16
5 Prefácio à 2ª edição O Relato do Peregrino Um Livro muito especial. Santo Inácio não o escreve, dita-o. Não se trata de uma Biografia literariamente trabalhada e completa. Também não é um livro de memórias, mas de um coração aberto, lúcido e agradecido que conta a sua his- tória. É uma história com Deus, um desafio de luta e entrega, uma larga e aventurosa peregri- nação interior e exterior, em constante diálogo de Graça e Liberdade que conduziu o narrador, Inácio de Loiola, desde a sua Conversão (teria então uns 30 anos) até um ou dois anos antes da sua morte (1556, aos 65 anos), então Superior Geral da Companhia de Jesus, já fundada em 1540, em Roma. Os seus Companheiros e em especial o Pe. Na- dal tinham insistido muito com ele para que dei- xasse escrita a sua vida, vida do fundador como alicerce, documento essencial à fundação e de- senvolvimento da Companhia. Mas Inácio tinha sempre presente que não fundara sozinho. Resis- tiu primeiro longamente até que num particular

Autobiografia de S. Inácio

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Excerto da obra «Autobiografia de S. Inácio», ed. Apostolado da Oração, Braga 2014

Citation preview

  • 5Prefcio 2 edio

    O Relato do Peregrino

    Um Livro muito especial. Santo Incio no o escreve, dita-o. No se trata de uma Biografia literariamente trabalhada e completa. Tambm no um livro de memrias, mas de um corao aberto, lcido e agradecido que conta a sua his-tria. uma histria com Deus, um desafio de luta e entrega, uma larga e aventurosa peregri-nao interior e exterior, em constante dilogo de Graa e Liberdade que conduziu o narrador, Incio de Loiola, desde a sua Converso (teria ento uns 30 anos) at um ou dois anos antes da sua morte (1556, aos 65 anos), ento Superior Geral da Companhia de Jesus, j fundada em 1540, em Roma. Os seus Companheiros e em especial o Pe. Na-dal tinham insistido muito com ele para que dei-xasse escrita a sua vida, vida do fundador como alicerce, documento essencial fundao e de-senvolvimento da Companhia. Mas Incio tinha sempre presente que no fundara sozinho. Resis-tiu primeiro longamente at que num particular

  • 6Autobiografia de Santo Incio de Loiola

    momento de luz interior e devoo se determinou faz-lo, tendo escolhido o Pe. Lus Gonalves da Cmara para o ouvir e escrever o testemunho da sua vida. Faziam-no passeando. O processo foi longo, com frequentes adiamentos e largas in-terrupes para atender a afazeres mais urgentes. Incio foi relatando o percurso daquele Peregri-no, apaixonado buscador da vontade de Deus; e assim se identificando, foi falando dele mesmo com toda a objectividade, em terceira pessoa. Comea o texto: At aos 26 anos foi homem en-tregue s vaidades do mundo e principalmente se deleitava no exerccio das armas e vo desejo de ganhar honra. E termina: O mtodo que tinha para redigir as Constituies era dizer missa cada dia, apresentar a Deus o ponto que tratava e fazer orao sobre ele. E sempre fazia a orao e dizia missa com lgrimas. O Relato do Peregrino tem um sabor b blico: uma histria de salvao comunicada aos vindou-ros por tradio oral. E podemos entrar nele, mais do que contemplando um auto-retrato, como quem abre um lbum de fotografias que permi-te visualizar e comentar uma vida, um percurso de comunho e misso, maneira dos discpulos de Emas. Santo Incio conta a histria de como Deus o conduziu e, levando-o pela mo como um mestre ao seu discpulo, o fez entrar no seu inson-

  • 7Prefcio 2 edio

    dvel mistrio e dar resposta questo que desde sempre ardia no seu corao: que fazer?. Assim se desdobra tambm diante do leitor um desafio a que no se pode ser indiferente: que fiz, que fao, que farei por Ti? o Exame de Cons-cincia inaciano. Ao desfolhar esse lbum, cada um pode ver com simplicidade os Exerccios Espirituais a to-marem corpo nas variadas formas, pessoais e co-munitrias, em que a espiritualidade inaciana se pode concretizar. Alis, o exerccio de escrever (e contar) a prpria Autobiografia hoje aconselha-do como ponto de partida para uma saudvel pe-dagogia da f, para quem quiser ir mais longe na realizao discernida da sua vocao e na alegria de se reconhecer como um filho muito amado. O emotivismo individualista com que a so-ciedade e a cultura ocidental nos envolvem dei-xam-nos sem sentido de pertena e sem objecti-vos. Mas Santo Incio, pioneiro num tempo de to grande crise como foi o seu, neste livrinho, aponta-nos um caminho de reencontro e liberta-o. Ser peregrino. Em vez de andar por a como turista iludindo a vida com presentismos prec-rios, no reino do desencanto. No por a. Mas, na esteira dos grandes peregrinos, desde Abrao e Moiss a S. Paulo, passando por Teresa de vila, Pedro Arrupe e tantos outros, a voz sempre a

  • 8Autobiografia de Santo Incio de Loiola

    mesma: sai da tua terra, sai da tua escravido e vai. Vem! Aonde eu te indicar. No final da sua vida, Santo Incio no se sen-tou lareira desfiando as suas memrias. Mas, consciente de onde a sua peregrinao o tinha levado, passeia reconciliado e, olhando para trs, interpreta a sua vida luz paciente do amor de Deus. E relatando-a revelou aos seus amigos e companheiros o fio por onde esse mesmo amor, atravs de mltiplas tenses e tentaes, venturas e desventuras, o conduziu. Pode ento dizer-se que a Autobiografia inacia-na um exemplar exerccio espiritual para quem quiser, na alternncia de consolaes e desolaes, entender a histria de Deus consigo e os caminhos por onde o desafia.

    Vasco Pinto de Magalhes, s.j.

  • 9ALGUMAS NOTAS PRVIAS

    Primeira Em tradues de textos antigos, como acontece com a desta Autobiografia (no caso, espanhol e italiano do sculo XVI), apresen-tam-se duas opes (ou porventura outras). Pri-meira: tentar modernizar a maneira de escrever da poca em questo. Segunda: conservar o estilo e a maneira de falar, ainda que, evidentemente, com as adaptaes necessrias compreenso do texto. Ns optmos pela segunda, por nos parecer que isso corresponderia melhor ao esprito do tex-to, tal qual ele foi escrito, dentro de determinada poca e mentalidade.

    Segunda A designao de Autobiografia dada narrao que Santo Incio fez da sua vida, foi dada pela primeira vez por J. F. OConnor em Nova Iorque, em 1900, tendo sido seguido por outros na Alemanha, Espanha e Itlia.

    Terceira As 13 Adies feitas pelo P. Gonal-ves da Cmara devem ter sido acrescentadas mais

  • 10

    Autobiografia de Santo Incio de Loiola

    tarde. Infelizmente, nem nos arquivos de Portu-gal nem da Itlia foi encontrado texto original. As Adies sero postas sempre entre colchetes e em itlico, para as distinguir do resto do texto.

    Quarta No podemos duvidar do valor his-trico da Autobiografia. Por vrias afirmaes do P. Lus da Cmara, sabemos que ele foi absoluta-mente fiel ao que ouviu de Santo Incio, no s pela excelente memria que tinha (segundo teste-munha o P. Nadal), mas tambm pelo rigor que ps em reproduzir o que Santo Incio lhe disse e como lho disse. Diz-nos ele: He trabajado de nin-guna palabra poner, sino las que he odo al Padre (Esforcei-me por escrever somente as palavras que ouvi ao Padre).

  • 11

    INTRODUO1

    D-se com toda a justia o nome de Auto-biografia (ainda que ao longo da histria tenha aparecido sob outras designaes), ao relato que Santo Incio fez da sua vida ao P. Lus Gonal-ves da Cmara2. Santo Incio no escreveu as suas memrias de sua prpria mo, mas a reproduo das suas palavras to fiel, que como se ele as

    1 Resumo da que escreveu o P. Cndido Dalmases S.I., para a edio da Autobigrafia, nas Obras Completas de Santo Incio, BAC, 1952. Usaremos a reedio desta obra feita em 1997, com as respectivas notas, completadas com as do P. Larraaga, BAC, 1947. 2 O P. Lus Gonalves da Cmara nasceu, em Lisboa, por volta do ano 1519 e morreu em 1575. Entrou na Com-panhia de Jesus em Lisboa, no dia 27 de Abril de 1545. Chegou a Roma a 23 de Maio de 1553, onde recebeu o cargo de Ministro da casa, e aqui permaneceu at Outubro de 1555, data em que saiu para Portugal. Voltou em 1558, j depois da morte de Santo Incio, para participar na pri-meira Congregao Geral, na qual foi eleito assistente de Portugal. Em 1559, teve que regressar sua ptria, a pedido da Corte Portuguesa, para se encarregar da formao do rei D. Sebastio.

  • 12

    Autobiografia de Santo Incio de Loiola

    tivesse escrito. O P. Cmara e outros historiado-res dizem que Santo Incio as ditou e que o seu confidente as tomou dos seus lbios; expresses estas que nos revelam que este relato, ainda que traado por pena alheia, conserva toda a esponta-neidade de uma verdadeira autobiografia. Santo Incio, nos seus ltimos anos, concre-tamente entre 1553 e 1555, acedendo aos reite-rados pedidos dos seus filhos, decidiu finalmente referir-lhes o percurso da sua vida, mas no de toda. O relato vai somente at ao ano de 1538, quando o governador de Roma concedeu senten-a favorvel em seu favor e dos seus companhei-ros3. A partir desta data, s temos algumas breves notas sobre as obras de apostolado fundadas ou promovidas pelo Santo em Roma e uma breve in-dicao sobre o modo como escreveu os Exerccios e as Constituies. Porque que Santo Incio terminou aqui a sua narrao? possvel que tenha sido porque o resto da sua vida era perfeitamente conhecido pelos seus companheiros. Mas a razo principal deve buscar-se na rpida partida do confidente, P. Cmara, no dia 23 de Outubro de 1555. No prlogo que este escreveu (ver adiante) lemos como quis aproveitar at s ltimas horas da sua

    3 Ver n. 98 desta Autobiografia.

  • 13

    Introduo

    permanncia em Roma, mas a partida impediu-o de continuar. Embora seja de lamentar que o re-lato autobiogrfico no se tenha prolongado at aos ltimos anos da vida do santo, aquilo que nos deixou de capital importncia para conhecer a evoluo interior de Santo Incio e a gnese da Companhia de Jesus. A Autobiografia o fruto do natural desejo que sentiram os mais ntimos colaboradores de Santo Incio de conhecer os pormenores da vida do seu pai espiritual. Em 1546, o jovem Riba-deneira4 mostrou desejos de escrever a vida do fundador. Um ano mais tarde, o P. Joo de Polan-co pediu ao P. Diogo Lanez que lhe revelasse os factos da vida de Santo Incio, que ele conhecia muito bem. Mas entre todos os que desejaram conhecer a vida do santo, distingue-se o P. Nadal que teve a coragem de se dirigir directamente ao fundador,

    4 Pedro Ribadeneira, espanhol (Toledo, 1.12.1526-Ma-drid, 22.9.1611). Em Roma, foi pajem do cardeal A. Far-nesse. Em 18 de Setembro de 1540 entrou para a Com-panhia. Ordenado sacerdote em 1553, foi enviado para a Blgica, em 1555, para a fundar a Ordem. Foi provincial da Etrria, comissrio na Siclia, assistente do geral e su-perior dos jesutas em Roma. Regressando a Espanha em 1570, dedicou-se a escrever. Pela sua linguagem lmpida e castia, considerado um dos clssicos da lngua castelhana.

  • 14

    Autobiografia de Santo Incio de Loiola

    pedindo-lhe que contasse a sua vida. Pode-se assegurar que se hoje temos a Autobiografia, o devemos ao P. Nadal. Este pretendia dar assim um modelo Companhia, porque pensava que a vida de Santo Incio era o fundamento da mesma Companhia (ver prlogo do P. Cmara, n. 4). Os prlogos do P. Nadal e do P. Cmara, que antepomos Autobiografia, referem-nos a ma-neira como ela foi escrita. O P. Lus da Cmara diz-nos que Santo Incio se decidiu a narrar a sua vida, movido por um impulso interior, falando de maneira que mostrava ter-lhe Deus concedido grande clareza em dever faz-lo (prlogo, n. 1) e que tinha determinado que fosse a ele que desco-brisse estas coisas. A partir de ento, o P. Cmara foi-lhe recordando todos os dias o seu compro-misso, at que em Agosto de 1553, o santo deu incio sua narrao. Santo Incio no referiu a sua vida ao P. C-mara de uma s vez, mas em trs ocasies, sepa-radas entre si por um longo perodo de tempo. A primeira, de Agosto a Setembro de 1553; a se-gunda, em Maro de 1555; a terceira em Setem-bro-Outubro do mesmo ano (n. 4-5 do prlogo). A ltima conversa com Santo Incio teve lugar entre os dias 20 e 22 de Outubro de 1555, vs-pera da partida do P. Lus da Cmara. Este, por causa da pressa, no teve tempo suficiente para

  • 15

    Introduo

    redactar as suas notas em Roma, e viu-se forado a deixar esse trabalho para Gnova, donde embar-caria para Portugal. Por no dispor, em Gnova, de amanuense espanhol, foi obrigado a dit-las em italiano. esta a razo da passagem brusca para esta lngua, a partir do n. 79. O relato inaciano tem todas as garantias de fidelidade e veracidade. Conhecemos o modo de contar as coisas usado pelo santo, que com tan-ta clareza, que parece que torna a pessoa presente em tudo aquilo que se passou. Por seu lado, o P. Cmara, que tinha muito boa memria, uma vez ouvido o relato de Incio, ia imediatamente escrev-lo, primeiro em pontos da minha mo e depois mais longamente, como est escrito (prlogo, n. 3). A fidelidade estende-se s prprias palavras: Esforcei-me por no pr nenhuma palavra a no ser as que ouvi do Padre, e se alguma falta houve foi que, para no me desviar das palavras do Pa-dre, no pude explicar bem a fora delas (ib.). O prprio desalinho do estilo, nos leva convico de que no s os factos narrados, mas tambm as prprias palavras so de Incio5.

    5 E ditava passeando, como sempre tinha feito antes (Prlogo do P. Cmara, n.5). A palavra ditar no tem aqui o sentido que ns lhe damos, como pode ver-se por aquilo

  • 16

    Autobiografia de Santo Incio de Loiola

    Possumos na ntegra o relato de Incio? No h razes para duvidar que sim. Mas temos moti-vos para pensar que falta algo no princpio, j que Santo Incio contou ao seu confidente toda a sua vida e as travessuras de mancebo, clara e distinta-mente com as circunstncias (prlogo, n. 2), e Cmara encerra todo este perodo da juventude de Iigo na afirmao geral com que d incio sua narrao: At aos vinte e seis anos de idade, foi homem dado s vaidades do mundo, e deleita-va-se principalmente no exerccio das armas, com um grande e vo desejo de ganhar honra. Em relao aos factos narrados na Autobio-grafia nota-se uma grande diversidade. Encontra-mos tanto factos externos da vida de Incio, como fenmenos internos da sua vida mstica de unio com Deus. H episdios secundrios referidos com muitos pormenores e, pelo contrrio, chama a ateno o silncio sobre factos importantes. Por exemplo, entre os muitos dados que encontramos sobre a vida de Santo Incio em Manresa, falta toda a indicao sobre a composio dos Exerc-cios, da qual s se d uma ligeira insinuao no

    que o mesmo P. Cmara nos diz no seu prlogo, n.3, acerca do modo como foi composta a Autobiografia. Noutras oca-sies usa outras palavras: comeou-me a dizer toda a sua vida (ib.n.2), o modo que o Padre tem de narrar (ib.n.3).

  • 17

    Introduo

    fim do livro, j fora da narrao cronolgica dos factos (n. 99). O que dissemos sobre a exactido e fidelidade da Autobiografia no deve aplicar-se do mesmo modo s notas marginais que o P. Cmara escre-veu mais tarde e que no texto colocamos entre colchetes e em itlico, como j dissemos. Ao fa-lar da verdade histrica deste documento, pode perguntar-se se foi sujeito reviso de Santo In-cio; mas esta pergunta s se pode fazer acerca da parte escrita em castelhano, a nica que o P. Lus da Cmara redigiu em Roma. H umas palavras no prlogo do P. Cmara que nos levam a pen-sar que Santo Incio nem sequer soube que o seu confidente ia pondo por escrito aquilo que ele lhe contava. Afirma ele que, depois de ouvir o Santo, vinha logo imediatamente a escrev-lo, sem di-zer nada ao Padre, primeiro em pontos da minha mo (prlogo, n. 3). Sabemos, contudo, por testemunho do P. Ri-badeneira, que se fizeram cpias da Autobiogra-fia antes de o P. Cmara ter sado de Roma, no dia 23 de Outubro de 1555, e que Santo Incio mandou que se desse uma ao P. Ribadeneira. Se assim , no parece improvvel que Santo Incio tenha visto o escrito do P. Cmara. Contudo, no temos provas de que o corrigisse ou revisasse.

  • 18

    Autobiografia de Santo Incio de Loiola

    * * * * *

    A Autobiografia inaciana chegou at ns em vrias cpias manuscritas. No se conservaram nem os pontos breves tomados pelo P. Cmara, imediatamente depois de os ouvir de Incio, nem a redaco mais extensa feita posteriormente. Contudo, as cpias que possumos so antigas e de grande valor. Entre todas merece preferncia a que possuiu o P. Jernimo Nadal (designamo-la por texto N), levando-a consigo, mesmo nas viagens fora de Itlia. No tem o prlogo do P. Cmara, mas alm de nos oferecer o texto autobiogrfico ntegro, contm tambm 13 anotaes marginais postas por Lus da Cmara posteriormente. Cons-tituem, por assim diz-lo, uma terceira redaco do texto. Alm do texto em espanhol e italiano, pos-sumos cpias das tradues latinas escritas uma pelo P. du Coudret e outra pelo P. Joo Viseto. A traduo do P. du Coudret foi feita, com toda a probabilidade, entre os anos 1559-1561, duran-te os quais o tradutor esteve no Colgio Roma-no. Tem ainda o interesse de ter sido corrigida pelo P. Nadal.

    * * * *

  • 19

    Introduo

    Hoje pode parecer-nos inexplicvel o facto de a Autobiografia ter sido publicada somente no sculo XVIII, e mesmo nessa altura segundo a traduo do P. du Coudret, e que o seu texto original s tenha aparecido em 1904, pela mo dos editores de Monumenta Historica Societatis Iesu. Neste texto aparecem somente as lnguas originais; mas na nova edio, feita em 1943, pareceu til publicar simultaneamente a tradu-o latina. Nos princpios da Companhia, houve dificul-dade em que se difundisse o texto original da Autobiografia. Quando S. Francisco de Borja, em 1566, encarregou oficialmente o P. Ribade-neira de escrever a Vida de Santo Incio, mandou que se recolhessem todos os exemplares exis-tentes do relato inaciano, e at proibiu que se lessem e difundissem. A razo que Ribadeneira dava desta proibio era que sendo coisa imper-feita [no sentido de inacabada ou fragmentria], no convinha que estorvasse a f daquilo que se escreve mais perfeitamente. Na realidade, a Vida de Santo Incio escrita pelo P. Ribadeneira no , em grande parte, mais que a Autobiogra-fia posta em estilo clssico castelhano.

  • 20

    Autobiografia de Santo Incio de Loiola

    Devemos aos Bolandistas6 o mrito de terem arrancado do esquecimento o principal docu-mento narrativo sobre a vida de Santo Incio. Foi o P. Joo Pien o autor do erudito Commentarius praevius que enriquece o tomo stimo dos Acta Sanctorum Iulii.

    6 Eram designados por Bolandistas os escritores que com melhor crtica estudaram as vidas dos santos. O seu nome vem do P. Joo van Bolland, organizador da socieda-de em 1630.