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Bezerra, E. C. M. 1 *, Santos, S. V 2 , Santos, T. C. C 1, Andrade, H. F. Jr 1, Meireles, L. R. 1 1 Universidade de São Paulo. Laboratório de Protozoologia IMTSP/USP. São Paulo, São Paulo. Brasil; 2 Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa. Departamento de Parasitologia. São Paulo, São Paulo. Brasil; Acredita-se que a predação de roedores infectados com Toxoplasma gondii seja um importante modo de transmissão do parasita para gatos, hospedeiros definitivos do agente (Fig.1). Pesquisas em camundongos demonstraram que a infecção crônica por T.gondii pode causar alterações comportamentais, tornando o hospedeiro intermediário (roedor) mais suscetível à predação (Webster, 2007; Webster e McConkey, 2010; Yolken e Torrey, 2008). Apesar dos avanços nesta área, pouco se sabe sobre a influência da diversidade genética do parasita em relação a essa questão. Um estudo conduzido por Kannan et al. (2010) avaliou o efeito cepa dependente e sua implicação no comportamento de camundongos comparando a influência da infecção por duas cepas do tipo II (PRU e ME- 49). Uma diferença no padrão comportamental gerado pela infecção entre as cepas foi encontrada, indicando que fatores genéticos do parasita podem ter um efeito diferencial no desenvolvimento de mudanças comportamentais entre os hospedeiros. INTRODUÇÃO REFERÊNCIAS AVALIAÇÃO COMPORTAMENTAL DE CAMUNDONGOS BALB/C (Mus musculus) INFECTADOS COM CEPAS GENETICAMENTE DISTINTAS DE Toxoplasma gondii. MATERIAIS E MÉTODOS Animais Foram utilizados camundongos adultos BALB/c machos. Os animais receberam ração comercial e água ad libitum e todos os procedimentos foram conduzidos de acordo com a Ética em Experimentação animal preconizada pelo CONCEA. Parasitas Foram utilizadas as cepas ME-49 (Tipo II) e VEG (Tipo III) de T. gondii. As cepas foram mantidas em laboratório por sucessivas passagens em camundongos Swiss isogênicos. Três grupos experimentais foram desenvolvidos: grupo controle, inoculado com solução salina, grupo inoculado com a cepa ME-49 e grupo inoculado com a cepa VEG (ambos receberam 10 cistos). Avaliação da Resposta imune Humoral por ELISA A detecção de anticorpos IgG anti-T. gondii foi realizada por ELISA, utilizando-se extrato proteico solúvel de T. gondii de acordo com a metodologia descrita por Venkatesan e Wakelin (1993), sendo realizados dois ensaios (seis e dezesseis semanas pós-infecção). Contagem de parasitos cerebrais por PCR em tempo real A PCR em tempo real foi realizada de acordo com o protocolo descrito por Mesquita et al., (2010), utilizando-se sistema de PCR em Tempo Real 7500 (Applied Biosystems) em um volume final de reação de 25μL . Testes Comportamentais Foram realizados os seguintes testes comportamentais: Esquiva Inibitória para avaliação de aprendizagem e memória (Wang et al., 2011); Labirinto de Barnes para avaliação da memória espacial (Sunyer et al., 2007 ; Baraldi et al., 2013); teste de campo aberto para avaliação da atividade locomotora e exploratória (Santos et al., 2014); Labirinto em Cruz Elevado para avaliação de ansiedade (Afonso et al., 2011 ; González et al., 2007) e teste de Labirinto em Y para avaliação da aversão ao odor do predador tanto com urina de gato como com o aminoácido L-felinina. [email protected] Observamos que os animais infectados pela cepa VEG (tipo III) apresentaram maior título de anticorpos em comparação com os animais infectados com a cepa ME-49 (tipo II) (Fig.2A), além de maior carga parasitária no SNC, principalmente dezesseis semanas pós-infecção (Fig.2B). Testes comportamentais Teste de Esquiva Inibitória demonstrou que os animais infectados por ambas as cepas tiveram uma redução da capacidade de recuperação de memória de longo prazo, sendo esse efeito mais evidente na infecção com a linhagem VEG (Fig. 3A e 3B). Teste de Campo aberto demonstrou que os animais infectados pela cepa VEG tiveram uma redução da atividade locomotora (Fig. 4) e no teste de Labirinto em Y foi verificado que os animais infectados pela cepa VEG tiveram uma redução à aversão ao odor do predador tanto para a urina de gato como para a L-felinina (Fig.5). Não foram verificadas modificações comportamentais nos testes de Labirinto de Barnes e Labirinto em Cruz Elevado. Nossos dados sugerem que a infecção crônica por cepas cistogênicas geneticamente distintas de T. gondii altera o comportamento de forma diferenciada em camundongos BALB/c, sendo esse efeito mais pronunciado na infecção pela cepa VEG (tipo III). RESULTADOS E DISCUSSÃO CONCLUSÃO OBJETIVO O presente estudo teve como objetivo avaliar o efeito da infecção crônica por cepas cistogênicas geneticamente distintas de T. gondii no comportamento de camundongos BALB / c. Fig.1. Ciclo biológico do T. gondii. A B A B Figura 2 : A: Avaliação da resposta imune humoral , resultados IgG ELISA. B: Número de bradizoítos (PCR em tempo real). Após seis e dezesseis semanas de infecção. Figura 3: A - Resultados de latência dos animais que entraram no compartimento escuro no Teste Esquiva Inibitória. B - Número de entradas nas duas áreas do aparelho no Teste de Esquiva Inibitória em diferentes momentos de avaliação. Figura 4: Movimento de animais no Campo Aberto . A: movimentos horizontais. B: movimentos verticais. Figura 5: Teste de labirinto em Y. A: número de entradas no braço contendo urina de gato. B: número de entradas no braço contendo L- felinina. B Webster JP. The effect of Toxoplasma gondii on animal behavior: playing cat and mouse. Schizophr Bull. 2007 May;33(3):752-6. / Webster JP, McConkey GA. Toxoplasma gondii-altered host behaviour: clues as to mechanism of action. Folia Parasitol (Praha). 2010 Jun;57(2):95-104/.Yolken RH, Torrey EF. Are some cases of psychosis caused by microbial agents? A review of the evidence. Mol Psychiatry. 2008 May;13(5):470-9./Kannan G, Moldovan K, Xiao JC, Yolken RH, Jones-Brando L, Pletnikov MV. Toxoplasma gondii strain-dependent effects on mouse behaviour. Folia Parasitol (Praha). 2010 Jun;57(2):151-5. /Wang T, Liu M, Gao XJ, Zhao ZJ, Chen XG, Lun ZR. Toxoplasma gondii: the effects of infection at different stages of pregnancy on the offspring of mice. Exp Parasitol. 2011 Jan;127(1):107-12./Sunyer B, Patil S, Höger H, Lubec G. Barnes maze, a useful task to assess spatial reference memory in the mice Nature protocols 390. 2007. [cited 2015 Fev 02]. Available from: http://www.nature.com/protocolexchange/protocols/349. /Afonso C, Paixão VB, Costa RM. Chronic Toxoplasma infection modifies the structure and the risk of host behavior. PLoS One. 2012;7(3):1-15./ Gonzalez LE, Rojnik B, Urrea F, Urdaneta H, Petrosino P, Colasante C, et al. Toxoplasma gondii infection lower anxiety as measured in the plus-maze and social interaction tests in rats A behavioral analysis. Behav Brain Res. 2007 Feb 12;177(1):70-9. A B *** ** ** *

AVALIAÇÃO COMPORTAMENTAL DE CAMUNDONGOS BALB/C …€¦ · Acredita-se que a predação de roedores infectados com Toxoplasma gondii seja um importante modo de transmissão do parasita

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Page 1: AVALIAÇÃO COMPORTAMENTAL DE CAMUNDONGOS BALB/C …€¦ · Acredita-se que a predação de roedores infectados com Toxoplasma gondii seja um importante modo de transmissão do parasita

Bezerra, E. C. M.1*, Santos, S. V2, Santos, T. C. C1, Andrade, H. F. Jr 1, Meireles, L. R. 1

1 Universidade de São Paulo. Laboratório de Protozoologia IMTSP/USP. São Paulo, São Paulo. Brasil;2 Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa. Departamento de Parasitologia. São Paulo, São Paulo. Brasil;

Acredita-se que a predação de roedores infectados com Toxoplasmagondii seja um importante modo de transmissão do parasita para gatos,hospedeiros definitivos do agente (Fig.1). Pesquisas em camundongosdemonstraram que a infecção crônica por T.gondii pode causar alteraçõescomportamentais, tornando o hospedeiro intermediário (roedor) maissuscetível à predação (Webster, 2007; Webster e McConkey, 2010; Yolkene Torrey, 2008). Apesar dos avanços nesta área, pouco se sabe sobre ainfluência da diversidade genética do parasita em relação a essa questão.Um estudo conduzido por Kannan et al. (2010) avaliou o efeito cepadependente e sua implicação no comportamento de camundongoscomparando a influência da infecção por duas cepas do tipo II (PRU e ME-49). Uma diferença no padrão comportamental gerado pela infecçãoentre as cepas foi encontrada, indicando que fatores genéticos doparasita podem ter um efeito diferencial no desenvolvimento demudanças comportamentais entre os hospedeiros.

INTRODUÇÃO

REFERÊNCIAS

AVALIAÇÃO COMPORTAMENTAL DE CAMUNDONGOS BALB/C (Mus musculus) INFECTADOS COM CEPAS GENETICAMENTE DISTINTAS DE Toxoplasma gondii.

MATERIAIS E MÉTODOSAnimais

Foram utilizados camundongos adultos BALB/c machos. Os animaisreceberam ração comercial e água ad libitum e todos os procedimentosforam conduzidos de acordo com a Ética em Experimentação animalpreconizada pelo CONCEA.

Parasitas

Foram utilizadas as cepas ME-49 (Tipo II) e VEG (Tipo III) de T. gondii. Ascepas foram mantidas em laboratório por sucessivas passagens emcamundongos Swiss isogênicos. Três grupos experimentais foramdesenvolvidos: grupo controle, inoculado com solução salina, grupoinoculado com a cepa ME-49 e grupo inoculado com a cepa VEG (ambosreceberam 10 cistos).

Avaliação da Resposta imune Humoral por ELISA

A detecção de anticorpos IgG anti-T. gondii foi realizada por ELISA,utilizando-se extrato proteico solúvel de T. gondii de acordo com ametodologia descrita por Venkatesan e Wakelin (1993), sendo realizadosdois ensaios (seis e dezesseis semanas pós-infecção).

Contagem de parasitos cerebrais por PCR em tempo real

A PCR em tempo real foi realizada de acordo com o protocolo descrito por Mesquita et al., (2010), utilizando-se sistema de PCR em Tempo Real 7500 (Applied Biosystems) em um volume final de reação de 25µL .

Testes Comportamentais

Foram realizados os seguintes testes comportamentais: Esquiva Inibitóriapara avaliação de aprendizagem e memória (Wang et al., 2011); Labirintode Barnes para avaliação da memória espacial (Sunyer et al., 2007 ; Baraldiet al., 2013); teste de campo aberto para avaliação da atividadelocomotora e exploratória (Santos et al., 2014); Labirinto em Cruz Elevadopara avaliação de ansiedade (Afonso et al., 2011 ; González et al., 2007) eteste de Labirinto em Y para avaliação da aversão ao odor do predadortanto com urina de gato como com o aminoácido L-felinina.

[email protected]

Observamos que os animais infectados pela cepa VEG (tipo III) apresentaram maiortítulo de anticorpos em comparação com os animais infectados com a cepa ME-49(tipo II) (Fig.2A), além de maior carga parasitária no SNC, principalmente dezesseissemanas pós-infecção (Fig.2B).

Testes comportamentaisTeste de Esquiva Inibitória demonstrou que os animais infectados por ambas ascepas tiveram uma redução da capacidade de recuperação de memória de longoprazo, sendo esse efeito mais evidente na infecção com a linhagem VEG (Fig. 3A e3B).Teste de Campo aberto demonstrou que os animais infectados pela cepa VEGtiveram uma redução da atividade locomotora (Fig. 4) e no teste de Labirinto em Yfoi verificado que os animais infectados pela cepa VEG tiveram uma redução àaversão ao odor do predador tanto para a urina de gato como para a L-felinina(Fig.5).Não foram verificadas modificações comportamentais nos testes de Labirinto deBarnes e Labirinto em Cruz Elevado.

Nossos dados sugerem que a infecção crônica por cepas cistogênicas geneticamentedistintas de T. gondii altera o comportamento de forma diferenciada emcamundongos BALB/c, sendo esse efeito mais pronunciado na infecção pela cepaVEG (tipo III).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

CONCLUSÃO

OBJETIVO

O presente estudo teve como objetivo avaliar o efeito da infecçãocrônica por cepas cistogênicas geneticamente distintas de T. gondii nocomportamento de camundongos BALB / c.

Fig.1. Ciclo biológico do T. gondii.

A B

A B

Figura 2 : A: Avaliação da resposta imune humoral , resultados IgG ELISA. B: Número de bradizoítos (PCR em tempo real). Após seis e dezesseis semanas de infecção.

Figura 3: A - Resultados de latência dos animais que entraram no compartimentoescuro no Teste Esquiva Inibitória. B - Número de entradas nas duas áreas do aparelhono Teste de Esquiva Inibitória em diferentes momentos de avaliação.

Figura 4: Movimento de animais noCampo Aberto . A: movimentoshorizontais. B: movimentos verticais.

Figura 5: Teste de labirinto em Y. A:número de entradas no braçocontendo urina de gato. B: númerode entradas no braço contendo L-felinina.

B

Webster JP. The effect of Toxoplasma gondii on animal behavior: playing cat and mouse. Schizophr Bull. 2007 May;33(3):752-6. / Webster JP, McConkey GA. Toxoplasma gondii-altered host behaviour: clues asto mechanism of action. Folia Parasitol (Praha). 2010 Jun;57(2):95-104/.Yolken RH, Torrey EF. Are some cases of psychosis caused by microbial agents? A review of the evidence. Mol Psychiatry. 2008May;13(5):470-9./Kannan G, Moldovan K, Xiao JC, Yolken RH, Jones-Brando L, Pletnikov MV. Toxoplasma gondii strain-dependent effects on mouse behaviour. Folia Parasitol (Praha). 2010 Jun;57(2):151-5./Wang T, Liu M, Gao XJ, Zhao ZJ, Chen XG, Lun ZR. Toxoplasma gondii: the effects of infection at different stages of pregnancy on the offspring of mice. Exp Parasitol. 2011 Jan;127(1):107-12./Sunyer B, Patil S,Höger H, Lubec G. Barnes maze, a useful task to assess spatial reference memory in the mice Nature protocols 390. 2007. [cited 2015 Fev 02]. Available from:http://www.nature.com/protocolexchange/protocols/349. /Afonso C, Paixão VB, Costa RM. Chronic Toxoplasma infection modifies the structure and the risk of host behavior. PLoS One. 2012;7(3):1-15./Gonzalez LE, Rojnik B, Urrea F, Urdaneta H, Petrosino P, Colasante C, et al. Toxoplasma gondii infection lower anxiety as measured in the plus-maze and social interaction tests in rats A behavioral analysis. BehavBrain Res. 2007 Feb 12;177(1):70-9.

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