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Franco Baruselli foi essencialmente um educador político, como também um político educador. No primeiro caso o foi, por um lado, porque, como idealizador e realizador de várias ações junto ao povo simples, atuou na formação conjugada do técnico com consciência crítica das razões e consequências do seu fazer no mundo. Isso se deu, principalmente, com a criação e funcionamento dos vários setores desenvolvidos pelo Intec de histórica memória. Por outro, é amplamente sabida a performance de sua cátedra como professor de Filosofia e de Filosofia da Educação.
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São Paulo 2015
Copyright © 2015 by Editora Baraúna SE Ltda
Capa AF Capas
Diagramação Felippe Scagion
Revisão Sabrina Brito Profª. Marilurdes Martins Campiezi Profº. Francisco Antônio Ferreira Tito Damazo
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ ________________________________________________________________
B297v
Baruselli, Franco Avida é bela e la nave va! / Franco Baruselli. - 1. ed. - São Paulo: Baraúna, 2015.
ISBN 978-85-437-0322-0
1. Baruselli, Franco. 2. Homens - Brasil - Biografia. I. Título.
15-19334 CDD: 920.71 CDU: 929-055.1
________________________________________________________________19/01/2015 21/01/2015
Impresso no BrasilPrinted in Brazil
DIREITOS CEDIDOS PARA ESTAEDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br
Rua da Quitanda, 139 – 3º andarCEP 01012-010 – Centro – São Paulo - SPTel.: 11 3167.4261www.EditoraBarauna.com.br
Todos os direitos reservados.Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio, sem a expressa autorização da Editora e do autor. Caso deseje utilizar esta obra para outros fins, entre em contato com a Editora.
PREFÁCIO
A vida é bela e la nave va, que ora Franco Baruselli dá a público, não há que ver, é mesmo do gênero memorialismo, a crer no que diz, em seu ver-bete MEMORIALISMO, a Biblos — Enciclopédia VERBO das Literaturas de Língua Portuguesa, editorial Verbo — Lisboa / São Paulo, v. 3, 1995:
A expressão “memorialismo” designa um conjunto de textos atinen-tes a uma determinada prática da literatura do eu, em que se joga a corre-lação de forças privado / público com manifesta prevalência do segundo termo. [...] Sem anular a representação do privado e do íntimo, o memo-rialista assumese como actor da História e dá nos o seu testemunho do tempo e do espaço em que viveu. [...] Ao contrário do eu da autobiografia, o eu das memórias é uma figura pública que não se pertence, por pertencer aos outros e à História, (p. 627).
Pois então. O autor deste livro é um patrimônio público de Araçatuba. Não somente porque o afirmo, calcado no que preceituam acima os enciclo-pedistas, mas principalmente, porque o atestam seus atos, procedimentos e os fatos documentais aqui delineados de forma irrefutáveis. Parte substan-cial da construção da história de sua vida é construção qualitativamente inestimável da história de Araçatuba, conforme demonstram os documentos que se apresentam e se sucedem ao longo da obra.
Lendo os, fica-se sabendo que Baruselli, aportando nesta terra, viu; situou-se; e decidiu não perguntar a Araçatuba o que ela lhe poderia fazer, mas pôs-se a fazer por ela o que sua condição e sentimento o autorizavam. Embora ainda jovem, sua formação humana e profissional, consubstanciada na riqueza filosófica, cultural, religiosa e de história humana de um dos principais berços da Europa, a Itália, fertilizaralhe de experiências necessá-rias para bem se conduzir.
Logo se fez um rapaz ítalobrasileiroaraçatubense avant-garde em seu tempo e lugar. Basta que se relanceiem as atividades resultantes em feitos criados por ele e com ele realizados, dos quais surgiram empreendimentos
de heterogêneos setores sociais e econômicos no curtíssimo período abrangi-do entre as décadas de 1960 e 1980. Em tudo é irretocável o selo da ideolo-gia socialdemocrata cristã que a choldra politicalha, sonante nesse período, sob a espada do regime militar de 1964, insistiu em tingir com o vermelho comunista. O retrocesso que daí adviera e se despenhou lapidarmente sobre o País provocou profunda estagnação no avanço social, cultural e econômico alcançado pela população araçatubense e circunvizinha, para a qual foram fecundas aquelas realizações.
A trajetória do Instituto Noroestino de Tecnologia e Ciência (Intec), sob cuja nomenclatura se organizaram e funcionaram atividades das mais diversificadas áreas sociais — agrícola, educacional, cultural e artesanal, por si só reflete o avanço e o retrocesso acontecidos. Como consolo, pelo menos, parte significativa do mesmo possuía condições necessárias e ideais para, mais tarde, permitir a fundação do campus da Faculdade Veterinária da Unesp. Como também se preservou seu prédio central com suas salas de atividades artísticoculturais e o histórico e memorável teatro Castro Alves, por onde perfilhou parte emblemática da nata da cultura brasileira. Bastam esses fatos para se ter uma ideia do estágio atingido pela sociedade araça-tubense na época, e se constatar sua profunda descensão. É voz corrente que Araçatuba, naqueles anos, apresentava desenvolvimento superior ao das regiões circunvizinhas.
Portanto, a ascensão de Baruselli ao meio político institucional, sobre-tudo para somar à luta pelo estabelecimento da democracia no País, mais que uma notável contribuição de Araçatuba e região a esse processo, seria a arregimentação de uma comprovada cabeça ao quadro parlamentar esta-dual de representação da sociedade destinado àquela dificílima empreitada, como se pôde viver e assistir durante as décadas entre 1964 e 1980. E sua vultosa participação, como comprovam os documentos constantes da obra, é indiscutível. A ponto do Governo Montoro, fragorosamente eleito — por certo o melhor dos que até ainda hoje tivemos — percebeu a fundamental importância de contar, em seu quadro de secretários, para a condução dos destinos de seu governo, com a presença de Baruselli.
Passados todos esses anos, e à vista das ações Políticas registradas pela parca e cientificamente precária história de Araçatuba, pode-se afirmar, com muita justeza, que as ações sociopolíticas e culturais de Baruselli é que figu-ram como coerência e como consequência, no que diz respeito à verdadeira
atuação política, engajada na permanente luta pela promoção e defesa dos valores e bemestar humanos a todos os homens e cidadãos, independente-mente de sua posição socioeconômica, origem, raça e ideologia, ou seja, a plena e verdadeira democracia que tanto se preconiza.
Hoje, recolhido e entregue à sua justa e merecida senilidade, longe das tribunas públicas, em que sua verve proliferou política e filosoficamente, dedica-se a artigos jornalísticos a jornais de sua cidade, nos quais ainda se podem ler sua vivacidade e lucidez ao refletir sobre essas questões que per-manecem tocando a realidade brasileira e internacional.
Como se lê na citação, o eu dessas memórias é uma figura pública que não apenas se pertence, por pertencer aos outros e à História de sua cidade, de seu Estado e do Brasil. Esta sua obra é a prova mais cabal disso. Um dia, que espero com atenção, quando escreverem a verdadeira história social de Araçatuba, esse substancioso recorte da mesma não apenas deverá ser inse-rido, como também deverá servir de excelente subsídio para sua elaboração. Pois, assim mesmo como fica publicada, já é mais uma profícua contribui-ção de Baruselli para a escritura da vida social de Araçatuba.
Anote-se por fim. Ecce Homo, não obstante todas as agruras e atribu-lações que disso tudo lhe advieram, seu caráter mandou-lhe denominar essa sua história dos outros de “A vida é bela”.
O ItalianinhoTITO DAMAZO*BIOGRAFIA
Nascimento 06/01/1931, em Cerveno, Norte da Itália. Forma-se em Filosofia em Turim. Instala-se em Araçatuba em 1960. Leciona Filosofia no Unitoledo e na Funepe. Cria o CTA (Centro de Treinamento Agrícola), o CTI (Centro de Treinamento Industrial) e o CTP (Centro de Treinamento em Pecuária). Em 1968, criou INTEC (Instituto Noroestino de Trabalho, Educação e Cultura) Em julho de 1973, perseguido pelo governo militar, teve de deixar o Brasil e voltar para a Itália. Retorna em 1975. Elege-se De-putado Estadual em 1978. Reelege-se em 1982 e assume uma Secretaria de Estado do Governo Franco Montoro. Em 1986, compõe o grupo de direto-res da CDHU, onde atua até 1995.
F indam-se os anos 50, e os 60 com seus prenúncios aziagos à vida democrática do País turbilhonavam. Um jovem aventureiro italia-
no, do mais alto compartimento de um navio, deslumbrado com a quimé-rica visão da Baía de Guanabara, via o quanto acertara em trocar o Canadá pelo Brasil.
Franco Baruselli saltou em Santos. Italiano atirado, viajou o país prin-cipalmente como caronista dos Correios Aéreos do Brasil. Ancorou-se nos Salesianos de Cuiabá e de Campo Grande em torno de nove meses. Abra-sileirado, firmou-se em Araçatuba. Constituiu família, educou seus filhos.
Aqui os agroindustriais e comerciantes iam estendendo o seus tendões de propriedade e poder. Grassaram as propriedades rurais e as casas comer-ciais. Multiplicaram-se os peões, colonos e empregados do comércio.
Baruselli ensinava Filosofia e Educação, italiano e francês e cada vez mais aprendendo português (brasileiro). Assim, esclarecia a população dos seus direitos. Como educador adepto de Pierre Furter e Paulo Freire, defen-dia que a promoção a sujeito se fazia pela comunicação e não pela extensão dos conhecimentos: aquela abria para a conscientização.
Firmado nesses propósitos, o Italianinho foi suscitando a formação de sindicato aos trabalhadores rurais, cooperativas agrícolas, centros culturais. O mérito de tais realizações, obtendo reconhecimento público e respaldado por setores da igreja católica, conquistou recursos de entidades internacio-nais de amparo a tipos de promoções humanas semelhantes.
E lá ía o Italianinho abrindo casas de educação e de treinamento à gente do povo. Criou o CTA (Centro de Treinamento Agrícola) o CTP (Centro de Treinamento à Pecuária) pelos quais passaram centenas de filhos de pequenos sitiantes, aprendendo a cultivar a terra com amor e técnica, a manejar os instrumentos e implementos agrícolas.
E veio a criação do histórico Intec (Instituto Noroestino de Trabalho, Educação e Cultura), síntese daqueles com as criações de áreas do setor cul-tural: cultivo das artes musical, teatral, plástica e política. Pelo palco de seu memorável teatro Castro Alves passaram Marília Pêra, Gianfransesco Guar-nieri, Toni Ramos, Luiz Vieira, Gilberto Gil e outros.
Como todos os homens que se posicionam e agem por causas huma-nas, Baruselli sofreu calúnias. Mas a voz do povo de Araçatuba e circunvi-zinhança aclamou o deputado estadual por dois mandatos. Seguramente, num gesto de grande reconhecimento pelos seus feitos, o histórico e me-morável governo Montoro convocou-o a ocupar uma Secretaria de Estado.
Destarte, o Italianinho araçatubense galga o panteão da história dos homens de Araçatuba cujos feitos contribuíram para o engrandecimento de seu povo.
*Francisco Antônio Ferreira Tito Damazo é professor, escritor, membro da Academia Araçatubense e doutor em Letras (Unesp)
Dedico estas páginas à Neide,minha esposa, aos filhos,
Pietro, Luciana e Marcos.Aos netos, familiares e parentes nos dois mundos.
A todos os amigos que ainda têm força para pensar, lutar, criticar e se indignar.
FRANCO BARUSELLI
SUMÁRIO
Capítulo 1. — Filosofia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
Capítulo 2. – Política . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
Capítulo 2.1. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
Capítulo 2.2. – Reforma política . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
Capítulo 3. – Eleições . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 167
Capítulo 4. – Educação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 197
Capítulo 5. – Religião . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 225
Capítulo 6. – Personalidades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 275
Capítulo 7. – Amigos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 303
Capítulo 8. – Origem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 317
Capítulo 9. – Governo Lula . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 331
Capítulo 10. – Guerra e paz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 367
Capítulo 11. – Dinheiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 393
Capítulo 12. – Opinião, opiniões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 405
Capítulo 13. – Segurança . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 433
Capítulo 14. – Patifarias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 447
Capítulo 15. – Araçatuba . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 461
Capítulo 16. – Início e fim de uma jornada . . . . . . . . . . . . . . . . 519
CAPÍTULO 1. — FILOSOFIA
A NOSSA RAZÃONÃO É UMA LUZ:
É UMA LANTERNINHA.MAS NÓS NÃO TEMOS
OUTROS MEIOSPARA AVANÇAR
NA ESCURIDÃO DAS TREVAS.
15
FILOSOFIA = AMIZADE E SABEDORIA
— Estou com saudades de meus alunos. Filosofando, tentamos uma expedição em busca da verdade e dos valores.
— Não há filosofia que se possa aprender; só se pode aprender o filosofar.
EMANOEL KANT
— O filósofo é o homem que desperta e fala. Filosofar é reaprender a ver o mundo.
MERLEAU PONTY
— Direito sem filosofia é como aquelas belíssimas estátuas gregas que possuíam lindos olhos, mas todos sem pupilas.
FILÓSOFO NORBERTO BOBBIO
— As críticas que faço ao método de lidar com o ensino da filosofia tem seu fundamento na história do pensamento filosófico.
FRANCO BARUSELLI
— A filosofia é uma expedição em busca da verdade.