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7/25/2019 Aula_2 antropologia
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Estudos SocioantropolgicosAula 1
1. O surgimento da Sociologia e a definio do seu objeto
Em seu livro Aprendendo a pensar com a Sociologia, 2010, Zygmunt Bauman,
salienta a importncia dessa rea de conhecimento ao afirmar que aprender a pensar
sociologicamente significa ampliar o entendimento de ns mesmos, uns dos outros e
dos ambientes sociais em que vivemos. Significa, portanto, ampliar o conhecimento do
mundo em que vivemos. Contudo, se faz conveniente que faamos um questionamento
sobre o que faz com que determinados contedos e prticas sejam identificados como
sociolgicos. Trata-se de pensar ento sobre o que torna a sociologia diferente de
outros corpos de conhecimento e de outras disciplinas, que tm seus prprios
procedimentos.
Nesse sentido, o socilogo francs Emile Durkheim tratou das condies
necessrias para o estabelecimento da Sociologia como disciplina. Em seus estudos o
autor definiu como primeiro pressuposto que uma disciplina s pode ser chamada de
cincia se tiver um campo definido a explorar. Nesse caso, cada cincia deve ter seu
objeto especfico, pois se compartilhasse um objeto com as outras cincias seria
indistinguvel delas.
De acordo com o autor, a cincia trata de coisas, realidades. Se no houver um
material definido a descrever e interpretar, existe um vcuo, impossibilitando o
estabelecimento de uma disciplina. Portanto, se a Aritmtica trata de nmeros, a
Geometria, de espao e figuras, as Cincias Naturais, de corpos animados e
inanimados e a Psicologia, da mente humana, o autor afirma que antes que a Cincia
Social pudesse comear a existir, era preciso atribuir-lhe um assunto definido. (2008,
pg. 17).
Emile Durkheim afirmou que primeira vista, o problema de atribuir um assunto
definido a esta disciplina no apresentaria dificuldades, ao indicar que o assunto da
Sociologia so as coisas sociais, ou seja, as leis, os costumes, as religies, etc. No
entanto, o socilogo chama ateno para o fato de que se olharmos para a maior parte
da histria da Filosofia percebe-se que nenhum filsofo jamais encarara essesassuntos sob essa luz. Segundo o autor, a Filosofia no considerava que os
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fenmenos tinham uma causa social. Ao contrrio, pensavam que todos os fenmenos
dependiam da vontade humana. Por isso, o pensamento filosfico no fora at ento
capaz de visualizar que esses fenmenos so os verdadeiros objetos das Cincias
Sociais1, e como todas as outras coisas da natureza tm suas caractersticas
particulares e consequentemente exigem cincias que possam descrev-los e explic-los.
A abordagem filosfica sobre os fenmenos sociais no tinha como objetivo
conhec-los como realmente so, ou investigar sobre sua natureza e sua origem, mas
dizer o que eles deveriam ser. De acordo com Durkheim (2008), seu objetivo no era o
de oferecer uma imagem da natureza to verdadeira quanto possvel, mas confrontar
nossa imaginao com a idia de uma sociedade perfeita, um modelo a ser seguido.
Assim, o autor esclarece que mesmo Aristteles:
Que dedicou muito mais ateno que Plato experincia, tinha como
objetivo descobrir no as leis da existncia social, mas a melhor forma de
sociedade. Ele parte da suposio de que o nico objetivo de uma
sociedade deve ser obter a felicidade de seus membros por meio da
prtica da virtude, e que a virtude reside na contemplao (Durkheim,
2008, pg. 18).
A partir dessa citao podemos entender que a Filosofia, representada aqui
atravs de Aristteles, no estabelecia seus princpios como uma lei que as sociedades
realmente observam, mas como uma lei que devem seguir para que os seres humanos
possam estar de acordo com sua natureza especfica. Para citar um exemplo, trata-se
de pensar que a Filosofia no investigaria o sistema poltico na sociedade brasileira a
partir de sua realidade especfica, a fim de descrev-lo e interpret-lo, levando em
considerao os aspectos que dele fazem parte como a compra de votos, o
clientelismo, o beneficiamento ilcito, etc. Ao invs disso, o que Durkheim afirma que
o pensamento filosfico at ento estabelecia os princpios da sociedade e de um
sistema poltico, mais especificamente, e definia os meios atravs do qual os indivduos
deveriam orientar suas aes para alcanar esses princpios.
Assim, a Filosofia se voltava para os fatos histricos ou presentes com o objetivo
de julg-los e mostrar como seus prprios princpios poderiam ser adaptados a
diversas situaes. Ignorando a realidade, buscava-se ento um nico propsito:
1A Sociologia, Antropologia e Cincia Poltica so os ramos das Cincias Sociais.
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corrigir ou transformar completamente a sociedade em vez de conhec-la. Como afirma
o socilogo francs, no havia praticamente qualquer interesse no passado ou no
presente, antes disso, olhava-se para o futuro, e uma disciplina que olha para o futuro
carece de um assunto determinado (Durkheim, 2000 pg. 18).
Nesse sentido, j possvel concluir que o socilogo uma pessoa que se
ocupa de compreender a sociedade e no de julg-la ou reform-la. Assim, o mundo
social que at ento no havia se colocado como objeto de estudo cientfico passa a
ser estudado em suas mltiplas dimenses por essa nova disciplina. A Sociologia
uma disciplina que estabelece questes a lanar acerca das aes humanas com o
propsito de produzir um entendimento sobre elas. Nesse sentido, a atividade
sociolgica no uma ao, como salienta Berger (1974), mas uma tentativa decompreenso. Isso significa dizer que nada existe de inerente atividade sociolgica
de tentar compreender a sociedade que leve necessariamente a qualquer tipo de ao.
2. O ofcio do Socilogo e a natureza cientfica de sua atividade
Retomando a proposio de que a Sociologia se volta para o estudo dos
fenmenos sociais, o socilogo ento concebido como uma pessoa que procura
compreender as relaes dos homens em sociedade nos seus mltiplos aspectos:
religioso, poltico, cultural, etc. Se recorrermos seo de Sociologia em uma
biblioteca ser visto uma pluralidade de sociologias. Sociologia Ambiental, Sociologia
do Trabalho, Sociologia da Violncia, Sociologia da Educao, Sociologia Rural,
Sociologia Poltica, Sociologia da Religio, Sociologia de Gnero so alguns exemplos
dos caminhos percorridos pelo pensamento sociolgico desde o seu surgimento.
Dada a complexidade da vida social o socilogo se volta na maioria das vezes
para aspectos de uma determinada realidade e no para a totalidade dos fenmenos
sociais, que englobaria, por exemplo, a sociedade brasileira. Ainda que existam autores
como Roberto DaMatta, que dentre seus muitos trabalhos analisa os aspectos
constitutivos do povo brasileiro, na maioria das vezes os pesquisadores se voltam para
temas especficos e grupos sociais de menor dimenso.
Todavia, a Sociologia no se defronta apenas com o que estamos chamando
aqui de fenmenos sociais ou realidade. Diversamente de outras cincias, ela lida ao
mesmo tempo com as interpretaes que so feitas sobre essa mesma realidade. Isto
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, o conhecimento cientfico da vida social no se baseia apenas no fato, mas na
concepo do fato e na relao entre a concepo e o fato. possvel exemplificar
esse ponto, dizendo que um pesquisador quando define seu objeto de estudo no deve
olhar para a realidade investigada sem se preocupar com o ponto de vista nativo. Pois
a realidade ganha sentido e inteligibilidade no a partir do que o pesquisadormeramente observa, mas a partir de como o grupo social estudado a interpreta, a
explica e, sobretudo, a constri. Portanto, a explicao sociolgica exige que os
fenmenos sociais sejam entendidos tendo em vista a mentalidade do grupo social
estudado. No se trata ento de olhar essa realidade apenas com as categorias de
pensamento do pesquisador.
2.1. Cincias Sociais e senso comum
Como afirma Zygmunt Bauman, aprender a pensar sociologicamente uma
atividade que se distingue por sua relao com o chamado senso comum. De acordo
com o autor, talvez mais ainda que em outras reas de estudo, a relao com o senso
comum , na sociologia, conformada por questes importantes para sua prtica. A
maioria das disciplinas no se supe partilhando terreno suficiente para se preocupar
em traar fronteiras ou pontes com esse conhecimento rico, ainda que desordenado e
no sistemtico, em geral desarticulado, que chamamos de sendo comum. Por isso
devemos entender como se d essa aproximao entre a sociologia e o senso comum,
e de que forma o pensamento sociolgico adquire validade cientfica.
A inexistncia de dilogo entre o senso comum e muitas disciplinas ocorre, de
acordo com o socilogo, porque o senso comum parece nada ter a dizer sobre os
problemas que preocupam fsicos, qumicos e astrnomos. Os assuntos com os quais
essas cincias lidam no se voltam para as experincias cotidianas, nem passam pela
mente de homens e mulheres comuns. Assim, no especialistas em geral no se
consideram aptos a emitir opinies a respeito desses temas. Esses cientistas no
precisam, portanto, competir com o senso comum pela simples razo de que este no
tem pontos de vista sobre as matrias a respeito das quais essas reas se pronunciam.
De acordo com Zygmunt Bauman, no que se refere relao entre a sociologia
e senso comum, h poucos fenmenos limpos e intocados. Os objetos de estudo da
sociologia, que so as aes humanas e as interaes que os socilogos estudam, j
receberam nomes e j foram analisados pelos prprios atores, e, dessa maneira, so
objetos de conhecimento do senso comum. Nesse sentido, o autor nos explica que
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famlias, organizaes, redes de parentesco, vizinhanas, bairros, cidades, igrejas e
qualquer outro agrupamento mantido coeso pelas interaes humanas j se
apresentam com significados e significaes conferidos pelos atores. Por essa razo, a
sociologia est intimamente relacionada ao senso comum. E, estabelecer uma fronteira
entre conhecimento sociolgico e senso comum uma questo muito importante paraa identidade da sociologia.
Ao se dedicar ao estudo dos fenmenos sociais, o socilogo deve ento realizar
essa atividade de maneira disciplinada. O uso de uma metodologia de pesquisa
fundamental para marcar sua diferena com relao ao senso comum. Nesse sentido,
a atividade sociolgica precisa ter e tem uma natureza cientfica. Nesse sentido:
Aquilo que o socilogo descobre e afirma ocorre dentro de um certo quadrode referncia de limites rigorosos. Uma das principais caractersticas desse
quadro de referncia cientfico est no fato de as operaes obedecerem a
certas regras de verificao. Como cientista, o socilogo tenta ser objetivo,
controlar suas preferncias e preconceitos pessoais, perceber claramente
ao invs de julgar normativamente (Berger, 1976, pg. 26).
Para empregar as regras cientficas o socilogo deve-se ocupar de questes
metodolgicas na tentativa de compreender o seu objeto de estudo de maneira mais
neutra possvel. Na medida em que obedece a certos cnones cientficos de conduta, o
socilogo ser capaz de conferir validade cientfica s suas investigaes, pois a torna
isenta de valores. O socilogo, portanto, precisa realizar suas pesquisas tendo em vista
as dimenses tericas e metodolgicas como forma de evitar que seu juzo de valor
seja incorporado aos resultados obtidos. Atravs dessa maneira disciplinada de
observar os fenmenos sociais, trata-se, portanto, de evitar que as paixes, convices
e valores do pesquisador influenciem os resultados obtidos durante o processo de
observao, descrio e interpretao sociolgica. E sendo assim, o pensamento
sociolgico se distingue do senso comum uma vez que se estabelece a partir de bases
cientficas.