31
UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS DEPARTAMENTO DE QUÍMICA PRISCILA AZEVEDO LIBERATO AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NO ENSINO DE QUÍMICA: PRÁTICAS E CONCEPÇÕES SOB A PERSPECTIVA DOCENTE VIÇOSA – MINAS GERAIS 2015

AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NO ENSINO DE QUÍMICA

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NO ENSINO DE QUÍMICA

UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS

DEPARTAMENTO DE QUÍMICA

PRISCILA AZEVEDO LIBERATO

AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NO ENSINO DE QUÍMICA:

PRÁTICAS E CONCEPÇÕES SOB A PERSPECTIVA DOCENTE

VIÇOSA – MINAS GERAIS

2015

Page 2: AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NO ENSINO DE QUÍMICA

2

UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS

DEPARTAMENTO DE QUÍMICA

PRISCILA AZEVEDO LIBERATO

AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NO ENSINO DE QUÍMICA:

PRÁTICAS E CONCEPÇÕES SOB A PERSPECTIVA DOCENTE

Monografia apresentada ao Departamento de Química da Universidade Federal de Viçosa, como parte das exigências para a conclusão do Curso de Licenciatura em Química.

ORIENTADOR: Prof. Vinícius Catão de Assis Souza

VIÇOSA – MINAS GERAIS

2015

Page 3: AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NO ENSINO DE QUÍMICA

3

UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS

DEPARTAMENTO DE QUÍMICA

PRISCILA AZEVEDO LIBERATO

AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NO ENSINO DE QUÍMICA: PRÁTICAS E CONCEPÇÕES SOB A PERSPECTIVA DOCENTE

Monografia aprovada em 02 de Julho de 2015. ____________________________________ __________________________________

Profa. Astréa Filomena de Sousa Silva Profa. Regina Simplício Carvalho Departamento de Química – UFV Departamento de Química – UFV

Avaliadora Avaliadora

_________________________________ Prof. Vinícius Catão de Assis Souza

Departamento de Química – UFV Orientador e Coordenador da Disciplina

Page 4: AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NO ENSINO DE QUÍMICA

4

AGRADECIMENTOS

A Deus, fonte de todas as forças.

Aos meus pais, Gilmar e Valéria, pelas orações, incentivo, conselhos e paciência durante

essa caminhada.

Ao meu noivo, Fabrício, pelo amor, carinho e compreensão em todos os momentos.

Aos professores e professoras participantes desta pesquisa.

Ao professor Vinícius, pela orientação do trabalho e aprendizado acadêmico.

A todos aqueles que, de uma forma ou de outra, me ajudaram na elaboração da Monografia.

Page 5: AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NO ENSINO DE QUÍMICA

5

SUMÁRIO

1 Introdução ........................................................................................................................... 7

1.1 Justificativa ............................................................................................................... 7

1.2 Referenciais teóricos......................................................................................................7

1.3 Questão de Pesquisa ................................................................................................ 15

1.4 Objetivo geral..............................................................................................................15

1.5 Objetivos específicos...................................................................................................15

1.6 Metodologia: amostra e coleta de dados..................................................................... 16

2 Resultados e discussões ......................................................................................................16

3 Conclusões e implicações do trabalho para o ensino de Química........................................ 26

4 Referências Bibliográficas.................................................................................................... 28

Apêndices................................................................................................................................. 29

Anexo....................................................................................................................................... 31

Page 6: AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NO ENSINO DE QUÍMICA

6

RESUMO

LIBERATO, Priscila Azevedo. Avaliação da aprendizagem no Ensino de Química:

práticas e concepções sob a perspectiva docente. Monografia de conclusão do Curso de

Licenciatura em Química. Universidade Federal de Viçosa, Julho de 2015. Orientador: Prof.

Vinícius Catão de Assis Souza.

O presente trabalho abordará algumas das concepções que perpassam os processos de

avaliação educacional, tendo como foco o ensino de Química. Essa discussão busca contribuir

para a reflexão dos professores em formação inicial e continuada sobre a forma como os

métodos avaliativos são normalmente articulados na escola e na universidade. Assim, para

discutir as diferentes estratégias de avaliação, foi realizada uma pesquisa com enfoque

qualitativa. A coleta de dados consistiu na gravação em áudio de entrevistas semiestruturadas,

que foram realizadas individualmente com sete professores de Química. Dessa amostra,

quatro professores atuavam no Ensino Médio e três no Ensino Superior. A análise dos dados

permitiu propor algumas considerações a respeito da percepção que esses professores

apresentam sobre o processo avaliativo como um todo, além dos métodos comumente

utilizados por eles e as maiores dificuldades que observam junto aos alunos quando esses são

avaliados nas suas respectivas disciplinas. Com base na amostra de professores analisada

nesta monografia, a discussão dos dados permitiu contemplar os seguintes pontos: (i) o tipo

de avaliação predominante em cada nível de ensino investigado; (ii) as particularidades de

cada método avaliativo proposto pelos professores entrevistados; (iii) as concepções dos

professores que podem ser revistas para poder realizar uma avaliação justa e coerente do

conteúdo discutido em sala de aula; e (iv) as estratégias possíveis para estimular o aluno e o

professor a compreenderem a avaliação como parte do processo de aprendizado. Por fim, foi

possível concluir que a avaliação no Ensino Médio e Superior não deve ter o caráter apenas

classificatório. É importante que ela busque contemplar o que os alunos aprenderam sobre os

diferentes conteúdos por meio de situações problemas que sejam contextuais, permitindo

assim pensar nas Ciências de modo interdisciplinar e mais abrangente.

Palavras chaves: Avaliação da aprendizagem; Ensino de Química; Concepções dos

professores; Ensino Médio e Superior.

Page 7: AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NO ENSINO DE QUÍMICA

7

1 Introdução

1.1 Justificativa

Por meio da avaliação formal na escola, os professores buscam aferir o aprendizado

ou não do aluno, demonstrando se ele está apto para ser promovido à série seguinte. Porém,

sabe-se que o bom rendimento em uma prova não é o principal indicativo de aprendizado do

conteúdo, pois o que se observa no dia a dia são alunos que só sabem a matéria para a prova e

não veem aplicação direta do conteúdo no seu dia a dia. Assim, é importante pensar em

diferentes possibilidades avaliativas, que não é só por meio da aplicação de provas. O aluno

pode ser avaliado por vários métodos, como trabalhos escritos ou orais, aulas práticas,

atividades em grupos etc. Em todos eles, é importante buscar uma avaliação que favoreça o

aprendizado, pois ela demarca uma importante etapa que permite ao professor aferir a

aquisição do conhecimento.

Constata-se também, na maioria das escolas, que os alunos têm receio das avaliações,

o que não é diferente no Ensino Superior. Portanto, torna-se necessário repensar sobre esse

momento inerente ao processo de ensino e aprendizagem. Será que as tradicionais

metodologias utilizadas, como provas conteudistas, tem se mostrado eficiente para aferir o

conhecimento dos alunos? Será que os alunos se sentem bem avaliados por este método? Se a

resposta for sim, então por que geralmente é notório a não retenção dos conteúdos por eles

nos momentos posteriores as avaliações? Por que eles têm tanto receio de serem avaliados? E

se a resposta for não, como podemos modificar esse método de avaliação, para que ele seja

bem aceito pela comunidade escolar? São vários os desafios apresentados quando se refere à

avaliação do ensino e, maiores ainda, quando se deseja fazer algo para melhorá-lo. Portanto,

este é um assunto que merece uma discussão cuidadosa e necessária para o atual momento da

educação, sobretudo no campo do ensino de Química e Ciências no geral.

1.2 Referenciais Teóricos

O ato de avaliar é inerente ao processo de ensino e aprendizagem em qualquer área do

conhecimento, pois é por meio deste procedimento que o professor tem alguns parâmetros

para julgar – entre outras possibilidades não tradicionais como seminários, debates e aulas

práticas – se o aprendiz conseguiu entender o que foi ensinado. Por este motivo, é importante

Page 8: AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NO ENSINO DE QUÍMICA

8

discutir o processo de avaliação para saber se ele está coerente com o discurso dos docentes e

com o nível de conhecimento dos alunos. Sob este aspecto, é importante considerar os

conhecimentos prévios dos alunos e sua realidade socioeconômica, para que o processo de

aprendizagem se estabeleça em diálogo com o dia a dia dos educandos. Dessa forma, o

conteúdo a ser ensinado poderia ficar menos abstrato, evitando que o aluno o decore sem uma

compreensão adequada.

Segundo Ramos e Moraes (2010), aprender é ampliar o significado sobre o já

conhecido, pois toda nova aprendizagem se realiza sobre uma aprendizagem previamente

existente, acrescentando novos sentidos àqueles já produzidos. Assim, aprender implica

questionar o que se conhece para buscar consciência sobre o que não se conhece, sobre as

dúvidas, sobre as perguntas ainda não respondidas. É importante que durante o ensino de

qualquer conteúdo o aluno tente fazer correlações com o que já conhece. Por exemplo, ao

aprender sobre os ácidos e as bases, o aluno tentará associar esse conteúdo ao que ele conhece

sobre o que é acido e base no seu dia a dia. Ramos e Moraes (2010) também citam que quanto

mais novo for um conceito para o aluno, mais complexo será o processo de apropriação de

significados. Logo, quanto mais distante for um conteúdo da realidade do aluno, mais

dificuldade ele terá em aprender. Portanto, é importante que o professor conheça um pouco do

contexto ao qual o aluno está inserido, sendo possível desenvolver estratégias de ensino e

avaliação que promovam o aprendizado eficaz do mesmo. Nesse sentido, Ramos e Moraes

(2010) ressaltam ainda que o entendimento de como o sujeito aprende dá a direção de como é

possível avaliar essa aprendizagem.

A avaliação nas escolas brasileiras busca aferir o desempenho dos alunos de forma

quantitativa. O acerto ou erro em questões dissertativas ou de múltipla escolha gera uma nota

e é por meio desta que se conclui se o aluno aprendeu ou não o que foi ensinado. Na maioria

das vezes o aluno só sabe para a prova (conhecimento declarativo), não conseguindo aplicar o

conteúdo estudado ao seu dia a dia. Um exemplo que ilustra este fato é evidenciado na

pesquisa realizada pelo Instituto Abramundo, em parceria com o Instituto Paulo Montenegro,

intitulada de Índice de Letramento Científico. A referida pesquisa avaliou 2002 pessoas com

faixa etária entre 15 e 40 anos e mais de quatro anos do Ensino Fundamental completo. Esse

questionário, aplicado em oito capitais e no Distrito Federal, apresentou mais de sessenta

perguntas que avaliavam a capacidade dos indivíduos de identificar simples informações

explícitas em textos, tabelas, gráficos, tal como o consumo de energia e dosagem em bula de

remédios. Com base nas respostas apresentadas, as pessoas foram classificadas com

Page 9: AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NO ENSINO DE QUÍMICA

9

letramento ausente, elementar, básico e proficiente em Ciência. Além disso, verificou-se que

os indivíduos com Ensino Superior, considerados proficientes em Ciências, foram apenas

11%, e quase 4% apresentaram letramento quase ausente. Este fato pode ser associado à

cultura da nota nas escolas, em que os resultados qualitativos e descritivos não são prioridade.

Somente a nota é importante, pois é a partir dela que o aluno será classificado como aprovado

ou reprovado para o ciclo subsequente. Essa classificação também é relevante para os pais que

se preocupam apenas com os resultados quantitativos dos alunos, sem se interessarem de fato

pela aprendizagem. Nesse sentido, Carvalho (1997, p.17) aponta que “é necessário refletirmos

sobre essa cultura, incentivar a busca pela aprendizagem, pois através dela o bom resultado

também virá, pois um conteúdo aprendido não se torna passível de esquecimento”.

É importante que os docentes e as escolas redefinam o propósito da prova, de modo

que os alunos possam ser avaliados por outros meios que não só este. Dentre essas outras

opções, destacam-se os relatórios escritos ou atividades orais, resumos, relatórios de

investigações, respostas a testes escritos, registros de habilidades e atitudes manifestadas em

aulas práticas, entre outros. Através destes o professor poderá aferir com mais detalhes qual a

dificuldade do aluno e buscar sugestões para melhorar o aprendizado deste, com vistas à

construção do conhecimento. Cada tipo de avaliação tem sua particularidade e é importante

para o desenvolvimento de diferentes habilidades nos alunos1. Nesse sentido, Sousa (1997)

destaca que a avaliação:

[...] deveria ter a função de diagnosticar e identificar causas de dificuldades de aprendizagem, retroinformar (evidenciar os resultados alcançados no processo ensino-aprendizagem e favorecer o desenvolvimento individual do aluno). (SOUSA, 1997 p.129)

Alterar a forma de avaliar nas escolas não é uma tarefa fácil, pois ela pode ser

interpretada como afrouxamento das exigências, devido à cultura de que escola que se

aprende é escola com provas difíceis, e que este é o principal método de avaliação de

aprendizagem do aluno. Segundo Perrenoud (1993, p.173), “mudar a avaliação

provavelmente significa mudar a escola”. Por isso, como aponta Sousa (1997), é interessante

que os pais também participem no processo de transformação das práticas avaliativas nas

escolas, que participem das discussões junto com os educadores e que sejam estimulados a

refletirem e criticarem as diferentes estratégias para avaliação apresentadas pela escola. É

importante construir uma prática avaliativa focada em um processo eficaz de apropriação e 1 Em matéria publicada na Revista Nova Escola, em Janeiro de 2009, consta uma tabela que ressalta as vantagens e desvantagens de cada método avaliativo, reunidos pela pedagoga Ilza Martins Sant'Anna e a consultora Heloisa Cerri Ramos (vide Apêndice).

Page 10: AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NO ENSINO DE QUÍMICA

10

construção de conhecimento pelo aluno, sem função punitiva e meramente classificatória. Até

mesmo os governos estaduais federal usam a cultura da nota dos alunos como controle dos

resultados educacionais, com aplicação de provas em que os resultados serão interpretados

como eficiência e produtividade escolar, sendo que o bom ou mau rendimento do aluno será

atribuído ao professor. Estas provas consistem de avaliações diagnósticas, em larga escala,

nas quais os alunos respondem um questionário socioeconômico e um questionário baseado

nas propostas curriculares de alguns estados, municípios e nos Parâmetros Curriculares

Nacionais (PCNs) para o Ensino Fundamental e Médio. Exemplos desses tipos de avaliações

são a SAEB (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica) e a Prova Brasil, ambas

desenvolvidas pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira

(INEP/MEC). As médias de desempenhos obtidos nelas são usadas para subsidiar o cálculo

do IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) e orientar as secretarias estaduais

e municipais de educação a direcionar recursos técnicos e financeiros para áreas prioritárias,

além de promover ações que buscam diminuir as desigualdades e aprimorar a qualidade da

educação no país.

Sobre a cultura da nota Luckesi (1994) discuti sobre como os professores avaliam o

aprendizado do aluno pela nota obtida nas avaliações, e assim julgam se o aluno conseguiu

uma nota satisfatória, caso contrário ele é orientado a estudar mais para melhorar a sua nota e

não seu aprendizado. Sendo assim, torna-se interessante pensar se nas escolas as provas ou

qualquer outro método avaliativo tem como função avaliar o aprendizado do aluno ou apenas

verificar se ele conseguiu os pontos para ser aprovado para o ciclo subseqüente?

Outro fator importante a ser pensado, no que se refere à cultura da nota estabelecida

pela escola, é o erro nas avaliações. Ele não deve ser confundido com fracasso na Escola, mas

deve permitir que o aluno compreendesse melhor o conteúdo, que aprenda com o seu erro.

Para isso, seria desejável que os professores discutam os erros dos alunos individualmente ou

em grupo, para que eles entendam o porquê erraram e sanem as dúvidas que geraram o erro.

Normalmente nas escolas, para evitar o erro e conseguir uma boa nota, os alunos geralmente

recorrem a “cola” ou a memorização, pois o erro indica o fracasso, demonstrando que não

houve aprendizagem. Entretanto, é importante considerar que o erro tem múltiplas

interpretações, como dificuldade em atribuir um significado ao conteúdo, falta de

conhecimento prévio, entrave para entender o vocabulário do professor, dentre outros fatores.

Desestimulado pelo erro, o aluno pode até perder o interesse pelos estudos e achar que

“não tem cabeça para estudar” ou ser tachado como tal, o que culmina no abandono dos

Page 11: AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NO ENSINO DE QUÍMICA

11

estudos. Como citado por Carvalho (1997, p.15), “é preciso que o docente tenha clareza na

distinção entre meros erros de informação e problemas no desempenho de capacidades, ter

atenção no momento da correção de uma prova ou outros meios de avaliação, se o aluno

errou por um equívoco de informações ou se realmente ele não entendeu o conteúdo

ensinado, e até mesmo se a forma de avaliar foi clara para ele”. É importante que o erro seja

visto como uma oportunidade para reaprender, que propicia ao aluno e ao professor uma

ampla discussão sobre o conteúdo não compreendido, além de permitir diagnosticar a falha na

aprendizagem ou eventuais equívocos durante este processo. Ainda com base em Carvalho

(1997), o fracasso escolar é hoje o maior empecilho à democratização das oportunidades de

acesso e permanência de grande parte dos alunos nas instituições escolares.

Sob os aspectos da cultura da nota, da classificação quantitativa e sobre o erro ou

fracasso escolar, torna-se de fundamental importância repensar a prática avaliativa nas

escolas. Alterar a forma de avaliar nas escolas não é uma tarefa fácil, pois esta mudança afeta

não só o corpo docente, mas também a forma como a escola será vista por pais e toda a

sociedade, uma vez que a avaliação se constitui em um processo decisivo frente aos

resultados. As escolas tradicionais, conhecidas pelo seu método com avaliações difíceis,

conteudistas, com questões muito complexas e ações punitivas para resultados ruins em

avaliações, são as escolas consideras com ensino de excelência pela sociedade, pois exige

mais do aluno sendo, necessário que ele se dedique mais aos estudos para ser aprovado. São

também rotuladas como aquelas que formam indivíduos competentes para atuar no mercado

de trabalho. Já as escolas conhecidas como inovadoras, que pretendem avaliar o aluno não só

por provas, testes e seus respectivos resultados em notas, são reconhecidas como fracas. Por

estes motivos, as escolas temem em alterar os seus métodos de avaliação, receosas do

julgamento dos pais e perda do prestígio na sociedade.

É importante rever o conceito de que as escolas tradicionais, com sistemas de

avaliações classificatórias, são realmente as detentoras de um ensino de qualidade, pois em

muitas escolas públicas o que se pode constatar é um grande índice de evasão, com menor

número de turmas nas séries finais do Ensino Médio, contrapondo com as várias turmas nos

anos inicias do Ensino Fundamental. O motivo de tamanha evasão pode ser atribuído ao

desânimo causado nos alunos por notas baixas nas avaliações, sobretudo por não

compreenderem adequadamente os conteúdos ensinados. Como consequência disso, eles

acabam repetindo o ano letivo, o que gera ainda mais desânimo com os estudos.

Page 12: AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NO ENSINO DE QUÍMICA

12

Alguns educadores questionam a possibilidade de criar alternativas às provas nas

escolas. Isso não é bem visto por muitos professores, alunos e a sociedade em geral, que

acredita não ser possível avaliar um aluno sem dar a ele uma nota pelo seu aprendizado. Tal

aprendizado, comprovado ou não pela nota nas provas, pode ser falso, pois como mencionado

anteriormente, é muito comum os alunos só saberem para a prova. O ensino sem provas

periódicas se basearia na utilização da progressão continuada automática, o que não é bem

vista pelos professores, que consideram que se não vão avaliar com notas os alunos

periodicamente, então não estão avaliando a aprendizagem. Devido à cultura da nota, eles não

conseguem enxergar que o sistema classificatório é vago, não aponta as falhas do processo,

nem as dificuldades dos alunos. Apenas reforça a manutenção de uma escola para poucos, que

discrimina e seleciona, tal como discutido por Hoffmann (2009).

Um fato que merece reflexão é o seguinte: um aluno nota 10 na escola também o será

na vida em sociedade? Em alguns casos, constata-se que não, pois vários alunos nota 10

podem ter problemas de relacionamento em sociedade, além de não conseguir atuar no

mercado de trabalho por ter muita teoria e pouca prática. Ou até mesmo por não ter aprendido

na escola, apenas decorado para a prova. Mas também não quer dizer que o aluno mediano, ou

abaixo da média, terá sucesso em sua vida em sociedade. A questão é que a nota não é

suficiente para dizer sobre o aprendizado do aluno e seu comportamento social. É preciso

buscar um sistema de avaliação que permita o professor acompanhar o aluno durante todo o

processo de ensino e aprendizagem. Uma alternativa para isso estaria no uso da avaliação

mediadora, proposta por Hoffmann (2009), em que o professor busca conhecer o aluno,

entender suas falas, seus argumentos, articulando conversas com ele em todos os momentos,

ouvindo as suas perguntas, fazendo-lhes novas e desafiadoras questões, buscando uma ação

educativa voltada para a autonomia moral e intelectual. Por meio deste tipo de avaliação, é

interessante que o professor faça relatórios de acompanhamento do aluno, descrevendo seus

avanços, dificuldades e as formas como foi possível melhorar o aprendizado. Porém,

Hoffmann (2009) aponta que é necessário ter cuidado na elaboração destes relatórios, para

que eles não se tornem meramente descritivos, comparativos e com características das fichas

com atribuições de conceitos e notas tradicionalmente preenchidas nas escolas. Quando o

relatório é bem elaborado, é possível o professor usá-lo para refletir os meios de como ele e os

alunos chegaram a construir o conhecimento e também para detectar as falhas no processo de

ensino, dentre outras observações.

Page 13: AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NO ENSINO DE QUÍMICA

13

Nesse sentido, é importante que a avaliação da aprendizagem nas escolas seja

modificada, reorganizada. Porém não é acabando com a aplicação de provas que o problema

de evasão escolar, notas baixas, não aprendizado, dentre outros, será resolvido. Mas

ressignificando o processo avaliativo, elaborando-o dentro de uma nova perspectiva para

avaliar com eficácia e eficiência (MORETTO, 2010).

A avaliação é inerente a qualquer processo de ensino, o que a faz ser realizada de

modo a proporcionar o aprendizado do aluno e não ser um acerto de contas entre o professor e

o aluno. Através da nota, o aluno reconhece o seu sucesso ou não e a recompensa ou não pelo

seu esforço. É interessante transformar esse “processo em um momento que permita ao aluno

ler, refletir, relacionar, operar mentalmente e demonstrar que tem recursos para abordar

situações complexas” (MORETTO, 2010, p.11). Porém, é preciso refletir sobre o aspecto de

obter boa nota nas provas, pois ela não é indicativo primordial de aprendizado. Isso irá

depender, entre outras coisas, de como a prova foi formulada. É importante que o professor

deixe claro para os alunos seus critérios de correção, ou seja, se considera correta apenas a

resposta nas questões abertas, caso essa tenha sido respondida integralmente correta, ou se

avalia o raciocínio do aluno, dentre outras possibilidades.

Para ajudar os alunos a obterem sucesso nas avaliações, Moretto (2010) ressalta a

importância de o professor estar atento a alguns detalhes, tais como: (i) explicar para os

alunos o objetivo da sua avaliação; (ii) colocar nas provas conteúdos que sejam relevantes

para o seu dia a dia, as características psicossociais e o grau de desenvolvimento intelectual;e

(iii) permitir que os alunos relacionem o conhecimento elaborado com o seu dia a dia,

favorecendo uma aprendizagem efetiva.

Por muito tempo, acreditou-se que a melhor forma de obter aprendizado dos alunos era

por meio da memorização. Os professores passavam questionários extensos como revisão

para a prova e os alunos decoravam as informações ali apresentadas, sendo bem sucedidos nas

avaliações. Porém, percebeu-se que essas informações eram retidas por um curto período de

tempo, que se restringia ao momento da avaliação. Atualmente, não é necessário os alunos

serem acumuladores de informações, afinal se tem disponíveis vários dispositivos eletrônicos

para tal finalidade, como os sites de busca que podem ser acessados por meio de

computadores ou telefones móveis (Smarphones). Assim, é necessário usar o que se aprende

para tomar decisões no dia a dia, criar novos produtos e desenvolver formas diferenciadas de

pensar os problemas sociais e ambientais. Percebe-se, dessa forma, a importância de o método

avaliativo tradicional ser alterado. Moretto (2010) cita que é preciso ensinar e avaliar para o

Page 14: AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NO ENSINO DE QUÍMICA

14

desenvolvimento das competências. Um professor que ensina e avalia considerando este

aspecto não faz segredos sobre os objetivos das questões da prova, pois entende que

dialogando com o aluno, é possível direcionar o seu estudo. Assim, aplica provas com

consulta ou em dupla a fim de facilitar a construção social de significados e transformar o

entendimento do aluno sobre o processo avaliativo, para que seja possível entender que “a

prova também é um momento privilegiado de estudo e não um acerto de contas” (Moretto,

2010, p.30). No ensino de Ciências/Química, Chassot (2003) destaca que:

Devemos fazer do ensino de Ciências uma linguagem que facilite o entendimento do mundo pelos alunos e alunas. [...] Vamos nos dar conta de que a maioria dos conteúdos que ensinamos não servem para nada, ou melhor, servem para manter a dominação. [...] o que se ensina mais se presta como materiais para excelentes exercícios de memorização do que para entender a vida. [...] Nossa luta é para tornar o ensino menos asséptico, menos dogmático, menos abstrato, menos a-histórico e menos ferreteador na avaliação. (CHASSOT, 2003, p. 96-97, grifo nosso)

Nesse sentido, é importante que o professor busque elaborar bem as questões das

provas, perguntando de forma precisa e direta, sem questões maliciosas (conhecidas como

“pegadinhas”), e com comandos claros. Isso permite ao aluno entender o objetivo da questão

com maior facilidade, ajudando-o a elaborar uma resposta concisa, sem possibilidades de

múltiplos sentidos. Assim, cria-se um ambiente favorável ao controle das emoções, para que o

aluno não fique tenso e acabe esquecendo ou confundido o que estudou (MORETTO, 2010).

Tendo em vista que o ensino antecede o processo de avaliação, torna-se necessário

comentar um pouco sobre ele. Como já exposto anteriormente, é desejável que o professor

conheça as concepções prévias dos alunos sobre um determinado conteúdo para que seja

possível mediar a construção do conhecimento em sala de aula. Também é fundamental que o

professor conheça o contexto sociocultural dos alunos, suas experiências cotidianas, tradições,

para que não ensine algo abstrato demais para eles. Outro fator importante é que o professor

procure identificar se o que ele ensina está de acordo com a capacidade cognitiva do aluno. É

importante também que o professor defina o objetivo das suas aulas, para que o aluno tenha

em mente aonde o professor quer chegar com aqueles ensinamentos e não termine a aula

pensando sobre o que realmente o professor queria com toda aquela explicação. É interessante

que durante as aulas o professor não seja o único a falar e depositar informações nos alunos,

mas sim que aluno e professor apresentem ideias e discutam sobre elas, não sendo meramente

um receptor de conteúdos que irá reproduzir na prova sem se apropriar deles.

Segundo a perspectiva sociointeracionista, é importante que o aluno seja estimulado a

construir seu próprio conhecimento, estabelecer relações com suas concepções prévias e o

Page 15: AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NO ENSINO DE QUÍMICA

15

objetivo de conhecimento proposto. Esse processo ocorre sob a mediação do professor

(MORETTO, 2010). Assim, é importante que o professor elabore avaliações que contribuam

para a aprendizagem do aluno, em que nesta o aluno seja capaz de responder a questão de

forma correta e aquele conteúdo cobrado na prova tem significado na sua vida cotidiana

(MORETTO, 2010). É importante que as questões apresentem verbos de comando claros,

dando sentido ao texto. É importante também que o professor elabore questões

contextualizadas, com textos que sirvam de contexto e não de pretexto para a questão, que

estimulem a leitura e a escrita dos alunos, que as questões sejam parametrizadas (indicação

clara e precisa dos critérios de correção), que demande do aluno fazer operações mentais

complexas, ou seja, que pense e interprete o enunciado, tentando aplicar o conceito aprendido,

de modo que a resposta não seja uma transcrição de informações descontextualizadas. Nas

provas tradicionais, esse aspecto não é normalmente considerado, sendo valorizada a

exploração exagerada da memorização. Toda essa discussão tem o intuito de permitir que os

educadores repensem as formas de avaliar o aprendizado dos alunos, visto que esta etapa

também faz parte do processo de ensino.

1.3 Questão de pesquisa

Como os métodos avaliativos utilizados nas escolas atualmente permitem diagnosticar

e identificar as dificuldades dos alunos e também o que ele realmente aprendeu sobre o

conteúdo estudado?

1.4 Objetivo Geral

A presente pesquisa analisará as concepções sobre avaliação no ensino de Química

que um grupo de professores de Química do Ensino Médio e do Ensino Superior

apresentaram.

1.5 Objetivos específicos

• Identificar as principais metodologias utilizadas por um grupo específico de

professores para avaliar o ensino de Química.

Page 16: AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NO ENSINO DE QUÍMICA

16

• Identificar as maiores dificuldades apresentadas pelos alunos durante o processo

avaliativo, a partir da percepção dos professores de Química participantes da pesquisa.

1.6 Metodologia: Amostra e coleta de dados

A pesquisa aqui descrita apresenta caráter qualitativo. A coleta de dados consistiu na

realização de entrevistas semiestruturadas, que foram gravadas individualmente com sete

professores de Química, sendo quatro deles do Ensino Médio e três do Ensino Superior.

Como roteiro para essa entrevista, foi utilizado um questionário com onze perguntas, que se

encontra no Anexo desse trabalho. As entrevistas foram realizadas nas respectivas escolas e

universidade que os professores lecionam, ambas as instituições localizadas na cidade de

Viçosa, Minas Gerais.

A análise dos dados foi feita por meio de categorizações, em que as categorias foram

criadas de forma a agrupar em uma tabela as respostas mais semelhantes dadas pelos

professores para cada questão. Em seguida, os dados foram discutidos com o orientador da

pesquisa, em um processo de validação conhecido como triangulação.

2 Resultados e Discussão

O resultado da pesquisa será discutido na forma de apresentação da pergunta e

descrição das respostas mais recorrentes apresentadas pelos professores participantes. Para

isso, em alguns momentos será destacada a fala dos professores e algumas das respostas que

merecem ser discutidas. As respostas dos professores serão identificadas a partir de um

código usado para cada um deles. Esse código foi escolhido para representar a identidade de

cada professor aleatoriamente. Para os professores do Ensino Médio, foi atribuído os códigos

EM1, EM2, EM3 e EM4. Para os professores do Ensino Superior, foi atribuído os códigos

ES1, ES2 e ES3.

• Questão 1: DESCREVA o que você compreende por avaliação no ensino de

Química? Qual a importância dela no processo de ensino e aprendizagem?

Todos os três professores do Ensino Superior acreditam que a avaliação é uma forma

de aferir parte do que foi aprendido pelo estudante, e nenhum deles mencionou o fato de a

avaliação ser um processo formativo contínuo. Este fato só foi mencionado por uma

professora do Ensino Médio (EM3), o que evidencia o caráter técnico do conhecimento que

Page 17: AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NO ENSINO DE QUÍMICA

17

prevalece na Universidade, tendo uma formação com foco no aspecto profissional. Um

professor de cada nível de ensino (EM2 e ES3) acredita que a avaliação permite conhecer o

que os alunos sabem, ou seja, que ela é diagnóstica.

É interessante notar que a pergunta se referia a avaliação no ensino de Química,

podendo ser essa de vários tipos: trabalhos, relatórios, seminários e não somente a prova

escrita. Porém, percebe-se que a visão dos professores sobre avaliação é a desse instrumento

medir o que o aluno aprendeu por meio da prova escrita e que sua função é meramente aferir

esse conhecimento aprendido. É preocupante o fato de apenas um professor ter mencionado o

processo contínuo da avaliação, ou seja, ela faz parte do processo de ensino e aprendizagem,

ela não é o momento final do processo, é também um momento de aprendizagem, de

construção do conhecimento, em que por meio da mediação do professor, o aluno pode tirar

suas dúvidas durante ou depois deste momento e aprender com o que possivelmente errar. E

também se refere ao fato de que a avaliação está presente na sala de aula em todo momento,

sobretudo ao observar o comportamento dos alunos, sua participação. Sob este aspecto, o

processo de avaliação não se resume apenas à prova formal, sendo integrante do processo,

visto que acontece durante todo o momento da sala de aula. De acordo com EM1:

[...] a nossa escola com a sala cheia de alunos e um professor tendo que trabalhar em duas e até três escolas ele chega a ter aí mais de trezentos alunos por dia. Então eu não conheço outro método que ajudaria o professor a avaliar essa quantidade enorme de alunos, porque vai ser um método de acompanhar o aluno no dia a dia, como é que você acompanha de duzentos a trezentos alunos no dia a dia, o perfil de cada um, o desempenho de cada um na aula?

Este fato merece uma reflexão, sobre o desafio de fazer uma avaliação continuada

nessas condições: como isso seria possível? Para o professor trabalhar de forma diferenciada

neste ambiente, ele precisaria de um auxiliar em sala, alguém que pudesse anotar o

comportamento dos alunos, avaliar os seus desempenhos nas aulas, pois para ele sozinho

conhecer trezentos alunos e acompanhá-los no dia a dia é realmente difícil.

• Questão 2: Quais os principais tipos de avaliação utilizados por você?

Os dados apresentam indícios de que na Universidade ainda prevalecem as avaliações

escritas (que afere um conhecimento declarativo), enquanto no Ensino Médio os professores

buscam articular distintas formas para avaliar o conhecimento. Todos os três professores do

Ensino Superior dizem utilizar prova escrita, sendo que apenas ES1 declarou usar

eventualmente trabalhos para ajudar na nota. Em relação aos professores do Ensino Médio,

todos disseram utilizar não só a prova, mas trabalhos escritos ou orais, atividades práticas com

entrega de relatórios, dentre outros.

Page 18: AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NO ENSINO DE QUÍMICA

18

Os professores do Ensino Superior mencionaram que utilizam, predominantemente,

provas dissertativas. Este tipo de avaliação é interessante, pois permite ao aluno desenvolver a

capacidade de analisar o problema que permeia a pergunta, formulando uma resposta sucinta

sobre o assunto, além de articular a capacidade de interpretação e de redigir textos de forma

coerente. A desvantagem desse tipo de questão é não permitir averiguar o domínio do

conhecimento sobre uma pequena parte do mesmo. É interessante que nesse tipo de prova o

professor coloque poucas questões, para que os alunos tenham tempo para fazer a prova,

pensar e elaborar bem suas respostas. Além disso, é importante que o professor oriente a

resposta dos alunos, ou seja, as questões não podem ser “vagas”, de tal forma que o aluno não

saiba até onde deve argumentar e o que deve explicar, por exemplo. É importante que o

professor defina também o valor de cada etapa respondida na questão.

A importância de utilizar várias formas de avaliação, como citado pelos professores do

Ensino Médio, é de poder ampliar a capacidade de o aluno reelaborar os conteúdos. Por

exemplo, a apresentação de seminários favorece a habilidade de falar em público, explicar as

ideias oralmente, desenvolver a argumentação, bem como de fazer pesquisas de forma eficaz.

As aulas práticas com apresentação de relatórios permitem avaliar a compreensão do que foi

exposto após uma atividade coletiva.

Os vários modos de avaliar dão oportunidade para que cada aluno tenha um melhor

rendimento naquela forma de avaliação que se sente mais hábil. Por exemplo, há alunos que

tem grande dificuldade de falar em público, logo atividades como seminário é um desafio para

ele e pode ser que não tenha um bom rendimento. Mas pode ser que em provas escritas,

individuais, ele se sinta mais a vontade e, então, consiga um bom rendimento. Portanto é

interessante que o professor busque entender qual método avaliativo contribui para a

aprendizagem do aluno, para poder avaliá-lo de uma forma mas eficaz Ramos e Moraes

(2010).

Em todas essas atividades é de suma importância que o professor oriente o aluno em

como fazer, para que o trabalho não fique comprometido devido ao aluno não saber como

proceder.

• Questão 3: O que você entende por avaliação somativa e formativa? Qual a

importância delas no trabalho do professor?

Nenhum dos professores demonstrou compreender de fato o que seja uma avaliação

formativa. O olhar deles está centrado apenas na construção de conceitos. Três professores do

Page 19: AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NO ENSINO DE QUÍMICA

19

Ensino Médio (EM1, EM2 e EM3) e uma do Ensino Superior (ES1) entendem que a avaliação

somativa visa à pontuação do aluno. Uma professora do Ensino Médio (EM4) e dois do

Ensino Superior (ES2 e ES3) têm uma visão incorreta, acreditando que ela seja uma avaliação

que visa somar conceitos. De um modo geral, os professores tiveram dificuldade em

responder essa questão. Acredita-se que seja por não estarem familiarizado com esse tipo de

terminologia.

A avaliação somativa, em resumo, pode ser caracterizada como um tipo de avaliação

que soma os resultados das aprendizagens dos alunos ao longo do processo e, no final, os seus

resultados servirão para classificá-lo (aprovado ou não).

A avaliação formativa é uma metodologia que se preocupa com o aprendizado do

aluno. Nela, o professor acompanha o estudante ao longo do processo de ensino e

aprendizagem, para verificar o quanto ele está evoluindo, ou não, no conteúdo ensinado.

Neste tipo de avaliação, a preocupação não é só com a nota obtida ao final (produto), mas sim

o com aprendizado do aluno (processo).

• Questão 4: Na sua opinião, qual a maior dificuldade enfrentada pelos estudantes

durante as avaliações (interpretação das questões, falta de compreensão conceitual e

atenção, deficiência na matemática etc.)?

Todos os professores mencionaram que a principal dificuldade dos estudantes é na

interpretação das questões, na falta de compreensão conceitual e atenção ao ler a questão.

Segundo eles os estudantes demonstram ter preguiça em ler as questões, pois, por exemplo,

em questões objetivas que é pedido para marcar a alternativa incorreta eles marcam a correta,

e isso ocorre com certa frequência. Questões que apresentam um texto grande no enunciado,

eles também erram por não ler o texto e não usar o que estava nele, bem como reclamam de

questões assim.

Todos os professores do Ensino Médio e do Ensino Superior participantes da pesquisa

também mencionaram o fato de terem grande dificuldade de corrigir questões teóricas abertas

devido a falta de coerência dos alunos nas respostas, segundo eles a deficiência na escrita é

maior que a conceitual, pois é notório que o aluno sabe o conteúdo, tentou responder, mas não

conseguiu colocar no papel de forma coerente. Na opinião dos professores, os alunos

atualmente lêem muito pouco e passam muito tempo envolvidos em atividades de lazer, como

redes sociais, não se preocupando tanto em ler um livro (didático ou não). Mencionaram

também o fato da desatenção em sala de aula, que eles têm grande dificuldade de prender a

atenção dos alunos durante as aulas.

Page 20: AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NO ENSINO DE QUÍMICA

20

Nas questões de cálculos, os professores relataram notar que alunos apresentam grande

dificuldade devido à falta de conhecimento da Matemática básica, o que compromete o

conhecimento químico.

O professor que percebe nos alunos as dificuldades descritas anteriormente busca

desenvolver atividades para superá-las como, por exemplo: estimulá-los a ler, a levar

materiais para a sala de aula como matérias de revistas sobre determinados assuntos químicos,

pesquisas para casa sobre o conteúdo estudado e trabalhar em sala de aula com questões

contextualizadas que contenham textos explicativos e integrantes do conteúdo abordado, não

meramente textos informativos, para estimular a leitura e poder trabalhar questões desse tipo

nas provas.

• Questão 5: Você acredita que a avaliação pode favorecer o desenvolvimento de

habilidades atitudinais? De que forma?

Apenas dois professores (EM4 e ES3), um de cada nível de ensino, responderam de

forma coerente com o que seria o desenvolvimento de habilidades atitudinais. Cabe destacar

que a maioria dos professores provavelmente desconhece esse tipo de nomenclatura discutida

no campo da educação, mas ele foi explicado que habilidade atitudinal que a pergunta se

refere, é ao desenvolvimento de pensamentos ou ações trabalhados em algum método

avaliativo que leve o aluno crescer como pessoa ou cidadão.

Estes dois professores responderam que a avaliação pode ajudar a desenvolver o

pensamento social e o senso de justiça do aluno, se o professor trabalhar questões que

envolvam, por exemplo, alguma problemática social, como a poluição, escassez de água,

violência e desenvolvimento do senso de justiça ao aplicar uma prova que seja justa com o

ensinado em sala de aula. O trabalho com questões sociais é uma forma de contextualizar o

ensino de química, inserir no conteúdo abordado situações observadas na realidade. Pode ser

trabalhado também projetos educacionais com algum problema social evidenciado na cidade

em que a escola se situa. Isso leva o aluno a entender melhor o conteúdo e perceber a

aplicação do mesmo, pois muitos deles questionam os professores sobre o porquê têm que

aprender Química. Ou seja, não vêm aplicação, e a contextualização é uma forma interessante

de se responder a essa pergunta.

É importante utilizar a avaliação para desenvolver essas habilidades, essas atitudes

sociais e éticas, para assim a avaliação desenvolver a cidadania no aluno, ou seja, não ter

apenas a função de verificação de absorção de um conteúdo fechado e acabado em si mesmo.

Page 21: AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NO ENSINO DE QUÍMICA

21

Assim é interessante que o professor elabore avaliações que contribuam para o aprendizado

do aluno e que o conteúdo cobrado nas avaliações tenham significado na sua vida cotidiana

(MORETTO, 2010).

• Questão 6: Quais as principais estratégias de ensino utilizadas por você para facilitar

a aprendizagem da Química (aulas experimentais, demonstração, vídeos, modelos

concretos etc.)? Como essas estratégias são articuladas nas avaliações?

Dos professores do Ensino Médio, EM3 e EM4 disseram que utilizam aulas

experimentais, vídeos, demonstração prática, modelos concretos e questionamento oral. Todos

disseram colocar questões semelhantes nas provas às articulações utilizadas em sala de aula

para valorizar a atividade e segundo eles os alunos conseguem um bom rendimento nessas

questões, o que mostra que a diversidade da forma de avaliar, de levar o conteúdo ao aluno é

de fundamental importância para o seu aprendizado.

Os professores do Ensino Superior disseram utilizar aulas práticas que já são

associadas às disciplinas que lecionam na Universidade, além dessas aulas utilizam aulas

expositivas, demonstrações práticas, relacionam (quando apropriado) o conteúdo ao contexto

histórico e fazem questionamentos orais. Porém não repassam essas atividades para as

avaliações. O que ressalta mais uma vez o caráter técnico do conhecimento na Universidade.

EM 1 ressaltou a dificuldade de trazer atividades diferenciadas para a sala de aula:

É difícil com 50 minutos, duas aulas por semana é difícil trazer aula prática, fazer um bom trabalho. O governo até fala para não preocupar com a quantidade de matéria que você dá, preocupa com a qualidade, mas é difícil, as próprias provas de avaliação do governo são conteudistas, são questões fáceis, ao nível mesmo do aluno, mas conteudistas, abrange tudo o que você deveria dar durante o ano, e como você tem que prestar conta no final do ano, como que você não vai preocupar também com a quantidade.

Essa fala merece reflexão, é importante que o professor traga atividades

diferenciadas para a sala de aula, mas como ele vai articular o fato de ter muito conteúdo a ser

explicado, com duas aulas por semana? E como discutido essas atividades são importantes de

serem trabalhadas como avaliações e nas provas. É necessário que o professor que deseja

desenvolver essas atividades as insira no momento de explicitar o conteúdo, ou seja, utilize

delas para explicar o conteúdo, essa é uma alternativa. Por exemplo, uma professora do

Ensino Médio ressaltou que traz para as aulas questões problemas por meio de

questionamentos orais e a partir das discussões promovidas trabalha o conteúdo,pode-se

perceber que dessa forma ela estimula os alunos a construírem o seu próprio conhecimento,

estabelecendo relações com suas concepções prévias e com o objetivo dos questionamentos

propostos (MORETTO, 2010).

Page 22: AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NO ENSINO DE QUÍMICA

22

• Questão 7: Você costuma cobrar na avaliação somente questões conceituais

abordadas nas aulas ou busca apresentar situações problemas que levam os

estudantes a pensarem na Química de forma mais ampla?

Dos professores do Ensino Médio EM2 e EM3 disseram utilizar questões conceituais,

EM1 e EM4 questões contextualizadas e EM4 disse usar também situação problema. Vale

ressaltar que o que eles mencionam serem questões contextualizadas são questões que contêm

um texto informativo apenas.

Com relação aos professores do Ensino Superior, ES2 e ES3 disseram utilizarem

questões conceituais e ES1 situação problema, o que evidencia mais uma vez, que na

Universidade prevalece a formação conteudista, demonstrando o caráter técnico e profissional

desse espaço.

As questões conceituais se restringem a abordagem do conteúdo fechado em si

mesmo. Ao utilizá-las deseja-se somente saber se o aluno entendeu o conteúdo que foi

trabalhado sem fazer qualquer relação com o dia a dia do aluno, com problemas sociais, entre

outros. Em sua maioria, essas questões são respondidas mecanicamente, reproduzindo o que o

professor falou ou eles leram em um livro. Tal conteúdo geralmente é decorado para a prova e

o aluno só sabe para ela, esquecendo em seguida e não conseguindo ampliar esse

conhecimento para fora da sala de aula.

A utilização de questões contextualizas e de situações problemas pode estimular o

aluno a articular o conteúdo de forma aplicada em suas vivências diárias, a criar soluções para

problemas sociais, e perceber a necessidade de se aprender determinado conteúdo. Pois como

citado por Chassot (2003), o que se ensina mais se presta como materiais para excelentes

exercícios de memorização do que para entender a vida,e isso não é interessante. É

necessário que o aluno compreenda e perceba que o aprendido na escola e cobrado nas

avaliações se aplica em seu cotidiano e os tipos de questões citadas pode ser um alternativa

para trabalhar de forma diferenciada com os alunos.

Tanto na Universidade como no Ensino Médio é importante trabalhar dessa forma,

pois na primeira o aluno sai para o mercado de trabalho sabendo utilizar o que aprendeu, visto

que alunos graduados mencionam que sabem muitos conteúdos porém não sabe como usá-los.

Utilizando essa abordagem no Ensino Médio, e até em anos anteriores de ensino, o aluno já

vai se acostumando com esse tipo de avaliação, e não tem tanta dificuldade ao se deparar com

questões desse jeito no Ensino Superior, quando são utilizadas em alguns cursos.

Page 23: AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NO ENSINO DE QUÍMICA

23

• Questão 8: Quais são as maiores dificuldades encontradas por você para elaborar

uma avaliação?

EM1, EM2 e EM4 e ES1 e ES2 relataram ter dificuldade de elaborar questões para

turmas heterogêneas que trabalham. Sendo necessário ponderar o nível de conhecimento a ser

cobrado. No Ensino Médio eles disseram que evitam colocar questões mais trabalhosas, que

exigiriam mais dos alunos, pois trabalham na maioria com alunos que não conseguiriam

respondê-las por não estudarem o mínimo necessário ou por não conseguirem entender o

conteúdo devido a deficiências de não aprendizagens anteriores. E se insistirem em colocar

tais questões nas avaliações, terá como resultado um mau rendimento desses alunos e

consequentemente será necessário fazer novas avaliações para recuperar este aluno, o que

atrasa o planejamento, pois a prova tem que ser aplicada para todos e em horário de aula. Por

esses motivos preferem trabalhar questões que sejam acessíveis a todos, mesmo sabendo que

há alunos que poderiam ter uma avaliação que verificasse em um nível maior seu

aprendizado. Esse tipo de abordagem não se resume apenas as avaliações, mas também ao

conteúdo explicado em sala, que tem que ser o mínimo, para ser adequado ao entendimento da

maioria.

Os professores do Ensino Superior disseram que, mesmo a maioria dos estudantes não

conseguindo resolver questões com um nível maior de exigência, acabam cobrando mesmo

assim para estimular os estudantes a estudarem mais, para não abaixar o nível do curso e

também porque tal conhecimento é necessário para uma boa formação profissional dos

alunos.

Outra dificuldade apontada por todos os professores do Ensino Superior foi a

elaboração de uma prova justa, que cobre do aluno o que foi ensinado em sala de aula e é

conivente com o conhecimento que é necessário de ser aprendido por ele.

Dois professores do Ensino Médio (EM3 e EM4) disseram ter dificuldade em elaborar

questões contextualizadas, o que nem foi mencionado pelos professores do Ensino Superior,

pois como já discutido anteriormente eles trabalham com questões conceituais conteudistas.

• Questão 9: Quais os critérios de correção utilizados para as questões abertas?

Apenas uma professora do Ensino Médio (EM4) disse não corrigir as questões por

etapas. Os demais professores desse nível de ensino e do Ensino Superior disseram que

corrigem por etapas o raciocínio químico e matemático em questões de cálculo e nas questões

Page 24: AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NO ENSINO DE QUÍMICA

24

teóricas avaliam o português e a abordagem química, bem como também consideram a

resposta por etapas. Um professor de cada nível de ensino disse usar parâmetros de resposta

entre os alunos e a do gabarito para fazer a correção. Um professor do Ensino Médio, EM1,

disse avaliar nas questões teóricas se o aluno respondeu o mínimo necessário do que foi

solicitado na questão, a justificativa para esse comportamento é apresentado na sua fala: “Se

eu for muito rigoroso eu não vou fazer outra coisa durante o ano todo a não ser aplicar

prova, pois eu sou obrigado a ficar recuperando esse aluno, então você tem que jogar na

balança.”

EM2 ressaltou que gostaria de trabalhar considerando o nível das questões, ou seja, o

grau de dificuldade, onde as mais difíceis valeriam mais pontos justamente por exigir um

maior raciocínio do aluno. Porém ela não o faz por saber que a maioria não vai conseguir

fazer, isso ressalta a fala anterior do outro professor, pois segundo ela se fizer assim também

não vai fazer outra coisa a não ser aplicar provas.

É importante para o processo avaliativo que o professor defina os critérios de correção

que irá utilizar na prova aplicada e que converse com os alunos a respeito, para que estes

estejam cientes de como será corrigido o raciocínio apresentado por eles, isso facilita a

resposta dos alunos, no sentido de orientá-los a como responder.

A correção por etapas é interessante porque não descarta totalmente a resposta do

aluno, salvo algumas situações em que a resposta não teve nada haver com o pedido. Assim, é

possível avaliar o raciocínio do aluno por partes e perceber se ele conseguiu construir o

conteúdo em suas palavras. Esta etapa não depende somente de domínio do conteúdo, mas

também do uso do português, da coerência, que como discutido anteriormente, tem sido um

problema nesse tipo de questão.

Os professores do Ensino Médio dizem utilizar desse tipo de correção para poder

considerar o máximo que o aluno conseguiu responder, para ver se ele consegue obter nota

pelo menos suficiente para ser promovido para a série seguinte, pois se forem muito rígidos a

grande maioria ficará retida e eles serão cobrados pelo alto índice de reprovação. Os

professores do Ensino Superior já utilizam esse método por acharem mais justa esse tipo de

correção.

• Questão 10: Quando os estudantes fracassam em alguma avaliação, as dificuldades

conceituais apresentadas por eles são retomadas nas aulas? De que forma isso é

feito? Quais as estratégias são utilizadas?

Page 25: AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NO ENSINO DE QUÍMICA

25

Dois professores do Ensino Superior (ES1 e ES2) disserem que discutem na próxima

aula apenas erros grosseiros e um discute erros brandos nas próximas matérias em que o

conteúdo será revisto. ES3 disse ainda não ter observado erros grosseiros em suas provas e

todos fazem revisão de prova, sendo que ES1 e ES3 fazem individuais em suas salas e ES2

em sala de aula, onde os alunos argumentam seus erros de forma escrita e a entrega para ser

revisto a questão.

EM2, EM3 e EM4 disseram fazer revisão da prova em sala de aula, onde a prova é

refeita no quadro e um disse discutir os erros brandos nas próximas aulas em que o conteúdo

for revisto e erros grosseiros são discutidos na aula posterior a prova.

A discussão com os alunos sobre seus erros é de fundamental importância para o seu

aprendizado. O erro não deve ser visto como algo ruim, mas ele deve ser discutido com o

professor para que o aluno entenda o porquê errou, pois como citado por Carvalho (1997), o

erro pode ter sido causado por um conteúdo que não foi entendido, interpretação equivocada

da questão, uma argumentação deficiente, enfim os motivos podem ser vários e a discussão é

interessante para o crescimento do aluno. E o professor deve saber mediar esse processo para

que o aluno não tenha vergonha do seu erro nem seja ridicularizado pelos colegas por obter

uma nota ruim em uma prova.

• Questão 11: Você acredita que a avaliação pode favorecer a aprendizagem dos

estudantes? De que forma?

EM1 e EM4 acreditam que a avaliação ajuda a desenvolver um comportamento

disciplinado para estudar e EM2 e EM4 acreditam que ela é a única forma de fazer com

que o aluno estude pelo menos o mínimo. EM3 acredita que a avaliação dá um retorno

para o aluno do seu aprendizado.

Todos os três professores do Ensino Superior acredita ser a avaliação fundamental,

pois sem ela os alunos não estudariam. Esse argumento é visto como uma forma de usar a

avaliação para pressionar os alunos a estudarem.

Todos os professores dos dois níveis de ensino acreditam que sem a avaliação os

alunos não estudariam, e os do Ensino Médio ainda argumentam que com ela os alunos já

praticamente não estudam, então imagine sem a prova.

É importante trabalhar com os alunos que eles não tem que estudar só para a prova,

que o conhecimento é importante para a vida deles em sociedade, porém a cultura da nota,

do estudar para “passar de ano” leva os estudantes estudarem só para ela, só saberem para

Page 26: AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NO ENSINO DE QUÍMICA

26

ela. Por este motivo se não tiver prova eles são levados a não estudar, a considerar que o

professor é relapso, pois não aplica provas, entre outros.

O fato de os métodos avaliativos ou somente a prova não serem vistos como

integrantes do processo de ensino aprendizagem no sentido de ser mais uma forma de

aprender, leva os alunos e professores a essas conclusões equivocadas da função das

avaliações.

3 Conclusões e implicações do trabalho para o ensino de Química

Com base nos dados analisados, é possível concluir que a avaliação no ensino não

deve ser apenas classificatória, buscando compreender o que o aluno aprendeu sobre o

conteúdo trabalhado nas aulas e o modo como articula esse conhecimento em outros

contextos. Porém, como discutido na primeira questão, a maioria dos professores integrantes

da pesquisa a veem como avaliação diagnóstica, como uma forma de obrigar ou incentivar o

aluno a estudar e não como uma das etapas do processo de ensino e aprendizagem. Para eles,

o termo avaliação está associado à prova tradicional, sendo que a referida pergunta apenas

questionava sobre o entendimento que tinham da avaliação no ensino, e esta pode ser

articulada de várias maneiras. Percebeu-se ainda que essa visão é mais forte nas concepções

dos professores do Ensino Superior, pois é o principal método avaliativo utilizado por eles,

sendo a prova com questões dissertativas a mais utilizada. O ponto negativo da utilização de

somente este tipo de avaliação é não fornecer ao aluno diferentes formas de reelaborar o

conteúdo estudado e desenvolver outras habilidades que não só a escrita e o raciocínio.

Os professores do Ensino Médio relataram na resposta à pergunta dois que utilizam

outras metodologias avaliativas, não se restringindo apenas à prova escrita, o que é benéfico

para desenvolver nos alunos as habilidades mencionadas anteriormente. Além de se discutir

como avaliar o aluno de diversas formas, para que a avaliação faça parte do processo de

aprendizado, dando aos professores e alunos um retorno do aprendizado, é importante refletir

como fazer isso nas atuais escolas da rede estadual de ensino, com salas muito cheias e alunos

que não compreendem a importância do ensino.

As maiores dificuldades relatadas pelos professores do Ensino Médio e do Ensino

Superior ao corrigirem as questões das provas são referentes à coerência, a escrita do

português e a Matemática básica. Portanto, torna-se de fundamental importância que os

professores estimulem os alunos a ler e escrever mais como, por exemplo, mesclando o

Page 27: AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NO ENSINO DE QUÍMICA

27

conteúdo teórico estudado com alguma notícia do dia a dia que fale sobre aquele assunto ou

com algo que é da vivência dos alunos, para que eles se interessem pelo mesmo e busquem ter

mais conhecimento. Para isso, poderia ser utilizada a estratégia de propor trabalhos que

procurem soluções para resolver algum problema social do seu convívio.

É importante também que o professor discuta com alunos os erros observados nas

avaliações, para que eles tenham consciência dos mesmos e, juntos, possam buscar meios para

melhorar. O erro nas escolas não pode ser visto como algo ruim, e sim como algo que traz

crescimento para o indivíduo, que ele aprenda com o erro e que o aluno e o professor

busquem saná-lo. Essas atividades desenvolvidas em sala de aula para estimular a leitura, a

escrita e a matemática podem também fazer parte de métodos avaliativos, para que a

avaliação ajude a desenvolver nos alunos habilidades atitudinais. Para isso, o professor

poderia trabalhar com apresentação de seminários sobre um conteúdo estudado em que foi

pedido que os alunos trouxessem mais curiosidades sobre eles, para desenvolver a prática de

falar em público e a pesquisa; um debate sobre o mesmo, para desenvolver a argumentação ou

até questões com situações problemas colocadas na prova escrita.

Verificou-se que os professores do Ensino Médio buscam várias alternativas para

facilitar o aprendizado dos conteúdos, como utilização de aulas práticas, vídeos, modelos

concretos, entre outros. Além disso, eles mesclam essas atividades com questões de provas ou

utilizam essas atividades como métodos avaliativos. Porém, eles ressaltaram que têm

dificuldades em fazer questões contextualizadas ou articuladas com as atividades trabalhadas

em sala de aula.

Os professores do Ensino Superior disseram utilizar aulas expositivas, demonstrativas

e práticas, que já fazem parte das disciplinas que lecionam. Porém, não mesclam essas

atividades nas avaliações, trabalhando em sua maioria com questões conceituais, o que

evidencia o caráter técnico e aprofundado dos conteúdos, que é a característica principal da

formação profissional no Ensino Superior.

Outra dificuldade relatada pelos professores dos dois níveis de ensino foi quanto a

elaboração de provas para turmas heterogêneas (não nivelas em termos de conhecimentos),

sendo que os professores do Ensino Médio mencionaram preferir trabalhar com provas

contendo questões mais fáceis, para que todos tenham a chance de conseguir notas melhores,

bem como as corrigem por etapas pelo mesmo motivo. Os professores do Ensino Superior já

preferem trabalhar com questões que exigem mais dos alunos, ressaltando que assim eles irão

Page 28: AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NO ENSINO DE QUÍMICA

28

estudar mais, pois caso contrário a nota não será satisfatória. Também relataram que corrigem

as questões por etapas, porque acham mais justo.

Novamente, é importante questionar como propor atividades e avaliações

diferenciadas em sala de aula, sendo que os professores têm que trabalhar com salas muito

cheias e em várias escolas ao mesmo tempo. Além disso, eles têm um conteúdo programático

a ser cumprido. No caso do Ensino Superior, se faz necessário pensar em como trabalhar com

essa proposta, sem diminuir a qualidade dos cursos de graduação e formando profissionais

mais preparados para o mercado de trabalho, objetivo de toda universidade que preza pela

excelência. Essas questões merecem ser discutidas e abordadas nos cursos de formação inicial

e continuada de professores, com o intuito de melhorar a visão sobre avaliação em escolas e

universidades e construir um ensino que qualifique melhor os estudantes, para que eles

tenham uma visão de mundo mais ampla e percebam que o aprendido na escola não fica

naquele espaço, mas é importante para se (con)viver em sociedade.

4 Referências Bibliográficas

CARVALHO, J. S. F. As noções de erro e fracasso no contexto escolar: algumas considerações preliminares. In: AQUINO, Julio G. (Org). Erro e Fracasso: Alternativas Teóricas e Práticas. São Paulo: Summun, 1997.

CHASSOT, A. I. Alfabetização científica: Questões e desafios para a educação. 3.ed. Ijuí: Unijuí, 2003.

HOFFMAN, J. Avaliação Mediadora - Uma Prática da Construção da Pré Escola a Universidade. 17.ª ed. Porto Alegre: Mediação, 2000.

LUCKESI, C. C. A Avaliação da Aprendizagem Escolar. 19ª. Ed. São Paulo: Cortez, 2008.

MORETTO, V. P. Prova: Um momento privilegiado de estudo, não um acerto de contas. 9º ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2010.

RAMOS, M. G.; MORAES, R. A. A Avaliação em Química: Contribuição aos processos de mediação da aprendizagem e de melhoria do ensino. In: SANTOS, W. L. P.; MALDANER, O. A. Ensino de Química em Foco. Ijuí: Ed. Unijuí, p.313-330, 2011.

SOUSA, S. M. Z. L. Avaliação escolar e democratização: o direito de errar In: AQUINO, Julio G. (Org). Erro e Fracasso: Alternativas Teóricas e Práticas. São Paulo: Summun, 1997.

Page 29: AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NO ENSINO DE QUÍMICA

29

Apêndices Tabela 01. As maneiras mais comuns de avaliar os estudantes e os benefícios de cada um.

TIPO PROVA OBJETIVA

PROVA DISSERTATIVA

SEMINÁRIO TRABALHO EM GRUPO

DEBATE

Definição

Série de perguntas diretas,

para respostas curtas, com apenas uma

solução possível

Série de perguntas que exijam

capacidade de estabelecer

relações, resumir, analisar e julgar

Exposição oral para um público,

utilizando a fala e materiais de apoio próprios ao tema

Atividades de natureza diversa

(escrita, oral, gráfica, corporal etc.) realizadas coletivamente

Momento em que os alunos expõem

seus pontos de vista sobre um

assunto polêmico

Função

Avaliar quanto o aluno apreendeu

sobre dados singulares e

específicos do conteúdo

Verificar a capacidade de

analisar o problema central, formular ideias e

redigi-las

Possibilitar a transmissão verbal das informações pesquisadas de

forma eficaz

Desenvolver a troca, o espírito colaborativo e a

socialização

Aprender a defender uma

opinião, fundamentando-a em argumentos

Vantagens

É familiar às crianças, simples de preparar e de responder e pode abranger grande parte do exposto em sala de aula

O aluno tem liberdade para

expor os pensamentos,

mostrando habilidades de organização,

interpretação e expressão

Contribui para a aprendizagem do

ouvinte e do expositor, exige

pesquisa e organização das informações e desenvolve a

oralidade

A interação é um importante

facilitador da aprendizagem e a

heterogeneidade da classe pode ser usada como um

elemento a favor do ensino

Desenvolve a habilidade de

argumentação e a oralidade e faz com

que o aluno aprenda a escutar com um propósito

Atenção

Pode ser respondida ao acaso ou de

memória e sua análise não

permite constatar quanto o aluno

adquiriu de conhecimento

Não mede o domínio do

conhecimento, cobre uma

amostra pequena do conteúdo e não

permite amostragem

Conheça as características

pessoais de cada aluno para saber como apoiá-lo em

suas principais dificuldades

Esse procedimento não o desobriga de buscar informações

para orientar as equipes. Nem deve

substituir os momentos

individuais de aprendizagem

Como mediador, dê chance de

participação a todos e não tente

apontar vencedores, pois o principal é priorizar

o fluxo de informações entre

as pessoas

Planejamento

Selecione os conteúdos para

elaborar as questões e faça

as chaves de correção. Elabore

as instruções sobre a maneira

adequada de responder às

perguntas

Elabore poucas questões e dê

tempo suficiente para que os alunos possam pensar e sistematizar seus

pensamentos

Ajude na delimitação do tema, forneça bibliografia, esclareça os

procedimentos de apresentação e

ensaie com todos os alunos

Proponha atividades ligadas

ao conteúdo, forneça fontes de

pesquisa, ensine os procedimentos e indique materiais para alcançar os

objetivos

Defina o tema, oriente a pesquisa

e combine as regras. Mostre

exemplos de bons debates. Peça

relatórios sobre os pontos discutidos. Se possível, filme

Análise

Defina o valor de cada questão e

multiplique-o pelo número de respostas corretas

Defina o valor de cada pergunta e atribua pesos à

clareza das ideias, ao poder de

argumentação e à conclusão e a

apresentação da prova

Atribua pesos à abertura, ao

desenvolvimento do tema, aos materiais

utilizados e à conclusão. Estimule

a turma a fazer perguntas e opinar

Observe se todos participaram e colaboraram e

atribua valores às diversas etapas do

processo e ao produto final

Estabeleça pesos para a pertinência da intervenção, a

adequação do uso da palavra e a obediência às

regras combinadas

Como utilizar as

informações

Veja como cada aluno está em

relação à média da classe. Analise

os itens que muitos erraram para ver se a

questão foi mal formulada ou se é preciso retomar o

conteúdo específico

Se o desempenho não for satisfatório, crie experiências e

novos enfoques que permitam ao aluno chegar à formação dos conceitos mais

importantes

Caso a apresentação não

tenha sido satisfatória, planeje

atividades específicas que

possam auxiliar no desenvolvimento dos objetivos não

atingidos

Observe como a garotada trabalha –

para poder organizar

agrupamentos mais produtivos da perspectiva da

aprendizagem dos conteúdos

Crie outros debates em grupos

menores, analise o filme e aponte as deficiências e os

momentos positivos

Page 30: AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NO ENSINO DE QUÍMICA

30

Tabela 02. Continuação da Tabela 012.

TIPO RELATÓRIO INDIVIDUAL

AUTOAVALIAÇÃO OBSERVAÇÃO CONSELHO DE CLASSE

Definição

Texto produzido pelo aluno depois de

atividades práticas ou projetos temáticos

Análise oral ou por escrito que o aluno faz do próprio

processo de aprendizagem

Análise do desempenho do aluno em fatos do

cotidiano escolar ou em situações planejadas

Reunião liderada pela equipe pedagógica de

determinada turma

Função

Averiguar se o aluno adquiriu os

conhecimentos previstos

Fazer o aluno adquirir capacidade de analisar o

que aprendeu

Obter mais informações sobre as áreas afetiva, cognitiva e psicomotora

Trocar informações sobre a classe e sobre

cada aluno para embasar a tomada de

decisões

Vantagens

É possível avaliar o real nível de

apreensão de conteúdos depois de

atividades coletivas ou individuais

O aluno só se abrirá se sentir que há um clima de

confiança entre o professor e ele e que esse

instrumento será usado para ajudá-lo a aprender

Perceber como o aluno constrói o conhecimento, seguindo de perto todos

os passos desse processo

Favorece a integração entre professores, a

análise do currículo e a eficácia das propostas

e facilita a compreensão dos fatos

pela troca de pontos de vista

Atenção

Não importa se você é professor de

Matemática, Ciências ou Língua Portuguesa.

Corrigir os relatórios (gramática e

ortografia) é essencial sempre

O aluno só se abrirá se sentir que há um clima de

confiança entre o professor e ele e que esse

instrumento será usado para ajudá-lo a aprender

Faça anotações na hora, evite generalizações e

julgamentos subjetivos e considere somente os

dados fundamentais no processo de

aprendizagem

Faça observações objetivas e não rotule o aluno. Cuidado para a reunião não virar só uma confirmação de

aprovação ou reprovação

Planejamento

Uma vez definidos os conteúdos, promova

atividades que permitam à turma

tomar notas ao longo do processo para que todos consigam redigir

facilmente

Forneça um roteiro de autoavaliação, com as

áreas sobre as quais você gostaria que ele

discorresse. Liste conteúdos, habilidades e

comportamentos

Elabore uma ficha com atitudes, habilidades e

competências que serão observadas. Isso vai auxiliar na percepção global da turma e na

interpretação dos dados

Conhecendo a pauta de discussão, liste os

itens que pretende comentar. Todos

devem ter direito à palavra para enriquecer o

diagnóstico dos problemas

Análise

Estabeleça pesos para cada item a avaliar (conhecimento dos

conteúdos, estrutura do texto,

apresentação)

Use esse documento ou depoimento como uma

das principais fontes para o planejamento dos próximos conteúdos

Compare as anotações do início do ano com as

mais recentes para perceber no que o aluno

avançou e no que precisa de acompanhamento

O resultado final deve levar a um consenso

em relação às intervenções

necessárias no processo de ensino e

aprendizagem

Como utilizar as

informações

Cada relatório é um excelente indicador do

ponto em que os alunos se encontram na compreensão dos

conteúdos trabalhados

Ao tomar conhecimento das necessidades do

aluno, sugira atividades individuais ou em grupo

para ajudá-lo a superar as dificuldades

Esse instrumento serve como uma lupa sobre o

processo de desenvolvimento do aluno e permite a elaboração de intervenções específicas

para cada caso

Use essas reuniões como ferramenta de

autoanálise. A equipe deve prever mudanças tanto na prática diária

como no currículo e na dinâmica escolar,

sempre que necessário

2 Tabelas retiradas do artigo A avaliação deve orientar a aprendizagem, publicado na Revista Nova Escola, Editora Abril, em Janeiro de 2009. Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br. Acessado em: 10 de maio de 2015.

Page 31: AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NO ENSINO DE QUÍMICA

31

Anexo

Roteiro para a entrevista semiestruturada realizada com os professores do Ensino Médio e Superior

1) DESCREVA o que você compreende por avaliação no ensino de Química? Qual a importância dela no processo de ensino e aprendizagem?

2) Quais os principais tipos de avaliações são utilizadas por você?

3) O que você entende por avaliação somativa e formativa? Qual a importância delas no trabalho do professor?

4) Na sua opinião, qual a maior dificuldade enfrentada pelos estudantes durante as avaliações (interpretação das questões, falta de compreensão conceitual e atenção, deficiência na matemática etc.)?

5) Você acredita que a avaliação pode favorecer o desenvolvimento de habilidades atitudinais? De que forma?

6) Quais as principais estratégias de ensino utilizadas por você para facilitar a aprendizagem da Química (aulas experimentais, demonstração, vídeos, modelos concretos etc.)? Como essas estratégias são articuladas nas avaliações?

7) Você costuma cobrar na avaliação somente questões conceituais abordadas nas aulas ou busca apresentar situações problemas que levam os estudantes a pensarem na Química de forma mais ampla?

8) Quais são as maiores dificuldades encontradas por você para elaborar uma avaliação?

9) Quais os critérios de correção utilizados para as questões abertas?

10) Quando os estudantes fracassam em alguma avaliação, as dificuldades conceituais apresentadas por eles são retomadas nas aulas? De que forma isso é feito? Quais as estratégias são utilizadas?

11) Você acredita que a avaliação pode favorecer a aprendizagem dos estudantes? De que forma?