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7/30/2019 B - ABIB,J.(2008) - Skinner, Darwin e Dawkins, Econtros
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Skinner, Darwin e Dawkins: Encontros
Jos Antnio Damsio Abib
Universidade Federal de So Carlos
No Gnesis bblico, Deus teria criado a diversidade dos seres vivos em sua
forma atual. O criacionismo, esse mito da criao do mundo, da vida e da diversidade
dos seres vivos, transfigura-se, tal qual camaleo, com terminologia cientfica, como
cincia da criao, modelo da complexidade inicial e teoria do desgnio inteligente, com
a finalidade de se legitimar e contestar a teoria da evoluo de Charles Darwin,
apresentada em seu clssico A origem das espcies, publicado no ano memorvel de
1859. Darwin demonstra em A origem que os seres vivos se transformam, que no
surgiram em sua forma atual, e fundamenta sua tese em dois processos, a variao
casual, denominada de mutao aleatria no neodarwinismo, a combinao das leis da
gentica mendeliana com o darwinismo, e a seleo natural. As variaes casuais entre
os indivduos de uma espcie, como no exemplo de Darwin das doze variedades de
carvalho, que na poca eram consideradas espcies diferentes, embora somente uma ou
duas o fossem, fornecem o material para a seleo. As variaes que propiciam a
sobrevivncia dos indivduos no ambiente em que vivem so selecionadas e
preservadas, as prejudiciais so eliminadas. A seleo cumulativa e lenta e, com o
tempo, um longo tempo, d origem a novas espcies, sendo, portanto, criadora.
Em sentido amplo, pode-se dizer que Skinner plasma o modelo de seleo por
conseqncias no processo de seleo de Darwin e na lei do efeito de Thorndike, lei
que, em grande parte, foi devida ao darwinismo. Na expresso seleo por
conseqncias, seleo deve-se ao processo de seleo, e conseqncia, lei do
efeito. Em seu elogio ao artigo de Skinner, Seleo por conseqncias, Richard
Dawkins, o eminente neodarwinista, um dos intelectuais mais aclamados da atualidade,disse, em Replicadores, conseqncias e atividades de deslocamento, que o acha
admirvel. E disse mais: disse que a expresso seleo por conseqncias uma boa
frase para caracterizar os processos darwinistas. Sendo assim, as variaes selecionadas
so as que produzem conseqncias com valor de sobrevivncia para os indivduos,
como quer Darwin, ou, para os genes, como quer Dawkins. J as prejudiciais produzem
conseqncias sem valor de sobrevivncia para os indivduos ou genes.
Skinner explica a origem dos comportamentos com base no modelo de seleopor conseqncias e, conseqentemente, polemiza com o modelo da Mente criativa, a
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verso semi-sagrada da Mente, humana, mas ainda de origem Divina, que, desde tempos
remotos, ocupa o lugar dessa explicao. O modelo de seleo por conseqncias
carrega consigo o conflito com o criacionismo e com a verso semi-sagrada da Mente.
Se at hoje o darwinismo, um sculo e meio depois de seu aparecimento, atacado por
telogos, religiosos e filsofos, por quantos sculos o modelo de seleo por
conseqncias ser submetido a ataques da mesma natureza? Com certeza no
estaremos mais aqui para presenciar.
Mas, em que sentido Skinner critica o modelo da Mente criativa na explicao
do comportamento? Darwin mostrara emA origem que o advento de novas espcies no
obedece a nenhuma Causa Final, a nenhum Plano, Finalidade ou Propsito de um
Criador. No existe uma Mente Sagrada, a Mente do Criador, que teria criado as
espcies de acordo com seu Propsito ou Finalidade. Dawkins disse em seu livro A
escalada do monte improvvel que a variao aleatria, mas que a seleo no-
aleatria, e que, por essa razo, o darwinismo no pode ser compreendido somente
como uma teoria de puro acaso. Isso quer dizer que o processo de seleo que explica
o curso da evoluo, seu propsito ou finalidade. No h, portanto, necessidade de se
postular um Criador. Skinner apia uma tese similar quando defende o processo de
seleo contra a Mente criativa: no h nenhuma Causa Final, nenhum Plano,
Finalidade ou Propsito de uma Mente criativa na explicao do comportamento. No
entanto, nem por isso se deve pensar que ele tenha apoiado a explicao do
comportamento baseada na causalidade mecnica (push-pull) da fsica do sculo XIX,
que na psicologia bem ilustrada, por exemplo, pelos conceitos de reflexo e fisiologia
do reflexo e pela psicologia estmulo-resposta. O modelo de seleo por conseqncias
refuta o modelo da Mente criativa por se opor, entre outras razes, s Causas Finais,
sem que, por assim fazer, se comprometa com causas mecnicas. Nem o Teleologismo
nem o mecanicismo encontram abrigo no modelo de seleo por conseqncias (emuma verso totalmente profana da mente, uma que inscreva sua origem completamente
na natureza, deve-se escrever mente e teleologismo, com iniciais minsculas).
O modelo de seleo por conseqncias d origem a novos comportamentos de
modo similar quele que o processo de seleo natural d origem a novas espcies. Uma
variao comportamental pode produzir uma conseqncia de valor para o organismo.
Quando isso acontece, a variao selecionada, podendo-se dizer que h um novo tipo
de comportamento no mundo. Mas a variao oferece vrias possibilidades de seleo.Por exemplo, pode-se ensinar uma criana a falar portugus, tupi-guarani, rabe, ou
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qualquer outra lngua, selecionando-se variaes de um amplo espectro de sons que ela
capaz de produzir desde os seus anos mais tenros. O modelo de seleo por
conseqncias gera novas espcies de comportamentos. Por analogia, pode-se dizer
que, se Darwin escreveu A origem das espcies, Skinner escreveu A origem dos
comportamentos.
O conceito de origem do comportamento tem um segundo significado. Uma
coisa explicar a origem de novos comportamentos com base na seleo de variaes,
outra explicar a origem das variaes que so o material da seleo. Aqui se destacam
os conceitos de arranjos acidental e deliberado de condies. Skinner relembra-nos, por
um lado, que o arranjo acidental de molculas mais simples deu origem a molculas
mais complexas (as variaes caractersticas da vida). Baseando-se no neodarwinismo,
relembra-nos que o arranjo acidental de genes deu origem s variaes fenotpicas dos
organismos. Argumenta, ento, que novos comportamentos podem ser gerados pelo
arranjo acidental de contingncias ambientais. O psiclogo americano diz, por outro
lado, que os cientistas inventam novas molculas, bem como alteram material gentico,
com o arranjo deliberado de condies que provavelmente no aconteceriam
acidentalmente. E diz, enfim, que o arranjo deliberado de contingncias ambientais pode
gerar comportamentos novos que provavelmente tambm no ocorreriam por acidente.
Mas, note-se bem, nos trs casos, seja com arranjos acidentais ou deliberados, os
resultados so imprevisveis. Com efeito, pois se fossem previsveis, seriam triviais, no
seriam originais. Referindo-se ao comportamento, eis o que ele diz em Tecnologia do
ensino: no podemos ensinar comportamento original, desde que no seria original se
fosse ensinado, mas podemos ensinar o estudante a arranjar ambientes que maximizem
a probabilidade de que ocorram comportamentos originais (1968, p. 180). A Mente do
Criador sofre mais um golpe, agora, na explicao da vida, e a Mente criativa, atacada
em seu ltimo reduto, agoniza em seu dilaceramento mais profundo.Em textos como Criando o artista criativo e Uma leitura sobre tendo (having)
um poema, o pensador americano afirma que descobertas cientficas e invenes
artsticas e literrias podem ser explicadas em termos do arranjo acidental de
contingncias e vincula sua discusso sobre criatividade ao livro A origem das espcies
que essencialmente um estudo sobre originalidade (Criando, 1970/1999, p. 385).
Em Tecnologia do ensino, descreve um arranjo deliberado de contingncias ambientais
que enfatiza a construo de metforas, a leitura de um autor do ponto de vista do leitor,o afrouxamento da leitura precisa de textos, o afastamento de comportamentos
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reprodutivos e o envolvimento com ambientes e atividades plenos das finalidades
imaginadas, por exemplo, se quiser ser msico, viva em ambientes musicais, oua
msica, leia sobre msica, fale sobre msica, sonhe com msica, transforme sua vida
em msica. Espera-se, evidentemente, que o arranjo deliberado dessas contingncias
propicie o advento de comportamentos originais. Porm, no possvel predizer quais
sero esses comportamentos, pois pode ser, por exemplo, que a pessoa que respira
msica, ao final no aprenda sequer a assobiar! No entanto, caso apresente uma
variao comportamental musical, sai-se bem no piano, na composio musical, ou na
histria de msica, o processo de seleo pode entrar em cena. E, embora as variaes
estejam sempre espreita, tornando impossvel descartar completamente conseqncias
imprevistas, efeitos perversos e possibilidades improvveis, pode-se, com alguma
previso e controle, modelar um comportamento original, cuja originalidade , de incio,
fenmeno da variao, e depois, da seleo, e trazer ao mundo um compositor ou um
historiador ou um pianista como nunca se viu!
possvel intervir no processo de seleo. Com efeito, nos casos dramticos das
prticas culturais atuais que levam exausto dos recursos naturais, ao aquecimento
global, poluio ambiental e superpopulao, bem como ameaa sempre presente do
holocausto nuclear, pode-se esperar que, por meio do arranjo deliberado de novos
ambientes educacionais, surjam prticas culturais inditas, sem previso e controle de
quais efetivamente sejam, que tenham condies de interferir no processo de seleo
das prticas deletrias atuais. Mas, ento, novamente o processo de seleo pode vir
cena para, em princpio, com previso e controle, modelar e dar forma final s prticas
que forem mais adequadas quela finalidade. Evidentemente, pode-se tambm planejar
prticas culturais e sugeri-las s comunidades interessadas como variaes a serem
submetidas ao processo de seleo com a finalidade de verificar se tm ou no valor no
combate s atuais prticas nocivas s culturas.A origem das espcies um estudo sobre originalidade, foi o que Skinner disse.
A obra de Skinner, A origem dos comportamentos, tambm um estudo sobre
originalidade. Um explica a criao de novas espcies, o outro explica a criao de
novos comportamentos. Darwin e Skinner elaboraram teorias da criao, mas os agentes
da criao so o acaso e a seleo. Como Dawkins ressaltou, o acaso mutao
aleatria, mas a seleo no-aleatria. H no modelo de seleo por conseqncias um
elemento de desordem: o acaso criador. Mas h tambm um elemento de ordem: aseleo criadora do que tem valor, do que ajuda a sobreviver, do que bom, e at do
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que intil, o belo, que depende de ns. Se do acaso surgir Afrodite, por que no model-
la? Os destinos do acaso dependem de mos in totum mergulhadas em variaes. Existe
uma imprevisibilidade imanente no modelo de seleo por conseqncias.
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