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Centro Novas Oportunidades da Escola Secundária com 3º CEB de Anadia Vida de Manuela Profissional de RVC: Salomé Ramos Formador CE: Alice Costa Formador LC: Alice Costa Formador MV: Lídia Rosa Formador TIC: Dulce Sampaio Manuela Batista Novembro, 2012 Índice

Manuela Autobiografia

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Page 1: Manuela Autobiografia

Centro Novas Oportunidades da Escola Secundária com 3º CEB de

Anadia

Vida de Manuela

Profissional de RVC: Salomé Ramos

Formador CE: Alice Costa

Formador LC: Alice Costa

Formador MV: Lídia Rosa

Formador TIC: Dulce Sampaio

Manuela Batista

Novembro, 2012

Índice

Entrevista a Manuela

Pág. 3

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Autobiografia Pág.

4

Conclusão

Pág. 23

Anexo

Pág.25

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Entrevista a Manuela…

Nome Completo: Maria Manuela Neves Conceição Batista

Data de nascimento: 19 de maio de 1944, em plena II guerra mundial e ano em que foi

inaugurado em Portugal o estádio nacional do Jamor.

Descrição física: Pessoa normal, um pouco gordinha.

Descrição Psicológica: Demasiado pensativa e nunca satisfeita com o que sou.

Família: Marido, filhos, nora e duas netinhas

Escolaridade: 4-ª classe

Profissões: Agricultora, domestica, auxiliar de cozinha, telefonista

Tempos livres: Faço rendas, arraiolos, vejo televisão e sou mensageira da paz

Música: Gosto de música popular, de igreja e fado

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Autobiografia

Se for a lembrar vivências desde os meus primeiros anos, não haverá folhas que

consigam levar tudo, mas em poucas palavras posso dizer… tenho más recordações, mas

também tenho recordações muito boas.

Nasci numa aldeia em que as pessoas viviam apenas do trabalho no campo. Uns com

mais posses, que eram os grandes agricultores, e outros que não tinham nada e passavam

muitas necessidades. Nasci numa família pobre, composta pelos meus pais e por duas irmãs

mais velhas. Eram muitas as dificuldades sentidas pela minha família, até em alimentação.

Apesar disto lá se vivia, mas hoje nem sei como seria.

Naquela época, as brincadeiras eram na rua, pois as casas não tinham condições e,

imaginem, que nem sequer havia eletricidade e água canalizada. Como não se compravam

brinquedos, as brincadeiras eram feitas por imaginação nossa, com pinhões, pedrinhas, ...... .

Também fazíamos bonecas de trapos, e estas eram tão lindas, que as conservo na minha

memória.

Recordo com alegria o dia em que entrei para a escola e o dia em que fiz a primeira

comunhão. Também recordo o dia em que chegou a eletricidade à nossa terra, parecia que

estávamos a viver num paraíso!

Os dias foram passando e os anos também até que terminei a escola primária e

comecei a trabalhar. Eu gostava de ter ido estudar, mas os meus pais não tinham

possibilidades, uma vez que, para isso, tinha que ficar internada num colégio, pois não havia

Ilustração 1: Trabalho no campo

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transportes e as distâncias não pareciam as de hoje. Hoje é tudo muito mais fácil, embora

pareça que não.

Fiquei a trabalhar no campo, em que era tudo feito com muito esforço, pois os

trabalhos eram feitos à mão ou com a ajuda de bois e vacas. Não havia máquinas no trabalho

do campo, era andar com a charrua, com a enxada ou com a foice, com o pulverizador às

costas para tratar as videiras. Todos os dias de sol a sol. Algumas pessoas que lerem estas

palavras podem até nem acreditar ou imaginar como era a vida antigamente, a realidade da

época.

O tempo não parou e os anos passaram e eu, já mulher, fui convidada para ir para

Espanha para servir em casa do Cônsul de Portugal em Madrid. Eu entusiasmei-me porque

eram pessoas conhecidas e importantes da sociedade. Embora eu já tivesse 23 anos, os meus

pais tiveram que dar autorização aos senhores. Os meus pais concordaram e eu fiquei muito

contente pois ia conhecer coisas novas e também ia ganhar 2000$00 por mês, o que já era um

grande ordenado para a época. Do dinheiro que eu ganhava, tinha que dar 500$00 aos meus

pais, uma vez que esta tinha sido uma exigência deles, para ajudar em casa.

Lá fui e cheguei a pensar que ia ficar rica. Gostei muito desta experiência e de estar

com aquelas pessoas, que eram pessoas muito civilizadas, com quem eu aprendi muitas coisas:

desde aprender a cozinhar e a servir pratos requintados, a cuidar da casa, a tratar de crianças,

uma vez que o casal tinha duas filhas ainda pequenas. Para além destas coisas, também

aprendi a ter outras maneiras e modos de comportamento, que me têm sido muito úteis ao

longo da minha vida. Este período durou apenas três anos. Apesar de ter sido uma experiência

muito rica, decidi não ir com a família do cônsul quando este foi transferido para outro país,

porque já namorava com o meu marido e vim outra vez para Avelãs de Cima.

Ilustração 2: Trabalho no campo

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De novo a viver com os meus pais, já não quis trabalhar na terra e arranjei um

emprego de telefonista numa fábrica nova. Fui colocada a trabalhar numa central de telefones,

que apesar de moderna para a época, ainda funcionava em P. B. X., isto é, funcionava tudo

com sistema de “cavilhas” quer para receber e fazer telefonemas, quer para passar as

chamadas para qualquer secção. Para enviar um telegrama para o estrangeiro, tínhamos que

comunicar a uma central e dizer letra por letra tudo o que se pretendia comunicar. Muitos

devem desconhecer tudo isto, mas foi a minha época, antes da revolução do 25 de abril.

Depois resolvemos casar e emigrar para a Venezuela, onde o meu marido já estava há

alguns anos.

Nessa época, emigrar para Venezuela não era fácil, mas como ele já lá tinha estado,

decidimos aventurar-nos e começar a vida neste país. Passados alguns anos fiquei grávida e

nasceu o meu primeiro bebé. Foi um dia muito feliz, o dia em que começava a primavera. Tudo

foi felicidade. Passados 17 meses nascia o meu segundo filhinho. Sentia-me tão feliz, pois eram

dois bebés amorosos. Apesar das dificuldades que era viver longe da família e da nossa terra,

eu e o meu marido de tudo fizemos para dar aos nossos filhos o que não tinhamos tido.

Os professores que isto estão a ler devem estar a pensar “esta até chateia”, mas como

me disseram que era para falar das nossas vivências, eu cá vou continuando a relatá-las.

Enfim, trabalhamos com muitos altos e baixos, com rosas e com espinhos também. Os

meus filhos foram crescendo, até que chegaram à idade de entrar na escola. Decidimos colocá-

los num colégio católico, administrado por bispos e sacerdotes, chamado “Colégio Cristo Rey”.

Quando o mais velho fez a 4ª classe, eu queria que eles viessem estudar em Portugal,

porque pensávamos um dia regressar todos. Como o meu marido também é de Avelãs de

Cima, decidimos fazer a nossa casa. Compramos um terreno na nossa terra e construímos a

nossa casa, da qual eu gosto muito e onde me sinto muito bem. Eu vim para Portugal, ao fim

de 14 anos, com os filhos, mas o meu marido manteve-se na Venezuela.

Ilustração 3: Fotografia de um P.B.X

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Na Venezuela sentia muitos problemas com o clima. A temperatura não tinha

alterações ao longo do ano, estava sempre calor, não era preciso muita roupa, mas o calor,

para mim, era insuportável de aguentar. Onde vivíamos, em Cidade de Bolivar, a temperatura

mantinha-se sempre entre os 38º e os 42 º graus de temperatura. Os costumes alimentares

eram muito diferentes dos nossos, mas de vez em quando lá se juntavam alguns portugueses

em nossa casa e fazíamos uns pratos típicos da nossa terra. Na Venezuela, a alimentação local

era feita à base de feijão preto e arroz que era feito de várias maneiras. Alguns dos pratos

típicos da Venezuela são arepas e hayacas. As hayacas são típicas do Natal e são feitas com

carnes variadas, enroladas farinha de milho pré-cozida. Este preparado è enrolado em carpela

de milho ou em folha de bananeira.

Apesar de gostar de muitos pratos que não são os mais indicados à saúde, no meu dia-

a-dia, procuro ter alguns cuidados, como por exemplo, fazer sempre sopa de legumes, e de

prato principal, carnes ou peixes grelhados ou simples estufados, sempre com legumes a

acompanhar. Depois há sempre uma peça de fruta para terminar e não falta o café.

A saúde é um bem que devemos preservar, cuidar e tudo fazer para a manter o melhor

possível. Não compete apenas às entidades competentes, mas antes a cada um de nós,

contribuir para que possa ser mantido um bom estado de saúde.

Muito se ouve dizer que a saúde começa na alimentação! Eu e a minha família

valorizamos uma alimentação rica e equilibrada em nutrientes, acompanhada de algum

exercício físico regular e bons cuidados básicos de higiene corporal e habitacional. Como na

minha habitação, tenho um quintal com um pomar diversificado, de lá retiro, através de uma

agricultura biológica que pratico, vegetais e legumes como a batata, couves diversas,

espinafres, cebolas, alhos, alfaces, abóbora, favas, nabos, feijões pimentos, pepinos, entre

outros, mas também frutas como pêra, o kiwi, a laranja, a tangerina, o pêssego, a ameixa, a

maçã, o limão, os figos, as nêsperas.

Com toda esta diversidade de vegetais, legumes e frutas, tento aproveitar ao máximo

para fazer uma alimentação equilibrada. Faço, no mínimo cinco refeições diárias, tentando

comer sempre que posso carne ao almoço e peixe ao jantar. Ao pequeno-almoço bebo leite

com mel. Substituí o açúcar refinado pelo mel porque me sinto melhor, além de que me traz

mais vantagens. A meio da manhã, como fruta e um iogurte, ao lanche como uma sandes de

queijo e fiambre.

Também tenho uma capoeira onde crio galinhas, patos e todo o comer que lhes dou, é

igualmente biológico, tudo à base de milho e couves, para desta forma poder retirar um

melhor proveito da sua carne. A maneira mais usual de confecionar os alimentos é cozê-los,

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grelhá-los ou assá-los no forno. Esse tipo de alimentação é-me bastante benéfico, porque

tenho tendência para apresentar os níveis de colesterol elevados.

Uma alimentação equilibrada é a melhor opção para manter os níveis de colesterol

controlados. Por isso, tento variar o mais possível a minha alimentação, privilegiando os frutos

e os vegetais. No que toca aos cereais, tento escolher pela variedade e pelos derivados menos

refinados. Como já referi, dou preferência ao consumo de peixe em detrimento da carne,

moderando o consumo de gorduras e de alimentos ricos em colesterol.

Em relação a outros tipos de comida, não como hambúrgueres, não gosto nem fazem

parte da minha alimentação. Este tipo de alimentos sem exercício físico regular levam ao

excesso de peso, hipertensão, diabetes, colesterol alto e problemas cardiovasculares.

Com o avançar da idade, tenho de ter ainda mais cuidado com a alimentação. Procuro

comer menos ou em menor quantidade e aumentar o número de refeições diárias. No verão,

faço uma alimentação mais leve, devido ao calor, que também me dá vontade de ingerir mais

líquidos. Tento estar sempre atenta ao que a televisão diz sobre a alimentação. Apesar de

saber que às vezes só querem vender, tento perceber que informações são as mais corretas.

Voltando ao assunto que me levou a falar da alimentação, na Venezuela a moeda

corrente é o Bolivar. Para nós, os emigrantes, que queríamos enviar as nossas poupanças para

Portugal, tínhamos que cambiar o Bolivar para Dólar, porque aqui em Portugal o Bolivar nada

valia.

A Venezuela faz fronteira com diversos países, por exemplo com o Brasil, Colômbia,

Aruba, etc. Também tem um sítio, uma ilha, que se chama Canaíma, onde se situa o Salto

Angel que é das paisagens mais bonitas que se pode imaginar. Não consigo descrever a beleza

das paisagens e da cascata que ali existe.

A Venezuela foi libertada por Simão Bolívar, nome que foi adotado na moeda, em

localidades, etc. Os venezuelanos, são pessoas muito meigas, com costumes tão diferentes

Ilustração 4: Mapa da Venezuela

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daqueles que temos no nosso país. Para além da gastronomia, do vestuário, na música

também tem uma coisa interessante, que é o facto da harpa ser um dos principais

instrumentos musicais. O Natal e a Páscoa são duas festas vividas com muita alegria. Também

havia coisas más, assim como os assaltos, os sequestros, etc. Era de ter medo, mas íamos

arriscando.

Tínhamos um armazém grossista do qual já tínhamos 11 distribuidores, mas, com

vontade de os meus filhos estudarem, viemos para Portugal. Daí para a frente foi só perder,

pois a ideia que tínhamos de Portugal não era real, o país tinha mudado. Algum dinheiro que

trouxemos começou a perder-se, pois o meu marido comprou umas lojas em construção, mas

quando foi para assinar a escritura, descobrimos que estas lojas estavam hipotecadas ao banco

e lá se foi uma boa quantia. Depois comprou uma loja de utilidades domésticas em Coimbra.

Então as grandes superfícies que abriram derrubaram o comércio mais pequeno e o meu

marido disse que ia para a Venezuela outra vez e eu fiquei com os meus filhos a tentar levar a

vida. O meu marido esteve algum tempo ausente, depois foi assaltado e regressou para junto

de nós. Entretanto o tempo foi passando e consegui vender a loja em Coimbra, já que era

insustentável ir e vir todos os dias. Comecei a pensar que os meus filhos não iam continuar os

estudos e tirar os seus cursos. Aí sofri demasiado e, para não sofrer tanto, arranjei emprego na

APPACDM de Anadia, Associação Portuguesa de Pais e Amigos das Crianças Deficientes

Mentais. Aí trabalhei um ano. As minhas tarefas enquanto trabalhei nesta instituição eram

ligadas à cozinha. Depois tive que sair durante algum tempo com a possibilidade de regressar,

mas, por orgulho, já não quis ir mais. Mas confesso que aquelas crianças indefesas e com

tantas dificuldades me deixaram muito triste, pois são crianças que precisam de muito carinho

o que por vezes lhes falta. Depois fui trabalhar para uma empresa de limpezas, que prestava

serviços em casas particulares e em empresas, até que completei a idade para me reformar.

Ainda assim, trabalho em casa de duas professoras que muito me estimam.

O meu filho mais novo, entretanto decidiu casar com um rapariga da nossa terra e

ficou a viver à parte, mas numa pequena casa antiga que herdamos dos meus sogros,

encostada à minha. Já sou avó de duas lindas meninas.

Recentemente aconteceu-me uma coisa muito grave, cujo sofrimento é indescritível,

algo que não estou preparada ainda para falar. Apenas digo que nenhum pai ou mãe devia ter

que vivenciar aquilo por que estou a passar.

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Várias são as características que distinguem estes dois países.

A Venezuela é um país, localizado na Costa Norte do continente Sul Americano e pela

sua proximidade à linha do Equador, tem um clima essencialmente tropical.

Já Portugal é um País que se situa na zona ocidental do continente Europeu. E tem um

clima Mediterrânico.

Pesquisando no site http://maps.google.pt/ é possível encontrar a localização das

capitais destes dois países e, atendendo à escala do mapa, podemos determinar a distância,

em linha reta, entre as cidades marcadas com os pontos A e B:

2,5 cm ………………. 2000 km

8,3 cm ………………. X

X= 8,3 cm × 2000 km ÷ 2,5 cm = 6640 km

A Venezuela tem uma grande quantidade de recursos naturais. Além do Petróleo, que

é o seu maior recurso, possui ainda Ouro, Ferro, Alumínio, Carvão e Diamantes.

Ilustração 5: Bandeiras de Venezuela e Portugal

Ilustração 6: Distância entre Portugal e Venezuela

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Em relação a recursos naturais, Portugal tem um subsolo muito pobre.

Já no que respeita à gastronomia os pratos Venezuelanos mais apreciados são: as

Arepas, Pabilhon criolho, as Alhacas e o Pan de Jamón

Ilustração 7: Pratos típicos da Venezuela

Já em Portugal temos a Sardinha assada, as Alheiras, o Bolo-Rei e os Pastéis de Belém.

Ilustração 8: Imagens de pratos típicos de Portugal

Mas também podemos mencionar outros, sendo por exemplo, os pratos da nossa

região, a região da Bairrada, como a chanfana, o cozido à Portuguesa e o famoso leitão à

Bairrada, que foi um dos pratos vencedor das 7 maravilhas Gastronómicas de Portugal, e que é

acompanhado pelo bom vinho espumante.

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Chanfana Cozido à portuguesa Leitão à Bairrada

Ilustração 9: Pratos típicos portugueses

As desvantagens mais sentidas na Venezuela foram a língua e a cultura.

As vantagens foram o aprender uma língua nova e conhecer pessoas muito

acolhedoras sempre disponíveis para ensinar.

Existiam lá todas as raças, que pessoalmente, respeito todos da mesma maneira, mas

as origens venezuelanas são indígenas; e nesse tempo ainda havia tribos espalhadas pela

floresta da Amazónia.

Lá não havia muitas festas religiosas, como há em Portugal; para eles as maiores festas

eram o Natal, Ano Novo e Páscoa, ou antes, a Semana Santa, como eles lhe chamavam. Mas

não deixavam de se divertir: nos fins-de-semana punham o rádio ou a aparelhagem a tocar e

toda a gente dançava; é por isso que tenho tantas saudades daquela gente alegre e carinhosa.

No que respeita a Portugal, vou falar em coisas da minha terra, os seus costumes e o

que nela existe. O que de melhor temos é uma fonte que fornece água continuamente e mata

a sede a muita gente que a procura, a famosa Fonte do Moleiro. A esta fonte chega gente de

todo o concelho buscar garrafões e garrafões de água. As pessoas chegam a fazer fila e até a

zangarem-se umas com as outras porque uns trazem mais garrafões que outros e querem

passar à frente uns dos outros. Também temos um clube desportivo com futebol de salão,

campo de futebol, café e sala para fazer exposições de bordados, arraiolos, trabalhos em

estanho, etc. Também temos na nossa terra a sede da Junta de Freguesia para ajudar a

resolver problemas que surgem em todas as freguesias e para ajudar nos melhoramentos de

todas as terras que são bastantes. Também temos um poeta e uma poetisa que é pena que só

agora lhes tenham dado o valor que merecem, pois têm feito poemas tão belos como alguns

poetas de renome nacional. A nossa poetisa Belarmina da Silva Martins já lançou dois livros

onde tem um poema dedicado à bendita Fonte do Moleiro e outro às marcas que a vida vai

deixando. De Armando Pereira, também já foi publicado um livro de poesia.

Vou transcrever dois poemas da nossa poetisa e um do poeta:

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Dedicado à Fonte do Moleiro

I

Avelãs de Cima foi abençoada

Não só por ser sede da freguesia

Mas por ter a água mais apreciada

De todo o concelho de Anadia

II

Nós temos por ela muita estima

E não deixamos poluir o monte

Por vi tanta gente a avelãs de cima

Buscar água a essa fonte

III

A água é essencial à vida

Quem cá vem recomenda ao companheiro

E assim nossa terra é conhecida

Graças à Fonte do Moleiro

IV

Foi o nome que o antigo foi escolher

Tal era o afeto que ele tinha

Ao moleiro que com o burrinho iam beber

Quando lhe trazia as taleigas da farinha

V

Mostra que esse povo é inteligente

Associando a água ao pão

Era tempo tão diferente

Mas sabia toda a gente

O que era estima e imaginação

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Marcas da vida

I

A vida que por nós passa

Deixa-nos marcas no corpo

Retira a beleza e a graça

Às linhas do nosso rosto

II

Os olhos não veem como outrora

O cabelo perdeu a sua cor

E cada dia que vivemos agora

Já é uma bênção do senhor

III

E o caminho da saída

Ninguém sabe como acaba

Porque os desígnios da vida

Estão numa carta fechada

IV

Há já muito que é sabido

Que ninguém pode prever

Se é suave ou dolorido

O fim do nosso viver

Agora vou escrever um poema do nosso poeta Armando Henriques Pereira

Cada Lei Cada Asneira

Certos senhores opulentos

A gente olha e descre

Vazios de alma e sentimento

São ricos ,maus e avarentos,

Pensando com a barriga, como se vê

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Esses políticos de carreira,

Que nunca ganharam seu pão,

Cada lei cada asneira,

Deixam-nos sem eira nem beira,

Enchendo a farta carteira

E o pobre sem um tostão.

È uma casta de malfeitores,

Sem caráter e sem vergonha

Armando-se em sábios e doutores,

Do nosso suor comedores,

Sanguessugas com peçonha

E não vale a pena mudar,

Para mim são todos iguais.

Remédio? Era pô-los a puxar

Uma carroça com varais.

Escolhi este poema do nosso poeta Armando Henriques Pereira, porque me pareceu a

realidade da política de hoje. Parece que só pensam nos seus interesses Quando andam em

campanha, são só promessas de que vão defender o povo e o seu País, quando afinal só vão

zelar pelos seus próprios interesses monetários, e pensar no povo… nada!

Sempre tenho cumprido o meu dever de voto em eleições, mas à conclusão que chego

é que são todos iguais só lhes interessa é os seus altos salários e o povo que aperte o cinto.

Sou muito participativa na comunidade. Já participei em trabalhos para angariação

para restaurar os nossos monumentos, em cortejos para restaurar a nossa igreja da qual

também fui zeladora durante algum tempo e fui também duas vezes juíza das nossas festas

populares que neste caso é o São Pedro.

Os altares da nossa igreja matriz foram todos restaurados à custa de muito sacrifício de

toda a freguesia. Começamos a realizar uma feira anual, que se chama feira das barraquinhas,

na qual também participo. Dá muito trabalho, mas no final recolhem-se os frutos. Na feira há

refeições completas, petiscos variados, barraca de artesanato, barraca de todos os legumes e

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cereais, venda de pão e bolos, jogos das argolas nas garrafas, quermesse e não faltam as

distrações, com música e ranchos.

É hábito fazer-se a feira das barraquinhas em Abril ou Maio. A nossa freguesia tem 14

lugares, cada lugar coze pão num domingo e vende na saída da missa dominical. As pessoas

fazem isto de boa vontade e vão pessoas de outras freguesias comprar, só por ser cozido em

forno de lenha como antigamente. Esta atividade dá a volta a todos os lugares e assim

conseguimos algum rendimento, pois é tudo lucro. Isto, claro, enquanto os políticos não se

lembrarem de nos cobrar imposto!

Também fizemos uma capela no lugar de Avelãs de Cima. Participei nos trabalhos e já

fui zeladora dessa mesma capela. Em cada ano ficam 4 senhoras responsáveis pela

conservação da capela, pois ultimamente até os velórios são na capela.

O presidente da junta de freguesia de Avelãs de Cima é o Sr. Manuel Veiga, que foi

eleito nas últimas eleições. Penso que tem feito um bom trabalho. Por exemplo, foi através da

junta de freguesia que tive conhecimento da iniciativa Novas Oportunidades. Esta aproximação

dos políticos à comunidade é muito importante. E porque sei que é importante, gosto sempre

de ir votar. Temos que contribuir de alguma forma para o país e somos responsáveis por

escolher quem nos representa.

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Um dia de trabalho

Atualmente, um dia da minha vida é igual a um dia de vida doméstica. Levanto-me e,

depois da higiene pessoal e o indispensável pequeno-almoço e dou de comer aos meus

animaizinhos, para depois sair e dirigir-me a uma das casa onde presto serviço de doméstica,

há alguns anos, mais precisamente desde que me reformei. Inicio o dia de trabalho pelas

8h:30m com todos os trabalhos referentes a higiene da casa, lavar e passar a roupa. Preparo as

minhas refeições e também cuido das minhas netas. Resumidamente apresento o horário de

um dia comum de trabalho:

Tabela 1: Tabela de tarefas diárias

UM DIA DE TRABALHO

7:00 Acordei com o tocar do rádio despertador e levantei-me.

Fiz o pequeno-almoço para mim e para o meu marido.

Tratei dos animais e dirijo-me à casa onde trabalho.

8:30 Estendi roupa a secar que já estava lavada.

Fiz as camas, limpei as casas de banho e aspirei.

12:30 Regressei a casa e preparei o almoço

Almoçamos e de seguida arrumei a cozinha.

14:00 De volta a casa de trabalho, apanho a roupa e passo a ferro.

Vou tratando do jardim e rego as plantas

17:30 De regresso a casa passo pelo infantário e levo as minhas netas para casa.

18:00 Lancho com as netas e o marido

19:00 Começo a fazer o jantar e trato do banho das meninas.

20:30 Jantamos.

21:30 As netas vão para a sua casa e eu arrumo a cozinha e ponho uma máquina a lavar

22:00 Sento-me, na companhia do meu marido, para ver um pouco de tv antes de deitar e

dar por concluído o dia.

No fim-de-semana trato eu da minha casa e da roupa e, também, do meu jardim.

Normalmente, na hora de almoço, arranjo um tempinho para ir até ao quintal e tratar da

horta, onde planto todo o tipo de verduras e também flores.

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Ilustração 10: Plantação de flores

No quintal tenho árvores de fruto, nomeadamente laranjeiras e para poder apanhar

laranjas tenho que usar uma escada, isto é, um escadote que é mais seguro, como mostra a

seguinte figura:

Ilustração 11: Escadote para apanhar laranjas

Como o escadote tem a forma de um triângulo com dois lados iguais, então para saber

altura, sem a medir, podemos aplicar o Teorema de Pitágoras e conclui-se que é de cerca de

1,4 m:

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Na parte de trás, junto ao quintal, tenho um pequeno espaço com um baloiço e um

escorrega para que as minhas netas passem o tempo cá fora. No verão lá tenho eu que encher

a piscina insuflável para maior contentamento das minhas netinhas. A piscina, que é como a

que a seguir se apresenta, leva mais de 1000 litros de água:

Como o diâmetro da piscina, que é cilíndrica, é de 1,80 m, então a área mínima

necessária para colocar esta piscina é igual a área correspondente a um quadrado de lado 1,80

m:

Para que as crianças possam brincar sem desperdiçar grande quantidade de água, a

piscina é enchida até 2/3 da sua capacidade:

Como cada metro cúbico corresponde a 1000 litros, então

Em casa, tenho que me preocupar com todos os gastos que isso acarreta, juntamente

com os compromissos que temos todos os meses, que são os gastos fixos. Assim, sempre geri

as despesas mensais através de um orçamento. Supondo que tenho 900€ para gerir num mês,

então os gastos seriam assim determinados:

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Tabela 2: Tabela com orçamento familiar

Orçamento familiar

Receita 900 € $ 180.433,80

Água 10 € $ 2.004,82

Luz 70 € $ 14.033,74

Gás 25 € $ 5.012,05

Compras 300 € $ 60.144,60

Gasolina 120 € $ 24.057,84

Seguro 150 € $ 30.072,30

Telemóveis 30 € $ 6.014,46

Farmácia 50 € $ 10.024,10

Outros 50 € $ 10.024,10

total 805 € 161.388 €

Portanto, tendo 900€ para gerir, por mês, e sendo as despesas previsíveis no valor de

805€, então restam 11% para qualquer eventualidade.

900 € ------------ 100%

95 € ------------ x

x = 95×100÷900 =11%

Gráfico 1: Gráfico com orçamento

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Nos dias de hoje, não é fácil, porque o dinheiro não é abundante. Acabo por fazer

sempre contas. Por exemplo, só em luz gasta-se bastante durante um ano inteiro. Supondo

que os gastos mensais, durante um ano, relativamente às contas da luz foram os seguintes,

pode calcular-se o consumo médio e mediano:

Tabela 3: Despesas anuais de luz

CONTAS DA LUZ (em euros)

JANEIRO 45,00€

FEVEREIRO 27,20€

MARÇO 35,00€

ABRIL 24,20€

MAIO 27,50€

JUNHO 31,40€

JULHO 25,65€

AGOSTO 35,00€

SETEMBRO 27,50€

OUTUBRO 27,50€

NOVEMBRO 39,50€

DEZEMBRO 45,00€

Pode confirmar-se os valores obtidos com a folha de cálculo, efectivamente:

45,00 € 27,20 € 35,00 € 24,20 € 27,50 € 31,40 € 25,65 € 35,00 € 27,50 € 27,50 € 39,50 € 45,00 €

Mediana:

Moda: 27,50€ porque é o valor da variável (conta da luz) que mais se repete.

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Em baixo, apresento os mesmos dados, no seguinte gráfico:

Gráfico 2: Gastos de luz anuais

No meu dia-a-dia há algumas estratégias que uso para poupar luz. Por exemplo, em

minha casa não se usam aquecedores. No inverno, temos aquecimento central, que funciona

com lenha. Ao pouparmos na eletricidade, estamos também a poupar o meio ambiente, que é

uma das preocupações que temos de ter diariamente.

Apesar de não fazer reciclagem de todos os resíduos, tento sempre separar o papelão,

o óleo, as pilhas e o vidro para o ecoponto. É importante fazer esta separação, porque há

resíduos que podem ainda ser aproveitados e alguns devem ser tratados de forma especial,

porque são perigosos, por exemplo, as pilhas, que deixo no pilhão existente nos bombeiros.

Para além disto, todos os restos de comida vão para os animais e alguns restos servem

para o campo. Costumo ainda queimar os guardanapos e algumas coisas que os animais não

comem, não dão para reciclar e podem ser queimados.

Guardo também tampinhas de plástico, que algumas instituições pedem para ajudar a comprar

cadeiras de rodas para quem mais precisa.

As imagens que se seguem, mostram os contentores adequados para colocarmos os

diferentes tipos de resíduos: vidrão, contentor de papel e plástico, pilhão provisório e

contentor e oleão.

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Em anexo encontra-se uma notícia que mostra como muitas vezes os contentores do

lixo são maltratados (“Contentores em míseras condições”). A notícia refere que os

contentores em Avelãs de Cima se encontram em muito mau estado, porque os responsáveis

pela recolha do lixo não têm cuidado quando fazem este trabalho. A notícia chama atenção

para o facto de, neste caso, não serem apenas os cidadãos responsáveis por esta situação.

Ilustração 12: Vidrão Ilustração 14: ecoponto para o papel Ilustração 13: Ecoponto para o plástico

Ilustração 15: Pilhão provisórioIlustração 16: Contentor pilhão

Ilustração 17: Oleão

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Entrevista a Manuela…

…Conclusão

Evolução ao longo do processo de RVCC:

Aprendi a trabalhar com o computador;

Desenvolvi a capacidade de escrita e reflexão

Tive dificuldades em fazer alguns exercícios de matemática

Efeito da frequência do processo de RVCC:

Melhorou a minha auto-estima;

Pessoalmente, foi uma espécie de terapia psicológica com resultados muito

positivos.

Projetos que gostaria de realizar:

Quando era nova gostava de poder ter continuado a estudar, mas não foi possível.

Neste momento o que gostava era de conseguir ajudar a educar as minhas netas e

incentiva-las a estudar e a fazerem um curso universitário. Mas penso que o país

em que estamos atualmente não permite realizar grandes projetos.

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Chuva (Mariza)

As coisas vulgares que há na vida

Não deixam saudades

Só as lembranças que doem

Ou fazem sorrir

Há gente que fica na história

da história da gente

e outras de quem nem o nome

lembramos ouvir

São emoções que dão vida

à saudade que trago

Aquelas que tive contigo

e acabei por perder

Há dias que marcam a alma

e a vida da gente

e aquele em que tu me deixaste

não posso esquecer

A chuva molhava-me o rosto

Gelado e cansado

As ruas que a cidade tinha

Já eu percorrera

Ai... meu choro de moça perdida

gritava à cidade

que o fogo do amor sob chuva

há instantes morrera

A chuva ouviu e calou

meu segredo à cidade

E eis que ela bate no vidro

Trazendo a saudade

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ANEXOS

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Índice de Anexos

Anexo 1:Curriculum vitae e certificados

Anexo 2: Carta formal e carta informal

Anexo 3: Resumo

Anexo 4: Comentário a uma notícia

Anexo 5: Actividades Complementares

Anexo 6: Rascunhos

Anexo 7: Materiais das sessões

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Avelãs de cima 25 de outubro de 2012

Estimada amiga Laura,

Olá como estás?

Está tudo bem convosco? Como está teu marido e teus filhos?

Espero que estejam todos bem, pois nós por cá vamos andando conforme Deus quer.

Laura, já há tempo que andava para te escrever, pois de vez em quando lembro-me das nossas

aventuras da juventude e dá-me uma saudade e uma vontade de estarmos um tempo juntas,

para relembrar certas coisitas que nos ia-mos divertir.

E tu não sentes saudades? Olha, agora vou contar-te algumas novidades das nossas vidas

Sabes, já tenho duas netinhas que são as meninas dos meus olhos, gostava que as

conhecesses. Olha, também a nossa colega Luísa se lhe casou o filho, e foi um casamento em

grande… tudo num luxo que não fazes ideia! A Floripes, uma filha dela, adotou um menino que

é tão lindo, tão lindo!!!

Também têm acontecido algumas coisas más, mas não quero estragar-te estas palavras que te

escrevo, pois foste há anos para o Brasil e só quero que recordes as coisas que te façam sorrir

e te façam sentir saudades.

Olha Laura, vou terminar, pois se Deus quiser agora não vamos estar tanto tempo sem nos

Comunicar. Agora vamos aprender a comunicar pela internet ou será que já não

conseguimos?

Saudades para teu marido e filhos.

E tu, recebe beijinhos e saudades da tua sempre amiga

Nélita

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