- Noções Gerais do Direito Origem do Vocábulo “Direito”: Conceituar o Direito é defini-lo. Existem duas espécies de definição: 1) Nominal: o que uma palavra ou nome significa. àDireito= directum, rectum= direito, reto, conforme uma régua àJurídico= jus (juris) que significa direito Jussum – mandar, ordenar (yú – vínculo, jugo) Justum – justo (yós – bom, santo, divino) 2) Real: consiste em dizer o que uma coisa ou realidade é. à Existem várias acepções relacionadas ao vocábulo direito. Podemos observar 5 diferentes noções: • Direito-Norma (norma agendi/ direito objetivo): significa a norma, a lei, a regra social obrigatória. • Direito-Faculdade (facultas agendi/direito subjetivo): significa a faculdade, o poder, a prerrogativa do sujeito. Direito-Justo: significa o que é devido por justiça. Direito-Ciência: significa a ciência do direito. Direito-Fato Social: o direito é considerado como fenômeno da vida coletiva ao lado dos fatos econômicos, artísticos, culturais, esportivos, etc. O direito também é um fato social. Direito-Norma: é uma das acepções mais comuns do vocábulo. Muitos autores o denominam como direito objetivo em oposição ao direito subjetivo (direito-faculdade). Contudo, esta denominação é imprópria, pois existem outras acepções do direito que também são objetivas, como o justo ou fato social. Esta acepção indica realidades diferentes: a) o direito positivo e o direito natural, b) o direito estatal e o direito não-estatal. Direito Positivo e Direito Natural : o primeiro, constitui um conjunto de normas elaboradas por uma sociedade determinada, para reger sua vida interna com a proteção da

Aula01 NoçõesdeDireito

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Legislação

Citation preview

Page 1: Aula01 NoçõesdeDireito

Profª Renata Leonel Nunes“Direito e Legislação”

e-mail:[email protected]

Aula: 01- Noções Gerais do Direito

Origem do Vocábulo “Direito”:

Conceituar o Direito é defini-lo. Existem duas espécies de definição:

1) Nominal: o que uma palavra ou nome significa.

àDireito= directum, rectum= direito, reto, conforme uma réguaàJurídico= jus (juris) que significa direitoJussum – mandar, ordenar (yú – vínculo, jugo)Justum – justo (yós – bom, santo, divino)

2) Real: consiste em dizer o que uma coisa ou realidade é.à Existem várias acepções relacionadas ao vocábulo direito. Podemos observar 5

diferentes noções:•Direito-Norma (norma agendi/ direito objetivo): significa a norma, a lei, a regra

social obrigatória.•Direito-Faculdade (facultas agendi/direito subjetivo): significa a faculdade, o poder,

a prerrogativa do sujeito.•Direito-Justo: significa o que é devido por justiça.•Direito-Ciência: significa a ciência do direito.•Direito-Fato Social: o direito é considerado como fenômeno da vida coletiva ao lado

dos fatos econômicos, artísticos, culturais, esportivos, etc. O direito também é um fato social.

Direito-Norma: é uma das acepções mais comuns do vocábulo. Muitos autores o denominam como direito objetivo em oposição ao direito subjetivo (direito-faculdade). Contudo, esta denominação é imprópria, pois existem outras acepções do direito que também são objetivas, como o justo ou fato social.

Esta acepção indica realidades diferentes: a) o direito positivo e o direito natural, b) o direito estatal e o direito não-estatal.

Direito Positivo e Direito Natural: o primeiro, constitui um conjunto de normas elaboradas por uma sociedade determinada, para reger sua vida interna com a proteção da força social. O segundo, é constituído pelos princípios que servem de fundamento ao Direito positivo;

Natural: O homem sempre teve consciência de direitos fundamentais decorrentes de sua natureza, que não viessem de pactos, contratos, convenções ou tratados. De certa forma, existem tendências gerais, comuns a todos os homens, de iguais emoções, impulsionando-os. Atos humanos seriam acolhidos ou repudiados por uma consciência coletiva, capaz, naturalmente de separar o bem, do mal. O certo do errado, o direito do torto, o justo do

injusto.

Page 2: Aula01 NoçõesdeDireito

Profª Renata Leonel Nunes“Direito e Legislação”

e-mail:[email protected]

O direito natural é a idéia abstrata de direito, ou seja, aquilo que corresponde ao sentimento de justiça da comunidade. Os gregos criticavam as leis e mostravam-se céticos ao direito, porque diziam eles que as leis eram feitas exclusivamente com motivações políticas, e ditadas por elas.

É famosa a passagem, que afirmavam que aquilo que é natural é em todos os lugares. O mesmo fogo, diziam, que arde na Grécia arde na Pérsia, porém as leis vigentes na Grécia divergem daquelas vigentes na Pérsia. Logo o fogo é natural; o direito, simplesmente artificial.

Positivo: Ao contrário do direito natural, o Direito Positivo é aquele conjunto de regras elaborados e vigentes num determinado país em determinada época. São as normas, as leis, todo o sistema normativo posto, ou seja, vigente no país.

Exemplo: Código Civil, Código Penal, Código Comercial, Código de Defesa do Consumidor, Leis esparsas...

Exemplificando: O direito positivo, por exemplo, uma lei, não obriga ao pagamento de duplicata prescrita, ao passo que para o direito natural esse pagamento seria devido e correto.

Direito estatal e Direito n ã o-estatal: na primeira acepção a palavra direito é aplicada para as normas jurídicas elaboradas pelo Estado para reger a vida social, como o Código Civil ou o Código Comercial. Ao lado do direito estatal existem normas obrigatórias, elaboradas por diferentes grupos sociais e destinadas a reger a vida interna desses grupos sociais, como o direito esportivo, o direito religioso, os usos e costumes internacionais, as normas trabalhistas derivadas de acordos e convenções coletivas de trabalho.

Direito-Faculdade (direito-poder): o vocábulo direito, é freqüentemente empregado para designar o poder de uma pessoa individual ou coletiva, em relação a determinado objeto. É a faculdade reconhecida ao sujeito ou titular do direito. O direito de usar um imóvel, cobrar uma dívida, propor uma ação são exemplos de direito-faculdade ou direito subjetivo. Segundo Kant o direito-faculdade pode assim ser definido: faculdade de exercer aqueles atos, cuja realização universalizada não impeça a coexistência dos homens.

Direito-Justo: relaciona-se ao conceito de justiça. Dentro desta acepção podemos distinguir dois sentidos diferentes que se relacionam. O primeiro, relaciona-se ao que é devido por justiça (justo objetivo- aquele bem que é devido a uma pessoa por uma exigência da justiça). O segundo, significa em conformidade com as exigências da justiça.

Direito-ci ê ncia : o vocábulo é empregado para designar a ciência do direito. Quando se fala em estudar o direito, está subentendido o estudo do método e objeto do direito. Segundo Hermann Post: direito é a exposição sistematizada de todos os fenômenos da vida jurídica e a determinação de suas causas.

Direito-fato social : setor da vida social, fenômeno social

DIREITO:• O direito pode ser considerado como norma, como faculdade, como justo, como

ciência ou como fato social;• Essas diferentes perspectivas revelam o caráter análogo do conceito de direito;• Apesar das acepções diversas, elas não são contrárias. O sentido fundamental do

direito, em qualquer de seus aspectos, consiste sempre em estar a serviço da justiça, isto é,

Page 3: Aula01 NoçõesdeDireito

Profª Renata Leonel Nunes“Direito e Legislação”

e-mail:[email protected]

em assegurar a cada um aquilo que lhe é devido, segundo uma relação proporcional, fundada na igual dignidade de todos os homens.

Direito - conceito Direito é a arte do bom e do equitativo – Ius est ars boni et aequi . (Ulpiano) (noção

de justiça) Direito é a proporção real e pessoal de homem para homem que, conservada,

conserva a sociedade e que, destruída, a destrói. (Dante Alighieri) (direito como fato social) Direito é o conjunto das condições segundo as quais o arbítrio de cada um pode

coexistir com o arbítrio dos outros de acordo com uma lei geral de liberdade (Koenigsberg – Comentando Kant). (direito relacionado à noção de liberdade)

Direito é a coordenação objetiva das ações possíveis entre vários sujeitos, segundo um princípio ético que as determina, excluindo delas qualquer impedimento.( Del Vecchio).

Direito é a vinculação bilateral da conduta para a realização ordenada dos valores de convivência. (Miguel Reale)

• BILATERALIDADE ATRIBUTIVA é a relação objetiva que, ligando entre si dois ou mais seres, lhes confere e garante, de maneira recíproca ou não, pretensões ou competências. (MIGUEL REALE)

Direito Objetivo e Direito Subjetivo

• Direito Objetivo – direito norma – é o conjunto dos preceitos impostos a todos os homens pelas necessidades da manutenção da ordem social: jus est norma agendi.

• Direito Subjetivo – direito faculdade – é o poder que tem o homem de exigir garantias para a realização de seus interesses, quando estes se conformam com o interesse social. Segundo Von Ihering é “o interesse juridicamente protegido”- jus est facultas agendi.

Sujeito, Objeto e Rela çã o do Direito

Sujeito do Direito: é o ser, a quem a ordem jurídica assegura o poder de agir contido no Direito. Ordinariamente, esse poder é um gozo, uma vantagem do sujeito, mas há direitos, que existem em favor de outrem. Os sujeitos do direito são as pessoas naturais e jurídicas. Todavia é certo que as idéias de pessoa e sujeito do direito não tem a mesma extensão. A idéia de pessoa oferece dois aspectos: o ativo e o passivo. O sujeito do direito é a pessoa em sua posição ativa.

Objeto do Direito: é o bem ou vantagem sobre o que o sujeito exerce o poder conferido pela ordem jurídica. Podem ser objetos do direito: a) modos de ser da própria pessoa na vida social (a existência, a liberdade, a honra, etc.); b) as ações humanas; c) as coisas corpóreas ou incorpóreas, entre estas últimas incluindo-se os produtos da inteligência.

Relação do Direito: é o laço que, sob a garantia da ordem jurídica, submete o objeto ao sujeito. Os romanos designaram-na pelo nome de jus, como nós a denominamos direito. Existem duas categorias de relação: uma sobre os objetos naturais e outra ligando pessoas entre si, as quais podem denominar-se direitos de dominação e direitos que impõem deveres diretos às outras pessoas.

Direito e Moral O direito e a moral situam-se em círculos concêntricos, a moral tem o

diâmetro maior e o Direito, o menor.

Page 4: Aula01 NoçõesdeDireito

Profª Renata Leonel Nunes“Direito e Legislação”

e-mail:[email protected]

Miguel Reale distingue o Direito da Moral sob o ponto de vista da valorização do ato, da forma e do conteúdo e elabora o seguinte esquema:

Direito Moral

Quanto à valoração do ato:

a)Bilateral atributivo;b)Visa mais ao ato exteriorizadopartindo da intenção;

a)unilateral; b)Visa mais à intenção partindo da exteriorização do ato;

Quanto à forma:

c)Pode ser heterônomo (Estatal);d)Coercível;e)Especificamente predeterminado e certo, assim como objetivamente certificável;

c) Nunca heterônoma;d) incoercível;e) Não apresenta igual predeterminação tipológica;

Quanto ao objetivo ou conteúdo:

f) Visa de maneira imediata e prevalecente ao bem social ou aos valores de convivência.

f) Visa de maneira imediata e prevalecente ao bem individual ou aos valores da pessoa.

Ramos do Direito

Direito Internacional: divide-se (didaticamente) em:

Direito

Positivo Natural

Internacional Nacional

Público Público

Privado

Privado

Const, Civil, Penal, Tributário, Adm, Comercial, Proc, Eleitoral, Econômico, Eleitoral,etc,

Civil e Comercial

Page 5: Aula01 NoçõesdeDireito

Profª Renata Leonel Nunes“Direito e Legislação”

e-mail:[email protected]

• a) Público e • b) Privado;

Internacional Público: é um conjunto de normas que regulam as relações entre os Estados membros da comunidade internacional e organismos análogos. Exemplo1: ONU (Organização das Nações Unidas), OIT (Organização Internacional do Trabalho).

Exemplo2: Tratado de Kyoto, Declaração Universal dos Direitos Humanos, etc.

-A sociedade internacional caracteriza-se por ser universal, igualitária, aberta, sem organização rígida e com Direito originário.-Universal porque abrange todos os entes do Globo terrestre.-Igualitária porque supõe igualdade formal entre os seus membros.-Aberta porque todos os entes, ao reunirem certas condições, dela se tornam membros sem necessidade de aprovação dos demais.-A cooperação internacional é a regra que motiva o relacionamento entre os membros, portanto, não há hierarquia entre as normas internacionais e as normas internas de um país.

Internacional Privado: é um conjunto de normas internas de cada país, elaboradas e instituídas especialmente para definir se em determinados casos se aplicará a lei interna ou a lei de outro país. Pelo Direito Internacional Privado regula-se;

Conflito de leis no espaço; Comércio entre empresas privadas, com sede em países diferentesA situação do estrangeiroA nacionalidadeA validade ou não de sentenças estrangeirasBens referentes à legitima de estrangeiro, etc..

Direito Nacional É o sistema legal elaborado para ser posto, vigente, em determinada época, dentro das

fronteiras de um país. Só é válido dentro da jurisdição do país que o elaborou. Não se aplica a países vizinhos.

• O direito nacional divide-se em: • a) público, • b) privado;• O direito público (nacional) divide-se em: constitucional, administrativo, penal,

tributário;• O direito privado (nacional) divide-se em: civil, empresarial e trabalhista.

Nacional/ PÚBLICOÉ composto predominantemente por normas de ordem pública , que são normas

imperativas, obrigatórias.Exemplo: Se houve um homicídio, mesmo que a vítima concorde em não punir o

assassino, haverá punição, pois se trata de norma de ordem pública, prevista no Código Penal.

Nacional/ PRIVADOÉ composto predominantemente por normas de ordem privada, o que significa dizer

que são normas de caráter supletivo, vigoram apenas enquanto os interessados não

Page 6: Aula01 NoçõesdeDireito

Profª Renata Leonel Nunes“Direito e Legislação”

e-mail:[email protected]

dispuserem do contrário, ou seja, enquanto a vontade deles permanecer, a norma é lei entre as partes.

Exemplo1: um contrato de compra e venda, celebrado entre uma empresa e alguém que quer vender um automóvel. A empresa compra o automóvel. Se houver desistência do negócio, ou qualquer aditamento no contrato, valerá o que foi estipulado pela primeira vez no contrato.

Exemplo2: A divisão de despesas com a construção de um muro. As partes (as pessoas envolvidas) podem dispensar a divisão, ou até omitirem-se quanto a isso, pois se trata de norma de ordem privada e precisa ser combinada. Art.588 1o do Código Civil.

Exerc í cio 1)Justiça é a vontade constante e perpétua de dar a cada um o seu direito.(Ulpiano)2) Não é direito condenar um anormal. 3)Direito é o que é devido a outrem, segundo uma igualdade (S. Tomás) 4) O Estado tem direito de legislar. 5) O direito não permite o aborto. 6) A educação é direito da criança. 7) Cabe ao direito estudar a criminalidade. 8) O direito constitui um setor da vida social. 9) Deve se fazer o bem, dar a cada um o que lhe é devido10) Direito é a arte do bom e do equitativo – Ius est ars boni et aequi . (Ulpiano)

Fontes do Direito:A palavra fonte tem o significado comum de lugar onde a água surge, nasce ou jorra. É

nesse sentido que podemos usar essa palavra num sentido amplo e figurado quando falamos, por exemplo, em fontes do Direito ou fonte da norma jurídica. Neste caso, queremos saber qual é a origem do Direito, de onde provêm as normas, ou seja, origem, início.

São fontes do Direito:A LeiA analogiaO costumeOs princípios gerais de direitoA jurisprudênciaA doutrina jurídica

Leis : a Lei é a mais importante fonte formal do direito. Entende-se por lei a norma jurídica escrita emana do poder competente. A Lei está presente na legislação, que é o conjunto das Leis vigentes em um país.

Em sentido técnico estrito, a Lei é a norma jurídica ordinária elaborada pelo Poder Legislativo. Distingue-se, nesse sentido, dos decretos, regulamentos e portarias expedidos pela Administração Pública (Poder Executivo).

1. Constituição (Federal / Estadual)2. Lei complementar3. Tratados e Convenções Internacionais4. Lei ordinária5. Lei delegada6. Medidas Provisórias7. Decretos

Page 7: Aula01 NoçõesdeDireito

Profª Renata Leonel Nunes“Direito e Legislação”

e-mail:[email protected]

8. Regulamentos complementares(NR, Resolução, Instruções, Portarias, Circulares, etc..)

A analogia: quando o juiz utiliza-se da analogia para solucionar determinado caso concreto, não está apartando-se da lei, mas aplicando-se à hipótese não prevista em lei um dispositivo legal relativo a caso semelhante. Nisso consiste o emprego da analogia. Pretende-se dizer que a situações semelhantes deve-se aplicar a mesma regra de direito.

Costumes: é a reiteração constante de uma conduta, na convicção de ser a mesma obrigatória, ou seja, uma prática geral aceita como sendo o direito. Exemplo: Fazer fila para pegar o ônibus, ou para entrar no teatro.

Na falta de lei sobre determinado assunto o Juiz pode se valer do costume. (art.4 o. da Lei de Introdução ao Código Civil)

O costume não faz parte da legislação, é criado espontaneamente pela sociedade, sendo o resultado de uma prática geral obrigatória, constante e prolongada.

Nas comunidades primitivas, o costume era a principal fonte do Direito, não existiam Leis escritas e as normas fixavam-se pelo uso reiterado e pela transmissão oral de geração a geração.

Nos dias atuais, com exceção de poucos países, o costume deixou de ser a principal fonte do Direito. Entretanto ainda mantém seu valor como fonte alternativa ou supletiva, nos casos em que a Lei for omissa, isto é na falta da Lei. O costume também é utilizado quando a própria Lei o autoriza.

O costume jamais será usado contra a Lei, apenas como subsidiário ou na falta dela.

Os princípios gerais do direito: são estes constituídos de regras que se encontram na consciência dos povos e são universalmente aceitas, mesmo escritas. Tais regras, de caráter genérico, orientam a compreensão do sistema jurídico, em sua aplicação e integração, esteja ou não incluídas no direito positivo. Muitas delas passaram a integrar o nosso direito positivo, como a de que “ninguém pode lesar a outrem”, a que veda o enriquecimento sem causa, a que não admite escusa de não-cumprimento da lei por não conhecê-la. Em sua maioria, no entanto, os princípios gerais do direito estão implícitos no sistema jurídico civil, como o de que “ninguém pode valer-se da própria torpeza”, o de que a “boa-fé se presume”, o de que “ninguém pode transferir mais direitos do que tem”,etc...

Doutrina: o sistema legal, incluindo as normas, nestas as leis, precisa ser interpretado. Essa interpretação não é feita só pelo judiciário. Aliás, o Judiciário, muitas vezes, para fazer sua interpretação se socorre da doutrina.

A doutrina jurídica é o conjunto sistemático de teorias sobre o Direito elaborado pelos grandes juristas. A doutrina é o produto da reflexão e do estudo que os juristas desenvolvem sobre o Direito.

O parecer comum sobre determinados assuntos, de diversos especialistas de notório saber jurídico, constitui verdadeiras normas que orientam legisladores, juízes e advogados.

Assim, a doutrina é uma interpretação realizada por estudiosos da matéria, e pode ser considerada nos;

-Tratados;-Seminários; (cujos debates foram publicados)-Pareceres;-Obras intelectuais como livros;-Monografias.

Page 8: Aula01 NoçõesdeDireito

Profª Renata Leonel Nunes“Direito e Legislação”

e-mail:[email protected]

Jurisprudência: são decisões reiteradas dos tribunais. É a interpretação realizada por juízes de todas as instâncias, e que servem de fonte para outros juízes.

Hierarquia das NormasÉ sempre bom lembrar que o ordenamento jurídico brasileiro é construído de forma a

obedecer uma hierarquia. Hans Kelsen foi o teórico que desenvolveu a idéia de uma pirâmide jurídica, na qual a Constituição está no ápice. No segundo patamar encontram-se as leis ordinárias e complementares1; no terceiro os decretos, atos normativos, deliberações, instruções normativas dentre outros atos regulamentadores; e por fim os contratos firmados entre as pessoas.

Constituição

Leis (ordinárias/complementares)

Decretos, Atos Normativos, etc..

Contratos

Dentre as leis existem normas gerais e específicas. As leis específicas derrogam as leis gerais no que for contrário, ou seja, a lei específica é que irá prevalecer se existir contradição com a lei geral.

Tipos normativos

Norma fundamentalConsiste na lei maior, denominada também de carta magna, vincula todos os ramos do

direito e invalida as leis que com ela não estejam em harmonia.Enquanto na Federação prevalece a Constituição Federal, nos Estados federados

existem as Constituições estaduais, que devem guardar um paralelismo com a Constituição Federal.

Hans Kelsen foi o precursor do modelo de normas, onde as normas legais retiram validade das regras imediatamente superiores, até chegar ao ápice da pirâmide, onde está a Constituição, que é o fundamento de todo o ordenamento jurídico estatal. Assim, a lei ordinária não pode conter dispositivo contrário à Constituição. Nem o decreto ou a portaria pode afrontar a lei ordinária.

Lei Complementar: as que situam entre a norma constitucional e a lei ordinária, porque tratam de matérias especiais, que não podem ser deliberadas em lei ordinária e cuja aprovação exige quorum especial.

Quanto à matéria, às leis complementares são reservadas matérias específicas, e a Constituição sempre determina a utilização de lei complementar para referida matéria.

Votação: maioria absoluta = 50% + 1 dos membros da casa. Art.47 e 69 CF

1 A doutrina discute se os tratados internacionais têm status legal ou Constitucional. Alguns defendem que: se os tratados internacionais versarem sobre direitos fundamentais da pessoa humana será acolhido no nosso ordenamento com status Constitucional, do contrário será Lei Ordinária.

Page 9: Aula01 NoçõesdeDireito

Profª Renata Leonel Nunes“Direito e Legislação”

e-mail:[email protected]

Lei ordinária: as elaboradas pelo Poder Legislativo.Dois aspectos básicos para se caracterizar uma lei ordinária:- refere-se à matéria e à votação.Leis ordinárias são aquelas que relacionadas a qualquer tipo de assunto. Aos assuntos

que exigem maior rigor na votação é reservado para leis complementares. Votação : maioria simples = 50% + 1 dos presentes à sessão legislativa. (art.47 CF)

Vigência da Lei

O diploma legal que dispõe sobre a vigência da Lei é Decreto-Lei 4.657/42 que é denominado de Lei de Introdução ao Código Civil – LICC.

A lei passa por 3 fases: o da elaboração, a da promulgação e da publicação. Embora nasça coma promulgação, só começa a vigorar com a sua publicação no Diário Oficial. . Com a publicação, tem-se o início da vigência, tornando-se obrigatória, pois ninguém pode escusar-se de cumpri-la alegando que não a conhece. (art. 3º da LICC).

“Vacatio Legis”: período entre a publicação e a efetiva entrada em vigor de uma lei.Em regra funciona da seguinte forma:o No silêncio começa a vigorar 45 dias após a publicação.(art.1o LICC)

o Se expressa a data começa a vigorar na data que consta no texto da lei.oLei brasileira para ser aplicada a quem está no exterior começa a vigorar 90

dias após a publicação

PRINCÍPIO DA OBRIGATORIEDADE DAS LEISSegundo a Lei de Introdução ao Código Civil, ninguém pode alegar que não conhece a

lei, ou seja, ninguém pode evitar cumprir a lei simplesmente alegando ignorância. (art.3o.)A regra é ditada por uma razão de ordem social e jurídica, de necessidade social: garantir a eficácia global do ordenamento jurídico, que ficaria comprometido caso tal alegação pudesse ser aceita.

PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE DAS LEISSalvo em casos especiais, a lei tem caráter permanente, permanecendo em vigor até ser

revogado por outra lei. Nisto consiste o princípio da continuidade das leis. Só a lei pode revogar a lei. Isso significa que é preciso observar a Hierarquia das Leis para entender a funcionalidade de cada norma, ou seja, um Decreto não pode revogar uma lei, pois tem uma funcionalidade específica, regulamentadora. A lei pode mais do que o Decreto. O Decreto pode menos que a lei, assim por definição dialética quem pode mais pode o menos mas quem pode o menos não pode o mais.

Assim, a Lei pode revogar um Decreto mas um Decreto não pode revogar uma Lei.

*Medida Provisória pode revogar lei?Não, Medida Provisória não é propriamente uma lei, é ato do executivo com força de

lei.A Medida Provisória suspende a eficácia de lei anterior.Se convertida em lei – revoga a lei anteriorSe rejeitada restaura-se a eficácia da lei anterior.

*O que acontece com os contratos e relações jurídicas que se firmaram na vigência da MP que foi rejeitada posteriormente?

Page 10: Aula01 NoçõesdeDireito

Profª Renata Leonel Nunes“Direito e Legislação”

e-mail:[email protected]

Não se aplica nem a MP nem a lei anterior.A CF diz que o Congresso Nacional deve disciplinar essas relações baixando um

Decreto Legislativo. (art.62 único)

PERDA DA VALIDADE DA LEIExistem duas formas da lei perder a validade:

Revogação= supressão da força obrigatória da lei, retirando-lhe a eficácia (o que só pode ser feito por outra lei) Efeito produzido por nova lei, a lei anterior perde a eficácia.

INEFICÁCIA: é quando a lei, apesar de vigente não pode ser aplicada. A lei perde a eficácia sem ser revogada.

-Formas de Ineficácia:a)CADUCIDADE; surge situação cronológica ou factual que torna a lei inválida.

Alguns chamam de autorevogação. Ex.Leis temporárias, Excepcionais (Estado de sitio).b)DESUSO; cessa o pressuposto de aplicação da lei.Ex.Lei proíbe caça às baleias, todas

morrem, não pode ser aplicada porque não existem mais baleias.

Lei Inconstitucional (Declarada pelo STF)Por Ação Direta de Inconstitucionalidade, a simples decisão já torna a lei ineficaz.

Controle Concentrado.Se for por Controle Difuso além da decisão do STF é preciso resolução do Senado

suspendendo a eficácia da lei.OBS.A decisão não revoga a lei apenas a torna inútil.

Irretroatividade da leiA Lei é editada para reger situações futuras.A Lei pode retroagir?

Em regra não, exceto se existir cláusula expressa de retroatividade.Ou, SIM desde que exista cláusula expressa de retroatividade.A lei não pode violar o direito adquirido, ato jurídico perfeito e a coisa julgada. (art.5 o

XXXVI combinado com art.6o da LICC).

Interpretação das Leis (Hermenêutica)

Interpretar é descobrir o alcance e o sentido da norma jurídica.O intérprete busca a vontade da lei ou do legislador?

Corrente dominante: O intérprete deve buscar a vontade da lei. A vontade do legislador é estática e com o tempo torna-se ultrapassada, ao passo que a vontade da lei é dinâmica e se adapta às vontades sociais.

Quem pode interpretar as leis?JUÍZES: por meio de decisões judiciais. Não é obrigatória porque outros juízes poderão

interpretar diferentemente. Não existe súmula vinculante.DOUTRINA: (Livros, monografias, teses etc.) interpretação doutrinária ou científica.

Nunca é obrigatória.LEGISLADOR: Ao baixar uma Lei interpretativa, chamada interpretação autêntica ou

legislativa.

Page 11: Aula01 NoçõesdeDireito

Profª Renata Leonel Nunes“Direito e Legislação”

e-mail:[email protected]

Meios utilizados na interpretação: os diversos métodos de interpretação não se operam isoladamente, não se repelem reciprocamente, mas se completam.1)Gramatical, literal, semântico ou filológico: sentido literal das palavras. 2)Lógico: desvendar alcance da norma através de raciocínios lógicos Ex: todos os homens são mortais. Pedro é homem. Pedro é mortal.3)Histórico: intérprete perquire as causas que ditaram a sua formação; leva em conta processo legislativo que o antecedeu. (Savigny)4)Sistemático: análise da coerência do sistema; parte do pressuposto de que uma lei não existe isoladamente e deve ser interpretada em conjunto com outras pertencentes à mesma província de direito.5)Teleológico/Sociológico: (Inhering) Atenção do intérprete volta-se para os fins sociais a que a norma jurídica se propõe; visa adaptar a finalidade da norma à realidade social em que vai viger.