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Avaliação Econômica do Reaproveitamento da Resina Plástica
PET: Um Estudo no Município do Rio de Janeiro
Vitor Ribeiro Vieira
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Instituto COPPEAD de Administração
Mestrado em Administração
Orientador: Celso Funcia Lemme
Rio de Janeiro - Brasil
Agosto de 2003
Avalia@o Econômica do Reaproveitamento da Resina Plástica
PET - Um Estudo no Município do Rio de Janeiro
Por
Vitor Ribeiro Vieira
Dissertação submetida ao corpo docente da COPPEAD da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos
necessários a obtenção do grau de Mestre.
Aprovada por:
Presidente da Banca
%a&& 8 2%- Prof. Ronaldo Seroa da Motta (IPEA)
Rio de Janeiro, RJ
2003
FICHA CATALOGRÁFICA
Vieira, Vitor Ribeiro.
Avaliação Econômica do Reaproveitamento da Resina Plástica
PET: Um Estudo no Município do Rio de Janeiro1
Vitor Ribeiro Vieira. Rio de Janeiro: UFRJICOPPEAD, 2003.
xiii, I 18 p. il.
Dissertação - Universidade Federal do Rio de Janeiro,
COPPEAD. Orientador: Celso Funcia Lemme.
I. Avaliação Econômica. 2. Impacto Ambiental. 3. Reciclagem
de Resíduos Plásticos. 4. Dissertação (Mestrado -
i UFRJICOPPEAD). I.Titulo
RESUMO
VIEIRA, Vitor Ribeiro. Avaliagão Econômica do Reaproveitamento da
Resina Plástica PET: Um Estudo no Município do Rio de Janeiro.
Orientador: Celso Funcia Lemme. Rio de Janeiro: UFRJICOPPEAD, 2003.
Dissertação.
O objetivo da presente pesquisa foi o de abordar a atratividade econômica da
reciclagem da embalagem fabricada a partir da resina plástica PET, quando
todos os devidos custos, externalidades e benefícios, fossem internalizados no
processo produtivo. A análise incorporou um estudo da viabilidade do
reprocessamento do PET, como meio de amenizar custos para a sociedade e
possivelmente gerar valor para o produto. Com este intuito, o enfoque recaiu
sobre os agentes envolvidos na sua produção, manejo e reciclagem. A
abordagem utilizada foi fundamentada na Teoria da Economia do Bem-Estar,
onde uma análise de custos/benefícios pautou o processo decisórío quanto a
continuidade da utilização da resina em embalagens ou sua substitui@o por
materiais alternativos, a partir do momento em que fossem levados em conta
os devidos custos e benefícios aos agentes. Com base nos resultados obtidos
são apontados os principais beneficiários e prejudicados com a atual estrutura
de produção 1 manejo / reciclagem do produto, o que possibilita a correção de
possíveis distorções na busca do ponto de eficiência máxima, onde a
sociedade, como um todo, possa auferir o maior ganho possível.
ABSTRACT
VIEIRA, Vitor Ribeiro.
Resina Plástica PET:
Avalia~ão Econômica do Reaproveitamento da
Um Estudo no Município do Rio de Janeiro.
Orientador: Celso Funcia Lemme. Rio de Janeiro: UFRJICOPPEAD, 2003.
Dissertação.
The objective of this research was to investigate the economic attractiveness of
the recycling of packages that use the plastic resin PET, when all the proper
costs, externalities and benefits, were introduced into its production. The
analysis embodied a feasibility study of the reprocessing of PET, as a means to
reduce the costs to the society and possibly add value to the product. With this
purpose, the attention was focused on the agents involved with its production,
handling and recycling activities. The approach used was the rationale found in
the Welfare Economics, where a costlbenefit analysis may be crucial to the
decisionmaking regarding to the continuity of the PETJs use as a raw material to
packaging or its replacement by alternative materials when all the correct
costslbenefits were attributed to the proper agents. From the results obtained
the main beneficiaries and the main impaired agents with the current productive
structure can be recognized, what allows the correction of likely distortions in
the search of the maximum efficiency point, where the society, as a whole,
could obtain as many resources as possible.
AGRADECIMENTOS
Gostaria de agradecer a todos aqueles que contribuíram com fontes de
consulta, permitindo assim, a realização deste trabalho. Um agradecimento
especial é dedicado ao meu orientador,
solícito e pronto a ajudar, cobrando e
medidas.
Prof. Celso Funcia Lemme, sempre
incentivando nas mesmas corretas
vii
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
I ABEPET
I ABIR
I AEIA
I BLSR
COMLURB
MSP
OCDE
PET
PMSP
PNRS
PPP
RIMA
RVM
I TEV
I VPL
Associação Brasileira dos Fabricantes de Embalagens de PET
Associação Brasileira da Indústria de Águas Minerais
Associação Brasileira da Indústria do Plástico
Associação Brasileira da Indústria Química
Associação Brasileira da Indústria de Refrigerantes
Avaliação Econômica de Impactos Ambientais
Benefício Líquido Social do Reaproveitamento
Danos Ambientais pela má Coleta e Disposição do lixo urbano
Compromisso Empresarial Para a Reciclagem
Companhia Municipal de Limpeza Urbana
Estudo de Impacto Ambienta1
Gastos Associados ao Reaproveitamento
Gastos de Coleta, Transporte e Disposição Final de lixo urbano
Redução de Custos associados em Matéria-prima e outro:
Insumos proporcionados pelo Reaproveitamento
Município de São Paulo
Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico
Polietileno Tereftalato
Prefeitura Municipal de São Paulo
Política Nacional de Resíduos Sólidos
Princípio do Poluidor Pagador
Relatório de Impacto sobre o Meio Ambiente
Reverse Vending Machine
Tofal Economic Value
Valor Presente Líquido
LISTA DE TABELAS
Variação na Composição dos Resíduos Sólidos em São Paulo 44
Capacidade Instalada em ToneladaIAno das Empresas 52
Produtoras da Resina PET - 1999
Produção, Vendas, Importação e Exportação da resina PET no 53
Brasil I
índices Atuais de Reciclagem de Alguns Materiais no Brasil 54 I
índices Atuais de Reciclagem de PET 54
Ganhos de Cada Agente Econômico com o Processo de 65
Reciclagem do PET
Estimativas de Preços de Materiais Recicláveis 80
Coleta do Lixo no Município do Rio de Janeiro 84
Gastos com Coleta, Transporte e Disposição do Lixo Urbano 85
Déficit de Custos de Gestão de Resíduos Sólidos 88
Preço Médio da Sucata por Material no Rio de Janeiro (GMI - 88
GAR)
Custos de Produção Evitados com o Reaproveitamento 89 I
Estimativas de Benefício Liquido Social da Reciclagem (BLSR) 1 90
Economia Obtida pela Reciclagem de Lixo no Município de São 9 1
Paulo (MSP)
Economia Possível pela Reciclagem de Lixo no Município de 92
São Paulo (MSP)
Resultados Globais para a Economia Proveniente da 94
Reciclagem do Lixo no Município de São Paulo
LISTA DE QUADROS
I NO IT~TULO (Página ( I I
I I Resumo do Referencial Teórico 1 68 1
LISTA DE FIGURAS
I NO / T~TULO I Página I I I
1 I Fluxograma da Reciclagem em Geral 61
LISTA DE ANEXOS
política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) - Subseção XI: Das
Embalagens
xii
I. APRESENTAÇAO
1.1. O Problema
1.2. Objetivos
I .3. Relevância
I .4. Delimitação
2. REVISAO DA LITERATURA
2.1. Conceitos Econômicos Relevantes
2. I. I. Avaliação Social de Projetos
2.1.2. Avaliação Econômica de Impactos Ambientais (AEIA)
2.1.3. Custos Ambientais da Atividade Econômica
2.2. Políticas e Responsabilidades Ambientais 23
2.2. I. Políticas Ambientais: Definições e Dificuldades Insfitucionais 24
2.2.2. Responsabilidades Ambientais 29
2.2.3. Mecanismos de Intenonzação dos Custos Ambientais na Indústria 32
2.3. Legislação Ambienta1 Brasileira 37
2.3. I. Estrutura e Conceitos Gerais da Legislação Ambiental Brasileira 38
2.3.2. A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) 40
2.4. O Polietileno Tereftalato - PET 42
2.4.1. PET: Conceituação e Reciclagem
2.4.2. O Processo de Reciclagem - Viabilidade Econômica
2.5. Concluindo a Revisão de Literatura
3. METODOLOGIA 69
3.1. Tipo de Pesquisa 69
3.2. Universo e Amostra 70
3.3. Seleção dos Sujeitos
3.4. Coleta dos Dados
3.5. Tratamento dos Dados
3.6. Limitações do método
xiii
4- RESULTADOS
4.1. Introdução aos Modelos Esquemáticos
4.2. Modelo de Seroa da Motta e Sayago (1998) - Cálculo do
Benefício Líquido Social da Reciclagem (BLSR)
4.2.1. Cálculo dos Gastos de Coleta, Transpotte e Disposição Final
de Lixo Urbano - GCD
4.2.2. Cálculo dos Danos Ambientais resultantes da má coleta e
disposição do Lixo Urbano - CA
4.2.3. Cálculo da Redução de Custos associados em Matéria-prima e
outros insumos proporcionados pelo Reaproveifamento - GMI e dos
Gastos Associados ao Reaproveitamento - GA R
4.3. Modelo de Calderoni (I 999) - Cálculo da Economia para a
Sociedade Resultante da Reciclagem
4.4. Confrontando os Modelos Esquemáticos
6- SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS
ANEXO 1
1. Apresentação
1.1. O problema
No estudo da avaliação econômica de impactos ambientais são
abordadas questões que ultrapassam os limites da maximização do lucro
privado, incorporando a análise de custos e benefícios sociais implícitos, que
por vezes demonstram que projetos lucrativos sob a ótica privada podem ser
economicamente inviáveis sob a ótica social.
O presente estudo tem as áreas de Finanças e da Análise de
CustoIBenefício como campos de conhecimento de referência. Desta última,
são derivados alguns dos preceitos da Avaliação Social de Projetos, que, por
sua vez, orientam os conceitos da Avaliação Econômica de Impactos
Ambientais.
Fazendo uso de um arcabouço teórico previamente desenvolvido para
este tipo de cenário de análise de espectro social, este trabalho visa a
implementar uma aplicação prática para o caso das embalagens que são
compostas de polietileno tereftalato (PET), resina plástica amplamente utilizada
no acondicionamento de alimentos e bebidas. Trata-se de material que
acarreta inúmeros benefícios ainda pouco explorados atrelados a sua
reciclagem, que podem vir a gerar oportunidades de emprego e renda, ao se
racionalizar seu uso e o seu destino pós-consumo pela sociedade.
Todavia, simultaneamente, este é um material que, caso impropriamente
manejado ou simplesmente subaproveitado como resíduo, pode proporcionar
diversos custos sociais, tangibilizados, por exemplo, no entupimento de vias
pluviais e conseqüentes enchentes que afetam diversos municípios. No
município do Rio de Janeiro, foco principal deste estudo, os diversos rios que
servem a cidade se apresentam assoreados e com as margens repletas de lixo
- do qual relevante parcela em volume é constituída de PET - e esses,
associados as encostas favelizadas e erodidas de morros que não contam com
sistema de coleta de lixo apropriado, contribuem para a ocorrência de tragédias
repetidas em épocas de chuvas torrenciais. Estas recorrentes enchentes
implicam em custos elevados para o município, se forem levados em conta, por
exemplo, a mobilização e o atendimento emergencial as vítimas, os danos à
saúde da população, as perdas de receita com turismo, ou, até mesmo, a
paralisação temporária da circulação de bens e serviços no comércio das ruas.
As externalidades geradas pela produção de embalagens a partir do
PET começam a ser questionadas e avaliadas e o processo recente de
expansão continuada de uso da resina nas embalagens deve passar por um
crivo mais rigoroso quanto a sua real viabilidade econômica quando
internalizados corretamente os custos sociais que seu uso acarreta. Para tal
tarefa, contribui o novo aparato de regulamentações ambientais que vem
tomando forma no Brasil, seguindo exemplos do exterior.
Uma amostra da atual conjuntura de alteração de postura quanto aos
custos sociais, outrora relegados a um segundo plano, é a Política Nacional de
Resíduos Sólidos (PNRS), que visa a controlar e dispor sobre diversos tópicos
no que tange as responsabilidades do manejo e da reutilização de materiais e
suas interações com o meio ambiente e, em última instância, com o bem estar
da população. No relatório preliminar da PNRS, há, inclusive, uma subseção
que aborda diretamente a questão das embalagens e os devidos
procedimentos cabíveis a cada um dos agentes envolvidos na cadeia
produtiva: produtor ou importador, envasador, distribuidor e ponto de venda, no
sentido de controle das externalidades negativas.
No caso do PET, o estudo implica em analisar os fatores motivadores
para seu uso nas embalagens e os custos e benefícios envolvidos quando de
sua produção, consumo, disposição e possível reciclagem, através das
dimensões relevantes e das características específicas envolvidas em todas as
etapas supracitadas.
1.2. Objetivos
A partir da metodologia da análise de custos e benefícios, este trabalho
tem a intenção de estudar a atratividade econômica deste tipo de embalagem
quando todos os devidos custos e externalidades, alguns possivelmente
ignorados atualmente, são internalizados no processo produtivo. A análise
inclui um estudo da viabilidade do reaproveitamento do PET, como alternativa
para desonerar parcialmente os produtores e possivelmente gerar valor
adicional ao produto. Para tanto, se faz necessário enfocar os agentes
envolvidos na sua produção, manejo e reciclagem.
O estudo tem como objetivo suplementar a análise das conseqüências
sobre o processo decisório quanto a continuidade da utilização da resina em
embalagens ou sua substituição por materiais alternativos se e quando forem
imputados os devidos custos e benefícios aos agentes produtivos. Assim, se
faz imperativo definir quais são estes custos e benefícios que cabem a cada
agente, analisando, para tanto, a estrutura legislativa no que concerne a
utilização e manejo de resíduos sólidos e, mais especificamente, de
embalagens de PET.
Em consonância com os objetívos descritos, este estudo pretende
responder a seguinte questão principal:
Qual e o resultado econômico consolidado dos agentes públicos e
privados decorrente do reaproveitamento da resina PET nas embalagens?
Como desdobramento desta pergunta, o estudo tenta contribuir para a
resposta-da seguinte pergunta auxiliar:
Quais as vantagens e desvantagens econômicas do reaproveitamento
do PET em relação as embalagens com materiais alternativos?
1.3. Relevância
Este trabalho pode contribuir para o estabelecimento de procedimentos
adequados para a escolha de embalagens - ou, mais genericamente, produtos
- que apresentem a melhor relação custolbenefício quando as devidas
externalidades envolvidas na sua produção e uso sejam levadas em
consideração e se proceda a uma abordagem que contemple o ponto de vista
da economialsociedade como um todo para a tomada de decisão final.
Além disso, o estudo colabora na compreensão de algumas
características do processo de reciclagem e reutilização de resíduos como uma
alternativa economicamente viável para diversos materiais. É grande o desafio
metodológico envolvido na consideração dos aspectos econômicos da
reciclagem do lixo, especificamente do PET, por conta da ainda relativamente
incipíente reflexão prática em nosso país se considerada a relevância
econômica que o manejo de resíduos assume.
1.4. Delimitação
O trabalho engloba os aspectos pertinentes a uma análise de custos e
benefícios do manejo de embalagens de PET, até sua possível reciclagem.
O município do Rio de Janeiro é o escolhido como foco neste estudo,
pois apresenta características topográficas únicas, que servem para concretizar
de modo mais nítido as desvantagens e custos sociais quando da disposição
irresponsável de embalagens de PET, além da maior disponibilidade de
informações, por conta da maior proximidade das fontes. Relevante parcela
dos dados - em especial no que tange ao manejo público da coleta e
reciclagem de resíduos - foi obtida no Município (e, também, Estado do Rio de
Janeiro), muito embora a aplicação dos resultados do trabalho possa ser
extrapolada, em algum grau, para além de um limite geograficamente restrito.
O horizonte temporal explorado neste estudo está centrado em dados
coletados a partir de 1995 (primeiro ano após a implantação do Real) até 2002,
quando o mercado deste produto já se apresentava bastante desenvolvido e
ainda com' perspectivas de crescimento de produção elevadas, justificando
maior confiabilidade nas informações quanto aos custos, escalas produtivas e
demanda presumida. Afinal, se trata de uma resina plástica de recente
implementação, pois começou a ser utilizada como embalagem na década de
70 e só foi implantada efetivamente no Brasil em 1988.
O aspecto técnico da operação de reciclagem das embalagens de PET
não é abordado neste trabalho, nem no que concerne as características
químicas, nem no que se refere a eficiência tecnológica das alternativas de
processos de reciclagem disponíveis. Outras resinas plásticas - como
Policarbonatos (PC) ou o Polipropileno (PP) - embora aparentemente similares
não são tratadas aqui, dado que apresentam especificidades técnicas quanto à
produção, ao uso e as perspectivas de reciclagem que não justificam quaisquer
tentativas de uniformização de tratamento.
O restante do estudo está estruturado conforme demonstrado abaixo:
Capítulo 2 - Revisão da Literatura, onde são expostos os
fundamentos teóricos a partir da Avaliação Social de Projetos e da
Avaliação Econômica de Impactos Ambientais. São abordados os
Conceitos Econômicos Relevantes, as Políticas e Responsabilidades
Ambientais, a Legislação Ambienta1 Brasileira e um estudo mais
aplicado da indústria do PET e a atividade de reciclagem no país.
Capítulo 3 - Metodologia, que demonstra os procedimentos utilizados
para seleção dos sujeitos, coleta e tratamento de dados.
Capítulo 4 - Resultados, onde são analisados e apresentados os
pontos principais revelados pelos dados obtidos.
Capítulo 5 - Conclusões, no qual são fornecidas as respostas as
perguntas da pesquisa.
Capítulo 6 - Sugestões para Pesquisas Futuras, onde são
apresentadas algumas possíveis extensões para o trabalho
realizado, tanto no aspecto acadêmico quanto no mais aplicado.
Uma vez delineados os limites da pesquisa, procede-se a etapa seguinte
que consiste na compilação e compreensão dos alicerces teóricos a respeito
dos tópicos em estudo, ou seja, a Avaliação Econômica de Impactos
Ambientais e o Reaproveitamento da Resina Plástica PET, que serão
apresentados na Revisão da Literatura a seguir.
2. Revisão da Literatura
Neste capítulo são revistos os principais conceitos e métodos que
possam servir de sustentáculo para o processo decisório de produção das
embalagens de PET, quando consideradas as externalidades - negativas e
positivas - que são passíveis de identificação e atribuição aos agentes
envolvidos.
Uma primeira seção, o item 2.1., aborda a conceituação econômica,
isto é, os requisitos prévios para um bom entendimento do estudo a ser
preparado. Nesta seção, são descritos brevemente alguns conceitos, como os
de externalidades, bens públicos e avaliação econômica de impactos
ambientais.
Em seguida, no item 2.2., são descritos os conceitos e exemplos de
Políticas e Responsabilidades Ambientais, onde os papéis do Estado e do
Mercado como reguladores, fiscalizadores, executores e órgãos coercitivos são
apresentados e debatidos.
Entretanto, todas as decisões de políticas e responsabilidades
ambientais devem obter respaldo na legislação vigente e é no item seguinte,
2.3, que são expostas as regulamentações ambientais brasileiras e suas
implicações diretas e indiretas para a viabilidade econômica da indústria de
embalagens PET, servindo como referência para que os devidos custos sejam
corretamente imputados.
Finalmente,
específico, o PET,
é analisada no item 2.4. a matéria-prima do estudo
com breve apresentação de características da resina,
estimativas de crescimento, custos, receitas, aplicaçõeslclientes preferenciais e
problemas que seu mau uso pode acarretar para a sociedade. Também nesta
seção são introduzidas informações quanto a atividade de reciclagem - em
sentido mais amplo e aplicada ao PET - e os possíveis ganhos que esta
representa para os produtores e para a sociedade em custos evitados e demais
ganhos.
Todos os itens supracitados em conjunto têm a tarefa
compreensão e avaliação dos resultados e conclusões do estudo.
2.1. Conceitos ecorzômicos relevantes
Nesta seção são revisados os conceitos econômicos que
de facilitar a
permeiam um
estudo de custos e benefícios, como este se propõe ser, e que devem constar
em uma avaliação social de projetos, segundo os preceitos da Economia do
Bem-Estar.
2.1.1. Avaliação Social de Projetos
"0s benefícios são aqueles bens e serviços ecológicos, cuja
consetvação acarretará na recuperação ou manutenção destes para a
sociedade, impactando positivamente o bem-estar das pessoas. Por
outro lado, os custos representam o bem-estar que se deixou de ter em
função do desvio dos recursos da economia para políticas ambientais
em detrimento de outras atividades econômicas. Os benefícios, assim
como os custos, devem ser também definidos segundo quem se apropria
ou sofre as conseqüências destes, isto é, identificar beneficiários e
perdedores para apontar as questões eqüitativas resultantes'. (SEROA
DA MOTTA, 1998)
Os métodos de valoração econômica ambienta1 são instrumentos
analíticos que contribuem para uma técnica de avaliação de projetos mais
abrangente: a análise custo-benefício (ACB), que originalmente foi
desenvolvida para tratar da avaliação de projetos relacionados a recursos
hídricos para aproveitamento energético nos EUA. Com a redução da taxa de
construção de barragens, o instrumental desenvolvido começou a ser aplicado
a outras questões, e a Avaliação de Projetos e a Avaliação Econômica de
Impactos Ambientais se desenvolveram tendo a ACB como alicerce.
O "mercadoJJ não é defendido por teóricos liberais apenas por garantir
resultados específicos para determinados agentes ou por resolver quaisquer
problemas, mas sim, afirma Drummond (2000), porque garante os melhores
resultados possíveis para algumas questões e para todos os envolvidos nestas
questões, com os custos mais baixos.
As leis e regulamentações se fazem imperativas quando os "melhores
resultados possíveisJJ que o mercado pode oferecer não satisfazem algum setor
da sociedade. Sendo assim, existem os bens que o mercado não é capaz de
prover, cujos exemplos clássicos são a segurança pública e a justiça.
A distinção entre a ótica privada e a social no tocante a questão dos
custos e rentabilidade é compreendida de uma melhor forma a partir do
conhecimento da Economia do Bem-Estar (Welfare Economics). Um de seus
principais preceitos é o da Eficiência Econômica, conhecida também por
Eficiência de Pareto ou Ponto de Utilidade Máxima, que parte da noção de que
a livre troca leva a maximizar a satisfação dos indivíduos que nela participam.
A utilidade máxima se daria num ponto onde nenhuma outra troca poderia
trazer uma maior satisfação aos indivíduos participantes sem causar prejuízo
de diminuição na utilidade de outro indivíduo relacionado, ou diminuição do
bem estar do mesmo. (PINDYCK e RUBINFELD, 1994).
Contudo, existem
Eficiência de Pareto, ou
fenômenos que impedem que a economia alcance a
seja, o estágio de welfare economics - ou estado de
bem estar social - através do livre mercado sem interferência do governo. São
as falhas de mercado e algumas delas estão expostas em seguida:
O Externalidades;
Existência dos bens públicos.
As externalidades são falhas de mercado definidas como "os efeitos das
atividades de produção e consumo que não se refletem diretamente no
mercado". (PINDYCK & RUBINFELD, 1994, p. 843). Quando as externalidades
existem e são identificáveis, o preço de uma mercadoria não reflete
necessariamente seu valor social. Por conseguinte, as firmas podem vir a
produzir quantidades excedentes ou insuficientes, acarretando a ineficiência de
alocação no mercado. Segundo Pindyck e Rubinfeld (1994), algumas soluções
para estas ineficiências incluem negociações entre as partes envolvidas, ações
judiciais contra os responsáveis pela externalidade ou regulamentações
governamentais que visem ao bem comum.
A existência de externalidades exige que os preços de mercado sejam
corrigidos por perdas e ganhos acidentais de outros agentes que não os
produtores ou usuários diretos dos bens. Essas perdas e ganhos podem ser
avaliadas com referência a preços de mercado, embora com complexidade. Os
preços dos bens, uma vez corrigidos pelas externalidades que produzem, são
também denominados de preços-sombra. (MISHAN, 1976).
Para Contador (1997), os problemas que as externalidades trazem na
prática se referem aos direitos de propriedade impropriamente definidos,
havendo espaço para o uso de instrumentos de mercado para eliminar ou
atenuar as externalidades.
Os bens públicos não são aqueles necessariamente do interesse de
toda a sociedade, mas sim de determinados grupos que se organizam para
alcançá-los. Para Pindyck & Rubinfeld (I 994), o custo marginal da oferta de um
bem público a um consumidor adicional é zero, e as pessoas não podem ser
impedidas de consumi-lo.
Segundo Olson, mencionado por Drummond (2000), verifica-se a
existência de agentes econômicos com um comportamento "problemáticoJJ: 0s
free riders. Trata-se daqueles indivíduos que embora não tenham se
mobilizado quando da reivindicação inicial, "tomam carona" no usufruto dos
benefícios públicos gerados pela ação de poucos. Assim, Olson introduz o
cálculo individual de benefícios e custos como fator condicionante da decisão
individual de participar de ações coletivas, mostrando que as vezes é mais
benéfico nem se mobilizar por seus próprios interesses.
No momento em que um conjunto de leis e regulamentações fortalece o
controle público ou coletivo sobre determinada atividade, pode-se afirmar que
há uma política pública em andamento.
A avaliação social de projetos se preocupa com a determinação do
impacto do projeto sobre a economia como um todo e não somente trata dos
interesses do empreendedor. Para tanto, segundo Contador (1997), em lugar
de utilizar os preços de mercado, a avaliação social faz uso dos preços sociais
ou preços-sombra.
Lemme (2000 b) ressalta a maior complexidade deste tipo de avaliação,
dado que impede a utilização de métodos tradicionais de avaliação de
empresas, como o valor patrimonial ajustado ou o valor de mercado dos títulos,
impossibilitando, assim, a comparação entre valores de diferentes
metodologias de cálculo de valor, e restringindo o avaliador ao método de
fluxos de caixa descontados.
Conforme já mencionado, a existência de externalidades distorce a
formação de preços de mercado, aumentando as discrepâncias entre a análise
privada e a social.
A avaliação social para Lemme (2000b) também substitui alguns
conceitos da avaliação privada, como renda por benefício social, custos de
mercado por custo de oportunidade dos recursos e lucro por excesso de
benefício social sobre o custo.
2.1.2. Avaliação Econômica de Impactos Ambientais (AEIA)
A Economia Ambienta1 é apresentada por Turner, Pearce e Bateman
(1994), como uma expansão da economia tradicional, dado que em seu cerne
está o conceito de uma economia auto-sustentável. Para estes autores, não
existem preços de mercado para grande parcela dos bens e serviços
ambientais, o que acarreta a geração de externalidades, que precisam ser
corrigidas de alguma forma para a obtenção de maior eficiência alocativa.
Segundo Lemme (2000a), a valoração dos impactos ambientais pode ser
referenciada as três funções de suporte a vida associadas ao meio ambiente,
ou seja:
e
e
e
Suprimento de recursos (renováveis ou esgotáveis);
Assimilação de lixos ou resíduos;
Fornecimento de serviços, como recreação, estética, etc.
Segundo Turner, Pearce e Bateman (1994) e Lemme (2000b), há
diferentes conceitos de valor a serem considerados na análise ambiental.
Existe o Valor de Utilização (Use Value), que se subdivide em Valor Direto,
Indireto, de Opção e de Herança. O primeiro é obtido do uso direto do recurso
(por exemplo, madeira). Já o Valor Indireto decorre do beneficio indireto
derivado de funções e serviços naturais (por exemplo, redução de poluição do
ar). O Valor de Opção é aquele que os indivíduos estão dispostos a pagar para
preservar o recurso para usos futuros. Finalmente, o Valor de Herança
(Bequest Value) consiste na oportunidade de deixar possibilidades de uso dos
recursos naturais para gerações futuras.
Além do Valor de Utilização, há o conceito do Valor Intrínseco, ou de
Não-Utilização, isto e, o valor que um elemento no mundo natural possui sem
considerar qualquer uso, atual ou futuro. "Este tipo de valor reflete a satisfação
decorrente de saber que um determinado ambiente natural será preservado e
continuará a existir, mesmo que isto não nos traga qualquer benefício material".
(LEMME, 2000 b, p. 40).
A soma do Valor Intrínseco ao Valor de Utilização representaria o Valor
Econômico Total (Total Economic Value - TEV).
Ainda conforme Lemme (2000b), a utilização de modelos de avaliação
econômica de impactos ambientais depende de:
Medição das mudanças físicas, químicas, biológicas e sociais
produzidas pelos projetos em questão;
Identificação das condições de funcionamento do sistema na
presença e na ausência do impacto;
Delimitação espacial ou geográfica do alcance do impacto;
Delimitação temporal dos efeitos do impacto;
Estabelecimento das relações entre as mudanças físicas, químicas,
biológicas e as alterações de comportamento elou bem-estar dos
indivíduos; e
Especificação do contingente humano afetado pelo impacto.
Conforme Pearce (1993), há registros da existência de 4 grandes
categorias de técnicas de valoração econômica para recursos ambientais. Os
grupos categorizados são:
Abordagens Convencionais de Mercado (Conventional Market
Approaches), que usam os preços de mercado (ou os preços-
sombra, se necessário) para valorar alterações na produção de
benslserviços ou os gastos para restaurá-la;
Funções de Produção Domésticas (Household Producfion
Functions), cujo foco está nos gastos com bens que são substitutos
ou complementares de alguma característica ambienta1 para tentar
Métodos de Preços Hedônicos (Hedonic Price Methods), que
procuram valorar determinada característica ambienta1 via avaliação
do comportamento de um mercado que tem seus preços por ela
afetados, como mercados de imóveis e de trabalho;
Métodos Experimentais de Avaliação Contingente (CVM -
Contingent Valuation Methods), ou de Avaliação Hipotética
(Hypothetical Valuation), que são utilizáveis em ocorrências nas
quais os preços de mercado para os bens/serviços não são
disponíveis.
Dada a constante insuficiência de dados de mercado no que concerne a
valoração econômica de impactos ambientais, esta última categoria de
abordagens de avaliação tende a ser predominante na literatura especializada.
A prática corrente em Finanças de descontar fluxos de caixa futuros
significa uma aceitação de que os custos e benefícios que ocorrem no futuro
mais distante têm menor peso no processo decisório do que os ocorridos no
presente e futuro próximo. O que está em questão é a preferência que um
indivíduo tenha ao decidir entre fluxos disponíveis a curto ou a longo prazo.
Todavia, quando da análise de recursos naturais e impactos ambientais, em
especial os esgotáveis, é preciso que se considere os interesses de gerações
futuras como sendo de igual relevância.
Portanto, conforme Lemme (2000 b), alguns autores seriam favoráveis a
uma taxa de desconto nula para os impactos ambientais, dado que a
comparação entre custos e benefícios seria entre indivíduos diferentes, vivendo
em épocas distintas. Outros autores propõem as menores taxas possíveis no
caso de projetos ambientais de longo prazo, sendo a taxa social de desconto
menor do que a vigente nos mercados privados, com essa diferença tendendo
a aumentar ao longo do horizonte temporal.
O presente
am bientais através
deteriorado - onde
trabalho enfoca métodos que buscam medir impactos
do esforço e custo envolvidos na reconstituição do ativo
o resíduo sólido na forma de embalagens de PET pós-
consumo deteriora o ambiente urbano. Aqui não se pretende fazer inferências a
partir de métodos cujo enfoque central está na avaliação subjetiva, a partir do
conhecimento do comportamento das preferências dos indivíduos (como é o
caso dos métodos de Avaliação Contingente).
De posse dos principais conceitos econômicos que regem a Economia
do Bem-Estar e que por sua vez orientam a Avaliação Social de Projetos e a
Avaliação Econômica de Impactos Ambientais, o estudo prossegue na análise
de especificidades quanto as estratégias de apropriação de custos e benefícios
e procedimentos de aplicação dos conceitos previamente expostos.
2.1.3. Custos Arn bientais da Atividade Econômica
O objetivo do crescimento frequentemente traz conseqüências que se
traduzem em danos ambientais.
A poluição não é só a "tradicional", tangibilizada na emissão de gases
tóxicos, mas também a falta de saneamento flagrante nas regiões menos
desenvolvidas. Outros efeitos ambientais danosos são provenientes de simples
falhas na preparação de projetos, como a falta de um sistema de tratamento
dos resíduos de um processo industrial ou a ausência de controles para
emissão de gases.
Para Contador (1997), o argumento econômico deve ter primazia -no
processo decisório quanto aos impactos ambientais envolvidos em qualquer
projeto, uma vez que, senão no presente, em algum ponto do futuro a
sociedade terá que incorrer em um dispêndio para corrigir as decisões erradas
do passado, que podem envolver a não-incorporação de externalidades na
avalia@o do projeto.
Contudo, para que os efeitos ecológicos façam parte da "... avaliação do
projeto é preciso que o meio ambiente seja considerado como um fator
econômico, sujeito a escassez e com custo alternativo não nulo".
(CONTADOR, 1997, p. 289).
O controle quanto aos danos ao meio ambiente invariavelmente acaba
por envolver determinado grau de coerção, posto que o argumento econômico
sempre precederá qualquer "senso ecológico" mais aguçado. Enquanto o custo
do controle pode ser contabilizado e apropriado por um determinado agente, a
degradação acaba por possuir efeitos distribuídos e frequentemente pouco
notados no curto prazo. O controle da poluição ambienta1 deve envolver dois
tipos de custos: o "custo dos filtros e instalações" e o "custo de regulamentação
e imposição da lei".
0 "custo dos filtros" é normalmente imputado a própria entidade
poluidora e congrega a instalação e manutenção de equipamentos técnicos de
controle ao dano ambiental, bem como possíveis perdas de produtividade e
energia que possam ocorrer.
0 s "custos de regulamentação", por sua vez, são geralmente atribuídos
ao setor público e compreendem todos os recursos gastos no desenvolvimento
e na fiscalização quanto aos limites estabelecidos para a poluição.
Segundo Contador (1997), as perdas com contaminação ambiental
operam em oito classes: atividades produtivas; propriedades e bens materiais;
vegetação; solo; vida animal; valores estéticos; saúde e
de renda; e litígios jurídicos.
As seis primeiras classes citadas envolvem ação
produtiva, sendo, portanto, de mais fácil análise,
identificáveis e em geral têm efeitos no curto prazo.
abatidas dos benefícios provenientes de determinado
capacidade de geração
direta sobre a atividade
visto que são mais
As perdas devem ser
projeto, mesmo depois
do fim da fonte causadora, já que por vezes as perdas permanecem por tempo
mais prolongado, (mais notadamente na agricultura).
Os efeitos dos danos ambientais são claramente mais nítidos nas
classes menos favorecidas, posto que a falta de saneamento básico (água e
esgoto sem tratamento, etc.) afeta os mais pobres, além destes estarem
situados, geralmente, a vizinhança de plantas industriais poluidoras.
Contador (1997) pondera que tais danos afetam a vida humana de
quatro formas: no encurtamento da vida dos afetados; na capacidade produtiva
e de geração de renda; nos custos dos medicamentos; e na qualidade de vida.
Todavia, não há consenso quanto a questão de como proceder para quantificar
o valor das perdas de saúde e de vidas humanas. Existem algumas propostas,
tal como o uso do valor do seguro de vida como uma aproximação para o valor
que o indivíduo confere a sua vida. Porém, como ele próprio não aproveitará
este benefício - somente sua família - surgem controvérsias quanto a sua
validade.
Outro enfoque consiste no "valor presente líquido (VPL) sacrificado",
pelo qual cada pessoa pode ser enxergada como um projeto que requer aporte
de capital da sociedade em seu início, para posteriormente fornecer benefícios
líquidos. Assim, os efeitos econômicos de danos ambientais poderiam ser
vistos como a diferença entre o VPL esperado de uma pessoa saudável e o
VPL daquela pessoa afetada pela doença ou com morte prematura. Uma crítica
a esta abordagem passa pela teoria do bem-estar, pela qual a melhoria
potencial de Pareto prega que os ganhos Iíquidos sejam distribuídos de tal
forma que alguém fique em melhor situação sem que ninguém seja
prejudicado. Contudo, ninguém está disposto a receber qualquer quantia em
troca de sua vida. No entanto, uma vez que não podem ser identificadas a
priori as identidades das vítimas de determinado projeto, os indivíduos acabam
por aceitar esta abordagem como válida por subestimarem a probabilidade de
estarem incluídos nas fatalidades.
O modo pródigo com o qual as sociedades modernas vêm tratando com
o meio ambiente que as circunda decorre principalmente do fato de que o valor
dos inúmeros serviços implícitos em todos os ecossistemas tende a ser
ignorado nos balanços patrimoniais das firmas e os custos da destruição da
natureza só são percebidos quando algum evento de maior magnitude ocorre,
como enchentes catastróficas, cujas causas podem ser omissões comuns
como desmatamentos intermitentes ou mesmo o depósito inadequado de lixo,
assoreando vias fluviais ou obstruindo vias pluviais.
Este comportamento é também pouco condizente com a racionalidade
econômica, posto que cálculos recentes publicados na revista Nature e
mencionados por Lovins, Lovins & Hawken (1999) estimam o valor de todos os
serviços dos ecossistemas da Terra em cerca de US$ 33 trilhões, sendo que
para a maior parte destes serviços não h á um substituto a qualquer preço e
não é possível a vida na ausência deles.
Para tentar contornar estas condutas há a abordagem do Capitalismo
Natural, que consiste no sistema capitalista quando este avalia
apropriadamente o capital natural. Segundo Lovins, Lovins & Hawken (1 999)
para se atingir plenamente a etapa do Capitalismo Natural é preciso:
Aumentar a produtividade dos recursos naturais;
Redimensionar a produção de acordo com modelos biológicos;
Mudar para um modelo de negócios baseado em soluções;
Reinvestir no capital natural.
Klassen e McLaughlin (1996), em uma pesquisa baseada em estudo de
eventos e na Hipótese de Mercados Eficientes, tentam demonstrar o papel
crucial que a gestão ambiental pode desempenhar na performance financeira
de uma empresa. 0 s resultados mostraram retornos anormais positivos das
ações associados a eventos favoráveis na gestão ambiental (como o
recebimento de prêmios) e retornos anormais negativos no caso inverso. Em
média, na amostra em questão, o valor de mercado das empresas avaliadas se
elevou em US$ 80,5 milhões depois das ocorrências positivas e caiu US$ 390
milhões no caso das negativas.
De posse dos fundamentos expostos nesta seção e que servem de
alicerce teórico para todo o estudo, a pesquisa prossegue com a descrição dos
conceitos e exemplos de Políticas e Responsabilidades Ambientais, com um
debate acerca dos papéis do Estado e do Mercado como agentes de
fiscalização, regulamentação e execução, bem como de coerção. A interação
entre meio governamental e empresarial fica evidenciada a seguir.
2.2. Políticas e Responsabilidades Am bientais
Nesta seção são apresentadas as Dificuldades Institucionais para a
formulação e execução de Políticas Ambientais, dado o permanente conflito de
interesses entre Mercado e Estado que propõem soluções alternativas para
lidar com as questões ligadas ao meio ambiente. O conceito de
Responsabilidade Ambienta1 e importantes fundamentos como o Princípio do
Poluidor-Pagador e como as abordagens de interiorização dos custos
ambientais na indústria (Comando e Controle, Instrumentos Econômicos e
Auto-Regulação) também são expostos em seguida.
2.2.1. Políticas Am bientais: Dejnições e Dificuldades Institucionais
A partir da leitura da teoria econômica neoclássica, as políticas
ambientais devem partir do conceito de externalidades e propriedade coletiva
do bem comum. As bases para a definição de políticas ambientais, segundo
Menezes (2000) são:
Princípio do Poluidor-Pagador (PPP) segundo o qual o poluidor deve
arcar com os custos das medidas para redução da degradação
ambiental, (este conceito será melhor exposto na subseção 2.2.3.);
Determinação do Nível Ótimo de Poluição, através de critérios para a
qualidade do ar e das águas;
Definição de prioridades de intervenção de acordo com a análise de
custos e benefícios; e
Atribuição de preços aos "serviços" ambientais via tributação, cotas e
subsídios.
Já existem formulações que contemplariam as situações de propriedade
coletiva, como, por exemplo, a emissão de títulos pelas agências reguladoras
que permitam ao proprietário descarregar uma quantidade específica de
dejetos em um habitat. As agências venderiam uma quantidade limitada de
títulos, fixando a quantidade máxima de dejetos que cada habitat pode
comportar. Uma vez vendidos todos os títulos, qualquer agente que necessite
descarregar dejetos no ambiente em questão teria que adquirir os direitos de
quem os possua. O custo da poluição citada poderia ser valorado através dos
custos extras com o tratamento do habitat, das despesas médicas e mortes
causadas pela degradação do ambiente. Assim, os projetos que acarretassem
mais poluição não seriam somente avaliados pela lógica do custo/beneficio
privado, mas também pela lógica dos custos e benefícios sociais gerados.
O estudo de políticas públicas ambientais tem que considerar a
existência de falhas de mercado tais como a impossibilidade ou incerteza da
definição da propriedade privada sobre certos recursos naturais e a grande
ocorrência de externalidades negativas sobre a natureza.
Conforme Locke (1973), tudo que está na natureza é um bem comum a
todos os indivíduos até que um deles (ou vários) colha fragmentos dela, que
assim se tornam privados. Logo, o critério para definir a propriedade privada
residiria na influência do "trabalho humano". Neste ponto se verifica uma
semelhança entre os recursos naturais e os bens públicos, pois são de todos,
mas de ninguém em específico.
A grande questão que surge para Drummond (2000) é como definir o
preço de um recurso natural quando o preço pode ser definido como um
limitador do número de consumidores potenciais de um bem. Um bem sem
preço em uma economia onde todos os bens têm preço tende a ser sucateado
pelo superconsumo.
No que tange as externalidades negativas - concebidas como um custo
pode-se exemplificar pelo despejo de resíduos poluentes que venha a degradar
o ambiente que margeia determinada indústria.
Na legislação brasileira, a fauna selvagem em seu habitat latural é de
responsabilidade federal, sendo, portanto, bem de interesse difuso (Lei 7347 -
1985). Todavia, a legislação brasileira evoluiu para a proteção dos habitats -
ou seja, em lugar de defender somente os peixes de um rio, há de se garantir
que a água apresente qualidade satisfatória, o que por outro lado envolve
aqueles supracitados comportamentos peculiares as ações coletivas, como a
existência de free riders.
Uma vez que o mercado funciona em regime de competição extremada,
os produtores que mais despejassem suas externalidades sobre um meio
ambiente desprovido de proteção obteriam vantagens. Porém, a partir de certo
ponto, diversas externalidades emitidas simultaneamente podem gerar
situações de degradação de tal porte que poderiam ser até contra-produtivas.
Por conseguinte, em situações complexas e urgentes se faz imperativa uma
restrição as atividades poluidoras por via de coerção do governo.
Todavia, as vezes é possível combinar mecanismos de autoridade (ou
de "comando e controle") com instrumentos de mercado, conjugando e
ponderando fatores como as pressões da opinião pública, a evidência de
prejuízos ambientais, econômicos e fiscais, o número e a força política das
diferentes empresas envolvidas, a qualidade técnica e a força política dos
órgãos de qualidade ambiental e os tipos de recursos naturais, dentre outros.
Há uma solução oposta, que é a criação de "paraísos de poluição",
conforme nomenclatura de Drummond (2000), que são aquelas áreas cujas
comunidades e governos decidem claramente não criar sanções antipoluição
com o intuito de atrair investimentos que acarretem ganhos fiscais elou gerem
empregos. Esta descrição de ambiente institucional é quase irreal no Brasil,
posto que a tradição de centralização política impõe uma legislação ambiental
uniforme para todos os estados.
Este tipo de solução tem como exemplo o estado norte-americano do
Alabama, cuja legislação ambiental é a menos restritiva do país há décadas.
No entanto, além de ser modo contumaz o estado com pior qualidade
ambiental do país, o Alabama é também o estado mais pobre. Afinal, as
indústrias atraídas acabam empregando tecnologia defasada, apresentando
menor produtividade e pagando menos por mão-de-obra menos qualificada.
Sem mencionar a presença de maior quantidade de externalidades negativas
que representam custos na forma de danos a saúde, danos ao solo, etc.
Consiste em questão de fundamental relevância a discussão do papel do
Estado no tratamento das questões ambientais, posto que com a derrocada do
modelo de Estado mais intervencionista em prol do modelo vigente, que prega
o enxugamento das máquinas estatais, as políticas públicas ambientais que se
façam necessárias podem ficar desprovidas do devido respaldo. Além disso,
convém ressaltar que a degradação ambienta1 deve ser encarada, por vezes,
internacionalmente, isto é, além das fronteiras físicas, o que de certo modo,
corrobora a perda de relevância dos Estados nacionais no poder decisório.
Contudo, como afirmam Tavares e Fiori (1 993), pode-se concluir que:
"apenas em países que chegaram tardiamente a era ultraliberal, ainda
se defende incondicionalmente a possibilidade de que os mercados por
si mesmos sejam capazes de promover uma reorganização industrial de
longo prazo e dar conta, simultaneamente, de seus efeitos sociais
indesejáveis. Fora deste circuito, nos países mais desenvolvidos, a
questão que se coloca já não é Estado versus não-Estado, e sim como
refortalecer o Estado sem suspender o processo de globalizaçãol~.(p. 44)
Na tentativa de responder as teorias do crescimento contínuo - baseado
na renovação das tecnologias - em um planeta "finito", surgiu o conceito do
Steady State (Estado Estacionário) que prega a impossibilidade do crescimento
ilimitado propalado pelas teorias econômicas keynesianas e neoclássicas, dado
que haveria um ponto onde as atividades econômicas de produção não
criariam ou destruiriam a matéria e a energia, apenas as reordenariam.
Sendo a análise de custo-benefício um instrumento fundamental para o
processo decisório de investimentos, poderia, também, incorporar os custos e
benefícios ambientais, desde que fossem de âmbito privado e fosse
estabelecida a quantificação de um nível ótimo de poluição, onde produtores e
consumidores maximizassem seu bem-estar. Porém, com os bens de
propriedade comum (ou o ar, a água, o "capital natural"), o cálculo é mais
complexo.
2.2.2. Responsabilidades Am bientais
As responsabilidades ambientais são os efeitos causados por um agente
-- - - econ6mico- - scbre- --o- - meio--ambknte-qi;ie---a.ea~-pr~~~ig~ç~~~-
financeiras para este agente no sentido de uma compensação futura. Também
podem ser denominadas de "passivo ambiental", uma vez que correspondem a
uma dívida que deverá ser paga posteriormente.
Para Tostes (2000), as condições prévias para o reconhecimento de tais
responsabilidades são:
A liberação de materiais tóxicos elou geração de resíduos que
possam representar danos presentes elou futuros;
A avaliaflo dos danos causados elou das atitudes para evitá-los; e
A existência de instrumentos legais para atribuir obrigações
financeiras ou ações de reparação aos agentes agressores.
Ainda conforme Tostes (2000), as responsabilidades ambientais podem
ser enquadradas em algumas categorias mais amplas:
Responsabilidades de Conformidade: São aquelas referentes a
observância das regulações vigentes. Os custos de conformidade podem ser
pequenos (elaboração de relatórios) ou mesmo elevados (instalações de
tratamento de resíduos).
Responsabilidades de Remediação: Os custos de remediação se
aplicam, invariavelmente, a locais já degradados por atividades passadas e
para os quais as responsabilidades são reconhecidas. Poderiam ser
minimizados no caso da observância das responsabilidades de conformidade
no passado.
Multas e Penalidades: O não cumprimento das responsabilidades de
conformidade, além de gerar potenciais responsabilidades de remediação,
pode acarretar multas e sanções ao agressor, emitidas por órgãos de controle
ou pela justiça. O valor da multa deve normalmente corresponder a quantia
poupada pela empresa por conta de não tomar as atitudes em consonância
com a regulaçáo.
Responsabilidades de Compensação: São os pagamentos de
compensações a agentes que, mesmo com a adoção das medidas de
conformidade, sofreram danos a saúde, bem-estar, propriedades ou negócios.
Punição por Danos: Ocorre quando o agressor é flagrantemente
negligente, causando danos sensíveis a outros agentes. Geralmente, o valor
calculado é muito superior ao dano causado, conferindo, portanto, o caráter
punitivo.
Danos a Recursos Naturais: Decorrem do reconhecimento de danos
causados a recursos naturais, por conta de poluição ou perda de valor
econômico. São aplicados a recursos naturais desprovidos de propriedade,
estando sob alguma forma de controle governamental.
As empresas devem estar cientes das responsabilidades incorridas em
determinado período, mas que gerarão efeitos financeiros no futuro. Estas
responsabilidades futuras devem ser garantidas por recursos acumulados
durante a operação da empresa e aplicados em um fundo específico, o que por
vezes requer novos conceitos contábeis e econômicos.
As responsabilidades que podem permanecer após o encerramento das
atividades da empresa são foco de maior preocupação, posto que devem ser
provisionadas enquanto a empresa está em atividade. Contudo, pelas práticas
contábeis usuais, não há um item em balanço que vise a cobrir
responsabilidades pós-encerramento das atividades. Assim, passa a ser
imperativo a constituição de um fundo de responsabilidade para garantir a
cobertura deste passivo ambiental.
O grau de gerenciamento das responsabilidades futuras envolve o
desenvolvimento de um sistema constituído em torno de um fundo financeiro
de responsabilidade, via recolhimentos junto aos poluidores. O governo
participa estabelecendo regulações para o reconhecimento de
responsabilidades, sua valoração econômica, constituição e administração dos
fundos. Outros agentes podem desempenhar papel relevante, como a
comunidade em que se desenvolve a atividade e consultorias contábeis. Para
Tostes (2000), o desenvolvimento de um fundo específico para o
gerenciamento de responsabilidades futuras envolverá atividades tais como:
Reconhecimento das Responsabilidades: Engloba o reconhecimento
do dano ambiental, a forma de mitigá-lo, e a efetivação de regulações
necessárias para a atribuição das responsabilidades ao causador;
Avaliação das Responsabilidades Ambientais: Refere-se a estimativa
de valor a ser provisionado para a constituição do fundo;
Provisão dos Recursos: É feita através de pagamentos feitos pelos
agressores e sua capitalização pode ser feita em fundos internos ou
externos a própria empresa; e
Administração dos Fundos: O gerenciamento dos fundos pode estar
distribuído pelas empresas ou centralizado no governo.
2.2.3. Mecanismos de Interiorização dos Custos Ambientais na Indústria
A atuação da sociedade civil e dos governos sobre a indústria, a fim de
que esta incorpore a problemática ambiental em suas atividades produtivas
vem se intensificando através de diversas formas de pressões e
regulamentações.
O mercado desempenha importante papel na motivação da mudança de
comportamento e na adoção de medidas que protejam o meio ambiente.
Entretanto, o mercado falha com freqüência e para compensar tais falhas e
neutralizar as externalidades negativas, os governos têm interferido
constantemente. Muitas vezes, o princípio é o da internalização ou
interiorização dos custos ambientais, apesar de difícil operacionalização.
O Princípio do Poluidor-Pagador (PPP) foi adotado pela Organização
para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) em 1972 para alocar
os custos de controle da poluição e "está baseado no conceito de que o
poluidor deveria pagar os custos de todas as medidas ligadas a prevenção e ao
controle da poluição por ele gerada". Assim, aqueles que estão em melhores
condições para tomar as medidas de controle - os agressores - devem arcar
com as responsabilidades financeiras. (TOSTES, 2000).
Pelo PPP, o poluidor não deve receber quaisquer tipos de benefícios
(subsídio ou incentivo) para controlar a poluição que ele mesmo gera. Além
disso, segundo Tostes (2000), o PPP prega que:
O poluidor deve arcar com o custo das medidas administrativas
empreendidas pelo governo para regular e fiscalizar as emissões;
Os custos dos danos ambientais residuais devem ser incorporados -
isto é, o poluidor deve pagar pelos danos da poluição residual
gerada, mesmo se estiver em conformidade com a regulações
vigentes; e
0 s custos referentes ao controle e a prevenção da poluição acidental
também devem ser incluídos.
Os esforços para internalizar os custos ambientais e generalizar a
aplicação do PPP devem levar a uma alteração no modo como os mercados de
capitais avaliam as empresas, fazendo com que as que seguem os princípios
do desenvolvimento sustentável sejam percebidas como de maior valor.
Sob o PPP, segundo Sanches (1997), há em vigor três mecanismos de
internalização dos custos ambientais na indústria:
Comando e Controle: regras governamentais com padrões de
desempenho para as tecnologias e os produtos, etc.
Segundo a abordagem do Comando e Controle, as normas e padrões
definem os objetivos ambientais e estabelecem as quantidades de
concentração de substâncias que podem ser lançadas no ambiente. Conforme
Sanches (I 997), são de três tipos principais: Qualidade Ambiental; Emissão; e
Produtos. Na verdade, se julga imperativo um rígido monitoramento para que
se apliquem as devidas sanções elou multas caso se incorra nas infrações.
Esta abordagem é considerada por muitos autores como a mais
conveniente para o governo e as indústrias, pois ambos são mais experientes
no que diz respeito a regulamentação do que em outros mecanismos.
As principais críticas dizem respeito a sua eficiência para interiorizar os
custos ambientais na indústria, posto que os recursos e o tempo empregados
pelas agências governamentais são elevados. Além disso, esta abordagem
exige uma certa padronização da tecnologia, diminuindo os incentivos pela
busca da inovação. Em suma, se trata de um instrumento que incentiva as
práticas reativas as regras, e não a busca de tecnologias alternativas.
O segundo mecanismo, assim como o Comando e Controle, ainda
implica em presença do Estado com papel regulador:
Instrumentos Econômicos: esforços para alterar os preços dos
recursos e dos bens e serviços no mercado via ação governamental
que afete os custos de produção elou consumo.
Trata-se da política ambienta1 governamental diretamente derivada da
teoria das externalidades. Seu mecanismo visa a incorporar nos preços dos
produtos, os custos da poluição e dos danos ambientais, induzindo alteração
no comportamento dos consumidores. Para Barde (1989), os instrumentos
econômicos operam como incentivos financeiros aos poluidores, que
selecionam as soluções mais vantajosas: poluir e pagar, ou investir no controle
da poluição para evitar pagar. São de quatro tipos principais:
Licenças Negociáveis: cotas de poluição, ou direitos para usar o meio
ambiente. As autoridades podem alocá-10s gratuitamente ou vendê-los. Até
1997 só haviam sido utilizadas por quatro países (Alemanha, Austrália, Canadá
e EUA) com baixo custo de implantação. Porém, há dúvidas quanto a sua
viabilidade em países em desenvolvimento onde a formação de tal mercado
seria de maior grau de dificuldade,
Cobranças e Taxas sobre Emissões: taxa a ser cobrada sobre unidades
incrementais de poluição.
Cobranças sobre Produtos: taxas que incidem sobre o preço do produto
que cause algum tipo de poluição na fase de produção, consumo ou descarte,
com a intenção de incentivar alternativas mais eficientes no combate à
poluição.
Sistemas Depósito-Restituição: caução, associada a compra de um
produto cuja restituição é vinculada a devolução da embalagem- ou- do- próprio------
produto após o seu uso, com a intenção de estimular a reciclagem.
Nos países desenvolvidos esta abordagem tem prevalecido sobre a de
Comando e Controle, pois há indícios de que aumente a eficiência da gestão
am biental apresentando custos mais baixos.
O terceiro mecanismo, que supõe, maior maturidade da economia em
questão e seus agentes é apresentado em seguida:
Auto-Regulação: iniciativas tomadas pelas empresas ou por setores
da indústria a fim de se auto-regularem mediante a adoção de
padrões, monitoramento, etc.
As primeiras formas de auto-regulação no âmbito ambienta1 ocorreram
mediante acordos voluntários - contrato entre autoridades públicas e a
indústria, por exemplo, com várias metas acertadas. Cabe ao governo somente
a garantia de não adotar nenhuma regulamentação relativa a atividade coberta
pelo acordo voluntário enquanto este estiver em vigência.
O benefício principal que estes acordos acarretam é o fato de
anteciparem regulamentações e adaptarem as indústrias. A principal crítica
reside na pequena confiança no poder do setor privado de se autopoliciar. Já
as Organizações Não-Governamentais (ONGs) criticam a falta de penalidades
ou a ausência de poder legal.
As políticas e responsabilidades ambientais necessitam sempre de
respaldo na legislação vigente. Na seção seguinte são expostas algumas leis
ambientais brasileiras e seus efeitos sobre a viabilidade econômica da indústria
de embalagens PET, com especial ênfase para o Relatório Preliminar da
Política Nacional de Resíduos Sólidos.
2.3. Legislagão Am biental Brasileira
Esta seção trata do arcabouço jurídico que serve de guia para a
imputação dos corretos custos e benefícios na indústria de reaproveitamento
de embalagens. Uma primeira subseção expõe os conceitos gerais da
Legislação Ambienta1 Brasileira no presente momento e a subseção seguinte
trata do Relatório Preliminar da Política Nacional de Resíduos Sólidos que
tramita no Congresso Nacional e cujo papel é o de orientar o futuro da indústria
de tratamento e reprocessamento de resíduos sólidos, como no caso do PET
nas embalagens.
2.3.1. Estrutura e Conceitos Gerais da Legislação Ambienta2 Brasileira
"O pertencimento genérico dos recursos (naturais) a comunidade ou ao
Estado tem se mostrado insuficiente para defender os recursos de
propriedade comum contra as agressões à sua integridade"
(DRUMMOND, 2000, p.21).
Em seguida são expostos alguns exemplos sobre a legislação brasileira
para tópicos específicos no que concerne aos recursos naturais:
Uso da terra: Não há impedimentos para um uso predatório. Por
conseguinte, a perda da fertilidade do solo só diz respeito ao seu
dono. Apesar da sociedade como um todo perder quando a terra é
exaurida imprevidentemente, não há cobrança de qualquer tipo de
sanção ao proprietário;
Exploração florestal: Há limites claros para o uso da flora em terras
particulares, afirmando que se trata de interesse de toda a
comunidade. Todavia o desmatamento crescente no país denota que
o Estado não é capaz de controlar eficazmente as florestas;
Exploração de Minérios e de Águas: O caráter restritivo está
configurado na dissociação entre a propriedade privada da terra e a
propriedade privada dos bens minerais e das águas associados a
terra. Assim, todos as minas e todos os recursos hídricos dependem
de concessões públicas; e
Fauna Selvagem: Em um grau de restrição máximo, a lei prevê que a
fauna nativa pertence somente ao poder público federal, não
podendo ser mortos, capturados, vendidos ou comprados.
Segundo a lei 7347185, (alterada pelas Leis No 8.078190, No 8.884194 e
NO 9494197, e pela Medida Provisória no 1.914-4, 28.07.99), conforme a página
de internet www.pareceresjuridicos.comlmini~direito~ambienta~lei7347. htm
(2002), os recursos ambientais, quando desprovidos de proteção por parte de
seus gestores públicos, podem ser defendidos pela via judicial, pela iniciativa
de agentes particulares, não estando mais necessariamente atrelados a inépcia
e morosidade peculiar da máquina burocrática do Estado. A partir desta lei,
conhecida como a "Lei dos Interesses Difusos" a geração de externalidades
negativas tendeu a ser menos impune, o que contribuiu para arrefecer o
consumo irracional dos recursos naturais.
A Lei de Política Nacional do Meio Ambiente (lei federal 6938181) criou o
Sistema de Licenciamento de Atividades Poluidoras (SLAP), segundo o qual
toda atividade poluidora precisa de três licenças concedidas pelo órgão
estadual de qualidade ambiental, todas elas revogáveis, que dependem de
extensa checagem técnica.
Uma vasta gama de atividades econômicas teve o seu licenciamento
sujeito à aprovação pelos órgãos de qualidade ambiental, a partir de
detalhados estudos de impacto ambiental prévios (EIAs) e relatórios de impacto
ambienta1 (RIMAS).
2.3.2. A Política Nacional de Resíduos Sólidos(PNR$)
O Relatório Preliminar da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS),
tramita no Congresso Nacional desde '1 991, quando de sua apresentação, e
estabelece diretrizes e normas para o gerenciamento dos diferentes tipos de
resíduos sólidos. A PNRS atual acrescenta artigo a Lei no 9.605, de 12 de
fevereiro de 1998 e dá outras providências, apresentando na Subseção Xl -
dedicada as embalagens - os Artigos 106 a 120 que indicam a divisão de
responsabilidades quanto ao manejo, disposição e reprocessamento das
embalagens:
No Artigo 106 é determinado que são responsáveis pelo gerenciamento
dos resíduos de embalagens:
"a) o fabricante e o importador da embalagem quando esfa constituir
produto de venda específico e independente, com utilidade própria,
colocado a disposição do consumido^ e
b) o utilizador da embalagem ou envasador, quando esta constituir
veículo necessário ao acondicionamento do produto fabricado; "
No presente estudo, as embalagens de PET, se enquadram no segundo
caso, dado que a embalagem é o veículo necessário para acondicionar outros
produtos - mais notadamente refrigerantes e
responsabilidade de gerenciamento dos resíduos
empresa de bebidas que faz uso da embalagem.
Entretanto, o Artigo 107 afirma que caso a
águas minerais. Assim, a
cabe ao envasador, isto é, a
embalagem seja enquadrada
como veículo necessário ao acondicionamento do produto; -"i: ;- -o- fabricante-ou- --
importador e o utilizador ou envasador são solidariamente responsáveis pelo
gerenciamento da coleta e retorno da embalagem ou resíduo de embalagem",
Sendo assim o fabricante ou importador e o utilizador ou envasador
deverão elaborar, anualmente, um Plano de Gestão de Resíduos Especiais de
Embalagens, conforme dita o Artigo 108.
O Artigo 109 é mais explícito ao afirmar que: "... o fabricante ou o
imporfador e o utilizador ou envasador são obrigados a receber, em retorno,
embalagens ou resíduos de embalagens por eles fabricados ou utilizados,
desde que isentas de contaminação".
A PNRS também afirma no Artigo I I I que quando da implementação de
sistemas de coleta e retorno pelo fabricante ou pelo fabricante e pelo utilizador
em conjunto, os pontos de venda são obrigados a receber em depósito as
embalagens ou resíduos de embalagens.
No Artigo 11 6 fica estabelecido que; Ir,.. os fabricantes ou imporfadores,
através dos distribuidores e pontos de venda, deverão remunerar
financeiramente as embalagens e os resíduos de embalagens retomados, pelo
consumidor, baseados em criférios objetivos, uniformes e publicamente
divulgados".
No Anexo 1 do presente trabalho está exposta na íntegra a Subseção XI
do Relatório Preliminar da Política Nacional de Resíduos Sólidos, sendo
possível a verificação de maior detalhamento do arcabouço regulatório no que
diz respeito as embalagens, foco deste estudo.
Após a exposição de conceitos econômicos, políticos e jurídicos, em
seguida, o PET - foco do estudo - é apresentado e analisado detalhadamente
em suas características, perspectivas de crescimento, custos e receitas,
aplicações e clientes preferenciais, e potenciais danos que pode acarretar para
a sociedade quando indevidamente manejado. Também nesta seção, a
atividade de reciclagem é conceituada, bem como o valor adicionado que esta
proporciona para a sociedade.
2.4. O Polietileno Tereftalato - PET
Nesta seção a matéria-prima do estudo é debatida em maior grau de
especificidade, com breve histórico de sua expansão, seus usos, produtores,
perspectivas e possibilidades de reaproveitamento. Na subseção final, os
plásticos e o PET são caracterizados e em seguida, a atividade de reciclagem
é definida.
2.4.1. PET: Conceituação e Reciclagem
A contribuição do plástico para a viabilidade econômica da reciclagem
de lixo em geral é potencialmente muito elevada, sobretudo em função da
economia de matéria-prima que acarreta. Contudo, apresenta uma relação
preço-volume desfavorável, razão pela qual não é considerado material tão
atrativo para sucateiros e catadores - dos quais toda a cadeia de reciclagem
depende, na ausência de programas mais efetivos de coleta seletiva - aspecto
em que se assemelha a lata de aço, embora no caso desta, a baixa
atratividade decorra da insatisfatória relação preço-peso.
O consumo de plásticos vem crescendo mundialmente a taxas muito
elevadas. De um total de apenas seis milhões de toneladas consumidas em
1960, quando da introdução do material, passou-se a 53 milhões de toneladas
em 1980 e a 1 10 milhões de toneladas em 1994. (CALDERONI, 1999, p.225).
Na tabela 1 fica evidenciado o crescimento do consumo de plástico, dado que
este perfazia 1,9% do total de resíduos no município de São Paulo em 1969,
9% em 1990 e já alcançava 22,9% em 1998, o que denota a importância dos
materiais plásticos quando o tema é reciclagem atualmente.
Tabela 1 - Variação na Composição dos Resíduos Sólidos em São Paulo (em %)
No que diz respeito as empresas fornecedoras de plásticos
reprocessados para fins de reciclagem é importante ressaltar as questões
relativas as dificuldades legais e tributárias, bem como a escala das operações
e dos investimentos requeridos, pois os recicladores enfrentam o complexo
modelo de competências administrativas (federal, estadual e municipal);
ausência de legislação específica sobre o manejo de lixo e, ainda, o fato de o
lixo plástico ser o único sujeito a taxação federal - o plástico não é isento de IPI
e sofre de bitributação quanto ao ICMS.
Desenvolvido pelos químicos ingleses Whinfield e Dickson em 1941, o
PET (polietileno tereftalato) é um material termoplástico que pode ser
reprocessado diversas vezes pelo mesmo ou por outro processo de
transformação. Quando aquecidos a temperaturas adequadas, esses plásticos
amolecem, fundem e podem ser novamente moldados.
As embalagens fabricadas com PET são ideais para o acondicionamento
de alimentos, devido as suas propriedades de "barreiras" que impossibilitam a
troca de gases e absorção de odores externos, mantendo as características
dos produtos envasados próximas das originais. Além disso, são 100%
recicláveis.
É importante ressaltar que se deve seguir um procedimento padronizado
para se reciclar o PET, que supõe que a embalagem entregue para a
reciclagem deverá estar amassada, sem o ar e sem resíduos em seu interior.
No caso de garrafas, deve-se colocar de volta a tampa de rosca bem vedada,
para impedir a entrada do ar. Este procedimento é necessário, pois ainda não
existe um "amassador" propriamente desenvolvido para compactar embalagens
PET.
Os principais benefícios da reciclagem de PET consistem em:
Redução do volume de lixo coletado, que é removido para aterros
sanitários, proporcionando melhorias sensíveis no processo de
decomposição da matéria orgânica, uma vez que o plástico
impermeabiliza as camadas em decomposiçáo, prejudicando a
circulação de gases e líquidos nos aterros, (o tempo de degradação
natural do PET é superior a I00 anos);
Economia de energia elétrica e petróleo, pois a maioria dos plásticos
é derivada do petróleo e um quilo de plástico equivale
aproximadamente a um litro de petróleo em energia;
Geração de empregos para catadores, sucateiros, operários, etc.; e
Menor preço para o consumidor dos artefatos produzidos com
plástico reciclado que são aproximadamente 30% mais baratos do
que os mesmos produtos fabricados com matéria-prima virgem.
Do total reciclado de PET, 40% é destinado para a indústria têxtil, que é
a principal aplicação para o produto. Atualmente, o maior mercado para o PET
pós-consumo no Brasil é a produçiio de fibras para a fabricação de cordas
(multifilamento), fios de costura (monofilamento) e cerdas de vassouras e
escovas. Outra parcela relevante é destinada a moldagem de autopeças,
garrafas de detergentes, carpetes e enchimentos de travesseiros.
O mercado mundial de embalagens PET produzidas com material
reciclado está em expansão. Os exemplos são as garrafas de bebidas em
multicamadas e as remoldadas a partir de flocos descontaminados de PET,
além das bandejas de frutas e dos suportes para embalagens de biscoitos.
Nos EUA e Europa, os consumidores podem comprar refrigerantes
envasados em PET contendo 40% de material reciclado. Essa aplicação
deverá crescer com o avanço da reciclagem química deste material. A
reciclagem, além de desviar o lixo plástico dos aterros, utiliza apenas 30% da
energia necessária para a produção da resina virgem. O material ainda tem a
vantagem de poder ser reciclado várias vezes sem prejudicar a qualidade do
produto final. (CEMPRE, 2002).
Segundo dados do CEMPRE (2002), aproximadamente 21% da resina
PET produzida no Brasil foi reciclada em 1999. As garrafas recicladas provêm
de coleta através de catadores, além de fábricas e da coleta seletiva operada
por municípios. Os programas oficiais de coleta seletiva, que existem em mais
de 135 cidades do país, recuperam por volta de 1000 toneladas por ano, mas
ainda estão longe de abranger parcela relevante da população nacional. Além
de garrafas descartáveis, existem no mercado nacional 70 milhões de garrafas
de refrigerantes retornáveis, produzidas com este material.
Pelo terceiro ano seguido a taxa de reciclagem de PET caiu de 27% em
1997 para 25% em 1998 e 23,7 % em 1999 nos EUA. No entanto a quantidade
absoluta de garrafas recicladas aumentou de 294 mil toneladas em 1997, para
320 mil em 1998 e para 350 mil em 1999, o que evidencia que o aumento no
uso da resina continua sendo relevante e não é acompanhado na mesma
proporção pelo aumento da capacidade de reciclar.
Segundo o portal eletrônico www.reciclaveis.com.br (2002), as linhas de
moagem, lavagem e descontaminação de PET pós-consumo começaram a ser
comercializadas no Brasil em meados de 1995. O grande crescimento deste
mercado começou a ocorrer em meados de 1999, época em que aumentou em
muito o número das linhas. Assim como no caso dos outros plásticos, o PET
pós-consumo é coletado na sua grande maioria junto a sucateiros, que
normalmente por falta de uma política adequada quanto aos resíduos ainda os
retiram diretamente dos "lixõesl' - onde já perfazem cerca de 4% do peso e
40% do volume depositado.
As condições de obtenção do material que se pretende moer e lavar
influencia muito na qualidade final do produto reprocessado, por conseguinte,
deve-se considerar seriamente a implantação do conceito das Reverse
Vending Machines (RVM), que são máquinas onde o consumidor pode
depositar as garrafas PET utilizadas vazias trocando-as por cupons que
correspondem a um determinado valor, no próprio ponto de venda original. As
RVM's são consideradas uma grande promessa no mercado de coleta de
materiais, pois podem ser colocadas em postos de gasolina, supermercados,
etc. Além disso, as RVM1s estariam em total concordância com os artigos 11 1 e
116 da PNRS, citados na seção 2.3.2, que versam sobre a obrigatoriedade dos
pontos de venda em receber em retorno as embalagens
remunerar o consumidor propriamente. Afinal, esta seria uma
com um dos grandes problemas da reciclagem do PET que
pós-consumo e
maneira de lidar
reside na coleta
incipiente do material.
O PET já pode ser considerado uma commodity sendo seus principais
fatores de competitividade, a produtividade e o preço. Algumas diretrizes para
implantação de uma atividade de reciclagem de PET incluem:
Pesquisar em todos os órgãos governamentais ligados a área em
questão e indagar sobre programas de coleta de onde se possa
comprar o material, e o preço do mesmo;
Desenvolver parcerias com ONG's e empresas privadas;
Desenvolver canais de compra de material em outras regiões; e
Desenvolver seu próprio programa de coleta.
Deve-se procurar investir em equipamentos que tenham o máximo de
automação propiciando a maior produção possível. A maioria das linhas está
projetada para capacidades entre 500 e 600 kg por hora, que definem uma
produção média de aproximadamente 100 toneladaslmês de material. O PET
começa a demonstrar rentabilidade a partir deste volume de 100
toneladas/mês, e assim como o que acontece com linhas de revalorização de
outros tipos de plásticos, o ideal é pensar em adicionar valor ao produto final,
isto é: um negócio, por exemplo, que preveja a granulação do material, que no
caso do PET é mais cara ainda devido ao processo de secagem do material.
Segundo estudo publicado no portal eletrônico www.recic1aveis.com.br
(2002)~ abaixo é apresentada uma estimativa de custos e necessidades de um
projeto de Unidades de Moagem e Lavagem de PET para até I 00
toneladaslmês:
Linhas de Moagem e Lavagem = US$70.000,00 a US$170.000,00
Tratamento de Efluentes = US$ 15.000,00 a US$ 25.000,OO
Área = 1000 a 2000 m2 (estimada)
Galpão = 300 a 400 m2 (estimada)
Energia = transformador de 125 a 500 KVA
Conforme dados do site www.plasticoonline.com.br (2001), enquanto o
Brasil destinou 81% da demanda de PET para a fabricação de garrafas de
refrigerantes em 2000, no mercado mundial a participação da resina neste
segmento não ultrapassou os 45%. No envase de água mineral, são 10% do
Brasil contra 22% na média mundial. Nos demais nichos, entre eles os de
embalagens diversas e outros produtos, a diferença vai de 4% para 27%.
Segundo as estatísticas, a resina com um dos maiores índices de
crescimento em consumo no País - acima de 2.200% na última década - ainda
tem muito campo para explorar. Para Leandro Fraga Guimarães, gerente de
marketing e planejamento da maior produtora da resina no país, a Rhodia-Ster,
as embalagens de refrigerantes tendem a permanecer com a fatia mais
expressiva da demanda nacional e num patamar mais elevado em relação ao
resto do mundo, porém as diferenças tendem a cair. Basta comparar com os
índices nacionais registrados em 1999, quando os refrigerantes detinham 83%,
a água mineral 6% e o óleo 4%.
A análise permite observar ainda o grande salto do segmento de água
mineral, um dos que mais cresceu nos últimos anos. Espera-se que o uso do
PET para o envase de água deva continuar crescendo na ordem de dois dígitos
por ano.
Alfredo de Francesco Netto, gerente de compras corporativas da
Eastman, empresa da qual provém relevante parcela das importações da
resina no país, aposta no avanço do PET nos segmentos de higiene e limpeza,
cosméticos e alimentos, em substituição as demais resinas plásticas, entre
outros materiais. Ressalta ainda a tendência de uso do material para o envase
de cerveja. "Em breve, o Brasil também comercializará cerveja em garrafas de
PET, a exemplo do que já acontece há algum tempo nos Estados Unidos e
Europa e mais recentemente na Argentina", defende.
0 s especialistas apostam no potencial de crescimento do mercado de
águas. A substituição do policarbonato (PC) e do polipropileno (PP) nos
garrafões de 20 litros consiste em grande desafio para o material. Porém, a
aplicação vem crescendo bastante em vários países.
As vantagens dessa resina em relação ao PP são expressivas. Embora
mais caro, o PET é mais leve, resistente e durável, segundo dizem os
fabricantes da resina. Nesse caso, o argumento refere-se a relação custo-
benefício da embalagem. Já o PC, material maís tradicional para essa
aplicação, apresenta resultados equivalentes ao PET, em termos de
resistência, transparência e durabilidade, porém com preço mais elevado.
Em 2000, o Brasil consumiu aproximadamente 334 mil t de PET, quase
10% a mais em relação a 1999, segundo dados do CEMPRE. A Rhodia-Ster é
o maior fabricante nacional, com 180 mil t/ano de capacidade produtiva na
planta de Poços de Caldas (MG).
De acordo com a Associação Brasileira da Indústria do Plástico
(Abiplast), 80% da resina destina-se ao segmento de sopro, 10% seguem para
a extrusão e 10% para outros processos. Na tabela 2 é possível visualizar as
empresas nacionais produtoras da resina que disputam o mercado. Estas
congregam desde pequenos fabricantes de capital nacional, como a Proppet, e
ainda a Leverdin e a Fibra Nordeste, até a líder destacada, a multinacional
Rhodia-Ster.
Tabela 2 - Capacidade Instalada em ToneladaIAno das Empresas Produtoras
da Resina PET - 1999
As importações ajudam a suprir a demanda não satisfeita pela produção
interna. De acordo com a Rhodia-Ster, o País importa cerca de 140.000
toneladas por ano, sendo relevante parcela (entre 50% e 60%) para atender
aos transformadores de Manaus. Os números divulgados pelo CEMPRE,
Empresa
Ledervin
Fibra Nordeste Polyenka
Proppet Rhodia-Ster
contudo, confirmam a tendência de aumento das exportações bastante superior
às importações, que se mantêm relativamente estáveis desde 1997.
Grande parte das importações provém da Eastman. Com vendas locais
Total 278.840 Fonte: ABIQUIM. Anuário da Indústria Química Brasileira 2000, p.364.
Localização (Estado)
São Paulo Bahia
São Paulo Bahia
São Paulo
avaliadas em aproximadamente 50 mil t/ano, de acordo com números da
Capacidade instalada em 1999
10.000
12.840
16.000
60.000 180.000
Rhodia-Ster, a empresa tem capacidade para produzir 130 mil t/ano na planta
argentina de Zarate.
A Rhodia exporta regularmente para o Mercosul, França e Irlanda, e
esporadicamente para outros países. Conforme pode ser verificado na tabela 3,
segundo a Abiquim (2000), o total das exportações brasileiras somou 57.000 t,
em 2000, contra 17.245 t no ano anterior, registrando uma elevação de mais de
200%. A tabela 3 também demonstra o crescimento no consumo, que dobrou
entre 1995 e 2000 e a expansão na produção que foi mais acelerada do que a
o incremento no volume importado para o mesmo período (1995-2000). São
números que corroboram a pujança do mercado e sua crescente demanda,
ainda longe do ponto de saturação.
Tabela 3 - Produção, Vendas, Importação e Exportação da resina PET no
Brasil (em toneladas).
Em 2000, o Brasil reciclou 26% do consumo, segundo o CEMPRE
(2002)~ valor que equipara o Brasil aos EUA, pelo menos nesse aspecto,
Ano
1995
1996
1997
1998
1999 2000
conforme pode ser visto na tabela 5. Na tabela 4 abaixo, é possível perceber os
níveis diferenciados de reciclagem de materiais como o alumínio, que chegou a
Fonte: ABIQUIM. Anuário da Indústria Química Brasileira, 2000, p.364.
78% de reciclagem em 2000 graças a uma cadeia sustentada no incentivo aos
Exportação
18.307
24.768
36.987
20.513
17.245 57.000
Produção
97.630
97.945
143.343
195.720
1 97.969 240.000
catadores e sucateiros, que encontram relação preço-volume mais satisfatória
nas latinhas de alumínio do que nas garrafas de PET.
Importação
84.779
100.091
142.656
132.455
146.303 150.000
Consumo
164.102
173.268
249.012
307.662
327.027 334.000
Tabela 4 - índices Atuais de Reciclagem de Alguns Materiais no Brasil
Tabela 5 - índices Atuais de Reciclagem de PET
I Plástico PET
I
Fonte: CEMPRE. Boletim CEMPRE informa número 57. MaiolJunholOl , p.2-3.
Ano
1995 1996 1997 1998 1999 2000
Vidro Alumínio
Disponibilidade de Resíduos (em rni l t)
ND 860 890 833 869 910
Ano
Embora apresente benefícios econômicos e ambientais, a produção de
Aparas e Papéis
Disponibilidade de Resíduos (em mil t)
49.964 66.459 96.462
1 26.394 1 18.578 131.586
Indice de Reciclagem (%)
35,O 37,O 39,O 40,O 40,O
. 41 ,O
1995 1996 1997 1998 1999 2000
têxteis a partir do PET reciclado apresenta alguns problemas quanto ao seu
Consumo (em mil
t)
5.320 5.868 6.276
6.363
,
índice de Reciclagern (%)
62,8 61,3 64,O 65,2 72,9 78,2
Demanda Nacional de resina PET(em mil t)
insumo. Segundo o site da McDonough Braungart Design Chemistry
índice Reciclagem (%)
de
34,6 37,l 36,6
38,O
Fonte: CEMPRE. Boletim CEMPRE informa número 57. Maio/Junho/Ol , p.2-3.
120 150 21 1 260 286 31 5
www.mbdc.com (2002), a maior parte do PET é produzida fazendo uso de um
catalisador a base de antimônio, um metal pesado problemático. Este material
Demanda para Refrigerantes
traz riscos à saúde humana, particularmente durante a produção, disposição e
índice de Recidagern (%)
88% = 185,7 86% = 223,6 83% = 237,4 81 % = 255,l
reciclagem. Mesmo os métodos atuais ainda não eliminam tais riscos por
15,O 14,7 16,2 17,9 20,4 26,3
completo. Segundo a Comlurb (2002) os principais agentes contaminantes do
PET reciclado estão nos adesivos usados como rótulos/bases das embalagens.
NO que concerne aos problemas diretamente correlacionados a
utilização do PET em embalagens, devem ser analisadas as enchentes,
provocadas pelas fortes chuvas, mais características do verão tropical, como
por exemplo, no município do Rio de Janeiro e que tornam mais evidente os
custos associados ao manejo e a disposição desorganizados das garrafas de
PET. As garrafas de PET se juntam a outros resíduos sólidos que compõem o
lixo urbano prejudicando o sistema de drenagem pluvial e elevando os níveis
de poluição dos recursos hídricos do município.
Segundo o JORNAL DO BRASIL (2001a), os aproximados 54 gramas de
resina sintética que envolve os refrigerantes - estima-se em cerca de 500
milhões de garrafas ao ano no Rio de Janeiro - se transformam em toneladas
de lixo que ajudam a entupir bueiros, bloquear galerias pluviais e cobrir aterros
sanitários. Diante do problema, foram criadas duas leis estaduais, 3206199 e
3369100, com normas e procedimentos para coleta, reciclagem e disposição
final das embalagens. Mas elas ainda não foram totalmente regulamentadas.
"O impacto ambienta1 do PET é grande porque o controle é difícil, já que
o lixo é gerado no domicílio e não conta com um programa que estimule a
reciclagem como geração de renda", diz o consultor Flávio Grottera, autor de
estudo sobre PET para a'empresa de consultoria Fórum Estratégia.
Enquanto isso, as leis aprovadas na Assembléia Legislativa do Rio sobre
o PET não parecem ser cumpridas devidamente, segundo o JORNAL DO
BRASIL (2001 a). Algumas das recomendações as empresas foram cumpridas,
como a proibição de ter a palavra "descartável" impressa na embalagem e a
implantação de locais para a recompra de garrafas usadas. A legislação
estadual, assim como um projeto de lei federal do deputado federal Fernando
Gabeira, exige também que os fabricantes se responsabilizem pelo retorno das
embalagens - mas este item ainda carece de maior fiscalização.
Em junho de 2001, existiam 28 empresas recicladoras de PET no país,
ainda não foi possível criar uma cultura de reaproveitamento de PET, como já
ocorre com as latas de alumínio. O programa de reciclagem de alumínio resulta
no aproveitamento de quase 80% das embalagens metálicas e há famílias de
catadores que conseguem renda mensal de três salários mínimos. Em
dezembro de 2001, para juntar R$ 1,00 eram suficientes 20 latinhas, mas 28
garrafas de PET eram correspondentes a apenas R$ 0,20. Para chegar a
~ $ 1 ,OO, o catador teria que encontrar e transportar 140 garrafas plásticas. O
aumento de 5% para 15% do IPI (Imposto sobre a Produção Industrial), pelo
governo federal, em 1" de abril de 2001, sobre a produção de plástico reciclado
pode acabar prejudicando novas iniciativas em prol da reciclagem de PET.
2.4.2. O Processo de Reciclagem - Viabilidade Econômica
Na consideração dos aspectos econômicos, deve-se avaliar a viabilidade
da reciclagem do lixo do modo mais abrangente possível para incorporar todos
os itens relevantes sob o ponto de vista da sociedade como um todo. Isto
significa afirmar que na mensuração da viabilidade da reciclagem, a muito
utilizada proposta metodológica de Duston (1 993), abaixo apresentada, que
prega a comparação entre o montante alcançado com a venda dos materiais
recicláveis e o custo envolvido com o tratamento de tais materiais não pode ser
considerada como sendo completa. Segundo Duston (1 993):
G= V- C, onde:
G= ganho com reciclagem;
V= venda dos materiais recicláveis;
C= custo do processo de reciclagem.
Segundo uma visão de conjunto ou de sociedade, ou seja, englobando
todos os agentes envolvidos, (prefeituras, indústrias, agências reguladoras,
governos federal e estadual, população, sucateiros, catadores, dentre outros),
o termo V não poderia figurar apenas com o sinal positivo, pois deveria ser
incorporado o ponto de vista de quem compra tais materiais. Portanto, segundo
Calderoni (1999), estamos diante de uma abordagem demasiadamente
simplista.
Além disso, o item C deve congregar o custo de transporte, de
armazenamento, enfardamento - se necessário - de trituração, de lavagem -
necessário nos plásticos como o PET - além de outras possíveis modalidades
de beneficiamento. Também devem ser considerados os custos
administrativos, frequentemente esquecidos.
Segundo Calderoni (1 999), a metodologia acima exposta pode sofrer um
primeiro refinamento ao se considerar o custo de reciclagem como um custo
alternativo em relação a coleta e disposição final usual, posto que atualmente
as prefeituras não cogitam deixar o lixo se acumular nas calçadas. "O que está
em jogo não é saber-se quanto a reciclagem custa, mas quanto ela custa a
mais que a coleta e disposição final normalmente praticadas". (CALDERONI,
1999, p. 85). Assim, é preciso incorporar os custos evitados - ou os custos que
se adicionam a um outro custo obrigatório: o custo da coleta usual do lixo, ou:
G = ganho da sociedade com a reciclagem;
V = venda dos materiais recicláveis (que corresponde ao mesmo valor
em compra (- V) dos mesmos materiais por outros agentes econômicos,
por isso a anulação do termo);
C= custo do processo de reciclagem;
E = custo evitado de coleta, transporte, transbordo e disposição final.
Este custo evitado de disposição final abrange o aterro, a incineração, o
transporte e o transbordo (e, eventualmente, a disposição em locais
inadequados como rios, terrenos públicos e particulares).
Ainda assim, Calderoni (1999) propõe que o ideal é que sejam
representados todos os demais ganhos decorrentes de economia de fatores de
produção, para que o real valor adicionado da atividade de reciclagem para a
sociedade seja conhecido, isto é:
G = ( V - V ) - C + € + W + M + H + A +D, onde:
G = ganho da sociedade com a reciclagem;
V = venda I compra dos materiais recicláveis;
C = custo do processo de reciclagem;
E = custos da Prefeitura com disposição final do lixo, evitados em função
da reciclagem;
W = ganhos decorrentes da economia no consumo de energia;
M = ganhos decorrentes da economia de matérias-primas;
H = ganhos decorrentes da economia de recursos hídricos;
A = ganhos com a economia de controle ambiental;
D = demais ganhos econômicos.
Os ganhos decorrentes da economia de energia (W) devem-se ao fato
de que a produção a partir de materiais recicláveis requer um consumo de
energia significativamente menor que a produção a partir da matéria-prima
virgem, representando ganhos de 78,7% no caso do plástico (de 6.74 MWhIt
para 1,44 MWhlt) segundo Calderoni (1 999).
Os ganhos decorrentes da economia de matéria-prima (M) como as
resinas termoplásticas e, em última análise, o petróleo, no caso do PET, advêm
do fato de que estas já estão contidas nos materiais recicláveis.
A economia de recursos hídricos (H) no processo produtivo se dá em
virtude da menor requisição de água na produção a partir de materiais
recicláveis.
Os ganhos com a economia do controle ambienta1 (A) devem-se ao fato
de que a produção a partir de matéria-prima virgem provoca um grau de
poluição muito superior do
de reciclagem.
Os outros ganhos
que a produção a
econômicos (D)
partir de materiais provenientes
podem ser tangibilizados no
alongamento da vida útil dos equipamentos, redução de dispêndios com saúde
pública e geração líquida de empregos.
A figura 1, em seguida, esquematiza de
interações entre os diversos agentes envolvidos
bem como na reciclagem de resíduos em geral.
modo bastante simplificado as
na reciclagem do plástico PET,
Figura I - Fluxograma da Reciclagem em Geral
Fonte: O Autor.
Catadores 4 Lixões Coleta Seletiva I Prefeitura
Cada um dos agentes econômicos envolvidos no reprocessamento do
- Indústrias
PET está em situação distinta dos demais. Em seguida há uma breve
exposição dos agentes considerados no modelo:
Prefeitura: Os governos municipais desempenham relevante papel no
sucateiros 4
sistema de reciclagem, uma vez que compete a eles a coleta e o
A
tratamento dos resíduos urbanos. Portanto, trata-se de agente com
grande poder de influência sobre os demais, por conta de sua
4
- RecicladoreS
4
I
ingerência sobre o processo a ser utilizado e as políticas
desenvolvidas no gerenciamento do lixo (desde programas de coleta
seletiva até a escolha da destinação final dos resíduos entre
incineração, reciclagem, aterros ou mesmo lixões a céu aberto). O
ganho dos governos municipais está nos custos com a disposição
final do lixo, evitados em função da reciclagem (E), assim como o
valor auferido com a venda dos resíduos de potencial reciclagem
para indústrias que reprocessem materiais. Já o seu custo está
tangibilizado no custo de processamento dos resíduos (coleta,
triagem, armazenamento, enfardamento - se necessário) (C,);
Indústria: E a representação das empresas que desempenham papel
ativo no reprocessamento de resíduos urbanos, desde aquelas cuja
atividade-fim está somente centrada na reciclagem, até aquelas que
produzem a partir da matéria-prima virgem e também de matéria-
prima reciclada pós-consumo. A indústria é o segmento que aufere
os maiores ganhos com o reprocessamento de resíduos. Sendo
assim, o custo deste agente se verifica na compra dos resíduos
triados e sujeitos a reciclagem, obtidos junto as Prefeituras,
Sucateiros e Catadores (V). Já os potenciais ganhos são
representados pelos custos evitados a partir da economia de
Eletricidade (W) - dado que a produção a partir de matéria-prima
virgem é mais intensiva em utilização de energia. Também são
evitados custos com Matérias-primas (M) - posto que, a produção a
partir de resíduos pós-consumo requer menor quantidade de matéria-
prima, (como, por exemplo, o petróleo necessário na produção de
resinas plásticas para embalagens), dado que a mesma já está
presente no resíduo a ser reprocessado. Outros custos evitados são
com Recursos Hídricos (H) - pelos mesmos motivos de W - além de
Demais Ganhos (D), como o aumento da produtividade da empresa e
da vida útil de seus equipamentos.
Sucateiro: Este agente é, por vezes, uma espécie de intermediário
entre os catadores e a indústria de reciclagem, sendo responsável
geralmente, também, por uma etapa prévia de reprocessamento dos
resíduos, como prensagem, trituração e por vezes secagem, que
facilita a tarefa das indústrias recicladoras. Seus custos estão no
Custo de processamento do resíduo, (coleta, triagem,
armazenamento, enfardamento - se necessário), (C2). OS seus
ganhos podem ser concretizados na Venda dos materiais para
indústrias recicladoras (V2). Enquanto pagam os preços mínimos que
garantam a sobrevivência do grande contingente de catadores que
os servem, sua relação de forças com a indústria é a inversa, posto
que geralmente lidam com oligopsônios que estipulam os preços
quando da venda dos materiais para as indústrias recicladoras.
Catador: Tal agente é mais presente em países como o Brasil, nos
quais os programas de coleta seletiva ainda são incipientes e onde
não há praticamente quaisquer incentivos para o retorno de
embalagens (vide exemplo do potencial das Reverse Vending
Machines na seção 2.4.1 .). São indivíduos, invariavelmente,
pertencentes aos estratos mais baixos da sociedade e que
trabalham, por vezes, em condições indesejáveis, (quando, por
exemplo, atuam em lixões a céu aberto, ficando expostos a diversas
doenças). Contudo, em diversos municípios, apresentam-se
organizados em cooperativas, que têm organizado e defendido seu
trabalho e seus interesses. Desempenham papel importante na
reciclagem de latas de alumínio - cuja facilidade de prensagem e
transporte ajudou no desenvolvimento de próspera indústria de
reciclagem do material no Brasil, mesmo sem programas eficazes de
coleta seletiva. Seu ganho está na venda dos materiais (V3), que
consegue obter diretamente do lixo, para indústrias de
reprocessamento e invariavelmente sua remuneração é apenas
suficiente para sua subsistência.
Governo Federal: Apesar da importância no papel de delineador e
regulador de uma política nacional de resíduos, não tem ingerência
direta sobre o trabalho dos governos municipais no tratamento e
destinação final de resíduos, portanto sua presença no modelo se
deve aos ganhos marginais com os Demais Custos Evitados a partir
da atividade de reciclagem (D2), como, por exemplo, a diminuição do
desemprego - e dos custos associados a ele - por conta da
oportunidade de emprego direto para catadores, sucateiros e
trabalhadores nas indústrias recicladoras e nas prefeituras.
Governo Estadual: A sua presença no modelo tem a mesma natureza
da do governo federal, apesar de também ser importante como
legislador e fiscalizador do tratamento do lixo urbano. Seus
potenciais ganhos (D3), podem ser em virtude dos custos evitados
com saúde pública (menor incidência de doenças relacionadas a falta
de saneamento básico e disposição indevida de resíduos, como
cólera, dengue, malária, leishmaniose, dentre muitas outras). São
ganhos de difícil quantificação, contudo de importância suficiente
para justificar um engajamento dos Governos Estaduais na
reciclagem.
Assim, conforme Calderoni (1999), cada agente pauta suas ações
segundo seus interesses próprios e em última análise conforme suas
perspectivas de ganho, abaixo resumidas em um Modelo de Cálculo do Ganho .
Líquido de cada Agente na tabela 6:
Tabela 6 - Ganhos de Cada Agente Econômico com o Processo de
Reciclagem do PET
O ganho total da sociedade (valor adicionado pela reciclagem a
economia) engloba o somatorio dos ganhos dos seis agentes considerados -
EQUAÇÃO Gl=E+V1-C1
G z = - V + W + M + H + A + D l G3 = VZ - C2
G4 = V3 G5= D2 G6 = D3
G = ( V - V ) - C + E + W + M + H + A + D
AGENTE
prefeitura (Gi), indústria (G2), sucateiro (G3), catador (G4), governo federal (G5)
Fonte: Calderoni (1 999)
1 2
3
4
6
e estadual (Gs), ou:
PREFEITURA INDÚSTRIA SUCATEIRO CATADOR
5GOVERNOFEDERAL GOVERNO ESTADUAL
SOCIEDADE
A venda 1 compra total da sociedade (indicados propositalmente com o
mesmo termo V) dos materiais recicláveis consiste no somatório das vendas da
Prefeitura (V,), vendas de sucateiros (V2) e vendas de catadores (V3) que são
todas compradas pela indústria de reprocessamento (-V), ou:
O custo total de reciclagem da sociedade é igual ao custo incorrido
desde a coleta até o pré-processamento gerido pelas prefeituras (C,) ou pelos
sucateiros (C2) OU:
Os demais ganhos econômicos sociais totais podem ser congregados
pelos ganhos da indústria (maior produtividade, etc.) (D,) e dos governos
federal (D2) e estaduais (04, (menor desemprego, menor custo com saúde
pública em virtude da diminuição das enchentes causadas pelo entupimento de
rios e canais pluviais por embalagens de PET), ou:
Cabe ressaltar que é suposto que a venda dos materiais reciclados (V)
apresente receita superior ao custo envolvido na reciclagem (C) para que tal
atividade tenha sustentação econômica, ou:
Um importante instrumento de análise da viabilidade econômica da
atividade recicladora é o modelo do Benefício Líquido da Reciclagem, proposto
por Motta e Sayago (1998) no âmbito nacional, com a intenção de mensurar os
possíveis benefícios do reaproveitamento de embalagens para a sociedade ao
reduzir as externalidades associadas aos gastos com a coleta e a disposição
dos resíduos; impactos ambientais e uso de matéria-prima virgem e outros
insumos. Este modelo será descrito em detalhes na seção 3.5. No presente
trabalho, este modelo serve de base para uma aproximação dos potenciais
benefícios auferidos a partir da reciclagem de embalagens de PET no
município do Rio de Janeiro. A partir de dados coletados junto ao trabalho de
Pímenteira (2000) que cita a Comlurb e também a partir dos dados do
CEMPRE (2002) para o município do Rio de Janeiro, este valor para o
benefício líquido foi calculado.
2.5. Concluindo a Revish da Literatura
A apresentação dos fundamentos teóricos e os diversos conceitos e
exemplos de operacionalização e aplicação das teorias econômicas abordadas,
bem como a compilação de informações relevantes quanto ao mercado de
PET, embalagens e reciclagem foram sedimentados neste capítulo.
O Quadro 1 demonstra o estado da arte do conhecimento considerado
relevante para o desenvolvimento do presente estudo, compartimentado
segundo o tópico abordado e os respectivos trabalhos pesquisados.
Quadro 1 - Resumo do Referencial Teórico I
TÓPICOS ABORDADOS Trabalhos que servem de referencial teórico
Avaliação Social de Projetos
Avai~áo de Impadas Ambientais
custos Ambientais da Atividade Econômica
Conceitos Econômicos Relevantes
Drummond (2000), Pindyck e Rubinfeld (1 994)' Mishan (1 976), Contador (1997), Lemme (2000 b), Contador (1997)
Turner, Pearce e Bateman (1994) Lemme (2000a), Lemme (2000b)
Lovins, Lovins & Hawken (1999), Klassen e McLaughlin (1996), Contador 997)
Políticas e Responsabilidades Ambientais
I O Polietileno Tereftalato (PET) I
políticas Ambientais: Definições e Dificuldades lnstitucionais
Responsabilidades Ambientais
Mecanismos de Interiorização dos Custos Ambientais na Indústria
Estmtura e Gerais da Ambienta1 Brasileira A pO'ítica Naciona' de ResMuos (PNRS)
Menezes (2000), Locke (1973), Drummond (2000), Tavares e Fion (1 993)
Tostes (2000)
Tostes (2000), Sanches (1 997), Barde (1 989)
Drummond (2000), w.pareceresjuridicos.com (2002)
Relatório Preliminar da Política Nacional de Resíduos SÓlidop (2001)
Legislação Ambiental Brasileira I
PET: Conceituação e Reciclagem
O processo de Reciclagem de Resíduos - Viabilidade Econômica
CEMPRE (2002), w.reciclaveis.com.br (20021, wmw.plasticoonline.com.br (2001), Abiquirn (2000), www.rnbdc.com (2002)' ComLurb (2002), JORNAL DO BRASIL (2001a), JORNAL DO BRASIL (2001 b), Calderoni (1 999)
Duston (1993), Calderoni (1999), Motta e Sayago (1998), Pinienteira (2000)
3. Metodologia
O presente capítulo pretende caracterizar a pesquisa e apresentar os
procedimentos utilizados para que os resultados almejados fossem obtidos.
3.1. Tipo de pesquisa
Para uma sistematização da classificação da pesquisa, é empregada a
taxonomia utilizada por Vergara (1997), que classifica os tipos de pesquisa de
acordo com dois aspectos: quanto aos fins e quanto aos meios.
A pesquisa desenvolvida pode ser classificada quanto aos fins como
sendo de natureza exploratória, porque se trata de uma área na qual há pouco
conhecimento devidamente sistematizado, embora haja relevante quantidade
de informações dispersas disponíveis para consulta. Por conta de sua natureza
de sondagem, este estudo não apresenta hipóteses totalmente delineadas.
Conforme Vergara (1997), este estudo também pode ser enquadrado,
quanto aos fins, como uma pesquisa aplicada, uma vez que é motivado pela
necessidade de resolver problemas concretos, ou seja, possui uma finalidade
prática que e a gestão economicamente viável do PET, não consistindo,
portanto, de estudo motivado apenas pela curiosidade e poder especulativo do
investigador.
No tocante aos meios, esta pesquisa pode ser classificada como
pesquisa telematizada, bibliográfica e de campo. Trata-se de investigação
telematizada já que grande parcela das informações a serem coletadas está
disponível por meio do uso do computador - internet - e das telecomunicações
em geral.
Também é possível afirmar que o presente estudo e uma pesquisa
bibliográfica, .dado o relevante papel desempenhado pela investigação em
material publicado em livros, revistas, artigos, jornais, regulamentos e outros.
Dado que uma parcela relevante da pesquisa consiste de observações
realizadas nos locais em que os processos ocorrem, também é pertinente a
classificação como uma pesquisa de campo.
3.2. Universo e amostra
O universo abordado se refere a toda a população ou ao conjunto de
elementos que possuem as características que são peculiares ao intuito do
estudo e a amostra é constituída da "parte do universo (população) escolhida
segundo algum critério de representatividade" (Vergara, 1997, p. 48).
O universo deste problema de pesquisa está diretamente correlacionado
com as embalagens plásticas que compõem o lixo urbano municipal (sendo as
embalagens fabricadas com a resina plástica PET, o caso específico em
análise). Estas embalagens, em especial garrafas de refrigerantes e água
mineral, apresentam as características que são o objeto do estudo: material de
fabricação (PET), locais de disposição, problemas de coleta e transporte, e
perspectivas de reciclagem.
A amostra utilizada é não probabilística, mas sim selecionada por
acessibilidade e tipicidade. Por acessibilidade porque foram selecionados
elementos pela proximidade geográfica - município do Rio de Janeiro. Por
tipicidade, porque a amostra escolhida foi considerada como representativa do
universo.
3.3. Seleção dos sujeitos
fornecerão os dados necessários para o andamento do trabalho.
Os sujeitos desta pesquisa são os agentes responsáveis
etapa da cadeia de reutilização do PET. Quanto a produção da
por alguma
embalagem
Vergara (1997) define os sujeitos como sendo as pessoas que
PET, os sujeitos estão sob a forma de órgãos e associações setoriais como a
Associação Brasileira dos Fabricantes de Embalagens de PET (ABEPET), e de
empresas privadas diretamente envolvidas na confecção da resina virgem
como a Rhodia-Ster, a Eastman e outras. No que tange ao processo de
distribuição e comercialização das embalagens, foram pesquisados órgãos e
associações setoriais que se utilizam do insumo "embalagem de PET em seus
produtos finais, tais como indústrias de refrigerantes - Coca-Cola, Ambev,
Refrigerantes Mineirinho, Associação Brasileira de Indústrias de Refrigerantes
(ABIR) - e indústrias de águas minerais - Associação de Indústrias de Águas
Minerais (ABINAM).
~ u a n t o ao aspecto da reciclagem, os sujeitos selecionados estão
circunscritos ao âmbito governamental e também ao privado. No espectro
governamental, os sujeitos são técnicos de prefeituras municipais - em
especial da Secretaria de Meio Ambiente do Município do Rio de Janeiro - que
lidem diretamente com o manejo, disposição e reciclagem de resíduos sólidos,
mais especificamente com os resíduos plásticos. Também são considerados os
técnicos pertencentes aos órgãos reguladores públicos, que fiscalizam e
decidem as políticas ambientais sejam elas municipais, estaduais ou federais.
No espectro privado são abordadas aquelas empresas que fazem o
reprocessamento do PET, auferindo lucro com tal atividade de revenda da
resina reciclada.
3.4. Coleta dos dados
Os dados são coletados por meio de:
Pesquisa bibliográfica em livros, sites da internet, revistas
especializadas, jornais, teses, dissertações e monografias, que
apresentem informações pertinentes ao escopo do trabalho. As
consultas são efetuadas em algumas bibliotecas - em especial a
Biblioteca Mário Henrique Simonsen (FGV-RJ) e a Biblioteca do
Instituto Coppead de Administração. A pesquisa também é conduzida
por meio da internet em sites especializados, tais como:
Compromisso Empresarial para Reciclagem (CEMPRE) -
www.cempre.org.br - ou o Portal Recicláveis -
~ww.reciclaveis.com.br, além dos sites de empresas e associações
setoriais consideradas relevantes, como por exemplo: ABEPET,
ABI NAM, Coca-Cola, AmBev, Rhodia-Ster. Para a consulta do
arcabouço legislativo que envolve o PET, são utílizados sites
especializados em aspectos jurídicos elou ambientais. Cabe ressaltar
a importância das informações coletadas a partir de consultas via
correio eletrônico que são obtidas junto a alguns dos órgãos citados
por meio de seu canal institucional de comunicação - normalmente
disponibilizado no site, ou diretamente junto a agentes específicos.
A pesquisa visa a obter dados e respostas para a formulação do
problema, como sistematizado abaixo na forma de informações seminais para
a obtenção dos resultados necessários para que se desenvolva a posterior
análise dos mesmos sob a ótica do valor adicionado:
Custos de produção de uma embalagem (garrafa) de PET.
(Envolvendo todos os aspectos relevantes: consumo de matéria-
prima, energia, recursos hídricos, mão-de-obra, espaço físico
requerido, escala de produção necessária, entre outros);
Estimativa de receita com a venda das embalagens.;
Custos de frete. AlocaçSio dos custos para cada um dos elos da
cadeia: produtor - comprador do PET 1 distribuidor de produto final
(refrigerante, água) - consumidor final;
Destino pós-consumo da embalagem. (Estimativas de volume e peso
do PET relativamente a quantidade de lixo urbano gerada, em
especial os custos e dificuldades de coleta e transporte por parte das
empresas de limpeza urbana);
Parcela do resíduo destinada para a reciclagem;
Custos de reciclagem do PET. Investimento requerido para
implementar uma linha de reprocessamento.
para o investidor privado;
Viabilidade econômica
Destinos do PET reprocessado; e
Custos evitados envolvidos na reutilização do PET. (Estimativas de
economias de energia, de matéria-prima, de recursos hídricos).
3.5. Tratamento dos dados
Os dados utilizados neste estudo são em sua grande maioria levantados
pelo autor junto a terceiros e trazem consigo alguma parcela de reflexões e
conclusões de outros pesquisadores. Embora parte considerável dos dados
tenha sido coletada em publicações, esta tarefa investigativa exige um certo
grau de interpretação criteriosa do pesquisador quanto a acurácia, fidelidade e
real relevância das informações coletadas.
O tratamento dos dados é quantitativo, posto que são desenvolvidos
parâmetros simplificados de cálculo para que os dados sejam sistematizados
em conformidade com modelos numéricos como, por exemplo, é explicitado na
Tabela 6. Contudo, as informações são estruturadas de maneira que possam
apresentar maior uniformidade de método e para eliminar quaisquer
discrepâncias quanto a forma com a qual os dados se apresentem. Este
tratamento requer certa subjetividade para a estruturação e análise por conta
do pesquisador.
São dois os modelos utilizados como referencial para a obtenção dos
resultados quanto ao valor adicionado proporcionado pela atividade de
reciclagem de PET e que visam a responder as perguntas da pesquisa: o
modelo de Seroa da Motta e Sayago (1998) e o modelo de Calderoni (1999).
Ambos OS modelos procuram dissecar a questão do reprocessamento de
materiais sob a ótica do benefício líquido que geram para a sociedade e seus
agentes.
O modelo de Seroa da Motta e Sayago (1998) de cálculo do Benefício
Liquido Social do Reaproveitamento (BLSR) aqui apresentado resumidamente
será definido com maior propriedade e melhor compreendido quando de sua
aplicação pratica, na seção 4.2., que demonstra como é calculado o BLSR para
o PET.
O modelo de Seroa da Motta e Sayago (1998) pode ser sintetizado pela
equação que se segue:
BLSR = GCD + CA + GMI - GAR
onde:
BLSR = Beneficio Líquido Social do Reaproveitamento
GCD = Gastos atuais e efetivos de Coleta, Transporte e Disposição Final
de lixo urbano;
CA = Danos Ambientais resultantes da má coleta e disposição do lixo
urbano;
GNlI = Redução de Custos associados em Matéria-prima e outros
Insumos proporcionados pelo Reaproveitamento; e
GAR = Gastos associados ao Reaproveitamento.
Devem ser consideradas, no entanto, que são utilizadas duas hipóteses
relevantes quando da aplicação deste modelo:
. primeira Hipótese: os Gastos Atuais e Efetivos de Coleta, Transporte,
Disposição Final de Lixo Urbano (GCD) foram calculados a partir dos
custos da ComLurb de transporte, coleta e disposição final para a
cidade do Rio de Janeiro no ano de 1998;
Segunda Hipótese: os preços médios das sucatas servem como uma
representação do Cálculo da Redução de Custos em Matéria-prima e
outros Insumos proporcionados pelo Reaproveitamento (GMI)
subtraído dos Gastos associados ao Reaproveitamento (GAR).
Por sua vez, o modelo do Cálculo do Ganho Líquido com a Reciclagem
de Calderoni (1999) (previamente explicitado na subseção 2.4.3), pode ser
sintetizado na equação:
onde:
G = ganho da sociedade com a reciclagem;
V = venda 1 compra dos materiais recicláveis;
C = custo do processo de reciclagem;
E = custos da Prefeitura com disposição final do lixo, evitados em função
da reciclagem;
W = ganhos decorrentes da economia no consumo de energia;
M = ganhos decorrentes da economia de matérias-primas;
H = ganhos decorrentes da economia de recursos hidricos;
A = ganhos com a economia de controle ambiental;
D = demais ganhos econômicos.
Ambos os modelos serão revistos com maior profundidade quando da
apresentação dos resultados no capítulo 4, para mais fácil compreensão dos
dados obtidos e das conclusões geradas, assim como das limitações inerentes
aos modelos e premissas adotadas.
3.6. Limitações do método
A metodologia escolhida apresenta algumas deficiências que limitam o
trabalho:
Quanto a coleta de dados, é preciso ressaltar que alguns órgãos e
associações, bem como empresas de maior porte são tomadas como
generalizações de comportamento de custos e receitas para os
setores analisados. Portanto, o modelo está limitado pela escolha dos
sujeitos, dada a inviabilidade de se abordar todos os indivíduos
relacionados com o tema.
A pesquisa também se restringe ao município do Rio de Janeiro para
avaliação. dos custos relativos a coleta e reciclagem do PET, o que
pode enviesar quaisquer pretensas conclusões para o âmbito
nacional ou internacional.
Uma vez exposta a metodologia utilizada e suas limitações, o capítulo
seguinte aborda os principais resultados obtidos e algumas das respostas às
perguntas que norteiam o presente trabalho.
4- Resultados
Este capítulo tem a intenção de aglutinar e organizar os principais
resultados obtidos ao longo da pesquisa.
4.1. Introdugão aos Modelos Esquemáticos
Uma importante fonte utilizada como referência para a obtenção de
estimativas do Benefício Líquido gerado pela Reciclagem do PET e de
materiais alternativos está nos dados fornecidos pelo CEMPRE (2002) e
expostos na tabela 7 que mostra os preços estimados para diversos materiais
recicláveis em algumas cidades brasileiras que contam com algum sistema de
reciclagem em funcionamento Fica evidenciado o alto valor relativo do PET,
(apresentando um preço de R$ 350,OO por tonelada prensada no município do
Rio de Janeiro).
O preço positivo apresentado
tabela 7 gera um benefício privado,
pela "sucata", que pode ser inferido na
pois, os recicladores estão dispostos a
pagar por um material que originalmente apresentava preço negativo. A
quantidade de sucata que pode ser oferecida a esse preço determina o nível de
reaproveitamento. Por conseguinte, há um ciclo virtuoso onde o preço maior
gera maior oferta de sucata que, por sua vez, gera maior valor privado.
Tabela 7 - Estimativas de Preços de Materiais Recicláveis (em R$ / ton.)
Papel vidro vidro Papelão Latas aço Alumínio
branco incolor colorido
Rio de Janeiro ........... Rio de Janeiro I 120p,l I 250p,l 1 60 1 1800p,l 1 50 ( 50 ( :*.:e ................................. .....r; , 1 ,201 1 50 ;::::::::**.3a$p$2 , 50
:.*~::.:
Santa Catanna Blumenau I 160p,l I 250p,l 1 501 1 1.900p,l I
1 I 7 O 1 9 5 ~ ~ 1
t-lorianópolis p,i 1 21OpJ 1 30 1 l.goOp,l 1 50 1 5 0 ~ ~ 1
p = prensado - I = limpo - i = inteiro - un = unidade
Fonte: CEMPRE Informa - No 62 - MARÇOIABRIL - 2002
O enquadramento dos dados para obtenção dos resultados seguiu dois
modelos esquemáticos que podem ser enxergados como paralelos e não-
conflitantes. Um deles é o modelo segundo os conceitos de Calderoni (1999),
novamente apresentado resumidamente neste capítulo e cujas premissas e
particularidades são definidas com maior propriedade na seção 2.4.3., quando
da revisão bibliográfica.
Além deste, foi utilizado o modelo desenvolvido por Seroa da Motta e
Sayago (1998), também previamente citado na seção 2.4.3., para o cálculo do
benefício líquido da atividade da reciclagem, conforme será exposto com
maiores detalhes na seção posterior.
Cabe ressaltar que em virtude da natureza aproximada dos diversos
&dculos tomados como necessários nos modelos - em virtude, por exemplo,
da indisponibilidade de informações a contento - os resultados finais não
podem ser tomados como sendo representações de total precisão ou
confiabilidade, mas sim um produto de premissas relevantes e de modelos,
que, estes sim, devem corresponder como descrições que primem pela
representatividade quanto aos processos descritos e envolvidos. Sendo assim,
estes modelos devem ser foco de melhorias e refinamentos posteriores e
contínuos para que os números que gerem sejam igualmente robustos em
comparação com o arcabouço que supõem.
Ambos os modelos citados nos parágrafos anteriores serviram como
fundamento para a obtenção de estimativas do valor adicionado auferido com a
reciclagem de embalagens de PET. Em seguida, na seção 4.2. o raciocínio e o
encadeamento dos procedimentos induzidos por Seroa da Motta e Sayago
4998) são apresentados em forma de etapas consecutivas para o cálculo do
número final de ganho líquido com a atividade de reprocessamento de PET
(BLSR) no município do Rio de Janeiro.
Posteriormente, na seção 4.3. é apresentado um resumo dos resultados
do modelo de Calderoni para o município de São Paulo que podem servir como
uma aproximação para as conclusões posteriores e apontam para uma
convergência entre ambos os modelos.
Após a exposição dos resultados de ambos os modelos, estes são
confrontados e suas similaridades e discrepâncias são brevemente debatidas
ao final deste capítulo.
4.2. Modelo de Seroa da Motta e Sayago (1998) - Cálculo do Beneficio
Líquido Social da Reciclagem (BLSR)
Retomando o modelo de Seroa da Motta e Sayago (1998):
BLSR = GCD + CA + GMI - GAR
onde:
BLSR = Benefício Líquido Social do Reaproveitamento
GCD = Gastos atuais e efetivos de Coleta, Transporte e Disposição Final
de lixo urbano;
CA = Danos Ambientais resultantes da má coleta e disposição do lixo
urbano;
GMI = Redução de Custos associados em Matéria-prima e outros
Insumos proporcionados pelo Reaproveitamento; e
GAR = Gastos associados ao Reaproveitamento.
0 s cálculos de cada uma destas variáveis são feitos utilizando-se
sempre que possível de dados para o município do Rio de Janeiro e podem ser
analisados nas subseções 4.2.1. a 4.2.4. As informações que não estão
disponíveis são complementadas com dados e estimativas fornecidos por
Calderoni (1 999), ComLurb (2002), dentre outros.
4.2.1. Cálculo dos Gastos de Coleta, Transporte e Disposição Final de
Lixo Urbano - GCD:
O cálculo do GCD, parte do custo médio de coleta ou disposição
multiplicado pelo percentual da população que é atendida pelo serviço. Para
tanto, foi utilizado o percentual de moradores do município do Rio de Janeiro
que são atendidos por serviço de coleta, excluindo a coleta em caçambas, o
que perfaz 87,9% dos habitantes, (5.105.477 pessoas atendidas / 5.807.426
habitantes), segundo a tabela 8 abaixo, fornecida pelo DataSUS (2002), no
endereço eletrônico http://tabnet.datasus.gov. br/cgi/ibge/lixmap. htm.
O valor médio da coleta de lixo utilizado por Seroa da Motta e Sayago
(1998) é de R$ 25,001t segundo dados de 1997 do BNDES. Contudo, neste
estudo em sondagens junto a empresas coletoras de lixo urbano - com
destaque para a CPR que opera com coleta no estado do Rio Grande do Sul - verifica-se que o custo médio de coleta já se aproxima de R$ 35,00/t. Assim o
custo de coleta seria igual a R$ 35,OO multiplicado por 0,879 = R$
Tabela 8 - Coleta do Lixo no Município do Rio de Janeiro
Coleta de lixo - Rio de Janeiro
Moradores por Coleta de lixo segundo Município
Município: Rio de Janeiro
Aglomerado urbano: Rio de Janeiro
Por Seroa da Motta e Sayago (1998), o lixo pode ser assim disposto:
Período: 20M)
24,1% do total do lixo para Aterro Sanitário com custo de R$ 13,00/t -
Calderoni (1 999);
Total
22,6% do total do lixo para Aterro Controlado com custo de R$ 6,00/t
- Comlurb (1998). (Sua diferença para o Aterro Sanitário está na
não-impermeabilização de sua base, possibilitando a contaminação
do subsolo e lençóis freáticos);
50,8% do total do lixo para Lixão com custo de R$ O,OO/t (custo
Jogado em rio' lago ou mar
Jogado em terreno baldio ou logradouro
desprezível). (O Lixão é um local onde o lixo é meramente deposto,
sem qualquer proteção do solo, ou cuidado sanitário);
Outro destino Enterrado (na propriedade)
0,2% do total do lixo para
Calderoni (1 999); e
5807426
Queimado (na propriedade)
628886
de limpeza
TOTAL
2,3% do total do lixo para
24,00/t - Comlurb (I 998);
Fonte: IBGE - Censos Demoaráficos de 1991 e 2000
Coletado por caçamba de serviço de
limpeza
5105477
Incineração com custo de R$ 29,39/t -
8293 27756 30339
Usina de Reciclagem com custo de R$
5662 1013
O custo efetivo da disposição final é igual ao valor da disposição final por
tonelada multiplicado pelo percentual que é coletado (aqui utilizamos o valor
para o Rio de Janeiro, 87,9%, e não a média nacional de 69,2% usada por
Seroa da Motta e Sayago) e pelos percentuais acima mencionados para cada
tipo de disposição, o que corresponde a um valor de R$4,48/toneIada.
Para o custo de transbordo foi utilizado o valor de R$ 5,001t mencionado
por Calderoni (1999). Todavia, este custo está totalmente correlacionado à
quantidade coletada e como não existem dados precisos sobre que percentual
da coleta acaba sendo transportada para as estações de transferência, por
simplificação, o presente estudo considera que todo o lixo coletado precisa de
transbordo. Logo, o custo de transbordo do lixo coletado em relação ao total do
lixo gerado é de R$4,40 1 tonelada.
Portanto, na tabela 9 abaixo é possível enxergar uma consolidação dos
cálculos explicitados acima para perfazer o valor de R$39,65 I t para o GCD.
Tabela 9: Gastos com Coleta, Transporte e Disposição do Lixo Urbano.
I TOTAL GCD I 39,65 I Fonte: COMLURB(2002); Motta e Sayago(1998); Calderoni (1999); CPR (2002)
Gastos com Coleta, Disposição e Transporte
Coleta Total Coleta Aterro Sanitário Aterro Controlado
Lixão Incineração Usina de Reciclagem Total Disposição Final
Transbordo Total Transbordo
R$lt
30,77 30,77 2,75 1,19 0,OO
0,05 0,49 4,48 4,40 4,40
4.2.2. Cúlculo dos Danos Ambientais resultantes da mú coleta e disposição
do lixo urbano - CA:
Para estimar os danos ambientais resultantes da má gestão na coleta,
disposição e transporte do lixo urbano (CA), foi preciso calcular o déficit de
gastos em serviços de limpeza pública e de gestão de resíduos.
Esta abordagem sugerida por Seroa da Motta e Sayago (1998) é uma
aproximação, uma vez que há uma dificuldade em quantificar de forma precisa
0s Danos Ambientais resultantes pela má coleta e disposição do lixo urbano.
Sendo assim, o valor alcançado
um valor mínimo que os danos
como CA trata-se de uma proxy tendendo a
podem acarretar, posto que é de mais fácil
quantificação do que demais danos a lençóis freáticos, erosão de áreas de
risco, etc., que correspondem a especificidades de cada área urbana e não
poderiam ser tratados com um mínimo grau de uniformidade.
Quanto a coleta, caso esta atendesse a todas as residências, teríamos,
de acordo com os dados acima citados, um custo de R$ 35,00/t. Já os gastos
efetivos mostrados na tabela 9 acima são de R$ 30,77, e explicitam a
necessidade de um dispêndio adicional de mais R$ 4,231t para estender o
atendimento a toda a população do município do Rio de Janeiro, reduzindo,
assim, os danos ambientais relativos ao lixo que é queimado, enterrado, jogado
nas ruas ou nos rios e no mar sem qualquer tipo de tratamento.
Em relação a disposição final, o presente trabalho considera as usinas
de reciclagem como a melhor opção de destino para o lixo, pois, embora
incipientes e claramente sujeitas a ingerências políticas em sua eficiência e
gestão, ainda podem ser as melhores alternativas tanto sob o espectro
puramente econômico quanto sob a ética de preservação do meio ambiente e
prevenção da poluição. Portanto, os custos necessários ao tratamento integral
do lixo sob essa forma refletem os danos ambientais que poderiam ser
evitados. Sendo assim, os gastos necessários seriam de R$ 24,00/t - o custo
da disposição em usinas de reciclagem - mas, como atualmente, conforme
mostrado na tabela 9 acima, já são gastos R$ 4,48 com a disposição final,
ainda seria necessário o gasto de R$ 19,52/t, perfazendo outra parcela da
estimativa dos custos ambientais (CA).
Uma vez que estamos considerando que todo o lixo deve ser coletado, o
transbordo deve atendê-lo em sua totalidade. Portanto, com um custo de R$
5,001t, faltaria o gasto de R$ O,6l/t para que se minimizem os danos ambientais
referentes as lacunas do serviço junto a população, quanto ao transbordo do
lixo urbano.
A tabela 10 em seguida abrange um resumo das estimativas das
parcelas desse déficit, acima mencionadas que serão uma aproximação dos
danos ambientais, sendo possível inferir quanto é necessário gastar para que
todo o lixo seja gerido de uma maneira efetiva.
Tabela 10: Déficit de Custos de Gestão de Resíduos Sólidos
4.2.3. Cálculo da Redução de Custos associados em Matéria-prima e
Déficit de Custos de Gestão de Resíduos
Coleta Disposição final Transbordo
TOTAL CA
outros insumos proporcionados pelo Reaproveitamento - GMI e dos
R$lt
4,23 19,52 0,61
24,35
Gastos Associados ao Reaproveitamento - GAR:
Fonte: COMLURB(2002); Motta e Sayago(l998); Calderoni (1999); CPR (2002)
O cálculo do GMI foi feito com base nos preços fornecidos pelo
CEMPRE (2002) e disponíveis na íntegra na tabela 7 para a compra de sucata.
Na realidade, os preços da sucata já consistem no GMl deduzido do GAR
(Gastos Associados ao Reaproveitamento), ou GMI - GAR. Sendo assim,
obtemos os seguintes valores para os materiais no município do Rio de
Janeiro, conforme demonstra a tabela 1 1.
Tabela 1 I : Preço Médio da Sucata por Material no Rio de Janeiro (GMI - GAR)
1 Material (R$lt) I GMI-GAR I
Alumínio
Vidro
Papel Branco
Plástico Rígido
Latas de Aço
1.800,00p,l 50,OO
250,OO p,l
150,OO
60,OO p = prensado - I = limpo Fonte: CEMPRE Informa - No 62 - Mar.lAbr. 2002
Esta abordagem deve ser encarada como uma simplificação de cálculo
do modelo esquemático, sendo, inclusive, citada previamente como uma das
hipóteses adotadas pelo mesmo. Deve permanecer evidente que o preço da
sucata como sendo a diferença entre GMI e GAR seria o máximo preço
alcançado, ou seja, a diferença entre o ganho em custos evitados
proporcionados pela economia de matérias-primas e insumos e os gastos
associados a atividade de reaproveitamento.
0 s valores de GMI também poderiam ser obtidos a partir da soma dos
custos evitados com o reaproveitamento e com a economia de energia elétrica,
matéria-prima e água, conforme explicitados na tabela 12, em seguida.
Contudo não há um estudo que identifique tais custos evitados para o PET
especificamente, razão pela qual o presente estudo optou pela simplicidade da
suposição do preço da sucata como correspondente ao GMl - GAR.
Tabela 12: Custos de Produção Evitados com o Reaproveitamento
Na tabela 13 em seguida, são calculados os valores do Benefício
Liquido Social do Reaproveitamento (BLSR) para alguns resíduos sólidos. Para
Água (R$lt)
119,19
16,46
Material
Vidro Papel Plástico Latas de Aço
tanto, foram levados em consideração seus percentuais em relação ao lixo
Fonte: Calderoni (1997); Motta e Sayago (1998)
Energia Elétrica (R$lt)
23,11 127,3 192,02 183,33
Matéria-prima (R$k)
9744 184,22 131 O
121,95
urbano total gerado para que fosse obtida uma média ponderada na estimação
dos valores do BLSR.
Tabela 13: Estimativas de Benefício Líquido Social da Reciclagem (BLSR) (em
Os resultados da estimação do BLSR foram direcionados para os
materiais em questão - PET, Alumínio, Vidro e Latas de Aço - por conta de
sua natureza similar como embalagens que acondicionam produtos diversos.
em especial, alimentos e bebidas. O total apresentado para o reaproveitamento
do PET supera o total para o vidro. que era seu predecessor mais comum
como insumo de embalagens - particularmente na indústria de refrigerantes -
pois o BLSR total do PET é de 414.00 R$/ton contra 114.00 R$lton do vidro.
4.3. Modelo de Calderoni (1999) - Cálculo da Economia para a
Sociedade Resultante da Reciclagem
O modelo de Calderoni (1999) pode ser sintetizado na tabela seguinte,
previamente apresentada na seção 2.4.3., onde é especificado o potencial
ganho econômico de cada um dos agentes envolvidos no tratamento e
reciclagem do lixo urbano, bem como um valor agregado para a sociedade.
EQUAÇÃO G1=E+Vl-Cl
G , = - V + W + M + H + A + D ,
AGENTE
-
3
4
5 6
A tabela 14, em seguida, demonstra a economia de recursos realmente
obtida no município de São Paulo pela atividade de reciclagem de diversos
materiais presentes no lixo urbano. Já a tabela 15 demonstra a possível
1 2
SOCIEDADE
economia caso todo o material fosse reciclado. O foco principal deve recair
PREFEITURA IND~STRIA SUCATEIRO CATADOR GOVERNO FEDERAL GOVERNO ESTADUAL
G = ( V - V ) - C + E + W + M + H + A + D
sobre a contribuição proporcionada pelo plástico (embora não haja dados
específicos para o PET) e pelo material alternativo quanto as embalagens, o
-
GS=V2-C2
G4 = V3 G5= D2 G6 = D3
vidro.
Tabela 14 - Economia Obtida pela Reciclagem de Lixo no Município de São
Paulo (MSP). (Em R$ mil de set. 1996)
tal MSP 1.860 748 1 O1 483 155.048 65.092 548 36.31 C
Fonte: Calderoni (1 999)
Custos Vendas de Incorridos Total Recicláveis
C v R$ mil R$ mil % R$ mil
(3.856) 10.850 3,3 12.852
(1.928) 13.607 4,2 6.426
Tabela 15 - Economia Possível pela Reciclagem de Lixo no Município de São
Paulo (MSP). (Em R$ mil de set. 1996)
Fonte: Calderoni (1 999)
Em ambas as tabelas o item "Energia Elétrica" (W) corresponde a
economia de energia, que é calculada a partir de índices de economia de
energia (em MWh I ton) para cada material, convertidos para valores em R$ via
tarifas de energia elétrica a época. Estes valores (por exemplo, 23,19 R$/ton
para o vidro e 192,02 R$lton para o plástico) são então multiplicados pelo
v,olume reciclado para se alcançar a economia realmente obtida e pelo volume
consumido para obter a possível economia caso todo o material presente no
lixo fosse reciclado. O plástico figura expressivamente como fonte de
"economia perdida'' de energia elétrica (de possíveis 64,9 milhões de reais para
somente 5,6 milhões obtidos).
Quanto ao item referente a economia de "Matéria-prima" (M), cabe
ressaltar que os valores encontrados por Calderoni (1999) são certamente
subestimados, uma vez que só consideram as principais matérias-primas
dentro dos processos produtivos de cada material (por exemplo, resinas
termoplásticas para o plástico; bauxita para latas de alumínio; etc,). Assim, a
partir de um custo de matéria-prima por tonelada para cada material,
multiplicado pelo volume deste último que foi realmente reciclado resulta a
economia de matérias-primas obtida, bem como a economia possível e a
perdida. Novamente, o plástico figura como o maior responsável pela economia
perdida, chegando a representar a época aproximadamente 75% de toda a
economia perdida com matérias-primas no município de São Paulo.
No que tange ao item "Custos Evitados pela Prefeitura Municipal de São
Paulo (PMSP)" (E), os custos referem-se as etapas de coleta, transbordo e
disposição final do lixo urbano em aterro sanitário. A partir da obtenção de
custos para cada uma destas etapas (R$/ton), estes valores são multiplicados
pela quantidade reciclada e somados para que se obtenha o item E final, bem
como os custos não evitados (percentual do lixo não-reciclado).
Por sua vez, o item C, "Custos Incorridos", se refere aos custos
inerentes ao processo de reciclagem e envolvem dentre outros: custos de
triagem e transporte. Cabe salientar que a época, as transações realizadas
entre os diferentes agentes do processo já cobriam os custos do processo de
reciclagem.
0 item V, "Venda de Recicláveis", na verdade diz respeito as transações
envolvendo recicláveis, uma vez que para a economia ocorre uma mera
transferência de
vendem, outros
entre indústria
renda entre os agentes envolvidos no processo, enquanto uns
adquirem. Estas transações podem ocorrer em vários níveis:
e sucateiros de maior porte (atacadistas); entre estes e
sucateiros de menor porte; e entre estes últimos e catadores.
Os demais itens: "Água (H)" e "Controle Ambienta1 (A)", são de mais
difícil mensuração e não foram obtidos resultados para os materiais que são
mais relevantes para o presente estudo: plástico e vidro.
Finalmente, cabe mencionar que o item "Demais Ganhos Econômicos"
(D), que está presente no modelo original, não foi calculado em virtude de
dificuldades metodológicas que vão além do escopo do modelo, por conta, por
. , . o, aa m ç a o " a 'o abngamentu&vida-ml-dos-equipamentu~s. -.-.. - -.- ----.-.
como decorrência do processo de reciclagem, bem como, redução de gastos
dos Governos Federal e Estadual na produção de energia elétrica, e redução
de gastos com saúde pública.
A partir dos dados acima mencionados é possível congregá-los na
tabela 16, de maneira a melhor compreender o modelo e também inferir a
viabilidade econômica da reciclagem do lixo no município de São Paulo.
Tabela 16 - Resultados Globais para a Economia Proveniente da Reciclagem
do Lixo no Município de São Paulo. (em R$ milhões de setembro de 1996)
ECONOMIA
POSSIVEL Plástico Vidro Total OBTIDA PIBstico Vidro Total PERDIDA Plástico Vidro Total
Fonte: Cali
7
--
--
791,2( = roni (1 999)
V
Venda de recicláveis
(+ H)
Economia de Recursos
40,5 1 0,7
250,9
3,4 6 4
107,2
37,l 4,3
143,7
(+ 4
Economia de Custos
(- V)
Compra de recicláveis
(+ W)
Economia de
-- -40,s -10,7
-250,9
(+ M)
Economia de Matéria-
(- C)
Custo da Reciclagern
4 4 4 4
-107,2
37, l 4 3
-143,7
(+ E)
Custo Evitado
-1 ,O -1,9
-32,2
-11,2 -1 $3
-43,l
1,4 4,5
36,3
15,O 2,9
54,O
5,6 2,í
101,5
59,3 1,4
163,5
37,6 8,9
155,O
405,2 6,O
539,9
65,l
76,O
0,s~
0,9-
4.4. Confrontando os Modelos Esquemáticos
A principal ressalva quando se propõe uma comparação entre os
modelos aqui apresentados é a de que ambos têm o mesmo intuito, isto é,
calcular o valor adicionado para a economia pelo reaproveitamento de
resíduos. O foco de ambos está no cálculo do custo financeiro do
reaproveitamento de resíduos onde são expurgados os custos evitados pela
sociedade durante o processo. Algumas discrepâncias se encontram na
metodologia que ambos empregam, contudo a meta é similar. Dentre as
diferenças cabe ressaltar que Calderoni (1999) prega a viabilidade da
reintrodução na economia da totalidade dos resíduos, enquanto Seroa da Motta
e Sayago (1998) ponderam outros usos para o lixo urbano, além de abordar
com mais propriedade os custos de transação. Assim, as diferenças que
possam haver entre os modelos são melhor explicadas pelas diferentes
externalidades consideradas e pelas variadas ponderações do que por
premissas distintas.
Embora os modelos tenham sido aplicados para municípios distintos -
Seroa da Motta e Sayago (1998) traz resultados para o município do Rio de
Janeiro (foco do estudo) e Calderoni (1999) para o município de São Paulo -
além de Calderoni não apresentar dados particularizados para o PET, mas
apenas para o material "plástico" como um todo, é possível efetuar uma análise
comparativa aproximada entre os resultados dos modelos e até mesmo afirmar
que são convergentes.
Afinal, em ambos os modelos fica patente o maior valor adicionado
trazido para a economia como um todo quando da reciclagem do plástico,
principalmente em comparação com materiais alternativos no uso como
embalagens (por exemplo, o vidro). Em Calderoni, verifica-se que a economia
obtida pela reciclagem do plástico corresponde a 13,4% da economia obtida
total decorrente de reciclagern, enquanto o vidro responde por somente 4,2%
do total. Simultaneamente, em Seroa da Motta e Sayago, o BLSR do vidro é
inferior ao do PET, mesmo após uma ponderação por peso na composição
total do lixo urbano - R$ 16,56 1 ton para o PET contra R$ 11.40 I ton para o
vidro.
O modelo de Calderoni também evidencia a incipiência da reciclagem de
pl&ticos, (embora hoje o percentual de reciclagem seja superior ao da época)
e a decorrente economia potencial desperdiçada com a não-reciclagem do
material responde por 59.2% do total de economia perdida no processo,
conforme a tabela 16.
Por conseguinte, apesar das discrepâncias nas premissas adotadas, os
dois modelos apontam para a reciclagem do PET como fonte de receitas
expressivas para a economia e como sendo superior a reciclagem do vidro
tanto efetivamente, quanto - principalmente - potencialmente.
5. Conclusões
A finalidade deste capítulo é procurar traduzir os resultados em
respostas as motivações iniciais do trabalho.
Sendo assim, enfocando a pergunta que norteou a pesquisa:
Qual é o resultado econômico consolidado dos agentes públicos e
privados decorrente do reaproveitamento da resina PET nas embalagens?
Este resultado econômico pode ser explicitamente obtido a partir dos
dados segundo o modelo de Seroa da Motta e Sayago (1998) fornecidos na
tabela 13 que prevê um BLSR total de R$ 414,OO 1 ton ou um valor ponderado
pelo peso de PET no lixo urbano gerado de R$ 16,56 1 ton para o município do
Rio de Janeiro. Já o modelo de Calderoni (1999), prevê para o município de
São Paulo uma economia potencial (possível) proveniente da reciclagem de
plástico de aproximadamente R$ S I 2 milhões de reais em 1996.
Respondendo, também, a questão auxiliar do estudo:
Quais as vantagens e desvantagens econômicas do PET em relação as
embalagens com materiais alternativos?
Sob o ponto de vista do valor adicionado para a economia como um todo
e supondo a atividade de reprocessamento de materiais atualmente como
condição relevante na geração de renda e de empregos para a economia, fica
evidenciado na tabela 13, o maior ganho proporcionado pelo
absolutos ou quando ponderado pelo grau de sua utilização
PET, em termos
em comparação
com o vidro, seu predecessor e potencial concorrente. Pelo modelo de Seroa
Motta e Sayago (1998), na tabela 13, a reciclagem de PET gera R$ 414,OO por
tonelada em termos absolutos contra R$ 114,OO por tonelada proporcionados
pelo vidro. Quando ponderados pela participação relativa ao peso no total do
lixo urbano gerado, o PET gera R$ 16,56 por tonelada, enquanto o vidro gera
R$ I 1,40 por tonelada.
A menor diferença relativa entre os BLSRs do PET e do vidro quando da
ponderação se deve a menor participação do PET no total de lixo gerado, posto
que esta medição é pautada pelo peso e este é um material consideravelmente
mais leve do que o vidro e outros concorrentes, além de ainda se encontrar em
franca expansão de demanda.
Segundo o modelo de Calderoni (1999) paraomameipio de São Paulo,
conforme a tabela 16, a reciclagem do
13,6 milhões para a reciclagem do
plástico gera R$43,6
vidro e a possível
milhões contra R$
economia com a
reciclagem total do plástico alcança R$ 51 1,9 milhões contra apenas R$ 22,6
milhões do vidro.
A introdução da embalagem de PET no Brasil, em 1988, trouxe
vantagens ao consumidor, já mencionadas previamente. Por exemplo, a maior
leveza - enquanto as antigas garrafas retornáveis de vidro de um litro pesavam
cerca de 952 gramas, as garrafas de PET de dois litros pesam apenas 54
gramas. Esta redução de peso, além de colaborar para a redução de preços
para o consumidor, é responsável por fazer da embalagem de PET um produto
ecologicamente mais correto, pois, para transportar a mesma quantidade de
líquido, menos viagens são necessárias, reduzindo o consumo de combustível
(diesel), óleo e pneus, cuja queima contribui para a poluição atmosférica.
Contudo, um dos principais aspectos positivos da implantação do PET
na indústria de embalagens foi a nova ênfase que trouxe para o desafio de
desenvolvimento da reciclagem de um material que caso impropriamente
debate sobre o destino do PET pós-consumo é, portanto, vital no
desenvolvimento de planejamento para gerenciar com maior responsabilidade
a questão do destino das centenas de milhares de toneladas de lixo / dia
produzidas em todo o Brasil.
A reciclagem de qualquer material pode ser dividida em: Coleta/Seleçáo,
Revalorização e Transformação. A última etapa - transformação - utiliza o
material "revalorizado" e o transforma em outro produto novamente
comercializável, o produto reciclado. Na etapa predecessora - revalorizago -
h á a descontaminação e a adequação do material coletado e selecionado para
que possa ser utilizado como matéria-prima na indústria de transformação.
Todavia, é na primeira etapa, de Coleta/Seleção, onde reside o grande desafio
da reciclagem do PET pós-consumo.
Paradoxalmente, o governo brasileiro ainda incorre em leis anacrônicas
tempos de incentivo a atividade recicladora, posto que o Brasil faz incidir
Imposto sobre o Produto Industrializado (IPI) menor quando do uso da
matéria-prima virgem (alíquota de 10%), fixando em 15% a alíquota quando o
produto é fabricado a partir de matéria prima de plástico reciclado.
Portanto, o equacionamento da problemática do lixo urbano e das
embalagens de PET nele contidas depende também, em Última análise, da
criação de políticas públicas específicas. Embora as prefeituras sejam as
responsáveis pela coleta e destinação do lixo, elas não têm poder para
interferir diretamente na sua geração, isto é, nos processos industriais
produtores de bens de consumo. Portanto, a menos que haja uma Política
Nacional de Resíduos Sólidos, realmente comprometida com a busca do
máximo benefício para a sociedade, as prefeituras continuarão a arcar com a
maior parte do ônus do "tratamentoJJ deste lixo e todos as externalidades
negativas que sua disposição irresponsavelmente impune impõem.
Uma Política de Resíduos Sólidos, preocupada em gerir a questão do
lixo de maneira economicamente responsável deve contemplar alguns pontos,
como:
a valorização diferenciada de embalagens;
a revisão de incentivos econômicos que privilegiam a exploração de
matéria-prima virgem (vide caso do IPI, acima mencionado); e
o fortalecimento do mercado para recicláveis. I
Uma política nacional de resíduos que reconheça a relevância das
embalagens no volume de lixo urbano deve promover as embalagens que,
embora descartáveis, sejam recicláveis e economicamente viáveis, como as
garrafas de PET demonstram ser no presente estudo. Neste sentido a política
deve responsabilizar os produtores pela criação de mecanismos efetivos para a
recuperação destas embalagens, que podem incluir o apoio financeiro as
incentivo para a criação de empresas recicladoras. Cabe ressaltar que as
próprias indústrias podem trabalhar em conjunto, planejando e executando
sistemas de coleta e estruturando suas centrais de triagem. Neste caso, o
poder público local pode se concentrar mais nas atividades de educação da
comunidade, supervisão do programa e fiscalização.
A produção e distribuição de embalagens que sejam simultaneamente
descartáveis e não-recicláveis deve ser desestimulada, pois inevitavelmente se
transformam em lixo que não agregará qualquer espécie de valor a economia.
A solução certamente virá da conjugação de esforços da sociedade -
cada vez mais consciente da necessidade de respeito ao meio ambiente desde
que viável economicamente; da indústria - que disponibiliza processos de
reciciagem de diversas embalagens; e do governo - nas esferas federal,
estadual e municipal - que legisla sobre o assunto e gerencia as coletas.
6- Sugestões para Pesquisas Futuras
Uma vertente do presente estudo erá se !r futuramente
desenvolvida é uma análise detalhada das empresas recicladoras de PET e
seus indicadores econÔmicos, de modo a evidenciar o incentivo que há para o
investidor privado nesta atividade em franca expansão. Este trabalho pretendia
incorporar esta análise sob a ótica privada, contudo, em razão da existência de
somente três empresas registradas no CEMPRE com este fim no estado do Rio
de Janeiro - o Projeto Recicla Três Rios, na cidade homônima, a firma
Fluminense em Volta Redonda e a Reciclagem São Jorge em Duque de Caxias
- os resultados obtidos não seriam significativos ou conclusivos para o estado,
até em razão do reduzido porte das poucas empresas em questão.
As futuras pesquisas também devem acompanhar a entrada em vigor da
estrutura legislativa prevista na Política Nacional de Resíduos Sólidos e sua
real (ou não) aplicação pela sociedade.
Além das conclusões diretamente suportadas pelos resultados gerados
pelos modelos utilizados também é possível expor algumas considerações
acerca do material e de sua reciclagem, que foram identificados ao longo da
pesquisa e que merecem estudos futuros mais aprofundados, como, por
exemplo, o fato de que o vidro, reutilizávei, supõe um gasto logístico com
transporte mais elevado, em virtude do transporte em dois sentidos, do envase
para o ponto de venda e deste para a distribuidora I produtora 1 "engarrafadora"
novamente. Por sua vez, deve ser considerado o fato de que as garrafas vazias
de PET dispensam o transporte de volta as fábricas de origem, podendo ser
endereçadas diretamente a atividade recicladora que encontrará novo destino
econômico para a embalagem pós-consumo.
Portanto, um fator de grande importância que não é tratado ou
devidamente quantificado neste estudo, mas que deve ser enfocado em
pesquisas subseqüentes é a logística reversa. Enquanto grandes quantias são
comprem produtos embalados em PET e os levem até suas casas, somente a
partir de um equacionamento da logística reversa das embalagens pós-
consumo é que a reciclagem do PET realmente se estabelecerá em sua
plenitude. Como afirma Vladimir Kudrjawzew, diretor da empresa de reciclagem
REPET no portal eletrônico Recicláveis em www.reciclaveis.com. br (2002):
"A logística reversa é o processo pelo qual o material reciclável será
coletado, selecionado e entregue na indústria de revalorização. Estas
discussões acabam num impasse de quem é que paga a conta de
logística reversa? A indústria de embalagens, a indúsfria dos produfos
embalados, a prefeitura? Somos nós, eu, você e toda a sociedade seja
como contribuinte ou seja como consumidor. Hoje pagamos uma conta
maior por não termos uma logística reversa adequada, como é provado
nos países como EUA, Austrália, Japão e foda Europa. Urgente é a
elaboração de uma política nacional de resíduos sólidos, as ações
estaduais e municipais para viabilização da logística reversa e o
fortalecimento da indústria de reciclagem no Brasil".
Outro ponto que deve merecer destaque seria o enquadramento dos
custoslbeneficios imputados isoladamente para cada agente produtivo, o que
ainda apresenta desafios metodológicos relevantes e supõe um grau de
arbitrariedade para se alcançar algum resultado - principalmente para o uso e
reaproveitamento do PET, cuja indústria ainda pode ser considerada incipiente
e pouco documentada. Logo, os cálculos
praticamente suprimidos no presente estudo, mas
destaque para o modelo de Calderoni (1999) que
compartimentados foram
permanecem citados, com
somente carece de dados
mais aplicados para a indústria do PET para ser totalmente aplicável e efetivo
como ferramenta de análise isolada.
7- Referências bibliográficas
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SÓLIDOS (PNRS) - SUBSEÇÃO XI: DAS EMBALAGENS
DAS EMBALAGENS
Art. 102 - Considera-se embalagem, para os fins previstos nesta lei, todos os
produtos, confeccionados de quaisquer materiais, utilizados para conter,
proteger, transportar, armazenar e apresentar mercadorias, desde matérias-
primas até produtos acabados, utilizados desde a produção até o consumo nas
etapas de produção, armazenamento, transporte e entrega.
l0 - Todos os artigos descartáveis, utilizados para os mesmos fins, são
considerados embalagens.
§ 2 O - As embalagens são caracterizadas em:
I - embalagens de venda ou embalagens primárias, concebidas com o objetivo
de constituir uma unidade de venda ao fabricante de um produto ou do
consumidor final;
II - embalagem agrupada ou embalagem secundária, concebida com o objetivo
de constituir, no ponto de venda, uma agrupagem de determinado número de
unidades, quer estas sejam vendidas como tal, quer sejam apenas utilizadas
como meio de organização no ponto de venda. Este tipo de embalagem pode
ser retirado do produto sem afetar as suas características;
111 - embalagem de transporte ou embalagem terciária, concebida com o
objetivo de facilitar a movimentação e o transporte de uma série de unidades
de venda ou embalagens grupadas, a fim de evitar danos físicos durante a
movimentação e o transpoite.
5 3 O - Os residuos de embalagens não abrangem os residuos de produção.
~ r t . 103 - Em dois anos, a contar da data de entrada em vigor da presente lei,
somente poderão ser colocadas no mercado embalagens que preencham os
seguintes requisitos essenciais:
a) as embalagens devem ser fabricadas de forma a que o respectivo peso e
volume não excedam o montante necessário para manter níveis de segurança,
higiene e aceitação adequados para o produto embalado e para o consumidor;
b) as embalagens devem ser concebidas, produzidas e comercializadas de
forma a permitir a sua reutilização, valorização, ou reciclagem e a minimizar o
impacto sobre o meio ambiente;
c) as embalagens devem ser fabricadas de modo a minimizar a presença de
substâncias nocivas e outras substâncias ou matérias primas perigosas, de
acordo com os limites de tolerância fixados pelos órgãos competentes do
SISNAMA.
Art.104 - Os órgãos competentes do SISNAMA promoverão a elaboração de
normas técnicas relativas a, especial, mas não exclusivamente:
a) critérios e metodologias de analise do ciclo de vida da embalagem;
b) métodos de medição e verificação da presença de metais pesados e de
outras substâncias perigosas na embalagem e sua libertação no meio
embalagens;
d) critérios a adotar quanto aos métodos de reciclagem;
e) critérios a adotar quanto aos métodos de compostagem e ao composto
produzido;
f) critérios a adotar quanto a marcação das embalagens.
Art. 105 - Os órgãos competentes do SISNAMA disciplinarão os Iímites dos
níveis de concentração de chumbo, cádmio, mercúrio e cromo hexavalente,
presentes nas embalagens ou nos componentes de embalagens.
Art. 106 - São responsáveis pelo gerenciamento dos resíduos de embalagens:
a) o fabricante e o importador da embalagem quando esta constituir produto de
venda específico e independente, com utilidade própria, colocado a disposição
do consumidor; e
b) o utilizador da embalagem ou envasador, quando esta constituir veículo
necessário ao acondicionamento do produto fabricado;
Art. 107 - Na hipótese de embalagem caracterizada como veículo necessário
ao acondicionamento do produto, o fabricante ou importador e o utilizador ou
envasador são solidariamente responsáveis pelo gerenciamento da coleta e
retorno da embalagem ou resíduo de embalagem.
Art.108 - O fabricante ou importador e o utilizador ou envasador de embalagem
deverão elaborar, anualmente, Plano de Gestão de Resíduos Especiais de
Embalagens, nos moldes da Subseção I da Seção III desta lei.
Art. 109 - O fabricante ou o importador e o utilizador ou envasador são
obrigados a receber, em retorno, embalagens ou resíduos de embalagens por
eles fabricados ou utilizados, desde que isentas de contaminação.
~ r t . 110 - Os fabricantes ou importadores de embalagens deverão assegurar a
criação de sistemas que garantam:
a) a recuperação elou a coleta das embalagens usadas elou dos resíduos de
embalagens gerados pelos consumidores dos produtos embalados de forma a
dar-lhes destinação adequada, nos termos desta lei.
b) a reutilização e a valorização, incluindo a reciclagem das embalagens elou
dos resíduos de embalagens recolhidos, a fim de atingir os objetivos definidos
na presente lei.
Art. I 11 - Na hipótese de implantação, pelo fabricante ou pelo fabricante e pelo
utilizador em conjunto, quando for o caso, de sistemas de coleta e retorno de
embalagens ou resíduos de embalagens, os distribuidores e os pontos de
venda ficam obrigados a receber, também em depósito, tais embalagens ou
resíduos de embalagens.
Art. 112 - Em um ano, a contar da data de vigência desta lei, os fabricantes
e/ou importadores de embalagens assegurarão que os utilizadores ou
envasadores, distribuidores, pontos de venda e, em especial os consumidores
de embalagens, disponham das informações necessárias sobre:
a) os sistemas de recuperação, coleta e valorização da embalagem;
b) a possibilidade de contribuírem para reutilização, valorização e reciclagem
da embalagem e resíduos de embalagens; e
c) o significado das marcações nas embalagens existentes no mercado;
~ r t . 113 - Em um ano, a contar de data de entrada em vigor da presente lei,
visando facilitar a coleta, reutilização e valorização, incluindo a reciclagem, as
embalagens fabricadas deverão indicar a natureza dos materiais utilizados em
sua produção, para efeitos de identificação e classificação pela respectiva
indústria.
Parágrafo Único - A marcação adequada será aposta na própria embalagem
ou no rótulo, devendo ser claramente visível e de fácil leitura. A marcação terá
uma duração adequada, inclusivamente depois da abertura da embalagem.
Art. 114 - Visando assegurar o cumprimento desta lei, os órgãos competentes
do SISNAMA diligenciarão no sentido de fiscalizar o cumprimento das
seguintes metas mínimas de reciclagem de embalagens, a serem observadas
pelos fabricantes e pelos utilizadores ou envasadores de embalagens, a contar
da data de vigência desta lei:
a) cervejas - %, em I (um) ano; %, em 3 (três) anos;
%, em 5 (cinco) anos; %, em lO(dez) anos;
b) refrigerantes e demais bebidas carbonatadas - %, em I (um)
ano; %, em 3 (três) anos; %, em 5 (cinco) anos;
%, em 10(dez) anos;
c) água - %, em 1 (um) ano; %, em 3 (três) anos;
%, em 5 (cinco) anos; %, em I O(dez) anos;
d) sucos - %, em 1 (um) ano; ?h, em 3 (três) anos;
%, em 5 (cinco) anos; %, em IO(dez) anos;
e) leite - %, em I (um) ano; %, em 3 (três) anos;
?h, em 5 (cinco) anos; %, em 1 O(dez) anos;
9 alimentos - %, em I (um) ano; %, em 3 (três) anos;
%, em 5 (cinco) anos; %, em IO(dez) anos;
g) demais descartáveis plásticos - %, em I (um) ano;
%, em 3 (três) anos; %, em 5 (cinco) anos; %, em IO(dez)
anos;
h) demais descartáveis de papel - %, em I (um) ano; %,
em 3 (três) anos; %, em 5 (cinco) anos; %, em 1 O(dez)
anos;
i) demais descartáveis metálicos - %, em I (um) ano;
%, em 3 (três) anos; %, em 5 (cinco) anos; %, em IO(dez)
anos;
j) demais descartáveis de vidro - %, em I (um) ano; %,
em 3 (três) anos; %, em 5 (cinco) anos; %, em IO(dez)
anos.
Parágrafo Único - O índice de retornabilidade de embalagens poderá ser
computado para os fins das metas previstas neste artigo.
Art.115 - Os órgãos competentes do SISNAMA diligenciarão no sentido de
fiscalizar o cumprimento, pelos distribuidores e pontos de venda dos seguintes
percentuais anuais de retornabilidade de embalagens dos produtos a seguir
descritos:
a) cervejas - - % em O1 (um) ano; %, em 3 (três) anos; -%, em 5
(cinco) anos; e %, em lO(dez) anos;
b) refrigerantes e demais bebidas carbonatadas - % em 01 (um) ano;
- %, em 3 (três) anos; -%, em 5 (cinco) anos; e %, em lO(dez)
anos; e
c) água - - % em 01 (um) ano; %, em 3 (três) anos; -%, em 5
(cinco) anos; e %, em 1 O(dez) anos;
1 - O controle dos índices de retornabilidade previstos neste artigo, deverá
ser realizado anualmente, com base nos registros de compra ou entrada em
consignação dos produtos nos estoques.
§ 20 - 0 s órgãos competentes do SISNAMA diligenciarão no sentido de
assegurar o cumprimento das disposições constantes deste artigo,
preservando as seguintes situações especificas, por meio de regulamentação:
a) supermercados - são equiparados aos distribuidores para fins de
fiscalização e cumprimentos dos índices estabelecidos;
b) bares, restaurantes, lanchonetes, padarias - deverão comercializar os
produtos previstos no "caput" deste artigo
retornáveis;
predominantemente em vasilhames
C) eventos e apresentações públicas - deverão comercializar
previstos no "caput" deste artigo predominantemente em
descartáveis.
os produtos
recipientes
Art. 1 I 6 - Os fabricantes ou importadores, através dos distribuidores e pontos
de venda, deverão remunerar financeiramente as embalagens e os resíduos de
embalagens retornados,
uniformes e publicamente
pelo consumidor, baseados em critérios objetivos,
divulgados.
~ f l . 117 - Os órgãos competentes do SISNAMA divulgarão as medidas
necessárias para que os fabricantes ou importadores de embalagens atinjam
limites mínimos de valorização, reciclagem e retornabilidade, além daqueles já
previstos nesta lei.
Parágrafo Único - Para os fins previstos neste artigo, as embalagens devem
ser valorizáveis: sob a forma de reciclagem de uma determinada percentagem
dos materiais utilizados no seu fabrico; sob a forma de valorização energética;
ou tratadas para fins de compostagem.
~f l .118 - Os Estados, Municípios e o Distrito Federal devem incentivar o uso de
sistemas de reutilização das embalagens em moldes que respeitem o ambiente
e as normas de saúde pública.
Art. 1 I 9 - Os Estados, Municípios e o Distrito Federal deverão incentivar o uso
de materiais provenientes de resíduos de embalagens reciclados para o fabrico
de embalagens e outros produtos.
Art. 120 - A União, os Estados, Municípios e o Distrito Federal, devem
assegurar que, além das medidas de prevenção de formação de resíduos de
embalagens, previstas nesta lei, outras sejam tomadas por meio de programas
de ação nacional, estadual, municipal, distrital ou regional.