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Avaliação de metais pesados e pesticidas em quatro reservatórios da bacia do alto rio Uruguai, Brasil INTRODUÇÃO O Brasil é o maior consumidor de defensivos agrícolas do mundo e, conforme o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola (SINDAG), o consumo de herbicidas e inseticidas aumentou na ordem de 5% ao ano de 1999 a 2007. Por ser a economia da região do planalto de Santa Catarina baseada essencialmente na produção agrícola, é de se esperar que toneladas de defensivos sejam lançadas nas lavouras da região e que parte tenha como destino final os rios e reservatórios através do lixiviamento do solo. As culturas agrícolas de maior representatividade na região são a soja, o milho e o tabaco, sendo que os agrotóxicos mais usados nessas culturas são os herbicidas glifosato, atrazina, sumazina, trifluralina em suas diferentes formulações comercias e os inseticidas deltametrina, endosulfan e paration metílico, sendo este último utilizado inclusive em tanques de piscicultura no controle de insetos e parasitas (Garadi et al., 1988). Outra causa de perda do equilíbrio ecológico dos ecossistemas e ameaça as conservação das espécies a emissão de metais pesados na água e sedimento. A deposição de efluentes industriais contendo metais pesados em fontes hídricas é o maior fator antropogênico responsável pela poluição de ambientes aquáticos. Metais pesados em água persistem por mais tempo que outros poluentes e percolam da superfície para as camadas subterrâneas, sendo o sedimento de fundo o principal compartimento de acumulação, reprocessamento e transferência destes elementos, que podem ser disponibilizados para a biota através de mudanças de fatores físico- químicos (Pathak et al., 1994; Moreira & Boaventura, 2003). Desta forma o objetivo dessa pesquisa foi avaliar a contaminação por metais pesados e pesticidas em quatro reservatórios da bacia hidrográfica do alto rio Uruguai, bem como a distribuição desses contaminantes ao longo e entre os reservatórios. MATERIAIS E MÉTODOS Área de Estudo Coleta e análise das variáveis físicas e químicas da água O estudo de defensivos agrícolas e metais pesados da água e sedimentos foram realizados em 4 reservatórios de usinas hidrelétricas localizadas no Rio Passo Fundo (Usina Hidrelétrica Passo Fundo e Usina Hidrelétrica Monjolinho) e Rio Uruguai (Usina Hidrelétrica de Itá e Usina de Hidrelétrica Foz do Chapecó), os pontos avaliados são mostrados na Figura 2. O metais avaliados na água e sedimentos foram cobre, ferro, manganês, zinco, cromo, cádmio e chumbo (Cu, Fe, Mn, Zn, Cr, Cd e Pb). Os defensivos agrícolas estudados foram o inseticida Metilparation e os herbicidas Atrazina, Sumazina e ácido 2,4 diclorofenoxiacético (2,4-D). Meta 2 Componente 3 - Jacir Dal Magro, Daniela Delagrave, Marlei da Silva Casal; Gilza Maria de Souza-Franco UHE – Foz do Chapecó (P3) UHE – Passo Fundo (P33) Ministério da Ciência e Tecnologia CTHidro Figura 1: Mapa da área de estudo. RESULTADOS E DISCUSSÃO diclorofenoxiacético (2,4-D). CONSIDERAÇÕES FINAIS Este estudo sobre a qualidade da água com a influência do uso e ocupação do solo permitiu fazer algumas considerações, como a cobertura vegetal de mata ciliar é essencial para a preservação da qualidade ambiental e do fluxo de água na bacia, pois impede a formação de processos erosivos e consequentemente a contaminação e o assoreamento dos rios. A maior contribuição no grau de poluição nos rios analisados, advém da área urbana, quando estes atravessam estas zonas. Os resultados obtidos neste estudo são importantes, pois poderão ser utilizados como parâmetros na avaliação das condições ambientais estudados no futuro. É fundamental considerarmos este estudo como uma etapa de um processo, que deve ser contínuo, pois o profundo conhecimento destes ambientes naturais é condição primária para qualquer de manejo e criação de políticas públicas para a manutenção e gerenciamentos dos seus recursos. Faz-se importante ainda ressaltar a necessidade de investimentos em saneamento, com estações de tratamento tanto para o esgoto doméstico como para o industrial, pois estes parecem ter contribuído muito para para o atual grau de poluição dos ecossistemas aquáticos do alto Rio Uruguai. UHE – Itá (P4) UHE – Monjolinho (P4) Figura 5. Gráficos das Médias de concentração dos metais Fe, Cd, Cu, Cr, Zn e Pb nos reservatórios estudados Itá (ITA), Fóz do Chapecó (FC), Monjolinho (MO) e Passo Fundo (PF). Figura 3. Análise de componentes Principais dos Metais nos diferentes reservatórios de acordo com as concentrações dos metais pesados nos Sedimentos Durante as coletas foi possível verificar a presença de defensivos agrícolas na água na maioria das UHEs estudadas, observa-se que as maiores concentrações dos pesticidas estudados estão principalmente nas UHEs pertencentes ao rio Passo Fundo principalmente na campanha realizada em maio de 2012 (Tabela 1). Acredita-se que a presença de pesticidas na UHE foz do Chapecó se deve ao fato de ter como afluente o Rio Passo Fundo que é fortemente impactado pela agricultura. Os defensivos estudados não foram detectados no lago da UHE de Itá. A sumazina não foi detectada em nenhum dos pontos estudados. As análises de metais presentes na água revelaram que a maioria dos metais investigados não atende os limites de concentração exigidos pela legislação (Resolução do Conama 357/2005) em um ou mais pontos avaliados. Os metais que apresentaram concentrações acima dos limites em um ou mais reservatório foram o Fe, Zn, Cu e Pb. Entre os reservatórios estudados, o lago de da UHE Itá foi o que apresentou maiores concentrações e maior números de metais (Fe, Zn, Cu e Pb) com concentração acima dos limites estabelecidos pela legislação. O reservatório da UHE Foz do Chapecó teve um maior aporte dos metais Cu, Fe e Mn. Para a UHE Passo Fundo os metais que apresentaram maiores concentrações foram o Fe e Mn, perfil semelhante ao observado para a UHE Monjolinho que além do Fe e Mn, também apresentou concentrações de Pb acima dos limites legais (Res. Conama357/2005). Tabela 1. Presença de defensivos agrícolas em mg/L nas UHEs estudadas nas duas campanhas de coletas (novembro de 2011 e maio de 2012).

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Avaliação de metais pesados e pesticidas em quatro reservatórios da bacia do alto rio Uruguai, Brasil

INTRODUÇÃOO Brasil é o maior consumidor de defensivos agrícolas do mundo e, conforme o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola (SINDAG), o consumode herbicidas e inseticidas aumentou na ordem de 5% ao ano de 1999 a 2007. Por ser a economia da região do planalto de Santa Catarina baseada essencialmente naprodução agrícola, é de se esperar que toneladas de defensivos sejam lançadas nas lavouras da região e que parte tenha como destino final os rios e reservatóriosatravés do lixiviamento do solo. As culturas agrícolas de maior representatividade na região são a soja, o milho e o tabaco, sendo que os agrotóxicos mais usadosnessas culturas são os herbicidas glifosato, atrazina, sumazina, trifluralina em suas diferentes formulações comercias e os inseticidas deltametrina, endosulfan eparation metílico, sendo este último utilizado inclusive em tanques de piscicultura no controle de insetos e parasitas (Garadi et al., 1988).Outra causa de perda do equilíbrio ecológico dos ecossistemas e ameaça as conservação das espécies a emissão de metais pesados na água e sedimento. Adeposição de efluentes industriais contendo metais pesados em fontes hídricas é o maior fator antropogênico responsável pela poluição de ambientes aquáticos. Metaispesados em água persistem por mais tempo que outros poluentes e percolam da superfície para as camadas subterrâneas, sendo o sedimento de fundo o principalcompartimento de acumulação, reprocessamento e transferência destes elementos, que podem ser disponibilizados para a biota através de mudanças de fatores físico-químicos (Pathak et al., 1994; Moreira & Boaventura, 2003).Desta forma o objetivo dessa pesquisa foi avaliar a contaminação por metais pesados e pesticidas em quatro reservatórios da bacia hidrográfica do alto rio Uruguai, bemcomo a distribuição desses contaminantes ao longo e entre os reservatórios.

MATERIAIS E MÉTODOS

Área de EstudoColeta e análise das variáveis físicas e químicas da águaO estudo de defensivos agrícolas e metais pesados da água esedimentos foram realizados em 4 reservatórios de usinas hidrelétricaslocalizadas no Rio Passo Fundo (Usina Hidrelétrica Passo Fundo eUsina Hidrelétrica Monjolinho) e Rio Uruguai (Usina Hidrelétrica de Itá eUsina de Hidrelétrica Foz do Chapecó), os pontos avaliados sãomostrados na Figura 2. O metais avaliados na água e sedimentos foramcobre, ferro, manganês, zinco, cromo, cádmio e chumbo (Cu, Fe, Mn,Zn, Cr, Cd e Pb). Os defensivos agrícolas estudados foram o inseticidaMetilparation e os herbicidas Atrazina, Sumazina e ácido 2,4diclorofenoxiacético (2,4-D).

Meta 2 Componente 3 - Jacir Dal Magro, Daniela Delagrave, Marlei da Silva Casal; Gilza Maria de Souza-Franco

UHE – Foz do Chapecó (P3)UHE – Passo Fundo (P33)

Ministério da Ciência e Tecnologia

CTHidro

Figura 1: Mapa da área de estudo.RESULTADOS E DISCUSSÃO

diclorofenoxiacético (2,4-D).

CONSIDERAÇÕES FINAISEste estudo sobre a qualidade da água com a influência do uso e ocupação do solo permitiu fazer algumas considerações, como a cobertura vegetal de mata ciliar éessencial para a preservação da qualidade ambiental e do fluxo de água na bacia, pois impede a formação de processos erosivos e consequentemente a contaminaçãoe o assoreamento dos rios. A maior contribuição no grau de poluição nos rios analisados, advém da área urbana, quando estes atravessam estas zonas. Os resultadosobtidos neste estudo são importantes, pois poderão ser utilizados como parâmetros na avaliação das condições ambientais estudados no futuro. É fundamentalconsiderarmos este estudo como uma etapa de um processo, que deve ser contínuo, pois o profundo conhecimento destes ambientes naturais é condição primária paraqualquer de manejo e criação de políticas públicas para a manutenção e gerenciamentos dos seus recursos. Faz-se importante ainda ressaltar a necessidade deinvestimentos em saneamento, com estações de tratamento tanto para o esgoto doméstico como para o industrial, pois estes parecem ter contribuído muito para para oatual grau de poluição dos ecossistemas aquáticos do alto Rio Uruguai.

UHE – Itá (P4)UHE – Monjolinho (P4)

Figura 5. Gráficos das Médias de concentração dos metais Fe, Cd, Cu, Cr, Zn e Pb nos

reservatórios estudados Itá (ITA), Fóz do Chapecó (FC), Monjolinho (MO) e Passo Fundo (PF).

Figura 3. Análise de componentes Principais dos Metais nosdiferentes reservatórios de acordo com as concentrações dosmetais pesados nos Sedimentos

Durante as coletas foi possível verificar a presença de defensivos agrícolas na água na maioria das UHEs estudadas, observa-se que as maiores concentrações dospesticidas estudados estão principalmente nas UHEs pertencentes ao rio Passo Fundo principalmente na campanha realizada em maio de 2012 (Tabela 1). Acredita-seque a presença de pesticidas na UHE foz do Chapecó se deve ao fato de ter como afluente o Rio Passo Fundo que é fortemente impactado pela agricultura. Osdefensivos estudados não foram detectados no lago da UHE de Itá. A sumazina não foi detectada em nenhum dos pontos estudados.

As análises de metais presentes na água revelaramque a maioria dos metais investigados não atende oslimites de concentração exigidos pela legislação(Resolução do Conama 357/2005) em um ou maispontos avaliados. Os metais que apresentaramconcentrações acima dos limites em um ou maisreservatório foram o Fe, Zn, Cu e Pb. Entre osreservatórios estudados, o lago de da UHE Itá foi o queapresentou maiores concentrações e maior números demetais (Fe, Zn, Cu e Pb) com concentração acima doslimites estabelecidos pela legislação. O reservatório daUHE Foz do Chapecó teve um maior aporte dos metaisCu, Fe e Mn. Para a UHE Passo Fundo os metais queapresentaram maiores concentrações foram o Fe e Mn,perfil semelhante ao observado para a UHE Monjolinhoque além do Fe e Mn, também apresentouconcentrações de Pb acima dos limites legais (Res.Conama357/2005).

Tabela 1. Presença de defensivos agrícolas em mg/L nas UHEs estudadasnas duas campanhas de coletas (novembro de 2011 e maio de 2012).