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I Avaliação Energética e Ambiental de um Veículo Diesel Recente Daniel Filipe Tereso Rei Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Mecânica Júri Presidente: Prof. Luís Rego Cunha Eça Orientadora: Drª Carla Alexandra Monteiro da Silva Co-Orientador: Prof. Tiago Alexandre Abranches Teixeira Lopes Farias Vogal: Prof. António Luis Nobre Moreira Outubro 2007

Avalia o Energ tica e Ambiental de um Ve culo Diesel Recente · III Abstract This study concerns the application of the simulator EcoGest to the case of a Diesel light-duty vehicle,

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I

Avaliação Energética e Ambiental de um Veículo

Diesel Recente

Daniel Filipe Tereso Rei

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em

Engenharia Mecânica

Júri

Presidente: Prof. Luís Rego Cunha Eça

Orientadora: Drª Carla Alexandra Monteiro da Silva

Co-Orientador: Prof. Tiago Alexandre Abranches Teixeira Lopes Farias

Vogal: Prof. António Luis Nobre Moreira

Outubro 2007

I

Agradecimentos

Ao Professor Tiago Farias pelo incentivo à realização deste projecto e pelo entusiasmo que

incute aos seus alunos.

À Doutora Carla Silva pelo constante incentivo, disponibilidade, apoio e partilha de

conhecimentos.

Ao Engenheiro Gonçalo Gonçalves pelo inestimável apoio na instalação e operação do

laboratório experimental e pela ajuda na interpretação dos dados daí recolhidos.

Ao Engenheiro João Bravo pelo apoio na obtenção de dados dos simuladores utilizados.

Aos Engenheiros Lino Braz e Rogério Mota da BMW Portugal pela partilha de conhecimentos

técnicos relativos à viatura de teste.

À BMW Portugal pela autorização de utilização da viatura de testes para a instalação do

laboratório experimental.

Ao Concessionário BMW SDrive pela cedência das suas instalações e recursos para a

instalação inicial do laboratório experimental.

II

Resumo

O presente estudo visa a aplicação do simulador EcoGest ao caso de uma viatura ligeira

Diesel, para obtenção duma simulação do seu desempenho energético e ambiental (consumo

de gasóleo e emissão de HC, CO, NOx, PM e CO2) em determinado percurso, quando

conduzida de determinada forma. Para validar os valores de consumo de combustível

simulados, estes foram comparados com os medidos através da instalação de um laboratório

experimental numa viatura e com os valores divulgados na homologação desta.

Após seleccionada a viatura de teste e instalado o laboratório experimental, procedeu-se à

recolha de dados topográficos, dinâmicos e do consumo de combustível nos percursos

escolhidos. Com estes dados, foi simulado o consumo de combustível e a emissão de gases

de escape no EcoGest. Também o NEDC (New European Driving Cycle) foi simulado. O

consumo de combustível foi comparado com os valores recolhidos nos percursos de teste, com

uma diferença máxima de -2,5% entre o valor simulado e o medido, e com o anunciado para o

NEDC, com uma diferença de +5,9%.

Após a validação, foram construídos cenários adicionais de configuração da viatura e feita nova

simulação. No caso de uma transmissão com relações mais “longas”, obteve-se uma variação

máxima de -2,0% no consumo de combustível e quando aumentada a ocupação para 5

passageiros, de +3,9%. Ao reduzir-se o peso da viatura em 40%, estima-se uma variação

máxima de -19,2% e no caso da hibridização da viatura, de -17,4%. Estima-se que o sistema

de arranque automático permite uma variação máxima de -4,7%.

PALAVRAS-CHAVE: modelo instantâneo de consumos e emissões, veículos rodoviários,

motores de combustão interna, motores Diesel, desempenho energético e ambiental.

III

Abstract

This study concerns the application of the simulator EcoGest to the case of a Diesel light-duty

vehicle, to simulate its energetic and environmental performance (fuel consumption, HC, CO,

NOx, PM and CO2 emission) in a determined trip and when driven in a certain way. The

simulation figures were compared to data obtained through the installation of an experimental

laboratory in a test vehicle and to its homologation data, to allow validation of the simulator.

After being selected a test vehicle and being installed the experimental laboratory, topographic,

dynamic and fuel consumption data was collected in the chosen validation trips. This data was

used to simulate the fuel consumption and exhaust gas emissions on the trips. Also the NEDC

(New European Driving Cycle) was simulated. Simulated fuel consumption figures where

compared with the data collected through the experimental laboratory, with a maximum

difference of -2,5% for the measured trips and of +5,9% for the NEDC.

After validation of the simulated results, additional alternative scenarios for the vehicle

configuration were designed and the energetic and environmental performance were simulated.

The results were compared to the ones obtained with the original configuration. The usage of a

transmission with “longer” ratios resulted in a maximum variation on fuel consumption of -2,0%,

and with an occupation of 5 passengers, +3,9%. When the vehicle’s weight is reduced by 40%,

a maximum variation of -19,2% was obtained, and when the vehicle is hybridized, -17,4%. The

automatic start and stop system’s effect was estimated to be -4,7%.

KEY-WORDS: instantaneous fuel consumption and emission model, road vehicles, internal

combustion engines, Diesel engines, energetic and environmental performance.

IV

Índice

Agradecimentos.............................................................................................................................. I Resumo.......................................................................................................................................... II Abstract......................................................................................................................................... III Índice ........................................................................................................................................... IV Índice de Figuras ......................................................................................................................... VI Índice de Tabelas ......................................................................................................................... X Simbologia e Abreviaturas......................................................................................................... XII 1 Introdução.................................................................................................................................1 1.1 Enquadramento..............................................................................................................1 1.1.1 O Nascimento do Automóvel ...........................................................................1 1.1.2 Formação de Poluentes ...................................................................................4 1.1.2.1 Emissão de Hidrocarbonetos...........................................................6 1.1.2.2 Emissão de Óxidos de Azoto...........................................................6 1.1.2.3 Emissão de Partículas .....................................................................7 1.1.2.4 Emissão de Monóxido de Carbono..................................................8 1.1.3 O Automóvel e a Poluição Atmosférica ...........................................................8 1.1.4 Evolução do Parque Circulante de Viaturas Diesel .......................................16 1.2 Objectivos ....................................................................................................................17 1.3 Organização da Dissertação........................................................................................18 2 Metodologia ............................................................................................................................19 3 Simuladores............................................................................................................................21

3.1 EcoGest .......................................................................................................................21 3.1.1 DEMB – Diesel Engine Map Builder ..............................................................21

3.1.1.1 Modelação do Consumo de Combustível ......................................22

3.1.1.2 Simulação da Curva de Potência Máxima.....................................23

3.1.1.3 Simulação das Emissões...............................................................24 3.1.2 Simulação da Dinâmica da Viatura................................................................26 3.2 ADVISOR .....................................................................................................................29

V

4 Laboratório Experimental........................................................................................................31 4.1 Caudalímetro................................................................................................................31 4.2 Unidade GPS ...............................................................................................................35 4.3 OBD .............................................................................................................................36 4.4 Computador Portátil .....................................................................................................36 4.4.1 Aplicação GPS ...............................................................................................37 4.4.2 Aplicação Caudalímetro .................................................................................38 4.4.3 Aplicação OBD...............................................................................................38 4.4.4 Aplicação Analisador de Gases de Escape...................................................39 4.5 Alimentação .................................................................................................................40 5 Caso de Estudo ......................................................................................................................41 5.1 Veículo de Ensaio ........................................................................................................41 5.2 Os Percursos de Teste ................................................................................................45 5.2.1 Viagem 1: Lisboa - Cascais ...........................................................................45 5.2.2 Viagem 2: Cascais - Lisboa ...........................................................................48 5.3 Adaptação e Aplicação do Simulador ..........................................................................51 5.3.1 Adaptação do EcoGest ..................................................................................51 5.3.2 Aplicação do EcoGest....................................................................................52 5.3.2.1 DEMB.............................................................................................52

5.3.2.2 Simulação do NEDC ......................................................................57 5.3.2.3 Simulação da Viagem 1: Lisboa - Cascais ....................................63 5.3.2.4 Simulação da Viagem 2: Cascais - Lisboa ....................................65 5.5 Cenários Alternativos...................................................................................................67 5.5.1 Relações de Transmissão mais “Longas”......................................................68 5.5.2 Variação do Número de Ocupantes...............................................................70 5.5.3 Variação do Peso da Viatura .........................................................................71 5.5.4 Sistema de Arranque Automático Stop&Start................................................73 5.5.5 Hibridização da Viatura ..................................................................................74 6 Conclusões e Indicações para Trabalho Futuro.....................................................................76 7 Referências Bibliográficas ......................................................................................................78

VI

Índice de Figuras

Figura 1-1 - Motorwagen de Benz, o precursor do automóvel moderno...................................... 1 Figura 1-2 - Mercedes-Benz Type 206D, o primeiro automóvel de produção com

motor Diesel.. ....................................................................................................................... 3 Figura 1-3 - Ford Modelo T de 1926, na sua típica cor negra, a única disponível

após a implementação das linhas de montagem móveis em 1913, por permitir um tempo secagem inferior à das restantes cores................................................ 4

Figura 1-4 - Ciclo de velocidade NEDC...................................................................................... 14 Figura 1-5 - Divisão do parque circulante de veículos de passageiros na Europa

por tipo de combustível, em 2005...................................................................................... 16 Figura 1-6 - Percentagem das vendas de automóveis de passageiros Diesel na

UE e EFTA... ...................................................................................................................... 17 Figura 3-1 - Janela de entrada de dados do DEMB.. ................................................................. 26 Figura 3-2 - Selecção das regras de mudança da relação engrenada no EcoGest .................. 27

Figura 3-3 - Gráfico para a determinação do coeficiente de inércia rotacional dos veículos.VH é igual à cilindrada do motor do veículo em causa. m é o peso do veículo e kg/l é a relação peso/cilindrada..................................................................... 27

Figura 3-4 - Exemplo de um ficheiro de saída do EcoGest com os resultados médios simulados.. ............................................................................................................ 28

Figura 3-5 - Vista parcial de um exemplo de um ficheiro de saída do EcoGest

com o detalhe de todos os parâmetros calculados e simulados.. ..................................... 29 Figura 3-6 - Máscara de entrade de dados da viatura do ADVISOR.. ....................................... 30 Figura 3-7 - Visualização de resultados no ADVISOR.. ............................................................. 30 Figura 4-1 - Caudalímetro CORRSYS-DATRON CDS-DFL-1A................................................. 31 Figura 4-2 - Unidade CORRSYS-DATRON CDS-DFL-WT........................................................ 32 Figura 4-3 - Esquema de ligação das unidades CDS-DFL-1A e CDS-DFL-WT.. ...................... 33 Figura 4-4 - Acesso à bomba de combustível do depósito.. ...................................................... 33 Figura 4-5 - Ligações da unidade CDS-DFL-WT à bomba de combustível do

depósito.............................................................................................................................. 34 Figura 4-6 - Instalação do caudalímetro no interior da viatura................................................... 34 Figura 4-7 - Adaptador de ligação da unidade CDS-DFL-WT à linha de retorno

de combustível. .................................................................................................................. 34 Figura 4-8 - Unidade de GPS Garmin GPSmap 76CSx............................................................. 35 Figura 4-9 - Antena GPS exterior.. ............................................................................................. 35

VII

Figura 4-10 - Ligação à porta OBD da viatura............................................................................ 36 Figura 4-11 - Computador portátil instalado no posto do passageiro.. ...................................... 37 Figura 4-12 - Aplicação GPS do FrotLab.. ................................................................................. 37 Figura 4-13 - Aplicação Caudalímetro do FrotLab.. ................................................................... 38 Figura 4-14 - Aplicação OBD do FrotLab.. ................................................................................. 39 Figura 4-15 - Aplicação Analisador de Gases de Escape do Frotlab.. ...................................... 39 Figura 4-16 - Ecrã do FrotLab, com os diversos módulos. ........................................................ 40 Figura 4-17 - Alimentação a partir da bateria da viatura.. .......................................................... 40

Figura 4-18 – Cablagem de alimentação.. ................................................................................. 40 Figura 5-1 - BMW 118d LCI........................................................................................................ 42 Figura 5-2 - Motor BMW N47D2, que equipa a viatura de teste.. .............................................. 43 Figura 5-3 - Viagem 1: Lisboa - Cascais (linha azul) ................................................................. 45 Figura 5-4 - Variação da altitude e declive na Viagem 1: Lisboa - Cascais............................... 46 Figura 5-5 - Ciclo de velocidade instantânea da Viagem 1: Lisboa - Cascais.. ......................... 47 Figura 5-6 - Variação da velocidade de rotação do motor na Viagem 1: Lisboa -

Cascais.. ............................................................................................................................ 47 Figura 5-7 - Variação da carga do motor na Viagem 1: Lisboa - Cascais.. ............................... 47 Figura 5-8 - Consumo instantâneo de combustível na Viagem 1: Lisboa -

Cascais.. ............................................................................................................................ 48 Figura 5-9 - Viagem 2: Cascais - Lisboa (linha azul).. ............................................................... 48 Figura 5-10 - Variação da altitude e declive na Viagem 2: Cascais - Lisboa............................. 49 Figura 5-11 - Ciclo de velocidade instantânea da Viagem 2: Cascais - Lisboa ......................... 50 Figura 5-12 - Variação da velocidade de rotação do motor na Viagem 2: Cascais

- Lisboa .............................................................................................................................. 50 Figura 5-13 - Variação da carga do motor na Viagem 2: Cascais - Lisboa ............................... 50 Figura 5-14 - Consumo instantâneo de combustível na Viagem 2: Cascais -

Lisboa................................................................................................................................. 51 Figura 5-15 - Ecrã de entrada de dados do DEMB, com as carecterísticas do

BMW 118d LCI e do gasóleo ............................................................................................. 53 Figura 5-16 - Curva de potência máxima simulada via DEMB................................................... 53 Figura 5-17 - Relação entre a velocidade de rotação, a carga e o consumo de

combustível do motor, simulada via DEMB ....................................................................... 54 Figura 5-18 - Relação entre a velocidade de rotação, a carga e a emissão de HC

antes dos sistemas de tratamento, simulada via DEMB ................................................... 54

VIII

Figura 5-19 - Relação entre a velocidade de rotação, a carga e a emissão de CO

antes dos sistemas de tratamento, simulada via DEMB ................................................... 55 Figura 5-20 - Relação entre a velocidade de rotação, a carga e a emissão de

NOX antes dos sistemas de tratamento, simulada via DEMB ........................................... 55 Figura 5-21 - Relação entre a velocidade de rotação, a carga e a emissão de PM

antes dos sistemas de tratamento, simulada via DEMB ................................................... 56 Figura 5-22 - Relação entre a velocidade de rotação, a carga e a temperatura

dos gases de escape, simulada via DEMB ....................................................................... 56 Figura 5-23 - Ecrã de introdução das opções de cálculo do EcoGest ....................................... 57 Figura 5-24 - Escolha do NEDC como ciclo de velocidade no EcoGest.................................... 57 Figura 5-25 - Escolha da velocidade à qual é engrenada a relação de caixa

seguinte.............................................................................................................................. 58 Figura 5-26 - Introdução dos dados do veículo e da sua ocupação .......................................... 58 Figura 5-27 - Consumo instantâneo simulado, para o NEDC, sem correcção para

sistema de arranque automático stop&start ...................................................................... 59 Figura 5-28 - Emissão de HC antes dos sistemas de tratamento, simulada para o

NEDC, sem correcção para sistema de arranque automático stop&start ......................... 59 Figura 5-29 - Emissão de CO antes dos sistemas de tratamento, simulada para o

NEDC, sem correcção para sistema de arranque automático stop&start ......................... 60 Figura 5-30 - Emissão de NOX antes dos sistemas de tratamento, simulada para

o NEDC, sem correcção para sistema de arranque automático stop&start ...................... 60 Figura 5-31 - Emissão de PM antes dos sistemas de tratamento, simulada para o

NEDC, sem correcção para sistema de arranque automático stop&start ......................... 60 Figura 5-32 - Consumo instantâneo de combustível medido experimentalmente e

simulado no percurso Lisboa - Cascais ............................................................................. 63 Figura 5-33 - Emissão de HC à saída do escape, simulada para o percurso

Lisboa - Cascais................................................................................................................. 64 Figura 5-34 - Emissão de CO à saída do escape, simulada para o percurso

Lisboa - Cascais................................................................................................................. 64 Figura 5-35 - Emissão de NOX à saída do escape, simulada para o percurso

Lisboa - Cascais................................................................................................................. 64 Figura 5-36 - Emissão de PM à saída do escape, simulada para o percurso

Lisboa - Cascais................................................................................................................. 65 Figura 5-37 - Consumo instantâneo de combustível medido experimentalmente e

simulado no percurso Cascais - Lisboa............................................................................. 65 Figura 5-38 - Emissão de HC à saída do escape, simulada para o percurso

Cascais - Lisboa................................................................................................................. 66 Figura 5-39 - Emissão de CO à saída do escape, simulada para o percurso

Cascais - Lisboa................................................................................................................. 66

IX

Figura 5-40 - Emissão de NOX à saída do escape, simulada para o percurso

Cascais - Lisboa................................................................................................................. 66 Figura 5-41 – Emissão de PM à saída do escape, simulada para o percurso

Cascais - Lisboa................................................................................................................. 67 Figura 5-42 - Janela de entrada de dados do ADVISOR, com a hibridização do

BMW 118d LCI................................................................................................................... 74 Figura 5-43 - Resultados do ADVISOR para o NEDC, com a hibridização do

BMW 118d LCI................................................................................................................... 75

X

Índice de Tabelas

Tabela 1-1 - Limites admissíveis para emissões de poluentes de veículos ligeiros de passageiros (Categoria M1*) na União Europeia, g/km.. .............................................. 13

Tabela 3-1 – Correlações para emissões de gases de escape ................................................. 24 Tabela 5-1 - Registo de viaturas ligeiras de passageiros na UE e EFTA.. ................................ 41 Tabela 5-2 - Principais características da viatura de teste......................................................... 44 Tabela 5-3 - Resumo dos dados mais relevantes do percurso Lisboa - Cascais ...................... 46 Tabela 5-4 - Resumo dos dados mais relevantes do percurso Cascais - Lisboa ...................... 49 Tabela 5-5 - Valores do consumo e emissão de gases de escape antes dos

sistemas de tratamento, simulados para o NEDC, sem correcção para sistema de arranque automático stop&start ...................................................................... 61

Tabela 5-6 - Valores do consumo e emissão de gases de escape antes dos

sistemas de tratamento, simulados para o NEDC, com correcção para sistema de arranque automático stop&start ...................................................................... 61

Tabela 5-7 - Eficiências de conversão estimadas para HC, CO, NOX e PM e

comparação dos valores à saída de escape, simulados à saída do escape para o NEDC, com os valores homologados..................................................................... 62

Tabela 5-8 - Comparação dos valores medidos e simulados para o percurso

Lisboa - Cascais................................................................................................................. 65 Tabela 5-9 - Comparação dos valores medidos e simulados para o percurso

Cascais - Lisboa. ............................................................................................................... 67 Tabela 5-10 - Comparação das relações de transmissão originais e mais

“longas” .............................................................................................................................. 68 Tabela 5-11 - Resultados da simulação no EcoGest do NEDC variando as

relações de transmissão, valores à saía do escape, com sistema de arranque automático .......................................................................................................... 69

Tabela 5-12 - Resultados da simulação no EcoGest da Viagem 1 (Lisboa -

Cascais) variando as relações de transmissão, valores à saía do escape....................... 69 Tabela 5-13 - Resultados da simulação no EcoGest da Viagem 2 (Cascais -

Lisboa) variando as relações de transmissão, valores à saía do escape ......................... 69 Tabela 5-14 - Resultados da simulação no EcoGest da Viagem 1 (Lisboa -

Cascais) variando a ocupação da viatura, valores à saía do escape.. ............................. 71 Tabela 5-15 - Resultados da simulação no EcoGest da Viagem 2 (Cascais -

Lisboa) variando a ocupação da viatura, valores à saía do escape.................................. 71 Tabela 5-16 - Resultados da simulação no EcoGest na Viagem 1 (Lisboa -

Cascais) variando a tara da viatura, valores à saía do escape.. ....................................... 72 Tabela 5-17 - Resultados da simulação no EcoGest na Viagem 2 (Cascais -

Lisboa) variando a tara da viatura, valores à saía do escape.. ......................................... 72

XI

Tabela 5-18 - Resultados da simulação no EcoGest na Viagem 1 (Lisboa - Cascais) e estimativa do impacto do sistema de arranque automático, valores à saía do escape ................................................................................................... 73

Tabela 5-19 - Resultados da simulação no EcoGest na Viagem 2 (Cascais -

Lisboa) e estimativa do impacto do sistema de arranque automático, valores à saía do escape ................................................................................................... 73

XII

Simbologia e Abreviaturas

ACEA Associação de Construtores Europeus Automóveis

B binário do motor

Bmax; Bbmax binário máximo do motor

BP binário do motor no ponto de potência máxima

ADVISOR ADvanced VehIcle SimulatOR

Cd coeficiente de resistência aerodinâmica

CO monóxido de carbono

CO2 dióxido de carbono

CS concentração de enxofre

DI injecção directa

E85 combustível constituído por uma mistura de gasolina e etanol em 85% do

volume

ECE15 ciclo europeu de condução urbana

EFTA European Free Trade Association

EGR recirculação de gases de escape

ETBE ethyl tertiary butyl ether

EUDC ciclo europeu de condução extra-urbana

GPL gás de petróleo liquefeito

GPS sistema de posicionamento global

HC hidrocarbonetos

i relação final de transmissão

IDI injecção indirecta

JAMA Associação Japonesa de Fabricantes Automóveis

KAMA Associação Coreana de Fabricantes Automóveis

km coeficiente de inércia rotacional

L carga

LHVf calor específico inferior do combustível

mCO caudal mássico de monóxido de carbono

mCO

2

caudal mássico de dioxido de carbono

m f caudal mássico de combustível

mHC caudal mássico de hidrocarbonetos

mH2O caudal mássico de água

mNO

X caudal mássico de óxidos de azoto

mPM caudal mássico de partículas

mSO

2

caudal mássico de dióxido de enxofre

XIII

MTBE methyl tertiary butyl ether

N velocidade de rotação do motor

NB velocidade de rotação do motor a que se atinge o binário máximo

NEDC ciclo europeu de homologação de emissões para viaturas ligeiras

Nidle velocidade de rotação do motor ao ralenti

Nmax velocidade de rotação máxima do motor

NMHC non methane hydrocarbons

NOX óxidos de azoto

NP velocidade de rotação do motor a que se atinge a potência máxima

N0 velocidade de rotação típica do motor

OBD sistema de diagnóstico interno da viatura

P potência

pb pressão média efectiva

pi pressão média efectiva indicada

Pi potência indicada

pf pressão média efectiva por atrito

PM partículas

Pmax potência máxima do motor

PMP particulate measurement programme

r raio dinâmico da roda

RH C

relação de massa entre o hidrogénio e o carbono

RO C

relação de massa entre o oxigénio e o carbono

RX C

relação de massa entre a substância X e o carbono

RPM velocidade de rotação (rotações por minuto)

SCR redução catalítica selectiva

t tempo

UE União Europeia

v velocidade

V, VH cilindrada do motor

ηi eficiência térmica indicada

ρB densidade do biodiesel

ρP densidade do gasóleo

§ indicativo de secção

1

1 Introdução

Neste capítulo pretende-se relatar sucintamente a evolução da tecnologia automóvel e

descrever as principais fontes de poluentes geradas por este meio de transporte, bem como a

evolução da legislação a este respeito. São ainda apresentados os objectivos do estudo e a

organização da dissertação.

1.1 Enquadramento

1.1.1 O Nascimento do Automóvel

A 29 de Janeiro de 1886, Karl Benz recebe a primeira patente referente a um veículo

automóvel equipado com um motor de combustão interna [1]. Apesar de inúmeros cientistas e

inventores terem contribuido anteriormente para o desenvolvimento do conceito de veículo

motorizado (são conhecidos planos teóricos de Leonardo da Vinci e de Isaac Newton para um

veículo desta espécie, cabendo a definição de primeiro automóvel à criação de Nicolas Joseph

Cugnot, em 1769, de um veículo movido por um motor a vapor), e de os contemporâneos de

Benz, Gottlieb Daimler e Wilhelm Maybach, desenvolverem independentemente projectos

paralelos ao de Benz, a viatura por este patenteada é reconhecida como sendo o precursor do

automóvel moderno.

Na verdade, no Motorwagen de Benz estão já presentes várias características normalmente

associadas ao automóvel actual: um motor de combustão interna de gasolina e quatro tempos,

equipado com uma cambota com contrapesos, ignição eléctrica e arrefecimento a água.[2]

Figura 1-1 - Motorwagen de Benz, o precursor do automóvel moderno.[1]

2

A 8 de Março de 1886, Gottlieb Daimler, em conjunto com o seu sócio Wilhelm Maybach,

completa a construção do primeiro automóvel de quatro rodas, onde instalam um motor a

gasolina baseado no ciclo de quatro tempos inventado em 1876 por Nikolaus August Otto,

também denominado por Ciclo de Otto. O motor inicialmente desenvolvido por Otto constitui

outro marco no desenvolvimento do automóvel, estando o seu princípio de funcionamento na

base de uma boa parte dos motores utilizados nos automóveis dos nossos tempos.

Apesar de pioneiros na criação dos primeiros automóveis comercialmente viáveis, Benz,

Daimler e Maybach não se dedicaram de imediato à construção automóvel, focando

inicialmente as suas actividades no desenvolvimento de motores que vendiam a outras

empresas e cujas patentes licenciavam. Assim, os primeiros construtores a colocarem no

mercado automóveis inteiramente construídos por si foram as empresas Panhard & Levassor e

Peugeot, ambas sediadas em França, e fundadas em 1889 e 1891, respectivamente. A

Panhard & Levassor construiu veículos equipados com embraiagem de accionamento por

pedal, transmissão por corrente com caixa de velocidades e radiador frontal, tendo sido o

primeiro construtor a utilizar um motor instalado na parte dianteira da viatura e tracção nas

rodas posteriores. Este sistema ficou conhecido como Sistéme Panhard e rapidamente passou

a ser utilizado por outros fabricantes por permitir um maior equilíbrio do veículo e melhorias

significativas na condução. A Panhard & Levassor é também responsável pela invenção da

transmissão moderna.

Estes fabricantes produziam automóveis únicos, sendo que cada novo automóvel fabricado era

diferente do anterior. O primeiro registo da “standardização” de um modelo aparece em 1894,

com a produção de cento e trinta e quatro Benz Velo idênticos. Apesar do crescente

aparecimento de construtores, o automóvel era ainda um produto restrito e dispendioso,

estando apenas acessível aos verdadeiramente ricos.

Em 1893, é concedida a Rudolph Diesel a patente para um novo tipo de motor. Ao contrário do

modelo desenvolvido por Otto, em que a ignição da mistura ar-combustível no interior da

câmara de combustão é provocada por uma fonte de energia externa, no motor de Diesel o ar

de admissão é comprimido de tal forma que, quando o combustível é injectado na câmara de

combustão, as condições de pressão e temperatura são tais que a combustão se dá sem

recurso a fontes externas de energia. O modelo de Diesel apresentava eficiências

consideravelmente superiores aos motores a vapor utilizados em grande escala na época, o

que levou ao rápido interesse de vários fabricantes, que financiaram o desenvolvimento do

projecto de Diesel.

Os motores Diesel iniciais eram demasiado grandes e pesados para serem usados nos

automóveis de então, principalmente devido ao tamanho da bomba de injecção, sendo

principalmente usados no início do séc. XX em aplicações industriais e em navios. Só nos anos

3

20 do séc. XX, com o advento de uma nova tecnologia para as bombas de injecção que

dispensava o recurso a ar pressurizado (e ao respectivo reservatório de ar), os motores Diesel

se tornaram pequenos e leves o suficiente para serem utilizados em aplicações móveis. Assim,

em 1923-24 surgem os primeiros camiões movidos por motores Diesel e em 1936 surge o

primeiro automóvel com um motor deste tipo – o Mercedes-Benz Type 260D.

Figura 1-2 - Mercedes-Benz Type 206D, o primeiro automóvel de produção com motor Diesel. [1]

No início do séc. XX dão-se início aos primeiros esforços para a produção automóvel em

massa. Em Detroit é fundada por Ransome Eli Olds a Olds Motor Works. Olds inventa o

conceito de linha de montagem e aplica-o à produção automóvel, surgindo assim o primeiro

automóvel produzido em massa nos Estados Unidos, o Curved Dash Oldsmobile, do qual

foram produzidas 425 unidades em 1901. O conceito de linha de montagem seria mais tarde

desenvolvido e optimizado por Henry Ford.

Em 1 de Outubro de 1908, a Ford Motor Company apresenta em Detroit o modelo que iria

definitivamente marcar o início da democratização do automóvel: o Ford Modelo T. Para além

das muitas inovações que apresentava, o Modelo T era vendido por um valor suficientemente

baixo para ser acessível à classe média americana. Com a implementação em 1913 das

inovadores linhas de montagem móveis, Ford assegura um aumento de eficiência e redução de

custos que lhe permitem colocar o seu Modelo T a um preço ainda inferior, tornando-o no maior

sucesso comercial automóvel até então. Em 1918, metade dos automóveis a circular nos EUA

eram Modelos T, tendo sido produzidos até à extinção do modelo em 1927 mais de 15 milhões

de unidades.[3]

4

Figura 1-3 - Ford Modelo T de 1926, na sua típica cor negra, a única disponível após a

implementação das linhas de montagem móveis em 1913, por permitir um tempo secagem inferior

à das restantes cores.[3]

Potenciada pelo desenvolvimento económico dos países industrializados após a 2.ª Guerra

Mundial e pela consolidação de uma classe média com poder de compra, a utilização do

automóvel sofre um acréscimo significativo. O automóvel torna-se no meio de transporte

individual por excelência, estando na origem de uma verdadeira revolução nas sociedades

industrializadas. Uma revolução que, no entanto, não está isenta de malefícios, como

rapidamente se veio a constatar.

1.1.2 Formação de Poluentes

Tipicamente, as emissões de gases para atmosfera resultantes da utilização de veículos com

motores de combustão interna dividem-se em três grupos:

-Emissões de gases de escape: produtos da combustão no motor emitidos pelo sistema de

escape da viatura. Os poluentes presentes em maior quantidade são:

1. Hidrocarbonetos (HC): constituídos por combustível que não sofreu o processo de

combustão, são um dos principais responsáveis pelo “smog”, para além de serem

elementos tóxicos e carcinogénicos;

5

2. Óxidos de Azoto (NOx): estes são produzidos quando o azoto e o oxigénio no ar de

admissão reagem nas condições de alta temperatura e pressão no interior do motor,

contribuindo para o “smog” e para as chuvas ácidas;

3. Monóxido de Carbono (CO): um produto da combustão incompleta, o monóxido de

carbono é um gás tóxico uma vez que reduz a capacidade de transporte de oxigénio

pelo sangue;

4. Dióxido de Cabono (CO2): produto da combustão completa de hidrocarbonetos e

existente em abundância na atmosfera, sendo essencial para a vida vegetal, é no

entanto considerado um poluente na medida em que contribui significativamente para o

“efeito de estufa”;

5. Partículas (PM): resultantes da combustão incompleta e de outras reacções na câmara

de combustão. A emissão de partículas é mais significativa em motores Diesel.

-Emissões evaporativas: estas são provenientes da evaporação do combustível e têm um

grande impacto na saúde humana, visto que estas moléculas mais pesadas têm tendência em

permanecer nos níveis mais baixos da atmosfera. A evaporação de combustível ocorre nas

seguintes circunstâncias:

1. Ventilação do depósito de combustível: o aquecimento da viatura implica a evaporação

de parte do combustível contido no tanque, originando uma pressão no interior deste

superior à atmosférica. Esta diferença de pressão tem que ser eliminada através da

libertação dos vapores de combustível.

2. Perdas no funcionamento: perda de vapores de combustível no funcionamento do

motor;

3. Perdas no abastecimento: o espaço vazio no tanque de combustível é preenchido por

vapores de hidrocarbonetos que, à medida que o tanque é enchido, são libertados para

a atmosfera. Adicione-se ainda as perdas devido à evaporação do combustível e a

derrames na altura do abastecimento.

- Emissões no ciclo de vida: estas não são produzidas directamente pelo automóvel, mas são

resultantes do seu fabrico, manutenção e processos de fim-de-vida, bem como resultantes da

extracção, produção, transporte e acondicionamento do combustível utilizado.

6

1.1.2.1 Emissão de Hidrocarbonetos

A emissão de hidrocarbonetos (ou de compostos orgânicos) deve-se à existência de

combustível que passa pela câmara sem sofrer combustão. A complexidade do processo de

combustão nos motores Diesel, onde a evaporação do combustível, mistura do combustível

com o ar e de gás resultante da combustão com gás não queimado podem ocorrer

simultaneamente, resulta em vários processos que podem resultar na não combustão da

totalidade do combustível injectado. No entanto, existem dois mecanismos principais

responsáveis por este fenómeno: a mistura ar-combustível é demasiado pobre para se dar a

auto-ignição ou para suportar a propagação de uma chama, ou, pelo contrário, a mistura ar-

combustível é localmente demasiado rica, incapacitando também a auto-ignição e a

propagação da chama. Destes dois mecanismos, a mistura demasiado pobre é considerado o

mais importante.[4]

A distribuição do combustível injectado na câmara de combustão resulta na criação de zonas

onde a mistura é demasiado pobre, localizadas essencialmente na parte exterior do jacto de

combustível. O combustível contido nessas zonas não passa tempo suficiente sob as

condições necessárias à sua combustão e é expelido da câmara de combustão por queimar.

Este fenómeno tem especial importância quando o motor funciona a cargas reduzidas.[4]

A existência de zonas onde a mistura é demasiado rica é também responsável pela presença

de hidrocarbonetos nos gases de escape. Uma das origens da criação destas zonas é a

emissão de combustível a baixa velocidade a partir do injector, muitas vezes demasiado tarde

no processo de combustão. A outra é a injecção de demasiado combustível na câmara de

combustão que ocorre em transientes de operação.[4]

Também se verifica que as emissões de hidrocarbonetos em motores Diesel são sensíveis à

temperatura do óleo e do líquido refrigerante, indicando que o fenómeno de “quenching”

(extinção da chama junto às paredes da câmara de combustão, que, estando mais frias,

favorecem a condução de calor o suficiente para que a temperatura aí atingida não permita a

combustão) é também relevante, dependendo a sua magnitude da quantidade de combustível

que atinge as paredes do cilindro durante a injecção.[4]

1.1.2.2 Emissão de Óxidos de Azoto

A formação de NO e NOx resulta da oxidação do azoto atmosférico e do azoto contido no

combustível, em menor proporção.[4]

7

A formação de NO está relacionada com as temperaturas atingidas e a quantidade de oxigénio

disponível, sendo que temperaturas mais altas e concentrações superiores de oxigénio

favorecem a formação deste composto, que ocorre na frente de chama e nos gases pós-

chama. Nos motores Diesel, a formação de NO (e de NO2) cresce com a carga, dado que a

cargas superiores mais combustível é injectado, provocando a formação de mais zonas onde a

relação ar-combustível é mais próxima da estequiométrica, o que gera um aumento da pressão

e temperatura.

Se as condições de equilíbrio químico às temperaturas típicas de uma chama indicam que a

relação NO2 / NOx é bastante reduzida, nos motores Diesel esta relação pode chegar aos

30%.[4] A formação de NO2 pode ter origens a reacções como a seguinte:

NO + H2O -> NO2 + OH

O NO2 pode ser convertido em NO através da reacção

NO2 + O -> NO + O2

a não ser que esta reacção seja “congelada” devido à diminuição da temperatura. É esta a

razão pela qual nos motores Diesel a funcionar a baixa carga, a percentagem de NO2 aumenta,

uma vez que existem mais zonas a temperatura inferior que “congelam” a conversão para

NO.[4]

1.1.2.3 Emissão de Partículas

A formação de partículas tem maioritariamente origem na combustão incompleta do

combustível, devida principalmente à existência de zonas no interior da câmara de combustão

onde a mistura é rica. Se nos motores Otto com injecção indirecta este fenómeno é pouco

relevante, dado o seu princípio de funcionamento se basear na formação de uma mistura

ar/combustível homogénea antes da combustão, nos motores Otto de injecção directa e nos

motores Diesel (de injecção indirecta ou directa), a formação de partículas ocorre a um nível

significativamente superior.

Nos motores Diesel, apesar do funcionamento com uma mistura globalmente pobre, existem

zonas no interior da câmara de combustão onde a mistura é rica, devidas essencialmente à

incapacidade do sistema de injecção em colocar a totalidade do combustível em tempo útil

numa zona onde este possa sofrer uma combustão completa, originando a formação de

compostos carbonáceos que, por sua vez, podem adsorver hidrocarbonetos, libertados

posteriormente para a atmosfera.[4]

8

1.1.2.4 Emissão de Monóxido de Carbono

As emissões de CO são controladas essencialmente pela relação ar-combustível, sendo

tipicamente maiores quanto mais rica for a mistura ar-combustível. Dado que os motores Diesel

operam com mistura ar-combustível pobre, pode considerar-se a emissão de CO como menos

relevante que nos motores a gasolina.[4] No entanto, existem situações em que a reacção de

combustão não se realiza completamente, originando a existência de CO nos gases de escape,

apesar da mistura ser globalmente pobre neste tipo de motor.

1.1.3 O Automóvel e a Poluição Atmosférica

A produção em massa de automóveis a gasolina colocou no mercado um veículo de baixo

preço, de fácil manutenção, rápido, potente, com capacidade para percorrer longas distâncias e

que recorria a uma fonte de energia barata e abundante. Enquanto, em 1900, apenas um

quarto dos 4200 automóveis produzidos nos EUA estavam equipados com um motor de

combustão interna, esta proporção rapidamente se inverteu e na primeira década do séc. XX o

motor de combustão interna impõe-se às restantes alternativas de motorização, tais como as

motorizações a vapor e eléctrica.[5]

Ao longo dos anos, e à medida que o consumidor aumentava as suas exigências, a indústria

automóvel respondia com automóveis maiores, mais pesados e, simultaneamente, mais

potentes. A adição de equipamento suplementar, tal como o ar condicionado, a transmissão

automática e a direcção assistida também contribui para um aumento no consumo de

combustível, tanto devido à energia que é retirada do motor para o seu funcionamento, como

pelo acréscimo de peso. O aumento de peso implica um aumento da energia necessária para

mover o veículo, logo um aumento do consumo de combustível.

O consumo de gasolina passou de menos de 3 milhares de milhões de galões em 1919, para

aproximadamente 15 milhares de milhões em 1929, 46,5 milhares de milhões em 1955 e mais

de 135 milhares de milhões em 2002. Em 1973, mais de metade do consumo de petróleo nos

EUA era feito pelo sector dos transportes, passando para quase 64% em 1990. Hoje em dia, o

automóvel é responsável por quase 90% do total do dispêndio de energia neste sector.[5]

A qualidade do combustível, e não só a sua quantidade, é crucial para o desempenho do

automóvel. A descoberta do tetraetil de chumbo como aditivo inibidor do fenómeno da

detonação (fenómeno de auto-ignição da mistura através do qual é libertada subitamente uma

grande quantidade de energia, resultando em vibração e ruído adicional no motor, e que é

indesejado em motores a gasolina) foi um desenvolvimento crucial, tendo este sido

aperfeiçoado em 1922 por Charles F. Kettering e Thomas H. Midgley. Podiam ser assim

9

produzidos motores com maiores taxas de compressão, cujo retorno económico para a

industria automóvel e petrolífera fizeram esquecer as dúvidas quanto aos malefícios para a

saúde pública da utilização do chumbo no combustível.

Para além do combustível em si utilizado para mover o automóvel, há que ter ainda em conta o

dispêndio energético associado à extracção, refinação e transporte do combustível e o custo

energético e ambiental associado ao fabrico do próprio automóvel.

A produção automóvel em massa significa a utilização de vastas quantidades dos mais

variados recursos como matéria-prima, mão-de-obra e energia, e implica a criação de enormes

quantidades de detritos e elementos poluentes. Alguns peritos estimam que, em 1980, cerca de

2 milhões de pessoas estavam directamente envolvidas no fabrico de automóveis, com 3

milhões adicionais empregadas na produção de componentes.[5] A consolidação do negócio

automóvel nos anos 20, especialmente na sequência da revolução criada por Henry Ford nas

técnicas de produção em massa, contribuiu significativamente para a imensa escala que a

produção automóvel atingiu. Entre 1920 e 1929, a produção automóvel anual mundial subiu de

2,2 milhões para 5,3 milhões de unidades. Nos anos 70, o fabrico do automóvel era a maior

indústria. Estima-se que em 1990, mais de 630 milhões de veículos circulavam por todo o

mundo, dos quais 460 milhões eram viaturas particulares.[5]

O historiador Mark Foster estimou que “um terço do dano ambiental causado pelo automóvel

ocorre antes deste ser vendido e utilizado”, citando um estudo que o fabrico de um automóvel

implica a produção de 29 toneladas de desperdício e 923 milhões de metros cúbicos de ar

poluído.[5]

Apesar de o automóvel ser inicialmente louvado pela sua “limpeza” (de facto, por comparação

à utilização de transportes de tracção animal, cujas toneladas de dejectos se espalhavam

diariamente pelas ruas das cidades, o automóvel constituía uma alternativa aparentemente

muito menos nociva), a sua utilização massiva e as limitações técnicas do motor de combustão

interna estiveram na origem de formas de poluição devastadoras.

Em 1948, uma inversão atmosférica manteve uma densa nuvem de dióxido de enxofre e

partículas junto ao sólo durante seis dias na cidade de Donora, Pensilvânia, EUA, cuja principal

actividade era a produção de aço. Ao quinto dia, 30 de Outubro, morrem dezassete habitantes,

ao que se seguem mais duas mortes no dia seguinte. Quase 43% da população adoeceu, com

mais de 10% (1440) “severamente afectados”. Em 1952, registaram-se em Londres 4000

mortes devido ao “smog assassino” e no ano seguinte, 200 pessoas morrem em Nova Iorque

pelas mesmas razões.[5] Como reacção ao agravamento da poluição atmosférica, o Senado

Norte-Americano cria o National Air Pollution Control Act em 1955, com o objectivo de suportar

10

a pesquisa sobre a poluição atmosférica. Mas a acção sobre as emissões provenientes do

automóvel levaria ainda mais alguns anos a ser iniciada.

Nos anos 50 do séc. XX, iniciaram-se os primeiros estudos acerca do contributo para a

poluição atmosférica das emissões de gases provenientes do automóvel. Estes estudos iniciais

culminaram na descoberta pelo Dr. A. J. Haagen-Smit, no California Institute of Technology,

das reacções químicas sofridas na atmosfera pelos óxidos de azoto e hidrocarbonetos quando

expostos às radiações solares. Estas reacções químicas levam à formação de poluentes

secundários tóxicos que formam o “smog”. Estudos adicionais indicaram que os poluentes

originados pelo automóvel têm quatro fontes principais: escape, ventilação do carter,

carburador e tanque de combustível. Estas investigações foram cruciais para o

desenvolvimento dos primeiros sistemas de controlo das emissões.

Uma das cidades mais afectadas pela poluição atmosférica automóvel na década de 50 foi Los

Angeles, o que levou o estado da Califórnia a tomar as primeiras medidas com sentido à

diminuição desta. Inicialmente, nem a indústria petrolífera nem a indústria automóvel estavam

particularmente interessadas em abordar o problema, o que levaria a um dispêndio

considerável de recursos. Apenas com a introdução de legislação específica se assiste ao

equipamento das viaturas com os primeiros dispositivos de redução de emissões. Estes

primeiros dispositivos tinham como objectivo diminuir as emissões provenientes da ventilação

do cárter, dirigindo os vapores aí originados para a admissão de ar do motor com o objectivo

de que estes sejam submetidos ao processo de combustão. Este tipo de equipamento tornou-

se obrigatório no estado da Califórnia em 1963.

Em 1966, mais um passo foi dado com a obrigatoriedade da inclusão de dispositivos de

tratamento dos gases de escape, responsáveis por 55% da emissão de hidrocarbonetos e da

totalidade da emissão de monóxido de carbono, óxidos de azoto e chumbo nas viaturas.[5]

Apesar destas medidas (e de outras medidas levadas a cabo sobre as emissões industriais)

terem, entre 1965 e 1968 na cidade de Los Angeles resultado num decréscimo de 12% nas

emissões de hidrocabonetos e numa redução das emissões de monóxido de carbono, estas

foram acompanhadas por uma subida de 28% nas emissões de óxidos de azoto, devida ao

aumento do número de automóveis e do consumo de combustível, bem como à inexistência de

tecnologia adequada à eliminação destes poluentes.[5] A solução surge mais tarde, com a

introdução de conversores catalíticos, que se tornou obrigatória na Califórnia em 1975, o que

por sua vez levou à eliminação da adição de chumbo na gasolina, por este aditivo ser

incompatível com o funcionamento deste equipamento.

Os restantes estados americanos tiveram uma reacção mais lenta. Em 1966, o automóvel era

responsável por mais de 60% dos poluentes na atmosfera.[5] Durante os anos 60 do séc. XX,

tornou-se óbvio que o problema da poluição atmosférica não era pontual, registando-se

11

ocorrências por todo o país, o que levou à adopção de legislação federal. Em 1963 o Clean Air

Act inicia o primeiro processo legislativo, criando-se em 1965 o Motor Vehicle Air Pollution Act,

com o objectivo de instituir a nível nacional a legislação já em vigor na Califórnia. Em 1967

surge o primeiro esforço no sentido de controlar as emissões de chumbo com o Air Quality Act

e em 1968 a legislação federal restringe as emissões de hidrocarbonetos.

O aumento na consciência ambiental e a insatisfação com os resultados da legislação em vigor

levam a que, em 1970, uma série de emendas (Clean Air Amendments) sejam criadas. A nova

legislação impunha restrições mais severas, autorizando a Environmental Protection Agency

(EPA) a estabelecer novos limites para a emissão de poluentes provenientes do automóvel. No

entanto, as intenções nem sempre estavam de acordo com as acções. As alterações à

legislação foram dificultadas pela indústria automóvel, relutante em investir o necessário para o

cumprimento das metas propostas, situação que se agravou pela crise enegética do início dos

anos 70, que “abalou” os alicerces da poderosa indústria automóvel americana.

Segundo a nova legislação, a EPA poderia conceder aos fabricantes um prazo adicional de um

ano para o cumprimento das restrições caso estes mostrassem “boa fé” nos esforços levados a

cabo no domínio do controlo das emissões. Este prazo adicional foi sendo concedido até uma

decisão da EPA de que, em 1975, os fabricantes seriam capazes de cumprir os objectivos.

Esta decisão levou a que quatro fabricantes processassem a EPA em 1973, sendo a decisão

dos tribunais a favor dos queixosos. No auge da crise enegética, o cumprimento da legislação

foi de novo adiado, situação agravada por preocupações ao nível da segurança na utilização

dos catalizadores de oxidação. Em 1977, uma suspensão de três anos foi concedida.

Enquanto a imposição de limites nas emissões tinha como objectivo minorar o problema da

poluição atmosférica, simultaneamente era agravado um outro problema. Na verdade, no

período de 1968 a 1974, com o ênfase colocado no controlo das emissões, verificou-se um

aumento no consumo de combustível, aumentando a procura deste. Uma forma de melhorar a

economia de combustível foi a redução de peso. A introdução do catalizador de oxidação em

1975 teve também um contributo decisivo (não só na redução do consumo, mas também das

emissões), ao qual se veio juntar mais tarde a utilização da gestão electrónica do motor.

A crise energética dos anos 70 teve resultados ambíguos ao nível das emissões de poluentes.

A indústria automóvel americana sofreu por não estar preparada para produzir automóveis

económicos, dando início à vaga de importação massiva de viaturas japonesas e europeias.

Como medida de apoio à indústria automóvel, o estado americano adoptou medidas

proteccionistas, entre as quais a adopção de legislação menos restritiva no domínio da

poluição atmosférica. No entanto, a redução dos limites de velocidade e a diminuição do

consumo de combustível levam a uma redução na poluição atmosférica. É nesta altura também

que a utilização do motor Diesel, mais económico, tem um aumento considerável.

12

Durante os anos 80, grandes progressos forma feitos no sentido da diminuição de algumas

formas de poluição atmosférica, nomeadamente as emissões de monóxido de carbono,

hidrocarbonetos e óxidos de azoto. A utilização do chumbo na gasolina decresceu 99% entre

1975 e 1988, nos EUA.[5] Em 1990, um novo conjunto de emendas às leis de 1970 e 1977 foi

debatido e aprovado, sendo prestada especial atenção ao sector dos transportes, com a

introdução de limites de emissões de poluentes mais severos para as viaturas produzidasde

1996 a 2003. Estes limites federais reflectiam os já em vigor no estado da Califórnia

(designados por estratégia Phase I). Desta vez, a indústria automóvel estava já preparada para

a nova legislação, já se fazendo progressos significativos para o atingimento dos limites em

vigor no estado californiano. No entanto, a administração Bush mostrou grande oposição a

estabelecimento federal de limites ainda mais restritivos, no sentido do que em 1996 foi feito na

California (Phase II), propondo a alternativa estratégica da utilização de novos combustíveis e

de viaturas “limpas”. No final, foi aprovada uma solução intermédia, baseada na Phase II, mas

com limites menos severos. Esta nova política estimulou o interesse em tecnologias

alternativas ao típico motor de combustão interna, com o aparecimento de viaturas eléctricas,

com células de energia e híbridas.[5]

A nível europeu, em 1970 é aprovada a Directiva Europeia 70/220/CEE, com o objectivo de

aproximar as legislações dos diversos Estados membros da antiga CEE. Nesta Directiva

impunham-se limitações legais à emissão de monóxido de carbono e de hidrocarbonetos não

queimados, tendo sido mais tarde revista com valores mais reduzidos na Directiva 74/290/CEE.

Em 1977 são introduzidos também limites admissíveis para as emissões de óxidos de azoto

sob a forma da Directiva 77/102/CEE, que é revista nas Directivas 78/665/CEE, 83/351/CEE e

86/76/CEE, com a introdução de valores admissíveis progressivamente mais baixos. Em 1988,

a Directiva 88/436/CEE apresenta pela primeira vez limites para a emissão de partículas

poluentes de motores Diesel e em 1989 surge uma nova revisão sob a forma da Directiva

89/458/CEE, que impõe novos valores admissíveis para viaturas equipadas com motores de

cilindrada inferior a 1400 cm3.[6]

As normas conhecidas por Euro 1, Euro 2, Euro 3, Euro 4 e Euro 5 são também elas revisões

progressivas da Directiva 70/220/CEE, tendo a primeira sido emitida em 1991 sob a forma da

Directiva 91/441/CEE. A Directiva 94/12/CE (Euro 2) foi a primeira a introduzir valores

admissíveis para motores Diesel e a gasolina, aparecendo pela primeira vez um valor

admissível para emissão de partículas em motores a gasolina na norma Euro 4, aplicável a

motores com injecção directa.

A tabela abaixo sumariza os valores impostos pelas várias Directivas, para veículos ligeiros de

passageiros.

13

Tabela 1-1 - Limites admissíveis para emissões de poluentes de veículos ligeiros de passageiros

(Categoria M1*) na União Europeia, g/km.[7]

Directiva Data CO HC HC+NOx NOx PM

Diesel

Euro 1† 1992.07 2.72 (3.16) - 0.97 (1.13) - 0.14 (0.18)

Euro 2, IDI 1996.01 1.0 - 0.7 - 0.08

Euro 2, DI 1996.01a 1.0 - 0.9 - 0.10

Euro 3 2000.01 0.64 - 0.56 0.50 0.05

Euro 4 2005.01 0.50 - 0.30 0.25 0.025

Euro 5 2009.09b 0.50 - 0.23 0.18 0.005e

Euro 6 2014.09 0.50 - 0.17 0.08 0.005e

Gasolina

Euro 1† 1992.07 2.72 (3.16) - 0.97 (1.13) - -

Euro 2 1996.01 2.2 - 0.5 - -

Euro 3 2000.01 2.30 0.20 - 0.15 -

Euro 4 2005.01 1.0 0.10 - 0.08 -

Euro 5 2009.09b 1.0 0.10c - 0.06 0.005d,e

Euro 6 2014.09 1.0 0.10c - 0.06 0.005d,e

* Nas directivas Euro 1 a Euro 4, os veículos de passageiros com peso a 2500 kg eram homologados na categoria N1.

† Os valores entre parêntesis são limites COP (Conformity of Production).

a – até 1999.09.30 (depois desta data, os motores DI – injecção directa – têm que cumprir os limites para os motores IDI –

injecção indirecta.

b – 2011.01, para todos os modelos

c – e NMHC = 0,068 g/km

d – aplicável apenas a veículos com motores de injecção directa

e – proposto para ser aletrado para 0,003 g/km utilizando o método de medida PMP.

A Directiva 90/C81/01 introduz o ciclo de velocidade a realizar em dinamómetro, através do

qual são homologadas as viaturas ligeiras na União Europeia no que se refere às emissões de

gases de escape. Este ciclo é constituído por quatro segmentos ECE15 (ciclo de condução

urbana, que visa representar condições típicas de condução em cidade) e um ciclo EUDC

(condução extra-urbana). Inicialmente, o início da realização do ciclo era precedido por um

período de aquecimento da viatura ao ralenti de 40 segundos. A partir de 2000, este período de

aquecimento foi eliminado, o que significa que o ciclo de velocidade e a medição das emissões

são feitos imediatamente após se colocar em funcionamento o motor (a frio). Com esta

alteração, este ciclo de velocidade passou a ser designado por New European Driving Cycle

(NEDC).[7] A figura seguinte resume o NEDC.

14

0

25

50

75

100

125

0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000 1100 1200

t (s)

v (km/h) ECE

EUDC

Figura 1-4 –Ciclo de velocidade NEDC.[8]

De forma a cumprir as normas de emissão de poluentes cada vez mais restritivas, os

fabricantes automóveis desenvolveram técnicas de tratamento dos gases de escape, para além

da implementação de processos de optimização da combustão (desenho da câmara de

combustão, sistemas mais evoluídos de injecção de combustível, etc.).

Um dos processos mais utilizado é o EGR (Exhaust Gas Recirculation), em que parte dos

gases resultantes da combustão são reintroduzidos no cilindro de forma a se reduzir a

temperatura máxima atingida durante o processo de combustão, o que resulta numa redução

na produção de NOx.[9]

Para reduzir as emissões de CO e HC em motores Diesel, são utilizados catalizadores de

oxidação (duas vias), que promovem a reacção destes compostos com o oxigénio presente nos

gases de escape, resultando CO2 e H2O. Nas viaturas a gasolina, são usados catalizadores de

3 vias, que promovem também a redução do NOx em O2 e N2. No entanto, para esta redução

de verificar, é necessária uma relação ar/combustível estequiométrica ou ligeiramente rica, o

que não se verifica nos motores Diesel, para os quais são utilizados catalisadores SCR

(Selective Catalitic Reduction), que funcionam com a introdução de um redutor gasoso ou

líquido (normalmente amónia ou ureia) no fluxo de gases de escape que, sob a acção do

catalizador, converte o NOx em H2O e N2. Este tipo de catalizador tem à data uma utilização

reduzida nos veículos ligeiros de passageiros.

Para o caso específico das partículas em suspensão nos gases de escape, são utilizados filtros

de partículas no escape, sistemas que presentemente já estão bastante difundidos.

Também ao nível da qualidade dos combustíveis foram introduzidas imposições pela União

Europeia, tendo a norma Euro 3 sido acompanhada de uma regulamentação relativa ao nível

de cetano e de enxofre no gasóleo. A norma Euro 4 foi também acompanhada de uma revisão

15

da anterior legislação relativa aos combustíveis, surgindo uma redução do enxofre no gasóleo

e um limite máximo para a concentração do mesmo componente na gasolina. A legislação

europeia estabelece ainda que deverá estar disponível gasóleo e gasolina “livres de enxofre” a

partir de 2005, sendo estes combustíveis obrigatórios a partir de 2009.[7]

Ainda no âmbito dos combustíveis, a Directiva 2003/30/CE introduz também como objectivo

para 2010 a substituição de 5,75% da totalidade dos combustíveis fósseis por biocombustíveis,

com um objecto intermédio de 2% a 31 de Dezembro de 2005.[7]

Apesar de não existir actualmente legislação europeia impondo o limites de emissão de CO2,

foram estabelecidos em 1998-99 protocolos voluntários entre a Comissão Europeia e a ACEA

(Associação Europeia de Fabricantes Automóveis), JAMA (Associação Japonesa de

Fabricantes Automóveis) e KAMA (Associação Coreana de Fabricantes Automóveis) com vista

a estabelecer uma redução progressiva das emissões de CO2. Estes acordos seguiram a

criação do protocolo de Quioto em Dezembro de 1997, mais tarde ratificado pela União

Europeia em Maio de 2002 e que entrou em vigor em Fevereiro de 2005. O protocolo de Quioto

constitui a primeira tentativa a nível global de redução das emissões de gases produtores do

efeito de estufa, estabelecendo quotas e objectivos para as quantidades destes gases emitidas

pelos estados que ratificam o protocolo. Estes objectivos deverão ser atingidos no período

2008-2012, o que significa uma redução média de 5% em relação aos níveis de emissões de

1990.[10]

O acordo com a ACEA estabelece como objectivo para 2008 a emissão média de 140 g/km

(medidos sob as condições definidas na Directiva 93/116/CEE) para a totalidade das viaturas

novas do segmento M1 (ligeiros de passageiros, conforme descrito na Directiva 70/156/CEE)

postas em comercialização pelos membros da ACEA (actualmente: BMW Group, DAF,

DaimlerChrysler, Fiat Group, Ford, GM, MAN, PSA Peugeot Citroën, Porsche, Renault, Scania,

Volkswagen e Volvo[11]), existindo a possibilidade de se extender o acordo com o objectivo de

se chegar ao 120 g/km em 2012. Os acordos com a JAMA e KAMA são semelhantes, com a

maior diferença a ser que o objectivo de 140 g/km deverá ser atingido em 2009.[7]

Os valores mais recentes de monitorização dos acordos, publicados numa comunicação da

Comissão ao Conselho e ao Parlamento Europeu indicam para 2004 valores médios de 161

g/km, 170 g/km e 168 g/km para os fabricantes da ACEA, JAMA e KAMA, respectivamente.[12]

Face a estes resultados, considerados como insuficientes para o atingimento da meta de 120

g/km em 2012, a Comissão Europeia anunciou no início de 2007 que irá ser proposto um

conjunto de medidas legislativas com o objectivo de garantir o atingimento deste objectivo. [13]

16

1.1.4 Evolução do Parque Circulante de Viaturas Diesel

Devido principalmente ao desenvolvimento tecnológico que as motorizações Diesel têm vindo a

sofrer nos últimos anos, nota-se uma tendência a nível europeu para uma “dieselização” do

parque circulante de viaturas ligeiras de passageiros. De facto, a introdução de tecnologia

como a sobrealimentação, a injecção directa e os sistemas de tratamento de gases de escape,

têm vindo a tornar cada vez mais apetecíveis as versões com motorização Diesel, que agora

aliam o argumento da economia de combustível (o qual é ainda mais relevante devido ao facto

de que, em muitos países, o preço por litro do gasóleo é substancialmente inferior ao da

gasolina) a níveis de desempenho e conforto equiparáveis aos dos mesmos automóveis

equipados com motorizações a gasolina. Os dados da ACEA indicam exactamente essa

tendência, tal como pode ser visto nas Figuras 1-5 e 1-6, relativas respectivamente à divisão do

parque automóvel por tipo de combustível na UE (União Europeia) e EFTA (European Free

Trade Association) em 2005 e às vendas de automóveis ligeiros de passageiros na UE e EFTA

desde 1990 a 2006 (note-se que em 2006 foi atingida pela primeira vez uma taxa superior a

50%). Em 2005, a percentagem de veículos de passageiros Diesel era já de 28,8%.

Figura 1-5 - Divisão do parque circulante de veículos de passageiros na Europa por tipo de

combustível, em 2005.[11]

17

Figura 1-6 - Percentagem das vendas de automóveis de passageiros Diesel na UE e EFTA.[11]

Perante o anteriormente exposto, justifica-se um estudo acerca do impacto do tipo de viatura e

das suas características (peso, relações de transmissão, utilização de sistemas de arranque

automático, etc.) no consumo de combustível e emissão de gases poluentes para viaturas

ligeiras equipadas com motorizações Diesel. Este estudo poderá ser realizado recorrendo a

software específico cujos resultados, no entanto, precisam de ser validados previamente.

1.2 Objectivos

O presente estudo tem como objectivo a utilização do programa de simulação de desempenho

energético e ambiental EcoGest para o caso específico de um veículo automóvel ligeiro com

motorização Diesel e validação dos valores do consumo de combustível simulados por

comparação com a informação da homologação da viatura e com dados recolhidos

experimentalmente. Para além do consumo de combustível, será também abordada a emissão

de gases de escape (HC, CO, NOX, PM, e CO2) , no sentido de obter estimativas das

quantidades emitidas para a atmosfera através da utilização do EcoGest.

Após validação dos resultados da simulação, pretende-se construir cenários virtuais, em que se

alteram características da viatura e do sistema de propulsão, tais como a utilização de relações

18

de transmissão mais “longas”, variação da ocupação da viatura para 5 passageiros, redução do

peso da viatura em 40% (recorrendo, por exemplo, à utilização extensa de materiais

compósitos), hibridização da viatura e utilização do sistema de arranque automático stop&start,

de forma a avaliar e comparar o respectivo desempenho energético e ambiental.

1.3 Organização da Dissertação

A presente dissertação está organizada da forma que se apresenta em seguida.

O Capítulo 2 refere-se à metodologia adoptada para conseguir os objectivos propostos (§ 1.2),

descrevendo os vários passos tomados.

No Capítulo 3 descreve-se o simulador do desempenho energético e ambiental EcoGest[8] (§

3.1), bem como o modelo que lhe está subjacente, e o simulador ADVISOR[14] (§ 3.2).

O Capítulo 4 refere-se à descrição do laboratório experimental utilizado na recolha de valores

do consumo de combustível e caracterização dos percursos de validação adoptados.

O Capítulo 5 detalha o caso de estudo escolhido, iniciando-se com uma descrição do veículo

de ensaio utilizado (§ 5.1), dos percursos de validação adoptados (§ 5.2), passando-se

seguidamente à apresentação dos resultados experimentais recolhidos (§ 5.3) e dos

procedimentos e resultados da aplicação do simulador ao caso de estudo (§ 5.4). Finalmente,

são considerados vários cenários alternativos, como sejam a utilização de materiais mais leves

e a utilização de relações de caixa mais longas, para os quais é utilizado o simulador EcoGest

e, no caso da hibridização da viatura, o simulador ADVISOR (§ 5.5).

No Capítulo 6 são apresentadas as principais conclusões retiradas do trabalho efectuado e

apontadas direcções para o trabalho futuro.

19

2 Metodologia

De forma a ir de encontro ao objectivo proposto de validar os valores de consumo de

combustível de uma viatura ligeira Diesel simulados através do EcoGest[8], foi adoptada a

metodologia que se descreve em seguida.

O primeiro passo consistiu na selecção de uma viatura ligeira equipada com uma motorização

Diesel. A selecção foi baseada nas características técnicas da viatura (deveria ser

representativa da tecnologia actual no campo das motorizações Diesel), disponibilidade de uma

viatura de teste, de dados e técnicos e apoio especializado na instalação do laboratório

experimental.

Depois de seleccionada a viatura, passou-se à escolha dos componentes do laboratório

experimental necessários e à análise da possibilidade de utilização do equipamento existente e

das adaptações necessárias à sua instalação na viatura de teste. Para tal foi necessário o

apoio de técnicos formados pelo fabricante. Reunindo-se as condições necessárias, passou-se

à instalação do laboratório experimental na viatura.

Em seguida, foram seleccionados dois percursos de teste, sob a condição de que os percursos

seleccionados incluíssem tanto quanto possível várias condições de utilização da viatura

(condução citadina, em estrada e auto-estrada). Após a selecção dos percursos, estes foram

percorridos com a viatura de teste equipada com o laboratório experimental, o que permitiu a

recolha de dados topográficos do percurso e da utilização da viatura, bem como um registo do

consumo de combustível instantâneo.

O passo seguinte consistiu na adaptação do EcoGest para ser utilizado com a viatura

seleccionada, que consistiu na introdução dos dados relevantes da viatura na base de dados

incluindo motor, caixa de velocidades, pneus, área frontal e peso. Após a introdução dos dados

da viatura no simulador, seguiu-se a simulação do NEDC (New European Driving Cycle)[7] no

EcoGest para a viatura de teste e comparação com os valores de consumo de combustível

anunciados pela certificação da mesma. Também em relação às emissões de poluentes, foi

feita a mesma simulação, obtendo-se valores de emissões antes dos sistemas de tratamento

de gases de escape, o que, através da comparação com os valores das emissões de poluentes

aquando da homologação, permitiu estimar a eficiência dos sistemas de tratamento de gases

de escape na conversão dos vários poluentes.

Após este passo, foi aplicado o simulador à viatura de teste e às condições de utilização e ao

registo topográfico dos percursos de teste, obtendo-se valores de consumo de combustível

simulados que foram comparados com os valores recolhidos experimentalmente. Da aplicação

20

do simulador resultam também estimativas para as emissões de poluentes nos percursos em

questão.

De forma a comparar o veículo com versões modificadas (diferentes materiais, diferentes

relações de transmissão e diferente sistema de propulsão), foram definidos alguns cenários

alternativos em que se alteram características da viatura e da ocupação da mesma,

comparando-se os resultados obtidos da simulação com estas características aos obtidos

anteriormente.

Finalmente, são retiradas conclusões acerca do trabalho realizado e apontadas possibilidades

para trabalho futuro.

21

3 Simuladores

Neste capítulo pretende-se abordar os simuladores utilizados no presente estudo, ou seja, o

EcoGest e o ADVISOR. Mais informação relativa aos modelos que servem de base a ambos os

simuladores pode ser obtida em [8] e [14].

3.1 EcoGest

O simulador EcoGest é um programa construído numa base Visual Basic que permite calcular

o consumo de combustível e emissões de poluentes (HC, CO, NOx, PM e CO2) de um veículo

equipado com uma motorização de combustão interna quando percorre determinado percurso.

Actualmente, está preparado para fazer simulação de motorizações alimentadas com

combustíveis convencionais (gasolina e gasóleo), mas também combustíveis alternativos, tais

como gás natural, GPL, etanol, metanol, E85, misturas gasolina/MTBE, misturas

gasolina/ETBE, e hidrogénio (H2).[15]

Relativamente a veículos Diesel, o EcoGest é constituído pelo módulo DEMB (Diesel Engine

Map Builder), que permite gerar mapas que relacionam o consumo específico e emissão de

poluentes (HC, CO, NOx e PM) com a carga (relação entre o binário utilizado e o binário

máximo disponível a determinada velocidade de rotação do motor) e velocidade de rotação do

motor, e por rotinas que simulam a dinâmica do veículo no percurso em estudo, estimando a

carga e a velocidade de rotação do motor necessárias a cada instante. A partir destes dados, e

recorrendo aos mapas de consumo de combustível e emissão de poluentes gerados pelo

DEMB ou fornecidos pelos fabricantes de motores, é possível obter uma simulação do

combustível consumido e das quantidades de gases poluentes emitidas durante o percurso.

3.1.1 DEMB – Diesel Engine Map Builder

Dado que o programa EcoGest necessita de uma relação entre a carga e velocidade de

rotação do motor e o respectivo consumo específico, valores de emissão de poluentes,

potência e binário para se poder obter os resultados pretendidos, e visto que estes dados não

estão disponíveis a partir do fabricante da viatura estudada, foi utilizado o módulo DEMB para

simular esta informação.

Em seguida descrevem-se os modelos utilizados para a simulação do mapa de consumo de

combustível, da curva de potência máxima e dos mapas de emissão de gases de escape.

22

3.1.1.1 Modelação do Consumo de Combustível [16]

O consumo de combustível m f é dado por:

m f =pi

ηi

N V

120000LHV f

[g/s] ( 3-1 )

onde:

pi é a pressão média efectiva indicada [kPa]

N é a velocidade de rotação do motor [RPM]

V é a cilindrada do motor [dm3]

ηi é a eficiência térmica indicada

LHVf é o calor específico inferior do combustível [MJ/kg]

A velocidade de rotação típica do motor N0 é:

V

0.31800N0 = [RPM] ( 3-2 )

A pressão média efectiva indicada pi é:

bfi ppp += [kPa] ( 3-3 )

A pressão média efectiva pb é:

V

B4000p maxbb

π= [kPa] ( 3-4 )

onde Bbmax é o binário máximo em N.m. A pressão média efectiva por atrito pf é dada por:

60

NNccp 010f

−+= [kPa] ( 3-5 )

onde c0 = 183, c1 = 2,3, correspondents a valores médios de um VW 1.9Tdi de 1999. N é a

velocidade de rotação do motor [RPM].

23

A eficiência térmica indicada ηi pode ser estimada por:

( )( )( )

−−++=

−bo

b

p

p

2010

i

eK1NNb1b1

η ( 3-6 )

onde b0 = 2,1322, b1 = 8,8 x 10-5, K = 0,1, pb0 = 100 kPa também baseado no VW 1.9Tdi de

1999.

3.1.1.2 Simulação da Curva de Potência Máxima [8] [16]

Não estando disponível a curva de potência máxima, esta é estimada pelo DEMB da forma que

se descreve em seguida. Sabendo a potência máxima e a RPM a que ocorre (NP), e o binário

máximo e a RPM a que ocorre (NB), admite-se que o binário para a rotação de ralenti (Nidle) é

igual a 60% do binário máximo e assume-se um comportamento curvilíneo até ao máximo, e

desde o máximo até ao ponto de potência máxima (NP) onde B = BP = Pmax/(2πNP). A

expressão matemática da curva de binário, B, é:

cbNaNB ++= 2 [N.m] (3-7)

em que,

a =0,6Bmax Bmax

Nidle NB Nidle +Nb 2NB + 1, se N ≤ NB (3-8)

( ) ( ) ( )[ ]12 +−+−

−=

BBPBP

maxP

NNNNN

BBa , se N > NB (3-9)

e, para qualquer N,

( )12 +−= BNab (3-10)

BBmax bNaNBc −−= 2 (3-11)

Uma vez conhecida a curva de binário, a curva de potência obtém-se atendendo à seguinte

relação[1]:

24

NBP π2= [W] (3-12)

em que, P é a potência [W], N é a rotação do motor [RPM] e B é o binário [N.m].

3.1.1.3 Simulação das Emissões [16]

As correlações que servem de base ao modelo utilizado pelo DEMB para o cálculo das

emissões de gases de escape foram obtidas a partir dos dados de um Mercedes-Benz Vaneo

1.7 CDI. Uma vez que o DEMB possibilita o cálculo para o uso de biodiesel ou de misturas de

biodiesel com gasóleo, são adicionados às correlações factores que permitem ter a variação do

combustível em conta. Estas correlações são as seguintes:

Tabela 3-1 – Correlações para emissões de gases de escape.[16]

Gás de

Escape Equações Teóricas do Balanço de Massa

CO2 mCO2=11

3

1

RH C

+RO C

+ 1m f

3

7mCO 0,7mPM

36

43mHC (3-13)

H2O mH2

O =9R

H C

1 +RH C

+RO C

+RX C

m f (3-14)

SO2 mSO2=mf

24358CS

1,7 108+ 1049,8CS

x 1

x 1 ρBρ

P 1 (3-15)

Gás de

Escape Correlações Experimentais

NOX mNOX= 0,02353m f 0,00658 1 +

x

8,84 (3-16)

PM mPM = 0,00186m f 0,00109 0,498 x + 1 (3-17)

25

CO

1: N < 1/3*((Nmax - Nidle) + Nidle)

mCO =P i 0,0318L60,124L

5+ 0,194L

40,1560L

3+ 0,0697L

20,0184L + 0,0029

0,873 x 2 1,673 x L + 1 3 18

2: 1/3*((Nmax - Nidle) + Nidle) < N < 17/20*((Nmax - Nidle) + Nidle)

mCO =P i 0,0157L60,106L

5+ 0,2321L

40,2361L

3+ 0,1251L

2

0,0363L + 0,0058 (3-19)

3: N >17/20*((Nmax - Nidle) + Nidle)

mCO =P i 0,0013L6+ 0,1068L

50,2686L

4+ 0,2184 L

30,0362L

2

0,0279L + 0,0094 (3-20)

HC

1: N < 1/3*((Nmax - Nidle) + Nidle)

mHC =P i 0,0307L60,1028L

5+ 0,135L

40,0884L

3+ 0,0311L

2

0,00632L + 0,00081 (3-21)

2: 1/3*((Nmax - Nidle) + Nidle) < N < 2/3*((Nmax - Nidle) + Nidle)

mHC =P i 0,0480L60,1716L

5+ 0,246L

40,181L

3+ 0,0732L

2

0,01614L + 0,0017 (3-22)

3: N >2/3*((Nmax - Nidle) + Nidle)

mHC =P i 0,0464L6+ 0,1464L

50,1703L

4+ 0,08183L

30,005774L

2

0,00777L + 0,002006 (3-23)

4: Factor de Correcção: ( -0.7 x + 1)

CS concentração de enxofre [ppm] L carga

Nmax / Nidle velocidade de rotação máxima/ao x percentagem em volume de

ralenti biodiesel na mistura

N velocidade de rotação

Pi potência indicada RY/X relação de massa Y/X

26

Figura 3-1 - Janela de entrada de dados do DEMB.

3.1.2 Simulação da Dinâmica da Viatura

De forma a calcular a velocidade de rotação e carga necessárias a cada instante, o EcoGest

necessita de dados relativos ao percurso (declives) e do ciclo de velocidade percorrido pela

viatura, relacionando a velocidade instantânea com o tempo.

A partir da indicação da velocidade instantânea v, e com os dados do raio dinâmico das rodas r

e a relação final de transmissão i, é possível calcular a velocidade de rotação do motor:

(3-24)

A relação de transmissão engrenada a cada momento pode ser calculada pelo EcoGest com

base nos dados de input (velocidade instantânea da viatura e velocidade de rotação do motor)

ou pode ser atribuída uma determinada relação a uma gama de velocidades (por exemplo, a 2ª

velocidade é usada entre os 10 e os 30 km/h). Esta última opção é configurável pelo utilizador.

Para as simulações aqui abordadas, foram usadas ambas as opções, conforme a situação (no

respectivo capítulo será dada indicação da opção utilizada).

N =60 v i

2πr

27

Figura 3-2 - Selecção das regras de mudança da relação engrenada no EcoGest.

Com os dados da aceleração instantânea calculados a partir do ciclo de velocidade, do declive

do percurso e das características da viatura (massa, eficiência da transmissão, coeficiente de

atrito aerodinâmico, área frontal, coeficiente de atrito de rolamento e de inércia rotacional),

obtém-se a potência necessária a cada instante e, uma vez tendo a velocidade de rotação do

motor, a carga a cada instante. É de notar que o coeficiente de inércia rotacional pode ser

estimado pelo EcoGest, visto ser um dado normalmente não disponível junto dos fabricantes. O

coeficiente de inércia rotacional, km, pode ser considerado constante ou variável. Neste caso a

sua lei de variação segue os pontos das curvas da Figura 3-3[9] que estão, conjuntamente com

os pontos da curva extrapolada para 1500 kg/l, introduzidos numa matriz no código do

programa. Para cada par de valores kg/l e i/r é determinado, por interpolação bilinear, o valor

de km. Assim, este coeficiente passa a ser variável ao longo da viagem.[8]

Figura 3-3 - Gráfico para a determinação do coeficiente de inércia rotacional dos veículos.VH é igual à cilindrada do motor do veículo em causa. m é o peso do veículo e kg/l é a relação

peso/cilindrada. [9]

28

A partir da velocidade de rotação do motor e da carga é possível, por interpolação dos dados

dos mapas característicos do motor (quer fornecidos pelo fabricante, quer simulados via

DEMB) obter o consumo de combustível instantâneo e as emissões de gases poluentes à

saída do motor. É também estimada a temperatura dos gases de escape.

O EcoGest possui também um sub-módulo que simula o tratamento dos gases de escape, que

no entanto não foi utilizado no presente estudo, dado estar preparado apenas para o escape de

motores de explosão.

Os resultados do EcoGest são obtidos em ficheiros de texto que apresentam o detalhe dos

valores simulados segundo a segundo e os valores médios.

Figura 3-4 - Exemplo de um ficheiro de saída do EcoGest com os resultados médios simulados.

29

Figura 3-5 - Vista parcial de um exemplo de um ficheiro de saída do EcoGest com o detalhe de

todos os parâmetros calculados e simulados.

O EcoGest foi usado na totalidade do presente estudo, sendo que as únicas excepções estão

presentes no Capítulo 5, em que foi utilizada a aplicação ADVISOR para estimar acelerações

de 0 aos 100 km/h e para simular a hibridização da viatura de teste.

3.2 ADVISOR

Desenvolvido pelo National Renewable Energy Laboratory, o modelo ADVISOR (ADvanced

VehIcle SimulatOR)[14] permite simular várias tecnologias de propulsão automóvel, incluindo a

propulsão híbrida, fornecendo estimativas de consumo de combustível e emissão de gases de

escape.

Este simulador baseia-se na utilização de mapas de consumo de combustível e emissão de

poluentes obtidos em banco de ensaio ou extrapolados a partir do conhecimento dos valores à

carga máxima para o motor a simular e outro motor conhecido. A partir destes dados, e com

uma simulação da dinâmica da viatura em determinado percurso onde é calculada a velocidade

de rotação do motor e binário necessários, são obtidos os valores do consumo de combustível

e emissão de gases de escape instantâneos por interpolação dos mapas da base de dados.

Uma vez que o motor da viatura de teste utilizada não consta da base de dados do ADVISOR,

foi utilizado como base os mapas relativos a uma unidade Volkswagem Turbo Diesel 1,9 l, que

30

são re-escalados de acordo com a potência máxima da motorização que se pretende analizar.

É necessário também introduzir os dados relativos à transmissão, características da carroçaria

e auxiliares e características do catalisador.[8]

Depois de introduzidas as características da viatura, deverá escolher-se o ciclo de velocidade a

ensaiar, fornecendo o ADVISOR informação relativa ao consumo médio de combustível e

emissão de gases de escape no ciclo de velocidade escolhido.

Figura 3-6 - Máscara de entrada de dados da viatura do ADVISOR.

Figura 3-7 - Visualização de resultados no ADVISOR.

31

4 Laboratório experimental

Para atingir os objectivos propostos de registar os valores relativos à dinâmica e consumo de

combustível da viatura de teste para o percurso escolhido foi necessária a instalação na viatura

de um conjunto de sistemas de medida e de registo de dados. A instalação deste equipamento

foi feita em diversas fases, sendo que entre elas se foram realizando viagens de teste para

assegurar que o equipamento estava correctamente instalado e a funcionar, permitindo a

correcta recolha dos dados pretendidos. O presente capítulo descreve cada um destes

elementos do laboratório experimental.

4.1 Caudalímetro

Com o objectivo de registar o consumo de combustível da viatura durante o percurso de teste,

foi utilizado um caudalímetro CORRSYS-DATRON CDS-DFL-1A/CDS-DFL-WT[17]. A unidade

CDS-DFL-1A, que constitui o caudalímetro propriamente dito, utiliza um sistema de medição de

alta precisão, constituído por quatro pistões, emitindo 1500 impulsos eléctricos por cada

centímetro cúbico de combustível que passa através deste. Estes impulsos eléctricos são

recolhidos para um computador através de uma placa de aquisição de dados e interpretados

por software específico.

Figura 4-1 - Caudalímetro CORRSYS-DATRON CDS-DFL-1A.[17]

O circuito de alimentação de combustível da viatura de teste (e que funciona com um princípio

semelhante na generalidade dos automóveis ligeiros Diesel actuais) é constituído por um

tanque de combustível (onde o combustível é armazenado), munido de uma bomba de

combustível cujo objectivo é bombear o combustível do tanque até à bomba injectora. A bomba

injectora pressuriza o combustível até à pressão de injecção, mas nem todo o combustível

32

bombeado do tanque é injectado nas câmaras de combustão, o que origina um fluxo de retorno

de combustível que é reencaminhado para o tanque. Normalmente, o fluxo de retorno tem uma

temperatura superior ao do combustível no tanque, visto ser utilizado para o arrefecimento da

bomba injectora.

O sistema utilizado realiza a medição do combustível consumido através da divisão do circuito

de combustível da viatura em dois circuitos separados: circuito da bomba injectora e circuito do

tanque de combustível. Esta divisão é feita pela unidade CDS-DFL-WT.

Figura 4-2 - Unidade CORRSYS-DATRON CDS-DFL-WT.[17]

O combustível que é bombeado pela bomba de combustível no tanque passa através da

unidade CDS-DFL-WT e é direccionado de novo para o tanque. O circuito da bomba injectora é

percorrido por combustível impulsionado por uma bomba eléctrica na unidade CDS-DFL-WT,

ligando-se o retorno da bomba injectora à sua entrada.

Entre os dois circuitos está localizada a unidade CDS-DFL-1A, que permite a passagem do

combustível necessário à manutenção do volume em circulação no circuito da bomba injectora,

combustível esse proveniente do circuito do tanque. Assim, a unidade CDS-DFL-1A mede o

combustível transferido entre os dois circuitos e que corresponde ao combustível injectado nas

câmaras de combustão. Para além da função de divisão entre os circuitos, a unidade CDS-

DFL-WT possui ainda um permutador de calor cujo objectivo é arrefecer o combustível que

retorna da bomba injectora para a temperatura do combustível que está no tanque, evitando-se

33

assim erros de medição devidos à variação de volume do combustível com a temperatura e a

formação de bolhas gasosas no circuito da bomba injectora.

Figura 4-3 - Esquema de ligação das unidades CDS-DFL-1A e CDS-DFL-WT.[18]

Na viatura de teste, o caudalímetro foi instalado na zona do banco traseiro, onde se encontra o

acesso à bomba de combustível do depósito. Nas Figuras 4-4, 4-5 e 4-6 podem visualizar-se

as ligações feitas nas tubagens de abastecimento de combustível (azul – linha de combustível

do depósito para a bomba de alta pressão / castanho – linha de retorno do combustível da

bomba de alta pressão para o depósito).

Figura 4-4 - Acesso à bomba de combustível do depósito.

34

Figura 4-5 - Ligações da unidade CDS-DFL-WT à bomba de combustível do depósito.

Figura 4-6 - Instalação do caudalímetro no interior da viatura.

Para ser possível a ligação das tubagens da unidade CDS-DFL-WT à linha de combustível de

retorno, foi necessário fabricar um adapatador específico (Figura 4-7).

35

Figura 4-7 – Adaptador de ligação da unidade CDS-DFL-WT à linha de retorno de combustível.

4.2 Unidade GPS

A unidade GPS (Global Positioning System) utilizada foi uma Garmin GPSmap 76CSx, munida

de uma antena GPS exterior. Este equipamento permite o registo da latitude, longitude, altitude

e velocidade da viatura em dado intante através duma ligação USB ao computador.

Figura 4-8 - Unidade de GPS Garmin

GPSmap 76CSx.

Figura 4-9 - Antena GPS exterior.

36

4.3 OBD

A ficha OBD (On-Board Diagnosis) permite recolher da viatura variados dados relativos ao

funcionamento da mesma, tais como a velocidade de rotação do motor e a respectiva carga

(percentagem do binário máximo utilizada), temperatura e pressão do ar de admissão,

velocidade da viatura, etc. Para efeitos de recolha dos dados relevantes, faz parte do

laboratório experimental um cabo de ligação da OBD ao computador.

Figura 4-10 - Ligação à porta OBD da viatura.

4.4 Computador portátil

O computador portátil serve como base de recolha, sincronização e armazenamento dos

dados. Ao computador portátil estão ligados os seguintes equipamentos:

-Caudalímetro

-Unidade GPS

-Cabo OBD (ligado à unidade OBD da viatura)

37

Figura 4-11 - Computador portátil instalado no posto do passageiro.

Para a recolha dos dados durante o ensaio experimental, corre no computador a aplicação

FrotLab[19], que reune e sincroniza os diversos programas de recolha de dados do laboratório

experimental descritos em seguida, onde são também apresentadas figuras representativas

dos diversos módulos constituintes do FrotLab.

4.4.1 Aplicação GPS

Esta aplicação processa os dados recolhidos da unidade GPS, armazenando os dados

relativos à latitude, longitude, altitude e velocidade, numa base temporal de segundo a

segundo.

Figura 4-12 - Aplicação GPS do FrotLab.

38

4.4.2 Aplicação Caudalímetro

Este software permite a interpretação e armazenamento dos dados recolhidos da placa de

aquisição ligada ao caudalímetro. Assim, são medidos os impulsos emitidos pelo caudalímetro

(1500 impulsos por cada centímetro cúbico de combustível), que são interpretados pelo

software, resultando no armazenamento dos dados relativos ao consumo instantâneo numa

base temporal de segundo a segundo.

Figura 4-13 - Aplicação Caudalímetro do FrotLab.

4.4.3 Aplicação OBD

A leitura dos dados provenientes da porta OBD da viatura é feita também no computador, que

armazena numa base temporal de segundo a segundo os dados disponíveis na porta OBD,

que podem ser relativos à velocidade de rotação do motor, pressão de admissão, carga do

motor, velocidade da viatura, temperatura do ar admitido, etc.

39

Figura 4-14 - Aplicação OBD do FrotLab.

4.4.4 Aplicação Analisador de Gases de Escape

O FrotLab inclui ainda um módulo que permite o registo de dados de uma analisador de gases

de escape. Esta função não foi utilizada no decorrer dos testes realizados.

Figura 4-15 - Aplicação Analisador de Gases de Escape do Frotlab.

40

Figura 4-16 - Ecrã do FrotLab, com os diversos módulos.

4.5 Alimentação

Todos os equipamentos mencionados são alimentados a partir da bateria da viatura, através de

uma cablagem especifica.

Figura 4-17 - Alimentação a partir da bateria

da viatura.

Figura 4-18 - Cablagem de alimentação.

41

5 Caso de Estudo

No presente capítulo pretende-se descrever os elementos do caso de estudo adoptado, ou

seja, a viatura de teste, os percursos de validação seleccionados e os resultados experimentais

resultantes da aplicação do laboratório experimental anteriormente descrito à viatura nos

percursos escolhidos. Posteriormente, será descrita a aplicação do EcoGest à viatura de teste

e aos dados recolhidos nos percursos de validação e ao NEDC e apresentados os respectivos

resultados. Finalmente, serão consideradas algumas situações hipotéticas para diferentes

configurações da viatura e da sua ocupação e simulado o correspondente desempenho

energético e ambiental.

5.1 Veículo de Ensaio

Para a escolha do veículo de ensaio, levou-se em conta que deveria ser uma viatura com uma

motorização Diesel que incluísse a tecnologia mais recente disponível no mercado em termos

deste tipo de motorização. Também se tomou em consideração que seria interessante a

análise de uma viatura que fosse representativa do parque circulante automóvel Diesel, o que,

baseado nos dados da matriculação de viaturas na Europa Ocidental (Tabela 5-1), levou a que

a viatura escolhida fosse do segmento médio-inferior (apesar de em determinados anos se

terem vendido no total mais viaturas do segmento inferior, este segmento não tem uma

percentagem de viaturas Diesel tão elevada quanto o segmento médio-inferior).

Tabela 5-1 - Registo de viaturas ligeiras de passageiros na UE e EFTA.[11]

42

Todos estes factores, aliados à disponibilidade de dados técnicos e apoio do importador da

marca em Portugal, levou a que a viatura seleccionada fosse o BMW 118d LCI (produção de

Março de 2007).

Figura 5-1 - BMW 118d LCI.[20]

Fazendo parte da gama de modelos da segunda geração da Série 1 da BMW, inicialmente

lançada em 2003 e que sofreu algumas alterações no início de 2007, esta viatura é movida por

uma motorização Diesel de 4 cilindros e 1995 cm3 (motor tipo N47D2), sobrealimentada por um

turbocompressor de geometria variável, com injecção directa de combustível common rail de

terceira geração, catalizador de oxidação e filtro de partículas no sistema de escape. A viatura

de teste estava ainda equipada com uma caixa de 6 velocidades. Todas estas características

são comuns no segmento em que a viatura de teste se insere, mas existem algumas

particularidades no campo da economia de combustível que tornam esta viatura num caso de

estudo interessante. Assim, o BMW 118d LCI está equipado com uma série de medidas para

melhorar o desempenho energético da viatura, inserindo-se numa estratégia de

desenvolvimento de produto denominada pela BMW como EfficientDynamics, que espelha a

tendência geral da indústria automóvel actual de diminuição do consumo de combustível e,

consequentemente, de emissão de gases causadores do efeito de estufa, sem prejuízo do

desempenho dinâmico.

43

Figura 5-2 - Motor BMW N47D2, que equipa a viatura de teste. (fonte: BMW AG)

O BMW 118d LCI está equipado com direcção com assistência eléctrica (que, por oposição à

tradicional assistência hidráulica, não recolhe directamente energia da cambota do motor),

bomba de água eléctrica desligável (que permite um maior controlo sobre a sua actuação,

permitindo períodos de arranque a frio mais curtos), alhetas na grelha do radiador activas (que

abrem e fecham consoante as necessidades de refrigeração do motor, melhorando o

desempenho aerodinâmico e reduzindo o período de aquecimento do motor), sistema de

carregamento da bateria selectivo (a bateria é carregada preferencialmente em situações de

desaceleração e travagem, o que significa que o alternador tem uma carga inferior durante os

períodos em que o motor está em carga, o que também contribui para uma redução do

consumo de combustível) e sistema de arranque automático stop&start (que desliga

automaticamente o motor sempre que a viatura se imobiliza, voltando a ligá-lo quando se

pretende arrancar de novo – este sistema não foi utilizado nos testes efectuados).

Segue um resumo das principais características da viatura de teste.

44

Tabela 5-2 - Principais características da viatura de teste (fonte: BMW AG – excepto indicações em

nota de rodapé).

Motor:

Cilindrada [cm3] 1995

Potência Máxima [kW / RPM] 105 / 4000 Binário Máximo [N.m / RPM] 300 / 2000 Nº Cilindros 4 Razão de Compressão 16 Carroçaria: Tara versão ensaiada1 [kg] 1426,2 Peso Bruto [kg] 1830 Área Frontal [m2] 2,09 Coeficiente de Resistência Aerodinâmica Cd 0,30 Jantes e pneus: Jantes 7Jx16 ET:44 Pneus (dimensão) 205/55 R16 91H Pneus (marca e modelo) Bridgestone Turanza ER300 RSC Raio dinâmico [m] 0,316 Coeficiente de Atrito de Rolamento2 0,009 Transmissão: Eficiência da Transmissão3 0,97 Relação 1ª velocidade 4,002 Relação 2ª velocidade 2,108 Relação 3ª velocidade 1,38 Relação 4ª velocidade 1 Relação 5ª velocidade 0,78 Relação 6ª velocidade 0,645 Relação Marcha-atrás 3,187 Relação Final do Diferencial 3,07 Consumo e Emissão de Poluentes Anunciados4: Circuito Urbano [l / 100km] 5,7 Circuito Extra Urbano [l / 100km] 4,1 Consumo Combinado [l / 100km] 4,7 Emissão de CO2 [g / km] 123 Emissão de CO [g / km] 0,385 Emissão de HC + NOX [g / km] 0,220 Emissão de NOX [g / km] 0,181 Emissão de Partículas Não Disponível Norma Europeia Euro IV

1 Inclui peso dos opcionais: jantes e pneus, ar condicionado automático, rádio e sistema mãos-livres. 2 Estimado dos valores apresentados em [21]. 3 Estimado dos valores típicos apresentados em [9]. 4 Dados de homologação da viatura, disponíveis em [22].

45

5.2 Os Percursos de Teste

De forma a recolher dados para posteriormente serem comparados com os simulados no

EcoGest, foi seleccionado um percurso no qual foi utilizada a viatura de teste equipada com o

laboratório experimental descrito anteriormente (§ 4). O percurso seleccionado deveria

abranger a grande maioria das situações de condução que ocorrem no dia-a-dia, pelo que se

optou por escolher um percurso que inclui condução citadina, condução em auto-estrada e em

estrada secundária, com uma grande variedade de declives. De forma a facilitar o

processamento dos dados, o percurso foi dividido em duas viagens, em que cada uma delas

teve um condutor diferente. O presente capítulo ilustra os percursos seleccionados,

apresentando os dados recolhidos através do laboratório experimental.

5.2.1 Viagem 1: Lisboa - Cascais

A primeira secção do percurso tem início nas instalações do Instituto Superior Técnico, na Av.

Rovisco Pais, Lisboa, terminando em Cascais. O percurso seguido pode ser visualizado na

Figura 5-3.

Figura 5-3 - Viagem 1: Lisboa - Cascais (linha azul).

46

Segue um resumo dos dados recolhidos durante a Viagem 1:

Tabela 5-3 - Resumo dos dados mais relevantes do percurso Lisboa - Cascais.

Distância percorrida 33,38 km Tempo 3009 s (50 min 9 s) Total de combustível consumido 1742 g / 2,03 l Consumo médio 52,20 g/km / 6,07 l/100km Declive máximo 13% Declive mínimo -12% Velocidade média 40 km/h Velocidade máxima atingida 122 km/h Distância percorida em circuito citadino aprox. 8,0 km (24% do percurso) Distância percorrida em auto-estrada aprox. 10,7 km (32% do percurso) Distância percorrida em estrada secundária aprox. 14,7 km (44% do percurso) Tempo dispendido a 0 <= RPM <= 1500 1623 s (53,9 % do tempo) Tempo dispendido a 1501 <= RPM <= 3000 1321 s (43,9% do tempo) Tempo dispendido a 3001 <= RPM 65 s (2,2 % do tempo) Tempo dispendido a 0 <= Carga <= 25% 907 s (30,1 % do tempo) Tempo dispendido a 26% <= Carga <= 50% 1020 s (33,9% do tempo) Tempo dispendido a 51% <= Carga <= 75% 546 s (18,1 % do tempo) Tempo dispendido a 76% <= Carga <= 100% 537 s (17,8% do tempo) % do tempo total dispendido ao ralenti 16,6%

A Figura 5-4 ilustra os declives presentes no percurso Lisboa - Cascais, calculados a partir dos

dados da altitude medidos através do sistema GPS.

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

0 2000 4000 6000 8000 10000 12000 14000 16000 18000 20000 22000 24000 26000 28000 30000 32000 34000

Distância [m]

Altitude [m

]

-15%

-10%

-5%

0%

5%

10%

15%

Declive Altitude

Declive

Figura 5-4 - Variação da altitude e declive na Viagem 1: Lisboa - Cascais.

Da OBD da viatura, foram recolhidos os dados relativos à velocidade instantânea, velocidade

de rotação do motor e da carga ao longo do tempo que levou a percorrer o percurso, conforme

ilustrado nas Figuras 5-5, 5-6 e 5-7 respectivamente.

47

0

20

40

60

80

100

120

140

0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000 2200 2400 2600 2800 3000

Tempo [s]

Velocidad

e Instan

tânea [km

/h]

Figura 5-5 - Ciclo de velocidade instantânea da Viagem 1: Lisboa - Cascais.

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

4000

4500

0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000 2200 2400 2600 2800 3000

Tempo [s]

Velocidad

e de Rotação [RPM]

Figura 5-6 - Variação da velocidade de rotação do motor na Viagem 1: Lisboa - Cascais.

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000 2200 2400 2600 2800 3000

Tempo [s]

Carga

Figura 5-7 - Variação da carga do motor na Viagem 1: Lisboa - Cascais.

Finalmente, os dados recolhidos do caudalímetro permitem obter o consumo instantâneo de

combustível ao longo do tempo que leva a percorrer o percurso. Estes dados são apresentados

na Figura 5-8.

48

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000 2200 2400 2600 2800 3000

Tempo [s]

Consu

mo de Combustível [g/s]

Figura 5-8 - Consumo instantâneo de combustível na Viagem 1: Lisboa - Cascais.

5.2.2 Viagem 2: Cascais - Lisboa

Para o retorno a Lisboa, optou-se por seguir o percurso inverso do adoptado na Viagem 1, com

uma pequena diferença no circuito no interior da cidade de Lisboa, tal como se pode ver na

Figura 5-9.

Figura 5-9 - Viagem 2: Cascais - Lisboa (linha azul).

49

O resumo dos dados mais relevantes do percurso da Viagem 2 é:

Tabela 5-4 - Resumo dos dados mais relevantes do percurso Cascais - Lisboa.

Distância percorrida 28,44 km Tempo 2414 s (40 min 14 s) Total de combustível consumido 1445 g / 1,68 l Consumo médio 50,80 g/km / 5,92 l/100km Declive máximo 12% Declive mínimo -18% Velocidade média 42 km/h Velocidade máxima atingida 128 km/h Distância percorida em circuito citadino aprox. 5,2 km (18% do percurso) Distância percorrida em auto-estrada aprox. 8,3 km (29% do percurso) Distância percorrida em estrada secundária aprox. 15,0 km (53% do percurso) Tempo dispendido a 0 <= RPM <= 1500 1625 s (67,3 % do tempo) Tempo dispendido a 1501 <= RPM <= 3000 776 s (32,1% do tempo) Tempo dispendido a 3001 <= RPM 13 s (0,5 % do tempo) Tempo dispendido a 0 <= Carga <= 25% 968 s (40,1 % do tempo) Tempo dispendido a 26% <= Carga <= 50% 537 s (22,2% do tempo) Tempo dispendido a 51% <= Carga <= 75% 372 s (15,4 % do tempo) Tempo dispendido a 76% <= Carga <= 100% 537 s (22,2% do tempo) % do tempo total dispendido ao ralenti 13,7%

A Figura 5-10 ilustra os declives presentes no percurso Cascais - Lisboa.

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

0 2000 4000 6000 8000 10000 12000 14000 16000 18000 20000 22000 24000 26000 28000 30000

Distância [m]

Altitude (m

)

-20%

-15%

-10%

-5%

0%

5%

10%

15%

Declive Altitude

Declive

Figura 5-10 - Variação da altitude e declive na Viagem 2: Cascais - Lisboa.

Nas figuras seguintes, podem ver-se os dados relativos ao ciclo de velocidade, velocidade de

rotação do motor, carga e consumo instantâneo para a Viagem 2.

50

0

20

40

60

80

100

120

140

0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000 2200 2400

Tempo [s]

Velocidad

e instan

tânea [km

/h]

Figura 5-11 - Ciclo de velocidade instantânea da Viagem 2: Cascais - Lisboa.

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

4000

0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000 2200 2400

Tempo [s]

Velocidad

e de Rotação [RPM]

Figura 5-12 - Variação da velocidade de rotação do motor na Viagem 2: Cascais - Lisboa.

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000 2200 2400

Tempo [s]

Carga

Figura 5-13 - Variação da carga do motor na Viagem 2: Cascais - Lisboa.

51

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000 2200 2400

Tempo [s]

Consu

mo de Combustível [g/s]

Figura 5-14 - Consumo instantâneo de combustível na Viagem 2: Cascais - Lisboa.

5.3 Adaptação e Aplicação do Simulador

O presente sub-capítulo descreve as alterações introduzidas no simulador EcoGest de forma a

se poder utilizá-lo para obter resultados para a viatura de teste. Posteriormente, descrever-se-á

o processo de validação dos resultados obtidos com a aplicação do EcoGest por comparação

com os valores de consumo de combustível homologados para a viatura de teste

(homologação através do New European Driving Cycle - NEDC). São também utilizados os

valores de emissões de gases de escape homologados para afinação dos valores de emissões

de gases de escape obtidos através da aplicação do EcoGest ao NEDC, obtendo-se assim

uma estimativa das eficiências de conversão dos sistemas de tratamento de gases de escape

da viatura. Posteriormente, serão apresentados os valores do consumo de combustível obtidos

da aplicação do EcoGest aos percursos descritos no anteriormente (§ 5.2), que serão

comparados aos obtidos experimentalmente. Serão também apresentados os dados da

simulação das emissões de poluentes para estes percursos.

5.3.1 Adaptação do EcoGest

Antes de poder utilizar o EcoGest para a simulação do consumo de combustível e emissão de

gases de escape, foi necessário adaptá-lo à viatura utilizada no caso de estudo, bem como

introduzir os dados da viatura na base de dados do EcoGest.

Para aplicar o EcoGest à viatura de teste, foi necessária a introdução da opção da simulação

de uma caixa de seis velocidades, dado que a viatura de teste estava assim equipada. Além

desta alteração, foi necessário introduzir na base de dados do EcoGest as seguintes

características da viatura de teste (§ 5.1):

52

-Tara da viatura;

-Cilindrada do motor;

-Potência máxima e velocidade de rotação do motor a que é atingida;

-Binário máximo e velocidade de rotação do motor a que é atingido;

-Características dos pneumáticos que equipam a viatura (dimensões e coeficiente de atrito de

rolamento);

-Área frontal e coeficiente de atrito aerodinâmico da viatura de teste;

-Relações de transmissão.

5.3.2. Aplicação do EcoGest

5.3.2.1 DEMB

A simulação inicia-se com a obtenção a partir do módulo DEMB (§ 3.1.1) de uma simulação da

relação entre a velocidade de rotação do motor, a carga (percentagem do binário total

disponível a determinada velocidade de rotação do motor que é utilizada) e, respectivamente, o

consumo instantâneo de combustível e a emissão instantânea de gases de escape (HC, CO,

NOX, PM) à saída do motor, antes dos sistemas de tratamento de gases de escape. Obtém-se

também uma simulação da curva de potência máxima do motor.

Para tal, introduz-se no ecrã de introdução de dados do DEMB as características do motor da

viatura (cilindrada, potência máxima e velocidade de rotação a que é atingida, binário máximo e

velocidade de rotação a que é atingido e ano de intodução no mercado da motorização) e do

combustível, seleccionando-se a opção de viatura ligeira “Automobile” (por oposição à opção

“Heavy Duty”, para veículos pesados) e a resolução dos mapas a simular. A Figura 5-15

apresenta o ecrã de introdução de dados, com as características do BMW 118d LCI e do

gasóleo introduzidas.

53

Figura 5-15 - Ecrã de entrada de dados do DEMB, com as carecterísticas do BMW 118d LCI e do

gasóleo.

Conforme descrito anteriormente, da simulação resulta um ficheiro de texto que relaciona a

velocidade de rotação do motor, a carga e, respectivamente, o binário, o consumo instantâneo

de combustível a emissão instantânea de gases de escape (HC, CO, NOX, PM), bem como dos

valores de potência máxima consoante a velocidade de rotação do motor. Abaixo seguem-se

representações gráficas das relações simuladas.

0

20

40

60

80

100

120

700 1100 1500 1900 2300 2700 3100 3500 3900 4300 4700

Velocidade de Rotação do Motor [RPM]

Potência Máx

ima [kW]

Figura 5-16 - Curva de potência máxima simulada via DEMB.

54

700

1300

1900

2500

3100

3700

4300

0% 20% 40% 60%

80%

100%

0

5000

10000

15000

20000

25000

30000

Consu

mo de Combustível [g/h]

Vel. Rotação [RPM]

Carga

Figura 5-17 - Relação entre a velocidade de rotação, a carga e o consumo de combustível do

motor, simulada via DEMB.

700

1300

1900

2500

3100

3700

4300

0% 20% 40% 60% 80%

100%

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

Emissã

o de HC [g/h]

Vel. Rotação [RPM]

Carga

Figura 5-18 - Relação entre a velocidade de rotação, a carga e a emissão de HC antes dos sistemas

de tratamento, simulada via DEMB.

55

700

1300

1900

2500

3100

3700

4300

0% 20% 40% 60% 80%

100%

0

50

100

150

200

250

300

Emissã

o de CO [g/h]

Vel. Rotação [RPM]

Carga

Figura 5-19 - Relação entre a velocidade de rotação, a carga e a emissão de CO antes dos sistemas

de tratamento, simulada via DEMB.

700

1300

1900

2500

3100

3700

4300

0% 20% 40% 60% 80%

100%

0

100

200

300

400

500

600

Emissã

o de NOx [g/h]

Vel . Rotação [RPM]

Carga

Figura 5-20 - Relação entre a velocidade de rotação, a carga e a emissão de NOX antes dos

sistemas de tratamento, simulada via DEMB.

56

700

1300

1900

2500

3100

3700

4300

0% 20% 40% 60% 80%

100%

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

Emissã

o de PM [g/h]

Vel. Rotação [RPM]

Carga

Figura 5-21 - Relação entre a velocidade de rotação, a carga e a emissão de PM antes dos sistemas

de tratamento, simulada via DEMB.

700

1300

1900

2500

3100

3700

4300

0% 20% 40% 60% 80% 100%

0

100

200

300

400

500

600

Tem

peratura G

ases Esc

ape [ºC]

Vel. Rotação [RPM]

Carga

Figura 5-22 - Relação entre a velocidade de rotação, a carga e a temperatura dos gases de escape,

simulada via DEMB.

57

5.3.2.2 Simulação do NEDC

De forma a validar os valores simulados pelo EcoGest para o caso de estudo, foi inicialmente

simulada a realização do New European Driving Cycle. Para tal, introduziu-se o respectivo ciclo

de velocidade (Figura 1-4) no EcoGest.

Figura 5-23 - Ecrã de introdução das opções de cálculo do EcoGest.

Figura 5-24 - Escolha do NEDC como ciclo de velocidade no EcoGest.

58

Após a escolha do ciclo de velocidades, é escolhido o comportamento de mudança de relação

da caixa de velocidades consoante a velocidade da viatura (velocidade a que é engrenada a

mudança seguinte).

Figura 5-25 - Escolha da velocidade à qual é engrenada a relação de caixa seguinte.

Finalmente, introduzem-se os dados do (§ 5.1) e o número de passageiros e peso adicional da

viatura (passageiros e carga). Para o NEDC, foi utilizado um valor de 100 kg.

Figura 5-26 - Introdução dos dados do veículo e da sua ocupação.

59

Após a introdução dos dados necessários, o EcoGest fornece dois ficheiros de texto: um com

os valores médios de consumo e emissão de poluentes, outro com o detalhe segundo a

segundo destes valores. Seguem as representações gráficas dos valores obtidos:

0

0,5

1

1,5

2

2,5

0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000 1100

Tempo [s]

Consu

mo Instan

tâneo

[g/s]

Figura 5-27 - Consumo instantâneo simulado, para o NEDC, sem correcção para sistema de

arranque automático stop&start.

0,00E+00

1,00E-04

2,00E-04

3,00E-04

4,00E-04

5,00E-04

6,00E-04

7,00E-04

8,00E-04

9,00E-04

0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000 1100

Tempo [s]

HC [g/s]

Figura 5-28 - Emissão de HC antes dos sistemas de tratamento, simulada para o NEDC, sem

correcção para sistema de arranque automático stop&start.

60

0,00E+00

1,00E-03

2,00E-03

3,00E-03

4,00E-03

5,00E-03

6,00E-03

7,00E-03

8,00E-03

0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000 1100

Tempo [s]

CO [g/s]

Figura 5-29 - Emissão de CO antes dos sistemas de tratamento, simulada para o NEDC, sem

correcção para sistema de arranque automático stop&start.

0,00E+00

2,00E-03

4,00E-03

6,00E-03

8,00E-03

1,00E-02

1,20E-02

1,40E-02

0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000 1100

Tempo [s]

NOx [g/s]

Figura 5-30 - Emissão de NOX antes dos sistemas de tratamento, simulada para o NEDC, sem

correcção para sistema de arranque automático stop&start.

0,00E+00

1,00E-05

2,00E-05

3,00E-05

4,00E-05

5,00E-05

6,00E-05

7,00E-05

0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000 1100

Tempo [s]

PM [g/s]

Figura 5-31 - Emissão de PM antes dos sistemas de tratamento, simulada para o NEDC, sem

correcção para sistema de arranque automático stop&start.

61

A Tabela 5-5 apresenta os valores médios simulados (em que os valores relativos às emissões

de gases de escape são os obtidos à saída do motor, antes dos sistemas de tratamento):

Tabela 5-5 - Valores do consumo e emissão de gases de escape antes dos sistemas de tratamento,

simulados para o NEDC, sem correcção para sistema de arranque automático stop&start.

Consumo de Combustível [l / 100km] 5,37 Consumo de Combustível [g / km] (percentagem ao ralenti) 46,22 (7,3%) Emissão de HC [g / km] (percentagem ao ralenti) 0,491 (7,1%) Emissão de CO [g / km] (percentagem ao ralenti) 0,692 (6,3%) Emissão de NOX [g / km] (percentagem ao ralenti) 0,564 (6,0%) Emissão de PM [g / km] (percentagem ao ralenti) 0,039 (7,0%) Emissão de CO2 [g / km] (percentagem ao ralenti) 144,73 (7,3%)

No entanto, e uma vez que a viatura em questão está equipada por um sistema de arranque

automático stop&start, que desliga o motor sempre que a viatura se encontra imobilizada, de

forma a obter valores simulados comparáveis com a situação de homologação da viatura, para

obtenção dos quais foi utilizado o sistema de arranque automático, é necessário subtrair aos

valores simulados a componente obtida ao ralenti. Assim, temos:

Tabela 5-6 - Valores do consumo e emissão de gases de escape antes dos sistemas de tratamento,

simulados para o NEDC, com correcção para sistema de arranque automático stop&start.

Simulado Homologado

Simulado vs.

Homologado Consumo de Combustível [l / 100km] 4,98 4,7 5,9%

Emissão de HC + NOX [g / km] 0,982 0,22 346,2%

Emissão de CO [g / km] 0,646 0,385 67,9%

Emissão de NOX [g / km] 0,528 0,181 190,8%

Emissão de PM [g / km] 0,037 - - Emissão de CO2 [g / km] 134 123 9,1%

Desta forma, é possível estimar a eficiência de conversão de HC, CO, NOX e PM nos sistemas

de tratamento incluídos na viatura (catalizador de oxidação e filtro de partículas). Isto é feito

aplicando um factor de conversão aos valores simulados antes dos sistemas de tratamento

(Tabela 5-6) de forma a que estes sejam iguais, após os sistemas de tratamento, aos valores

homologados. Outro aspecto que é necessário ter em atenção é a composição do combustível

e a sua relação com a emissão de CO2. No caso dos valores homologados, tem-se uma

relação de 2,62 kg de CO2 emitidos por cada litro de gasóleo consumido, enquanto que para a

simulação o valor é de 2,69 kg de CO2 emitidos por cada litro de gasóleo consumido. Se se

62

utilizar a mesma relação da homologação, ter-se-á um valor de emissão de CO2 de 130 g/km.

Assim, ficamos com:

Tabela 5-7 - Eficiências de conversão estimadas para HC, CO, NOX e PM e comparação dos valores

à saída de escape, simulados à saída do escape para o NEDC, com os valores homologados.

Simulado (antes dos sistemas de

tratamento)

Homologado Eficiência

de conversão

Simulado (à saída do

escape)

Simulado vs. Homologado

Consumo de Combustível [l / 100km]

4,98 4,7 - 4,98 5,9%

Emissão de HC + NOX [g / km]

0,982 0,22 77,60% 0,22 0,0%

Emissão de CO [g / km] 0,646 0,385 40,39% 0,385 0,0%

Emissão de NOX [g / km] 0,528 0,181 65,73% 0,181 0,0%

Emissão de PM [g / km] 0,037 0,0015 97,27% 0,001 0,0% Emissão de HC [g / km] 0,454 0,0396 91,41% 0,039 0,0% Emissão de CO2 [g / km] 130 123 - 130 5,7%

As eficiências de conversão da Tabela 5-7 serão usadas em todas as simulações de valores de

emissão à saída do escape apresentados a partir daqui. Comparando com valores típicos de

conversão de gases de escape em catalizadores de oxidação, verificamos que o valor de

conversão do HC está dentro da gama de valores esperada (o fabricante de catalizadores

Johnson&Mattey indica uma eficiência de conversão de HC de cerca de 90% para a sua gama

de catalizadores CCRT[23]). Também a eficiência de conversão de NOX está dentro da gama de

valores esperada para uma viatura equipada com recirculação de gases de escape EGR (a

Johnson&Mattey indica uma eficiência de conversão de NOX de cerca de 50% para a sua gama

de catalizadores EGRT[23] equipada com EGR, enquanto que [4] indica uma redução máxima

na ordem dos 80% para um motor Diesel de injecção directa). O valor da eficiência da

conversão de CO estimado está significativamente abaixo do esperado (a Johnson&Mattey

indica uma eficiência de conversão de CO que ronda os 90% na sua gama de produtos), pelo

que este poderá ser um assunto abordado em trabalhos futuros. Uma vez que a homologação

não inclui um valor para a emissão de PM, o valor estimado para a eficiência de conversão terá

pouco significado, mas mais uma vez está perto dos valores típicos (que rondam os 90-

95%).[23]

É de notar que os valores de CO2 apresentados se mantêm iguais aos obtidos à saída do

motor. Na realidade, tal não se verifica devido à oxidação de CO e HC que ocorre no

catalizador, que resulta na criação de uma pequena quantidade de CO2 adicional. Dado que

5 Não existe um valor homologado para a emissão de PM, pelo que se assumiu o valor de 0,001 g/km. 6 Não é explicitamente mencionado o valor de hologação para as emissões de HC, mas o mesmo pode ser obtido dos valores de homologação de HC+ NOX e de NOX, ambos disponíveis.

63

não se pretendem validar os resultados das emissões de gases de escape, esta é uma

limitação que se manterá em todos os valores estimados para as emissões de CO2

apresentados.

5.3.2.3 Simulação da Viagem 1: Lisboa - Cascais

Após a estimativa das eficiências de conversão dos sistemas de tratamento de gases de

escape, segue-se a aplicação do EcoGest aos percursos descritos em § 5.2. Da mesma forma

que anteriormente, foram introduzidos os dados da viatura no EcoGest, com a diferença de

que, para se ser fiel na simulação da utilização da caixa de velocidades, optou-se por ser o

EcoGest a calcular a relação de caixa engrenada a cada momento a partir da relação entre a

velocidade da viatura e a velocidade de rotação do motor. Para além disso, foi utilizado um

valor de 140 kg para o peso dos ocupantes e do equipamento de medida.

Segue-se a representação gráfica dos valores obtidos.

0

1

2

3

4

5

6

7

0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000 2200 2400 2600 2800 3000

Tempo (s)

Consu

mo Instan

tâneo

de

Combustível [g/s]

Experimental

Simulado

Figura 5-32 -Consumo instantâneo de combustível medido experimentalmente e simulado no

percurso Lisboa - Cascais.

Como se pode verificar na Figura 5-32, a evolução do valor de consumo instantâneo de

combustível simulado não segue exactamente os valores medidos, existindo diferenças

consideráveis. É possível verificar nesta figura que o EcoGest não contempla o corte da

injecção de combustível que ocorre na viatura de teste em desaceleração, sempre que o pedal

do acelerador não está a ser pressionado. Nesta situação, o simulador admite que o consumo

de combustível é o da situação de ralenti. No entanto, apesar destas diferenças, os valores

médios do percurso são bastante próximos, conforme será indicado no decorrer do texto.

Em relação à emissão de gases de escape, a simulação resulta nos seguintes valores:

64

0,00E+00

5,00E-04

1,00E-03

1,50E-03

2,00E-03

2,50E-03

3,00E-03

0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000 2200 2400 2600 2800 3000

Tempo (s)

Emissã

o HC [g/s]

Figura 5-33 - Emissão de HC à saída do escape, simulada para o percurso Lisboa - Cascais.

0,00E+00

5,00E-03

1,00E-02

1,50E-02

2,00E-02

2,50E-02

3,00E-02

3,50E-02

0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000 2200 2400 2600 2800 3000

Tempo (s)

Emissã

o CO [g/s]

Figura 5-34 - Emissão de CO à saída do escape, simulada para o percurso Lisboa - Cascais.

0,00E+00

1,00E-02

2,00E-02

3,00E-02

4,00E-02

5,00E-02

6,00E-02

0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000 2200 2400 2600 2800 3000

Tempo (s)

Emissão NOx [g/s]

Figura 5-35 - Emissão de NOX à saída do escape, simulada para o percurso Lisboa - Cascais.

65

0,00E+00

5,00E-05

1,00E-04

1,50E-04

2,00E-04

2,50E-04

3,00E-04

3,50E-04

0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000 2200 2400 2600 2800 3000

Tempo (s)

Emissã

o PM [g/s]

Figura 5-36 - Emissão de PM à saída do escape, simulada para o percurso Lisboa - Cascais.

Apresentam-se em seguida os valores médios simulados e a comparação com os valores

médios do consumo de combustível medidos experimentalmente:

Tabela 5-8 - Comparação dos valores medidos e simulados para o percurso Lisboa - Cascais.

Simulado Medido Erro Consumo médo de combustível [l/100km] 5,92 6,07 -2,5% Emissão de HC [g/km] 0,032 - - Emissão de CO [g/km] 0,312 - - Emissão de NOX [g/km] 0,252 - - Emissão de PM [g/km] 0,001 - - Emissão de CO2 [g/km] 160,41 - -

5.3.2.4 Simulação da Viagem 2: Cascais - Lisboa

Da mesma forma que descrito anteriormente, foi feita a simulação no EcoGest relativa ao

percurso Cascais - Lisboa, com os resultados que se seguem:

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

4

4,5

5

0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000 2200 2400

Tempo (s)

Consu

mo Instan

tâneo

de

Combustível [g/s]

Experimental

Simulado

Figura 5-37 - Consumo instantâneo de combustível medido experimentalmente e simulado no

percurso Cascais - Lisboa.

66

0,00E+00

5,00E-04

1,00E-03

1,50E-03

2,00E-03

2,50E-03

0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000 2200 2400

Tempo (s)

Emissã

o HC [g/s]

Figura 5-38 - Emissão de HC à saída do escape, simulada para o percurso Cascais - Lisboa.

0,00E+00

2,00E-03

4,00E-03

6,00E-03

8,00E-03

1,00E-02

1,20E-02

1,40E-02

1,60E-02

0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000 2200 2400

Tempo (s)

Emissã

o CO [g/s]

Figura 5-39 - Emissão de CO à saída do escape, simulada para o percurso Cascais - Lisboa.

0,00E+00

5,00E-03

1,00E-02

1,50E-02

2,00E-02

2,50E-02

3,00E-02

3,50E-02

4,00E-02

0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000 2200 2400

Tempo (s)

Emissã

o NOx [g/s]

Figura 5-40 - Emissão de NOX à saída do escape, simulada para o percurso Cascais - Lisboa.

67

0,00E+00

5,00E-05

1,00E-04

1,50E-04

2,00E-04

2,50E-04

0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000 2200 2400

Tempo (s)

Emissã

o PM [g/s]

Figura 5-41 - Emissão de PM à saída do escape, simulada para o percurso Cascais - Lisboa.

Tabela 5-9 - Comparação dos valores medidos e simulados para o percurso Cascais - Lisboa.

Simulado Medido Erro Consumo médo de combustível [l/100km] 5,92 5,92 0,0% Emissão de HC [g/km] 0,022 - - Emissão de CO [g/km] 0,219 - - Emissão de NOX [g/km] 0,263 - - Emissão de PM [g/km] 0,001 - - Emissão de CO2 [g/km] 160,81 - -

Após a aplicação do EcoGest aos percursos efectuados e verificação dos valores simulados,

apresentam-se na próxima secção algumas situações hipotéticas em que se analisam

diferentes configurações da viatura e da sua ocupação.

5.5 Cenários alternativos

De forma a verificar se seria possível melhorar o desempenho energético e ambiental da

viatura de teste, foi utilizado o EcoGest para simular o consumo de combustível e emissão de

gases de escape para as seguintes situações alternativas:

-Relações de transmissão mais “longas”:

-Variação do número de ocupantes;

-Variação do peso da viatura;

-Sistema de arranque automático stop&start.

Foi utilizado o software comercial ADVISOR [14] (§ 3.2) para analisar a situação alternativa:

-Hibridização da viatura.

68

5.5.1 Relações de Transmissão mais “Longas”

É usual no contexto automóvel caracterizar a transmissão como tendo relações “longas” ou

“curtas”. O que se pretende caracterizar é a relação entre a velocidade de rotação do motor e a

velocidade da viatura, sendo que uma transmissão de relações “longas” permite tipicamente

que a viatura mantenha a mesma velocidade a uma velocidade de rotação do motor mais

baixa, por comparação com uma viatura equipada com uma transmissão de relações mais

“curtas”. Devido a esta característica, é usual que uma viatura com relações de transmissão

mais “longas” apresente consumos de combustível inferiores. De forma a confirmar esta

afirmação, foi simulado o desempenho ao nível do consumo de combustível e da emissão de

gases de escape no EcoGest para o NEDC, Percurso 1 e 2, para a viatura de teste equipada

com a transmissão original e com uma transmissão fictícia, tal como é apresentado em

seguida.

Tabela 5-10 - Comparação das relações de transmissão originais e mais “longas”.

Transmissão Original

Transmissão “Longa”

Relação 1ª velocidade 4,002 4,002 Relação 2ª velocidade 2,108 2,058 Relação 3ª velocidade 1,38 1,315 Relação 4ª velocidade 1 0,930 Relação 5ª velocidade 0,78 0,708 Relação 6ª velocidade 0,645 0,572 Relação Marcha-atrás 3,187 3,187 Relação Final do Diferencial 3,07 3,07

As relações da transmissão fictícia foram calculadas com o objectivo de obter uma relação

entre a 1ª e a 6ª velocidade com o valor de 7 (6,20 na caixa de velocidades original), sendo que

as restantes relações foram calculadas de forma a manter a proporcionalidade em relação à

caixa de velocidades original. Poderia ter sido simplesmente alterada a relação final do

diferencial, mas optou-se por não o fazer de forma a manter as características de arranque da

viatura, pelo que se manteve também a relação da 1ª velocidade.

Para o NEDC, os resultados obtidos foram os seguintes:

69

Tabela 5-11 - Resultados da simulação no EcoGest do NEDC variando as relações de transmissão,

valores à saía do escape, com sistema de arranque automático.

Transmissão Original

Transmissão “Longa”

Variação

Consumo de Combustível [g/km] 42,846 42,354 -1,1% Emissão de HC [g/km] 0,039 0,035 -10,3% Emissão de CO [g/km] 0,385 0,335 -13,0% Emissão de NOX [g/km] 0,181 0,177 -2,2% Emissão de PM [g/km] 0,0010 0,0010 0,0% Emissão de CO2 [g/km] 134,16 132,87 -1,0%

Para os ciclos de velocidade recolhidos nos percursos de teste apresentados anteriormente, foi

feita a mesma comparação, com os seguintes resultados:

Tabela 5-12 - Resultados da simulação no EcoGest da Viagem 1 (Lisboa - Cascais) variando as

relações de transmissão, valores à saía do escape.

Viagem 1: Lisboa - Cascais Transmissão Original

Transmissão “Longa”

Variação

Consumo de Combustível [g/km] 51,94 50,89 -2,0% Emissão de HC [g/km] 0,033 0,028 -15,2% Emissão de CO [g/km] 0,322 0,274 -14,9% Emissão de NOX [g/km] 0,253 0,247 -2,4% Emissão de PM [g/km] 0,0014 0,0014 0,0%

Emissão de CO2 [g/km] 163,54 160,48 -1,9%

Tabela 5-13 - Resultados da simulação no EcoGest da Viagem 2 (Cascais - Lisboa) variando as

relações de transmissão, valores à saía do escape.

Viagem 2: Cascais - Lisboa Transmissão Original

Transmissão “Longa”

Variação

Consumo de Combustível [g/km] 54,02 53,08 -1,7% Emissão de HC [g/km] 0,030 0,026 -13,3% Emissão de CO [g/km] 0,299 0,251 -16,1% Emissão de NOX [g/km] 0,281 0,276 -1,8% Emissão de PM [g/km] 0,0015 0,0015 0,0% Emissão de CO2 [g/km] 170,34 167,63 -1,6%

70

É de notar que os valores simulados apresentados para a transmissão original não são iguais

aos apresentados em § 5.3.2.3 e § 5.3.2.4. Esta diferença deve-se ao facto de anteriormente

se ter usado a informação relativa à utilização da caixa de velocidades que foi documentada

através do laboratório experimental no decorrer dos percursos de teste, enquanto que para a

comparação que se aborda neste capítulo, foi utilizada a função do EcoGest que simula o

comportamento de uma caixa de velocidades automática, com passagens de caixa às

velocidades apresentadas na Figura 5-25.

Se as variações no consumo de combustível, emissão de NOx, PM e CO2 não são

significativas, apontando para o facto de a forma como é utilizada a caixa de velocidades

(velocidade a que é engrenada a mudança seguinte), que se mantém nos três exemplos, ser

mais relevante do que as próprias relações de transmissão, o mesmo não se verifica nas

emissões de HC e CO. Esta redução mais significativa deve-se ao facto de, sendo as relações

de transmissão mais “longas”, para uma determinada velocidade da viatura, a velocidade de

rotação do motor é inferior. Sendo a velocidade de rotação do motor inferior, para se obter a

mesma potência, terá que se aumentar a carga. Estes dois factores conjugados (menor rotação

do motor, carga mais elevada) favorecem a diminuição das emissões de HC e CO nas

situações de carga mais reduzidas (até aproximadamente 45% - Figuras 5-18 e 5-19), que

foram as mais frequentes nos exemplos considerados.

Naturalmente, uma alteração nas relações de transmissão da viatura tem impacto no

desempenho dinâmico da mesma. Para ter uma estimativa desse impacto, foi utilizado o

simulador ADVISOR, que permite obter uma estimativa do tempo necessário para a viatura

chegar dos 0 aos 100 km/h. Assim, a simulação para a viatura na sua configuração original

aponta para um valor de 9,2 s (valor anunciado pelo fabricante: 9,0 s). Para a caixa fictícia, o

valor simulado é de 9,3 s, o que representa uma variação de +1,1%.

5.5.2 Variação do Número de Ocupantes

Outra situação hipotética considerada foi comparar os dados simulados para as Viagens 1 e 2,

em que a viatura levava uma carga de 140 kg (dois ocupantes + equipamento) (§ 5.3.2.3 e §

5.3.2.4), com a situação hipotética de uma ocupação com cinco passageiros, o que equivaleria

a 350 kg. Os resultados obtidos foram os seguintes:

71

Tabela 5-14 - Resultados da simulação no EcoGest da Viagem 1 (Lisboa - Cascais) variando a

ocupação da viatura, valores à saía do escape.

Viagem 1: Lisboa - Cascais 2 ocupantes + equipamento (total:140 kg)

5 ocupantes (total: 350 kg)

Variação

Consumo de Combustível [g/km] 50,94 52,37 2,8% Emissão de HC [g/km] 0,032 0,032 0,0% Emissão de CO [g/km] 0,312 0,311 -0,3% Emissão de NOX [g/km] 0,252 0,263 4,4% Emissão de PM [g/km] 0,0014 0,0014 0,0% Emissão de CO2 [g/km] 160,41 164,98 2,8%

Tabela 5-15 - Resultados da simulação no EcoGest da Viagem 2 (Cascais - Lisboa) variando a

ocupação da viatura, valores à saía do escape.

Viagem 2: Cascais - Lisboa 2 ocupantes + equipamento (total:140 kg)

5 ocupantes (total: 350 kg)

Variação

Consumo de Combustível [g/km] 50,87 52,85 3,9% Emissão de HC [g/km] 0,022 0,022 0,0% Emissão de CO [g/km] 0,219 0,218 -0,5% Emissão de NOX [g/km] 0,263 0,278 5,7% Emissão de PM [g/km] 0,0014 0,0015 7,1% Emissão de CO2 [g/km] 160,81 167,11 3,9%

Tal como seria de esperar, o consumo de combustível aumenta ligeiramente, o que se deve à

necessidade de, essencialmente nas situações de aceleração, ser necessária maior potência

para a mesma aceleração, ou seja, e uma vez que em todos os momentos a velocidade de

rotação do motor é igual para ambas as situações, o motor estar sujeito a uma carga superior.

Na Figura 5-17 verifica-se que, para uma mesma velocidade de rotação do motor, uma carga

superior implica um consumo de combustível maior. O mesmo raciocínio se aplica à emissão

de NOX e PM, que apresentam as variações mais relevantes.

5.5.3 Variação do Peso da Viatura

Foi também comparado o impacto no desempenho energético e ambiental da viatura nas

Viagens 1 e 2 com a sua tara real (1426,2 kg) e com uma tara inferior em 40% (855,7 kg), que

poderia ser atingida recorrendo à utilização extensiva de materiais compósitos. Foram obtidos

os seguintes resultados:

72

Tabela 5-16 - Resultados da simulação no EcoGest na Viagem 1 (Lisboa - Cascais) variando a tara

da viatura, valores à saía do escape.

Viagem 1: Lisboa - Cascais Tara original (1426,2 kg)

60% da tara original (855,7 kg)

Variação

Consumo de Combustível [g/km] 50,94 42,16 -17,2% Emissão de HC [g/km] 0,032 0,034 6,3% Emissão de CO [g/km] 0,312 0,321 2,9% Emissão de NOX [g/km] 0,252 0,185 -26,6% Emissão de PM [g/km] 0,0014 0,0010 -28,6% Emissão de CO2 [g/km] 160,41 132,32 -17,5%

Tabela 5-17 - Resultados da simulação no EcoGest na Viagem 2 (Cascais - Lisboa) variando a tara

da viatura, valores à saía do escape.

Viagem 2: Cascais - Lisboa Tara original (1426,2 kg)

60% da tara original (855,7 kg)

Variação

Consumo de Combustível [g/km] 50,87 41,10 -19,2% Emissão de HC [g/km] 0,022 0,023 4,5% Emissão de CO [g/km] 0,219 0,229 4,6% Emissão de NOX [g/km] 0,263 0,187 -28,9% Emissão de PM [g/km] 0,0014 0,0010 -28,6% Emissão de CO2 [g/km] 160,81 129,58 -19,4%

Tal como seria de esperar, o consumo de combustível e a emissão de NOX, PM e CO2

apresentam reduções consideráveis. No entanto, a emissão de HC e CO aumentam para o

caso hipotético de redução de 40% da tara da viatura. Este aumento é justificado pela mesma

razão apresentada no caso da transmissão de relações mais “longas”, ou seja, para uma

mesma aceleração da viatura, no caso em que a viatura é mais pesada é necessária uma

maior potência, que se traduz numa carga mais elevada (dado que a velocidade de rotação é

igual em todos os momentos), situação que, como vimos anteriormente, favorece a redução

das emissões de HC e CO na gama de utilização do motor mais utilizada.

Da mesma forma que o feito para a situação de alteração das relações de transmissão, foi

utilizado o ADVISOR para estimar a variação no tempo que leva a viatura a chegar dos 0 aos

100 km/h. Neste caso, o valor simulado foi de 7,0 s, o que representa uma variação de -13,0 %

em relação aos 9,2 s da viatura original.

73

5.5.4 Sistema de Arranque Automático Stop&Start

Em § 5.3.2.3 é possível verificar o impacto que o sistema de arranque automático stop&start

(sistema instalado na viatura que desliga o motor sempre que a viatura está imobilizada e em

ponto-morto, voltando a ligá-lo quando o condutor carrega no pedal da embraiagem para

engrenar a 1ª velocidade para pôr a viatura de novo em marcha) tem nos valores simulados

para o NEDC. Uma vez que este sistema não foi usado nas viagens de teste, foi simulado o

seu efeito para estes dois casos. Para tal foi usado como base os valores simulados para estes

dois percursos apresentados nas Tabelas 5-8 e 5-9. De forma a simular o efeito do sistema de

arranque automático, retiraram-se aos valores totais simulados a parcela obtida enquanto a

viatura está ao ralenti. Tal é possível porque o EcoGest fornece dados relativos a esta parcela

separadamente. Assim, tem-se:

Tabela 5-18 - Resultados da simulação no EcoGest na Viagem 1 (Lisboa - Cascais) e estimativa do

impacto do sistema de arranque automático, valores à saía do escape.

Viagem 1: Lisboa - Cascais Sem arranque automático

Com arranque automático

Variação

Consumo de Combustível [g/km] 50,94 48,55 -4,7% Emissão de HC [g/km] 0,032 0,030 -5,9% Emissão de CO [g/km] 0,312 0,295 -5,4% Emissão de NOX [g/km] 0,252 0,244 -3,3% Emissão de PM [g/km] 0,0014 0,0013 -3,7% Emissão de CO2 [g/km] 160,41 152,87 -4,7%

Tabela 5-19 - Resultados da simulação no EcoGest na Viagem 2 (Cascais - Lisboa) e estimativa do

impacto do sistema de arranque automático, valores à saía do escape.

Viagem 2: Cascais - Lisboa Sem arranque automático

Com arranque automático

Variação

Consumo de Combustível [g/km] 50,87 49,04 -3,6% Emissão de HC [g/km] 0,022 0,021 -6,5% Emissão de CO [g/km] 0,219 0,207 -5,7% Emissão de NOX [g/km] 0,263 0,257 -2,4% Emissão de PM [g/km] 0,0014 0,0014 -2,8% Emissão de CO2 [g/km] 160,81 155,02 -3,6%

74

5.5.5 Hibridização da Viatura

O último cenário alternativo considerado foi a de hibridização da viatura através da adição de

acumuladores eléctricos e de um motor eléctrico, com possibilidade de locomoção exclusiva

usando apenas o motor eléctrico (configuração denominada por full hybrid).

Para simular o consumo de combustível no NEDC foi utilizado o simulador ADVISOR, já que o

EcoGest não contempla actualmente a possibilidade de fazer simulações para veículos

híbridos. Foram comparadas duas configurações da viatura de teste: a configuração original e

a configuração híbrida, com um motor Diesel de 55 kW de potência máxima em conjunto com

um motor eléctrico de 50 kW e baterias de lítio de 6,5 kWh. Os dados relativos à componente

eléctrica, pneumáticos e transmissão utilizados são os do Toyota Prius. Em termos de massa, a

viatura na configuração híbrida apresenta um acréscimo de 1,8%.

Figura 5-42 - Janela de entrada de dados do ADVISOR, com a hibridização do BMW 118d LCI.

No que se refere ao desempenho, o ADVISOR estima uma acelereção dos 0 aos 100 km/h

cumprida em 9,9 s (acréscimo de 7,6% em relação à configuração original) e em relação ao

consumo de combustível no NEDC, o valor simulado para a configuração híbrida é de 5,7 l/100

km, o que apresenta uma redução de 17,4 %, uma vez que o valor simulado no ADVISOR para

a configuração original da viatura foi de 6,9 l/100 km.

75

Figura 5-43 - Resultados do ADVISOR para o NEDC, com a hibridização do BMW 118d LCI.

76

6 Conclusões e Indicações para Trabalho Futuro

O presente estudo visa a aplicação do EcoGest ao caso específico de uma viatura ligeira

equipada com uma motorização Diesel, de forma a que se possa assim obter uma simulação

do seu desempenho energético e ambiental em determinado percurso e quando conduzido de

determinada forma. De forma a validar os valores de consumo de combustível simulados, estes

foram comparados com os dados medidos através da instalação de um laboratório

experimental numa viatura de teste e com os valores divulgados na homologação da viatura.

Assim, após a selecção de uma viatura de teste e do laboratório experimental apropriado à

recolha dos dados necessários ter sido instalado, procedeu-se à recolha de dados

topográficos, dinâmicos e do consumo de combustível nos percursos previamente escolhidos.

Estes dados foram inseridos no EcoGest e comparados com os valores simulados. Para os

percursos seleccionados, foram obtidas diferenças entre os valores médios do consumo de

combustível simulados e medidos de -2,5% (5,92 l/100 km vs. 6,07 l/100 km) e 0,0% (5,92 l/100

km vs. 5,92 l/100 km). Em relação aos dados de homologação da viatura, o consumo médio

anunciado para o percurso do NEDC (New European Driving Cycle) é de 4,7 l/100 km, tendo

sido obtido um valor simulado de 4,98 l/100 km, ou seja, +5,9%. Da comparação consumo de

combustível medido nas viagens reais com o valor homologado para o NEDC, verificou-se uma

variação de +29,1% e 26,0%. Se se compararem as emissões simuladas para os percursos

reais com as homologadas para o NEDC, verifica-se uma variação máxima de -43,6% para os

HC, de 43,1% para o CO, de +45,3% para o NOX e de +30,7% para o CO2, todos eles na

Viagem 2 (Cascais – Lisboa).

Da aplicação do EcoGest às situações descritas obteve-se também uma estimativa das

emissões de gases de escape.

Outro dos objectivos do estudo foi, após validação dos valores simulados, utilizar o EcoGest

para simular diferentes configurações da viatura e da sua ocupação de forma a estimar o seu

impacto no desempenho energético e ambiental da viatura.

Assim, foi simulado o caso em que a viatura estava equipada com uma transmissão de

relações mais “longas”, que resultou numa variação no consumo médio de combustível de

entre -2,0% e -1,2% nos percursos de teste e no NEDC. Em relação às emissões de gases de

escape, as variações mais relevantes são do CO e do HC, com valores entre -16,1% e -13,0%

e -15,2% e -10,3%, respectivamente.

Foi também simulada a situação de uma variação da ocupação da viatura nos percursos de

teste entre os 2 ocupantes e carga (total de 140 kg) da situação simulada inicialmente para

77

uma ocupação de 5 ocupantes (total de 350 kg), com uma variação no consumo de

combustível máxima de +3,9%. Neste caso, os gases de escape com variações mais elevadas

foram o NOX com +5,7% e as partículas, com +7,1%. Neste caso, o consumo de combustível

por passageiro passa de 25,47 g/km para 10,47 g/km (-58,9%) na Viagem 1 e de 25,44 g/km

para 10,57 g/km (-58,4%) na Viagem 2.

Outra situação simulada foi a redução do peso da viatura em 40%, que resultou numa variação

do consumo de combustível médio máxima de -19,2% face aos resultados simulados para os

percursos de teste. Também neste caso se verificou que os gases de escape com maior

variação foram o NOX e as partículas, com -28,9% e -28,6% respectivamente de variação

máxima.

Foi também simulado o efeito do sistema de arranque automático stop&start nos percursos de

teste. Neste caso, o consumo de combustível variou em -4,7% e -3,6% em ambos os

percursos, tendo-se verificado variações nas emissões dos diversos gases de escape de entre

-2,4% e -6,5%.

Finalmente, foi simulada a hibridização da viatura de teste usando o simulador ADVISOR. Foi

simulado o NEDC, com uma redução do consumo de combustível médio de 17,4% face a

configuração original da viatura, para prestações equiparáveis. Em [24], o custo estimado

adicional para a hibridização total é de entre USD $1900 e USD $1700. Se se tomar o valor de

17 929 km/ano[25] percorridos em média pelos utilizadores de viaturas ligeiras Diesel em

Portugal em 2007, a inflacção de 3,1% de 2006[26], a taxa de câmbio de 1,4049 €/USD (a

21.09.2007)[27] e o preço do gasóleo à data de 23.09.2007 de 1,11 €/l, o ponto de “break-even”

entre o investimento adicional inicial e a poupança de combustível é atingido no final de

aproximadamente entre 6,1 e 7,0 anos.

Como trabalho futuro, e em relação à emissão de gases de escape, seria uma mais valia

conseguir integrar um analisador de gases de escape com o laboratório FrotLab, de forma a

registar não só o consumo de combustível, tal como apresentado na tese, mas também as

emissões de poluentes. A medição de várias classes de carros Diesel permitiria construir uma

base de dados de emissões que possibilitariam a construção/validação de modelos de

tratamento de gases de escape para o sistema de tratamento típico de veículos equipados com

motor Diesel (catalisadores de oxidação, catalisadores de redução e filtros de partículas). Para

além disso, a utilização do analisador também antes do sistema de tratamento de gases de

escape permitiria aferir os mapas de motor gerados pelo modelo DEMB.

78

7 Referências Bibliográficas

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disponível em www.mercedes-benz.com (último acesso: 03.03.2007).

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and Society, disponível em http://www.autolife.umd.umich.edu/ (último acesso:

11.03.2007).

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Doutoramento em Engenharia Mecânica, Instituto Superior Técnico, 2005.

[9] Automotive Handbook (6th Edition), Robert Bosch GmbH, 2004.

[10] http://ec.europa.eu/environment/climat/kyoto.htm (último acesso: 21.08.2007).

[11] www.acea.be (último acesso: 15.09.2007).

[12] Comunicação da Comissão ao Conselho e ao Parlamento Europeu – Implementação

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[13] Comunicado de Imprensa IP/07/155 da Comissão Europeia.

[14] Aaron Brooker, Kristina Haraldsson, Terry Hendricks, Valerie Johnson, Kenneth Kelly,

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Mecânica. 2-4 Junho, 2005.

[16] Bravo, J. T., Silva, C.M., Farias, T.L. Load Vehicle Simulation model for energy and

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[21] Green Seal’s Choose Green Report – Low Resistance Tires. Março 2003.

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[25] Estudo Condutores – Comportamento do Consumidor no Após-Venda. GiPA Portugal.

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80

[26] www.bportugal.pt (último acesso: 23.09.2007)