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AVALIAÇÃO DO CUMPRIMENTO DA NR-18 EM ÁREAS DE VIVÊNCIA DE OBRAS VERTICAIS LARISSA MARTINS DE OLIVEIRA [email protected] JENNEF CARLOS TAVARES [email protected] Fabrícia Nascimento de Oliveira [email protected] Carla Vannessa da Rocha [email protected] Aline Beatriz de Medeiros Costa [email protected] O setor da construção civil apresenta um dos maiores índices de acidentes de trabalho registrados em todo país, o que pode estar associado a não observância das condições mínimas de segurança nos canteiros de obras e falta de adequação as especificações das normas regulamentadoras vigentes, em especial a NR-18, que trata do aprimoramento da saúde e segurança do trabalho na indústria da construção. Com intuito de avaliar a adequação dos canteiros de obras às exigências desta norma, o presente trabalho tem como objetivo analisar o cumprimento da NR-18 em áreas de vivências de duas obras verticais na cidade de Mossoró/RN. Para conseguir este objetivo, foram realizadas observações técnicas em visitas exploratórias, registros fotográficos, entrevistas não estruturadas com os responsáveis das obras e aplicação de checklist. Identificou-se que a média de atendimento à norma entre as duas obras é 65,7%, sendo que os mictórios foram conformes em ambos os canteiros. Através dos resultados obtidos conclui-se que as empresas necessitam adequar às áreas de vivências as determinações da NR-18, uma vez que a norma não é atendida em sua totalidade pelos empregadores e empregados. Palavras-chave: Canteiro de obras, segurança do trabalho, NR-18 XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO “A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil” Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018.

AVALIAÇÃO DO CUMPRIMENTO DA NR-18 EM ÁREAS DE … · O checklist, também chamado de lista de verificação, foi baseado na NR-18 e nos autores Assmann (2015), Rigolon (2013) e

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AVALIAÇÃO DO CUMPRIMENTO DA

NR-18 EM ÁREAS DE VIVÊNCIA DE

OBRAS VERTICAIS

LARISSA MARTINS DE OLIVEIRA

[email protected]

JENNEF CARLOS TAVARES

[email protected]

Fabrícia Nascimento de Oliveira

[email protected]

Carla Vannessa da Rocha

[email protected]

Aline Beatriz de Medeiros Costa

[email protected]

O setor da construção civil apresenta um dos maiores índices de

acidentes de trabalho registrados em todo país, o que pode estar

associado a não observância das condições mínimas de segurança nos

canteiros de obras e falta de adequação as especificações das normas

regulamentadoras vigentes, em especial a NR-18, que trata do

aprimoramento da saúde e segurança do trabalho na indústria da

construção. Com intuito de avaliar a adequação dos canteiros de obras

às exigências desta norma, o presente trabalho tem como objetivo

analisar o cumprimento da NR-18 em áreas de vivências de duas obras

verticais na cidade de Mossoró/RN. Para conseguir este objetivo,

foram realizadas observações técnicas em visitas exploratórias,

registros fotográficos, entrevistas não estruturadas com os

responsáveis das obras e aplicação de checklist. Identificou-se que a

média de atendimento à norma entre as duas obras é 65,7%, sendo que

os mictórios foram conformes em ambos os canteiros. Através dos

resultados obtidos conclui-se que as empresas necessitam adequar às

áreas de vivências as determinações da NR-18, uma vez que a norma

não é atendida em sua totalidade pelos empregadores e empregados.

Palavras-chave: Canteiro de obras, segurança do trabalho, NR-18

XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO “A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil”

Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018.

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1. Introdução

A importância da indústria da construção civil para o país é inegável, já que se trata de uma

das principais atividades que mais tem capacidade de elevar a taxa de emprego, de produto e

de renda (METALÚRGICA MANZATO, 2014). No entanto, esse setor também é conhecido

como um dos maiores geradores de acidentes de trabalho, uma vez que as empresas se

mostram resistentes ao cumprimento das normas de segurança no trabalho e mudanças em

seus processos de produção.

As normas regulamentadoras (NRs) foram criadas pelo Ministério do Trabalho e aprovadas

pela Portaria nº 3.214 de 8/06/1978, para regulamentar os procedimentos obrigatórios em

relação à segurança e medicina do trabalho, sendo que no setor de edificações destaca-se a

NR-18 que estabelece os requisitos mínimos nas condições e no meio ambiente de trabalho na

indústria da construção (BRASIL, 2015).

De acordo com a NR-18, os canteiros de obra devem dispor de áreas de vivência, que

garantam condições dignas para os trabalhadores, contendo instalações sanitárias; vestiário;

alojamento; local de refeições; cozinha, quando houver preparo de refeições; lavanderia; área

de lazer e ambulatório, quando se tratar de frentes de trabalho com 50 ou mais trabalhadores

(BRASIL, 2015).

A adequação do canteiro de obras à NR-18 e outras normas de segurança do trabalho resulta

em benefícios a todos os envolvidos, tornando o ambiente da construção mais seguro, limpo,

organizado e, por consequência, produtivo (NUNES, 2016).

As áreas de vivência são um dos itens mais priorizados pela fiscalização, devendo existir

condições humanas favoráveis à realização dos serviços, uma vez que as situações as quais os

trabalhadores estão expostos influem fortemente nos índices de acidentes (QUIESI, 2014;

CUTI; RECCHI; BULIGON, 2017). Assim, chegou-se a seguinte questão de pesquisa: as

áreas de vivência das edificações estão seguindo as especificações da NR-18 para garantir a

saúde e segurança dos trabalhadores?

Sabem-se da importância de adequar os canteiros de obras para atender as demandas legais de

saúde e segurança no trabalho. Logo, essa pesquisa tem por objetivo analisar o cumprimento

da NR-18 nas áreas de vivência de duas obras verticais na cidade de Mossoró/RN, para

verificar as condições de segurança do trabalho.

Para atingir o objetivo proposto, este trabalho encontra-se estruturado em cinco capítulos,

sendo que o presente capítulo é o primeiro deles, que possui a introdução, apresentando à

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justificativa, pergunta de pesquisa e objetivo. No segundo capítulo, faz-se o referencial teórico

abordando a segurança do trabalho na construção civil e as áreas de vivência dos canteiros de

obras. No terceiro capítulo é descrita a metodologia de pesquisa. O quarto capítulo expõe os

resultados encontrados e discussão dos dados. Por fim, são apresentadas no quinto capítulo as

conclusões finais e sugestões de melhorias dos dados analisados.

2. Referencial teórico

2.1. Segurança do trabalho na construção civil

Conforme Teixeira e Carvalho (2005), a indústria da construção civil é definida como campo

econômico de importância estratégica devido a sua dimensão e influência direta na economia

brasileira, como também, sua relevância social.

O setor da construção influencia na economia gerando grande volume de capital financeiro,

sendo potencial fornecedor de empregos, como também, contribuindo com o desenvolvimento

de diversos elementos industriais e serviços. Na cadeia de produção desse setor há diversos

gêneros industriais fazendo com que originem uma série de insumos e serviços, em diferentes

fases na produção das construções (BREITBACH, 2009).

O destaque social da construção civil é caracterizado pela elevada concentração da mão-de-

obra e da capacidade de geração de empregos. Porém esse setor gera um passivo social

negativo em acidentes de trabalho e doenças ocupacionais. A alta ocorrência de acidentes de

trabalho tem como principal razão a grande rotatividade da mão-de-obra e o seu baixo nível

de especialização (ARAÚJO, 2000).

Aliado a isso, nota-se que alguns aspectos relacionados à segurança e saúde no ambiente de

trabalho na indústria da construção não são cumpridos pelas empresas, principalmente os

relativos às normas regulamentadoras. Daí a importância e relevância de se tratar das questões

de segurança do trabalho, especialmente nessa área que possui elevados índices de acidentes.

Alguns trabalhos já foram realizados no campo da segurança do trabalhado para identificar o

cumprimento da NR-18 em canteiros de obras, como por exemplo, Costa, Soares e Chaves

(2017), Sant’anna Junior (2013), Rigolon (2013) e Rocha (2009).

2.2. Áreas de vivência dos canteiros de obras

Os canteiros de obras das construções são apontados como zonas de riscos para os

trabalhadores. O cuidado com a segurança do operário no ambiente laboral é caracterizado

pela utilização de práticas de segurança que previnem a ocorrência dos acidentes e doenças

ocupacionais (GRASEL, 2015).

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Segundo Zarpelon, Dantas e Leme (2008), a NR-18 juntamente com as demais normas

regulamentadoras, possui proposições eficazes para melhorar as condições do ambiente de

trabalho no ramo da construção com diversas determinações preventivas a serem aplicadas

nas principais atividades e operações realizadas, para preservar a saúde e integridade física

dos trabalhadores.

As instalações sanitárias das áreas de vivência devem manter-se apropriadas com excelentes

disposições de higienização e limpeza, contendo portas de entrada que impossibilitem o

acesso de pessoas sem autorização, conjunto de lavatório, mictório e vaso sanitário, com

dimensões de um destes para cada 20 trabalhadores, e chuveiro com uma unidade a cada 10

funcionários (ZARPELON; DANTAS; LEME, 2008; BRASIL, 2015).

Os lavatórios devem ser individuais ou coletivos possuindo torneira e revestimento interno

impermeável. Os vasos sanitários necessitam conter área mínima de 1 m², local para depósito

de lixo, válvula de descarga e ligação para rede de esgoto. Os mictórios devem estar no

máximo 0,50 m do piso e serem providos de descarga provocada ou automática. Deve-se

reservar área mínima de 0,80 m² para os chuveiros, com piso antiderrapante e suportes para

colocação de sabonete e toalha (SILVA JUNIOR, 2015).

Segundo Stresser (2013), os vestiários de acesso aos trabalhadores que não se alojam no

canteiro de obras devem ter localização próxima aos alojamentos ou a entrada da obra,

dotados de armários individuais com cadeado; bancos em quantidade suficiente para atender

toda força de trabalho, com largura mínima de 30 cm; área de ventilação; iluminação natural

ou artificial e pé-direito mínimo de 2,50 metros.

O local para refeições é obrigatório no canteiro de obras, devendo conter capacidade

suficiente para atender todos os operários, com mesas de tampos limpos, laváveis e bancos

suficientes para os trabalhadores sentarem no horário de refeições. Neste local, é necessária a

instalação de lavatório de acordo com a quantidade de funcionários e prosseguir com o

mesmo modelo de construção e conservação das instalações (ZARPELON; DANTAS;

LEME, 2008; BRASIL, 2015).

No caso de existir cozinha no canteiro, esta deve possuir ventilação natural ou artificial,

apresentar paredes construídas de alvenaria, concreto ou similar, o seu piso ser de concreto,

cimentado ou algum material que facilite a limpeza, possuir pia para lavagem de alimentos ou

objetos, dispor de aparelho para refrigeração, recipiente para coleta de lixo e suas instalações

elétricas devem ser protegidas adequadamente (BRASIL, 2015).

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3. Metodologia

Foi realizada uma pesquisa de natureza aplicada e abordagem qualiquantitativa, bem como

exploratória em relação aos objetivos e estudo de caso quanto aos procedimentos. Esse último

tem o objetivo de estudar profundamente determinadas características de um indivíduo,

população, organização, ambiente, situação ou fenômeno (FONTENELLE, 2017).

Para verificar as condições de segurança do trabalho no que diz respeito ao cumprimento da

NR-18 foram realizadas visitas nos canteiros de obras de diversas empresas com o intuito de

buscar a amostra desejada, sendo as obras escolhidas ao acaso e por conveniência. As

escolhidas foram as duas primeiras obras verticais localizadas na cidade de Mossoró/RN que

aceitaram participar do estudo, sendo denominadas nessa pesquisa de obra A e B.

Para a coleta de dados foram definidos os seguintes procedimentos metodológicos:

observações técnicas em visitas exploratórias, registros fotográficos, entrevistas não

estruturadas com os responsáveis das obras e aplicação de checklist. De acordo com Rigolon

(2013), o checklist é um instrumento de simples aplicação, compreensão, e bem aceitável na

área da segurança.

O checklist, também chamado de lista de verificação, foi baseado na NR-18 e nos autores

Assmann (2015), Rigolon (2013) e Rocha (1999) e com algumas modificações feitas pelas

pesquisadoras para atender a norma vigente. Inicialmente elaborou-se uma lista de verificação

contendo 12 itens divididos em 89 subitens, porém após as visitas, percebeu-se que alguns

itens não se aplicavam em ambas as obras, sendo eles instalações móveis, alojamento,

lavanderia e área de lazer. Então, o checklist final ficou com 7 itens divididos em 58 e 71

subitens para as obras A e B, respectivamente. Os itens dividiram-se em instalações sanitárias,

lavatórios, vasos sanitários, mictórios, chuveiros, vestiários e local para refeições.

Cada item do checklist possuía três opções, sendo elas “sim”, “não” e “não se aplica”. Onde,

as respostas referentes ao “sim” significava que os itens estavam conformes, ou seja, sendo

cumpridos efetivamente, porém, as respostas demarcadas com o “não” referiam-se aos itens

que não estavam conformes ou em desacordo com a legislação. Os itens “não se aplica” eram

aqueles que devido à etapa ou modo de construção da obra não estavam sendo utilizados.

Além disso, eram realizadas observações in loco conforme análise dos itens existentes na lista

de verificação, acompanhadas de entrevista com o responsável da obra e de registros

fotográficos para a confirmação do cumprimento ou não do item da norma.

Os dados levantados foram colocados em planilhas eletrônicas gerando notas por item, notas

por obras e nota geral das obras. O alcance das notas dos itens foi determinado através da

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metodologia utilizada pelo autor Assmann (2015), em que cada um dos itens marcados com

“sim” eram multiplicados por 10 e dividido pelo número total de itens aplicáveis,

desconsiderando os itens “não se aplica”. O mesmo raciocínio foi considerado para o cálculo

com os itens demarcados com “não”. Calculou-se também a nota máxima e mínima de cada

item e os resultados foram apresentados em tabelas e gráficos.

4. Resultados e discussões

A partir da metodologia traçada, dividiu-se a área de vivência em instalações móveis,

instalações sanitárias, lavatórios, vasos sanitários, mictórios, chuveiros, vestiário e local para

refeições (Tabela 1). As instalações móveis não foram analisadas porque em nenhum canteiro

havia a utilização da mesma, sendo estas construídas de alvenarias para após finalização dos

serviços ocorrerem à demolição.

Tabela 1 - Notas dos itens relacionados às áreas de vivência

Áreas de vivência Nota média Nota máxima Nota mínima

Instalações móveis - - -

Instalações sanitárias 7,31 7,69 6,92

Lavatórios 8,33 8,33 8,33

Vasos sanitários 9,29 10,00 8,57

Mictórios 10,00 10,00 10,00

Chuveiros 5,00 5,00 5,00

Vestiário 5,00 5,45 4,55

Local para refeições 3,33 6,67 0,00

Fonte: Dados da pesquisa (2018)

O local destinado às refeições dos trabalhadores alcançou menos de 50% de cumprimento da

norma, ficando com nota 3,33. Os chuveiros e vestiários das áreas de vivência também foram

itens analisados nas obras visitadas, alcançando nota média de 5,0. O item mictório merece

destaque apresentando 100% de cumprimento da norma em ambas as obras. Percebe-se que as

maiores notas foram dos mictórios, vasos sanitários, lavatórios e instalações sanitárias (Figura

1).

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Figura 1 - Distribuição das notas das áreas de vivência das obras

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Instalações Sanitárias

Lavatórios

Vasos sanitários

Mictórios

Chuveiros

Vestiários

Local para refeições

Notas

Áre

as d

e viv

ênci

a

Fonte: Dados da pesquisa (2018)

A distribuição (Figura 2) das notas dos itens analisados nas áreas de vivência das obras foi

bem dispersa, com notas a partir do intervalo 3-4.

Figura 2 - Distribuição das notas das áreas de vivência das obras

0

1

2

3

0 a 1 1 a 2 2 a 3 3 a 4 4 a 5 5 a 6 6 a 7 7 a 8 8 a 9 9 a 10

Iten

s

Intervalos de notas Fonte: Dados da pesquisa (2018)

Percebe-se então que é necessário dar uma maior importância às atividades que estão sendo

realizadas e melhorar as condições de segurança nos canteiros de obras.

4.1. Instalações sanitárias e lavatórios

Na avaliação das instalações sanitárias percebeu-se uma falta de cuidado na higiene desses

locais, tanto por falha da empresa quanto pelo próprio trabalhador fazendo uso errôneo do

ambiente.

As instalações da obra A (Figura 3) deixaram a desejar em relação a manter o ambiente em

boas condições de conservação e higiene, pois havia a predominância de odor, caracterizando

a falta de limpeza. Na visita, também se percebeu a falta de iluminação artificial nesses locais,

apesar de possuir o ponto para colocação da luminária.

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Figura 3 - Instalações sanitárias da obra A

I: Falta de luminária; II: Lavatório.

Fonte: Dados da pesquisa (2018)

O pé-direito dessa instalação era de 2,25 m, estando em desacordo com a norma. Havia

apenas um lavatório presente neste ambiente, caracterizando uma não conformidade, uma vez

que, como existiam 49 operários, precisaria de 3 lavatórios, já que deveria ser dimensionado 1

conjunto para cada 20 trabalhadores, como também, a falta de recipiente para colocação dos

papéis utilizados.

O não cumprimento da norma nas instalações sanitárias da obra B (Figura 4) refere-se à falta

de higienização do local de uso, pois o ambiente possuía mau cheiro; pouca ventilação, não

havendo nenhuma janela. Porém, em relação à iluminação estava satisfatório, visto que o

mesmo apresentava iluminação natural e artificial através de telhas de vidro e luminárias,

respectivamente. Com relação aos lavatórios, só possuía uma unidade, não sendo suficientes

para atender os 32 operários, que conforme a NR-18, seriam necessários 2 lavatórios e

também recipiente para coleta de papéis usados.

Figura 4 - Instalações sanitárias da obra B

I: Iluminação natural e artificial; II: Lavatório.

Fonte: Dados da pesquisa (2018)

4.2. Vasos sanitários, mictórios, chuveiros, vestiário e local para refeições

As especificações dispostas em relação aos vasos sanitários dos canteiros (Figura 5) foram

totalmente cumpridas pela obra A. Já na obra B a única desconformidade relativa a esse item

foi à falta de tampa do recipiente utilizado para colocar os papéis higiênicos. Os itens dos

mictórios das obras estavam conforme estabelece a norma.

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Figura 5 - Vasos sanitários dos canteiros visitados

I: vaso sanitário da obra A; II: vaso sanitário da obra B.

Fonte: Dados da pesquisa (2018)

As inconsistências relacionadas aos chuveiros foram às mesmas nas duas obras, uma vez que,

na utilização do mesmo deveria ter suporte para colocação de sabonete e cabide para

posicionar a toalha nos locais dos chuveiros. Percebeu-se que os trabalhadores utilizavam de

artifícios devido à falta do cumprimento desses requisitos, seja colocando o sabonete na

parede divisória dos locais para banho, como deixando as toalhas em cabides improvisados

(Figura 6).

Figura 6 - Chuveiros dos canteiros visitados

I: Obra A; II: Obra B.

Fonte: Dados da pesquisa (2018)

Os vestiários dos canteiros possuíam muitas situações que não estavam condizentes com a

obrigatoriedade. Na obra A (Figura 7) ele ficava no final do lote, e a norma o prevê próximo

dos alojamentos, se existir, ou à entrada da construção. Além disso, a área de ventilação não

correspondia a 1/10 da área do piso e os armários não estavam em números suficientes e nem

todos tinham as fechaduras. O local era mal conservado, sujo, pé-direito inferior ao mínimo

estabelecido e bancos de assentos dimensionados de forma incorreta, não atendendo todos os

usuários.

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Figura 7 - Vestiário da obra A

I: Armários sem cadeados; II: banco de assento no vestiário.

Fonte: Dados da pesquisa (2018)

Na obra B (Figura 8), o vestiário dividia espaço com as instalações sanitárias e chuveiros,

onde não existia fonte de ventilação natural nem artificial. Os armários eram em número

suficiente para os operários, no entanto, nem todos possuíam cadeados e nem se localizavam

no mesmo ambiente. E não existiam neste local, bancos para atender os trabalhadores.

Figura 8 - Armários sem cadeados no vestiário da obra B

Fonte: Dados da pesquisa (2018)

Os locais para refeições são exigidos nos canteiros de obra. Na obra A (Figura 9) percebeu-se

que não havia isolamento da área durante as refeições, visto que, faltava à construção da

parede frontal, e também, não foi dimensionado para receber todos os trabalhadores. Já na

obra B não possuía um ambiente designado para este fim, mesmo sendo obrigatório.

Figura 9 - Local para refeições da obra A

I: ausência de isolamento por meio de parede frontal; II: piso de material lavável.

Fonte: Dados da pesquisa (2018)

De acordo com as análises realizadas nos canteiros de obra, chegou-se ao resultado da nota

geral das obras de 6,57, totalizando 65,7% de cumprimento do que estabelece a NR-18 sobre

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os itens aplicáveis no checklist. Com relação às conformidades encontradas nas obras, tem-se

que nas áreas de vivência, dos 58 e 71 itens verificados nas obras A e B, respectivamente, a

obra A obteve 41 itens conformes, com 71% de desempenho; e, a obra B teve 43 itens

conformes, representando 61% de cumprimento da norma (Figura 10).

Figura 10 - Notas dos canteiros de obras

7,07

6,06

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

A B

Nota

s

Obras

Fonte: Dados da pesquisa (2018)

A obra A obteve nota de 7,07 apresentando um percentual maior de cumprimento da NR-18

quando comparada a obra B. O coeficiente de variação encontrado para essa amostra foi de

7,69%, expressando que há baixa dispersão dos dados obtidos em relação à média.

Os principais itens descumpridos na obra A referem-se à falta de iluminação artificial e pé-

direito abaixo do recomendado nas instalações sanitárias; localização incorreta dos vestiários;

falta de suporte de sabonete e toalha; armários, lavatórios e bancos de assentos insuficientes

para atender todos os trabalhadores; e local para refeições inadequado.

Já na obra B, não havia a predominância de meios para garantir a ventilação nas instalações

sanitárias e o recipiente para depósito dos papéis estava sem tampa; não existia local

destinado para realização das refeições nem bancos de assento nos vestiários; não tinha

suporte para colocar sabonete e cabide de toalha nos locais dos chuveiros; armários e

lavatórios dimensionados incorretamente.

Esses resultados indicaram que o não cumprimento da legislação em sua totalidade está

relacionado com a falta de empenho dos gestores na adoção de medidas necessárias para

garantir a saúde e segurança dos trabalhadores, reforçando a necessidade das empresas em

melhorarem as ações gerenciais e condições das áreas de vivência.

5. Considerações Finais

Mediante a aplicação da lista de verificação, das observações realizadas e dos resultados

alcançados, identifica-se que os fatores em destaque nas áreas de vivência devido ao seu bom

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desempenho com relação ao cumprimento da NR-18 foi o item referente a mictórios. Porém,

existem situações como os locais para refeições, chuveiros e vestiários nos canteiros de obras

que precisam de modificações urgentes para melhorar as condições de segurança e

atendimento da legislação em vigor.

Os pontos mais agravantes observados nos canteiros de obras são o dimensionamento

incorreto dos lavatórios e armários, falta de suporte para colocação de sabonete e cabide para

posicionamento de toalha, e higienização insuficiente nas instalações sanitárias.

Percebem-se algumas dificuldades por parte das empresas em cumprir a NR-18, uma vez que,

diversos itens das áreas de vivência estão não conformes, demonstrando a necessidade de

fiscalizações internas e maior direcionamento de esforços para o atendimento dos itens da

legislação.

De acordo com as principais não conformidades observadas, sugere-se algumas melhorias

para que os canteiros se adequem a exigência da NR-18 quanto às áreas de vivência, dentre

elas, a necessidade de atender ao dimensionamento correto dos lavatórios e armários na

proporção que a norma estabelece; que os ambientes sejam mantidos limpos e em perfeito

estado de conservação e higiene; e que haja vistorias mais frequentes pelos responsáveis das

obras para adequar o ambiente de trabalho às medidas de segurança.

Através dos resultados obtidos conclui-se que as empresas necessitam adequar às áreas de

vivência as determinações da NR-18, uma vez que a norma não é atendida em sua totalidade

pelos empregadores e empregados.

REFERÊNCIAS

ARAÚJO, L. P. Análise dos custos para emprego de EPI’s comparado com o adicional de insalubridade na

construção civil na cidade de Santa Maria, RS. 2000. 75f. Monografia (Especialização em Engenharia de

Segurança do Trabalho) – Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2000.

ASSMANN, C. E. Avaliação do atendimento dos requisitos da NR-18 em canteiros de obras de Santa Rosa.

2015. 85 f. TCC (Graduação em Engenharia Civil) - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio

Grande do Sul, Santa Rosa, 2015.

BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. NR 18: Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da

Construção. Brasília: Ministério do Trabalho e Emprego, 2015. Disponível em:

<http://trabalho.gov.br/images/Documentos/SST/NR/NR18/NR18atualizada2015.pdf>. Acesso em: 20 fev.

2018.

Page 13: AVALIAÇÃO DO CUMPRIMENTO DA NR-18 EM ÁREAS DE … · O checklist, também chamado de lista de verificação, foi baseado na NR-18 e nos autores Assmann (2015), Rigolon (2013) e

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BREITBACH, Á. C. M. Indústria da construção civil a retomada. Revistas Eletrônicas da Fundação de

Economia e Estatística, Porto Alegre, v. 37, n. 2, p.1-8, 2009.

CUTI, A. F.; RECCHI, A. F.; BULIGON, S. M. Áreas de vivência em canteiros de obras: adequação à NR 18 x

percepção dos trabalhadores em obras de diferentes portes. Disciplinarum Scientia, Santa Maria, v. 18, n. 1, p.

207-225, 2017.

COSTA, P. M. S.; SOARES, R. G. L.; CHAVES, T. F. Verificação da aplicação da NR 18 em canteiro obra de

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