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185 A IMPORTÂNCIA DA MARCAÇÃO ESPAÇO- -TEMPORAL EM AUSTERLITZ (2001), DE W. G. SEBALD THE IMPORTANCE OF MARKING SPACE-TIME AT AUSTERLITZ (2001), BY W. G. SEBALD Elenara Walter Quinhones 1 e Anselmo Peres Alós 2 Resumo: este artigo tem por objetivo discutir a marcação espaço-temporal na obra Austerlitz (2001), de W. G. Sebald. Esta discussão parte da filosofia de Heráclito, baseada na mobilidade universal, para compreensão da me- táfora temporal utilizada na narrativa. Após uma breve contextualização do romance, será feita a análise da obra memorialística aproximando-a ao conceito de aculturação, de Alfredo Bosi (1992), através das culturas em que a personagem tivera contato e como esse conceito auxilia na percepção do tempo e espaço na obra. Procura-se analisar, também, a memória como me- diadora das relações espaço-temporais. Palavras-chave: Austerlitz, Relação espaço-temporal, Narrativa memoria- lística Abstract: this article aims at to discussing the spacial and temporal construction in the novel Austerlitz (2001), by W. G. Sebald. is discussion is based on the philosophy by Heraclitus around the universal mobility for understanding the temporal metaphor used in the narrative. Aſter a brief background of the novel, the analysis of memoirs novel approaching the concept of acculturation developed by Alfredo Bosi (1992), across cultures in which the character had contact, and how this concept helps in the perception of time and space in the novel will be done. is paper also analyzes the memory as a mediator of space-time relationship. Keywords: Austerlitz, Space-time relationship, Memoirs narrative. Heráclito entendia que tudo está em movimento, “[p]ara os que entram 1 Discente do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários/UFSM: elenaraquinhones@ yahoo.com.br. 2 Professor Doutor do Departamento de Letras Vernáculas do Centro de Artes e Letras/UFSM: [email protected].

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    A IMPORTNCIA DA MARCAO ESPAO--TEMPORAL EM AUSTERLITZ (2001), DE W. G.

    SEBALDTHE IMPORTANCE OF MARKING SPACE-TIME AT

    AUSTERLITZ (2001), BY W. G. SEBALD

    Elenara Walter Quinhones1 e Anselmo Peres Als2

    Resumo: este artigo tem por objetivo discutir a marcao espao-temporal na obra Austerlitz (2001), de W. G. Sebald. Esta discusso parte da # loso# a de Herclito, baseada na mobilidade universal, para compreenso da me-tfora temporal utilizada na narrativa. Aps uma breve contextualizao do romance, ser feita a anlise da obra memorialstica aproximando-a ao conceito de aculturao, de Alfredo Bosi (1992), atravs das culturas em que a personagem tivera contato e como esse conceito auxilia na percepo do tempo e espao na obra. Procura-se analisar, tambm, a memria como me-diadora das relaes espao-temporais.Palavras-chave: Austerlitz, Relao espao-temporal, Narrativa memoria-lstica

    Abstract: this article aims at to discussing the spacial and temporal construction in the novel Austerlitz (2001), by W. G. Sebald. + is discussion is based on the philosophy by Heraclitus around the universal mobility for understanding the temporal metaphor used in the narrative. A/ er a brief background of the novel, the analysis of memoirs novel approaching the concept of acculturation developed by Alfredo Bosi (1992), across cultures in which the character had contact, and how this concept helps in the perception of time and space in the novel will be done. + is paper also analyzes the memory as a mediator of space-time relationship.Keywords: Austerlitz, Space-time relationship, Memoirs narrative.

    Herclito entendia que tudo est em movimento, [p]ara os que entram

    1 Discente do Programa de Ps-Graduao em Estudos Literrios/UFSM: [email protected].

    2 Professor Doutor do Departamento de Letras Vernculas do Centro de Artes e Letras/UFSM: [email protected].

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    nos mesmos rios, correm outras e novas guas. Mas tambm almas so exaladas do mido (HERCLITO, 1999, p. 36, frag. 12). Para o ; lsofo pr-socrtico, nada pode permanecer parado, tudo se move, exceto o pr-prio movimento (BORNHEIM, 1999, p. 35). A < uidez de tudo que existe pode ser metaforizada pelo movimento do tempo cronolgico marcado pelo relgio: o ponteiro movimenta-se incessantemente, em um incansvel < uir, mas volta sempre ao ponto de partida. Embora o ponteiro do relgio volte ao local de origem, espacialmente, nunca ser no mesmo instante, pois o tempo j ser outro. Talvez um escrutnio fsico demonstre alte-raes espaciais no prprio local, no caso, o relgio (modi; cao na cor, espessura, di; culdades de movimentao dos ponteiros, etc.). Ou seja, esse retorno nunca igual ao de antes, pois ser sempre um retorno no futu-ro, em outro tempo. Na lgica dialtica, criada por Herclito, o devir da existncia origina-se na mudana que acontece em todas as coisas. Conse-quentemente, a mudana uma alternncia entre contrrios, e somente ela permanente. Na dialtica de Herclito, tese e anttese (ser e no ser) so as contradies permanentes na realidade, posteriormente Hegel basear todo sua lgica na ; loso; a heraclitiana (SANTOS NETO, 2011, p. 140).

    Pode-se situar a obra Austrelitz (2001), de W. G. Sebald, na esteira do pensamento pr-socrtico de Herclito. Todos os elementos intradiegticos apontam para a mobilidade. O narrador viajante , segundo Luciano Gatti (2012, p. 1), um personagem em trnsito, uma vez que suas constantes viagens de Londres Blgica levam-no a conhecer Austerlitz, protagonista da histria. Por sua vez, a personagem principal, professor de arquitetura no Instituto de Histria da Arte em Londres, tambm est sempre se des-locando em funo de seu trabalho. Austerlitz e o narrador, no entanto, tal como o ponteiro do relgio, voltam sempre ao ponto de partida. Quanto a esse retorno do narrador, o que tambm vlido para o protagonista, Gatti menciona: [a] sensao de pro fundo desapego em suas caminhadas solitrias tem um efeito revigorante sobre seu estado emocional debilitado, mas no salva este viajante esco lado de outros contratempos. Assim que retorna, ele mergulha em novo estado melanclico (GATTI, 2012, p. 1).

    Entre o ir e vir do narrador-personagem e de Austerlitz, eles se conhe-cem em Anturpia, no ano de 1960, na sala de espera da estao central. A conversa casual dar incio a uma srie de encontros, alguns ao acaso, ou-tros propositalmente marcados, por ; m ambos travam uma amizade. Aps muitos anos, Austerlitz conta sua histria de vida ao narrador. Ele relata a sua infncia, em uma casa opressiva situada em Bala, no Pas de Gales, e sua fria relao com os pais adotivos, o pregador calvinista Elias e sua es-posa Gwendolyn, que sempre mantiveram distanciamento fsico, afetivo e

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    psicolgico dele. O protagonista menciona que aos doze anos fora enviado para uma escola privada, Stower Grange, e relata como ele aproveitara essa oportunidade para modi; car sua vida. Austerlitz conta-lhe como Andr Hilary, seu professor de Histria, o auxiliou de todas as formas possveis, inclusive quando seu pai adotivo morrera. Aos quinze anos, o rapaz des-cobre que seu verdadeiro nome Jacques Austerlitz, e no Dafydd Elias, como sua famlia adotiva sempre o chamara. Aps uma sucesso de even-tos trau mticos e uma srie de crises, ele procura sua verdadeira identida-de investigando seu passado. Austerlitz descobre que nascera em Praga, e que sua me, gata, uma famosa atriz da poca, fora morta no campo de concentrao de Terezn. Seu pai exilara-se na Frana e perdera contato com a famlia, por causa dos bloqueios nazistas aos meios de comunicao. gata enviara Austerlitz, aos quatro anos, junto a um comboio de crianas para Londres, a ; m de salv-lo da ameaa nazista.

    O estranhamento que a obra de Sebald provoca deve-se tanto estrutu-ra narrativa quanto ao tema abordado. O narrador, que no denominado, mas parece ser o mesmo de Os anis de Saturno: uma peregrinao inglesa (1999), de W. G. Sebald, contar as memrias de Jacques Austerlitz em cin-co longos pargrafos, de maneira entrecortada, nas sucessivas conversas entabuladas por eles. O narrador tem acesso aos documentos pessoais e ao material de pesquisa organizado por Austerlitz que so incorporados ao longo do texto (GATTI, 2012, p. 1). Todas essas manifestaes da me-mria, tais como as fotogra; as e os documentos antigos, continuam guar-dando dentro de si um mistrio. Esse < uxo de narrativa memorialstica apresenta-se alternadamente entre ; co e Histria, entre o real e o imagi-nrio, entre o consciente e o inconsciente. Eis o devir de Herclito: o pre-sente de Austerlitz leva-o, incessantemente, ao seu passado, que retornar ao presente. Mas esse retorno ao presente nunca tal como esse passado era, pois ele vem mesclado entre o real (ou o que teria sido passado) e o imaginrio (ao do presente que faz com que o retorno no seja idnti-co, acrescentado algum elemento a mais), entre a Histria e a ; co, entre o lado racional (consciente) e lado obscuro (inconsciente). Na tentativa do protagonista de juntar os cacos de seu passado fragmentado, ouve-se o eco de vozes silenciadas por acontecimentos que chegam ao grotesco: a Se-gunda Guerra Mundial. Inicialmente, no h meno sobre a guerra, mas quando Austerlitz conta sua histria, atravs da rememorao do passado e a histria da morte de sua me no campo de concentrao de Terezn, ob-serva-se que o objetivo da narrativa expor todos os eventos traumticos ocasionados por ela. Embora Austerlitz seja uma narrativa memorialstica, no h, como em isto um homem? (1947), de Primo Levi, uma narrativa

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    direta sobre a vida no campo de concentrao, mas sim um enfoque nas consequncias deixadas pela guerra na vida dos personagens ligados a ela.

    A narrativa memorialista lana mo das reminiscncias para repensar a busca do homem pela signi; cao da sua existncia, muitas vezes atra-vs das falhas, das lacunas da Histria. Ao acessar o passado, procura-se recompor o prprio universo interior. Quando Austerlitz repensa sua his-tria, ele re< ete a histria de outros. Bakhtin descreve o ato criador e o papel do outro em relao conscincia individual; com essa ; nalidade, ele menciona a exotopia, que poderia ser de; nida como a compreenso de que no se pode ver a si mesmo sem o excedente de viso do outro, que enxergar a incompletude que o prprio ser no v, e a partir dela viver e sentir amor, espanto, piedade, etc. (BAKHTIN, 1997, p. 31). Nesse narrar, o tempo e o espao deixam de ser apenas coordenadas objeti-vas e externas, e passam a ganhar uma dimenso interna, psicolgica. Eles dilatam-se englobando o coletivo de vozes, um ser singular torna-se plural.

    Em Austerlitz, percebe-se que a narrativa explora as marcaes de es-pao-tempo externos, objetivos, para sinalizar as mudanas internas das personagens. A relao entre passado e presente o ; o condutor que tecer a trama. Logo na pgina doze, quando Austerlitz e o narrador esto no restaurante da Estao Central de Anturpia, ao observar o lugar, j quase vazio, restando apenas um cliente, os dois, e a velha senhora atendente atrs do balco, encontra-se o seguinte excerto:

    A propsito dessa senhora, cujo cabelo loiro oxigenado se amon-toava em forma de ninho de pssaros, Austerlitz comentou de pas-sagem que ela era a deusa do tempo passado. E de fato, na parede atrs dela, sob o leo herldico da casa real belga, havia um pode-roso relgio, pea que dominava a sala do buf, no qual um pon-teiro com cerca de dois metros fazia sua ronda em torno de um mostrador antes dourado, mas agora enegrecido pela fuligem da estao e pela fumaa do tabaco. Durante as pausas que entremea-vam nossa conversa, ambos notamos como era interminavelmente longo o tempo que levava para que mais um minuto se passasse, e como cada vez nos parecia assustador, embora o esperssemos, o avano desse ponteiro semelhante a uma espada da justia, quan-do ele subtraa ao futuro a subseqente [sic] sexagsima parte de uma hora com um tremor de tal forma intimidante que o corao quase parava de bater (SEBALD, 2008, p. 12, grifo nosso).

    No fragmento grifado, percebe-se o con< ito entre o tempo cronolgico e a conscincia ntima do tempo (tempo psicolgico) para o narrador-

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    personagem. Todos parecem vtimas do tempo, at mesmo o relgio mostra-se refm deste, visto que est desbotado e enegrecido pela fuligem. Ou seja, o ponteiro volta sempre ao mesmo espao, mas esse espao vai se deteriorando com o tempo e nunca permanece o mesmo. Essa preocupao com a estrutura espao-temporal, metaforizado pelo relgio, parece ser uma estratgia narrativa para contar o impacto psicolgico causado pelo passado traumtico e o presente desestabilizado. Mesmo distante no tempo objetivo da vida da personagem, o trauma do passado continua sempre presente. O mosaico de narrativas, que contam sobre arquitetura, estaes de trem, viagens e fotos, evidencia uma histria particular fragmentada, mas tambm a fragmentao identitria do homem contemporneo. Essa reproduo mimtica causar o efeito esttico da obra.

    Logo aps o trecho supracitado, Austerlitz discorre sobre a histria ar-quitetnica da Estao Central de Anturpia e sua inspirao no Panteo Romano, tal como a Estao de Lucerna. Pela aluso mitologia romana, infere-se que o deus do tempo seria Saturno (ou Cronos, para os gregos), mas o narrador bastante claro quando diz que Austerlitz ; zera um breve comentrio sobre a semelhana da velha senhora com a deusa do tempo. Para entender esse comentrio necessrio repensar a histria de vida de Austerlitz. Ele fora criado em Bala, cidade que ocupa o dcimo primeiro lugar na lista de maiores percentuais de falantes da lngua galesa, no Pas de Gales3. Esta lngua proveniente do gals mdio, que, por sua vez, de-rivou do gals antigo, lngua falada pela cultura celta. Por volta de 900 a. C., os Celtas implantaram-se na Gr-Bretanha e em todas as ilhas ao norte, principalmente na Irlanda. Este povo difundiu ali sua lngua (meio pelo qual se identi; ca o povo cltico, visto que eles no possuem uma unidade poltica) e sua cultura, que permanecem at a atualidade em constante luta pela manuteno de sua identidade cltica4. Os celtas pr-cristos adora-vam diversas divindades, mas o foco de adorao era a deusa-terra local, que possua um nome distinto em cada cl. Para os celtas, a tessitura do

    3 BALA, Gwynedd. In: Wikipdia, a enciclopdia livre. 4 A presso dos falantes de alguma lngua cltica em aliana com os falantes de outras lnguas

    minoritrias ganhou para as lnguas clticas o ttulo de Lnguas Menos Usadas dentro da Unio Europeia, o que, por sua vez, pressionou seus estados a dar um papel mais pblico para essas lnguas nas comunidades onde eram faladas. [...] No entanto, mesmo que as circunstncias polticas e econmicas ; zeram com que as comunidades clticas declinassem, estudiosos internacionais comearam a ter interesse na cultura cltica. Os contedos de manuscritos irlandeses e galeses foram estudados e publicados por pessoas como Eoghan OCurry, Whitley Stokes e Lady Charlotte Guest. J. F. Campbell e Alexander Carmichael, que pesquisaram antigas tradies nativas, que ainda eram vivas nos Highlands da Esccia. Franois Luzel (Fa-ch na Uhel) fez o mesmo na Bretanha (KONDRATIEV, 2010, p. 1).

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    destino de cada homem era feita pelas deusas denominadas Nornes5; a tr-ade representava a deusa do passado Urd, a deusa do presente Verdandi e a deusa do futuro Skuld6. Assim, possivelmente Austerlitz referia-se a Urd no fragmento citado anteriormente. Em um primeiro momento, a associao da personagem com a cultura cltica pode parecer insigni; cante, mas uma anlise nas aes da persona-gem demonstra um profundo conhecimento histrico de diversas culturas. Novamente, pode-se recorrer ao local que Austerlitz crescera; como outras regies europeias, o Pas de Gales sofrera um processo de aculturao. A invaso do Imprio Romano ao mundo celta, cerca de 50 a. C. a 150 d. C. (KONDRATIEV, 2010, p. 1)7, mudou a estrutura dessa sociedade. Os romanos misturaram a adorao dos seus deuses com as divindades celtas. Politicamente e socialmente, os romanos concentraram-se mais em reas urbanas, enquanto no interior os celtas mantiveram suas tradies. A par-tir de 400 d. C. at 1150 d. C., o cristianismo estabeleceu-se e, novamente, os mitos celtas tiveram de adaptar-se. Alguns elementos ritualsticos cl-ticos ainda hoje se encontram presentes nos rituais cristos (KONDRA-TIEV, 2010, p. 1)8. Para Alfredo Bosi, a aculturao provm do contato en-tre sociedades distintas e pode ocorrer em diferentes perodos histricos, mas nesse processo sempre ocorrer sujeio social (BOSI, 1992). Alm de conhecimento histrico, a personagem demonstra ao longo do romance que est inserido dentro dos padres culturais que tivera contato na in-fncia, conforme exposto no trecho a seguir, em que Austerlitz comenta:

    [...] eu passava cada momento livre com Evan, o sapateiro, cuja o; cina ; cava perto da casa do pregador e que tinha a fama de ver fantasmas. Com Evan aprendi tambm o gals num piscar de olhos, porque eu gostava muito mais das suas histrias do que dos interminveis salmos e ditados bblicos que eu tinha de aprender de cor para a escola dominical. Ao contrrio de Elias, que sempre relacionava doena e morte com provao, castigo justo e culpa, Evan contava histrias de mortos fulminados pelo destino de forma extempornea, que sabiam ter sido fraudados

    5 Parcas (L. Parcae). Divindades do destino em Roma, identi; cadas com as Moiras [tropos, Clot e Lquesis] dos gregos e dotadas gradualmente de todos os seus atributos. [...] Elas apareciam como ; adeiras ; xando a durao da vida humana. [...] Seus nomes eram Nona, Dcuma e Morta (KURY, 2008, p. 306).

    6 Nornas ou Nornes Deusas nrdicas do destino. Eram trs: Urd, Verdandi e Skuld, que representam respectivamente o passado, o presente e o futuro (DIAS, 2007, p.73, grifo do autor).

    7 KONDRATIEV, Alexei. Os Celtas sob o domnio romano (50 a.C.-450d.C.). 8 KONDRATIEV, Alexei. Incio do Cristianismo cltico (400-1150d.C.).

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    da parte que lhes cabia e tentavam regressar vida. Quem tives-se olhos para eles, disse Evan, podia v-los com freqncia [sic] (SEBALD, 2008, p. 57).

    Austerlitz perdeu seu passado; ele vivera em uma casa que no era a sua, foi inserido em uma famlia e em uma cultura totalmente diferente da sua famlia e da cultura tcheca. Ele, no entanto, s pode ser quem atravs do contato que tivera com o pregador Elias e sua repressiva educao, da quase indiferena da esposa do pregador e das conversas com Evan, que lhe mostrara outra forma de religiosidade e outra cultura. Essas mesclas culturais produzem a riqueza da histria do protagonista, ou seja, todo seu presente depende desse passado que lhe foi imposto pelo infortnio. As reaes psicolgicas que Austerlitz desenvolveu na vida adulta esto forte-mente ligadas com sua infncia e com o lugar em que crescera, por isso a importncia do tempo, como pode ser observada no seguinte fragmento:

    Somente nos atendo ao curso prescrito pelo tempo ramos ca-pazes de percorrer s pressas os gigantescos espaos que nos se-paravam uns dos outros. Sem dvida, disse Austerlitz aps um instante, a relao entre espao e tempo, tal como percebemos ao viajar, tem at hoje algo de ilusionista e ilusrio, razo pela qual sempre que voltamos de viagem nunca sabemos com certe-za se de fato estivemos fora. Desde o incio me surpreendeu o modo como Austerlitz dava corpo a suas idias [sic] no prprio ato de falar, como era capaz de desdobrar as frases mais harmo-niosas a partir daquilo que lhe ocorria no momento, e como a transmisso de seu conhecimento atravs da fala constitua para ele a gradual aproximao a uma espcie de metafsica da his-tria, na qual os fatos relembrados tornavam novamente vida (SEBALD, 2001, p. 16-17, grifo nosso).

    A primeira parte grifada demonstra a dissonncia entre espao e tem-po, talvez originada pelo fato de que podemos voltar no espao (mesmo que ele esteja mudado em alguma medida), mas no no tempo (que mo-vimento, mudana, devir). J a segunda parte grifada pode ser associada a algumas experincias que so impregnadas por fortes componentes emo-cionais, que, quando rememoradas, potencializam sensaes, tornando os sentimentos to vvidos que daro a iluso de estarem ocorrendo no presente. No caso de Austerlitz, as lembranas emergem do seu incons-ciente de maneira abrupta e irrompem em uma dolorosa crise nervosa, conforme o fragmento: [d]amos quase todos os passos decisivos na nossa

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    vida fora de um impulso interior obscuro (SEBALD, 2008, p. 135). O protagonista encarcerava-se dentro de si mesmo e seu contato com o mun-do estava cada vez mais reduzido; suas aes pareciam movidas mais pelo inconsciente (interior obscuro) que pela razo.

    A tentativa de trazer o passado tona, e fracassar nesse intento, causava-lhe angstia e a< io. Austerlitz conta ao narrador que, aps aposentar-se, costumava caminhar longas distncias noite em Londres, tentando se libertar da ansiedade e da insnia. Em uma manh de domingo, de 1991, na Liverpool Street Station, local que irresistivelmente atraa Austerlitz, ele sentara em um banco e repensava a histria arquitetnica da estao de trem. Relembrara que, no sculo XVII, localizava-se ali um mosteiro e um hospital de alienados, lembrara que nas escavaes de 1984 encontraram-se mais de quatrocentos esqueletos, pensara nos miserveis que viviam ao redor da estao e em como foram retirados fora para a construo das linhas da ferrovia. Sentia a presena dos mortos, como se estivessem junto dele. O que pode ser entendido como uma sobreposio de diferentes temporalidades em um mesmo espao. Ao andar pela estao, ele v-se em frente ao Ladies Waiting Room, j em desuso; ao abrir a porta e adentrar na pea, que no fora reformada como o restante da estao, ele tem um colapso nervoso e as cenas de seu passado vm ; nalmente tona:

    [...] a sala de espera em cujo centro me achava como que des-lumbrado continha todas as horas de meu passado, todos meus medos e desejos sempre reprimidos e sufocados, como se os lo-sangos em preto-e-branco das lajotas de pedra sob meus ps fos-sem o tabuleiro para a partida ; nal da minha vida, como se ele se estendesse pela superfcie inteira do tempo. Talvez por isso eu visse tambm na penumbra da sala duas pessoas de meia-idade vestidas moda dos anos 30, uma mulher com um casaco leve de gabardine e um chapu assentado de vis sobre o penteado e ao seu lado um senhor magro com um terno escuro e um co-larinho de pastor. Eu no vi somente o pastor e a mulher, disse Austerlitz, mas tambm o garoto que eles tinham vindo pegar. Estava sentado sozinho em um banco parte. As suas pernas, metidas em meias trs-quartos brancas, ainda no alcanavam o cho e, no fosse pela mochilinha que ele segurava abraado no colo, imagino que no o teria reconhecido, disse Austerlitz. Mas, assim o reconheci, por causa da mochilinha, lembrei-me de mim mesmo no instante em que me dei conta de que deve ter sido nessa mesma sala de espera que eu havia chegado Ingla-terra mais de cinqenta [sic] anos antes (SEBALD, 2008, p. 138).

    Um contraponto interessante pode ser feito analisando, novamente, a

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    cultura cltica. As tradicionais comunidades clticas viam a ordem presente de suas vidas como sendo estruturada na experincia do passado. Para eles, os eventos ocorridos no passado guiam as aes do presente. Assim, era de suma importncia a manuteno do conhecimento precedente, que deveria ser repassado de forma sistemtica. Para os celtas, era inapropriado escrever sobre assuntos sagrados, ento eles utilizavam dispositivos mnemnicos, um dos quais seria transformar o conhecimento em versos para facilitar a memorizao. Outro dispositivo era tratar o lugar fsico como um grande livro, associando cada caracterstica da paisagem com um evento que teria acontecido ali, de modo que olh-lo desencadearia a memria, que seria capaz de conjurar uma histria, ou um verso descrevendo um evento. Na antiga Irlanda, isto levou ao desenvolvimento de um campo de conhecimento denominado dinshenchas (em Irlands Moderno:dinnsheanchas), o conhecimento dos lugares (KONDRATIEV, 2010, p. 1)9.

    Austerlitz no se lembrava de sua infncia; entretanto, segundo o ma-nual Merck de Medicina, muito comum pessoas que passaram por situa-es traumticas desenvolverem amnsia dissociativa:

    uma incapacidade de recuperar informao pessoal impor-tante, geralmente de natureza estressante ou traumtica, a qual muito generalizada para que possa considerar-se como um esquecimento individual. A perda de memria inclui, de um modo geral, informao que faz parte do conhecimento cons-ciente habitual ou memria autobiogr; ca (quem , o que fez, onde foi, com quem falou, o que disse, pensou e sentiu, etc.). H ocasies em que a informao, embora esquecida, continua a in< uenciar o comportamento da pessoa. [...] registraram-se algumas lacunas de memria que envolve anos, ou, inclusive, a vida inteira. [...] A amnsia pode ocorrer depois de um aconte-cimento traumtico e a memria pode recuperar-se com o tra-tamento, com acontecimentos posteriores ou com a informao que a pessoa recebe (MERCK, 2009, p. 1).

    Segundo a mitologia cltica, ao rever a parte mais antiga da estao de trem, possivelmente Austerlitz recebera uma carga de informao mnem-nica guardada no local, que desencadeara suas lembranas de infncia. Em-bora esse argumento esteja em um mbito mtico-ritualstico, faz-se neces-srio frisar que a personagem evidenciou esse tipo de conhecimento, confor-me citado anteriormente. Mas tambm possvel associar o fato do colapso

    9 KONDRATIEV, Alexei. Conhecimento da comunidade: a memria dos lugares.

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    nervoso com a recorrncia arquitetura na obra. Esta ltima serve como depositria da memria, visto que a arquitetura funciona como registro do tempo no estilo das construes. Em sua [Austerlitz] meditao histrica, o tempo presente no se faz sem esses vestgios em vias de desaparecimento (GATTI, 2012, p. 1). Ao observar a estao, espao fsico e externo, uma s-rie de associaes pode ter evocado diversas rememoraes ao protagonista, que, provavelmente pelo trauma da separao, haviam sido esquecidas.

    Aps recuperar-se desses acontecimentos, Austerlitz de; nitivamente encontra elementos de seu passado. Finalmente descobre sua origem tcheca e a histria de sua famlia. A personagem regressa Praga e reencontra Vera, que fora sua bab e lhe contar os detalhes da invaso nazista e como ocorrera a morte de sua me e o exlio do seu pai. Novamente o romance passar a se recon; gurar, a fragmentao inicial, semelhante a um quebra-cabea, encaixar-se- perfeitamente. Todos os elementos histricos anteriormente citados faro sentido na completude da obra. Quanto s personagens, conforme citado por Gatti,

    [n]o mais pela vida prtica que os eventos histricos os afe-tam. Seria ainda mais acertado dizer que, posteriormente, pela recordao, escuta e narrao, esses indi vduos se descobrem como atingidos pela histria. O desconhecimento de Austerlitz a respeito de sua origem um exemplo notvel, mas no se res-tringe sua singularidade biogr; ca (GATTI, 2012 p. 1).

    Consideraes # nais

    O grande relgio da estao de Anturpia pode ser compreendido como metfora de toda a narrativa, pois ele apontar as sucessivas reitera-es espao-temporal que se percebe no romance, j na primeira orao da narrativa: [n]a metade dos anos 60, viajei com freqncia [sic] da Ingla-terra Blgica [...] (SEBALD, 2008, p. 7). Tanto o narrador quanto Aus-terlitz usam repetidamente datas e locais; essa marcao espao-temporal constante assemelha-se a dois grandes dirios, ou relatos de viagem, encai-xados um no outro, ocasionando o efeito mise-en-abme: a histria contada pelo narrador, que inclui a histria de Austerlitz, que incluir a histria de outras personagens, sucessivamente.

    O relgio simbolizar, tambm, o tempo psicolgico das personagens da narrativa. Seu aspecto gasto remete ao passado, mas o movimento dos pon-teiros (suas funes) remete ao futuro: nele, o passado apreende o futuro. As-sim como na histria de Austerlitz, no seu passado estaria a resposta para seu

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    futuro incerto e fragmentado, conforme ele menciona no seguinte excerto:Desde minha infncia e minha juventude, [...] eu nunca soube quem na verdade sou. Do meu ponto de vista atual, claro, sei que meu nome e o fato de que esse nome me foi ocultado at os quinze anos j deveriam ter me posto na trilha das minhas origens, mas nos ltimos tempos tambm me ; cou evidente a razo pela qual uma instncia preposta ou superior minha capacidade de pensamento, e que claramente reina em algum ponto do meu crebro com a maior circunspeco, sempre me preservou do meu prprio segredo e impediu sistematicamente que eu tirasse as concluses mais bvias e precedesse s indaga-es por elas suscitadas (SEBALD, 2008, p. 48).

    Em ltima instncia, a arquitetura ao redor do relgio da estao indi-car a relao da personagem com o passado histrico tanto do local que vivera, quanto das culturas mticas que prezam a memria como elemento mediador entre passado e futuro.

    Percebe-se a importncia da con; gurao espao-temporal na trama criada por Sebald. O romance oscila na marcao do tempo psicolgico e objetivo, espao real e espao imaginrio. Novamente, pode-se recorrer ; loso; a heraclitiana; segundo Nietszche: [o] dom real de Herclito a sua faculdade sublime de representao intuitiva; ao passo que se mostra frio, insensvel e hostil para a razo (NIETZSCHE, 2012, p. 10). A construo de Austerlitz deve ser compreendida com a intuio, pois a fragmentao da histria, a quase ausncia de paragrafao e a falta de linearidade do narrador impedem uma leitura puramente racional. Nietzsche explica que:

    [...] a representao intuitiva [de Herclito] engloba dois aspectos diferentes: o primeiro o mundo presente, colorido e em mu-dana, que se comprime nossa volta em todas as experincias, e portanto, as condies que tornam possvel a experincia deste mundo, isto , o tempo e o espao. Pois se o tempo e o espao existem sem contedo de; nido, podem ser apercebidos indepen-dentemente de toda a experincia, de maneira puramente intui-tiva. Neste modo de considerao do tempo, desligado de todas as experincias, Herclito tinha o monograma mais instrutivo, que resume tudo o que se encontra no domnio da representao intuitiva. A sua concepo do tempo , por exemplo, a de Scho-penhauer, para o qual cada instante do tempo s existe na medida em que destruiu o instante precedente, seu pai, para bem depressa ser ele prprio tambm destrudo; para ele, o passado e o futuro so to vos como qualquer sonho, e o presente unicamente o li-

    A importncia da marcao espao-temporal em Austerlitz...

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    mite, sem extenso nem consistncia, que a ambos separa. Como o tempo, tambm o espao, e, como este, tambm tudo o que nele e no tempo existe s tem uma existncia relativa, s existe para um outro, a ele semelhante, quer dizer, que no tenha mais permanncia do que ele. Eis uma verdade de evidncia imediata, acessvel a todos e, justamente por isso, difcil de atingir pela via dos conceitos e da razo (NIETZSCHE, 2012, p. 11).

    O presente de Austerlitz fragmentado e, nos vos dos fragmentos, < ui seu passado recndito. Um passado doloroso, mas que ao ser enfrentado dar esperana para o futuro. Aps conhecer seu passado, Austerlitz inicia a busca por seu pai na Frana. Talvez seja uma iluso reencontr-lo, mas, ao que tudo indica, Austerlitz s consegue existir na constante mobilidade entre passado/futuro. A; nal, conforme Herclito: [t]udo se faz por contrastes; da luta dos contrrios nasce a mais bela harmonia (HERCLITO, 1999, p. 36, frag. 8).

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    Recebido em: 30/06/2014. Aceito em: 21/07/2014.

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