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Avaliação da cadeia trófica em dois ecossistemas de grande profundidade do Oceano Pacífico Andreia Filipa Campos Alves Mestrado de Recursos Biológicos Aquáticos Departamento de Biologia 2015 Orientador Doutora Teresa Amaro, Investigadora pós-doutoramento, HCMR Coorientador Doutora Sandra Ramos, Investigadora pós-doutoramento, CIIMAR

Avaliação da cadeia trófica em dois ecossistemas de … · a abundância, diversidade, riqueza específica foram calculadas e atribuída a posição trófica na cadeia alimentar

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Avaliação da cadeia trófica em dois ecossistemas de grande profundidade do Oceano Pacífico

Andreia Filipa Campos Alves

Mestrado de Recursos Biológicos Aquáticos Departamento de Biologia 2015

Orientador Doutora Teresa Amaro, Investigadora pós-doutoramento, HCMR

Coorientador Doutora Sandra Ramos, Investigadora pós-doutoramento, CIIMAR

Todas as correções determinadas pelo júri, e só essas, foram efetuadas.

O Presidente do Júri,

Porto, ______/______/_________

“Costumávamos pensar que o nosso destino estava escrito nas estrelas. Hoje

sabemos que em grande parte, ele está nos nossos genes.”

James Watson

i

Agradecimentos

A dissertação de mestrado aqui apresentado é o culminar de um trabalho que só

foi possível devido ao empenho e dedicação de inúmeras pessoas, que de uma forma

ou outra, tiveram um papel muito importante. Como tal, gostaria de agradecer:

aos meus orientadores, Doutora Teresa Amaro e Doutora Sandra Ramos, que me

acompanharam ao longo deste trabalho contribuindo de forma exemplar para a minha

formação cientifica e pessoal, permitindo-me adquirir as mais variadas competências.

Pelo seu profissionalismo, espirito crítico e bom humor, um muito obrigado,

ao Professor Doutor Aires Teles, coordenador de Mestrado de Recursos Biológicos

Aquáticos, por sempre ter facilitado as meios necessários para realização deste

mestrado,

à Doutora Ascensão Ravara, pela sua colaboração que foi fundamental para a

identificação da macrofauna,

ao Doutor Hidetaka Nomaki por possibilitar a realização deste Projeto, pela sua

disponibilidade e colaboração,

ao projeto Pest-C/MAR/LA0015/20, SFRH/BPD/26782/2006 e Marie Curie Actions

através do projeto CEFMED (nº 327488),

a todos os membros do laboratório CIIMAR, que de alguma maneira contribuíram

para a realização deste estudo,

à minha avó, que já não se encontra entre nós, mas que foi uma fonte de

inspiração constante ao longo de todo este trabalho, por todas as qualidades que a

caracterizavam,

ii

aos meus pais, a minha irmã, ao André e aos restantes familiares pela

compreensão, pelo carinho e pelo apoio incondicional que demostraram para comigo

ao longo deste tempo, sem eles este percurso teria sido mais difícil,

aos meus amigos, Nita, Mi e Di, agradeço pelo apoio e carinho, paciência e

amizade, principalmente nos momentos mais difíceis,

ao Gui por fazer parte da minha vida, me fazer sorrir e nunca me deixar desistir,

A todos um muito obrigado!!!

iii

Até ao momento, deste trabalho resultaram duas comunicações (poster) em

reuniões científicas: 1. no Projeto Pluridisciplinares e 2. no Congresso Internacional de

Aveiro “14th Deep-Sea Biology Symposium”.

Póster científico:

Alves, A., Ramos, S., Ravara, A., Amaro, T. (2015). Benthic Macrofaunal

Communities Differences Between Oligotrophic and Eutrophic Abyssal Habitats: A

Case Study of the West Pacific. IJUP – Investigação Jovem na Universidade do Porto

– Projeto Pluridisciplinar, Maio 2015.

Alves, A., Ramos, S., Nomaki, H., Ravara, A., Amaro, T. (2015). Feeding

Preferences of Abyssal Macrofauna Inferred from in situ Pulse Chase Experiments in

the West Pacific. 14th DSBS. Aveiro, Setembro 2015. (comunicação em poster).

iv

Resumo

O ecossistema do mar profundo é o mais extenso ecossistema na terra e cobre

60% da superfície do planeta. O biota associada aos substratos consolidados e não

consolidados, também conhecido como bentos, é altamente diverso e complexo, e tem

um papel fundamental no fluxo de energia, em diferentes níveis tróficos das cadeias

alimentares. Assim, as comunidades bentónicas alimentam-se de matéria orgânica em

suspensão ou depositada no sedimento. Neste contexto, o presente estudo teve como

objetivos caracterizar as comunidades da macrofauna bentónica de dois habitats do

mar profundo do Pacifico ocidental e verificar a resposta destas comunidades face à

presença de diferentes alimentos (cianobactérias e diatomáceas). Para tal, foram

analisadas organismos de dois habitats diferentes do Pacifico ocidental: eutrófico (alto

teor de matéria orgânica - 39⁰00N, 146⁰00E, profundidade da água: 5256 metros) e

oligotrófico (baixo teor de matéria orgânica - 1⁰15N, 163⁰15E, profundidade da água:

4277 metros), recolhidos pelo submarino Shinkai 6500. A diversidade da macrofauna

foi estudada através das abundâncias de seis frações de profundidades (0-1; 1-2; 2-3;

3-5; 5-10 e 10-15 cm). Após identificação até ao nível taxonómico mais baixo possível,

a abundância, diversidade, riqueza específica foram calculadas e atribuída a posição

trófica na cadeia alimentar de cada taxa identificado. A posição trófica da cadeia

alimentar foi inicialmente determinada através da classificação do grupo trófico

funcional de acordo com a informação disponível na literatura e, posteriormente

comprovada através da análise de isótopos estáveis. Os resultados evidenciaram que

no habitat eutrófico a abundância média (1320±277 ind./m2), foi mais elevada com 23

diferentes taxa sendo os Nematoda o grupo mais abundante (74%). Em contraste, no

habitat oligotrófico, a abundância foi em média inferior (83±61 ind./m2) com apenas 6

diferentes taxa identificados, sendo o filo Artropoda o mais abundante (38%). Para

avaliar a resposta da macrofauna a dois tipos de alimentos foi realizada uma

experiencia in situ de modo a simular um bloom de fitoplâncton. Assim, as

comunidades de cada habitat foram injetadas com dois tipos distintos de alimento

(cianobactérias e diatomáceas) marcados radioactivamente, durante um período curto

e longo de incubação. Através da análise de isótopos estáveis, os resultados não

foram conclusivos para o habitat oligotrófico. No entanto, para o habitat eutrófico

verificou-se existir preferência pelas diatomáceas, tanto no período curto, como no

longo de incubação. Este estudo contribuiu para o aumento do conhecimento científico

v

do funcionamento trófico das comunidades de macrofauna bentónica das planícies

abissais do Pacifico profundo.

vi

Abstract

The deep-sea floor ecosystem is the largest ecosystem on Earth, covering about

60% of the globe surface. The biota associated with consolidated and unconsolidated

substrates is highly diverse and complex, and has a fundamental role for the energy

flow at different trophic levels of the food web. Deep benthic and pelagic communities

feed of organic matter sinking through the ocean interior from the euphotic zone. The

content of available organic matter controls the benthic communities, working as a

major environmental driver. To examine the response of abyssal benthic communities

to different food resources we simulated a food sedimentation event containing

diatoms and cyanobacteria at two stations in the Western Pacific. In this context, the

benthic macrofaunal communities at two different habitats of western Pacific were

analysed: one eutrophic (high organic matter content; 39˚00N, 146 ˚00E, water depth:

5256 m) and another oligotrophic (low organic matter content; 1˚15N, 163˚15E, water

depth: 4277 m), collected within Shinkai 6500 submarine. The macrofauna abundance

was studied along six depth layers, namely 0-1, 1-2, 2-3, 3-5, 5-10 and 10-15 cm. After

identification until the possible lowest taxonomic level, abundance, diversity, richness

and trophic position in the food web were calculated. The trophic position in the food

web was initially determined by classification of the functional trophic group according

to the information available in the literature, and later by analysis of stable isotopes.

Mean abundance ranged between 83±61 ind./m2 in the oligotrophic station and

1320±277 ind./m2 in the eutrophic station. Species richness also varied, with 23 taxa

observed at the eutrophic habitat and only 6 taxa in the oligotrophic habitat. At each

sampling station we simulated a food sedimentation event containing labeled

cyanobacteria and diatoms during two incubation periods (short and long). We found

no evidence for selective ingestion of the different food at the oligotrophic habitat,

whereas at the eutrophic habitat, the community seems to have preference for diatoms

during both short and long incubation periods. This study contributed to increase our

scientific knowledge of deep Pacific benthic communities, and understanding of their

trophic functioning.

vii

Índice

CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 1

1.1 – O mar profundo ........................................................................................................... 2

Planícies abissais ....................................................................................................................... 4

Fontes hidrotermais ................................................................................................................... 4

Canhões Submarinos ................................................................................................................ 5

Montes submarinos .................................................................................................................... 7

Fontes Frias ................................................................................................................................. 7

1.2 – O estudo das comunidades bentónicas do mar profundo na planície

abissal ..................................................................................................................................... 8

1.2.1 – Métodos de amostragem em mar profundo ................................................. 9

1.3 – Objetivo ....................................................................................................................... 14

CAPÍTULO II – MATERIAL E MÉTODOS ........................................................................................ 14

2.1 – Locais de amostragem ............................................................................................ 15

2.2 – Experiências in situ ................................................................................................. 17

2.3 – Amostragem .............................................................................................................. 18

2.4 – Tratamento laboratorial .......................................................................................... 19

2.5 – Análise de dados ...................................................................................................... 21

CAPÍTULO III – RESULTADOS ....................................................................................................... 24

3.1 – Estrutura da comunidade de macrofauna ......................................................... 25

3.2 – Posição trófica .......................................................................................................... 29

3.3 Estudo do alimento preferencial da macrofauna ................................................ 31

CAPÍTULO IV – DISCUSSÃO ......................................................................................................... 33

CAPÍTULO V – CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 37

CAPÍTULO VI – BIBLIOGRAFIA ..................................................................................................... 39

viii

Lista de Figuras

Figura 1 - Esquema representativo das diferentes zonas e regiões que constituem os

oceanos adaptado de http://www.geoprof.org/mar_prof.php .............................................. 3

Figura 2 - Fontes hidrotermais mais exploradas .................................................................. 5

Figura 3 - Principais equipamentos utilizados na amostragem de organismos

bentónicos A – Multicorer; B – Submersível; C – Boxcorer .............................................. 10

Figura 4 - Cadeia alimentar do meio aquático (modificado de Andréa et al., 2007) ..... 12

Figura 5 - Topografia do Oceano Pacífico – adaptado (Wishner et al., 1995) .............. 15

Figura 6 - Representação dos dois locais de amostragem - campanhas YK 13-09/12 e

YK 14-06/12. ............................................................................................................................. 16

Figura 7 - Desenho Experimental ......................................................................................... 18

Figura 8 - Corer fracionado em seis frações de profundidade ......................................... 19

Figura 9 - Exemplares de macrofauna bentónica encontrados no Oceano Pacifico

entre Julho e Setembro 2013 e Maio e Julho 2014. A – Ostracoda; B – Isopoda; C –

Cumacea; D- Copepoda; E – Sipuncula; F – Nematoda; G – Bivalve; H –

Chrysopetalidae; I – Capitellida; J - Phyllodocidae; K – Fauveliopsidae; L –

Sabelliriidae; M – Cirratulidae; N – Spionidae; O – Terebellidae. ............................ 20

Figura 10 - Percentagem da abundância total dos grupos funcionais para cada local

de amostragem (eutrófico versus oligotrófico) ..................................................................... 25

Figura 11 - Percentagem da abundância relativa da família de poliquetas para cada

local de amostragem (eutrófico versus oligotrófico) ........................................................... 26

Figura 12 - Abundância de poliquetas por grupos funcionais para o local eutrófico e

oligotrófico A classificação das poliquetas em grupos funcionais foi baseada em

Fauchald e Jumars (1979). ..................................................................................................... 27

Figura 13 - Distribuição vertical da abundância total da comunidade de macrofauna no

controlo, nº de cores=4. ........................................................................................................... 28

Figura 14 - Índices de diversidade da macrofaua bentónica do Oceano Pacífico, entre

Julho e Setembro 2013 e Maio e Julho de 2014. H´- Shannon Wiener; J´-

Equitabilidade; d - Riqueza Específica ................................................................................. 28

Figura 15 - Análise isotópica (13C, 15N) do controlo do A - local oligotrófico, B - local

eutrófico. .................................................................................................................................... 30

ix

Figura 16 - Incorporação de cianobactérias (A,B) e diatomáceas (C) durante o período

curto (A,C) e longo (B) no local oligotrófico. ........................................................................ 31

Figura 17 - Incorporação de cianobactérias (A,B) e diatomáceas (C,D) durante o

período curto (A,C) e longo (B,D) no local eutrófico........................................................... 32

x

Lista de Tabelas

Tabela 1 - Resultados das análises ANOSIM e SIMPER entre os dois locais de

amostragem (eutrófico vs oligotrófico). ................................................................................. 29

CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO

Introdução

2

1.1 – O mar profundo

Os ambientes marinhos são os maiores habitats na Terra, sendo os oceanos

responsáveis por cobrirem cerca de 70% da superfície do planeta. São extremamente

diversos com diferentes teores de salinidade e grandes variações de pressão e

temperatura (Kennedy et al., 2010).

O oceano pode ser dividido verticalmente e horizontalmente, de acordo com as

características físicas e biológicas de cada secção. No meio marinho, a luz solar

consegue penetrar até aproximadamente 200 metros (Galand et al., 2010), enquanto

que a profundidades maiores, não há praticamente luz. Assim, a topografia dos

oceanos é tipicamente dividida em várias zonas: (1) região fótica que cobre os

oceanos a partir do nível da superfície até 200 metros de profundidade – zona

epipelágica (Galand et al., 2010); (2) região disfótica caracterizada por fraca

iluminação e, embora ainda haja alguma luz esta não é suficiente para a realização da

fotossíntese - zona mesopelágica (200-1000 metros de profundidade) (Barange et al.,

2010)) e (3) região afótica camada profunda dos ecossistemas aquáticos onde não há

ação direta da luz solar – zona batipelágica (1000-3000 metros de profundidade),

abisopelágica ou abissal (3000-6000 metros de profundidade) e zona hadopelágica ou

hadal com mais de 6000 metros de profundidade (Barange et al., 2010; Galand et al.,

2010) (Figura 1).

Gage & Tyler, (1991), descrevem que o mar profundo começa no declive abrupto

da plataforma, aproximadamente nos 200 metros de profundidade (transição da fauna

de águas superficiais para o mar profundo) e, é caracterizado por um vasto ambiente,

que cobre mais de 65% da superfície terrestre (Sverdrup et al., 1942; Sanders et al.,

1965; Hessler & Jumars, 1974; Merrett, 1989). Apesar das condições neste ambiente

serem extremas, com altas pressões, baixas temperaturas e pequena disponibilidade

de alimento, o mar profundo pode ser caracterizado como um ambiente fisicamente

estável (Sanders, 1968). Embora a área total estudada seja ainda muito pequena, o

conhecimento do mar profundo tem aumentado significativamente durante as últimas

décadas (Cochonat et al., 2007).

Introdução

3

Os primeiros estudos dos ecossistemas marinhos de grande profundidade

(Sanders et al., 1965; Sanders & Hessler, 1969) tiveram como objetivo principal

descrever e explicar a biodiversidade existente nessas regiões (Brandt et al., 2004).

No século XX observaram-se desenvolvimentos notáveis no domínio da

investigação dos oceanos, nas tecnologias submarinas e na acústica, ocorridas

durante a 2ª Guerra Mundial. Multiplicaram-se os cruzeiros científicos e nos anos 60,

com o submersível americano Alvin, iniciou-se uma nova era da investigação do

oceano profundo com acesso a sistemas de visualização. Nos anos 80 surgem outros

submersíveis com capacidades para mergulhar abaixo dos 4000 metros de

profundidade, como o Nautile da França, os MIR da União Soviética e o Shinkai do

Japão. Entretanto com o desenvolvimento das tecnologias robóticas várias outras

plataformas começaram a estar disponíveis para a investigação oceanográfica.

Desta forma, um grande número de habitats foi descoberto, como canhões, montes

submarinos, recifes, fontes hidrotermais e fontes frias, que suportam comunidades

microbianas e faunísticas únicas (Van Dover, 2000; Barry et al., 2002; Brandt et al.,

2007; Roberts, 2009; Tyler et al., 2009).

Figura 1 - Esquema representativo das diferentes zonas e regiões que constituem os oceanos adaptado de http://www.geoprof.org/mar_prof.php

Introdução

4

Planícies abissais

A planície abissal é uma área extensa dos fundos oceânicos com topografia suave

e plana, normalmente coberta por sedimentos pelágicos, situadas entre os 4000 e os

6000 metros de profundidade (Tyler, 2003). Nas planícies abissais podem existir

depressões designadas por fossa, que apresentam grandes profundidades, podendo

mesmo ultrapassar os 11000 metros. Podem ainda existir ilhas e colinas formadas

pela acumulação de materiais vulcânicos emitidos por vulcões submarinos (Smith &

Demopoulos, 2003).

Até aos cinco mil metros de profundidade, a fina textura dos sedimentos é formada

pela deposição das carapaças de microrganismos calcários, como os de foraminíferos

e de certas algas. Abaixo dessa profundidade, o sedimento mais comum é a de

natureza silicosa, formada a partir das carapaças de diatomáceas que afundam desde

a superfície. A grande parte do sedimento nas planícies abissais é depositado a partir

das margens continentais ao longo dos canhões submarinos

Fontes hidrotermais

As fontes hidrotermais são uma espécie de vulcões submarinos, que podem atingir

temperaturas na ordem dos 300ºC proporcionando inúmeras formas de vida, e

aparecem geralmente associadas aos rifts oceânicos ou a zonas de subducção.

Foram descobertas em 1977 e que estão normalmente situadas abaixo de dois mil

metros de profundidade em regiões de fundo oceânico com atividade vulcânica. A

biologia e a fisiologia das comunidades bentónicas em torno das fontes hidrotermais

profundas estão relativamente bem estudadas, no entanto, existe pouca informação

sobre o efeito de fontes hidrotermais de baixa profundidade no ecossistema

(Thiermann et al., 1997).

Atualmente estas áreas tem sido exploradas ativamente e cada vez mais fontes

hidrotermais são descobertas. O submersível Alvin desde de 1977 tem sido utilizado

como meio para as descobrir e catalogar e, já efetuou mais de 1000 mergulhos.

Devido ao cariz provisório das fontes hidrotermais torna-se difícil identificar

concretamente o local onde estas áreas se encontram, pois muitas das que já foram

identificadas já colapsaram e muitas estarão a surgir neste momento. Alguns dos

Introdução

5

sítios mais estudados situam-se no mar Egeu (Dando et al., 1995), na Baía de Plenty,

Nova Zelândia (Pichler & Dix, 1996), na cumeeira de Kolbeinsey, na Islândia (Botz et

al., 1996), em Kraternaya Bight, nas Ilhas Kurile (Tarasov et al., 1990), no porto de

Matupi, na Baía de Tatum, na Papua Nova Guiné (Pichler et al., 1999; Tarasov et al.,

1999) e a região subpolar de baixa profundidade na cumeeira do médio Atlântico

(Fricke et al., 1989) (Figura 2).

A alteração do ambiente por influência das fontes hidrotermais ocorrem tanto em

fontes hidrotermais de elevada profundidade, como nas de baixa profundidade, e têm

um efeito significativo no habitat bentónico. No entanto, o seu efeito na coluna de água

é bastante diferente. Normalmente, o efeito das fontes hidrotermais profundas é

restrito a uma zona muito estreita em proximidade imediata com a descarga ou com a

pluma, ocorrendo um efeito semelhante em áreas abertas com fontes hidrotermais de

baixa profundidade. Em contraste, fontes hidrotermais de baixa profundidade semi-

isoladas ou em baías, têm a camada de água perto do fundo e/ou da superfície entre

0-0,5 m de profundidade afetados pelos fluidos termais (Tarasov et al., 1999).

Canhões Submarinos

Os canhões submarinos são sistemas complexos e heterogéneos. Apresentam

uma forma típica em V, com gargantas estreitas e vertentes muito inclinadas. O

Figura 2 - Fontes hidrotermais mais exploradas

Introdução

6

comprimento médio é de 50 km e, muito embora a maioria tenha poucos quilómetros

de comprimento, existem alguns com cerca de 200 a 300 km de extensão. Assim, até

ao presente o canhão submarino mais extenso possui cerca de 442 km. Estas

estruturas atingem grandes profundidades, estando muitas vezes abaixo dos 3000

metros de profundidade (Shepard & Milliman, 1978).

Os canhões submarinos embutidos na margem continental funcionam como vias

de drenagem de materiais (sedimento, lixo, etc.) do continente para a planície abissal,

e a sua eficácia depende, entre outros fatores, da distância ao litoral a que estão

definidas as suas cabeceiras e da área de plataforma que os influenciam diretamente.

Este tipo de incisões está frequentemente associado a diversos condicionalismos

energéticos (upwelling e acumulação de energia das ondas internas) com capacidade

de transferir os sedimentos acumulados na plataforma, bordo e vertente continental

superior, para a planície abissal. No caso de canhões cuja cabeceira esteja muito

próxima da orla litoral, a sua morfologia tem uma influência significativa sobre os

processos costeiros, como a hidrodinâmica da zona costeira (ex. ondas gigantes,

tsunamis) e o transporte sedimentar (ex. o Canhão Submarino da Nazaré) (Masson et

al., 2011). Além disso, a presença de canhões submarinos afeta fortemente a

circulação e a produtividade oceânica, bem como a distribuição da cobertura

sedimentar de fundo, sendo estas estruturas um dos principais mecanismos de

transferência de massa, entre a zona costeira e o oceano profundo (grandes

transferências catastróficas de massa são despoletadas, por exemplo, pela atividade

neotectónica, sendo que estas depressões submarinas tendem a guiar as correntes de

massa descendentes até às planícies abissais).

Recentemente foram feitos vários estudos focados nos habitats bentónicos

associados aos canhões submarinos e foi descoberto que devido às características

oceanográficas, geológicas anteriormente descritas, estas estruturam contém uma

diversidade elevada e por conseguinte são considerados, muitas vezes, áreas de

hotspot de biodiversidade, não só ao nível de organismos bentónicos (Tyler et al.,

2009; Amaro et al., 2010; De Leo et al., 2010), como populações de peixes

comercialmente importantes ao homem (Company et al., 2008; Würtz, 2012).

Introdução

7

Montes submarinos

Os montes submarinos são estruturas conspícuas, normalmente com flancos

abruptos e uma forma cónica de base circular, elíptica ou mais alongada. Do ponto de

vista geológico são formações que emergem do leito do oceano, geralmente de origem

vulcânica e frequentemente associados como hotspots de biodiversidade do fundo do

mar. Apesar de existirem milhares de montanhas submarinas estes sistemas são

pouco estudados (Gubbay & Deutschland, 2003). Atualmente são conhecidos cerca de

100 000 montes submarinos, dos quais 14 000 são de grandes dimensões (Pitcher et

al., 2008) e, em apenas 200 destes 14 000 montes submarinos foram recolhidas

amostras (Stocks et al., 2004). As correntes que circundam os montes submarinos e

as superfícies rochosas expostas dos mesmos oferecem condições ideias para

animais filtradores, que tendem a dominar a zona bentónica. No Oceano Atlântico

existem pelo menos 800 montes submarinos de grandes dimensões, a maioria deles,

associada à Crista Média Atlântica mas também na zona a oeste de Portugal

Continental (Gubbay & Deutschland, 2003).

Os montes são de natureza rochosa e podem possuir fissuras, falhas, canhões,

mas é frequente a acumulação de sedimentos biogénicos (Gubbay & Deutschland,

2003). O relevo dos montes submarinos tem efeitos profundos sobre a circulação

oceânica circundante, como a formação de ondas retidas, jatos, turbilhões e as

circulações fechadas conhecidas como colunas de Taylor (Rogers, 2004). Os montes

podem ser divididos (a) pouco profundos, quando o cume se encontra na zona fótica;

(b) intermédio, quando o cume se encontra entre o limite inferior da zona fótica e a

profundidade de migração diurna do zooplâncton (aproximadamente 400m) e (c)

profundos, quando o cume está abaixo dos 400 m sem efeito da luz (Pitcher et al.,

2008). Os montes são caracterizados por uma elevada biodiversidade e pensa-se que

os que se aproximam mais da superfície são importantes por facilitarem a dispersão

das espécies nos oceanos agindo como pontos de passagem (stepping stones) para

espécies nas suas rotas de colonização (Gubbay & Deutschland, 2003).

Fontes Frias

As fontes frias encontram-se entre os ambientes redutores mais geologicamente

diversos explorados até à data. Estão dispersos globalmente, ocorrendo em todas as

Introdução

8

margens continentais (tectonicamente ativas e passivas), e mesmo em lagos e mares

interiores. São conhecidas fontes frias desde profundidades inferiores a 15 m até

profundidades superiores a 7400 m (no Fosso do Japão). As fontes frias encontram-se

com frequência ao longo de fraturas na crista de colinas, nas escarpas baixas e nos

afloramentos planos, além de zonas de falha associadas a tectónicas salinas em

margens continentais passivas (Gibson et al., 2005).

Estes locais são semelhantes às fontes hidrotermais (excetuando no que respeita à

temperatura), com comunidades caracterizadas por uma produção primária quimio-

autotrófica e com associações simbióticas entre bactérias eucariotas. O metano e o

sulfureto são as principais fontes de energia, são oxidados por espécies bacterianas

na presença de oxigénio (ou possivelmente nitrato). As altas concentrações de

metano, hidrocarbonetos ou sulfureto podem estar presentes no fluido, sendo que as

concentrações e o fluxo têm grandes efeitos na composição da comunidade quimio-

autotrófica adjacente (Solem, 1997). O metano existente nas fontes frias pode ser

biogénico (microbiano) ou termogénico na sua origem. As taxas de 13C/12C diferem

entre os mecanismos, com o metano biogénico a ter menores quantidades de 13C na

sua assinatura. Em sedimentos anóxicos controlados por difusão, todo o metano

produzido por metanogénese é oxidado na zona de transição metano/sulfato e nunca

alcança as águas do fundo. Nas fontes frias, a água saturada de metano existente nos

poros do sedimento é transportada na direção da superfície do sedimento e a grande

disponibilidade de metano leva a taxas mais altas de Oxidação Anaeróbica de Metano

na superfície dos sedimentos (Gibson et al., 2005).

1.2 – O estudo das comunidades bentónicas do mar profundo na planície abissal

As comunidades bentónicas são compostas por organismos que têm contato com

o substrato em pelo menos uma etapa do seu ciclo de vida, ou apresentam uma íntima

relação com ele. A estrutura das comunidades é influenciada pela competição entre as

espécies que a compõem, sendo o espaço e o alimento os recursos mais limitantes.

Deste modo, desempenham um papel importante e fundamental na estrutura física

dos seus habitats e nos processos ecológicos e biogeoquímicos destes ecossistemas

(Thrush & Dayton, 2002).

Introdução

9

As comunidades bentónicas podem ser classificadas ou catalogadas em diferentes

grupos funcionais, em função das suas dimensões, biótopos, distribuição vertical e

nutrição (Levinton, 2001). De acordo com o habitat preferencial os organismos

bentónicos podem ser classificados em: infauna (ou endofauna) que incluem todos os

organismos bentónicos que escavam substrato ou encontram-se enterrados no

sedimento ou rochas; e epifauna que é composta por espécies que vivem ou

deslocam-se sobre o substrato (Gray & Elliott, 2009). Relativamente ao tamanho,

podem ser identificados em várias categorias: (1) megafauna - organismos maiores

que 1 cm; (2) macrobentos – organismos maiores do que 0,5 milímetros; (3)

meiobentos ou mesobentos - organismos maiores do que 0,062 milímetros; (4)

microbentos - organismos menores do que 0,062 milímetros (Eleftheriou & Holme,

1984).

1.2.1 – Métodos de amostragem em mar profundo

Os métodos de estudo das comunidades bentónicas do oceano profundo são muito

variados e adaptados ao tipo de substrato e profundidade do local. Alguns

equipamentos são apropriados para realizar amostragens quantitativas, enquanto que

outros servem somente para amostragem qualitativa (tipo de engenho a utilizar,

estratégia de amostragem, evitar os organismos a amostrar, migrações verticais,

microdistribuição, evitamento, extrusão, colmatagem, etc.) (Nybakken, 1993). Nas

últimas décadas, com o avanço da tecnologia oceânica e robótica, têm sido

desenvolvidos aparelhos, com ou sem tripulação, capazes de alcançar grandes

profundidades (Gage & Tyler, 1991).

No entanto, o uso de submersíveis ou câmaras controladas para descer a milhares

de metros de profundidade é uma metodologia muito dispendiosa o que limita os

estudos do fundo marinho. Outra limitação prende-se com as densidades dos

organismos bentónicos, sendo por isso necessário recolher um grande número de

amostras para quantificar de forma representativa a biodiversidade existente. As

técnicas mais utilizadas para a amostrar organismos bentónicos são os corers

(boxcorer, multicorer, megacorer), dragas e redes de arrasto. A técnica de filmagem

Introdução

10

também é um método bastante utilizada para pontos com elevadas profundidades

(Figura 3).

Os corers são normalmente usados para amostrar sedimentos para serem

analisados a nível químico, geo-quimico e biológico e permitem amostrar os

sedimentos de uma forma quantitativa. O boxcorer permite amostrar uma área maior

(600 a 2500 cm2) e a camadas mais profundas (penetração de 50 cm), mas a

qualidade da amostra é menor, especialmente nas camadas mais superficiais. Os

multicorers podem ter 4 a 8 tubos (Diâmetro 6 cm, comprimento 80 cm). Enquanto que

a qualidade da amostra é excelente, a área é bem menor e permite amostrar a uma

profundidade tão grande no sedimento. Embora, tenham tubos maiores em

comprimento do que as boxcorers, a penetração máxima não vai além dos 20 cm. São

mais usados para amostragens dos meiobentos e microbentos, enquanto que os

megacorers (tubos diâmetro 11 cm) são usados para a macrofauna. As dragas são

armações pesadas de metal que são arrastadas sobre o fundo marinho, enquanto os

materiais vão sendo depositados em sacos de forma cónica.

Figura 3 - Principais equipamentos utilizados na amostragem de organismos bentónicos A – Multicorer; B – Submersível; C – Boxcorer

Introdução

11

A composição específica dos ecossistemas varia entre regiões, mas os princípios

de transferência energética entre os diferentes componentes da cadeia, desde os

organismos fotossintéticos e os sucessivos níveis tróficos, são similares em todos os

oceanos (Pope & Knights, 1982; Daan, 1986). A macrofauna é uma componente

chave dentro dos ecossistemas aquáticos, uma vez que participa intensamente nas

atividades de manutenção e regulação dos processos do ecossistema, como

decomposição da matéria orgânica e reciclagem de nutrientes (por bioturbação).

Adicionalmente, ocupa uma posição essencial nas cadeias alimentares aquáticas, por

serem os principais consumidores secundários (Nybakken, 1993). No entanto, podem

também incluir espécies detritívoras e, assim, representam um elo fundamental entre

as cadeias de detritos e de cadeia trófica mais elevada. Devido à ação destes

invertebrados, os detritos são transformados em partículas menores, aumentando a

área disponível para colonização por microrganismos decompositores (Pomeroy,

1980). Deste modo, indiretamente aceleram a decomposição dos detritos e, portanto,

a disponibilização de nutrientes minerais para os produtores (Anderson & Cargill,

1987). Devido à sua grande dependência dos detritos, não apenas como alimento,

mas também como habitat, a disponibilidade e a qualidade da matéria orgânica estão

entre os principais fatores que interferem na estrutura das comunidades

macrobentónicas (Rich & Wetzel, 1978), juntamente com a concentração de oxigênio

dissolvido na água e a granulometria do substrato (Brinkhurst, 1970).

As cadeias alimentares não são sequências isoladas, estão interligadas, e o

padrão de interconexões denomina-se rede alimentar ou rede trófica. Em

comunidades naturais complexas diz-se que os organismos que obtêm o seu alimento

através do mesmo número de estágios pertencem ao mesmo nível trófico (Figura 4).

Introdução

12

A análise de isótopos estáveis (principalmente de carbono (δ13C) e azoto (δ15N)

tem sido amplamente utilizada no estudo da ecologia ao nível dos ecossistemas

(Michener & Kaufman, 2007). Esta ferramenta tem contribuído significativamente para

caracterizar e comparar cadeias tróficas em zonas distintas (Froneman, 2001;

Winemiller et al., 2007; Baeta et al., 2009; Faye et al., 2011;), avaliar a influência

antropogénica nas cadeias tróficas destes sistemas e, mais recentemente, para

caracterizar o nicho trófico de comunidades ou espécies (Martínez de Rio et al., 2009;

Vander Zanden et al., 2013) ou determinar a proporção de presas que contribuem

para a dieta de uma espécie (Newsome et al., 2012).

A teoria em torno das técnicas dos isótopos estáveis revela que os principais

elementos dos produtos encontrados na natureza existem também espontaneamente

na sua forma isotópica. Assim, o mesmo composto químico, proveniente de diferentes

fontes, pode ser também constituído por isótopos estáveis em diferentes

concentrações naturais. A utilização deste método baseia-se na premissa de que a

razão isotópica, a proporção entre o isótopo mais pesado e o mais leve, varia de uma

forma previsível, conforme o elemento se comporta na natureza. Assim, a cada

transformação física, química e biológica por que passa a matéria orgânica, ocorre

Figura 4 - Cadeia alimentar do meio aquático (modificado de Andréa et al., 2007)

Introdução

13

uma discriminação entre os seus isótopos, possibilitando a sua utilização como

marcadores naturais (Boutton, 1991). Por exemplo, um animal ao ingerir e assimilar

um determinado alimento reflete-o no sinal isotópico dos seus tecidos. O uso de

isótopos estáveis além de determinar as fontes alimentares, pode também prover uma

contínua mensuração da posição trófica que um organismo integra, a assimilação de

energia ou fluxo de massa através das diferentes vias tróficas de um organismo (Post,

2002). A determinação da composição isotópica do tecido e as suas prováveis fontes

(alimento) fornecem informações quantitativas sobre as contribuições relativas de

cada uma dessas fontes (DeNiro & Epstein, 1978).

A assinatura de carbono é geralmente utilizada para determinar as fontes de

carbono orgânico que suportam as cadeias tróficas, ocorrendo um fracionamento de

0.4‰ ± 1.3‰ da presa para o predador (Post, 2002). Através deste isótopo é possível

avaliar a dependência da cadeia trófica em relação a fontes de energia marinhas ou

terrestres (Paterson & Whitfield, 1997), dado que os produtores primários terrestres

têm, geralmente, valores inferiores de δ13C relativamente aos produtores primários

marinhos (Michener & Kaufman, 2007).

A assinatura isotópica de azoto, cujo fator de fracionamento é de cerca de 3.4‰ ±

1‰, proporciona informação sobre a posição de uma determinada espécie na cadeia

trófica (Post, 2002). No entanto, pode também contribuir para determinar a origem da

matéria orgânica em sistemas costeiros, dado que organismos marinhos são mais

enriquecidos em δ15N que os terrestres (Michener & Kaufman, 2007), ou ainda avaliar

a influência de compostos inorgânicos à base de azoto uma vez que estes tendem a

apresentar valores de δ15N mais elevados (Finlay & Kendall, 2007). O fracionamento

isotópico do azoto pode ser influenciado por diversos fatores, como o conteúdo de

azoto da dieta, condições ambientais, grupo taxonómico e o grupo trófico (McCutchan

et al., 2003; Vanderklift & Ponsard, 2003).

Os valores ᵹ13C (13C/12C) apresentam variação quantitativa ao longo da cadeia

alimentar, sofrendo incremento de 1‰ a 2‰ a cada nova posição em relação à cadeia

trófica de uma comunidade (Fry & Sherr, 1984). No entanto, os valores ᵹ15N (15N/14N)

são maiores que o da dieta, com o enriquecimento do valor isotópico entre 3‰ a 4‰

por nível trófico, permitindo estimar a posição trófica. Isótopos de azoto oferecem um

forte sinal do nível trófico em que se encontra o individuo num certo período de tempo,

Introdução

14

porque é um valor influenciado pela fonte do alimento da proteína ingerida (Minagawa

& Wada, 1984). Deste modo, são necessários cerca de três meses para que se detete

a composição isotópica da nova presa no tecido do consumidor.

1.3 – Objetivo

O presente trabalho esteve inserido num projeto de investigação CEFMED –

Climate effects on the deep-sea ecosystem functioning of the Mediterranean Sea, cujo

objetivo principal visa a criação de um modelo matemático para prever o impacto das

alterações climáticas nas comunidades bentónicas no Oceano Pacifico. Esta

investigação focou uma parte do projeto CEFMED, com o objetivo principal de avaliar

a cadeia trófica das comunidades de macrofauna de dois ecossistemas diferentes do

Oceano Pacifico, mais concretamente:

Caracterizar as comunidades de macrofauna dos dois habitats de mar

profundo, ao nível da abundância, riqueza específica, diversidade e posição

trófica na cadeia alimentar;

Verificar a resposta de ambas as comunidades face à injeção de dois

alimentos (cianobactérias e diatomáceas) radiactivamente marcados.

CAPÍTULO II – MATERIAL E MÉTODOS

Material e Métodos

15

De modo a cumprir os objetivos deste trabalho foram realizadas campanhas

oceanográficas no Pacifico Oeste e experiencias in situ em dois locais diferentes um

oligotrófico e outro eutrófico.

2.1 – Locais de amostragem

O Pacifico é o mais extenso e mais antigo oceano do mundo, com cerca de 200

milhões de anos, envolvendo mais de um terço da superfície da Terra. A crista do

Pacifico estende-se a uma latitude de 15 000 quilómetros das Filipinas ao Panamá e a

uma longitude de 10 000 quilómetros do Antártico ao Alasca (Figura 5).

Excluindo os mares adjacentes, o Oceano Pacífico abrange cerca de 166x106 km2,

tendo uma profundidade média de 4190 metros. Assim, a sua morfologia difere dos

outros oceanos devido a vasta extensão contínua da planície abissal e grande

abundância de ilhas e montes submarinos. Sendo grande parte envolvida por fossas

oceânicas profundas adjacentes a cadeias de montanhas lineares (Andes na América

Figura 5 - Topografia do Oceano Pacífico – adaptado (Wishner et al., 1995)

Material e Métodos

16

do Sul) ou arcos insulares (Ilhas Aleutas e das Marianas), com profundidade de 6700-

11000 metros (Berner, 1982; Smith & Demopoulos, 2003).

Para o presente estudo, foram realizadas quatro campanhas oceanográficas a

bordo do navio Japonês Yokosuka, onde duas estações foram visitadas. A escolha

das estações for feita de acordo com a produtividade do ecossistema do local. Deste

modo, foi escolhido um local oligotrófico (pobre em nutrientes, com baixa

produtividade), situado a 1⁰15N, 163⁰15E e com a profundidade de 4277 m e outro

eutrófico (elevada concentração de nutrientes e alta produtividade), situado a 39⁰00N,

146⁰00E e com a profundidade de 5256 m. Ambas as estações foram visitadas duas

vezes: 1. Local oligotrófico: Julho e em Setembro 2013 nas campanhas

oceanográficas denominadas YK13-09/12, respetivamente, 2. Local eutrófico: Maio e

Julho de 2014 nas campanhas oceanográficas denominadas YK14-06/12,

respetivamente (Figura 6).

Figura 6 - Representação dos dois locais de amostragem - campanhas YK 13-09/12 e YK 14-06/12.

Material e Métodos

17

2.2 – Experiências in situ

Para cada local de amostragem, foram realizadas duas experiências in situ com o

objetivo de cumprir com os objetivos propostos. Em cada local, foram enterradas 6

caixas (25x25 cm) no sedimento com o uso do submarino tripulado Shinkai 6500.

Para simular um evento de bloom de algas no mar profundo com dois alimentos

diferentes, 60 mg de Synechococcus sp. (Cianobactérias) e 60 mg de Chaetoceros

Sociale Lauler (Diatomáceas) foram injetados em cada três caixas de incubação.

Ambos os tipos de alimento foram marcados radioactivamente para posterior análise

laboratorial. A diatomácea Chaetoceros Sociale Lauler e a cianobactéria

Synechococcus sp., usadas na experiência foram cultivadas e etiquetadas no Japan

Agency for Marine – Earth Science and Technology (JAMSTEC), segundo o método

desenvolvido por (Nomaki et al., 2008). Antes de serem injetadas, as duas culturas

foram suspensas em água do mar filtrada a 0,2 mm.

A incubação foi avaliada em dois períodos diferentes curto e longo, mais

concretamente 1 e 2 dias (curto) e 51 e 58 dias (longo) para os locais oligotrófico

eutrófico, respetivamente (Figura 7).

Material e Métodos

18

2.3 – Amostragem

Em ambos os locais, a amostragem da macrofauna (3 cores recolhidos

independentes) foi obtida através do submarino tripulado Shinkai 6500 e usando push

cores (ɸ = 8.2 cm, comprimento = 32 cm). O processamento da amostra foi iniciado a

bordo do navio, dividindo o core em seis frações de profundidade 0-1 cm, 1-2 cm, 2-3

cm, 3-5 cm, 5-10 cm e 10-15 cm, seguindo técnicas standard adotadas para o mar

profundo (Cunha et al., 2011). Cada fração do sedimento foi lavado com água do mar

e crivado com uma malha de 300 µm. O material crivado foi fixado em formaldeído

tamponado, diluído com água do mar a 4% e corado com rosa Bengala (0.5 g/l) para

posterior análise laboratorial (Figura 8).

Figura 7 - Desenho Experimental

Material e Métodos

19

Os seis cores foram processados imediatamente após chegarem a bordo do navio

e as amostras de macrofauna foram usadas para determinar a abundância natural de

C e N dos organismos (referidas aqui como amostras controlo). O sedimento dos

cores usados nas experiências foram processados depois do período curto e longo de

incubação.

2.4 – Tratamento laboratorial

Cada amostra foi novamente crivada, lavada em água doce e transferida para uma

placa de Petri. Todos os organismos foram cuidadosamente identificados à lupa

binocular e microscópio ótico (quando necessário) até à família, com base nos

caracteres morfológicos, recorrendo a chaves taxonómicas e monografias

especializadas ( Saldanha, 1995; Campbell et al., 1994; Fauchald, 1977; Jumars et al.,

2015). Para efeitos de contagem dos indivíduos, apenas foram consideradas as

cabeças. A abundância de cada amostra foi determinada para cada fração de

sedimento de cada réplica e para cada tratamento.

As famílias das poliquetas foram identificadas como filtradores (F, família

Sabeliidae), decompositores de superfície (SDF, famílias Ampharetidae, Cirratulidae,

Oweniidae, Spionidae, Terebellidae), decompositores sub-superficiais (SSDF, famílias

Figura 8 - Corer fracionado em seis frações de profundidade

Material e Métodos

20

Capitellidae, Maldanidae, Paraonidae, Scallibregmatidae), predadores–detritívoros (P–

D, famílias Amphinomidae, Glyceridae, Phyllodocidae, Polynoidae) e omnívoros

(OMN, família Onuphidae) (Fauchald & Jumars, 1979).

Relativamente aos crustáceos e aos bivalves não foi possível classificar os seus

grupos tróficos, porque a resolução de taxonomia foi baixa e como tal foi impossível de

o fazer (Figura 9).

Figura 9 - Exemplares de macrofauna bentónica encontrados no Oceano Pacifico entre Julho e Setembro 2013 e Maio e Julho 2014. A – Ostracoda; B – Isopoda; C – Cumacea; D- Copepoda; E – Sipuncula; F – Nematoda; G – Bivalve; H – Chrysopetalidae; I – Capitellida; J - Phyllodocidae; K – Fauveliopsidae; L – Sabelliriidae; M – Cirratulidae; N – Spionidae; O – Terebellidae.

Material e Métodos

21

Depois da identificação e da contagem, cada indivíduo foi armazenado em

eppendorfs individuais com formaldeído tamponado, diluído com água do mar a 4% e

enviadas para o JAMSTEC (Japão), para posterior análise de isótopos estáveis. Em

resumo, os isótopos C e N foram medidos pelo instrumento Delta plus XP, Thermo -

Finnigan ligado a um analisador de elementos FlashEA1112, CE. Os rácios de

isótopos foram expressos da seguinte forma: δ13C (‰) = [(13C/12C) amostra/(13C/12C)

standard – 1] x 1000, δ15N (‰) =[(15C/14C) amostra/(15C/14C) standard – 1] x 1000

(Nomaki et al., 2011). O enriquecimento em 13C e 15N foram expressos como Δδ13C e

Δδ15N, indicando o aumento relativo em δ13C e δ15N na amostra em comparação com

o valor amostras recolhidas no controlo e foram calculadas como: Δδ13C (‰) =

δ13Csample – δ13Cbackground, Δδ15N (‰) = δ15Nsample – δ15Nbackground, respetivamente (Nomaki

et al., 2008).

2.5 – Análise de dados

A caracterização das comunidades bentónicas de cada local estudado (oligotrófico

versus eutrófico) foi efetuada ao nível da abundância, riqueza especifica, diversidade e

posição trófica na cadeia alimentar. Para tal foram consideradas como amostras os

locais controlo da experiência e, os 4 cores recolhidos em cada controlo de cada

habitat foram utlizados como réplicas para a determinação da abundância, riqueza

especifica e diversidade médias do local eutrófico e oligotrófico.

A distribuição vertical dos organismos foi estudada através da abundância média e

desvio-padrão da macrofauna das seis frações de profundidade (0-1 cm, 1-2 cm, 2-3

cm, 3-5 cm, 5-10 cm e 10-15 cm).

A abundância foi calculada através da soma total de indivíduos de cada réplica

dividida pela área de cada core (0,07 m2) e expressa como número de indivíduos por

m2 (ind.m2).

Para avaliar a diversidade de cada habitat foram calculados três indices de

diversidade, nomeadamente:

Material e Métodos

22

Índice de Riqueza Especifica de Margalef (d)

baseia-se na combinação entre o número de espécies ocorridas (S) e o número

total de indivíduos de todas as espécies (N) (Margalef, 1958) através da equação:

d = (S-1) / log N

Índice de Diversidade de Shannon-Wiener (H´)

baseia-se na proporção das abundâncias das espécies tendo em conta a

equitabilidade e a riqueza específica, assumindo que a amostragem dos indivíduos é

feita aleatoriamente a partir de uma grande população e que todas as espécies se

encontram representadas na amostra (Shannon & Weaver, 2015).

H’= - ∑i pi log (pi)

onde pi é a proporção de indivíduos da espécie i

Índice de Equitabilidade de Pielou (J´)

representa a proporção da diversidade observada pela diversidade máxima,

assumindo que todas as espécies da comunidade estão presentes na amostra,

representando de que forma os indivíduos estão distribuídos entre as diferentes

espécies (Lloyd & Ghelardi, 1964)

J’= H’/Ln (S)

Todos os índices de diversidade foram calculadas recorrendo ao software PRIMER

6 (Clarke & Warwick, 2001).

Foi feita uma análise de variância (ANOVA) para avaliar o efeito do local

(oligotrófico versus eutrófico) na abundância, diversidade (H´) e equitabilidade (J´) da

macrofauna. Todos os dados foram transformados log (x+1) de modo a cumprir os

pressupostos de normalidade e homocesdasticidade da ANOVA (Zar, 1996). As

Material e Métodos

23

análises foram efetuadas a um nível de significância de 0,05 (Zar, 1996) com o

software STATISTICA 12.

Ao nível da estrutura da comunidade de macrofauna, o efeito do local (oligotrófico

versus eutrófico) e tempo (incubação curta versus longa) foi avaliado através análise

ANOSIM (Clarke & Green, 1988). Para tal, os dados de abundância das espécies

foram transformados para raiz quadrada (reduzindo a contribuição das espécies mais

abundantes) e a similaridade entre as amostras foi medida através da matriz de

similaridade utilizando-se o coeficiente de Bray-Curtis. A análise de contribuição

percentual de similaridade (SIMPER) foi efetuada para identificar as espécies que

mais contribuíram para a dissimilaridade entre os grupos. Estas análises estatísticas

multivariadas foram efectuadas através do software PRIMER 6 (Clarke & Warwick,

2001). Mais concretamente, foi efectuado uma forma de caracterizar as comunidades

de acordo com os fatores especiais e temporais.

CAPÍTULO III – RESULTADOS

Resultados

25

3.1 – Estrutura da comunidade de macrofauna

A descrição da estrutura da comunidade baseou-se nos organismos amostrados

nos cores do controlo. No total 375 indivíduos foram identificados, distribuidos por 24

taxa referentes a 8 filos, incluindo Nematoda, Annelida, Artropoda, Mollusca,

Sipuncula, Nemertea, Loricifera e Echinodermata. A percentagem de indivíduos não

identificados (danificados ou em mau estado de conservação) foi de 3% no local

eutrófico e 10% no oligotrófico (Figura 10).

Figura 10 - Percentagem da abundância total dos grupos funcionais para cada local de amostragem (eutrófico versus oligotrófico)

No local eutrófico, os Nematoda foram o filo mais abundante, representando 71%

do total de macrofauna, seguido dos Artropoda com 13% (Figura 10). No habitat

oligotrófico o filo mais abundante foi o Artropoda com 38%, seguido do Nematoda com

36% do total da macrofauna. Os restantes filos apresentaram abundâncias

comparativamente mais baixas em ambos os locais, nomeadamente o filo Annelida,

representados aqui pelas poliquetas, que representaram 5% e 10% do total da

macrofauna no locais eutrófico e oligotrófico, respetivamente (Figura 10).

Resultados

26

Relativamente à família das poliquetas e para o local eutrófico, as famílias

Capitellidae, Spionidae e Paraonidae foram as mais abundantes, contribuindo com

43% do total da abundancia deste local. No local oligotrófico, a família Paraonidae foi

mais abundante contribuindo com 38% do total da abundância (Figura 11).

Comparativamente aos grupos funcionais, no local eutrófico o grupo mais

abundante foi o pertencente aos predadores/detritivoros/filtradores (41%), seguido

pelos predadores com 37 % (Figura 12). No local oligotrófico, a maioria das poliquetas

pertencem ao grupos dos predadores (56%) (Figura 12), enquanto que os

predadores/detritivoros/filtradores representaram 31% do total da macrofauna.

11%

Figura 11 - Percentagem da abundância relativa da família de poliquetas para cada local de amostragem (eutrófico versus oligotrófico)

Resultados

27

A abundância média do local eutrófico foi de 1320 ± 277 ind.m2 e 83 ± 61 ind.m2 no

local oligotrófico. A macrofauna do local eutrófico foi significativamente mais

abundante do que no local oligotrófico (F= 39,64 p<0.05).

A distribuição vertical dos organismos em ambas os locais mostrou que a

macrofauna comunidade encontrada principalmente nos primeiros 10 cm (Figura 13).

Os organismos amostrados pertencem maioritariamente aos filos Nematoda e

Artropoda. No local eutrófico, as abundâncias estimadas são 4 vezes maiores do que

no local oligotrófico.

Figura 12 - Abundância de poliquetas por grupos funcionais para o local eutrófico e oligotrófico A classificação das poliquetas em grupos funcionais foi baseada em Fauchald e Jumars (1979).

Resultados

28

Em geral, os valores de diversidade foram baixos variando entre 0 e 3,16 para a

riqueza específica; 0 e 1,54 para o índice de Shannon-Wiener e entre 0,43 e 1 para a

equitabilidade (Figura 14).

Figura 13 - Distribuição vertical da abundância total da comunidade de macrofauna no controlo, nº de cores=4.

Figura 14 - Índices de diversidade da macrofaua bentónica do Oceano Pacífico, entre Julho e Setembro 2013 e Maio e Julho de 2014. H´- Shannon Wiener; J´- Equitabilidade; d - Riqueza Específica

Resultados

29

A riqueza específica e diversidade de Shannon-Wiener foram superiores no local

eutrófico (Figura 14), apesar de não serem significativamente diferentes (F= 3,93 p≥

0.05) (F= 0,7 p≥ 0.05), respetivamente. No entanto, a equitabilidade da macrofauna do

local oligotrófico foi superior, ainda que não significativa (F= 0,49 p≥ 0.05).

O resultado da análise de similaridade ANOSIM mostrou que a estrutura da

macrofauna variou significativamente entre os dois locais (R global = 0,572 p<0,05).

Segundo a análise SIMPER, os Nematoda (47,34%) juntamente com os copepodes

(13,83%) foram responsáveis por 61,17% da dissimilaridade (83,42%) da estrutura da

macrofauna dos locais oligotrófico e eutrófico (Tabela 1).

Tabela 1 - Resultados das análises ANOSIM e SIMPER entre os dois locais de amostragem (eutrófico vs oligotrófico).

Grupos ANOSIM SIMPER

R p

Dissimilaridade média

Taxa Contrib% Cum.%

Eutrófico vs Oligotrófico 0,572 0,001 83,42% Nematoda 47,34 47,34

Copepoda 13,83 61,17

3.2 – Posição trófica

No local eutrófico, o valor mais baixo de 15N/13C ficaram associados aos

organismos a que não se conseguiu atribuir nenhuma identificação (N.I), mais

Sabellidae, encontradas nas camadas mais superficiais do sedimento (0-2 cm) e

sendo classificados como filtradores. Os grupos com uma % em 15N mais elevada

pertencem às classes Holothuroidea e Sipunculidae (detritivoros e predadores). No

local oligotrófico, o valor mais baixo de 15N/13C ficaram associados aos organismos a

que não se consegui atribuir nenhuma identificação (N.I), mais à classe dos nematoda

(maioritariamente filtradores). Os grupos com uma % em 15N mais elevada pertencem

às classes Holothuroidea e Phyllodocidae (detritivoros e predadores) (Figura 15A,B).

Resultados

30

A

B

Figura 15 - Análise isotópica (13C, 15N) do controlo do A - local oligotrófico, B - local eutrófico.

Resultados

31

3.3 Estudo do alimento preferencial da macrofauna

Na Figura 16 (A,B,C), referente ao local oligotrófico, podemos observar que muito

poucos organismos ingeriram ambos os alimento marcados (cianobactérias,

diatomáceas) durante ambos os períodos de incubação (curto e longo) para ambos os

isótopos. Como os valores foram quase sempre inferior a 10 por mil, considera-se que

a marcação de ambos os alimentos foi nula ou muito fraca. Na Figura 17A, observam-

se também muito poucos organismos a ingerir o alimento marcado durante o período

curto. Como todos os valores são inferiores a 10 por mil, também aqui não se

considera a marcação estimada. No entanto, na Figura 17B, podemos observar que

existem bastantes organismos que ingeriram o alimento marcado (cianobactérias)

durante o período de incubação mais longo para o 13C, nomeadamente os organismos

pertencentes à classe das holotúrias. Para o 15N, só dois organismos (não

identificados) foram considerados como marcados ao fim da incubação mais longa.

Em relação à injeção do alimento de diatomáceas só os organismos pertencentes à

classe bivalvia apresentam o alimento marcado durante o período curto (Figura 17C)

para o 15N. No período longo, só os organismos da classe bivalvia e organismos da

família Paraonidae apresentam alimento marcado (Figura 17D).

Figura 16 - Incorporação de cianobactérias (A,B) e diatomáceas (C) durante o período curto (A,C) e longo (B) no local oligotrófico.

Resultados

32

Figura 17 - Incorporação de cianobactérias (A,B) e diatomáceas (C,D) durante o período curto (A,C) e longo (B,D) no local eutrófico

CAPÍTULO IV – DISCUSSÃO

Discussão

34

Nos fundos marinhos a produção biologica está altamente dependente do fluxo de

propagação de materia orgânica a partir das zonas mais à superficie. Este fluxo de

materia orgância é muito baixo, mas constitui uma pequena percentagem da produção

primária nas águas sobrejacentes. Segundo Borowski & Thiel, (1998) na zona

equatorial do Pacifico (local eutrófico), a macrofauna bentónica apresenta grande

diversidade de taxa, incluindo poliquetas, tanaidaceos, isópodes e bivalves, sendo as

poliquetas o grupo mais dominante, representando cerca de 62% da abundância local.

Deste modo, a elevada produção primária, devido à ressurgência de nutrientes

(Berger, 1989; Murray et al., 1994; Lundry et al., 1997) e à alta produtividade perto do

equador produz um maior fluxo de carbono orgânico particulado para o interior (Honjo

et al., 1995). Hessler & Jumars, (1974), no norte do Pacifico (local oligotrófico),

também observaram a ocorrência dos mesmos grupos, mas em menor abundância,

pois a macrofauna bentónica é escassa devido à baixa concentração de nutrientes. Os

resultados deste estudo diferem consideravelmente em relação aos estudos

anteriores, uma vez que o grupo dos nematoda foi o mais abundante, sobretudo no

local eutrófico. A capacidade de adaptação e proliferação destes organismos deve-se

essencialmente ao seu caracter não-seletivo na decomposição da matéria orgânica

existente em cada local.

No local eutrófico, de acordo com Borowski & Thiel (1998), as famílias de

poliquetas que predominaram foram Cirratulidae, Paraonidae, Sabellidae e Spionidae.

Enquanto que, no local oligotrófico, de acordo com Hessler & Jumars, (1974), a família

de poliquetas mais abundantes foram Cirratulidae (25%), Capitellidae (14%),

Fauveliopsidae (11%) e Paraonidae (>6%). Mais uma vez, os resultados deste

trabalho diferem dos estudos anteriores, uma vez que as famílias mais abundantes de

poliquetas no local eutrófico foram Capitellidae, Spionidae e Paraonidae, e no local

oligotrófico foi Paraonidae. No entanto, os nossos resultados devem ser interpretados

com precaução, uma vez que o número de amostras recolhidas e a área total

amostrada ter sido inferior aos trabalhos citados, o que pode ter influenciado as

diferenças encontradas. Mas, atendendo à grande profundidade dos locais

amostrados, os custos associados para recolha destas amostras e a escassez de

estudos relativos à macrofauna bentónica no oceano Pacifico ocidental a

profundidades igual ou superior 5700 metros, os resultados deste trabalho constituem

um avanço para o aumento do conhecimento científico da macrofauna de planícies

abissais do oceano Pacifico.

Discussão

35

Relativamente aos grupos funcionais, no local eutrófico o grupo mais abundante foi

o pertencente aos predadores/detritívoros/filtradores, seguido pelos predadores. No

local eutrófico, a maioria das poliquetas pertenceram aos grupos dos predadores,

enquanto que os predadores/detritívoros/filtradores representaram o total da

macrofauna. Segundo Alba-Tercedor & Sanchez-Ortega, (1988), o estudo do número

de organismos, da sua distribuição e biomassa ou das alterações funcionais nos

ecossistemas são aspetos nos quais se deve debruçar um estudo de caracterização

de uma comunidade. Neste estudo, a caracterização da macrofauna bentónica a nível

funcional ficou bastante incompleta, devido à impossibilidade da identificação dos

organismos até ao nível taxonómico mais baixo (espécie). Por conseguinte, existiram

vários organismos que foram classificados como pertencentes a vários grupos

funcionais, como por exemplo predadores/detritívoros/filtradores.

No estudo da comunidade bentónica dos dois locais de amostragem não foram

identificados, preferências nítidas por determinados estratos da coluna de substrato

(1-2 cm). A abundância média não diferiu muito nas quatro primeiras frações de

sedimento. De acordo com estudos anteriores (Witte, 2000; Enge et al., 2011;

Gontikaki et al., 2011), a maior abundância de organismos tende a estar concentrada

até 2 cm de profundidade (as duas primeiras frações de sedimento), contrariamente

ao que se observou neste estudo. Os nossos resultados devem ser interpretados

como precaução, uma vez que tal como foi anteriormente dito, o número de amostras

recolhidas e a área total amostrada ter sido inferior aos trabalhos citados, o que pode

ter influenciado as diferenças encontradas.

No presente estudo pode-se verificar que as espécies oportunistas foram as que

mais contribuíram para as diferenças entre os dois locais, uma vez que as suas

abundâncias foram notoriamente maiores em zonas onde existe maior concentração

de nutrientes, ou seja o local eutrófico.

Para verificar qual a preferência de alimento das comunidades bentónicas nos dois

locais de amostragem (oligotrófico, eutrófico), foram injetados dois alimentos

diferentes (cianobactérias e diatomáceas). No local oligotrófico foi possível observar

que existiram poucos organismos com alimento radioactivamente marcado durante os

períodos de incubação (curto e longo). A marcação de ambos os alimentos foi

praticamente nula ou muito fraca. Tal pode ter sido devido ao período de experiência,

ou seja, um dia ser tempo insuficiente para observar que ingeriram o alimento, e 51

dias tempo demasiado logo para ainda se observar o sinal radioativo. Como este local

Discussão

36

é caracterizado por ser pobre em nutriente, a escassez de alimento pode ter feito com

que os organismos absorvessem todo o alimento até o final da experiência e como tal,

a marcação de ambos os alimentos ser práticamente nula. No entanto, não é possivel

afimar que a experiencia não resultou, porque não existe uma amostragem de tempo

intermédio para comparação. No local eutrófico observaram-se poucos organismos

que ingeriram o alimento marcado durante o período curto. Em contrapartida e, no

periodo de incubação mais longo foi possivel observar bastantes organismos que

ingeriram o alimento marcado.

CAPÍTULO V – CONSIDERAÇÕES FINAIS

38

No presente estudo foi possível concluir que a macrofauna bentónica diferiu entre o

local eutrófico e o local oligotrófico. No local eutrófico, a macrofauna foi dominada

pelos oportunistas nematoda, associados à maior disponibilidade de matéria orgânica,

enquanto que os artropoda juntamente com os nematoda dominaram a macrofauna do

local oligotrófico. As comunidades foram mais diversas com maior número de taxa no

local eutrófico, mas mais equitativas no local oligotrófico. Em relação aos grupos

tróficos, verificou-se uma maior dominância de predadores no local eutrófico e o grupo

predadores/detritívoros/filtradores teve maior abundância no oligotrófico. Finalmente, a

nível de poliquetas, três famílias foram mais abundantes no habitat eutrófico

(Capitellidae, Spionidae e Paraonidae), em comparação com apenas uma família do

local oligotrófico (Paraonidae).

Relativamente ao alimento preferencial no local oligotrófico observaram-se poucos

organismos que ingeriram o alimento marcado durante o período curto, não tendo sido

possível identificar qual o alimento preferencial. Em contrapartida, verificou-se uma

preferência evidente de diatomáceas como alimento da macrofauna bentónica do local

eutrófico. Em futuros trabalhos será necessário existir um período de incubação

intermédio, para avaliar a preferência dos alimentos pela comunidade de

macroinvertebrados destes locais do Pacifico profundo.

CAPÍTULO VI – BIBLIOGRAFIA

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