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Azulejos que contam histórias

Azulejos contam histórias - ClipQuick · 2013. 2. 18. · no site do Museu Nacional do Azulejo. Teve no início da sua actividade uma pro-dução diversificada, quer em barro vermelho,

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Azulejos quecontam histórias

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A caminho dos dois

séculos de história, a

ermpresa de cerâmi-

ca Viúva Lamego temsabido enfrentar as

mudanças dos tempos.Mas os produtos, esses

mantêm as caracterís-

ticas da sua origem0 Hotel VIP Executive Art's, no Parque das Nações, em Lisboa, tem um grande painel com assinatura da Viúva Lamego

S Maria João Lima

A história da marca Viúva Lamego começa a

contar-se em 1849 quando António da Costa La-

mego funda, no I argo do Intendente Pina Mani-

que, em Lisboa, aquela que foi denominada Fábri-

ca de Cerâmica António Costa Lamego. "Segundo

documentação existente na fábrica, esta passou a

chamar-se Fábrica Viúva Lamego em 1899", lê-se

no site do Museu Nacional do Azulejo.Teve no início da sua actividade uma pro-

dução diversificada, quer em barro vermelho,de artigos utilitários, quer em barro branco, com

faiança e azulejos. Ao entrar no século XX, a pro-dução de barro vermelho foi acabando, crescendo

por sua vez a importância do azulejo.Em 2006, a marca integrou o Grupo Aleluia

Cerâmicas. «Hoje somos a marca Viúva Lamegode um grupo cerâmico», explica Duarte Garcia,

director-geral da empresa, sublinhando que o

grupo é português e que, desde o ano passado,

uma posição maioritária do Grupo Aleluia Cerâ-

micas foi comprada pelo Grupo Prebuild, tam-bém ele de capitais portugueses.

Mas a área de actividade da empresa man

tém-se inalterada: a maior parte diz respeito a

azulejos. «Historicamente sempre foi, apesar de

fazer faianças decorativas sempre teve no fabrico

de azulejos mais de 90% do seu volume de negó-cios», revela Duarte Garcia. E no que a azulejosdiz respeito há três segmentos dentro da Viúva

Lamego: trabalhos de autor, azulejaria tradicional

e trabalhos de arquitectura. «Temos como pro-dutos principais o azulejo tradicional português, o

azulejo artístico (de autor) feito para trabalhos de

arte pública em conjunto com artistas contempo-râneos e os azulejos especiais feitos para projectos

especiais de arquitectura», explica.

Ao longo do tempo o peso relativo de cada

um dos três segmentos tem evoluído seguindo a

ordem natural dos negócios. «Se numa determi-nada altura podemos estar a fazer um conjunto de

azulejos para, por exemplo, uma estação de metro

e, portanto, de arte pública, aí os outros perdem

peso. Noutras alturas em que não há investimento

em arte pública, os outros ganham força no nosso

volume de negócios», descreve o director-geral,atribuindo estas flutuações aos ciclos económicos

normais. Certo é que nenhuma das três áreas está

com a sua expressão apagada e ao longo da histó-

ria nenhuma é dominante.

Ao ritmo dos ciclos económicos

Inegável é que, a par de tantas outras

áreas económicas, também a cerâmica, em geral,e a Viúva Lamego, em particular, sentem quebrasna procura. Mas, lembra Duarte Garcia, ainda an-tes da recessão económica houve uma situação

que fez cair a procura. «Houve uma tendência

de moda para decorações mais leves que frzeram

com que a procura do azulejo tradicional portu-guês pintado à mão reduzisse. Isso não teve nada

a ver com a crise que começou em 2008/09. É

uma questão de moda que terá a sua sazonalidade

e recuperará quando recuperar. Mas não tenho

uma bola de cristal para dizer quando se dará a

recuperação.» Este facto conjugado com a crise

económica, que se sente desde 2009 e que atingeos negócios de forma transversal, leva este res-

ponsável a concluir: «Estamos numa altura má

do negócio . » Daí que , escusando -se a revelar nú-

meros, o director-geral admita que nos últimos

10 anos o volume de negócio reduziu bastante.

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Trabalhos com assinaturaViúva Lamego- A quase totalidade das estações do Metropoli-

tano de Lisboa com azulejos pintados à mão;

- Renovação de diversas estações do Metropo-

litano: Champs-Élysées/Ciemenceau - Paris,

Chabacano - Cidade do México, Deák Tér -Budapeste, Friedhemsplan - Estocolmo, Martin

Place - Sydney e Santa Lúcia - Santiago do Chile;

- Azulejos e reproduções do Museu Vieira da

Silva, em Lisboa;

- Grande painel sobre os descobrimentos, para o

edifício do Conselho da Europa, em Estrasburgo

(oferta do Governo português);

- Grande painel para o aeroporto de Macau;

- Revestimento exterior do Gran circo-lar

de Brasília.

Aleluia CerâmicasA Aleluia Cerâmicas tem no seu portefólio três

marcas: Ceramic, Keratec e Viúva Lamego. A

marca Ceramic oferece "colecções com estilo,

inovadoras, versáteis, tecnológicas e sofistica-

das". Disponibiliza formatos de maior dimensão

em revestimento, pavimento e porcelanato,

gamas de produto com recurso à mais recente

tecnologia de impressão digital, produtos

técnicos em diversos formatos numa vasta

paleta de cores. Os produtos da marca Keratec

são fabricados numa "moderna e inovadora

unidade cerâmica portuguesa de pavimentos e

revestimentos em porcelanato extrudido, cuja

diversidade de formatos, cores e acabamentos

permite a concretização de projectos exigentes

e ambiciosos". Já a Viúva Lamego produz azule-

jaria tradicional portuguesa através de projectos

especiais, sejam eles de autores (arte pública) ou

de arquitectos.

Casa da Música e BES são dois exemplos ôe arquitectura que recorre

aos azulejos da marca nascida na zona do Intendente, em Lisboa

Uma situação que poderá ser invertida se nos

bairros históricos começar a necessária reabili-

tação urbana. «Estamos a fazer algum esforço

comercial nesse sentido, mas não é fácil porqueesse mercado da reabilitação na verdade ainda

não arrancou. Para mim é mandatório que arran-

que», confessa. E explica que toda a forma como

a construção estava estruturada em Portugal aca-

bou. «As cidades foram apodrecendo nos cen-

tros porque não havia uma lei do arrendamento

que incentivasse a renovação, foram crescendo

para a periferia de uma forma mais organizada

aqui, menos organizada ali e desagregando todo

o tecido urbano. Como não há crescimento de-

mográfico nem houve uma alteração da lei do

arrendamento, havendo um excesso de fogos na

periferia, a única esperança para a construção é

reabilitar os centros», explica o director-geral.Mas quando é que isso vai ter lugar? «Quandoos donos tiverem estímulos para fazer o investi-

mento, quando tiverem acesso a financiamento,dinheiro para fazerem esse investimento», ex-

plana. Mas a verdade é que qualquer dessas situ-

ações está neste momento longe da velocidade

cruzeiro. «Quando isso acontecer a construção

renascerá», garante.

Enquanto isso a marca, que já assistiu a mui-

tos avanços e recuos económicos, vai trilhando

o seu caminho junto dos seus consumidores. E

estes não se definem nos tradicionais padrõesetários. «Tem mais a ver com o escalão ou o seg-mento cultural e com o gosto que a pessoa tem»,

explica Duarte Garcia. Mas claro que, sendo um

azulejo num segmento médio-alto do preço, está

associado também ao poder de compra. «E neste

momento o poder de compra é um bem escasso» ,

lamenta. Mas, explica o mesmo responsável, nem

sempre o decisor é o dono da obra. Muitas vezes

é o arquitecto. Depois «há arquitectos que fazem

mais pressão sobre o dono da obra para a utiliza-

ção deste tipo de materiais, outras vezes é o dono

da obra que gosta deste tipo de azulejo, porquetinha anteriormente esse tipo de produtos, poruma questão sentimental ou cultural e voltam a

usá-lo», conta, acrescentando que há um sem

-número de razões que tomam difícil tipificar o

utilizador. As escolhas e as vendas ocorrem tanto

na loja (do Intendente) como na fábrica, de onde

é feita a expedição das encomendas.

Apesar da importância que têm vindo a per-der, os turistas são ainda um elemento a ter em

conta, especialmente na loja de Lisboa. E tantos

há que levam apenas um azulejo, como os quefazem encomendas de mil ou 10 mil. Claro que,também neste caso, a frequência é menor do queera há 10 anos.

Ao nível da exportação neste momento não

há nenhum país que prevaleça, ainda que nos

últimos anos a marca tenha feito alguns traba-

lhos de arte pública para a Bélgica. Também os

EUA e o Brasil têm tido os seus picos. Trabalhos

que não estão certamente alheios à presença em

feiras com o Grupo Aleluia. «Estamos sobretudo

presentes na Feira de Itália, que é a maior fei-

ra mundial. Como somos uma fábrica do grupomarcamos presença», explica o director-geral.

Apesar da conjuntura económica e das di-ficuldades que o sector tem sentido nos últimos

anos, Duarte Garcia está confiante de que este vai

ser um bom ano para a Viúva Lamego. «Temos

um conjunto de trabalhos em fase de discussão e

negociação. Se somarmos a isso a rotina semanal

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de clientes que aparece cá e faz a sua obra numa

base quase regional e vai sempre comprando, es-

tou confiante que esta unidade vai ser, nos pró-ximos anos, superavitária», confessa o responsá-

vel, que acredita que os trabalhos - em Portugal,em Angola e em Espanha - vão ser adjudicados,

representando um bom fôlego para a empresa.São mais de duas dezenas de trabalhos em discus-

são, tendo os primeiros 10 dias do ano 2013 (altu-ra em que foi concedida a entrevista à Marketeer)dado a confirmação de três desses trabalhos com

interesse. À medida que as confirmações surjam

poderá ser necessário reforçar a equipa de cerca

de 30 pessoas que está neste momento na fábrica.

Colaboração com artistas

Foi nos anos 30, e a par do renovado inte-resse pelo azulejo, que iniciou uma colaboraçãoestreita com artistas plásticos, que nas instala-

ções da Viúva Lamego passaram a utilizar cada

vez mais este material para expressão das suas

criações. Iniciava-se um tipo de colaboração

que hoje constitui uma parte importante da

actividade da fábrica. Devido à sua relevân-

cia, a produção foi adaptada à diversificação de

formas e de técnicas, procurando a versatilida-de pretendida pelos artistas contemporâneos.

Hoje, a Viúva Lamego produz uma gama alar-

gada de faiança e azulejos sempre com pinturamanual (reproduzindo motivos dos sécu-

los XVI, XVII e XVIII), e trabalhos espe-ciais, quer por encomenda, quer a par-tir de criações de artistas plásticos.

Apesar de ainda se manter a loja histórica no Lar-

go do Intendente, tudo o resto foi desaparecen-do daquela zona de Lisboa. «Na altura, meados

do século XIX, o centro da cidade não chegava

aí, ficando um pouco mais para baixo. Não exis-

tia a Avenida Almirante Reis, que foi construída

no fim do século XIX. A fábrica ligava o Largo do

Intendente ao antigo Hospital do Desterro, queentretanto foi encerrado em 2007», conta Duar-te Garcia, director-geral da Viúva Lamego.

Quando se inicia a construção da AvenidaAlmirante Reis, o edifício industrial da Viúva

Lamego ftca cortado a meio. Nessa sequência,«nos anos 30 do século XX a Viúva Lame-

go mudou as suas instalações fabris para uma

zona não central de Lisboa na altura - a zona da

Palma de Baixo, ao lado da actual UniversidadeCatólica - e aí esteve até aos anos 80», recorda

Duarte Garcia. Mas a cidade voltou a crescer e

ao chegar aí a Fábrica da Viúva Lamego foi paraonde está actualmente instalada: Abrunheira -Sintra. Mas a loja no Largo do Intendente, ondetudo começou, essa mantém-se. M