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Aulaaovivo Literatura Literatura Colonial 14-11-2014

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  • Este contedo pertence ao Descomplica. vedada a cpia ou a reproduo no autorizada previamente e por escrito. Todos os direitos reservados.

    Material de apoio para Aula ao Vivo

    Literatura Professor: Diogo Mendes

    14/11/2014

    Literatura Colonial Texto 1 Descreve o que era naquele tempo a cidade da Bahia A cada canto um grande conselheiro, Que nos quer governar cabana e vinha, No sabem governar sua cozinha, E podem governar o mundo inteiro. Em cada porta um bem frequente olheiro, Que a vida do vizinho e da vizinha Pesquisa, escuta, espreita, e esquadrinha, Para o levar praa e ao terreiro. Muitos mulatos desavergonhados, Trazidos sob os ps os homens nobres, Posta nas palmas toda a picardia. Estupendas usuras nos mercados, Todos os que no furtam muito pobres, E eis aqui a cidade da Bahia.

    (Gregrio de Matos) Texto 2 Quem deixa o trato pastoril, amado Pela ingrata, civil correspondncia, Ou desconhece o rosto da violncia, Ou do retiro a paz no tem provado. Que bem ver nos campos transladado No gnio do pastor, o da inocncia! E que mal no trato, e na aparncia Ver sempre o corteso dissimulado! Ali respira amor sinceridade; Aqui sempre a traio seu rosto encobre; Um s trata a mentira, outro a verdade. Ali no h fortuna, que soobre; Aqui quanto se observa, variedade: Oh ventura do rico! Oh bem do pobre!

    (Cludio Manuel da Costa)

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    14/11/2014

    Texto 3 Namoro a cavalo Eu moro em Catumbi: mas a desgraa, Que rege minha vida maldada, Ps l no fim da rua do Catete A minha Dulcinia namorada. Alugo trs mil ris) por uma tarde Um cavalo de trote que esparrela!) S para erguer meus olhos suspirando A minha namorada na janela... Todo o meu ordenado vai-se em flores E em lindas folhas de papel bordado... Onde eu escrevo trmulo, amoroso, Algum verso bonito... mas furtado. Morro pela menina, junto dela Nem ouso suspirar de acanhamento... Se ela quisesse eu acabava a histria Como toda a comdia - em casamento... Ontem tinha chovido... Que desgraa! Eu ia a trote ingls ardendo em chama, Mas l vai seno quando... uma carroa Minhas roupas tafuis encheu de lama... Eu no desanimei. Se Dom Quixote No Rocinante erguendo a larga espada Nunca voltou de medo, eu, mais valente, Fui mesmo sujo ver a namorada... Mas eis que no passar pelo sobrado, Onde habita nas lojas minha bela, Por ver-me to lodoso ela irritada Bateu-me sobre as ventas a janela... O cavalo ignorante de namoro, Entre dentes tomou a bofetada, Arrepia-se, pula e d-me um tombo Com pernas para o ar, sobre a calada... Dei ao diabo os namoros. Escovado Meu chapu que sofrera no pagode... Dei de pernas corrido e cabisbaixo

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    14/11/2014

    E berrando de raiva como um bode. Circunstncia agravante. A cala inglesa Rasgou-se no cair de meio a meio, O sangue pelas ventas me corria Em paga do amoroso devaneio!...

    (lvares de Azevedo)

    Texto 4 Iracema (fragmento) Alm, muito alm daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema. Iracema, a virgem dos lbios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da grana, e mais longos que seu talhe de palmeira. O favo da jati no era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hlito perfumado. Mais rpida que a cora selvagem, a morena virgem corria o serto e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande nao tabajara. O p grcil e nu, mal roando, alisava apenas a verde pelcia que vestia a terra com as primeiras guas.

    (Jos de Alencar) Texto 5 O Missionrio (fragmento) Entregara-se, corpo e alma, seduo da linda rapariga que lhe ocupara o corao. A sua natureza ardente e apaixonada, extremamente sensual, mal contida at ento pela disciplina do Seminrio e pelo ascetismo que lhe dera a crena na sua predestinao, quisera saciar-se do gozo por muito tempo desejado, e sempre impedido. No seria filho de Pedro Ribeiro de Morais, o devasso fazendeiro do Igarap-mirim, se o seu crebro no fosse dominado por instintos egosticos, que a privao de prazeres aulava e que uma educao superficial no soubera subjugar. E como os senhores padres do Seminrio haviam pretendido destruir ou, ao menos, regular e conter a ao determinante da hereditariedade psicofisiolgica sobre o crebro do seminarista? Dando-lhe uma grande cultura de esprito, mas sob um ponto de vista acanhado e restrito, que lhe excitara o instinto da prpria conservao, o interesse individual, pondo-lhe diante dos olhos, como supremo bem, a salvao da alma, e como meio nico, o cuidado dessa mesma salvao. Que acontecera? No momento dado, impotente o freio moral para conter a rebelio dos apetites, o instinto mais forte, o menos nobre, assenhoreara-se daquele temperamento de matuto, disfarado em padre de S. Sulpcio. Em outras circunstncias, colocado em meio diverso, talvez que padre Antnio de Morais viesse a ser um santo, no sentido puramente catlico da palavra, talvez que viesse a realizar a aspirao da sua mocidade, deslumbrando o mundo com o fulgor das suas virtudes ascticas e dos seus sacrifcios inauditos. Mas nos sertes do Amazonas, numa sociedade quase rudimentar, sem moral, sem educao... vivendo no meio da mais completa liberdade de costumes, sem a coao da opinio pblica, sem a disciplina duma autoridade

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    14/11/2014

    espiritual fortemente constituda... sem estmulos e sem apoio... devia cair na regra geral dos seus colegas de sacerdcio, sob a influncia enervante e corruptora do isolamento, e entregara-se ao vcio e depravao, perdendo o senso moral e rebaixando-se ao nvel dos indivduos que fora chamado a dirigir. Esquecera o seu carter sacerdotal, a sua misso e a reputao do seu nome, para mergulhar-se nas ardentes sensualidades dum amor fsico, porque a formosa Clarinha no podia oferecer-lhe outros atrativos alm dos seus frescos lbios vermelhos, tentao demonaca, das suas formas esculturais, assombro dos sertes de Guaranatuba.

    (Ingls de Sousa, O Missionrio) Texto 6 O Alienista (fragmento)

    As crnicas da vila de Itagua dizem que em tempos remotos vivera ali um certo mdico, o Dr. Simo Bacamarte, filho da nobreza da terra e o maior dos mdicos do Brasil, de Portugal e das Espanhas. Estudara em Coimbra e Pdua. Aos trinta e quatro anos regressou ao Brasil, no podendo el-rei alcanar dele que ficasse em Coimbra, regendo a universidade, ou em Lisboa, expedindo os negcios da monarquia.

    A cincia, disse ele a Sua Majestade, o meu emprego nico; Itagua o meu universo. Dito isso, meteu-se em Itagua, e entregou-se de corpo e alma ao estudo da cincia,

    alternando as curas com as leituras, e demonstrando os teoremas com cataplasmas. Aos quarenta anos casou com D. Evarista da Costa e Mascarenhas, senhora de vinte e cinco anos, viva de um juiz de fora, e no bonita nem simptica. Um dos tios dele, caador de pacas perante o Eterno, e no menos franco, admirou-se de semelhante escolha e disse-lho. Simo Bacamarte explicou-lhe que D. Evarista reunia condies fisiolgicas e anatmicas de primeira ordem, digeria com facilidade, dormia regularmente, tinha bom pulso e excelente vista; estava assim apta para dar-lhe filhos robustos, sos e inteligentes. Se alm dessas prendas,nicas dignas da preocupao de um sbio, D. Evarista era mal composta de feies, longe de lastim-lo, agradecia-o a Deus, porquanto no corria o risco de preterir os interesses da cincia na contemplao exclusiva, mida e vulgar da consorte.

    D. Evarista mentiu s esperanas do Dr. Bacamarte, no lhe deu filhos robustos nem mofinos. A ndole natural da cincia a longanimidade; o nosso mdico esperou trs anos, depois quatro, depois cinco. Ao cabo desse tempo fez um estudo profundo da matria, releu todos os escritores rabes e outros, que trouxera para Itagua, enviou consultas s universidades italianas e alems, e acabou por aconselhar mulher um regmen alimentcio especial. A ilustre dama, nutrida exclusivamente com a bela carne de porco de Itagua, no atendeu s admoestaes do esposo; e sua resistncia,explicvel, mas inqualificvel, devemos a total extino da dinastia dos Bacamartes.

    Mas a cincia tem o inefvel dom de curar todas as mgoas; o nosso mdico mergulhou inteiramente no estudo e na prtica da medicina. Foi ento que um dos recantos desta lhe chamou especialmente a ateno,o recanto psquico, o exame de patologia cerebral. No havia na colnia, e ainda no reino, uma s autoridade em semelhante matria, mal explorada, ou quase inexplorada. Simo Bacamarte compreendeu que a cincia lusitana, e particularmente a brasileira, podia cobrir-se de "louros imarcescveis", expresso usada por ele mesmo, mas em um arroubo de intimidade domstica; exteriormente era modesto, segundo convm aos sabedores.

    (Machado de Assis, O Alienista)

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    14/11/2014

    Texto 7 A um poeta Longe do estril turbilho da rua, Beneditino, escreve! No aconchego Do claustro, na pacincia e no sossego, Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua! Mas que na forma de disfarce o emprego Do esforo; e a trama viva se construa De tal modo, que a imagem fique nua, Rica mas sbria, como um templo grego. No se mostre na fbrica o suplcio Do mestre. E, natural, o efeito agrade, Sem lembrar os andaimes do edifcio: Porque a Beleza, gmea da Verdade, Arte pura, inimiga do artifcio, a fora e a graa na simplicidade.

    (Olavo Bilac)

    Texto 8 Cavador do Infinito Com a lmpada do Sonho desce aflito E sobe aos mundos mais imponderveis, Vai abafando as queixas implacveis, Da alma o profundo e soluado grito. nsias, Desejos, tudo a fogo, escrito Sente, em redor, nos astros inefveis. Cava nas fundas eras insondveis O cavador do trgico Infinito. E quanto mais pelo Infinito cava mais o Infinito se transforma em lava E o cavador se perde nas distncias... Alto levanta a lmpada do Sonho. E como seu vulto plido e tristonho Cava os abismos das eternas nsias!

    (Cruz e Sousa)