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ii
OSVALDO LUIZ DE SEABRA PEREIRA
AVALIAÇÃO DA CONTAMINAÇÃO DE CONES DE GUTA-PERCHA E RESILON UTILIZADOS NO TRATAMENTO
ENDODÔNTICO
Dissertação apresentada à Faculdade de Odontologia da Universidade Estácio de Sá, visando a obtenção do grau de Mestre em Odontologia (Endodontia).
ORIENTADOR Prof. Dr. José Freitas Siqueira Júnior
UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ RIO DE JANEIRO
2008
iii
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Universidade Estácio de Sá, Biblioteca, RJ)
P436A Pereira, Osvaldo Luiz de Seabra. Avaliação da contaminação de cones de guta-percha e Resilon utilizados no tratamento endodôntico. / Osvaldo Luiz de Seabra Pereira. – Rio de Janeiro, 2008. 60 f.; xii. Dissertação (Mestrado em Odontologia) – Universidade Estácio de Sá, 2008. Referências: f. 37. 1. Guta-percha. 2. Resilon. 3. Contaminação. 4. Tratamento endodôntico. I. Título. CDD 617.6342
vii
ÍNDICE ________________________________________________________________ RESUMO..........................................................................................................viii.
ABSTRACT..................................................................................................…..ix.
LISTA DE FIGURAS...................................................................................……x.
LISTA DE TABELAS....................................................................................….xi.
LISTA DE ANEXOS.....................................................................................….xii.
INTRODUÇÃO..........................................................................................…....01.
REVISÃO DE LITERATURA....................................................................…....09.
PROPOSIÇÃO.............................................................................................….19.
MATERIAIS E MÉTODOS.........................................................................…...20.
RESULTADOS..........................................................................................……27.
DISCUSSÃO............................................................................................…….29.
CONCLUSÃO......................................................................................………..36.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................….....37.
ANEXOS..................................................................................................……..47.
viii
RESUMO
Todo material ou substância a ser utilizado temporariamente ou definitivamente
no interior do canal radicular deve estar livre de contaminação microbiana. O
objetivo deste estudo foi avaliar o percentual de contaminação de cones de
guta-percha de sete diferentes marcas encontradas no mercado especializado
e do Resilon, um material à base de policaprolactona. Os cones foram retirados
de suas embalagens e imediatamente transferidos para tubos de ensaio
contendo caldo tioglicolato, sendo cada teste feito em triplicata. Além disso,
testes para análise quantitativa de provável contaminação foram realizados
com cones retirados de suas embalagens e imediatamente transferidos para
tubos de ensaio contendo solução salina, agitados em vórtex, sendo a solução
semeada em placas contendo meio de cultura sólido Mueller Hinton Agar.
Nenhuma amostra apresentou contaminação em qualquer dos testes. As
razões para estes resultados são discutidas e, apesar da encontrada ausência
de contaminação detectável antes do primeiro uso, aconselha-se a
descontaminação dos cones antes do emprego na obturação endodôntica.
Palavras-chave: Guta-percha; Resilon; Contaminação; Tratamento
endodôntico.
ix
ABSTRACT
Every substance and material placed in the canal temporarily or defitively must
be free of microbial contamination. The purpose of the present study was to
evaluate the percentage of contamination of seven different brands of gutta-
percha available in the specialized market and Resilon, a polycaprolactone-
based material. Cones were removed from their original packages and
immediately transferred to tubes containing thioglycolate broth. Tests were
carried out triplicate. In addition, for quantitative analysis of possible
contaminants, tests were performed with cones taken from their packages and
immediately transferred to tubes containing saline solution, agitated in vortex,
and aliquots of the solution being seeded onto Mueller Hinton agar plates. No
sample showed contamination in any of the tests performed. The reasons for
these results are discussed, and despite the absence of detectable
contamination before the first use, it is advisable to decontaminate cones before
they are used in endodontic obturation.
Palavras-chave: Gutta-percha; Resilon; Contamination; Endodontic treatment.
x
LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Câmara de fluxo laminar com cabina de proteção biológica com luz
ultravioleta ativada.............................................................................................22
Figura 2 – Teste qualitativo. (a): material utilizado no experimento. (b):
transferência dos cones para o tubo de ensaio. (c): 54 testes realizados com
meio de cultura contendo caldo tioglicolato.......................................................23
Figura 3 – Teste quantitativo. (a): agitação do tubo contendo o cone em vórtex.
(b): obtenção de alíquota para semeadura. (c): semeadura em placa. (d): 18
testes realizados com meio de cultura ágar Mueller Hinton..............................26
xi
LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Classificação das infecções endodônticas e microrganismos mais
freqüentemente detectados...............................................................................04
Tabela 2 – Cones obturadores avaliados..........................................................21
xii
LISTA DE ANEXOS
Anexo 1 – Composição dos meios de cultura utilizados...................................48 Anexo 2 – Esquematização do teste de contaminação dos cones...................49 Anexo 3 – Artigo................................................................................................50
1
INTRODUÇÃO
________________________________________________________________
As patologias pulpares e perirradiculares são, usualmente, de natureza
inflamatória e de etiologia microbiana. Apesar de fatores químicos e físicos
poderem induzir alterações inflamatórias na polpa e nos tecidos
perirradiculares, microrganismos e seus produtos exercem um papel
significativo na indução e, principalmente, na perpetuação das doenças
pulpares e perirradiculares (SIQUEIRA, 1997; SIQUEIRA, 2001b).
MILLER (1894), em estudo da etiopatogenia das patologias pulpares e
perirradiculares, foi o primeiro pesquisador a sugerir a associação de bactérias
com tais patologias. Através de bacterioscopia do esfregaço de material
coletado de canais radiculares infectados, detectou os três tipos morfológicos
básicos de células bacterianas: cocos, bacilos e espirilos. O autor também
observou que muitas bactérias não foram passíveis de cultivo pelas técnicas
disponíveis na época.
KAKEHASHI et al. (1965), em um estudo clássico da literatura
endondôntica, expuseram mecanicamente polpas dentais de ratos
convencionais e ratos germ-free ao meio bucal. Enquanto nos animais
convencionais foram observadas inflamação severa ou necrose pulpar em
associação a lesões inflamatórias perirradiculares, nos animais germ-free isso
não foi observado. Nestes últimos houve, inclusive, o reparo do tecido pulpar
por neoformação de dentina.
2
Após a década de 70, com o desenvolvimento de técnicas de isolamento
e cultivo de anaeróbios estritos, vários autores evidenciaram o predomínio
destas bactérias nas infecções endodônticas em uma prevalência de 68% a
90% (SUNDQVIST, 1976; BYSTRÖM & SUNDQVIST, 1983; BAUMGARTNER
et al., 1992; BRAUNER & CONRADS, 1995), o que é justificado pela baixa
tensão de oxigênio no interior dos canais radiculares contendo polpa
necrosada.
MÖLLER et al. (1981) também confirmaram o papel crucial exercido por
microrganismos na etiopatogenia de lesões perirradiculares. Estes autores
induziram necrose pulpar asséptica e séptica em dentes de macacos e, após
seis a sete meses, as análises clínica, radiográfica, microbiológica e histológica
evidenciaram nos casos de polpas necrosadas, mas não infectadas, que os
tecidos perirradiculares estavam desprovidos de inflamação e apresentando
indícios de reparação tecidual. Entretanto, nos casos de dentes contendo
polpas necrosadas e infectadas houve sempre o desenvolvimento de lesões
perirradiculares.
Estudos utilizando métodos de cultura foram de fundamental importância
na determinação de patógenos relacionados às infecções endodônticas,
especialmente após o desenvolvimento de modernas técnicas de coleta e
transporte (SUNDQVIST, 1994). Estes estudos se baseiam na identificação
através de características fenotípicas de cada espécie microbiana e são
dependentes da escolha do método de coleta do espécime clínico, do meio de
transporte utilizado, da determinação do sistema de incubação e atmosférico,
da escolha do meio para isolamento primário, do critério de identificação e,
3
principalmente, da capacidade de interpretação dos resultados obtidos
(SLOTS, 1986).
As infecções endodônticas podem ser classificadas de acordo com o
momento em que ocorrem. A infecção primária é aquela que ocorre após a
necrose pulpar, antes de qualquer intervenção profissional no canal. Quando
microrganismos conseguem sobreviver à terapia endodôntica ou quando
infectam o sistema de canais radiculares durante o tratamento endodôntico ou
após ele, estabelecem-se as infecções persistentes e secundárias,
respectivamente. Dentre as cerca de 100 a 200 espécies bacterianas que
colonizam a cavidade bucal de um dado indivíduo, um grupo restrito composto
de 10 a 30 espécies é comumente encontrado em infecções primárias
(SIQUEIRA, 2002; SIQUEIRA & RÔÇAS, 2005). A diversidade de espécies
bacterianas presentes nas infecções endodônticas dificulta sua caracterização
como patógenos endodônticos. Das bactérias comumente isoladas de
infecções endodônticas, muitas não são patogênicas em cultura pura, um
requisito fundamental para a caracterização de patógenos verdadeiros.
Entretanto, quando estão em cultura mista, associadas a outras espécies
microbianas, muitas delas se tornam patogênicas. SIQUEIRA et al. (1998a)
evidenciaram que Porphyromonas endodontalis, Prevotella intermedia e
Prevotella nigrescens não foram patogênicas quando injetadas no subcutâneo
de ratos em cultura pura, mas foram quando associadas em cultura mista,
indicando a existência de sinergismo entre estas espécies bacterianas.
Outra questão importante é que a simples presença de uma espécie
bacteriana no interior dos canais radiculares não é indício suficiente para
4
classificá-la como patógeno endodôntico, visto que esta pode ser um mero
oportunista. A Tabela 1 apresenta os microrganismos mais freqüentemente
detectados nas infecções endodônticas, de acordo com o tipo de infecção
(LOPES & SIQUEIRA, 2004).
Tabela 1. Classificação das infecções endodônticas e microrganismos mais
freqüentemente detectados
INFECÇÃO PRIMÁRIA INFECÇÃO SECUNDÁRIA INFECÇÃO PERSISTENTE
Fusobacterium
Streptococcus
Prevotella
Eubacterium
Actinomyces
Campylobacter
Propionibacterium
Porphyromonas
Peptostreptococcus
Parvimonas
Pseudoramibacter
Treponema
Filifactor
Dialister
Enterococcus
Klebsiella
Enterobacter
Pseudomonas
Acinetobacter
Escherichia
Fungos
Actinomyces
Enterococcus
Streptococcus
Pseudoramibacter
Propionibacterium
Fungos
Os microrganismos são encontrados em suspensão na forma
planctônica ou agregados a superfícies na forma séssil ou em biofilme.
Observam-se peculiaridades que os diferem quanto à velocidade de
crescimento, estrutura e composição da membrana celular, e sensibilidade a
5
agentes antimicrobianos. Geralmente, a forma séssil apresenta alterações
genéticas que possibilitam a inibição ou síntese de novas substâncias, além de
uma estrutura protetora do grupo microbiano contra fatores ambientais
agressivos. Assim, tais características proporcionam a estas células condições
favoráveis de sobrevivência, o que as torna menos susceptíveis à erradicação
quando comparadas aos mesmos microrganismos sob a forma planctônica
(COSTERTON et al., 1999). A maioria dos microrganismos encontra-se em
suspensão nos fluidos presentes na luz do canal principal. Entretanto,
agregados microbianos são usualmente visualizados colonizando as paredes
do canal, por vezes formando multicamadas celulares. Além disso, a infecção
pode se propagar para os túbulos dentinários e para variações da anatomia
interna, principalmente no terço apical do canal radicular. As espécies
bacterianas encontradas com maior prevalência nos túbulos dentinários
pertencem aos gêneros Actinomyces, Peptostreptococcus, Veillonella,
Eubacterium, Fusobacterium, Propionibacterium, Prevotella, Porphyromonas e
Streptococcus (SIQUEIRA et al., 1996; SIQUEIRA, 1997).
As principais fontes de irritantes bacterianos para a indução da patologia
pulpar e perirradicular são a lesão cariosa e o tecido pulpar necrosado e
infectado, respectivamente. E, como vias de acesso para as bactérias
alcançarem o tecido pulpar, podemos citar os túbulos dentinários, a própria
exposição pulpar, periodonto e a anacorese hematogênica (SIQUEIRA et al.,
1996). Fatores de virulência e produtos do metabolismo bacteriano são
responsáveis pelo dano direto ao tecido pulpar, enquanto que componentes
estruturais da célula bacteriana como o lipopolissacarídeo, podem danificar o
6
tecido indiretamente pela ativação da resposta imune. Após a agressão
bacteriana à polpa, esta reage com o desenvolvimento de um processo
inflamatório visando combater e conter o avanço da infecção. Entretanto, o
tecido pulpar, por possuir circulação sanguínea do tipo terminal, com
drenagem linfática limitada, não consegue por si só debelar o agressor (LOPES
& SIQUEIRA, 2004). É necessária, então, a intervenção local do profissional, a
fim de promover a máxima redução de bactérias, favorecendo assim o reparo.
A probabilidade de se obter um resultado favorável do tratamento endodôntico
aumenta consideravelmente quando o processo infeccioso é erradicado do
sistema de canais radiculares antes da obturação (SIQUEIRA, 2001a). Já
microrganismos persistindo no canal no momento da obturação, aumentam as
chances de não haver êxito no tratamento (SJÖGREN et al., 1997; FABRICIUS
et al., 2006).
Os principais objetivos do tratamento endodôntico são: remover a polpa
patologicamente afetada; limpar, modelar e prover a desinfecção em casos de
canais infectados; e obturar o sistema de canais radiculares na intenção de
prevenir uma reinfecção (TORABINEJAD et al., 2005). A obtenção de um
resultado favorável na terapia endodôntica depende de alguns fatores como:
eliminação de microrganismos do interior do canal radicular, selamento contra
percolação de fluidos dos tecidos perirradiculares para o interior do canal
radicular que poderiam servir de substrato para microrganismos
remanescentes e estabelecimento de um bloqueio de qualquer comunicação
entre a cavidade oral até os tecidos perirradiculares, realizando uma obturação
7
de alta qualidade seguida de uma restauração coronária definitiva
(KIRKEVANG & HØRSTED-BINDSLEV, 2002).
Tão importante quanto eliminar os microorganismos existentes nos
canais radiculares é prevenir a introdução de novos microorganismos para o
seu interior. Estudos têm demonstrado que a inoculação de bactérias em
canais radiculares, como Pseudomonas aeruginosa e algumas espécies de
Staphylococcus, pode resultar em infecções endodônticas persistentes e de
difícil tratamento (BARNETT et al., 1988; TRONSTAD et al., 1987; RANTA et
al., 1998). Conforme LEONARDO et al. (1997), microrganismos não devem ser
transportados por instrumentos endodônticos contaminados para o interior do
canal radicular, pois estes, juntamente com seus produtos, apresentam-se
relevantes para a etiologia e persistência de patologias de origem endodôntica.
Da mesma forma, pontas de papel absorvente e cones obturadores deveriam
estar livres de microrganismos no momento de sua utilização na terapia
endodôntica. Assim, a manutenção da cadeia asséptica durante o tratamento
endodôntico representa uma das medidas mais importantes para a prevenção
da infecção.
Uma vez que microrganismos representam a principal causa da
patologia perirradicular, a manutenção da cadeia asséptica em Endodontia
assume extrema importância na prevenção da infecção do canal e, portanto, no
prognóstico do tratamento. Dentre tais medidas, salienta-se a importância de
se utilizar no interior dos canais apenas instrumentos e materiais livres de
microrganismos contaminantes.
8
A obturação dos canais radiculares tem um papel relevante na
perpetuação do estado de desinfecção atingido pelo preparo químico-mecânico
e pela medicação intracanal (BYSTRÖM & SUNDQVIST, 1983; PETERSSON
et al., 1991). As chances de sucesso do tratamento endodôntico tornam-se
maiores quando a infecção intracanal é erradicada de maneira efetiva antes da
obturação do sistema de canais radiculares (SJÖGREN et al., 1997).
Portanto, o aspecto chave do tratamento endodôntico é a eliminação e
prevenção do processo infeccioso (NAIR et al., 1990; GUTMANN, 1992). Os
verdadeiros objetivos da terapia endodôntica consistem em prevenir a infecção
do canal radicular em casos de polpa viva com inflamação irreversível e, além
de prevenir, também controlar a infecção em um quadro de polpa necrosada,
evitando assim o desenvolvimento de uma lesão perirradicular, quando
ausente, ou criando condições propícias para sua reparação, quando presente.
Em outras palavras, a terapia visa ao reparo ou à manutenção da saúde das
estruturas perirradiculares e ao restabelecimento da função dentária normal
(BASRANI et al., 2004; NAIR et al., 2005; SIQUEIRA, 2005). A excelência
endodôntica envolve o compromisso de favorecer as defesas do hospedeiro
para reagir favoravelmente ao tratamento endodôntico. Neste sentido, o
controle da inflamação e/ou da infecção endodôntica por meio do tratamento
endodôntico é influenciado por vários fatores como o esvaziamento, o
alargamento, a desinfecção do sistema de canais radiculares, o selamento
coronário e as medidas de manutenção da cadeia asséptica.
9
REVISÃO DE LITERATURA
________________________________________________________________
A filosofia predominante na Endodontia refere-se à obturação do canal
radicular empregando-se um material sólido, associado a um material plástico,
usualmente os cimentos endodônticos. A guta-percha foi introduzida por
Bowman, em 1867, na Odontologia como material obturador dos canais
radiculares, sendo encontrada usualmente na forma de cones (GROSSMAN,
1982). É um polímero do metilbutadieno ou isopreno (1,4 poliisopreno), um
isômero mais duro, mais quebradiço e menos elástico que a borracha. A
verdadeira guta-percha é obtida através da coagulação do látex de árvores
sapotáceas da Malásia (NAHMIAS et al., 2003). Os cones de guta-percha
encontram-se usualmente disponíveis no comércio sob a forma de cones
padronizados chamados de calibrados, geralmente empregados como cones
principais, e na forma de cones auxiliares utilizados como principais ou
acessórios.
De acordo com a literatura (FRIEDMAN et al., 1977; LOPES &
SIQUEIRA, 2004), os cones de guta-percha apresentam uma composição
básica de 19% a 20% de guta-percha, 59% a 75% de óxido de zinco e o
restante de radiopacificadores, ceras, agentes corantes, antioxidantes e sais
metálicos. A presença do óxido de zinco confere rigidez e atividade
antibacteriana aos cones de guta-percha. As porcentagens de cada
componente variam dependendo do fabricante (MOORER & GENET, 1982).
10
Apesar das inúmeras vantagens da guta-percha, como sua biocompatibilidade,
ausência de toxicidade, ser termoplastificável e permitir o retratamento, não
apresenta adesividade à estrutura dentária (MOUNCE & GLASSMAN, 2004).
O sistema de obturação Resilon/Epiphany (Pentron Clinical
Technologies, Wallingford, CT, EUA) se apresenta como uma alternativa à
guta-percha, sendo o Resilon um material à base de policaprolactona com
forma e radiopacidade semelhantes à guta-percha (EZZIE et al., 2006;
HIRAISHI et al., 2008). O sistema consiste em cones de Resilon de vários
diâmetros, um cimento adesivo de dupla polimerização (Epiphany) e um primer
autocondicionante que se unem com a dentina quando polimerizados no canal
(BARNETT & TROPE, 2004; CHIVIAN, 2004). O sistema é biocompatível
(SOUSA et al., 2006), radiopaco e solubilizado pelo clorofórmio em casos de
retratamento (EZZIE et al., 2006; OLIVEIRA et al., 2006). Mostra-se menos
suscetível à infiltração coronária quando comparado com obturações utilizando
técnicas de compactação lateral e vertical de guta-percha associada aos
cimentos Epiphany ou AH 26 (SHIPPER et al., 2004; STRATTON et al., 2006;
TUNGA & BODRUMLU, 2006).
ROTH et al. (2006) conduziram teste para avaliar a esterilidade de limas
endodônticas fornecidas por cinco diferentes fabricantes e obtiveram índice de
13% de contaminação em 150 instrumentos testados. As caixas foram abertas
com luvas estéreis e cada lima endodôntica transferida com a utilização de
pinças para um tubo de ensaio contendo 5 ml de Brain Heart Infusion. Tubos
de ensaio turvos tiveram culturas semeadas em placas de ágar-sangue e
incubadas a 37º C durante 24 horas. As placas foram examinadas para
11
caracterização morfológica, depois de efetuada suspensão em solução salina e
coradas pelo método de Gram. As espécies de nove tubos de ensaio foram
determinadas pelo seqüenciamento do gene do 16S rRNA. Os resultados do
seqüenciamento coincidiram com a identificação bacteriológica pelo método de
Gram, encontrando microrganismos pertencentes aos gêneros Bacillus e
Paenibacillus.
LEONARDO et al. (1997) salientou que pontas de papel absorvente e
cones de guta-percha deveriam estar livres de microrganismos no momento de
sua utilização na terapia endodôntica. Os autores avaliaram a esterilidade e a
atividade antimicrobiana de 110 cones de guta-percha das marcas: DiaDent,
Tanari, Odacham, Dentsply, e Kerr/Sybron. No interior de uma câmara de fluxo
laminar, os cones foram removidos de caixas lacradas e transferidos com a
utilização de pinças estéreis para tubos contendo caldo tioglicolato e incubados
à temperatura de 37º C durante 24 horas. O crescimento bacteriano foi
verificado diariamente através de inspeção visual da turbidez e a atividade
antimicrobiana mensurada pelo halo de inibição formado em placa de Petri
inoculada com Micrococcus luteus. Ocorreu crescimento microbiano nas
marcas DiaDent e Tanari e a marca Kerr/Sybron não apresentou atividade
antimicrobiana.
NAMAZIKHAH et al. (2000) analisaram a ocorrência de contaminação
de cones de guta-percha retirados de sua embalagem original e de
organizadores plásticos. As amostras foram roladas em placas contendo ágar-
sangue e encubadas a 37º C durante 14 dias. Os autores desencorajam a
desinfecção dos cones de guta-percha retirados diretamente da embalagem
12
porque, salvo contaminados por descuido do operador na manutenção da
cadeia séptica, não constituem veículos de infecção.
MOTTA et al. (2001) estudaram 120 cones de guta-percha previamente
esterilizados com óxido de etileno e armazenados em dois grupos: embalagens
seladas contendo tabletes de paraformaldeído por 30 dias e embalagens
seladas sem qualquer produto químico submetidas a exposições diárias de 30
minutos ao meio ambiente por período de 30 dias. Os cones foram testados
quanto à contaminação microbiana em caldo tioglicolato e incubados a 37º C
durante 48 horas, sendo analisados quanto à presença de turbidez. Os autores
verificaram a ausência de contaminação dos cones de guta-percha testados.
OLIVEIRA & ROCHA (1996) avaliaram a presença ou não de bactérias
nos cones de papel absorvente e cones de guta-percha utilizados pelos alunos
do curso de Odontologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). As
amostras foram armazenadas em tubos contendo 5 ml do meio de cultura Brain
Heart Infusion (BHI) e mantidas em estufa a uma temperatura de 37ºC, por 3
dias. A avaliação da contaminação foi feita por análise visual através da
turvação do meio de cultura. Das pontas de papel absorvente analisadas, 35%
apresentaram-se contaminadas. Dos cones de guta-percha, 5,46% das
amostras mostraram-se positivas.
Em estudo sobre a contaminação de cones de guta-percha removidos
imediatamente de embalagens, GAHYVA & SIQUEIRA (2001) também
confirmaram uma baixa prevalência. Dois cones de guta-percha foram retirados
das respectivas embalagens, por meio de pinças estéreis e transferidos para
tubos de ensaio contendo caldo tioglicolato e incubados por 21 dias a 37º C e
13
observados para verificação de crescimento microbiano. Quando da
constatação de turbidez no caldo, utilizou-se o método de Gram para
caracterização do microrganismo contaminante. Observaram cocos Gram-
positivos, bacilos Gram-negativos e bacilos Gram-positivos em 8,1% de 111
amostras testadas.
GOMES et al. (2005) avaliaram a contaminação de cones de guta-
percha de embalagens seladas e após sua contaminação intencional pelo
manuseio clínico. Nos resultados obtidos através de testes bioquímicos, os
autores constataram contaminação de 5,5% das amostras e microorganismos
do gênero Staphylococcus encontraram-se mais comumente presentes.
PANG et al. (2007) selecionaram aleatoriamente 150 cones de guta-
percha utilizados na clínica endodôntica com o objetivo de identificar os
microorganismos contaminantes, encontrando 19,4% dos cones contaminados.
Cada cone de guta-percha foi transferido para um tubo contendo 200 µl de
solução salina e agitado em vórtex durante 5 minutos. A solução foi inoculada
em placa contendo Brain Heart Infusion e submetida à avaliação microscópica.
Culturas puras foram isoladas, amplificadas por meio de técnica da reação em
cadeia da polimerase (Polymerase Chain Reaction - PCR) em termociclador e
tiveram as espécies bacterianas determinadas pelo seqüenciamento do gene
do 16S rRNA. Todas as espécies encontradas pertenciam ao gênero
Staphylococcus.
Como alguns estudos demonstram que cones de guta-percha
disponíveis no mercado podem encontrar-se contaminados por microrganismos
potencialmente patogênicos, verifica-se a necessidade da desinfecção desses
14
materiais antes de seu uso na terapia endodôntica. Os cones disponíveis no
comércio especializado, por serem termo-lábeis, não podem ser esterilizados
pelo calor. Vários métodos químicos têm sido utilizados com o propósito de
esterilizar os cones de guta-percha previamente à obturação. BUCHBINDER
(1966) comprovou a eficácia do paraformaldeído como método de esterilização
de cones de papel absorvente e cones de guta-pecha. Em outro estudo (SENIA
et al., 1977), a esterilização de cones de guta-percha foi alcançada pela
exposição a vapores de formocresol por 16 horas, eliminando microrganismos
Gram-positivos, Gram-negativos e esporos. LUDLOW & HERMSEN (1986)
demonstraram a eficácia do hipoclorito de sódio a 5,25% na desinfecção de
cones de guta-percha. A associação de álcool a 70% com iodo a 1% foi efetiva
na descontaminação de cones de guta-percha (KOTAKA et al., 1998). Em
estudo avaliando cinco marcas comerciais de glutaraldeído, comprovou-se a
efetividade da substância na eliminação de esporos da espécie Bacillus subtilis
após 15 minutos de uso em todas as marcas testadas (CARDOSO et al.,
1998). SIQUEIRA et al. (1998b) realizaram estudo avaliando o hipoclorito de
sódio a 5,25%, glutaraldeído a 2%, digluconato de clorexidina a 2% e álcool
etílico a 70% na eliminação de esporos da espécie B. subtilis. Os resultados
demonstraram a destruição dos esporos com a utilização de hipoclorito de
sódio a 5,25% após 1 minuto de contato e a ineficácia das demais substâncias
testadas até mesmo após 10 minutos de contato. CARDOSO et al. (1999)
estudaram a efetividade de hipoclorito de sódio nas concentrações de 0,25%
até 4% na esterilização de cones de guta-percha contaminados com
Staphylococcus aureus, Escherichia coli e esporos de B. subtilis. Baseado nos
15
resultados, os autores recomendam o tratamento químico dos cones de guta-
percha por 1 minuto com hipoclorito de sódio a 1% ou durante 5 minutos com
hipoclorito de sódio a 0,5%. SILVA et al. (2000) testaram a eficácia de quatro
soluções comerciais de hipoclorito de sódio com concentrações que variavam
de 2% até 2,5% em eliminar esporos de B. subtilis sobre cones de guta-percha
e demonstraram que as marcas Clorox, Q-Boa, Globo e Virex
descontaminaram os cones testados em período de 1 minuto. MOTTA et al.
(2001) demonstraram que o hipoclorito de sódio a 2,5% e o glutaraldeído a
2,2% foram efetivos na esterilização de 552 cones de guta-percha
contaminados com a espécie Bacillus stearothermophilus. A eficiência de três
desinfetantes usados em odontologia foi estudada em 60 cones de guta-percha
contaminados com Enterococcus faecalis, S. aureus, Candida albicans,
Streptococcus mutans e esporos de B. subtilis. Os cones foram tratados com
polivinilpirrolidona-iodo a 10%, hipoclorito de sódio a 5,25% e pastilhas de
formaldeído, sendo todos os agentes eficientes para esterilização a frio dos
cones de guta-percha (SOUZA et al., 2003). GOMES et al. (2005) verificaram
que a clorexidina não foi eficaz na eliminação de esporos da espécie B. subtilis
após 72 horas e que o hipoclorito de sódio a 5,25% eliminou os esporos após 1
minuto de contato. OLZAP et al. (2006), em estudo utilizando hipoclorito de
sódio a 2,5% e glutaraldeído a 2% para esterilização rápida de cones de guta-
percha contaminados com B. subtilis, verificou a ineficácia do glutaraldeído na
desinfecção mesmo após 15 minutos de contato. Os autores alertam que
apesar da grande probabilidade dos cones de guta-percha corretamente
armazenados permanecerem estéreis, podem ser facilmente contaminados
16
durante a manipulação inadequada. Os autores orientam quanto à utilização do
hipoclorito de sódio a 2,5% durante 5 minutos para desinfecção dos cones de
guta-percha. FAGUNDES et al. (2005) avaliaram eficácia de agentes químicos
utilizados na desinfecção de cones de guta-percha contaminados com E.
faecalis, obtendo descontaminação por álcool a 70% + clorexidina a 4%,
clorexidina a 4% e hipoclorito de sódio a 5,25% após 1 minuto em contato com
cada produto. COLLETO (2006) evidenciou a efetividade do hipoclorito de
sódio a 1% em 1 minuto e digluconato de clorexidina a 1% em 10 minutos para
desinfecção de cones de guta-percha e de Resilon contaminados previamente
com E. faecalis. ROYAL et al. (2007) estudaram a desinfecção do Resilon e
fragmentos de guta-percha utilizando hipoclorito de sódio a 5,25%, MTAD e
clorexidina a 2% durante 1 minuto de imersão. As três substâncias mostraram-
se eficazes na desinfecção rápida dos materiais obturadores testados.
É importante que a superfície dos cones obturadores não seja afetada
pelo agente desinfetante utilizado, nem resíduos indesejáveis permaneçam
após sua utilização. VALOIS et al. (2005) investigaram os efeitos do hipoclorito
de sódio na estrutura de cones de guta-percha utilizando um microscópio de
força atômica. Os autores encontraram deterioração considerável na
elasticidade dos cones submetidos ao hipoclorito de sódio a 5,25% durante 1
minuto e alterações topográficas em cones submetidos ao hipoclorito de sódio
a 5,25% e 2,5% após 5 minutos. Entretanto o hipoclorito de sódio a 0,5% não
induziu alterações em sua topografia ou elasticidade, sendo sugerido como
alternativa segura para descontaminação rápida de cones de guta-percha.
SHORT et al. (2003) identificaram a presença, cristalização e remoção de
17
cristais de hipoclorito de sódio após esterilização rápida com esta substância a
5,25% e 2,5% em 72 cones de guta-percha testados. Os cones de guta-percha
analisados diretamente de suas embalagens não apresentaram cristais de
hipoclorito de sódio quando submetidos a exame por meio de microscopia
eletrônica de varredura. Porém, após a desinfecção com as substâncias
citadas, todos apresentaram tais cristais. A remoção dos cristais foi eficaz após
lavagem com álcool etílico a 96%, álcool isopropílico a 70% ou água destilada.
PANG et al. (2007) demonstraram que o hipoclorito de sódio a 5,25%, a
clorexidina a 2% e o ChloraPrep desinfetaram a superfície de cones de guta-
percha imersos durante 1 minuto nas respectivas substâncias. Microfotografias
dos cones imersos em hipoclorito de sódio a 5,25% mostraram a presença de
cristais de hipoclorito de sódio. Todos os agentes desinfetantes aumentaram a
taxa de alongamento dos cones, demonstrando a necessidade de mais estudos
para determinar a relevância clínicas das alterações das propriedades físicas
encontradas neste estudo.
A obturação dos canais radiculares tem um papel relevante na
perpetuação do estado de desinfecção atingido pelo preparo químico-mecânico
e pela medicação intracanal (BYSTRÖM & SUNDQVIST, 1983; PETERSSON
et al., 1991). As chances de sucesso do tratamento endodôntico tornam-se
maiores quando a infecção intracanal é erradicada de maneira efetiva antes da
obturação do sistema de canais radiculares (SJÖGREN et al., 1997). Desta
forma, é importante que os cones fornecidos pelo fabricante sejam estéreis ou
facilmente descontaminados antes do uso, para que novos microrganismos não
18
sejam levados ao canal e possam, assim, causar uma infecção secundária que
colocaria em risco o sucesso do tratamento.
Como a maioria dos fabricantes não revela se os cones são estéreis,
verifica-se a importância de estudos que avaliem se a contaminação ocorre
para que possamos traçar estratégias eficientes de prevenção da infecção ou
reinfecção do sistema de canais radiculares.
19
PROPOSIÇÃO
________________________________________________________________
O objetivo deste estudo in vitro foi avaliar o percentual de contaminação
de cones de guta-percha de diferentes marcas encontradas no mercado
especializado e do Resilon, um material obturador à base de policaprolactona,
imediatamente após abertura da embalagem original dos produtos, através do
método de cultura.
20
MATERIAIS E MÉTODOS
________________________________________________________________
Neste estudo foram testados cones obturadores acessórios médios de
guta-percha das seguintes marcas:
• Dentsply (Petrópolis, RJ);
• DiaDent (DiaDent Group International Inc., Burnaby, Canadá);
• Endopoints (Manacapuru, AM);
• Meta (Meta Biomed Co., Cheongju City, Coréia);
• Obtura Spartan (Precise Dental, Jalisco, México);
• Odous (Odous de Deus Indústria e Comércio, Belo Horizonte,
MG); e
• Tanari (Manacapuru, AM).
Cones “Resilon” (Real Seal, SybronEndo, Glendora, CA, EUA), também
foram objetos do estudo.
As embalagens das quais as amostras foram coletadas e examinadas
pertenceram a dois lotes diferentes e permaneceram lacradas até o momento
do teste (Tabela 2).
Todo o experimento foi realizado no interior de uma câmara de fluxo
laminar composta de cabina de proteção biológica Bio Protector 09 (Veco,
Campinas, SP) esterilizada previamente por luz ultravioleta durante 15 minutos
(Figura 1). Os meios de cultura, cujas formulações estão explicitadas no Anexo
21
A.1, foram preparados de acordo com as instruções do fabricante, esterilizados
a 121ºC por 20 minutos e resfriados a 40ºC antes do uso.
Tabela 2. Cones obturadores avaliados
MARCA
PRIMEIRO LOTE
SEGUNDO LOTE
Dentsply
214480
235160
DiaDent 010307 011006
Endopoints 019 021
Endopoints (microtipped) 010 011
Meta 070706.G 070708.G
Obtura Spartan 6626A 7487E
Odous 01 04
Tanari 007002G 007005G
Real Seal 148118 159505
22
Figura 1. Câmara de fluxo laminar com cabina de proteção biológica com luz
ultravioleta ativada
Os cones de guta-percha ou Resilon foram coletados sob medidas
estritas de assepsia no interior da câmara (Figura 2a). O operador utilizou
luvas, máscaras e instrumentos estéreis em todos os procedimentos
laboratoriais. De cada embalagem, dois cones foram retirados por meio de
pinças e imediatamente transferidos para tubos de ensaio (Figura 2b) contendo
15 ml de caldo tioglicolato (Fluid Thioglycollate Medium, Merck, Darmstadt,
Alemanha). O procedimento foi realizado em triplicata, perfazendo um total de
54 testes (Figura 2c). Os tubos contendo caldo tioglicolato foram incubados por
até 21 dias a 37º C e examinados diariamente para verificar a presença de
turbidez.
23
Figura 2: Teste qualitativo. (a): material utilizado no experimento. (b):
transferência dos cones para o tubo de ensaio. (c): 54 testes realizados com
meio de cultura contendo caldo tioglicolato.
Os tubos considerados turvos na inspeção visual foram submetidos à
agitação em vórtex por 30 segundos e diluição seriada de 10x em solução
salina até 10-3. Alíquotas de 0,1 ml foram semeadas em placas de ágar Mueller
a b
c
24
Hinton para identificação bacteriológica. As placas de ágar Mueller Hinton
foram incubadas em ambiente de aerobiose por 3 dias a 37oC. Uma alíquota do
caldo tioglicolato onde a turbidez foi detectada também foi diretamente
submetida à coloração pelo método de Gram.
O procedimento de coloração de Gram iniciou-se com a fixação da
suspensão microbiana em lâmina de vidro com o calor fornecido pela chama de
um bico de Bunsen. O primeiro corante adicionado à lâmina foi o cristal violeta,
que é absorvido pelas células. Após 1 minuto de contato, o excesso de corante
foi retirado e o reagente lugol foi adicionado, também durante 1 minuto. O lugol
forma um complexo com o cristal violeta, o qual é fortemente retido pelas
bactérias e que não é facilmente removido pelo tratamento posterior com
álcool-acetona. As bactérias descoradas pela solução de álcool-acetona,
durante 30 segundos, foram coradas pelo segundo corante, fucsina, mantido
na superfície da lâmina durante 30 segundos. Após a coloração, a visualização
das células foi feita em microscópio óptico, com o uso da objetiva para
aumento da imagem em 1.000 vezes. As células coradas pelo complexo cristal
violeta-lugol (roxas) foram classificadas como Gram-positivas e as coradas pela
fucsina (vermelhas) como Gram-negativas. O exame após coloração permite
obter uma definição mais precisa da morfologia microbiana, diferenciar
algumas bactérias devido a diferentes afinidades por corantes, e ainda
evidenciar detalhes da estrutura bacteriana.
Para análise quantitativa de uma possível contaminação dos cones
experimentais, dois cones de cada embalagem foram transferidos para um tubo
contendo 1 ml de solução salina a 0,85% tamponada esterilizada,
25
posteriormente agitado em vórtex (Agitador de Tubos AP 56, Phoenix,
Araraquara, SP) por 1 minuto (Figura 3a), sendo a solução semeada em placa
contendo 20 ml de meio de cultura sólido (Figura 3b e 3c) ágar Mueller Hinton
(Difco, Le Pont de Claix, França) totalizando 18 placas (Figura 3d). As placas
foram então incubadas a 37oC por 3 dias.
Grupos controle positivo e negativo
Um tubo contendo meio de cultura sem qualquer cone foi utilizado como
controle negativo. Para o grupo controle positivo, onde o limite de detecção do
método também foi mensurado, utilizou-se uma cepa de E. coli (ATCC 29213).
Uma suspensão com turbidez equivalente a 0.5 da escala de McFarland (1,8 x
108 células) foi preparada em solução salina a 0,85% a partir de uma cultura de
24 horas desta cepa de E. coli crescida em caldo tripticase-soja. A suspensão
então foi submetida à diluição seriada de 10x até a concentração de 101.
Cones de guta-percha foram imersos nestas diluições (de 101 até 108) por 20
minutos para contaminação e, depois de removido o excesso de suspensão
bacteriana, transferidos para caldo tioglicolato e incubados da mesma forma
descrita para os grupos experimentais. Este teste foi realizado em duplicata,
com um cone por tubo. O período de tempo para haver turvação do caldo
tioglicolato dos tubos contaminados por diferentes concentrações bacterianas
foi registrado.
Os testes encontram-se esquematizados (Anexo A.2).
26
Figura 3: Teste quantitativo. (a): agitação do tubo contendo o cone em vórtex.
(b): obtenção de alíquota para semeadura. (c): semeadura em placa. (d): 18
testes realizados com meio de cultura ágar Mueller Hinton.
a b
c d
27
RESULTADOS
________________________________________________________________
No teste qualitativo, do total de 54 tubos contendo caldo tioglicolato,
verificou-se a turvação sugestiva de crescimento microbiano em apenas 1 tubo
de ensaio. Outros tubos apresentaram alteração de densidade ótica detectada
visualmente, mas diferente da turvação relacionada a crescimento. Assim, a
mera constatação de meio turvo não pode ser considerada fator determinante
para a determinação de contaminação sem testes posteriores, pois os cones
obturadores contêm corantes que podem desprender-se e infligir um índice de
refração diferente daquele encontrado em tubos de ensaio contendo caldo
tioglicolato sem amostras. Para confirmação da contaminação, os tubos de
ensaio considerados turvos na inspeção visual foram submetidos à agitação
em vórtex por 30 segundos e diluição seriada de 10x em solução salina até
10-3. Alíquotas de 0,1 ml foram semeadas em três placas de ágar Mueller
Hinton. Além disso, uma alíquota do caldo foi diretamente submetida à
coloração pelo método de Gram para caracterização morfotintorial do
microrganismo contaminante, caso presente. Em um tubo contendo cones da
marca Odous, onde o crescimento foi sugestivo de contaminação bacteriana,
bacilos Gram-negativos foram visualizados. Entretanto, não houve crescimento
em placa de alíquotas do mesmo caldo. Como os outros 2 testes qualitativos e
um quantitativo de cones da mesma embalagem apresentaram resultados
negativos, esta amostra contendo bacilos Gram-negativos foi descartada dos
28
resultados uma vez que a contaminação foi considerada como acidental
oriunda da manipulação durante o teste.
Nos tubos onde o caldo apresentou alteração de densidade ótica
detectada visualmente, mas não sugestiva de crescimento, foi confirmada a
ausência de células bacterianas ou de crescimento após repique em placas,
indicando que a turvação foi realmente oriunda de algum componente liberado
do cone, provavelmente corantes usados na identificação do calibre dos
mesmos.
No teste quantitativo, nenhuma das 18 placas contendo meio de cultura
sólido ágar Mueller Hinton apresentou crescimento bacteriano. Portanto, não
ocorreu contaminação bacteriana em nenhum dos cones testados no presente
trabalho.
O grupo controle negativo apresentou resultados negativos. Os cones
contaminados com concentrações de E. coli de 101 a 108 apresentaram
crescimento em caldo tioglicolato já evidente após 3 dias, demonstrando a
eficácia do método utilizado em detectar mesmo baixos níveis de
contaminação.
29
DISCUSSÃO
O sucesso do tratamento endodôntico está baseado na correta
execução das diversas fases operatórias desta terapia, que devem ser
realizadas utilizando técnicas e materiais adequados, considerando os
princípios biológicos e respeitando os tecidos perirradiculares, de forma que
não interfiram e se possível estimulem o processo reparatório. Os
microrganismos que conseguem sobreviver em um canal radicular obturado
devem resistir às medidas de desinfecção e devem ter a capacidade de se adaptar
a mudanças do meio, como a escassez de nutrientes. Sendo assim, os poucos
microrganismos que têm este potencial estão envolvidos nos casos de insucesso
endodôntico (SIQUEIRA, 2001a).
Nos casos de infecções persistentes ou secundárias, estas últimas
causadas por microrganismos introduzidos durante ou entre as consultas do
tratamento endodôntico, a conclusão do tratamento pode ser desfavorável.
Algumas espécies anaeróbias facultativas têm sido encontradas em canais
radiculares em associação com infecções persistentes ou secundárias,
destacando-se as espécies do gênero Streptococcus e as espécies E. faecalis
e P. aeruginosa (SUNDQVIST, 1976; MOLANDER et al., 1998; SIQUEIRA,
2001a). Estudos têm relatado a presença de bactérias não-orais em infecções
persistentes decorrentes de infecções secundárias, encontrando as espécies
Staphylococcus epidermidis, Staphylococcus xylosus, P. aeruginosa e E.
faecalis (SIREN et al., 1997; RANTA et al., 1998; SIQUEIRA & LIMA, 2002).
30
Assim, esforços devem ser despendidos no sentido de se prevenir as infecções
secundárias e a manutenção da cadeia asséptica é uma manobra essencial
neste sentido.
Cones obturadores que porventura sejam fornecidos pelos fabricantes
com algum grau de contaminação poderiam representar um foco potencial de
infecção secundária. Alguns autores avaliaram a contaminação de cones de
guta-percha retirados de embalagens lacradas, encontrando baixa prevalência
de cones contaminados (LEONARDO et al., 1997; GAHYVA & SIQUEIRA,
2001; GOMES et al., 2005) ou verificando ausência de contaminação das
amostras testadas (NAMAZIKHAH et al., 2000; MOTTA et al., 2001). A
dificuldade de colonização dos cones de guta-percha pelos microrganismos
pode ser justificada pela atividade antibacteriana do óxido de zinco presente
em grande porcentagem na composição dos cones (MOORER & GENET,
1982) ou mesmo da superfície lisa, que dificulta a colonização microbiana dos
cones (LOPES & SIQUEIRA, 2004).
Os cones obturadores entram em contato com ambiente contaminado
após a retirada da embalagem, sendo possível evitar a recontaminação se a
manipulação dos mesmos for executada em ambiente controlado. Este tipo de
compartimento, chamado de sala limpa classe 100, possui controles como:
número de trocas de ar por hora, velocidade do ar, pressão positiva de ar em
relação às áreas adjacentes, materiais de acabamento e máquinas não
emissoras de partículas e filtros absolutos (ISO 14644). Embora estes controles
atuem diminuindo os níveis de contaminação, uma limpeza e/ou desinfecção
da sala é necessária para reduzir o número de microrganismos existentes.
31
Como este aparato não é compatível com a realidade da prática clínica em que
realizamos os procedimentos endodônticos e não ocorre a utilização de todos
os cones de uma caixa em um só caso, existe a possibilidade de contaminação
microbiana dos cones (OLIVEIRA & ROCHA, 1996; GOMES et al., 2005;
PANG et al., 2007).
Visto que o foco deste estudo foi avaliar a contaminação de cones
obturadores, os parâmetros laboratoriais utilizados podem ser questionados, e
a carga microbiana para gerar patologia in vivo, é assunto controverso e
praticamente impossível de ser determinado com a tecnologia disponível
atualmente. A metodologia do estudo apresentou limite de detecção até a
concentração de 101 células de uma cepa de E. coli, demonstrando
compatibilidade adequada ao objetivo proposto. O caldo tioglicolato foi o meio
de enriquecimento utilizado, proporcionando nutrientes adequados ao
crescimento de microrganismos presentes usualmente em baixos números ou
de crescimento lento, bem como microrganismos exigentes e fastidiosos.
A obturação do sistema de canais radiculares encerra a fase clínica do
tratamento. E, para tal, são utilizados cones obturadores associados a um
cimento ou pasta. A utilização do cimento associado aos cones obturadores
tem finalidade seladora com objetivo de evitar o espaço vazio, na tentativa de
se obter um selamento tridimensional do sistema de canais radiculares. A
redução destes espaços tem como objetivo prevenir a ocupação por
microrganismos e fluidos teciduais (MICKEL et al., 2003), mantendo-se o
estado de desinfecção alcançado na etapa do preparo químico-mecânico e
diminuindo os riscos de uma possível reinfecção (LOPES & SIQUEIRA, 2004).
32
Entre as propriedades ideais que um cimento endodôntico deve
apresentar pode ser citado: biocompatibilidade, bom escoamento, ser
radiopaco, capacidade de selamento e ação antimicrobiana (SIQUEIRA, 1997).
Atualmente é inquestionável que a principal meta do tratamento endodôntico é
a eliminação de microrganismos e também a prevenção de uma subseqüente
infecção ou reinfecção (MICKEL et al., 2003). Em virtude desta premissa, um
cimento endodôntico ideal deve conter ação antimicrobiana satisfatória. A
espécie E. faecalis ao longo dos últimos anos tem se tornado alvo dos
principais estudos relacionados à ação antimicrobiana de medicamentos,
irrigantes e cimentos endodônticos, devido aos seus inúmeros fatores de
virulência e sobrevivência (MICKEL et al., 2003; PORTENIER et al., 2003;
STUART et al., 2006). Vários cimentos à base de óxido de zinco-eugenol ou
hidróxido de cálcio possuem atividade antibacteriana, inclusive contra a
espécie E. faecalis (MICKEL et al., 2003; PORTENIER et al., 2003; KOPPER et
al., 2007).
Vários fatores podem nos levar a crer que a descontaminação de cones
obturadores é desnecessária. Estudos demonstrando baixa prevalência
(LEONARDO et al., 1997; GAHYVA & SIQUEIRA, 2001; GOMES et al., 2005)
ou ausência de contaminação de cones de guta-percha (NAMAZIKHAH et al.,
2000; MOTTA et al., 2001), a atividade antimicrobiana encontrada na maioria
dos cimentos endodônticos (MICKEL et al., 2003; PORTENIER et al., 2003;
KOPPER et al., 2007) bem como a escassez de nutrientes que viabilizem a
sobrevivência e multiplicação dos microrganismos em canais obturados podem
ser argumentos para não desinfetar cones obturadores. Porém, a presença de
33
bactérias não-orais em infecções persistentes (SIREN et al., 1997; RANTA et
al., 1998; SIQUEIRA & LIMA, 2002), a probabilidade de contaminação em
embalagens lacradas (LEONARDO et al., 1997; GAHYVA & SIQUEIRA, 2001;
GOMES et al., 2005) e o aumento da chance de contaminação na utilização de
cones obturadores de uma caixa em vários pacientes (OLIVEIRA & ROCHA,
1996; GOMES et al., 2005; PANG et al., 2007), são alegações prudentes para
efetuar-se a desinfecção dos cones obturadores.
O uso de desinfetantes para descontaminação dos cones pode ser de
grande importância e requer minuciosa determinação quanto à concentração
apropriada para aplicação. A utilização do hipoclorito de sódio a 1% durante 1
minuto para desinfecção de cones obturadores (COLLETO, 2006) antes do
emprego na obturação do sistema de canais radiculares, seguida de lavagem
com álcool etílico a 96%, álcool isopropílico a 70% ou água destilada (SHORT
et al., 2003), não induz alterações nas propriedades físicas, sendo sugerido
como alternativa segura para descontaminação rápida de cones de guta-
percha (VALOIS et al., 2005). É um procedimento rápido, de baixo custo,
simples e eficaz, não existindo motivo para evitá-lo na clínica endodôntica.
Com o intuito de prevenir e controlar infecções, os materiais obturadores
deveriam ser fornecidos estéreis pelos fabricantes. A energia eletromagnética
derivada de cobalto, como a radiação gama, é a que se utiliza com maior
freqüência na esterilização de materiais de consumo humano que são
susceptíveis a temperaturas relativamente elevadas. A radiação gama, devido
ao seu elevado poder de penetração, esteriliza os produtos após o
envasamento e, inclusive, após ter sido acondicionado em embalagens
34
habituais (BRISTON & NORTON, 1994). Porém, não há interesse das
empresas em mudança no processo de fabricação, pois a adição desta etapa
elevaria significativamente o custo do produto final. Além disso, em face dos
resultados apresentados, não existem argumentos indiscutíveis para exigência
do procedimento pelo cliente. O ideal seria que os cones obturadores fossem
submetidos a procedimentos de esterilização, apresentando-se em
embalagens compartimentadas e estéreis para utilização em somente um caso
clínico. Enquanto isso não se torna realidade, resta somente a opção de
conscientizar o cirurgião-dentista quanto à esterilização rápida dos cones
obturadores, bem como adotar medidas cabíveis para evitar a quebra da
cadeia asséptica durante os procedimentos da terapia endodôntica.
Os resultados de estudos sobre contaminações de materiais utilizados
na prática endodôntica contribuem para determinar como proceder em ensaios
laboratoriais para monitoramento preventivo e corretivo de biofilmes. Com tais
parâmetros, podem ser definidas futuras intervenções para evitar a quebra da
cadeia asséptica, que pode causar insucesso da terapia endodôntica.
Informações mais específicas sobre microrganismos envolvidos na
contaminação de materiais obturadores podem ainda ser determinadas. Para
trabalhos futuros, a sugestão é melhor elucidar os dados obtidos, a fim de se
determinar análise quantitativa e qualitativa, identificando os microrganismos
envolvidos na contaminação e sua relação com o desempenho dos biocidas,
elaborando a melhor estratégia para o combate da contaminação dos cones
obturadores, principalmente quando do uso e exposição consecutivos.
35
A compulsão tecnicista na endodontia atual, impulsionada pela indústria
dos materiais dentários, tem relegado a um segundo plano os aspectos
biológicos desta especialidade. Entretanto, é evidente a necessidade de um
maior aprimoramento do endodontista no campo da microbiologia, a fim de
conhecer melhor aquilo que se propõe a eliminar, ou seja, os microrganismos
associados às patologias pulpares e perirradiculares. Somente através desse
conhecimento poderemos elaborar estratégias que permitam tratar, de forma
previsível, dentes acometidos pelas infecções endodônticas e de prevenir, a
falta de medidas controladas de assepsia, a infecção ou reinfecção do canal.
36
CONCLUSÃO
Baseado nos resultados apresentados, não ocorreu contaminação
bacteriana nos 72 testes realizados no presente trabalho, utilizando cones de
guta-percha de sete diferentes marcas encontradas no mercado especializado
e do Resilon. Apesar disto, é aconselhável a descontaminação dos cones
obturadores antes do seu emprego na obturação do sistema de canais
radiculares.
37
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