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Ayahuasca e Liberdade Religiosa -Porta Do Sol

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Page 1: Ayahuasca e Liberdade Religiosa -Porta Do Sol

Ayahuasca e a liberdade religiosa. Disponível em: http://www.portadosol.org.br/index.php?option=com_k2&view=item&id=545:auahuasca-e-a-liberdade-religiosa&Itemid=146&lang=br?Itemid=7777 Acesso em: 03 jan.2012

Liberdade Religiosa é LEI desde 1891

Já é muita conquista termos liberdade religiosa no Brasil, mas na prática o preconceito

ainda vive nos corações mais intolerantes dos brasileiros, que esqueceram que neste

território era crime não ser católico, o que só acabou com Proclamação da República.

Dito isto:

A liberdade religiosa é tema da mais alta relevância na contemporaneidade. Numa

sociedade como a brasileira, onde a diversidade religiosa é enorme devido às invasões, à

colonização, à presença de escravos africanos e às constantes migrações, é admirável

que as culturas de origem nativa tenham se preservado e se manifestado no mundo

urbano.

A liberdade religiosa é tida como o mais sagrado dos direitos - the first right, na visão

norte-americana - compreendendo até mesmo a liberdade de não crer. G. Jellinek

entende que é na luta pela liberdade de religião que se encontra a verdadeira origem dos

direitos fundamentais, e não na Revolução Francesa.

A liberdade religiosa não é apenas um direito, mas um complexo de direitos,

compreendendo: (a) liberdade de consciência; (b) a liberdade de crer ou não crer; (c) a

liberdade de culto enquanto manifestação da crença; (d) o direito à organização

religiosa; e (e) o respeito à religião.

A liberdade religiosa mais interna - a da consciência - é inatacável por qualquer poder

que seja externo à individualidade do cidadão, e também dentro de um contexto mais

alargado da própria liberdade humana. A liberdade de consciência é prévia à liberdade

de crença. A liberdade de consciência é a possibilidade de acreditar ou não. A liberdade

de crença é a liberdade que gera a possibilidade de escolha daquilo em que se acredita.

A liberdade de crença não se localiza no Estado, mas é um elemento da própria

individualidade. A liberdade de orientar a fé de cada um, seus valores, sua perspectiva

em relação à vida. A liberdade de crença, portanto, diz respeito e envolve a esfera da

intimidade e da privacidade.

A liberdade de culto é a exteriorização e a demonstração plena da liberdade de religião

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que reside interiormente.

O fato de a sociedade brasileira ser marcada em quatrocentos de seus quinhentos anos

por uma ligação oficial entre o Estado e uma religião específica faz com que o tema

"liberdade religiosa" seja apreciado sob a perspectiva exclusiva da igreja Católica

Apostólica Romana. É dentro deste contexto que emerge o sincretismo religioso.

Durante muito tempo no Brasil houve liberdade de crença, mas não de culto. Embora

haja uma real dificuldade de se firmar a liberdade religiosa na prática brasileira, é

imperativo que isto ocorra, evitando violações da liberdade individual, que acabam por

ferir, na verdade, toda a sociedade.

Histórico do princípio da liberdade religiosa no Brasil

O artigo 5º da Constituição Imperial do Brasil dizia que a Religião Católica Apostólica

Romana era a religião do Império, e que todas as outras religiões eram permitidas com

seus cultos domésticos ou particulares em casas para isso destinadas, sem manifestação

exterior em templos.

O Artigo 95 da referida Constituição Imperial dizia que "todos os que podem ser

eleitores, são hábeis para serem nomeados. Excetuam-se (...) os que não professarem a

religião do Estado".

Em 1891, a REPÚBLICA introduziu o princípio de separação da Igreja e do Estado.

Um dos primeiros Decretos Republicanos dizia:

"O Marechal Deodoro da Fonseca, chefe provisório da República dos Estados Unidos

do Brasil, constituído pelo Exército e pela Armada em nome da Nação, decreta:

Art. 1º - É proibido à autoridade federal, assim como à dos estados federados, expedir

leis, regulamentos ou atos administrativos estabelecendo alguma religião ou vedando-a,

e criar diferenças entre os habitantes do Brasil, por motivo de crenças, opiniões

filosóficas ou religiosas.

Art. 2º - A todas as confissões religiosas pertence por igual a faculdade de exercerem o

seu culto, regerem-se segundo a sua fé e não serem contrariadas nos atos particulares ou

públicos que interessem o exercício deste decreto."

A liberdade religiosa na Constituição brasileira

A Constituição do Brasil de 1934 especificava em seu artigo 113, parágrafo quarto: É

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inviolável a liberdade de consciência e de crença e garantido o livre exercício dos cultos

religiosos, desde que não contravenham à ordem pública e aos bons costumes. As

associações religiosas adquirem personalidade jurídica nos termos da lei civil.

A Emenda Constitucional nº 1, de 1969, manteve tratamento similar.

Na nossa CARTA MAGNA, a CONSTITUIÇÃO de 5 de outubro de 1988, é mantida a

determinação de liberdade religiosa, no artigo 5º.

Atualmente, com base nos princípios constitucionais da liberdade religiosa e da

proteção às manifestações populares e indígenas, o culto religioso que tem como

sacramento a Ayahuasca é garantido pelo Estado Brasileiro, não podendo haver

restrição, direta ou indireta, às práticas religiosas das comunidades, baseada em

proibição do uso ritual da Ayahuasca.

Dúvida não há que o princípio da liberdade religiosa constitui-se em direito

constitucional inviolável, cabendo ao Estado, na forma da lei, garantir a proteção aos

locais de culto e a suas liturgias (Constituição Federal, arts. 1., inciso III, e 5., inciso

VI).

Do mesmo modo, entende-se que o uso ritualístico da Ayahuasca constitui-se

manifestação cultural indissociável das populações tradicionais da Amazônia e de parte

da população urbana do país, cabendo ao Estado não só garantir o pleno exercício desse

direito à manifestação cultural, mas também protegê-la por quaisquer meios de

acautelamento e prevenção, artigo 2., "caput", da Lei n. 11.343/06, e artigos 215,

"caput", e parágrafo 1., c.c. artigo 216, "caput" e parágrafos 1. e 4., da Constituição

Federal.

Não foi por outro motivo que o relatório final elaborado pelo Grupo Multidiciplinar de

Trabalho instituído pela Resolução n. 05, do CONAD – Conselho Nacional Antidroga

(órgão normativo do Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas – SISNAD),

constitui-se em documento público que, ao traduzir a deontologia do uso da Ayahuasca,

garante o seu uso religioso de modo responsável (ver transcrição na íntegra em

http:/www.ayahuascabrasil.org ou, sendo membro da Porta do Sol, na página do Núcleo

Jurídico).

Assim, atualmente, pode-se afirmar que o uso religioso da Ayahuasca está garantido

constitucionalmente com base no princípio da liberdade religiosa e no princípio da

proteção às manifestações populares e indígenas.