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Artigo Original
Copyright 2014 Revista Latino-Americana de EnfermagemEste um artigo de acesso aberto distribudo sob os termos da Licena Creative Commons Atribuio-No Comercial (CC BY-NC).Esta licena permite que outros distribuam, editem, adaptem e criem obras no comerciais e, apesar de suas obras novas deverem crditos a voc e ser no comerciais, no precisam ser licenciadas nos mesmos termos.
Rev. Latino-Am. Enfermagemmar.-abr. 2014;22(2):317-24DOI: 10.1590/0104-1169.3252.2418
www.eerp.usp.br/rlae
Endereo para correspondncia:
Juliana Sartori Bonini Universidade Estadual do Centro-Oeste. Departamento de FarmciaRua Simeo Camargo Valera de S, 3Vila CarliCEP: 85040-080, Guarapuava, PR, BrasilE-mail: [email protected]
Vanessa Fernanda Goes1
Pmela Billig Mello-Carpes2
Lilian Oliveira de Oliveira3
Jaqueline Hack4
Marcela Magro4
Juliana Sartori Bonini5
Objetivo: avaliar o risco de disfagia e sua relao com o estgio da doena de Alzheimer, bem
como a relao entre o risco de disfagia, o estado nutricional e a ingesto calrica em idosos com
doena de Alzheimer. Mtodos: a amostra foi constituda por 30 indivduos de ambos os sexos,
com diagnstico provvel de doena de Alzheimer. O estgio da doena, o estado nutricional, a
ingesto energtica e risco de disfagia foram avaliados. Resultados: verificou- se que maior risco
de disfagia est associado ao avano das fases da doena de Alzheimer e mesmo os pacientes
nos estgios iniciais da doena apresentam leve risco de desenvolvimento de disfagia. No foi
encontrada associao entre o estado nutricional e o risco de disfagia. Altos nveis de ingesto
inadequada de micronutrientes em pacientes tambm foram observados. Concluso: identificou-se
associao entre disfagia e desenvolvimento da doena de Alzheimer. Os achados desta pesquisa
apontam para a necessidade de monitorar a presena de disfagia e da ingesto de micronutrientes
em pacientes com doena de Alzheimer.
Descritores: Nutrio do Idoso; Doena de Alzheimer; Ingesto de Energia; Vitaminas; Transtornos da
Alimentao; Comportamento Alimentar.
1 Mestranda, Universidade Estadual do Centro-Oeste, Guarapuava, PR, Brasil. Bolsista da Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel
Superior (CAPES)2 PhD, Professor Adjunto, Universidade Federal do Pampa, Uruguaiana, RS, Brasil.3 Doutoranda, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil. Professor, Universidade Estadual do Centro-Oeste, Guarapuava,
PR, Brasil.4 Alunas do curso de Graduao em Nutrio, Departamento de Nutrio, Universidade Estadual do Centro-Oeste, Guarapuava, PR, Brasil. Bolsista
de Iniciao Cientfica da Fundao Araucria de Apoio ao Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico do Estado do Paran.5 PhD, Professor Adjunto, Departamento de Farmcia, Universidade Estadual do Centro-Oeste, Guarapuava, PR, Brasil.
Avaliao do risco de disfagia, estado nutricional
e ingesto calrica em idosos com Alzheimer
www.eerp.usp.br/rlae
318 Rev. Latino-Am. Enfermagem mar.-abr. 2014;22(2):317-24
Introduo
O envelhecimento populacional hoje fenmeno
mundial e com tendncia permanente. O nmero de
idosos aumentou 2,4 por cento entre os anos 1950-2005,
muito mais rpido do que a populao total, cuja taxa de
crescimento foi de 1,2 por cento para o perodo de 2000-
2005. O nmero de pessoas com idade acima de 65 anos
era, em 2010, de 7,3 por cento da populao mundial
e, em um pouco mais de uma dcada, est prestes a
ultrapassar o nmero de pessoas com menos de cinco
anos de idade(1).
O processo de envelhecimento acompanhado
por vrias alteraes funcionais, incluindo modificaes
neurobiolgicas. Essas alteraes no sistema nervoso
central incluem atrofia de grupos neuronais com dilatao
dos padres de giros e dos ventrculos, reduo da
atividade sinptica, diminuio da plasticidade, aumento
da atividade glial, acumulao de produtos metablicos
provenientes da deposio da protena beta-amiloide
e da degenerao grnulo-vacuolar, que aparecem
precocemente nas regies temporal medial e se espalham
pelo neocrtex(2). Essas mudanas, particularmente
as ltimas citadas, podem evoluir para algum tipo de
demncia.
Mais de 25 milhes de pessoas, atualmente, so
afetadas pela demncia, a maioria das quais pela Doena
de Alzheimer (DA). Cerca de 5 milhes de novos casos de
demncia ocorrem a cada ano(3). Alm disso, estima-se
que o nmero de pessoas com demncia duplique a cada
20 anos, e a prevalncia de DA entre idosos com mais de
65 anos quase dobre a cada 5 anos. Assim, a DA, como
a doena neurodegenerativa progressiva mais prevalente
em todo o mundo, requer o estudo de sua fisiopatologia,
bem como dos riscos e dos problemas a ela associados(4-5).
Um estudo prvio mostrou que os dficits cognitivos,
encontrados em doenas neurolgicas como a DA, podem
causar a interrupo das aes necessrias e preparatrias
para a deglutio(6). As principais alteraes encontradas
nesses pacientes so disfuno motora lingual, atraso no
disparo do reflexo de deglutio, controle motor oral do
bolo inadequado, a reteno de alimentos na valcula e nos
seios piriformes, penetrao e aspirao especialmente
de lquidos, e mastigao ausente(7).
A deglutio prejudicada pode resultar naquilo que
conhecido como disfagia, uma manifestao clnica comum
em pacientes com demncia do tipo Alzheimer, afetando
de 28 a 32% desses pacientes(8). Distrbios de deglutio
em pacientes com demncia podem levar ao risco de
desnutrio, devido baixa ingesta calrica; aspirao de
alimentos e bito(7). A disfagia tambm foi correlacionada
ao desenvolvimento de pneumonia, uma causa frequente
de morbidade e mortalidade, especialmente em idosos
com demncia(9).
Estudos tambm demonstraram que pacientes com
DA possuem pior estado nutricional quando comparados
com um grupo controle sem demncia, apresentando
perda de peso e, frequentemente, ingesta calrica
inadequada(10-12). Considerando que o estado nutricional
se encontra muitas vezes prejudicado em idosos com
DA, o cuidado nutricional e as intervenes sobre as
dificuldades interpostas nas refeies so essenciais,
sendo importante notar que o segundo item um aspecto
relevante na prtica clnica de enfermagem(13-14).
Apesar dos problemas mais significativos da disfagia
serem encontrados nos estgios moderados e graves da
DA, j existem estudos onde h a descrio de dificuldades
de deglutio durante os estgios iniciais da doena(10).
O estudo citado claramente mostra risco aumentado de
disfagia na DA, no entanto, poucos estudos anteriores
citaram a correlao da disfagia com os estgios de
progresso da DA, desnutrio e ingesta nutricional
nesses pacientes.
A breve exposio acima levou formulao da
questo norteadora desta pesquisa: qual a relao entre
o estgio de desenvolvimento da DA, o risco de disfagia
e questes nutricionais (como o estado nutricional
e a ingesta calrica)? A compreenso desses temas
pode aperfeioar as medidas de cuidado, voltadas aos
idosos com demncia, pelos profissionais de sade,
incluindo profissionais de enfermagem, frequentemente
responsveis pelo cuidado de pacientes com DA. Dessa
forma, o presente estudo teve como objetivo analisar e
identificar a relao entre o risco de disfagia, o estado
nutricional, a ingesta calrica e o estgio da doena de
Alzheimer.
Mtodos
Trata-se de estudo de corte transversal, parte
integrante de uma investigao mais ampla. Os sujeitos
estavam cadastrados no Programa de Dispensao
de Medicamentos Especiais do Ministrio da Sade,
residentes no municpio de Guarapuava, Paran, Brasil.
A amostra inicial foi composta por 66 indivduos, sendo
que, desses, 7 pacientes faleceram antes do incio da
coleta de dados, 11 tiveram mudana de endereo e no
foram localizados e 18 pacientes no foram encontrados
no endereo registrado, aps trs tentativas de visitas em
diferentes dias da semana. Dessa forma, a amostra final foi
constituda por 30 pacientes diagnosticados com provvel
DA, de acordo com os critrios do Instituto Nacional de
www.eerp.usp.br/rlae
319Goes VF, Mello-Carpes PB, Oliveira LO, Hack J, Magro M, Bonini JS.
Transtornos Neurolgicos, Alteraes da Comunicao,
Acidentes Vasculares Enceflicos, Doena de Alzheimer
e Enfermidades Associadas (NINCDS-ADRDA)(15). A idade
mdia dos pacientes era de 779,3 anos e 60% (n=18)
eram do sexo feminino. Todos os dados foram coletados
entre agosto e outubro de 2011, na residncia dos idosos
sujeitos da pesquisa.
A Avaliao Clnica da Demncia (CDR Clinical
Dementia Rating) foi realizada pelos pesquisadores
(profissional de sade treinado para a avaliao), de
forma a classificar o estgio de desenvolvimento da DA
nos pacientes com essa patologia. Para cada categoria
(memria, orientao, julgamento ou soluo de
problemas, relaes comunitrias, atividades no lar ou
de lazer e cuidados pessoais) foi dada uma pontuao
saudvel/demncia, demncia questionvel (CDR 0,5),
demncia leve (CDR 1), demncia moderada (CDR 2)
e demncia grave (CDR 3), de acordo com os critrios
estabelecidos(16).
Para avaliar os graus de disfagia, utilizou-se um
questionrio adaptado(17), intitulado Questionrio para
Identi