142
1 CARLOS ALBERTO DA SILVA ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE UMA COSTA SUJEITA A RESSURGÊNCIA. CABO FRIO - RJ. Tese apresentada ao Curso de Pós- Graduação em Geociências da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do Grau de Doutor. Área de Concentração: Geoquímica Ambiental. Orientador - Prof. Dr. Emmanoel Vieira Silva-Filho Co-Orientador – Prof. Dr. Júlio César F. A. Wasserman Niterói 2006

ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

  • Upload
    others

  • View
    3

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

1

CARLOS ALBERTO DA SILVA

ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE UMA COSTA SUJEITA A RESSURGÊNCIA.

CABO FRIO - RJ.

Tese apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Geociências da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do Grau de Doutor. Área de Concentração: Geoquímica Ambiental.

Orientador - Prof. Dr. Emmanoel Vieira Silva-Filho Co-Orientador – Prof. Dr. Júlio César F. A. Wasserman

Niterói

2006

Page 2: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

2

S5861 Silva, Carlos Alberto da. Especiação do mercúrio na cadeia trófica pelágica de uma costa sujeita a ressurgência. Cabo Frio-RJ./ Carlos Alberto da Silva. – Niterói: [s.n], 2006. 142f.: il., 30cm. Tese (Doutorado em Geoquímica Ambiental). – Universidade Federal Fluminense, 2006. Orientador: Emmanoel Vieira Silva-Filho

1. Mercúrio 2. Especiação 3. Cadeia trófica 4.Ressurgência 5. Biomagnificação 6. Cabo Frio 7. Tese. 8. Produção intelectual. I. Título.

CDD628.168

Page 3: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

3

Page 4: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

4

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar a Deus, pela presença constante em minha vida.

Agradeço ao professor Dr. Emmanoel Vieira Silva-Filho, com quem tive o privilégio de conviver, pela excelente orientação e paciência.

Ao professor Dr. Júlio César F. A. Wasserman por conduzir-me nos primeiros passos no desenvolvimento do trabalho.

Aos professores e funcionários do Departamento de Geoquímica, por terem possibilitado a realização deste trabalho.

Aos amigos e funcionários do Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira (IEAPM) da Marinha do Brasil pelo apoio logístico nos trabalhos de campo e ao laboratório de Química pelo fornecimento dos dados hidrológicos.

Aos amigos e técnicos do Laboratoire de Chimie Analytique, Bio-Inorganique et Environnement da Université de Pau et des Pays de l’Adour, França pela acolhida carinhosa durante meu estágio, pelo conhecimento e as técnicas aprendidas de especiação de mercúrio.

À minha mulher, Evane, minha maior incentivadora, pela paciência, carinho, companheirismo e amor.

Às minhas filhas, Thaís e Beatriz, por serem o maior presente da minha vida,

Aos meus pais, Sebastião e Marízia, por terem começado toda a história.

À CAPES pelas bolsas de doutorado ao longo do curso e a de PDEE concedidas.

Page 5: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

5

RESUMO

As áreas de ressurgência juntamente com as costeiras marinhas apresentam um papel econômico importante com 98% da produção pesqueira mundial. Além do aporte de nutrientes inorgânicos das águas de ressurgência que provocam a eutroficação das águas superficiais aumentando a produção biológica local, vários metais podem ser remoblizados dos sedimentos e serem disponibilizados nas águas superficiais. Nas áreas de ressurgência, as formas orgânicas de mercúrio produzidas nas águas profundas de mínimo conteúdo de oxigênio abaixo da termoclina podem atingir a superfície. Nesse cenário, o mercúrio pode ser incorporado pelos produtores primários por difusão e progressivamente acumular nos elos seguintes da cadeia trófica. O consumo de pescado com altos níveis de mercúrio tem causado muita preocupação devido aos graves problemas de toxidade deste metal em seres humanos. Estudos mostram que é importante conhecer as formas que o mercúrio aparece no ambiente juntamente com a determinação de suas concentrações. Assim, o objetivo desse trabalho foi realizar a especiação do mercúrio nos primeiros elos da cadeia alimentar, o fitoplâncton e o zooplâncton, bem como quantificar o conteúdo de mercúrio num grupo de peixes planctófagos e carnívoros de níveis tróficos diferentes e pertencentes à cadeia trófica pelágica. A especiação do mercúrio no plâncton marinho da baía de Arraial do Cabo na área da ressurgência de Cabo Frio demonstrou que a forma inorgânica Hg2+ foi predominante no fitoplâncton e zooplâncton apresentando porcentagens acima de 70% em relação ao mercúrio total nos períodos com ou sem influência da ressurgência. No plâncton coletado com influência da ressurgência foi registrado um aumento na concentração do Hg2+ no fito e no zooplâncton de 299,8% e 87,2%, respectivamente. Estes resultados comprovaram que as águas da ressurgência atuaram como um bioreator do processo de bioacumulação do Hg2+ pelo plâncton da região costeira de Cabo Frio, aumentando sua biodisponibilidade e proporcionando provavelmente um transporte mais facilitado durante a incorporação celular do mercúrio inorgânico em águas superficiais eutrofizadas da ressurgência. Na especiação do Hg nos peixes, a maior porcentagem de metilmercúrio em relação ao mercúrio total foi observada no tecido muscular do bonito e a menor percentagem na sardinha Esses resultados comprovam que os menores níveis de metilmercúrio são observados nos peixes planctófagos na base da cadeia alimentar e aumentam em direção aos peixes carnívoros de níveis tróficos mais elevados. O metilmercúrio foi a espécie que demonstrou biomagnificação ao longo de toda a cadeia trófica pelágica analisada neste estudo e o mercúrio inorgânico apresentou bioconcentração na base da cadeia trófica.

Palavras chaves: mercúrio, especiação, cadeia trófica, ressurgência, biomagnificação

Page 6: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

6

ABSTRACT

Upwelling areas, together with its coastal environments present a significant economical role, contributing with 98% of the world fishing production. Besides the contribution of inorganic nutrients from upwelling waters that increase the trophic state of the superficial waters, several biological metals are remobilized from the sediments and assimilated by organisms in the surface waters. In the upwelling areas, the organic forms of mercury produced in the deep waters of minimum oxygen can reach the surface. In that scenery, the mercury can be incorporated by the primary producers for diffusion and progressively accumulate in the higher levels of the food chain. The fish consumption with high mercury levels has been causing a lot of concern due to the serious problems of toxicity of this metal in human beings. Studies show that it is important to know the forms that the mercury appears in the environment together with the determination of its total concentrations. Therefore, the objective of this work was to determine the speciation of the mercury in the first steps of the food chain, the phytoplankton and the zooplankton, as well as to quantify the mercury content in a group of planktivorous and carnivorous fishes from different trophic levels and belonging to the pelagic food chain. The speciation of the mercury in the bay of Arraial do Cabo (Cabo Frio upwelling) demonstrated that the inorganic form Hg2+ was predominant in the phytoplankton and zooplankton, presenting percentages above 70% in relation to the total mercury in periods with or without influence of the upwelling. In the plankton collected with the influence of the upwelling an increase in the concentration of Hg2+ was registered in the phytoplankton and in the zooplankton of 299,8% and 87,2%, respectively. These results showed that the waters of the upwelling acted as a bioreactor of the process of bioaccumulation of Hg2+ for the plankton, increasing its bioavailability. The speciation of Hg in the fish showed that the largest methylmercury percentages in relation to the total mercury among the studied species were observed in the muscle tissue of the tuna fish and the smallest percentage in the sardine. These results showed that the smallest methylmercury levels are observed in the planktivorous fish in the base of the trophic chain and they increase in the fishes of higher trophic levels. The methylmercury demonstrated biomagnification along the whole pelagic food chain and the inorganic mercury presented bioconcentration in the base of the food chain. Key words: mercury, speciation, food chain, upwelling, biomagnification

Page 7: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

7

LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 - Dinâmica e ciclo do mercúrio nos vários compartimentos ambientais..........................................................................................................19 FIGURA 2 - Variações da concentração de Hg ao longo de testemunhos de sedimentos marinhos na costa sul da Noruega e da Suécia.............................22 FIGURA 3 - Transferências e transformações das espécies químicas do mercúrio no meio aquático.................................................................................23 FIGURA 4 - Esquema da bioacumulação do mercúrio nos primeiros elos da cadeia trófica marinha........................................................................................36

FIGURA 5 - Esquema da mobilidade de uma espécie química e os processos fisiológicos envolvidos no seu trajeto através de um sistema animal................45 FIGURA 6 - Localização da área de estudo no litoral do Cabo Frio..................55 FIGURA 7 - Esquema do microdigestor à micro-ondas Prolabo A 301.............60 FIGURA 8 - Esquema do funcionamento da acloplagem GC-MIP-AES..........63 FIGURA 9 - Esquema do acoplamento GC-ICPMS.........................................65 FIGURA 10 - Esquema da estrutura do ICPMS..............................................65 FIGURA 11 - Protocolo de preparação das amostras biológicas e de análise da especiação do mercúrio.....................................................................................69 FIGURA 12- Variação temporal da temperatura da água no período de setembro/03 a janeiro/05...................................................................................73 FIGURA 13 - Variação temporal da concentração do nitrato durante o período de setembro/03 a janeiro/05..............................................................................74 FIGURA 14 - Variação temporal da concentração do fosfato durante o período de setembro/03 a janeiro/05 .............................................................................75 FIGURA 16 - Variação temporal das concentrações médias do mercúrio inorgânico no fitoplâncton no período de setembro/03 a agosto/04..................79 FIGURA 17 - Variação temporal das concentrações médias do mercúrio orgânico no fitoplâncton no período de setembro/03 a agosto/04....................80 FIGURA 18 - Variação temporal das concentrações médias do mercúrio inorgânico no zooplâncton no período de setembro/03 a agosto/04.................83 FIGURA 19 - Variação temporal das concentrações médias do mercúrio orgânico no zooplâncton no período de setembro/03 a agosto/04....................85 FIGURA 20 - Comparação entre as concentrações médias das espécies de Hg e a porcentagem de MMHg do fitoplâncton coletado sem e com influência da ressurgência......................................................................................................89

Page 8: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

8

FIGURA 21 - Comparação entre as concentrações médias das espécies de Hg e a porcentagem de MMHg no zooplâncton coletado sem e com influência da ressurgência......................................................................................................90 FIGURA 22 - Sardinella brasiliensis..................................................................96 FIGURA 23 - Relação entre a concentração de mercúrio total ( HgT ) e o comprimento total em tecido muscular de Sardinella brasiliensis.....................97 FIGURA 24 - Relação entre a concentração de monometilmercúrio e o comprimento total em tecido muscular de Sardinella brasiliensis.....................99 FIGURA 25 - Relação entre o percentual de monometilmercúrio e o comprimento total em tecido muscular de Sardinella brasiliensis..................100 FIGURA 26 - Relação entre a concentração de mercúrio inorgânico e o comprimento total em tecido muscular de Sardinella brasiliensis...................101 FIGURA 27 - Relação entre o percentual de mercúrio inorgânico e o comprimento total em tecido muscular de Sardinella brasiliensis..................101 FIGURA 28 - Katsuwonus pelamis..................................................................103 FIGURA 29 - Relação entre a concentração de mercúrio total e o comprimento total em tecido muscular de Katsuwonus pelamis...........................................104 FIGURA 30 - Relação entre a concentração de monometilmercúrio e o comprimento total em tecido muscular de Katsuwonus pelamis.....................105 FIGURA 31 - Relação entre o percentual de monometilmercúrio e o comprimento total em tecido muscular de Katsuwonus pelamis.....................105

FIGURA 32 - Relação entre a concentração de mercúrio inorgânico e o comprimento total em tecido muscular de Katsuwonus pelamis.....................106 FIGURA 33 - Cynoscion striatus......................................................................107 FIGURA 34 - Relação entre a concentração de mercúrio total e o comprimento total em tecido muscular de Cynoscion striatus...............................................108 FIGURA 35 - Relação entre a concentração de monometilmercúrio e o comprimento total em tecido muscular de Cynoscion striatus.........................109 FIGURA 36 - Relação entre o percentual de monometilmercúrio e o comprimento total em tecido muscular de Cynoscion striatus.........................109 FIGURA 37 - Relação entre a concentração de mercúrio inorgânico e o comprimento total em tecido muscular de Cynoscion striatus.........................110 FIGURA 38 - Caranx latus ..............................................................................111 FIGURA 39 - Relação entre a concentração de mercúrio total e o comprimento total em tecido muscular de Caranx latus .......................................................112 FIGURA 40 - Relação entre a concentração de momometilmercúrio e o comprimento total em tecido muscular de Caranx latus..................................113 FIGURA 41 - Relação entre o percentual de momometilmercúrio e o comprimento total em tecido muscular de Caranx latus..................................113 FIGURA 42 - Relação entre a concentração de mercúrio inorgânico e o comprimento total em tecido muscular de Caranx latus.................................114 FIGURA 43 - Comparação do percentual de metilmercúrio entre as diferentes espécies de peixes. .......................................................................................115 FIGURA 44 - Variação da concentração média do mercúrio total nos diferentes organismos componentes da cadeia trófica....................................................119

Page 9: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

9

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 - Efeitos da toxidade do mercúrio em doses baixas sobre diversos sistemas orgânicos............................................................................................34 TABELA 2 - Técnicas de detecção empregadas nas análises de especiação do mercúrio.............................................................................................................48 TABELA 3 - Classificação, habitat, hábitos alimentares e área de pesca das espécies de peixes estudadas.................... ......................................................58 TABELA 4 – Época, freqüência e número de amostras coletadas...................58 TABELA 5. Parâmetros utilizados na análise das espécies de mercúrio por GC-MIP-AES.....................................................................................................65 TABELA 6 - Parâmetros operacionais GC-ICP-MS para a especiação de mercúrio.............................................................................................................66 TABELA 7 – Validação do método e desempenho analítico...........................71 TABELA 8 - Parâmetros físico-químicos monitorados na Estação Fixa Oceanográfica Praia do Farol na Baía de Arraial do Cabo................................72 TABELA 9 - Quadro geral das concentrações médias das espécies de mercúrio medidas no fitoplâncton. ....................................................................78 TABELA 10 - Valores reportados na literatura para a concentração do mercúrio orgânico e total no zooplâncton em ambiente marinho e de água doce...........82 TABELA 11 - Quadro geral dos dados obtidos para as concentrações médias das espécies de Hg medidas no zooplâncton...................................................84 TABELA 12 - Concentrações das espécies de Hg medidas no plâncton sem e com influência da ressurgência.........................................................................88 TABELA 13 - Correlação entre parâmetros físico-químicos e concentrações das espécies de mercúrio no fitoplâncton..........................................................93 TABELA 14 - Correlação entre parâmetros físico-químicos e concentrações das espécies de mercúrio no zooplâncton.........................................................95 TABELA 15 - Concentrações de mercúrio total em tecido muscular de sardinhas provenientes de diferentes regiões...................................................98 TABELA 16 - Valores do FBC e FBM para o metilmercúrio nos organismos da cadeia trófica pelágica.....................................................................................120 TABELA 17 - Valores do FBC e FBM para o mercúrio inorgânico nos organismos da cadeia trófica pelágica.............................................................121 TABELA 18 – Fatores de Bioconcentração e Biomagnificação das espécies

mercuriais reportadas na literatura...................... ...........................................122

Page 10: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

10

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...............................................................................................12 2 BASE TEÓRICA............................................................................................15 2.1 BIOGEOQUÍMICA DO MERCÚRIO NO AMBIENTE AQUÁTICO...............15 2.1.1 Fontes de mercúrio.................................................................................20 2.1.1.1 Fonte natural..........................................................................................20 2.1.1.2 Fonte antrópica......................................................................................21 2.1.2 Transformação do mercúrio no sistema aquático...............................22 2.1.3 Redução do mercúrio.............................................................................24 2.1.3.1 Redução abiótica...................................................................................24 2.1.3.2 Redução biótica.....................................................................................25 2.1.4 Metilação do mercúrio............................................................................26 2.1.4.1 Metilação abiótica..................................................................................27 2.1.4.2 Metilação biótica....................................................................................28 2.1.5 Desmetilação do mercúrio.....................................................................29 2.2 TOXICIDADE DO MERCÚRIO....................................................................31 2.3 BIOACUMULAÇÃO DO MERCÚRIO..........................................................35 2.4 ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO...................................................................42 3 OBJETIVOS E HIPÓTESE............................................................................49 4 ÁREA DE ESTUDO: O LITORAL DE CABO FRIO......................................50 5 METODOLOGIA............................................................................................56 5.1 AMOSTRAGEM...........................................................................................56 5.2 LIMPEZA E DESCONTAMINAÇÃO DA VIDRARIA....................................59 5.3 LIOFILIZAÇÃO E TRITURAÇÃO DAS AMOSTRAS...................................59 5.4 EXTRAÇÃO DAS ESPÉCIES MERCURIAIS..............................................59 5.5 PROPILAÇÃO E DERIVATIZAÇÃO............................................................61 5.6 ANÁLISE DAS ESPÉCIES DE MERCÚRIO................................................62 5.6.1 Peixes.......................................................................................................62 5.6.2 Plâncton...................................................................................................64

Page 11: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

11

5.7 PREPARAÇÃO DA SOLUÇÃO TAMPONADORA......................................68 5.8 PREPARAÇÃO DOS PADRÕES EXTERNOS............................................68 6 RESULTADOS E DISCUSSÃO....................................................................70 6.1 VALIDAÇÃO DO MÉTODO E DESEMPENHO ANALÍTICO.......................70 6.2 CARACTERIZAÇÃO DAS ÁGUAS DE SUPERFÍCIE E FUNDO DA ENSEADA DE ARRAIAL DO CABO..................................................................72 6.3 ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NO PLÂNCTON........................................77 6.3.1 Fitoplâncton............................................................................................77 6.3.2 Zooplâncton............................................................................................81 6.4 COMPARAÇÃO ENTRE AS CONCENTRAÇÕES DE MERCÚRIO DO PLÂNCTON COM E SEM INFLUÊNCIA DA RESSURGÊNCIA........................87 6.5 CORRELAÇÃO ENTRE OS PARÂMETROS FÍSICO-QUÍMICOS E AS CONCENTRAÇÕES DE IHg E MMHg NO FITOPLÂNCTON E ZOOPLÂNCTON................................................................................................92

6.6 ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NOS PEIXES............................................96 6.6.1 Sardinha Sardinella brasiliensis ..........................................................96 6.6.2 Bonito listrado Katsuwonus pelamis..................................................103 6.6.3 Pescada Cynoscion striatus ...............................................................107 6.6.4 Xerelete Caranx latus...........................................................................111 6.7 COMPARAÇÃO ENTRE AS ESPÉCIES DE PEIXES...............................115 6.8 CADEIA TRÓFICA.....................................................................................117

7 CONCLUSÕES............................................................................................123

8 REFERÊNCIAS...........................................................................................125

Page 12: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

12

1 INTRODUÇÃO

As áreas de ressurgência caracterizam-se pelo afloramento superficial de

águas profundas do talude continental, geralmente frias e ricas em sais minerais.

Nas camadas profundas, os nutrientes não são consumidos pelos produtores

primários pela ausência da fotossíntese na zona disfótica e tendem a acumular

podendo atingir as camadas superficiais eufóticas durante a ressurgência. Um efeito

ecológico natural do fenômeno da ressurgência é o aumento da produção biológica

local (VALENTIN et al, 1975).

As áreas de ressurgência juntamente com as costeiras apresentam um papel

econômico importante com 98% da produção pesqueira mundial. A piscosidade dos

locais onde se verifica o fenômeno da ressurgência aumenta, pois muitas espécies

pesqueiras se vêem atraída pelo incremento da disponibilidade de alimento. A

ressurgência não só aumenta os estoques pesqueiros disponíveis, mas também

facilita as condições de previsibilidade das atividades pesqueiras. No estudo de

modelagem geoquímica no ambiente marinho apresentado por Rolfhus;

Fitzgerald(1995) o oceano total foi representado por três compartimentos sendo o

oceano aberto abrangendo 90% da área e contribuindo com cerca de 1% da

produção pesqueira mundial; as áreas costeiras com 9,9 % da área e cerca de 49%

da pesca mundial e as áreas de ressurgência de igual importância no volume

capturado (49%) mas com apenas 0,1% da área oceânica. A importância das

áreas de ressurgência se dá em razão da sua maior produção primária de

300 g.C.m2.ano-1 em comparação às regiões oceânicas e costeiras de 50 e 100

g.C.m2.ano-1, respectivamente (TUNDISI; TUNDISI, 1976).

Page 13: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

13

As grandes áreas de ressurgências mundiais se localizam no Oceano Pacífico

Leste (costas da Califórnia e do Peru), no oceano Atlântico Leste (costas da África

do Sul e do Norte) e no oceano Índico (Costa da Somália). Na costa atlântica oeste,

a ressurgência costeira no litoral de Cabo Frio – RJ assume grande importância e

seu núcleo principal tem sido observado a oeste dessa localidade. Essa

ressurgência, entretanto, é marcadamente sazonal, ocorrendo com maior freqüência

no verão do que no inverno. A massa de água que aflora nas proximidades da costa

da ressurgência de Cabo Frio é a Água Central do Atlântico Sul (CARBONEL, 2003).

Além do aporte de nutrientes inorgânicos como os fosfatos, nitratos e silicatos

das águas de ressurgência que provocam a eutroficação das águas superficiais,

vários metais podem ser remoblizados dos sedimentos e serem disponibilizados nas

águas superficiais (GOLDBERG; MARTIN, 1983). Durante a ressurgência costeira

na região da Califórnia Central, as concentrações de manganês e ferro nas águas

superficiais aumentaram rapidamente (CHASE et al, 2005). Contudo, foi observado

um decréscimo do ferro após a ressurgência atribuído a utilização pelos produtores

primários no processo da fotossíntese.

Nas áreas de ressurgência, as formas orgânicas de mercúrio produzidas nas

águas profundas de mínimo conteúdo de oxigênio abaixo da termoclina (MASON;

SULLIVAN, 1999) podem atingir a superfície. Assim, o mercúrio pode ser

incorporado pelos produtores primários por difusão e progressivamente se acumular

nos elos seguintes da cadeia trófica. Nos consumidores de topo de cadeia, como

exemplo os peixes carnívoros, o mercúrio alcança valores de várias ordens de

grandeza superiores ao de suas presas, caracterizando o processo de

biomagnificação. A ingestão de alimento contaminado com Hg, em particular o

metilmercúrio, é considerada a maior rota de exposição ao contaminante.

O consumo de pescado com altos níveis de mercúrio tem causado muita

preocupação devido aos graves problemas de toxidade deste metal em seres

humanos. A biomagnificação do metilmercúrio nas cadeias tróficas aquáticas

constitui o vetor principal do risco de intoxicação até o homem. Estudos mostram

que é muito mais importante conhecer a forma que o mercúrio aparece no ambiente

do que determinar suas concentrações. A toxicidade deste elemento é a justa

Page 14: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

14

medida da importância de estudos sobre a biodisponibilidade do Hg na cadeia trófica

marinha, distribuição relativa do metal nos diversos elos da cadeia e sua evolução

durante o processo de biomagnificação.

A escolha do litoral de Arraial do Cabo como área de estudo justifica-se pela

ocorrência do fenômeno da ressurgência de águas profundas caracterizadas por um

aumento significativo da produtividade primária na região durante o evento

(VALENTIN et al, 1975, VALENTIN et al, 1976). Este enriquecimento da população

fitoplanctônica promove uma rápida resposta dos elos sucessivos da cadeia trófica e

o favorecimento de determinadas populações de peixes e moluscos. Por outro lado,

existe uma importante pesca artesanal local bem como uma atividade pesqueira

industrial ao longo de toda a costa fluminense influenciada pela ressurgência.

Estudos sobre a dinâmica do mercúrio em áreas de ressurgência de regiões

tropicais são inexistentes na costa brasileira. O conhecimento do ciclo

biogeoquímico do mercúrio em ambientes tropicais é de suma importância para a

predição de riscos a saúde pública, bem como servir de ferramenta para as políticas

de preservação da biodiversidade e das riquezas explotáveis.

Page 15: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

15

2 BASE TEÓRICA

2.1 BIOGEOQUÍMICA DO MERCÚRIO NO MEIO AQUÁTICO

O mercúrio está presente naturalmente nos diversos compartimentos

ambientais, em pequenas concentrações, nas formas inorgânicas e orgânicas, em

estado dissolvido e particulado e igualmente na fase liquida e gasosa. Na fase

sólida, em particular em rochas e solos, a concentração media é de 60 µg. kg-1

(REIMANN; DE CARITAT, 1998). O elemento Hg livre na natureza é raramente

encontrado.

Dentre as formas inorgânicas encontram-se o sulfeto de mercúrio (HgS),

cloreto mercuroso ( Hg2Cl2) e cloreto de mercúrio (HgCl2) que são conhecidos como

sais de mercúrio. Os compostos onde o Hg encontra-se ligado ao carbono são

denominados de formas orgânicas alquiladas ou organomercuriais. Existe um

grande número destes compostos, entre eles o dimetilmercúrio, fenilmercúrio,

etilmercúrio e metilmercúrio, entretanto, o mais importante do ponto de vista

toxicológico e ambiental é o metilmercúrio.

O conhecimento das propriedades químicas das formas químicas

prevalecentes em uma vasta amplitude de condições ambientais é imperativo para a

compreensão e previsão de seu comportamento na biogeosfera. Desta forma, é

impreciso tratar separadamente o ciclo do Hg no meio aquático dos demais

sistemas, uma vez que existem múltiplas interações entre os diversos

compartimentos naturais da biosfera.

Page 16: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

16

Na crosta terrestre encontram-se os cinturões geoquímicos de Hg em zonas

de fraturas geológicas onde ocorrem processos de mobilização e difusão e as

concentrações na camada superior excedem os valores médios. Nestas áreas

encontram-se os depósitos extraíveis, como por exemplo, os dos paises do México,

Alaska (os dois mais importantes atualmente), Espanha, China, Kyrgyzstão e

Algéria, sendo que a maior parte da produção destina-se às atividades de garimpo

de ouro legais e ilegais (UNEP,2002).

No meio ambiente, em concentrações ao nível de traços e ultratraços, o Hg

pode ser estocado nos solos e sedimentos ou migrar via hidrossistemas superficiais

e subterrâneos atingindo em particular os ecossistemas aquáticos dulcícolas,

salobros e marinhos.

As principais entradas de mercúrio (Hg) para o ambiente marinho são via

precipitação atmosférica e escoamento fluvial totalizando 2,2.103 ton.ano-1,

entretanto, a reciclagem global é responsável pela sua acumulação nos oceanos

(ROLFHUS; FITZGERALD,1995). Na atmosfera e na fase gasosa, este metal pode

circular a escala planetária. A facilidade de transporte juntamente com seu longo

tempo de residência na atmosfera de um ano ou mais conferem ao Hg o status de

poluente global ( GUNTHER et al, 1999 ; MASON et al., 1994; MOREL et al, 1998;

FITZGERALD et al, 1998). O transporte atmosférico é considerado uma das

principais vias de dispersão do Hg para o ambiente (TRAVNIKOV; 2005) podendo

atingir áreas remotas por todo planeta.

O ciclo natural do mercúrio é dominado pelo transporte atmosférico e pelas

trocas entre a atmosfera e a superfície dos continentes e dos oceanos

(FITZGERALD et al, 1983). Dentro dos solos e da água de superfície o Hg

inorgânico ( Hg2+ ) pode ser reduzido a mercúrio metálico ( Hgº ) e em seguida

volatilizado para a atmosfera.

Nos sedimentos, este metal pode ser transformado em metil-Hg em condições

anóxicas ou óxicas, processo este denominado metilação sendo intermediado por

bactérias (JENSEN; JERNELOV, 1969), podendo ser bioacumulado ao longo da

cadeia trófica aquática. Em ambientes anóxicos, o Hg tende a reagir com o enxofre

Page 17: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

17

formando HgS, o que compete com a formação de metil-Hg (BENOIT et al, 1999).

Por outro lado, o metil-Hg, em condições anóxicas, pode reagir com o sulfeto de

hidrogênio para formar o CH3Hg-S-HgCH3 (BALDI et al 1995). Este último é instável

e se degrada em cinábrio ( HgS ) e em dimetil-Hg.

Nos meios aquáticos, os níveis de Hg inorgânico e orgânico são

principalmente governados por uma parte pelo equilíbrio entre a redução e oxidação

por bactérias aeróbicas e de outra parte pelas taxas de metilação e demetilação

oxidante ou redutora. Estas transformações são tratadas com detalhes mais adiante.

Rolfhus; Fitzgerald, 1995 apresentaram um estudo de modelagem do

mercúrio no ambiente marinho considerando o oceano dividido em três

compartimentos:

- Oceano aberto – 90% da área total e entrada de Hg via atmosfera (atm)

- Zona costeira – 9,9 % e entradas de Hg via atm e fluvial

- Áreas de ressurgências – 0,1% e entradas de Hg via atm e águas profundas.

Neste modelo, a deposição atmosférica é considerada a maior fonte de Hg

para o oceano e sua entrada nas águas superficiais ocorre na zona de mistura

superficial por meio de deposição úmida ou seca. Em seguida, o Hg2+ adsorve a

partículas orgânicas e durante o afundamento é liberado e atinge as massas d’água

abaixo da termoclina no mar aberto e áreas de ressurgência (fluxo de partículas

descendentes da zona de mistura). As partículas orgânicas contendo mercúrio se

degradam durante o afundamento liberando o mercúrio.

Nas regiões de mínimo oxigênio abaixo da termoclina ocorre a metilação do

Hg2+. O MeHg formado é transportado até as camadas superficiais de misturas (

transporte advectivo e difusivo até a zona de mistura ) onde é incorporado nos elos

iniciais da cadeia trófica (ROLFHUS; FITZGERALD, 1995).

Com base neste modelo, Rolfhus; Fitzgerald, 1995 estimaram que no oceano

aberto, apenas 0,02% do aporte de Hg é metilado e transferido via cadeia trófica

para os peixes, atingindo 5,4% nas áreas costeiras. Entretanto, nas áreas de

Page 18: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

18

ressurgência, cerca de 20,3% do mercúrio que chega via águas profundas e

deposição atmosférica é metilado e transferido para a cadeia trófica.

Estas diferenças entre as regiões oceânicas foram relacionadas à taxa de

deposição atmosférica de Hg, metilação e à estrutura da cadeia trófica. Desta

maneira, os autores acima estabeleceram uma relação entre a deposição de

mercúrio nos oceanos e a concentração média de 0,2ppm encontrada nos tecidos

dos peixes marinhos.

MASON; FITZGERALD (1990; 1993) revisaram os aspectos do ciclo do

mercúrio nos oceanos e outros corpos d’ águas. Nos oceanos abertos, é aparente

que o mercúrio elementar, dimetilmercúrio e, em pouca extensão, o metilmercúrio

são as espécies majoritárias da fase dissolvida do mercúrio na água profunda.

A concentração média de 0,58 ± 0,34 ng.L-1 de mercúrio total nas águas

superficiais do Oceano Atlântico foram medidas por MASON; SULLIVAN, 1999 e

não foram detectados metilmercúrio nem dimetimercúrio (DMHg) nas águas da

camada de mistura.

O DMHg é a espécie orgânica mais comum no ambiente marinho e sua

formação está diretamente relacionada com a atividade microbiana em água

profundas ( > 800 m) abaixo da termoclina. No oceano Atlântico Sul, as maiores

concentrações de DMHg ( 0,022 ng.L-1 ) foram encontradas nas massas d´água da

``Água Intermediária da Antártica´´ e na `` Água Profunda da Antártica´´ (MASON;

SULLIVAN,1999).

Nas águas de superfície do oceano aberto o dimetilmercúrio é volatilizado em

conseqüência de sua decomposição na presença da luz e uma perda potencial

adicional via evaporação junto com a água. Entretanto, em lagos de águas

temperadas, contrariamente ao que ocorre nos oceanos os níveis de metilmercúrio

são maiores do que os de dimetilmercúrio. Os estudos em ambientes de água doce

e estuários demonstraram que a metilação do mercúrio ocorre primeiramente sob

baixos níveis de oxigênio dissolvido e é mediada principalmente pelas bactérias

sulfato-redutoras encontradas nos sedimentos ( ULLRICH et al, 2001).

Page 19: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

19

Os estudos da interação entre a atmosfera – água – sedimento têm

demonstrado a importância do conhecimento da dinâmica deste metal, a

complexidade de reações e transformações abióticas e bióticas ao longo de seu

trajeto nos vários compartimentos ambientais conferindo ao seu ciclo características

singulares que pode ser ilustrado conforme a figura 1.

FIGURA 1 - Dinâmica e ciclo do mercúrio nos vários compartimentos

ambientais. Adaptado de LAMBORG et al. (2002)

Hgp : particulado; Hgo : metálico ; Hg+2 : inorgânico; CH3Hg+ : metilmercúrio

Page 20: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

20

2.1.1 Fontes de mercúrio

As vias de entrada antrópicas e naturais do mercúrio para o ambiente são

múltiplas. Os grandes reservatórios biogeoquímicos deste metal (atmosfera,

oceanos, sedimentos e continentes) são continuamente impactados pela

contaminação do mercúrio e participam ativamente na sua distribuição em escala

global.

O papel central do compartimento atmosférico e o mercúrio elementar como

vetor da contaminação contribuíram indubitavelmente para a dispersão global

contaminando zonas muito afastadas das fontes de emissão (MIERLE, 1990;

LINDQVIST, 1991; FITZGERALD et al, 1998). A distribuição do Hg no ambiente é

complexa porque este elemento, introduzido por via antrópica ou natural, é

continuamente reciclado na biogeosfera.

2.1.1.1 Fonte natural

A principal entrada de mercúrio para a atmosfera tem lugar sob a forma de

vapor de mercúrio elementar e por transferência via a atmosfera. As emissões

continentais naturais, representando cerca de 5 Mmol ano-1, são essencialmente

ligadas aos fenômenos de desgaseificação da crosta terrestre como as erupções

vulcânicas e fontes geotermais. A segunda fonte natural de mercúrio para a

atmosfera é a produção de Hg° nas águas de superfície. A emissão de Hg° a partir

dos oceanos atualmente é considerada 4 Mmol ano-1, valor comparável à

volatilização natural a partir dos continentes (LAMBORG et al, 2002), .

Na atmosfera, Hgº é sujeito a reações de oxidação lenta, com tempo de

meia-vida compreendido entre 0,3 e 2 anos (FITZGERALD et al, 1998). Os estoques

atmosféricos de mercúrio inorgânico assim formados constituem a fonte majoritária

de mercúrio para os ambientes aquáticos e igualmente para os terrestres (BLOOM,

1992; FITZGERALD et al, 1998). Atualmente, as deposições atmosféricas globais,

secas e úmidas, atingem 11 Mmol.ano-1 sobre os continentes e 10 Mmol.ano-1 nos

oceanos (LAMBORG et al, 2002).

Page 21: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

21

2.1.1.2 Fonte antrópica

O fluxo antrópico global de mercúrio elementar Hgº para a atmosfera é

estimado entre 9.5 e 13 Mmol ano-1 e contribui para 80% das contribuições

antrópicas ao ambiente (PACYNA; PACYNA, 2002; LAMBORG et al, 2002). Os 20%

restantes estão distribuídos entre os resíduos dos agrotóxicos a base de

organomercuriais encontrados nos solos, nos despejos das lamas de estações de

depuração de efluentes (ambos somando 15%) e, por último, os rejeitos industriais

direto para as águas superficiais continentais que constituem os 5% restantes

(STEIN et al, 1996).

As principais fontes antrópicas pontuais são industriais, através da queima de

combustíveis e principalmente o carvão, a queima nos lixões, as emissões da

indústria química (eletrólise cloroalcalina), a metalurgia não ferrosa (cobre, níquel,

chumbo) e produção de aço e cimento (PIRRONE et al, 1996; PACYNA; PACYNA,

2002).

As emissões antrópicas perturbaram fortemente o ciclo natural do mercúrio,

desde o inicio da era industrial. As emissões de mercúrio, as concentrações no ar,

nas águas e sedimentos superfícies estão em média três vezes superiores aos da

época pré-industrial. Todos os compartimentos ambientais foram contaminados pelo

mercúrio que provem das atividades humanas (MASON et al, 1994). Fitzgerald et al

(1991) estimaram que se todas as emissões antrópicas fossem interrompidas,

demoraria cerca de 15 anos para que os estoques de mercúrio nos oceanos e na

atmosfera retornassem aos níveis da época pré-industrial.

A figura 2 ilustra o aumento no último século do nível de contaminação

registrado em testemunhos de sedimentos marinhos (ODDVAR;THORSNES, 1997)

na costa sul da Noruega ( linhas vermelha, marron e verde ). A linha azul representa

o perfil do testemunho próximo da costa sueca.

Page 22: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

22

FIGURA 2 - Variações da concentração de Hg ao longo de testemunhos de

sedimentos marinhos na costa sul da Noruega e da Suécia.

2.1.2 Transformação do mercúrio no sistema aquático

A evolução do mercúrio nos sistemas aquáticos é governada pelos fluxos

entre compartimentos e as transformações naturais que podem sofrer as diferentes

formas químicas mercuriais presentes nestes compartimentos. A Figura 3 apresenta

de maneira sintética esses mecanismos em meio aquático.

Adaptada de ODDVAR;THORSNES, 1997.

Page 23: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

23

FIGURA 3 - Transferências e transformações das espécies químicas do

mercúrio no meio aquático.

As duas principais vias de transformação do mercúrio inorgânico nos

ambientes aquáticas são as reações de oxi-redução e metilação. Estes processos

revelam-se primordiais porque eles alteram as propriedades físico-químicas do

mercúrio e consequentemente a sua dinâmica ambiental e sua biodisponibilidade.

A redução do Hg+2 a mercúrio elementar provoca assim uma mobilidade

amplificada do contaminador e sua reciclagem via atmosfera. Por outro lado,

formação de espécies alquiladas via metilação, aumenta sua biodisponibilidade e

bioamplificação nas cadeias tróficas.

É importante sublinhar que só uma fração do mercúrio inorgânico está

disponível para estas reações de transformação. A hipótese do substrato, formulada

por Mason; Fitzgerald (1990) e por Fitzgerald et al (1991), propõe que somente as

espécies lábeis do mercúrio inorgânico ou mercúrio reativo participam nos

mecanismos de redução e metilação em meios aquosos.

Adaptado de Stein et al., 1996).

Page 24: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

24

As cinéticas e a intensidade destas transformações deveriam depender do

teor do Hg+2 presente nas águas naturais, mais do que da concentração do mercúrio

total dissolvido. Este último ponto reforça ainda o interesse indiscutível da

especiação química do Hg em diferentes matrizes ambientais para compreender

corretamente a sua evolução e avaliar o risco ecotoxicológico associado.

2.1.3 Redução do mercúrio

A redução do mercúrio inorgânico é considerada como a fonte principal de

mercúrio elementar nas águas marinhas (MASON; FITZGERALD, 1993) ou lacustres

(FITZGERALD et al., 1991; AMYOT et al, 2000). Esta via de transformação permite

reduzir a concentrarão de mercúrio inorgânico em ambientes aquáticos e, por

conseguinte limitar o substrato para a metilação. Os teores de mercúrio elementar

nas águas resultam da combinação de processos fotoquímicos e biológicos.

2.1.3.1 Redução abiótica

Nas águas de superfície, a fotoredução do Hg2+ em Hg° é induzido pelas

radiações UV (AMYOT et al, 1994; 1997; COSTA; LISS, 1999). Este mecanismo é

estimulado igualmente pela reatividade fotoquímica de diversos componentes das

águas naturais e certas formas complexadas do mercúrio. A partir de incubação de

amostras naturais de águas doces ou marinhas vários estudos demonstraram os

mecanismos potenciais da redução abiótica. Os ácidos húmicos e fúlvicos são

capazes de reduzir Hg+2 em Hgº (ALLARD; ARSENIE, 1991; MATTHIESSEN, 1999).

A fotoredução de Hg+2, catalisado por ferro (III), também foi demonstrada (ZHANG;

LINDBERG, 2001). Os complexos orgânicos do mercúrio que apresentam ligantes

fotoreativos participam igualmente na redução fotoquímica (XIAO et al, 1995;

WEBER,1999; NRIAGU, 1994). Conseqüentemente, a intensidade luminosa, a

composição e a concentração da matéria orgânica dissolvida (MOD), os teores de

ferro reativo bem como a disponibilidade do mercúrio inorgânico condicionam a

redução fotoquímica (ZHANG; LINDBERG, 2001; AMYOT et al, 2004).

Page 25: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

25

As reações fotoquímicas não são os únicos mecanismos implicados na

redução do Hg+2, uma vez que concentrações elevadas de mercúrio gasoso

dissolvido (Hg° e DMHg) podem ser observadas em águas profundas (MASON et

al, 1995a).

Apesar de numerosos mecanismos de reações terem sido detalhados em

laboratório, a redução do mercúrio inorgânico e a sua respectiva contribuição para a

dinâmica química do mercúrio nas águas naturais ainda não foram totalmente

elucidados (ZHANG, LINDGERG, 2001; O' DRISCOLL et al, 2004).

2.1.3.2 Redução biótica

Os mecanismos biológicos aparentam ser as principais vias de redução do

mercúrio inorgânico nos sistemas aquáticos marinhos e continentais (MASON;

FITZGERALD, 1993; FITZGERALD et al, 1991; MASON et al, 1993; SICILIANO et

al, 2002). As bactérias heterotróficas e o fitoplâncton são considerados como

principais atores na redução em meio aquático (MASON et al, 1995b; MASON et al,

1998). Estas reações são essencialmente induzidas pelas atividades enzimáticas

que se produzem na membrana superficial das células dos microorganismos

(bactérias e algas) (SICILIANO et al, 2002; BARKAY et al, 2003; POULAIN et al,

2004).

Experiências em laboratório ou in situ, demonstraram que certas bactérias

são capazes de reduzir o mercúrio por uma via enzimática codificada geneticamente

pelo gene mar A (BARKAY et al, 2003). SICILIANO et al (2002) têm igualmente

destacado a complexidade e a interação dos processos enzimáticos microbianos de

redução e de oxidação que controlam os teores de Hgº em águas doces de

superfície. Além disso, POULAIN et al, 2004 mostraram que os organismos

fototróficos como as algas são capazes de reduzir o mercúrio e que este processo é

estreitamente ligado à atividade fotossintética. Assim, a atividade biológica dos

organismos que participam na redução do Hg+2 em águas superficiais é estimulada

pela intensidade da luz e altas temperaturas favorecendo desta maneira as

emissões de Hg° à atmosfera (BARKAY et al, 2003).

Page 26: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

26

Por último, a reoxidação do Hg° em Hg+2 freqüentemente tem sido ignorada,

devido à supostamente fraca reatividade do Hg°. Estudos recentes mostram que

este mecanismo induzido pela ação da matéria orgânica dissolvida, dos cloretos ou

da atividade enzimática microbiana pode até mesmo contrabalançar as reações de

redução e ter uma influência significativa sobre a especiação do mercúrio nos

sistemas aquáticos (SICILIANO et al, 2002; LALONDE et al, 2001).

2.1.4 Metilação do mercúrio

Metilação do mercúrio inorgânico nos meios aquáticos efetua-se por meio de

processos naturais bióticos ou abióticos. A metilação puramente por reações

químicas do mercúrio é também possível se as moléculas doadoras do grupamento

metil estiverem presentes. A importância relativa dos mecanismos de metilação

abiótica contra os bióticos no ambiente aquático natural não foi estabelecida ainda,

mas acredita-se geralmente que a metilação do mercúrio é predominantemente um

processo mediado por bactérias (ULLRICH et al, 2001).

Os sedimentos superficiais constituem geralmente o sítio privilegiado de

metilação (GILMOUR; HENRY, 1991; GILMOUR et al, 1998). No entanto estes

processos podem igualmente ser observados, em uma menor escala, na coluna de

água (MASON; FITZGERALD, 1990; PONGRATZ; HEUMANN, 1998;

LEERMAKERS et al, 2001). Estes mecanismos de transformação conduzem a

produção de espécies metiladas mais tóxicas e biodisponíveis (monometilmercúrio -

MMHg) e também mais móveis e voláteis (dimetilmercúrio - DMHg).

Nas águas oceânicas, as zonas de baixa concentração de oxigênio

apresentam uma atividade microbiana importante, onde ocorre a formação do DMHg

(MASON; SULLIVAN, 1999; COSSA et al, 1994). Em geral, nos ecossistemas

aquáticos, a proporção de MMHg encontra-se entre 0,01 a 10% em relação ao

mercúrio total da água e também dos sedimentos, de 10 a 30% nas plantas, de 20 a

80% nos invertebrados e de 60 a 99% nos peixes predadores, aves de rapina e

alguns mamíferos como as raposas (USEPA, 1997a)

Page 27: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

27

2.1.4.1 Metilação abiótica

Várias vias potenciais de metilação do mercúrio por processos físico-químicos

foram propostas (WEBER, 1993). Estes mecanismos podem ser observados na

água e nos sedimentos. Numerosos agentes metilantes, naturalmente presentes no

ambiente são susceptíveis de alquilar o Hg+2 pela transferência de um radical metila

( CH3- ) como a metilcobalamina (CRAIG, 1986) e as substâncias húmicas (WEBER,

1993).

A metilação abiótica por substâncias húmicas e fúlvicas foi demonstrada por

Weber (1993) em laboratório. No entanto, em meio natural, o mercúrio inorgânico

tende a formar complexos estáveis com as substâncias húmicas, o que reduz o

potencial de metilação. A metilação do mercúrio inorgânico na coluna de água pode

ser induzida por via fotoquímica. Esta reação efetua-se sob a ação das radiações

UV e através de produtos afins do metabolismo biológico como o ácido acético,

metanol, sulfeto de hidrogênio e aminoácidos (GARDFELDT et al, 2003).

Por último as reações abióticas de formação de DMHg constituem igualmente

um processo que conduz à produção de espécies voláteis susceptíveis de serem

desgaseificadas. A metilação de Hg+2 pela metilcobalamina em pH superior a 7

pode prosseguir até a formação de DMHg, embora a segunda etapa da metilação

seja muito lenta (CRAIG, 1986).

Nos ambientes ricos em sulfetos, como os sedimentos, a dimetilação pode

também resultar de uma reação de dismutação do MMHg ( BALDI et al, 1995). O

DMHg volátil assim formado pode ser transferido através da coluna d’água e

potencialmente alcançar a atmosfera. Por outro lado, na presença de sulfeto pode

ocorrer a formação do sulfeto mercúrico (HgS) que é pouco solúvel tornando menor

a quantidade de Hg+2 disponível para a metilação (BENOIT et al, 1999).

O HgS assim formado constitui um ponto chave da ciclagem do Hg nos

sedimentos (ANDERSEN et al, 1990).

Page 28: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

28

2.1.4.2 Metilação biótica

Nos sistemas aquáticos não perturbados, metilação biótica é reconhecida

como a principal via de formação de MMHg (ULLRICH, 2001). Diferentes tipos de

organismos, como as bactérias (GILMOUR et al, 1992; PAK; BARTHA, 1998; KING

et al, 2001), as macroalgas (PONGRATZ; HEUMANN, 1998) e as macrófitas

(MAURO et al, 2002), foram identificados como sendo participantes destas

biotransformações.

As bactérias sulfato-redutoras (BSR) são reconhecidas como sendo os

principais mediadores da metilação do mercúrio nos sedimentos anóxicos marinhos,

estuarinos e de água doce (GILMOUR et al, 1992; KING et al, 2000 ) assim como

nas águas anóxicas lacustres (MATILAINEN, 1995). Diversos experimentos de

inibição específica das atividades das BSR, por adição de molibdato (MoO4-2 ),

confirmaram o papel primordial destes microorganismos na metilação do Hg nos

sedimentos ( KING et al, 1999). Inversamente, a presença de sulfatos estimula a

atividade dos BSR e aumenta conseqüentemente a produção de MMHg (GILMOUR

et al, 1992). No entanto, teores de sulfetos elevados, induzidos pela sulfatoredução,

são susceptíveis de limitar a disponibilidade Hg via formação de sulfeto de mercúrio

e, por conseguinte de diminuir significativamente as taxas de metilação (GILMOUR

et al, 1998;).

Os mecanismos do metabolismo microbiano operantes na metilação do Hg

são pouco conhecidos. A biometilação pode ser enzimática (CHOI et al, 1994a;b;

KING et al, 2000) ou não enzimática (MATILAINEN,1995). A primeira via necessita

da participação ativa de organismos metabolizantes, enquanto que a segunda

requer unicamente a presença no meio dos produtos da atividade metabólica como,

por exemplo, a produção de metilcobalamina (BISINOTI, JARDIM, 2004). A

metilação enzimática depende da fisiologia das bactérias dominantes bem como do

metabolismo do carbono.

KING et al (2000) mostraram que as bactérias que utilizam o acetato como

fonte de carbono parecem metilar mais eficientemente o Hg em razão da

participação da enzima metiltransferase. Além disso, em ambientes de água doce,

Page 29: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

29

PAK et al (1998) observaram o estabelecimento de uma sinergia específica entre

BSR e bactérias metanogênicas proporcionando uma metilação significativa de

mercúrio.

Nos sistemas aquáticos naturais, a amplitude dos mecanismos de metilação

bióticos e abióticos depende de um conjunto de parâmetros físico-químicos e

ambientais dificilmente reprodutíveis em laboratório, como o pH, as condições redox,

a biodiversidade microbiana, os teores de sulfeto e da matéria orgânica e a presença

de agentes metilantes biogênicos ou organometálicos.

Embora diversos esquemas reacionais da metilação abiótica tenham sido

demonstrados in vitro como possíveis e eficazes, a biometilação nos sedimentos

apresenta-se como a via privilegiada de formação do MMHg nos ecossistemas

aquáticos naturais (GILMOUR et al, 1992; KING et al, 2000 ).

2.1.5 Desmetilação do mercúrio

Os processos de desmetilação do MMHg podem ser de natureza abiótica ou

biótico e acontecem na água e nos sedimentos. Dentre os processos de

desmetilação abiótica observa-se a fotodegradação do MMHg na coluna de água

(SELLERS et al, 1996). Nas águas de superfície, este mecanismo pode tornar-se

significativo e representar uma via de transferência não negligenciável do Hg para a

atmosfera (GARDFELDT et al, 2003). Mason; Sullivan, 1999 trabalhando com

incubação in situ de amostras das águas do oceano Atlântico Sul concluíram que a

decomposição do dimetilmercúrio e metilmecúrio é favorecida pela luz e temperatura

sendo significativamente maior em águas superficiais que em águas profundas e

frias.

Em estudo realizado por Bisinoti, 2005 nas águas da bacia do rio Negro –

Amazônia foi constatado que a radiação solar é capaz de degradar cerca de 55% do

MMHg presente na superfície das águas brancas sendo o Hg2+ um dos produtos

finais. Nas águas pretas, o fotodegradação do MMHg foi ainda maior alcançando

até 80%.

Page 30: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

30

A desmetilação microbiana do MMHg se efetua seja por via redutora

principalmente no meio aeróbio (OREMLAND et al, 1991), seja por via oxidativa em

condições anóxicas (MARVIN-DIPASQUALE et al, 2000). Diversas bactérias

resistentes ao Hg desenvolveram mecanismos enzimáticos de desintoxicação. Na

desmetilação redutora atuam enzimas codificadas pelo gene MerB que hidrolisam os

compostos organomercuriais e são capazes de quebrar a ligação Hg-Carbono para

formar Hg2+ que é prontamente reduzido em Hg° pela enzima mercúrio redutase,

codificada pelo gene MerA. Os produtos finais desta reação são metano e Hg°

(BARKAY et al, 1991). Por outro lado, a desmetilação oxidativa gera o dióxido de

carbono e o Hg+2 ( AMYOT et al, 1997; OREMLAND et al, 1991; 1995). Assim a

compreensão dos processos de biotransformação do mercúrio refina-se

continuamente, pela combinação da biologia molecular e a análise de especiação

química. Desenvolvimentos analíticos recentes permitiram ascender a um melhor

nível de conhecimento dos mecanismos antagônicos da metilação e desmetilação. A

utilização de traçadores radioativos ou de traçadores isótopos estáveis

(HINTELMANN et al, 2000) possibilitam a diferenciação e caracterização das

respectivas cinéticas.

Numerosos estudos (BISINOTI, 2005; MASON; SULLIVAN, 1999; SELLERS

et al, 1996) baseados em incubações de amostras naturais permitiram a

compreensão convenientemente destes processos a partir de sistemas que

apresentam graus de organização simples e controláveis. O desafio reside entre

outras coisas na nossa capacidade de reproduzir de maneira correta as condições

ambientais. O estudo simultâneo dos processos de metilação, desmetilação e de

volatilização permite assim determinar a disponibilidade de mercúrio no que diz

respeito a um dado ecossistema e de avaliar a sua toxicidade global (MONPERRUS

et al, 2004).

Page 31: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

31

2.2 TOXICIDADE DO MERCÚRIO

A toxicidade do mercúrio para os organismos vivos em geral e para o homem

em especial foi tragicamente ilustrada por vários episódios de envenenamento à

grande escala de populações expostas ao metilmercúrio via alimentação ocorridos

no Japão entre 1950 e 1970 e no Iraque entre 1971 e 1972 (BAKIR et al, 1973,

1993; HARADA, 1995). A dinâmica da biogeoquímica do mercúrio reforça

igualmente o impacto ecotoxicológico nefasto deste elemento em ecossistemas

naturais.

As principais vias de exposição para o homem são a inalação de mercúrio

elementar e a ingestão de alimentos contaminados por metilmercúrio

particularmente os peixes. A bioacumulação do metilmercúrio e em menor escala o

mercúrio inorgânico nas redes tróficas aquáticas constitui o vetor principal do risco

de intoxicação até ao homem (USEPA, 1997a,b )

Casos extremos de contaminação por este metal, como o da Baía de

Minamata - Japão ocorrida em 1953, que provocou a mortalidade de peixes,

moluscos e aves em níveis alarmantes, além do fato mais trágico, a morte de

milhares de seres humanos que consumiram pescado contaminado. O derrame de

uma centena de toneladas de mercúrio na baía causou um impacto geral e

duradouro neste ecossistema provocando prejuízos fisiológicos irreversíveis para as

gerações seguintes (USEPA, 1997b).

Os altos níveis de mercúrio encontrados em peixes de elevado nível trófico

(DE PINHO et al, 2002; MENDEZ et al, 2001; LACERDA et al, 2000) têm causado

muita preocupação devido aos graves problemas de toxidade deste metal em seres

humanos que consomem este pescado contaminado (BOUDOU; RIBEYRE, 1997;

USEPA, 1997b ). Mesmo quando presente em baixas concentrações no ambiente,

como é o caso de algumas ilhas isoladas, as populações têm se mostrado sensíveis

à contaminação em função de seu tipo de alimentação.

Page 32: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

32

Estudos demonstraram que a poluição por mercúrio pode atingir áreas

remotas como nas ilhas Seychelles ( DAVIDSON et al., 1995; CRUMP et al., 2000)

e ilhas Faeroes (MURATA et al., 1999; ) onde residentes em áreas não poluídas

apresentaram contaminações por mercúrio através de dietas à base de carne de

pescado e baleias.

Mesmo que a contaminação dos organismos aquáticos e em especial os

peixes pelo MMHg não possa causar um efeito letal por sua ingestão pelo homem

salvo em casos extremos, o largo espectro das patologias humanas graves

associados à uma exposição ao mercúrio sob forma inorgânica ou orgânica ilustram

a periculosidade deste poluente (EPA, 1997b).

No Brasil, além dos problemas de contaminação por mercúrio identificados

nas regiões onde existe atividade garimpeira ( e.g AKAGI et al., 1995; CASTILHOS;

BIDONE, 2001; LACERDA, 1997), o mercúrio pode ser um contaminante importante

em áreas costeiras, principalmente em populações que vivem da pesca e consomem

peixe com muita freqüência. Nos Estados Unidos, Fleming et al (1995) fizeram

extenso estudo, mostrando que populações de pescadores de subsistência e

pescadores esportivos, assim como habitantes dos Everglades (Flórida) que não

estão em áreas contaminadas, mas que consomem carne de peixe mais de duas

vezes por semana apresentavam concentrações de mercúrio no cabelo de até 15 µg

g-1, que corresponde ao limite máximo estabelecido pela WHO. Todos estes estudos

estabelecem claramente o perigo da presença do mercúrio na alimentação humana,

contudo os caminhos percorridos e transformações que ocorrem durante o processo

de biomagnificação em diferentes tipos de ambientes não estão totalmente

esclarecidos.

A exposição do homem ao mercúrio pode provocar distúrbios neurológicos,

gastrointestinais, renais, dermatológicos, cardiovascular e imunitários (ZAHIR et al,

2005). Zahir et al, 2005 em seu artigo de revisão descrevem os efeitos adversos na

saúde humana das exposições a baixas doses de mercúrio.

Page 33: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

33

A tabela 1 apresenta de forma sucinta os efeitos da toxicidade do Hg sobre

diversos sistemas orgânicos. A organização mundial da saúde (WHO IPCS, 1991)

assinala que a partir de uma concentração na urina de 40 µg Hg. L-1, o risco em

desenvolver os sintomas previamente citados torna-se importante, enquanto que o

valor normal de referência foi considerado a 4µg Hg. L-1.

O MMHg, composto liposolúvel, é estável na maior parte dos organismos e é

capaz de atravessar facilmente a barreira sangue-sistema nervoso central (SNC), a

barreira placentária bem como as membranas celulares. Uma vez dentro do SNC, o

MMHg acumula-se provocando disfunções e induzindo a degeneração de neurônios

( ASCHNER, 2002). O tempo de meia-vida do MMHg no organismo é longo e

estimado em cerca de 70 dias no sangue contra 3 a 4 dias para as formas

inorgânicas. No SNC, pode atingir 270 dias ou mais ( USEPA, 1997a). Este caráter

persistente e conseqüentemente tóxico confere uma aptidão dos compostos

mercuriais orgânicos e inorgânicos em formar complexos estáveis com ligantes

intracelulares tais como as associações com o grupo thiol das proteínas e das

enzimas.

Finalmente, a toxicidade das espécies mercuriais é determinada

principalmente pela especiação, facilidade em atravessar as barreiras biológicas e

pelo metabolismo dos organismos receptores (equilíbrio absorção/excreção). Assim

os compostos alquilados do mercúrio e principalmente o MMHg são extremamente

tóxicos, de metabolismo lento e facilmente bioacumuláveis. O MMHg mesmo em

concentrações muito baixas apresenta periculosidade aos organismos aquáticos.

As concentrações letais do MMHg para os organismos aquáticos são geralmente

compreendidos entre 10 e 100 µg.L-1 (WHO IPCS, 1989).

Page 34: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

34

TABELA 1 - Efeitos da toxicidade do mercúrio em doses baixas sobre diversos

sistemas orgânicos.

Sistema nervoso

Adultos

A perda da memória, incluindo mal de

Alzheimer, demência, déficit de atenção,

hipoestesia, ataxia, disartria, tremor

subclinical do dedo, diminuição da audição e

da visão, distúrbios sensoriais e aumento de

fadiga.

Crianças Deficiência de linguagem (retardo no falar) e

de memória, déficit de atenção, Autismo

Sistema motor

Adultos

Disrupção da função fina motora, diminuição

da força muscular, aumento da fadiga

Crianças

Retardo no caminhar

Sistema renal

Aumento dos níveis de creatinina plasmática

Sistema cardiovascular

Alteração da homeostase cardiovascular

Sistema imunológico

Diminuição total da imunidade corporal,

Exacerbação do lúpus auto-imunidade,

esclerose múltipla, tireoidite auto-imune,

eczema atópico

Sistema reprodutivo

Diminuição da taxa da fertilidade em homens

e mulheres, nascimento de descendentes

anormais

Adaptada de ZAHIR et al, 2005

Page 35: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

35

2.3 BIOACUMULAÇÃO DO MERCÚRIO

O mercúrio possui grande afinidade pela matéria orgânica quer seja por

sua capacidade de adsorção superficial e/ou por sua incorporação interna em

uma grande variedade de organismos encontrados na natureza (MEILI, 1997). O

aspecto preocupante é sua capacidade de se acumular nos organismos ao longo

da cadeia alimentar aquática e apresentar elevadas concentrações podendo

magnificar-se no topo da cadeia. O Hg para atingir altas concentrações nos

peixes não deve ser apenas absorvido eficientemente pelos microrganismos que

estão na base da cadeia trófica, ele deve também ser retido por estes organismos

e transferido para seus predadores (MOREL et al, 1998).

O fracionamento celular do mercúrio nos organismos inferiores (bactérias,

fitoplâncton) é função de sua especiação química e vai condicionar a sua

evolução nas redes tróficas. Estes mecanismos parecem ser a base da

bioamplificação nos sistemas tróficos aquáticos (MASON et al, 1996a;b ;

REINFELDER, FISHER, 1991; SUNDA 1989; LAWSON; MASON, 1998). Embora

as concentrações das espécies mercuriais nas águas naturais não sejam tóxicas

para o fitoplâncton, primeiro elo da cadeia alimentar aquática, o problema torna-se

significativo para os organismos superiores (ABREU et al, 2000; HINES et al,

2000).

O fitoplâncton é capaz de concentrar metais a partir da fase dissolvida

(fração < 0,2 µm) até mais de 105 vezes a concentração do meio (FISHER;

REINFELDER, 1995; BOUDOU, RIBEYRE, 1997). Desta forma, o primeiro elo da

cadeia alimentar, será em grande parte o precursor da introdução do mercúrio nas

redes tróficas aquáticas (FERRARA; MASERTI, 1992; RIBEIRO, et al, 2000).

A acumulação do mercúrio em solução pelos organismos unicelulares e o

fitoplâncton efetua-se primeiro pela difusão passiva das formas neutras e o

transporte ativo das formas ionizadas através das membranas celulares (SUNDA,

1998; MILES et al, 2001; ANSON MOYE et al, 2002).

Page 36: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

36

Em uma segunda etapa, as espécies de mercúrio incorporadas, vão

interagir com as estruturas celulares e distribuir-se em função de sua especiação

química. MASON et al, 1996a,b destacaram que na diatomácea Thalassiosira

weisflogii, o Hg2+ parece complexar-se majoritariamente com as membranas

celulares enquanto que o MMHg permanece em solução no citosol ou associado

a organelas. As membranas celulares do fitoplâncton contendo Hg2+ uma vez

ingeridas pelo zooplâncton são em grande parte excretadas, enquanto o mercúrio

orgânico em solução é assimilado (REINFELDER, FISHER, 1991). Assim o

MMHg será transferido eficazmente ao predador .

A figura 4 apresenta um esquema da bioacumulação do mercúrio nos

primeiros elos da cadeia trófica marinha. As concentrações de Hg(II) e MeHg

foram estimadas dos valores médios na água do mar ( MOREL et al, 1998)

FIGURA 4 - Esquema da bioacumulação do mercúrio nos primeiros elos da

cadeia trófica marinha

Adaptado de MOREL et al, 1998.

FITOPLÂNCTON ZOOPLÂNCTON

Page 37: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

37

Metilmercúrio é a fração do Hg total que é mais eficientemente transferida

até os níveis mais altos na cadeia trófica ( WATRAS, BLOOM,1992; WESTCOTT;

KALFF,1996 ). A forma orgânica é absorvida mais rapidamente que a inorgânica e

sua meia-vida biológica mais longa. A eliminação de metilmercúrio de organismos

aquáticos e peixes é lenta, podendo levar meses ou anos. Com respeito ao Hg2+,

a perda é mais rápida e assim a maior parte do Hg ingerido é retida como

metilmercúrio ( WHO, 1989 ).

Um aumento na concentração de Hg é observado a partir de peixes

planctófagos em direção aos grandes peixes carnívoros, sendo que os

consumidores de topo de cadeia tais como tubarões, marlim, atum, tucunaré,

pirarucu apresentam os maiores teores ( AL-MAJED; PRESTON, 2000; BRYAN,

1979; CASTILHOS; BIDONE, 2001; LACERDA et al, 1994; MAURICE-

BOURGOIN et al, 2001, STORELLI et al, 2005a). Os peixes apresentam em geral

níveis médios na ordem de 0,2 mg.Kg-1, podendo alcançar valores próximos a

1mg.Kg-1 dependendo da sua posição na cadeia trófica. Isto indica que o

metilmercúrio pode progressivamente concentrar-se nos elos sucessivos da

cadeia alimentar alcançando altos valores devido a biomagnificação (MASON et

al, 1996b; SCHAANNING et al, 1996; VAITHIYANATHAN et al., 1996) .

A biomagnificação do metilmercúrio exerce uma influência significativa no

impacto do Hg sobre os animais e humanos. Nos peixes, o MMHg está ligado

fortemente por meio de ligações covalentes aos grupos sulfidrilas das proteínas e

cerca de quase 100% do mercúrio bioacumulado nos peixes predadores está na

forma orgânica (BLOOM, 1989; 1992; USEPA, 1997a). Estas ligações fortes

resultam em tempos de meia-vida prolongados para a sua eliminação. Como

conseqüência, existe um enriquecimento seletivo de metilmercúrio que se move

de um nível trófico para o seguinte e mais alto nível trófico. Esta seletividade da

transferência trófica entre as espécies mercuriais, baseada na especiação

química e reatividade amplifica de maneira dramática a contaminação das

biocenoses aquáticas e o grau de toxicidade para os organismos predadores

superiores.

Page 38: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

38

Por fim, a quantidade de mercúrio acumulado nos diversos níveis tróficos,

depende, portanto, da eficiência da transferência entre os níveis tróficos e da

complexidade da cadeia alimentar nos primeiros níveis tróficos e nas inter-

relações fito-zooplâncton (TUNDISI, TUNDISI, 1976).

Os ambientes aquáticos, em particular objeto desta tese, merecem uma

atenção especial com relação aos aspectos da bioacumumação e da

biomagnificação. Ambas as espécies, tanto o MMHg quanto o Hg2+ são

absorvidos pelo fitoplâncton diretamente da água por processo de difusão

passiva. Os gradientes de concentrações de mercúrio entre o meio externo (água)

e o interno ( fitoplâncton) são na ordem de grandeza de 105 - 106 .

Convém assinalar, que existe uma diferença entre os termos

bioconcentração, bioacumulação e biomagnificação (BOENING, 2000; GRAY,

2000), muitas vezes citados na literatura de maneira incorreta e que são

transcritos a seguir.

Bioconcentração – entrada de uma substância química em um organismo

diretamente do meio abiótico resultando em maiores concentrações dentro do

organismo que no meio.

Bioacumulação - entrada de uma substância química em um organismo do

meio abiótico e/ou biótico (alimento) resultando em maiores concentrações dentro

do organismo que no meio abiótico e/ou biótico.

Biomagnificação – transferência de substância xenobiótica do alimento

para o organismo, resultando em maiores concentrações dentro do organismo

que na fonte alimentar.

A bioacumulação no fitoplâncton é o processo inicial de transferência do Hg

ao longo da cadeia alimentar aquática. Nos elos sucessivos, a dieta alimentar é

um componente decisivo nos mecanismos de amplificação do teor de Hg em

tecidos animais. O hábito alimentar é o fator preponderante da concentração de

Hg para os peixes, mamíferos e aves aquáticas. A primeira aproximação que

permite efetuar inferências acerca dos hábitos alimentares de peixes é baseada

Page 39: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

39

na análise da morfologia do corpo, forma e posição da boca, tipos de dentes e/ou

rastros branquiais e anatomia do sistema digestivo. Na avaliação dos hábitos

alimentares, a análise do conteúdo estomacal permite a descrição dos recursos

faunísticos e florísticos utilizados pelas espécies, além de possibilitar a

compreensão dos processos de transferência de matéria e energia na cadeia

trófica e no próprio ecossistema.

Pesquisas recentes têm apontado a influência de parâmetros ambientais

na acumulação de Hg nestes organismos (THOMPSON, et al 1998; WESTCOTT,

KALFF, 1996). Existem vários fatores como os abióticos (gradientes de

contaminação e parâmetros físicos e químicos do ambiente aquático) e bióticos

(espécies, sexo, idade, dieta e metabolismo) que podem afetar a acumulação de

metais em organismos marinhos. Entre estes fatores, a dieta tem sido

majoritariamente reconhecida como a maior rota de acumulação de metilmercúrio

para os organismos vivos. Uma vez o alimento apresente-se contaminado por Hg,

a taxa de ingestão e de assimilação e conseqüentemente a taxa de excreção

governam e definem se o processo será de bioacumulação ou de

biomagnificação.

A bioacumulação de mercúrio em peixes é geralmente relacionada com o

tamanho (Jackson, 1990), tempo de exposição e cinética de acumulação. O Hg

acumulado apresenta uma tendência de aumento com a idade, entretanto o

comprimento do peixe pode ser usado como uma aproximação da idade do

animal. A expressão matemática que relaciona o comprimento à idade é

demonstrada pela equação de crescimento de Von Bertalanffy (1938) apud

Fonteles-Filho (1989) a seguir:

Lt = L� - (L� - Lo ) e – Kt

onde:

Lt = comprimento do indivíduo na idade t

L� = comprimento máximo observado da espécie

Lo = comprimento que a larva apresenta ao eclodir

K = coeficiente de crescimento da espécie

t = idade do indivíduo no instante t

Page 40: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

40

Scott; Armstrong (1972) consideraram que o comprimento corporal é um

parâmetro mais seguro porque não sofre alterações como o peso corporal que é

afetado pela ingestão e disponibilidade de alimentos. Neste estudo, o

comprimento total dos peixes foi escolhido como parâmetro de correlação com a

concentração de Hg .

Um grande número de trabalhos sobre o aumento da concentração de Hg

em peixes de ambientes de água doce em regiões temperadas tem sido realizado

por pesquisadores canadenses e americanos, porém são poucas as pesquisas

em ambiente marinho de clima tropical. Outros animais podem ser afetados

diretamente pela biomagnificação em regiões costeiras, como é o caso das aves

e mamíferos marinhos que mantêm uma dependência alimentar com o ambiente

aquático (BOENING, 2000; MONTEIRO et al, 1999 ; SANTOS et al, 2006;

SAVINOV et al, 2003; THOMPSON et al, 1998). Em particular, as aves piscívoras

apresentam os mais altos níveis de Hg na musculatura em comparação as que

consomem invertebrados marinhos (BRYAN, 1979). Baixa produção de ovos e

alta mortalidade de embriões foram registradas em aves terrestres e de rapina

que consumiram alimentos contendo níveis de Hg de 0,5 mg.Kg-1 (WIEMEYER et

al, 1984).

Existe um consenso de que a bioacumulação por Hg pode gerar

conseqüências sérias para os organismos aquáticos. Níveis de mercúrio de 0,5

�g.g-1 encontrados nos tecidos dos organismos não têm sido considerados

prejudiciais para os próprios organismos (BRYAN,1979). O efeito nocivo de um

poluente sobre os organismos aquáticos somente tem sido identificado na grande

maioria dos eventos quando ocorre impacto agudo e letal ocasionando

mortalidade de um grande número de espécimes. Isto é uma dramática evidência

de que algum fator no ambiente aquático está insatisfatório para a manutenção

daquelas comunidades (LAWS, 1996). Casos extremos de contaminação deste

metal como o da Baía de Minamata provocou a mortalidade de peixes, moluscos

e aves em níveis alarmantes, além do fato mais trágico e grave na morte de

milhares de seres humanos que consumiram pescado contaminado. Entretanto, é

Page 41: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

41

necessário conhecer as concentrações de Hg que causam estresse subletal

crônico (LAWS, 1996).

Um grande impacto dos efeitos subletais está diretamente relacionado com

o sucesso reprodutivo de um determinado organismo. Análises bioquímicas, do

desenvolvimento larval, eficiência do crescimento na fase juvenil entre outras tem

sido utilizadas para o diagnóstico da saúde dos estoques marinhos. As fases

mais suscetíveis são os estágios iniciais da vida como ovos e larvas. Indivíduos

afetados nas fases larvais e juvenis provavelmente não sobreviveram por muito

tempo na natureza prejudicando o recrutamento e maturação dos estoques

reprodutores no futuro (FRIEDMANN et al, 1996; ZHOU; WEIS, 1998)

comprometendo seriamente a biodiversidade e a manutenção estável destas

comunidades.

Em ambientes abertos, como a região costeira marinha, estudos

cuidadosos deverão ser conduzidos durante um longo período de tempo para

separar os efeitos da poluição por mercúrio daqueles causados pela exploração

comercial dos estoques e das mudanças ambientais naturais. Esforços devem ser

feitos em qualquer programa de monitoramento para relacionar os efeitos

fisiológicos e bioquímicos dos resíduos do contaminante nos tecidos dos

organismos expostos aos níveis encontrados na água e elementos componentes

da cadeia trófica.

A toxicidade específica do MMHg e os fenômenos da biomagnificação

sublinham uma vez mais a necessidade de caracterizar a especiação química do

contaminante no compartimento fonte e organismos alvos. O acesso a estas

informações permitirá a compreensão dos mecanismos de transferências e de

transformação e possibilitará uma estimativa mais precisa do risco toxicológico

associado.

Page 42: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

42

2.4 ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO

Especiação possui importante papel na toxicidade e na exposição do mercúrio

aos organismos vivos. Além disto, influencia também na mobilidade do mercúrio

dentro e entre compartimentos ambientais incluindo a atmosfera e os oceanos.

O reconhecimento pela química ambiental, saúde ocupacional, nutrição e

medicina de que a propriedade química, biológica e toxicológica de um elemento são

criticamente dependentes da forma que o elemento ocorre na amostra, tem

incentivado o rápido desenvolvimento de uma área da química analítica referida

como análise de especiação.

Foi graças às técnicas de análise de metilmercúrio desenvolvidas por Westöö

apud Puk ; Weber, 1994 ainda nos anos 60 que foi possível determinar o papel da

especiação do mercúrio no acidente de Minamata no Japão. Mais tarde, métodos

como o de Magos, 1971 e Magos; Clarkson, 1972 que utilizam o princípio da

redução seletiva permitiram diminuir os limites de detecção, graças à substituição da

detecção por captura de elétrons (ECD) pela espectrometria de absorção atômica

(AAS).

Atualmente, a análise de especiação é um procedimento rotineiro empregado

em muitos laboratórios para o controle da qualidade do ambiente, alimentos e

saúde. Estas análises incluem normalmente o estudo dos diferentes estados de

oxidação do elemento por exemplo: arsênio, cromo, selênio e ferro e a identificação

e quantificação de espécies organometálicas por exemplo: metilmercúrio, ácido

metilarsêrnico e tributilestanho .

A necessidade da determinação das espécies químicas individualmente em

uma determinada matriz ocorre especialmente quando estas espécies demonstram

diferentes impactos e comportamentos como sua toxicidade, mobilidade e

biodisponibilidade ( GÓMEZ-ARIZA et al, 2001 ).

Page 43: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

43

O estado de oxidação de um elemento é uma das razões para sua

diferenciada toxicidade, como é o caso do Cr+6 contra o Cr+3. O grau de alquilação é

outra importante causa de toxicidade, onde os trialquilestanhos são mais tóxicos que

di- ou monoalquilestanhos; o metilmercúrio possui mais toxidez que o Hg+2 e assim

sucessivamente.

A especiação do mercúrio constitui objeto de muitos estudos (GÓMEZ-ARIZA

et al, 2001; URÍA; SANZ-MEDEL, 1998; STOICHEV et al, 2002; STORELLI et al,

2005) onde é ressaltada a importância do conhecimento da forma que esse metal

ocorre no ambiente conjuntamente com a determinação da sua concentração

constituindo uma ferramenta eficiente na compreensão dos processos de

transformação e biodisponibilidade bem como dos efeitos toxicológicos associados.

Como ilustrativo, pode-se citar o estudo de Rodríguez-Martín-Doimeadios et al.,

2000 realizado em Almadén, na Espanha, uma região onde as concentrações de

mercúrio total nos sedimentos atingem 1000 mg kg-1, os organismos aquáticos

apresentam concentrações relativamente baixas. A especiação e o fracionamento do

mercúrio demonstraram que o elemento encontra-se sob a forma de cinábrio e

meta-cinábrio (HgS), não estando disponíveis para a metilação, nem para a

biomagnificação pelos organismos.

Os termos `` espécie´´ e ``especiação´´ têm sido emprestado aos químicos

pela biologia. Em biologia, `` espécie´´ refere-se a uma população de organismos

que possuem características únicas que são transmitidas através da reprodução

(hereditariedade), conservando-as .

Em química, `` espécie´´ refere-se à forma molecular (configuração) dos

átomos de um elemento ou cluster de átomos de diferentes elementos em uma dada

matriz. Freqüentemente, o termo espécie é usado para indicar a incerteza ou o leque

de conhecimento acerca da natureza desta espécie química que se espera

encontrar em uma amostra ambiental ( BERNHARD et al, 1986).

Page 44: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

44

Segundo a IUPAC 2000, espécie química refere-se a uma específica e única

estrutura molecular, eletrônica ou nuclear de um elemento. Cada espécie química

tem sua reatividade (toxidez, mobilidade e biodisponibilidade) e tempo de vida

característico podendo reagir diferentemente em distintas matrizes ou ambientes.

Como exemplo, podemos citar o elemento cromo em seu estado de oxidação

Cr+6 encontrado em pó de cromato de zinco quando inalado junto com o ar é um

forte carcinogênico. Entretanto, o Cr+3 presente nos alimentos é um elemento

essencial ao organismo (WOLF et al, 1986).

Outra ilustração de diferentes reatividades das espécies de um elemento é o

metilmercúrio que é facilmente absorvido no intestino, o cloreto de mercúrio somente

parcialmente e o mercúrio metálico quase nada. Entretanto, o Hgº passa facilmente

a barreira sangue-pulmão ( FRIBERG; VOSTAL, 1972).

Estes exemplos ilustram a importância não somente da forma inicial do

elemento na dieta ou no ambiente, mas também as transformações das espécies

durante a sua mobilização nos diferentes compartimentos ambientais de seu ciclo

biogeoquímico.

Em biologia, o termo ``especiação´´ denota o(s) processo(s) ao longo da

evolução das espécies. Entretanto, na química ``especiação`` tem sido usado em

muitos diferentes contextos a seguir:

- na análise de espécies objetivando a sua identificação e quantificação em uma

área ou volume definidos ( por exemplo, uma amostra );

- a descrição da abundância de espécies de um elemento químico;

- a reatividade de uma dada espécie química,

- a transformação de uma espécie química em outra.

De acordo com a IUPAC 2000, a especiação de elemento químico se refere à

sua ocorrência e/ou distribuição entre diferentes espécies.

Page 45: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

45

As espécies químicas entram no sistema biológico através do alimento, água

e ar, bem como em um ecossistema por meio da precipitação, deposição e

sedimentação. Em seu movimento através destes sistemas, as espécies podem

fazer parte da composição química de uma variedade de compostos.

É indiscutível que os compostos inorgânicos e organometálicos possuem um

importante papel nos sistemas biológicos. Durante o metabolismo, os sistemas

biológicos sintetizam, transformam, absorvem e degradam uma variedade destes

compostos que podem ser gases, material dissolvido nos líquidos celulares e

extracelulares ou sólidos insolúveis (WOLF et al, 1986). Muitos aspectos da

transformação das espécies, como as ligações com membranas, paredes celulares e

macromoléculas, transporte e difusão através de membranas não têm recebido a

devida atenção (MEHLHORN, 1986). Os processos fisiológicos que atuam durante a

mobilidade de uma espécie química durante seu trajeto através de um sistema

animal estão ilustrados na figura 5 .

FIGURA 5 - Esquema geral da mobilidade de uma espécie química e os

processos fisiológicos envolvidos no seu trajeto através de um sistema animal

( adaptada de Wolf et al, 1986).

Page 46: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

46

Dois diferentes procedimentos analíticos são empregados para a

determinação das espécies químicas nos sistemas biológicos. O primeiro extrai e

concentra as espécies, separando estes compostos, por exemplo, por métodos

cromatográficos. O segundo utiliza técnicas de espectroscopia para identificar e

determinar as espécies químicas.

Usualmente, os procedimentos de preparação das amostras para a análise de

especiação incluem o emprego de um reagente específico para a extração das

espécies e seu completo isolamento da matriz. Diferentes métodos foram

desenvolvidos utilizando extrações com solventes orgânicos (LIANG et al, 1996) ou

ácidos (SARZANINI; MENTASTI, 1997), seguidos de separação por cromatografia

líquida (HPLC) ou gasosa (GC). Tais procedimentos analíticos de extração nas

análises de especiação devem proporcionar a liberação dos analitos da matriz com

um mínimo de co-extração de compostos interferentes e sem provocar mudanças e

perdas das informações das espécies alvos ( ROSEMBERG; ARIESE, 2001).

A extração com solventes assistida por micro-ondas tem sido usada para a

separação das espécies mercuriais em matrizes biológicas usando o reagente

alcalino hidróxido de tetrametilamônio (TMAH) para a hidrólise e separação das

espécies mercuriais dos tecidos biológicos, assistida por micro-ondas à potência de

40 – 60 W por 2 – 4min ( TSENG et al, 1998, GÓMEZ-ARIZA et al, 2001).

Na etapa seguinte, as espécies são convertidas em formas adequadas para

sua determinação onde a derivatização é a técnica mais freqüentemente empregada

para a especiação e produção de espécies voláteis e termoestáveis que serão

posteriormente introduzidas em um cromatógrafo gasoso - GC ( GÓMEZ-ARIZA et

al, 2001).

A derivatização é usualmente realizada, em meio aquoso tamponado, pela

adição à amostra de uma solução de alquilborato. Os compostos organometálicos

tetra-alquilados resultantes desta reação são simultaneamente extraídos em um

pequeno volume de solvente orgânico (hexano ou iso-octano). Existe um consenso

Page 47: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

47

geral que esta reação produz as maiores taxas de derivatização a pH entre 4,0 e

4,5. O extrato orgânico após sua recuperação das fases água-solvente é usado para

a separação das espécies no GC ( ROSENBERG; ARIESE, 2001).

A cromatografia gasosa é hoje a técnica de separação mais popular aplicada

nas análises de especiação de compostos organometálicos. Esta é particularmente

atrativa devido a seu grande poder de separação quando usada com colunas

capilares. O uso da cromatografia gasosa assegura que o analito deixe a coluna

desacompanhado de uma outra espécie. Sua combinação com a espectrometria de

massa possibilita uma sensitiva e específica detecção do elemento alvo tornando-se

uma ferramenta fundamental na análise de especiação.

A espécie a ser identificada deve chegar isoladamente ao detector para evitar

interferências. Entre as várias técnicas usadas na detecção pode-se citar a

fluorescência atômica - AFS (BLOOM, 1989; STOCKWELL, 1992), espectrometria

de absorção atômica em forno de quartzo - QFAAS (TSENG et al., 1999) ou por

geração de vapor frio - CVAAS (RÍO-SEGADE S., 1999), espectrometria de emissão

atômica ( AES; ), plasma induzido por micro-ondas - MIP (BALLANTINE JR.;

ZOLLER, 1984; EMTEBORG, 1994), ou ainda plasma eletroinduzido acoplado a

espectrometria de massa - ICP-MS; (PÉCHEYRAN, 1997; AMOUROUX, 1998;

AMOUROUX et al, 1999).

URÍA E SANZ-MEDEL, 1998 apresentam um artigo de revisão sobre a

especiação do mercúrio onde as diferentes etapas de extração, derivatização, pré-

concentração e detecção das espécies mercuriais são discutidas. A tabela 2

resume os diferentes detectores atômicos específicos usados para a especiação de

mercúrio.

Page 48: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

48

TABELA 2 - Técnicas de detecção empregadas nas análises de especiação do

mercúrio ( adaptada de Uría e Sanz-Medel, 1998 ).

Separação Detector de Espectrometria Atômica Limite de detecção

( variação )

GC (CV)-AAS 5 – 167 pg

HPLC (CV)-AAS 4 – 16 µg L-1

GC ETAAS 0,04 ng

GC (CV)-AFS 0,01 – 6 ng L-1, 0,6 – 1,3 pg

HPLC (CV)-AFS 0,015 – 0,1 µg

GC MIP-AES 0,04 – 10 ng L-1

HPLC (CV)- MIP-AES 0,35 ng mL-1

GC ICP-AES 3 pg, 0,6 ng L-1

HPLC ICP-AES 0,1 ng mL-1

GC ICP-MS 0,12 – 1 pg

HPLC ICP-MS 16 – 400 ng L-1

CG: cromatografia à gás; HPLC: cromatografia líquida de alta resolução; CV: vapor a frio; AAS: espectrometria de absorção atômica; ETAAS: espectrometria de absorção eletrotérmica; AFS: espectrometria de fluorescência atômica; MIP-AES: microondas acoplado à espectrometria de emissão atômica acoplado à uma fonte de plasma induzido; ICP-AES: espectrometria de emissão atômica acoplada à uma fonte de plasma induzido; ICP-MS: espectrometria de massa acoplada à uma fonte de plasma induzido.

Finalmente, a combinação da cromatografia gasosa capilar com o ICP-MS

tem tornado-se a técnica instrumental ideal para a especiação de compostos

organometálicos em matrizes complexas ambientais e industriais devido ao grande

poder de resolução da cromatografia gasosa e a especificidade e alta sensibilidade

do ICP-MS (QUEVAUVILLER, 2001; DAVIS, et al, 2004).

O estudo mais aprofundado baseado na determinação das espécies químicas

do elemento fornece informação mais precisa e acurada sobre o comportamento

deste elemento no ambiente, por exemplo, a biodisponibilidade, toxidade e

distribuição.

Page 49: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

49

3 OBJETIVOS E HIPÓTESE

Tendo em conta que o mercúrio é naturalmente biomagnificado na cadeia

trófica aquática, podendo atingir níveis de concentração bastante elevados,

mesmo em ambientes desprovidos de fontes, o objetivo deste estudo é

determinar os processos de transferência do mercúrio ao longo das cadeias

tróficas em áreas de ressurgência, considerando-se a hipótese que as águas

profundas frias e ricas em nutrientes que afloram na plataforma costeira podem

estar influenciando na bioacumulação deste metal.

Como objetivos específicos pretendem-se:

- realizar a especiação do mercúrio nos primeiros elos da cadeia

alimentar, o fitoplâncton e o zooplâncton;

- quantificar o conteúdo de mercúrio num grupo de peixes planctófagos e

carnívoros de níveis tróficos diferentes e pertencentes à cadeia trófica pelágica.

- calcular o fator de bioacumulação e biomagnificação das espécies

mercuriais Hg2+ e CH3Hg+ ao longo da cadeia trófica pelágica da região da

ressurgência de Cabo Frio.

O conhecimento da especiação do mercúrio nos elos sucessivos da

cadeia trófica servirá de referência para programas de proteção dos recursos

pesqueiros e seu mercado, além de permitir a comparação entre ambientes

marinhos expostos a diferentes graus de estresse causado por este poluente

global.

Page 50: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

50

4 ÁREA DE ESTUDO: O LITORAL DE CABO FRIO

As condições hidrológicas da região costeira do Cabo Frio são basicamente

determinadas pela alternância, superposição e mistura das massas de água

presentes nessa área e constituem os mais importantes fatores para a grande

variabilidade das condições hidrobiológicas observadas na região de estudo. A

hidrologia sofre variações rápidas e bruscas em função do regime de ventos local

que determinam a repartição das três massas d'água de origem e composição físico-

química bem diferenciada que compõem o sistema hidrológico da região: Água

Tropical (AT), Água Central do Atlântico Sul (ACAS ) e Água Costeira (AC).

A Água Tropical é uma parte da massa de água quente e salina que ocupa a

superfície do oceano Atlântico Sul Tropical, a qual é transportada para o sul pela

Corrente do Brasil. Em seu trajeto para o sul, mistura-se com águas de origem

costeira mais frias e de baixa salinidade. O resultado é que a AT é caracterizada por

temperaturas maiores que 20° C e salinidades acima de 36,0 ups ao largo do

sudeste brasileiro (SILVEIRA et al, 2000).

A Água Central do Atlântico Sul é uma água subtropical com temperaturas

maiores que 6 ºC e menores que 20 ºC, salinidade entre 34,6 e 36,0 ups (SILVEIRA

et al, 2000). Mais precisamente, Miranda, 1985 sugere 20 ºC e 36,2 ups como o

limite termohalino da ACAS no sudeste brasileiro. É rica em nutrientes e

transportada em direção norte em profundidades entre 200 – 700 m (VALENTIN et

al, 1976). A ACAS é originada na Convergência Subtropical aproximadamente a

30°S na região de encontro da Corrente do Brasil e da Corrente das Malvinas, onde

esta última por ser mais fria e densa mergulha sob a Corrente do Brasil dando assim

Page 51: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

51

origem a ACAS que passa a circular entre a CB e a Água Intermediária Antártica

(AIA – mais fria e profunda ) ( SIGNORINI, 1978).

A Água Costeira é formada pela mistura da Água Tropical, da Água Central do

Atlântico Sul e das águas sob forte influência do continente (MOREIRA DA SILVA,

1975). Sua temperatura é mais elevada ( > 22°C), salinidade menor que 34,0 ups e

oligotrófica ( VALENTIN, 1976).

No litoral fluminense encontra-se um particular evento oceanográfico na

região de Cabo Frio onde ocorre a ressurgência periódica da Água Central do

Atlântico Sul ( ACAS ). Durante a ressurgência, observa-se uma pluma de água fria

desenvolvendo ao redor do Cabo Frio, sendo que as águas quentes posicionam-se

mais ao largo da costa. Nos períodos sem a ressurgência (subsidência), a água

quente aproxima-se da costa. Durante a ocorrência de águas frias da ressurgência,

os teores de nitrato aumentam enquanto que nos intervalos de águas quentes as

concentrações de nitrato reduzem significativamente ( CARBONEL, 2003).

O Cabo Frio é marcado por uma inflexão da costa fluminense que muda de

orientação Norte-Sul para Leste-Oeste, criando uma divergência entre a costa e a

Corrente do Brasil, que é acompanhada por uma importante mudança no perfil da

plataforma continental aproximando a isóbata de 100m à costa configurando um

acentuado aumento do gradiente de profundidade nesta área (FIGURA 6). Essas

duas características topográficas facilitam o afloramento das águas mais profundas e

ricas em nutrientes (ACAS). A ressurgência atinge sua intensidade máxima no litoral

sudeste da ilha de Cabo Frio no ponto mais avançado da costa conhecido como

`` Focinho do Cabo´´ ( FIGURA 6) . Neste local, a isóbata de 50 m está bem próxima

a ilha e a profundidade local máxima é de 60 m ( VALENTIN et al, 1975).

A ressurgência costeira de Cabo Frio exerce considerável influência sobre a

cadeia trófica, a pesca local e a estrutura das comunidades biológicas ( SILVA et al,

1988). As condições hidrológicas locais são diretamente influenciadas pelo regime

Page 52: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

52

de ventos que determinam a repartição das massas d´águas. Nessa região ocorre

uma variação sazonal quanto à disposição dessas massas d´águas.

No período de setembro a março, predominam os ventos dos quadrantes

Este-Nordeste que sob o efeito da Força de Coriolis deslocam as águas superficiais

( AC e AT ) para fora da plataforma. Concomitantemente, pelo fundo ocorre a subida

da ACAS de profundidades de 200- 300m , a qual pode chegar a aflorar (upwelling),

formando sobre a plataforma duas camadas de massas de água com forte

estratificação vertical, formação de termoclina e considerável variação de salinidade

em secção vertical. Este afloramento da ACAS freqüentemente apresenta águas

com temperatura inferior a 18º C podendo alcançar valores menores que 14º C e

teores de nitrato entre 5 a 10 µM( VALENTIN et al, 1985). A ressurgência possibilita

o retorno do estoque de nutrientes das regiões profundas às águas superficiais da

zona eufótica promovendo uma alta produção fitoplanctônica que favorece o

desenvolvimento larval, o recrutamento e o acúmulo da biomassa pesqueira pelágica

( BRAGA, 2001).

No inverno, de junho a setembro, as passagens de frentes frias que são

acompanhadas de ventos do quadrante S-SW perturbam o fenômeno da

ressurgência, ocorrendo o recuo da ACAS ( downwelling ), ficando toda a plataforma

interna dominada pelas águas superficiais quentes.

A ocorrência média dos sistemas frontais na região de Cabo Frio é de 3 a 6

vezes por mês, resultando em um período de 5 a 10 dias entre passagens, onde

fevereiro é o mês de menor freqüência de frentes frias. A seqüência dos eventos de

upwelling- downwelling é determinada pela variação temporal dos regimes de

ventos locais ocasionando uma grande variação nas condições hidrobiológicas da

área de estudo Existe informação muito limitada sobre as mudanças físicas e

biológicas temporais durante os eventos de ressurgência e subsidência na região

costeira de Cabo Frio (CARBONEL, 2003).

Page 53: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

53

A região de amostragem da biota marinha estudada situa-se na enseada de

Arraial do Cabo no litoral da praia da ilha do Cabo Frio – RJ. A figura 6 apresenta a

localização da área de estudo.

Estudos realizados por Valentin et al, 1975 apontaram que as águas frias da

ressurgência penetram a enseada de Arraial do Cabo pelo fundo nas duas

extremidades (Boqueirão no caso de vento E-SE e Ponta Leste com os ventos NE).

As comunidades planctônicas do interior da enseada e das águas externas

apresentam populações com base nas mesmas espécies e variações temporais

idênticas. Este ecossistema é perturbado pela chegada da água fria da ressurgência

provocando explosões fitoplanctônicas que provavelmente ocorrem no exterior para

em seguida penetrarem na Enseada de Arraial do Cabo (VALENTIN et al, 1975).

Uma feição marcante deste litoral é a ocorrência de costões rochosos

recortados por pequenas enseadas de substrato arenoso abrigando desde

pequenas praias semi-fechadas até praias muito expostas com forte ação das

ondas.

A fixação de inúmeros organismos bentônicos nos costões aliados a uma

grande disponibilidade de diferentes tipos de ambientes no litoral de Arraial de Cabo

possibilita a instalação de uma ictiofauna rica em espécies. A grande variedade de

ambientes marinhos em Arraial de Cabo desde os costões rochosos, substrato

arenoso, franjas de arenitos, bancos de macroalgas, recifes de corais e zonas de

arrebentação apontam para uma diversificada, rica e abundante comunidade de

peixes e invertebrados. Peixes procedentes das áreas adjacentes ingressam nos

domínios rochosos em busca de alimento, ou abrigo contra predação (BIZERRIL,

COSTA; 2001).

Na região de Arraial do Cabo encontra-se uma área de especial valor

bioconservacionista, a Reserva Extrativista Marinha de Arraial do Cabo (RESEX),

criada por decreto presidencial em 31 de janeiro de 1997 através de uma solicitação

Page 54: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

54

da comunidade local onde a atividade pesqueira é centenária e o fenômeno da

ressurgência contribui para elevar a piscosidade local. A RESEX de Arraial do Cabo

abrange uma área de 56.769 ha e localiza-se ao longo do litoral de Cabo Frio,

extendendo-se de Massambaba até a praia do Pontal, na divisa de Cabo Frio e

somente embarcações de pescadores de Arraial do Cabo podem pescar na reserva.

Outra medida apontada para a proteção e exploração racional da fauna

marinha na região constitui na implantação de áreas de exclusão de pesca

denominadas ``corredores da biodiversidade´´. Na costa fluminense, o espaço

proposto é o ``Corredor de Cabo Frio ´´, situado entre Araruama até Macaé desde a

zona costeira até a isóbata de 200 m. A área apresenta fatores relevantes à

bioconservação como a alta produtividade primária devido à ressurgência e a

presença de uma população de elasmobrânquios ainda não bem conhecida

(BIZERRIL, LIMA; 2001).

Na região dos Lagos, os principais produtores de pescado são Cabo Frio e

Arraial do Cabo. A maior atividade pesqueira concentra-se na frota industrial de

cerco responsável por elevados níveis de produção local, principalmente de sardinha

verdadeira considerado o principal recurso pelágico do litoral sudeste-sul.

Page 55: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

55

FIGURA 6 - Localização da área de estudo: (A) Litoral de Cabo Frio, (B) Praia

da Ilha do Cabo Frio.

A

Estação de coleta: Praia da Ilha do Cabo Frio

B

Page 56: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

56

5 METODOLOGIA

5.1 AMOSTRAGEM

O período de amostragem compreendeu doze meses de setembro de 2003 a

agosto de 2004 e o mês de janeiro de 2005. A área de amostragem compreende as

águas situadas na faixa litoral em frente à praia da Ilha do Cabo Frio situada em

Arraial do Cabo – RJ ( FIGURA 6 ).

O fitoplâncton e zooplâncton foram coletados uma vez ao mês utilizando-se

redes de arrasto não metálicas de malhas de 64 e 100 �m, respectivamente. Os

arrastos foram horizontais com uma duração média de 10 minutos e sempre foram

realizados no horário compreendido entre as 9:00 e 11:00 horas da manhã.

As redes e os copos de coleta foram enxaguados previamente com a água do

mar do local e realizados arrastos com finalidade de limpeza sendo o material assim

coletado descartado. A velocidade média do barco durante o arrasto do plâncton foi

cerca de 2 nós e mantida uma distância mínima de 20 m entre a rede de plâncton e

a embarcação.

As amostras de fito e zooplâncton coletadas foram acondicionados

individualmente em plásticos `Ziploc´ devidamente identificados e transportados até

o laboratório em caixas térmicas sob refrigeração.

Os parâmetros ambientais temperatura da água e pH foram medidos in situ

utilizado-se um termômetro de inversão acoplado à garrafa de Nansen e um

pHmetro Digimed, respectivamente .

Page 57: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

57

Foram realizadas coletas de água na superfície e outra próxima ao fundo com

o auxílio de garrafa de Nansen para a determinação de nutrientes (fósforo e

nitrogênio), salinidade e oxigênio dissolvido em laboratório. As determinações das

concentrações de fosfato (PO4-3), dos compostos nitrogenados nitrito (NO2

-1), nitrato

(NO3-1) e amônio (NH4

+1), salinidade e o oxigênio dissolvido da água do mar foram

realizadas pelo laboratório de Química do Instituto de Estudos do Mar Almirante

Paulo Moreira (IEAPM) da Marinha do Brasil localizado em Arraial do Cabo – RJ.

Convém ressaltar que este é um monitoramento das águas da Estação Fixa

Oceanográfica Praia da Ilha do Farol realizado semanalmente pelo IEAPM com fins

de suporte às pesquisas próprias e de instituições de ensino conveniadas.

Na determinação da salinidade foi usado o salinômetro Guildline Autosal

modelo 8.400 A. Os métodos analíticos para o nitrato, nitrito, amônia e fosfato além

do oxigênio dissolvido são descritos em Strickland; Parsons (1972).

As espécies de peixes alvos deste estudo a sardinha, o bonito, o xerelete e a

pescada são importantes recursos pesqueiros explorados no litoral do Rio de

Janeiro. Com base nos registros da produção pesqueira destas espécies

desembarcadas no estado do Rio de Janeiro entre 1990-1999 ( BIZERRIL; COSTA,

2001), as quatro espécies acima contribuíam com cerca da metade (49,6%) de toda

a produção em 1997, ano que representa a maior produção da série analisada. Além

disso, esses peixes têm boa aceitação no mercado local e regional. As informações

a respeito da classificação, habitat, hábito alimentar e a área de pesca estão

relacionadas na tabela 3.

Os peixes de diferentes nichos tróficos pertencentes à cadeia alimentar

analisada neste estudo foram comprados em estado de conservação fresco junto a

uma peixaria localizada dentro do Porto de Arraial do Cabo para assegurar a

procedência local do pescado capturado. Os peixes foram acondicionados em

plásticos ``Ziploc´´, transportados sob refrigeração até laboratório de Geoquímica da

Matéria Orgânica da UFF onde foram retiradas as porções da musculatura na

região lateral dorso-anterior dos peixes para análise de mercúrio.

Page 58: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

58

TABELA 3 - Classificação, habitat, hábito alimentar e área de pesca das

espécies de peixes estudadas.

Nome

Vulgar

Família Nome científico Habitat Hábito

alimentar

Área de

pesca

Bonito Scombridae Katsuwonus pelamis Pelágico Piscívoro Oceânico

Pescada Sciaenidae Cynoscion striatus Demersal Carnívoro Estuarino

Costeiro

Sardinha Clupeidade Sardinella brasiliensis Pelágico Planctófago Estuarino

Costeiro

Xerelete

Carangidae Caranx latus Pelágico Carnívoro Estuarino

Costeiro

A tabela 4 apresenta uma síntese da amostragem desenvolvida neste

trabalho indicando a época, freqüência e número de amostras coletadas.

Tabela 4 – Época, freqüência e número de amostras coletadas.

Parâmetros Época da amostragem

Frequência N1

Biológicos Fitoplâncton setembro/03 a agosto/04 e janeiro/05

meses sem ressurgência 4

meses com ressurgência 5

mensal

22 (total) 9

13 Zooplânctom setembro/03 a agosto/04e janeiro/05

meses sem ressurgência 4

meses com ressurgência 5

mensal

25 (total) 15 10

Peixes Sardinha Bonito Pescada Xerelete

junho/04

única vez

25 4 6 3

Físico-químicos Temperatura da água Oxigênio Dissolvido Nitratos Fosfatos pH

setembro/03 a janeiro/05 setembro/03 a janeiro/05 setembro/03 a janeiro/05 setembro/03 a janeiro/05 setembro/03 a janeiro/05

semanal semanal semanal semanal semanal

70 2

69 3

73 2 71 3 70 2 65 3

72 2 71 3 71 2 70 3

1 número de amostras; 2 superfície; 3 fundo; 4 sem ressurgência: setembro, outubro, novembro, dezembro de 2003; março, abril, junho e julho de 2004; 5 com ressurgência: janeiro, fevereiro, maio, agosto de 2004 e janeiro de 2005

Page 59: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

59

Todo o material biológico foi mantido acondicionado em recipientes plásticos

previamente limpos e descontaminados com soluções ácidas de HNO3 10% v/v,

devidamente identificados e estocados em temperaturas abaixo de -15° C em

freezer até o momento da liofilização.

5.2 LIMPEZA E DESCONTAMINAÇÃO DA VIDRARIA

As vidrarias utilizadas nos procedimentos de extração, armazenamento e

análise das amostras foram previamente lavadas com solução de detergente biocida

(RBS50 STC) a 2 % v/v e colocados em banho de ultra-som (Branson 8510) por

cerca de 20 a 30 minutos.

Em seguida, foram enxaguadas com água Milli-Q e imersos em dois banhos

sucessivos de solução de acido nítrico (grau analítico, Carlo Erba) a 10% v/v por

cerca de uma hora em banho de ultra-som. Após cada banho, a vidraria foi

enxaguada com água Mili-Q. A vidraria limpa e descontaminada foi seca em estufa a

60° C.

5.3 LIOFILIZAÇÃO E TRITURAÇÃO DAS AMOSTRAS

As amostras congeladas foram liofilizadas por cerca de 24 a 48 hs

dependendo do material biológico e posteriormente estocadas em freezer . Em

seguida, foram trituradas em um cadinho de ágata para diminuir o risco de

contaminação e obter amostras homogêneas. Entre cada trituração, o cadinho foi

lavado com solução de acido nítrico a 10% e em seguida com água suprapura Mili-Q

( 18 µ� ) para evitar contaminações entre diferentes amostras.

5.4 EXTRAÇÃO DAS ESPÉCIES MERCURIAIS

Na extração das espécies mercuriais foi empregada a tecnologia dos campos

de micro-ondas para a digestão das amostras biológicas. As vantagens deste

método em relação aos métodos clássicos de extração do tipo Soxhlet, por ultra-som

ou por agitação em meio ácido são os seguintes:

Page 60: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

60

- Rapidez da extração ou da solubilização (poucos minutos no caso dos

compostos organomercuriais);

- Boa reprodutividade do processo de extração em virtude de um perfeito

controle da energia das micro-ondas liberadas;

- Facilidade de execução;

- Redução dos volumes de reagentes e possibilidades de automação.

Em cada extração foram utilizadas cerca de 0,5 g de amostra, colocada em

um frasco de reação denominado “matra” ( FIGURA 7) juntamente com 5 mL de

solução de hidróxido de tetrametilamônia 25% v/v (TMAH). TMAH é um eficiente

extrator alcalino para a solubilização de tecidos biológicos, degradação de proteínas

e açucares e preserva as ligações químicas Hg-C durante o processo de extração.

Na parte superior aberta do frasco de reação foi acoplado um condensador de

gás para evitar as perdas (refluxo) durante a digestão. O conjunto foi colocado

dentro do microdigestor Prolabo A 301 (FIGURA 7). O tubo contendo a amostra foi

posicionado dentro do feixe de ondas para aumentar a eficiência das micro-ondas.

Este sistema do tipo aberto que é o mais utilizado para a especiação do mercúrio

permite uma extração suave sob pressão atmosférica que limita os problemas de

transformação e conversão das diferentes espécies.

FIGURA 7 – Esquema do microdigestor Prolabo A 301.

O programa de extração para as espécies de mercúrio consistiu de uma

exposição à potência de 40 W durante três minutos que é considerado uma extração

Page 61: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

61

suave para preservar as ligações covalentes C-Hg. O extrato foi centrifugado

durante quatro minutos a 2500 rpm e o sobrenadante transferido com pipetas para

tubos de vidro previamente descontaminados e estocados a 4 º C até o momento da

análise.

Esta metodologia de extração alcalina assistida por irradiação de microondas

foi empregada e validada em trabalhos anteriores (LANDALUZE, 2005;

MONPERRUS et al, 2005; MZOUGHI et al, 2002; TSENG et al,1997a ).

5.5 PROPILAÇÃO E DERIVATIZAÇÃO

Após a etapa de extração, 2,0 mL do extrato é adicionado dentro de um

frasco de vidro de 22 mL previamente limpo e, em seguida, 5 mL de tampão acetato

0,1 M para levar o pH a 4,0 que é o valor ideal para a derivatização das espécies de

mercúrio.

Juntamente ao extrato tamponado, 1,0 mL de iso-octano e 1,0 mL da solução

de propilação NaBPr4 (Galab) a 1% são adicionados para as reações de separação

dos organomercuriais. Imediatamente, o tubo é fechado, agitado durante 5 minutos e

centrifugado a 2000 rpm. As espécies mercuriais concentradas no iso-octano são

separadas usando pipetas e estocadas em tubos GC dentro de um congelador até o

momento de análise.

O esquema da reação é apresentado abaixo:

Hg2+ + 2NaB(C3H7)4 Hg(C3H7)2 + 2Na+ + 2B(C3H7)3

CH3Hg+ + NaB(C3H7)4 CH3Hg C3H7 + Na+ + B(C3H7)3

Page 62: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

62

5.6 ANÁLISE DAS ESPÉCIES DO MERCÚRIO

As análises de especiação de mercúrio foram realizadas no Laboratoire de

Chimie Analytique, Bio-Inorganique et Environnement da Université de Pau et des

Pays de l’Adour, França empregando-se duas técnicas diferentes de medição em

função da quantidade de Hg esperada em cada matriz e do limite de detecção

necessário para a quantificação de sua concentração.

As espécies de mercúrio quantificadas neste estudo são definidas como:

IHg – Mercúrio inorgânico correspondente ao íon mercúrico ( Hg2+)

MMHg – Mercúrio orgânico correspondente ao monometilmercúrio ( CH3Hg1+)

O mercúrio total (HgT) não foi medido. Entretanto, em razão dos métodos analíticos

empregados, o valor do HgT pode ser considerado como sendo a soma das

concentrações do IHg e MMHg.

5.6.1 Peixes

As análises das amostras de peixes foram realizadas no Laboratoire de

Chimie Analytique, Bio-Inorganique et Environnement da Université de Pau et des

Pays de l’Adour, França utilizando as técnicas de cromatografia gasosa acoplada à

de espectrometria de emissão atômica por plasma induzido (GC-MIP-AES).

Na separação das espécies de Hg foi empregada a cromotografia gasosa que

é a técnica amplamente utilizada em amostras ambientais (URIA, SANZ-MEDEL,

1998). O cromatógrafo GC Hewlett-Packard 6890 é equipado com um injetor

split/splitess. A coluna é do tipo capilar com um volume muito pequeno de fase

estacionária. As dimensões da coluna são de 30 m de comprimento e 0,32 mm de

diâmetro. A fase estacionária é de siloxano de 0,25 µm de espessura. A duração de

cada analise é cerca de 10 minutos e os picos cromatográficos são bem definidos. O

volume injetado é de 2µL.

Page 63: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

63

O sistema de detecção MIP-AES é um equipamento Hewlett-Packard G2350A

munido de um barrete de fotodiodos. Este tipo de detector a plasma tem sido

freqüentemente usado na especiação do mercúrio (URIA, SANZ-MEDEL, 1998). O

acoplamento entre o GC e MIP-AES é realizado por uma linha de transferência

tubular revestida de silício sendo aquecida a uma temperatura superior àquela do

forno do GC. A figura 8 apresenta um esquema do funcionamento da acoplagem do

cromatógrafo gasoso (GC) e o espectrômetro de emissão atômica por plasma

induzido (MIP-AES)

FIGURA 8 - ESQUEMA DO FUNCIONAMENTO DA ACOPLAGEM GC-MIP-AES

As principais vantagens deste detector são a sua elevada sensibilidade, a

linearidade, a polivalência devido à variabilidade do comprimento de onda que

permite a análise simultânea de vários elementos e de sua manutenção

relativamente simples.

Um plasma altamente energético ( 24,5 Ev ) foi gerado por gás hélio que

funciona como um gás vetor no GC e permite a compatibilidade entre os sistemas de

separação e de detecção. Oxigênio e hidrogênio foram injetados para a combustão

de resíduos óxidos refratários e os depósitos de carbono, respectivamente. A

formação destes resíduos pode obstruir as paredes dos tubos e prejudicar a

detecção e, com sua eliminação, melhora a sensibilidade e evita o efeito de memória

Page 64: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

64

dos picos cromatográficos. A tabela 5 apresenta os parâmetros utilizados na análise

das espécies de mercúrio por GC-MIP-AES.

TABELA 5. Parâmetros utilizados na análise das espécies de mercúrio por

GC-MIP-AES.

Injeção

Temperatura de injeção

Volume injetado

Splitess

280 º C

2 µL

Programa de temperatura do forno

Consumo de hélio dentro da coluna

80 º C durante 1 min

Elevação de 20 º C.min-1 até 200 º C

200 º C durante 2 min

1.5 mL. min-1

Linha de transferência

Comprimento de onda

Temperatura da cavidade

Consumo de hélio

Consumo de oxigênio

Consumo de hidrogênio

Ventilação da cavidade

280 º C

326 nm

280 º C

140 mL. min-1

20 mL. min-1

20 mL. min-1

4 min

5.6.2 Plâncton

As amostras de plâncton foram analisadas no Laboratoire de Chimie

Analytique, Bio-Inorganique et Environnement da Université de Pau et des Pays de

l’Adour, França utilizando-se a técnica de cromatografia gasosa acoplada a de

espectrometria de massa por plasma induzido (GC-ICP-MS).

A figura 9 apresenta um esquema do acoplamento GC-ICP. A conexão entre

o cromatógrafo em fase gasosa e o ICP é realizado por meio de uma linha de

transferência de ``silcostell´´ onde se localiza a capilaridade. Esta configuração

Page 65: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

65

permite a utilização de uma câmera de nebulização ciclônica onde pode-se injetar as

soluções padrões antes da análise possibilitando o controle da sensibilidade do

detector durante todo o período de análise.

FIGURA 9 - ESQUEMA DO ACOPLAMENTO GC-ICP

O ICP-MS é a união entre duas tecnologias: uma chama a plasma com

geração de íons e um espectrômetro de massa quadripolar para separar e detectar

os íons descendentes. O princípio em linhas gerais compreende a geração de um

aerossol da amostra através de um nebulizador e sua introdução sobre um fluxo de

argônio no interior do plasma via um injetor da tocha. As moléculas são

desolvatadas e atomizadas fazendo com que tornem-se cátions monovalentes. A

figura 10 apresenta um esquema da estrutura de funcionamento do ICP-MS.

FIGURA 10 - ESQUEMA DA ESTRUTURA DO ICP-MS

Page 66: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

66

A tabela 6 apresenta os parâmetros operacionais do acoplamento GC-ICP-MS para

a especiação de mercúrio.

TABELA 6 - Parâmetros operacionais GC-ICP-MS para a especiação de Hg

Parâmetros GC

Coluna silcostell

comprimento

diâmetro interno

Porta de injeção

Temperatura de injeção

Volume injetado

Consumo do gás vetor

Consumo do gás make up

Programa de temperatura

temperatura inicial

elevação

temperatura final

30 m

0,53 mm

splitess

200 ºC

2 µL

He 25 mL min-1

Ar 300 mL min-1

60 ºC

60 ºC.min-1

250 ºC

Linha de transferência

Comprimento

Diâmetro da linha interna

Diâmetro da linha externa

1 m

0,28 mm

1,0 mm

Parâmetros do ICP-MS

Potência

Consumo de gás argônio

Plasma

Auxiliar

Nebulização

Isótopos ( dwell times )

Hg: 202, 201, 199

Tl: 203, 205

1250 W

15 L. min-1

0,9 L. min-1

0,6 L. min-1

30 ms

5 ms

Page 67: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

67

O acoplamento dos dois equipamentos GC ICP-MS apresenta inúmeras

vantagens especialmente nas análises de especiação e que são apresentadas a

seguir:

- a introdução 100% eficiente da amostra dentro do plasma, bem superior ao do

conjunto nebulizador/câmara de nebulização tradicionalmente utilizada com HPLC

(2-3%). Isto implica em uma maior sensibilidade.

- Inicialmente, o analito já se encontra na forma gasosa significando que a energia

do plasma é empregada somente nos processos de atomização e de ionização e

não para a atomização das moléculas do solvente.

- O GC permite que os analitos cheguem dentro do plasma junto unicamente ao gás

de cromatografia e do fluxo de argônio, o solvente encontra-se separado dos

analitos durante a fase de cromatografia. Isto permite a manutenção da energia do

plasma quando os analitos chegam.

- A separação cromatográfica ocorre por gradientes de temperatura sem a

modificação da fase móvel (HPLC). Isto implica uma maior estabilidade do plasma,

uma linha base mais estável e melhores limites de detecção.

- Uma melhor resolução dos picos cromatográficos devido a uma quantidade mais

elevada de platôs teóricos. Os picos são finos e a sensibilidade melhorada.

- O acoplamento permite uma prevenção dos problemas com relação à obturação

dos cones devido à pequena quantidade de material que chega dentro do plasma.

Todas estas características fazem do acoplamento GC – ICPMS uma técnica

com grande potencial para a especiação de ultratraços metálicos. A característica

analítica mais importante desta acoplagem é a sua grande sensibilidade e

seletividade para as espécies organometálicas.

Page 68: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

68

5.7 PREPARAÇÃO DA SOLUÇÃO TAMPONADORA

A solução tamponadora é utilizada para ajustar o pH do extrato das amostras

após a etapa de derivatização ao valor de pH = 4.0 que é o ideal para as reações de

etilação empregando o NaBPr4. A solução constitui-se de 0,52g de acetato e 2,5 mL

de acido acético P.A dissolvidos em 500 mL de água Mili-Q.

5.8 PREPARAÇÃO DOS PADRÕES EXTERNOS

A adição de padrões externos é utilizada para a correção de possíveis perdas

de Hg durante as etapas de extração e derivatização das amostras biológicas e

também para detecção de efeitos de matriz nestas etapas.

As soluções estoque de mercúrio inorgânico (IHg) e de mercúrio orgânico

(MMHg) ambas na concentração de 1000 mg.L-1, foram preparadas dissolvendo o

cloreto de mercúrio ( HgCl2, Strem Chemicals, P.A.) em ácido nítrico 1% e o cloreto

de metilmercúrio ( CH3HgCl, Strem Chemicals, P.A.) em metanol, respectivamente.

As soluções padrão a 100 µg. L-1 foram preparadas diariamente através de

diluições apropriadas da solução estoque e estocadas na geladeira. OS padrões

foram derivatizados da mesma maneira que as amostras e injetados no GC-ICPMS.

As curvas de calibração situaram-se dentro da faixa de 0 a 10 µg.L-1.

A figura 11 apresenta o protocolo de preparação das amostras biológicas, extração,

derivatização e das análises de especiação do mercúrio.

Page 69: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

69

FIGURA 11 - Protocolo de preparação das amostras biológicas e de análise da

especiação do mercúrio.

Page 70: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

70

6 RESULTADOS E DISCUSSÃO

6.1 VALIDAÇÃO DO MÉTODO E DESEMPENHO ANALÍTICO

A validação do método foi realizada utilizando-se dois materiais de referência

certificados, o CRM 710 ( tecido de ostra) adquirido do Institute for Reference

Materials and Measurements (Bélgica) e o DORM-2 ( tecido de peixe) do National

Research Council (Canadá).

O desempenho do método analítico empregado na especiação do mercúrio

nos diferentes tecidos biológicos são apresentados na Tabela 7. Os limites de

detecção foram calculados com base em seis brancos de extração.

Observando a tabela 7, os valores de recuperação das espécies mercuriais

no CRM 710 foram próximos aos valores certificados e provavelmente as diferenças

foram devidas à presença de alguma umidade no material estocado no congelador.

Com relação aos resultados para o material certificado DORM-2 houve uma

excelente concordância nos valores do MMHg com alto nível de recuperação

próximos a 100% e desvio padrão relativo abaixo de 0,5%.

Page 71: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

71

TABELA 7 – Validação do método e desempenho analítico com os materiais de

referência CRM 710 e DORM-2.

Espécies IHg MMHg Hg total

Limites de detecção analítica ( ng.g-1)

0,17

0,19

CRM 710

Valores certificados ( ng.g-1 ± DP1 ) 145,0 115,0 ± 9,0 260 ± 50

Valores encontrados ( ng.g-1 ± DP) 127,0 ± 5,0 108,0 ± 1,0 235,0 ± 3,0

Desvio padrão relativo (%) 0,9% 1,3%

Recuperação (%)

87,6% 93,9% 90,4%

DORM-2

Valores certificados ( ng.g-1 ± DP) 4.470,0 ± 320,0

Valores encontrados ( ng.g-1 ± DP) 86,0 ± 18,2 4.396,0 ± 15,2

Desvio padrão relativo (%) 21,2% 0,3

Recuperação (%) 98,3%

Os baixos limites de detecção e a excelente precisão das medidas de

concentrações permitiram uma análise precisa e real da especiação do mercúrio em

todos os materiais biológicos usando a extração com o hidróxido de tetrametilamônio

(TMAH).

O TMAH é um eficiente reagente para a solubilização de amostras de tecido

biológico, degradação de proteínas e açucares. Neste trabalho, foi utilizado TMAH

concentrado (25%) e digestão com microondas, ambos os procedimentos

considerados eficientes na solubilização do extrato (MONPERRUS et al,2005;

TSENG, et al, 1997a; TSENG, et al, 1997b;)

1 DP: desvio padrão

Page 72: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

72

6.2 CARACTERIZAÇÃO DAS ÁGUAS DE SUPERFÍCIE E FUNDO DA ENSEADA

DE ARRAIAL DO CABO

A média, o desvio padrão e a faixa de variação dos parâmetros físico-

químicos: temperatura da água, nitrato e fosfato monitorados na estação fixa

oceanográfica Ilha do Cabo Frio pelo IEAPM semanalmente durante o período de

setembro/03 a janeiro/05 estão apresentados na Tabela 8. Os resultados

indicaram uma grande variabilidade destes parâmetros associada a uma grande

alteração destes parâmetros em curta escala de tempo de uma semana.

TABELA 8 – Parâmetros físico-químicos monitorados na Estação Fixa Oceanográfica Ilha do Cabo Frio. Parâmetros Hidrólogicos Média ± Desvio Padrão Variação

( Mínimo – Máximo) Temperatura (º C)

Superfície 22,4 ± 1,6 18,2 - 26,6 Fundo 22,1 ± 1,9 15,8 - 25,4

Nitrato (µM.L -1) Superfície 0,46 ± 0,42 0 - 2,21

Fundo 0,48 ± 0,44 0,03 - 2,27 Fosfato (µM.L -1)

Superfície 0,21 ± 0,11 0 - 0,79 Fundo 0,25 ± 0,14 0,07 - 1,08

A temperatura média da água de superfície foi ligeiramente maior que a de

fundo (Tabela 8). Apesar da baixa profundidade média na estação fixa de coleta

de 6,0 m, o que poderia favorecer os processos de mistura de águas e propiciar

desta forma condições hidrológicas homogêneas na coluna d'água, observa-se a

ocorrência de massas d'água mais frias em profundidade (FIGURA 12). Valentin

et al, 1986 verificaram um comportamento sazonal na variação da temperatura da

água na região, que foi dependente dos períodos de ressurgência e subsidência

da ACAS, sendo observada a ocorrência mais freqüente das águas mais frias nos

meses de primavera e verão. A entrada de água mais fria pelas zonas mais

profundas da enseada de Arraial do Cabo influenciando a hidrologia da área foi

verificada anteriormente por VALENTIN et al, 1975 e as flutuações provocadas

Page 73: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

73

nos parâmetros hidrológicos foram relacionadas ao pulso da ressurgência na

região exterior da enseada.

A figura 12 apresenta a variação temporal da temperatura da água

superficial e de fundo monitorada no período de setembro/03 a janeiro/05. Os

círculos azuis na figura representam os meses onde foi realizada a coleta de

plâncton em águas frias de fundo com temperaturas abaixo de 20° C.

FIGURA 12 - Variação temporal da temperatura da água no período de

setembro/03 a janeiro/05.

10,0

12,0

14,0

16,0

18,0

20,0

22,0

24,0

26,0

28,0

set/03 out/03 nov/03dez/03 jan/04 fev/04mar/04 abr/04 mai/04 jun/04 jul/04 ago/04 set/04 out/04 nov/04dez/04 jan/05

Tem

pera

tura

da

água

(C)

Superfície Fundo

As águas de superfície apresentaram teores ligeiramente mais baixos de

nitrato que as de fundo (FIGURA 13) e podem estar relacionadas com um

consumo deste nutriente pelos produtores primários que se concentram nos

estratos mais rasos da coluna d`água ( BAUMGARTEN; POZZA, 2001 ). As

maiores concentrações de nitrato ocorreram no mesmo período de ocorrência das

águas frias (círculos azuis) e significam que estão associadas à entrada das

águas frias da ressurgência que penetram na enseada. Durante um evento de

ressurgência no lado externo da ilha do Cabo Frio com águas atingindo

concentrações de nitrato de 8 µM.L-1, foi registrado para as águas superficiais

Page 74: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

74

no interior da enseada valores de nitrato não ultrapassando 1 µM.L-1

(VALENTIN et al,1975).

A maior amplitude dos valores do nitrato registrada no período de estudo

pode estar relacionada a uma maior troca entre as águas do interior e exterior da

baía e também a maior intensidade dos níveis de nitrato das águas de

ressurgência. Os valores do nitrato podem alcançar 14 µM.L-1 no ponto de

ressurgência máxima situado no lado oeste ( Ponta do Focinho – figura 6)

da ilha do Cabo Frio ( VALENTIN et al, 1986).

A figura 13 apresenta a variação temporal das concentrações de nitrato da

água superficial e de fundo monitorada no período de setembro/03 a janeiro/05.

Os círculos azuis representam os meses onde a região foi banhada pelas águas

frias que penetram na enseada via circulação de fundo.

FIGURA 13 - Variação temporal da concentração do nitrato no período de

setembro/03 a janeiro/05.

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

set/03 out/03 nov/03 dez/03 jan/04 fev/04 mar/04 abr/04 mai/04 jun/04 jul/04 ago/04 set/04 out/04 nov/04dez/04 jan/05

Nitr

ato

( uM

/L )

Superfície Fundo

Page 75: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

75

A concentração média de fosfato das águas superficiais foi menor que as

de fundo (FIGURA 14) semelhantemente como o que foi observado com as

concentrações do nitrato. O fósforo juntamente com o nitrato são importantes sais

nutrientes para os produtores primários e são consumidos nos períodos de

floração do fitoplâncton (BAUMGARTEN; POZZA, 2001).

FIGURA 14 - Variação temporal da concentração do fosfato no período de

setembro/03 a janeiro/05.

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

1,2

set/03 out/03 nov/03dez/03 jan/04 fev/04mar/04 abr/04 mai/04 jun/04 jul/04 ago/04 set/04 out/04 nov/04dez/04 jan/05

Fosf

ato

( uat

g/L

)

Superfície Fundo

Observando a figura 14, existe também uma correspondência temporal

entre os pulsos de nitrato e fosfato, o que sugere que o aporte de ambos os

nutrientes são governados pela entrada de água mais fria da ressurgência do

exterior para o interior da enseada.

Os efeitos de um afloramento da ACAS apresentaram-se de maneira

atenuada com relação aos teores de nutrientes na área de estudo, sendo mais

provável que as florações fitoplânctonicas ocorram no exterior para em seguida

penetrarem na enseada. As regiões externas e internas da enseada constituem

um mesmo ecossistema planctônico, e a ressurgência rompe o equilíbrio com

respostas imediatas ao nível de parâmetros hidrológicos e planctônicos

( VALENTIN et al, 1986, 1987).

Page 76: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

76

A análise gráfica do comportamento do nitrato e fosfato através da

ocorrência das maiores concentrações desses nutrientes nos períodos de

incidência das águas mais frias na estação de coleta do plâncton possibilitou a

caracterização do plâncton presente nas águas da enseada de Arraial do Cabo

nos meses de janeiro/04, fevereiro/04, maio/04, agosto/04 e janeiro/05 como

amostras representativas das águas da enseada de Arraial do Cabo sob

influência da ressurgência.

Page 77: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

77

6.3 ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NO PLÂNCTON

Nesta secção serão apresentados os dados sobre a especiação do

mercúrio no plâncton coletado mês a mês consecutivamente no período de

setembro de 2003 a agosto de 2004. Em dezembro/03 não houve coletada de

fitoplâncton porque a rede encontrava-se em manutenção e em julho/04 o

fitoplâncton coletado não foi suficiente para a análise de Hg.

6.3.1 Fitoplâncton

As concentrações de mercúrio total no fitoplâncton variaram de 1,73 a

21,57 ng.g-1 com uma média de 8,31 ± 5,87 ng.g-1. Os valores das concentrações

do mercúrio total encontradas neste trabalho foram sempre duas ordens de

grandeza menores que os citados por Förstner; Wittmann, 1981 em sua coletânea

de dados na década de 70 sobre concentração de mercúrio total no

fitoplâncton marinho ( variação de 104 a 713 ng.g-1 ).

Valores das concentrações de mercúrio diferentes em ordem de grandeza

daqueles reportados na literatura nas duas últimas décadas para algumas

matrizes ambientais como, por exemplo, a água e tecidos biológicos, têm sido

atribuídos à contaminação das amostras por mercúrio (USEPA, 1997a).

Paralelamente, a quantificação deste metal tem progredido de µg de mercúrio

total para níveis do picograma de espécies mercuriais como resultado do avanço

na qualidade e resolução dos métodos analíticos de detecção ( MASON;

SULLIVAN, 1999).

A tabela 9 apresenta um quadro geral das concentrações médias das

espécies de Hg medidas mensalmente no fitoplâncton durante o período de

setembro de 2003 a agosto de 2004. As concentrações de mercúrio inorgânico no

fitoplâncton variaram de 0,86 a 20,76 ng.g-1 com uma média de 7,40 ± 5,73 ng.g-1.

Page 78: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

78

TABELA 9 - Quadro geral das concentrações médias das espécies de mercúrio medidas no fitoplâncton. Valores expressos em ng.g-1 ( peso seco) IHg1 DP3 MMHg2 DP

FSET03

6,34

0,15

0,38

0,28

F0UT03

4,21

0,09

0,79

0,03

FNOV03

7,78

0,32

0,87

0,04

FJAN04

18,65

0,05

0,75

0,04

FFEV04

8,12

0,31

0,90

0,04

FMAR04-1

6,19

0,20

1,16

0,03

FMAR04-2

7,94

0,27

1,24

0,01

FABR04-1

2,11

0,03

0,24

0,01

FABR04-2

0,86

0,02

0,87

0,04

FABR04-3

5,83

0,06

0,98

0,03

FMAI04-2

20,76

0,58

0,81

0,03

FJUN04

4,45

0,09

< LD4

-

FAGO04

8,04

0,22

1,89

0,09

FJAN05-1

24,25

0,14

0,62

0,02

FJAN05-2

21,55

0,72

< LD

0,01

FJAN05-3

26,58

1,12

0,41

0,02

FJAN05-4

19,32

0,21

0,20

0,02

FJAN05-5

33,04

0,25

< LD

-

FJAN05-6

18,42

0,42

< LD

< LD

FJAN4D-1

23,55

0,17

0,29

0,00

FJAN4D-2

20,57

0,26

0,90

0,02

FJAN4D-3

21,22

-

< LD

-

1IHg = mercúrio inorgânico (Hg2+); 2MMHg = mercúrio orgânico ( HgCH31+); 3DP = desvio padrão;

4 LD = limite de detecção.

Page 79: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

79

A figura 16 apresenta a variação temporal das concentrações médias do

IHg durante o período de setembro de 2003 a agosto de 2004.

FIGURA 16 - Variação temporal das concentrações médias do mercúrio

inorgânico no fitoplâncton no período de setembro/03 a agosto/04.

0,0

5,0

10,0

15,0

20,0

25,0

Mer

cúrio

inor

gâni

co n

g/g

set/03 out/03 nov/03 dez/03 jan/04 fev/04 mar/04 abr/04 mai/04 jun/04 jul/04 ago/04

As maiores concentrações do mercúrio inorgânico no fitoplâncton foram

observadas em janeiro e maio/04 (FIGURA 16) e podem estar relacionadas com a

influência das águas de ressurgência mais frias e ricas em nutrientes na área de

coleta nesses meses assinalada nas figuras 12, 13 e 14. As águas de

ressurgência são naturalmente mais ricas em nitrogênio (N), fósforo (P) e outros

microelementos nas quais o aumento da abundância das algas é um reflexo direto

da fertilização das águas ricas em nutrientes (VALENTIN et al, 1985, SILVA et al,

1988). Wang; Dei, 2001, observaram que a adição dos nutrientes N e P nas

águas de cultivo de fitoplâncton marinho aumentaram significativamente a

bioconcentração dos metais como o Cd, Zn e Se. Assim, as florações de algas

como uma conseqüência do aporte de N e P pelas águas de ressurgência poderia

potencializar/amplificar a difusão do Hg2+ para o fitoplâncton atuando

sinergicamente e favorecer sua entrada e a bioconcentração do mercúrio

inorgânico como os efeitos observados por Wang; Dei, 2001 para outros metais.

Page 80: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

80

A entrada de metal no fitoplâncton marinho envolve inicialmente uma rápida

sorção superficial seguida pelo transporte ativo/passivo para o meio intracelular

(SUNDA, HUNTSMAN, 1998). O Hg2+ na forma neutra HgCl2 presente na água do

mar em condições óxicas penetra nas membranas celulares das algas movido

pelo gradiente de concentração existente entre o meio extra e intracelular

(FIGURA 4). O mesmo mecanismo ocorre para o MMHg presente como um

complexo neutro CH3HgCl na água do mar ( MOREL et al, 1998 ).

As concentrações do mercúrio orgânico no fitoplâncton variaram de 0,24 a

1,89 ng.g-1 com uma média de 0,98 ± 0,72 ng.g-1 . Cinco amostras apresentaram

concentrações de MMHg abaixo do limite de detecção. As porcentagens de

metilmercúrio em relação ao mercúrio total variaram de 0 a 28,35% com uma

média de 11,72 ± 7,69%. Esse valor médio da porcentagem de metilmercúrio no

fitoplâncton obtido nesse estudo encontra-se próximo ao de 15% relatado por

WATRAS; BLOOM, 1992.

A figura 17 apresenta a variação temporal das concentrações médias

mensais do MMHg durante o período de setembro de 2003 a agosto de 2004.

FIGURA 17 - Variação temporal das concentrações médias do mercúrio

orgânico no fitoplâncton no período de setembro/03 a agosto/04.

0,00

0,40

0,80

1,20

1,60

2,00

Mer

cúrio

org

ânic

o ng

/g

set/03 out/03 nov/03 dez/03 jan/04 fev/04 mar/04 abr/04 mai/04 jun/04 jul/04 ago/04

Page 81: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

81

O Hg2+ foi a espécie majoritária em todas as amostras de fito e zooplâncton

com porcentagens acima de 70% em relação ao mercúrio total. Em geral, as

concentrações médias de Hg2+ foram superiores em uma a duas ordens de

grandeza que as do MMHg no fitoplâncton (tabela 9). No ambiente marinho, em

águas superficiais, o Hg2+ encontra-se em uma maior proporção de 70 a 90% e

apenas de 1 a 5% na forma de MMHg ( MOREL et al, 1998). Esta partição natural

das espécies mercuriais na água do mar poderia simplesmente explicar as

maiores concentrações de Hg2+ no fitoplâncton, uma vez que ambas as formas

atravessam facilmente a estrutura bilipídica das membranas celulares do

fitoplâncton por difusão simples. Entretanto, a distribuição das espécies no

fitoplâncton é diferente, onde a forma inorgânica Hg2+ encontra-se ligada à

membrana celular, enquanto que a forma orgânica na fração solúvel do

citoplasma da alga (MASON et al, 1996a). Essa distribuição provavelmente irá

condicionar a bioconcentração das espécies mercuriais no zooplâncton conforme

será discutido no item seguinte, uma vez que esses animais alimentando-se do

fitoplâncton poderão ser influenciados pelas espécies de Hg presentes na sua

fonte alimentar.

6.3.2 Zooplâncton

As concentrações de mercúrio total no zooplâncton variaram de 3,15 a

19,74 ng.g-1 com uma média de 8,23 ±4,61 ng.g-1. Estas concentrações são

similares aos valores reportados para o zooplâncton de regiões oceânicas (AL-

MAJED; PRESTON, 2000, CAMPBELL et al, 2005; SYDEMAN, JARMAN, 1998) e

encontram-se inferiores em ordens de grandeza aos citados por Förstner;

Wittmann, 1981. Por outro lado, as concentrações de mercúrio no presente

estudo foram mais baixas do que os valores reportados para o zooplâncton dos

lagos naturais de água doce das regiões de Quebec-Canadá e Wisconsin – EUA

(BACK; WATRAS,1995; BACK et al, 2003; GORSKI et al, 2003; MASSON;

TREMBLAY, 2002; TREMBLAY et al,1998). A tabela 10 apresenta os valores

reportados na literatura para a concentração do mercúrio orgânico e total no

zooplâncton em ambiente marinho e de água doce.

Page 82: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

82

TABELA 10 - Valores reportados na literatura para a concentração do mercúrio orgânico e total no zooplâncton em ambiente marinho e de água doce. Valores expressos em ng.g-1 .

Ambiente Grupamento Zooplâncton

OBS1 MMHg Variação

MMHg Média

Hg Total Variação

Hg Total Média

Referências

Marinho Várias regiões

dw2 60 - 448 FÖRSTNER; WITTMANN, 1981

Mar Adriático Pool dw2 40 – 80 ng.L-1

FERRARA; MASERTI, 1992

Eufausiáceos

dw2 30 SYDEMAN; JARMAN, 1998

Baía do Kwuait

Copépodos

< LD 4 - 35 11 AL-MAJED; PRESTON, 2000

Baía de Baffin Ártico Cabo Frio

Pool Copépodos Pool

ww3 ww3

dw2

0,4 – 2,1

4,0 ± 3,0 2,4 ± 1,3

1,1 ± 0,4

3,2 – 19,7

5,5 ± 2,1 25,3 ± 16,7

8,2 ± 4,6

CAMPBELL et al, 2005. PRESENTE ESTUDO

Água doce Wisconsin – EUA

22 - 60 BACK; WATRAS, 1995

Lagos naturais Norte do Canadá

Copépodos e Cladóceros

dw2 18 - 82 85 - 432 TREMBLAY et al, 1998

Lagos artificiais Norte do Canadá

Copépodos e Cladóceros

85 - 432 280 - 450 TREMBLAY et al, 1998

Cladóceros Copépodos

dw2 10 - 150 20 a 200

25 - 350 MASSON; TREMBLAY, 2002

Parque Nacional USA

Copépodos

dw2 32 - 75 52,5 150,7 - 256,9

198,6 GORSKI et al, 2003

Lago Superior USA

Pool

dw2 32 - 46 primavera

15 - 25 verão

40,9 ± 4,9

18,3 ± 3,7

78 – 133

22 - 67

101 ± 23,1

44,5 ± 14,5

BACK et al, 2003

1Observação; 2dw = peso seco; 3ww= peso úmido

Page 83: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

83

A tabela 11 apresenta um quadro geral das concentrações médias das

espécies de Hg medidas mensalmente no zooplâncton durante o período de

setembro de 2003 a agosto de 2004. As concentrações de mercúrio inorgânico no

zooplâncton variaram de 2,16 a 19,26 ng.g-1 com uma média de 7,12 ± 4,73 ng.g-1.

A figura 18 apresenta a variação temporal das concentrações médias do IHg durante

o período de setembro de 2003 a agosto de 2004.

FIGURA 18 - Variação temporal das concentrações médias do mercúrio

inorgânico no zooplâncton no período de setembro/03 a agosto/04.

0,0

4,0

8,0

12,0

16,0

20,0

Mer

cúrio

inor

gâni

co n

g/g

set/03 out/03nov/03dez/03jan/04 fev/04mar/04abr/04mai/04 jun/04 jul/04 ago/04

Page 84: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

84

TABELA 11 - Quadro geral dos dados obtidos para as concentrações médias das espécies de mercúrio medidas no zooplâncton. Valores expressos em ng.g-1 (peso seco). IHg1 DP3 MMHg2 DP

ZSET03 15,59 0,22 1,12 0,05 ZOUT03 17,44 0,52 0,43 0,03

ZNOV03 3,62 0,50 0,66 0,01 ZDEZ03-1 4,58 0,10 1,02 0,04 ZDEZ03-2 3,77 0,17 1,61 0,04 ZJAN04-1 6,54 0,29 1,47 0,02 ZJAN04-2 4,83 0,20 0,94 0,03 ZFEV04 2,36 0,07 1,01 0,04 ZMAR04-1 7,87 0,09 0,89 0,06 ZMAR04-2 4,65 0,06 0,98 0,03 ZABR04-1 2,40 0,03 1,13 0,06 ZABR04-2 2,16 0,10 0,98 0,03 ZABR04-3 5,77 0,19 1,20 0,05 ZMAI04-1 19,26 0,23 0,47 0,07 ZMAI04-2 13,28 0,67 0,76 0,02

ZJUN04-1 7,06 0,22 1,62 0,04 ZJUN04-2 6,11 0,11 0,86 0,02 ZJUN04-3 4,72 0,11 0,61 0,04 ZJUL04-1 4,58 0,13 1,02 0,04 ZJUL04-2 7,90 0,16 1,21 0,03 ZAGO04-1 6,69 0,25 2,12 0,06

Z AGO04-2 6,76 0,17 2,23 0,06

Z AGO04-3 5,90 0,14 1,02 0,02 ZJAN05-1 25,75 - 1,61 - ZJAN05-2 30,70 - 0,72 -

1IHg = mercúrio inorgânico (Hg2+); 2MMHg = mercúrio orgânico ( HgCH3

1+); 3DP = desvio padrão;

Page 85: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

85

As concentrações de mercúrio orgânico no zooplâncton variaram de 0,43 a

2,12 ng.g-1 com uma média de 1,05 ± 0,40 ng.g-1. A figura 19 apresenta a variação

temporal das concentrações médias do MMHg durante o período de setembro de

2003 a agosto de 2004.

FIGURA 19 - Variação temporal das concentrações médias do mercúrio

orgânico no zooplâncton no período de setembro/03 a agosto/04.

0,0

0,4

0,8

1,2

1,6

2,0

Mer

cúrio

org

ânic

o ng

/g

set/03 out/03 nov/03 dez/03 jan/04 fev/04 mar/04 abr/04 mai/04 jun/04 jul/04 ago/04

As porcentagens de metilmercúrio em relação ao mercúrio total no

zooplâncton variaram de 2,39 a 31,94% com uma média de 16,98 ± 8,70%. Os

maiores valores encontram-se dentro da faixa de expectativa de cerca de 30%

(BACK, WATRAS, 1995, MOREL et al, 1998 e AL-MAJED; PRESTON, 2000).

Entretanto, a proporção relativa de MMHg em relação ao mercúrio total foi

maior no zôo (16,98%) em comparação ao fitoplâncton (11,72%) durante o período

de coleta de setembro/03 a agosto/04. A razão para esta diferença na

bioacumulação encontra-se na diferente reatividade de cada uma das espécies de

Hg com os ligantes intracelulares. De acordo com Mason et al, 1996, após a

ingestão do fito pelo zooplâncton, a taxa de assimilação MMHg pelo zooplâncton foi

Page 86: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

86

quatro vezes superior que a do IHg demonstrando a maior eficência da forma

orgânica na bioacumulação. A forma inorgânica é excretada mais rapidamente que

absorvida.

Embora, a área de estudo encontre-se próxima da região litoral da Ilha do

Cabo Frio, as concentrações de mercúrio total no zooplâncton marinho foram

similares aos valores reportados para o plâncton de regiões afastadas da costa

(AL-MAJED; PRESTON, 2000; SYDEMAN, JARMAN, 1998) e de região isolada

como o Ártico (CAMPBELL et al, 2005). Por outro lado, as concentrações de Hg total

são inferiores em 1 a 2 ordens de grandeza que as do zooplâncton de água doce

dos lagos canadenses e americanos ( BACK et al, 2003; GORSKI et al, 2003;

MASSON; TREMBLAY, 2002; TREMBLAY et al, 1998).

Isto significa que a região costeira de Cabo Frio não apresenta contaminação

por mercúrio e a concentração média do plâncton de 8,31 ng.g-1 pode representar o

nível de base do Hg para esta matriz biológica. Segundo a Organização Mundial da

Saúde, os valores de background para uma grande diversidade de alimentos situam-

se no intervalo de 20 a 50 ng.g-1 (WHO, 1989).

Page 87: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

87

6.4 COMPARAÇÃO ENTRE AS CONCENTRAÇÕES DE MERCÚRIO DO

PLÂNCTON SEM E COM INFLUÊNCIA DA RESSURGÊNCIA

Objetivando-se comparar o comportamento das espécies de mercúrio

analisadas no fito e zooplâncton nos períodos em que as águas da baía de Arraial

do Cabo foram influenciadas pelos pulsos da ressurgência, os resultados foram

apresentados em dois grupos de amostras: o plâncton da ressurgência e o plâncton

sem ressurgência.

As amostras do plâncton representativas do evento ressurgência foram

coletadas nos meses de janeiro, fevereiro, maio, agosto de 2004 e janeiro de 2005.

Nestes meses foram registradas no interior da enseada de Arraial do Cabo a

ocorrência das águas com temperaturas mais frias e com maiores teores de nitrato e

fosfato (figuras 12, 13 e 14 - círculos azuis) que são os parâmetros hidroquímicos

que caracterizam o afloramento da ACAS na região leste da Ilha do Cabo Frio. A

ACAS ao penetrar no interior da enseada modifica as características hidrológicas

das águas na área de coleta das amostras.

As amostras representativas do período sem a influência da ressurgência nas

águas da baía de Arraial do Cabo foram coletadas em setembro, outubro, novembro,

dezembro de 2003; março, abril, junho e julho de 2004.

A tabela 12 apresenta as concentrações médias das espécies de mercúrio

nas amostras do plâncton nos períodos sem e com influência da ressurgência.

Page 88: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

88

Tabela 12 - Concentrações das espécies de Hg medidas no plâncton nos

períodos sem e com influência da ressurgência. Valores expressos em ng.g-1.

IHg1

MMHg2

Hg Total3

%MMHg4

Fitoplâncton sem

ressurgência

Média

Variação

N = 9

5,08 ± 2,41

0,86 – 7,94

0,73 ± 0,35

0,24 – 1,24

5,81 ± 2,62

1,73 – 9,18

15,08 ± 14,16

0 – 50,23

Fitoplâncton com

ressurgência

Média

Variação

N = 13

20,31 ± 6,69

8,04 – 33,04

0,62 ± 0,85

0 – 3,18

20,93 ± 6,16

9,03 – 33,04

4,34 ± 7,73

0 – 28,35

Zooplâncton sem

ressurgência

Média

Variação

N = 15

6,55 ± 4,41

2,16 – 17,44

1,02 ± 0,33

0,43 – 1,62

7,57 ± 4,34

3,15 – 17,87

16,97 ± 8,59

2,41 – 31,94

Zooplâncton com

ressurgência

Média

Variação

N = 10

12,26 ± 9,98

2,36 – 31,20

1,24 ± 0,64

0,47 – 2,23

13,49 ± 9,71

3,37 – 31,92

14,44 ± 10,03

2,26 – 29,89

1 IHg= mercúrio inorgânico; 2 MMHg= mercúrio orgânico; 3 Hg Total= mercúrio total; 4 %MMHg= percentual de MMHg em relação ao Hg Total.

Page 89: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

89

Com base na tabela 12, os resultados da especiação do Hg de cada

componente do plâncton nos períodos com ou sem influência da ressurgência foram

representados graficamente nas figuras 20 e 21 para o fitoplâncton e o zooplâncton,

respectivamente.

Como observado nas figuras 20 e 21, as concentrações médias do mercúrio

inorgânico (IHg) foram significativamente maiores que as do mercúrio orgânico

(MMHg) nas amostras de fito e zooplâncton em ambos os períodos com ou sem

influência da ressurgência ( P< 0,05).

FIGURA 20 - Comparação entre as concentrações médias das espécies de

mercúrio no fitoplâncton coletado sem e com influência da ressurgência.

0,0

5,0

10,0

15,0

20,0

25,0

Con

cent

raçã

o ng

/g

IHg MMHg HgT

Sem ressurgência Ressurgência

Page 90: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

90

FIGURA 21 - Comparação entre as concentrações médias das espécies de Hg

do zooplâncton coletado sem e com influência da ressurgência.

0,0

4,0

8,0

12,0

16,0

Con

cent

raçã

o ng

/g

IHg MMHg HgT

Sem ressurgência Ressurgência

No plâncton coletado com influência da ressurgência foi registrado um

aumento na concentração do IHg no fito e no zooplâncton de 299,8% e 87,2%,

respectivamente ( figuras 20 e 21 ).

As concentrações médias de MMHg no fitoplâncton coletados no período sem

e com influência da ressugência com valores de 0,73 ± 0,35 e 0,62 ± 0,94 ng.g-1,

respectivamente não apresentaram diferenças significativas ( P>0,05). O mesmo

comportamento foi observado para o MMHg no zooplâncton coletados no período

sem e com influência da ressugência com concentrações médias de 1,02 ± 0,33 e

1,24 ± 0,64 ng.g-1, respectivamente ( P>0,05).

As áreas de ressurgência são consideradas fontes de MMHg transportado

das águas frias e profundas para as camadas de misturas superficiais aumentando a

sua disponibilidade ( MASON, FITZGERALD, 1993). Assim, o aporte de MMHg das

águas de ressurgência poderiam teoricamente aumentar o gradiente de

concentração entre a água e superfície celular favorecendo sua difusão para o fito e

zooplâncton e por conseguinte favorecer a bioconcentração. Esta possível elevação

das concentrações de MMHg no plâncton como uma resposta direta das águas

ressurgidas atuando como fonte não foi verificada nas amostras analisadas, o que

Page 91: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

91

leva a suposição da existência de um processo controlador da disponibilidade do

MMHg em águas superficiais.

A fotodegradação do MMHg é provavelmente o principal mecanismo de

degradação do mercúrio orgânico em águas de baixas concentrações de Hg

( MOREL et al, 1998; STEIN et al, 1996 ) e tem sido demonstrada em águas óxicas

de lagos e oceanos ( SELLERS et al, 1996; SUDA et al, 1993 ) . No processo de

fotodegradação do MMHg, ocorre uma diminuição da concentração da forma

orgânica do mercúrio e um aumento da inorgânica Hg2+ nas águas superficiais como

produto da reação de redução fotoquímica.

Segundo Sellers et al, 1996 esta reação é de primeira ordem com relação à

concentração de MMHg e a intensidade da radiação solar.

CH3Hg+ + H+ CH4 + Hg2+

Masson; Sullivan, 1999 em experimentos de incubação de amostras de águas

oceânicas profundas abaixo da termoclina concluíram que a decomposição das

espécies orgânicas DMHg e MMHg é aumentada pela luz sendo significativamente

maior na superfície que no fundo. Apesar de não termos realizado experimentos de

incubação de amostras de plâncton semelhantes ao de Masson; Sullivan, 1999,

consideraremos a ocorrência da fotodegradação em águas superficiais, uma vez que

todas as coletas foram realizadas no período da manhã ( entre 9:00 e 11:00 hs) com

dias ensolarados. Neste cenário, durante o afloramento das águas de ressurgência

ocorre um aumento de Hg2+ como produto da fotodegradação juntamente com o

enriquecimento dos nutrientes N e P que favorecem o crescimento da floração do

fitoplâncton. Em tese, haveria um aumento da densidade de células

fitoplanctônicas/m3 e consequentemente um aumento relativo das áreas superficiais

disponíveis para a sorção do Hg2+ e posterior incorporação intracelular. Outros

fatores como as baixas temperaturas das águas de ressurgência no momento das

coletas do plâncton e também o aumento da intensidade luminosa nos meses de

verão em que ocorreram os eventos da ressurgência podem proporcionar condições

favoráveis a desmetilação fotoquímica ( ULLRICH et al, 2001 ).

Luz solar

Page 92: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

92

O zooplâncton da região de Cabo Frio é abundante com baixa diversidade de

organismos e as comunidades incluem espécies subtropicais e de hábito filtrador

herbívoro. Os copépodos são os mais freqüentes e abundantes grupos do

zooplâncton da costa sudeste. Na região de Cabo Frio, suas densidades podem

atingir 1.265 indivíduos.m-3 sendo que na região de Abrolhos - Bahia pobre em

copépodos a densidade é menor que 100 indivíduos.m-3 ( VALENTIN; MONTEIRO-

RIBAS, 1993).

Os baixos valores do MMHg encontrado no zooplâncton da ressurgência pode

ser atribuído à dominância dos copépodos nas amostras, assumindo que este

padrão da distribuição taxonômica que tem sido observado com relativa constância

ao longo dos últimos 30 anos não tenha sofrida alteração significativa. Altas taxas de

excreção dos copépodos para muitos elementos traços sugerem que a

biomagnificação pode ser rara nestes organismos do zooplâncton ( REINFELDER et

al, 1998). Outros fatores intrínsecos ao organismo como a taxa de crescimento,

maturação de gônadas e reprodução podem causar um efeito diluidor das

concentrações de MMHg no zooplâncton.

Pode-se presumir que o zooplâncton marinho de ambientes tropicais

apresenta diferenças nas cinéticas de reação de incorporação e excreção de metais

refletindo em padrões biogeoquímicos diferenciados de acumulação de mercúrio

daqueles observados em outros ambientes.

6.5 CORRELAÇÃO ENTRE OS PARÂMETROS FÍSICO-QUÍMICOS E AS

CONCENTRAÇÕES DE IHg E MMHg NO FITOPLÂNCTON E ZOOPLÂNCTON.

Para avaliar o grau de associação entre as diferentes variáveis uma análise

multivariada por componentes principais (ACP) foi aplicada. A ACP foi obtida a partir

da matriz de correlação de Pearson e os componentes foram rotacionados usando

Varimax. A ACP é geralmente utilizada para reduzir um grupo de dados com um

número relativamente alto de variáveis correlacionadas para um grupo menor de

dados com variáveis não correlacionadas (componentes) que mantém a maioria da

informação contida no grupo de dados originais. Cada componente consiste de um

número de elementos (loads = cargas), os quais representam as correlações das

Page 93: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

93

variáveis com o componente. A ACP, neste estudo, foi aplicada com o objetivo de

identificar as relações entre as espécies de mercúrio separadamente no fitoplâncton

e zooplâncton com os parâmetros físico-químicos da água.

Aplicando-se a análise fatorial por componentes principais na matriz de nove

variáveis por 12 amostras para o fitoplâncton, foram obtidos 4 fatores que explicam

86% da variância total dos dados. Na tabela 13 estão apresentados os loadings de

cada variável sobre cada fator e a porcentagem total explicada por cada fator,

retidos a partir da matriz de dados considerando o fitoplâncton.

TABELA 13 - Correlação entre parâmetros físico-químicos e concentrações das

espécies de mercúrio no fitoplâncton.

Fator 1 Fator 2 Fator 3 Fator 4 IHg -0,02 0,11 0,99 0,01 MMHg 0,54 0,31 0,02 0,31 TEMP 0,09 - 0,95 0,14 0,09 O2 0,11 0,93 0,07 0,12 PO4

-3 - 0,92 -0,06 -0,18 -0,06 NO2

-1 - 0,84 0,12 0,19 -0,12 NO3

-1 0,07 0,82 0,34 0,03 NH4

+1 -0,55 -0,03 0,23 - 0,76 pH 0,07 0,01 0,12 0,99 Expl.Var 2,19 2,58 1,26 1,69 Prp.Totl 0,24 0,29 0,14 0,19

O primeiro fator é responsável por 24% da variância total dos dados e

apresenta-se positivamente correlacionado com o metilmercúrio e altamente

associado negativamente com fosfato e nitrito e em menor extensão com a amônia.

Isto evidencia a relação do metabolismo do fitoplâncton com incorporação do

mercúrio e ao mesmo tempo o consumo de nutrientes. As concentrações do

mercúrio orgânico foram crescentes nos períodos de setembro a novembro/03 e

janeiro a março/04 onde se observa um decréscimo nos teores de fósforo das águas

superficiais. Resultados semelhantes foram obtidos por Pickhardt et al, 2005 onde

em condições de mesocosmo, maiores concentrações de IHg e MMHg foram

observadas no fitoplâncton cultivado ao longo de gradientes decrescentes de

nutrientes ( N e P ).

Page 94: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

94

O fator 2 é responsável por 29% da variância total dos dados e mostra uma

clara oposição entre a temperatura e as concentrações de oxigênio e nitrato,

indicando que a ressurgência tem o principal papel na produtividade desta área

(águas frias e ricas em nutrientes). A ocorrência de florações de algas em função da

eutrofização das águas causadas pelo aporte de nutrientes durante o período diurno

pode aumentar os teores de oxigênio dissolvido devido a fotossíntese (produção

primária ).

O 4° fator apresenta significativa associação positiva com pH e negativa com

a amônia o que nos sugere que ela é a principal fonte de nitrogênio no meio, porém

sua oxidação a nitrito e nitrato promove a diminuição no pH.

O 3° fator é o que explica a menor porcentagem da variância total dos dados

e apresenta associação positiva e altamente significativa apenas com o mercúrio

inorgânico, sugere como já discutido anteriormente que a bioconcentração da forma

inorgânica Hg2+ provavelmente é governada pela difusão passiva.

Na tabela 14 estão apresentados os loadings de cada variável sobre cada

fator e a porcentagem total explicada por cada fator, retidos a partir da matriz de

dados considerando o zooplâncton. Os quatro fatores explicam juntos 87% da

variância total dos dados.

Page 95: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

95

TABELA 14 - Correlação entre parâmetros físico-químicos e concentrações das

espécies de mercúrio no zooplâncton.

Fator 1 Fator 2 Fator 3 Fator 4 IHg 0,85 -0,29 0,10 0,20 MMHg -0,01 0,13 -0,06 - 0,88 TEMP - 0,65 0,11 -0,23 0,60 O2 0,81 0,12 -0,11 -0,48 PO4

-3 0,03 -0,22 0,82 0,34 NO2

-1 -0,05 0,07 0,90 -0,22 NO3

-1 0,97 0,14 -0,10 0,02 NH4

+1 0,12 - 0,86 0,25 0,19 pH 0,08 0,93 0,10 0,03 Expl.Var 2,76 1,79 1,63 1,60 Prp.Totl 0,31 0,20 0,18 0,18

O 1° fator é mais importante e responsável por 31% da variância total dos

dados e apresenta associação positiva e significativa com o mercúrio inorgânico,

oxigênio e nitrato dissolvidos, e negativamente correlacionado com a temperatura,

significando que maiores concentrações de IHg no zooplâncton estão

correlacionadas com maiores concentrações de nitrato e oxigênio e temperatura

mais baixas da água. Estas são características de águas de ressurgência que

penetram pelo fundo e propiciam aumento de produtividade na região do estudo.

O 2° fator com 20% da variância total dos dados tem significativa associação

positiva com o pH e negativa com a amônia, sugerindo que sua oxidação provoca

diminuição do pH.

O 3° e 4° fatores respondem por 18% da variância total dos dados cada um, o

terceiro tem forte associação positiva com fosfato e nitrito e o quarto associado

positivamente com temperatura e negativamente com o metilmercúrio sugerindo,

como já discutido anteriormente, que as formas orgânicas de mercúrio, assim como

os nutrientes, associadas às águas de ressurgência são fortemente fotocatalizadas a

mercúrio inorgânico (Hg2+) quando as águas alcançam a superfície ao mesmo tempo

em que se aquecem.

Page 96: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

96

6.6 ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NOS PEIXES

6.6.1 Sardinha Sardinella brasiliensis

A Sardinella brasiliensis, de nome vulgar sardinha, pertence à família

Clupeidae. Apresenta o corpo lateralmente comprimido e prateado, as nadadeiras

sem espinhos e a linha lateral ausente ( FIGURA 22 ). Segundo a chave de

identificação de Figueiredo; Menezes (1978, p.22), as características de

identificação para o gênero Sardinella são: `` forma do corpo alongado, roliço; altura

do corpo contida mais de 3,5 vezes no comprimento padrão; menos de 60 rastros

no ramo inferior do primeiro arco brânquial; nadadeiras pélvicas com 9 raios´´.

FIGURA 22 - Sardinella brasiliensis

As sardinhas são peixes pelágicos de águas costeiras encontrados sempre

em grandes cardumes. Alimentam-se de organismos planctônicos que são filtrados

na rede formada pelos rastros branquiais longos e numerosos. Em várias regiões

do mundo constituem fonte de alimento abundante e barato. Sua pesca no sudeste

brasileiro é tão intensa, que situa a espécie entre os dez principais recursos

pesqueiros desembarcados no estado do Rio de Janeiro (BIZERRIL; COSTA,

2001).

As concentrações do mercúrio total ( a soma das concentrações de MMHg e

IHg de cada amostra ) variaram de 53,0 a 229,7 ng g-1 com uma média de 127,8

± 45,0 ng.g-1 ( n = 25 ). Os valores da concentração do mercúrio total foram

plotados contra o comprimento total dos espécimes (FIGURA 23) e para avaliar o

comportamento conjunto das duas variáveis foi utilizado o teste t para o coeficiente

Adaptado de Figueiredo e Menezes (1978).

Page 97: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

97

de correlação de Pearson (r) (VIEIRA, 1980). Observando a figura 23, existe uma

correlação positiva significativa entre o mercúrio total e o comprimento total ao nível

de significância de 5% ( P<0,05).

FIGURA 23 - Relação entre a concentração de mercúrio total e o comprimento

total em tecido muscular de Sardinella brasiliensis.

y = 8,5203x - 22,231R2 = 0,1856

0,0

50,0

100,0

150,0

200,0

250,0

10,0 12,0 14,0 16,0 18,0 20,0 22,0

Comprimento total cm

Mer

cúrio

tota

l ng/

g

As concentrações médias de mercúrio total da sardinha brasileira

proveniente da região de Cabo Frio são menores que as das sardinhas do mar

Mediterrâneo e Tunísia ( BALDI e RENZONI, 1978; BERNHARD, 1985;

CABAÑERO et al, 2004; JOIRIS et al, 1999 ) que apresentaram concentrações na

ordem de 1,7 a 10 vezes maiores. A tabela 15 apresenta as concentrações de

mercúrio total em tecido muscular de sardinhas provenientes de diferentes regiões.

As maiores concentrações de mercúrio nas sardinhas do Mediterrâneo em

comparação ao Oceano Atlântico foram atribuídas ao maior teor de mercúrio das

águas mediterrânicas que apresentam concentrações 5 vezes superiores do que

as águas atlânticas (BALDI, 1984).

Sellanes et al, 2002 analisaram sardinhas provenientes da mesma região

deste estudo e reportaram concentrações na ordem de 6,4 vezes menores. Os

valores bem inferiores encontrados neste estudo podem estar relacionados às

diferenças no processo analítico utilizado por Sellanes et al, 2002 durante a

digestão ácida em sistema aberto onde as amostras sofreram aquecimento

y = 8,5203x – 22,231 r = 0,4308

Page 98: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

98

atingindo temperaturas de 145 ºC consideradas muito elevadas para a extração de

mercúrio.

TABELA 15 - Concentrações de mercúrio total em tecido muscular de

sardinhas provenientes de diferentes regiões. Todos os valores estão

expressos em ng g-1 .

Espécie/Região Peso

corporal(g)

Variação

Hg total

Média Variação

Referência

Sardina pilchardus

Norte da Tunísia

26 - 53 410 270 - 750 Joiris et al, 1999.

Sardina pilchardus

Este da Tunísia

33 - 48 420 290 - 590 Joiris et al, 1999.

Sardina pilchardus

Sul da Tunísia

30 - 45 260 190 - 400 Joiris et al, 1999.

Sardina pilchardus

Mar de Thyrrhenian

30 - 55 1060 550 - 2050 Bernhard, 1985.

Sardina pilchardus

Estreito de Gibraltar

30 - 55 220 90 - 470 Bernhard, 1985.

Sardina pilchardus

La Spezia

26 - 50 960 480 - 1430 Baldi e Renzoni,

1978.

Sardina pilchardus

Maddalena

42 - 57 1300 700 - 2070 Baldi e Renzoni,

1978.

Sardina pilchardus

Espanha

300 Cabañero et al,

2004

Sardinella brasiliensis*

Cabo Frio

20 4 - 64 Sellanes et al, 2002

Sardinella brasiliensis

Cabo Frio

17 - 92 128 53 - 230 Este estudo, 2006

* Concentração dw estimada com base no teor médio de umidade de 75% para peixes.

Page 99: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

99

As concentrações de monometilmercúrio ( MMHg ) variaram de 18,0 a 126,9

ng.g-1 com uma média de 49,9 ± 21,9 ng g-1 ( n = 25 ). A figura 24 apresenta a

relação entre a concentração de monometilmercúrio e o comprimento total em

tecido muscular de Sardinella brasiliensis. Foi observada uma correlação positiva

significativa entre o MMHg e o comprimento total ( CT ) nos espécimes analisados

( P<0,05).

FIGURA 24 - Relação entre a concentração de monometilmercúrio e o

comprimento total em tecido muscular de Sardinella brasiliensis.

y = 6,7712x - 68,974R2 = 0,4566

0,0

40,0

80,0

120,0

160,0

10,0 12,0 14,0 16,0 18,0 20,0 22,0

Comprimento total cm

Met

ilmer

cúrio

ng/

g

O porcentual de MMHg em relação ao mercúrio total variou de 18,8 a 64,8%

com uma média de 39,5 ± 10,9 % . Foi observada na figura 25 uma correlação

positiva significativa entre o percentual de MMHg e o CT na sardinha (P<0,05).

y = 6,7712x – 68,974 r = 0,6152

Page 100: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

100

FIGURA 25 - Relação entre o percentual de monometilmercúrio e o

comprimento total em tecido muscular de Sardinella brasiliensis.

y = 2,82x - 10,034R2 = 0,3339

0,0

20,0

40,0

60,0

80,0

10,0 12,0 14,0 16,0 18,0 20,0 22,0Comprimento total cm

Per

cent

ual d

e m

etilm

ercú

rio %

Cabãnero et al, 2004 registraram maiores porcentagens de metilmercúrio na

sardinha espanhola Sardina pilchardus ( 93,3% ), sendo que a maior

bioconcentração do mercúrio orgânico nesta espécie pode estar relacionada com

as maiores concentrações de Hg total (média de 300 ng.g-1) presentes nesta

espécie. Percentuais elevados de MMHg ( média de 62,3%) também foram

observados por Kehring et al, 2002 em tainhas Mugil lisa, peixes de mesmo nível

trófico que as sardinhas, provenientes da Baía da Guanabara. Entretanto, o nível

de contaminação por mercúrio deste último ambiente é muito elevado, que não é o

caso de Cabo Frio.

As concentrações de mercúrio inorgânico (IHg) variaram de 30,3 a 152,7 ng

g-1 com uma média de 77,9 ± 31,4 ng g-1 ( n = 25 ). Em relação às espécies

mercuriais, o mercúrio inorgânico foi predominante em 84% das amostras de tecido

muscular de Sardinella brasiliensis. A concentração média de IHg ( 77,9 ng g-1 ) foi

1,56 vezes superior as do MMHg ( 49,9 ng g-1 ) e diferem significativamente (

P<0,05 ).

y = 2,82x – 10,034 r = 0,5778

Page 101: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

101

FIGURA 26 - Relação entre a concentração de mercúrio inorgânico e o

comprimento total em tecido muscular de Sardinella brasiliensis.

y = 1,7623x + 46,5r = 0,1329

0,0

50,0

100,0

150,0

200,0

10,0 12,0 14,0 16,0 18,0 20,0 22,0

Comprimento total cm

Mer

curio

Inor

gâni

co n

g/g

Observando a figura 26, não foi encontrada nenhuma correlação entre o mercúrio

inorgânico e o comprimento total na sardinha ( P>0,05).

FIGURA 27 - Relação entre o percentual de mercúrio inorgânico e o

comprimento total em tecido muscular de Sardinella brasiliensis.

y = -2,8142x + 109,93R2 = 0,3333

0,0

20,0

40,0

60,0

80,0

100,0

10,0 12,0 14,0 16,0 18,0 20,0 22,0

Comprimento total cm

Per

cent

ual d

e m

ercú

rio in

orgâ

nico

%

O percentual de Hg2+ em relação ao mercúrio total variou de 35,2 a 81,2%

com uma média de 60,5 ± 10,9 % (figura 27). Foi observada uma correlação

negativa significativa entre o percentual de mercúrio inorgânico e o comprimento

total da sardinha (P<0,05).

y = -2,8142x + 109,93 r = -0,6074

Page 102: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

102

O percentual médio de Hg2+ de 60,5 ± 10,9 % na sardinha apresenta-se

coerente com os resultados da especiação do mercúrio no plâncton que é sua fonte

alimentar. O Hg2+ foi a espécie majoritária em todas as amostras de fito e

zooplâncton com porcentagens acima de 70% em relação ao mercúrio total. O

percentual médio do Hg2+ medido na sardinha próximo ao encontrado no plâncton

pode significar uma resposta direta ao hábito alimentar planctófago da sardinha.

O comportamento aparentemente antagônico das espécies IHg e MMHg

observado na sardinha em relação ao crescimento ( figuras 25 e 27) , pode ser

explicado pelas diferentes meias-vidas biológicas das espécies mercuriais, sendo 5

vezes inferior para o mercúrio inorgânico o que favorece a sua eliminação ao longo

do crescimento. Por outro lado, a parede intestinal do peixe é uma barreira eficaz à

absorção da forma inorgânica, porém, é facilmente permeável ao metilmercúrio,

acumulando-o principalmente no tecido muscular (WHO, 1989).

Page 103: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

103

6.6.2 Bonito listrado Katsuwonus pelamis

Os exemplares analisados de bonito listado Katsuwonus pelamis

pertencem a família Scombridae. São peixes epipelágicos oceânicos e

distribuem-se em águas tropicais e subtropicais de todos os oceanos (FIGURA

28). Os bonitos formam cardumes superficiais em áreas de ressurgência e

convergência marinhas onde ocorre eutrofização. Sua alimentação constitui-se

basicamente de peixes menores sendo típico o modo voraz e rápido com que

capturam suas presas.

Figura 28 . Katsuwonus pelamis

O bonito listado encontra-se entre as 20 espécies mais explotadas em

todo o mundo representando cerca de 40% da captura mundial de

escombrídeos (BIZERRIL; COSTA, 2001). Na costa fluminense, a produção

anual média foi de 3.700 toneladas para o período 1990-1999, com

crescimento médio de 4.300 t nos últimos três anos. Na pesca comercial, os

cardumes desta espécie são atraídos pelo lançamento nas águas ao redor do

barco de `iscas vivas´, geralmente juvenis de sardinhas capturadas

previamente e mantidas vivas em tanques instalados a bordo da própria

embarcação. Em seguida, os bonitos são capturados e retirados da água por

caniço, linha e anzol sem isca lançada a esmo ao meio dos bonitos atraídos

pelas sardinhas.

As concentrações de mercúrio total variaram de 158,2 a 238,7 ng g-1

com uma média de 209,5 ± 36,2 ng g-1. Estes valores das concentrações de Hg

Adaptado de Menezes; Figueiredo, 1980 (sem escala).

Page 104: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

104

total não são tão elevados como as descritas por Adams, 2004 e Cabañero et

al, 2004, visto que esta espécie, como as pertencentes a família Scombridae,

apresenta um grande potencial de biomagnificação do Hg.

FIGURA 29 - Relação entre a concentração de mercúrio total e o

comprimento total em tecido muscular de Katsuwonus pelamis.

y = 8,3218x - 17,488R2 = 0,9916

0,0

100,0

200,0

300,0

20,0 25,0 30,0 35,0

Comprimento total cm

Mer

cúrio

tota

l ng/

g

Os valores da concentração do mercúrio total foram plotados contra o

comprimento total dos espécimes (FIGURA 29) e para avaliar o comportamento

conjunto das duas variáveis foi utilizado o teste t para o coeficiente de

correlação de Pearson ( r ). Foi observada uma correlação positiva significativa

entre as concentrações de mercúrio total e o comprimento total (P<0,05).

As concentrações de monometilmercúrio variaram de 154,2 a 227,9 ng g-1 com

uma média de 199,1 ± 32,6 ng g-1. O comprimento total ( CT ) dos exemplares

de bonito analisados ( n = 4 ) variaram de 21,2 a 31,2 cm com uma média de

27,3 ± 4,3 cm.

Observando a figura 30 foi encontrada uma correlação positiva

significativa entre a concentração de monometilmercúrio e o comprimento total

em bonito (P<0,05).

y = 8,3218x + 17,488 r = 0,9958

Page 105: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

105

FIGURA 30 - Relação entre a concentração de monometilmercúrio e o

comprimento total em tecido muscular de Katsuwonus pelamis.

y = 7,1412x + 4,3167R2 = 0,9028

0,0

100,0

200,0

300,0

20,0 25,0 30,0 35,0

Comprimento total cm

Met

ilmer

cúrio

ng/

g

O percentual de metilmercúrio variou de 91,1 a 98,7% com uma média

de 95,2 ± 3,5%. Estes valores acima de 90% de MMHg eram esperados para

os exemplares de bonito uma vez que os tunídeos são predadores de nível

trófico elevado com uma dieta básica de outros peixes pelágicos como as

sardinhas .

FIGURA 31 - Relação entre o percentual de monometilmercúrio e o

comprimento total em tecido muscular de Katsuwonus pelamis.

y = -0,4061x + 106,31r = 0,5048

0,0

50,0

100,0

20,0 25,0 30,0 35,0

Comprimento total cm

Per

cent

ual d

e m

etilm

ercú

rio %

O comprimento total e o percentual de MMHg não apresentaram

nenhuma correlação (FIGURA 31), indicando que os elevados conteúdos de

mercúrio orgânico observado no tecido muscular do bonito independe do

tamanho (idade) do exemplar.

y = 7,1412x + 4,3167 r = 0,9502

Page 106: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

106

As concentrações de mercúrio inorgânico variaram de 3,0 a 21,2 ng.g-1

com uma média de 10,4 ± 8,6 ng g-1. Observando a figura 32, não foi

encontrado correlação entre o IHg e o comprimento total em bonito.

FIGURA 32 - Relação entre a concentração de mercúrio inorgânico e o

comprimento total em tecido muscular de Katsuwonus pelamis.

y = 1,1806x - 21,805R2 = 0,3557

0,0

10,0

20,0

30,0

20,0 25,0 30,0 35,0

Comprimento total cm

Mer

cúrio

inor

gâni

co n

g/g

y = 1,1806x – 21,805 r = 0,5964

Page 107: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

107

6.6.3 Pescada Cynoscion striatus

As pescadas são pertencentes à família Sciaenidae que apresenta peixes de

grande importância comercial e constituem uma importante parcela das capturas

comerciais efetuadas no sudeste do Brasil.

Figura 33 - Cynoscion striatus

Os exemplares de pescada ( figura 33) analisados pertencem ao gênero

Cynoscion. Segundo a chave de identificação publicada por Menezes; Figueiredo

(1980, p. 43) para este gênero, as características de identificação são a existência

de dentes caniniformes geralmente presentes apenas na ponta da maxila superior;

todos os dentes cônicos, com pontas agudas não em forma de seta.

As concentrações de mercúrio total variaram de 142,6 a 1215,2 ng g-1 com

uma média de 466,4 ± 389,2 ng g-1. Dos exemplares de pescada analisados (n = 6),

o exemplar de maior porte ( CT = 52,9 cm ) apresentou nível de Hg total acima do

valor máximo recomendado pela legislação brasileira de 500 ng g-1 .

Os valores da concentração do mercúrio total foram plotados contra o

comprimento total dos espécimes (FIGURA 34) e para avaliar o comportamento

conjunto das duas variáveis foi utilizado o coeficiente de correlação de Spearman rs

(VIEIRA, 2004). O mercúrio total apresentou uma correlação positiva significativa

com o comprimento total (P<0,05) conforme observado na figura 34. Este

comportamento era esperado para a pescada, um peixe de nível trófico elevado que

consome peixes como alimento preferencial. As espécies demersais da família

Sciaenidade, incluem também em sua dieta crustáceos bentônicos.

Adaptado de Menezes; Figueiredo (sem escala)

Page 108: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

108

FIGURA 34 - Relação entre a concentração de mercúrio total e o comprimento

total em tecido muscular de Cynoscion striatus.

y = 30,587x - 645,61R2 = 0,8087

0,0

400,0

800,0

1200,0

1600,0

20,0 30,0 40,0 50,0 60,0

Comprimento total cm

Mer

cúrio

tota

l ng/

g

Peixes de habitat bentônico e hábitos alimentares semelhantes ao da

pescada, como as raias águia e elétrica do mar Mediterrâneo apresentam

concentrações médias de Hg total de 830 e 2420 ng g-1, respectivamente, bem

superiores ao da pescada ( STORELLI et al, 2002).

As concentrações de monometilmercúrio encontradas na pescada variaram

de 117,1 a 1126,0 ng g-1 com uma média de 435,4 ± 361,7 ng g-1. O comprimento

total ( CT ) dos exemplares de pescada analisados ( n = 6 ) variaram de 23,7 a 52,9

cm com uma média de 36,4 ± 11,4 cm.

As corvinas Micropogonia furnieri, espécies demersais costeiras pertencentes

a mesma família Sciaenidae e abundante na Baía de Guanabara, analisadas por

Kehring et al, 2002 apresentaram concentrações médias de mercúrio orgânico de

778,8 ng g-1 dw ( estimada com base no teor de umidade no pescado igual a 75%).

y = 30,587x – 645,61 rs = 1

Page 109: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

109

FIGURA 35. Relação entre a concentração de monometilmercúrio e o

comprimento total em tecido muscular de Cynoscion striatus.

y = 28,047x - 579R2 = 0,8406

0,0

400,0

800,0

1200,0

20,0 30,0 40,0 50,0 60,0

Comprimento total cm

Met

ilmer

cúrio

ng/

g

Observando a figura 35, o metilmercúrio apresentou uma correlação positiva

significativa com o comprimento total ( P<0,05). Os peixes carnívoros normalmente

apresentam essa tendência de aumento do conteúdo de MMHg nos exemplares

maiores da mesma espécie demonstrando que o mercúrio orgânico ingerido pelos

indivíduos menores não é excretado sendo bioacumulado nos tecidos musculares ao

longo do desenvolvimento do peixe.

A proporção de metilmercúrio com relação ao Hg total variou de 82,1 a 99,2% com

uma média de 92,8 ± 6,3%.

FIGURA 36 - Relação entre o percentual de monometilmercúrio e o

comprimento total em tecido muscular de Cynoscion striatus.

y = 0,1483x + 87,372r = 0,3142

0,0

20,0

40,0

60,0

80,0

100,0

20,0 30,0 40,0 50,0 60,0

Comprimento total cm

Pro

porç

ão d

e M

MH

g %

y =28,047x – 579 rs = 1

Page 110: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

110

Observado a figura 36, a proporção de mercúrio orgânico em relação ao Hg

total não apresentou nenhuma correlação com o comprimento total (P>0,05).

Resultados semelhantes foram observados em raias carnívoras do mar

Mediterrâneo sendo que valores elevados da relação MMHg / Hg total como os da

pescada (média de 92,8 ± 6,3%.) são típicos de peixes carnívoros com dietas a base

de peixes menores e invertebrados (STORELLI et al, 2002).

As concentrações de mercúrio inorgânico variaram de 3,1 a 89,2 ng g-1 com

uma média de 30,9 ± 32,7 ng g-1. Observando a figura 37, o mercúrio inorgânico não

apresentou correlação com o comprimento total (P>0,05).

FIGURA 37 - Relação entre a concentração de mercúrio inorgânico e o

comprimento total em tecido muscular de Cynoscion striatus.

y = 1,9354x - 39,426R2 = 0,4589

0,0

20,0

40,0

60,0

80,0

100,0

20,0 30,0 40,0 50,0 60,0

Comprimento total cm

Mer

cúrio

Inor

gâni

co n

g/g

y = 1,9354 x – 39,426 rs = 0,4285

Page 111: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

111

6.6.4 Xerelete Caranx latus

Os exemplares de xerelete Caranx latus analisados pertencem à família

Carangidae. A forma do corpo é alta e lateralmente comprimida, de cor prateada e a

parte posterior da linha lateral com escudos bem desenvolvidos (figura 38). De

acordo com a chave de identificação de Menezes; Figueiredo (1980, p.3-4), as

características diagnósticas do gênero Caranx são: a presença ``espinhos da

primeira nadadeira dorsal mais curtos que o lobo anterior da segunda nadadeira

dorsal´´.

FIGURA 38 - Caranx latus

A grande maioria prefere águas tropicais de superfície, junto à costa e a

alimentação constitui basicamente de peixes, crustáceos e em menor escala de

invertebrados planctônicos.

As concentrações de mercúrio total variaram de 90,6 a 314,3 ng g-1 com uma

média de 210,5 ± 112,7 ng g-1. Sellanes et al, 2002 encontraram para exemplares de

carapau Caranx chrysos da região de Cabo Frio uma concentração média de

mercúrio total de 244 ng g-1, valor próximo do xerelete pertencente ao mesmo

gênero Caranx.

Adaptado de Figueiredo; Menezes, 1980 (sem escala).

Page 112: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

112

Não foi realizada a análise estatística das concentrações de Hg do xerelete

devido ao número muito pequeno de amostras. Observando a figura 39, existe uma

tendência de aumento da concentração de mercúrio total com o aumento do

comprimento total. Este comportamento entre as duas variáveis era esperado devido

ao hábito alimentar carnívoro do xerelete.

FIGURA 39 - Relação entre a concentração de mercúrio total e o comprimento

total em tecido muscular de Caranx latus.

0,0

100,0

200,0

300,0

400,0

25,0 30,0 35,0 40,0

Comprimento total cm

Mer

cúrio

tota

l ng/

g

As concentrações de monometilmercúrio no tecido muscular de Caranx latus

variaram de 67,0 a 309,6 ng g-1 com uma média de 198,1 ± 122,7 ng g-1. O

comprimento total ( CT ) dos exemplares de xerelete analisados ( n = 3 ) variou de

27,9 a 36,1 cm com uma média de 31,7 ± 4,1 cm.

Concentração média de MMHg na ordem de 9,6 vezes superiores as do

xerelete foram encontradas no peixe-espada Aphanopus carbo, espécie de mesmo

habitat e nicho trófico ( CABAÑERO et al, 2004 ).

Page 113: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

113

Observando a figura 40, existe uma tendência de aumento da concentração

de MMHg com o aumento do comprimento total .

FIGURA 40 - Relação entre a concentração de monometilmercúrio e o

comprimento total em tecido muscular de Caranx latus.

0,0

100,0

200,0

300,0

400,0

25,0 30,0 35,0 40,0

Comprimento total cm

Met

ilmer

cúrio

ng/

g

O percentual de MMHg variou de 74,0 a 98,5% com uma média de 89,2 ±

13,8%. Conforme a figura 41, existe uma tendência de aumento do percentual de

MMHg com o aumento do comprimento total.

FIGURA 41 - Relação entre o percentual de momometilmercúrio e o

comprimento total em tecido muscular de Caranx latus.

0,0

20,0

40,0

60,0

80,0

100,0

25,0 30,0 35,0 40,0

Comprimento total cm

Per

cent

ual d

e m

etilm

ercú

rio %

Page 114: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

114

As concentrações de mercúrio inorgânico variaram de 4,7 a 23,6 ng g-1 com

uma média de 11,6 ± 10,4 ng g-1. Foi observada uma tendência de diminuição da

concentração de mercúrio inorgânico com o aumento do comprimento total nos

exemplares de xerelete analisados (figura 42).

FIGURA 42 - Relação entre a concentração de mercúrio inorgânico e o

comprimento total em tecido muscular de Caranx latus.

0,0

5,0

10,0

15,0

20,0

25,0

25,0 30,0 35,0 40,0

Comprimento total cm

Mer

cúrio

inor

gâni

co n

g/g

Page 115: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

115

6.7 COMPARAÇÃO ENTRE AS ESPÉCIES DE PEIXES

A maior porcentagem de metilmercúrio em relação ao mercúrio total entre as

espécies de peixes estudados foi observada no tecido muscular do bonito com uma

média de 95,2 ± 3,5%. A pescada e o xerelete também apresentaram valores

médios elevados de 92,8 ± 6,3% e 89,2 ± 13,8%, respectivamente. A sardinha

apresentou o menor percentual médio de 39,5 ± 10,9 %. A figura 43 apresenta a

comparação do percentual de metilmercúrio entre as diferentes espécies de peixes.

FIGURA 43 - Comparação do percentual de metilmercúrio entre as diferentes

espécies de peixes.

0,0

20,0

40,0

60,0

80,0

100,0

Per

cent

agem

%

Sardinha Xerelete Pescada Bonito

MMHg IHg

Porcentagens elevadas de MMHg em peixes carnívoros também foram

reportadas por Al-Majed; Preston, 2000; Cabañero et al,2004; Kehrig et al, 2002;

Storelli et al, 2005. As dietas que incluem peixes possibilitam uma grande dose de

ingestão de metilmercúrio uma vez que a maior parte do mercúrio estocado nesses

peixes esta na forma orgânica (BLOOM, 1989; 1992; GREIB et al, 1990).

A pescada, espécie demersal, apresentou o maior concentração média de

MMHg que as outras duas espécies predadoras. Storelli et al, 2004 relataram que

espécies carnívoras que utilizam o fundo para obtenção de alimento apresentam

uma grande tendência de incorporarem mais mercúrio que aquelas que se

Page 116: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

116

alimentam próximo à superfície. Segundo o mesmo autor, os processos de

mobilidade do Hg são mais intensos na interface água-sedimento e possibilitam um

aumento na biodisponibilidade deste metal através da metilação por bactérias com

reflexos diretos na biota bentônica e nos peixes que aí se alimentam. Estes

resultados exprimem a importância da posição trófica, da qualidade e composição do

alimento natural preferencial ingerido e da longevidade no processo de

bioacumulação de MMHg das diferentes espécies analisadas.

Correlações positivas significativas entre o comprimento total (CT) e mercúrio

total (HgT) e também entre o CT e o mercúrio orgânico (MMHg) foram assinaladas

neste estudo para o bonito e pescada. Estas correlações eram esperadas para estas

espécies devido ao hábito alimentar predador e nível trófico elevado, ambos fatores

intrínsecos que levam os indivíduos de maior tamanho a apresentarem maiores

concentrações que os menores de sua espécie. Entre as espécies predadoras, o

bonito apresentou o maior coeficiente de correlação ( r = 0,9958 ) entre o CT e HgT.

Em geral, predadores como os tunídeos (exemplo, o bonito) ingerem uma grande

porcentagem de peixes em sua dieta e apresentam uma tendência a bioacumular o

mercúrio.

Nossos resultados da especiação do Hg em peixes de diferentes níveis

tróficos são similares aos de outros estudos (Kehrig, 2002; Lacerda, 1994;

THIBAUD, 1984) e confirmam que os menores teores de metilmercúrio geralmente

são observados nos peixes planctófagos do que nos carnívoros. Estes resultados

exprimem a importância da especiação do mercúrio nos organismos alvos, a posição

dentro da cadeia alimentar, a qualidade e composição do alimento natural

preferencial ingerido no processo de bioacumulação de MMHg das diferentes

espécies de peixes analisadas.

Page 117: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

117

6.8 A CADEIA TRÓFICA

Neste estudo consideramos o modelo clássico de cadeia trófica pelágica de

poucos níveis tróficos (fitoplâncton, zooplâncton e peixes) que canalizam a produção

primária para a biomassa pesqueira. Os organismos de dimensões menores como o

bacterioplâncton, nanoplâncton e protozoários marinhos têm importância significativa

na utilização de energia e ciclagem de matéria na base da cadeia trófica. Entretanto,

a consideração destes componentes amplifica muito a dimensão de uma cadeia

trófica onde a produção pesqueira passaria a ser um componente minoritário em

comparação ao modelo clássico (HUTCHINGS et al, 1995).

A bioacumulação do mercúrio em peixes tem sido estimada de maneira

aceitável e simplificada assumindo que as cadeias tróficas aquáticas podem ser

adequadamente representadas com quatro níveis tróficos (USEPA, 1997a). Os níveis

tróficos são definidos como:

Nivel trófico 1 (NT1) – fitoplâncton (produtores primários);

Nivel trófico 2 (NT2) – zooplâncton (consumidores primários);

Nivel trófico 3 (NT3) – peixes pequenos planctófagos (consumidores secundários);

Nivel trófico 4 (NT4) – peixes maiores piscívoros(consumidores terciários).

Estes componentes da cadeia trófica são típicos das comunidades pelágicas

encontradas em grandes lagos de água doce e oceanos e têm sido extensivamente

empregados para modelar a bioacumulação neste ambientes. Entretanto, é bem

reconhecido que a estrutura da cadeia trófica pode variar consideravelmente entre

sistemas aquáticos e pode resultar em diferenças importantes na acumulação em

uma dada espécie de peixe (USEPA,1997a). Adicionalmente, esta estrutura

simplificada não considera importantes grupamentos de peixes detritívoros e

predadores de macroinvertebrados. Obviamente, considerar todos estes

componentes dificultaria grandemente nossa tentativa inicial de compreensão dos

processos biogeoquímicos de acumulação/transferência na base da cadeia trófica

em ambientes naturais.

Page 118: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

118

Na maioria dos sistemas de ressurgência, os produtores primários

predominantes são as algas diatomáceas (microplâncton). As sardinhas e arenques

são as espécies dominantes de peixes NT3 pelágicos planctófagos (BRINK et al,

1995). Já o bonito listado é um peixe de NT4 e predador eficiente das sardinhas em

águas atlânticas e esta preferência alimentar tem sido utilizada na pesca industrial -

a técnica de pesca com isca-viva, onde as sardinhas são empregadas para atrair os

cardumes deste tunídeo ( BIZERRIL; COSTA , 2001).

O caminho percorrido pelo mercúrio e sua capacidade de retenção são

demonstradas quando comparamos sua concentração em diferentes espécies de

organismos que vivem na mesma região. As espécies que ocupam níveis tróficos

elevados como os tunídeos contêm mais Hg que os organismos de níveis tróficos

menores como os moluscos (THIBAUD, 1984)

Os resultados das concentrações médias de mercúrio total apresentaram o

seguinte gradiente: fitoplâncton < zooplâncton < sardinha < bonito < pescada onde

as menores concentrações de Hg encontram-se nos produtores primários - base da

cadeia alimentar, aumentando em direção aos níveis tróficos superiores. A figura 44

apresenta a variação das concentrações médias do mercúrio total nos diferentes

componentes da cadeia trófica

Page 119: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

119

FIGURA 44 - Variação da concentração média do mercúrio total nos diferentes

organismos componentes da cadeia trófica.

1 10 100 1000 10000

Log da concentração de mercúrio total ng/g

Fitoplâncton

Zooplâncton

Sardinha

Bonito

Pescada

Estes resultados encontram-se corroborados por um grande número de

trabalhos sendo a maioria em cadeias tróficas dulcícolas ( GORSKI et al, 2003;

MASON et al, 2000; PICKHARDT et al,2005) e em menor escala em cadeias

marinhas (BALDI,1984; CAMPBELL, 2005, THIBAUD, 1984) de maneira que as

menores concentrações de Hg são típicas nos consumidores primários e

aumentando nos níveis tróficos superiores.

Os fatores de bioconcentração (FBC) para cada espécie de Hg ao longo da cadeia

trófica foram calculados com base em Gorski et al, 2003 levando-se em conta a

fórmula abaixo:

Concentração Hg biota

Concentração Hg água

FBC =

Page 120: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

120

No cálculo do FBC foi utilizado o valor da concentração média de mercúrio

total das águas superficiais do oceano Atlântico Sul e Equatorial de 0,58 ±

0,34 ng.L-1 ( MASSON; SULLIVAN,1999), assumindo-se um percentual médio de 3%

de MMHg em relação ao Hg total ( MOREL et al,1998).

Por outro lado, os fatores de Biomagnificação (FBM) baseiam-se na dependência

alimentar presa/predador e foram calculados conforme a fórmula abaixo:

Concentração Hg predador

Concentração Hg presa

Resultado do FBM maior que a unidade significa que o processo de

biomagnificação está ocorrendo no predador para aquela dada espécie de Hg via

ingestão da presa considerada.

A tabela 16 apresenta os FBC e FBM do metilmercúrio dos organismos

pertencentes à cadeia trófica pelágica avaliada neste estudo.

TABELA 16 - Valores do FBC e FBM para o metilmercúrio nos organismos da

cadeia trófica pelágica

Fitoplâncton

NT1

Zooplâncton

NT2

Sardinha

NT3

Bonito

NT4

FBC

5,6.104

6,3.104 2,9.106 1,1.107

FBM - 1,13

44,95 3,99

O valor do FBC do metilmercúrio do fitoplâncton marinho de 104 da região de Cabo

Frio (expresso em ordens de grandeza para facilitar a comparação) encontra-se

dentro da faixa de valores do fitoplâncton de lagos de água doce publicados pela

USEPA (1997a) e inferiores aos de Gorski et al, 2003 e Pickhardt et al, 2005 (tabela

18). A variabilidade do FBC reportado no estudo da USEPA (1997a) para o

fitoplâncton de água doce pode ser atribuída às diferenças nos processos

FBM =

Page 121: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

121

geoquímicos próprios de cada ambiente que determinam o percentual de mercúrio

presente na forma orgânica.

A tabela 17 apresenta os FBC e FBM do mercúrio inorgânico dos organismos

pertencentes à cadeia trófica pelágica avaliada neste estudo.

TABELA 17 - Valores do FBC e FBM para o mercúrio inorgânico nos

organismos da cadeia trófica pelágica

Fitoplâncton

NT1

Zooplâncton

NT2

Sardinha

NT3

Bonito

NT4

FBC 1,3. 104

1, 2. 104

1,4. 105

1,8.104

FBM _ 0,96

10,52

0,13

Observando as tabelas 16 e 17, os valores do FBM foram superiores a 1,0

nos NT2, NT3 e NT4 apenas para o metilmercúrio indicando biomagnificação da

forma orgânica ao longo de toda a cadeia trófica pelágica analisada neste estudo. A

biomagnificação do MMHg na base da cadeia trófica também foi verificada nos

estudos de Back; Watras, 1995; Tremblay et al,1998; Gorski et al, 2003, Watras et

al,1998 (tabela 18) e demonstra o papel fundamental dos organismos planctônicos

como precursores do processo de biomagnificação do mercúrio orgânico nas

cadeias tróficas aquáticas. Por outro lado, o mercúrio inorgânico não apresentou

biomagnificação ao longo da cadeia trófica semelhante aos resultados obtidos por

Watras et al, 1998. Segundo o levantamento realizado por Gray, 2002 sobre a

biomagnificação de diferentes xenobióticos, o metilmercúrio demonstra claramente o

processo da biomagnificaçao. Isto ocorre devido à baixa taxa de eliminação e

elevada taxa de assimilação do mercúrio orgânico pelos organismos aquáticos

( REINFELDER et al, 1998).

Page 122: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

122

TABELA 18 – Fatores de Bioconcentração e Biomagnificação das espécies

mercuriais reportadas na literatura.

MMHg Fitoplâncton Zooplâncton Peixe Referência

FBC

104 - 105

105

106,2

103,5 – 106,7

104,9 – 105,4

105 – 106

105,9 – 106,5

104 a

106 - 107 b

BACK; WATRAS, 1995

USEPA, 1997a

MONSON; BREZONIK,1998

IKINGURA; ATAGI, 1999

GORSKI et al, 2003

PICKHARDT et al, 2005

FBM

104 104

0,3 – 10

1,6 – 4,0

2,5 - 3

3,9 – 5,2

1,13

106 - sardinha

107 - bonito

1,6 – 4,0 c

2,5 – 3,4 c

3,99 – bonito

44,95 - sardinha

PRESENTE ESTUDO

BACK; WATRAS, 1995

WATRAS et al, 1998

TREMBLAY et al,1998

GORSKI et al, 2003

PRESENTE ESTUDO

Hg2+

FBC

107,3

104

105,8 – 105,9

104

103

104 - bonito

105 - sardinha

IKINGURA; ATAGI, 1999

PICKHARDT et al, 2005

PRESENTE ESTUDO

a peixe planctófago = ; b peixes carnívoros; c vários níveis tróficos

Page 123: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

123

7 CONCLUSÕES

- A especiação do mercúrio no plâncton marinho da enseada de Arraial do

Cabo na área da ressurgência de Cabo Frio demonstrou que a forma inorgânica

Hg2+ foi predominante no fitoplâncton e zooplâncton nos períodos com ou sem

influência da ressurgência.

- No plâncton coletado com influência da ressurgência foi registrado um

aumento na concentração do Hg2+ no fito e no zooplâncton de 299,8% e 87,2%,

respectivamente.

- A especiação do mercúrio no plâncton comprovou que as águas da

ressurgência atuaram como um bioreator no processo de bioacumulação do Hg2+,

aumentando sua biodisponibilidade e incorporação pelo fitoplâncton.

- Na especiação do Hg nos peixes, a maior porcentagem de metilmercúrio em

relação ao mercúrio total foi observada no tecido muscular do bonito com uma média

de 95,2 ± 3,5%. A pescada e o xerelete também apresentaram valores médios

elevados de 92,8 ± 6,3% e 89,2 ± 13,8%, respectivamente e a sardinha a menor

percentagem de 39,5 ± 10,9%.

- A cadeia trófica pelágica de quatro níveis tróficos avaliada neste estudo

refletiu adequadamente a bioacumulação do Hg. As concentrações médias de

mercúrio total foram menores nos produtores primários - base da cadeia alimentar,

aumentando em direção aos níveis tróficos superiores. O metilmercúrio foi a única

espécie biomagnificada ao longo de toda a cadeia trófica pelágica.

Page 124: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

124

- O valor elevado do fator de biomagnificação do metilmercúrio de 44,9

calculado para a sardinha, aliado à importância comercial na pesca regional, merece

estudos complementares.

As técnicas e métodos analíticos empregados na especiação do mercúrio e

sua quantificação, a cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de emissão

atômica por plasma induzido (GC-MIP-AES) para os peixes e a cromatografia

gasosa acoplada à espectrometria de massa por plasma induzido (GC-ICPMS) para

o plâncton se mostraram eficientes quanto aos baixos limites de detecção.

A excelente precisão das medidas das concentrações permitiu uma análise precisa e

real da especiação do mercúrio em todos os materiais biológicos.

A necessidade da determinação das espécies químicas individualmente em

uma determinada matriz ocorre especialmente quando estas espécies, como no

caso específico do mercúrio, demonstram diferentes impactos e comportamentos

como sua toxidade, mobilidade e biodisponibilidade.

Page 125: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

125

8 REFERÊNCIAS ABREU, S.N. et al. Accumulation of mercury in Sea Bass from a contaminated lagoon (Ria de Aveiro, Portugal). Marine Pollution Bulletin, n.40, p.393-397, 2000. ADAMS, D. H. Total mercury levels in tunas from offshore waters of the Florida Atlantic coast. Marine Pollution Bulletin, v.49, n.7-8, p.659-663, 2004. AKAGI H. et al. Methylmercury pollution in the Amazon, Brazil. The Science of the Total Environment, n.175, p.85-95, 1995. ALLARD, B.; ARSENIE, I. Abiotic reduction of mercury by humic substances in aquatic system - an important process for the mercury cycle. Water Air Soil Pollution, n.56, p.457-464, 1991. ALONSO, D. et al. Mercury levels in muscle of two fish species and sediments from the Cartagena Bay and the Ciénaga Grande de Santa Marta, Colômbia. Environmental Pollution, n.109, p.157-163, 2000. AL-MAJED, N. B.; PRESTON, M. An assessment of the total and methylmercury content of zooplankton and fish tissue collected from Kuwait territorial waters. Marine Pollution Bulletin, v.40, n.4, p.298-307, 2000. AMOUROUX, D. et al. Sampling and probing volatile metal(loid) species in natural waters by in-situ purge and cryogenic trapping followed by gas chromatography and inductively coupled plasma mass spectrometry (P-CT-GC-ICP/MS). Analytical Chemical Acta , n.377, p.241-254, 1998. AMOUROUX, D. et al. Elemental mercury in the atmosphere of a tropical amazonian forest (French Guiana). Environmental Science Technolology. n.33, p.3044-3048, 1999. AMYOT, M. et al. Sunlight-induced formation of dissolved gaseous mercury in lake waters. Environmental Science Technology, n.28, p.2366 -2371, 1994. AMYOT, M. et al. Production and loss of dissolved gaseous mercury in coastal seawater. Environmental Science Technology, n.31, p.3606-3611, 1997.

Page 126: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

126

AMYOT, M. et al. Distribution and transformation of elemental mercury in the St. Lawrence River and Lake Ontario. Canadian Journal of. Aquatic Science, n.57, p.155-163, 2000. AMYOT, M. et al. Formation and evasion of dissolved gaseous mercury in large enclosures amended with 200HgCl2. Atmospheric Environmental, n.38, p.4279-4289, 2004. ANDERSSON, I.; PARKMAN, H.; JERNELOV, A. The role of sediments as sink or source for environmentalcontaminants: a case study of mercury and chlorinatedorganic compounds. Limnologica, n.20, p.475-489, 1990 ANSON MOYE, H. et al. Kinetics and uptake mechanisms for monomethylmercury between freshwater algae and water Environmental Science Technolology., n.36, p.3550-3555, 2002. ASCHNER, M. Neurotoxic mechanisms of fish-borne methylmercury. Environmental Toxicology and Pharmacology , n.12, p.101-104, 2002. AZEVEDO, F.A. Toxicologia . In: ________ Toxicologia do mercúrio. São Paulo: Rima Editora, 2003, cap.5, p.110-113. BACK, C.; WATRAS, J. 1995. Mercury in zooplankton of northern Wisconsin lakes: Taxonomic and site-specific trends. Water Air and Soil Pollution, n.80, p.931-938, 1995. BACK, C. et al. Mercury content and speciation in the plankton and benthos of Lake Superior. The Science of the Total Environment, n. 304, p.349–354, 2003. BAKIR, F. et al. Methylmercury poisoning in Iraq. An interuniversity report. Science, v.181, p.230-241, 1973. BALDI, F. The biogeochemical cycle of mercury in the Tyrrhenian sea. FAO Fisheries Report, n.325 supplement, p.29-43, 1984. BALDI, F.; RENZONI, A. Mercurio totale in pesci marini pelagici. In: Congresso della Associazione Italiana di Oceanologia e Limnologia, 3, 1978, Pallanza. Anais…Palanza: BERNARDI, R. (Ed), 1978, p.351-354. BALDI, F.; PARATI, F.; FILIPPELLI, M. Dimethylmercury and dimethylmercury-sulfide of microbial origin in the biogeochemical cycle of Hg. Water Air Soil Pollution, n. 80, p.805-815, 1995 BALLANTINE, JR. D. S.; ZOLLER, W. H. Collection and determination of volatile organic mercury compounds in the atmosphere by gas chromatography with microwave plasma detection. Analyst. Chemical, n. 56, p.1288-1293, 1984.

Page 127: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

127

BARKAY, T. et al. The relationships of Hg(II) volatilization from a freshwater pond to the abundance of mer genes in the gene pool of the indigenous microbial community. Microbiology Ecology, n.21, p.151-161, 1991. BARKAY, T.; MILLER, S. M.; SUMMERS, A. O. Bacterial mercury resistance from atoms to ecosystems. FEMS Microbiology Reviews, n.27, p.355-384, 2003. BAUMGARTEN, M. G. Z.; POZZA, S. A. Qualidade de águas: descrição de parâmetros químicos referidos na legislação ambiental. Rio Grande: Ed. FURG, p.11-63, 2001. BENOIT et al. Sulfide controls on mercury speciation and bioavailability to methylating bacteria in sediment pore waters. Environmental Science Technolology, n. 33, p.951- 958, 1999. BERNHARD, M. Mercury accumulation in a pelagic food chain. In: MATERTELL, A.E.; IRGOLIC, K.J. (Eds). Environmental inorganic chemistry. Florida: VCH Publishers, 1985, p.349-358. BERNHARD, M.; BRINCKMAN, F. E.; IRGOLIC, K. J. Why `` speciation ´´ ? In: BERNHARD, M.; BRINCKMAN, F.E., SADLER, P.J. (Eds). The importance of chemical `` speciation´´ in environmental processes. Berlim: Spring-Verlag, 1986. p.7-14. BISINOTI, M.C. Biogeoquímica aquática do mecúrio orgânico na bacia do Rio Negro – Amazônia, Campinas, 2005. 184f. Tese ( Doutorado em Química Analítica) – Departamento de Química Analítica, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2005. BISINOTI, M. C.; JARDIM, W. F. O comportamento do metilmercúrio (MetilHg) no ambiente. Química Nova, v.27, n.4, p.593-600, 2004. BIZERRIL, C. R. S. F.; COSTA, P .A .S. Distribuição da ictiofauna nos ambientes marinhos da costa fluminense. In: ______: Peixes marinhos do estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Fundação de Estudos do Mar, 2001. 233 p. cap 3, p.55-109. BIZERRIL, C. R. S. F.; LIMA, N .R .W. Análise ictioconservacionista. In: BIZERRIL, C.R.S.F.; COSTA, P.A.S. (Eds). Peixes marinhos do estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Fundação de Estudos do Mar, 2001. 233p. cap.5, p.141-161. BLOOM, N. S. Determination of picogram levels of methylmercury by aqueous phase ethylation, followed by cryogenic gas chromatography with cold vapour atomic fluorescence detection. Canadian Journal of Fisheries Aquatics Sciences. n. 46, p. 1131-1140, 1989. BLOOM, N.S. On the chemical form of mercury in edible fish and marine invertebrate tissue Canadian Journal of Fisheries Aquatics Sciences, n.49, p.1010-1017, 1992.

Page 128: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

128

BOENING, D.W. Ecological effects, transport, and fate of mercury: a general review. Chemosfhere, n. 40, p.1335-135, 2000. BOUDOU, A.,; RIBEYRE, F. Mercury in the food webs: accumulation and transfer mechanisms. Metals Ions Biology System, n.34, p.289-319, 1997. BRAGA, A. C. O ambiente e a biodiversidade. In: BIZERRIL, C.R.S.F.; COSTA, P.A.S. (Eds). Peixes marinhos do estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Fundação de Estudos do Mar, 2001.233 p. cap.1, p.9-32. BRYAN, G.W. Bioaccumulation of marine pollutants. Philos Trans R. Soc. London, n.286, serie B, p.483-505, 1979. BRINK et al. How do coastal upwelling systems operate as integrated physical, chemical and biological systems and influence the geological record ? In: SUMMERHAYES, C.P. et al (Eds). Upwelling in the ocean: modern processes and ancient records. Chichester: John Wiley & Sons, 1995, p.103-124. CABAÑERO, A. I.; MADRID, Y.; AMARA, C. C. Selenium and mercury accessibility in fish samples: an in vitro digestion method. Analytica Chimica Acta, n.526, p.51–61, 2004. CAI, Y.; JAFFE, R.; JONES, R. Ethylmercury in the soils and sediments of the Florida Everglades. Environmental Science Technolology, v.1, n.31, p.302-305, 1997. CAMBPELL, L. M. et al. Mercury and other trace elements in a pelagic Artic marine food web ( Northwater Polynya, Baffin Bay ). Science of the Total Environment, v.351-352, p.247-263, 2005. CARBONEL, C. A. A. H. Modelling of upwelling–downwelling cycles caused by variable wind in a very sensitive coastal system. Continental Shelf Research, n.23, p.1559–1578, 2003. CASTILHOS Z. C.; BIDONE E .D. Bioaccumulaqtion of mercury by tucunaré (Cichla ocellaris) from Tapajós river region, Brazilian Amazon: A field dose-response approach. Environmental Contamination and Toxicology, v.66, n.5, p.631-637, 2001 CHASE et al. Manganese and iron distributions off central California influenced by upwelling and shelf width. Marine Chemistry, n.95, p.235-254, 2005. CHOI, S. C.; CHASE, T.; BARTHA, R. Enzymatic catalysis of mercury methylation by Desulfovibrio desulfuricans LS. Applied Environmental Microbiology, n.60, p.1342-1346, 1994a. CHOI, S. C.; CHASE, T.; BARTHA, R. Metabolic pathways leading to mercury methylation in Desulfovibrio desulfuricans LS. Applied Environmental Microbiology, n.60, p.4072-4077, 1994b. COSSA, D.; MARTIN, J. M.; SANJUAN, J. Dimethylmercury formation in the Alboran Sea. Marine Pollution Bulletin, n.28, p.381-384, 1994.

Page 129: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

129

COSTA, M.; LISS, P. S. Photoreduction of mercury in sea water and its possible implications for Hg° air–sea fluxes. Marine Chemestry., n.68, p.87-95, 1999. CRAIG, P. J. Occurrence and pathways of organometallic compounds in the environment – general considerations. In: ________. Organometallic compounds in the environment. Principles and Reactions. London: Longman, 1986, p.1-64. CRUMP K. et al. Benchmark concentrations for methylmercury obtained from the Seychelles child development study. Environmental Health Perspectives, n.108, p.257-263, 2000. DAVIDSON P. et al. Longitudinal neurodevelopmental study of Seychellois children following in utero exposure to methylmercury from maternal fish ingestion: Outcomes at 19 and 29 months. Neurotoxicology, n.16, p.677-688, 1995. DAVIS, W. C. et al. An accurate and sensitive method for the determination of methylmercury in biological specimens using GC-ICP-MS with solid phase microextraction. Journal of Analytical Atomic Spectrometry, n.19, p.1546-1551, 2004. DE PINHO, A. P. et al. Total mercury in muscle tissue of five shark species from brasilian offshore waters: effects of feeding habitat, sex, and length. Environmental Research Section A, n.89, p.250-258, 2002 EMTEBORG, H.; HADGU, N.; BAXTER, D.C. Quality control of a recently developed analytical method for the simultaneous determination of methylmercury and inorganic mercury in environmental and biological samples. Journal of Analytical Atomic Spectrometry, n.9, p.297-302, 1994. FERRARA R.; MASERTI B.E. Mercury concentration in the water, particulate matter, plankton and sediment of the Adriatic Sea. Marine Chemistry, n.38, p.237-249, 1992. FIGUEIREDO, J. L.; MENEZES, N. A. Manual de peixes marinhos do sudeste do Brasil. São Paulo: Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, 1978. 110 p. Teleostei (1) 4. FISHER, N. S.; REINFELDER, J. R. The trophic transfer of metals in marine systems. In: TESSIER, A., TURNER, D.R. (Eds) Metal speciation and Bioavailability in Aquatic Systems. Chichester: John Wiley, 1995, p.363-406. FITZGERALD, W.F.; MASON, R.P.; VANDAL, G.M. Atmospheric cycling and air-water exchange of mercury over mid-continental lacustrine regions. Water Air Soil Pollutiont, n.56, p.745-767, 1991. FITZGERALD W. F.; GILL, G.A.; HEWITT, A.D. Air-sea exchange of mercury. In: WONG, C.S.; BOYLE, E.; BRULAND, K.W,; BURTON, J.D.; GOLBERG,E.D. (Eds). Trace metals in sea water. Sicily: Nato Conference Series, 1983, series IV: Marine Sciences, v.9, p. 297-315.

Page 130: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

130

FITZGERALD W.F. et al. The Case for Atmospheric Mercury Contamination in Remote Areas. Environmental Science Technology, v.1, n.32, p.1-6, 1998. FLEMING, L. E. et al (1995) Mercury Exposure in Humans Through Food Consumption from the Everglades of Florida. Water Air Soil Pollution, v. 1/4, n. 80, p.41-48, 1995. FONTELES-FILHO, A. A. Recursos pesqueiros: biologia e dinâmica populacional. Fortaleza: Imprensa Oficial do Ceará, 1989. 296p. FRIBERG, L.; VOSTAL, J. Mercury in the Environment. Cleveland: CRC Press, 1972. FRIEDMANN, A. S. et al. Low levels of dietary methylmercury inhibit growth and gonadal development in juvenile walleye (Stizostedion vitreum). Aquatic Toxicology, n.35, p.265-278, 1996. GARDFELDT, K. et al. A kinetic study on the abiotic methylation of divalent mercury in the aqueous phase. Science of Total Environmental, n.304, p.127-136, 2003. GILMOUR, C.C.; HENRY, E.A. Mercury methylation in aquatic systems affected by acid deposition. Environmental Pollution, n.71, p.131-169, 1991. GILMOUR, C. C.; HENRY, E. A.; MITCHELL, R. Sulfate stimulation of mercury methylation in freshwater sediments. Environmental Science Technology, n.26, p.2281-2287, 1992. GILMOUR, C. C. et al. Methylmercury concentrations and production rates across a trophic gradient in the northern Everglades. Biogeochemestry, n.40, p.327-345, 1998. GOLBERG, E. D., MARTIN, J. H. Metals in seawater as recorded by mussels. In: WONG, C.S.; BOYLE, E.; BRULAND, K.W,; BURTON, J.D.; GOLBERG,E.D. (Eds). Trace metals in sea water. Sicily: Nato Conference Series, 1983, series IV: Marine Sciences, v.9, p.475-485. GÓMEZ-ARIZA, J. L. Sample treatment and storage in speciation analysis. In: LES EBDON; LES PITTS; et al. (Eds). Trace element speciation for environment, food and health. Cornwall: MPG Books, 2001, cap.3, p.51-80. GORKI, P. R. et al. Factors affecting enhanced mercury bioaccumulation in inland lakes of Isle Royale National Park, USA. The Science of the Total Environment, n.304, p.327-348, 2003. GRAY, J. S. Biomagnification in marine systems: the perspective of an ecologist. Marine Pollution Bulletin, n.45, p.46-52, 2002. GREIB, T.M. et al, Factors affecting mercury accumulation in fish in the upper Michigan peninsula. Environmental Toxicology and Chemistry, n.9, p.919-930, 1990.

Page 131: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

131

GUNTHER, A. .J. et al. Long-term bioaccumulation monitoring with transplanted bivalves in the San Francisco estuary. Marine Pollution Bulletin, v.3, n.38, p.170-181, 1999. HARADA, M. Minamata disease: methylmercury poisoning in Japan caused by environmental pollution. Critical Review Toxicology, v.25, p.1-24, 1995. HINES, M. E. et al. Mercury biogeochemistry in the Idrija River, Slovenia, from above the mine into the gulf of Trieste. Environmental Research, n.83, p.129-139, 2000. HINTELMANN, H.; KEPPEL-JONES, K.; EVANS, R. D. Constants of mercury methylation and demethylation rates in sediments and comparison of tracer and ambient mercury availability. Environmental Toxicology Chemistry, n.19, p.2204- 2211, 2000. HUTCHINGS, L. et al. The chemical and biological consequences of coastal upwelling. In: SUMMERHAYES, C.P. et al (Eds). Upwelling in the ocean: modern processes and ancient records. Chichester: John Wiley & Sons, 1995, p.65-81. IKINGURA, J.R.; AKAGI, H. Methylmercury production and distribution in aquatic systems. The Science of the Total Environment, n.234, p.109-118, 1999. INZA, B.; RIBEYRE, F.; BOUDOU, A. Dynamics of cadmium and mercury compounds (inorganic mercury or methylmercury): uptake and depuration in Corbicula fluminea. Effects of temperature and pH. Aquatic Toxicology, n.43, p. 273–285, 1998 JACKSON, T. A. Biological and environmental control of mercury accumulation by fish in lakes and reservoirs of Northern Manitoba, Canada. Canadian Journal of Fisheries and Aquatic Sciences, n. 48, p. 2449–2470, 1990. JENSEN, S.; JERNELOV, A. Biological methylation of mercury in aquatic organisms. Nature, n.223, p.753-754, 1969. JEWETT, S. C. Comparison of mercury and methylmercury in northern pike and Arctic grayling from western Alaska rivers. Chemosphere, n.50, p.383–392, 2003. JOIRIS, C. R.; HOLSBEEK, L.; MOATEMRI, N. L. Total and methylmercury in sardines Sardinella aurita and Sardina pilchardus from Tunísia. Marine Pollution Bulletin, v.38, n.3, p.188-192, 1999. JOIRIS, C. R.; HOLSBEEK, L.; OTCHERE, F. A. Mercury in the bivalves Crassostrea tulipa and Perna perna from Ghana. Marine Pollution Bulletin, v.40, n.5, p. 457-460, 2000 KEHRIG, H. A. et al. Total and methylmercury in a Brasilian estuary, Rio de Janeiro. Marine Pollution Bulletin, n.44, p.1018-1023, 2002.

Page 132: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

132

KING, J. K.; et al. A quantitative relationship that demonstrates mercury methylation rates in marine sediments are based on the community composition and activity of sulfate-reducing bacteria. Environmental Science Technolology., n.35, p.2491-2496, 2001. KING, J. K. et al. Sulfate-reducing bacteria methylate mercury at variable rates in pure culture and in marine sediments. Applied Environmental Microbiology, n.66, p.2430-2437, 2000. KING, J. K. et al. Coupling mercury methylation rates to sulfate reduction rates in marine sediments. Environmental Toxycology Chemistry, n.18, p.1362-1369, 1999. LACERDA, L.D. Evolution of mercury contamination in Brazil. Water Air Soil Pollution, v.97: p. 247-255, 1997. LACERDA, L.D. et al. Mercury concentrations in fish from the Itacaiunas-Parauapebas river system, Carajas region, Amazon. Anais da Academia Brasileira de Ciências, v.66, n.33, p.373-379, 1994. LACERDA, L.D. et al Mercury content in shark species from the south-eastern brazilian coast. Revista Brasileira de Biologia, v.4, n. 60, p.571-576, 2000. LALONDE, J. D. et al. Photooxidation of Hg(0) in artificial and natural waters. Environmental Science Technology, n.35, 1367-1372, 2001. LAMBORG, C. H. et al. A non-steady-state compartmental model of global-scale mercury biogeochemistry with interhemispheric atmospheric gradients. Geochimica et Cosmochimica Acta, v.7, n.66, p.1105-1118, 2002. LANDALUZE, J. S. et al. Methylmercury determination in sediments and fish tissues from the Nerbioi-Ibaizabal estuary (Basque Country, Spain). Analytica Chimica Acta, n.508, p.107–117, 2004. LAWS, E.A. Aquatic pollution: an introductory text. New York: Wiley-Interscience, p.351-415, 1996 LAWSON, N. M.; MASON, R. P. Accumulation of Mercury in Estuarine food-chains. Biochemestry., n.40, p.235-24, 1998. LEERMAKERS, M. et al. Mercury in the southern North Sea and Scheldt estuary. Marine Chemistry, n. 75, p.229-248, 2001. LEWIS, M. A. et al. Fish tissue quality in near-coastal areas of the Gulf of Mexico receiving point source discharges. The Science of the Total Environment, n.284, p.249-261, 2002. LIANG, L. et al. Simple solvent extraction technique for elimination of matrix interferences in the determination of methylmercury in environmental and biological samples by ethylation - gas chromatography - cold vapor atomic fluorescence spectrometry. Talanta , n.43, p.1883-1888, 1996.

Page 133: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

133

LINDQVIST, O. Mercury in the Swedish environment: recent research on causes, consequences and corrective methods. Water Air Soil Pollution, n.55, p.1-2, 1991. MAGOS, L. Selective atomic-absorption determination of inorganic mercury and methylmercury in undigested biological samples. Analyst, n.96, p.847-853, 1971. MAGOS, L.; CLARKSON, T. W. Atomic absorption determination of total inorganic and organic mercury in blood. J. Assoc. Offic. Anal. Chem., v.55, p.966-971, 1972. MARSH D. et al. The Seychelles study of fetal methylmercury exposure and child development: Introduction. Neurotoxicology, n.16, p.583-596, 1995. MASON, R. P.; FITZGERALD, W. F. Alkylmercury species in the equatorial Pacific. Nature, n.347, p.457-459,1990 MASON, R. P.; FITZGERALD, W. F. The distribution and biogeochemical cycling of mercury in the equatorial Pacific Ocean. Deep Sea Research I, n.40, p.1897-1924, 1993. MASON, R. P.; SULLIVAN, K. A. The distribution and speciation of mercury in the south and equatorial Atlantic.Deep-Sea Research. II, n.46, p.937-956, 1999. MASSON, S.; TREMBLAY, A. Effects of intensive fishing on the structure of zooplankton communities and mercury levels. The Science of the Total Environment, n.304, p.377-390, 2003. MASON, R. P. et al. Mercury biogeochemical cycling in a stratified estuary. Limnology and Oceanography, n.38, p.1227-1241, 1993. MASON R. P.; DONNELL, J. O.; FITZGERALD, W. F. Elemental mercury cycling within the mixed layer of the equatorial Pacific Ocean. In: WATRAS, C. J.; HUCKABEE, J. W. (Eds). Mercury Pollution: Integration and Synthesis: Lewis Publishers, 1994, p.83-97. MASON, R. P.; ROLFHUS, K. R.; FITZGERALD, W. F. Methylated and elemental mercury cycling in surface and deep ocean waters of the North Atlantic. Water Air Soil Pollution, n.80, p.665-677, 1995a. MASON, R. P.; MOREL, F.M.M.; HEMOND, H. F. The role of microorganisms in elemental mercury formation in natural waters. Water Air Soil Pollution, n.80, p.775-787, 1995b. MASON, R. P.; REINFELDER, J. R.; MOREL, F.M.M. Uptake, toxicity and trophic transfert of mercury in coastal diatom. Environment. Science. Technology, n.30, p.1835-1845, 1996a. MASON, R. P.; REINFELDER, J. R., MOREL, F. M. M. Bioconcentracion of mercury and methylmercury. Water Air Soil Pollution, n. 80, p.915-921, 1996b.

Page 134: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

134

MASON, R. P.; ROLFHUS, K. P.; FITZGERALD, W. F. Mercury in the North Atlantic. Marine Chemistry, n.61, p.37-53, 1998. MASON, R. P.; LAPORTE, J. M.; ANDRES, S. Factors controlling the bioaccumulation of mercury, methylmercury, arsenic, selenium, and cadmium by freshwater invertebrates and fish. Archives of Environmental Contamination and Toxicology, n.38, p.283–297, 2000. MARVIN-DIPASQUALE, M. et al. Methylmercury degradation pathways: a comparison among three mercury-impacted ecosystems. Environmental Science Technolology, n.34, p.4908-4916, 2000. MATILAINEN, T., Involvement of bacteria in methylmercury formation in anaerobic lake waters. Water Air Soil Pollution, n.80, p.757-764, 1995. MATTHIESSEN, A. Kinetic aspects of the reduction of mercury ions by humic substances: 1. Experimental design. Fresenius’ Journal of Analytical. Chemistry, n,354, p.747-749, 1999. MAURICE-BOURGOIN, L. et al. Mercury distribuition in waters and fishes of the upper Madeira exposure in riparian Amazonian populations. Archive of Environment Contaminants Toxicology, v.38, p.283-297, 2000. MAURO, J. B. N. et al. Mercury methylation in macrophytes, periphyton, and water: comparative studies with stable and radiomercury additions. Analytical and Bioanalytical Chemistry, n.374, p.983-989, 2002. MEHLHORN, R. J. The interaction of inorganic species with biomembranes. In: BERNHARD, M.; BRINCKMAN, F.E., SADLER, P.J. (Eds). The importance of chemical `` speciation´´ in environmental processes. Berlim: Spring-Verlag, 1986. p.85-97. MEILI, M. Mercury in lakes and rivers. Metal Ions Biology Systems, n.34, p.21-51, 1997. MENDEZ, E. et al Total mercury content : fish weight relationship in swordfish (Xiphias gladius) caught in the southwest Atlantic Ocean. Journal of Food Composition and Analysis. n.14, p.453-460, 2001. MENEZES, N. A.; FIGUEIREDO, J. L. Manual de peixes marinhos do sudeste do Brasil. São Paulo: Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, 1980. 96p. Teleostei (3) 4. MIERLE, G. Aqueous inputs of mercury to Precambrian shield lakes in Ontario. Environmental Toxicology Chemistry, n.9, p.843-85, 1990. MILES, C.J. et al . Partitioning of monomethylmercury between freshwater algae and water. Environmental Science Technolology, n.35, p.4277-4282, 2001.

Page 135: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

135

MIRANDA, L.B. Forma de correlação T-S de massa de água das regiões costeira e oceânica entre o Cabo de São Tomé (RJ) e a ilha de São Sebastião (SP), Brasil. Boletim do Instituto Oceanográfico, v.2, n.33, p.105-119, 1985. MONPERRUS, M. et al. Determination of metal and organometal trophic bioaccumulation in the benthic macrofauna of the Adour estuary coastal zone ( SW France, Bay of Biscay). Journal of Environmental Monitoring, n.7, p.693-700, 2005. MONSON, B. A.; BREZONIK, P. L. Seasonal patterns of mercury species in water and plankton from softwater lakes in northeastern Minnesota. Biogeochemistry, n.40, p.147–162, 1998. MONTEIRO L. R. et al Contemporary patterns of mercury contamination in the portuguese atlantic inferred from mercury concentrations in seabird tissues. Marine Environmental Research, n.47, p.137-156, 1999. MOREIRA DA SILVA, P. C. Problemas da circulação oceânica nas águas brasileiras. Anais da Academia Brasileira de Ciências, n.37, p.157-158, 1975. MOREL, F. M. M.; KRAEPIEL, A. M. L.; AMYOT, M. The chemical cycle and bioaccumulation of mercury. Annual Review in Ecology Systens, n. 29, p.543-566, 1998. MURATA K. et al. Delayed evoked potential in children exposed to methylmercury from seafood. Neurotoxicology and Teratology, v.4, n.21, p.343-348, 1999. MZOUGHI, M. et al. Inorganic mercury and methylmercury in surface sediments and mussel tissues from a microtidal lagoon (Bizerte, Tunisia). Journal of Coastal Conservation, n.8, p.141-145, 2002. NIGRO, M. et al. Mercury exposure and elimination rates in captive bottlenose dolphins. Marine Pollution Bulletin, n.44, p.1071-1075, 2002. NRIAGU, J. O. Mechanistic steps in the photoreduction of mercury in naturals waters. Science of Total Environmental, n.154, p.1-8, 1994. ODDVAR, L.; THORSNES, T. Skagerrak in the past and at the present - An integrated study of geology, chemistry, hydrography and microfossil ecology. Geological Survey of Norway, n.8, 1997, Special publication. O’DRISCOLL, N. J. et al. Effects of dissolved organic carbon on the photoproduction of dissolved gaseous mercury in lakes: potential impacts of forestry. Environmental Science Technolology, n.38, p.2664-2672, 2004. OREMLAND, R. S. Methylmercury oxidative degradation potentials in contaminated and pristine sediments of the Carson River, Nevada. Applied Environment Microbiology, n.61, p.2745-2753, 1995.

Page 136: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

136

OREMLAND, R. S.; CULBERTSON, C. W.; WINFREY, M. R. Methylmercury decompositions in sediments and bacterial cultures: involvement of methanogens and sulfate reducers in oxidative demethylation. Applied Environmental. Microbiology, n.57, p.130-137, 1991. PACYNA, G.E.; PACYNA, J.M. Global emission of mercury from anthropogenic sources in 1995. Water. Air Soil Pollution., n.137, p.149-165, 2002 PAK, K. R.; BARTHA, R. Mercury methylation and demethylation in anoxic lake sediments and by strictly anerobic bacteria. Applied Environmental Microbiology., n.64, p.1013-1017, 1998. PÉCHEYRAN, C. Spéciation des formes chimiques de métaux et metalloïdes dans l'air: enjeux et perspectives. Analusis Magasin, v.2, n.25, p.41-44, 1997. PICKHARDT, P. C. Impacts of zooplankton composition and algal enrichment on the accumulation of mercury in a experimental freshwater food web. Science of the Total Environment, n.339, p.89-101, 2005. PIRRONE, N.; KEELER, G.J.; NRIAGU, J. O. Regional differences in worldwide emissions of mercury to the atmosphere. Atmospheric. Environmental, n.30, p.2981-2987, 1996. PONGRATZ, R.; HEUMANN, K. G. Production of methylated mercury and lead by polar macroalgae – a significant natural source for atmospheric heavy metals in clean room compartments. Chemosphere, n.36, p.1935-1946, 1998. POULAIN, A. J. et al. Biological and photochemical production of dissolved gaseous mercury in lakes. Limnology and Oceanography, n.49, p.2265-2275, 2004 PUK, R.; WEBER, J. H. Critical review of analytical methods for determination of inorganic mercury and methylmercury compounds. Applied Organometalic Chemistry, n.8, p.193-302, 1994 QUEVAUVILLER, P. Accuracy and traceability in speciation analysis. In: LES EBDON; LES PITTS; et al. (Eds). Trace element speciation for environment, food and health. Cornwall: MPG Books, 2001, cap.1, p.3-16. RAPSOMANIKIS, S. Derivatization by ethylation with sodium tetraethylborate for the speciation of metals and organometallics in environmental samples. Analyst, n.119, p.1429-1439, 1994. REIMANN, C.; DE CARITAT, P. Chemical Elements in the Environment: Fact sheets for the Geochemist and Environmental Scientist. Berlin: Springer-Verlag, 1998. REINFELDER, J. R.; FISHER, N. S. The assimilation of elements by marine copepod. Science, n.251, p.794-796, 1991.

Page 137: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

137

REINFELDER, J. R. et al. Trace element trophic transfer in aquatic organisms: a critique of the kinetic model approach. The Science of the Total Environment, n.219, p.117-135, 1998. RIBEIRO, C.A. O. et al. Comparative uptake, bioaccumulation, and gill damages of inorganic mercury in tropical and nordic freshwater fish. Environmental Research -Section A , n.83, p.286 –292, 2000. RÍO-SEGADE S. B., C. Ultrasound-assisted extraction for mercury speciation by the flow injection-cold vapour technique. Journal of Analytic atomic Spectrometry, n.14, p.263-268, 1999. RODRÍGUEZ-MARTÍN-DOIMEADIOS R.C., et al. Chemical availability of mercury in stream sediments from the Almadén area, Spain. Journal of Environment Monitoring, v.4, n.2, p.360-366, 2000. ROLFHUS, K.R.; FITZGERALD, W.F. Linkages between atmospheric mercury deposition and the methylmercury content of marine fish. Water, Air and Soil Pollution. n.80, p.291-297, 1995. ROSS, M.A. Methylmercury. Health Eff. Rev. v.4, n.1, p.1-2, 1996. ROSENBERG, E.; ARIESE, F. Quality control in speciation analysis. In: LES EBDON; LES PITTS; et al. (Eds). Trace element speciation for environment, food and health. Cornwall: MPG Books, 2001, cap.2, p.17-49. SANTOS, I. R. et al. Baseline mercury and zinc concentrations in terrestrial and coastal organisms of Admiralty Bay, Antarctica. Environmental Pollution, n.140, p.304-311, 2006. SARZANINI, C.; MENTASTI, E. Determination and speciation of metals by liquid chromatography - Review. Journal of Chromatography Analyst, v.1-2, n.789, p. 301-321, 1997 . SAVINOV, V.M.; GABRIELSEN, G.W.; SAVINOVA, T.N. Cadmium, zinc, copper, arsenic, selenium and mercury in seabirds from the Barents Sea: levels, inter-specific and geographical differences. The Science of the Total Environment, n.306, p.133-158, 2003. SCHAANNING M.T. et al. Interactions between eutrophication and contaminants: mobilization and bioaccumulation of Hg and Cd from marine sediments. Marine Pollution Bulletin, v.1-6, n.33, p.71-79, 1996. SCOTT, D. P.; ARMSTRONG, F.A. Mercury concentration in relation to size in several species of freshwater fishes from Manitoba and north-western Ontario. Journal of Fisheries Research Board of Canada, n. 39, p. 1685–1690, 1972. SCHMITT, V.O. et al. Open focused microwave-assisted sample preparation procedures: fundamentals and application to the speciation of tin and mercury in environmental samples. Spectroscopy, n.13, p.99-111, 1996.

Page 138: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

138

SCHROEDER, W.H.; MUNTHE, J. Atmospheric mercury - an overview. Atmosphery Environmental, n. 32, p.809-822, 1998. SELLANES, A. G. et al. Mercúrio em peixes marinhos. Acta Scientiae Veterinariae, v.2, n.30, p.107-112, 2002. SELLERS, P. et al. Photodegradation of methylmercury in lakes. Nature, n.380, p.694-697, 1996 SICILIANO, S. D.; O’DRISCOLL, N. J.; LEAN, D. R. S. Microbial reduction and oxidation of mercury in freshwater lakes. Environmental Science Technology., n.36, p. 3064-3068, 2002. SYDEMAN, W. J.; JARMAN, W. M. Trace metals in seabirds, steller sea lion, forage fish and zooplankton from Central California. Marine Pollution Bulletin, v.10, n.36, p.828-832, 1998. SIGNORINI, S. R. On the circulation and volume transport of Brazil Current between the Cape of São Tomé and Guanabara Bay. Deep-Sea Research, n.47, p.481-490, 1978. SILVA, N. M. L.; VALENTIN, J. L.; BASTOS, C. T. B. O microfitoplâncton das águas costeiras do litoral fluminense (Estado do Rio de Janeiro): lista de espécies e aspectos ecológicos. Boletim do Instituto Oceanográfico, v.1/2, n.36, p.1-16, 1988. SILVEIRA, I. C. A. et al. A Corrente do Brasil ao largo da costa leste brasileira. Revista Brasileira de Oceanografia, n.48, p.171-183, 2000. STEIN, E. D.; COHEN, Y.; WINER, A. M. Environmental distribution and transformations of mercury compounds. Critical Reviews in Environmental Science and Technology, n.26, p.1-43, 1996. STOCKWELL, P.; CORNS, W. T. The role of atomic fluorecence in the 1990s. Spectrometry World, v.1, n.4, p.14-18, 1992. STOICHEV, M. et al. Inorganic mercury and methylmercury in surface sediments and mussel tissues from a microtidal lagoon ( Bizerte, Tunisia). Journal of Coastal Conservation, n.8, p.141-145, 2002. STORELLI, M. M.; GIACOMINELLI-STUFFER, R.; MARCOTRIGIANO, G.O. Total and methylmercury residues in cartilaginous fish from Mediterranean Sea. Marine Pollution Bulletin, n.44, p.1354–1358, 2002. STORELLI, M. M. et al. Accumulation of mercury, cadmium, lead and arsenic in swordfish and bluefin tuna from the Mediterranean Sea: a comparative study. Marine Pollution Bulletin, n.50, p.993–1018, 2005a.

Page 139: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

139

STORELLI, M. M. et al. Mercury speciation in the muscle of two commercially important fish, hake (Merluccius merluccius) and striped mullet (Mullus barbatus) from the Mediterranean sea: estimated weekly intake. Food Chemistry, n.89, p.295–300, 2005b. STRICHLAND, J. D. H.; PARSONS, T. R. A pratical handbook of seawater analysis. Ottawa: Fisheries Research Board of Canada, 1972, 310p. SUDA, I.; SUDA, M.; HIRAYAMA, K. Degradation of methyl and ethylmercury by singlet oxygen generated from sea water exposed to sunlight or ultraviolet Light. Arch. Toxicol., n.67, p.365-368, 1993. SUNDA, W. G. Trace Metal Interaction with marine phytoplankton. Biology Oceanography., n.6, p.411-442, 1989. SUNDA, W. G.; HUNTSMAN, S. A. Processes regulating cellular metal accumulation and physiological effects: phytoplankton as model systems. The Science of Total Environment, n.219, p.165-181, 1998. THIBAUD, Y. The role of biochemical process in the accumulation of mercury by marine organisms. FAO Fisheries Report, n.325, p.150-162, 1984. THOMPSON, D. A.; FURNESS,R. W.; MONTEIRO, L. R. Seabirds as biomonitors of mercury inputs to epipelagic and mesopelagic marine food chains. The Science of Total Environment, n.213, p.299-305, 1998. TRAVNIKOV, O. Contribution of the intercontinental atmospheric transport to mercury pollution in the Northern Hemisphere. Atmospheric Environment, v.39, n.39, p.7541-7548, 2005. TREMBLAY, A.; LUCOTTE, M.; SCHETAGNE, R. Total mercury methylmercury accumulation in zooplankton of hydroelectric reservoirs in northern Québec (Canada). The Science of the Total Environment, n.213, p.307-315, 1998. TSENG, C. M. et al Rapid determination of inorganic mercury and methylmercury in biological reference materials by hydride generation, cryofocusing, atomic absorption spectrometry after open focused microwave-assisted alkaline digestion. Journal of Analytical Atomic Spectrometry, n.12, p. 743-750, 1997a. TSENG, C. M. et al. Rapid and quantitative microwave-assisted recovery of methylmercury from standart reference sediments. Journal of Analytical Atomic Spectrometry, n.12, p.629-635, 1997b. TSENG, C. M. et al. Open focused microwave-assisted sample preparation for rapid total and mercury species determination in environmental solid samples. Journal of Automatic Chemistry, v.20, n.4, p.99-108, 1998.

Page 140: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

140

TSENG, C. M. et al. Potential interferences generated during mercury species determination using acid leaching, aqueous ethylation, cryogenic gas chromatography and atomic spectrometry detection techniques. Chemosphere, v.7, n.39, p.1119-1136, 1999. TUNDISI, J.; TUNDISI, T.M. Produção orgânica em ecossistemas aquáticos. Ciência e Cultura, v.8, n.28, p.864-887, 1976. ULLRICH, S. M. et al. Mercury in the aquatic environment: a review of factors affecting methylation. Critical Reviews in Environmental Science and Technology, v.3, n.31, p.241-293, 2001. UNEP. Global mercury assessment. Geneva: UNEP Chemicals, 2002, 34p. URÍA, J. E. S.; SANZ-MEDEL, A. Inorganig and methylmercury speciation in environmental simples – Review. Talanta, n.47, p.509-524, 1998. USEPA, Fate and transport of mercury in the environment. Mercury study report to Congress. United States Environmental Protection Agency. EPA-452/R-97-005, 1997a. USEPA. Health effect of mercury and mercury compounds. United States Environmental Protection Agency. EPA 452/R-97-007, 1997b. VAITHIYANATHAN P. et al. Relationships of eutrophication to the distribution of mercury and to the potential for methylmercury production in the peat soils of the Everglades. Environment Science Technology, n.30, p.2591-2597, 1996 VALENTIN, J. L.; MONTEIRO-RIBAS, W. M. Zooplankton community structure on the east-southeast Brazilian continental shelf (18 - 23ºS latitude). Continental Shelf Research, v.13, n.4, p.407-424, 1993. VALENTIN, J. L.; SILVA, N. M. L.; BASTOS, C. T. B. Les diatomées dans l´upwelling de Cabo Frio (Brésil): liste d´espèces et étude écologique. Journal of Plankton Research, v.7, n.3, p.313-337, 1985. VALENTIN, J. L. et al. O plâncton na ressurgência de Cabo Frio ( Brasil) – Análise comparativa entre duas estações da baía de arraial do cabo e uma estação fixa oceânica. Instituto de Pesquisas da Marinha, n.86, p.1-21, 1975. VALENTIN, J. L. et al. A origem das massas d'água na ressurgência de Cabo Frio vista através do estudo das comunidades de copépodos. Instituto de Pesquisas da Marinha,n.97, p.1-36, 1976. VALENTIN, J. L. et al. Le plancton dans l´upwelling de Cabo Frio (Brésil): microrépartition spatio-temporelle à une station fixe. Annales de L´Institut Océanographique, v.62, n.1, p.117-135, 1986.

Page 141: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

141

VALENTIN, J. L. et al. Sur quelques zooplanctontes dans l´upwelling de Cabo Frio (Brésil). Journal of Plankton Research, v.9, n.6, p.1195-1987, 1987. VIEIRA, S. Introdução à bioestatística. 3 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 1980, 196p. VIEIRA, S. Bioestatística: tópicos avançados. 2ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004, 216p. WANG, W. X.; DEI, R. C. H. Effects of major nutrient additions on metal uptake in phytoplankton. Environmental Pollution, n.111, p.233-240, 2001. WATRAS, C. J,; BLOOM, N.S. Mercury and methylmercury in individual zooplankton for bioaccumulation. Limnology and Oceanography, n. 37, p.1313-1318, 1992. WATRAS et al. Bioaccumulation of mercury in pelagic freshwater food webs. The Science of the Total Environment , n.219,p. 183-208, 1998. WEBER, J.H. Review of possible paths for abiotic methylation of mercury(II) in the aquatic environment., Chemosphere, n.26, p.2063-2077, 1999. WESTCOTT K.; KALFF, J. Environmental factors affecting methylmercury accumulation in zooplankton. Canadian Journal of Fisheries Aquatic Science, n. 53, p.2221-2228, 1996. WHO IPCS. Environmental Health Criteria 86: Mercury environmental aspects. World Health Organization, Geneva, 1989. WHO IPCS. Environmental Health Criteria 101: Methylmercury. World Health Organization, Geneva, 1990 WHO IPCS. Environmental Health Criteria 101: Mercury, inorganic. World Health Organization, Geneva, 1991. WOLF, W. R. et al. Importance and determinacion of chemical species in biological systems. In: BERNHARD, M.; BRINCKMAN, F.E., SADLER, P.J. (Eds). The importance of chemical `` speciation´´ in environmental processes. Berlim: Spring-Verlag, 1986. p.17-38. XIAO, Z. F.; STROMBERG, D.; LINDQVIST, O. Influence of humic substances on photolysis of divalent mercury in aqueous solution. Water Air Soil Pollution, n.80, p.789-798, 1995. ZAHIR, F. Low dose mercury toxicity and human health. Environmental Toxicology and Pharmacology, n.20, p.351–360, 2005 ZHANG, H.; LINDBERG, S. E. Sunlight and iron(III)-induced photochemical production of dissolved gaseous mercury in freshwater. Environmental Science Technolology, n.35, p.928-935, 2001.

Page 142: ESPECIAÇÃO DO MERCÚRIO NA CADEIA TRÓFICA PELÁGICA DE … versão pdf Biblioteca... · 1 carlos alberto da silva especiaÇÃo do mercÚrio na cadeia trÓfica pelÁgica de uma

142

ZHOU, T.; WEIS, J. S. Swimming behavior and predator avoidance in three populations of Fundulus heteroclitus larvae after embryonic and/or larval exposure to methylmercury. Aquatic Toxicology, n. 43, p.131–148, 1998.