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Avaliação da Capacidade Financeira de Empresas de Construção António Maria da Franca Valadas Fernandes Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Civil Orientadores: Dr. Nuno Gonçalo Cordeiro Marques de Almeida Dr. António Manuel Gardete Mendes Cabaço Júri Presidente: Dr. Albano Luís Rebelo da Silva das Neves e Sousa Orientador: Dr. Nuno Gonçalo Cordeiro Marques de Almeida Vogal: Dr. Luís Manuel Alves Dias Maio de 2015

Avaliação da Capacidade Financeira de Empresas de … · 1.1 Enquadramento e objetivos A crise do subprime , desencadeada em 2006-2007 nos Estados Unidos devido à exposição das

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Avaliação da Capacidade Financeira de Empresas de Construção

António Maria da Franca Valadas Fernandes

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em

Engenharia Civil

Orientadores: Dr. Nuno Gonçalo Cordeiro Marques de Almeida

Dr. António Manuel Gardete Mendes Cabaço

Júri

Presidente: Dr. Albano Luís Rebelo da Silva das Neves e Sousa

Orientador: Dr. Nuno Gonçalo Cordeiro Marques de Almeida

Vogal: Dr. Luís Manuel Alves Dias

Maio de 2015

i

Agradecimentos

À minha família que sempre me proporcionou todas as condições para que eu tivesse sucesso ao longo

do meu percurso académico.

Aos meus colegas, em especial ao André, Francisco e Rui, que sempre me acompanharam e apoiaram

ao longo desta caminhada.

Aos professores que me transmitiram os seus valores e conhecimentos.

Aos meus orientadores, Professor Nuno Marques de Almeida e Engenheiro António Cabaço, desejo

expressar o meu profundo e sincero agradecimento pela disponibilidade, paciência e interesse que

sempre demonstraram durante realização deste trabalho.

A todos aqueles que me ajudaram na execução desta dissertação.

Por fim, quero deixar um agradecimento especial ao Óscar e a todos os membros do PM, por todas as

alegrias e bons momentos vividos em conjunto.

ii

iii

Resumo

O objeto de estudo desta dissertação é a avaliação da capacidade financeira das empresas de

construção. O foco principal é analisar o modo como é feita esta avaliação em Portugal, estudando

também os documentos e critérios definidos nos modelos de qualificação e pré-qualificação de

empreiteiros propostos pela comunidade científica, bem como a legislação de contratação pública de

diversos países. O foco secundário visa o Código de Contratos Públicos português, nomeadamente a

expressão matemática que traduz o requisito mínimo da capacidade financeira. Esta fórmula, os seus

componentes, e a sua utilidade são analisados neste documento. Com base em simulações feitas a partir

desta fórmula, conclui-se que a fórmula está mal calibrada e o requisito mínimo é pouco restritivo. Estas

conclusões e o estudo aprofundado do tema, a nível nacional e internacional, permitem tecer um conjunto

de propostas de melhoria da avaliação financeira de empresas de construção em Portugal.

Palavras-chave: avaliação capacidade financeira, empresas de construção, contratação pública, rácios

financeiros, pré-qualificação, fator f

iv

v

Abstract

The aim of this thesis is the evaluation of the financial capacity of construction companies. The main focus

is to analyse how this assessment is made in Portugal, also studying the criteria and documents defined

on pre-qualification contractors models created by the scientific community and the public procurement

legislation of various countries. The secondary focus is on the code of Portuguese public procurement,

including the mathematical expression that translates the minimum requirement of financial capacity. This

formula, its components and its usefulness were also analysed in this thesis. Based on simulations, it is

concluded that the formula is poorly calibrated and the minimum requirement is somewhat restrictive. This

findings and the in-depth study on the subject, at national and international level, allows to weave a set of

proposals to improve financial capacity of construction companies in Portugal.

Keywords: financial capacity evaluation, contractors, public procurement, financial ratios, prequalification,

f factor

vi

vii

Índice

Agradecimentos ............................................................................................................................................... i

Resumo……………………………… .............................................................................................................. iii

Abstract………………… ................................................................................................................................. v

Índice………… ............................................................................................................................................. vii

Lista de Tabelas ........................................................................................................................................... xi

Lista de Siglas e Acrónimos ....................................................................................................................... xiii

1 Introdução ........................................................................................................................................... 1

1.1 Enquadramento e objetivos ......................................................................................................... 1

1.2 Metodologia e organização da dissertação ................................................................................. 2

2 Análise de estudos da comunidade científica internacional ............................................................... 3

2.1 Considerações iniciais ................................................................................................................. 3

2.2 Revisão bibliográfica ................................................................................................................... 3

2.3 Apreciação global da revisão bibliográfica .................................................................................. 5

2.3.1 A componente económico-financeira da empresa como fator de sucesso de um

empreendimento de construção .................................................................................................. 5

2.3.2 Modelos de qualificação de empreiteiros .......................................................................... 6

3 Análise de Procedimentos Concursais Internacionais ...................................................................... 15

3.1 Considerações iniciais ............................................................................................................... 15

3.2 Mercado Europeu ...................................................................................................................... 15

3.2.1 Diretiva Europeia ............................................................................................................. 15

3.2.2 Espanha .......................................................................................................................... 16

3.2.3 França ............................................................................................................................. 17

3.2.4 Itália ................................................................................................................................. 18

3.2.5 Reino Unido ..................................................................................................................... 18

3.2.6 República da Irlanda ....................................................................................................... 19

3.2.7 Polónia ............................................................................................................................ 20

3.2.8 República Checa ............................................................................................................. 22

3.2.9 Roménia .......................................................................................................................... 23

viii

3.2.10 Suécia ............................................................................................................................. 24

3.2.11 Noruega ........................................................................................................................... 25

3.3 Mercado Americano .................................................................................................................. 26

3.3.1 Estados Unidos da América ............................................................................................ 26

3.3.2 Brasil................................................................................................................................ 27

3.4 Mercado Africano ...................................................................................................................... 28

3.4.1 Angola ............................................................................................................................. 28

3.4.2 Moçambique .................................................................................................................... 29

3.5 Mercado do Médio Oriente ........................................................................................................ 31

3.5.1 Arábia Saudita ................................................................................................................. 31

3.6 Apreciação Global dos Mercados Internacionais ...................................................................... 32

4 Análise da Situação Nacional ........................................................................................................... 35

4.1 Considerações iniciais ............................................................................................................... 35

4.2 Ingresso e permanência na atividade ....................................................................................... 35

4.2.1 Enquadramento técnico e legal ....................................................................................... 35

4.2.2 Análise dos indicadores financeiros para obtenção de alvará ........................................ 37

4.3 Procedimentos concursais de empreitadas de obras públicas ................................................. 41

4.3.1 Enquadramento técnico e legal ....................................................................................... 41

4.3.2 Concurso Limitado por Prévia Qualificação .................................................................... 44

4.3.3 Análise do requisito mínimo da capacidade financeira no CLPQ ................................... 47

5 Caso de estudo: o fator 𝒇 .................................................................................................................. 53

5.1 Considerações iniciais ............................................................................................................... 53

5.2 Enquadramento e descrição do caso de estudo ....................................................................... 53

5.3 Simulações ................................................................................................................................ 54

5.3.1 Simulações com EBITDA de empresas .......................................................................... 54

5.3.2 Simulações com valor base de empreitadas .................................................................. 60

5.4 Exercício de aplicação a casos reais ........................................................................................ 62

5.4.1 Concurso 1 ...................................................................................................................... 62

5.4.2 Concurso 2 ...................................................................................................................... 65

ix

5.5 Resultados e discussão do caso de estudo e da avaliação financeira em Portugal ................ 68

6 Propostas de Melhoria ...................................................................................................................... 71

6.1 Considerações iniciais ............................................................................................................... 71

6.2 Metodologia de cálculo para o fator 𝒇 ....................................................................................... 71

6.2.1 Princípios da proposta..................................................................................................... 71

6.2.2 Valor máximo do fator f ................................................................................................... 74

6.2.3 Valor mínimo do fator 𝒇 ................................................................................................... 75

6.2.4 Cálculo do fator 𝒇 em concursos ..................................................................................... 76

6.3 Lista de rácios financeiros ......................................................................................................... 77

7 Considerações Finais ........................................................................................................................ 81

7.1 Contributos e conclusões .......................................................................................................... 81

7.2 Desenvolvimentos Futuros ........................................................................................................ 82

Referências Bibliográficas ........................................................................................................................... 86

Obras Consultadas ............................................................................................................................ 86

Diplomas Legais Referenciados ....................................................................................................... 88

Diplomas nacionais ................................................................................................................... 88

Diplomas internacionais ............................................................................................................ 88

Sites consultados .............................................................................................................................. 89

Anexos ......................................................................................................................................................... 92

x

xi

Lista de Tabelas

Tabela 1 – Resultados da pesquisa no portal B-on ...................................................................................... 3

Tabela 2 – Resumo dos indicadores económicos citados na revisão bibliográfica sobre avaliação da

capacidade financeira .................................................................................................................. 4

Tabela 3 – Estudos analisados na revisão bibliográfica ............................................................................. 13

Tabela 4 - Requisitos dos Mercados Internacionais ................................................................................... 34

Tabela 5 - Valores limite das obras por classe e valores mínimos de capital próprio, liquidez geral e

autonomia financeira para a permanência na atividade da construção em Portugal para o

ano de 2015 ............................................................................................................................... 38

Tabela 6 - Número e Valor dos contratos celebrados em Portugal referentes a empreitadas de obras

públicas entre 2011 e 2014 ....................................................................................................... 43

Tabela 7 - Taxas Euribor na última década e parâmetro t na expressão matemática dos CLPQ.............. 54

Tabela 8 - Ranking das 25 maiores construtoras em Portugal nos anos de 2009, 2010 e 2011 ............... 56

Tabela 9 - EBITDA das 10 maiores construtoras nacionais e Valor Máximo de Obra em CLPQ com

fator f igual a 1 entre 2008 e 2012 ............................................................................................ 57

Tabela 10 - EBITDA médio e Valor Máximo de Obra em CLPQ com fator f igual a 1 por classe entre

2008 e 2013 ............................................................................................................................... 59

Tabela 11 - Valores Mínimos de resultados operacionais médios para preços base definidos e

parâmetros mais restritivos ....................................................................................................... 60

Tabela 12 – Valores Limites e Volume de Negócios anteriormente exigido em Obra por Classes ........... 72

Tabela 13 - Volume de Negócios por Classes em 2013 ............................................................................. 72

Tabela 14 - EBITDA, Volume de Negócios e Margem de EBITDA de cinco grandes empresas

nacionais de 2010 a 2013 ......................................................................................................... 73

Tabela 15 - Margem de EBITDA média por Classe entre 2008 e 2013 ..................................................... 74

Tabela 16 - Volume de Negócios Mínimo e EBITDA Esperado por Classe ............................................... 75

Tabela 17 - Valores da Médio, Mediana, Percentil 80 e 90 do EBITDA das empresas titulares de

alvará de construção por classe no ano de 2013 ..................................................................... 76

Tabela 18 – Levantamento de rácios económico-financeiros propostos para a avaliação da

capacidade financeira de empresas .......................................................................................... 80

xii

xiii

Lista de Siglas e Acrónimos

PIB – Produto Interno Bruto

CLPQ – Concurso Limitado por Prévia Qualificação

CSF – Critical Success Factors

DE - Diretiva Europeia

UE – União Europeia

IDH – Índice de Desenvolvimento Humano

EUA – Estados Unidos da América

DL - Decreto-Lei

InCI, I.P. – Instituto da Construção e do Imobiliário, I.P.

IES - Informação Impresarial Simplificada

CCP – Código dos Contratos Públicos

JOUE – Jornal Oficial da União Europeia

Euribor – Euro Interbank Offer Rate

EBITDA - Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization

xiv

1

1 Introdução

1.1 Enquadramento e objetivos

A crise do subprime, desencadeada em 2006-2007 nos Estados Unidos devido à exposição das

instituições financeiras a empréstimos hipotecários de alto risco, evoluiu em 2008 para uma crise

financeira mundial. A queda do banco de investimento Lehman Brothers seguida, em poucos dias, pela

falência técnica da maior seguradora americana, a AIG, fez soar o alarme em todas a praças financeiras

do planeta. Os governos dos países desenvolvidos viram-se obrigados a injetar enormes quantidades de

capital de modo a conseguirem salvar bancos em dificuldades, o que permitiu travar o colapso dos

mercados financeiros, mas não impediu o alastramento da crise à restante economia. Esta quebra de

confiança no sistema levou ainda à chamada crise da dívida pública da zona Euro, que assenta no facto

de alguns países já não conseguirem cumprir o pagamento, ou refinanciamento, da sua dívida soberana

sem a ajuda de terceiros.

Portugal não conseguiu evitar o resgate e esteve de 16 de maio de 2011 até 17 de maio de 2014 sob um

programa de assistência financeira da Troika, composta pelo Fundo Monetário Internacional, o

Mecanismo Europeu de Estabilização Económica, e o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira.

O setor da construção é seguramente um dos setores mais afetados por esta crise. Só em 2012,

declararam falência 5.808 empresas. Um pouco por todo o país, tornou-se comum encontrar obras

paradas devido a problemas financeiros do promotor imobiliário ou à insolvência do empreiteiro. É neste

cenário pouco animador que se reveste de elevado interesse o estudo da capacidade financeira das

empresas de construção.

As empreitadas podem demorar vários anos a serem concluídas e custar várias dezenas de milhões de

euros. Além do mais, atualmente as empresas têm dificuldades em financiarem-se junto das instituições

de crédito. Para fazer face a estas adversidades, atualmente as empresas de construção necessitam de

ter uma boa disponibilidade financeira para poderem realizar as obras, especialmente as grandes

empreitadas públicas que movimentam grandes somas de capital.

A presente dissertação pretende explorar o tema da avaliação da capacidade financeira de empresas de

construção e procurar responder a várias questões que se apresentam de seguida.

Quais são as garantias que um cliente privado tem das condições financeiras do empreiteiro? Que

entidade avalia a capacidade financeira das empresas de construção? E no setor público, que

mecanismos dispõe o Estado para a avaliação da capacidade financeira dos empreiteiros nos concursos

públicos? O que mede a expressão matemática contendo o fator 𝑓, presente no anexo IV do Código de

Contratos Públicos? Serão os mecanismos existentes adequados e suficientes?

2

1.2 Metodologia e organização da dissertação

No sentido de responder às questões apresentadas sobre o tema da avaliação da capacidade financeira

de empresas de construção, seguiu-se metodologia de investigação seguidamente descrita. Numa

primeira fase, fez-se uma análise dos estudos da comunidade científica sobre este tópico. Neste

contexto, consultaram-se diversos modelos de seleção e pré-qualificação de empresas de construção em

concursos. Analisou-se a legislação de vários países relativa a concursos públicos. Concluída esta

revisão e análise a nível internacional, fez-se um estudo da abordagem adotada em Portugal.

Analisaram-se os requisitos relacionados com a avaliação da capacidade financeira nos concursos

públicos, e também no sistema de ingresso e permanência na atividade da construção. Depois de

estudados os parâmetros e requisitos dos modelos de avaliação desenvolvidos em diferentes contextos,

procedeu-se ao seu estudo comparativo. Após esta pesquisa e análise, para finalizar a investigação,

esboçou-se um conjunto de propostas para a melhoria da avaliação da capacidade financeira das

empresas de construção em concursos públicos nacionais, bem como as conclusões deste estudo.

A organização desta dissertação segue a metodologia de investigação anteriormente descrita e encontra-

se estruturada em 7 capítulos.

No presente capítulo introdutório faz-se o enquadramento do tema, estabelecem-se os objetivos, bem

como a metodologia e organização do documento.

No capítulo 2 efetua-se uma revisão bibliográfica dos estudos da comunidade científica internacional bem

como a sua apreciação global, com uma síntese da forma e dos critérios utilizados nos diversos modelos

para avaliar a capacidade financeira.

No capítulo seguinte, faz-se a análise da legislação dos concursos públicos em diferentes mercados

internacionais, para compreender de que forma é feita, e que documentos são utilizados, para a

avaliação da capacidade financeira dos concorrentes.

No capítulo 4 estuda-se a situação nacional com o enquadramento técnico e legal relativo à capacidade

financeira das empresas nos contextos do ingresso e permanência na atividade da construção e dos

concursos públicos.

No capítulo 5 desenvolve-se o caso de estudo da fórmula do requisito mínimo da capacidade financeira

nos concursos limitados por prévia qualificação (CLPQ). Este estudo repousa no exame dos constituintes

da fórmula, na elaboração de simulações de casos hipotéticos e reais, e termina na análise dos

resultados dos diversos cenários obtidos.

No capítulo 6 são feitas propostas de melhoria da avaliação da capacidade financeira em concursos

nacionais.

Por fim, no capítulo 7, são efetuadas as considerações finais, apresentando as conclusões sobre os

resultados do estudo e possíveis desenvolvimentos futuros deste trabalho.

3

2 Análise de estudos da comunidade científica internacional

2.1 Considerações iniciais

De forma a ter um olhar crítico e abrangente sobre o tema da avaliação da capacidade financeira de

empresas de construção em Portugal, faz-se uma revisão bibliográfica (2.1) onde procura-se

compreender como este tópico é tratado pela comunidade científica (2.2).

2.2 Revisão bibliográfica

Inicia-se esta investigação procurando perceber a importância dada pela comunidade científica

internacional à avaliação da capacidade financeira como critério na escolha da empresa para a execução

de um empreendimento de construção. Para tal, consultam-se modelos de qualificação e de pré-

qualificação de empreiteiros presentes em diversos estudos já realizados.

Esta revisão bibliográfica é feita utilizando diversos repositórios online de documentos científicos entre os

quais a B-on, Sciencedirect ou o repositório da Universidade de Lisboa. As principais palavras-chave

utilizadas nesta pesquisa foram: financial capacity, prequalification model, contractor, construction

financial evaluation.

Na Tabela 1 apresentam-se os resultados do portal B-on de várias pesquisas com diferentes

combinações de palavras-chave. Como o número de resultados era muito elevado e de diversas áreas de

conhecimento, filtram-se os artigos escolhendo um tópico específico. Com a leitura dos artigos e consulta

das suas bibliografias, outros documentos foram encontrados e utilizados. Esta metodologia de pesquisa

foi seguida nas outras plataformas de pesquisa de artigos científicos.

Tabela 1 – Resultados da pesquisa no portal B-on

Palavras-Chave Artigos

Encontrados Filtro

Artigos após Filtro

Artigos utilizados

financial evaluation contractor 8.834 construction 128 8

financial capacity contractor 10.379 construction industry 73 6

financial evaluation prequalification

468 construction 41 3

financial prequalification model

482 contractor prequalification

7 1

Após a revisão bibliográfica, ficou patente que a avaliação da capacidade financeira está presente em

muitos dos modelos de seleção de empreiteiros. Nos vários modelos consultados, o peso da capacidade

financeira é variável, mas representa sempre um dos fatores da avaliação. Os índices escolhidos para a

avaliação financeira do contratante são muito variados e medem diferentes parâmetros da situação

financeira da empresa. Não obstante, existem índices que são sistematicamente utilizados nos modelos

de avaliação.

Na Tabela 2 estão compilados os resultados desta revisão bibliográfica.

4

Tabela 2 - Resumo dos indicadores económicos citados na revisão bibliográfica sobre avaliação da capacidade financeira

Fatores Económicos Analisados

Tema de Estudo

Autores

Vo

lum

e d

e

ne

cio

s

His

tóri

co

de

cré

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o

Pre

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Ala

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Cap

ita

l p

róp

rio

Lu

cro

s

Fatores de

Sucesso Alzahrani e Emsley (2012) x x x

Cri

téri

os

de

Se

leçã

o e

Pré

-Qu

ali

fica

çã

o

Russel, Hancher e Skibiewski (1992)

x

Hatush e Skitmore (1997) x x x x

Palaneeswaran e Kumaraswamy (2001)

x x x x x x x

Nieto-Morote e Ruz-Vila (2012)

x x x

El-Sawalhi, Eaton e Rustom (2007)

x x x x x

Al-Reshaid e Kartam (2005)

x

Topcu (2004) x x x x

Huang, Ping Tsang , Liao e Yin (2013)

x x

Abidali e Harris (1995) x x x x x x

Horta, Camanho e Moreira (2012)

x x x

Watt, Kaysis e Willey (2009)

x x x x

El Yamany, Basha e Zayed (2007)

x x x

Número de referências 7 1 2 4 8 1 3 7 3 3 1 3 1 2

5

2.3 Apreciação global da revisão bibliográfica

2.3.1 A componente económico-financeira da empresa como fator de

sucesso de um empreendimento de construção

A indústria da construção é vital para o desenvolvimento de qualquer país. A execução de

empreendimentos de construção, tais como edifícios, estradas, ou pontes, é um bom indicador da

situação económica do país. De acordo com Ye, Hassan, Carter, & Kemp (2009), a indústria da

construção é uma das indústrias mais importantes para a economia europeia em termos de PIB e

emprego. Dados do Euroconstruct1 mostram que o peso da construção no PIB europeu rondou os 10%

para o ano de 2013. Como resultado, o sucesso de uma empreitada de construção é uma questão

fundamental para a maioria dos governos, utilizadores e comunidades.

A bibliografia analisada demonstra que os fatores de sucesso das empreitadas estão relacionados com a

escolha do empreiteiro, nomeadamente em termos da capacidade financeira. Existe uma vasta

bibliografia que aborda a temática do sucesso de um empreendimento de construção.

Para Chan & Chan (2004), o conceito de sucesso de um empreendimento de construção foi criado para

definir critérios e padrões que ajudem os intervenientes a concluírem os empreendimentos com os

resultados mais desejáveis. Chan, Scott, & Lam (2002) definem noutro estudo que o sucesso é definido

como o grau de proximidade entre as expectativas e os objetivos cumpridos. Esta ideia é partilhada por

Ashley, Jaselskis, & Lurie (1987). Estes autores garantem que o sucesso só é alcançado quando os

resultados são os observados em termos de custo, cronograma, qualidade, segurança e satisfação dos

participantes. Também Tuman (1986) corrobora esta definição de sucesso, e afirma que para ele existir

tudo tem de sair como esperado, antecipando todos os requisitos e recursos suficientes para atender às

necessidades da empreitada em tempo útil. Wite (1988) segue esta linha de pensamento dizendo que o

empreendimento é considerado um sucesso total se atender às especificações de desempenho técnico

e/ou missões a serem executadas, e se houver um alto nível de satisfação com o resultado dos:

promotores, pessoas chave na equipa responsável pela construção, e os principais utilizadores ou

clientes.

Pode-se afirmar que a opinião dos investigadores é convergente acerca do sucesso de um

empreendimento de construção. Resumidamente, uma empreitada de construção granjeia o sucesso

quando as expectativas e metas delineadas pelos intervenientes em todos os domínios são alcançadas,

ficando assim todos os intervenientes satisfeitos com o resultado alcançado.

Também existe alguma unanimidade acerca dos indicadores de desempenho dominantes nas

empreitadas de construção. Os três indicadores chave são o tempo, o custo e a qualidade. Toor &

1 Organização que reúne os principais institutos europeus de pesquisa e de consultoria para o estudo, análise e

previsões do setor da construção

6

Ogunlana (2010) chamam mesmo a este tríptico o triângulo de ferro. Muitos investigadores abordaram

este tema e existe uma vasta lista de indicadores e modelos sobre os fatores críticos de sucesso, mais

conhecidos em inglês por Critical Success Factors (CSF). Pinto & Covin (1989) afirmam que muitas das

razões por detrás do sucesso de um empreendimento podem ser encontradas na existência, ou na falta,

de vários CSF. Além disso, Belassi & Tukel (1996) afirmam que a existência destes fatores e suas

interações são de primordial importância na determinação do sucesso ou fracasso da empreitada de

construção.

Alzahrani & Emsley (2012) estudaram o impacto dos atributos dos empreiteiros no sucesso do

empreendimento a partir de uma avaliação pós-construção para identificar quais os fatores críticos de

sucesso (CSF). Na tentativa de compreender e investigar estes fatores, um inquérito sob a forma de

questionário foi feito a empreiteiros, consultores e clientes no Reino Unido, para estabelecer a perceção

que os profissionais da construção têm sobre os CSF. Foram analisados 35 CSF, divididos em 9

categorias. Uma dessas categorias era Finanças na qual foram avaliados três CSF: volume de negócios,

histórico de crédito e previsão de fluxo de caixa. Os recursos financeiros mostram a credibilidade e

reputação da empresa entre clientes e fornecedores. Também indicam a força de uma empresa no

mercado em termos da sua capacidade em realizar obras complexas. Os resultados dos inquéritos foram

analisados por 4 modelos de regressão logística, construídos com o auxílio do programa SPSS 19.0,

para examinar o impacto dos atributos do contratante no sucesso do empreendimento e identificar a

ligação entre os critérios de sucesso e as nove categorias. A partir dos resultados da regressão logística,

verificou-se que o sucesso de um empreendimento está significativamente ligado a sete dos CSF

apresentados. O volume de negócios é um destes sete CSF chave.

A partir dos estudos consultados, observou-se que existe consenso na comunidade científica

relativamente à definição de sucesso de um empreendimento de construção. Para que este seja

alcançado, os objetivos e expectativas depositados no empreendimento têm de ser alcançados para que

os intervenientes (promotores e utilizadores) fiquem totalmente satisfeitos. Existem fatores

imprescindíveis para o sucesso dos empreendimentos, sendo que alguns autores referem a boa situação

económica da empresa como um desses fatores.

2.3.2 Modelos de qualificação de empreiteiros

Existem uma série de modelos propostos por diversos investigadores que podem ajudar as entidades

adjudicantes a selecionar de forma criteriosa a empresa que realizará o empreendimento. De todos os

modelos consultados, identificaram-se aqueles que tinham como um dos requisitos de qualificação ou de

pré-qualificação, a capacidade financeira do empreiteiro.

Russell, Hancher, & Skibiewski (1992) estudaram a avaliação da indústria no impacto de 20 fatores de

decisão e 67 subfatores de pré-qualificação de empreiteiros, englobando 78 promotores públicos, 72

7

promotores privados e 42 empresas de construção. Utilizando a análise de correlação de Spearman2, os

três principais critérios para a tomada de decisão dos proprietários em todas as três categorias foram: a

estabilidade financeira, a experiência e o desempenho anterior.

Com o intuito de identificar os critérios de seleção mais e menos importantes de uma lista de 20 dos

critérios mais utilizados, Hatush & Skitmore (1997) adotaram a técnica Delphi3 para entrevistar seis

peritos e dois especialistas. Os critérios de seleção foram avaliados tendo por base os três fatores de

sucesso de um empreendimento: tempo, custo e qualidade. Com isto, identificam-se os critérios mais

relevantes. Os critérios que se destacam como imprescindíveis para a verificação dos três fatores de

sucesso são a situação financeira, a estabilidade financeira, o rating de crédito, experiência, capacidade,

gestão de pessoal e gestão do conhecimento. Estas conclusões vão ao encontro dos anteriores estudos

consultados pelos autores que referem sempre como fator preponderante no bom desfecho do

empreendimento a estabilidade financeira do empreiteiro. Os documentos que os autores dizem permitir

avaliar esta estabilidade são as cópias das contas auditadas e dos relatórios anuais dos últimos 3 anos.

Isto inclui: balanço; demonstração de resultados; relatório do diretor da auditoria às contas; declaração do

volume de negócios; e eventuais sinistros ou litígios da empresa.

Segundo Palaneeswaran & Kumaraswamy (2001), a pré-qualificação é feita pelos clientes para minimizar

os riscos e falhas, e aumentar os níveis de desempenho dos empreiteiros selecionados por meio da

criação de requisitos mínimos, abaixo dos quais os concorrentes não serão considerados. O documento

discute algumas das abordagens praticadas por alguns dos principais clientes de Hong Kong, Austrália e

Estados Unidos da América. O estudo concentra-se em identificar critérios universais de pré-qualificação

e desenvolve um modelo geral para pré-qualificação de empreiteiros.

Em Hong Kong, nenhuma das três entidades analisadas (Work Bureau, Housing Authority e Mass Transit

Railway Corporation) tem como critério de pré-qualificação a capacidade financeira do contratante.

Na Austrália, o governo australiano desenvolveu um processo com requisitos de pré-qualificação,

destinado a avaliar as capacidades dos prestadores de serviços. Os critérios de pré-qualificação são a

capacidade técnica, a capacidade financeira, a garantia de qualidade, a formação técnica, higiene e

saúde, a segurança e bem-estar, a investigação e desenvolvimento, e a gestão de recursos humanos. O

critério da capacidade financeira permite que o cliente formule uma opinião informada sobre a posição e

capacidade financeira global da empresa. Para preencher este critério, as contas da empresa têm de ser

auditadas externamente. Para além disso, a empresa também é obrigada a fornecer as seguintes

informações para demonstrar o nível de cumprimento dos requisitos mínimos de contabilidade, controlo e

solidez financeira:

2 Mede a intensidade da relação entre variáveis ordinais. Usa, em vez do valor observado, apenas a ordem das

observações.

3 Princípio que as previsões de um grupo estruturado de especialistas são mais precisas se comparadas às

provenientes de grupos não estruturados ou individuais.

8

- Entidade ou pessoa singular proprietária da empresa;

- Histórico de informação financeira;

- Previsão de fluxo de caixa (cash flow);

- Empréstimos;

- Trabalhos em curso;

- Resumo do património da empresa.

Nos Estados Unidos, um dos sistemas avaliados foi o do departamento de transportes da cidade de

Illinois. Este sistema baseia-se num certificado de elegibilidade, passado por este departamento, que

habilita as empresas a concorrerem aos trabalhos lançados por este departamento. O certificado de

elegibilidade tem por fundamento dois ratings: trabalhos efetuados e situação financeira. O rating

financeiro define a capacidade de um candidato ter a liquidez necessária durante o contrato celebrado.

O modelo proposto por Palaneeswaran & Kumaraswamy (2001) define critérios organizados em três

grupos distintos: resposta, responsabilidade e capacidade. Este último grupo está dividido em quatro

categorias: recursos, experiência, limitações, e gestão da organização. Relativamente à capacidade,

existem três tipos de recursos: financeiros, humanos e equipamentos. Os indicadores escolhidos para

avaliar a capacidade e estabilidade financeira da empresa contratante são o património, volume de

negócio, liquidez, solvência, alavancagem, rating de crédito, títulos e garantias bancárias.

Nieto-Morote & Ruz-Vila (2012) têm no seu modelo de pré-qualificação 6 critérios essenciais: capacidade

técnica, experiência, capacidade de gestão, desempenho anterior, estabilidade financeira e higiene e

segurança. Um deles é a estabilidade financeira da empresa de construção, isto porque o cliente deve ter

uma opinião informada sobre a posição financeira global e a capacidade do contratante. Para isto são

analisados três subcritérios: solidez financeira, rating de crédito e liquidez.

Para Thomas & Skitmore (2001) um dos aspetos positivos da pré-qualificação é a poupança de recursos.

A orçamentação e avaliação de propostas são dispendiosas para os clientes e prestadores de serviços,

especialmente quando existem muitos concorrentes envolvidos. Os clientes têm custos na análise das

propostas e seleção do adjudicatário , enquanto os empreiteiros incorrem em gastos na preparação de

propostas e submissão das mesmas. Como os contratos são adjudicados a um único concorrente, os

outros concorrentes têm de recuperar os custos associados a cada tentativa mal sucedida através do

aumento de preços das propostas subsequentes. Como resultado, o custo total da licitação é em última

instância suportado pelos clientes.

Para evitar desperdício de esforços na análise de propostas, a entidade adjudicante pode convidar um

pequeno número de empresas para concorrer a uma empreitada. A pré-qualificação pretende reduzir o

custo da licitação, mantendo as vantagens da concorrência pura, por triagem de acordo com critérios pré-

9

determinado. De acordo com o HM Treasury (1991)4, a pré-qualificação, quando bem feita, economiza

tempo e dinheiro para todas as partes porque apenas os candidatos devidamente qualificados são

incluídos na lista a partir da qual serão selecionados o vencedor do concurso.

Recentemente, El-Sawalhi, Eaton, & Rustom (2007) elaboraram um documento sobre o estado de arte

dos modelos de pré-qualificação. Analisaram os vários modelos existentes e concluem que a informação

utilizada para a avaliação dos parâmetros de pré-qualificação encaixam nos seguintes grupos:

informação geral usada principalmente para fins administrativos; informações financeiras; informações

técnicas; informações de gestão; critérios de experiência; critérios de desempenho; informações sobre a

segurança; e preocupações ambientais. De seguida, identificam as características críticas do modelo de

pré-qualificação a desenvolver:

- A pré-qualificação é um problema de análise multicritério: o modelo proposto deve fazer uma análise

dos critérios de forma simultânea;

- A pré-qualificação contém riscos inerentes à opinião do decisor;

- A pré-qualificação inclui informações incertas apresentadas por diferentes empreiteiros;

- A pré-qualificação contém julgamento subjetivo feito pelo decisor;

- A pré-qualificação inclui relações não-lineares entre os atributos do contratante e os critérios de pré-

qualificação;

- O modelo deve ser capaz de adaptar os resultados às mudanças associadas aos diferentes

concorrentes. E também, deve ser capaz de lidar com dados qualitativos, bem como quantitativos.

Os critérios do modelo proposto foram recolhidos a partir de trabalhos publicados nos últimos anos por

vários investigadores. Apenas os critérios recomendados por três ou mais autores foram adotados para

serem incluídos no modelo. Alguns critérios foram adicionados porque os autores concluíram serem

importantes para o processo de pré-qualificação.

Os critérios do modelo estão organizados em sete grupos: estabilidade financeira; gestão e capacidade

técnica; experiência; histórico de incumprimento; recursos; qualidade; saúde e segurança. Os atributos

referentes à estabilidade financeira são: rating de crédito; volume de negócios; acordos bancários;

liquidez; e rentabilidade.

Al-Reshaid & Kartam (2005) criaram um modelo de pré-qualificação em três fases para obras públicas do

Kuwait. Na primeira, realizada pelo comité de contratação pública do Kuwait, os empreiteiros de obras

públicas são classificados em quatro categorias, com base no volume de obras executadas com sucesso

e nos recursos financeiros e técnicos despendidos. A segunda fase é realizada pelo dono de obra e

consiste numa avaliação técnica e financeira dos concorrentes. Nesta segunda fase de pré-qualificação,

4 Departamento do tesouro inglês.

10

os parâmetros estudados são as contas auditadas, as referências bancárias, e o rácio ativo/passivo. A

terceira etapa foca-se nos requisitos específicos da empreitada e também é realizada pela entidade

contratante.

IIker Topcu (2004) concebeu um sistema multicritério de pré-qualificação para obras públicas na Turquia.

O estudo tem por base os três fatores chave já citados: tempo, custo e qualidade. Mais uma vez, a

estabilidade financeira da empresa é um dos critérios avaliados. Os rácios deste modelo são o rating de

crédito, a rentabilidade, resultados operacionais e capital próprio.

Huang, Ping Tsang, Liao, & Yin (2013) inovaram criando um modelo de pré-qualificação financeira

baseado no fluxo de caixa (cash flow) dos concorrentes. Devido à importância de selecionar um

contratante que possui uma capacidade financeira sólida, o fluxo de caixa pode garantir informação

fidedigna. Os dados do fluxo de caixa são quantitativos e de fácil acesso ao público. Como todos os

dados publicados estão sob o mesmos princípios contabilísticos, o conjunto é representativo e pode ser

analisado. Além disso, o fluxo de caixa desempenha um papel crítico na capacidade financeira das

empresas de construção. A maioria das empresas de construção falha devido à falta de liquidez para

apoiar as suas atividades comerciais diárias, e não de uma gestão inadequada dos recursos. A indústria

da construção está exposta a um alto risco de liquidez devido às características do seu processo

operacional. No entanto, a maioria dos estudos raramente adotam o fluxo de caixa para investigar a

“qualidade” do crédito dos contratantes. Este estudo adota uma nova abordagem com o modelo de

crédito baseado no fluxo de caixa, para avaliar o risco de crédito dos contratantes. De seguida, usa o

sistema de classificação da Standard & Poor’s como valor de referência em relação ao risco de crédito, a

fim de avaliar o poder de discriminação do modelo na diferenciação de empreiteiros. O risco de crédito é

um termo financeiro comum que mostra a capacidade de serviço da dívida e, portanto, avalia os níveis de

crédito dos contratantes, o que ajuda a identificar a sua capacidade financeira.

Os resultados empíricos indicam que o modelo alcança excelente capacidade discriminatória na

avaliação do risco de crédito de empresas de construção. Além disso, o modelo atinge um desempenho

estável na avaliação do risco de crédito de longo prazo. Portanto, o modelo é eficaz na realização da

avaliação da capacidade financeira para a seleção dos empreiteiros de construção.

Anteriormente, Abidali & Harris (1995) construíram um modelo para prever o risco de insucesso das

empresas de construção do ponto de vista económico. Este modelo combina o uso de rácio financeiros e

uma análise discriminatória multivariada para estabelecer sete variáveis, que medem a capacidade

financeira da empresa. Inicialmente, 31 rácio económicos foram estudados. O modelo escolheu 7 destes

31 rácios:

- Lucros após impostos e taxa de juros de capital líquido empregues: para medir a rentabilidade da

empresa, é positivo em empresas solventes e negativo em empresas insolventes;

11

- Quociente entre os ativos e o património líquido: mede a alavancagem financeira da empresa. A

capacidade da empresa em solver as suas dívidas de curto prazo sem ter de recorrer a ativos de longo

prazo;

- Volume de negócios: avalia a capacidade de produção da empresa;

- Empréstimos de curto prazo e taxas de juro: estima a liquidez da empresa;

- Variação dos impostos pagos: uma empresa pouco rentável paga menos impostos que uma empresa

mais rentável;

- Lucros depois de impostos: calcula a rentabilidade da empresa;

- Empréstimos a curto prazo: geralmente as empresas em dificuldades têm muitos empréstimos de curto

prazo o que lhes permite continuarem a serem solventes.

Este modelo foi testado tanto em empresas financeiramente estáveis como em empresas em dificuldade

sempre com bons resultados.

Em Portugal, Horta, Camanho, & Moreira da Costa (2012) analisaram as tendências de desempenho da

indústria de construção portuguesa, e identificaram os fatores que promovem a excelência e a inovação

no setor. Neste estudo foi utilizado um modelo de avaliação de desempenho que caracteriza empreiteiros

a partir de uma perspetiva financeira. Os indicadores selecionados para um modelo de benchmarking

financeiro devem capturar a natureza multidimensional da atividade da construção e o desempenho

global da empresa. Depois da revisão da literatura existente, concluíram que os rácios financeiros mais

críticos para medir o desempenho do contratante são: rentabilidade, alavancagem, liquidez, autonomia

financeira e o valor acrescentado dos funcionários da empresa. Esta última variável é particularmente

importante na indústria da construção, pois esta depende muito da qualidade da força de trabalho para

ser rentável. Em termos da definição dos indicadores, a rentabilidade mede o lucro da empresa antes de

impostos e juros. O valor acrescentado mede a contribuição do valor acrescentado bruto (diferença entre

o valor da produção e o valor do consumo intermédio) feito por um empregado individual. A autonomia

financeira mede a contribuição de capital no financiamento da empresa para fornecer uma indicação da

solvência a longo prazo. A liquidez mede a capacidade da empresa para cumprir as obrigações

financeiras de curto prazo. Finalmente, a alavancagem corresponde à relação entre o capital próprio e os

créditos aplicados nas operações da empresa e mede o grau de risco a que empresa está sujeita.

O artigo de Watt, Kaysis, & Willey (2009) apresenta os resultados de um estudo que procura elaborar um

modelo de avaliação de concursos e dos critérios de seleção do empreiteiro para uso em futuras

pesquisas. O estudo incluiu uma análise da literatura sobre gestão da seleção do empreiteiro e avaliação

de propostas assim como um inquérito. Para cada uma, desenvolve uma lista de todos os critérios

identificados. Na categoria da situação financeira, após a revisão literária, os autores listaram os

seguintes fatores: análise de contas, rating de crédito e liquidez. Com base nos inquéritos realizados no

12

estudo, concluíram que a solidez, a capacidade financeira, e o volume de negócios são os pontos mais

focados pelos inquiridos.

Para concluir, El Yamany, Basha, & Zayed (2007) apresentaram um modelo de avaliação de

desempenho a fim de fornecer uma ferramenta adequada para os administradores de empresas,

proprietários, acionistas e agências de fomento avaliarem o desempenho das empresas de construção. O

modelo desenvolvido também pode ajudar a gestão da empresa para tomar decisões de gestão

adequadas. Os rácios apresentados no estudo foram:

- Liquidez: quociente entre o ativo circulante sobre passivo circulante. Quanto maior a taxa, maior a

probabilidade de a empresa ser capaz de cumprir as suas responsabilidades. A proporção de 2 para 1 ou

mais elevada é desejável.

- Dívida líquida sobre património. Quanto maior este índice, menor a proteção existente para os credores.

Se os passivos totais excederem o património líquido, os credores detêm mais da empresa que os

acionistas. A diferença entre esta relação e o passivo circulante sobre o património é que este aponta o

tamanho relativo da dívida de longo prazo, o que pode sobrecarregar a empresa, com taxas de juros

substanciais.

- Ativo imobilizado sobre património líquido. Mostra a percentagem de ativos fixos em relação ao capital

total. Geralmente, quanto maior esta percentagem, mais a empresa está vulnerável a mudanças do clima

de negócios. O capital está congelado na forma de imobilizado e a margem para os fundos operacionais

torna-se demasiado estreita para apoiar as operações do dia a dia.

- Receitas sobre fundo de maneio. Mede o número de vezes que o fundo de maneio vira anualmente em

relação às vendas líquidas. A alta taxa de rotatividade pode indicar overtrading (volume excessivo de

vendas em relação ao investimento no negócio). A alta rotatividade pode indicar que o negócio depende

excessivamente em crédito concedido por fornecedores ou bancos.

- Retorno dos ativos. É o principal indicador de rentabilidade de uma empresa. Uma alta percentagem diz

que a empresa é bem gerida e tem um bom retorno sobre os ativos.

- Retorno do património líquido. Mede a capacidade de gestão de uma empresa para obter um retorno

adequado sobre o capital investido pelos proprietários.

Na Tabela 3 estão resumidos os principais estudos citados na revisão bibliográfica.

13

Tabela 3 – Estudos analisados na revisão bibliográfica

Autores Ano Estudo

Alzahrani & Emsley 2012 Estudo sobre o impacto dos atributos dos empreiteiros no sucesso do empreendimento a partir de uma avaliação pós-construção

Russell, Hancher, & Skibiewski 1992 Avaliação da indústria no impacto de 20 fatores de decisão e 67 subfatores de pré-qualificação de empreiteiros

Hatush & Skitmore 1997 Identificação dos critérios de seleção mais e menos importantes de uma lista de 20 dos critérios mais utilizados

Palaneeswaran & Kumaraswamy 2001 Identificação de critérios universais de pré-qualificação e criação de um modelo geral para pré-qualificação de empreiteiros

Nieto-Morote & Ruz-Vila 2012 Modelo de pré-qualificação baseado em 6 critérios essenciais

Thomas & Skitmore 2001 Análise dos custos e benefícios da boa seleção de empreiteiro

El-Sawalhi, Eaton, & Rustom 2007 Estado de arte dos modelos de pré-qualificação

Al-Reshaid & Kartam 2005 Modelo de pré-qualificação em três fases para obras públicas no Kuwait

IIker Topcu 2004 Modelo multicritério de pré-qualificação para obras públicas na Turquia

Huang, Ping Tsang, Liao, & Yin 2013 Modelo de pré-qualificação financeira baseado no fluxo de caixa (cash flow) dos concorrentes

Abidali & Harris 1995 Modelo para prever o risco de insucesso das empresas de construção do ponto de vista económico

Horta, Camanho, & Moreira da Costa

2012 Análise das tendências de desempenho da indústria de construção portuguesa e identificação os fatores que promovem a excelência e a inovação no setor

Watt, Kaysis, & Willey 2009 Modelo de avaliação de concursos e dos critérios de seleção do empreiteiro

El Yamany, Basha, & Zayed 2007 Modelo de avaliação de desempenho a fim de fornecer uma ferramenta adequada para a avaliação do desempenho das empresas de construção

14

15

3 Análise de Procedimentos Concursais Internacionais

3.1 Considerações iniciais

Neste capítulo analisa-se o modo de avaliação da capacidade financeira de empresas na contratação

pública a nível internacional, focando essencialmente os países onde as empresas de construção

portuguesas desenvolvem negócios, assim como países com realidades culturais distantes da nossa de

forma a ter um estudo o mais abrangente possível.

Começa-se no mercado europeu (3.1) pela diretiva europeia que tem por objetivo uniformizar os códigos

de contratos públicos dos membros da União Europeia. Depois, analisa-se os países mediterrânicos

latinos, como a Espanha, França ou Itália, culturalmente mais próximos de Portugal. Seguidamente os

países das ilhas britânicas, Reino Unido e Irlanda, os países do leste europeu, Polónia, República Checa

e Roménia, e terminando nos países escandinavos, Suécia e Noruega.

Passando para o continente americano (3.2), investiga-se a legislação dos Estados Unidos, segundo

maior mercado de construção do mundo depois da China, e do Brasil, país em forte expansão e onde

muitas construtoras portuguesas apostaram nos últimos anos.

No continente africano (3.3), estuda-se os métodos de avaliação de Angola e Moçambique, países com

fortes ligações históricas e económicas a Portugal.

Para finalizar, analisa-se a legislação de um dos maiores produtores de petróleo do mundo, que está

atualmente a realizar um grande programa de investimento em obras públicas, a Arábia Saudita (3.4).

3.2 Mercado Europeu

3.2.1 Diretiva Europeia

Para a comissão europeia (fonte www.ec.europa.eu), as diretivas europeias (DE) fixam os objetivos a

atingir pelos estados-membros, delegando nestes a escolha dos meios para o fazer. Podem ter como

destinatários um, vários, ou a totalidade dos estados-membros. Para que os princípios estabelecidos nas

diretivas produzam efeitos ao nível do cidadão, o legislador nacional tem de adotar um ato de

transposição para o direito nacional dos objetivos definidos na diretiva. As diretivas preveem uma data-

limite para serem transpostas para o direito nacional: os estados-membros dispõem de uma margem de

manobra que lhes permite ter em consideração as especificidades nacionais. A transposição deve ser

efetuada no prazo estabelecido na diretiva.

As diretivas são utilizadas para harmonizar as legislações nacionais, nomeadamente com vista à

realização do mercado único. É neste contexto que se insere a DE nº18 de 31 de março de 2004 relativa

à coordenação dos processos de adjudicação dos contratos de empreitada de obras públicas, dos

contratos públicos de fornecimento e dos contratos públicos de serviços.

16

Segundo o artigo 47.º desta diretiva, a capacidade económica e financeira das empresas candidatas

deve ser avaliada por um ou mais dos seguintes elementos:

- Declarações bancárias adequadas ou, se necessário, prova de que se encontra seguro contra riscos

profissionais;

- Balanços ou extratos de balanços, sempre que a publicação de balanços seja exigida pela legislação do

país onde o operador económico estiver estabelecido;

- Uma declaração relativa ao volume de negócios global e, eventualmente, ao volume de negócios no

domínio de atividades objeto do contrato, respeitante no máximo aos últimos três exercícios disponíveis,

em função da data de criação ou do início das atividades do operador económico, desde que estejam

disponíveis as referências desse volume de negócios.

Assim, a comissão europeia recomenda que nos diferentes estados membros, a avaliação da capacidade

financeira das empresas concorrentes em concursos públicos deve passar por declarações bancárias

que atestem a solidez financeira da empresa ou de informações contidas nos balanços anuais da

empresa. Estes balanços deverão ser auditados por empresas especializadas que aprovam as contas.

À partida, no seio da União Europeia (UE) não se deve encontrar legislação diferente porque a diretiva

implica uma uniformização ao nível do resultado, só quanto ao processo é que os países podem variar.

De seguida, analisa-se a aplicação desta diretiva para diferentes países europeus.

Deve-se ressalvar que a DE 2004/18/CE já foi revogada pela DE 2014/24/UE de 26 de fevereiro de 2014.

Mas como esta nova DE é recente, os países membros da UE ainda não transpuseram esta diretiva para

as respetivas legislações de contratação pública nacionais.

3.2.2 Espanha

Sendo Espanha o único país vizinho de Portugal, o mercado espanhol pode ser interessante para as

empresas de construção portuguesas.

Em Espanha, é a Ley de 30 de outubro de 2007, que rege os contratos do setor público. O artigo 64.º

descreve os processos de análise da capacidade financeira das empresas concorrentes.

A solidez económica e financeira da empresa pode ser feita por um ou mais dos seguintes meios:

a) Declarações bancárias adequadas ou, se necessário, um seguro responsabilidade civil.

b) As demonstrações de resultados aprovadas pela Junta Comercial ou no registo oficial, conforme

apropriado. As empresas que não estão obrigadas a apresentar as contas à Junta Comercial, podem

apresentar os seus livros de contabilidade devidamente legalizado.

c) Declaração do volume de negócios global e, eventualmente, do volume de negócios na área de

atividades do contrato, com base no máximo aos últimos três exercícios.

17

Constata-se que a lei espanhola segue integralmente a diretiva europeia, deixando a liberdade à entidade

contratante de exigir os rácios que achar mais apropriados, desde que estes constem num dos

documentos legalmente exigidos.

3.2.3 França

Dados de 2013 apresentados pela Deloitte (2014) no estudo European Powers of Construction, indicam

que no “top 10” das maiores construtoras europeias, quatro são francesas, sendo que a maior construtora

europeia é a francesa Vinci com um volume de negócios de 40.338 milhões de euros em 2013. Revela-se

desta forma interessante perceber de que forma a legislação deste país está adaptada a uma indústria

com um peso tão grande.

No código dos mercados públicos francês, o artigo 45.º – Documentos exigíveis, apresentação de

documentos e informações fornecidas pelos candidatos – diz:

A entidade adjudicante pode exigir aos candidatos informações ou documentos para avaliar a sua

experiência, capacidade técnica e financeira (...).

A lista de tais informações e documentos deve ser promulgada por despacho do Ministro da Economia.

Quando a entidade adjudicante decide fixar níveis mínimos de capacidade, apenas pode ser exigido aos

candidatos níveis mínimos de capacidade proporcionais ao objeto do contrato. Os documentos,

informações e mínimos de capacidade exigidos são especificados no anúncio do concurso público ou, na

ausência de tal notificação, nos documentos de consulta.

O despacho a que este artigo faz alusão é o decreto NOR: ECOM0620008A de 28 de agosto de 2006

que estabelece a lista de informações e documentos que podem ser exigidos para os candidatos nos

contratos celebrados por entidades adjudicantes. Nele estão listados os documentos que podem ser

exigidos. A lista de documentos exigíveis é extensa. Apresenta-se de seguida os documentos que podem

ser úteis para aferir a capacidade financeira do concorrente:

- Declaração do volume de negócios global e do volume de negócios relativo ao fornecimento de serviços

ou trabalho coberto pelo contrato, feito ao longo dos três últimos anos;

- Declaração bancária adequada ou prova de um seguro de riscos profissionais;

- Balanços ou extratos dos balanços dos três últimos anos, aos operadores económicos que estão

obrigados por lei a apresentar estes balanços;

- Declaração relativa ao efetivo médio e ao número de pessoal anual dos últimos três anos do candidato;

- Apresentação de uma lista de obras realizadas nos últimos cinco anos, acompanhada de certificados de

boa execução relativos às obras mais importantes. Estes certificados devem indicar o valor, hora e local

de obras e referir se foram efetuadas de acordo com as regras e concluídas com sucesso.

18

Na legislação francesa, apenas estão explicitados na lei francesa os documentos que podem ser exigidos

no concurso. Destacam-se, para além dos documento já referidos, o número de efetivos médio da

empresa e a lista de obras já realizadas. Fica à consideração da entidade adjudicante definir os requisitos

mínimos para a capacidade financeira.

3.2.4 Itália

Continuando pelos países do sul da Europa, a lei que rege a contratação pública em Itália é o Codice dei

contratti pubblici. Este código, aprovado em 2006, rege-se pela diretiva europeia 2004/18/CE.

No artigo 41.º, estão explicitados os documentos que podem ser pedidos para averiguar a capacidade

financeira do concorrente.

1. Na aquisição de bens ou serviços , a demonstração da capacidade financeira e económica por parte

das empresas concorrentes pode ser feita por um ou mais dos seguintes documentos:

a) Uma declaração de pelo menos dois bancos ou corretoras autorizadas;

b) Balanços ou extratos dos balanços, ou declaração assinada;

c) Uma declaração sobre as vendas globais da empresa e da quantidade dos serviços ou fornecimentos

na área do concurso , realizados nos últimos três anos.

2. As entidades adjudicantes devem especificar no contrato a exigência que devem ser cumpridas pelo

participante , e todas as referências que estão a ser produzido. Os documentos referidos no nº 1 , alínea

b), não podem ser exigidos aos prestadores de serviços sediados em Estados Membros que não exijam

a publicação das demonstrações financeiras.

Como em França e Espanha, a legislação italiana não impõe nenhum requisito obrigatório para a

avaliação da capacidade financeira das empresas concorrentes. A legislação específica que documentos

podem ser usados nessa avaliação. Os documentos exigidos são os mesmos que constam na diretiva

europeia.

3.2.5 Reino Unido

Os países anglo-saxónicos são conhecidos pelo rigor no tratamento de assuntos económicos.

No Reino Unido, a legislação sobre a contratação pública está compilada na Public Contracts Legislation

de 2006. Este documento é relativamente pequeno quando comparado com o de outros países europeus,

pois só contém 50 artigos. No artigo 24.º - Informações quanto à capacidade económica e financeira –

está escrito que:

1. Para avaliar se um operador económico possui todos os padrões mínimos de capacidade económica e

financeira exigidos pela entidade adjudicante, a entidade adjudicante pode tomar em consideração uma

qualquer das seguintes informações:

19

i) Declarações bancárias adequadas dos operadores económicos ou ,se for o caso, prova de um seguro

de riscos profissionais;

ii) Declarações de contas ou extratos dessas contas relativos ao negócio do operador económico em que

a publicação da declaração é exigida pela legislação do Estado em que o operador económico estiver

sediado;

iii) Se for o caso, uma declaração, que abrange os três últimos exercícios do operador económico, onde

constem:

a) O volume de negócios global da empresa;

b) Se necessário, o volume de negócios em relação ao trabalho, obras, bens ou serviços que sejam de

um tipo semelhante ao objeto do contrato público.

2. Caso as informações especificadas no parágrafo 1) não sejam adequadas para um caso particular, a

entidade adjudicante pode exigir ao operador económico que forneça outras informações para

demonstrar a capacidade económica e financeira do operador económico .

3. A entidade adjudicante pode requerer informações a prestar em conformidade com o parágrafo 1. ou 2.

devem especificar no anúncio de concurso ou no convite à apresentação de propostas a informação que

o operador económico deve fornecer .

4. Quando um operador económico não puder por uma razão válida para fornecer as informações que a

entidade adjudicante se necessário, a entidade adjudicante qualquer outra informação fornecida pelo

operador económico que a entidade adjudicante considere adequado.

3.2.6 República da Irlanda

Na República da Irlanda a adjudicação de contratos públicos é regida pela Statutory Instrument nº

329/2006 - European Communities (Award of Public Authorities’ Contracts) Regulations. Tal como o

nome indica, esta legislação segue estritamente a diretiva europeia. No capítulo 2 relativo aos critérios de

seleção das propostas, o artigo 55.º – Capacidade económica e financeira – diz:

1. A entidade adjudicante pode aceitar como prova da capacidade económica e financeira de um

operador económico um ou mais dos seguintes documentos:

a) Uma declaração apropriada de um banco ou, se necessário, prova de que o operador tem um seguro

de riscos profissionais;

b) A apresentação de uma demonstração financeira relativa ao negócio do operador ou uma cópia de

uma tal declaração , mas somente se a declaração for necessária para ser publicada sob a lei do país em

que o operador está estabelecido ou exerça a sua atividade ;

c ) Uma declaração sobre:

20

i) Volume de negócios global do operador

ii) Se for o caso, o volume de negócios no tipo de negócio abrangidos pelo contrato proposto, por um

período determinado, normalmente não superior aos 3 anos precedentes.

2. Um operador económico pode, se necessário e em relação a um contrato específico, recorrer aos

serviços de outras entidades, independentemente da natureza jurídica do vínculo que o operador tenha

com elas. Nesse caso, o operador deve certificar à entidade adjudicante que terá à sua disposição os

recursos necessários para a execução do contrato (por exemplo, através do compromisso de que essas

outras entidades têm disponíveis os recursos necessários).

3. Sob as mesmas condições, um agrupamento de operadores económicos pode recorrer às

capacidades dos participantes no grupo.

4. Um operador económico que, por qualquer razão válida, não seja capaz de apresentar as referências

pedidas pela entidade adjudicante pode provar a sua capacidade económica e financeira por qualquer

outro documento aceitável pela autoridade adjudicante.

Constata-se que as leis do Reino Unido e da Irlandesa são muito semelhantes e seguem mais uma vez a

diretiva europeia de forma muito próxima. Nestas leis não existe nenhum parâmetro ou expressão que

avalie a capacidade financeira dos concorrentes. Fica ao critério da entidade adjudicante definir no

concurso este critério. A avaliação da capacidade financeira deve ser feita por dados que constem num

dos documentos legalmente exigíveis.

3.2.7 Polónia

De seguida, analisa-se a legislação de alguns países de leste, países onde as construtoras portuguesas

têm vindo a apostar na última década.

A Polónia é um destes casos. Este país, que entrou na UE no dia 1 de janeiro de 2004, é um dos países

a nível europeu que foi menos atingido pela crise económica, tendo registado um crescimento sustentado

ao longo dos últimos anos.

O Código de Contratos Públicos polaco, promulgado a 29 de janeiro de 2004, descreve no artigo 22.º as

condições mínimas para um candidato poder concorrer aos concursos públicos.

1. Os operadores económicos elegíveis para competir por um contrato deverão obedecer às seguintes

condições:

i) Autorizações para realizar atividades ou ações específicas exigidas pela lei;

ii) Conhecimento e experiência ;

iii) Capacidade pessoal e técnica para a boa execução do contrato;

iv) Capacidade económica e financeira. (...)

21

3. A forma do cumprimento das condições referidas no nº1 devem ser incluída no anúncio de concurso

ou, no caso do procedimento em que a publicação de um anúncio de concurso não é necessária, no

convite à negociação .

4. As exigências referidas no nº1 , devem estar relacionadas e ser proporcionais ao objeto do contrato.

5. As condições previstas no nº1 e a descrição da forma de cumprimento das condições servem para

verificar se o operador económico em questão é capaz de executar o contrato de maneira correta.

No dia 19 de fevereiro de 2013 foi publicada, no diário oficial polaco no item 231, a lista de documentos

que podem ser solicitados pela entidade adjudicante ao operador económico:

A entidade adjudicante pode solicitar os seguintes documentos:

1. A certidão das autorizações para realizar atividades ou ações específicas, se tais autorizações forem

obrigatórias por lei, em especial, nas concessões, permissões ou licenças;

2. Uma lista das obras concluídas nos últimos cinco anos antes do prazo para a apresentação das

propostas ou pedidos de participação no procedimento, indicando durante esse período, o tipo, valor,

data e local de execução, e anexando as provas referentes às obras mais importantes que atestam que

estas obras foram devidamente realizados e que indicam que foram conduzidas de acordo com a boa

prática de engenharia e concluídas corretamente; (...)

6. Informações sobre a média anual de empregados por parte do operador económico de serviços ou

obras e o número de quadros, dentro do período dos últimos três anos antes do termo do prazo para

apresentação das propostas ou pedidos de participação no procedimento, e se a duração da atividade

económica for mais curta, dentro desse período; (...)

9. Relatório financeiro ou parte dele, e se for objeto de um exame pelo auditor ao abrigo das disposições

de contabilidade, o parecer sobre o relatório financeiro, e no caso dos operadores económicos não serem

obrigados a preparar um relatório financeiro, outros documentos que comprovem o seu volume de

negócios, bem como suas obrigações e contas a receber, por um período não superior aos 3 últimos

exercícios , e se a duração da atividade económica for mais curta, para esse período;

10. Informações de um banco ou cooperativa de poupança e crédito em que o operador económico é

titular de conta, confirmando o montante de recursos financeiros detidos ou a solvabilidade do operador

económico, emitido não menos de 3 meses antes do termo do prazo de apresentação das propostas ou

pedidos de participação no procedimento;

11. Apólice de seguro paga, e em caso de falta da mesma, outro documento que confirme que o

operador económico está seguro contra responsabilidade pessoal no âmbito da atividade do operador

económico, com referência ao objeto do contrato.

Constata-se que a legislação polaca é a mais exigente dos países estudados até este ponto. Pode ser

solicitado ao concorrente uma lista dos trabalhos efetuados nos últimos cinco anos assim como número

22

médio de trabalhadores da empresa. Nas outras legislações as listas dos trabalhos efetuados apenas são

referentes aos últimos três exercícios. De resto, as exigências e documentos exigidos são semelhantes.

3.2.8 República Checa

Tal como a Polónia, a República Checa entrou na UE em janeiro de 2004. Esta entrada e consequente

disponibilização de fundos europeus para a construção de infraestruturas faz deste país, tal como outros

países do bloco de leste da ex-URSS, um mercado apetecível para a internacionalização das empresas

de construção portuguesas.

A lei da contratação pública checa aprovada pelo Parlamento na portaria nº137/2006 apresenta, no artigo

55.º, os pré-requisitos da qualificação económica e financeira:

1. A entidade adjudicante tem o direito de exigir a apresentação de uma ou mais peças das seguintes

provas para demonstrar o cumprimento da qualificação económico-financeira do operador económico :

a) Uma apólice de seguro, que consista num seguro de riscos profissionais, celebrado pelo operador

económico;

b) O último balanço elaborado sob as normas legais;

c) Uma declaração sobre o volume de negócios global do operador económico segundo as normas legais

e, se for o caso, o volume de negócios realizado pelo operador económico, tendo em conta o objeto do

contrato público, por não mais do que os 3 períodos contabilísticos anteriores.

Se o operador económico se estiver estabelecido mais tarde, será suficiente que ele envie os dados

sobre seu volume de negócios para todos os períodos contabilísticos desde da data da sua criação ou a

partir do início da atividade.

2. A entidade adjudicante tem o direito de exigir, além dos documentos nos termos do nº55 1) , também

outras provas que demonstrem o cumprimento das qualificações económicas e financeiras por parte do

operador económico.

3. No que respeita aos pré-requisitos acerca da qualificação económica-financeira, a entidade

adjudicante será obrigada a:

a) Fixar os limites de informações e provas necessárias;

b) Indicar a forma de demonstração do cumprimento de pré-requisitos e qualificações;

c) Definir o nível mínimo de tais pré-requisitos de qualificação correspondentes ao tipo, extensão e

complexidade do objeto do contrato público.

4. Se o operador económico não puder provar por razões objetivas o cumprimento das qualificações

económicas e financeiras de uma forma estabelecida no nº55 3), tem o direito de provar que cumpre os

23

requisitos com outras provas equivalentes, a menos que a entidade adjudicante as rejeite por razões

objetivas.”

Para além dos documentos habituais, a lei checa permite que a entidade adjudicante exija aos

concorrentes outros documentos para provar a sua capacidade financeira. Estes documentos são

escolhidos pela entidade adjudicante no momento da elaboração do concurso.

3.2.9 Roménia

A Roménia faz parte da UE desde 1 de janeiro de 2007 e também é um dos países de leste onde as

empresas portuguesas de construção estão presentes.

A portaria nº34/2006 é o documento que rege a adjudicação de empreitadas de obras públicas na

Roménia, foi aprovada a 19 de abril de 2006 e atualizado no dia 23 de junho de 2009. O parágrafo 4

deste documento – Situação económica e financeira – contém nos artigos 184.º e 185.º os documentos

exigíveis em concursos públicos na avaliação da capacidade financeira:

Artigo 184.º:

1. A entidade adjudicante tem o direito de pedir ao operador económico participante no processo de

adjudicação de um contrato público que prove a sua situação económica e financeira .

2. Quando a entidade adjudicante solicitar a demonstração da situação económica e financeira, então é

obrigada a indicar na documentação do concurso, as informações que os concorrentes devem submeter

para essa finalidade.

Artigo 185.º:

1. Demonstração da situação económica e financeira é realizada, quando necessário, através da

apresentação de um ou mais documentos relevantes, tais como:

a) Declarações bancárias adequadas ou, se necessário , prova de um seguro de riscos profissionais;

b) Balanços ou extratos de balanços, sempre que a publicação dos balanços seja exigida pela legislação

do país do candidato;

c) Declarações de volume de negócios global e, eventualmente, o volume de negócios na área de

negócio relacionada com o objeto do contrato num período anterior, tendo como alvo a atividade até três

anos, na medida em que a informação esteja disponível; neste último caso, a entidade adjudicante tem a

obrigação de ter em conta a data em que foi criada.

2. Quando, por razões objetivas , operador económico devidamente justificada não é capaz de fornecer

os documentos solicitados pela entidade adjudicante, tem o direito de provar a sua capacidade

económica e financeira por qualquer outro documento que a entidade adjudicante julgue correto, na

medida em que elas refletem uma imagem verdadeira da situação económica e financeira do candidato.

24

A legislação romena é mais próxima dos países latinos do que a dos seus vizinhos do leste da Europa,

referenciando apenas os documentos propostos pela diretiva europeia.

3.2.10 Suécia

Os países da Escandinávia são países ricos, evoluídos socialmente e com índices de desenvolvimento

muito elevados.

Em 2014, a Suécia ocupa a décima segunda posição no ranking do índice de desenvolvimento humano

(IDH) segundo o relatório anual realizado pelo Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (2014).

A sua população beneficia de níveis de educação e de informação elevados, o que contribui para uma

sociedade equilibrada e respeitadora. A corrupção é praticamente inexistente e todos os processos que

envolvam o Estado são marcados pela transparência e eficácia. Assim, é interessante analisar a

legislação deste país para perceber se este rigor está explicitado nas leis ou é intrínseco à cultura

nórdica.

A lei sueca de contratos públicos, aprovada pela portaria nº1091/2007, tem no capítulo 11 - Verificação

da aptidão dos fornecedores e seleção dos participantes, etc – um subcapítulo intitulado capacidade

económica dos fornecedores, que se desenvolve em três artigos:

Artigo 7.º:

A prova da capacidade económica de um fornecedor pode ser constituída por :

1. Uma declaração do volume de negócios global da empresa e, se for caso disso, do volume de

negócios na área coberta pelo contrato para os três últimos exercícios ou período mais curto em que a

operação foi conduzida;

2. Balanços ou extratos dos balanços;

3. Declarações de bancos ou, se necessário, seguro de riscos profissionais para a operação.

Artigo 8.º:

A entidade adjudicante deve especificar no anúncio de concurso ou no convite à apresentação de

propostas que documento(s) e informações mencionadas no artigo 7 º devem ser produzidos e que

outros documentos devem ser apresentados. Um balanço ou extrato do balanço só precisa ser

produzido, se for obrigatório de acordo com a lei do país onde o fornecedor esteja domiciliado .

Artigo 9.º:

Se, por qualquer razão válida, o fornecedor é incapaz de produzir os documentos e informações

solicitados pela entidade adjudicante, o fornecedor pode provar a sua capacidade económica por algum

outro documento que a entidade contratante considere adequado.

25

Constata-se que a legislação sueca é similar à dos restantes países da UE e segue a diretiva europeia.

Não existe na sua legislação nenhum elemento diferenciador na avaliação da capacidade financeira dos

concorrentes de concursos públicos.

3.2.11 Noruega

A Noruega é outro país escandinavo e ocupa o primeiro lugar do ranking do IDH desde 2001. É

interessante consultar a sua legislação, uma vez que a Noruega não faz parte da UE apesar de manter

laços estreitos com os seus parceiros europeus.

Os contratos públicos são regidos pela Lei de Contratação Pública. Esta lei estabelece a base jurídica

nacional para o processo de compras governamentais, nas quais se incluem obviamente as obras

públicas. Neste documento, no capítulo 17 – Base para a concorrência – artigo 8.º - Documentação da

situação financeira e económica do empreiteiro – consta o seguinte:

1. Como prova da situação financeira e económica do fornecedor, os seguintes documentes são aceites:

a) Um extrato bancário adequado ou um seguro de responsabilidade civil relevante;

b) Apresentação das contas anuais da empresa, ou extratos das mesmas;

c) Uma declaração do volume de negócios global da empresa e, se for o caso , o volume de negócios da

área coberta pelo contrato para um máximo dos últimos três exercícios disponíveis, em função da data

em que a empresa foi criada, na medida em que estas informações estejam disponíveis .

2. Um fornecedor pode, para um determinado contrato, contar com a capacidade de outras empresas,

independentemente da natureza jurídica do vínculo existente entre elas. Nesse caso, o fornecedor deve

demonstrar à entidade adjudicante que terá disponíveis os recursos necessários, por exemplo, através da

apresentação de uma declaração de compromisso.

3. Nas mesmas condições, um grupo de prestadores de serviços pode recorrer às capacidades de outras

entidades.

4. A entidade adjudicante tem de especificar nos documentos do concurso as provas que foram

mencionadas no 1), bem como qualquer outra documentação que deve ser apresentada .

5. Se o contratante tem razões válidas para não ser capaz de apresentar a documentação solicitada pela

entidade adjudicante, o fornecedor pode provar a sua capacidade económica e financeira por qualquer

outro documento que a entidade adjudicante considere adequado.

6. A documentação deve ser feita de acordo com o contrato, e deve ter em conta os interesses legítimos

do fornecedor no que diz respeito à proteção dos segredos comerciais sobre suas empresas.

Apesar de não fazer parte da UE, a legislação norueguesa, aprovada em 2007, segue as diretivas

europeias e a avaliação da capacidade financeira dos candidatos em concursos públicos é feita com

26

base nos mesmos documentos, cabendo à entidade contratante explicitar no concurso quais os níveis

mínimos exigidos.

3.3 Mercado Americano

3.3.1 Estados Unidos da América

Apesar da crise de 2008, os Estados Unidos da América (EUA) continuam a ser a maior economia

mundial. Segundo estatísticas do governo americano (fonte usaspending.gov), as compras

governamentais ascendem a mais de 7 biliões de dólares anuais.

Estas aquisições são reguladas pelo Regulamento de Aquisição Federal, que prevê no capítulo 9 –

Qualificações do empreiteiro – no artigo nº 9.104-1 que:

Para ser considerado como elegível, um candidato a contratante deve:

a) Ter recursos financeiros adequados para executar o contrato, ou ter capacidade de obtê-los.

No artigo nº 9.104-3, está descrita a capacidade de obter estes recursos:

Quando um candidato a contratante tem recursos suficientes e se propõe a executar o contrato, o

adjudicante oficial deve exigir a comprovação da capacidade do candidato a contratante para obter os

recursos necessários. A evidência aceitável consiste normalmente num compromisso ou acordo explícito,

que vai estar presente no momento da adjudicação do contrato, para alugar, comprar ou adquirir as

instalações necessárias, equipamentos, outros recursos, ou pessoal.

No subcapítulo nº 9.105 – Procedimentos – está descrito no nº 9.105-1 como esta informação é obtida

por parte da entidade contratante:

Geralmente, a entidade contratante deve obter informações sobre a responsabilidade dos potenciais

contratantes, inclusive solicitando o preenchimento do questionário (survey) quando necessário.

O questionário relativo à capacidade financeira é o impresso SF1407 que pode ser consultado no Anexo

1.

Neste documento são agrupados os valores mais relevantes dos relatórios de contas da empresa.

Em primeiro lugar, são pedidos os valores do último exercício do concorrente para avaliar situação

financeira da empresa. Os valores pedidos são: numerário, contas a receber, inventário, outros ativos

circulantes, total de ativos circulantes, ativo imobilizado, passivo circulante, passivo longo prazo, passivo

total, património líquido e capital de giro. Também os rácios ativo circulante sobre passivo circulante e

total passivo sobre património líquido têm de ser assinalados.

Para os últimos três anos de atividade, os montantes solicitados são as vendas líquidas e lucros líquidos

antes de impostos. Também é necessário declarar se a empresa tem algum acordo financeiro com

terceiros e se recebe ajudas do estado.

27

Finalmente é pedido o rating de crédito e o valor das vendas da empresa no último ano e meio a privados

e ao estado.

Todos estes valores constam nos relatórios de contas das empresas. Este formulário reflete o

pragmatismo norte-americano, uma vez que a entidade contratante poupa tempo e recursos na análise

dos candidatos porque obtém os dados de que necessita de forma uniformizada e assim não tem de

procurá-los nos relatórios de contas dos diferentes candidatos.

3.3.2 Brasil

Nos últimos anos, o Brasil tem tido um grande crescimento económico e, em 2014, era já a sétima maior

economia do mundo, segundo dados do FMI (fonte imf.org). Apesar de ser um mercado difícil de entrar,

com políticas de proteção de mercado que beneficiam as empresas locais, as empresas portuguesas

começam pouco a pouco a desenvolver as suas atividades neste mercado. Além do mais, é um mercado

apetecível devido à grande quantidade de obras ligadas à realização do Mundial de futebol 2014 e dos

Jogos Olímpicos de 2016.

A lei nº8666 de 21 de junho de 1993 institui as normas para licitações e contratos da administração

pública. No artigo 31.º estão as formas e documentos para a avaliação da capacidade financeira:

A documentação relativa à qualificação económico-financeira limitar-se-á a:

I - Balanço patrimonial e demonstrações contáveis do último exercício social, já exigíveis e apresentados

na forma da lei, que comprovem a boa situação financeira da empresa, vedada a sua substituição por

balancetes ou balanços provisórios, podendo ser atualizados por índices oficiais quando encerrado há

mais de 3 (três) meses da data de apresentação da proposta;

II - Certidão negativa de falência ou concordata expedida pelo distribuidor da sede da pessoa jurídica, ou

de execução patrimonial, expedida no domicílio da pessoa física;

III - Garantia, nas mesmas modalidades e critérios previstos no "caput" limitada a 1% (um por cento) do

valor estimado do objeto da contratação.

§ 1º A exigência de índices limitar-se-á à demonstração da capacidade financeira do licitante com vistas

aos compromissos que terá que assumir caso lhe seja adjudicado o contrato, vedada a exigência de

valores mínimos de facturamento anterior, índices de rentabilidade ou lucratividade.

§ 2º A Administração, nas compras para entrega futura e na execução de obras e serviços, poderá

estabelecer, no instrumento convocatório da licitação, a exigência de capital mínimo ou de patrimônio

líquido mínimo, ou ainda as garantias previstas no § 1o do artigo 56.º desta Lei, como dado objetivo de

comprovação da qualificação econômico-financeira dos licitantes e para efeito de garantia ao

adimplemento do contrato a ser ulteriormente celebrado.

28

§ 3º O capital mínimo ou o valor do patrimônio líquido a que se refere o parágrafo anterior não poderá

exceder a 10% (dez por cento) do valor estimado da contratação, devendo a comprovação ser feita

relativamente à data da apresentação da proposta, na forma da lei, admitida a atualização para esta data

através de índices oficiais.

§ 4º Poderá ser exigida, ainda, a relação dos compromissos assumidos pelo licitante que importem

diminuição da capacidade operativa ou absorção de disponibilidade financeira, calculada esta em função

do patrimônio líquido atualizado e sua capacidade de rotação.

§ 6º A comprovação de boa situação financeira da empresa será feita de forma objetiva, através do

cálculo de índices contábeis previstos no edital e devidamente justificados no processo administrativo da

licitação que tenha dado início ao certame licitatório, vedada a exigência de índices e valores não

usualmente adotados para correta avaliação de situação financeira suficiente ao cumprimento das

obrigações decorrentes da licitação.

A lei brasileira é bastante precisa nos documentos e parâmetros a analisar. Os documentos que podem

ser exigidos são o relatórios de contas, certidão de falência negativa e garantia bancária. Os índices

avaliados devem limitar-se à capacidade financeira do concorrente mas não são especificados quais em

concreto. Estes índices variam consoante a natureza da obra em concurso. O único índice financeiro

explícito na lei brasileira é o património líquido: a entidade adjudicante pode exigir ao concorrente um

património líquido mínimo até 10% do valor do contrato .

3.4 Mercado Africano

3.4.1 Angola

Angola foi um dos primeiros países a receber a internacionalização das construtoras portuguesas,

estando muitas delas já estabelecidas neste país há várias décadas. Com o regresso da paz em 2002,

após mais de 25 anos de guerra civil, a economia angolana tem vindo a crescer, fortemente impulsionada

pela indústria mineira e do petróleo. Angola é hoje em dia vista como um dos países africanos com maior

potencial de desenvolvimento e crescimento. O governo implementou um ambicioso programa de

despesas públicas destinado a encorajar a diversificação económica, e decorrem no país inúmeras obras

de infraestruturas.

Devido ao passado comum de Portugal e Angola, a lei angolana tem muitas semelhanças com a

portuguesa. Na lei de contratação pública está definido no artigo 55.º, relativo aos critérios de

qualificação, que:

A entidade pública contratante pode estabelecer requisitos mínimos de capacidade técnica, profissional e

financeira no programa do procedimento.

Esta capacidade financeira está definida no artigo 57.º:

29

1. Para a avaliação da capacidade financeira dos candidatos ou concorrentes, o programa do

procedimento pode exigir a apresentação dos seguintes documentos:

a) Declarações bancárias adequadas ou prova da subscrição de seguro de riscos profissionais;

b) Balanços e demonstrações de resultados mais recentes, no caso de pessoas coletivas ou declaração

fiscal, no caso de pessoas singulares;

c) Declaração relativa aos últimos três anos sobre o volume global de negócios do concorrente.

2. O programa do concurso pode, excecionalmente, exigir ainda outros elementos probatórios, desde que

os mesmos interessem especialmente à finalidade do contrato.

3. Quando, justificadamente, o candidato ou concorrente não estiver em condições de apresentar os

documentos exigidos, nomeadamente por ter iniciado a sua atividade há menos de três anos, a prova da

sua capacidade financeira pode ser efetuada através de outros documentos que a entidade pública

contratante repute adequados.

Observa-se que a avaliação da capacidade financeira dos empreiteiros nos concursos públicos em

Angola é muito semelhante à praticada nos diversos países da UE analisados anteriormente. Isto é, não

existem requisitos mínimos fixos cabendo à entidade adjudicante escolhê-los durante a redação do

concurso e as formas de prova desta capacidade passam pelos relatórios de contas e declarações

bancárias.

3.4.2 Moçambique

Moçambique é outra das ex-colónias portuguesas que está atualmente em franco desenvolvimento,

apesar da instabilidade política dos últimos tempos. Moçambique é um país ainda muito subdesenvolvido

e ficou em 2014 nas últimas dez posições, mais concretamente em 178º lugar, no ranking do IDH

segundo o estudo do programa das Nações Unidas para o desenvolvimento. Mas as recentes

descobertas de grandes reservas de gás natural redobraram o interesse e os investimentos neste país.

Não obstante, Moçambique tem uma legislação bastante completa no que toca à contratação pública. O

Regulamento de Contratação de Empreitada de Obras Públicas, Fornecimento de Bens e Prestação de

Serviço ao Estado, aprovado a 13 de dezembro de 2005, inspira-se na legislação vigente na Europa. No

artigo 21.º intitulado - Qualificação económico-financeira - está definida a forma da avaliação da

capacidade financeira:

1. São documentos relativos à situação económico-financeira:

a) No caso de pessoa singular:

i. Declaração periódica de rendimentos;

ii. Declaração anual de informação contabilística e fiscal;

30

iii. Declaração de que não há execução judicial do seu património que afete a sua situação financeira.

b) No caso de pessoa coletiva:

i. Declaração periódica de rendimentos;

ii. Declaração anual de informação contabilística e fiscal;

iii. Balanços patrimoniais e demonstrações contabilísticas dos últimos três exercícios fiscais,

apresentados nos termos da lei;

iv. Declaração de que não há pedido de falência contra ela e de que não requereu concordata.

2. Os documentos de Concurso podem ainda exigir que o concorrente tenha:

a) Faturação em atividades similares ao objeto da contratação;

b) Faturação média anual nos três últimos exercícios fiscais de valor igual ou superior ao valor fixado nos

Documentos de Concurso, limitado entre uma e três vezes o valor estimado das obras, bens ou serviços

objeto da contratação;

c) Capital social não inferior ao montante fixado nos Documentos de Concurso, ou património líquido no

último exercício fiscal igual ou superior ao valor fixado nos Documentos de Concurso, não devendo, em

ambos os casos, ser superior a dez por cento do valor estimado das obras, dos bens ou serviços objeto

da contratação;

d) Confirmação de facilidades de acesso a créditos nos montantes especificados nos Documentos de

Concurso.

3. As qualificações económico-financeiras devem ser compatíveis com os encargos a serem suportados

pelo concorrente e proporcionais à sua natureza e dimensão.

4. Os documentos previstos no presente artigo poderão ser dispensados, no todo ou em parte nos casos

de procedimento para a contratação de empreitada de obras, fornecimento de bens e prestação de

serviços de pequena dimensão.

5. No caso de Concurso para Concessão, o capital social ou património líquido estabelecido nos

Documentos de Concurso levará em consideração a soma dos encargos económico-financeiros que a

concessionária deve suportar nos três primeiros anos de vigência da concessão, de acordo com o

orçamento elaborado pela Entidade Concedente, incluindo o valor do preço pela outorga da concessão

durante o mesmo período, se houver.

6. O percentual a ser adotado em relação ao número anterior será determinado por despacho conjunto

dos Ministros que superintendem as áreas de tutela beneficiárias do objeto da contratação e das

Finanças.

31

Para além dos documentos habituais para a avaliação da capacidade financeira, a legislação

moçambicana exige requisitos mínimos bem precisos. Podem ser exigidos aos concorrentes uma

faturação média anual nos três últimos exercícios fiscais de valor igual ou superior entre uma e três vezes

o valor do concurso, e tal como no Brasil, pode ser exigido um capital social ou património líquido mínimo

de até dez por cento do valor do contrato.

3.5 Mercado do Médio Oriente

3.5.1 Arábia Saudita

As empresas de construção portuguesas têm vindo a apostar no Médio Oriente, principalmente nos

países do Golfo Pérsico. Estes países têm um PIB per capita muito elevado fruto da produção de petróleo

e apostaram nos últimos anos numa política de investimento público com grandes obras a serem

promovidas.

A Arábia Saudita é o maior país do Golfo Pérsico e um dos maiores produtores de petróleo do mundo.

Apesar de ser uma monarquia absoluta teocrática, em que a Constituição do país é o Corão, as

autoridades têm feito um esforço para modernizar a legislação do país de forma a torna-lo cada vez mais

competitivo e apelativo ao investimento externo.

Exemplo disso é a lei da contratação pública aprovada em 2006. Nela estão vários artigos que se referem

às exigências financeiras dos vencedores dos concursos:

Artigo 33.º:

a) O licitante vencedor deverá apresentar uma garantia final de 5% (cinco por cento) do valor do contrato

no prazo de dez dias a partir da data de atribuição do lance. Este período pode ser prorrogado por um

período similar. No entanto, se ele não o fizer dentro do prazo especificado, a garantia preliminar não

será devolvida, e as negociações devem ser conduzidas com o próximo lance, de acordo com as

disposições desta Lei .

b) Na compra direta, não é obrigado a apresentar uma garantia final, a menos que seja considerado

necessário pela autoridade governamental contratante. Agências sujeitas às disposições desta Lei,

instituições públicas e empresas nas quais o governo é dono de pelo menos 51% (cinquenta e um por

cento) do seu capital, bem como instituições de caridade e associações de utilidade pública deverão ser

isentos da apresentação da garantia final.

c) A garantia final não será libertada até que o contratante cumpra as suas obrigações e, nos contratos

de obras públicas, até ao final do período de manutenção e à entrega final das obras.

d) Nos contratos de execução continuada, a garantia final será reduzida anualmente de acordo com as

obras realizadas, desde que a garantia não seja inferior a 5% (cinco por cento) do valor dos restantes

trabalhos do contrato.

32

Artigo 34.º:

As garantias serão aceites se estiverem de acordo com uma das seguintes formas :

a) A garantia bancária de um banco local.

b) A garantia bancária de um banco estrangeiro a ser apresentada por meio de um banco local que opere

no Reino.

Artigo 35.º:

Os regulamentos de execução desta Lei devem especificar as condições, prazos, formas e garantias

financeiras.

A lei deste país exige uma garantia bancária no valor de 5% do valor do contrato e esta garantia só será

libertada depois da entrega definitiva da obra. Muitas das legislações vistas anteriormente também

exigiam aos construtores garantias bancárias mas nunca especificavam o montante. De resto, a

legislação faz referência à avaliação capacidade técnica e financeira da empresa (artigo 22.º) mas não

específica de que forma é feita essa avaliação.

3.6 Apreciação Global dos Mercados Internacionais

Na Tabela 4 estão resumidos os principais documentos e requisitos mínimos exigidos na avaliação da

capacidade financeira dos concorrentes em concursos públicos internacionais.

Nos países da UE existe um esforço de uniformização ao nível da legislação. Este esforço também é

partilhado por outros parceiros europeus, fora da UE, como é o caso da Noruega. A legislação dos países

europeus analisados exige como documentos a demonstração de resultados (normalmente, dos últimos

três exercícios), uma declaração bancária e as obras previamente realizadas pela empresa concorrente.

Quanto aos índices, apenas é feita uma referência ao volume de negócios na grande maioria dos países

analisados. Apesar disto, não existe nenhum valor mínimo que as empresas têm de respeitar para

concorrer aos concursos públicos. Cabe à entidade adjudicante, que formula o caderno de concurso,

definir quais os índices mínimos para concorrer à empreitada. Estes índices devem estar contidos nos

relatórios de contas das empresas, de forma a poderem ser verificados.

Nos Estados Unidos, o documento que avalia a capacidade financeira dos concorrentes é um

questionário que tem de ser preenchido pelo concorrente (ver Anexo 1). Nele figuram vários índices mas

na legislação não existe valores ou parâmetros mínimos de exclusão de concorrentes.

No Brasil o enfoque é dado às garantias, apresentadas à entidade adjudicante, da boa situação

financeira da empresa. Relativamente aos índices económicos, pode ser exigido um valor de capital

social mínimo no valor de 10% do valor do concurso.

Os países africanos analisados foram aqueles em que as construtoras nacionais estão fortemente

representadas e que têm um passado comum com Portugal, por serem ex-colónias portuguesas. Angola

33

tem uma legislação alusiva à avaliação financeira de concorrentes em concursos públicos similar à dos

países europeus. Já a lei moçambicana, também é semelhante mas define que nos concursos devem

estar explícitos valores mínimos de faturação e de capital social. Estes valores mínimos dependem do

valor estimado do concurso.

Finalmente, na Arábia Saudita apenas é exigido como documento obrigatório uma garantia bancária.

De uma maneira geral, a avaliação da capacidade financeira em concursos públicos é feita com base nos

mesmos documentos: certidões bancárias, que atestam a solidez financeira da empresa de construção

por uma entidade financeira independente; demonstrações de resultados, auditadas por empresas

especializadas que confirmam a veracidade dos dados; e também lista de obras realizadas, para a

entidade adjudicante perceber que tipo de experiência tem o empreiteiro num determinado tipo de obras

e poder investigar se essas obras foram bem executadas.

Relativamente aos índices, apenas o volume de negócios surge em destaque, sendo quase sempre

referenciado. As legislações analisadas não impõem índices mínimos para a participação nos concursos.

Isto talvez se deva à grande variedade de concursos públicos em termos de custo, duração e

complexidade. Todavia, as entidades adjudicantes têm a liberdade de impor outros parâmetros mínimos

nos programas de concurso.

34

Tabela 4 - Requisitos dos Mercados Internacionais

Índices Documentos

Mercado Países Volume de Negócios

Rating de

Crédito

Número Trabalhadores

Património líquido

Declaração Bancária/Seguro

Riscos Profissionais

Demonstração de Resultados/Balanço

Obras realizadas

Declaração não falência

Europeu

Diretiva UE x x x

Espanha x x x

França x x x x x

Itália x x x

Reino Unido x x x

Irlanda x x x

Polónia x x x x x

República Checa

x x x

Roménia x x x

Suécia x x x

Noruega x x x

Americano

Estados Unidos

x x x

Brasil x x x x x

Africano Angola x x x

Moçambique x x x x x x

Médio Oriente

Arábia Saudita

x

Total 15 1 2 3 15 14 3 2

35

4 Análise da Situação Nacional

4.1 Considerações iniciais

Neste capítulo é analisada a forma como a capacidade financeira das empresas de construção é avaliada

em Portugal, para efeito do ingresso e permanência na atividade da construção (4.1), mas também, no

âmbito dos procedimentos concursais (4.2).

4.2 Ingresso e permanência na atividade

4.2.1 Enquadramento técnico e legal

O Decreto-Lei (DL) nº12/2004, de 9 de janeiro de 2004, estabelece o regime jurídico de ingresso e

permanência na atividade da construção. A titularidade de alvará ou de título de registo é condição

necessária para o exercício da atividade da construção. Estes títulos/documentos certificam as entidades

requerentes para o ingresso e permanência no mercado da construção como entidades construtoras.

Uma empresa detentora de um título de registo somente está legalmente habilitada a realizar trabalhos

no valor máximo de 16.600 € por obra, o que equivale a 10% do valor da classe 1 de habilitação, como

está disposto no artigo 6.º do DL nº12/2004 e na portaria nº14/2004. Dispensa-se o estudo da análise à

capacidade financeira do empreiteiro para obras de reduzido valor, pelo que se analisam apenas os

requisitos para obtenção do alvará.

O artigo 4.º do DL nº12/2004, define que o alvará é um documento intransmissível, ficando o seu titular

autorizado a executar os trabalhos enquadráveis nas habilitações no mesmo relacionadas. O alvará tem

uma validade de um período máximo de 12 meses, caducando no dia 31 de janeiro se não for reavaliado,

segundo o artigo 5.º do DL nº12/2004. Caso não haja lugar à revalidação, a empresa fica inibida de

exercer a atividade. Logo, não basta cumprir com os requisitos para ingressar na atividade para se

permanecer nela, é obrigatório continuar a preencher os requisitos de permanência. É ainda de salientar

que a empresa detentora de Alvará está habilitada tanto a realizar obras públicas como privadas, sempre

de acordo com as suas habilitações.

Existem nove classes de alvará. Cada classe corresponde ao valor limite de cada tipo de trabalho que o

seu titular fica habilitado a realizar. Os valores das classes são publicados em Diário da República. Os

valores hoje em vigor foram publicados no artigo 1.º da portaria nº119/2012, foram posteriormente

corrigidos pela declaração de retificação nº27/2012 estão em vigor desde o dia 1 de maio de 2012. Os

valores das classes atualmente em vigor estão apresentados na Tabela 5.

Em Portugal, a entidade pública que regula e fiscaliza o setor da construção é o Instituto da Construção e

do Imobiliário, I.P. (InCI, I.P.), criado pelo DL nº144/2007, de 27 de abril, e reorganizado pelo DL

nº158/2012, de 23 de julho.

36

Para o ingresso e permanência na atividade de construção, a lei, mais especificamente o artigo 7.º do DL

nº12/2004, exige um conjunto de requisitos, dos quais depende a concessão de alvará:

- Idoneidade Comercial;

- Capacidade Técnica;

- Capacidade económica e financeira.

O artigo 10.º do DL nº12/2004 define que a capacidade económica e financeira é avaliada tendo por base

os seguintes rácios económicos:

- Valores do capital próprio;

- Volume de negócios global e em obra;

- Equilíbrio financeiro considerando os valores mínimos dos indicadores económico-financeiros da

liquidez geral e da autonomia financeira.

Na avaliação da capacidade económica e financeira tem de se fazer a distinção entre um pedido de

ingresso, de permanência ou de reclassificação na atividade da construção.

Para efeitos do ingresso apenas importa avaliar o capital próprio em função do valor da classe. Como

exposto no artigo 11.º do DL nº 12/2004, o valor mínimo do capital próprio tem de ser igual ou superior a

10% do valor limite da maior das classes solicitadas, exceto no que respeita à classe mais elevada em

que o capital próprio deverá ser igual ou superior a 20% do valor limite da classe anterior. Na Tabela 5

estão expostos os valores mínimos exigidos de capital próprio e sublinha-se o facto das entidades

requerentes da classe 1 apenas terem de possuir um capital próprio positivo.

O alvará das empresas tem de ser renovado todos os anos. Esta reavaliação é feita pelo InCI, I. P., como

estipulado no artigo 19.º do DL nº69/2011:

Para efeitos de revalidação do alvará, o InCI, I. P., recolhe e analisa, por via eletrónica, o balanço e a

demonstração de resultados referentes ao exercício anterior, nomeadamente através da Informação

Empresarial Simplificada5 (IES), apresentados pela empresa junto da entidade competente, no prazo

fixado para o efeito nos termos do calendário fiscal.

Uma empresa, para ver o seu alvará renovado, entrega ao InCI, I. P. a IES do último ano fiscal. Deste

documento, o InCI, I. P. verifica os indicadores económicos abaixo descritos.

Para efeitos de permanência na atividade, as condições impostas incluem um limite mínimo do capital

próprio detido no último exercício, presente na Tabela 5, e ainda, cumprindo o artigo 18.º do DL

nº12/2004, limites mínimos estipulados para os custos com pessoal, para o volume de negócios em obra,

para a liquidez geral e para a autonomia financeira.

5 Prestação da informação de natureza fiscal, contabilística e estatística, através de uma declaração única

transmitida exclusivamente por via eletrónica.

37

O valor de custos com pessoal tem de ser igual ou superior a 7% do valor limite da classe anterior à

maior das classes detidas pela empresa. E o valor de volume de negócios em obra tem de ser igual ou

superior a 50% do valor limite da classe anterior à maior das classes que detém e, para a classe 1, um

volume de negócios igual ou superior a 10% do valor limite de obra da classe 1. Porém desde 2013,

estas duas exigências foram abandonadas por despacho superior do InCI, I. P. em que foi determinada a

não consideração das mencionadas exigências no âmbito da apreciação do requisito da capacidade

económica e financeira no procedimento de revalidação.

Finalmente, a empresa tem de deter um valor de 100% para o indicador de liquidez geral e 5% para o

indicador de autonomia financeira.

Estes valores já foram duas vezes alterados e reduzidos. Segundo Pancas Martins (2009), os requisitos

mais difíceis de cumprir por parte das empresas, principalmente numa época de crise económica, são a

liquidez geral e a autonomia financeira. Por isso, os valores da liquidez geral e da autonomia financeira

foram alterados pela Portaria nº 971/2009, de 27 de agosto, atendendo à grave crise económica e

financeira que se iniciou em 2008 e 2009. A liquidez geral baixou de 115% para 105% e a autonomia

financeira baixou de 15% para 10%. Os valores hoje em vigor foram decretados pela Portaria

nº274/2011, de 26 de setembro, e são de 100% para a liquidez geral e 5% para a autonomia financeira.

Basta a empresa não cumprir um dos critérios para haver uma diminuição de classe ou, no limite, se não

verificar as condições da classe 1, um cancelamento de alvará.

O artigo 18.º do DL nº69/2011 salienta que caso as empresas não cumpram qualquer dos valores

mínimos previstos, é igualmente aceite, para a satisfação de qualquer desses valores, o seu

cumprimento por via da média encontrada nos três últimos exercícios. Isto protege as empresas que

tenham tido um ano menos positivo a nível de resultados, para que consigam manter as suas

habilitações, de modo a não serem duplamente penalizadas.

A Tabela 5 apresenta os valores limite das obras por classe assim como as condições económico-

financeiras mínimas para a permanência na atividade da construção para o ano 2015 em Portugal.

4.2.2 Análise dos indicadores financeiros para obtenção de alvará

Para além dos recursos técnicos e humanos, também estão estipulados valores de indicadores

financeiros mínimos para cada classe de habilitações. Anteriormente listaram-se as exigências para cada

classe de habilitações, analisa-se agora mais em detalhe os indicadores financeiros e respetivos valores

mínimos, indicados na Tabela 5, a permanência na atividade da construção.

38

Tabela 5 - Valores limite das obras por classe e valores mínimos de capital próprio, liquidez geral e

autonomia financeira para a permanência na atividade da construção em Portugal para o ano de 2015

Classes Valores Limite das Obras Capital Próprio Liquidez Geral Autonomia Financeira

1 Até 166.000 € Positivo Não aplicável Não aplicável

2 Até 332.000 € Acima de 33.200 €

100% 5%

3 Até 664.000 € Acima de 66.400 €

4 Até 1.328.000 € Acima de 132.800 €

5 Até 2.656.000 € Acima de 265.600 €

6 Até 5.312.000 € Acima de 531.200 €

7 Até 10.624.000 € Acima de 1.062.400 €

8 Até 16.600.000 € Acima de 1.660.000 €

9 Acima de 16.600.000 € Acima de 3.320.000 €

Capital Próprio

O capital próprio é o valor líquido do património de uma empresa. Segundo a International Accounting

Standards Board (1989), o capital próprio é o valor económico residual nos ativos da empresa depois de

deduzidos todos os passivos. Simplificando, é a diferença entre os ativos e passivos, ou seja, a diferença

entre tudo aquilo que a empresa possui e deve a terceiros.

Aquando da criação da empresa, o capital próprio é a soma de todos os valores investidos pelos sócios

ou acionistas para a constituição da empresa. Este capital é também utilizado para financiar parte do

investimento de uma empresa.

O capital próprio, enquanto recurso estável da empresa, permite o financiamento de investimentos. Logo,

ter capitais próprios significativos é garantia de solvência da empresa. Noutras palavras, quanto maior o

capital próprio, maior a capacidade em honrar os compromissos a longo prazo. Uma empresa com

capitais próprios negativos é uma empresa que deve mais do que tem. Compreende-se assim a

importância do capital próprio para a confiança do credor.

É interessante comparar o capital próprio de uma empresa com o montante das suas dívidas para

perceber a origem dos recursos da empresa. Esse índice mede o grau de exposição de uma empresa

aos riscos externos. Quanto menor o peso do capital próprio nos seus recursos, mais a empresa está

exposta a fatores externos, uma vez que tem uma forte dependência de dívida. O capital próprio é,

portanto, um indicador chave da solidez financeira de uma empresa.

O InCI, I.P. exige para a obtenção ou renovação do alvará que a empresa tenha um capital social mínimo

igual ou superior a 10% do valor limite da maior das classes solicitadas, excetuando para a classe 1,

bastando ter um capital próprio positivo, e para a classe 9, em que o valor tem de ser igual ou superior a

20% do valor limite da classe anterior.

Rácios Económicos

39

Um rácio é um coeficiente, ou percentagem, calculado entre duas grandezas presentes no balanço de

contas de uma empresa. Os rácios medem vários parâmetros do desempenho económico de uma

empresa como a rentabilidade, a estrutura de custos, a produtividade, a solvabilidade, a liquidez, entre

outros.

Existe mais de uma centena de rácios que permitem avaliar a situação financeira de uma empresa, tendo

em conta a sua evolução, ou comparar empresas de um mesmo setor de atividade. Por esta razão, todas

as partes estão interessadas nas informações providenciadas por estes indicadores: os investidores para

saber se os seus investimentos vão ser rentáveis; as instituições de crédito para analisar se os créditos

concedidos serão honrados; os fornecedores para perceber se existem dificuldades no pagamento; e a

gestão da empresa para planear e controlar com rigor a sua atividade. A análise dos valores dos rácios

só faz sentido se estes valores forem comparados entre ciclos periódicos, empresas do mesmo setor, ou

valores padrão calculados pelos valores médios de uma indústria.

Leal (2013) divide os rácios estão em quatro categorias: rentabilidade, endividamento ou estrutura de

capital, liquidez e atividade.

Os rácios de rentabilidade representam os fundos gerados pela empresa após pagamento dos fatores

produtivos e liquidação dos impostos. Determinam a eficiência da utilização dos recursos da empresa. Os

rácios de rentabilidade têm por objetivo analisar a eficiência dos recursos da empresa e a sua

capacidade em gerar excedente económico. Os rácios de rentabilidade são frequentemente utilizados

para medir a eficácia da administração em alcançar lucro.

Os rácios de endividamento permitem avaliar os meios de financiamento da empresa. Possibilitam ainda,

avaliar se a empresa terá capacidade de cumprir as suas obrigações para com terceiros.

Os rácios de liquidez têm por finalidade analisar a capacidade que a empresa tem para honrar os

compromissos financeiros no curto prazo. É possível analisar em que medida a empresa está em

condições de cumprir as obrigações de natureza financeira, tais como o pagamento de matérias–primas,

os salários, a energia, entre outros.

Finalmente, os rácios de atividade estimam a eficiência da utilização dos ativos da empresa. Os rácios de

atividade servem para analisar a eficiência das decisões na gestão dos recursos aplicados e apuram-se

em termos de rotação ou dias de funcionamento. O rácio expressa o número de vezes que a atividade

ocorre durante um determinado período e pode ajudar a avaliar a eficácia da gestão utilizando e

controlando os ativos analisados.

Para Leal (2013), os aspetos da liquidez, rentabilidade e estrutura financeira permitem construir o

triângulo do diagnóstico económico das empresas. Não é, por isso, de estranhar que se analise na

concessão de alvará um índice de liquidez, a liquidez geral, e outro de estrutura, a autonomia financeira.

Liquidez Geral

40

A liquidez mede a capacidade de uma empresa em honrar os seus compromissos financeiros com

terceiros. O rácio mais utilizado para aferir a liquidez a curto prazo é o rácio da liquidez geral. A fórmula

de calculo é a seguinte:

Liquidez Geral =Ativo Circulante

Passivo Circulante (1)

O ativo corrente é o dinheiro e todos os ativos convertíveis em dinheiro num ciclo de produção,

contabilisticamente falando é a soma das disponibilidades, as contas a receber e o inventário. O passivo

corrente é a soma de todas as despesas reembolsáveis num ciclo de produção, sendo as dívidas da

empresa reembolsáveis a curto prazo. Este rácio dá-nos a relação entre os ativos em dinheiro, ou

facilmente convertíveis em dinheiro, com o montante que será exigível à empresa a curto prazo.

Três situações perfilam-se aquando do cálculo deste rácio.

Quando a Liquidez Geral < 1, o valor dos ativos circulantes é inferior ao passivo de curto prazo. Esta

situação poderá refletir dificuldades de tesouraria.

Se a Liquidez Geral = 1, o valor dos ativos circulantes é igual ao passivo de curto prazo, ou seja, a

empresa cumpre a regra do equilíbrio financeiro mínimo, mas a margem de segurança é nula;

Finalmente, se Liquidez Geral > 1, o valor dos ativos circulantes é superior ao passivo de curto prazo.

Esta situação reflete baixo risco para os credores da empresa, dado que a realização dos ativos

circulantes liquidez é suficiente para fazer face às dívidas a terceiros de curto prazo e a empresa ainda

detém alguma margem de segurança.

Conclui-se que quanto mais elevado este rácio, maior a solvabilidade de curto prazo da empresa, sendo

desejável que o rácio ultrapasse pelo menos o valor de 1, significando que a empresa tem pelo menos

ativos líquidos para fazer face às responsabilidades de curto prazo. Para Ribeiro Barbosa Farinha (1994)

muitas das instituições financeiras entendem habitualmente que um valor superior a 1.25 é considerado

"bom".

Como esperado, o rácio mínimo exigido de liquidez geral às empresas de construção é de 1 para a

obtenção e renovação de alvará, excetuando na classe 1 onde este critério não é aplicado.

Autonomia Financeira

Este rácio permite avaliar em que proporção o ativo da empresa se encontra a ser financiado por capitais

próprios. A autonomia financeira mede a solvabilidade da empresa e tem como fórmula:

Autonomia Financeira =Capitais Próprios

Ativo Líquido (2)

O ativo líquido é o valor do ativo de uma empresa após terem sido feitas as correções patrimoniais, ou

seja, depois de deduzido ao ativo da empresa o valor das provisões (estimativa de perda de ativos ou de

41

obrigações para com terceiros) e o valor das amortizações (valor da depreciação de um determinado

ativo) referentes às diversas rubricas do ativo no balanço.

A autonomia financeira varia entre zero e um, dado que os capitais próprios não podem ser superiores ao

valor do ativo líquido porque, no limite, uma empresa sem passivo tem o capital próprio igual ao ativo

líquido e uma autonomia financeira igual a 100%. Quanto mais elevado for o nível dos capitais próprios,

maior o nível de autonomia da empresa.

Se a autonomia financeira apresenta um valor baixo então a empresa está com uma grande dependência

dos credores, situação que para além dos riscos inerentes, é desvantajosa na negociação de novos

financiamento Se a autonomia financeira tiver valores tanto mais próximos de 1, então a empresa é

menos dependente de capitais alheios, apresentando valores mais baixos de encargos financeiros e

beneficiando a sua rentabilidade.

Este é um rácio sempre analisado pelo banco aquando da concessão de um crédito a uma empresa.

Entendendo o capital próprio como o património da empresa que excede os seus passivos, naturalmente

que quanto maior for o seu montante, maior a probabilidade de que os ativos da empresa consigam, em

caso de liquidação, cobrir a totalidade das responsabilidades da empresa, incluindo o crédito a conceder

pela instituição financeira.

Por outro lado, a existência de um valor apreciável de fundos próprios numa empresa transmite ao

financiador alguma tranquilidade adicional resultante do facto de que quanto maior for o empenho

pessoal do proprietário no financiamento da empresa, menor o risco que ele tenderá a assumir nos seus

investimentos, contrariamente a uma situação em que a maior parte dos fundos investidos na empresa

tenha a natureza de capitais alheios. Por outras palavras, o banqueiro sentirá que o risco é partilhado de

uma forma mais equilibrada pela instituição de crédito e pelos donos da empresa, havendo uma menor

probabilidade de comportamentos oportunistas por parte dos responsáveis da empresa que prejudiquem

os detentores de capitais alheios.

Para Nabais (1997), embora não haja uma opinião unânime, a maioria dos analistas considera que a

autonomia financeira deve ser superior a 0,35, ou seja, que o ativo líquido seja financiado, pelo menos,

por 35% de capitais próprios

Atualmente, o valor exigido pelo InCI, I.P. é de 5% para a autonomia financeira, valor bem abaixo dos

35% recomendado pelos analistas.

4.3 Procedimentos concursais de empreitadas de obras públicas

4.3.1 Enquadramento técnico e legal

O Código dos Contratos Públicos (CCP) foi aprovado pelo DL nº18/2008, de 29 de janeiro, e entrou em

vigor no dia 30 de julho desse ano. O CCP teve a sua origem essencialmente na transposição das

42

diretivas comunitárias sobre a contratação pública, nomeadamente as diretivas 2004/17/CE e

2004/18/CE.

O CCP é um diploma que regula duas grandes matérias: a formação e a execução de contratos públicos.

Segundo o portal Base6, os grandes objetivos do CCP são a eficiência, isto é, uma melhoria na

contratação pública que garanta os melhores produtos e/ou serviços ao melhor preço; a transparência

nas transações realizadas pelas entidades adjudicantes, sendo que para tal foi essencial a obrigação da

utilização de plataformas eletrónicas na formação de contratos e a publicação dos mesmos após serem

celebrados; a simplificação, redimensionando os procedimentos e tornando-os mais céleres; o rigor,

essencialmente para que haja um controlo das despesas e para garantir uma concorrência saudável; a

monitorização, através da criação do Observatório das Obras Públicas e do serviço de informação de

contratos de bens e serviços, permitindo assim um acompanhamento e avaliação da contratação pública,

promovendo deste modo as boas práticas.

No artigo 16.º do CCP estão definidos os tipos de procedimentos que as entidades adjudicantes podem

adotar:

- Ajuste direto;

- Concurso público;

- Concurso limitado por prévia qualificação (CLPQ);

- Procedimento de negociação;

- Diálogo concorrencial.

Na Tabela 6 estão listados por tipo de procedimento os contratos celebrados entre 2011 e 2014 em

Portugal com dados obtidos no portal BASE dedicado à contratação pública.

Observa-se que destes cinco tipos de procedimentos apenas três são utilizados: o ajuste direto, o

concurso público e o concurso limitado por prévia qualificação.

No ajuste direto existe uma simplificação procedimental em que não há uma abertura total à

concorrência, uma vez que a entidade adjudicante convida diretamente uma ou mais entidades à sua

escolha a apresentarem as suas propostas.

No concurso público, o programa de concurso pode conter quaisquer regras específicas consideradas

convenientes pela entidade adjudicante, desde que não tenham por efeito impedir, restringir ou falsear a

concorrência.

6 Portal dos contratos públicos.

43

Tabela 6 - Número e Valor dos contratos celebrados em Portugal referentes a empreitadas de obras públicas entre 2011 e 2014

2011 2012

Número % Valor % Número % Valor %

Ajuste Direto 9.043 84,6% 698.789.524 € 25,7% 7.732 86,7% 449.034.087 € 29,4%

Concurso público 1.600 15,0% 1.344.325.101 € 49,4% 1.175 13,2% 1.026.590.318 € 67,3%

Concurso limitado por prévia qualificação 52 0,5% 677.416.055 € 24,9% 16 0,2% 50.640.108 € 3,3%

Procedimento de negociação 0 0,0% 0 € 0,0% 0 0,0% 0 € 0,0%

Diálogo concorrencial 0 0,0% 0 € 0,0% 0 0,0% 0 € 0,0%

Total 10.695 100,0% 2.720.530.680 € 100,0% 8.923 100,0% 1.526.264.514 € 100,0%

2013 2014

Número % Valor % Número % Valor %

Ajuste Direto 10.195 88,1% 427.689.955 € 29,2% 8.802 86,5% 351.828.053 € 24,0%

Concurso público 1.355 11,7% 911.068.920 € 62,2% 1.347 13,2% 1.065.865.649 € 72,6%

Concurso limitado por prévia qualificação 22 0,2% 125.356.463 € 8,6% 30 0,3% 50.131.114 € 3,4%

Procedimento de negociação 0 0,0% 0 € 0,0% 0 0,0% 0 € 0,0%

Diálogo concorrencial 0 0,0% 0 € 0,0% 0 0,0% 0 € 0,0%

Total 11.572 100,0% 1.464.115.338 € 100,0% 10.179 100,0% 1.467.824.818 € 100,0%

(Fonte base.gov.pt)

44

4.3.2 Concurso Limitado por Prévia Qualificação

O concurso limitado por prévia qualificação é um procedimento em que a capacidade financeira do

empreiteiro é avaliada obrigatoriamente porque é um dos requisitos mínimos para que a proposta

apresentada seja avaliada. Nos últimos quatro anos, este tipo de concurso representa menos de 0,5%

dos contratos de obras públicas celebrados anualmente, como se pode confirmar pelos dados presentes

na Tabela 6. Não obstante do número reduzido, o seu valor não é desprezável. Neste período, o valor

destes concursos atingiu um total de 903.543.742 €, 12,6% do valor dos contratos, o que perfaz uma

média de 225.885.935 € anual e de 7.529.614 € por contrato. Estes dados demonstram que este tipo de

procedimento é bastante utilizado nos contratos de obras públicas, principalmente em obras de valor

mais elevado. Analisa-se de seguida o enquadramento legal e as especificidades de um CLPQ.

O enquadramento legal dos Concursos Limitados por Prévia Qualificação está estabelecido do artigo

162.º ao 192.º do CCP.

Este tipo de concurso é, em geral, utilizado para obras de grande dimensão. Segundo o CCP, este tipo

de concurso poderá ser seguido quando a complexidade da obra aconselhe maior exigência de

qualificação dos concorrentes, isto é, quando:

- a obra possui conceção complexa e excecional cuja execução se preveja decorra em circunstâncias

especiais;

- os prazos de execução reduzidos;

- na sua execução se utilizem métodos de construção excecionais.

O CLPQ pode ser escolhido para empreitadas de qualquer valor. Não obstante, como para qualquer

Concurso Público, segundo o regulamento UE Nº1336/2013 de 13 de dezembro, se o valor da

empreitada for superior a 5.186.000 €, o anúncio do concurso terá de ser publicado no Jornal Oficial da

União Europeia (JOUE).

O procedimento deste concurso tem duas fases, apresentadas no artigo 162.º do CCP: apresentação das

candidaturas e qualificação dos candidatos; e apresentação e análise das propostas e adjudicação.

Na primeira fase, é publicado um anúncio do concurso destinado a selecionar as entidades com os

requisitos técnicos e financeiros para realizar a obra. Na segunda fase, as entidades selecionadas na

primeira fase são convidadas a apresentar proposta, que inclui preço para a execução da obra, programa

de trabalhos, soluções construtivas, entre outros elementos.

Nos fluxogramas apresentados no Anexo 2, retirados do site do InCI, encontram-se todos as etapas

exigidas por lei de um CLPQ.

O programa de procedimento do concurso deve indicar obrigatoriamente, como consta no artigo 164.º do

CCP:

45

- Os requisitos mínimos de capacidade técnica que os candidatos devem preencher;

- O valor económico estimado do contrato e o fator 𝑓 constante na expressão matemática prevista no

Anexo IV.

O CCP não impõe nenhum requisito específico de capacidade técnica. Mas geralmente, a avaliação da

capacidade técnica traduz-se na avaliação da experiência curricular das empresas candidatas; nos seus

recursos humanos, tecnológicos e de equipamento; capacidade organizacional (nomeadamente no que

respeita à direção e integração de valências especializadas, aos sistemas de informação de suporte e

aos sistemas de controlo e gestão da qualidade); à capacidade dos candidatos adotarem medidas de

gestão ambiental no âmbito da execução do contrato a celebrar. Também é considerada a informação

constante da base de dados do InCI, I. P., relativa a empreiteiros, quando se tratar da formação de um

contrato de empreitadas ou de concessão de obras públicas.

Relativamente à avaliação da capacidade financeira, esta baseia-se no requisito mínimo previsto no

anexo IV ao CCP. Esse requisito é apresentado através da expressão matemática:

V × t ≤ R × 𝑓 (3)

Sendo:

V – Preço base ou valor económico estimado do contrato (caso não exista preço base);

t – Taxa de juro EURIBOR, a seis meses, acrescida de duzentos pontos base, divulgada à data da

publicação do anúncio do concurso no Diário da República;

R – Valor médio dos resultados operacionais do concorrente nos últimos três exercícios;

𝑓 – Fator, igual ou superior a 1 e inferior a 10, a estabelecer no programa do concurso.

A capacidade financeira baseia-se, pelo menos, no requisito mínimo traduzido pela expressão

matemática anterior, mas esta capacidade também pode ser aferida por outros parâmetros. Estes

requisitos devem reportar-se à aptidão estimada dos candidatos para mobilizar os meios financeiros

previsivelmente necessários para o integral cumprimento das obrigações resultantes do contrato a

celebrar como frisa o nº3 do artigo 165.º do CCP. A entidade contratante pode exigir valores mínimos de

rácios económico-financeiros, caso considerar adequado para o grau de exigência da empreitada a

realizar.

Após a apresentação das candidaturas, a qualificação dos candidatos nos concursos limitados por prévia

qualificação pode ser feita por um de dois métodos: método simples ou método complexo (ou método de

seleção).

De acordo com o nº1 do artigo 179.º do CCP, no método simples de qualificação, todos os candidatos

que preencham os requisitos mínimos de capacidade técnica e financeira são qualificados.

46

No método complexo de qualificação o sistema de seleção consiste na qualificação segundo o critério da

maior capacidade técnica e financeira, como indicado no nº1 do artigo 181.º do CCP. As propostas são

avaliadas de acordo com um modelo compensatório (swing weights: cada fator de seleção tem um peso,

a melhor seleção é a que tiver melhor pontuação aquando da soma das classificações atribuídas

afetadas dos respetivos pesos). Este critério implica a utilização de um modelo de avaliação, ao qual se

aplica o disposto no artigo 139.º, e permite ordenar os candidatos que preenchem os requisitos mínimos

de capacidade técnica e financeira para a realização da obra posta a concurso.

A entidade responsável por definir o critério no qual é baseada a avaliação é a empresa adjudicante, com

o principal objetivo de averiguar a capacidade do candidato para realizar a obra apresentada em

concurso. O modelo de avaliação das candidaturas, ao ser definido de acordo com as especificidades da

empreitada em questão, procura averiguar quais os candidatos mais habilitados a desenvolvê-la. E

permite também, limitar o número de candidaturas. Ressalva-se que este número não pode ser inferior a

cinco concorrentes.

A análise das candidaturas para efeitos da qualificação dos candidatos é assegurada pelo júri do

procedimento. O preenchimento dos requisitos mínimos de capacidade técnica e de capacidade

financeira referidos no artigo 165.º é comprovado pela avaliação dos elementos constantes dos

documentos destinados à qualificação dos candidatos.

Segundo o artigo 164.º do CCP, o modelo de avaliação dos candidatos deve explicitar claramente os

fatores ou subfatores que densificam o critério de avaliação, os valores dos respetivos coeficientes de

ponderação, a escala de pontuação relativa a cada fator/subfator e a expressão matemática ou um

conjunto ordenado de diferentes níveis de capacidade que permite atribuir pontuações parciais aos

candidatos. De referir ainda que o número de candidatos a qualificar não pode ser inferior a 5.

Assim, numa primeira fase de aplicação do modelo complexo apura-se quais os concorrentes que

preenchem os requisitos mínimos, de seguida ordena-se por ordem decrescente de capacidade todos os

candidatos que preencham os requisitos mínimos e, por fim, seleciona-se os X primeiros lugares (X não

inferior a 5, como foi referido). Deste modo, são excluídos os concorrentes que não preencham os

requisitos mínimos e os candidatos que não fiquem nos primeiros X lugares após a sua ordenação por

capacidade.

Caso após a aplicação deste modelo de avaliação de candidaturas não se qualifiquem um mínimo de 5

candidatos, todos os candidatos anteriormente excluídos serão selecionados, como consta no ponto n.º 3

do artigo 181.º e na subalínea ii) da alínea m) do n.º 1 do artigo 164.º.

Depois da seleção dos candidatos é publicada a lista de concorrentes. São analisadas e avaliadas as

propostas dos concorrentes presentes nesta lista. Nesta fase pode haver ou não um leilão, ao abrigo do

artigo 140.º.

47

O júri tem de seguida redigir um relatório preliminar (artigo 146.º) onde propõe a ordenação das

propostas. Este relatório é enviado aos concorrentes qualificados que podem pronunciar-se por escrito ao

abrigo do direito de audiência prévia segundo o artigo 147.º.

Para concluir, o júri redige o relatório final (artigo 148.º) e adjudica o contrato à proposta com melhor

qualificação.

4.3.3 Análise do requisito mínimo da capacidade financeira no CLPQ

O requisito mínimo de capacidade financeira é traduzido pela expressão matemática (3).

Ou seja, o valor médio dos resultados operacionais do candidato nos últimos três exercícios tem de

verificar:

V × t ≤ R × 𝑓 ↔ R ≥V × t

𝑓 (4)

Desta expressão, apenas o valor médio dos resultados operacionais R depende do candidato. Os outros

três índices são disponibilizados aquando do lançamento do procedimento: o fator 𝑓 e o preço base V são

elementos que constam no programa de concurso, e a taxa de juro Euribor é a divulgada à data do

anúncio do concurso. Assim, os candidatos sabem qual o valor médio mínimo dos resultados

operacionais que devem possuir para poderem concorrer ao concurso.

Definição dos termos constituintes da fórmula

Analisa-se neste ponto os diferentes indicadores presentes nesta fórmula de modo a compreender o seu

significado.

Preço Base V

O preço base V está definido no artigo 47.º do CCP como sendo o preço máximo que a entidade

adjudicante se dispõe a pagar pela execução de todas as prestações que constituem o seu objeto. No

caso de um CLPQ, o preço base é o valor fixado no caderno de encargos como parâmetro base do preço

contratual.

Taxa Euribor acrescida de 200 pontos base

As taxas Euribor7 são calculadas com base nas taxas de juro praticadas em empréstimos interbancários

em euros pelos bancos pertencentes ao painel de bancos. Este painel é constituído por 31 dos mais

importantes bancos europeus. A banca nacional está representada neste painel pela Caixa Geral de

Depósitos. Para a determinação das taxas Euribor são excluídos 15% tanto das percentagens mais altas

como das percentagens mais baixas relatadas.

7 Acrónimo para Euro Interbank Offer Rate.

48

A taxa Euribor é considerada como a taxa de base para vários produtos derivados financeiros, como por

exemplo, futuros de taxas de juros, swap de taxas de juros e contratos de garantias de taxas. A Euribor

também é bastante utilizada como taxa de referência em empréstimos hipotecários e contas poupança.

Em Portugal, grande parte das taxas de juro relativas ao crédito à habitação estão indexadas à Euribor,

significando que a taxa de juro é composta por uma taxa Euribor acrescida de um suplemento fixo.

Resumidamente, a taxa Euribor é considerada como um guia do que acontece no mercado monetário do

euro.

A somar à taxa Euribor, existe um prémio de risco de 200 pontos base.

Fator 𝒇

O fator 𝑓 é um fator, igual ou superior a 1 e inferior ou igual a 10, a estabelecer no programa do concurso.

Quanto menor o valor de 𝑓, mais exigente é a avaliação financeira, uma vez que o fator 𝑓 se encontra no

denominador da expressão. Assim, o fator 𝑓 menos restritivo é igual a 10, e o mais limitativo igual a 1.

Não existe no CCP qualquer referência acerca dos critérios para a escolha do fator 𝑓. Fica ao critério do

responsável do programa de concurso a escolha do valor do fator 𝑓.

Valor médio dos resultados operacionais R

O valor médio dos resultados operacionais do candidato nos últimos três exercícios referido na fórmula é

calculado com recurso à seguinte função:

R =∑ EBITDA(i)i=3

i=1

3 (5)

No caso de o candidato se ter constituído há menos de três exercícios, para efeitos do cálculo de R só

são tidos em conta os resultados operacionais do candidato nos exercícios concluídos, sendo o

denominador da função adaptado em conformidade.

O EBITDA8, em português, significa resultados antes de juros, impostos, depreciações e amortizações. O

seu cálculo faz-se a partir da seguinte fórmula:

EBITDA = Volume de Negócios − Despesas Operacionais (6)

O volume de negócios é o valor total da venda dos serviços da empresa e as despesas operacionais são

os custos ligadas à atividade da empresa, como salários, materiais, consumíveis, entre outros.

O EBITDA ganhou notoriedade nos Estados Unidos da América na década de 70. Nessa altura, o

EBITDA era utilizado pelos analistas como uma medida temporária para avaliar o tempo que seria

necessário para que uma empresa, com grande volume de investimento em infraestrutura, viesse a

8 Acrónimo de Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization.

49

prosperar sob uma perspetiva de longo prazo. Ao excluir os juros dos recursos financiados e a

depreciação dos ativos, os investidores conseguiam projetar uma medida de desempenho da empresa no

futuro, considerando apenas a atividade operacional.

O EBITDA corresponde ao resultado da empresa que estará disponível para suportar custos com

encargos financeiros, impostos, investimentos (como equipamentos a utilizar para a produção), criação

de reservas e remuneração de acionistas.

Para Moreira Da Costa (2009) não existem valores de referência para o EBITDA, uma vez que a área de

negócio influencia decisivamente os parâmetros que o permitem calcular, além de que a existência de

dívidas de clientes ou a necessidade de suportar os encargos acima referidos recomenda que se olhem

para outros indicadores financeiros para avaliar a sustentabilidade económica da empresa.

No entanto, o EBITDA é uma medida adequada para avaliar a eficiência da atividade nuclear da

empresa, uma vez que avalia o resultado depois de liquidados todos os custos que compõem a sua

atividade operacional. Valores comparativamente baixos do EBITDA demonstram um esgotamento dos

recursos da empresa na sua atividade corrente, deixando pouca margem para outros encargos (além de

impostos, se existirem) ou para crescimento. Valores mais elevados devem ser olhados em paralelo com

a dimensão dos encargos a que é necessário fazer face, bem como o perfil das dívidas de clientes e sua

efetiva cobrança dentro dos prazos previstos.

Resumidamente, o EBITDA é um indicador financeiro que representa quanto uma empresa gera de

recursos através das suas atividades operacionais, sem contar os impostos e outros efeitos financeiros.

Existem pontos positivos e negativos na utilização do EBITDA para avaliação de empresas.

Segundo um artigo de opinião escrito pelo gestor Santos (2008), os defensores da utilização do EBITDA

argumentam que:

- Por eliminar os efeitos dos financiamentos e das decisões meramente contabilísticas, a sua utilização

pode fornecer uma boa análise comparativa, pois mede a produtividade e a eficiência do negócio;

- O EBITDA pode ser utilizado para identificar empresas que sejam as mais eficientes dentro de um

determinado segmento de mercado;

- O EBITDA pode ser utilizado para comparar a tendência do lucro nas indústrias pesadas, porque

remove da análise o impacto dos financiamentos de grandes investimentos de capital;

- O EBITDA é uma excelente ferramenta de medição para organizações que apresentem uma utilização

intensiva dos equipamentos.

Porém, também são apontadas várias criticas em relação à utilização exclusiva do EBITDA:

50

- É muito comum que empresas contratem financiamentos e empréstimos para alavancar as suas

operações. Assim, as empresas podem apresentar despesas financeiras superiores às receitas

financeiras. Nestes casos, o EBITDA é positivo muito embora a empresa apresente prejuízo líquido;

- O EBITDA pode dar uma falsa perspetiva sobre a efetiva liquidez da empresa;

- O EBITDA nada diz sobre a qualidade dos lucros;

- Por ser de fácil apuramento, o EBITDA é frequentemente utilizado como a mais importante medida de

desempenho do resultado de muitas empresas, mas o seu resultado pode dar uma falsa ideia do

verdadeiro potencial de investimento numa empresa, justamente por não refletir adequadamente a

verdadeira capacidade de gerar cash-flow no futuro.

A favor da utilização do EBITDA na avaliação de empresas de construção, tem-se que esta indústria faz

grandes investimentos em equipamentos pesados e uma utilização intensiva destes equipamentos. Logo,

as empresas podem ter nas suas contas grandes parcelas referentes às amortizações e depreciações

dos seus equipamentos mas elas não são contabilizadas para efeitos de EBITDA.

Porém, isto também tem o seu lado negativo. Uma empresa pode ter um EBITDA muito positivo mas

pode estar a apresentar grandes prejuízos. Isto acontece quando uma empresa tem grandes encargos

financeiros, como grandes empréstimos à banca, sendo estes superiores às receitas.

A fórmula 3 para o requisito mínimo de capacidade financeira está voltada para o lado das receitas da

empresa porque apenas tem como input o EBITDA da empresa. O EBITDA não atesta a situação

financeira da empresa porque apenas se baseia nos resultados operacionais antes de contabilizados

todos os custos.

Análise da fórmula

A fórmula (3), presente no Anexo IV do CCP, contém duas parcelas.

A da esquerda, multiplica o preço base do contrato V por t, que é a taxa Euribor em vigor acrescida de

um prémio de risco de 2%. Esta multiplicação de V pelo t produz a remuneração expectável da empresa

a obter com o contrato em adjudicação.

A parcela da direita, multiplica a média dos últimos três EBITDA R, que corresponde grosso modo aos

resultados operacionais da empresa, pelo fator 𝑓, número inteiro que varia de 1 a 10.

Esta fórmula visa garantir que o peso do contrato na atividade global não exceda um determinado

parâmetro, a definir pela entidade adjudicante. Neste quadro, a definição do fator 𝑓 permite fazer variar o

impacto máximo que o contrato público em causa deverá revestir, em face daquilo que é a atividade

económica da empresa (expressa por R). Assim, definindo-se um fator 𝑓 igual a 1 implica que a

remuneração expectável da empresa com este contrato (V×t) não possa exceder os resultados habituais

anuais da empresa em todas as suas atividades (R).

51

Por exemplo, se R=10 e 𝑓=1, a remuneração expectável do contrato não pode ultrapassar esse valor de

10. Agora com R=10 e 𝑓=10, essa remuneração já pode chegar aos 100.

À medida que 𝑓 aumenta, o peso “permissível” do contrato público também aumenta, alargando assim a

esfera de entidades que se encontram em condições de participar no concurso. Porém, mesmo com a

definição mais exigente desse fator, ou seja com 𝑓 igual a 1, o contrato pode ainda assim ter um peso

muito substancial na atividade da empresa.

Resumidamente, a fórmula presente no Anexo IV do CCP pretende definir uma relação entre o valor da

remuneração expectável do contrato e a média dos resultados operacionais da empresa. Prevenindo a

participação de empresas no concurso em que o retorno do contrato a adjudicar ultrapasse um certo

valor, face à sua atividade habitual.

52

53

5 Caso de estudo: o fator 𝒇

5.1 Considerações iniciais

Neste capítulo enquadra-se o caso estudo sobre a expressão matemática (3) que traduz o requisito

mínimo de capacidade financeira em CLPQ (5.1). O estudo consiste num conjunto de simulações (5.3)

com o EBITDA de empresas (5.3.1) e com valores base de empreitadas (5.3.2). De seguida, testa-se

este requisito mínimo em dois concursos reais (5.4). Após do estudo da expressão em casos hipotéticos

e reais, apresentam-se os resultados deste caso de estudo, bem como uma discussão sobre a avaliação

da capacidade financeira de empresas de construção em Portugal (5.5).

5.2 Enquadramento e descrição do caso de estudo

De todos os países analisados, Portugal é o único que contém na sua legislação um critério económico

mínimo para a participação em concurso. Este critério é apenas utilizado nos CLPQ, porém é

interessante aprofundar o seu estudo. O requisito mínimo da capacidade financeira é traduzido pela

expressão matemática (3) que inclui o fator 𝑓.

Os elementos constituintes da fórmula foram analisados no ponto 4.3.3, restando agora testar a fórmula

em casos concretos. Para perceber a abrangência deste requisito, procede-se a uma série de

simulações: baseadas no EBITDA das empresas e baseadas em valores base de empreitadas.

As simulações baseadas nos valores de EBITDA das empresas abrangem dois cenários:

i) valores de EBITDA das dez maiores empresas de construção portuguesas;

ii) valores médios de EBITDA de empresas de todas as dimensões por classe de habilitações fornecidos

pelo InCI, I.P.

Estas simulações permitem estimar o valor máximo das obras a que as empresas podem concorrer

respeitando o requisito mínimo mais restritivo imposto pela legislação nacional aplicável a CLPQ (𝑓=1).

Para as simulações baseadas em valores de empreitadas, escolhe-se uma série de valores base de

empreitadas e calcula-se o EBITDA mínimo necessário para concorrer a estas obras.

Com estas simulações pretende-se compreender o alcance prático da fórmula e verificar se está a

cumprir o fim para que foi criada. Para terminar os ensaios com a fórmula, testou-se este requisito em

dois CPQL reais.

Depois das simulações e testes, passa-se à análise dos resultados deste caso de estudo e discutem-se

as diferentes formas avaliação da capacidade financeira das empresas de construção em Portugal.

54

5.3 Simulações

De seguida, são realizadas algumas simulações para perceber o alcance da expressão matemática (3)

que inclui o fator 𝑓.

Na tabela 7 encontram-se as taxas Euribor a 6 meses do primeiro dia do ano da última década, tendo por

fonte a agência belga Euribor-EBF. É de relembrar que para o cálculo da fórmula (3), tem de se adicionar

à taxa Euribor, em vigor à data da publicação do anúncio do concurso no Diário da República, 200 pontos

base, correspondente ao prémio de risco, traduzido pelo parâmetro t.

Tabela 7 - Taxas Euribor na última década e parâmetro t na expressão matemática dos CLPQ

Data Taxa Euribor t

02-01-2014 0,387% 2,387%

02-01-2013 0,319% 2,319%

02-01-2012 1,606% 3,606%

03-01-2011 1,224% 3,224%

04-01-2010 0,996% 2,996%

02-01-2009 2,945% 4,945%

02-01-2008 4,703% 6,703%

02-01-2007 3,857% 5,857%

02-01-2006 2,643% 4,643%

03-01-2005 2,209% 4,209%

02-01-2004 2,151% 4,151%

(Fonte: Euribor-EBF)

5.3.1 Simulações com EBITDA de empresas

Empresas de grande dimensão

Consultando o ranking elaborado pela revista Exame nas suas edições especiais anuais 500 Maiores &

Melhores (2010, 2011, 2012), é possível ordenar as maiores empresas de construção em Portugal. Na

Tabela 8 estão listadas as 25 maiores empresas de construção em Portugal e respetiva posição em

relação ao conjunto de todas as empresas a nível nacional nos anos de 2009, 2010 e 2011.

Sabendo o EBITDA das dez empresas que ficaram melhor colocadas neste ranking ao longo destes três

anos, a taxa Euribor do respetivo ano e utilizando o fator 𝑓 mais restritivo (igual a 1), pode-se saber qual

o valor máximo das obras a que estas empresas poderiam concorrer em cada ano num CLPQ nestas

condições teoricamente mais restritivas. Mais uma vez, recorre-se à fórmula presente no Anexo IV do

CCP:

V × t ≤ R × 𝑓 ↔ V ≤R × 𝑓

t (7)

55

Consultaram-se os relatórios de contas, presentes nos respetivos sites institucionais, de forma a obter o

EBITDA correspondente a cada empresa. Não se encontram disponíveis todos relatórios dos cinco anos

estudados (de 2008 a 2012). Na Tabela 9 estão compilados os valores do EBITDA das empresas e

respetivos valores máximos de obras a que podem concorrer num CLPQ, com o fator 𝑓 mais restritivo.

Os resultados desta simulação, relativos ao valor máximo da obra a que as empresas se podem

candidatar, variam das centenas aos milhares de milhões de euros, considerando com um fator 𝑓 igual a

1. Estes valores dobrariam com um fator de 2, triplicariam com um fator de 3 e assim sucessivamente,

até ao fator menos restritivo de 10.

Devido à grave crise que o setor da construção atravessa, algumas destas empresas apresentam

avultados prejuízos e estão numa situação financeira delicada com grandes empréstimos contraídos à

banca. Não obstante, os seus EBITDA permanecem muito positivos. Isto deve-se ao facto do EBITDA

não ter em conta os encargos financeiros.

Ao observar os resultados desta simulação, pode-se concluir que estas grandes empresas de construção

vão sempre cumprir o requisito mínimo da capacidade financeira, mesmo para obras de muito grande

dimensão. Este requisito mínimo muito dificilmente será um fator de exclusão para uma empresa de

grande dimensão.

56

Tabela 8 - Ranking das 25 maiores construtoras em Portugal nos anos de 2009, 2010 e 2011

Ranking "Maiores e Melhores 500" (Fonte Revista Exame)

2009 2010 2011

Empresa Construtoras Nível

Nacional Empresa Construtoras

Nível Nacional

Empresa Construtoras Nível

Nacional

Empresa A 1º 14º Empresa A 1º 20º Empresa A 1º 23º

Empresa B 2º 22º Empresa B 2º 23º Empresa C 2º 36º

Empresa C 3º 29º Empresa C 3º 31º Empresa D 3º 42º

Empresa D 4º 32º Empresa D 4º 32º Empresa B 4º 43º

Empresa E 5º 55º Empresa Z 5º 57º Empresa J 5º 69º

Empresa F 6º 64º Empresa E 6º 76º Empresa E 6º 82º

Empresa G 7º 83º Empresa F 7º 86º Empresa E’ 7º 101º

Empresa H 8º 86º Empresa J 8º 96º Empresa F’ 8º 106º

Empresa I 9º 100º Empresa H 9º 101º Empresa I 9º 118º

Empresa J 10º 110º Empresa I 10º 108º Empresa K 10º 121º

Empresa K 11º 114º Empresa G 11º 133º Empresa L 11º 124º

Empresa L 12º 116º Empresa K 12º 136º Empresa F 12º 125º

Empresa M 13º 147º Empresa N 13º 140º Empresa G 13º 127º

Empresa N 14º 150º Empresa Q 14º 156º Empresa H 14º 134º

Empresa O 15º 170º Empresa L 15º 163º Empresa Z 15º 137º

Empresa P 16º 175º Empresa M 16º 170º Empresa G’ 16º 152º

Empresa Q 17º 178º Empresa A’ 17º 189º Empresa U 17º 173º

Empresa R 18º 186º Empresa X 18º 201º Empresa N 18º 178º

Empresa S 19º 191º Empresa U 19º 209º Empresa A’ 19º 193º

Empresa T 20º 196º Empresa B’ 20º 215º Empresa M 20º 252º

Empresa U 21º 219º Empresa O 21º 235º Empresa X 21º 268º

Empresa V 22º 227º Empresa C’ 22º 246º Empresa V 22º 271º

Empresa W 23º 231º Empresa R 23º 247º Empresa D’ 23º 307º

Empresa X 24º 259º Empresa D’ 24º 251º Empresa B’ 24º 309º

Empresa Y 25º 281º Empresa V 25º 274º Empresa H’ 25º 314º

57

Tabela 9 - EBITDA das 10 maiores construtoras nacionais e Valor Máximo de Obra em CLPQ com fator 𝒇 igual a 1 entre 2008 e 2012

Empresa A Empresa A’ Empresa E Empresa C Empresa B

Ano EBITDA Valor Máximo da

Obra (𝒇=1) EBITDA

Valor Máximo da Obra (𝒇=1)

EBITDA Valor Máximo da Obra (𝒇=1)

EBITDA Valor Máximo da

Obra (𝒇=1) EBITDA

Valor Máximo da Obra (𝒇=1)

2012 235.465.711 € 6.529.831.143 € 47.881.000 € 1.327.814.753 € 28.428.798 € 788.374.875 € 29.000.000 € 804.215.197 € 209.000.000€ 5.795.895.729 €

2011 200.688.048 € 6.224.815.385 € 50.983.000 € 1.581.358.561 € 34.019.988 € 1.055.210.546 € 47.700.000 € 1.479.528.536 € 117.000.000 € 3.629.032.258 €

2010 162.493.522 € 5.423.682.310 € 30.521.000 € 1.018.724.967 € 39.314.224 € 1.312.223.765 € 53.000.000 € 1.769.025.367 € 150.000.000 € 5.006.675.567 €

2009 134.152.064 € 2.712.882.993 € - - 27.342.861 € 552.939.555 € - - 213.000.000 € 4.307 .81.193 €

2008 129.693.945 € 1.934.864.165 € - - 35.619.372 € 531.394.480 € - - 118.000.000 € 1.760.405.788 €

Empresa F Empresa H Empresa J Empresa G Empresa Q

Ano EBITDA Valor Máximo

da Obra (𝒇=1) EBITDA

Valor Máximo

da Obra (𝒇=1) EBITDA

Valor Máximo

da Obra (𝒇=1) EBITDA

Valor Máximo da

Obra (𝒇=1) EBITDA

Valor Máximo da

Obra (𝒇=1)

2012 - - - - - - - - - -

2011 - - - - 35.300.000 € 1.094.913.151 € - - - -

2010 11.663.000 € 389.285.714 € 39.700.000 € 1.325.100.134 € 28.100.000 € 937.917.223 € 1.400.000 € 46.728.972 € 10.700.000 € 357.142.857 €

2009 22.107.000 € 447.057.634 € 41.400.000 € 837.209.302 € 31.500.000 € 637.007.078 € 11.500.000 € 232.558.140 € 2.300.000 € 46.511.628 €

2008 - - 22.000.000 € 328.211.249 € - - - - 12.300.000 € 183.499.925 €

Ano Taxa Euribor t

2012 1,606% 3,61%

2011 1,224% 3,22%

2010 0,996% 3,00%

2009 2,945% 4,95%

2008 4,703% 6,70%

Fator 𝒇 1

Fonte Relatórios de Contas

58

Empresas de qualquer dimensão

Contactou-se o InCI, I.P. de forma a obter dados acerca dos EBITA das empresas nacionais. Esses

dados não foram facultados, com a justificação de estes serem dados privados. Porém, o InCI, I.P. tem

disponível no seu site, o EBITDA médio das empresas de construção portuguesas por classe. Com esta

informação, elaborou-se a Tabela 10, na qual se encontram os valores máximos das obras por classe, o

EBITDA médio das empresas por classe e o valor máximo das obras em CLPQ por classe utilizando a

fórmula presente no Anexo IV do CCP, em que o fator 𝑓 é o mais restritivo, ou seja igual a 1.

Os resultados desta simulação indicam que, em média, utilizando o EBITDA médio por classe e um fator

𝑓 de 1, o valor máximo da obra em CLPQ é sempre superior ao valor limite da obra por classe. O

requisito mínimo da capacidade financeira para CLPQ é menos restritivo que o valor limite de obra por

classe. Utilizando os valores disponíveis do EBITDA médio, obtêm-se valores de obras aos quais as

empresas podem concorrer em CLPQ superiores aos valores limite por classe.

Este requisito não parece ser um fator de exclusão, uma vez que o valor limite de obra por classe é mais

restritivo que o requisito mínimo da capacidade financeira do CLPQ, isto para valores do EBITDA médio

por classe. Este facto confirma-se não só para empresas de grande dimensão, pertencentes às classes

mais elevadas, como também, às empresas de menor dimensões, referentes às classes médias e baixas.

Analisando a estrutura da fórmula, pode-se dizer que estes resultados já eram esperados.

59

Tabela 10 - EBITDA médio e Valor Máximo de Obra em CLPQ com fator 𝒇 igual a 1 por classe entre 2008 e 2013

Classe 1 Classe 2 Classe 3 Classe 4 Classe 5 Classe 6 Classe 7 Classe 8 Classe 9

Valor Limite de Obra por Classe

166.000 € 332.000 € 664.000 € 1.328.000 € 2.656.000 € 5.312.000 € 10.624.000 € 16.600.000 € -

Valor EBITDA médio

2013 25.061 € 28.402 € 63.155 € 46.424 € 240.862 € 420.176 € 1.058.722 € 3.222.211 € 8.382.169 €

2012 11.929 € 20.152 € 55.877 € 134.973 € 221.507 € 401.758 € 977.068 € 2.244.648 € 7.826.883 €

2011 15.353 € 27.062 € 64.872 € 142.545 € 262.231 € 370.911 € 751.652 € 990.376 € 4.871.251 €

2010 20.043 € 34.937 € 71.559 € 156.233 € 307.645 € 508.701 € 1.017.359 € 776.612 € 15.315.150 €

2009 28.786 € 49.864 € 87.811 € 187.181 € 262.635 € 636.563 € 990.850 € 2.007.652 € 11.196.008 €

2008 32.667 € 51.018 € 98.348 € 199.316 € 327.688 € 717.153 € 1.072.440 € 1.584.967 € 10.000.002 €

Valor Máximo da Obra em CLPQ (𝒇=1)

2013 1.080.681 € 1.224.752 € 2.723.372 € 2.001.897 € 10.386.460 € 18.118.844 € 45.654.248 € 138.948.297 € 361.456.188 €

2012 330.810 € 558.846 € 1.549.556 € 3.743.012 € 6.142.734 € 11.141.375 € 27.095.618 € 62.247.587 € 217.051.664 €

2011 476.210 € 839.392 € 2.012.159 € 4.421.371 € 8.133.716 € 11.504.684 € 23.314.268 € 30.718.859 € 151.093.393 €

2010 669.000 € 1.166.126 € 2.388.495 € 5.214.717 € 10.268.532 € 16.979.332 € 33.957.250 € 25.921.634 € 511.186.575 €

2009 582.126 € 1.008.362 € 1.775.761 € 3.785.256 € 5.311.125 € 12.872.861 € 20.037.410 € 40.599.642 € 226.410.683 €

2008 487.344 € 761.118 € 1.467.219 € 2.973.538 € 4.888.676 € 10.698.984 € 15.999.402 € 23.645.636 € 149.186.955 €

Fator 𝒇 Taxa Euribor t

2013

1,00

0,319% 2,319%

2012 1,606% 3,606%

2011 1,224% 3,224%

2010 0,996% 2,996%

2009 2,945% 4,945%

2008 4,703% 6,703%

Fonte InCI, I.P.

60

5.3.2 Simulações com valor base de empreitadas

O valor médio dos resultados operacionais de uma empresa que pretenda concorrer a um determinado

CLPQ pode ser obtido por recurso à expressão (4):

V × t ≤ R × 𝑓 ↔ R ≥V × t

𝑓 (4)

De forma a simular a situação mais restritiva na expressão 4, com o R mais elevado possível, maximiza-

se a parcela t e minimiza-se 𝑓.

O valor máximo da taxa Euribor foi atingido no dia 8 de outubro de 2008, cerca de três semanas após a

falência do Lehman Brothers. Este valor máximo foi de 5,438%. Adicionando os 200 pontos base, o valor

máximo que t já atingiu foi de 7,438%.

O valor mínimo do fator 𝑓 é 1.

Se substituirmos na fórmula os parâmetros apresentados anteriormente obtém-se:

R ≥V × t

𝑓→ R ≥

V × 0,0744

1→ R ≥ 0.0744 V (8)

Com estes dados, procedeu-se à simulação para concursos de diversos valores. Os resultados estão

apresentados na Tabela 11 abaixo.

Tabela 11 - Valores Mínimos de resultados operacionais médios para preços base definidos e parâmetros

mais restritivos

Preço Base V Classe indicativa para concorrer

Valor Mínimo de resultado operacional médio

1.000.000 € 5 74.380 €

3.000.000 € 6 223.140 €

5.000.000 € 7 371.900 €

10.000.000 € 8 743.800 €

15.000.000 € 9 1.115.700 €

30.000.000 € 9 2.231.400 €

100.000.000 € 9 7.438.000 €

Fator 𝒇 t

1 7,44%

61

Com todos os parâmetros da fórmula calibrados de forma a obter os resultados mais exigentes possíveis,

taxa Euribor no máximo histórico e fator 𝑓 igual a 1, constata-se que o critério de avaliação é pouco

exigente. Para passar no critério de avaliação financeira, basta à empresa apresentar resultados

operacionais médios dos últimos três anos superiores ou iguais a 7,44% do valor da obra a concurso.

Analisando a Tabela 10, este valor é alcançável por qualquer empresa que tenha a classe indicativa para

concorrer à obra. Poder-se-á concluir que no caso das obras em CPLQ, são as especificidades técnicas

que condicionam o acesso, e não tanto o nível de resultados operacionais.

Esta simulação foi feita com a Euribor num máximo histórico. Se for utilizado o valor da Euribor do início

do ano de 2014, presente na Tabela 7, o valor dos resultados operacionais médios desce para 2,4% do

preço base do concurso, o que é um valor ainda mais irrelevante.

Com base na análise da fórmula e nas simulações efetuadas, conclui-se que a utilidade do fator 𝑓 na

avaliação da capacidade financeira de uma empresa num CLPQ é, pelo menos para a maioria dos casos,

questionável. Acresce a isto o facto deste requisito ser único no mundo. Tudo isto pode levar a considerar

a eliminação deste requisito, uma vez que não foi testado noutros países e nos moldes atuais a fórmula é

muito pouco restritiva.

Por um lado, a fórmula centra-se apenas no EBITDA que, como visto anteriormente, é um indicador da

rentabilidade operacional a curto prazo da empresa. Na construção, uma importante fatia dos

investimentos advém da compra de equipamentos. A compra destes equipamentos é muitas vezes feita

com ajuda de financiamento externo e não com capitais próprios da empresa. O valor do EBITDA não

tem em conta os custos do endividamento, nem das amortizações, por esta razão o valor do EBITDA é

muito superior ao valor dos resultados líquidos da empresa. Assim, o EBITDA pode ser utilizado para

comparar a dimensão de duas empresas do mesmo setor de atividade mas dificilmente avalia a

capacidade financeira de uma empresa se for analisado isoladamente.

Por outro lado, na fórmula (3) tem-se na parcela da esquerda o valor da empreitada multiplicado pela

Euribor acrescida de 200 pontos base, ou seja o valor da empreitada multiplicado por um valor que

andará entre 0,02, caso a Euribor desça a 0, e 0,075, com a Euribor no seu máximo histórico. Já a

parcela da direita multiplica o EBITDA médio da empresa pelo fator 𝑓, que varia entre 0 e 10. Aqui reside

a segunda fraqueza desta fórmula. Enquanto que o valor da empreitada e o EBITDA médio são da

mesma ordem de grandeza, a taxa Euribor acrescida de 200 pontos base será sempre muito inferior ao

fator 𝑓. Com a Euribor no máximo, t chegou aos 0,075 e o fator 𝑓 mínimo é igual a 1. Com estes valores,

o fator 𝑓 é 13,3 vezes superior ao coeficiente t. Esta diferença pode ser várias vezes multiplicada caso se

aumente o fator 𝑓 ou se utilize uma taxa Euribor inferior. Concluindo, estes dois coeficientes não são da

mesma ordem de grandeza, o que faz com que este critério mínimo seja bastante fácil de ser cumprido

pelas empresas concorrentes.

62

5.4 Exercício de aplicação a casos reais

Consideram-se dois concursos públicos totalmente aleatórios de forma a avaliar as exigências financeiras

feitas pela entidade adjudicante às empresas concorrentes. Os dois exemplos que se seguem são CLPQ

de forma a avaliar o requisito mínimo da capacidade financeira, expressado pela fórmula que contém o

fator 𝑓.

5.4.1 Concurso 1

Consultando o modelo de anúncio do concurso limitado por prévia qualificação do Concurso 1, datado de

17 de abril de 2014, podemos saber o preço base da empreitada assim como as habilitações e requisitos

mínimos exigidos aos concorrentes.

O valor base do procedimento é de 4.350.000 €.

As habilitações exigidas estão explicitas no ponto 8 do anúncio:

8 – Documentos de Habilitação

O adjudicatário deverá ser titular de alvará ou o título de registo emitido pelo Instituto da Construção e do

Imobiliário, I. P. contendo as seguintes habilitações adequadas e necessárias à execução dos trabalhos

postos a concurso:

- A 1ª subcategoria da 1ª categoria (estruturas e elementos de betão) na classe correspondente à parte

dos trabalhos a que respeita; a 6ª subcategoria da 2ª categoria (saneamento básico), a qual tem de ser

de classe que cubra o valor total da proposta.

Nos termos do artigo 84.º do CCP, quando o concorrente for um agrupamento de pessoas coletivas:

- Os seus membros devem em conjunto, conter os alvarás de empreiteiro de obras públicas indicados no

número anterior;

- Pelo menos uma das empresas do agrupamento candidato deve deter habilitação da 6ª subcategoria da

2ª categoria que cubra o valor total da proposta.

A habilitação exigida com o maior valor é a 6ª subcategoria, saneamento básico, da 2ª categoria, vias de

comunicação, obras de urbanização e outras infraestruturas. Em nenhum tipo de procedimento concursal

é exigido classe de habilitações, uma vez que são os candidatos que definem o valor das suas propostas

e é o valor da proposta que tem de ser coberto pela classe de habilitações. No entanto, a partir do valor

base do concurso pode-se definir uma classe de habilitações indicativa que serve como guia para definir

os requisitos financeiros a cumprir.

Neste concurso a classe de habilitações indicativa é a classe 6 (obras no valor de até 5.312.000 €) para

cobrir o valor base da proposta. Uma empresa para ter um alvará desta classe deverá ter como requisitos

63

mínimos financeiros um capital social acima de 531.200 €, uma liquidez geral superior a 100% e uma

autonomia financeira acima de 5%.

No ponto 12 deste anúncio de concurso estão estipulados os parâmetros mínimos para participar:

12 – Requisitos Mínimos:

Na avaliação da capacidade técnica dos Candidatos para a Empreitada colocada a concurso, serão

adotados os seguintes critérios:

12.2 - Requisitos mínimos de capacidade financeira:

O preço base do procedimento nos termos do disposto na alínea a) do nº1 do artigo 47º é de

4.350.000,00 EUR, mais IVA e o prazo total de execução de 870 dias.

a) Apresentação por cada uma das suas empresas constituintes de cada candidatura, dos relatórios e

contas de exercício dos últimos três anos (2011, 2012 e 2013), ou documentos equivalentes, consoante a

exigência legal para o tipo de sociedade em questão, designadamente o relatório de gestão e

documentos de prestação de contas previstos no art.° 263° do Código das Sociedades Comerciais,

aprovado pelo Decreto-Lei n° 262/86, de 2 de setembro, acompanhado de declaração do candidato, sob

compromisso de honra, com indicação dos proveitos operacionais deduzidos das reversões de

amortizações e ajustamentos e dos custos operacionais, sem inclusão das amortizações, dos

ajustamentos e das provisões (EBITDA), relativos aos três últimos exercícios concluídos, os quais serão

utilizados para comprovação da Capacidade Financeira do Candidato, conforme Programa de

Procedimento.

b) No caso de o Candidato ser constituído por um agrupamento de empresas, declaração de Acordo -

Promessa de Constituição.

c) O fator "f" constante da expressão matemática prevista no Anexo IV do CCP é de 5 (cinco).

d) Adicionalmente ao exigido na alínea b), o Candidato deverá respeitar, cumulativamente, em pelo

menos dois dos últimos três anos, e para cada uma das suas empresas constituintes, os seguintes limites

mínimos, tendo por base as demonstrações financeiras dos respetivos anos, convertidas para euros:

i) Autonomia financeira (capital próprio/ativo líquido) >= 0,15

ii) Liquidez Geral (ativo circulante/passivo circulante) > 1,0

iii) Capacidade de Endividamento (capitais próprios/capitais permanentes) >=0,5.

Neste concurso são solicitados os relatórios de contas dos últimos três anos com indicação do EBITDA.

Substituindo o valor base do concurso, o fator 𝑓 de 5 e conhecendo a taxa Euribor à data do anúncio do

concurso no Diário da República acrescida de 200 pontos base pode-se calcular o EBITDA médio exigido

às empresas concorrentes a partir da fórmula presente no Anexo IV do CCP. Consultando o histórico

64

diário da taxa Euribor a 6 meses do Banco da Finlândia (fonte: www.suomenpankki.fi), a taxa Euribor no

dia 17 de abril de 2014 era de 0,426%.

Substituindo na fórmula (3) obtém-se:

V × t ≤ R × 𝑓 → R ≥V × t

𝑓→ R ≥

4.350.000 × 0,02426

5→ R ≥ 21.106 € (9)

Com os resultados obtidos das simulações feitas no ponto anterior, pode-se dizer que este valor de

EBITDA médio mínimo exigido era espectável.

Este valor de EBITDA é muito baixo tendo em conta o valor base da obra e as habilitações exigidas. Este

valor é inferior ao EBITDA médio de uma empresa com alvará da classe mais baixa (classe 1) e é cerca

de 30 vezes inferior ao valor do EBITDA médio da classe 6, como se pode verificar na Tabela 10.

Este exemplo demonstra que o requisito mínimo da capacidade financeira traduzido na fórmula presente

no Anexo IV do CCP é muito pouco restritivo e uma empresa que tenha a habilitação exigida em termos

de alvará facilmente cumpre o requisito.

Neste concurso, para além do EBITDA médio, também é exigido que as empresas concorrentes

apresentem rácios financeiros acima de determinados valores em pelo menos dois dos últimos três anos.

Relativamente ao rácio de endividamento que é a autonomia financeira, o valor requerido é de 15%, o

triplo dos 5% exigidos na concessão de alvará. Até 2009, este valor de 15% para a autonomia financeira

era o mínimo exigido para a obtenção de alvará. A autonomia financeira mede o peso do capital próprio

nos ativos da empresa e é um indicador da confiança dos acionistas no futuro da empresa. É natural que

o dono de obra queira que a empresa selecionada para executar a empreitada tenha uma estrutura

acionista comprometida com a gestão da empresa.

O requisito para a liquidez geral neste caso é redundante, uma vez que o valor é o mesmo exigido pelo

InCI, I.P. aquando da concessão e renovação do alvará. Qualquer empresa que tenha alvará tem de

respeitar este rácio, por isso não era necessário explicitá-lo nos requisitos mínimos para a participação

neste concurso. Esta situação de redundância deveria ser evitada no âmbito do nº4 do artigo 165.º do

CCP que diz que quando, no caso de empreitadas ou concessões de obras públicas, os requisitos

mínimos da capacidade técnica ou da capacidade financeira exigidos no programa do concurso se

basearem em elementos de facto já tidos em consideração para efeitos da concessão do alvará ou do

titulo de registo contendo as habilitações adequadas e necessárias à execução da obra a realizar, tais

requisitos devem ser mais exigentes que os legalmente previstos para aquela concessão.

Este concurso introduz um rácio que ainda não foi abordado, a capacidade de endividamento que tem a

seguinte fórmula:

65

Capacidade de Endividamento =Capitais Próprios

Capitais Permanentes (10)

Os capitais permanentes resultam da soma dos capitais próprios com as divididas a médio e longo prazo.

A capacidade de endividamento é um rácio de endividamento e determina até que ponto a empresa

ainda pode recorrer a capitais alheios, sem comprometer a sua solvabilidade e autonomia financeira.

A capacidade de endividamento, calculada com base neste rácio, varia entre zero e um, dado que os

capitais próprios não podem ser superiores ao valor dos capitais permanentes. O valor mínimo de 0

significa que a empresa só tem dívidas, não possuindo capitais próprios, e o valor máximo de 1

representa a situação em que os capitais próprios são iguais aos capitais permanentes por ausência de

dividas a terceiros a médio e longo prazo. Quanto mais elevado for o nível dos capitais próprios, maior a

capacidade de endividamento da empresa face a terceiros.

Para este rácio existe consenso por parte dos analistas financeiros que recomendam que a capacidade

de endividamento deve estar sempre acima de 0,5. Isto quer dizer que os capitais próprios devem

representar pelo menos 50% dos capitais permanentes. Esta recomendação parte do princípio que os

capitais próprios devem ser superiores às dividas da empresa. Neste concurso esta recomendação é

exigida aos concorrentes.

Neste concurso, a avaliação da capacidade financeira dos concorrentes passa pela exigência de:

- Um alvará previsivelmente de classe 6, caso o candidato apresente uma proposta com um preço igual

ao valor base, o que implica um capital social mínimo de 531.200 € e uma liquidez geral de 100%;

- Um EBITDA médio nos últimos três anos de 21.106 €;

- Uma autonomia financeira superior ou igual a 15 %;

- Uma capacidade de endividamento superior ou igual a 50%.

5.4.2 Concurso 2

O Concurso 2 é um concurso limitado por prévia qualificação datado de 15 de dezembro de 2014.

O valor base do procedimento é de 2.800.000 € e um prazo de 900 dias.

As habilitações exigidas estão explicitas no ponto 8 do anúncio:

Para além dos exigidos no nº 1 do artigo 81.º do CCP, o adjudicatário deverá ser titular de alvará ou o

título de registo emitido pelo Instituto da Construção e do Imobiliário, I. P. contendo as seguintes

habilitações adequadas e necessárias à execução dos trabalhos postos a concurso:

- A 6ª subcategoria da 2ª categoria (saneamento básico), a qual tem de ser de classe que cubra o valor

total da proposta;

66

- A 1ª subcategoria da 1ª categoria (estruturas e elementos de betão),

- A 1ª subcategoria da 2ª categoria (vias de circulação rodoviária e aeródromos)

- A 1ª subcategoria da 4ª categoria (instalações elétricas de utilização de baixa tensão), nas classes

correspondentes à parte dos trabalhos a que respeitem.

Como no exemplo anterior, a habilitação exigida com o maior valor é a 6ª subcategoria, saneamento

básico, da 2ª categoria, vias de comunicação, obras de urbanização e outras infraestruturas, e a classe

de habilitações indicativa é a classe 6 (obras no valor de até 5.312.000 €) para cobrir o valor base da

proposta de 2.800.000 €. Uma empresa para ter um alvará desta classe deverá ter como requisitos

mínimos financeiros um capital social acima de 531.200 €, uma liquidez geral superior a 100% e uma

autonomia financeira acima de 5%.

Relativamente aos requisitos financeiros mínimos, eles estão listados no ponto 12 deste anúncio:

12.2 - Requisitos mínimos de capacidade financeira:

a) O preço base do procedimento nos termos do disposto na alínea a) do nº 1 do artigo 47.º é de

2.800.000 EUR (dois milhões e oitocentos mil euros).

b) O fator "f" constante da expressão matemática prevista no Anexo IV do CCP é de cinco anos.

c) Adicionalmente ao exigido na alínea b), o Candidato deverá respeitar, cumulativamente, em pelo

menos dois dos últimos três anos, e para cada uma das suas empresas constituintes, os seguintes limites

mínimos, tendo por base as demonstrações financeiras dos respetivos anos, convertidas para euros.

i) Solvabilidade (capitais próprios/passivo) >=0,15

ii) Liquidez Geral (ativo circulante/passivo circulante) >=1,0

iii) Capacidade de Endividamento (capitais próprios/capitais permanentes) >=0,5.

Mais uma vez, vai-se calcular o EBITDA médio necessário para concorrer a este concurso. Substituindo o

valor base do concurso, o fator 𝑓 de 5 e a taxa Euribor à data do anúncio do concurso no Diário da

República que era de 0,178% no dia 15 de dezembro de 2015, segundo o banco nacional da Finlândia,

obtém-se:

V × t ≤ R × f → R ≥V × t

f→ R ≥

2.800.000 × 0,02178

5→ R ≥ 12.197 € (11)

O valor obtido é desproporcional face ao valor do concurso e da classe de habilitações indicativa.

Outra curiosidade é que neste anúncio de concurso está escrito que o fator 𝑓 é de cinco anos. Ora o fator

𝑓 é adimensional, o que de alguma forma revela que este requisito mínimo da capacidade financeira não

é totalmente compreendido pelas entidades adjudicantes.

67

Tal como no concurso analisado anteriormente, para além do requisito do EBITDA médio mínimo

também são exigidos mínimos para três rácios.

Em relação à liquidez geral e à capacidade de endividamento, os valores mínimos exigidos são os

mesmos do concurso 1.

Este concurso apresenta o rácio da solvabilidade, que tem por fórmula:

Solvabilidade =Capitais Próprios

Passivo (12)

O passivo é o conjunto das obrigações financeiras que uma empresa tem com terceiros, seja através de

empréstimos, seja através do diferimento de pagamentos (aos fornecedores, ao Estado, entre outros).

A solvabilidade é um rácio de endividamento que determina a proporção relativa dos ativos da empresa

financiados por capitais próprios versus os financiados por capitais alheios. Quanto mais elevado este

rácio, maior a estabilidade financeira da empresa. Quanto mais baixo, maior a sua vulnerabilidade.

As opiniões são divergentes sobre o que constitui um rácio de solvabilidade aceitável. Isto acontece

porque as margens de lucro variam de uma indústria para outra. A margem de lucro que é considerada

boa numa indústria pode ser considerada fraca noutra, uma vez que a renda líquida, remanescente da

venda depois de deduzidos os custos de produção, obtida com as vendas é um fator importante na

determinação da margem de lucro. É por isso necessário ajustar a avaliação dos resultados em

conformidade com as normas que se aplicam a uma determinada indústria.

Para Ribeiro Barbosa Farinha (1994), geralmente um rácio de solvabilidade superior a 30% é

considerado um bom sinal de que a empresa é financeiramente saudável e muito provavelmente pode

honrar todas as obrigações de dívida de longo prazo. Existem outros analistas que afirmam que o rácio

de solvabilidade deve estar sempre acima dos 50%.

Neste concurso a solvabilidade exigida é de 15%, valor relativamente baixo.

Para se ter um termo de comparação, segundo o último relatório da situação económica do setor da

construção em Portugal do InCI, I.P. (2014) referente ao ano de 2013, metade das empresas analisadas

apresentam um índice de 45,9%, apurando-se uma solvabilidade inferior a 17,4%, em 25% das empresas

analisadas. A amostra analisada neste relatório representa 70% das empresas detentoras de alvará, logo

estes valores são representativos da realidade do setor. De notar também que os mais baixos índices de

solvabilidade foram apurados junto das empresas de classe 1, tendo 25% destas empresas apresentado

índices de solvabilidade inferiores a 10,8%, o que demonstra uma grande dependência de crédito,

refletindo, assim, um elevado risco para os seus credores. Nas classes mais altas, classe 6 e superiores,

a solvabilidade média é sempre superior a 50%, e no quartil inferior a solvabilidade é de 25% em média.

Neste concurso, a avaliação da capacidade financeira dos concorrentes passa pela exigência de:

68

- Um alvará previsivelmente de classe 6, caso o candidato apresente uma proposta com um preço igual

ao valor base, o que implica um capital social mínimo de 531.200 € e uma liquidez geral de 100%;

- Um EBITDA médio nos últimos três anos de 12.197 €;

- Uma capacidade de endividamento superior ou igual a 50%;

- Uma solvabilidade superior ou igual a 15%.

5.5 Resultados e discussão do caso de estudo e da avaliação

financeira em Portugal

Conforme descrito no capítulo 4, a avaliação da capacidade financeira em concursos públicos em

Portugal é efetuada em duas fases, durante a concessão e renovação de alvará e durante a fase de

concurso.

No âmbito da concessão ou renovação do alvará, da responsabilidade do InCI, I.P. A avaliação é

efetuada anualmente e as empresas têm de apresentar níveis mínimos para três indicadores distintos:

- O capital próprio avalia o valor contabilístico da empresa, ou seja a diferença entre ativo e passivo;

- O rácio de liquidez geral mede a capacidade da empresa em honrar os seus compromissos financeiros

com terceiros a curto prazo;

- A autonomia financeira, sendo um rácio de estrutura de capital, afere a proporção de ativos que estão a

ser financiados pelos capitais próprios da empresa.

As empresas são assim avaliadas em relação ao seu valor, liquidez e estrutura de endividamento. Os

valores exigidos são relativamente baixos comparados com os valores recomendados por especialistas:

10% do valor limite da classe máxima detida para o capital próprio, 100% de liquidez geral e 5% de

autonomia financeira. Ressalva-se novamente que estes valores já foram por duas vezes reduzidos

devido à crise económica e eram, antes de 2009, de 115% e 15% para a liquidez geral e autonomia

financeira, respetivamente.

Outra nota importante é a de que, a partir de 2013, duas condições mínimas de permanência na atividade

da construção foram suspensas por ordem do InCI, I.P. Deixou de ser necessário deter, no último

exercício ou pela média dos três últimos exercícios, um valor de volume de negócios em obra igual ou

superior a 50% do valor limite da classe anterior à classe máxima detida e um valor de custos com o

pessoal igual ou superior a 7% do valor limite da classe anterior à maior das classes detidas pela

empresa.

O investimento em empreitadas públicas encolheu, como mostram os valores da Tabela 6. Só entre 2011

e 2012, o valor das empreitadas públicas diminui perto de 44%, tendo nos últimos anos estabilizado num

valor próximo de 1,5 mil milhões de euros anuais. Com a crise que o setor atravessa, o número de obras

diminui drasticamente o que levou a uma redução do volume de negócios e dos quadros das empresas.

69

Face a esta redução do número e valor das obras, o InCI, I.P. optou por retirar estes dois requisitos para

que muitas empresas de construção não vissem a sua classe de habilitações reduzida.

A segunda fase da avaliação é realizada na fase de concurso.

O CCP, tal como as outras legislações de contratação pública europeias, dá liberdade à entidade

adjudicante para, no programa de concurso, exigir aos concorrentes os requisitos que entender

convenientes, em qualquer tipo de concurso público. Isto está explícito na alínea 4 do artigo 132.º do

CCP onde está escrito que o programa de concurso pode conter quaisquer regras específicas sobre o

procedimento de concurso público consideradas convenientes pela entidade adjudicante, desde que não

tenham por efeito impedir, restringir ou falsear a concorrência.

Nos CLPQ a capacidade financeira baseia-se, pelo menos, no requisito mínimo traduzido pela expressão

matemática que contém o fator 𝑓. Esta expressão foi objeto de análise neste capítulo e conclui-se que a

calibração da fórmula poderá ser melhorada. Os valores de EBITDA exigidos são muito inferiores aos

valores das obras em concurso, o que desvirtua o conceito inicial da fórmula. Atualmente na prática, este

requisito apenas exclui as empresas com EBITDA médio negativo, uma vez que as empresas com a

classe de habilitações que se enquadre no valor do preço base têm valores de EBITDA superiores aos

exigidos.

A fórmula pretende exigir aos concorrentes um nível mínimo de EBITDA conforme o valor do concurso,

onde o valor exigido seria tanto mais elevado quanto o fator 𝑓 fosse baixo. Ora, para todas as simulações

feitas, mesmo com o fator 𝑓 mínimo, igual a 1, os valores de EBITDA exigidos não estão enquadrados

com o valor dos concursos. Isto acontece porque multiplica-se, no lado esquerdo da expressão, o valor

da empreitada pela taxa Euribor acrescida de 200 pontos base, e do lado direito, o EBITDA médio pelo

fator 𝑓. Ora, a Euribor a 6 meses acrescida de 200 pontos base é um número que varia entre 0,02 e

0,075, ao passo que o fator 𝑓 varia entre 1 e 10. Com isto, o objetivo da fórmula de comparar o valor da

empreitada e os resultados passados do concorrente não é alcançado devido a esta disparidade de

valores dos coeficientes. Resumindo, a fórmula do fator 𝑓 é um requisito inovador, nenhuma legislação

de outro país da UE ou do mundo consultada tem uma expressão semelhante, mas, nos moldes atuais,

pouco útil por ser pouco restritiva.

Nos CLPQ, os requisitos de capacidade financeira passam também pela exigência de rácios financeiros

mínimos. Estes rácios são um indicativo da capacidade da empresa em mobilizar os recursos

económicos necessários para o cumprimento do contrato. Devido à variedade de tamanho, custo e

complexidade das empreitadas, fica à escolha da entidade adjudicante a escolha destes rácios, assim

como os seus valores mínimos para poder participar no concurso. Não existe nenhum tipo de

recomendações ou guidelines acerca do significado dos rácios que ajudem na seleção dos mesmos por

parte da entidade adjudicante.

70

Desta pesquisa fica a ideia de que os requisitos económicos mínimos não são apreciados com a devida

atenção. Exemplo disso é o valor de EBITDA mínimo exigido nos concursos estudados previamente ser

260 e 230 vezes inferior ao valor da empreitada, para o Concurso 1 e 2 respetivamente. Outros sinais

desta situação de desconhecimento são a exigência de um valor mínimo de autonomia financeira já

considerado no alvará e a atribuição ao fator 𝑓 de uma unidade de tempo, quando se trata de um

coeficiente adimensional. Acresce ainda a aparente arbitrariedade na escolha dos rácios, e respetivos

valores, que carecem de explicações nos concursos.

71

6 Propostas de Melhoria

6.1 Considerações iniciais

Tendo em conta que a análise da avaliação da capacidade financeira de empresas de construção em

procedimentos concursais públicos por parte da comunidade científica (2) e das legislações

internacionais (3) e nacional (4 e 5) está concluída, tem-se uma visão global do tema. Apresenta-se neste

capítulo um conjunto de propostas de melhoria que poderão ser desenvolvidas e adotadas no quadro

nacional (6.2 e 6.3).

6.2 Metodologia de cálculo para o fator 𝒇

6.2.1 Princípios da proposta

Portugal tem na sua legislação um requisito mínimo inovador para a avaliação da capacidade financeira,

a fórmula do fator 𝑓, que pode ser revisto.

A fórmula atual implica a multiplicação de dois parâmetros com valores da mesma ordem de grandeza, o

EBITDA e o valor base do concurso, por dois coeficientes com valores muito distintos, a taxa Euribor a

seis meses acrescida de 200 pontos base e o fator 𝑓. Este diferencial no valor dos coeficientes provoca

grandes disparidades entre os valores base dos concursos e o valor de EBITDA exigido. Parece assim

lógico propor a revisão do valor do fator 𝑓.

O valor do EBITDA das empresas varia muito conforme a área de negócio e o próprio contexto

económico. Todavia, é um número muito valorizado pelo mercado na avaliação de uma empresa, isto

porque reflete o desempenho da empresa tendo apenas em consideração os ganhos gerados pela sua

atividade principal. O EBITDA não contabiliza a amortização do pagamento de empréstimos ou dívidas,

pagamentos de juros, depreciação de equipamentos e instalações , ou impostos. É, portanto, um

indicador muito importante porque mede a produtividade e eficiência do negócio.

O indicador financeiro mais próximo do EBITDA é o volume de negócios. O volume de negócios de uma

empresa representa a totalidade do dinheiro gerado pela sua atividade e é o principal indicador financeiro

utilizado para aferir a dimensão das empresas. Para além da dimensão, ao estudar o histórico do volume

de negócios avalia-se se uma empresa está em crescimento ou em retração. Não é por isso uma

surpresa que apareça como um dos indicadores mais utilizado nos critérios de pré-qualificação dos

estudos consultados (ver Tabela 2), e apareça referenciado na totalidade das legislações revistas (ver

Tabela 4), excetuando a saudita. Em Portugal, devido à crise e à grande queda do volume de obras, este

critério foi retirado da avaliação das empresas aquando da concessão e renovação de alvará. O valor de

volume de negócios em obra tinha de ser igual ou superior a 50% do valor limite da classe anterior à

maior das classes que a empresa detinha e, para a classe 1, um valor igual ou superior a 10% do valor

limite da classe 1.

72

Se este requisito ainda estivesse em vigor, o volume de negócios exigido por classe seria o apresentado

na Tabela 12.

Tabela 12 – Valores Limites e Volume de Negócios anteriormente exigido em Obra por Classes

Classe de Habilitações

Valores Limites das Obras Volume de Negócios em Obra

1 Até 166.000 € Acima de 16.600 €

2 Até 332.000 € Acima de 83.000 €

3 Até 664.000 € Acima de 166.000 €

4 Até 1.328.000 € Acima de 332.000 €

5 Até 2.656.000 € Acima de 664.000 €

6 Até 5.312.000 € Acima de 1.328.000 €

7 Até 10.624.000 € Acima de 2.656.000 €

8 Até 16.600.000 € Acima de 5.312.000 €

9 Acima de 16.600.000 € Acima de 8.300.000 €

Consultando o mais recente relatório anual elaborado pelo InCI, I.P. (2014) sobre o setor da construção,

relativo ao ano de 2013, tem-se acesso ao valor do volume de negócios por classe dos quartis inferior e

superior e da mediana. Os valores presentes na Tabela 13 mostram que este requisito mínimo seria

cumprido, com alguma margem em todas as classes, por mais de 75% da amostra de empresas de

construção portuguesas. Portanto a exigência do volume de negócios em obra ser igual ou superior a

50% do valor limite da classe anterior à maior das classes que a empresa detém parece ser ainda um

requisito válido, não excluindo demasiadas empresas da possibilidade de obtenção e renovação de

alvará.

Tabela 13 - Volume de Negócios por Classes em 2013

Volume de Negócios

Classes Quartil Superior Mediana Quartil Inferior

1 315.128 € 154.915 € 76.684 €

2 473.835 € 241.320 € 119.719 €

3 1.051.588 € 468.392 € 214.533 €

4 1.572.314 € 770.987 € 360.453 €

5 3.144.221 € 1.547.779 € 748.739 €

6 6.716.306 € 3.309.448 € 1.923.206 €

7 16.199.536 € 7.734.865 € 5.413.941 €

8 23.665.916 € 15.030.560 € 9.213.140 €

9 104.474.599 € 36.292.312 € 18.939.753 €

Fonte InCI, I.P.

Importa agora saber a ligação entre volume de negócios e o EBITDA, que é traduzida pelo indicador

“margem de EBITDA” e que representa a percentagem do EBITDA sobre o volume de negócios.

73

Margem de EBITDA =

EBITDA

Volume de Negócios

(13)

Os valores do volume de negócios, EBITDA e respetivas margens, presentes nos relatórios de contas de

cinco das maiores empresas de construção nacionais, estão compilados na Tabela 14. Uma vez que

muitas destas empresas diversificaram as suas atividades, e para que este números fossem

representativos do setor da construção, apenas foram contabilizados os valores referentes à atividade da

construção.

Tabela 14 - EBITDA, Volume de Negócios e Margem de EBITDA de cinco grandes empresas nacionais de 2010

a 2013

Empresa A Empresa A’

Ano EBITDA Volume de Negócios Margem EBITDA

EBITDA Volume de Negócios Margem EBITDA

2013 303.089.000 € 1.985.466.000 € 15,3% 46.951.000 € 176.626.000 € 26,6%

2012 235.465.711 € 1.928.980.000 € 12,2% 47.881.000 € 230.510.000 € 20,8%

2011 200.688.048 € 1.746.862.591 € 11,5% 50.983.000 € 281.445.000 € 18,1%

2010 162.493.522 € 1.599.023.363 € 10,2% 30.521.000 € - -

Empresa C Empresa B

Ano EBITDA Volume de Negócios Margem EBITDA

EBITDA Volume de Negócios Margem EBITDA

2013 -13.400.000 € 497.000.000 € -2,7% 213.000.000 € 1.581.000.000 € 13,5%

2012 29.000.000 € 713.000.000 € 4,1% 209.000.000 € 1.383.000.000 € 15,1%

2011 47.700.000 € 796.200.000 € 6,0% 117.000.000 € 1.200.000.000 € 9,8%

2010 53.000.000 € 800.000.000 € 6,6% 150.000.000 € 1.320.000.000 € 11,4%

Empresa E

Ano EBITDA Volume de Negócios Margem EBITDA

2013 33.999.219 € 498.872.955 € 6,8%

2012 28.428.798 € 516.858.099 € 5,5%

2011 34.019.98 8€ 645.138.275 € 5,3%

2010 39.314.224 € 723.465.129 € 5,4% Fonte Relatórios de Contas

A margem de EBITDA varia conforme a empresa, depende muito da estrutura de financiamento da

mesma, e também do ano de atividade. Não obstante, a margem de EBITDA situa-se, grosso modo, num

intervalo entre os 5% e 25%. Calculando a margem média de EBITDA para os quatro anos de atividade

considerados, obtém-se uma margem média de EBITDA de 10,3%.

Para obter uma visão mais alargada do setor da construção em Portugal, consultaram-se as margens de

EBITDA médias por classe entre 2008 e 2013, fornecidas pelo InCI, I.P. e transcritas na Tabela 15

74

Tabela 15 - Margem de EBITDA média por Classe entre 2008 e 2013

Margem de EBITDA média

Classe 1 Classe 2 Classe 3 Classe 4 Classe 5 Classe 6 Classe 7 Classe 8 Classe 9 Geral

2013 5,8% 5,6% 6,1% 2,4% 7,3% 7,6% 7,4% 17,2% 8,9% 7,2%

2012 3,5% 4,3% 5,7% 6,9% 6,4% 6,7% 6,5% 10,9% 7,4% 6,4%

2011 5,0% 5,0% 6,1% 7,1% 6,7% 4,8% 4,7% 4,4% 4,6% 5,3%

2010 6,6% 7,1% 8,2% 8,9% 8,0% 5,8% 7,0% 5,8% 9,2% 8,0%

2009 9,5% 9,6% 7,8% 9,1% 7,7% 5,5% 7,8% 4,6% 7,0% 7,5%

2008 9,4% 9,1% 9,3% 9,8% 9,2% 7,6% 6,1% 4,9% 6,5% 8,0%

Fonte InCI, I.P.

Verifica-se que as margens de EBITDA são superiores para as classes mais elevadas e têm vindo a

diminuir consideravelmente nas classes mais baixas. De notar também que a margem média calculada

anteriormente para cinco das maiores empresas nacionais é superior à média da classe de habilitações

que detêm, que é a classe 9. de No geral, a margem média de EBITDA fica-se pelos 7,1% para os 6 anos

considerados.

Todas estas informações permitem construir um modelo útil e simples que pode ser utilizado para apurar

um intervalo de valores do fator 𝑓 a considerar em cada CLPQ, que se adeque ao valor base da

empreitada e à taxa Euribor em vigor, e assim, exigir um EBITDA médio apropriado para a obra em

questão. Para criar esse intervalo, vai-se utilizar conceitos e informações já considerados nesta

dissertação.

6.2.2 Valor máximo do fator f

Para o valor máximo do fator 𝑓 escolheu-se reutilizar o conceito de volume de negócios mínimo em obra

por classe. Sendo que anteriormente era um requisito mínimo para deter o alvará, pode servir de base

para calcular o fator 𝑓 menos restritivo, ou seja, o valor máximo do intervalo de valore deste parâmetro.

A metodologia de cálculo é simples. Tomando por base a classe de habilitações correspondente ao valor

base do procedimento concursal, memoriza-se essa classe e consulta-se a Tabela 12, onde estão os

valores de volume de negócios mínimo associados a cada classe de habilitações. Obtém-se assim um

volume de negócios mínimo teórico, correspondente a 50% do valor limite da classe anterior à maior das

classes que o valor base do concurso indica. Depois, multiplica-se este valor de volume de negócios pela

margem média de EBITDA do setor da construção de 7,1%, anteriormente calculada com os dados do

InCI, I.P., alcançando assim o EBITDA mínimo esperado para a classe de habilitações que se enquadra

no valor base. Na Tabela 16 estão os respetivos valores de volume de negócios e de EBITDA mínimo

esperado por classe.

75

Tabela 16 - Volume de Negócios Mínimo e EBITDA Esperado por Classe

Classe de Habilitações

Volume de Negócios Teórico Mínimo EBITDA Mínimo

Esperado

1 16.600 € 1.178 €

2 83.000 € 5.893 €

3 166.000 € 11.786 €

4 332.000 € 23.572 €

5 664.000 € 47.144 €

6 1.328.000 € 94.288 €

7 2.656.000 € 188.576 €

8 5.312.000 € 377.152 €

9 8.300.000 € 589.300 €

Substituindo este valor de EBITDA na fórmula, e já tendo o valor base da empreitada e a taxa Euribor a 6

meses acrescida de 200 pontos base presentes no programa de concurso, fica-se com o valor do fator 𝑓

máximo, porque minimizando o EBITDA esperado está-se a maximizar o fator 𝑓:

V × t = Rmínimo esperado × 𝑓max → 𝑓max =V × t

Rmínimo esperado

(14)

6.2.3 Valor mínimo do fator 𝒇

Para o cálculo do fator 𝑓 mínimo, podem ser utilizados os valores de EBITDA médio por classe fornecidos

pelo InCI, I.P. A fórmula do anexo IV traduz o requisito mínimo obrigatório da capacidade financeira para

uma empresa poder ser selecionável na pré-qualificação de um CLPQ, logo não deve ser restritiva ao

ponto de excluir a maioria dos possíveis candidatos. Utilizando o EBITDA médio da classe de

habilitações fica-se com um requisito bastante exigente, excluindo mais de metade dos possíveis

concorrentes da classe indicativa correspondente, isto porque a média de EBITDA é sempre superior à

mediana para todas as classes, como mostra a Tabela 17 com os dados mais recentes fornecidos pelo

InCI, I.P.

Utilizando o EBITDA médio da classe, calcula-se o mínimo do intervalo de valores possíveis do fator 𝑓.

Cabe depois ao responsável pelo programa de concurso escolher o valor do fator 𝑓, dentro do intervalo

de valores previamente calculado, que achar conveniente para a empreitada.

Se os valores de EBITDA exigidos parecerem demasiado elevados, o fator 𝑓 pode ser calculado usando

o valor da mediana. Se, pelo contrário, os valores forem muito baixos e o concurso exigir um requisito

mínimo mais exigente, pode optar-se pela utilização dos valores do percentil 80 ou 90. Utilizando estes

valores, estar-se-á a excluir a grande maioria das empresas da classe indicativa, por isso devem ser

utilizados com redobrada atenção. No entanto, as empresas com uma classe de habilitações mais

elevada que a indicativa devem preencher este requisito mínimo, uma vez que têm teoricamente EBITDA

médios superiores.

76

Tabela 17 - Valores da Médio, Mediana, Percentil 80 e 90 do EBITDA das empresas titulares de alvará de

construção por classe no ano de 2013

Classe Média Mediana Percentil 80 Percentil 90

1 25.061 € 6.782 € 27.219 € 54.560 €

2 28.402 € 10.527 € 38.042 € 69.783 €

3 63.155 € 22.080 € 85.308 € 158.674 €

4 46.424 € 35.637 € 131.455 € 251.157 €

5 24.862 € 76.571 € 317.235 € 623.736 €

6 420.176 € 198.538 € 509.168 € 951.792 €

7 1.058.722 € 498.277 € 1.204.047 € 2.560.161 €

8 3.222.211 € 947.369 € 2.317.806 € 5.081.676 €

9 8.382.169 € 2.400.497 € 10.684.419 € 25.750.556 €

Fonte InCI, I.P.

Assim, a fórmula para o calculo do mínimo do intervalo dos possíveis valores do fator 𝑓 fica:

V × t = Rmédio classe × 𝑓min → 𝑓min =V × t

Rmédio classe

(15)

Com este intervalo de valores calculado, o fator 𝑓 fica balizado utilizando uma metodologia precisa com

dados atualizados, cabendo ao responsável pela elaboração do concurso escolher um fator 𝑓 que exija

um valor de EBITDA médio adequado ao valor da empreitada.

6.2.4 Cálculo do fator 𝒇 em concursos

Aplique-se agora esta metodologia de cálculo do fator 𝑓 nos dois concursos analisados previamente.

Concurso 1

Como visto no capítulo anterior, para este concurso é exigido um alvará de classe 6, o valor base R é de

4.350.000 €, e a taxa Euribor a 6 meses acrescida de 200 pontos base t de 0,02426. Lendo as Tabelas

16 e 17, para a classe 6 fica-se com um Rmínimo esperado esperado de 94.288 € e um Rmédio classe classe de

420.176 €. Esta informação permite calcular 𝑓min e 𝑓max :

𝑓min =V × t

Rmédio classe

=4.350.000 × 0,02426

420.176= 0,251 (16)

𝑓max =V × t

Rmínimo esperado

=4.350.000 × 0,02426

94.288= 1,119 (17)

77

A partir da metodologia de cálculo do intervalo de possíveis valores do fator 𝑓, fica-se com intervalo de

valores [0,251 ; 1,119]. Este intervalo de valores é meramente indicativo, mas fornece ao responsável

pelo concurso uma ideia precisa e atualizada dos valores que o fator 𝑓 deve ter para que o EBITDA

médio exigido neste concurso seja coerente com o alvará dos potenciais concorrentes, o valor base e a

taxa Euribor à data do concurso.

Concurso 2

Este concurso tem um valor base R de 2.800.000 € e uma taxa Euribor a 6 meses acrescida de 200

pontos base à data de saída do concurso t de 0,02178. A classe de habilitações indicativa é a classe 6.

Consultando a Tabela 16, fica-se com um Rmínimo esperado esperado de 94.288 € e lendo a Tabela 17 tem-

se um Rmédio classe classe de 420.176 €. Com estes dados já se pode calcular o intervalo para o fator 𝑓:

𝑓min =

V × t

Rmédio classe

=2.800.000 × 0,02178

420.176= 0,145

(18)

𝑓max =

V × t

Rmínimo esperado

=2.800.000 × 0,02178

94.288= 0,647

(19)

O intervalo de valores do fator 𝑓 é [0,145 ; 0,647] com o valor do EBITDA médio exigido a variar entre os

94.288 € e os 420.176 €.

Neste concurso, o fator 𝑓 escolhido é de 5 o que leva a um EBITDA médio exigido 7,7 vezes inferior ao

EBITDA mínimo esperado calculado por este método, que deu um fator 𝑓 de 0,647. Atualmente o fator 𝑓

mais exigente é de 1, este valor é superior ao intervalo de valores encontrado. Isto mostra, o

desfasamento entre os valores exigidos em concurso e a realidade do mercado nacional, daí a

importância da revisão do método de escolha e dos possíveis valores do fator 𝑓.

Estes exemplos mostram as virtudes da adaptabilidade do modelo. Nos dois concursos a classe de

habilitações é a mesma, o que conduz ao mesmo enquadramento de valores de EBITDA mínimos

exigidos. No entanto, como o valor base e a taxa Euribor são diferentes também o valor do fator 𝑓 vai ser

distinto para os dois concursos. Os critérios de seleção estão normalizados pelos valores presentes nas

Tabelas 16 e 17, mas o fator 𝑓 pode moldar-se conforme o concurso.

6.3 Lista de rácios financeiros

Nos procedimentos concursais existentes no CCP que requerem uma prospeção e avaliação de

mercado, podem ser exigidos aos concorrentes como requisito mínimo rácios financeiros.

A ideia desta proposta de melhoria é criar uma lista de rácios, que os responsáveis pelos concursos

possam consultar, e assim escolher em consciência quais os critérios de seleção que querem aplicar.

78

No capítulo 4 foram descritas as várias categorias (rentabilidade, endividamento, liquidez e atividade) e

analisados alguns rácios. No ponto relativo à concessão e renovação do alvará, foram estudadas a

autonomia financeira e a liquidez geral. Também foram analisados os rácios da capacidade de

endividamento e da solvabilidade, aquando da avaliação dos requisitos económicos em concursos.

Na elaboração do capítulo 2, ao consultar diversos estudos sobre modelos de pré-qualificação e

avaliação de empreiteiros, três indicadores destacaram-se dos restantes (ver Tabela 2) ao serem mais

vezes mencionados: o rating de crédito, a liquidez e o volume de negócios.

O rating de crédito é um ótimo indicador para estimar a capacidade financeira de uma empresa pois

avalia o risco da emissão. É calculado por agências de notação financeira, que são entidades

independentes especializadas no cálculo do risco de crédito. Infelizmente, só as empresas de muito

grande dimensão, que fazem grandes operações financeiras no mercado público, como emissão de

obrigações, é que têm um rating calculado por estas agências. Por excluir a grande maioria das

empresas do setor, a análise do rating de crédito não pode ser equacionado na avaliação de empresas

em concursos públicos.

A liquidez é talvez a maior preocupação financeira das empresas de construção. No início de cada

empreitada, existe um hiato temporal entre o começo da produção, que requer a mobilização de todos os

recursos necessários, e os primeiros pagamentos efetuados pelo cliente. Este período de despesas tem

de ser inteiramente suportado pela tesouraria da empresa, daí a necessidade de liquidez no negócio de

construção.

Para além do índice de liquidez geral já estudado, os rácios de liquidez reduzida e imediata também

podem ser utilizados.

A liquidez reduzida tem por fórmula:

Liquidez Reduzida =

Ativo Circulante − Existências

Passivo Circulante

(20)

O rácio de liquidez reduzida é um rácio financeiro que mede a capacidade da empresa de fazer face às

suas responsabilidades de curto prazo com a liquidez proveniente do seu ativo circulante. Mas de uma

forma mais exigente do que no rácio de liquidez geral, assumindo que as existências (como os stocks de

matérias-primas) serão difíceis de converter em dinheiro rapidamente. No setor da construção a

conversão das existências em dinheiro requer um processo demorado, logo a utilização do rácio da

liquidez reduzida pode até ser mais adequado do que o uso da liquidez geral. Quanto mais elevado este

rácio, maior a solvabilidade de curto prazo da empresa, sendo desejável que o rácio ultrapasse pelo

menos o valor de 1, significando que a empresa tem pelo menos ativos líquidos para fazer face às

responsabilidades de curto prazo, mesmo não contando com a liquidação das existências.

79

O rácio de liquidez imediata compara o valor de disponibilidades com o valor do passivo de curto prazo e

tem por fórmula:

Liquidez Imediata =

Disponibilidades

Passivo Circulante

(21)

A sua leitura é imediata e exprime a percentagem de dinheiro que a empresa dispõe no momento para

cobrir as suas dívidas de curto prazo. Os valores do rácio de liquidez imediata costumam apresentar

valores bastante reduzidos, na ordem dos 10% ou menos, o que significa que as empresas não

costumam ter montantes de liquidez elevados. Tal deve-se ao facto de as empresas reinvestirem os seus

excessos de tesouraria em ativos financeiros a prazo ou aproveitarem para reduzir o seu passivo.

Como já foi salientado várias vezes ao longo deste estudo, um dos grandes problemas das empresas de

construção em Portugal é o seu endividamento excessivo, sendo portanto importante estudar mais rácios

de endividamento.

O rácio de cobertura dos encargos financeiros é útil para compreender se uma empresa gera dinheiro

suficiente para suportar os seus encargos financeiros, e tem por fórmula:

Cobertura Encargos Financeiros =

Resultado Operacional

Encargos Financeiros

(22)

Este rácio relaciona os encargos financeiros que a empresa suporta, com o resultado operacional que

gera. Ou seja, quanto mais elevado o rácio, maior a probabilidade de que o resultado operacional gere

dinheiro suficiente para cumprir as obrigações financeiras. Assim, o rácio de cobertura de encargos

financeiros, mais não é que o número de vezes que o resultado operacional cobre os juros financeiros a

que a empresa tem de suportar devido ao seu endividamento. Não existe um valor recomendado para

este rácio porque o nível de resultados operacionais e de endividamento depende muito do setor de

atividade e da conjuntura económica.

Na Tabela 18 estão todos os rácios estudados ao longo desta dissertação e que podem ser utilizados nos

procedimentos concursais.

80

Tabela 18 – Levantamento de rácios financeiros propostos para a avaliação da capacidade financeira de empresas

Tipo Rácio Numerador Denominador Principal Utilização Valor Mínimo Recomendado

Liquidez

Liquidez Geral Ativo Circulante Passivo Circulante

Capacidade de honrar

compromissos de curto prazo

1,25

Liquidez Reduzida Ativo Circulante - Existências Passivo Circulante

Capacidade de honrar

compromissos de curto prazo

recorrendo à liquidez do seu ativo

circulante

1

Liquidez Imediata Disponibilidades Passivo Circulante

Liquidez imediata para cobrir

compromissos de curto prazo

0,1

Endividamento

Autonomia Financeira Capitais Próprios Ativos Líquidos Mede a

solvabilidade da empresa

0,35

Capacidade de Endividamento Capitais Próprios Capitais Permanentes Afere se a empresa ainda pode recorrer a capitais alheios

0,5

Solvabilidade Capitais Próprios Passivo

Determina a proporção relativa

dos ativos da empresa

financiados por capitais próprios

versus os financiados por capitais alheios

0,3-0,5

Rentabilidade Cobertura de Encargos Financeiros Resultado Operacional Encargos Financeiros

Número de vezes que o resultado

operacional cobre os encargos financeiros

-

81

7 Considerações Finais

Neste capítulo final são expostas as conclusões deste trabalho (7.1) e são delineados indicações para

trabalhos futuros sobre este tema (7.2).

7.1 Contributos e conclusões

O tema da avaliação da capacidade financeira de empresas de construção não tem sido objeto de muitos

trabalhos de investigação em Portugal. Esta realidade acrescenta importância ao trabalho aqui

desenvolvido, servindo de chamada de atenção a questões que podem e devem ser mais debatidas. A

presente investigação vem assim colmatar uma certa escassez de dissertações, publicações, relatórios,

artigos e outros elementos literários acerca desta matéria a nível nacional.

O objetivo desta dissertação é analisar a forma como é feita a avaliação da capacidade financeira das

empresas de construção em Portugal. Para ter uma visão abrangente sobre o tema, foram estudados os

trabalhos da comunidade científica sobre o tema, bem como a legislação internacional e nacional.

A comunidade científica internacional explora esta temática e define que a avaliação financeira é um dos

fatores chave do sucesso de uma empreitada de construção. Também esta avaliação é parte integrante

de muitos modelos de qualificação e de pré-qualificação de empresas em concursos de empreitadas de

construção. O peso desta avaliação varia conforme os modelos mas existem parâmetros, como o volume

de negócio ou a liquidez, que são sistematicamente utilizados.

Nos concursos internacionais, a legislação dos diferentes países consultados são precisas quanto aos

documentos que podem ser exigidos para a avaliação da capacidade financeira das empresa

concorrentes, mas são pouco explícitas relativamente aos índices e valores mínimos a respeitar. Cabe às

entidades adjudicantes, que formulam os cadernos de concurso, definir quais os índices mínimos para

concorrer às empreitadas. Isto acontece porque os concursos, referentes às empreitadas de construção,

variam muito em termos de custo, prazo e complexidade.

A análise da situação nacional foi mais exaustiva e estudou-se não só a avaliação da capacidade

financeira em concursos públicos como também no ingresso e permanência na atividade da construção

em Portugal.

Na concessão e renovação do alvará realizadas pelo InCI, I.P, a avaliação é anual e as empresas têm de

apresentar níveis mínimos de capital próprio, liquidez geral e de autonomia financeira.

Nos procedimentos concursais a entidade adjudicante tem liberdade para, no programa de concurso,

exigir aos concorrentes os requisitos que entender convenientes. Nos CLPQ, também podem ser

exigidos rácios financeiros mínimos, mas existe um requisito mínimo obrigatório de capacidade

financeira, traduzido pela expressão matemática que contém o fator 𝑓. Esta expressão foi analisada, e

concluiu-se que os valores de EBITDA exigidos são muitas vezes desproporcionados em relação aos

82

valores das obras a concurso. Atualmente este requisito apenas exclui as empresas com EBITDA médio

negativo, uma vez que as empresas com as classes de alvará apropriadas à obra têm na generalidade

valores de EBITDA superiores aos exigidos pela fórmula.

Com base nesta análise, criou-se uma metodologia de cálculo de um intervalo de valores para o fator 𝑓.

O 𝑓min.deste intervalo tem por base o EBITDA médio da classe que se enquadra no valor base do

concurso. O 𝑓max fundamenta-se no volume de negócios, que anteriormente era um dos critérios

económicos avaliados na concessão de alvará, da classe que se enquadra no valor base. Esta

metodologia permite a escolha de um valor do fator 𝑓 de forma criteriosa e informada, porque os valores

usados são atualizados e refletem a realidade do setor da construção à data do lançamento do concurso.

Com a análise dos trabalhos da comunidade científica, da legislação internacional e da situação nacional,

esta documento pretende contribuir para o desenvolvimento da temática da avaliação da capacidade

financeira de empresas de construção em Portugal, particularmente no estudo e compreensão do

requisito mínimo traduzido pela fórmula matemática que contém o fator 𝑓. O estudo da fórmula permitiu

criar uma metodologia de cálculo de um intervalo de valores para o fator 𝑓, que pode ser utilizado pelas

entidades adjudicantes aquando da formulação dos programas de concurso. Este é o principal contributo

deste trabalho.

A temática da avaliação da capacidade financeira de empresas de construção não se encontra de forma

alguma esgotada e existem diversos caminhos para desenvolvimentos futuros.

7.2 Desenvolvimentos Futuros

No dia 26 de fevereiro de 2014, foi publicado no JOUE a DE 2014/24/UE relativa aos contratos públicos e

que revoga a DE 2004/18/CE. Os estados membros têm até abril de 2016 para transpor para as

legislações nacionais as novas regras desta diretiva, excetuando as regras relativas ao e-procurement

onde o limite é setembro de 2018. Todas as legislações sobre a contratação pública a nível europeu vão

ser brevemente revistas e poderão surgir novas regras.

Relativamente à avaliação da capacidade financeira dos concorrentes, a diretiva confirma que as

autoridades adjudicantes podem impor requisitos destinados a assegurar que os operadores económicos

disponham da capacidade financeira necessária para executar o contrato. Para esse efeito, as

autoridades adjudicantes podem exigir entre outros, que os operadores económicos tenham um

determinado volume de negócios anual mínimo, ou que os forneçam informações sobre as suas contas

anuais apresentando, por exemplo, o rácio entre ativos e passivos. A diretiva reforça que a imposição de

requisitos demasiado exigentes em termos de capacidade financeira constitui frequentemente um

obstáculo injustificado à participação das pequenas e médias empresas nos contratos públicos. Tais

requisitos deverão estar relacionados e ser proporcionais ao objeto do contrato. Em especial, as

autoridades adjudicantes não deverão poder exigir aos operadores económicos um volume de negócios

83

mínimo que seja desproporcionado em relação ao objeto do contrato; esta exigência não deverá, por

norma, exceder o dobro do valor estimado do contrato.

A prova da capacidade económica e financeira do operador económico continuará a ser feita por um ou

mais dos seguintes elementos de referência:

- Declarações bancárias adequadas ou, se necessário, prova de que se encontra seguro contra riscos

profissionais;

- A apresentação das demonstrações financeiras ou extratos das demonstrações financeiras, sempre que

a sua publicação seja exigida pela legislação do país onde o operador económico estiver estabelecido;

- Uma declaração relativa ao volume de negócios global e, eventualmente, ao volume de negócios no

domínio de atividades objeto do contrato, respeitante no máximo aos últimos três exercícios disponíveis,

em função da data de criação ou do início de atividades do operador económico, desde que estejam

disponíveis dados sobre esse volume de negócios.

Com base nas indicações da diretiva, as regras de avaliação da capacidade financeira dos estados

membros não devem sofrer alterações de relevo, mas esta afirmação só poderá ser confirmada quando

esta diretiva for transposta para o conjunto das legislações.

Em Portugal à luz das alterações à contratação pública, aprovadas pela DE 2014/24/UE, o CCP será

revisto e o InCI, I.P. para além de uma nova denominação, a de IMPIC, Instituto dos Mercados Públicos,

do Imobiliário e da Construção, vai ganhar novos poderes como a avaliação qualitativa dos contratos

públicos, que vai além da mera análise estatística que hoje é realizada.

Parece interessante aproveitar esta revisão do CCP para propor uma revisão do fator 𝑓 de forma a torná-

lo num número racional arredondado à milésima, podendo tomar qualquer valor dentro do intervalo ]0;10],

por forma a torná-lo compatível com todos os CLPQ, independentemente do valor base ou da taxa

Euribor em vigor. Outra solução possível é simplesmente eliminar este requisito, uma vez que ele não

existe em mais nenhum país do mundo e nos moldes atuais tem uma utilidade questionável.

Por fim, talvez fosse útil criar uma secção no Observatório das Obras Públicas que acompanhe os

principais índices financeiros das empresas de construção detentoras de alvará, com um foco especial no

EBITDA e na margem de EBITDA, de forma que o cálculo e a escolha do fator 𝑓 fossem realizados com

dados atualizados que ilustrem a real situação do setor.

Esta ideia de um observatório para o setor da construção não é original. Conhecendo-se, um projeto de

pesquisa e desenvolvimento designado de IDP - Indicadores de Desempenho e Produtividade, cujo

objetivo consistia em estabelecer um conjunto de indicadores destinados ao diagnóstico e avaliação das

diversas empresas do universo da construção, útil para os construtores, consultores e

comerciantes/fabricantes de materiais de construção. Os dados podem ser consultados no site do

IcBench mas só foram atualizados até 2012.

84

85

86

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Diplomas Legais Referenciados

Diplomas nacionais

Decreto-Lei nº12/2004. Diário da República Portuguesa

Portaria nº14/2004. Diário da República Portuguesa

Portaria nº119/2012. Diário da República Portuguesa

Declaração de Retificação nº27/2012. Diário da República Portuguesa

Decreto-Lei nº144/2007. Diário da República Portuguesa

Decreto-Lei nº158/2012. Diário da República Portuguesa

Decreto-Lei nº69/2011. Diário da República Portuguesa

Portaria nº971/2009. Diário da República Portuguesa

Portaria nº274/2011. Diário da República Portuguesa

Decreto-Lei nº18/2008 – Código dos Contratos Públicos. Diário da República Portuguesa

Anúncio de Procedimento nº5369/2014. Diário da República Portuguesa

Anúncio de Procedimento nº7149/2014. Diário da República Portuguesa

Diplomas internacionais

Diretiva Europeia 2004/18/CE. Jornal Oficial da União Europeia

Ley 30/2007 – Contratos del Sector Público. Boletín Oficial del Estado

89

Décret n° 2006-975 - Code des Marchés Publics. Journal Officiel de la République Française

Decreto Legislativo nº163, 12 aprile 2006 – Codice dei Contratti Pubblici relativi a lavori, servizi e

forniture. Gazzetta Ufficiale della Repubblica Italiana

Public Contracts Legislation 2006. Her Majesty’s Stationery Office

Statutory Instrument nº329/2006 - European Communities (Award of Public Authorities’ Contracts)

Regulations. Stationery Office

Act nº29 January 2004 – Public Procurement Law. Polish Public Procurement Office

Item nº231. Journal of Laws 2013 Poland

Act nº137/2006 Coll – Government Procurement. Czech Legislation

Ordonanta de urgenta nº34/2006. Romanian Legislation

Swedish Public Procurement Act. Konkurrnverket Swedish Competitive Authority

Forskrift om offentlige anskaffelser - Norwegian Public Procurement Act. Public Procurement Database

DOFFIN

Federal Acquisition Regulation. Federal Register of the United States of America

Lei nº8666 de 21 de junho de 1993. Casa Civil Presidência da República do Brasil

Lei de contratação pública. Diário da República Órgão Oficial da República de Angola

Regulamento de Contratação de Empreitada de Obras Públicas, Fornecimento de Bens e Prestação de

Serviço ao Estado. Imprensa Nacional de Moçambique

Government Tenders And Procurement Law. Royal Decree No. M/58. Saudi Arabia

Diretiva Europeia 2014/24/UE. Jornal Oficial da União Europeia

Regulamento UE Nº1336/2013 de 13 de dezembro. Jornal Oficial da União Europeia

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www.b-on.pt - consultado durante o mês de novembro de 2013

www.ec.europa.eu - consultado durante o mês de dezembro de 2013

www.usaspending.gov - consultado durante o mês de fevereiro de 2014

www.imf.org - consultado durante o fevereiro de 2014

www.suomenpankki.fi - consultado durante o mês de outubro de 2014

www.base.gov.pt - consultado durante o mês de novembro de 2014

www.base.gov.pt/Oop/pt/Homepage - consultado durante o mês novembro de 2014

90

www.inci.pt - consultado durante o mês novembro de 2014

www.icbench.net - consultado durante o mês de janeiro de 2015

91

92

Anexos

Anexo 1 – Survey SF1407

PREAWARD SURVEY OF PROSPECTIVE

CONTRACTOR

FINANCIAL CAPABILITY

SERIAL NO. (For surveying activity use)

PROSPECTIVE CONTRACTOR

OMB Control Number: 9000-0011

Expiration Date: 1/31/2017

Public reporting burden for this collection of information is estimated to average 24 hours per response, including the time for reviewing instructions, searching existing data sources, gathering and maintaining the data needed, and completing and reviewing the collection of information. Send comments regarding this burden estimate or any other aspect of this collection of information, including suggestions for reducing this burden, to the Regulatory Secretariat (MVCB), Office of Acquisition Policy, GSA, 1800 F Street, NW, Washington, DC 20405.

SECTION I - RECOMMENDATION

1. RECOMMENDED

3. NARRATIVE (Cite those sections of the report which substantiate the recommendation. Give any other backup information in this space or on an additional sheet, if necessary.)

a. COMPLETE AWARD b. PARTIAL AWARD c. NO AWARD(Quantity: )

2. TOTAL OFFERED PRICE

4. SURVEY

MADE BY

5. SURVEY

REVIEWING

OFFICIAL

a. SIGNATURE b. TELEPHONE NUMBER

(Include area code)

c. DATE SIGNED

a. SIGNATURE b. TELEPHONE NUMBER

(Include area code)

c. DATE REVIEWED

IF CONTINUATION SHEETS

ATTACHED - MARK HERE

STANDARD FORM 1407 (REV. 1/2014) Prescribed by GSA - FAR (48 CFR) 53.209-1(e)

AUTHORIZED FOR LOCAL REPRODUCTION

Previous edition is usable.

93

SECTION II - GENERAL

SECTION III - BALANCE SHEET/PROFIT AND LOSS STATEMENT

SECTION IV - PROSPECTIVE CONTRACTOR'S FINANCIAL ARRANGEMENTS

SECTION V - GOVERNMENT FINANCIAL AID

3. FINANCIAL AID CURRENTLY OBTAINED FROM THE GOVERNMENT

4. LIST THE GOVERNMENT AGENCIES INVOLVED 5. SHOW THE APPLICABLE CONTRACT NOS.

Complete items below only if item a., is marked "YES."

PART A - LATEST BALANCE SHEET

3. FINANCIAL POSITION

5. RATIOS

PART B - LATEST PROFIT AND LOSS STATEMENT

1. TYPE OF COMPANY

2. YEAR ESTABLISHED:

CORPORATION

OTHER (Specify)

DIVISION

PARTNERSHIP

SUBSIDIARY

PROPRIETORSHIP

3. NAME AND ADDRESS OF:

a. PARENT CO.

b. SUBSIDIARIES

1. DATE 2. FILED WITH 1. CURRENT PERIOD

PART C - OTHER

1. FISCAL YEAR ENDS (Date):

a. FROM b. TO

2. FILED WITH

a. Cash

b. Accounts Receivable

c. Inventory

d. Other Current Assets

e. Total Current Assets

f. Fixed Assets

g. Current Liabilities

h. Long Term Liabilities

i. Total Liabilities

j. Net Worth

4. WORKING CAPITAL (Current Assets less Current Liabilities)

a. CURRENT ASSETS

TO CURRENT

LIABILITIES

c. TOTAL LIABILITIES

TO NET WORTH

b. ACID TEST (Cash, temporary

investments held in lieu of cash

and current receivables to current

liabilities)

$ $

$

3. NET SALES

4. NET PROFITS

BEFORE TAXES

a. CURRENT PERIOD

b. First prior fiscal year

c. Second prior fiscal year

a. CURRENT PERIOD

b. First prior fiscal year

c. Second prior fiscal year

2. BALANCE SHEETS AND PROFIT AND LOSS STATEMENTS HAVE BEEN CERTIFIED

a. THROUGH (Date) b. BY (Signature)

3. OTHER PERTINENT DATA

4. INDEPENDENT ANALYSIS OF FINANCIAL POSITION SUPPORTS THE STATEMENTS SHOWN IN ITEMS 1, 2, AND 3

2. EXPLAIN ANY "YES" ANSWERS TO ITEMS 1a, b, AND c.

YES NO (If "NO", explain)

Mark "X" in appropriate column.

1. USE OF OWN RESOURCES

2. USE OF BANK CREDITS

3. OTHER (Specify)

YES NO

Mark "X" in appropriate column.

a. PROGRESS PAYMENT(S)

b. GUARANTEED LOAN

c. ADVANCE PAYMENTS

YES NO

1. TO BE REQUESTED IN CONNECTION WITH

PERFORMANCE OF PROPOSED CONTRACT

a. PROSPECTIVE CONTRACTOR RECEIVES GOVERNMENT FINANCING AT PRESENT

YES NO NO $

b. IS LIQUIDATION

CURRENT?

c. AMOUNT OF UNLIQUIDATED

PROGRESS PAYMENTS

OUTSTANDING

YES

DOLLAR AMOUNTS (a) AUTHORIZED (b) IN USE

a. Guaranteed loans

b. Advance payments

$

$

$

$

STANDARD FORM 1407 (REV. 1/2014) PAGE 2

94

SECTION VI - BUSINESS AND FINANCIAL REPUTATION

SECTION VII - SALES (000'S) FOR NEXT SIX QUARTERS

1. COMMENTS OF PROSPECTIVE CONTRACTOR'S BANK

2. COMMENTS OF TRADE CREDITORS

3. COMMENTS AND REPORTS OF COMMERCIAL FINANCIAL SERVICES AND CREDIT ORGANIZATIONS (Such as, Dun & Bradstreet, Standard and Poor, etc.)

6. DESCRIBE ANY OUTSTANDING LIENS OR JUDGEMENTS

4. MOST RECENT

CREDIT RATING

5. DOES PRICE APPEAR UNREALISTICALLY LOW?

a. DATE b. BY

YES NO (If Yes, explain in Section I NARRATIVE)

CATEGORY

1. CURRENT CONTRACT SALES (Backlog)

2. ANTICIPATED ADDITIONAL SALES

3. TOTALS

A. GOVERNMENT (Prime & Subcontractor)

B. COMMERCIAL

A. GOVERNMENT (Prime & Subcontractor)

B. COMMERCIAL

1 2 3 4 5 6 TOTAL

$ $ $ $ $ $ $

STANDARD FORM 1407 (REV. 1/2014) PAGE 3

95

Anexo 2 – Fluxograma das etapas exigidas por lei de um CLPQ

96