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3ª CNCTI Desafio maior é transformar C&T em políticas de Estado NESTA EDIÇÃO Aids no Brasil Rio de Janeiro tem a mais alta taxa de incidência; São Paulo, a maior redução Nº 41 Janeiro de 2006 Av. Brasil, 4.036/515, Manguinhos Rio de Janeiro, RJ 21040-361 www.ensp.fiocruz.br/radis Alan MacDiarmid Conhecer ciência é essencial para a população do mundo "Ode à violência" na CPMI da Terra | Os fantasmas da autoria

Av. Brasil, 4.036/515, Manguinhos São Paulo, a … · Nº 41 — Janeiro de 2006 Cartum Capa e Ilustrações Aristides Dutra (A.D.) Ilustrações Cassiano Pinheiro (C.P.) Foto menor

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3ª CNCT IDesafio maior é transformarC&T em políticas de Estado

NESTA EDIÇÃO

Aids no Brasil

Rio de Janeirotem a mais alta

taxa de incidência;São Paulo, a

maior redução

N º 41 � J ane i r o de 2006

Av. Brasil, 4.036/515, ManguinhosRio de Janeiro, RJ � 21040-361

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"Ode à violência" na CPMI da Terra | Os fantasmas da autoria

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Mais informaçõesCentro de Recepção do Museu da VidaEndereço Avenida Brasil, 4.365, Manguinhos, Rio de JaneiroCEP 21045-900Tel. (21) 2590-6747E-mail [email protected] www.museudavida.fiocruz.brVisitas Terça a sexta, das 9h às 16h; fins de semana, das 10h às 16h.

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OMuseu da Vida é uma das grandes atra-ções do campus da Fundação Oswaldo

Cruz — imensa área verde em meio a umadas regiões mais densamente povoadas naZona Norte do Rio de Janeiro. Iniciativa daCasa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), seuobjetivo é informar e educar em ciência,saúde e tecnologia de forma lúdica e criati-va. Há atividades para adultos e crianças,mas nas férias de verão a meninada é quemmanda: a visitação é livre.

A visita começa no trenzinho da ciência,que sai do Centro de Recepção e segue porum passeio pelo campus. Os visitantes podemse sentar numa mitocôndria, construir suaspróprias células, conhecer a história deOswaldo Cruz, da Revolta da Vacina. Em Pas-sado e Presente, uma visita ao PavilhãoMourisco, onde a história da Fiocruz se con-funde com a da saúde pública brasileira. Tu-bos musicais, pilha humana, praça solar, “en-rolando e torcendo” são alguns dos módulosinterativos do Parque da Ciência, onde crian-ças — de todas as idades — podem aprendersobre a energia e sua transmissão.

Arte e ciência? As sensações e percep-ções dos visitantes são aguçadas no espaço

Ciência em Cena, uma tenda-teatro queapresenta duas peças ao público infantil eadolescente (O mistério do barbeiro, adap-tação livre de O barbeiro da noite, de Antô-nio Carlos Soares, e Lição de Botânica, deMachado de Assis — em janeiro, o teatroestá em manutenção) e o programa “Conta-dores de Histórias”.

No espaço Biodescoberta há um aquá-rio com 11 mil litros d’água e uma toneladade rocha viva, amostras de insetos, célulavegetal gigante, painéis sobre descobertascientíficas, microscópios, experiências,vídeos e jogos de memória — uma exposiçãopermanente sobre a biodiversidade.

O Museu da Vida é tudo isso e muitomais. E as atividades são gratuitas.

Diversão éno museuDiversão éno museu

Os módulos interativosdo Parque da Ciência:para brincar e aprender

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Realidades assimétricasComunicação e Saúde

• Diversão é no museu 2

Editorial

• Realidades assimétricas 3

Cartum 3

Cartas 4

Súmula 6

Toques da Redação 8

25 anos de Aids

• Os novos números da epidemia 9

3ª Conferência Nacional de Ciência,Tecnologia e Inovação

• Por um Brasil com ciência 12

Entrevista: Alan MacDiarmid

• “É essencial que a população tenhabom conhecimento de ciência” 16

Serviço 18

Pós-Tudo

• Os fantasmas da autoria 19

Transformar ciência, tecnologia einovação científica em políticas

prioritárias de Estado e fazer da edu-cação o alicerce do desenvolvimentoe da soberania do país. Esta a tônicados discursos na 3ª Conferência Nacio-nal de Ciência e Tecnologia e Inova-ção. A assimetria no domínio de conhe-cimento e investimentos foi destacadatanto entre os países quanto entre asregiões brasileiras. Moisés Goldbaum,secretário de C&T do Ministério da Saú-de, afirma que só 10% dos recursos depesquisas em saúde se destinam a re-solver os problemas que atingem 90%da população. Em entrevista exclusivaao repórter Wagner Vasconcelos, AlanMacDiarmid, Nobel de Química, defen-de fontes renováveis de energia, o es-tímulo à curiosidade das crianças eampla divulgação do conhecimento ci-entífico para que a população tome de-cisões e faça escolhas.

Resgatando o perfil da nossa ex-tinta revista Dados, a segunda matériada série 25 Anos de Aids mostra e ana-lisa os números da epidemia recém-divulgados pelo Ministério da Saúde.Fica claro que a doença cresce hoje,principalmente, nos setores com ospiores índices socioeconômicos.

Na seção Cartas, o radialistaUbirajara, da Bahia, diz que atua comomultiplicador das matérias do RADIS ea militante da saúde Irene, de Curitiba,que nos chama simpaticamente de“colegas do SUS”, pede: “Não desis-

editorial

Nº 41 — Janeiro de 2006

Cartum

Capa e Ilustrações Aristides Dutra (A.D.)Ilustrações Cassiano Pinheiro (C.P.)

Foto menor da capa André Zimnerer

Agradecimento a Pedro Fortes de AzevedoRangel

tam”. Fiquem tranqüilos, com 55%dos brasileiros nunca tendo usado umcomputador e 68% sem nenhum aces-so à internet, e enquanto for mais prá-tico e agradável folhear uma revista comboa programação visual, continuaremostentando oferecer nestas páginas omelhor conteúdo possível sobre saú-de. Para quem usa a internet, uma cu-riosidade: usuários do Orkut criaramuma comunidade virtual chamada RADISem que os leitores da revista se en-contram e trocam idéias.

Recente decisão do Congressopode representar grande retrocessona consensual Reforma Agrária. Pare-cer de deputado ruralista aprovado naCPMI da Terra, em novembro, julga“crime hediondo” e “ato terrorista” osprocessos de ocupação de terra nopaís, desconsiderando todo o trabalhosério do relator da comissão, que ou-viu 125 depoimentos e analisou 75 milpáginas de documentos para formularpropostas que reduzam a violência nocampo, onde 50% das terras estão nasmãos de 1% da população.

Uma última notícia: acaba de serproibida a manipulação genética poragricultores nos próximos cinco anos,porque ainda não se conhecem osefeitos dos transgênicos na nature-za... na Suíça. Confira na seçãoSúmula. E um excelente 2006!

Rogério Lannes RochaCoordenador do RADIS

A.D./C.P.

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RADIS 41 � JAN/2006

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CARTAS

RADIS é uma publicação impressa e onlineda Fundação Oswaldo Cruz, editada peloPrograma RADIS (Reunião, Análise eDifusão de Informação sobre Saúde),da Escola Nacional de Saúde PúblicaSergio Arouca (Ensp).

Periodicidade mensalTiragem 44 mil exemplaresAssinatura grátis

(sujeita à ampliação do cadastro)

Presidente da Fiocruz Paulo BussDiretor da Ensp Antônio Ivo de Carvalho

PROGRAMA RADISCoordenação Rogério Lannes RochaSubcoordenação Justa Helena Franco

Edição Marinilda CarvalhoReportagem Katia Machado (subeditora),

Claudia Rabelo Lopes, WagnerVasconcelos (Brasília/Direb)

Arte Aristides Dutra (subeditor) eCassiano Pinheiro (estágiosupervisionado)

Documentação Jorge Ricardo Pereira,Laïs Tavares e Sandra Suzano

Secretaria e Administração OnésimoGouvêa, Fábio Renato Lucas,Cícero Carneiro e Mario Cesar G.F. Júnior (estágio supervisionado)

Informática Osvaldo José Filho e GeisaMichelle (estágio supervisionado)

EndereçoAv. Brasil, 4.036, sala 515 — ManguinhosRio de Janeiro / RJCEP 21040-361Tel. (21) 3882-9118Fax (21) 3882-9119

E-Mail [email protected] www.ensp.fiocruz.br/radisImpressãoEdiouro Gráfica e Editora SA

USO DA INFORMAÇÃO — O conteúdo da revista Radispode ser livremente utilizado e reproduzido em qual-quer meio de comunicação impresso, radiofônico,televisivo e eletrônico, desde que acompanhado doscréditos gerais e da assinatura dos jornalistas respon-

sáveis pelas matérias reproduzidas. Solicitamos aosveículos que reproduzirem ou citarem conteúdo denossas publicações que enviem para o Radis um exem-plar da publicação em que a menção ocorre, as refe-rências da reprodução ou a URL da Web.

expediente

C.P.

INJEÇÃO DE ÂNIMO!

Venho parabenizar pela importan-tíssima matéria sobre a Reforma

Psiquiátrica. Sou enfermeiro e traba-lho na intervenção que vem aconte-cendo na Casa de Saúde Dr. Eiras emParacambi (RJ) e a matéria trouxe-megrandes contribuições e estímulospara continuar meu trabalho. Serviucomo uma injeção de ânimo!

A Eiras já chegou a ter 3 mil usu-ários, e hoje está com 695, rumo aofechamento definitivo. O trabalho éárduo, mas muito dignificante. Trazeras pessoas que lá se encontram devolta a uma vida digna, junto da soci-edade, é nossa maior missão.• Thiago Bicchieri, Paracambi, RJ

Minha mãe é assinante da Radise, eu, estudante do ensino mé-

dio. Os temas abordados nos dão umavisão mais clara sobre o que está acon-

tecendo na área da saúde no Brasil.O artigo “Como anda a reforma psi-quiátrica?” (Radis 38) interessou-meporque fiquei sabendo que o paci-ente psiquiátrico está sendo vistode outra forma, não como um indi-víduo que deva ser isolado, mas queprecisa continuar em seu convíviofamiliar. Também interessou-me oartigo “Água, esgoto, lixo e drena-gem, o quarteto mágico da saúde pú-blica”, pois o saneamento é a basepara preservarmos a natureza e des-frutarmos de uma vida com saúde.• Mariza Rückert, Joinville, SC

Conheci a Radis em 2004, quandofazia o curso de pós-graduação

no Nesc-CPqAM/Fiocruz e passei aacompanhar suas edições. Este anofui contemplada com a assinatura.É com imenso prazer que venhoagradecer e elogiar a excelente pro-dução e informação. Os temas sãobem atuais e têm me motivado aacreditar na possibilidade de um diatermos uma Saúde Pública Priorita-riamente Preventiva, ainda que per-sistam, de forma preocupante, bai-xos níveis de saúde na população eelevadas desigualdades sociais. Para-béns à Fiocruz e a toda a equipe.

• Rosana Almeida de Moraes, assis-tente social, Recife

ABUSO DAS FARMÁCIAS

Sou técnica de Vigilância sanitáriano Estado do Rio. As matérias estão

formidáveis. Escrevo pela primeira vezpara fazer uma reclamação referentea medicamentos. Estive numa farmáciapara comprar Albendazol, paraverminose: encontrei dos laboratóriosGlaxo e Vitapan. O da Vitapan custavaR$ 3,50, e o do Glaxo, R$ 7. Por quetamanha diferença? Quando necessita-mos de apenas um comprimido aindafica acessível, mas quando o médicorecomenda três, numa família de qua-tro pessoas, chega a R$ 84. Muito caro.

A Fiocruz comprou o parque in-dustrial da Glaxo com que objetivo?Não poderia ser feito um acordo coma Glaxo para redução deste preço fi-nal? Quando procuramos por medica-mentos também procuramos bons la-boratórios! Fica meu protesto. Esperoque possamos construir políticas demedicamentos melhores.• Soraia Silvério, Rio de Janeiro

Cara Soraia, a fábrica da Glaxo, queseria desativada, só produzia amo-xicilina. O Instituto Farmanguinhos daFiocruz, produzirá lá anti-retrovirais,contra a Aids, e 50 milhões de unidadesde antibióticos para abastecer o SUS e aFarmácia Popular.

PALMAS PARA O MP!

Adorei a matéria da Radis nº 39,sobre o evento de Palmas. Aliás, o

título ficou ótimo. Pude ler a revistaatravés do site da Associação Nacionaldo Ministério Público de Defesa da Saú-de (www.ampasa.org.br), onde fizemosum link para a Fiocruz. Obrigada pelarevista e a atenção de sempre.• Sonia Maria Demeda Groisman Piardi,promotora do MP da Saúde, Florianópolis

VALE A PENA TUDO ISSO?

Caros colegas de SUS, todo mêsaguardo ansiosamente a chega-

da do meu exemplar, que comparti-lho com toda a equipe. É gratificantepegar textos como “Onde você guar-da seu racismo?” (abril/2005), discuti-lo entre “doutores do saber” e “lei-gos” e concluirmos que somos todosaprendizes nesta seara perversa da

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RADIS 41 � JAN/2006

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nossa sociedade dita livre, mas presaa preconceitos velados, que aparecemclaramente na injusta distribuição derenda, no acesso à saúde e à educa-ção, entre outros indicadores sociais.

Outro dia, em conversa com umacolega um pouco desmotivada, eladizia: “Não entendo o que você ganhapor participar tanto de conferências,reuniões de conselho, cursos sobre con-trole social... No fim do mês seu paga-mento é igual ao de todos. Vale a penatudo isso?” Respondi: “É verdade, nãoganho, porém todos ganham, ou vocêacha que o SUS seria o mesmo sem aefetiva participação de toda a socie-dade por meio do controle social?

Passado algum tempo, recebominha Radis. Senti-me um tanto emdívida com vocês: como pude dizerque não ganho, se foi com a minhaparticipação na 12ª CNS que comeceia receber esta revista, se foi por par-ticipar dessas “atividades” do contro-le social que me sinto muito mais ci-dadã, podendo, com outros atores,solidificar um dos melhores, se não omelhor, sistema de saúde do mundo?

Não desistam e continuem a in-vestir na informação, pois somente elaé capaz de solidificar o nosso SUS, con-quista de um povo idealista que so-mos nós, os sanitaristas e idealizadoresdo SUS na 8ª CNS.• Irene Rodrigues dos Santos, técni-ca em higiene dental do SUS, Curitiba

RADIS AGRADECE

Descobrir a Radis foi muito bom paramim que amo, trabalho, leciono e

praticamente respiro saúde pública cer-ca de 12 horas por dia! Tomei conheci-mento de sua existência numa apostilada Educação a Distância que cursei em2004. Está linda colorida, parabéns pelavitória! Não deixem de falar sobre osagentes comunitários de saúde, eles me-recem mais visibilidade e valor!• Ricielli Rodrigues Trotta, Cristina, MG

Já tem mais de um ano que receboa Radis. Fiquei conhecendo aqui na

minha faculdade (faço Enfermagem,me formo no ano que vem), e melho-ra a cada mês; agora então, colorida,ficou 10. Agradeço pela ajuda em nos-sa formação, ainda mais que preten-do me especializar em saúde publica.• Cristian Rodrigo Fernandes dos An-jos, Monte Azul, MG

Gostaria de parabenizá-los pelo exce-lente trabalho prestado à saúde

do país e agradecer pela assinatura

concedida ao Centro Acadêmico deEnfermagem da Universidade Estadu-al do PA. Agora os estudantes terãoacesso a este indispensável instrumen-to de difusão do conhecimento, prin-cipalmente no que se refere à nossasaúde pública. Que bom se todos osestudantes e profissionais de saúdetivessem acesso à Radis. Teríamos umSUS cada vez mais consolidado.• Michel Holanda, presidente do Cen-tro Acadêmico, Belém

O RIO NÃO MERECE

Na crescente falta de “tudo nasaúde”, menos da boa vontade

dos profissionais idealistas, com faltade recursos humanos, falta de medi-camentos, o prefeito e o secretárionão convocam os 2.059 concursadosaprovados em 2004. Ao contrário, pa-rece que preferem a terceirização.Por quê? Será que é para o PAN-2007 aprioridade?

Somos todos profissionais queidealizamos um SUS mais humano. Fi-zemos investimentos e projetos emnossas vidas ao estudarmos para oconcurso, contando sempre com oapoio e o sacrifício de nossas famíli-as, que suportaram bravamente nos-sa situação de desemprego, para quenão se dê sequer uma posição a res-peito das convocações dos aprova-dos. O povo do Rio não merece!• Helen Santos, psicóloga aprovadaem 2º lugar no concurso-2004 da SMSdo Rio, Petrópolis, RJ

ALEITAMENTO RENDE PRÊMIO

ASecretaria Municipal de Saúde dePiraí (RJ) recebeu do Ministério

da Saúde o Prêmio Bibi Vogel pelaexperiência exitosa em aleitamentomaterno no dia 2 de dezembro noRio de Janeiro. A iniciativa é a únicada Região Sudeste e uma das cincode todo o Brasil.• Geraldo de Oliveira Filho, chefe deGabinete da SMS, Piraí, RJ

COMBATE À DENGUE

Como agente de combate à denguee funcionária municipal, denun-

cio que existe aqui uma fábrica quetrabalha com pneus, espalhados porruas, terrenos baldios etc. Há recla-mações de moradores. Existe uma leique possa obrigá-los a recolher ecobrir os pneus? Já se conversou como proprietário da fábrica, que igno-rou totalmente nosso pedido.• Eliani Barbosa, visitadora de casaem casa, Arroio do Meio, RS

A Radis solicita que a correspondên-cia dos leitores para publicação (car-ta, e-mail ou fax) contenha identifi-cação completa do remetente: nome,endereço e telefone. Por questões deespaço, o texto pode ser resumido.

NORMAS PARA CORRESPONDÊNCIA

Prezada Eliani, o Conselho Nacionalde Meio Ambiente aprovou em 1999 aResolução nº 258, que obriga as empre-sas fabricantes e as importadoras depneumáticos a coletar e dar destinaçãofinal ambientalmente adequada apneus inservíveis. A autoridade sanitá-ria local pode fazer uso desta resolu-ção para fiscalizar o comerciante.

VIDA, LUZ E CANTIGA

Recebo na Rádio Jacobina FM a Radise gosto muito das matérias: às

vezes escolho algumas e leio para osmeus ouvintes do programa Vida, Luze Cantiga, que apresento de segundaa sexta das 5h às 7h. Lançamos um blog(www.interblogbira.zip.net) com o ob-jetivo de contribuir para o desenvol-vimento da nossa cultura regional. Pu-blicamos duas matérias da Radis. Somosmuito gratos pela qualidade.• Ubirajara Santos, Jacobina, BA

NA PAUTA

Sou enfermeira da Estratégia Saúdeda Família há três anos, e gostaria

de passar uma angústia: médicos eodontólogos em especial recebempelos procedimentos realizados,como consultas, pequenas cirurgias,aplicação de fluor etc., além do sa-lário. As outras categorias (como en-fermeiros, técnicos, ACS) são menosimportantes numa equipe? Por quetambém não podem receber essesadicionais? Vocês poderiam escreveralgo sobre isso? Tenho dúvidas sobreesses assuntos!• Adelaine Baptisti Faé, enfermeiragraduada pela Universidade Federaldo Espírito Santo, Linhares, ES

Toda a minha família é da área dasaúde, estudantes de Medicina e

Enfermagem. Trabalho no SUS com oPrograma de Assistência Farmacêuti-ca, e gostaria de ver publicada ma-téria a respeito da importância doprofissional farmacêutico nas unida-des de saúde do SUS. Pela visão dosnossos gestores, este profissional édispensável nas farmácias do SUS.• Manuela Bazan, Três Lagoas, MS

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SÚMULA

SAI O DECRETO DA LEI DE BIOSSEGURANÇA

ACasa Civil da Presidência finalmenteaprontou o decreto de regulamen-

tação da Lei de Biossegurança, quetrata dos procedimentos para a auto-rização do cultivo e do consumo deorganismos geneticamente modifica-dos (OGMs). Quase nove meses depoisda aprovação da lei pelo Congresso, odecreto trouxe uma boa notícia: a exi-gência do quórum de dois terços dosintegrantes da Comissão Técnica Na-cional de Biossegurança (CTNBio) paraa liberação de transgênicos.

Era uma das principais reivindica-ções de sanitaristas e ambientalistas. Adisputa em torno dos transgênicos di-vidiu o governo Lula. De um lado, osministérios do Meio Ambiente, do De-senvolvimento Agrário e da Saúde — re-presentado pela Agência Nacional deVigilância Sanitária (Anvisa) —, que de-fendiam o controle dos OGMs. Do ou-tro, os ministérios da Agricultura, doDesenvolvimento, Indústria e Comércioe da Ciência e Tecnologia. O segundogrupo levou a melhor, com a aprovaçãoda lei em 2/3/2005, que muitos chama-ram de “Lei Monsanto” (Radis nº 32),gigante transnacional produtora de se-mentes transgênicas.

Segundo a Agência Carta Maior,intenso debate permitiu o consensosobre todos os pontos do decreto. Aexceção foi o do quórum da CTNBio,levado ao presidente Lula, que deci-diu pelos dois terços. “O quórum dedois terços dá garantia maior debiossegurança, sendo muito importan-te também a inclusão da norma quepossibilita recurso ao Conselho Naci-onal de Biossegurança”, disse LetíciaRodrigues, da Anvisa. O conselho éformado por ministros da área. ParaLetícia, esse mecanismo é essencialpara coibir “vícios” da CNTBio e per-mitir alguma ação aos órgãos de fis-calização. A própria Anvisa já recor-reu contra a comissão sobre adecisão de liberar a importação demilho transgênico da Argentina.

Os ambientalistas ainda têm mui-tas queixas. “É uma tentativa de colo-car tranca de ferro em porta arrom-bada”, avaliou o deputado estadualFrei Sérgio Görgen (PT-RS). “A lei éruim. Não dá para ter um decreto bomcom uma lei ruim”, disse GabrielFernandes, da Campanha por um Bra-

sil Livre de Transgênicos. “O decretonão corrige o principal defeito da lei:a concentração de poder da CTNBio,que retira competências constitucio-nais do Ibama e da Anvisa”.

O problema da indicação dos in-tegrantes da comissão continua. Odecreto aumentou o plenário de 18para 27 membros, com representan-tes de ministérios, especialistas indi-cados pelos ministérios e pessoas denotório saber indicadas por entidadesde pesquisa. É nesse terceiro grupoque, segundo Gabriel, mora o perigo.Os ambientalistas propuseram que alista tríplice fosse feita pela Socieda-de Brasileira pelo Progresso da Ciên-cia, mas o decreto estabeleceu queo Ministério da Ciência e Tecnologiadefinirá a comissão. E o responsávelserá Luiz Antônio Barreto de Castro,ex-presidente da CTNBio, históricodefensor dos transgênicos.

“Enquanto o governo leva mesespara aprovar um decreto, a Monsantocria fato consumado com contraban-do de milho transgênico para os pro-dutores gaúchos, e não há medida al-guma para coibir isso”, disse odeputado Görgen. “A lei foi feita àimagem e à semelhança das empre-sas, e elas não respeitam lei. O siste-ma regulatório é mera formalidade”.

ENQUANTO ISSO, NA SUÍÇA...

Apopulação da Suíça proibiu, em re-ferendo no mês de novembro,

que seus agricultores usem manipu-lação genética nos próximos cincoanos, porque ainda não se conhecemos efeitos dos transgênicos na natu-reza. Votaram contra os transgênicospouco mais de 55% da população;44% votaram a favor. Os suíços po-derão continuar, contudo, importan-do transgênicos. Alemanha e Françaproíbem em seu território produtosque considerem inseguros.

COMBATE À MUTILAÇÃO GENITAL

FEMININA

Está em vigor desde 26 de novem-bro o Protocolo sobre os Direitos

das Mulheres Africanas, primeiro do-cumento de âmbito continental aproibir práticas como a mutilaçãogenital feminina. Proposto em 2003,

teria validade com a adesão de pelomenos 15 países. Em 26 de outubro,Togo foi o 15º país a ratificar o proto-colo — já haviam assinado Cabo Ver-de, Ilhas Comoros, Jibuti, Gâmbia,Lesoto, Líbia, Malávi, Máli, Namíbia,Nigéria, Ruanda, Senegal, África do Sule Benin —, abrindo automaticamenteos 30 dias para a vigência. Ainda nãoaprovaram o documento 38 países-membros da União Africana.

Segundo o Fundo das NaçõesUnidas para a Infância, na África e noOriente Médio 3 milhões de meninassão vítimas anualmente da mutilaçãodo clitóris e dos lábios menores davulva (na foto, a faca ritualística). OUnicef estima que o total de mutila-das chegue a 130 milhões.

FGV VÊ RENDA MAIS DISTRIBUÍDA

No encerramento da 15ª ReuniãoOrdinária do Pleno do Conselho

de Desenvolvimento Econômico e So-cial, em 1º de dezembro, o presiden-te Lula disse que nos resultados da Pes-quisa Nacional por Amostra deDomicílio (Pnad), do IBGE, estão osefeitos da política social do governo.“Investir na parte mais pobre significafazer distribuição de renda e os resul-tados aparecem”, afirmou. “Valeu a penaacreditar no Bolsa-Família, valeu a penanão se desestimular”, disse ele ao mi-nistro Patrus Ananias.

Pela pesquisa “Miséria em Que-da — Mensuração, Monitoramento eMetas”, da Fundação Getúlio Vargas(FGV), com base nos dados da Pnad,a taxa de miséria no país atingiu seunível mais baixo desde 1992. “Houveuma queda espetacular no índice depobreza em 2004, movida pelo aumen-to da ocupação, redução da desigual-dade de renda do trabalho e peloaumento de transferências focaliza-das do Estado”, afirmou o economis-ta Marcelo Néri, coordenador do

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RADIS 41 � JAN/2006

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Centro de Políticas Sociais da FGV.A distribuição de renda de 2004

foi a maior dos últimos 23 anos, jáanunciara em novembro de 2005 oIBGE. A redução da desigualdade nosdois primeiros anos do governo Lulaaconteceu num ritmo 50% maior doque nos dois mandatos de FernandoHenrique Cardoso, segundo os dadosda FGV. Na escala de 0 a 1 do índicede Gini — quanto mais próximo de 0melhor a distribuição e de 1 maior aconcentração da renda —, o índiceficou em 0,559 em 2004, depois deregistrar 0,566 em 2003. A queda nosdois últimos anos é de 1,4 pontopercentual; em 2002, a escala apon-tava 0,573. De 2001 a 2002 a concen-tração de renda cresceu. E de 1998até 2002, no segundo mandato deFHC, a redução da desigualdade foide 0,3 ponto percentual. De 1995 a1998, em plena euforia do Plano Real,o índice de Gini caiu somente 0,8ponto percentual.

O nível de ocupação feminina(percentual de mulheres ocupadas napopulação de 10 anos ou mais de ida-de) atingiu o patamar recorde de45,5% em 2004, o maior desde o inícioda série histórica, em 1992, da Pnad.Mas estavam fora da escola em 20042,9% dos jovens de 7 a 14. Nas regi-ões Norte e Nordeste, o percentualé ainda maior: 5,1% e 3,9%, respecti-vamente (na Região Sudeste, 1,9%).

O número de domicílios ligadosà internet cresceu 11% de 2003 para2004 — embora 68% dos brasileirosnunca tenham acessado a rede e 55%nunca tenham usado computador,segundo apurou outra pesquisadivulgada em novembro, esta do Co-mitê Gestor da Internet, entidade for-mada por representantes do gover-no e da sociedade civil.

“REVOLUÇÃO SILENCIOSA”

Ojornalista Yann Le Houelleur, cor-respondente em São Paulo do

jornal francês La Tribune, diário deeconomia e negócios, fez matériaintitulada “Uma rede de segurançapara 45 milhões de brasileiros”. A re-portagem diz: “Uma revolução silen-ciosa está em marcha no Brasil: a ins-tauração de uma rede de segurançadestinada a garantir condições míni-mas de sobrevivência a toda uma par-cela da população. ‘O programa Bol-sa-Família se estende a 11,2 milhõesde famílias, aproximadamente, 45 mi-lhões de pessoas’, explica RômuloPaes, do Desenvolvimento Social. (...)Desde 2003, 11 milhões de euros fo-

ram investidos no Fome Zero”.Outro trecho: “‘Em suma, o pro-

grama não é ruim’, explica José An-tonio Moroni, diretor da Abong, umaassociação que reúne ONGs compro-metidas com projetos sociais. ‘Masele oculta uma lamentável escolhaeconômica do governo, obcecada nageração de excedentes nas contaspúblicas em detrimento dos investi-mentos na educação, na saúde e nosocial’. Isso não impede que os repre-sentantes de vários países se reúnamem Brasília para compreender o fun-cionamento do programa Bolsa-Famí-lia. África do Sul, Paquistão, Indonésia,Nigéria, Honduras, Haiti, Argentina eUruguai consideram a possibilidade dese inspirar no programa brasileiro.”

“UMA ODE À VIOLÊNCIA”

Um parecer alternativo do depu-tado Abelardo Lupion (PFL-PR),

da bancada ruralista da Câmara, foiaprovado em 29/11 por 12 votos a 1na CPMI da Terra, desconsiderandocompletamente o relatório originaldo deputado João Alfredo (PSOL-CE)— rejeitado por 13 votos a 8. A sena-dora Ana Júlia Carepa (PT-PA), em pro-testo, rasgou o relatório original(foto). Emocionada, disse que o do-cumento é um desrespeito à memó-ria dos 1.500 trabalhadores rurais as-sassinados nos últimos 20 anos. “Sousenadora de um estado campeão emmorte por violência no campo e nãopoderia ser cúmplice desses assassi-natos votando no relatório alterna-tivo do deputado Lupion, que resu-me a situação do Pará em 19 linhas.Esse documento é uma ode à violên-cia”, acusou. No texto aprovado,Lupion pede que ocupação de terraseja considerado “crime hediondo”e “ato terrorista”.

Alguns itens acabaram retiradosdo parecer: o que sugeria o indicia-mento de cinco coordenadores doMST (João Pedro Stédile, João PauloRodrigues, José Rainha, Jaime Amorime Gilmar Mauro) e o que pedia ao Tri-bunal de Contas da União a suspen-são do repasse de recursos a organi-zações parceiras do MST.

Para elaborar suas conclusões,em relatório de 400 páginas, JoãoAlfredo ouviu ao longo de dois anos125 depoimentos e analisou 75 milpáginas de documentos sobre a es-trutura fundiária, os processos dereforma agrária e urbana, os movi-mentos de trabalhadores e de pro-prietários de terra, como a UniãoDemocrática Ruralista. São 47 tra-balhadores rurais ameaçados demorte e 30 mandantes de crimescom mandado de prisão expedidoque continuam soltos.

Para João Alfredo, o relatório deLupion impede qualquer mudança nocampo. “Se depender do Congresso,não haverá reforma agrária”, disse. “Amaior parte dos parlamentares defen-de a manutenção dos privilégios nocampo: eles querem garantir que maisde 50% das terras continuem concen-tradas nas mãos de apenas 1% da po-pulação.” Hina Jilani, relatora de Di-reitos Humanos da Organização dasNações Unidas, lamentou a rejeiçãodo relatório original e afirmou à Co-missão de Direitos Humanos da Câma-ra que vai reportar à ONU as informa-ções nele contidas.

PRESSÃO CONTRA DEPUTADOS PRÓ-ABORTO

Odeputado Luiz Bassuma (PT-BA),que preside a Frente Parlamen-

tar em Defesa da Vida (anti-aborto),anunciou pesquisa com os integran-tes da Comissão de Seguridade Sociale Família da Câmara para saber quemé favorável ao substitutivo da depu-tada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) aoProjeto de Lei 1.135/91. A propostaautoriza as mulheres a optar peloaborto até a 12ª semana de gestação,sem precisar de justificativa, e até a20ª semana, se a gravidez for conse-qüência de estupro.

A lista com os nomes dos deputa-dos favoráveis à proposta será enviadaa igrejas e estabelecimentos religiososde todo o país. Luiz Bassuma informouà Agência Câmara que os deputados quenão responderem à sondagem serãoconsiderados favoráveis e incluídos nalista. “Se um deputado não votar con-tra o aborto por convicção, então quevote por medo”, disse o deputado Sal-

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ERROS DE MEDICAÇÃO— A edição nº 49 da re-vista Pharmacia, do Con-selho Federal de Farmá-cia (www.cff.org.br),publicou corajosa ma-téria intitulada “Errosde medicação: do silên-cio e do estigma à luta por mudança”,assinada pelo editor, Aloísio Brandão. Amatéria conta um episódio exemplar:o farmacêutico-bioquímico TarcísioPalhano, professor da UniversidadeFederal do Rio Grande do Norte, cri-ticava muito, com seus alunos, as pres-crições dos médicos no Hospital Uni-versitário Onofre Lopes, da própriaUFRN. Por isso foi convidado pelo chefedo Departamento de Medicina Clínicado curso de Medicina da UFRN para umareunião com os professores-médicos.

A conversa começou tensa, mas,com as provas que reuniu, Palhano foiderrubando, uma a uma, as barreiras.Ele tivera o cuidado de catalogar e apre-sentar cerca de 100 receitas com pres-crições erradas. Acabou convidado adar aulas aos formandos de Medicina.A maioria dos erros era causada pelaletra do médico. Em 1985, os alunosfizeram um teste inédito: levaram re-ceitas com nomes de remédios inven-tados a 40 farmácias, que venderam 17diferentes medicamentos. Para ler aíntegra da matéria: www.cff.org.br/re-vistas/49/04%20a%2017.pdf

ESQUISITOS — O colunista AncelmoGois, do Globo, publicou a seguintenota em novembro:

“Zeca do PT foi grosseiro comMarina Silva ao dizer que a ministra‘falou besteira’ quando se manifes-tou contra usinas de álcool no Pan-tanal. Agora, o governador acusaMarina de ser ‘dominada pelos eco-logistas’. Queria o quê? Que a mi-nistra do Meio Ambiente fosse do-minada pelos madeireiros? Ou pelosusineiros protegidos por ele?”

Esquisitos, os governadores. O deMato Grosso, Blairo Maggi (PPS), der-ruba floresta para plantar soja (Radis34). O de Mato Grosso do Sul, Zecado PT, ignora o desastre ambiental cer-

to que usinas trariam à Bacia do AltoParaguai, cujos rios são tão lentos esinuosos que uma canoa solta emCáceres (MT), norte do Pantanal, de-mora 6 meses para chegar ao Atlânti-co. Imagine-se o vinhoto...

A desesperança quanto ao futurode seu amado Pantanal levou oambientalista Francisco Anselmo de Bar-ros, o Francelmo, 52 anos, a botar fogono corpo em 12/11 — protesto extremocontra a aprovação do projeto das usi-nas na Assembléia. Morreu no dia seguintee não soube que em 7/12 os deputadosrejeitaram o projeto por 17 votos a 4.

PARABÉNS, SAÚDE & ALEGRIA! — Otrabalho do Projeto Saúde & Alegriano Tapajós, que foi matéria de capada Radis em agosto (nº 36), conquis-tou o quinto lugar, entre 1.600 ins-crições de vários países, na primeiraedição do Prêmio Experiências emInovação Social, da Comissão Econô-mica para a América Latina e o Caribe(Cepal), cujo objetivo era identificare reconhecer o mérito de iniciativasinovadoras na área de desenvolvimen-to social que possam ser difundidas.Caetano Scannavino, coordenador-geral, e Rui Anastácio, coordenadordo Programa de Saúde do projeto,participaram do evento de premiação,informou a agência Adital. “O prê-mio significa mais que um reconhe-cimento dos resultados que estamosalcançando, pois traz grande respon-sabilidade em compartilhar nossas ex-periências e continuar trabalhando”,disse Caetano.

SÚMULA é produzida a partir do acom-panhamento crítico do que é divulgadona mídia impressa e eletrônica.

vador Zimbaldi (PSB-SP). Para ElimarMáximo Damasceno (Prona-SP), amobilização dos grupos anti-aborto estáapática em comparação à dos pró-abor-to. Segundo ele, 70% dos deputados dacomissão são favoráveis à proposta.Nazareno Fonteles (PT-PI) defende a pro-telação da votação do projeto, porqueos deputados não terão “coragem” devotar pelo aborto em ano eleitoral.

MALÁRIA EM ANANINDEUA

Aárea do Açude Maguari, em Ananin-deua, no Pará, registrou 59 casos

de malária em duas semanas. O localmais atingido é Helderlândia, área deinvasão recente, onde moram 150 fa-mílias muito carentes, sem qualquerinfra-estrutura, o que propicia a pro-liferação da doença. Os pacientescom suspeita da doença foram sub-metidos a exame de sangue para com-provar o diagnóstico e receber omedicamento adequado.

Técnicos da Divisão de Entomo-logia fizeram levantamento entomoló-gico, que consiste na captura e análi-se dos mosquitos, pois só depois dessafase é possível iniciar o combate aosmosquitos adultos e às larvas. Segun-do informação do entomologistaArnaldo Fayal, publicada no site daSecretaria de Saúde do Pará (http://portal.sespa.pa.gov.br), esse levanta-mento direciona o combate à doen-ça. “Começa com a entomologia e sódepois vem o controle químico dosvetores”, disse.

O mosquito transmissor da do-ença na área é da espécie Anophelesaquasalis, um vetor secundário, ouseja, não é comum que transmita adoença, como o Anopheles darlingi.Por isso, o surto de malária deve tercomeçado com uma pessoa infectadavinda de outra localidade. O agen-te causador encontrado é do tipoPlasmodium vivax, que causa malá-ria leve, sem risco de morte. “Se fos-se o P. falciparum, a preocupação se-ria maior”, observou.

Segundo ele, no primeiro momen-to, a borrifação externa é feita na ruae no entorno das casas usando ciper-metrina, para matar os mosquitos adul-tos e as larvas, e a intradomiciliar é fei-ta nas paredes das residências comalfacipermetrina, produtos fornecidospelo Ministério da Saúde.

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25 ANOS DE AIDS

Claudia Rabelo Lopes

Como parte dos eventos peloDia Mundial de Luta contraa Aids, em 1º de dezembro,o Ministério da Saúde divul-

gou, na véspera, o Boletim Epidemio-lógico Aids/DST 2005. De acordo como documento, elaborado pelo Pro-grama Nacional de Doenças Sexual-mente Transmissíveis e Aids (PNDST/Aids), foram notificados 371.827 ca-sos de HIV/Aids no Brasil entre 1980e junho de 2005.

A Região Sudeste, primeira a serafetada pela epidemia e onde se con-centra a maior população do país,soma o maior número de casos, com234.736 notificações nesses 25 anos,mais da metade delas apenas no es-tado de São Paulo. São Paulo, no en-tanto, também apresenta a maior emais consistente redução na taxa deincidência da infecção, caindo de 33,2por 100 mil habitantes em 1998 para22,2 em 2004. Ao contrário do Rio deJaneiro, segundo estado mais afeta-do, que teve a taxa de incidência maisalta do país — 31,6 — em 2004.

O QUADRO BRASILEIROAssim, deve-se principalmente a

São Paulo uma relativa estabilização,embora em patamar alto, da taxa deincidência nacional, que foi de 17,2em 2004. Os índices de infecção apre-sentam crescimento acentuado nasregiões Norte, Centro-Oeste e Nor-deste, com destaque para Roraima,com incidência de 28,0. Chamam aten-ção também os números de 2003 doRio Grande do Sul, 35,4, a taxa maisalta já registrada no país desde o iní-cio da epidemia.

No Sul, a transmissão do HIV en-tre usuários de drogas injetáveis (UDI)tem peso maior do que nas outrasregiões, mas, neste item, o país temresultados positivos: o número decasos e a taxa de incidência nessesegmento da população vêm caindodesde 1997. Por outro lado, apesardos esforços para o controle sobre aqualidade do sangue no Brasil, aindaforam registrados 76 casos de trans-

Os novos números da epidemia

missão por transfusão sangüínea em2004, sendo cinco em crianças.

TRANSMISSÃO VERTICALAs ações visando prevenir a trans-

missão vertical — da mãe para o filhona gravidez, no parto ou pelaamamentação — têm conseguido redu-zir, paulatinamente, esse tipo de con-tágio. Em 1997, foram 1.002 casos,correspondendo a 91,3% das infecçõespor HIV em menores de 13 anos. Seteanos depois, o número de casos ficouem 390 (79,9%), e com tendência dequeda para 2005. No quadro geral daepidemia, a transmissão de mãe parafilho é causa de 3,7% do total de casosno país. Em novembro, o Ministério daSaúde lançou, em parceria com oUnicef, campanha para reduzir esseíndice a menos de 1% e para eliminar asífilis congênita nos próximos três anos.

A queda na transmissão vertical doHIV é ainda mais significativa quandoos dados revelam que, até 2003, o nú-mero de casos na população femininacresceu em todas as faixas etárias, comexceção de menores de cinco anos. Atransmissão sexual é causa de 94,7% doscasos de HIV/Aids entre mulheres, eas mais afetadas são justamente aque-las em idade reprodutiva.

A diferença entre o número dehomens e de mulheres infectados écada vez menor. Em 1985, a razão erade 26,5 casos masculinos para um fe-minino (26,5:1), mas caiu para 1,4:1em 2005. Na faixa dos treze aosdezenove anos, a proporção se inver-teu desde 1998, com o número deadolescentes soropositivas superan-do o de rapazes da mesma faixa etária.

Entre a população masculina, apior taxa de incidência foi registradaem 1998, chegando a 71,4 infectados

por 100 mil habitantes na faixa dos 30aos 34 anos. Desde então, os índicesse reduziram entre os homens dostreze aos 34 anos, mas aumentaramna faixa que vai dos 35 até 60 ou mais.

É de se notar que, desde 1999,há decréscimo no número de infec-ções pelo HIV em homens que fazemsexo com homens, enquanto nas re-lações heterossexuais os índices sãocada vez mais elevados: em junho de2005, somavam 44,9% do total de ca-sos entre a população masculina,contra 15,8% de homossexuais e 9,2%de bissexuais.

Mais da metade dos casos deHIV/Aids se dá na população branca,mas a percentagem de brancosinfectados tem se reduzido desde oano 2000. Entre a população parda, atendência é de alta. Além disso, opercentual de óbitos por Aids vemdecrescendo entre os brancos, masentre pardos e negros, a doença mataem proporção cada vez maior. Para ocoordenador do PNDST/Aids, PedroChequer, esses resultados expõem a“iniqüidade no acesso aos serviçospara diagnóstico e tratamento pre-coces das populações menos favore-cidas socioeconomicamente”. De1980 até o fim de 2004, a Aids causou171.923 mortes no país.

Os dados publicados no Boletimforam fornecidos pelo Setor de Pro-dução do Datasus. O cotejo entre osbancos de dados do Sistema de Infor-mações de Agravos de Notificação(Sinam), do Sistema de Controle deExames Laboratoriais (Siscel) e do Sis-tema de Controle Logístico de Medi-camentos (Siclom) possibilitou a iden-tificação e a redução de duplicidades,além da recuperação de 10 mil casosregistrados em plataforma DOS.

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Números mostram mudanças Números mostram mudanças

Tem sido significativa a redução da transmissão do HIV entre homossexuais,bissexuais e usuários de drogas injetáveis desde o fim da década de 90

A redução da taxa de incidência no estado mais afetado, São Paulo(de 33,2 por 100 mil habitantes em 1998 para 22,2 em 2004),puxa para baixo os índices nacionais, mas não reflete o que sepassa no restante do país

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no quadro da Aids no Brasilno quadro da Aids no Brasil

As tabelas deste quadro e outras constam do Boletim EpidemiológicoAids/DST 2005 (www.aids.gov.br/data/Pages/LUMIS9A49113DPTBRIE.htm),do Programa Nacional de Doenças Sexualmente Transmissíveis e Aids(www.aids.gov.br) do Ministério da Saúde

“Aids 25 anos: Balanço da epidemia que mudou o mundo”, Radis nº 40www.ensp.fiocruz.br/radis/40/capa.html

Este quadro está disponível em www.ensp.fiocruz.br/radis/41/web-01.html

O aumento da mortalidade por Aids entrepardos e negros indica dificuldades deacesso a tratamento por parcelas maispobres da população

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À mesa, o deputado Eduardo Campos, os ministros Sérgio Rezende, Ciro Gomes e Luiz Fernando Furlan e o coordenadordo evento, Carlos Aragão, ouviram o presidente Lula dizer que, na educação, “o Brasil não pode mais perder tempo”

3ª CONFERÊNCIA NACIONAL DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO

Por um Brasilcom ciência

Wagner Vasconcelos

Em 1985 o Brasil retomava o ca-minho da democracia e pre-parava terreno para um de-senvolvimento que, enfim, de-

veria sair do papel. Realizou, no mes-mo ano, a 1ª Conferência Nacional deCiência e Tecnologia, cujo objetivo

principal era definir uma política parao setor capaz de consolidar a tão so-nhada trajetória de crescimento. Oque permanece daquele período é apercepção de que ciência, tecnologiae seu mais novo componente, a ino-vação, são fundamentais para o de-senvolvimento de qualquer nação. Eessa percepção fez com que 2.138pessoas se inscrevessem para a 3ª

Conferência Nacional de Ciência,Tecnologia e Inovação (CNCTI), reali-zada em Brasília de 16 a 18 de novem-bro, no Hotel Blue Tree Alvorada, aolongo de três dias chuvosos.

O leitor pode se perguntar o queC&T tem a ver com a área de saúde.Tudo. São os avanços da ciência e asferramentas da tecnologia que im-pulsionam novas pesquisas e renovam

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esperanças no combate a várias do-enças. Que o digam as equipes quese debruçam sobre o estudo das cé-lulas-tronco e suas aplicações em di-versos tratamentos, ou as que lutamcontra a Aids e o câncer — para ci-tar alguns exemplos. Num momentoem que transversalidade é a palavrada moda, é impossível dissociar es-ses dois mundos, por tanto temposeparados no Brasil.

A 3ª CNCTI trouxe um marco e umdesafio, conforme avaliou o secretá-rio-geral do evento, Carlos Aragão, di-retor de desenvolvimento científico etecnológico da Financiadora de Estu-dos e Projetos (Finep/MCT). O marcoé transformar ciência e tecnologia empolítica de Estado. O desafio, fazer daeducação o alicerce dessa constru-ção. E se de todo o evento uma linhacentral de discussões puder ser des-tacada ela é exatamente a da educa-ção. Praticamente não houve pales-tra, mesa-redonda ou sessão plenáriaem que o tema não viesse à tona.

MUITOS NÚMEROSJá na abertura — concorridíssima

—, o presidente Lula afirmou a umauditório lotado (e impaciente como atraso de uma hora): “Na educa-ção, o Brasil não pode mais perdertempo”. Disse isso para pressionaro Congresso a aprovar a lei que criao Fundo de Manutenção e Desen-volvimento da Educação Básica (oFundeb), debate que levou o minis-tro Antonio Palocci, da Fazenda, aaudiência pública na Câmara na efer-vescente semana de cassação do ex-ministro José Dirceu. E também pararessaltar que os países mais podero-sos são os que dominam o conheci-mento científico e tecnológico. Opresidente brandiu muitos números,como o de 10 mil doutores formadosem 2005. Também lembrou de mo-mentos importantes para o país nocampo da C&T, como a aprovação dasleis de Inovação (Radis nº 29), deBiossegurança (Radis nº 32) e deInformática — todas com incentivose investimentos no setor.

A 3ª CNCTI reuniu, além da natada ciência e da pesquisa, cinco mi-nistros de Estado, uma média de 1.200participantes por dia. Antes da falade Lula, o ministro de C&T, SérgioRezende, lembrou que, a partir daconferência de 2001, percebeu-se anecessidade de mudanças no cursopolítico da ciência e da tecnologiapara que a inovação formasse um tri-pé de sustentação do desenvolvimen-to. O ministro da Integração Nacio-nal, Ciro Gomes, abriu a primeira

sessão plenária do evento, classificoua conferência como um “ato demilitância” e responsabilizou a “per-versão neoliberal” pelos grandes pro-blemas do país. Lembrou que, diantedo fenômeno da globalização, o do-mínio tecnológico não é global e queo Brasil padece de um retardotecnológico de três gerações. Paralutar contra esse fenômeno que acir-ra desigualdades sociais, o ministrodefendeu estratégias de desenvolvi-mento interno oriundas da capacida-de de organização social.

A POBREZA NA MIRAAfirmou que, com o Programa

Nacional de Desenvolvimento Regio-nal (PNDR), o governo reforça suapreocupação com a pobreza, mas sobo ponto de vista do desenvolvimen-to. Mostrou dados que confirmam asinaceitáveis desigualdades sociais noBrasil. Enquanto nos Estados Unidosa diferença entre o maior e o menorPIB per capita é de 2,3 vezes, aqui éde 8,8 vezes. Para mudar essa reali-dade, disse, o governo aumentou osrecursos do Fundo Nacional de De-senvolvimento Regional de R$ 3,1 bi-lhões em 2003 para R$ 7,1 bilhões em2005. E finalizou sugerindo a criaçãode um programa de C&TI para o de-senvolvimento regional.

Na sessão plenária, o coordena-dor, Lynaldo Cavalcanti de Albuquer-que, secretário-executivo da Asso-ciação Brasileira das Instituições dePesquisa Tecnológica, destacou amobilização para os encontros regi-onais que precederam a 3ª CNCTI.Marlene Correia Freitas, da regio-nal Norte, lamentou a ausência deuniversalidade de campos e área demestrado e doutorado na Região Nor-te. Programas e projetos desenvolvi-dos na área ainda são liderados inte-lectualmente pelo Sudeste brasileiro.E defendeu uma agenda de pesquisaem saúde que inclua meio ambiente.

Antônio Macedo Ferreira, daregional Sudeste, citou o fato de oencontro da região ter sido realiza-do na sede da Federação das Indús-trias do Estado do Rio de Janeiropara desmistificar o distanciamentoque a iniciativa privada mantém douniverso de C&TI. E ainda refutou aafirmação de que o Brasil está atra-sado científica e tecnologicamente.“Estamos é precariamente distribu-ídos”, disse ele, reforçando a ne-cessidade de maior cooperação en-tre os estados.

Se na Região Sudeste a partici-pação do empresariado é uma reali-dade, o mesmo não pode se dizer que

ocorra na Região Centro-Oeste, se-gundo relatou a secretária da regio-nal, Sônia Maria Jin, titular da pastade C&T do estado de Mato Grosso.Listou como desafios atacar a acele-rada devastação do solo e dosdemais recursos naturais, assimcomo a biopirataria. Tocou notema saúde, destacando a fra-gilidade da defesa sanitária naregião, detectada mesmo an-tes da eclosão da febre aftosa.

Sônia propôs a inclusão do Cer-rado e do Pantanal nos planos nacio-nais de mobilização, como ocorre como Semi-Árido e a Amazônia, e a realiza-ção de uma conferência sul-america-na de ciência e tecnologia. Por fim,aproveitando a presença de vários re-presentantes do governo federal, dis-se ser inadmissível que um país quedeseja se desenvolver mantenha a prá-tica do contingenciamento de recur-sos à área de C&T.

“O ambiente de não-cooperaçãoparece ser a regra, apesar dos avan-ços na área”, disse o professor JoséCarlos Cavalcanti, do Departamentode Economia da Universidade Fede-ral de Pernambuco e secretário daregional Nordeste. Para ele, os esta-dos podem competir e ajudar-se mu-tuamente. Zenório Piana, represen-tando o secretário da regional Sul,Edgar Augusto Lanzer, fez balanço daconferência de Florianópolis, desta-cando os planos locais de fortaleci-mento da pesquisa a partir da uniãodas fundações de apoio.

OS NÓS DA EDUCAÇÃODevido ao atraso do início do

evento, toda a programação da quar-ta-feira ficou comprometida. Já pas-sava das 15h quando as sessões para-lelas — marcadas para as 14h —começaram. A falta de identificaçãodas salas onde os temas seriam abor-dados causou alguma confusão edesencontro. Mas, enfim, o eventofoi retomado. E foi na sala 1, que abri-gava os temas de inclusão social, quemais uma vez se falou de educação.

O relator da sessão, Luiz Davido-vich, da Universidade Federal do Riode Janeiro, alertou para as distorçõesna distribuição de matrículas em cur-sos superiores do país. Disse que 69%das matrículas são para os cursos dasáreas de ciências sociais, enquantoapenas 11% delas são para cursos deengenharia e da área de ciência etecnologia. “Temos o desafio de ade-quar as instituições de ensino supe-rior às necessidades de uma nova so-ciedade, baseada na informação e noconhecimento”. Propôs cursos de

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Para o ministro Sergio Rezende, é “pífio” o desempenho do país em patentes

Aragão conclamou os participantes a “novas batalhas” pelo avanço de C&T

nível superior com ciclos mais curtose mencionou que os Estados Unidos,desde 1900, investem em cursos denível superior de até dois anos deduração. Uma idéia que muitos edu-cadores condenam mas que, paraDavidovich, poderia favorecer a inclu-são social no Brasil.

De certa forma, o diretor doDepartamento de Modernização eProgramas da Educação Superior doMinistério da Educação, Celso Car-neiro Ribeiro, respondeu a algumasdas angústias de Davidovich. Disse,por exemplo, que está havendo ex-pansão do número de vagas e deinstituições de ensino superior,com a abertura de novas universi-

dades federais. Em seguida, as aten-ções se voltaram para a ex-deputadafederal Esther Grossi, que preside oGrupo de Estudos sobre Educação,Metodologia da Pesquisa e Ação. Comseu estilo extravagante, devido àsfamosas madeixas multicoloridas,Esther criticou a ausência de res-paldo de pesquisa no sistema de en-sino: “O professor deve realizar pes-quisas em sala de aula”.

Também muito preocupado comos rumos da educação mostrou-seo presidente da Coordenação deAperfeiçoamento de Pessoal de Ní-vel Superior, a Capes, Jorge AlmeidaGuimarães. Para ele, privilegia-se oensino informativo, e os vestibula-

res contribuem para o que chamoude processos de memorização. Su-geriu, para alegria da platéia, queseja criado um fundo para a edu-cação no Brasil com recursos pro-venientes de uma porcentagem dolucro dos bancos. “Nenhum paíspermite que os bancos lucrem tan-to ao mesmo tempo em que seupovo é analfabeto”, alertou.

ROMPENDO O FOSSOA presença no evento do secre-

tário de Ciência e Tecnologia do Mi-nistério da Saúde, Moisés Goldbaum,simbolizou que está ficando para tráso tempo em que saúde e C&T anda-vam por trilhas paralelas — e a provadisso é a existência da própria secre-taria. “Estamos rompendo o fosso queexistia entre os ministérios”, atestouo secretário. Goldbaum lembrou que,no Brasil, o pioneirismo em C&T se deuexatamente na área da saúde, ressal-tando que os princípios do SUS seaplicam à área de ciência, tecnologiae inovação em saúde: a integralidadecompreende todo o complexo pro-dutivo; a eqüidade refere-se à ade-quação do conhecimento às neces-sidades de saúde da população; e auniversalidade, à oferta de conheci-mento a toda a população.

Goldbaum defendeu estratégiascomo sustentação e fortalecimentodo esforço nacional em C&TI e do sis-tema nacional de inovação em saú-de, a construção de uma agenda deprioridades para pesquisa e desenvol-vimento tecnológico em saúde e acriação de mecanismos para supera-ção das desigualdades regionais. So-bre essas desigualdades, disse queapenas 30% dos recursos de apoio àpesquisa são destinados às regiõesNorte, Nordeste e Centro-Oeste.

Os investimentos em pesquisatambém precisam ser revistos, defen-deu. Ele citou dados que retratamuma das grandes distorções do siste-ma: dos cerca de U$ 60 bilhões gas-tos com pesquisa em saúde, apenas10% são usados para tentar resolveros problemas de saúde que atingem90% da população.

Na manhã da quinta-feira, chu-va, vento forte e atrasos continua-ram marcando o evento. Na primeirasessão plenária, o presidente da Aca-demia Brasileira de Ciências, Eduar-do Moacyr Krieger, falou a um audi-tório lotado sobre a situação atualda ciência brasileira. Nossa produçãocientífica cresceu 8,1% nos últimos10 anos, afirmou, colocando-nos em17º lugar no ranking de países que maisse destacam na área. Obviamente, os

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líderes nesse quesito são os EstadosUnidos, logo seguidos pelos demaispaíses que compõem o G8 (Inglater-ra, Alemanha, França, Japão, Canadá,Itália, mais a Rússia). À nossa frenteainda figuram China e Índia.

Advertiu que o número de cien-tistas por habitante no Brasil ainda épequeno. E apareceu de novo a edu-cação. Segundo Eduardo, as univer-sidades privadas têm participaçãomuito pequena na produção científi-ca brasileira. Apenas 5% da produçãonacional parte dessas instituições deensino; as públicas colaboram com80%. Fora das universidades, as duasprincipais instituições são a Empre-sa Brasileira de Pesquisa Agropecuária(Embrapa) e a Fundação OswaldoCruz (Fiocruz).

Eduardo Krieger defendeu maisinvestimentos no ensino superior ecriticou as recorrentes reclamaçõesde que no Brasil se investe menos emeducação básica do que na superior.De acordo com ele, 58% dos investi-mentos em educação têm como alvoo ensino fundamental, enquanto o en-sino superior é contemplado com 21%dos investimentos.

Um dos mais divertidos momen-tos da conferência foi a palestrado ministro da Agricultura, RobertoRodrigues, cujo tema era “C&TI eAgronegócio”. Bem-humorado, faloude sua paixão pela agronomia, pro-fissão abraçada não só por ele, maspor toda a família, inclusive pai, so-gro, irmãos, filhos e, futuramente,pelos netos, a quem já exibe “asmaravilhas da profissão”. Os genrosnão seguem a profissão, mas isso nãoimporta, pois considera “genro umacategoria inferior”, brincou, fazen-do a platéia gargalhar.

O ministro mostrou dados sobreo potencial do setor no Brasil, os in-vestimentos que vêm sendo realiza-

dos e as perspectivas para o futuro.Enumerou algumas respostas que opaís espera da área de C&TI — alimen-tos mais saudáveis, incorporação doconhecimento, prevenção de doen-ças e pragas, maior eficiência, efi-cácia e efetividade das pesquisas, ra-cionalização de recursos naturais(como solo e água), minimização dosriscos climáticos e desenvolvimentode uma agropecuária com práticasconservacionistas —, mas não men-cionou as duas grandes polêmicasque envolvem seu ministério, comoa derrubada da floresta para o plan-tio de soja ou a expansão das cultu-ras transgênicas.

ADVERTÊNCIA AO BRASILOutro momento concorrido foi

a palestra do Prêmio Nobel de Quí-mica em 2000, Alan MacDiarmid. Ame-ricano nascido na Nova Zelândia, eleadvertiu que o Brasil precisa ter mui-to cuidado em relação a tecnologiasque lidera. Como exemplo, citou ocaso dos biocombustíveis, ramo emque o Brasil começou a se destacarainda na década de 70, quando de-senvolveu o programa de substitui-ção de gasolina por álcool, o cha-mado Pró-Álcool. Para MacDiarmid,essa iniciativa, além de pioneira, temimportância estratégica para todoo planeta, que busca combustíveisque substituam o petróleo. Seu aler-ta: se o Brasil não abrir os olhos,pode ser ultrapassado por outrospaíses que já começam a desenvol-ver tecnologias semelhantes.

MacDiarmid reforçou a necessi-dade de investimentos “porque apesquisa de hoje é a tecnologia deamanhã”. Em entrevista à Radis (págs.16 e 17), discorreu sobre os 10 maisgraves problemas que, em sua opinião,deverão ser enfrentados pelo mundonos próximos 50 anos: energia, água,comida, ambiente, pobreza, terroris-mo e guerra, doenças, educação,democracia e população.

À tarde, na sessão de inclusãosocial sob o tema “Tecnologias soci-ais”, o deputado Francisco AriostoHolanda (PSB-CE), engenheiro civilque já foi secretário estadual de C&T,repisou o tema da educação. São mui-to altos os índices de analfabetismofuncional no Brasil, lamentou. Comessa base degradada, o país fica de-fasado em C&TI. Em seguida, o se-cretário de Inclusão Social do MCT,Rodrigo Rollemberg, ao fazer umbalanço dos seminários preparató-rios para o evento, citou o Artigo28 da Constituição Federal, que dizque o Estado deve promover e in-

centivar o desenvolvimento científi-co e a pesquisa com o objetivo desolucionar os problemas reais do Bra-sil. Também preocupado com a edu-cação, mostrou que os analfabetosfuncionais somam 45 milhõesde pessoas, ou seja, 26% dapopulação.

No último dia do evento,e de novo com uma hora deatraso, o ministro de C&T, Sér-gio Rezende, iniciou a plenária “CTI edesenvolvimento” falando sobre o de-senvolvimento tardio em C&T no Bra-sil. Entre marcos importantes na his-tória do setor incluiu a criação, em1951, da Capes e do CNPq. Na áreada saúde, lembrou a importância doInstituto Manguinhos (hoje Fiocruz)para o desenvolvimento da pesquisae da ciência em saúde. Falou tam-bém do plano básico de desenvolvi-mento científico e tecnológico, cria-do em 1976, cujo problema era a faltade conexão com o setor industrial.Em 1985, um passo importante: a cri-ação do próprio ministério, e, no anoseguinte, o lançamento do progra-ma de formação de recursos huma-nos em áreas estratégicas. Em 1998,quando tudo parecia estar numa tra-jetória ascendente, o Fundo Nacio-nal de Desenvolvimento em C&T sofreuum “colapso”, com o encerramentode planos e apoios institucionais. Comisso, caiu o número de bolsas conce-didas pelo CNPq.

O cenário, de acordo com ele,vem sendo modificado, mas o minis-tro ressaltou que as conseqüênciasdesse período se refletem na concen-tração de C&T em universidades ecentros de pesquisa e no baixo nú-mero de empresas de pesquisa e de-senvolvimento. O Brasil precisa au-mentar sua participação mundial emC&T. Segundo o ministro, o país cola-bora com 1,7% das publicações cien-tíficas e tem apenas 0,2% das paten-tes — cujo crescimento o ministroconsidera “pífio”. Na Coréia do Sul,por exemplo, a década de 70, quan-do o país passou a se desenvolver, foimarcada por uma fase de “imitação”;a década seguinte, por uma fase deincentivo; e, nos anos 90, os coreanospassaram a fazer inovação.

No encerramento, o secretário-geral da 3ª CNCTI, Carlos Aragão,conclamou os participantes a novasbatalhas, que precisam ser travadaspara levar o setor a seu papel de pro-pulsor do desenvolvimento do Brasil.Um documento com propostas e es-tratégias debatidas ao longo da con-ferência deverá se elaborado e envi-ado ao Congresso Nacional.

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Aos 10 anos, um garoto pobreentra numa livraria de umacidadezinha da Nova Zelândiae se encanta com um livro

de química. Passados 63 anos, ele di-vide, com o americano Alan Heeger eo japonês Hideki Shirakawa, no ano2000, o Prêmio Nobel de Química.Juntos, descobriram que o plástico,conhecido por ser isolante elétrico,pode conduzir eletricidade após al-gumas modificações. Os plásticos sãopolímeros, moléculas cuja estruturase repete formando longas cadeias.Para se tornarem um condutor, pre-cisam “imitar” um metal, ou seja, terelétrons livres. Alan MacDiarmid, hojeaos 78 anos, foi o convidado de hon-ra da 3ª Conferência Nacional de Ci-ência, Tecnologia e Inovação. Noevento, falou da liderança brasileirana substituição de gasolina por ál-cool. Em sua opinião, um favor imen-so ao planeta, dependente do pe-tróleo — substância que, mesmo paraas previsões mais otimistas, está comos dias contados. Mas alertou que opaís precisa abrir os olhos para nãoperder a liderança.

No dia seguinte ao encerramen-to da 3ª CNCTI, um sábado chuvoso,Alan MacDiarmid recebeu a Radis paraduas horas e meia de conversa sobretemas variados, da educação à saú-de; da qualidade de vida ao uso cor-reto da ciência.

Ex-fumante há oito anos,MacDiarmid, americano naturalizado,retirou o cinzeiro posto sobre a mesae pediu licença para, ao longo daentrevista, chupar pastilhas com bai-xo teor de nicotina, que lhe aliviamos desconfortos da abstinência.

MacDiarmid acha que já devía-mos ensinar ciência a nossas crian-ças a partir dos 3 anos. “Estamos noséculo 21 e sinto que é essencial, para

ENTREVISTA

Alan MacDiarmid

“É essencial quea população tenha bom

conhecimento de ciência”toda a população do mundo, ter umbom conhecimento de ciência”. Eledefende que esse conhecimento éútil até em questões práticas: “Quan-do os políticos anunciam suas propos-tas para o meio ambiente — por exem-plo, aquecimento global — precisamossaber se eles estão dizendo coisasridículas ou não.”

Seu interesse por química surgiu nainfância. Como isso aconteceu?

Eu tinha 10 anos, mas lembrocomo se fosse hoje. Fui de bicicletaaté uma biblioteca da minha cidade(Masterton, Nova Zelândia). Lá den-tro, ao lado direito, no caminho paraa sessão infantil, passei por uma ses-são de livros novos e peguei um coma capa azul, que tratava de química.Fiquei fascinado, levei o livro pra casae, em um ano, realizei todos os expe-rimentos que li nele.

Isso mostra que é importante falarde ciência às crianças?

Sim, já devíamos ensinar ciênciaa nossas crianças a partir dos 3 anos.E a TV é muito importante nessa ta-refa, pois há formas divertidas parafazer isso, como com os desenhosanimados. Por exemplo: pode-se, numdesenho desses, mostrar balões decores diferentes e que, ao seremsoltos, têm comportamentos tambémdiferentes. Por que um sobe e o ou-tro desce? Não precisaríamos dar aresposta cientificamente correta deque o que sobe está cheio de ar,enquanto o que desce tem dióxidode carbono. Mas podemos despertara curiosidade das crianças com isso.

Por que é tão importante aprender-mos ciência?

Estamos no século 21 e sinto queé essencial, para toda a populaçãodo mundo, ter um bom conhecimen-

to de ciência. Pelo menos em paísesde regime democrático, que elegemseus líderes, isso é fundamental. Afi-nal, quando os políticos anunciam suaspropostas para o meio ambiente —por exemplo, aquecimento global —precisamos saber se eles estão dizen-do coisas ridículas ou não. Há muitosséculos, na Europa, as pessoaseducadas tinham de saber matemáti-ca, grego e latim. Hoje, temos deaprender ciência para sermos pesso-as educadas. Não que essas línguasnão sejam importantes, pois elas sãointeressantes, são culturais. Mas, noséculo 21, ciência e tecnologia se-rão ainda mais importantes.

Quais as falhas no sistema de educa-ção?

Há um ano eu estava dando umapalestra no Japão e falei a alunos deEnsino Médio para não acreditaremem tudo o que os professores diziam.Ou no que diziam os textos de livros,revistas ou jornais. Disse a eles: “Ques-tionem o tempo todo”. No dia seguin-te, encontrei dois professores não

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C.P./A.D.

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Nos EUA jáhá anúncios

publicitáriosmostrando achegada decarros movidosa combustíveisalternativos,e o Brasil sequeré mencionado.É precisoagir rápido.

muito felizes comigo. Diziam que erammuito ocupados para deixarem os alu-nos fazer perguntas. Mas no próprioJapão uma nova abordagem está sur-gindo. O ensino da escola deve seestender até as casas dos alunos. Odever de casa tem de incentivar oestudante a pesquisar, a perguntaraos pais, que, quando não souberemas respostas, também vão pesquisar.

Precisamos desenvolver C&T no Bra-sil. No entanto, na área da saúde, opaís ainda sofre de problemas bási-cos — como a falta de saneamento —que influem na saúde da população.O que priorizar: investimentos emC&T ou na solução desses problemas?

[encosta-se na poltrona, leva amão ao queixo e reflete alguns segun-dos antes de responder] Essa é umapergunta muito boa e muito impor-tante que seja feita. Se falarmos eminvestimentos em C&T, temos de verquanto tempo levaremos para ter lu-cro, porque os lucros desses investi-mentos podem ser usados para inves-tir em saneamento. E, se saneamentorequer dinheiro, de onde viriam osrecursos? O governo tem certamen-te muitas mãos pedindo dinheiro. Mastoda a questão depende do tempoque se pode esperar (se é que sepode esperar) até ter retorno dosinvestimentos em C&T.

A ciência e a tecnologia trouxerammuitos benefícios à humanidade. Mastambém foram usadas para o mal,como para o desenvolvimento dearmas de destruição em massa. Acre-dita que chegaremos ao dia em queelas serão usadas apenas para o bem?

[nova pausa para pensar] Infe-lizmente, muitos cientistas não sepreocupam com o modo como os go-vernos vão usar os seus projetos. Oque acho errado. Eu jamais assina-ria um contrato cujo objetivo fossecausar mal à população, como o usode bactérias nocivas ou construçãode bombas. Não conseguiria dormir.No século 21, os cientistas têm oreal papel de saber como suas pes-quisas ou tecnologias serão usadas.Mas sempre me disseram que o serhumano sempre viveu em guerra, queo homem sempre lutou contra seussemelhantes. A agressividade faz par-te de sua natureza. Somos animaisagressivos. A grande questão é: comolidar com nossa agressividade? NaÁfrica, que está sendo assolada pelaAids e pela fome, há tribos lutandopor diamantes ou petróleo. As úni-cas que vivem em paz são aquelas quenão herdaram nada disso em suas

terras. Gosto do ditado “faça amor,não faça guerra”.

Na conferência, o senhor listou 10grandes problemas que o mundoenfrentará nos próximos 50 anos,entre os quais, energia, água, co-mida, ambiente, pobreza. Podemosevitar esse cenário?

Sou otimista de que no futuroencontraremos novas formas deenergia, que serão usadas de acor-do com as condições ambientais decada país e com suas fontes de ener-gia. Fiquei muito impressionado comuma idéia que me foi apresentada naNova Zelândia e que trata de um sis-tema de geração de energia utilizan-do o fluxo das marés. Com energia,podemos ter água por dessalinizaçãoou outros métodos, e água nos per-mite ter comida. Claro que isso nãoé o suficiente para acabar com to-dos os problemas, mas temos a pos-sibilidade de eliminar alguns comofome, pobreza, guerra.

E como se insere o Brasil na buscapor essas soluções?

O Brasil tem feito muito para aju-dar o mundo, mas não sabe o quan-to ajuda, o quão importante é parao mundo. O Brasil liderou e lideratecnologias de substituição da gaso-lina, que é derivada do petróleo, porálcool. Mas acontece que o mundotodo também está correndo atrás e,

se o Brasil não investir mais nisso,em dois ou três anos perderá essaliderança. Nos Estados Unidos, já háanúncios publicitários mostrando achegada de carros movidos a combus-tíveis alternativos, e o Brasil se-quer é mencionado. É precisoagir rápido. Não podemos le-var dois meses. O que vamosfazer já na segunda-feira? É pre-ciso ter pressa. Há muitas pes-soas no governo preocupadas com ofuturo. Recebi um e-mail de um em-presário europeu da aviação civilmuito interessado em combustíveisalternativos para suas aeronaves. Oque o Brasil está esperando? Tem deir falar com esse empresário, dizer aele que o país tem condições de de-senvolver essa tecnologia. O pior quepode acontecer é ouvir um “não”.

O senhor vê solução para o proble-ma da Aids na África?

Vejo que vários países ajudam aÁfrica doando remédios, comida. E issoé muito importante. Mas precisamosir além. Um dos maiores benefícios aserem dados é a educação. As orga-nizações não-governamentais e outrosgrupos voluntários fazem um grandetrabalho também. Mas o que não po-demos é interferir em sua cultura, emseu modo de vida.

O nosso estilo de vida moderno estátornando a vida melhor ou pior?

Certa vez, eu, minha mulher emais um casal de amigos viajávamospela Europa. Em Paris, às margens doRio Sena, vimos um velho, sozinho, comum pedaço de pão e uma garrafa devinho, olhando o pôr-do-sol. Um denós falou: “Que coisa horrível”, en-quanto outro rebateu: “Isso é mara-vilhoso, pois é uma pessoa sensível”.[recita os versos “o que é a vida, setão cheia de cuidados, mas se nãotemos o cuidado de levantar e admi-rar?”]. Fui criança na época da Gran-de Depressão. Às vezes, quando voubuscar o jornal à porta de casa, vol-to lendo-o com a cabeça baixa. Masacho que devo fazer o contrário.Devemos olhar para cima. Considero-me um felizardo. Chego a trabalhar55 horas por semana, mas faço o quegosto. No geral, acho que as pessoasdevem aproveitar mais a vida. Mas apro-veitar dando, e não tirando. Algumaspessoas me perguntam por que traba-lho tanto e o que tiro de proveito davida. Respondo perguntando o que éque eu posso dar à vida. A vida é mara-vilhosa e amo o fato de ter uma razãopara acordar todos os dias. Sinto penados que não têm. (W. V.)

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EVENTOS

SIMPÓSIO HISTÓRIA DOS TRABALHADORES

DA SAÚDE EM UMA PERSPECTIVA

COMPARADA

ACasa de Oswaldo Cruz (COC/Fio-cruz), por meio da Estação His-

tória da Rede de Observatório de Re-cursos Humanos em Saúde (OPS/MS),organiza o Simpósio História dos Tra-balhadores da Saúde. O evento fazparte da programação das atividadescomemorativas do Dia Mundial da Saú-de, em 7 de abril. Temas em debate:Modelos históricos de formação derecursos humanos em saúde; Históriadas escolas de saúde pública; Saúdepública como um campo profissionalanalisado a partir de uma abordagemhistórica; Educação médica e suasrelações com a saúde pública; His-tórias das sociedades e associaçõesprofissionais; o papel das organiza-ções internacionais na saúde públi-ca e na formação profissional em saú-de; Trabalhadores da saúde e suaatuação em programas horizontais everticais; Curandeiros, agentes co-munitários de saúde e outros traba-lhadores não-tradicionais; As rela-ções entre médicos e curandeirosem diferentes contextos.Data 2 a 5 de abrilLocal Rio de JaneiroMais informaçõesTel. (21) 2560-4114E-mail [email protected]

FÓRUM INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO

DE TÉCNICOS DE SAÚDE

Organizado pela Escola Politécnicade Saúde Joaquim Venâncio

(EPSJV/Fiocruz), o fórum está inseridona programação do 8º Congresso Brasi-leiro de Saúde Coletiva e do 11º Con-gresso Mundial de Saúde Pública, pro-movidos pela Abrasco no Rio de Janeiro.O evento traz à discussão conhecimen-tos, experiências e demandas relativasà formação de trabalhadores técnicosem saúde. Destina-se a estes profissio-nais, educadores, pesquisadores e pós-graduandos das áreas de Trabalho e Edu-cação, Saúde Pública e RelaçõesInternacionais, como também professo-res de escolas técnicas de saúde egestores dos serviços públicos de saúdedos países do continente americano, dospaíses africanos de língua oficial portu-

guesa (palops), Portugal e Timor Leste.Para participar do fórum, é necessárioinscrever-se no congresso pelo sitewww.saudecoletiva2006.com.br.Data 21 a 25 de agosto de 2006Local Rio de JaneiroMais informaçõesEPSJV/Fiocruz — Coordenação deCooperação InternacionalTel./fax (21) 3865-9730E-mail [email protected]

PUBLICAÇÕES

DOENÇAS, PREVENÇÃO E CONTROLE

Hepatite C — Aspec-tos críticos de umaepidemia silenciosa,de Rosângela Teixeira,Olindo Assis MartinsFilho e GuilhermeCorrêa de Oliveira,busca contribuir comidéias e conhecimen-tos sobre essa doença que está entreos principais problemas de saúde nomundo. O livro, publicado pela EditoraFiocruz com a Coopmed Editora Médi-ca, apresenta todos os tópicos de in-teresse sobre a hepatite C, incluindoaspectos epidemiológicos, imunoló-gicos, patogênicos, morfológicos,evolutivos, clínicos e terapêuticos.Participam 32 colaboradores de dife-rentes instituições.

Vacinas, soros eimunizações noBrasil, organizadopor Paulo MarchioriBuss, José GomesTemporão e Joséda Rocha Carva-lheiro, é fruto dereflexões e da pro-dução científica na área de vacinas,soros e imunizações. Publicado pelaEditora Fiocruz, o livro aborda o pro-blema das doenças imunopreveníveis,descreve a dinâmica do setor produti-vo de vacinas no complexo da saúde,apresenta resultados do projeto Ino-vação em Saúde, criado pela Fiocruzem 2001 para o desenvolvimentotecnológico e científico do país, mos-tra os esforços das maiores instituiçõesde pesquisa na área de vacina, apre-senta experiências na área de vacinase soros e destaca o papel do FundoRotatório de Vacinas da OrganizaçãoPan-Americana de Saúde (Opas).

HISTÓRIA DA SAÚDE

Louis Pasteur &Oswaldo Cruz, or-ganizado por NísiaTrindade Lima eMarie-Hélène Mar-chand como partedas comemoraçõesdo Ano do Brasil naFrança, é fruto dacooperação entre a Fundação OswaldoCruz e o Instituto Pasteur, da França.Publicado pela Editora Fiocruz em par-ceria com a Fundação BNP Paribas Bra-sil, aborda a história da contribuiçãocientífica de Pasteur e Oswaldo Cruz,apresenta os desafios atuais para asrelações entre pesquisa em saúde emelhoria nas condições de saúde dassociedades em desenvolvimento, abor-da os investimentos em políticas de saú-de em nível internacional e o papel doInstituo Pasteur e finaliza com a históri-ca parceria entre os dois institutos.

NUTRIÇÃO

Antropologia e nutri-ção: um diálogo pos-sível, organizado porAna Maria Canesqui eRosa Wanda Diez Gar-cia, apresenta amplarevisão bibliográficasobre a área da an-tropologia e da nu-trição. Aborda os paradoxos e a re-percussão das transformações sociaise da internacionalização da econo-mia na cultura alimentar, como tam-bém a alimentação nos diferentesespaços, privados e públicos. Publica-do pela Editora Fiocruz, o livro se inse-re na coleção Antropologia e Saúde,mostrando que a comida tem históriassociais, econômicas e simbólicas com-plexas e que o gosto do ser humanopelas substâncias não é inato.

SERVIÇO

Editora FiocruzAv. Brasil, 4.036, sala 112, Manguinhos,Rio de Janeiro, RJCep 21040-361Tel. (21) 3882-9039 e 3882-9006E-mail [email protected] www.fiocruz.br/editora

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PÓS-TUDO

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Os fantasmas da autoria

* Editor dos Cadernos de Saúde Pú-

blica; publicado Cad. Saúde Públi-ca [online], set./out. 2005, vol.21,nº 5 [citado 12/12/2005], p.1304-1305. ISSN 0102-311X. Disponíveln a w e b : h t t p : / / w w w. s c i e l o . b r /scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X2005000500001&lng=pt&nrm=iso

** Tradução livre da Radis: "Traba-

lhar com um redator-fantasma é umaótima forma de garantir que suamensagem seja claramente recebida.Esta solução pode ajudá-lo a cumprirprazos e aproveitar oportunidadessem sacrificar outras prioridades ecompromissos."

Carlos E. A. Coimbra Jr.*

Há muito que se convive com pro-fissionais de redação que pres-

tam seus serviços a celebridades pou-co afeitas à caneta mas que, talvezpor vaidade, desejam ver publicadasua “autobiografia”. Também os polí-ticos não costumam redigir seus pró-prios textos e discursos, buscando ospréstimos de profissionais da escrita.Recorrer aos serviços desses profis-sionais, também conhecidos comoghostwriters (ou “escritores-fantas-ma”) é, portanto, prática corrente,em torno da qual não há muita con-testação, desde que adstrita às esfe-ras política ou comercial. Por outrolado, dificuldades em lidar com a “au-toria-fantasma” (ou ghost authorship)surgem com grande impacto, inclusi-ve na mídia, quando estas adentramo meio científico-acadêmico.

A autoria é central à credibili-dade do sistema acadêmico-científi-co contemporâneo. Nas áreas bási-cas mais competitivas, a autoria de umartigo está diretamente relacionada àprimazia do autor sobre uma dada des-coberta, o que em muitos casos en-volve o pagamento de royalties. É pormeio do reconhecimento da autoriaem teses e dissertações, artigos pu-blicados em revistas especializadas oulivros, que as instituições conferemtítulos acadêmicos e que agências defomento pontuam os currículos depesquisadores, avaliam cursos e, emúltima instância, definem promoções,gratificações e financiamentos.

Principalmente durante a segun-da metade do século XX verificou-sea expansão de um novo tipo de “au-tor”, o co-autor. Relativamente raroaté então, os trabalhos em co-autoriatornaram-se a regra em muitos cam-pos, inclusive nas ciências da saúde.Face às implicações éticas e jurídicasde tal expansão, inúmeras associaçõescientíficas internacionais preocupam-se com a definição de autoria e deco-autoria, deixando claro que aque-les que figuram na lista de autoresdevem ter participado de parcela ex-pressiva da análise dos dados e da re-dação do trabalho. Frisam ainda que

os autores, independente de sua po-sição na lista, devem ser capazes deassumir publicamente responsabilida-de pelo trabalho como um todo. Por-tanto, autores são candidatos nãosomente a colher os louros advindosde um trabalho científico (prêmios,promoções etc.), como deverão assu-mir responsabilidade ética e jurídicapelo mesmo caso surja alguma con-testação. O alicerce desse sistema ruicom a autoria-fantasma.

Infelizmente, há indícios de que aprática está em franca expansão. Atra-vés de uma rápida busca na Internet épossível recuperar um número surpre-endente de profissionais especializadose, até mesmo de pequenas empresasde autoria-fantasma, que anunciam seuspréstimos, inclusive para a redação deteses e dissertações. Em um dessessites lê-se: “Working with a ghostwriteris a great way to ensure that yourmessage gets out and comes acrossclearly. This solution can help you meetdeadlines and grasp opportunities,without sacrificing other priorities andcommitments”.

**

Outra situação insólita é aquelade autoria-fantasma associada ao quepoderíamos chamar de “empréstimode autoria”. Um caso recente envol-veu uma médica de uma prestigiadauniversidade norte-americana que foiprocurada por uma empresa de co-municação contratada por um labo-ratório farmacêutico para que “assi-nasse” um artigo reportando osresultados de testes sobre uma nova

droga. A pesquisadora denunciou ocaso, o que gerou ampla repercus-são, inclusive no Brasil (Folha de S.Paulo 2005; 15 Abr:A16-7).

Essas situações expõem as enor-mes fragilidades que, no atual contex-to, envolvem a figura do autor e o con-ceito de autoria. O conhecido mote“publicar ou perecer” nunca estevetão presente. Dada a complexidade doquadro, assegurar a lisura do processode produção do conhecimento cientí-fico, em todas as suas etapas, é tarefaque não pode ser delegada a apenasalguns poucos guardiões da academia.Os integrantes de bancas de examespúblicos, dos conselhos das revistas ci-entíficas e membros dos comitês as-sessores das agências financiadoras de-sempenham papel central nesseprocesso, devendo buscar identificara autenticidade da autoria dos traba-lhos sob análise.

A.D./C.P.

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