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I Seminário Internacional & III Seminário de Modelos e Experiências de Avaliação de Políticas, Programas e Projetos 35 AVALIAÇÃO DOS IMPACTOS SOCIAIS E ECONÔMICOS DOS EMPREENDIMENTOS SOLIDÁRIOS EM PERNAMBUCO Ana Cristina Brito Arcoverde Introdução Neste trabalho apresentamos análise dos resultados da pesquisa realizada em território pernambu- cano e intitulada: Avaliação dos impactos socioeconômicos dos empreendimentos solidários no estado de Pernambuco. O objetivo foi avaliar os impactos sociais e econômicos nas condições de vida dos trabalhadores associados e suas famílias, antes e depois de suas inserções em empreendimentos eco- nômicos classificados como pertencentes à economia solidária, bem como na social-economia do local, ou seja nos municípios pernambucanos. O ponto de partida foi a leitura atual de autores que afirmam que os empreendimentos solidários se propõem em tese a romper com as relações de produção capitalistas e instaurar no seu seio uma nova lógica e forma social de pensar, produzir, distribuir, poupar e investir. O argumento de base para a análise crítica é o de que os princípios que organizam as relações de trabalho, gestão, poder, a propriedade e financiamento dos meios de produção numa sociedade capita- lista tardia, como é o caso da brasileira, e pernambucana em particular, constituem as razões da pobreza e da desigualdade sócio-econômica de grupos de trabalhadores. Por isso mesmo devem ser substituídos pelos princípios defendidos pela economia solidária, a saber: cooperação social, auto-gestão, controle e decisão pelos próprios empreendedores, propriedade social dos meios de produção, solidariedade social, dentre outros. Se tais princípios se concretizam é evidente que mudanças nas condições de vida, redução da pobreza e da desigualdade social dos participantes e suas famílias, e da social-economia do local comparecem como seus impactos imediatos, e carece de aferição, avaliação. Experiências oriundas da sociedade civil ou mesmo incentivadas pela intervenção pública e na- quela direção vêm se desenvolvendo ao longo do tempo, nos vários estados brasileiros, sendo inclusive objeto de estudos e pesquisas, sem que sejam avaliadas quanto aos seus impactos sociais, econômicos e ideopolíticos nas dimensões objetiva, subjetiva e substantiva. A proposta da pesquisa realizada foi avaliar os impactos sociais e econômicos dos empreendimentos econômicos solidários no cotidiano da vida dos participantes e seus rebatimentos nos indicadores sócio-econômicos do local como contribui- ção à reprogramação de atividades dos empreendimentos, ao aperfeiçoamento das experiências, e sua defesa como proposta possível para formulação de projetos semelhantes e suas inclusões nas políticas públicas. A fim de realizar o processo avaliativo, nos apropriamos das discussões sobre avaliação e iden- tificamos que este processo se encontra na agenda pública brasileira desde a década de 80, sendo tendência em políticas públicas. A proposta teve início com o movimento de pressão dos organismos financiadores internacionais para dimensionar a política pública e obter maior racionalidade dos gastos públicos. Então, avaliar políticas, programas e projetos, se apresenta como condição essencial para obtenção de financiamentos, nas três lógicas de aferição: eficiência, efetividade, eficácia. (Silva, 2001, p. 47). Ou seja, a avaliação passa a ser incorporada à gênese, ao desenvolvimento e aos resultados das políticas públicas no Brasil.

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AVALIAÇÃO DOS IMPACTOS SOCIAIS E ECONÔMICOS DOS EMPREENDIMENTOS SOLIDÁRIOS EM PERNAMBUCOAna Cristina Brito Arcoverde

Introdução

Neste trabalho apresentamos análise dos resultados da pesquisa realizada em território pernambu-cano e intitulada: Avaliação dos impactos socioeconômicos dos empreendimentos solidários no estado de Pernambuco. O objetivo foi avaliar os impactos sociais e econômicos nas condições de vida dos trabalhadores associados e suas famílias, antes e depois de suas inserções em empreendimentos eco-nômicos classificados como pertencentes à economia solidária, bem como na social-economia do local, ou seja nos municípios pernambucanos.

O ponto de partida foi a leitura atual de autores que afirmam que os empreendimentos solidários se propõem em tese a romper com as relações de produção capitalistas e instaurar no seu seio uma nova lógica e forma social de pensar, produzir, distribuir, poupar e investir.

O argumento de base para a análise crítica é o de que os princípios que organizam as relações de trabalho, gestão, poder, a propriedade e financiamento dos meios de produção numa sociedade capita-lista tardia, como é o caso da brasileira, e pernambucana em particular, constituem as razões da pobreza e da desigualdade sócio-econômica de grupos de trabalhadores. Por isso mesmo devem ser substituídos pelos princípios defendidos pela economia solidária, a saber: cooperação social, auto-gestão, controle e decisão pelos próprios empreendedores, propriedade social dos meios de produção, solidariedade social, dentre outros. Se tais princípios se concretizam é evidente que mudanças nas condições de vida, redução da pobreza e da desigualdade social dos participantes e suas famílias, e da social-economia do local comparecem como seus impactos imediatos, e carece de aferição, avaliação.

Experiências oriundas da sociedade civil ou mesmo incentivadas pela intervenção pública e na-quela direção vêm se desenvolvendo ao longo do tempo, nos vários estados brasileiros, sendo inclusive objeto de estudos e pesquisas, sem que sejam avaliadas quanto aos seus impactos sociais, econômicos e ideopolíticos nas dimensões objetiva, subjetiva e substantiva. A proposta da pesquisa realizada foi avaliar os impactos sociais e econômicos dos empreendimentos econômicos solidários no cotidiano da vida dos participantes e seus rebatimentos nos indicadores sócio-econômicos do local como contribui-ção à reprogramação de atividades dos empreendimentos, ao aperfeiçoamento das experiências, e sua defesa como proposta possível para formulação de projetos semelhantes e suas inclusões nas políticas públicas.

A fim de realizar o processo avaliativo, nos apropriamos das discussões sobre avaliação e iden-tificamos que este processo se encontra na agenda pública brasileira desde a década de 80, sendo tendência em políticas públicas. A proposta teve início com o movimento de pressão dos organismos financiadores internacionais para dimensionar a política pública e obter maior racionalidade dos gastos públicos. Então, avaliar políticas, programas e projetos, se apresenta como condição essencial para obtenção de financiamentos, nas três lógicas de aferição: eficiência, efetividade, eficácia. (Silva, 2001, p. 47). Ou seja, a avaliação passa a ser incorporada à gênese, ao desenvolvimento e aos resultados das políticas públicas no Brasil.

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Desta forma, conforme Gomes (2001, p. 21), “a avaliação implica no exercício de importante di-reito democrático: o controle sobre as ações de interesse público”.

Avaliação é então entendida como “uma forma de pesquisa social aplicada, sistemática, planejada e dirigida; destinada a identificar obter e proporcionar de maneira válida, e confiável dados e informações suficientes e relevantes para apoiar um juízo sobre o mérito e o valor dos diferentes componentes de um programa (tanto na fase de diagnóstico, programação ou de execução), ou ainda de um conjunto de atividades específicas que se realizam, foi realizadas ou se realizarão, com o propósito de produzir efeitos e resultados concretos; comprovando a extensão e o grau em que se deram essas conquistas, de forma tal que é inteligente o seu uso entre cursos de ação, ou para solucionar problemas e promover o conhecimento” (AGUIAR & ANDER-EDD, 1994, p. 31).

A avaliação é instrumental de análise para avaliar a eficiência, a eficácia – e, portanto, o processo da política ou programa – e a efetividade – ou seja, os impactos das ações promovidas pela política ou programa. Nessa perspectiva, a avaliação inscreve-se no campo das Ciências Sociais Aplicadas, se organiza e se desenvolve apoiada nos referenciais conceituais das diferentes Ciências Sociais.

Avaliação de impactos

Segundo Cohen & Franco (1999, p. 94), “o impacto é a conseqüência dos efeitos de um projeto ou prática social. Expressa o grau de consecução dos objetivos em relação à população-meta do projeto. E ainda, o impacto pode ser medido em distintas unidades de análise: a do indivíduo ou grupo familiar, ou em distintos conglomerados societários (comunitário, regional, nacional)”.

O impacto é justamente o resultado dos efeitos observados em um programa, projeto ou política. Qualquer avaliação de impacto identifica apenas a mudança e sua dimensão ocorrida numa situação conhecida previamente, mas não pode afirmar que a mudança resultou, diretamente e exclusivamente, desta ou daquela variável, presentes no próprio programa social tomado como a variável independente. Se neste processo houver a compreensão e a direção teórica de que a realidade social é dinâmica, con-traditória e de difícil apreensão.

Os modelos de avaliação de processo e de impactos podem, na prática da pesquisa avaliativa, ser utilizados de modo articulado, combinando análise de processo e de impactos em decorrência da realização de um determinado programa.

A avaliação focada no impacto busca saber quais os impactos diretos ou indiretos do programa, não somente sobre os participantes, mas também na comunidade e nos sistemas mais amplos. A ava-liação se destina ao julgamento dos procedimentos e dos resultados obtidos, tendo em vista indicar as mudanças necessárias nos planos e na sua execução.

Cardoso (1998, 51) chama a atenção para a complexidade da avaliação de impactos “já que não basta mostrar que ocorreram mudanças, mas é preciso mostrar, também, que as mudanças registradas não ocorreriam (total ou parcialmente) sem a ação” realizada. Ainda, que é preciso considerar a natureza do impacto, seja ele objetivo (mudanças quantitativas em termos de acréscimos de bem-estar), subjeti-vo (estado de espírito ou percepção da importância do empreendimento) ou substantivo (qualidade do acréscimo).

Independente da natureza do impacto, sua aferição requer que sejam comparados os aspectos quantitativos, ideológicos e qualitativos da população entre o antes, no processo e o depois da ação ou experiência realizada.

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No caso dos empreendimentos econômicos solidários serão buscados os acréscimos de bem-estar, a percepção que os empreendedores possuem do próprio negócio e a qualidade da mudança em sua vida e na medida do possível no contexto do local, entendido como o município sede do empreen-dimento.

Supõe-se que os programas, as experiências e as ações empreendidas no âmbito da economia solidária podem fazer uma importante diferença para a vida das pessoas, ainda que não seja permanente. Certamente os empreendimentos econômicos solidários em Pernambuco, e que já os estudamos quanto aos seus princípios, capacidade organizativa e de inclusão, ou mesmo alternativa ao modo de produção capitalista, podem fazer diferença para alterar objetiva, subjetiva e substantivamente as condições de vida de seus participantes, sua ideologia e ação política.

Daí a importância de proceder à avaliação de seus impactos observando como provocou mudan-ças nas condições de vida dos empreendedores, na sua ideologia e na ação política.

Avaliação de impactos será tomada no presente trabalho como “análise sistemática das mudanças duradouras ou significativas, positivas ou negativas, planejadas ou não, na vida das pessoas (trabalha-dores dos empreendimentos econômicos solidários e suas famílias), e ocasionadas por determinada ação ou série de ação” (Roche, 2002, 37). O foco será, portanto, nos resultados e conseqüências dos empreendimentos econômicos solidários em termos políticos, econômicos e ideológicos para os seus membros com atenção direcionada à natureza sistemática de tal esforço.

Métodos

Para empreender a avaliação dos impactos sócio-econômicos nas condições de vida dos partici-pantes e suas famílias, e no contexto no qual se desenvolvem os empreendimentos econômicos solidá-rios, nos utilizamos de procedimentos metodológicos de natureza exploratória, quantitativa e qualitativa nas diversas fases da cadeia de impactos e da investigação.

A fase inicial de desenvolvimento da avaliação se deu pela atualização e levantamento dos empre-endimentos existentes no Estado de Pernambuco, a partir de dados coletados em pesquisas por nós realizadas em anos anteriores, através da OCB-SESCOOP/PE (Organização das cooperativas Brasileiras), bem como pela base de dados do SIES (Sistema de Informação sobre Economia Solidária) por meio de dados.

Após o levantamento feito com as bases de dados com todos os empreendimentos registrados no SIES, da lista cedida pela OCB-SESCOOP/PE e do banco de dados das pesquisas que realizamos ante-riormente, passamos para a fase de comparação e compilação de informações relevantes para subsidiar a construção do universo da pesquisa de campo para nova coleta de dados nos Municípios do estado de Pernambuco.

Foi realizado um trabalho minucioso de comparação, de forma que, foi possível construir uma base de dados única contendo as informações mais relevantes para o conhecimento e identificação de cada empreendimento do estado. As informações destacadas na lista única são as mais variadas, destacando-se identificação do empreendimento, endereço, telefone, e-mail, ramo de atividade do em-preendimento e ano de fundação.

De posse destas informações foi possível traçar a localização e identificação das iniciativas e agrupá-las por mesorregião e microrregião, forma de organização, capacidade financeira, entre outras. É

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possível também realizar a classificação e seleção das unidades econômicas coletivas de trabalhadores que serão estudadas em profundidade no trabalho de campo a partir de diferentes tipos de amostras.

Uma vez cadastrados e classificados os empreendimentos econômicos solidários selecionamos uma amostra aleatória simples do universo de empreendimentos do estado que é de 1.954 unidades presentes nas cinco mesorregiões do estado. A amostra geral foi de 333 empreendimentos presentes em 128 municípios a serem percorridos no intuito de estudar em profundidade características da sua produção, produtividade, investimento, custos, participação no empreendimento, financiamento e dívi-das; bem como das condições de vida de seus participantes e familiares levando em conta os seguintes indicadores sociais – renda, propriedade, trabalho, proteção social, despesa familiar, condições de habi-tação, lazer, saúde, água e saneamento, escolaridade, etc.

Durante toda a execução do projeto em questão foram levantados e acompanhados mensalmente dados socioeconômicos dos locais aonde se localizam os empreendimentos e cotejados com os dados familiares. A intenção foi captar os insumos, atividades, produtos, resultados e, impactos dos empreen-dimentos entendidos como melhoria efetiva nas condições de vida dos empreendedores e seus rebati-mentos nos indicadores sócio-econômicos do local e na família.

Para tanto nos baseamos em fontes de pesquisas realizadas pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) e PNAD (Pesquisa por Amostra de Domicílios), além das informações contidas nas prefeituras de alguns Municípios.

Foram realizadas de modo concomitante a todo o processo, leituras dirigidas de documentos produzidos com a coleta de dados orientada por categorias e unidades de contexto nos textos. Para compreender e delimitar as categorias necessárias ao desenvolvimento do projeto, a saber: condições de vida, cotidiano, mudanças, impactos sociais e econômicos, trabalho, produção, renda, ganhos e sua redistribuição, índices de desenvolvimento local, entre outros. Também foi de extrema importância a leitura da literatura existente a respeito do contexto social, econômico e político do país, do estado e do município como subsídio à identificação de determinantes externos e a análise dos resultados, produtos e impactos ou dos processos de mudança social e econômica ocorrida a partir da criação e participação do trabalhador no empreendimento econômico solidário.

A partir da identificação do universo de empreendimentos solidários em Pernambuco e da cons-trução de um banco de dados, transformamos toda a informação coletada em um catálogo, com 1.954 empreendimentos Solidários Com a elaboração e publicação deste catálogo1 foi possível unificar e atualizar dados referentes à totalidade dos empreendimentos, quanto a: município, nome do empreendi-mento, atividades, endereço, telefone e e-mail. Dados estes que são importantes para a identificação e localização dos empreendimentos quando do processo do trabalho de campo.

Na atividade de elaboração do catálogo trabalhamos no âmbito da identificação dos empreendi-mentos por município; identificação das atividades desenvolvidas, bem como a forma de organização; identificação dos endereços; formatação e reordenamento dos dados obtidos; finalizando esse processo com a correção dos possíveis erros de digitação.

Além da elaboração do catálogo já citado, construímos ainda, um gráfico contendo a estrutura de avaliação de impactos com todos os indicadores considerados pertinentes à averiguação e medição dos impactos socioeconômicos dos empreendimentos em questão. Para definição e reconstrução dos indicadores em questão, foram realizados estudos discussões da equipe sobre o significado de cada

1. Arcoverde, A. C. B. (et al). Catálogo dos Empreendimentos Econômicos Solidários de Pernambuco. Ed. Universitária, 2008.

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indicador de acordo com a especificidade da pesquisa pretendida. A referida estrutura tem por base os principais indicadores propostos pelos órgãos que já realizam pesquisa neste âmbito como IBGE, IPAD, IPEA e secretarias estaduais e municipais, entre outros. No entanto, verificamos que os dados existentes não eram suficientes para responder a investigação desejada e, portanto, foi necessário criar e definir alguns indicadores para completarmos a estrutura de impactos de forma a ampliarmos o nosso banco de dados e podermos responder de maneira mais fiel ao fenômeno estudado. Fizemos uma adaptação da estrutura de impactos sociais dos autores Bonacelli et.al.

Ao definir e conceituar os indicadores econômicos, sociais e ideopolíticos e verificar as mudanças objetivas, subjetivas e substantivas ocasionadas pela ação dos empreendimentos, seus trabalhadores e pelo contexto local, pensa-se em abranger em todos os aspectos a avaliação de impactos em suas diferentes modalidades. Só a partir deste trabalho de identificação e associação de fatores é possível objetivar que as mudanças observadas geraram impactos para o objeto estudado. Vale salientar que numa primeira abordagem, os indicadores são estabelecidos, tais como já foram delimitados, a avaliação ou o processo avaliativo verificará em que grau esses indicadores podem ser combinados; a segunda abordagem vai mensurar, de fato, a mudança ocorrida pela inserção dos trabalhadores nos empreendi-mentos solidários e, a terceira abordagem, irá mais além, explorará se a mudança é significativa e causa influência na vida dos trabalhadores e de suas famílias e na localidade onde estão inseridos.

Finalizada a estrutura de impactos, trabalhamos e traduzimos cada indicador em questão ou per-gunta objetiva nos questionários a serem respondidas pelos entrevistados. O questionário abrange todos os indicadores definidos no gráfico da estrutura e objetiva ao final da sua aplicação obter o perfil dos empreendedores como também da participação do empreendimento e dos trabalhadores na cadeia de impactos.

Ao mensurar os impactos sociais, buscamos identificar nas condições de vida dos participantes e de suas famílias mudanças provocadas pela inserção nas iniciativas solidárias. Destacamos para tanto como indicadores: os sociais - a alimentação – tipo de alimentação e freqüência das refeições; o traba-lho – proteção trabalhista (carteira assinada, autônomo), sem proteção trabalhista (informal, autônomo e terceirizado); a despesa familiar – investimento em alimentação, educação, saúde, vestimenta, lazer e remédio, reserva/poupança, transporte, energia e água; a habitação/condições de habitabilidade – moradia (própria e alugada), abastecimento de água, saneamento/esgoto, abastecimento de energia; a educação – anos de escolaridade, nível de ensino, escola pública ou privada; a saúde – doenças mais comuns, acesso ao SUS, saúde privada (plano de saúde); e o lazer – viagem, cinema, praça, parque, praia, shows, entre outros.

Para mensurar os impactos econômicos, investigamos a produção dos empreendimentos – princi-pais atividades desenvolvidas, principais produtos, distribuição dos ganhos, distribuição das tarefas e a produção; a produtividade – condições de trabalho, equipamentos, ferramentas, serviços, tempo neces-sário para produzir; a renda – composição da renda (benefício, aposentadoria, salário, aluguel), valores em reais da renda familiar e per capita; o investimento – participação dos sócios nos empreendimentos e financiamentos; e os custos, caracterizados pelas dívidas adquiridas.

Por último, a mensuração dos impactos ideopolíticos, visando identificar a percepção da mudança provocada pela inserção nos empreendimentos; a qualidade de vida – pelo grau de satisfação no traba-lho, do convívio familiar; o nível de empoderamento e politização – acesso a serviços, visibilidade junto à comunidade ou entorno do empreendimento do trabalho realizado e participação em associações, sindicatos ou mesmo em outros empreendimentos.

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É possível identificar, portanto, que os tipos de impactos destacados acima estão relacionados com as dimensões: objetiva, substantiva e subjetiva do impacto, ou seja, ao falar de impacto econômico, estamos falando do impacto na sua dimensão objetiva a partir da qual é possível verificar as mudanças quantitativas nos sujeitos pesquisados, ou na população beneficiária (Stephanou & Cardoso, 2005).

Da mesma forma, a partir da identificação dos impactos sociais de uma ação numa determinada população ou grupo pode-se verificar o impacto na sua dimensão substantiva pela qual se percebe uma melhoria ou alteração qualitativa nas condições de vida desses sujeitos, ou seja, há um acréscimo de bem-estar na vida dos mesmos que segundo (Stephanou & Cardoso, 2005), é importante ver se os objetivos ou resultados esperados tem atuação positiva considerando ainda os princípios morais e de justiça social presentes.

Já com relação à dimensão subjetiva do impacto, a sua contribuição na percepção dos impactos ideopolíticos está relacionada com a identificação de mudanças de espírito, percepção da realidade, vi-são de mundo, consciência e ação política. São mudanças que independem dos ganhos financeiros, ob-jetivos ou substantivos, é o nível de percepção da população que se quer medir, o que ela pensa sobre a ação desenvolvida, sobre os benefícios recebidos e sobre a realidade que a rodeia. Daí a importância de coletar informações diretamente com a população envolvida na ação, ou seja, junto aos empreendedores e seus familiares sobre o que pensam, e suas considerações quanto à importância do empreendimento e das mudanças sociais e econômicas provocadas pelo mesmo no seu cotidiano e no local.

Na figura 1 é apresentado o gráfico que elaboramos com toda a estrutura dos impactos que querí-

amos aferir. Foi um trabalho intenso de reflexão, debates, leituras e pesquisas sobre indicadores socioe-conômicos e políticos. Para reconstruir a estrutura dos impactos adaptados ao problema de pesquisa foi necessário criar alguns indicadores já que não os encontramos disponibilizados nas fontes tradicionais de pesquisa. Os impactos ideopolíticos, em particular, são os de maior dificuldade de mensuração para o âmbito da nossa pesquisa.

A realização da pesquisa de campo ou coleta de dados junto aos empreendimentos e empreende-dores exigiu a utilização de múltiplos instrumentos associados. Por se tratar de uma pesquisa que visa avaliar impactos em suas várias dimensões, utilizamos o questionário semi-estruturado, a entrevista aberta, o diário de campo e a observação simples, considerados os instrumentos mais adequados para captar as informações de que precisamos.

Desta maneira, foi elaborado um questionário semi–estruturado dividido em duas partes. A primei-ra parte com questões direcionadas ao empreendimento, a fim de averiguar as informações já contidas no Catálogo como também verificar os tipos de atividades desenvolvidas por cada um deles, seu perfil e características. Na segunda parte, o questionário está dividido a partir das dimensões da cadeia de impactos definidas por Roche (2002, p. 43), quais sejam, insumos – atividades - produtos - resultados ou efeitos e impacto, e a partir das definições de indicadores construídos pela equipe de pesquisa.

A fim de constatarmos a aplicabilidade do nosso instrumento de coleta de dados e corrigir possí-veis falhas, realizamos um pré-teste com a aplicação de três questionários em visita a três empreendi-mentos localizados na Região Metropolitana do Recife. A escolha destes empreendimentos se deu pela retirada de amostra aleatória simples2 do total de empreendimentos da referida região. Após a aplicação dos questionários e tabulação das questões no SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) verifi-camos que o mesmo apresentava algumas falhas e necessitava de algumas correções/adaptações antes de realizarmos a pesquisa de fato em todo o estado.

2. Na qual todos os participantes têm a mesma probabilidade de serem sorteados. (Marconi & Lakatos, 2008, p. 28).

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Figura 1: Estrutura de impactos

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Com base nessas informações, no problema de pesquisa, e, sabendo que o Estado de Pernambu-co é dividido geograficamente em cinco mesorregiões, identificamos pelo tipo de amostra estratificada o melhor procedimento metodológico a ser aplicado para obtenção dos dados necessários à finalização da pesquisa. As mesorregiões são: Mesorregião do São Francisco, Mesorregião do Sertão Pernambucano, Mesorregião do Agreste, Mesorregião da Mata e Mesorregião Metropolitana do Recife.

Resultados e discussão

Para desenvolvermos a avaliação dos impactos sócio-econômicos dos empreendimentos solidá-rios em Pernambuco nas condições de vida dos participantes e suas famílias, foi preciso, primeiramente, caracterizar os empreendimentos como sujeito coletivo e realizar o perfil dos trabalhadores - e dos seus familiares - envolvidos com as iniciativas econômicas solidárias, com intuito de obtermos maior clareza na mensuração de seus impactos.

No que se trata da caracterização dos empreendimentos, obtivemos que acerca da formalização, 85,9% dos 333 empreendimentos entrevistados possuem registro, restando somente 14,1% dos que não o são. Os órgãos de registro mais freqüentes foram: Cartório, Receita Federal e Junta Comercial de Pernambuco. Vale registrar que 14,1% dos empreendimentos entrevistados, apesar de ser organizado à semelhança dos demais, ainda não foram registrados, mas existem informalmente. Os principais motivos alegados para ausência de registro foram: falta de dinheiro para pagamento dos documentos exigidos, e empecilhos provenientes da burocracia do procedimento. Outros alegaram estar em processo de organização, e, ainda, definindo o tipo de empreendimento.

Em se tratando do tipo de organização, predominam, em 59,2%, as associações com um total de 197 dos empreendimentos registrados, seguidas pelas cooperativas 19,8% e que perfazem um total de 66 empreendimentos também registrados, 07 ou 2,1% são grupos informais registrados, 08 ou 2,4% são registradas como ONGS, e 3,0% ou 10 empreendimentos se apresentam em modalidades diversas, como: umas registradas como fundação, outras como escola e/ou clube, essas últimas bastante incen-tivadas durante as décadas de 70 e 80.

Quanto à data de fundação, o percentual relativo a 44,1% dos empreendimentos entrevistados datam dos anos 2000, sendo relativamente recentes. Outros 36% foram fundados na década de 1990, seguidos dos 10,2% dos empreendimentos na década de 1970. Destacamos que os empreendimentos mais antigos correspondem ao percentual de 0.6% e datam de 1940. O percentual relativo a 7,8% em-preendimentos econômicos solidários foram fundados entre 1950 e1970. Somente 1.2% de empreen-dedores entrevistados não souberam informar sobre a data de fundação dos empreendimentos.

A territorialidade dos empreendimentos, concebida como espaço socialmente construído e fruto de múltiplas determinações no qual são reproduzidas as relações sociais de produção e de reprodução social, são em 41,4% de natureza rural e se encontram em localidades, municípios tipicamente rurais, em relação às atividades produtivas, cultura, e relações sociais. Mas, 33,9% dos empreendimentos possuem territorialidade e/ ou estão localizados no espaço urbano. Chama a atenção o mix rural/urbano em 24,6 % dos empreendimentos que, ou estão desenvolvendo produção e relações de produção carac-teristicamente urbanas e se localizam em municípios de traços rurais, ou estão produzindo mercadorias agrícolas e se localizam em municípios típicos urbanos. De uma forma ou de outra podemos inferir, ou mesmo concluir que atividades urbanas como os serviços, o crédito, artesanato, etc. se expandem no meio rural, inibindo atividades agrícolas, por exemplo, mas ainda é o rural que predomina e marca a territorialidade dos empreendimentos estudados no estado de Pernambuco.

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No que se refere à sede dos empreendimentos pudemos observar, através dos dados coletado, que a situação é heterogênea, e até certo ponto instável: 31,8% dos empreendimentos produzem em es-paços cedidos, 16.5% alugam os espaços para a produção ou atividade, 12,0% afirmaram que não tem sede e funcionam nas residências dos participantes, e em 1,2% os espaços utilizados para a produção são em forma de comodato. Mas 38,4 % dos empreendimentos já possuem sede própria.

Nesta mesma direção, caracterizamos os trabalhadores inseridos nas iniciativas econômicas soli-dárias do Estado, destacando a faixa etária dos empreendedores, a função que desempenha no empre-endimento, estado civil, escolaridade, saúde e tempo de empreendedorismo:

A maior parte dos entrevistados possui data de nascimento referente aos anos de1960 (24,6%) e 1970 (26,7%), ou seja, transitam na faixa etária dos 39 aos 50 anos de idade3. Outros 19,5% são da década de 50, ou seja, tem 59 anos, seguido dos 13,2% com 49 anos e dos 10,5% com 29 anos. Vimos também um pequeno percentual (3,3%) de pessoas com 80 anos de idade. Com isso, percebemos uma variação da faixa etária dos empreendedores, na qual os empreendimentos se mostraram como espaços e busca de inserção para todas as faixas etárias.

Vimos que 203 empreendedores são casados, 74 são solteiros, 23 são divorciados, somente 01 deles é desquitado, 21 responderam que vivenciam união estável e 11 empreendedores são viúvos. Através destes dados, podemos perceber que 60,9% são casados, possuem famílias, e muitas vezes os membros familiares também fazem parte do empreendimento, na qual todos trabalham juntos.

O percentual relativo a 32% (112) dos empreendedores tem o nível médio concluído, 26% (89) possuem o fundamental incompleto, 13% (42) concluíram o ensino superior de ensino. Este último dado é extremamente significativo para demonstrar a presença de profissionais qualificados inseridos nos espaços dos empreendimentos econômicos solidários. Destacamos ainda que a maior parte dos empreendedores entrevistados, ou seja, 76,8% deles estudaram em escola pública: educação estadual, municipal, e/ou federal. Houve apenas 0,3% de casos de analfabetismo.

Em relação ao tempo de inserção dos empreendedores nas iniciativas econômicas solidárias, obtivemos que: 113 empreendedores estão trabalhando nos empreendimentos desde 1990; 28 pessoas trabalham nestas práticas desde 1980. Destacamos os 174 empreendedores que atuam nas práticas solidárias desde os anos 2000. Isso se deve à expansão dos empreendimentos nos últimos anos nas mais diversas modalidades.

Traçamos também o perfil das famílias dos empreendedores a partir dos indicadores: trabalho e participação na renda, envolvimento familiar nas atividades do empreendimento e dependência familiar no intuito de nos aproximarmos das formas nas quais se traduzem os impactos no âmbito familiar. A co-meçar pelo trabalho e participação na renda, obtivemos que 53,2% dos familiares dos empreendedores trabalham, sendo não necessariamente empregos com Carteira de Trabalho e Proteção Social/ CTPS. O percentual relativo aos 46,8% refere-se aos familiares que não trabalham. Podemos atribuir estes dados ao alto índice de desemprego no Estado, situação em que os Empreendimentos Econômicos Solidários colocam-se como alternativa de acesso à renda que não pelas vias do emprego formal.

Em se tratando da participação na renda familiar, os dados demonstram que a maior parte dos familiares contribui para as despesas da casa, expressos no percentual equivalente a 51,5%. Estas des-pesas correspondem basicamente a gastos com alimentação, abastecimento de luz e água.

3. A presente pesquisa foi realizada no ano de 2009.

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No que cerne ao envolvimento familiar, temos que a maior parte dos empreendimentos conta com mais de um membro da família envolvido em suas atividades, o que demonstra um significativo envol-vimento familiar com as atividades do empreendimento. E mais, dos 51,1% dos empreendimentos que possuem mais de um membro da família envolvido com as atividades produtivas, em 90,6% o número de familiares varia de 1 a 5 pessoas, seguido de 5,9 empreendimentos cujo número de familiares varia de 6 a 10 pessoas.

Com relação à dependência familiar, temos que apenas 19,2% dos familiares dos empreendedo-res associados às iniciativas econômicas solidárias dependem exclusivamente dos ganhos obtidos no empreendimento. Enquanto que para 80,8% do total de entrevistados os empreendimentos afirma-se enquanto renda complementar o que faz com que os envolvidos não dependam somente dos ganhos financeiros provenientes dos mesmos. Neste caso, os empreendedores possuem atividades formais, informais ou benefícios de aposentadoria ou provenientes de programas assistenciais.

Para mensuração dos impactos sociais, econômicos e ideopolíticos nas dimensões objetiva, subs-tantiva e subjetiva obtidos nas condições de vidas dos empreendedores – e de sua família - engajados nas iniciativas econômicas solidárias, comparamos aspectos quantitativos, ideológicos e qualitativos da população entre o antes, no processo e o depois da ação ou experiência realizada. Neste sentido, obti-vemos como principais resultados:

Impactos econômicos – dimensão objetiva

Quanto à renda pessoal, verificamos que diminui consideravelmente o percentual de participantes sem nenhuma renda, de 15,6% para 2,4% do total. O maior percentual de mudança está entre aqueles que recebiam até 02 salários mínimos (SM) ao mês, passando de 17,4% para 26,4%. Chama atenção a diminuição no percentual de participantes que recebiam menos de 01 SM e 01 SM ao mês, e o in-cremento de renda para os que ganham até 02 SM, até 03 SM, de 04 a 05 SM, e mais de 05 SM. Ver quadro abaixo:

Quadro 01: Renda Pessoal

Intervalo dos Valores Antes Depois

Sem renda 15,6% 2,4%

Menos de 01 SM 27% 21%

01 SM 24,3% 23,7%

Até 02 SM 17,4% 26,4%

Até 03 SM 5,4% 12,3%

De 04 a 05 SM 3,9% 6,3%

Mais de 05 SM 3% 4,5%

Não Informado 3,3% 3,3%Fonte: Relatório Final de Pesquisa, ARCUS/UFPE/CNPq 2010.

Com relação à composição e procedência da renda, verificamos que 50,3% dos entrevistados afir-maram possuir outras fontes de renda. Vale salientar que, deste total 64,9% recebem renda proveniente do Programa Bolsa Família e 35,1% recebem renda proveniente de outros programas sociais, tais como: Pro - jovem, PETI, BPC, etc.

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Sobre a renda familiar dos trabalhadores, vimos que: 9,6% das famílias entrevistadas recebem me-

nos de 01 salário mínimo4, 7,8% destas, recebem 01 salário mínimo, 34,5% recebem até dois salários e 22,5% das famílias recebem até 03 salários mínimos. Acima de 03 ou mais salários mínimos recebidos têm-se 25,2% das famílias dos empreendedores solidários. Verificamos como ínfimo é, apenas 0,3% de casos de respostas, o percentual de famílias sem qualquer renda!

Impactos sociais – dimensão substantiva

Avaliamos o impacto social, na dimensão substantiva, ou seja, no âmbito da qualidade do acrés-cimo às condições de vida dos produtores associados e suas famílias, através do estudo das despesas dos empreendedores antes e depois da entrada no Empreendimento Econômico Solidário no que se refere aos itens: alimentação, educação, plano de saúde, remédio, condições de habitabilidade, lazer e previdência. Obtivemos que:

Analisando este item verificamos que houve acréscimo no gasto e consumo de alimentos depois da inserção dos trabalhadores nos empreendimentos o que corrobora com a indicação de aumento da renda e melhor qualidade da alimentação. O quadro abaixo apresenta os resultados dos valores encon-trados:

Quadro 02: Gastos com alimentação

Intervalo dos Valores Antes Depois

Menos de R$ 50,00 2,7% 0,9%

R$ 50,00 e R$ 100,00 6% 3,3%

R$ 101,00 a R$ 200,00 12% 12,3%

R$ 201,00 a R$ 300,00 0,9% 18,3%

R$ 301,00 a R$ 500,00 21,9% 37,8%

R$ 501,00 a R$ 1000,00 3,6% 15,3%

Mais de R$ 1000,00 2,1% 6,6%

Não possui gastos 4,8% 1,8%

Não soube informar 45,9%5 3,6%

Fonte: Relatório Final de Pesquisa, ARCUS/UFPE/CNPq 2010.

Verificamos que os participantes dos empreendimentos econômicos solidários são na maioria ex-alunos do Ensino Público e, apesar do incremento na renda, matriculam seus filhos em escolas públicas. Poucos foram àqueles provenientes da rede privada de ensino. Tal fato ajuda a explicar o elevado núme-ro de empreendedores que não possuem gastos com Educação. Daqueles que gastam com educação, a maioria investe em cursos de capacitação e no ensino superior privado.

4. No momento da coleta de dados, em 2009, o valor estabelecido do salário mínimo no Brasil era de R$465,00, atualmente é de R$ 510,00.

5. O elevado percentual de entrevistados que não souberam informar os gastos com alimentação antes da entrada no empreendimento, muitas vezes, deve-

se ao fato dos mesmos estarem inseridos há muito tempo nessas experiências de trabalho solidário.

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Quadro 03: Gastos com Educação

Intervalo dos Valores Antes Depois

Menos de R$50,00 1,5% 2,7%

R$50,00 e R$100,00 2,4% 5,7%

R$ 101,00 a R$ 200,00 4,2% 9,3%

R$ 201,00 a R$ 300,00 1,8% 4,8%

R$ 301,00 a R$ 500,00 2,2% 4,2%

R$ 501,00 a R$ 1000,00 0,9% 3,6%

Mais de R$ 1000,00 0,9% 1,5%

Não possui gastos 40,2% 64,3%

Não soube informar 45,9%6 3,9%

Fonte: Relatório Final de Pesquisa, ARCUS/UFPE/CNPq 2010.

Apesar do acréscimo de renda com os ganhos nos empreendimentos, verificamos que, na maio-ria, os trabalhadores e suas famílias utilizam os serviços públicos do SUS (Sistema Único de Saúde), confirmando que gastos com despesas em saúde privada ainda não é possível, ou não é prioridade, tendo em vista os altos custos com mensalidades dos planos de saúde privada. Atualmente, 72,7% dos trabalhadores utilizam exclusivamente o SUS, e apenas 22,5% têm gastos com planos de saúde privada, 4,8% não souberam informar.

Identificamos que houve aumento do consumo e gastos com medicamentos nas respostas dos entrevistados, mesmo quando esses remédios são distribuídos gratuitamente nas farmácias do serviço público de saúde. Antes, 26,1% do total de entrevistados tinham gastos com medicamentos, atualmente, 57,3% do total têm gastos com medicamentos.

No que se refere às condições de habitabilidade, o acréscimo como impacto dos empreendimentos econômicos solidários se expressa qualitativamente na infra-estrutura das moradias como pôde ser visto in loco. Foi reduzido o número de casas visitadas que demonstraram ter uma situação de alta vulnera-bilidade. A maioria das casas que já eram feitas com materiais de alvenaria e tijolo (66,1% e 25,5% res-pectivamente) receberam melhorias como ampliação e reformas. Àquelas que eram feitas, por exemplo, com taipa, 6% do total, quase desapareceram passando para um percentual de 0,9%.

Igualmente, pudemos constatar mudanças qualitativas como impactos sociais na situação dos imóveis antes e depois do trabalhador se engajar nos empreendimentos econômicos solidários, como visto no quadro abaixo:

6. O elevado percentual de entrevistados que não souberam informar sobre os gastos com educação antes da entrada no empreendimento, deve-se ao fato

dos mesmos estarem inseridos há muito tempo nessas experiências de trabalho solidário.

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Quadro 03: Situação do imóvel

Situação Antes Depois

Próprio 78,1% 85,6%

Cedido 6,9% 5,1%

Alugado 9,6% 8,1%

Ocupado 0,9% 0%

Emprestado 1,8% 0,3%

Outros 1,2% 0,9%

Não Informado 1,5% 0%Fonte: Relatório Final de Pesquisa, ARCUS/UFPE/CNPq 2010.

Tanto antes quanto depois de se associarem aos empreendimentos econômicos solidários, os gastos com lazer faziam parte das despesas dos trabalhadores entrevistados. Dos que responderam ter despesas com lazer (37,5%), verificamos que houve aumento significativo dos participantes que gasta-ram entre R$50 e R$100 reais ao mês, passando de 6,9% para 16,2%. Os 58% dos participantes que afirmaram não possuírem gastos com lazer, justificaram essa ausência declarando como lazer: a ida à casa de amigos e parentes, freqüentar igrejas, praças e eventos abertos.

Sobre as despesas do empreendedor e de sua família com previdência, percebemos que a maior parte dos entrevistados, tanto antes quanto depois da entrada no empreendimento, não realizavam gas-tos com a previdência. Ou seja, grande parte deles não é acobertada pela legislação trabalhista, portanto, estão desprotegidos.

Impactos ideopolíticos – dimensão subjetiva

Os impactos ideopolíticos são relativos às mudanças verificadas na dimensão subjetiva, na cons-ciência, ou seja: na percepção que o empreendedor tem ou adquire com sua participação e/ou ingresso nos empreendimentos econômicos solidários. Através da realização das entrevistas semi-estruturadas realizadas com os empreendedores solidários, pontuamos as principais contribuições dos empreen-dimentos nas condições de vida dos empreendedores no âmbito profissional, pessoal, familiar e na sociedade local. Assim, para os entrevistados no âmbito profissional, as contribuições traduzem-se em: Participação em cursos profissionalizantes; Adquiriram experiência profissional; Oportunidade do primeiro emprego; Oportunidade de ter outra profissão; Participação em capacitações; Aperfeiçoamento das técnicas de trabalho.

Já no campo pessoal, tais contribuições expressam-se da seguinte forma: obtiveram mais satis-fação e amadurecimento pessoal; melhora na convivência e no diálogo com as pessoas; aumento dos conhecimentos; aumento no ciclo de amizades.

Em relação às principais contribuições dos empreendimentos no âmbito familiar, identificamos melhorias no convívio entre os familiares; aumento da renda; participação familiar no empreendimento; acesso a bens materiais.

Por fim, destacamos as contribuições dos empreendimentos solidários para a sociedade local, a saber: Prestação de serviços à comunidade; Geração de emprego e renda; oferecimento de produtos de boa qualidade; desenvolvimento comunitário; mobilização da comunidade; inclusão social.

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Destacamos, através das falas dos empreendedores das iniciativas econômicas solidárias os prin-cipais impactos dos empreendimentos econômicos solidários em diversos âmbitos e vimos que os em-preendimentos, de certa forma influenciam nas condições de vida dos empreendedores e suas famílias, geram acréscimos e provocam impactos.

Conclusões

O Estado de Pernambuco no contexto nacional, nos últimos tempos, vem se destacado economi-camente como um pólo de pleno desenvolvimento. Este crescimento abrange as mais diversas áreas, dentre elas, destacamos as da indústria, do comércio, e a da construção civil e transportes. Embora uma parte significativa do crescimento econômico de Pernambuco se deva aos investimentos massivos realizados no Complexo Industrial de Suape, não podemos ignorar a contribuição dos empreendimentos solidários em relação ao desenvolvimento econômico do Estado. Isto porque estes empreendimentos permitiram aos trabalhadores, que se encontravam fora do mercado de trabalho e que passaram a fazer parte destas iniciativas solidárias, a obtenção e o acréscimo de ganhos financeiros que possibilitou um aumento do consumo local e, logo, estadual.

Esta realidade pode ser comprovada quando verificamos os impactos, econômicos e sociais, e analisamos as melhorias nas condições de vida dos trabalhadores e familiares após a inserção nos empreendimentos solidários, bem como contribuição ao crescimento econômico dos municípios, so-bretudo com o aumento significativo do consumo com a alimentação; medicamentos; educação. No que concerne à infra-estrutura das condições de habitabilidade da residência ou local de moradia do produtor associado e sua família, o acréscimo como impacto dos empreendimentos econômicos solidários se expressa qualitativamente na infra-estrutura das moradias: antes de trabalhar no empreendimento as ca-sas eram 66,1% de tijolo, 25,5% de alvenaria e 6,0% de taipa. Depois de inserir-se no empreendimento 67,6% passou a trabalhar e/ou residir em casa de tijolo, 31,2% alvenaria e apenas 0,9% em taipa.

Fazendo uma correlação entre o contexto atual desses empreendimentos em suas localidades com o crescimento econômico de Pernambuco, tem-se que os impactos sócio-econômicos gerados por aqueles repercutem diretamente na economia do Estado. Essa afirmação é verificada pela relação direta entre o aumento do consumo pelos empreendedores e o crescimento nas vendas do comércio varejista em todo o território pernambucano, destacando-se a venda de móveis e eletrodomésticos; de produtos alimentícios, supermercados e hipermercados; bem como de materiais de construção – sendo estas últimas diretamente relacionadas com a melhoria das condições de habitabilidade dos produtores associados, por exemplo. Além disto, vale também salientar tanto a relação direta entre o aumento do consumo de medicamentos por parte dos empreendedores com o crescimento da produção industrial química, quanto com o desenvolvimento da indústria de alimentos no Estado.

Salienta-se ainda no âmbito da economia solidária os impactos que as unidades de trabalho po-dem exercer na redução da pressão dos trabalhadores desempregados por trabalho ou ocupação, ou ainda manutenção das taxas de desemprego.

Notadamente, unidades de trabalho que são classificadas como pertencentes à economia solidária em Pernambuco, estão presentes em todas as cinco mesorregiões do Estado e desenvolvendo ativi-dades ligadas a diversos ramos da economia. A maioria dos empreendimentos desenvolve atividades do setor primário responsável pela produção de bens de consumo nas quais os pequenos produtores utilizam práticas e técnicas tradicionais para manejo da área e da cultura.

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Mesmo assim, a economia solidária no estado vem se consolidando como meio pelo qual, número significante de trabalhadores retira do que produz coletivamente ganhos financeiros para sustento pró-prio e de suas famílias. E reafirmam satisfação com o trabalho realizado. Objetivamente os empreendi-mentos proporcionam, na maioria dos casos, aumento do consumo pelas famílias, pela compra de bens, serviços e produtos; no âmbito subjetivo trazem melhoria da qualidade de vida dos participantes e suas famílias, bem como em âmbito ideológico e político evidenciam ampliação da participação política na comunidade e satisfação pessoal e/ou do grupo com as suas inserções no empreendimento econômico solidário.

A importância da economia solidária para a economia pernambucana, de forma geral, é notada pelos seguintes dados7: o valor de investimentos destinados ao setor – aproximadamente 24 milhões de Reais; o total do faturamento dos empreendimentos – aproximadamente 52 milhões de Reais; e o número de trabalhadores de ambos os sexos inseridos nesses empreendimentos – chega aproximada-mente a 89 mil pessoas.

Podemos afirmar que o aumento nas taxas dos indicadores que mostram a redução do nível de desemprego, o aumento do emprego/ocupação, o aumento do consumo, a expansão das vendas no comércio, comércio varejista e do setor de serviços sofreram influência positiva da economia solidária no Estado. Quando se ampliam postos de trabalho ou mesmo quando há a formalização e o registro de atividades, é evidente que repercute na melhoria nos índices e indicadores sociais e econômicos. A economia solidária em seu estado atual ainda não pode ser considerada como responsável pelo aumento substancial desses indicadores, mas sem sombra de dúvidas possui sua parcela de contribuição.

Referências

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SINGER, P. A economia solidária no Brasil: a autogestão como resposta ao desemprego. São Paulo: Contexto,2000.

6. O elevado percentual de entrevistados que não souberam informar sobre os gastos com educação antes da entrada no empreendimento, deve-se ao fato

dos mesmos estarem inseridos há muito tempo nessas experiências de trabalho solidário.