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Avaliação do método de nucleação na recuperação da paisagem em 565 hectares de áreas de preservação permanente dezembro/2015 1 ISSN 2179-5568 Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 10 Vol. 01/ 2015 dezembro/2015 Avaliação do método de nucleação na recuperação da paisagem em 565 hectares de áreas de preservação permanente degradadas Wallace Romio Duarte [email protected] MBA Engenharia Sanitária e Ambiental Instituto de Pós-Graduação IPOG Cuiabá, MT, 11 de maio de 2015 Resumo Este trabalho visa avaliar o desenvolvimento e a eficácia do método de nucleação na recuperação de 565 hectares de áreas de preservação permanente (APPs) degradadas situadas no entorno do reservatório da PCH Figueirópolis, rio Jaurú, zona rural do município de Indiavaí, Estado de Mato Grosso. Foram utilizadas espécies nativas da região, procurando manter uma diversidade semelhante a aquela anteriormente existente no local. O projeto contemplou o plantio de 90.400 mudas nativas, divididas em 452 núcleos (blocos de plantio), com 200 mudas cada, distribuídos uniformemente em 565 hectares. Durante o desenvolvimento do projeto foram realizadas atividades adicionais como o isolamento da área e o lançamento de sementes nos intervalos entre núcleos. O acompanhamento do projeto foi realizado durante 60 meses, através de vistorias periódicas, sendo avaliada a eficácia do método de nucleação na restauração da paisagem. Com base nos resultados e registros obtidos durante o período em que o projeto foi desenvolvido, conclui-se que o método de recuperação de mata ciliar através da formação de núcleos de plantio, desde que devidamente implantado e conduzido, torna-se uma ótima opção para restauração da paisagem e biodiversidade anteriormente existente no local. Palavras-chave: Recuperação. APPs. Nucleação. Paisagem. Biodiversidade. 1. Introdução Historicamente as matas vêm sendo degradadas pela ação antrópica gerando uma cadeia de impactos abrangendo a impermeabilização do solo, aumento do escoamento superficial, alterações topográficas, erosão das margens, assoreamento dos cursos d’água e diminuição da biodiversidade, entre outras (MULLER, 1998). O processo de ocupação do Brasil caracterizou-se pela falta de planejamento e consequente destruição de boa parte dos recursos naturais, particularmente das florestas. Ao longo da história do País, a cobertura florestal nativa, representada pelos diferentes biomas, foi sendo fragmentada, cedendo espaço para as culturas agrícolas, as pastagens e as cidades (MARTINS, 2010:16). Conforme comenta Almeida (1998:1), com a ocupação do Cerrado, no início da década de 1970, com o incentivo governamental e adoção de mecanização, a vegetação nativa começou a ser derrubada. Essa ocupação proporcionou uma gradativa mudança de paisagem, principalmente na cobertura vegetal.

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ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 10 Vol. 01/ 2015 dezembro/2015

Avaliação do método de nucleação na recuperação da paisagem em

565 hectares de áreas de preservação permanente degradadas

Wallace Romio Duarte – [email protected]

MBA Engenharia Sanitária e Ambiental

Instituto de Pós-Graduação – IPOG

Cuiabá, MT, 11 de maio de 2015

Resumo

Este trabalho visa avaliar o desenvolvimento e a eficácia do método de nucleação na

recuperação de 565 hectares de áreas de preservação permanente (APPs) degradadas

situadas no entorno do reservatório da PCH Figueirópolis, rio Jaurú, zona rural do

município de Indiavaí, Estado de Mato Grosso. Foram utilizadas espécies nativas da região,

procurando manter uma diversidade semelhante a aquela anteriormente existente no local. O

projeto contemplou o plantio de 90.400 mudas nativas, divididas em 452 núcleos (blocos de

plantio), com 200 mudas cada, distribuídos uniformemente em 565 hectares. Durante o

desenvolvimento do projeto foram realizadas atividades adicionais como o isolamento da

área e o lançamento de sementes nos intervalos entre núcleos. O acompanhamento do projeto

foi realizado durante 60 meses, através de vistorias periódicas, sendo avaliada a eficácia do

método de nucleação na restauração da paisagem. Com base nos resultados e registros

obtidos durante o período em que o projeto foi desenvolvido, conclui-se que o método de

recuperação de mata ciliar através da formação de núcleos de plantio, desde que

devidamente implantado e conduzido, torna-se uma ótima opção para restauração da

paisagem e biodiversidade anteriormente existente no local.

Palavras-chave: Recuperação. APPs. Nucleação. Paisagem. Biodiversidade.

1. Introdução

Historicamente as matas vêm sendo degradadas pela ação antrópica gerando uma cadeia de

impactos abrangendo a impermeabilização do solo, aumento do escoamento superficial,

alterações topográficas, erosão das margens, assoreamento dos cursos d’água e diminuição da

biodiversidade, entre outras (MULLER, 1998).

O processo de ocupação do Brasil caracterizou-se pela falta de planejamento e consequente

destruição de boa parte dos recursos naturais, particularmente das florestas. Ao longo da

história do País, a cobertura florestal nativa, representada pelos diferentes biomas, foi sendo

fragmentada, cedendo espaço para as culturas agrícolas, as pastagens e as cidades

(MARTINS, 2010:16).

Conforme comenta Almeida (1998:1), com a ocupação do Cerrado, no início da década de

1970, com o incentivo governamental e adoção de mecanização, a vegetação nativa começou

a ser derrubada. Essa ocupação proporcionou uma gradativa mudança de paisagem,

principalmente na cobertura vegetal.

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Considerando a importância desses sistemas florestais nativos para a manutenção da

biodiversidade da flora e fauna, faz-se necessário a implementação de técnicas visando a

recuperação ou restauração desses ambientes degradados.

Conforme citado por Carpanezzi et al. (1991), em ecossistemas degradados, a ação antrópica

é necessária para sua recuperação, onde, segundo Galvão (2000:252), a recuperação plena de

ecossistemas degradados deve ser realizado com espécies nativas.

O Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC (BRASIL, 2000), define

recuperação como a “restituição de um ecossistema ou de uma população silvestre degradada

a uma condição não degradada, que pode ser diferente de sua condição original”, enquanto o

termo restauração é definido como sendo a “restituição de um ecossistema ou de uma

população silvestre degradada o mais próximo possível da sua condição original”.

Também, segundo entendimento do SNUC, o sucesso da restauração geralmente só ocorre em

casos onde a degradação ocorreu superficialmente, possibilitando o retorno da área a

condições similares às originais com a adoção de práticas simplificadas de proteção aos

ecossistemas.

Para o desenvolvimento deste estudo, entende-se que a “recuperação” de uma área degradada

constitui uma etapa que precede sua completa “restauração”, quando esta é possível.

Concordando com Rodrigues e Gandolfi (2004), o termo “recuperação” é aqui entendido

como o processo que objetiva o restabelecimento dos processos ecológicos do ecossistema

sem a necessidade final de reconstruir um modelo idealizado de ecossistema.

Diversas técnicas têm sido apresentadas com o objetivo de recuperar ou restaurar áreas

degradadas, entre elas, a proposta apresentada por Nogueira (1977), que defende o plantio

heterogêneo de mudas das espécies nativas de uma região. Já Kageyama (1990) apresenta um

método que se inicia com as espécies pioneiras, e consiste em plantio misto, com

planejamento pró-sucessão.

Mariot et al. (2007) destaca que o processo de restauração deve ser gradual e longo, onde a

própria natureza se encarrega de sua continuidade e do incremento da biodiversidade local,

tanto vegetal quanto animal, sendo o monitoramento e manutenção dessas áreas de

fundamental importância para a efetivação desse processo.

De acordo com Chiamolera e Ângelo (2007), em locais onde ocorreu o abandono de terras

inicia-se o processo de regeneração natural, que, a partir de uma fase inicial de capoeirinha,

atingida em poucos anos, irá evoluir para capoeira, capoeirão e, chegando, no futuro, ao

estágio clímax da vegetação. Contudo, o uso da terra através de atividades agrícolas e

pastagem representa um obstáculo para a conservação dos ecossistemas naturais (VICENTE

et al., 2009). O contínuo uso do solo para a agricultura, bem como o pastejo e o pisoteio,

exaure o banco de sementes do solo dificultando a regeneração natural (DE LUCCA, 1992).

Portanto, essas áreas podem não evoluir em termos sucessionais sem intervenção, havendo a

necessidade de serem introduzidas espécies florestais já nas etapas iniciais, como forma de

catalisar o processo de sucessão.

Técnicas de nucleação são muito usadas para a recuperação e restauração de ambientes, pois

possibilitam o aumento da biodiversidade local, obedecendo aos estágios naturais da sucessão

ecológica de uma floresta nativa, onde os núcleos criados atrairão biodiversidade das áreas

circundantes (MARIOT et al., 2007).

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Neste contexto, considera-se a nucleação uma das melhores formas de implementar a

sucessão dentro de áreas degradadas, restituindo a biodiversidade condizente com as

características da paisagem e das condições microclimáticas locais (REIS et al., 2003).

É importante pensarmos que o princípio básico não é encher uma área de espécies, mas ajudar

a natureza a criar condições básicas para que as espécies cheguem gradativamente, de forma a

se integrarem dentro das funções que a nova comunidade exerce no tempo e nos seus distintos

espaços. Por isso, as ações em um projeto de restauração buscam devolver o ecossistema até o

ponto em que ele seja resiliente, ou seja, tenha a capacidade de se sustentar (São Paulo: SMA,

2011).

2. Mata ciliar e restauração de ambientes

Matas ciliares são formações localizadas ao longo dos cursos d’água que funcionam como

reguladores do fluxo de água, nutrientes e sedimentos entre os terrenos mais altos da bacia e o

ecossistema aquático (GONÇALVES et al., 2005).

Segundo Martins (2011:18-19), o processo de fragmentação e degradação da mata ciliar vem

se repetindo nas últimas décadas. Esse processo de eliminação da vegetação nativa resultou

em um conjunto de problemas ambientais, como a extinção de espécies, mudanças climáticas,

erosão dos solos e assoreamento dos cursos d’água. Basta lembrar que muitas cidades foram

formadas às margens de rios, eliminando-se as matas ciliares, onde muitas acabam pagando

um preço alto por isso, através de inundações constantes.

Além do processo de urbanização, as matas ciliares sofrem pressão antrópica por uma série de

fatores: são as áreas diretamente mais afetadas na construção de hidrelétricas, são áreas

preferenciais para a abertura de estradas, para a implantação de culturas agrícolas e de

pastagens (MARTINS 2011:19-20)

Considerando o comprometimento da vegetação ciliar e de seus consequentes impactos na

qualidade ambiental, a recuperação das áreas de floresta à beira dos rios e reservatórios, de

acordo com o que preconiza a legislação, é uma necessidade atual e urgente. Nesse sentido, o

sucesso na recuperação de áreas degradadas requer a adoção de procedimentos adequados de

implantação e manutenção, com vistas em uma restauração completa do ecossistema ciliar.

Assim, tendo como premissa a importância das matas ciliares para a manutenção da qualidade

ambiental, a restauração dos ecossistemas degradados é o principal instrumento para a

formação de corredores que venham a unir os fragmentos florestais remanescentes,

permitindo assim a continuidade do fluxo gênico necessário para a manutenção das espécies e

da viabilidade de suas populações.

Alguns métodos de restauração utilizados possuem vícios que acabam comprometendo a

eficiência da recuperação, formando florestas “limpas e organizadas”, sem que ocorra a

sucessão de espécies de forma natural.

Portanto, a restauração deve buscar o retorno da estabilidade e integridade biológica dos

ecossistemas naturais, a fim de permitir a presença de espécies características da área, bem

como direcionar os processos naturais para características desejáveis no sistema futuro.

Nesse contexto, a restauração de ambientes através da técnica de nucleação propicia que

conjuntos de espécies dispostas em forma de manchas de floresta melhorem as condições

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ambientais de um ecossistema degradado, permitindo sua ocupação sucessional com alta

biodiversidade.

3. Nucleação

A recuperação de áreas degradadas através do sistema tradicional, ou seja, o plantio massivo,

mesmo que com espécies nativas, acabam promovendo a formação de uma floresta limpa e

organizada, não contribuindo de maneira esperada para o restabelecimento da biota

anteriormente existente (produtores, decompositores e consumidores).

Diferentes modelos de restauração adotados ao longo dos tempos foram concebidos a partir de

algumas visões e concepções distintas dos processos ecológicos. Alguns modelos baseavam-

se nas experiências obtidas em plantios comerciais, ou seja, visavam proteger as árvores

plantadas no sentido de que crescessem o suficiente para formar uma nova floresta da forma

como foi plantada. Isto significava não permitir o processo de sucessão natural.

Posteriormente, a diversidade foi vista como uma meta a ser alcançada através da introdução

de um grande número de espécies e ainda de distintos grupos ecológicos, e forma a criar uma

plantação de árvores que se perpetuassem no tempo. Esta nova tendência prima em refazer

processos naturais da sucessão, aumentando a resiliência e direcionando a comunidade para a

sua integração com a paisagem que a rodeia.

Dentro deste contexto, o desenvolvimento do processo de nucleação visa formar

microhabitats em pequenos núcleos, através de uma rede de interações entre os organismos

que ali habitam, aguardando que os espaços desocupados entre estes sejam lentamente

ocupados por uma diversidade compatível com o conjunto de aptidões bióticas e abióticas da

área em questão.

A técnica de nucleação promove ambientes de refúgio para a fauna, atraindo principalmente

aves e roedores, os quais são importantes disseminadores de sementes. A grande vantagem

desta técnica está no fato de que as aves, além das sementes provenientes destes núcleos

(blocos) de plantio, também disseminam nos espaços entre um núcleo e outro, sementes

provenientes de áreas remanescentes próximas, aumentando a biodiversidade na regeneração

total da área.

4. Regeneração natural

Segundo Martins (2010:64), o processo de regeneração natural baseia-se na capacidade que as

florestas apresentam de se recuperarem de distúrbios naturais ou antrópicos. Quando uma

determinada floresta sofre um distúrbio, como um desmatamento ou um incêndio, a sucessão

secundária se encarrega de promover a colonização da área aberta e conduzir a vegetação

através de uma série de estágios sucessionais, caracterizados por grupos de plantas que vão se

substituindo ao longo do tempo, modificando as condições ecológicas locais até chagar a uma

comunidade bem estruturada e ecologicamente mais estável.

Também segundo Martins (2010:66), a sucessão secundária depende de uma série de fatores

como a presença de vegetação remanescente, o banco de sementes no solo, a rebrota de

espécies arbustivo-arbóreas, a proximidade de fontes de sementes e a intensidade e a duração

do distúrbio.

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Em áreas onde a degradação não foi muito intensa, e o banco de sementes do solo não foi

perdido e, ou, quanto existirem fontes de sementes próximas, a regeneração natural pode ser

suficiente para a restauração florestal (MARTINS 2010:66).

Em contrapartida, em áreas degradas pela atividade agropecuária, o banco de sementes

normalmente é reduzido, constituído principalmente por espécies invasoras, dificultando em

muito o processo de regeneração natural. Neste caso, o qual ocorre na maioria das matas

ciliares degradadas, atividades auxiliares ao processo de regeneração natural devem ser

implementadas. Assim, cada área degradada apresenta uma dinâmica sucessional específica

que deve ser avaliada e acompanhada durante a implantação de projetos de recuperação.

Portanto, dependendo do grau de degradação da área, a regeneração natural pode não ser

suficiente para a restauração plena do ambiente, tornando necessária a implementação de

ações adicionais como o plantio de mudas e o lançamento de sementes de espécies nativas, as

quais irão maximizar e acelerar o processo de recuperação.

Uma regeneração natural bem conduzida é parte fundamental para o sucesso da recuperação

ou restauração de um ambiente degradado.

5. Barreiras para a recuperação de ambientes

Em áreas profundamente perturbadas, como aquelas destinadas à pecuária extensiva ou áreas

agrícolas consolidadas, o processo de regeneração natural é mais lento, uma vez que o banco

de sementes é reduzido ou constituído quase que exclusivamente por ervas daninhas e

espécies ruderais.

Dessa forma, na recuperação ou restauração de uma área inserida em uma matriz degradada,

descaracterizada do ponto de vista taxonômico e ecológico, além do plantio, faz-se necessário

o enriquecimento através do lançamento de sementes nos espaços desprovidos de vegetação

nativa, sementes essas provenientes dos remanescentes florestais do entorno, a fim de manter

a biodiversidade anteriormente existente no local.

A quantidade, dimensão e distancia dos fragmentos de floresta nativa situadas no entorno do

ambiente degradado influencia diretamente na velocidade e qualidade de sua restauração, uma

vez que quanto mais perto desses fragmentos, melhor será a qualidade do banco de sementes

existente.

A reduzida presença de elementos da fauna nas imediações do ambiente degradado também

dificulta o processo de recuperação, uma vez que as aves e roedores são grandes dispersores

de sementes, contribuindo para o enriquecimento da biodiversidade das espécies florestais.

Portanto, diversos obstáculos podem ocorrer, isoladamente ou em conjunto, os quais também

dificultam a recuperação ou restauração de uma matriz degradada, a exemplo, conforme já

comentado, da presença massiva de espécies invasoras, principalmente gramíneas e

trepadeiras agressivas, as quais competem em nutrientes e luminosidade com a vegetação

nativa em recuperação. Essa competição ocorre normalmente na fase inicial da recuperação,

dificultando o estabelecimento das espécies florestais plantadas ou mesmo das que estão

regenerando naturalmente pelo banco de sementes existente na área.

6. Ações auxiliares ao processo de recuperação

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Algumas ações podem e devem ser implementadas durante o processo de recuperação ou

restauração de uma área degradada. O lançamento de sementes (semeadura direta) conciliado

ao plantio de espécies florestais nativas é uma forma muito eficiente de maximizar a

recuperação de uma área degradada. Como o objetivo é o reestabelecimento de uma floresta

com biodiversidade semelhante a anteriormente existente no local, as sementes devem ser

provenientes dos fragmentos de vegetação nativa do entorno.

Outra ação auxiliar ao processo de recuperação é o isolamento da área a ser recuperada

através da construção de cercas de arame. Esta proteção evita a entrada de animais de grande

porte, a exemplo do gado, os quais podem causar um grande estrago nas mudas em

regeneração e nas plantadas, pois os mesmos, principalmente na fase inicial do plantio,

comem as folhas tenras e talos das plantas, podendo inviabilizar a recuperação da área.

7. Material e métodos

7.1. Objetivo

De uma maneira geral, o principal objetivo da recuperação da vegetação nativa em áreas de

preservação permanente degradadas (APPDs) é a restituição do ambiente o mais próximo

possível do anteriormente existente em cada local, reavendo aos poucos a biodiversidade

(fauna e flora), alterada pelo antropismo das áreas.

Trata-se, neste caso, de uma recomposição florestal dentro de conceitos ecológicos e não

econômicos, uma vez que a reestruturação florestal implementada tem o caráter de reverter a

degradação e reconstituir a paisagem o mais próximo possível das condições ambientais

originais.

O presente trabalho visa, portanto, divulgar o método de restauração de ambientes degradados

através da técnica de nucleação, fundamentando a eficiência da mesma no processo de

sucessão natural.

Neste estudo, investigou-se a eficácia da utilização da técnica de nucleação na recuperação de

565 hectares de áreas de preservação permanente degradadas por pastagens no entorno do

reservatório da PCH Figueirópolis, localizada as margens do rio Jaurú, zona rural do

Município de Indiavaí, Estado de Mato Grosso.

A recuperação áreas de preservação permanente é uma das principais ações de controle e

compensação ambiental, onde, em cumprimento à Legislação Federal (Código Florestal – Lei

n°4.771 de 15/09/1965 e Resolução CONAMA n° 303 de 20/03/2002), bem como a

Legislação Estadual vigente (Lei Complementar n° 232 de 21/12/2005 conforme art.º 58 §

5º), a recomposição da vegetação nas áreas do entorno de reservatórios devem contemplar

uma faixa de 100 metros de largura, através do plantio de mudas nativas conciliada, muitas

vezes, a regeneração natural.

Portanto, a implantação deste projeto de recuperação de áreas degradadas através do método

de nucleação não tem como objetivo comparar dados estatísticos com outros métodos de

recuperação, mas sim avaliar a eficácia da nucleação na restauração da paisagem, tomando

como base o acompanhamento do desenvolvimento do projeto através de registros

fotográficos periódicos realizados durante um período de 60 meses.

Além da recuperação da paisagem local, a implantação do projeto visa a proteção de áreas

com declividade acentuada e dos taludes, evitando a ocorrência de processos erosivos e

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consequente assoreamento dos cursos d’água, bem como a proteção da vegetação existente,

maximizando o enriquecimento da flora e promovendo o incremento da capacidade de suporte

para a fauna local.

7.2. Definição do modelo de recomposição florestal

Na implantação do projeto de recuperação em 565 hectares de áreas de preservação

permanente degradadas no entorno do reservatório da PCH Figueirópolis através da técnica de

nucleação, foram demarcados núcleos (blocos) de plantio com dimensões de 40 x 60 metros,

utilizando em cada núcleo o espaçamento de 3 x 4 metros entre plantas, totalizando assim um

massivo de 200 mudas por núcleo de plantio.

Os núcleos de plantio (blocos) foram distribuídos na faixa de 100 metros de APP no entorno

do reservatório de forma contínua mas não linear, com distância entre blocos de 65 metros

(Figura 1).

Com o intuito de acelerar o processo de recuperação da APP, além do isolamento da área, o

projeto contemplou um incremento populacional através do lançamento de sementes coletadas

em locais próximos com vegetação remanescente, principalmente nos intervalos entre

núcleos, visando assim potencializar a dinâmica de regeneração da área.

Portanto, o projeto contempla a implantação de 452 núcleos de plantio (blocos), com 200

mudas cada, totalizando 90.400 mudas plantadas nos 565 hectares correspondente a área do

projeto.

Figura 1: Modelo ilustrativo para implantação do projeto de nucleação

Fonte: Ilustração produzida pelo autor (2008)

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7.3. Área do Projeto

A área de implantação do projeto de nucleação está localizada nas margens direita e esquerda

do rio Jaurú, mais especificamente no entorno do reservatório da PCH Figueirópolis, zona

rural do município de Indiavaí, Estado de Mato Grosso, contemplando um total de 565

hectares de áreas de preservação permanente degradadas (Figura 2). A área do projeto está

referenciada pelas coordenadas: Margem Esquerda UTM F21 323143,45 - 8300853,63 e

Margem Direita UTM F21 322586,49 - 8300696,25.

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Figura 2: Mapa contemplando a área de 565 hectares selecionada para implantação do projeto de recuperação de

áreas degradadas através do método de nucleação, com detalhe para o sistema de distribuição dos núcleos

(Blocos) de plantio na APP do estorno do reservatório da PCH Figueirópolis

Fonte: Imagem Google Earth 2008 – Vetorização produzida pelo autor

NÚCLEOS DE PLANTIO

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A área de implantação do projeto, a qual possui 565 hectares, caracteriza-se pela substituição

das matas ciliares nativas (APPs) por pastagens, resultado de uma ação antrópica

característica da região (Figuras 3a e 3b). No entorno destas áreas de preservação permanente

degradadas existem ainda vários fragmentos de vegetação nativa preservada, muitas delas

fazendo ligação com a área do projeto.

De acordo com o Mapa de Vegetação do Brasil - 1: 5.000.000 (IBGE, 2004) a região em

estudo caracteriza-se pelo predomínio da tipologia Savana (Cerrados). Considerando a

classificação de tipos fitofisionômicos do Cerrado apresentada por Ribeiro & Walter (1998),

as fisionomias vegetais existentes na área em estudo são a Floresta Estacional Aluvial (Mata

Ciliar) e o Palmeiral (Babaçual).

Figuras 3a e 3b: Áreas de preservação permanente degradadas pela formação de pastagens

Fonte: Registro fotográfico produzido pelo autor (2008)

7.4. Demarcação dos núcleos (blocos) de plantio

Primeiramente, em dezembro de 2008, foi iniciada a demarcação a campo dos núcleos

(blocos) de plantio, respeitando as dimensões de 40 x 60 metros cada, os quais foram

distribuídos na faixa de 100 metros de APP no entorno do reservatório (Figura 4). A

demarcação foi realizada de forma contínua, mas não linear, com distância entre blocos de 65

metros.

Figura 4: Demarcação dos núcleos de plantio

a. b.

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Fonte: Registro fotográfico produzido pelo autor (2008)

7.5. Seleção das espécies

Para a implantação do projeto foram utilizadas espécies nativas da região, procurando manter

uma diversidade semelhante a aquela anteriormente existente no local.

Visando acelerar o processo de recuperação, foram utilizadas preferencialmente espécies

atrativas para a mastofauna e avifauna, melhorando assim a capacidade de suporte da fauna

local e maximizando a regeneração natural através da dispersão de sementes.

Como base para o plantio, foram selecionadas espécies pertencentes a fitofisionomia da

região, onde destacam-se: Amoreira (Cholorophora tinctoria), Angico (Piptadenia sp.),

Canela (Ocotea sp.), Canjerana (Cabralea sp.), Cedro-rosa (Cedrela odorata), Faveiro

(Pterodon pubescens), Figueira (Ficus sp.), Caroba Branca (Sparattosperma leucanthum), Ipê

roxo (Tabebuia avellanedae.), Ipê Branco (Tabebuia roseoalba), Jatobá (Hymenaea sp.),

Louro-preto (Cordia gerascanthus), Mamica-de-porca (Zanthoxylum rhoifolium), Tamboril

(Enterolobium contortisiliquum), Paineira (Bombax sp.), Pau d'alho (Gallesia sp.), Pau ferro

(Machaerium scleroxylon), Peroba-rosa (Aspidosperma polyneuron), Perova mica

(Aspidosperma sp.), Pinho Cuiabano (Schizolobium sp.), Saboneteira (Sapindus saponária),

Sagra d'água (Croton urucurana), Jacarandá (Machaerium sp.), Acacia (Acacia polyphylla),

Araticum-da-mata (Rollinia siricea), Biruçu (Pseudobombax grandiflorum), Cajazeiro

(Spondias mombin), Canela-imbuia (Nectandra megapotamica), Chico-magro (Guazuma

ulmifolia), Embaúba (Cecropia sciadophylla), Escova de macaco (Apeiba tiborubou),

Figueira-do-brejo (Ficus insipida), Fruta-de-pombo (Erythroxylum deciduum), Goiaba brava

(Myrcia tomentosa), Guatambu (Aspidosperma guatambu), Jenipapo (Genipa americana),

Marmelada-bola (Albertia sessillis), Pata de vaca (Bauhinia longifólia) e Saran (Sapium

grandulatum).

7.6. Aquisição das mudas

Visando uma melhor adaptação das espécies contempladas pelo projeto, foram adquiridas

mudas nativas em viveiros comerciais na região, sendo que a altura média das mudas

adquiridas foi de 50 cm, com exceção de algumas espécies, as quais exigem um menor porte

para plantio, devido ao fato de possuírem um sistema radicular sensível, tolerando manejo

quanto ao transporte e plantio apenas na fase inicial de seu crescimento.

As mudas foram adquiridas em janeiro de 2009, sendo as mesmas devidamente

acondicionadas em local próximo da área do projeto, com o objetivo de promover uma

adaptação prévia (aclimatação) das mesmas de aproximadamente 30 dias (Figuras 5a e 5b).

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Figuras 5a e 5b: Acondicionamento das mudas adquiridas para aclimatação e plantio

Fonte: Registro fotográfico produzido pelo autor (2009)

7.7. Isolamento da área

Em fevereiro de 2009 foi iniciado o isolamento da área reservada para implantação do projeto

de Recuperação (565 hectares), através da construção de cercas (Figuras 6a e 6b), haja vista

que a presença de gado pela pecuária, atividade principal da região, pode prejudicar, além dos

plantios, a própria regeneração natural da área.

Figuras 6a e 6b: Construção de cerca de isolamento da área do projeto para proteção do plantio

Fonte: Registros fotográficos produzidos pelo autor (2009)

7.8. Preparo dos núcleos de plantio

Inicialmente foi realizado o controle químico específico da pastagem (Brachiaria brizantha)

existente nos espaços correspondentes aos núcleos (blocos) de plantio, restringindo-se ao

limite das dimensões dos mesmos (Figuras 7a e 7b).

Após o período de carência, foi realizada também uma roçada mecânica nos núcleos de

plantio (Figuras 7c e 7d). Estas ações tiveram como objetivo minimizar a competição inicial

das mudas plantadas principalmente com a pastagem existente.

a. b.

a. b.

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Figuras 7a e 7b: Pulverização química nos núcleos de plantio para controle da pastagem existente

Fonte: Registro fotográfico produzido pelo autor (2009)

Figuras 7c e 7d: Serviços de roçada e vista geral da disposição dos núcleos de plantio

Fonte: Registros fotográficos produzidos pelo autor (2009)

7.9. Coveamento, adubação e calagem

Após o preparo das áreas de plantio, foi realizada a demarcação das covas dentro dos núcleos

de plantio, utilizando para tanto o espaçamento de 3 x 4 metros entre covas, conforme

metodologia mencionada anteriormente. Após demarcadas, foi promovida a limpeza manual

no local das covas (Figura 8a), onde, na sequencia, foi realizada a abertura das mesmas

(Figura 8b), de forma mecanizada ou manual, dependendo das condições do terreno. As covas

foram abertas com dimensões médias de 40 cm de profundidade e diâmetro de 30 cm.

Sempre que tecnicamente viável, ao invés da capina manual ao redor da cova, optou-se pelo

sulcamento das linhas de plantio de acordo com a cota do terreno. Este procedimento, além de

manter a umidade nas linhas de plantio proporcionando um melhor pegamento e

desenvolvimento das mudas, funcionando também como curva de nível, minimizando assim

a ocorrência de processos erosivos. Mesmo utilizando o sulcamento, as covas foram

posteriormente abertas respeitando o espaçamento e dimensões constantes na metodologia

deste projeto (Figuras 8c e 8d).

Núcleos

c. d.

a. b.

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Figuras 8a e 8b: Serviços de limpeza e abertura das covas nos núcleos de plantio

Fonte: Registros fotográficos produzidos pelo autor (2009)

Figuras 8c e 8d: Sulcamento das linhas de plantio para posterior coveamento

Fonte: Registros fotográficos produzidos pelo autor (2009)

Durante a abertura de cada cova, foi separada a camada superior de solo contendo maior teor

de matéria orgânica, sendo esta destorroada e misturada uniformemente ao adubo (químico e

orgânico) e ao corretivo, depositando no fundo da cova até mais ou menos a metade de sua

profundidade. Este procedimento, além de proporcionar um desenvolvimento mais profundo

das raízes pela fertilidade depositada no fundo da cova, impedirá também que o banco de

sementes existente nesta camada superficial do solo promova a competição com a muda

plantada.

Tal procedimento faz com que as raízes só entrem em contato com o adubo químico após a

sua adaptação ao local de plantio, impedindo que estas sejam queimadas pelo contato precoce

com o mesmo.

A terra retirada da camada inferior da cova foi destorroada e depositada ao lado da mesma,

aguardando o momento do plantio propriamente dito.

A adubação e calagem (Figura 9) foram padronizadas para todas as covas do projeto,

contendo os seguintes quantitativos por cova: 300 gramas de calcário dolomítico, 300 gramas

de adubo mineral NPK 10-18-8 e 2 litros de cama de aviário.

a. b.

c. d.

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Figura 9: Depósito de adubos (orgânico, químico e calcário) para mistura e incorporação junto as covas

Fonte: Registros fotográficos produzidos pelo autor (2009)

7.10. Transporte das Mudas e Estacas

O transporte das mudas foi realizado em pequenas quantidades para que as mesmas não

sofressem danos durante sua destinação aos locais de plantio (Figuras 10a e 10b).

As estacas para fixação e condução das mudas foram produzidas à partir do reaproveitamento

de bambus provenientes da própria limpeza do reservatório da PCH Figueirópolis, sendo que

a parte superior das mesmas foram devidamente pintadas para identificação das mudas.

Também foi realizado o tratamento da parte inferior da estaca com óleo e cupinicida, a fim de

proporcionar uma maior durabilidade, evitando assim que a mesma quebre e cause o

tombamento da muda (Figuras 10c e 10d).

Figuras 10a e 10b: Transporte das mudas para as áreas de plantio

Fonte: Registros fotográficos produzidos pelo autor (2009)

a. b.

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Figuras 10c e 10d: Tratamento e transporte das estacas para as áreas de plantio

Fonte: Registros fotográficos produzidos pelo autor (2009)

7.11. Plantio

O plantio foi iniciado em abril de 2009, sendo desenvolvido de forma sequencial, núcleo por

núcleo, de jusante para montante.

Assim que distribuídas, as mudas, nos núcleos (blocos) de plantio e com as covas já

preparadas, deu-se início o plantio propriamente dito. Inicialmente, para cada muda plantada,

foi depositado no fundo da cova o solo previamente misturado aos insumos. Na sequencia, foi

retirada a muda da sacola plástica, sendo a mesma depositada na cova juntamente com o solo

retirado anteriormente do fundo da cova. Este procedimento foi realizado para todas as mudas

plantadas na área do projeto.

Após o plantio de cada muda, foi fixada uma estaca para sustentação da mesma, sendo

realizado o amarrio com barbante bio-degradável (Figuras 11a e 11b). Esta técnica evita o

tombamento da muda durante a fase inicial de adaptação e desenvolvimento.

Figuras 11a e 11b: Plantio, estaqueamento e amarrio das mudas

Fonte: Registros fotográficos produzidos pelo autor (2009)

A implantação do projeto, ou seja, o plantio dos 452 núcleos (blocos) em uma área de 565

hectares foi finalizado em dezembro de 2009, conforme registros fotográficos abaixo (Figuras

12a a 12f).

a. b.

c. d.

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Figuras 12a a 12f: Finalização do plantio das mudas nos núcleos (blocos) – Dezembro/09

Fonte: Registros fotográficos produzidos pelo autor (2009)

7.12. Desenvolvimento do Projeto de Recuperação

Após o término da fase de implantação do projeto de recuperação através da técnica de

nucleação, atividades de acompanhamento e manutenção foram realizadas a fim de acelerar e

maximizar a eficácia do mesmo.

Para tanto, registros fotográficos periódicos foram realizados quadrimestralmente durante 60

meses (5 anos), mais especificamente de dezembro de 2009 a dezembro de 2014, buscando

a. b.

c. d.

e. f.

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evidenciar o desenvolvimento das mudas plantadas, bem como a eficácia do objetivo principal

do projeto, ou seja, a restauração da paisagem local o mais próximo da anteriormente

existente.

O acompanhamento do desenvolvimento da recuperação está apresentado através dos

registros fotográficos à seguir (Figuras 13a a 23c):

Figuras 13a, 13b e 13c: Acompanhamento do desenvolvimento da recuperação – Dezembro/09

Fonte: Registros fotográficos produzidos pelo autor (2009)

Figuras 14a, 14b e 14c: Acompanhamento do desenvolvimento da recuperação – Junho/10

Fonte: Registros fotográficos produzidos pelo autor (2010)

Figuras 15a, 15b e 15c: Acompanhamento do desenvolvimento da recuperação – Dezembro/10

Fonte: Registros fotográficos produzidos pelo autor (2010)

a. b. c.

a. b. c.

a. b. c.

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Figuras 16a, 16b e 16c: Acompanhamento do desenvolvimento da recuperação – Junho/11

Fonte: Registros fotográficos produzidos pelo autor (2011)

Figuras 17a, 17b e 17c: Acompanhamento do desenvolvimento da recuperação – Dezembro/11

Fonte: Registros fotográficos produzidos pelo autor (2011)

Figuras 18a, 18b e 18c: Acompanhamento do desenvolvimento da recuperação – Junho/12

Fonte: Registros fotográficos produzidos pelo autor (2012)

Figuras 19a, 19b e 19c: Acompanhamento do desenvolvimento da recuperação e registro dos serviços de roçada

mecânica nos espaços entre as linhas de plantio (manutenção) – Dezembro/12

Fonte: Registros fotográficos produzidos pelo autor (2012)

a. b. c.

a. b. c.

a. b. c.

a. b. c.

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Figuras 20a, 20b e 20c: Acompanhamento do desenvolvimento da recuperação e registro dos serviços de roçada

manual no entorno das plantas (manutenção) – Junho/13

Fonte: Registros fotográficos produzidos pelo autor (2013)

Figuras 21a, 21b e 21c: Acompanhamento do desenvolvimento da recuperação – Dezembro/13

Fonte: Registros fotográficos produzidos pelo autor (2013)

Figuras 22a, 22b e 22c: Acompanhamento do desenvolvimento da recuperação – Junho/14

Fonte: Registros fotográficos produzidos pelo autor (2014)

Figuras 23a, 23b e 23c: Acompanhamento do desenvolvimento da recuperação – Dezembro/14

Fonte: Registros fotográficos produzidos pelo autor (2014)

8. Resultados e discussão

a. b. c.

a. b. c.

a. b. c.

a. b. c.

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O projeto de recuperação de mata ciliar através do método de nucleação foi implantado em

uma área de 565 hectares de APP degradada, tanto na margem esquerda quanto na margem

direita do reservatório da PCH Figueirópolis (Rio Jaurú), usina esta localizada na zona rural

do Município de Indiavaí/MT.

O projeto contemplou a implantação de 452 núcleos de plantio, com 2.400 m² cada, onde

foram plantadas 200 mudas de espécies florestais nativas por núcleo, totalizando um montante

de 90.400 mudas nos 565 hectares correspondente ao projeto.

Além do plantio das mudas, outras ações foram implantadas visando favorecer e maximizar a

eficiência da recuperação, como o lançamento de sementes nos intervalos entre núcleos e o

isolamento com cerca no entorno da área do projeto, protegendo a mesma contra a entrada de

gado, atividade principal da região.

Durante o período proposto para avaliação do projeto, ou seja, 60 meses, foram realizadas

vistorias a campo e registros fotográficos das áreas de plantio. Esses registros foram

realizados de 4 em 4 meses, avaliando tanto o desenvolvimento das mudas plantadas, como a

interação das mesmas com a regeneração natural dos intervalos entre núcleos de plantio.

Cabe ressaltar que a implantação desse projeto não teve como objetivo levantar e comparar

dados estatísticos com outros métodos de recuperação, mas sim avaliar a eficácia da

nucleação na restauração da paisagem.

Diante dos registros fotográficos obtidos através do acompanhamento do projeto, ficou

evidenciado que o mesmo obteve resultados satisfatórios, uma vez que a dinâmica de

recuperação da paisagem local ocorreu de maneira gradativa e satisfatória durante os 60

meses contemplados pelo projeto (Figuras 24a e 24b), podendo-se observar inclusive a

presença de espécimes da fauna que estão gradativamente repovoando as áreas de APP no

entorno do reservatório da PCH Figueirópolis (Figuras 25a e 25b).

Figuras 24a e 24b: Visão geral dos núcleos de plantio interagindo com a regeneração natural, restaurando

gradativamente a paisagem anteriormente existente no local

Fonte: Registros fotográficos produzidos pelo autor (2014)

a. b.

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Figuras 25a e 25b: Registro de espécimes da fauna repovoando as áreas de APP em recuperação (Tapirus

terrestres e Hydrochaeris hydrochaeris).

Fonte: Registros fotográficos produzidos pelo autor (2014)

9. Conclusão

Como já abordado anteriormente, a implantação do projeto de recuperação da vegetação ciliar

no entorno do reservatório da PCH Figueirópolis através da técnica de nucleação teve como

objetivo principal a restauração da paisagem, de forma a restituir o ambiente o mais próximo

possível do anteriormente existente no local, reavendo assim a biodiversidade (fauna e flora)

alterada pelo antropismo das áreas.

A grande vantagem desta técnica é que, ao invés da formação de uma floresta limpa e

organizada, não contribuindo de maneira esperada para o restabelecimento da biota

anteriormente existente (produtores, decompositores e consumidores), o método de nucleação

promove ambientes de refúgio para a fauna, atraindo principalmente aves e roedores que,

além das sementes provenientes dos núcleos (blocos) de plantio, também disseminam nos

espaços entre um núcleo e outro sementes provenientes de áreas próximas com vegetação

nativa preservada, contribuindo para o restabelecimento da biodiversidade anteriormente

existente no local.

Outro ponto positivo é que, através da metodologia que envolve a técnica de nucleação, as

áreas de preservação permanente não sofrem intervenção massiva para o plantio, aumentando

assim a capacidade de regeneração natural e diminuindo a possibilidade de ocorrência de

processos erosivos.

Portanto, com base nos resultados obtidos através de registros fotográficos durante os 60

meses em que o projeto foi desenvolvido, conclui-se que o método de recuperação de mata

ciliar através da formação de núcleos de plantio, desde que devidamente implantado e

conduzido, torna-se uma ótima opção para restauração da paisagem e biodiversidade

anteriormente existente no local.

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