Avaliação de políticas de ciência, tecnologia e inovação Diálogo entre experiências internacionais e brasileiras

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  • 8/8/2019 Avaliao de polticas de cincia, tecnologia e inovao Dilogo entre experincias internacionais e brasileiras

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    ISBN 978-85-60755-10-3

    Centro de Gesto e Estudos EstratgicosCincia, Tecnologia e Inovao

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    raslia - DF8

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    Centro de Gesto e Estudos Estratgicos (CGEE)

    PresidentaLucia Carvalho Pinto de Melo

    Diretor Executivo

    Marcio de Miranda Santos

    DiretoresAntonio Carlos Filgueira GalvoFernando Cosme Rizzo Assuno

    Edio e reviso / Tatiana de Carvalho Pires

    Projeto grfco / Andr Scofano, Paulo Henrique Gurjo

    Diagramao e grfcos / Paulo Henrique Gurjo

    Capa / Paulo Henrique Gurjo

    Centro de Gesto e Estudos EstratgicosSCN Qd 2, Bl. A, Ed. Corporate Financial Center sala 1102

    70712-900, Braslia, DFTelefone: (61) 3424.9600http://www.cgee.org.br

    Esta publicao parte integrante das atividades desenvolvidas no mbito do Contrato de Gesto CGEE/MCT/2007.

    Todos os direitos reservados pelo Centro de Gesto e Estudos Estratgicos (CGEE). Os textos contidos nestapublicao podero ser reproduzidos,armazenados ou transmitidos, desde que citada a fonte.Impresso em 2008

    C389Avaliao de polticas de cincia, tecnologia e inovao: dilogo entre

    experincias internacionais e brasileiras. Braslia: Centro deGesto e Estudos Estratgicos, 2008.

    249 p.; Il.; 24 cmISBN 978-85-60755-10-3

    1. Sistema de Inovao. 2. Cincia e Tecnologia. 3. PolticaTecnoltica. I. CGEE. II. Ttulo

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    Superviso

    ntonio arlos ilgueira alvoConsultores

    a elhoaria arlota de ouza-aula

    Equipe Tcnica CGEE

    ilvia aria elho

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    SumrioApresentao

    Introduo a elho, aria arlota de ouza-aula

    esquisa universitria e inovao no Brasil 1imon chwartzman

    Lgicas e evoluo de polticas pblicas de pesquisa e inovao

    no contexto da avaliao tean uhlmann

    Medidas polticas para apoiar inovao: experincias internacionais eith mith

    O investimento privado em P&D pela indstria de transformao no Brasil lavio rynzpan

    Brasil: de poltica de C& para poltica de inovao? Evoluo e desafios

    das polticas brasileiras de cincia, tecnologia e inovao 13duardo aumgratz iotti

    Avaliao do impacto na inovao de programas voltados excelncia em

    pesquisa e o desenvolvimento regional: como descentraliar a "estratgia

    de Lisboa" e elaborar conuntos de polticas de inovao coerentes? 1en intjes, laire auwelaers

    Experincia do Estado do Amaonas em poltica de C& 211arilene orra da ilva reitas

    Sntese dos debates 21aria arlota de ouza-aula, a elho

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    Apresentao limiar do sculo 21 coincidiu com o incio de uma mudana, com um ponto de inexo impor-

    tante nas agendas estratgicas de cincia e tecnologia: a explicitao do componente inovao.

    ovas ontes de fnanciamento pesquisa e ao desenvolvimento tecnolgico, arranjos institucionais

    que comeam a emergir, e atores que se organizam em dierentes runs, movimentos e etapas do

    processo de criao, desenvolvimento e implementao de polticas para o setor do uma nova di-

    menso s aes de cincia, tecnologia e inovao (CT&I) e trazem, tambm, enormes desafos de

    concepo, implementao e, em especial, de acompanhamento e avaliao de seus resultados.

    seminrio valiao de polticas de cincia, tecnologia e inovao: dilogo entre experincias in-

    ternacionais e brasileiras que deu origem a esta publicao, oi parte do plano de ao de 2007 pre-

    visto em contrato de gesto entre o entro de esto e studos stratgicos (CGEE) e o inistrio

    de incia e ecnologia (MCT). objetivo do evento oi de contribuir para o conhecimento do es-

    tado da arte dos estudos e debates sobre avaliao das polticas de CT&I. ele participou um grupo

    de especialistas comprometidos com a consolidao de um sistema nacional de cincia e tecnologia

    que contribua de maneira eetiva para um desenvolvimento mais harmonioso e inclusivo no rasil.

    atividade de avaliao est imersa num cenrio de dierentes modelos, mtodos e erramentas e

    ainda h muito que aprender. orna-se imperativo conhecer as experincias em curso em outros

    pases. CGEE, ao conceber esse encontro com especialistas nacionais e estrangeiros, pretendeu, no

    bojo de suas atribuies normativas, iniciar o debate sobre concepes j testadas em outros am-bientes e como abordar a avaliao em prticas e culturas distintas. esse sentido, o seminrio esta-

    beleceu um ambiente propcio construo de redes de cooperao nacional e internacional.

    ossa expectativa a de que essa seja a primeira de outras reunies que devero nos subsidiar na

    misso de acompanhar e avaliar os resultados das polticas de CT&I.

    eus agradecimentos a os duardo assiolato, imon chwartzman, driano ias, vando irra,Flvio rynszpan, duardo iotti e arilene orreia ias, que acolheram nosso convite para enri-

    quecer as discusses; e aos pesquisadores internacionais tean Kuhlmann, Keith mith e en in-

    tjes, que atravessaram o oceano para transerir seus conhecimentos e estabelecer o dilogo entre as

    instituies estrangeiras e brasileiras.

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    or fm, meu reconhecimento s consultoras a elho e aria arlota de ouza-aula, e a todaequipe do CGEE, sob a direo de ntonio arlos alvo e coordenao da ilvia aria elho, que

    trabalharam arduamente para viabilizar o evento.

    Lucia Carvalho Pinto de Meloresidenta do CGEE

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    ntroduoLa Velho

    Maria arlota de Souza-aula

    eminrio nternacional de valiao de olticas de incia, ecnologia e novao, promovido

    pelo entro de esto e studos stratgicos (CGEE), rganizao ocial supervisionada pelo inis-

    trio de incia e ecnologia, oi realizado de 3 a 5 de dezembro de 2007, no io de aneiro (RJ).

    eminrio integra-se s atividades do CGEE para atender ao seu objetivo estatutrio de promover

    atividades de estudo, interao e reexo sobre temas centrais das polticas de cincia, tecnologia e

    inovao (CT&I) e sua avaliao. motivao do evento partiu do julgamento de que era necessrio

    conhecer o elenco de enoques sobre esses temas como reerenciais da pesquisa e prtica em ava-

    liao de polticas de CT&I; identifcar as principais linhas de investigao e metodologias utilizadas

    nessa avaliao; apreender as dierentes vises sobre os desafos mais importantes da avaliao depolticas de CT&I e as ormas para enrent-los.

    obteno de tal conhecimento no trivial e, obviamente, no se resolve com a realizao de um

    eminrio dessa natureza. as, sem dvida, a identifcao de grupos nacionais e internacionais atu-

    antes nos temas em questo e a criao de oportunidades de interao entre eles um passo im-

    portante nessa direo. sso porque, dada a internacionalidade das polticas de CT&I, so muitas as li-

    es que podem ser partilhadas por meio da troca de experincias de pesquisa, estudos e prticas.

    e ato, as similaridades entre as polticas pblicas nacionais voltadas cincia, tecnologia e inova-

    o dos mais variados pases tm sido constantemente apontadas e registradas por uma srie de

    analistas e estudiosos da questo. rgumenta-se que, desde o incio do processo de instituciona-

    lizao da poltica de CT&I em meados do sculo 20 at os dias de hoje, as bases conceituais, a es-

    trutura organizacional, os instrumentos de fnanciamento e as ormas de avaliao dos mesmos so

    comuns aos pases que desenharam e implementaram polticas explcitas para estimular a produoe utilizao de conhecimento cientfco e tecnolgico.

    . a elho doutora em oltica ientfca e ecnolgica (SPRU/ussex niversity), proessora titular do epartamento de olticaientifca e ecnolgica (DPC/nicamp).. aria arlota de ouza-aula doutora em incia oltica(USP), pesquisadora do entro de esenvolvimento ustentvel (CDS/n).. or exemplo, ooks (8); hubin (88); alomon (8), agasti (8); othwell & odgson (); uivo (), ozeman(); ip (); lzinga & Jamison (5); odgson & essant (6); agnino & Tomas (); aredo & ustar (); elho().

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    lguns autores, entretanto, argumentam que existem similaridades na lgica da poltica e de algunsinstrumentos adotados, mas que, na prtica, cada pas coloca mais nase ou maior peso em ins-

    trumentos dierentes, aloca recursos com base em critrios ajustados ao seu prprio sistema e tem

    estruturas diversas de gesto pblica da CT&I e organismos dierenciados de fnanciamento.

    a medida em que os tomadores de deciso esto submetidos a dierentes estruturas organizacio-

    nais, eles adotam dierentes respostas s mesmas questes4. eja na concepo da poltica ou de sua

    prtica, o ato que quando se analisam as diversas ases da poltica cientfca nos mais variados pa-

    ses, percebe-se que essas se repetem e se organizam de orma semelhante (ROTHWELL & DODGSON,

    1996; BRAUN, 2003).

    ase atual da poltica de cincia, tecnologia e inovao (PCT&I) tem uma srie de caractersticas.

    o ponto de vista da alocao de recursos, destaca-se o fnanciamento a projetos, ao lado do f-

    nanciamento direto a universidades e a outras instituies de pesquisa. as so os projetos que

    reetem mais diretamente as prioridades de poltica porque eles tm maior exibilidade temtica

    do que os undos gerais alocados diretamente para a manuteno e promoo das atividades dasinstituies.

    rojetos so defnidos como recursos atribudos a grupos ou indivduos para a realizao de uma ati-

    vidade de pesquisa limitada na sua abrangncia, oramento e tempo, normalmente pela submisso

    de uma proposta de pesquisa. utra caracterstica importante da alocao de recursos atual que,

    em sua maioria, os projetos (ou propostas de pesquisa) respondem a temas especfcos, divulgados

    em editais pblicos e tendem a ser competitivos. s editais, em geral, atendem a objetivos defnidosem programas mais amplos, que azem parte da poltica de CT&I.

    m termos de contedo, a ase atual da poltica de CT&I, ainda que por meio de uma enorme gama

    de instrumentos e programas, busca atender, principalmente, aos seguintes objetivos:

    F h .(1)

    esse tema incluem-se, por exemplo, os programas e instrumentos voltados para a ormao derecursos humanos qualifcados para pesquisa, para a manuteno da inra-estrutura de pesquisa

    pblica e para a gerao de conhecimento cientfco. sses programas baseiam-se na concepo

    de que tal base de conhecimento, assim como os recursos humanos responsveis pela sua gera-

    4. ntre os reeridos autores, vale destacar Jamison & lzinga (5); enker at all, .

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    o e absoro, so undamentais para a inovao tecnolgica e para o desenvolvimento social 5.

    u, como afrmam alguns autores, o objetivo da poltica cientfca deveria ser a criao de uma

    ampla e produtiva base cientfca, estreitamente ligada educao superior (e particularmente

    ps-graduao) (PAVITT, 199: 03)

    F .(2)

    os ltimos 15 anos, com o questionamento da relao linear entre CT&I, oram desenvolvidos

    outros modelos explicativos sobre a produo e uso do conhecimento, baseados em agente ml-

    tiplos, interaes mltiplas6. m geral, todos esses modelos, apesar de trabalharem com catego-

    rias analticas dierentes, enatizam a relao no linear entre pesquisa e produo, concebem osprocessos de gerao e uso de conhecimento como sendo de natureza muito mais complexa, en-

    volvendo vrios atores localizados e interagindo em contextos sociais particulares (VELHO, 200).

    lm disso, tais modelos enatizam o papel do setor produtivo em geral e da empresa (a frma),

    em particular nos processos de inovao. om base nesse reerencial, oram concebidos e cria-

    dos vrios programas e instrumentos que visam a estimular a interao entre atores do sistema

    nacional de inovao (principalmente entre o setor pblico de pesquisa e o setor produtivo) e

    tambm a criar condies avorveis para que o setor empresarial invista em inovao (incentivos

    de vrias naturezas, direitos de propriedade intelectual, promoo da competitividade).

    z h, -(3)

    C&.

    reconhecimento da importncia do contexto social no desenvolvimento econmico levou ao

    questionamento da validade e efccia de programas gerais com instrumentos e critrios nicos

    para todas as regies de um pas (ou todos os pases de uma regio como a uropa). asos bem

    sucedidos de crescimento econmico baseado em inovao em locais especfcos tambm suge-rem a importncia da descentralizao de polticas e instrumentos de CT&I. rogramas e instru-

    mentos de poltica de CT&I que incorporam essas idias tm sido implementados recentemente

    e incluem aqueles que promovem os sistemas locais de inovao, os arranjos produtivos locais,

    a incorporao de conhecimento local, o atendimento a especifcidades e o aproveitamento de

    oportunidades regionais e locais.

    endo como base os objetivos gerais da poltica de CT&I que, como se argumentou, so comuns apraticamente todos os pases, o eminrio se organizou em torno dos trs temas. , de modo a ex-

    plorar tanto a perspectiva nacional quanto a internacional, oram convidados especialistas brasilei-

    5. alter and artin () apresentam uma detalhada reviso da literatura sobre os benecios econmicos da base de conheci-mento produzida e mantida setor pblico. er tambm avitt (8).6. or exemplo, o modelo de ator-rede (CALLON, 8); a hlice tripla (EZKOWIZ AND LEYDERDORFF, ); sistemas de pesquisaem transio (ZIMAN, ); sistemas nacionais de inovao (FREEMAN, 8; LUNDVALL, ; NELSON,); odo e odo deproduo de conhecimento (GIBBONS et al, ); e o sistema de pesquisa ps-moderno (RIP AND VAN DER MEULEN, 6).

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    ros e estrangeiros para tratar cada um desses temas, a saber: ema 1: imon chwartzman

    e teanKuhlmann; ema 2: Keith mith, Flavio rynzpan e duardo aumgratz iotti; ema 3: en intjes

    e arilene orra da ilva Freitas. todos oi solicitado que ocassem especifcamente em reeren-

    ciais, metodologias, modos de anlise e impactos das experincias de avaliao das polticas de CT&I

    relativas ao tema que iriam tratar.

    o exatamente as contribuies desses especialistas que esto aqui publicadas. ntes de apresen-

    tar as principais idias desenvolvidas por cada um dos autores, importante ressaltar que outras

    contribuies ao eminrio no esto representadas nesta publicao. or essa razo, e dada a rele-

    vncia das tais apresentaes, az-se, a seguir, um sumrio das mesmas.

    abertura do eminrio fcou a cargo de ucia arvalho into de elo, presidenta do CGEE. essa

    ocasio, ela enatizou a importncia da avaliao de polticas, instrumentos e programas de CT&I,

    e da necessidade de construo de capacidades e de reerenciais conceituais, analticos e metodo-

    lgicos para tornar a avaliao uma atividade sistemtica, cujos resultados sejam incorporados ao

    processo de ormulao e implementao de polticas. estacou o papel do CGEE de intelignciaestratgica e mobilizao de atores no quadro institucional da avaliao das polticas de CT&I no

    rasil. obre o eminrio, ela primeiramente discorreu sobre os objetivos gerais; a reexo sobre o

    estado da arte da pesquisa e da prtica em avaliao de polticas de CT&I; a discusso de abordagens

    e metodologias de avaliao; e a identifcao dos desafos mais importantes e ormas para enrent-

    los. m seguida, ela apresentou o objetivo especfco do eminrio, que oi o de reetir sobre reeren-

    ciais e metodologias relevantes e pertinentes para a avaliao dos Fundos etoriais, que representam

    o principal instrumento da poltica de cincia, tecnologia e inovao (PCT&I) no rasil nos ltimosanos. egundo ucia elo, o eminrio constitua-se em oportunidade mpar para o debate sobre

    metodologias adequadas para essa avaliao, possibilitando uma contribuio importante dos espe-

    cialistas internacionais e brasileiros para as atividades a serem realizadas nesse campo. palestrante

    tambm mencionou as expectativas gerais, como a criao de uma rede de pesquisadores (nacio-

    nais e internacionais) e tomadores de deciso em PCT&I interessados na avaliao.

    a seqncia, ntonio arlos alvo, diretor do CGEE, apresentou o tema s Fundos etoriais: novosinstrumentos para uma nova poltica de CT&I. ropostas e reerenciais para avaliao. palestra oi

    undamental para o eminrio, pelo contexto histrico da poltica dos Fundos etoriais. onsideran-

    do que se esperavam contribuies tambm dos participantes estrangeiros sobre a avaliao dos Fun-

    dos, seria importante que eles tivessem conhecimento dessa poltica, sua lgica, seus instrumentos.

    alvo iniciou sua apresentao argumentando que o desenho atual das polticas de CT&I segue (ou

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    ntroduo

    deveria seguir) um modelo sistmico, o que exige, tambm, avaliaes sistmicas. le apresentou olano do inistrio da incia e ecnologia (MCT) e as dimenses bsicas do istema de CT&I no

    rasil. entro desse quadro, situou o papel do ministrio e, mais particularmente, o do CGEE na ava-

    liao de programas e polticas de CT&I.

    om relao aos Fundos etoriais, o diretor apresentou as avaliaes coordenadas pelo CGEE sobre

    essa poltica, entre elas, a nlise de derncia. ratou tambm da importncia de se constiturem

    bases de dados confveis para que se possam processar avaliaes legtimas. lustrou seu argumento

    com os dados bsicos do igS (istema de erenciamento dos Fundos etoriais) que renem, se-

    gundo ele, inormaes qualitativas que possibilitam a produo de relatrios e estatsticas organiza-

    das por eixo estratgico; linha e ao; programas; instrumentos; regio e unidade da ederao.

    alvo terminou sua apresentao alando sobre os passos uturos para a avaliao dos Fundos

    etoriais, com destaque para as questes gerais que ainda precisam ser respondidas: Quais so os

    resultados das estratgias e dos projetos de P&D apoiados pelos Fundos? Que impactos tiveram os

    programas e projetos apoiados pelos Fundos? m que medida construmos novo modelo de fnan-ciamento CT&I no as? Qual tem sido o papel dos Fundos para a defnio das estratgias setoriais?

    Qual tem sido a participao eetiva das empresas nos Fundos? omo responder a essas questes,

    cruciais para avaliao da poltica dos Fundos etoriais, seria, segundo o diretor, uma das expectati-

    vas do eminrio.

    palestra magna proerida por os duardo assiolato, do nstituto de conomia da niversidade

    Federal do io de aneiro, oi sobre oltica de incia e ecnologia e novao no rasil pers-pectivas e necessidades de avaliao. convite a assiolato para alar sobre esse tema partiu da

    constatao de que era necessrio marcar o contexto geral de reerncia para a avaliao e apresen-

    t-lo aos convidados. proessor delineou o sistema de cincia e tecnologia no rasil, em perspec-

    tiva histrica at os dias atuais, por meio de dados como a ormao de profssionais em nvel de

    ps-graduao no rasil (por regio geogrfca e por rea de conhecimento); a evoluo dos nme-

    ros de cursos de mestrado e doutorado; a produo de artigos cientfcos publicados em revistas

    internacionais indexadas pelo ISI; a presena de empresas brasileiras inovadoras; o apoio do governos empresas e os impactos do apoio fnanceiro recebido.

    o ponto de vista institucional, o palestrante analisou a criao e desenvolvimento das dierentes

    agncias de C&T no rasil, a partir da criao do CNPq e da apes na dcada de 1950. le situou a

    criao de cada uma dessas agncias e organizaes de C&T no contexto histrico, nacional e global,

    associando cada uma delas a uma lgica subjacente poltica de CT&I.

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    Centro de Gesto e Estudos EstratgicosCincia, Tecnologia e Inovao

    m seguida, assiolato mostrou que apenas nos anos mais recentesa inovao se tornou uma prio-ridade dessa poltica, com destaque para a criao dos Fundos etoriais em 1999 e o estabelecimen-

    to de um novo ambiente regulatrio e legal em 2005 (ei da novao, da iossegurana e a ei SME);

    a descentralizao das polticas de apoio aos sistemas locais; e, a partir dos ltimos meses de 2007, o

    papel do BNDES na inovao e sistemas locais, e polticas setoriais. omo ele indicou, os dois pilares

    das polticas recentes so: o estmulo s empresas para investimentos em P&D por meio de mecanis-

    mos como incentivos fscais, fnanciamentos, equalizao das taxas de juros, apoio ao capital de ris-

    co, incubadoras e a ei de novao; e o ortalecimento das interaes entre universidade/indstria

    em P&D por meio de programas para apoiar pesquisas em reas de alta tecnologia.

    egundo assiolato, na ltima dcada o discurso sobre a poltica de inovao tem se concentrado

    em promover a colaborao em P&D entre o setor pblico de pesquisa e empresas e em incentivar

    a comercializao dos resultados de pesquisa e na reduo dos custos de P&D para as empresas.

    ntretanto, a concentrao da poltica no apoio P&D pode indicar, segundo ele, uma alta de viso

    mais ampla sobre o istema acional de novao. poltica no leva em considerao a mudan-

    a tcnica que ocorre nos setores tradicionais. clara a necessidade de instrumentos de polticacom oco no aprendizado e na construo de competncias e no apenas em P&D. le conclui que

    o apoio cooperao universidade-empresa teve raco desempenho aps mais de 30 anos, o que

    evidencia equvoco no oco da poltica. poltica continua insistindo em tal oco porque, historica-

    mente no pas, existe muito pouco interesse na avaliao dos programas e polticas, alm da difcul-

    dade de envolver os stakeholders nas raras vezes em se pratica alguma avaliao.

    ps essa palestra magna, iniciaram-se as sesses temticas. s palestras oram baseadas nos textosque azem parte desta publicao, que esto dispostos aqui na seqncia em que oram apresen-

    tados no evento. ema 1 - Fortalecimento e ampliao de uma base de conhecimento ampla e

    socialmente relevante integrao do tema nas polticas de CT&I e sua avaliao o oco do texto

    esquisa niversitria e novao no rasil, de imon chwartzman (nstituto de studos do ra-

    balho e ociedade - RJ). le parte da pergunta: pesquisa acadmica no rasil pode ser considerada

    uma histria de sucesso? omo resposta, ele aponta os aspectos positivos e os problemticos. n-

    tre esses, encontra-se o que ele chamou de engessamento do modelo apes - burocratizao dasavaliaes, extenso do modelo acadmico das cincias naturais para as sociais e engenharias, pouco

    espao para interdisciplinaridade e inovao. proessor apresenta, ento, idias e proposies para

    enrentar os problemas que identifcou.

    ambm dentro do ema 1, tean Kuhlmann, da niversidade de wente (olanda), constri as re-

    laes entre as gicas e voluo de olticas blicas de esquisa e novao no ontexto da va-

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    ntroduo

    liao. argumento central do autor de que avaliar o impacto de polticas de CT&I na sociedade

    uma tarea complexa, tanto conceitual como metodologicamente, e sujeita a vrias ambigidades.

    palestrante procura, no seu texto, apresentar e discutir maneiras de lidar com as ambigidades.

    ara ele, em qualquer exerccio de avaliao undamental reconhecer que s se encontra aquilo

    que se busca, e o que se busca depende de defnies. or sua vez, essas defnies dependem das

    perspectivas dos atores. endo assim, ele sugere uma abordagem baseada em perspectivas mlti-

    plas para avaliar o impacto de polticas de CT&I. o fnal, apresenta sugestes de como proceder

    nesta direo.

    Keith mith, diretor executivo do entro de esquisa em novao da ustrlia, inicia o ema 2, que

    trata dos tores principais e sua participao no sistema de inovao: instrumentos de integrao

    e sua avaliao. s principais pontos abordados por mith na sua palestra e no texto ma eviso

    de conceitos de poltica e instrumentos de apoio inovao empresarial dizem respeito nova di-

    nmica e dimenso da poltica de inovao e o contexto global em mudana. mith pergunta: o que

    sabemos sobre os processos de inovao? resposta, segundo ele, deveria servir como base para a

    concepo das polticas de CT&I, assim como para a avaliao do impacto das mesmas na sociedade. autor discute a efccia de vrios instrumentos de promoo da inovao a partir do exemplo da

    indstria de vinho na ustrlia, com as inovaes conseguidas no setor e a crescente competitivida-

    de daquele produto no mercado nacional e mundial.

    perspectiva do setor empresarial sobre as questes do ema 2 apresentada por Flvio rynszpan,

    diretor da ssociao acional de esquisa, esenvolvimento e ngenharia das mpresas novado-

    ras (npei). o texto riao de mbiente Favorvel s tividades de P&D e novao nas m-presas xperincias e Questes para a valiao ele revisita as questes do desenvolvimento da

    indstria brasileira, discutindo o investimento privado em P&D no rasil e os ndices de inovao

    observados, tanto para os setores intensivos em P&D como para aqueles menos intensivos; para as

    empresas de capital estrangeiro e nacional; e para empresas grandes, mdias e pequenas. rynszpan

    conclui que as grandes empresas brasileiras precisam se internacionalizar pois necessitam de isono-

    mia para competir, e que os atuais valores de apoio governamental no so sufcientes. om relao

    avaliao das polticas de CT&I, ele sugere algumas variveis de acompanhamento.

    ltimo texto do ema 2, de autoria de duardo aumgratz iotti, pesquisador associado do en-

    tro de esenvolvimento ustentvel da niversidade de raslia, trata da nterao entre os atores

    do sistema de inovao integrao do tema nas polticas de CT&I e em sua avaliao. egundo o

    pesquisador, transormar a poltica de C&T em uma eetiva poltica de inovao e azer dessa a base

    da nova poltica de desenvolvimento o grande desafo brasileiro atual. a busca de analisar as con-

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    Centro de Gesto e Estudos EstratgicosCincia, Tecnologia e Inovao

    dies e imperativos para tal realizao, iotti organiza a apresentao em trs objetivos: identifcar

    as grandes linhas da evoluo da poltica brasileira de CT&I e de suas relaes com a poltica e o pro-

    cesso de desenvolvimento do pas; buscar evidncias que possam corroborar a eetiva existncia da

    anunciada transio de uma poltica tradicional de C&T para uma poltica centrada na inovao; e,

    analisar os principais desafos que se colocam no momento atual para a poltica brasileira de CT&I.

    s questes relativas ao ema 3 escentralizao das atividades de produo e uso do conheci-

    mento, desenvolvimento regional e local nas polticas de , experincias e questes para ava-

    liao so analisadas, na perspectiva europia, por en intjes e laire auwelaers, pesquisadores

    do entro de esquisa em novao e ecnologia da niversidade das aes nidas (erit-UNU)

    de aastricht, olanda. o texto, Formulao e avaliao de polticas de P&D na uropa com ob-

    jetivos de excelncia coeso: como atingir conjuntos de polticas eetivas e coerentes? os autores ar-

    gumentam que as polticas e instrumentos de CT&I sempre tm mais de um objetivo (implcitos ou

    explcitos), vrios tipos de benefcirios, diretos ou indiretos e, portanto, geram diversos tipos de im-

    pacto. ssim, qualquer avaliao exige a defnio de dierentes unidades de anlise e a seleo de um

    mix de erramentas interativas e de indicadores de impactos. s proessores abordam, tambm, aquesto do impacto da avaliao na concepo e implementao subseqente de polticas de CT&I.

    apresentao de arilene orra da ilva Freitas, reitora da niversidade stadual do mazonas,

    tratou da escentralizao das atividades de produo e uso do conhecimento, desenvolvimen-

    to regional e local a experincia brasileira instrumentos da poltica de CT&I e sua avaliao.

    autora mostra, em linhas gerais, o processo de chegada e implantao da cincia, e de criao de

    instituies cientfcas na egio maznica, argumentando que esse processo tornou a cincia umenclave na egio, o que insustentvel, por dierentes motivos discutidos por ela. reitora salien-

    ta que a agenda de pesquisa para a egio elaborada sem levar em considerao as sociedades

    regionais como sujeitos portadores de interesses. ara fnalizar, ela apresenta um relato de polticas

    regionais de apoio pesquisa, e ressalta que a avaliao dessas polticas deve levar em considerao

    o contexto local.

    o eminrio, oram vrias as oportunidades de debates e discusses sobre as apresentaes. ri-meiramente, contou-se com um debatedor em cada um dos temas e, posteriormente, uma discus-

    so aberta com outros palestrantes e convidados envolvidos em atividades de avaliao de pol-

    ticas de CT&I brasileiras, participantes de pesquisas e estudos sobre os temas abordados, ou aqueles

    que tratam dessas questes em rgos do governo. s snteses dos debates esto publicadas no

    fnal deste caderno.

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    esquisa universitria e inovao no Brasil7Simon Schwartzman8

    necessidade urgente dos conhecimentos de base cientca

    s sociedades contemporneas so reqentemente descritas como sociedades do conhecimen-to. s atividades econmicas, sociais, culturais e quaisquer outras atividades humanas tornaram-se

    dependentes de um enorme volume de conhecimento e inormao. economia do conhecimen-

    to baseia-se no desenvolvimento para os mercados mundiais de produtos sofsticados, que azem

    uso de conhecimento intensivo, e na crescente concorrncia entre pases e corporaes multinacio-

    nais, com base em sua competncia cientfca e tecnolgica. as a importncia do conhecimento

    baseado em cincia no se limita a seus impactos sobre o setor de negcios. Questes como pro-

    teo ambiental, mudana climtica, segurana, cuidados de sade preventiva, pobreza, gerao deempregos, eqidade social, educao geral, decadncia urbana e violncia dependem de conheci-

    mento avanado para ser adequadamente compreendidas e traduzidas em prticas polticas eeti-

    vas. ssas necessidades so urgentes e os pases precisam azer uso do melhor conhecimento poss-

    vel para lidar com suas questes econmicas e sociais, objetivando o que geralmente se entende por

    desenvolvimento sustentvel (erageldin 199). esmo se a economia no or muito desenvolvida

    e as instituies educacionais orem de baixa qualidade, como ocorre requentemente na mrica

    atina, h quase sempre espao para desenvolver a competncia cientfca, no necessariamente aum custo muito alto. omo na economia, os benecios sociais da acumulao do conhecimento

    no podem ser adiados para um uturo longnquo, quando o desenvolvimento das instituies cien-

    tfcas se consolidar. gerao de conhecimento e suas aplicaes no ocorrem necessariamente

    em seqncia, e as melhores instituies cientfcas so as que azem bem as duas coisas. om isso,

    elas atraem recursos adicionais, os melhores talentos e, com o tempo, ultrapassam as instituies e

    grupos que se mantm isolados.

    ssa crena oi claramente expressada por proeminentes cientistas latino-americanos que participa-

    7. ste texto parte de um estudo mais amplo sobre niversidade e desenvolvimento na mrica atina: experincias bem-su-cedidas de centros de pesquisa, realizado pelo nstituto de studos do rabalho e ociedade em colaborao com o ntermericanetwork o cademies o cience (anas) e apoio da undao ord.8. imon chwartzman socilogo e doutor em cincias polticas. tualmente presidente do nstituto de studos do rabalho eociedade (IES).

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    gCincia, Tecnologia e Inovao

    ram do rum virtual sobre ociedade ivil em incia, ecnologia e novao realizado pela r-

    ganizao dos stados mericanos, em 2005. ntre outros pontos, eles afrmam que:

    cincia de ponta pode ser produzida sob circunstncias econmicas desvantajosas; o

    desenvolvimento cientfco, a gerao de empregos e a luta contra a pobreza esto interligados.

    introduo de cincia, tecnologia, engenharia e inovao em nossas condies locais e especfcas,

    assim como ocorreu em outros lugares, pode determinar o desenvolvimento eqitativo.

    essencial ter inormao sobre casos de sucesso onde incia, ecnologia, novao e ducao

    ientfca (STISE, na sigla em ingls) produziram impacto contra a pobreza, ajudaram a gerar

    empregos e ortaleceram a governana democrtica. inormao e compreenso das estruturas

    internacionais relacionadas aos direitos de propriedade intelectual e s patentes, em todos os nveis

    da sociedade, essencial, tanto para proteger a cultura tnica local e sua histria e biodiversidade,

    como para produzir invenes locais economicamente e socialmente teis para a sociedade local

    (ORGANIATION O AMERICAN STATES ).

    as economias desenvolvidas, a maior parte da pesquisa e do desenvolvimento tecnolgico ocorreem empresas privadas, bem como em instituies de pesquisa governamentais, civis e militares. as

    as universidades de pesquisa so nicas em sua habilidade para atrair e educar pesquisadores qua-

    lifcados e trabalhar na ronteira da pesquisa cientfca, e h uma tendncia crescente das corpora-

    es privadas desenvolverem parcerias estratgicas com universidades. apo e a oria do ul so

    exemplos de pases que desenvolveram orte capacidade tecnolgica em suas grandes corporaes

    privadas antes de desenvolver suas universidades de pesquisa, mas, mais recentemente, comearam

    a sentir a necessidade de promover suas melhores universidades aos padres de suas congneresamericanas e europias, com ndia e hina trabalhando para alcan-las (ALTBACH AND BALN 2007;

    INDIRESAN 2007; IM AND NAM 2007; LIU 2007; YONEAWA 2003). ntretanto, na mrica atina, a

    pesquisa principalmente acadmica, e ocorre em determinados departamentos e instituies den-

    tro de universidades que so quase sempre voltadas ormao profssional, e com vnculos racos

    com a economia e a sociedade em geral.

    ara criar esses vnculos, muitos pases esto introduzindo leis e azendo inovaes institucionaisde dierentes tipos, ao mesmo tempo em que muitos grupos e institutos de pesquisa esto desco-

    brindo seus prprios caminhos de vinculao e desenvolvimento de sua capacidade de inovao.

    e acordo com udith utz (utz 2000), essas so as abordagens top-down e bottom-up. m seu

    trabalho, ela conclui que os resultados dos mecanismos top-down (de cima para baixo) fcam bem

    abaixo das expectativas dos ormuladores de polticas, enquanto que as experincias bottom-up

    (de baixo para cima) geralmente apresentam resultados bem-sucedidos no nvel micro, mas enren-

    l

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    esquisa universitria e inovao no Brasil

    tam grandes difculdades para ampliar o impacto das solues tcnicas encontradas. necessrio

    um ambiente institucional adequado para estimular e consolidar a inovao baseada em cincia

    (HOLLINGSWORTH 2000), mas a pr-condio a existncia de uma orte cultura de inovao e em-

    preendedorismo acadmico como base.

    Educao superior e pesquisa cientca na mrica Latina

    s instituies de educao superior sempre desempenharam papis importantes em cultivar co-

    nhecimento e coloc-lo em benecio da sociedade. m pocas e sociedades dierentes, estas ativi-

    dades de produo de conhecimento englobaram desde a educao tradicional nas profsses libe-

    rais at o desenvolvimento de pesquisa avanada nas cincias bsicas e suas aplicaes.

    radicionalmente, instituies de educao superior e cientfcas existiam separadamente, e a inte-

    grao da cincia com a educao superior, que se considera bvia, , na verdade, um enmenomuito recente, mais tpica dos pases anglo-saxes do que de outros lugares, e justifcada por um

    modelo mtico de pesquisa acadmica atribudo originalmente niversidade umboldt na le-

    manha. e ato, a unifcao de conhecimento e educao proposta por umboldt estava mais

    perto do conceito flosfco de Bildungque da noo moderna de pesquisa cientfca. medida

    que a pesquisa cientfca se desenvolvia na lemanha, na segunda metade do sculo 19, ela deixou

    as universidades e se organizou mais tarde em um arranjo institucional dierente, o Kaiser-ilhelm-

    esellschat, atualmente ax lanck nstitutes (ybom 2007). a maioria dos pases, como na le-manha, cincia, tecnologia e universidades se desenvolveram e organizaram separadamente.

    alvez o exemplo extremo no sculo 20 tenha sido a nio ovitica, com a ntida separao entre a

    cademia de incias e as instituies de educao superior, um modelo copiado pela hina e por

    outros pases do bloco sovitico. sta separao oi tambm notria na Frana, com o entre Natio-

    nale de la echerche Scientique (CNRS), mantendo a comunidade cientfca parte das prestigiosas

    grandes coles e das universidades (CLAR 1995).

    exceo mais importante oram asgraduate schools americanas, os cursos de ps-graduao que

    desenvolveram a educao sistemtica e em larga escala de cientistas pesquisadores e abriram espa-

    o nas universidades para seus laboratrios, uma inovao justifcada pelo ideal humboldtiano, que

    orsten ybom descreveu como um dos equvocos de maior sucesso e mais produtivos na mo-

    derna histria intelectual (BEN-DAVID 1977; LEXNER 196; GEIGER 196; NYBOM 2007). sucesso das

    Centro de Gesto e Estudos EstratgicosCi i T l i I

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    Cincia, Tecnologia e Inovao

    universidades de pesquisa, que atraram alunos do mundo todo, depois da egunda uerra un-

    dial, e a presena dos stados nidos como lder da economia mundial levaram diuso gradual de

    elementos deste modelo institucional para a maior parte do mundo, adaptados s circunstncias lo-

    cais. sta disseminao oi s vezes mais rpida nos pases em desenvolvimento, que dependiam das

    agncias norte-americanas e de suas undaes flantrpicas para assistncia tcnica e fnanciamen-

    to, que em pases europeus, com suas prprias tradies e instituies consolidadas. em 1920, a

    Fundao ockeeller fnanciava ativamente a pesquisa mdica na rgentina, hile, rasil, xico e

    olmbia, entre outros (ABEL 1995; COLEMAN AND COURT 1993; CUETO 1990; CUETO 199; DA, TEXE-

    RA, AND VESSURI 193; SCHWARTMAN 1991; SOLORANO 1996); a Fundao Ford oi muito inuenteem estabelecer a economia, cincia poltica e outros temas como disciplinas acadmicas em diver-

    sos pases (BELL 1971). gncia mericana para o esenvolvimento nternacional (said), ajudou

    a organizar a pesquisa agrcola em muitos lugares (SANDERS, MEYER, OX, AND PERES 199) e tambm

    a reorganizar a educao superior brasileira nos anos 1960, com a introduo de departamentos e

    institutos de graduao e pesquisa nas universidades (BOTELHO 1999; SUCUPIRA 1972).

    lgumas dessas iniciativas tiveram sucesso, mas nunca ao ponto de transormar as universidadeslatino-americanas em sua essncia. educao superior se desenvolveu na regio desde o sculo

    19, inspirada pelo modelo rancs, primeiro como instituies de treinamento e certifcao para as

    profsses liberais (direito, medicina e engenharia), sob estrita superviso do stado, e, mais tarde,

    j no sculo 20, como um canal de mobilidade aos segmentos superiores para a crescente classe

    mdia urbana. lguns pases, como rgentina e xico, criaram universidades nacionais pblicas

    muito grandes e semi-autnomas, com centenas de milhares de estudantes, ortemente imersas na

    poltica nacional, nas quais a pesquisa, quando existia, ocorria em pequenos nichos protegidos emescolas mdicas e de engenharia e, mais recentemente, seguindo o estilo americano, em institutos e

    departamentos de pesquisa semi-autnomos. m outros pases, tais como rasil e hile, a educao

    superior espalhou-se entre um grande nmero de instituies menores, pblicas e privadas, em que,

    mais uma vez, a educao para as profsses, no a pesquisa organizada, era a ora motriz (BRUNNER

    197; LEVY 190; LEVY 196; SCHWARTMAN 1996).

    expanso da educao superior

    m fns do sculo 20, a mrica atina precisou lidar com a combinao de um setor de educao

    superior de massas expandido e uma nova viso da maneira como a pesquisa cientfca e tecnol-

    gica deveria ser organizada para enrentar os novos desafos da sociedade do conhecimento. m

    esquisa universitria e inovao no Brasil

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    esquisa universitria e inovao no Brasil

    2003, a taxa bruta de matrcula na educao terciria j era de 60 na rgentina, 22,7 no rasil,

    6,2 no hile e 23,9 no xico. m toda a regio da mrica atina e do aribe era de 27,

    comparados aos 69 na uropa ocidental e na mrica do orte e 51 na uropa central e orien-

    tal. primeira vista, pode-se pensar que a expanso macia da matrcula oi uma resposta adequa-

    da s necessidades e requisitos crescentes da sociedade do conhecimento. ntretanto, essa expan-

    so estava associada a vrios problemas importantes que, de acordo com um estudo comparativo

    realizado nos anos 1990, culminaram em uma grave crise, caracterizada pela alta de coordenao

    entre setores e instituies, paralisia institucional, baixa qualidade e graves problemas fnanceiros,

    associados tanto alta de recursos quanto ao seu uso inadequado e inefciente (BRUNNER, BALN,COURARD, COX, DURHAM, ANELLI, ENT, LEIN, LUCIO, SAMPAIO, SCHWARTMAN, AND SERRANO 199).

    s pases experimentaram dierentes polticas para lidar com a crise, inclusive proundas mudanas

    nos mecanismos de fnanciamento da educao superior e na implantao de sistemas de avaliao

    da qualidade. m componente importante dessas polticas oi a criao ou o ortalecimento de sis-

    temas de avaliao e recompensas baseados na excelncia acadmica. rganizaes internacionais

    tambm contriburam com suas propostas de reorma (CASTRO AND LEVY 2000; DE ERRANTI, PERRY,

    GILL, GUASCH, AND SCHADY 2002; INTER-AMERICAN DEVELOPMENT BAN 1997; UNESCO 1995; WORLDBAN 2002).

    nova produo de conhecimento

    m 199, a publicao e New roduction o Knowledge, de ichael ibbons e outros (ibbons,row, cott, chwartzman, owotny, and imoges 199), provocou um amplo debate, ainda vivo,

    sobre a adequao da orma como o conhecimento cientfco e tecnolgico deveria ser organizado

    nas universidades e em outras instituies de pesquisa. livro comparou dois modos de produo

    de conhecimento, denominados modo 1 e modo 2, o primeiro acadmico, impulsionado pelo

    pesquisador, baseado em disciplinas, e o segundo, contextualizado, ocado em problemas e interdis-

    ciplinar. o modo 1, as instituies de pesquisa so autnomas, as recompensas acadmicas esto

    associadas s publicaes na literatura aberta, e a produo de conhecimento segue um padrolinear, da cincia bsica aplicada e, depois, ao desenvolvimento e produo. o modo 2, as insti-

    tuies de pesquisa so intimamente associadas ou vinculadas aos usurios empresas, agncias de

    governo, ornecedores de servio, compondo o que mais tarde se chamou tripla hlice (the triple

    helix) (ETOWIT AND LEYDESDOR 1997); os incentivos se baseiam nos produtos prticos, reais ou

    esperados; os resultados da pesquisa so apropriados; e a seqncia de produo linear rompida,

    sendo o conhecimento desenvolvido no contexto das aplicaes. onald tokes utilizou a expres-

    Centro de Gesto e Estudos EstratgicosCincia Tecnologia e Inovao

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    Cincia, Tecnologia e Inovao

    so quadrante de asteur para se reerir combinao de pesquisa bsica e aplicada que caracteri-

    zou tanto a cincia de asteur no sculo 19 como os novos modelos de inovao cientfca, por con-

    traste ao quadrante de ohr da cincia bsica, um desenvolvimento do incio do sculo 20 (STOES

    1997). m um artigo clssico, oseph en-avid e . Katz mostraram como a pesquisa agrcola em

    srael, que teve incio com uma vinculao orte com os esoros para desenvolver a agricultura no

    pas, mais tarde voltou-se para um modo acadmico, escolhendo seus temas e grupos de reerncia

    na comunidade cientfca internacional e perdendo seus vnculos aplicados (BEN-DAVID AND AT

    1975). ssim, como muitos analistas observaram, a pesquisa acadmica nunca se organizou inteira-

    mente de acordo com o modo 1, e a pesquisa aplicada, baseada no contexto e multidisciplinar, no uma inveno recente (ULLER 2000; SHINN 2002). as o livro ajudou a tornar explcita a tenso

    existente nos meios acadmicos, nas economias avanadas, e legitimou uma abordagem dierente

    de poltica cientfca e de gesto e organizao acadmicas.

    sta tenso est presente h muitos anos na mrica atina, mesmo se no to explicitamente

    quanto nos dias de hoje. esde as dcadas de 190 e 1950, inspirados sobretudo pelas realizaes

    e promessas da sica nuclear, muitos cientistas na regio alimentaram a esperana de que suas uni-versidades pudessem se transormar para incluir a cincia e a tecnologia em seu ncleo, como parte

    de uma revoluo social e econmica muito mais ampla em suas sociedades (HERRERA 1970; LIMO-

    VSY 1975; LOPES 1969; NYE 1975; VARSAVSY 1971). les tendiam a partilhar a flosofa poltica dos so-

    cialistas cientfcos britnicos e ranceses, . . ernal e ean errin, por oposio aos cientistas mais

    alinhados com as idias de ichael olanyi e obert K. erton, que deendiam um modelo mais

    tradicional de organizao cientfca, mais independente e com base na comunidade cientfca, tal

    como, no rasil, o matemtico moroso osta e seu discpulo eodoro amos, que inuenciariama criao da niversidade de o aulo na dcada de 30 (AMOROSO COSTA 1971; BERNAL 1967; MER-

    TON 1973; PERRIN 19; POLANYI 197; POLANYI 1997; RANC 195). sses cientistas militantes tiveram

    muita inuncia e deram apoio criao de conselhos e agncias nacionais de cincia e tecnologia

    em quase todos paises da regio.9 odas essas instituies tm, em sua misso, a meta de fnanciar

    cincia e tecnologia em termos muito amplos e coloc-las a servio da sociedade, e, em dierentes

    graus, criaram mecanismos administrativos e fnanceiros para dar apoio e acilitar a construo de

    pontes entre a cincia e a sociedade.

    as dcadas de 190 e 1990, a crena de que a cincia e a tecnologia deveriam estar integradas em

    um sistema de planejamento abrangente para a administrao da sociedade, compartilhada tanto

    9. al como o onselho acional de esquisas (CNPq). no rasil, 5, que passou a ser onselho acional de esenvolvimentoientfco e ecnolgico em 8; o onsejo acional de nvestigaciones ientfcas y cnicas, (onicet), na rgentina, 58; aomisin acional de nvestigacin ientfca y ecnolgica (onicyt), no hile, 6; e o onsejo acional de iencia y ecnologia(onacyt), no xico, .

    esquisa universitria e inovao no Brasil

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    q

    pelos cientistas socialistas como pelos militares nacionalistas, oi substituda pela noo de que ci-

    ncia, tecnologia, governo e indstria deveriam estar ligados por sistemas de inovao complexos,

    multi-institucionais, que existiam naturalmente nas economias desenvolvidas, mas que em geral

    no se encontravam na mrica atina (BRANSCOMB AND ELLER 199; CASSIOLATO, LASTRES, AND

    MACIEL 2003; DE LA MOTHE AND ORAY 2001; JONES-EVANS, LOSTEN, ANDERSSON, AND PANDYA 1999;

    RAUSOP, RAUSOP, AND MNDE 2007; MELO 2001). conceito de inovao, tal como utilizado

    no campo da cincia e tecnologia, provm em geral dos economistas, preocupados com as manei-

    ras de tornar as empresas e os pases mais efcientes e produtivos, em um ambiente competitivo, e

    levou criao de um amplo conjunto de novos mecanismos institucionais e fnanceiros para esti-mular as empresas a se voltarem para as universidades. m vrias universidades, isso levou criao

    de escritrios de assistncia tcnica e gerenciamento de propriedade intelectual, bem como a novos

    arranjos institucionais tais como incubadoras e parques cientfcos. ambm levou a recomendaes

    mais amplas de poltica pblica para mudanas nas polticas nacionais de cincia e tecnologia que,

    no entanto, oram raramente implementadas.

    Expectativas e obstculos para o ortalecimento dos vnculos entre

    universidades, indstrias, governos e sociedade

    t o momento, e com a ressalva de que muitas dessas iniciativas ainda esto emergindo e em an-

    damento, tais inovaes polticas e institucionais tm sido menos bem-sucedidas do que se poderia

    esperar. ara ultrapassar seus muros e vincular-se sociedade, os centros e institutos de pesquisaacadmica precisam competir com as demandas da educao superior de massa e tambm com a

    cultura do modo 1 que desenvolveram para sustentar suas atividades de pesquisa. ambm pre-

    cisam lidar com a limitada demanda por inormao cientfca e tecnologias geradas localmente,

    tanto por parte das indstrias como dos governos. ombinados, esses dois atores limitam sua ca-

    pacidade de colocar suas habilidades a servio de suas sociedades.

    os sistemas de educao superior de massa, na mrica atina, os pesquisadores acadmicos so

    um segmento menor de uma profsso acadmica muito mais ampla, que tambm inclui proesso-

    res tradicionais, palestrantes em tempo parcial e um nmero crescente de uncionrios universit-

    rios de ensino, sindicalizados e demandantes. s padres de carreira, a carga de ensino, a alocao

    de recursos e as prioridades nas instituies de educao superior no se ajustam aos valores e ex-

    pectativas dos pesquisadores, mas a estas clientelas mais amplas, que tambm incluem associaes

    Centro de Gesto e Estudos EstratgicosCincia, Tecnologia e Inovao

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    estudantis muito vocais, ativas e politicamente conectadas (ALTBACH 2002; ALTBACH 1996; BALBACHE-

    VSY AND UINTEIRO 2002; SCHIEELBEIN 1996; SCHWARTMAN AND BALBACHEVSY 1996).

    s autoridades educacionais despendem seus limitados recursos sustentando atividades rotineiras

    das instituies de educao superior, enquanto as agncias de pesquisa tendem a trabalhar, tipi-

    camente, com dotaes que so concedidas projeto a projeto. sso gera um ambiente competitivo,

    acessvel a cientistas com qualifcaes cientfcas de peso, mas no a outros membros da profsso

    acadmica. ara garantir que os recursos para a cincia e tecnologia no se percam no sustento de

    atividades rotineiras de ensino e de prticas de baixo contedo cientfco e tecnolgico, os cientis-tas salientam a necessidade de reviso por pares (peer review), padres internacionais de qualidade

    e uso de indicadores de publicao e experincia prvia como critrio principal para a seleo de

    projetos e distribuio de recursos. les vem com desconfana o uso de critrios no cientfcos,

    tais como a relevncia social ou econmica, como base da avaliao de projetos, bem como a par-

    ticipao de no-cientistas nas comisses e conselhos de avaliao.

    ssa orientao em deesa da pesquisa de alta qualidade levou ao estabelecimento de instituiesde garantia de qualidade que deram suporte e visibilidade a um nmero signifcativo de departa-

    mentos e institutos universitrios orientados pesquisa de alta qualidade em dierentes pases.

    exemplo mais conhecido a omisso de valiao de essoal de vel uperior (apes/inistrio

    da ducao), a agncia brasileira responsvel pela avaliao da educao superior que, h muitas

    dcadas, mantm um mecanismo bem-sucedido para avaliao eita por pares dos programas de

    ps-graduao universitria, o maior da regio (astro and oares 196). omisin acional de

    valuacin y creditacin niversitaria, na rgentina (oneau), e o adrn acional de osgrado(PNP) no xico, desempenham papis anlogos.

    ntretanto, tambm h um aspecto negativo. s recursos alocados nessas agncias tendem a ser

    pequenos e somente uma rao do que os pases gastam em pesquisa e tecnologia e inovao

    (SCHWARTMAN 2002); o dinheiro tende a se dispersar em um grande nmero de pequenos projetos,

    uma vez que estas agncias tm difculdades em estabelecer prioridades e concentrar recursos; e a

    premissa de que a pesquisa de boa qualidade eventualmente se transormar em tecnologia aplica-

    da e til raramente se realiza.

    tambm problemas na demanda de tecnologia e inovao. o perodo do ps-guerra e at a

    dcada de 190, a viso dominante na mrica atina era que os governos precisavam proteger as

    indstrias nascentes da regio e fnanciar o desenvolvimento de tecnologia local para permitir que

    elas crescessem. ssa poltica, conhecida como substituio de importaes, era preconizada pelos

    esquisa universitria e inovao no Brasil

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    economistas da omisso conmica para a mrica atina e o aribe, das aes nidas (clac/

    epal), e inspirou o trabalho do economista argentino aul rebish (PREBISCH 191). t certo ponto,

    o rasil, mais que outros pases da regio, tentou seguir as recomendaes. projeto mais ambicio-

    so nessa rea oi a poltica de proteo do mercado de microcomputadores, mas tambm incluiu

    o estabelecimento de centros de pesquisa associados a empresas estatais, parcerias entre empresas

    pblicas e universidades (como entre a elebras, a empresa holding de comunicao, e a niversi-

    dade de ampinas) e grandes projetos nas reas espacial e de energia atmica. a dcada de 190,

    a inao alta, os desequilbrios fscais e os choques externos obrigaram os pases a abrir suas eco-

    nomias e privatizar as companhias estatais. poltica de proteo do mercado de microcomputa-dores oi interrompida, e empresas privatizadas cancelaram seus convnios de cooperao com as

    universidades e echaram ou diminuram seus departamentos de pesquisa (ADLER 197; BAER AND

    SAMUELSON 1977; BOTELHO AND SMITH 195; SCHMIT AND CASSIOLATO 1992; SUT 1997; SUT 2000;

    VESSURI 1990).

    uma discusso corrente sobre se as polticas de substituio de importaes poderiam ter tido

    sucesso no longo prazo ou se eram adadas ao racasso desde o incio, e se o modelo asitico, deorte fnanciamento pblico para uma economia orientada para o mercado e internacionalmente

    competitiva, no teria sido mais bem-sucedido (AMSDEN 200; CASTRO AND SOUA 195; DAHLMAN

    AND SERCOVICH 19; DEDRIC, RAEMER, PALACIOS, TIGRE, AND BOTELHO 2001; MICHELL 19; TIGRE

    AND BOTELHO 2001). esmo nos melhores casos, os vnculos entre governo, indstrias e instituies

    de pesquisa, na mrica atina, se limitaram a poucos setores e um nmero pequeno de grandes

    empresas. om a abertura da economia, as empresas locais oram obrigadas a competir no merca-

    do internacional, o que gerou um novo desafo e uma nova oportunidade para que as instituiescientfcas aumentassem seus vnculos com o setor produtivo. ntretanto, privatizao e interna-

    cionalizao tambm signifcaram que muitas empresas locais oram absorvidas por corporaes

    multinacionais que tinham seu trabalho de pesquisa e desenvolvimento eito em outros lugares, en-

    quanto restries fnanceiras reduziram a capacidade do governo de fnanciar projetos de inovao

    de longo prazo. ara os cientistas e suas instituies, a alternativa oi continuar sendo subsidiados

    com recursos minguantes ou mudar de atitude e passar a buscar ativamente seus recursos no mer-

    cado (VESSURI 1995).

    experincia brasileira

    om 190 milhes de habitantes, o rasil uma sociedade muito diversifcada, com grandes dieren-

    as regionais e sociais. stado de o aulo, com milhes de habitantes, industrializado, tem

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    uma agricultura moderna, e contm a maior parte dos programas de pesquisa e doutorado universi-

    trios do pas. ove estados do ordeste, no outro extremo, com 50 milhes, so bem mais pobres

    e menos industrializados, e os nveis educacionais da sua populao so muito mais baixos do que

    os do resto do pas.

    rasil tem uma longa tradio de investir mais, proporcionalmente, no ensino superior do que

    na educao bsica e mdia. or isso, embora a proporo de estudantes de nvel superior em re-

    lao populao seja relativamente baixa, comparada, seu sistema de ps-graduao e pesquisa

    o maior e mais amadurecido da regio. egundo a apes, havia, em 2006, 11 mil estudantes deps-graduao no pas, dos quais mil em programas de doutorado. inda em 2006, 9.366 estu-

    dantes obtiveram seu ttulo de doutorado, e cerca de 2.500 o ttulo de mestrado. sses alunos esto

    matriculados em 1.900 cursos de mestrado e cerca de mil doutorados, atendidos por cerca de 33

    mil proessores doutores.

    pesquisa domiciliar do nstituto rasileiro de eografa e statstica (IBGE) mostra um nmero de

    estudantes de ps-graduao muito maior: 377 mil, ou mais de trs vezes que o total registrado peloinistrio da ducao. ssa dierena est associada ao ato de que o ensino superior privado

    muito maior do que o pblico, e desenvolveu, nos ltimos anos, um amplo segmento de cursos de

    MBA e especializao que escapam ao controle e superviso do inistrio da ducao, que se exer-

    ce somente sobre os programas de mestrado e doutorado, predominantemente pblicos.

    E B (PD )

    ede pblica particular otal

    IBGE/ PNAD 2006:

    uperior 1.29.7 .200.30 5.95.277

    estrado ou doutorado 1.96 232.717 377.663

    T .. .. ..

    inistrio da ducao / CAPES

    estrado 56.62 17.730 7.12

    outorado 0.356 .110 .66

    T . . .

    expanso da ps-graduao e da pesquisa no rasil tomou impulso na dcada de 1970, a partir da

    reorma universitria de 196 e a reorganizao do sistema de ps-graduao e pesquisa nos anos

    seguintes, e particularmente no governo de rnesto eisel, 1975-190. t a reorma de 196, as

    esquisa universitria e inovao no Brasil

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    universidades brasileiras consistiam em uma simples agregao de aculdades profssionais, entre as

    quais uma aculdade de flosofa, cincias e letras onde se dava a ormao de proessores e, em al-

    guns poucos casos, pesquisa. s aculdades nas principais universidades pblicas eram estruturadas

    por ctedras vitalcias, e a obteno dos raros ttulos de ps-graduao de doutorado e livre-docn-

    cia era eita pela deesa ormal de tese, na tradio europia, com o objetivo quase exclusivo de pro-

    moo na carreira docente. reorma de 196 instituiu a estrutura departamental, abolindo a cte-

    dra; ormalizou a existncia de cursos regulares de ps-graduao, com mestrados e doutorados, no

    modelo norte-americano; e instituiu o sistema de crdito nos cursos de graduao que, no entanto,

    continuaram como cursos de ormao profssional, no estilo europeu. desse perodo tambm acontratao, por parte das universidades ederais e do stado de o aulo, de um grande nmero

    de proessores dedicados integralmente atividade de ensino e de pesquisa, em contraste com a

    prtica anterior, e que ainda predomina na maioria dos paises da regio, em que o ensino era uma

    atividade secundria e pouco remunerada de pessoas que viviam de suas respectivas profsses.

    seleo de alunos para as universidades pblicas era eita, como at hoje, por concursos pblicos

    para um nmero fxo de vagas, e, para responder demanda crescente por acesso ao ensino supe-

    rior, oi adotada uma poltica extremamente liberal para a criao de cursos superiores privados.

    t os anos 190 a pesquisa cientfca no rasil estava concentrada em alguns centros governamen-

    tais de pesquisa aplicada, na rea da sade pblica, agricultura e tecnologia industrial, e em nas prin-

    cipais aculdades de medicina, assim como na Faculdade de Filosofa da niversidade de o aulo

    (chwartzman 2001). epois da egunda uerra, houve uma tentativa de desenvolver no pas a

    pesquisa em energia nuclear, sendo criados para isto o entro rasileiro de esquisas Fsicas (CBP), a

    omisso acional de nergia uclear (CNEN) e o onselho acional de esquisas (CNPq), subordi-nado residncia da epblica. a dcada de 1970, a cincia e tecnologia passam a ser vistas como

    parte de um sistema mais amplo de planejamento da economia, com a criao da uma nova agn-

    cia de fnanciamento, a Financiadora de studos e rojetos (Finep), a transormao do antigo CNPq

    em um onselho acional de esenvolvimento ientfco e ecnolgico, agora subordinado ao

    inistrio do lanejamento; e, sobretudo, com a instituio do Fundo acional de esenvolvimen-

    to ientfco e ecnolgico (NDCT), gerenciado pela Finep, que fnanciou a criao de programas

    de ps-graduao e pesquisa em muitas universidades e institutos governamentais e autnomos e

    abriu linhas de fnanciamento para a pesquisa tecnolgica nas indstrias. dessa poca tambm a

    criao pelo inistrio da ducao, de um sistema permanente de avaliao e ratingdos progra-

    mas de ps-graduao no pas, associado concesso de bolsas de estudo para estudantes de mes-

    trado e doutorado, assim como a criao da niversidade de ampinas como instituio voltada

    predominantemente pesquisa e ps-graduao.

    Centro de Gesto e Estudos EstratgicosCincia, Tecnologia e Inovao

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    s iniciativas dos anos 1970 aziam parte de um esoro mais amplo de impulsionar o desenvolvi-

    mento do pas com ortes investimentos na inra-estrutura industrial, assim como na busca de auto-

    sufcincia nos campos da cincia e tecnologia. desse perodo, entre outras iniciativas, a constru-

    o da sina de taipu, no io aran, at recentemente o maior complexo de energia hidroeltrica

    existente; o acordo nuclear rasil-lemanha, que deveria dar ao rasil auto-sufcincia na gerao

    de energia nuclear; o incio do programa espacial brasileiro; e a poltica nacional de inormtica, que

    buscava tornar o rasil tambm auto-sufciente na produo de computadores de pequeno porte

    (SCHWARTMAN 199). a dcada de 190, com as sucessivas crises fnanceiras associadas aos cho-

    ques do petrleo e alta internacional dos juros, a economia brasileira entra em crise prolongada, emuitos desses esoros so interrompidos, ou entram em estado latente.

    impulso oi sufciente, no entanto, para levar criao de um inistrio de incia e ecnologia

    (MCT) em 195, e, a partir dos anos 1990, instituio de uma srie de leis e instituies voltadas a

    ortalecer a pesquisa cientfca e tecnolgica no pas e vincul-la mais ortemente ao setor produtivo.

    ntre 196 e 1996, a cincia brasileira se benefciou de dois grandes emprstimos do anco undial

    para o setor, o rograma de poio ao esenvolvimento ientfco e ecnolgico (PADCT e PADCTII) de US 70 e US 150 milhes, respectivamente, que deveriam se somar aos recursos governamen-

    tais disponveis para o setor. principal objetivo era ortalecer o desenvolvimento de recursos hu-

    manos em reas especfcas, consideradas prioritrias, por meio do apoio pesquisa e ao ensino de

    ps-graduao, assim como melhorar os processos de deciso e administrao da rea de cincia e

    tecnologia. avia a expectativa de que esta capacitao redundasse, eventualmente, em benecios

    para o setor produtivo, mas uma avaliao eita em 1997 no encontrou quase nada neste sentido.

    egundo os avaliadores do anco undial, em uma amostra de 705 projetos avaliados, 15 oramdestinados a atividades de desenvolvimento tecnolgico, com 26 dos recursos. ntretanto, poucos

    dos projetos examinados nas reas prioritrias (biotecnologia, geocincias, qumica, novos materiais,

    instrumentao) levaram a alguma aplicao industrial: um tero dos projetos desenvolveram pro-

    dutos, e 1 solicitaram patentes, mas menos de 5 desenvolveram produtos comercializveis, e s

    6 resultaram em transerncia de tecnologia (WORLD BAN 1997).

    a prtica, o principal uso dos recursos do anco undial oi a manuteno, ainda que precria, da

    estrutura de ps-graduao e pesquisa criada nos anos 1970, cujos recursos se tornariam imprevis-

    veis por causa da alta inao e desorganizao da administrao pblica ederal. partir de 199,

    com a estabilizao econmica, os recursos voltam a uir com alguma regularidade, ao mesmo tem-

    po em que a ideologia de desenvolvimento auto-sustentado da economia substituda por uma po-

    ltica de abertura econmica e privatizao de grande parte das empresas estatais, muitas das quais

    fnanciavam centros de pesquisa em dierentes universidades. antiga preocupao com a autono-

    esquisa universitria e inovao no Brasil

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    mia tecnolgica comea a ceder lugar para uma nova preocupao com a inovao, que deveria se

    desenvolver sobretudo no setor industrial. partir de 1999, um dos principais instrumentos de f-nanciamento da pesquisa brasileira passam a ser os Fundos etoriais vinculados a reas especfcas

    de atividade econmica como petrleo, energia, inormtica e outras , que deveriam, em princpio,

    avorecer o direcionamento da pesquisa para resultados prticos nos dierentes setores, alm do

    apoio geral inra-estrutura dos centros de pesquisa do pas. estimativa que, em 2005, o total de

    recursos do Fundo acional de incia e ecnologia tenha fnalmente recuperado o nvel de 1979.

    m 200 aprovada, pelo ongresso, da ei de novao, que deveria acilitar o envolvimento de pes-

    quisadores em instituies acadmicas com atividades de pesquisa empresariais (ei n 10.973, de 20de dezembro de 200), e, no ano seguinte, a chamada ei do em (ei n. 11.196, de 21 de novembro

    de 2005), que d incentivos fscais para empresas que investirem em inovao. mbas, no entanto,

    tiveram problemas em sua implementao, e ainda no mostraram resultados signifcativos.

    principal resultado da retomada dos investimentos e da criao de novas leis e instrumentos de

    apoio cincia e tecnologia oi menos o desenvolvimento de inovao tecnolgica e mais o cres-

    cimento contnuo da pesquisa acadmica. m compasso com a expanso contnua dos programase alunos dos cursos de ps-graduao, o nmero de artigos cientfcos publicados por autores bra-

    sileiros na literatura internacional tem crescido sistematicamente. m comparao, o nmero de

    patentes de inveno depositadas anualmente por residentes no rasil no escritrio de arcas e

    atentes dos stados nidos tem permanecido abaixo de 200 desde o ano 2000, comparado com

    quatro a seis mil ao ano pela oria do ul, e cerca de 350 para spanha.0 produo cientfca no

    rasil est concentrada nos cursos de ps-graduao e nas universidades pblicas. as 20 entidades

    com maior nmero de artigos indexados entre 199 e 2002, apenas trs no so instituies de en-sino superior a Fundao swaldo ruz (Fiocruz), a mpresa rasileira de esquisa gropecuria

    (mbrapa), e o CBP. s demais so universidades estaduais ou ederais.

    niversidade de o aulo (USP) lidera o ranking das instituies brasileiras com mais artigos in-

    dexados entre 199 e 2002 com 26 da produo cientfca nacional e com 9,3 da produo do

    stado de o aulo, seguida da niversidade stadual de ampinas, niversidade Federal do io

    de aneiro, a niversidade do stado de o aulo e as universidades ederais de inas erais e io

    rande do ul. (LANDI AND GUSMO 2005, vol 2, cap. 5, p. 5).

    arte da difculdade em tornar a cincia brasileira mais eetiva tem a ver com o prprio sucesso do

    sistema de ps-graduao e pesquisa que oi implantado no pas. sistema apes de avaliao, ao

    0. nited tates atent and rademark ce

    Centro de Gesto e Estudos EstratgicosCincia, Tecnologia e Inovao

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    longo de seus mais de 30 anos de existncia, teve resultados extraordinrios, ao estabelecer parme-

    tros de qualidade para a ps-graduao brasileira, que hoje a melhor de toda a mrica atina, ecomparvel ou superior, na ponta, de muitos dos pases mais desenvolvidos. eu segredo tem sido,

    primeiro, azer uso sistemtico de indicadores de produtividade acadmica, em seus diversos aspec-

    tos; e segundo, combinar estes indicadores com procedimentos de reviso por pares, que avaliam os

    dados disponveis e do legitimidade ao processo.

    pesar disto, a apes tem pelo menos quatro limitaes importantes. rimeiro, a difculdade de

    estender os critrios e procedimentos de avaliao prprio das cincias bsicas da natureza para asreas aplicadas e de cincias sociais e humanas; segundo, a difculdade em lidar com reas novas, ou

    interdisciplinares, que no se enquadram acilmente nos moldes das disciplinas mais tradicionais e

    institucionalizadas; terceiro, a difculdade de controlar a diversifcao cada vez maior do sistema de

    ps-graduao no pas, com a prolierao dos MBA, dos cursos de extenso, de convnios e ttulos

    conjuntos com universidades estrangeiras, cursos semipresenciais e por internet, etc; e quarto, fnal-

    mente, valorizar excessivamente o lado acadmico da atividade de pesquisa, em detrimento de seu

    lado mais aplicado e prtico.

    m segundo problema pode estar relacionado prpria existncia de um inistrio de incia

    e ecnologia. criao do MCT, em 195, oi saudada por grande parte da comunidade cientfca

    como o reconhecimento da importncia da pesquisa para o pas. o entanto, seu resultado prti-

    co oi a criao de uma estrutura burocrtica de grande porte que nunca conseguiu, eetivamente,

    coordenar as atividades de pesquisa no pas e vincul-la ao sistema produtivo. maior parte dos

    dispndios governamentais brasileiros em pesquisa se d por outros ministrios, como o da duca-o, gricultura, ade, nergia e a rea militar. lm disto, o stado de o aulo, principalmente,

    tem suas prprias instituies de pesquisa, como a Fundao de paro esquisa do stado de o

    aulo (Fapesp) e os institutos de pesquisa estaduais, que no respondem ao sistema ederal. xiste

    um onselho acional de incia e ecnologia (CCT) com representantes dos ministrios mais im-

    portantes que deveria assessorar o residente da epblica e integrar a ao dos dierentes setores,

    mas um rgo sem capacidade eetiva de ao. arte das atividades do MCT se d por meio de

    comits assessores que distribuem bolsas e auxlios pesquisa acadmica em atendimento de-

    manda dos pesquisadores, em superposio parcial com o sistema da apes; outra parte se dedica

    a diversos projetos e iniciativas de ao induzida, cujos resultados no so claros. ministrio tem

    seus prprios institutos de pesquisa, de qualidade e reputao varivel, alm da Finep, que adminis-

    tra os Fundos etoriais, o NDCT e outros projetos de grande porte. s recursos da Finep so extre-

    mamente limitados se comparados, no entanto, com os do anco acional de esenvolvimento

    conmico e ocial (BNDES), que a nica instituio do pas com capacidade de desenvolver uma

    esquisa universitria e inovao no Brasil

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    poltica industrial de longo prazo, com os eventuais benecios e problemas a ela associados. resul-

    tado de tudo isto que o MCT hoje uma burocracia de grande porte, mas com poder limitado, quedisputa recursos e o controle dos gastos de cincia e tecnologia com outros setores do governo, ao

    invs de se dedicar, como seria preervel, a um papel de coordenao eetiva e ampla das polticas

    de cincia e tecnologia do pas.

    ma terceira difculdade a maneira pela qual esto institudas as universidades pblicas

    brasileiras.

    pas tem, pelos dados de 2005 do enso do nsino uperior do inistrio da ducao, 52 uni-

    versidades ederais e 33 universidades estaduais, alm de um nmero menor de centros de ormao

    tecnolgica e escolas profssionais pblicas isoladas. maior parte da pesquisa est concentrada

    nas universidades estaduais paulistas (niversidade de o e niversidade de ampinas) e algumas

    universidades ederais, como as universidades ederais do io de aneiro, inas erais, o aulo e

    io rande do ul. odas as universidades, no entanto, azem parte do servio pblico ederal ou

    dos respectivos estados, e respondem sobretudo aos interesses e orientaes de proessores e un-cionrios que no se dedicam pesquisa como atividade principal (BALBACHEVSY 1995; BALBACHE-

    VSY 2007; SCHWARTMAN AND BALBACHEVSY 1992). sto signifca que elas esto submetidas a uma

    dupla rigidez, uma derivada das normas burocrticas da administrao pblica, outra das presses

    dos sindicatos docentes, estudantis e de uncionrios administrativos. las no podem ter polticas

    dierenciadas nem exibilidade para a administrao de seus recursos humanos, e esto legalmente

    impedidas de vender servios e gerar recursos prprios. xistem muitas experincias e tentativas de

    contornar esta situao, seja pela criao de undaes de direito privado pelas universidades pbli-cas e seus departamentos ou institutos, ou pela criao de programas de pesquisa e ps-graduao

    separados dos cursos regulares de graduao. uma situao instvel, no entanto, e sujeita a cons-

    tantes questionamentos polticos e legais.

    rasil ainda est longe de criar um sistema de inovao que consiga eetivamente conectar os

    dierentes setores que deveriam integrar este sistema governo, setor produtivo e empresarial, co-

    munidade cientfca, universidades. difculdade principal que no se trata, simplesmente, de

    uma questo de engenharia institucional, mas de culturas e interesses setoriais que divergem, e que

    o governo no tem clareza ou determinao para azer convergir. principal poltica governamen-

    tal para o ensino superior atualmente de expanso do acesso e de ampliao das matrculas nas

    instituies pblicas. ssa poltica, hoje consubstanciada no rograma de poio a lanos de ees-

    truturao e xpanso das niversidades Federais (euni), preocupa os setores universitrios mais

    envolvidos com a pesquisa e a ps-graduao, que temem ter que dedicar cada vez mais tempo e

    Centro de Gesto e Estudos EstratgicosCincia, Tecnologia e Inovao

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    recursos a um nmero crescente de estudantes dos cursos de graduao. s tentativas de tornar

    os sistemas de administrao de pessoal e de recursos mais exveis encontram orte resistncia porparte dos sindicatos docentes e associaes de alunos, resistncia esta apoiada em uma orte ten-

    dncia do judicirio em azer valer uma interpretao bastante rgida de controle da administrao

    pblica em todas as suas eseras. m 200 o governo sancionou a criao de uma gncia rasileira

    de esenvolvimento ndustrial (ABDI). agncia deveria, segundo o texto original, propor ao oder

    xecutivo planos de ao da poltica de desenvolvimento industrial; articular-se com rgos pbli-

    cos e entidades privadas para execuo das diretrizes estratgicas da poltica industrial, em conso-

    nncia com as polticas de comrcio exterior e de cincia e tecnologia; coordenar e promover a exe-cuo das polticas de desenvolvimento. as o artigo que defnia essas unes oi vetado, porque a

    agncia no oi constituda como rgo da administrao direta, e com isto ela j surgiu natimorta.

    pesar dessas difculdades, a economia brasileira vem crescendo graas a uma conjuntura interna-

    cional avorvel, e vrias instituies universitrias, principalmente privadas, buscam ocupar o lugar

    da ormao de alto nvel e da pesquisa acadmica que ainda ocorre, sobretudo, nas instituies p-

    blicas, ao mesmo tempo em que instituies pblicas, mesmo inormalmente, buscam estabelecerpontes mais frmes de cooperao com o setor privado e governamental. muito provvel que seja

    por este caminho, de baixo para cima, que o envolvimento brasileiro com a sociedade do conheci-

    mento venha a se ortalecer, dadas as difculdades e limitaes das abordagens sistmicas que tra-

    tam de se impor de cima para baixo.

    s lies das experincias positivas

    estudo que realizamos em 16 centros de pesquisa universitrios na rgentina, rasil, hile e -

    xico mostra que, em todos os pases estudados, muitas equipes de pesquisa oram capazes de se

    abrir e azer contribuies importantes para a sociedade, mantendo, ao mesmo tempo, a qualidade

    acadmica de seu trabalho. gindo assim, conseguiram recursos e criaram um ambiente rico e es-

    timulante para seus pesquisadores e alunos de ps-graduao. ssas equipes de pesquisa no so

    representativas da mdia dos setores de pesquisa universitria, mas so casos exemplares que de-

    monstram que possvel vencer as restries habituais da cultura interna de modo 1.

    odos os grupos de pesquisa tiveram que lidar, de uma orma ou outra, com trs questes centrais

    a natureza e disponibilidade de recursos para o fnanciamento da pesquisa; as tenses entre as carrei-

    ras acadmicas e o empreendedorismo cientfco e tecnolgico; e a tenso entre a produo de co-

    esquisa universitria e inovao no Brasil

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    nhecimento para a comunidade cientfca aberta e a apropriao de conhecimento como patentes

    ou outras ormas de propriedade intelectual. pesar das grandes dierenas entre pases e camposde conhecimento, possvel afrmar que todos os grupos estudados partilham algumas caractersti-

    cas comuns. rimeiro, por virtude ou necessidade, tiveram que se aastar do padro convencional de

    pesquisa acadmica e se voltar para a sociedade e para o setor empresarial em busca de fnanciamen-

    to. o rasil, instituies privadas, tais como a onticia niversidade atlica e a Fundao etlio

    argas no io, no tm meios de fnanciar a pesquisa avanada com seus prprios recursos; na r-

    gentina e no hile, mesmo as melhores instituies pblicas no conseguem fnanciamento integral

    para seu trabalho e precisam desenvolver uma orte cultura empreendedora para uncionar. nstitui-es pblicas de pesquisa no rasil e no xico tendem muito mais a conseguir orte fnanciamento

    e altos salrios para seus pesquisadores, mas, mesmo assim, muitos grupos de pesquisa, tais como o

    grupo de Qumica em ampinas ou a nidad raupuato de investav, no xico, desenvolveram

    culturas proundas de tornar seu trabalho relevante para a indstria e para a sociedade, conseguindo

    recursos adicionais aos que poderiam obter das ontes habituais de fnanciamento.

    ma segunda caracterstica comum que todos tiveram que lidar com as normas e regulamentosdas instituies maiores s quais pertencem, geralmente a administrao central das universidades.

    ara a instituio, esses ativos centros de pesquisa so um patrimnio importante, que traz prestgio,

    reconhecimento e apoio sua instituio de origem, alm de recursos adicionais. o mesmo tempo,

    eles tendem a ser dierentes de outros departamentos e centros de pesquisa, no se adaptam acil-

    mente s regras e regulamentos gerais e, em muitos casos, seus pesquisadores desrutam de melho-

    res condies de trabalho e rendimentos maiores que outros ormalmente na mesma situao. ara

    lidar com grupos de pesquisa assim, as universidades precisam ser exveis e mais preocupadas com

    o desempenho de suas unidades que com seus procedimentos ormais e normas burocrticas. o

    entanto, isso no muito comum na mrica atina, no apenas devido tradio de ormalismo

    e administrao burocrtica, mas tambm porque estas ormalidades em geral escondem conitos

    arraigados de valores e cimes entre dierentes setores e grupos.

    ma terceira caracterstica comum que a maioria dos grupos tinha uma fgura de lder que cor-

    porifcava um sentido de misso e oi capaz no somente de estabelecer altos padres de pesquisa,

    mas tambm conseguiu estabelecer vnculos eetivos com o mundo exterior, com agncias governa-

    mentais, setor empresarial, agncias internacionais e comunidades tcnicas e cientfcas.

    ssa combinao de excelncia acadmica e competncia empreendedora no uma anomalia,

    mas um elemento comum maioria das equipes e instituies de pesquisa bem-sucedidas, por toda

    parte, como bem descreveu runo atour, em um texto clssico (LATOUR 197). papel positivo

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    que esses lderes podem desempenhar no necessita de mais explicao; porm, h o lado negativo,

    que quando o lder precisa ser substitudo e no ormou um sucessor nem criou condies insti-tucionais para um trabalho sustentvel, uma transio com a qual muitos grupos e instituies de

    pesquisa so incapazes de lidar.

    Finalmente, um quarto elemento comum a presena de mltiplos clientes externos. m alguns

    casos, entretanto, tais como no epartamento de normtica da onticia niversidade atlica