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A D IVERSIDADE DA G EOGRAFIA B RASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO 6537 AVALIAÇÃO CONTINGENTE EM ÁREAS VERDES URBANAS: O VALOR DE USO NO PARQUE DO INGÁ, MARINGÁ-PR FRANCISCO CARLOS BOCATO JUNIOR 1 Resumo O objetivo foi estimar o valor de uso do Parque do Ingá considerando suas funções naturais e socioambientais. Para tanto, foi aplicado o Método de Avaliação Contingente (MAC) fundamentado em um survey composto de variáveis atitudinais independentes. A base do método é a valoração de bens públicos, que por não possuírem preço nos mercados convencionais, são estimados por intermédio de cenários hipotéticos. Os dados foram tratados estatisticamente através do software Biostat 5.1 e validados em um intervalo de confiança de 95%. Concluiu-se que o valor de uso suporta os gastos da Prefeitura Municipal anualmente na manutenção do Parque. Desta forma, disponibilizam-se parâmetros econométricos aos gestores públicos, relevantes à formulação de políticas públicas de proteção e uso da área. Palavras-chave: Sustentabilidade, Valoração ambiental, Recursos naturais. Abstract The objective was to estimate the use value of the Ingá Park considering its natural and environmental functions. Therefore, it applied the Contingent Valuation Method (CVM) based on a composite survey of independent attitudinal variables. The basis of the method is the valuation of public actives, which do not have price in conventional markets, so are estimated through hypothetical scenarios. The data were treated statistically through the Biostat 5.1 software and validated at the 95% confidence interval. It was concluded that the use of value supports the expenses of the City Hall annually in maintaining the park. In this way, they offer up econometric parameters to managers, relevant to the formulation of public policies for the protection and use of the area. Keywords: Sustainability, Environmental Valuation, Natural Resources. 1- Introdução O crescimento dos centros urbanos começou a incitar na sociedade a necessidade de interação com a natureza. O desejo de escape para regiões inóspitas se tornou uma demanda presente na vida do homem moderno. Desse 1 Acadêmico do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estadual de Maringá. Professor Assistente da Universidade Estadual do Paraná campus de Campo Mourão. E-mail de contato: [email protected]

AVALIAÇÃO CONTINGENTE EM ÁREAS VERDES URBANAS: … · Considerando a relevância em disponibilizar áreas verdes urbanas para os grupos humanos frequentarem, o MAC pode ser utilizado

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A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO

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AVALIAÇÃO CONTINGENTE EM ÁREAS VERDES URBANAS: O VALOR DE USO NO PARQUE DO INGÁ, MARINGÁ-PR

FRANCISCO CARLOS BOCATO JUNIOR1

Resumo

O objetivo foi estimar o valor de uso do Parque do Ingá considerando suas funções naturais e socioambientais. Para tanto, foi aplicado o Método de Avaliação Contingente (MAC) fundamentado em um survey composto de variáveis atitudinais independentes. A base do método é a valoração de bens públicos, que por não possuírem preço nos mercados convencionais, são estimados por intermédio de cenários hipotéticos. Os dados foram tratados estatisticamente através do software Biostat 5.1 e validados em um intervalo de confiança de 95%. Concluiu-se que o valor de uso suporta os gastos da Prefeitura Municipal anualmente na manutenção do Parque. Desta forma, disponibilizam-se parâmetros econométricos aos gestores públicos, relevantes à formulação de políticas públicas de proteção e uso da área. Palavras-chave: Sustentabilidade, Valoração ambiental, Recursos naturais. Abstract

The objective was to estimate the use value of the Ingá Park considering its natural and environmental functions. Therefore, it applied the Contingent Valuation Method (CVM) based on a composite survey of independent attitudinal variables. The basis of the method is the valuation of public actives, which do not have price in conventional markets, so are estimated through hypothetical scenarios. The data were treated statistically through the Biostat 5.1 software and validated at the 95% confidence interval. It was concluded that the use of value supports the expenses of the City Hall annually in maintaining the park. In this way, they offer up econometric parameters to managers, relevant to the formulation of public policies for the protection and use of the area.

Keywords: Sustainability, Environmental Valuation, Natural Resources.

1- Introdução

O crescimento dos centros urbanos começou a incitar na sociedade a

necessidade de interação com a natureza. O desejo de escape para regiões

inóspitas se tornou uma demanda presente na vida do homem moderno. Desse

1 Acadêmico do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estadual de Maringá. Professor

Assistente da Universidade Estadual do Paraná campus de Campo Mourão. E-mail de contato: [email protected]

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momento em diante a fuga do ambiente fabril levou os moradores da cidade a

buscarem refúgio no campo. Todos esses fatores contribuíram para a criação e

manutenção das áreas verdes urbanas.

Considerando a importância deste tema, o presente trabalho tem como

objetivo estimar o valor de uso de uma área verde urbana no estado do Paraná,

tendo como objeto de estudo o Parque do Ingá localizado na cidade de Maringá –

PR. Assim, será utilizado o Método de Avaliação Contingente (MAC). Tal

metodologia já foi amplamente utilizada em diversos países e representa um dos

principais métodos de valoração econômica de bens ambientais. O trabalho também

visa refletir sobre as motivações que levaram à conservação de áreas verdes, bem

como a criação de parques urbanos. Para tanto, será apresentada uma revisão da

literatura inerente a este ponto.

A relevância deste estudo está pautada no fato de que, ao estimar o valor de

uso para o Parque do Ingá cria-se uma referência para canalizar investimentos de

manutenção e conservação da área. Também oportuniza o direcionamento de

recursos por meio de políticas públicas destinadas à sustentabilidade ambiental da

cidade. Acredita-se que tais ações possam trazer benefícios para o município nos

âmbitos econômico, social e político.

2- Os Parques Urbanos

Os parques urbanos surgiram por impulso das cidades industriais no século

XIX. Inicialmente a área tinha como objetivo a preservação e a garantia dos atributos

naturais (LIMNIOS e FURLAN, 2013). Posteriormente verificou-se a possibilidade de

conciliar a perenidade desses recursos com o lazer e recreação das gerações da

época e das que ainda estavam por vir. Após este marco, além dos países

europeus, outros como Canadá, Nova Zelândia, Argentina, Chile e Brasil também

criaram áreas verdes urbanas. (TAKAHASHI, 2004).

Aliás, no Brasil, passou-se da tradicional denominação de “áreas silvestres”

para a adoção de termos como, áreas protegidas ou, simplesmente, parques,

seguindo as tendências internacionais. Ainda no contexto nacional, o surgimento das

primeiras áreas verdes urbanas teve outra conotação inicial. No século XIX, as

cidades brasileiras não tinham expressão industrial, e o surgimento dos parques

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urbanos esteve ligado à necessidade das lideranças nacionais da época em fazer

frente aos países europeus (FURLAN, 2004).

O marco do surgimento de áreas verdes no Brasil é datado ao final século

XIX. Segundo Takahashi (1994), o Engenheiro André Rebouças militou pela criação

dos Parques Nacionais da Ilha do Bananal e de Sete Quedas. Já no inicio do século

XX, com a ilustre visita de Alberto Santos Dumont, o qual ficou maravilhado com

exuberância das Cataratas, solicitando a desapropriação das terras ao Governo do

Estado do Paraná, é que foi possível a criação do Parque Nacional do Iguaçu

(ICMBIO, 2007).

Contudo, para que os parques cumpram suas funções na plenitude,

necessitam estar integrados com os valores socioeconômicos e culturais das

comunidades contempladas por essas áreas. O fato de se manter uma área verde

urbana isolada não garante a conservação da mesma, nem a preservação de seus

recursos bióticos e abióticos. Neste sentido, se faz necessário o envolvimento da

autoridade competente em sua gestão (no caso de áreas Federais, o Instituto Chico

Mendes da Biodiversidade e IBAMA, bem como quando se tratam de áreas

Estaduais ou Municipais, às suas respectivas secretarias de meio ambiente), com as

pessoas que vivem em seu interior ou entorno (ICMBIO, 2007).

Takahashi (1987), verificou que a demanda por áreas naturais vem crescendo

consideravelmente entre as populações urbanas, as quais estão cada vez mais

carentes de espaços que ofereçam interações com a fauna e flora. Asseveram ainda

que “o transito caótico dos grandes centros, juntamente com o estresse causado

pela dinâmica das relações humanas, as quais estão cada vez mais virtuais, abrem

um precedente onde as pessoas ficam carentes de valores que possuíam em suas

infâncias” (pg. 52).

Contata-se então que os parques urbanos proporcionam muitas funções, as

quais direta ou indiretamente, contribuem para a promoção do bem-estar humano.

Assim sendo, estes ativos naturais possuem valor de uso direto devido ao seu

potencial recreativo, turístico e valor de uso indireto, por abrigar diversos

ecossistemas nos seus limites e entorno. Para Mota (2001), as funções ecológicas

de um ativo ambiental estão diretamente ligadas ao valor de uso indireto, tendo em

vista que determinados recursos armazenam muitas espécies que contribuem para a

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manutenção da biodiversidade. Por outro lado, (Santos et al;. 2000) afirmam que as

ações do homem nas características dos ecossistemas desenvolvem modificações

no desempenho das funções ambientais ou nos riscos a elas associados,

desencadeando efeitos socioculturais e econômicos específicos, podendo resultar

em danos irreversíveis.

Diante desses desafios, surge a ideia de conciliar o desenvolvimento

socioeconômico com a conservação ambiental. Porém, é necessário cautela ao

planejar o uso público dessas áreas, visto que alguns danos podem tornar-se

irreversíveis.

3- Método de Avaliação Contingente (MAC)

O primeiro relato de utilização desta metodologia é datado em 1947 e foi

escrito pelo então renomado economista Ciriacy–Wantrup. A pesquisa foi

considerada uma inovação naquele período, pois vivia-se a II Guerra Mundial e a II

Fase da Revolução Industrial, e a cautela com os recursos naturais não existia. O

autor propôs, a partir de surveys, quantificar os benefícios gerados pela prevenção

do processo erosivo do solo. Assim a técnica da DAP foi utilizada, resultando na

publicação de um influente livro que abordava o assunto em 1952 (HANEMANN,

2000; MITCHELL e CARSON 1993).

Desde então, surgiram diversas investigações científicas utilizando o MAC,

objetivando estimar os benefícios advindos de uma extensa variedade de bens

públicos, contribuindo para aceitabilidade do método. Sua vantagem em relação aos

demais métodos de valoração é a possibilidade de ser aplicado em um espectro

mais amplo de bens ambientais. Por outro lado, a limitação está pautada na

impossibilidade em captar valores ambientais que os indivíduos autóctones não

entendem, ou mesmo desconhecem. Porém, se o entendimento das pessoas for

amplo, ao ponto de compreenderem os benefícios ambientais gerados pelas áreas

verdes urbanas, esta metodologia pode ser considerada ideal (SEROA DA MOTTA,

1997; BOCATO Jr, 2009).

Considerando a relevância em disponibilizar áreas verdes urbanas para os

grupos humanos frequentarem, o MAC pode ser utilizado como uma ferramenta para

a estimativa do valor de uso real dessas áreas. Tendo em vista que futuramente, a

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escassez dos recursos naturais pode se tornar realidade, como consequência dos

padrões produtivos de consumo atuais. Assim, a proposta da avaliação contingente

é aferir montantes econômicos, os quais possam servir de base para formulação de

políticas públicas voltadas à sustentabilidade dos recursos naturais destinados ao

uso público. (SEROA DA MOTTA, 1997).

Em linhas gerais, o MAC consiste na utilização de pesquisas amostrais para a obtenção do valor de bens públicos, ou de bens que não apresentem sinais de mercado que possibilitem a aplicação dos métodos convencionais, baseados na análise de demanda. Como não há um mercado, cria-se mercado hipotético e um processo de entrevista pessoal e chama-se o indivíduo a declarar, ou indicar, sua disposição a pagar (DAP) pelo bem inserido nesse mercado. Desse modo, o valor obtido é contingente ao mercado hipotético apresentado ao indivíduo, daí a denominação do método (BELLUZZO Jr, 1999, p. 2).

Baral et al., (2008) asseveram que é possível se obter resultados com um

grande nível de precisão, justamente porque o método reflete o valor de existência

do bem. Em primeiro lugar, deve haver uma descrição detalhada da área que está

sendo valorada. Em seguida é construído um cenário hipotético, no qual os usuários

revelam suas preferências através de suas DAP’s. Esses fatores formam as

características de uma metodologia que tem como finalidade apontar resultados com

maior transparecia e precisão. Além disso, a valoração ambiental justifica-se em

função de existir uma crise na economia, dessa forma é prudente que sejam

designados um valor de mercado aos ativos naturais, a fim de que seus recursos

sejam utilizados de forma racional.

Neste aspecto, o MAC vem ganhando força na atualidade. Questões

ambientais que visam à conservação através do manejo dos recursos naturais, se

tornaram palco de esforços para a diminuição da extração de matéria-prima natural

em grande escala. Considerando o fato de que, os recursos financeiros

possivelmente captados a partir dos resultados do MAC teriam sua destinação

exclusiva ao ativo natural em estudo. Outro aspecto a ser refletido seria que, com a

aplicação deste método, os recursos públicos que inicialmente seriam empregados

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na área protegida, poderiam ser revertidos a outras áreas importantes tais como:

educação, saúde e segurança pública (MOTA, 2001; SEROA DA MOTTA, 1997).

4- Materiais e Método

Nesta pesquisa entrevistaram-se 110 visitantes do Parque do Ingá e avaliou-

se sua disposição a pagar para que o referido parque mantivesse suas funções

sociais e ambientais em duas dimensões: espontânea e induzida2. A disposição a

pagar (DAP) pela manutenção das funções do Parque se caracteriza a partir da

preferência pelo ativo e do grau de conscientização dos usuários em relação à

preservação e conservação dos recursos naturais ali existentes. Para tanto, foi

analisada a sensibilidade ambiental dos visitantes, turistas e moradores da área em

relação às questões e problemas ambientais verificados no parque (BOCATO Jr,

2009).

4.1- Área de Estudo

O recorte espacial deste estudo tem como objeto o Parque do Ingá localiza-

se no bairro zona 2 do município de Maringá – PR, próximo a região central da

cidade (Figura 1). A superfície total é de 474.300 m² (47,43 ha.) e possui

atualmente, lago artificial com navegação, parquinho infantil, lanchonete, além de

outras infraestruturas de lazer e recreação. A pista de caminhada e outros

equipamentos comunitários como a Academia da Terceira Idade (ATI) implantada no

entorno do parque, oportunizam atividades físicas e recreativas à população,

possibilitando assim, o relacionamento humano com o meio natural (MARINGÁ,

2007).

2 Após um ano o estado de conservação e manutenção da APA será superior ao atual. É indicada por t + 1.

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Figura 1: Mapa de Localização do Parque do Ingá, Maringá – Paraná Fonte: Adaptado de ITCG 2014

No principio, a área era tida como uma reserva florestal, preservada pela

companhia colonizadora (Companhia Melhoramentos Norte do Paraná - CMNP)

desde 1943. Já em 1970 a área foi aberta ao público, na gestão do prefeito Dr.

Adriano José Valente. E em 1990 foi declarada como Área de Preservação

Permanente (APP) pelo artigo 174 da Lei Orgânica do Município.

Foram realizados diversos estudos para caracterizar a visitação no Parque do

Ingá entre 1988 e 2005. Em 1988, foi estimada uma frequência média mensal de

51.156 visitantes. Já em 1989 houve um significativo aumento com uma média

mensal de 92.642 pessoas. Enquanto que em 1990, houve uma ligeira queda, sendo

que o montante de visitantes foi de aproximadamente 97.777 pessoas por mês

(Takahashi; Tormena, 1994). Já em 2005, constatou-se que o Parque do Ingá

recebeu aproximadamente 594.000 pessoas no ano, remetendo a uma média

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mensal de 49.500 visitantes. Também foram apontadas alterações sazonais nos

períodos de férias, sendo na sua maioria, jovens de faixa-etária dos 15 aos 25 anos.

Entretanto, a visitação também é significativa na faixa-etária dos 45 aos 65 anos

(MARINGÁ, 2007).

Considerando os dados supracitados, este ativo natural possui valor de uso

direto, devido ao seu potencial recreativo e turístico e também um valor de uso

indireto, por abrigar diversos ecossistemas nos seus limites e entorno. Assim, a

utilização do MAC na caracterização da demanda atual de visitação do Parque do

Ingá revelou informações importantes inerentes às preferências da população e

turistas, bem como às necessidades que o parque possui para tornar-se realmente

sustentável.

Para atingir os objetivos propostos foram aplicados 110 surveys (Formulário

contendo variáveis atitudinais e socioeconômicas) a visitantes e turistas. Utilizou-se

o MAC para estimar o valor de uso do Parque, abrangendo a Disposição a Pagar

espontânea dos Usuários (DAP1) e também a Disposição a Pagar Induzida (DAP2),

está última voltada aos entrevistados que negarem DAP1. Neste tipo de pesquisa é

possível obter alto índice de significância considerando um intervalo de 0,05%. No

caso, considerando a população de aproximadamente 350.000 habitantes de

Maringá, tem-se que a amostra delimitada seja suficiente para uma Análise

Multivariada p<0,0001 (BOCATO JR, 2009; IBGE, 2007).

5 – Resultados

Os dados apresentados a seguir foram tratados estatisticamente através do

software Biostat 5.1 e validados em um intervalo de confiança de 95%. Também foi

elaborado um modelo conceitual para representar o cálculo das disposições a pagar

(DAP’s) a partir da Análise de Regressão Multivariada (Equação 1) (AYRES et al;.

2005).

DAP= a0+01x1 +a2x2 +a3x3....+anxn + ei

A equação é composta do Erro (ei) que está associada com a parte

qualitativa da pesquisa, bem como incorpora as extensões não mensuradas, mas

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que acabam por influenciar na variável principal. O coeficiente a0 representa um

valor numérico simples que resulta da análise numérica de regressão linear múltipla,

composta também dos dados a1, a2 e a3 que representam os coeficientes

correspondentes às relativas variáveis independentes para a DAP. E por fim temos

x1, x2, x3....xn que representam as variáveis independentes e DAP que é a própria

disposição a pagar.

Dessa forma, somando a média dos coeficientes das variáveis independentes

tem-se que:

Variáveis independentes

Significado Coeficiente parcial (bi)

P (significância) (a<0,05)

Intercepto b0= P<0, (*)

X1 Nível de conhecimento em relação ao Parque

b1= 3,52 P= <0.0001 (*)

X2 Nível de importância

b2= 7,7 P= <0.0001 (*)

X3 Frequência média anual do usuário

b3= 1 P= <0.0001 (*)

X4 Frequência média mensal do usuário

b4= 0,69 P= 0.1758 (ns)

X5 Horas de permanência média em cada visitação

b5= 3,3 P= <0.0001 (*)

X6 Preocupação ambiental

b6= 1,88 P= <0.0001 (*)

X7 Nível de cuidado em relação ao ativo natural

b7= 9,69 P= 0.0800 (ns)

X8 Idade b8= 32,6 P= 0.6729 (ns)

X9 Renda b9= 2,58 P= <0.0001 (*)

Tabela 1: DAP1 - Resultados das ARM3 Fonte: Pesquisa de campo 2014

Nota-se que as variáveis representadas por X1, X2, X3, X6 e X9 foram as que

apresentaram significância estatística, ou seja, então diretamente relacionadas à

estimativa do valor de DAP. Enquanto que as variáveis representadas por X4, X7 e X8

3 Os itens com (*) são significativos, com (ns) não são significativos.

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não apresentaram significância dentro do intervalo de confiança proposto.

Entretanto, esses dados servirão de base em futuras análises qualitativas do mérito.

A partir da validação das variáveis foi questionada a disponibilidade a pagar

(DAP1) dos visitantes para que o Parque perenizasse suas funções socioambientais.

Foi esclarecido que este pagamento seria uma contribuição voluntária, não

representando uma taxa de visitação, podendo ser efetivado através da criação de

uma “Associação dos Amigos do Parque do Ingá”, a qual seria gerida pela própria

comunidade. Os resultados indicaram que, no caso da disposição a pagar (DAP)

espontânea, 30% dos 110 visitantes entrevistados (universo amostral) sinalizaram

com um valor médio de R$ 15,12/ano, correspondendo a um montante de R$

2.667.168,00/ano4.

Apesar disso, verifica-se ainda que 70% dos entrevistados se negaram a

contribuição voluntária, justificando sua resposta, na maioria dos casos, ser de

responsabilidade da Prefeitura Municipal a manutenção do Parque do Ingá. Neste

caso, com dados obtidos a partir de observação participante, sugeriu-se um cenário

hipotético de melhorias de equipamentos destinados ao lazer e recreação,

manutenção das infraestruturas básica e turística do parque, tais como: reforma dos

sanitários, ampliação de bebedouros de água, reestruturação da pista de caminhada

em acordo como a legislação ambiental, ampliação da sinalização turística e de

educação ambiental. Foi revelado então que dos 77 indivíduos que se negaram à

DAP espontânea, 37 visitantes mudaram de opinião e sinalizaram com um valor

médio de R$ 23,60/ano, representando um montante de R$ 5.245.430,40/ano.

Considerações Finais

Acredita-se que, com os resultados obtidos a partir deste estudo, emerge uma

nova perspectiva de conservação do Parque do Ingá. Área esta, que pode ser

considerada um dos principais atrativos turísticos da região noroeste do Paraná.

Haja vista, serem poucos os parques que mantém ativa suas funções sociais.

4 Valor calculado considerando o montante de 588.000 visitantes no ano de 2013.

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Em relação à manutenção anual do parque, ambas as DAP´s suportariam o

montante gasto pela Prefeitura Municipal. Deste modo, a determinação da estimativa

de um montante monetário de referência pode ser a base para a formulação de

novas políticas públicas de proteção e uso da área. Por fim, ao aferir o valor de uso

do Parque do Ingá, disponibilizam-se parâmetros econométricos aos gestores

públicos, oportunizando assim, a alocação ordenada de recursos financeiros em sua

gestão.

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