As Cartas Para Dawkins - David Robertson

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    Comentrios atestas sobre o contedo deAs Cartas para Dawkins

    AcheiDeus, um delrio uma leitura bem deprimente porque a) os argumentos parecemmesmo banais e de forma alguma estimulantes b) s posso dar minha colaborao

    religio, concordando com muitas das crticas feitas por ela.... No posso realmenteacreditar que algum to inteligente se valeria de argumentos to preconceituosos e

    ingnuos. Pensei que estivesse perdendo algo. Voc ajudou-me a perceber isso....

    Robertson um estpido. E no somente um ESTPIDO, mas um ESTPIDO

    perigoso. Um perdedor arrematado. Nunca tinha lido uma diatribe to dogmtica e

    viciada como esta. QUANDO TESTAS COMO ROBERTSON realmente fornecero

    alguma EVIDNCIA EMPRICA de si prprios algo que possamos realmente

    examinar e dizer Ei! Sabem, pode haver um Deus, a se julgar por esta prova?

    Bravo David Robertson! Voc no s dedicou tempo para lerDeus, um delrio.Voctambm dedicou tempo para escrever um longo artigo acerca da sua reao e agora

    acrescenta esta discusso.

    Uau, esta uma opinio inteligente e bem elaborada sobre o livro de RD. Posso ver

    que ela de fato mexeu com a maioria dos leitores deste site tambm, visto como foi

    postado 2 dias atrs e j tem 5 pginas de comentrios, a maioria dos quais apenas

    declarando que o escritor desta nota est errado e tem uma mente lerda e estpida. Eu

    adoro quando as coisas ficam agitadas. Por favor, mantenha-a!

    Impressiona-me que algumas das pessoas aqui se incomodem de debater sobre esse

    paspalho do Robertson. Ele est claramente louco e fora da razo e da lgica. Se vocdebater com ele, pare de respeitar suas iluses, por mais eloqncia que ele coloque

    nelas, e, por favor, aborde-o com o escrnio e o desdm que merece. Dawkins recusa-

    se a debater esse tipo de bizarrice porque d pessoa mentalmente enferma a

    impresso de que verdadeiramente h algo para se discutir.

    Gostaria de agradecer a voc pelas respostas articuladas a todas essas questes (que

    algumas vezes so hostis). Definitivamente, sou ateu, mas realmente aprecio um debate

    bom, saudvel e bem escrito.

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    AS CARTAS PARA DAWKINSDESAFIANDO MITOS ATESTAS DAVID ROBERTSON

    Traduzido do original em inglsThe Dawkins Letters (2007)

    Traduo: Vanderson Moura da Silva

    Edio e Reviso: Felipe Sabino de Arajo Neto

    Capa: Raniere Maciel Menezes

    Primeira edio em portugus: 2008

    Direitos para o portugus gentilmente cedidos pela Christian Focus Publications ao siteMonergismo.com

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    AS CARTAS PARA DAWKINSDESAFIANDO MITOS ATESTAS DAVID ROBERTSON

    Sumrio

    PREFCIO EDIO BRASILEIRA ....................................................................................5CARTA INTRODUTRIA AO LEITOR ............................................................................... 17PRIMEIRA CARTA: O MITO DA CONSCINCIA MAIS ELEVADA ................................. 20SEGUNDA CARTA: O MITO DA BELEZA SEM DEUS...................................................... 25TERCEIRA CARTA: O MITO DA RACIONALIDADE E TOLERNCIA ATESTAS ........ 31 QUARTA CARTA: O MITO DO DEUS CRUEL DO ANTIGO TESTAMENTO .................. 37QUINTA CARTA: O MITO DO CONFLITO CINCIA/RELIGIO ..................................... 43SEXTA CARTA: O MITO DO DEUS CRIADO E DO UNIVERSO INCRIADO ................... 50STIMA CARTA: O MITO DO MAL INERENTE DA RELIGIO ...................................... 57OITAVA CARTA: O MITO DA MORALIDADE SEM DEUS .............................................. 64NONA CARTA: O MITO DA BBLIA IMORAL .................................................................. 72 DCIMA CARTA: O MITO DO ABUSO RELIGOSO INFANTIL ........................................ 80CARTA FINAL AO LEITOR POR QUE CRER? .............................................................. 88

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    ultrapassados assim? Quais so as diretrizes gerais de uma abordagem distintamentecrist em relao a essas questes?

    As pginas seguintes dedicam-se a uma exposio panormica com o propsitode auxiliar o leitor que esteja em busca de um aprofundamento na resposta a essasquestes.

    O cientista antiquado

    Cientistas em geral se preocupam com as suas atividades prticas e evitam aomximo visitas filosofia da cincia. Filsofos da cincia em geral so cientistas que sededicam a vigiar o que os cientistas fazem e como eles justificam o que fazem. Umadas questes centrais da filosofia da cincia : o que cincia? e a resposta, tal comona maioria das questes filosficas, no uma frase simples que apresente uma soluo

    final, mas sim uma srie de respostas tentativas que propem modelos diversos arespeito da cincia. Os modelos de cincia difundidos em boa parte das universidades eque passam a moldar a conduta dos cientistas, nos melhores casos, levam emconsiderao os pontos principais da filosofia da cincia mas, na maioria das vezes, doo debate como encerrado.4

    O cientista contemporneo, assim, , por inrcia, antiquado. (Ou, em termosmais brandos, conservador). A no ser que faa alguma coisa a respeito, exercer suaatividade pensando que essa maneira de operar a nica ou a melhor possvel. Usando a

    desgastada analogia de Plato, o cientista contemporneo vive em uma caverna eenxerga por sombras. Ultrapassar essa viso possvel, mas requer um certo esforo.Como o tempo limitado, o que ocorre que a maioria dos cientistas no se preocupaem questionar a prpria natureza das atividades que executa. Um modelo especfico decincia pressuposto e, em geral, encarado como a cincia. Afinal, nem todos sofilsofos e o mundo est cheio de problemas concretos que precisam ser resolvidos.5

    Um desses modelos na verdade, um dos mais antigos na rea da filosofia dacincia, chamado positivismo lgico pressupe que a cincia seja a forma de

    conhecimento objetivo que se restringe ao uso de proposies tautolgicas (na formaode conceitos, por exemplo) e de verificao emprica. No comeo do sculo XX essemodelo foi elaborado e defendido como um critrio de demarcao para a cincia.Cincia consiste, segundo esse modelo, em conceitualizao rigorosa com diversasimplicaes lgicas e, por outro lado, na exigncia que as afirmaes que no podemser deduzidas diretamente de proposies e de conceitos bsicos sejam verificadas

    4 Para livros introdutrios, ver Alan F. Chalmers. O Que Cincia, Afinal? So Paulo: Brasiliense, 1993 eos mais recentes: Samir Okasha. Philosophy of Science: A Very Short Introduction. Oxford: Oxford

    University Press, 2002; Peter Godfrey-Smith. Theory and Reality: An Introduction to the Philosophy ofScience. Chicago: The University of Chicago Press, 2003.5 Thomas S. Kuhn.A Estrutura das Revolues Cientficas. 7.ed. So Paulo: Perspectiva, 2003.

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    externamente. Qualquer outro discurso fora desses parmetros no cincia.6

    Os defensores dessa viso no demoraram muito tempo para perceber que oprprio critrio de demarcao proposto por eles no obtido por deduo pura nem verificado empiricamente. No obstante, com uma modificao ou outra, o positivismose espalhou e passou a ser adotado como o mtodo cientfico. Desde que os cientistasaumentaram o seu grau de especializao e quase que abandonaram de vez a prtica daanlise filosfica, h um considervel descompasso entre as discusses na filosofia dacincia e a prtica cientfica. Depois do positivismo, diversas formulaes apareceramna filosofia da cincia, e o debate ainda continua.7 Boa parte dos cientistas, todavia,permanece dentro da caverna ou do laboratrio operando conforme os padres maisantigos, ou adaptaes deles.

    nesse contexto de comunicao cada vez menor entre os cientistas e os

    filsofos da cincia que Dawkins aparece com seu livro. Dawkins quer sair da cavernamas, ao chegar do lado de fora, no sabe lidar com o que enxerga. Tudo o que sabesobre as questes meta-tericas isto , as questes a respeito das teorias sobre teorias,ou a filosofia da cincia afetado pelo esquema filosfico em que ele foi treinado. Ocientista finalmente tenta retornar rea da filosofia (o que muito bom), mas seesquece de ler a respeito da filosofia. O intelectual do sculo passado cai de pra-quedasno mundo contemporneo.

    O debate atual

    Dado o carter antiquado e pouco original da argumentao de Dawkins, seriafcil simplesmente ignorar sua crtica ao cristianismo como irrelevante e obsoleta e, defato, alguns acadmicos cristos reconheceram que esse curso de ao seria plenamente

    justificvel. Para o renomado filsofo calvinista Alvin Plantinga, por exemplo,

    Apesar do fato de seu livro ser em grande parte filosfico, Dawkins no umfilsofo (ele bilogo). Entretanto, mesmo levando isso em conta, muito dafilosofia que ele propaga simplria, na melhor das hipteses. Poderamos dizer

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    Cf. Moritz P. Schlick, Positivismo e Realismo, in: P.R. Mariconda (Org.) Coletnea de Textos: MoritzSchlick, Rudolf Carnap. 3.ed. So Paulo: Nova Cultural, 1988, pp.39-64 (Coleo Os Pensadores).7 Cf. p.ex. Karl R. Popper. Conhecimento Objetivo: Uma Abordagem Evolucionria. Belo Horizonte:Itatiaia, 1972; Karl R. Popper. Conjecturas e Refutaes. Braslia: UnB, 1994; Kuhn, A Estrutura;W.V.O. Quine, Two Dogmas of Empiricism, in: W.V.O. Quine. From a Logical Point of View. 3.ed.Cambridge: Cambridge University Press, 1980, pp.20-46; Imre Lakatos & Alan Musgrave (ed.) Criticismand the Growth of Knowledge. Cambridge: Cambridge University Press, 1970; Imre Lakatos, History ofScience and its Rational Reconstructions; Replies to Critics, Boston Studies in the Philosophy ofScience, 1971, v.8, pp.91-136; 174-182; Paul K. Feyerabend. Against Method: Outline of an AnarchisticTheory of Knowledge. Atlantic Highlands: Humanity Press, 1975; Larry Laudan. Progress and itsProblems: Toward a Theory of Scientific Growth. Berkeley: University of California Press, 1977; RoyBhaskar. A Realist Theory of Science. Sussex: The Harvester Press, 1978; Bas C. van Fraassen. TheScientific Image. Oxford: Clarendon Press, 1980; Bruno Latour & Steve Woolgar. Laboratory Life: The

    Construction of Scientific Facts. Princeton: Princeton University Press, 1986; John Dupr. The Disorderof Things: Metaphysical Foundations of the Disunity of Science. Cambridge, MA: Harvard UniversityPress, 1993; Manuel de Landa.Intensive Science and Virtual Philosophy. New York: Continuum, 2002.

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    que suas filosofadas esto, no mximo, no nvel de um estudante de primeiroperodo, mas isso seria injusto com os estudantes; a verdade que muito de seusargumentos seriam reprovados numa aula de filosofia qualquer.8

    Contudo, se por um lado a contribuio de Dawkins para um debate do sculo

    passado chega bastante atrasada e pouco filosoficamente informada, por outro, fora daacademia, pode-se supor que o pblico em geral tambm no esteja em sintonia com afilosofia da cincia. Um indicador disso o grande apelo que livros de divulgaocientfica adeptos do antigo modelo positivista tm no mercado. Com efeito, h nas ruastalvez uma aceitao quase que automtica dos pressupostos naturalistas esecularizantes que informam esses livros populares. Se, na caverna dos laboratrios oscientistas tm negligenciado a reflexo acerca da atividade cientfica, nas escolas, ento,o debate praticamente ausente. Ora, como uma pequena parte da populao se deparacom alguma discusso mais rigorosa dos pressupostos por trs da cincia

    contempornea, faz sentido afirmar que temos, assim, condies muito propcias paraque o argumento de Dawkins encontre vasta repercusso em nossa cultura.

    , por isso, justificvel evitar uma resposta mais detalhada a esses livros, mas,ao mesmo tempo, esse curso de ao abre ainda mais a porta para a aceitao e areproduo das teses contidas neles. Chegamos a um ponto em que, inclusive, muitoscristos colocam limites inerrncia da bblia e justificam isso com a afirmao de quea bblia no se prope a ser um livro de fsica ou de biologia. Fascinados pelo avanocientfico e tecnolgico, muitos cristos, por no terem acesso a uma viso alternativa ecrist a respeito dos mesmos assuntos, acabam abraando uma espcie de pluralismo emque Dawkins com seu sistema ateu e totalizante a verdade na cincia, e a bblia comseu sistema testa e igualmente totalizante a verdade na religio, ou, no caso dosmais liberais, na tica.9 Essa situao no pode continuar mais assim, porque respostasexistem e esto disponveis.

    A contribuio de Robertson, com sua linguagem simples, concisa e pastoral um acrscimo que deve ser recebido com alegria pelo leitor relativamente interessado.O livro no pretende lidar com as questes mais profundas a respeito de idias distintasde cincia, e de uma abordagem crist para a atividade cientfica. No de uma maneira

    sistemtica. O que Robertson quer atingir o maior nmero de pessoas possivel atestas inclusive e, de preferncia, utilizar sua contra-argumentao de uma maneiraconstrutiva, abrindo portas para levar o evangelho a quem quer que leia o seu livro.Embora no aspire a uma abordagem completa e profunda de todos os assuntos empauta, Robertson deixa claro que pretende questionar os mitos que Dawkins utiliza emseu livro, reconhecendo que muitos desses mitos tm feito parte da cultura ps-crist

    8 Alvin Plantinga, Dawkins, uma Confuso: Naturalismo ad Absurdum. Disponvel em:http://www.monergismo.com/textos/apologetica/dawkins-confusao_alvin-plantinga.pdf9

    Na verdade, essa tese foi popularizada pelo ateu Stephen J. Gould. Dawkins exemplifica um ateu querejeita essa tese, e Robertson a rejeita tambm. Cf. Gould. Rocks of Ages:Science and Religion in theFulness of Life. New York: Ballantine, 1999.

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    contempornea, e que preciso tirar a mscara desses mitos porque j tem se tornadodifcil adotar uma postura crtica a respeito dessas concepes. Diz ele:

    Como cristo profundamente comprometido, fico perturbado com os ataquesque Dawkins faz a Deus e Bblia, bem como admirado por seus ataques seremlevados to a srio. Acredito que ele esteja apelando, no inteligncia e aoconhecimento do povo, mas, antes, ignorncia desse. 10

    Uma viso distintamente crist

    Que a concepo de Dawkins a respeito da cincia um tanto quanto antiqadaj foi afirmado e repetido aqui. Demonstrar essa afirmao simples e requer somenteum exame do desenvolvimento da filosofia da cincia nas ltimas dcadas. Como oespao no permite, basta que o leitor interessado seja remetido a uma srie de textosfundamentais sobre o assunto e que, alm disso, fique claro que diversas das refutaesao modelo de cincia pressuposto por Dawkins foram enfticas no questionamento daidia de que possvel extrair conhecimento a partir de experimentao objetiva. 11 Aobservao no est nem pode ficar livre de pressupostos e, portanto, a exigncia deque disputas sejam resolvidas mediante experimentao emprica ignora uma questoque a antecede: existem dados brutos, neutros?

    A resposta recorrente encontrada por diferentes argumentos e diversas linhas depensamento negativa. O modelo do cientista que observa o mundo exterior e tira dalisuas concluses , no mnimo e generosamente falando incompleto, mas, quasecertamente, errado. As vises alternativas sobre como a cincia funciona, todavia,

    diferem quanto ao contedo dos pressupostos com que os cientistas encaram seu objetode estudo. Se, por um lado, prestam um favor a uma abordagem crist ao criticar aconcepo positivista da cincia, por outro, propem solues mutuamente excludentesa respeito da natureza e da justificao do conhecimento cientfico ou mesmoabandonam qualquer tentativa de resposta.

    Talvez a diferena mais bsica entre uma viso crist da cincia e a crtica ps-positivista seja a desconfiana da primeira em relao a qualquer sistema que atribua aohomem a capacidade de raciocinar autonomamente do ponto de vista religioso. Em

    outras palavras, o cristianismo nega que haja qualquer forma de se desvencilhar depressupostos religiosos na formulao de argumentos filosficos e cientficos. nesseponto comea a crtica crist aos demais sistemas tericos em diversas reas doconhecimento, incluindo a perniciosa sntese do cristianismo com outros sistemasfilosficos, notadamente aquele derivado do paganismo clssico.

    10 Robertson, p.19.11 Ver a nota 7.

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    Crtica Transcendental e Argumento Transcendental

    Uma abordagem crist a respeito da cincia nega a possibilidade de neutralidadereligiosa no raciocnio terico. Historicamente, o judasmo, o cristianismo e oislamismo tentaram rever suas posturas acerca do pensamento terico diante das

    propostas filosficas pags provenientes da Grcia clssica. Tanto a teologia medievalcomo as suas aplicaes filosficas adotaram um movimento de sntese em relao filosofia grega.12 Isso fica bastante evidente na maneira que os filsofos medievaistinham de encarar a apologtica. A defesa da f partindo da teologia natural (tais comoas clebres cinco vias de Toms de Aquino, por exemplo), embora tenham sediferenciado suficientemente dos sistemas propostos por Plato e por Aristteles,ecoaram diversas das caractersticas desses sistemas, sendo a mais importante delas opressuposto da autonomia do pensamento terico. Na teologia natural romanista, oraciocnio considerado como um ponto de contato religiosamente neutro entre o

    cristo e o incrdulo, e o argumento apologtico, supe-se, ocorre sempre nesse terrenocomum.13

    A postura sinttica do pensamento medieval foi rejeitada pelo humanismorenascentista. A ruptura no aconteceu de maneira repentina, mas a tendncia geral dafilosofia influenciada por esse movimento foi anti-sinttica. Tanto o empirismo deBacon, Hobbes, Locke, Berkeley, Hume quanto o racionalismo de Galilei, Descartes,Spinoza, Kant e outros refletiram, historicamente, uma defesa da idia da autonomia dopensamento terico. Mas, ao mesmo tempo, esse pensamento rompeu com o

    pensamento sinttico de antes. O ideal humanista, depois transformado pelo iluminismo, romper o mximo possvel com qualquer idia de transcendncia. O resultado dessamudana na forma de pensar, no longo prazo, ficou claro no recuo do cristianismo paraa esfera da f. Alis, ficou claro na separao rgida entre f e razo, entre religio ecincia.14

    Os pensadores reformados entenderam que era preciso proclamar novamente arelevncia do cristianismo em todas as esferas, inclusive na intelectual. A preocupaoprincipal da reforma com a teologia propriamente dita e suas diversas aplicaes no

    culto e na vida social no levaram de imediato a um questionamento maior do sistemafilosfico sinttico. A apologtica luterana at o sculo XVI (pelo menos) manteve-sefortemente ligada teologia natural catlica, embora a bblia tivesse ganhado maiornfase nas confisses luteranas.15 Apesar disso, a Confisso de F de Westminster,

    12 Herman Dooyeweerd. Transcendental Problems of Philosophic Thought: An Inquiry into theTranscendental Conditions of Philosophy. Grand Rapids: Wm. B. Eerdmans, 1948, pp.59-77.13 Para um exemplo de apologtica tomista, ver Norman Geisler & Peter Bocchino. FundamentosInabalveis. So Paulo: Vida, 2003.14 Dooyeweerd, Trascendental Problems; Francis Schaeffer. A Morte da Razo. So Paulo: CulturaCrist, 2002; Michael Hardt & Antonio Negri. Empire. Cambridge, MA: Harvard University Press, 2000,

    pp.67-92.15 Cf. A primeira parte de Michael Sudduth. The Reformed Objection to Natural Theology [s.l.]: Ashgate,no prelo.

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    concluda no meio do sculo XVII, j aponta para uma diferenciao substantiva entre ateologia baseada na revelao geral de Deus e aquilo que se pode afirmar com base narevelao especial nas Escrituras:

    Ainda que a luz da natureza e as obras da criao e da providncia de tal modo

    manifestem a bondade, a sabedoria e o poder de Deus, que os homens ficaminescusveis, contudo no so suficientes para dar aquele conhecimento deDeus e da sua vontade necessrio para a salvao; por isso foi o Senhor servido,em diversos tempos e diferentes modos, revelar-se e declarar sua Igreja aquelasua vontade; e depois, para melhor preservao e propagao da verdade, para omais seguro estabelecimento e conforto da Igreja contra a corrupo da carne emalcia de Satans e do mundo, foi igualmente servido faz-la escrever toda. 16

    O argumento reformado a respeito da razo foi elaborado de forma maisdetalhada principalmente mais tarde, depois das contribuies de Abraham Kuyper, deseus sucessores (Dooyeweerd e Vollenhoven na Holanda; Van Til nos Estados Unidos)

    e de alguns outros pensadores cristos (por exemplo, Clark, Schaeffer e, maisrecentemente, Plantinga) que adotaram uma postura de questionamento em relao filosofia crist sinttica. Pelo menos dois pontos podem ser ressaltados.17

    Primeiro e seguindo as afirmaes da teologia reformada a queda do homeminfluenciou significativamente seu relacionamento com Deus. Muito mais do que o quea teologia tomista e a filosofia crist sinttica supunham. A queda representa rebeliocompleta contra Deus, inclusive na rea do raciocnio e do pensamento terico. Um dosprincipais pressupostos da filosofia crist anti-sinttica exatamente isso que Plantinga

    chama de efeito notico do pecado.

    18

    Por isso uma apologtica que pressuponha a reado raciocnio como religiosamente neutra no eficaz, porque se orienta a partir de umaviso equivocada a respeito do estado do homem. Por isso uma cincia que pressuponhaa autonomia do pensamento terico no consegue ir muito longe se quiser permanecerfiel a esse pressuposto.

    Se a queda do homem afeta necessariamente o raciocnio, ento, no h como sedesvencilhar de fatores pr-tericos ou, em um sentido mais amplo do termo, religiososna cincia. Colocando de forma geral, o homem encontra-se ou em rebelio contraDeus, ou restaurado pela graa salvadora e em processo de santificao em todas asreas de sua vida, inclusive em sua viso de mundo. Uma crtica transcendental ao

    16 Assemblia de Westminster. Confisso de F, I, 1. Observe-se que a Confisso somente ilustra aseparao mais rgida mencionada acima. Para mais detalhes, Cf. Sudduth, The Reformed Objection.17 Cf. p.ex. Abraham Kuyper. Calvinismo. So Paulo: Cultura Crist, 2002; Herman Dooyeweerd. InTheTwilight of Western Thought: Studies in the Pretended Autonomy of Philosophical Thought. Ed.Rev.Nutley: The Craig Press, 1980; Dirk Vollenhoven.Introduction to Philosophy. Sioux Center: Dordt Press,2005; Kornelis A. Bril. Vollenhovens Problem-Historical Method: Introduction and Explorations. SiouxCenter: Dordt Press, 2005. Cornelius van Til. A Survey of Christian Epistemology. Phillipsburg:Presbyterian & Reformed Publishing, [s.d.]; Gordon H. Clark. A Christian View of Men and Things.Grand Rapids: Wm. B. Eerdmans, 1952; Schaeffer. A Morte da Razo; Alvin Plantinga. Warranted

    Christian Belief. Oxford: Oxford University Press, 2000.18 Alvin Plantinga, On Reformed Epistemology, The Reformed Journal, 32, 1982. Cf. Stephen K.Moroney, How Sin Affects Scholarship: A New Model, Christian Scholars Review, 38, 1999.

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    pensamento terico isto , um exame das condies necessrias para o raciocnioterico mostra que a abstrao uma condio necessria da prtica cientfica e queela se baseia sempre em condies pr-tericas. Provm de uma escolha religiosa dopesquisador.19

    Isso leva segunda lio ensinada pelos filsofos reformados. O que necessrio para um cristo entender que ele no precisa se sujeitar viso de mundorebelde do velho homem. O chamado para a santificao um chamado, tambm, paraa restaurao da comunho com o Criador na esfera intelectual da vida. 20 H pelomenos trs estmulos que devem incentivar o cristo nessa esfera. Primeiro, existe umaordem bblica para tal. Deve existir submisso completa a Cristo, anulando sofismas elevanto cativo todo pensamento obedincia de Cristo (2 Cor. 10:4-6).21 Em segundolugar, quem conhece Jesus, conhece a verdade (Jo. 14:6-7; 8:32). Talvez no exista umincentivo maior do que a certeza da verdade absoluta do pressuposto bsico daexistncia de um Criador e Redentor que Se revela de maneira especial na Sua palavra.Em terceiro lugar, a viso de mundo rival no se sustenta sozinha (Rm. 1:22-25; 2 Tm.3:7-9). Tal como Van Til sugeriu com seu argumento transcendental pela viso demundo crist, para qualquer argumentao racional preciso que o atesta pressuponhapelo menos partes do sistema cristo.22 Isso quer dizer que, tentando derrotar o sistemacristo, pessoas como Dawkins precisam, antes de argumentar, afirm-lo de certaforma.

    Quantos incentivos existem para o cristo deixar de ser intelectualmente rebelde

    e passar a mostrar obedincia tambm no seu pensamento terico! O conhecimentoterico tem, por objeto, a criao de Deus. A Sua palavra nos chama para essaobedincia. A transformao pela qual passamos aps a converso nos aproxima maisdo Criador e do entendimento que Ele tem a respeito da criao. A cosmovisoalternativa se auto-destri. Isso quer dizer, basicamente, que existe um mandamento aser obedecido, mas tambm uma proviso para o sucesso, venha ele cedo ou tarde, casonos coloquemos no caminho certo.

    Dawkins de novo

    Os pontos de partida de um sistema terico cristo e anti-sinttico, assim,diferem dos pontos de partida dos sistemas no-cristos. Robertson entende isso muitobem e deixa claro que mesmo Dawkins e seus companheiros, apesar de acreditarem naautonomia da razo, na verdade, tambm partem de pressupostos:

    19 Dooyeweerd, Transcendental Problems, pp.15-55; Herman Dooyeweerd. InThe Twilight.20 Cornelius van Til. A Christian Theory of Knowledge. Phillipsburg: Presbyterian & Reformed

    Publishing, 1961.21 Cf. Sl.139:17; Rm 12:2.22 Cornelius van Til. The Defense of the Faith. Phillipsburg: Presbyterian & Reformed Publishing, 1967.

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    A diferena no em termos de cincia, mas em termos de filosofia e crena. Operigo da posio que o senhor est defendendo que quer enfiar uma cunhaentre a cincia e a religio para se ajustar sua prpria filosofia (certamente,nisso o senhor se junta a alguns fundamentalistas religiosos). Mas a sua posio filosfica, no cientfica. Pondo em termos mais claros, o motivo pelo qual osenhor um ateu no porque levado pelo fato cientfico, mas porque a suafilosofia. O senhor usa a cincia para justific-la, mas muitas pessoas religiosastambm utilizam a cincia para justificarem a posio delas. A questo no acincia mas, antes, as pressuposies que trazem a esta23.

    Robertson vai ainda mais longe, mostrando que Dawkins no somente nega, naprtica, a tese da autonomia da razo, como tambm avana ainda mais em sua atitudereligiosa ao sugerir que a metodologia contida na sua viso de mundo naturalista deveser aquela utilizada na discusso. Sugiro, diz ele, que a existncia de Deus umahiptese cientfica como outra qualquer.24 Mas, para Dawkins, por pressuposto, no h

    nada alm do mundo natural, fsico.25 Assim, por conseqncia, o nico tipo deevidncia que pode ser utilizado de ordem natural e fsica. Dawkins mesmo admiteque evidncias fsicas poderiam ser consideradas no debate, equadrando-se no seumtodo como hiptese cientfica como outra qualquer:

    Ser que Jesus teve um pai humano ou que sua me era virgem quando elenasceu? Havendo ou no material que sobrou para decidir, ainda se trataestritamente de uma questo cientfica com uma certa resposta em tese: sim ouno. Ser que Jesus ressuscitou Lzaro? Ser que ele mesmo ressuscitou trsdias depois de ter sido crucificado? H uma resposta para cada uma das

    questes desse tipo, consigamos ou no descobri-las na prtica, e estritamenteuma resposta cientfica. Os mtodos que deveramos utilizar para resolver essaquesto, no caso improvvel de alguma evidncia aparecer, seria por mtodospura e inteiramente cientficos.26

    Mas Dawkins tambm confessa que, se h algo que aparentemente tende paraalm do mundo natural tal como ele imperfeitamente compreendido atualmente, ns[naturalistas] esperamos eventualmente compreender essa coisa e acomod-la aonatural.27 Fica claro, ento, que todo dado filtrado por uma viso de mundo, e norefuta nem apia uma tese por si s. Como o telogo McGrath diz, semaparementemente perceb-lo, Dawkins simplesmente trata as evidncias como algo aser espremido no seu arcabouo terico.28

    Dawkins vai ainda mais alm, ao querer explicar todos os aspectos da vida apartir de sua reduo desses aspectos a aspectos qumicos e fsicos. Ele pensa ser

    23 Robertson, pp.28.24 Dawkins, The God Delusion, p.72.25 Dawkins, The God Delusion, p.35.26 Dawkins, The God Delusion, p.83.27

    Dawkins, The God Delusion, p.35.28 Alister McGrath (Com J.C. McGrath). The Dawkins Delusion? Atheist Fundamentalism and the Denialof the Divine. London: SPCK, 2007, p.xii.

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    preciso prover uma explicao para a existncia de religies, mesmo apesar dos dadose da cincia indicar que no h qualquer base para crenas religiosas. Ao tentar faz-lo, Dawkins reduz o comportamento de crer em proposies religiosas a mecanismosevolucionrios. Robertson comenta o efeito:

    O senhor afirma que os naturalistas crem que tudo fsico. Penso em umqumico altamente inteligente que quando desafiado sobre isso admitiu queamor, dio, beleza, espiritualidade etc. eram tudo, por fim, s reaesqumicas. Isso me parece um ponto de vista minimalista e profundamentedeprimente do universo e da vida humana. Naturalmente, se o senhor no pdeprov-la, bem como comprovar que no havia nenhum Deus pessoal, ento achoque teramos de conviver com isso. Mas o senhor no pode. A sua hiptese deque o universo somente fsico uma hiptese, e uma hiptese que grandemente baseada em auto-iluso (wishful thinking). Na verdade, a suaposio uma espcie de 'cincia das brechas': h certas coisas que o senhorobserva, no consegue realmente explic-las de forma cientfica e no querrecorrer explicao delas de modo espiritual (pois que o senhor tem umapressuposio filosfica bsica de que nada existe seno a matria), assim, emvez de deixar algumas brechas (atravs das quais algum pequeno deus possaentrar furtivamente), o senhor basicamente expande o seu conhecimentocientfico para que ele vire a teoria de tudo e, convenientemente, deixa de foratodas as coisas que no caibam naquela caixa. Ironicamente, isso mesmo de queacusa os cristos de fazerem com Deus, pondo-o dentro de uma caixa, algoque o senhor est em risco de fazer com a cincia, criando um conceito humanobaseado em suas pressuposies anti-religiosas as quais, embora tencionadaspara excluir Deus, na verdade, termina com caixas na cincia.29

    Em suma, os pressupostos de Dawkins excluem a possibilidade da existncia deDeus desde o comeo, isto , d a resposta sua hiptese antes mesmo que ela sejademonstrada. Com sua metodologia, seguindo esses pressupostos, Dawkins tambmfecha os olhos para todas as anomalias que sejam incompatveis com a sua cosmoviso.Por fim, ele a leva s ltimas conseqncias ao reduzir todos os aspectos da vida aosprocessos evolucionrios. O que sobra uma narrativa totalizante que explica toda aorigem e manuteno do universo a partir de um pressuposto pr-terico. Temos, aqui, aconfisso de f da religio do evolucionismo ateu. Assim, Robertson comenta paraDawkins: estou ficando cada vez mais convencido de que a sua posio ,primeiramente, uma posio filosfica e religiosa, no uma a que se levado pelacincia.30

    Robertson, por sua vez, tambm enxerga os dados a partir de pressupostos pr-tericos. Mas no caso, so princpios bblicos. Para ele, no se pode explicar a belezaou o mal, a criao ou a humanidade, o tempo ou o espao, sem ele. Ou at pode, mas minha mente a explanao materialista e atesta emocional, espiritual e, sobretudo,intelectualmente inadequada. Na verdade, ser ateu exige uma grande dose de f.31Robertson mostra, ainda, como que a cosmoviso crist e a cosmoviso de Dawkinsinterpretam a mesma realidade de formas distintas:

    29

    Robertson, p.29.30 Robertson, p.31.31 Robertson, p.26-27.

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    E, por fim, algo em que podemos concordar: Um universo no qual, comexceo de outras inteligncias lentamente evoludas, estejamos ss, umuniverso muito diferente daquele com um agente condutor original cujodesgnio inteligente responsvel pela existncia mesma daquele. Eu vivo emum universo criado por um Deus pessoal, o Deus de misericrdia, lgica,justia, bondade, verdade, beleza e amor, o Deus cujos propsitos e intenesso boas. O senhor vive em um universo que surgiu de lugar nenhum, est indoa lugar nenhum e no significa coisa nenhuma.32

    Por implicao, algumas das coisas que Dawkins pressupe em sua maneira defazer cincia pertencem, na verdade, no ao mundo modelado pelo ateu materialista, esim ao mundo modelado pelo cristo. Para algum que s cr no material, no fazsentido sequer argumentar. Porque, se o mundo como ele afirma, ento tudo o queexiste matria. Mas a lei da no contradio ou o princpio do terceiro excludo sono-materiais. Sendo assim, como pode Dawkins tentar estabelecer a falsidade dahiptese da existncia de Deus? Para isso, ele precisa pressupor a viso de mundorival, na qual faz sentido falar em unidade e diversidade, em sentido e propsito, em leisda lgica, mas tambm, em coisas materiais. Se tudo aleatrio, como pode elepressupor regularidade ao postular que a evoluo se d de tal e qual forma regular nopassado? Essas e outras questes fazem a cosmoviso de Dawkins se destruir.

    Comentrios Finais

    A posio de Dawkins acerca do que a cincia e de como ela funciona refutada por sua prpria prtica cientfica. Cientistas no so pessoas que aprenderam a

    fazer o uso objetivo e neutro da razo e a lidar com dados brutos, primeiramente,porque no existe neutralidade. Existe rebelio contra Deus ou obedincia a Ele, mesmona cincia. E, em segundo lugar, no existem dados brutos, e sim dados filtrados luz de alguma viso de mundo. Alm disso, a viso apresentada por Dawkins a respeitoda crena em Deus e de outros fenmenos culturais uma viso religiosa em si. Almde ser problemtica por reduzir tudo a processos fsicos e qumicos como parte daevoluo do homem, trata-se do resultado de pressupostos pr-tericos. O livro deDawkins em si funciona como uma ilustrao dessas consideraes.

    Os cristos tm cedido muito terreno para pessoas como Dawkins, aoconcordarem com ele sobre essa viso da cincia. McGrath, por exemplo, perde foraem seu argumento, ao aceitar o pressuposto de autonomia no raciocnio, exigindo queDawkins seja coerente com a demanda de se analisar a evidncia sem qualquer vis. 33Isso algo produtivo, mas somente no sentido de se jogar os pressupostos dacosmoviso rival contra ela mesma. Como analisar evidncia sem qualquer vis impossvel, logo, a viso que exige isso igualmente impraticvel. Mas, infelizmente,no nesse sentido que McGrath emprega sua exigncia. Ele realmente entende que a

    32 Robertson, p.42.33 McGrath. The Dawkins Delusion?, pp.35; 44.

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    verdade determinada () pelo que a evidncia cientfica, emprica indica gosteDawkins disso ou no.34 Em um livro que, em outros aspectos, excelente, McGrathrevela ainda uma grande lacuna no mtodo de apologtica que tem sido utilizado emdiscusses desse tipo. preciso parar de pensar em termos de terreno comum na razo

    autnoma e questionar a prpria viso secularizante da cincia que acompanha essepressuposto.

    O que o cristo que deseja se envolver mais com estas questes precisa fazer buscar um entendimento mais crtico acerca da prtica cientfica e no acreditar primeira vista naquilo que os cientistas afirmam que fazem. A segunda coisa procurarinformar-se sobre as formulaes crists a respeito da cincia. O chamado do cristo narea intelectual no simplesmente o de ser um aluno aplicado ou um professorhonesto. Vai muito alm disso. um chamado para transformar sua viso a respeito daesfera intelectual. Um grande incentivo saber que seu conhecimento acerca da verdaderevelada na palavra de Deus coloca-o em vantagem em relao queles que noconhecem a Verdade que liberta. Um outro incentivo considerar que a viso de mundoalternativa se auto-destri.

    O cientista na sociedade contempornea provido de bastante poder. As pessoasatribuem grande credibilidade ao discurso dos especialistas. A cincia , ento,claramente, uma rea de extrema relevncia para a atuao do cristo. A tarefa dereconstruir a cincia luz do cristianismo to rdua quanto a tarefa de reconstruir asociedade ou mesmo a igreja.35 No obstante, a igreja reformada est em constante

    reforma, assim como deve ocorrer com uma sociedade em que o cristianismo volte a serrelevante em cada esfera da vida, inclusive na esfera intelectual. O resultado podedemorar, mas preciso que haja um esforo inicial. Um bom comeo buscar umamudana de atitude em relao vida intelectual. Tudo isso, evidentemente, no podeser dissociado da proclamao do evangelho e da glria de Deus como o objetivo maior.Deus com certeza glorificado quando o cristo procura ser cristo em todas as reas (eno somente na esfera religiosa ou tica) e quando a defesa da f passa a apontar paraJesus como Aquele que transforma o pecador rebelde em um filho obediente de Deus,inclusive na esfera intelectual. Robertson, com este livro, faz sempre uma coisa sem

    perder de vista a outra.

    Lucas Grassi FreireExeter, 1 de abril de 2008

    34

    McGrath. The Dawkins Delusion?, pp.60.35 Gary North (ed.) Foundations of Christian Scholarship. Vallecito: Ross House, 1976; Louis Berkhof &Cornelius van Til. Foundations of Christian Education. Phillipsburg: Presbyterian & Reformed, 1990.

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    CARTA INTRODUTRIA AO LEITOR

    Caro Leitor:

    A obra que voc est lendo uma coleo de cartas abertas crticas escritas emresposta ao Professor Richard Dawkins no inverno de 2006/7 a respeito de seu livro TheGod delusion [Deus, um delrio36]. Richard Dawkins um brilhante e bem conhecidocientista britnico. Ele ocupa a cadeira Charles Simonyi Professor of the PublicUnderstanding of Science da Universidade de Oxford37 e um dos maiorespopularizadores da cincia. Entretanto, nos ltimos anos, ficou mais bem conhecidocomo o mais famoso atesta britnico. Suas obras mais recentes tomaram uma posioanti-religiosa cada vez mais estridente e militante, sendo seu livro anterior, A DevilsChaplain [Um Capelo do Diabo], o qual uma coleo de ensaios, muitos dos quais

    atacando as crenas religiosas38, seguido por esse, seu trabalho mais importante.

    Deus, um delrio chegou aos mercados americano e britnico numa poca emque a religio nunca esteve to longe das primeiras pginas. Para aqueles que cresceramno pensamento dos anos 1960 de que estavam testemunhando os espasmos de morteda religio ele uma revelao e uma preocupao de que a 'marcha do progresso'parece ter sido impedida pelo ressurgimento da religio e da superstio 'irracionais'. Hconsidervel preocupao de que o 11 de setembro e a ascenso do fundamentalismoislmico est sendo rivalizada por um crescimento do fundamentalismo cristo. Na

    Europa isso visto como um fator motivador significativo na 'Guerra contra o Terror'.Nos EEUU, parece haver o incio de uma reao contra o perceptvel poder da DireitaCrist. neste clima de hostilidade, confuso religiosa e medo que o toque do clarim deDawkins aos atestas para 'aparecerem' e se organizarem dirigido. uma mensagemque est sendo bem recebida por muitos e despertando considervel interesse.Deus, umdelrio tem estado na lista de bestsellers do New York Times h vrios meses e estbem em vias de chegar a um milho de vendas na Gr-Bretanha. Isso a despeito de umnmero significante de crticas negativas e hostis (nenhuma delas, absolutamente, deprotagonistas religiosos). um livro poderoso e bem escrito, o qual, no obstante suas

    muitas fraquezas, est tendo uma influncia considervel.

    Est tambm gerando uma rplica. Alister McGrath e sua esposa, Joanna,publicaram The Dawkins Delusion?39 [O Delrio de Dawkins40] em resposta. Muitosartigos, colunas de jornal e ensaios crticos j foram escritos. Sendo assim, por queacrescentar a eles este livrinho? Tem havido vrias reaes acadmicas s vrias

    36 Traduzido e publicado pela Companhia das Letras. (N. do T.)37 O nome da cadeira (cujo primeiro ocupante justamente Richard Dawkins) homenageia o seufinanciador, o filantropo hngaro-americano Charles Simonyi. (N. do T.)38

    Weidenfeld and Nicholson (2003).39 The Dawkins Delusion? SPCK (2007).40 Traduzido e publicado pela Editora Mundo Cristo. (N. do T.)

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    acusaes feitas por Dawkins e estou certo de que haver mais. Todavia, para muitos oprejuzo estar feito, e aqueles que no lem livros acadmicos ainda sero deixadoscom as impresses e os mitos. Por outro lado, haver aqueles que, de uma perspectivareligiosa, tm uma espcie de reao de quem toma uma pancada no joelho,

    respondendo a Dawkins com o mesmo tipo de veemncia. Embora isso possa atrair osdo crculo deles, improvvel que faa algo alm de reforar a impresso de que osreligiosos esto iludidos. E, naturalmente, haver muitos que acharo que isso deve serapenas deixado de mo e ignorado. Afinal de contas, j existiu algo que se assentassepor discusso? Suspeito que voc no seja desse ltimo contrato, caso contrrio noestaria lendo este livro.

    Dado que tem havido e haver muitas rplicas, por que adicionar a elas estacoleo de cartas? Creio que a resposta que, simplesmente, muita gente no ter otempo, a inclinao ou o dinheiro para ler acerca de cada um dos assuntos que Dawkinscobre. Meu objetivo apresentar uma rplica pessoal a Dawkins e faz-lo de umaperspectiva ampla e pessoal. Meu objetivo no converter, nem insultar, tampoucodefender. Antes, desafiar alguns dos mitos bsicos que Dawkins utiliza e incentiva emseu livro, a fim de que voc possa pensar e refletir em tais coisas por si mesmo. Se vocest interessado em ler sobre ou at debater mais sobre esses tpicos sumamenteimportantes, ento voc encontrar no fim uma lista de leitura e algumas sugestes.

    Uma palavra acerca do estilo destas cartas. Alguns julgaro que elas so iradasdemais, outros, que no so iradas o bastante; alguns questionaro se o humor

    apropriado, outros perguntaro, 'que humor?!' Ser til lembrar que estas so cartaspessoais, no um discurso acadmico, nem um exerccio de gramtica inglesa.

    Sou profundamente grato queles que leram e comentaram as cartas (as mgoasde um amigo so fiis!). Em particular, gostaria de agradecer ao Dr. Elias Medeiros, aBill Schweitzer, Dr. Grant Macaskill, Dr. Iain D. Campbell, Gary Aston, Dr. DeuanJones, David Campbell, Dr. Sam Logan, Will Traub, Dr. Cees Dekker, Nigel Anderson,Dr. Phil Ryken, Iver Martin, Alex Macdonald, Alastair Donald e Dr. Ligon Duncan.Quer cientistas, filsofos ou telogos, britnicos, americanos ou europeus, vocs todos

    me incitaram, encorajaram e estimularam. Sou particularmente grato ao meu editor, Dr.Bob Carling, cuja pacincia e sugestes foram inestimveis. A responsabilidade finalpelo que est escrito, incluindo quaisquer erros ou idias incorretas, minha,certamente.

    Eu no sou um cientista, nem um bem conhecido erudito de Oxford de reputaointernacional. H muitas pessoas que sero capazes de entrar em detalhes e responder smuitas acusaes de Dawkins com maior profundidade do que a que este livro tentamesmo chegar. Algo do meu background pessoal encontra-se nas cartas, mas talvez,

    neste estgio, seja til para voc saber que sou um ministro de 44 anos de idade daIgreja Presbiteriana na Esccia. Havendo sido criado em uma fazenda nas Highlands

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    [Terras Altas] da Esccia, estudei histria na Universidade de Edimburgo e,posteriormente, teologia na Free Church College. Sou ministro h 20 anos, 14 deles nacidade de Dundee. Sou ministro cristo com profundo interesse no que Dawkins chamao zeitgeistcultural o modo como nossa cultura est indo. Visito os EUA e a Europa

    com freqncia, interessado particularmente em levar as Boas Novas, o Evangelho nossa sociedade ps-crist. Creio que o Evangelho algo relevante e vital para todas aspessoas de todas as culturas, em todos os tempos, e meu privilgio ver gente debackgrounds muito diferentes vindo a conhecer, amar e ter as suas vidas transformadaspor Jesus Cristo.

    Como cristo profundamente comprometido, fico perturbado com os ataques queDawkins faz a Deus e Bblia, bem como admirado por seus ataques serem levados toa srio. Acredito que ele esteja apelando, no inteligncia e ao conhecimento do povo,mas, antes, ignorncia desse. Esta srie de cartas apresentada ao leitor a fim dedesafiar alguns dos mitos atestas de que Dawkins se aproveita e promove. Cada cartalida com um captulo do livro, e cada highlight com, pelo menos, um mito atesta.Denomino-os mitos atestas porque so crenas largamente sustentadas ou supostas semnecessariamente nelas se haver refletido ou terem sido provadas.

    Se voc um cristo, ento presumo que est lendo isto porque precisa pensarsobre algumas das questes envolvidas e, como eu, quer refletir em como nossa f seajusta sociedade moderna. Se voc ainda no um cristo (ou est inseguro, ou seguidor de outra f), espero que se beneficie da leitura destas cartas. Minha orao

    que voc seja estimulado, desafiado, provocado e, acima de todo, atrado a levar emconta as reivindicaes de Jesus Cristo.

    Finalmente, eu gostaria de agradecer a minha congregao St Peters FreeChurch, por seu amor, apoio e compreenso ao longo dos anos. Semelhantemente,agradeo a minha esposa e melhor amiga, Annabel, e a nossos filhos, Andrew, Becky eEmma Jane, que me so lembretes constantes da graa e bondade de Deus.

    Este livro dedicado glria de Deus e em memria dos muitos milhes que

    perderam suas vidas nas guerras e injustias do Falido Sculo 20 Atesta.

    David A. Robertson

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    PRIMEIRA CARTA: O MITO DA CONSCINCIA MAIS ELEVADA

    Caro Dr Dawkins:

    Espero que me perdoe por escrever ao senhor, mas que eu acabei de ler o seulivro e foi muito frustrante. Minha mente s pde reconhecer como erro puro e simplesmuitas e muitas coisas que havia nele. Gostaria de discutir com o senhor, ou comaqueles que so os seus discpulos, mas, infelizmente, no sou um lente de Oxford, notenho o seu acesso mdia e no sou parte do Sistema. E, claro, o senhor declarou queno discute com fundamentalistas ou com aqueles que acreditam em revelao ousobrenaturalismo. Dado que o assunto sobre o qual o senhor to veemente toda aquesto do sobrenaturalismo e se h ou no um Deus, no acha que uma maneira demanipular o resultado da discusso dirigi-la apenas queles que j compartilham de suaspressuposies?

    E ento h o problema que o senhor chama de a Conscincia Mais Elevada. Osenhor argumenta que aqueles que compartilham suas posies foram alados a ummaior nvel de conscincia. O seu livro escrito para tornar ateus veementes e altivosaqueles que tiveram suas conscincias elevadas, ao mesmo tempo em que tambmbusca alar as conscincias daqueles dentre ns que ficaram para trs. Isso me lembra aestria do Rei Nu. Dois alfaiates contam ao Rei que produziram um conjunto de novas

    roupas para ele que somente podem ser vistas pelos esclarecidos e sbios (aqueles quetiveram suas conscincias elevadas). Certamente, no querendo parecer estpido, ele etodos os seus cortesos afirmam que podem ver o maravilhoso e impressionante trajenovo. S quando o monarca est percorrendo as ruas nu e um menininho grita que oRei est nu que o povo se d conta da verdade. Penso que a sua concepo de que osateus so aqueles que tiveram suas conscincias aladas e que so eles, de facto, maisinteligentes, racionais e honestos que outros seres humanos um mito que est nomesmo nvel do Rei Nu.

    Naturalmente, percebo que muitas pessoas que compram o seu livro j soconvertidos j compartilham a sua f e esto procurando por confirmao ourestabelecimento da certeza. O senhor est pregando ao coro. Isso bem bvio, at paraquem escreve a informao no embrulho do livro, juzes reconhecidamente noobjetivos, preconceituosos, de modo geral. Stephen Pinker, Brian Eno, Derren Brown ePhilip Pullman, todos eles falam do seu livro em tom meloso mas isso quase nosurpreende, pois, dado que j so atestas convictos. Pullman quer que o seu livro contraa f seja introduzido em toda escola confessional (o que pouco surpreende, j que ossenhores fazem tal rebolio sobre as crianas serem doutrinadas s que a doutrinao

    atesta, naturalmente, est OK). Eno diz que um livro para o novo milnio, um noqual podemos nos libertar de vidas dominadas pelo sobrenatural. Algo precipitado.

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    Mas o melhor de tudo Derren Brown, que afirma que Deus, Um Delrio seu livrofavorito de todos os tempos. Esse um trabalho herico e transformador de vidas. Eleespera que aqueles que so firmes e inteligentes o bastante para perceberem o valor dequestionar suas crenas sejam grandes e fortes o suficiente para lerem este livro.

    Bem, eu o li. Esperava sim ser desafiado. Afinal de contas, o senhor um dostrs maiores intelectuais do mundo (como o embrulho do livro nos lembra). Certamente

    Deus, um Delrio foi bem escrito, muito interessante e apaixonado. Mas, em um nvelintelectual e lgico, ele realmente erra o alvo. A maioria dos argumentos do tipodaqueles de um garoto da sexta srie e so disparados com uma apaixonada veemnciaanti-religiosa. O que perturbador que o seu fundamentalismo atesta ser realmentelevado a srio por alguns e usado para reforar suas posturas preconceituosas anti-religio e anticrists. Seus argumentos sero repetidos ad nauseam nas sees decartas, colunas e opinio dos jornais, bem como nos pubs e mesas de jantar por todo opas. Perdoe-me por dizer isto, mas parece extraordinariamente similar espcie decoisa que intelectuais estavam publicando no Alemanha dos anos 1930 acerca dos

    judeus e do judasmo. Assim como eles, que alegavam ser os judeus responsveis portodos os males na Alemanha de Weimar, tambm, segundo o seu livro, os religiosos soresponsveis pela maioria dos males da sociedade de hoje.

    Junto com John Lennon, o senhor quer que imaginemos um mundo semreligio e sem Deus. Um mundo que o senhor sustenta que no teria homens-bombasuicidas (a despeito do fato de que a maioria dos ataques suicidas terem sido

    perpetrados pelos Tigres Tmules do Sri Lanka, seculares), cruzadas, 11/9, guerrasisraelo-palestinas etc. A propsito, John Lennon foi um dos meus heris, e eu adorava

    Imagine. Depois fiquei adulto e percebi que era preciso uma grande dose de imaginaopara levar a srio uma cano que falava de imaginar um mundo with no possessionstoo [sem propriedades em demasia], escrito por um homem que vivia em uma mansoe possua propriedades em abundncia, enquanto havia milhes morrendo por falta derecursos. Parece-me que a sua viso/imaginao quase to irrealstica quanto a deLennon.

    Quero escrever uma carta respondendo a cada um dos seus captulos. Como osenhor corretamente salienta, cada uma delas trata de questes fundamentais nossaexistncia, sentido e bem-estar enquanto humanos. Mas deixe-me terminar esta primeiracarta considerando duas das coisas afirmadas em sua prpria introduo.

    O senhor assevera que o seu livro para aqueles que foram educados em uma freligiosa especfica e agora, ou no mais crem nela, ou esto infelizes nelas e queremsair. Deseja elevar as conscincias de tais pessoas at o ponto de poderem se dar contade que podem sair. Mas a maioria delas j no sabe que perfeitamente possvel deixar

    uma religio sem sofrer quaisquer conseqncias significativas? Inegavelmente, no verdade que o senhor esteja em uma sociedade islmica (e seu livro no , de fato,

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    dirigido ao Isl) e estou completamente ciente de que para alguns admitir que se umateu nos EEUU suicdio poltico, todavia, no geral, a maioria livre para mudar decrena. Fui criado em um lar religioso e sabia, desde muito novo, que no apenas erapossvel deixar, mas que para muitas pessoas isso seria considerado normal. Eu lutei

    minhas prprias batalhas para que pudesse ser livre para pensar por mim mesmo. Masno foi somente, nem mesmo principalmente, contra os ensinamentos religiosos demeus pais e de outros (e eu lutei sim contra eles), mas tambm as expectativasarrogantes dos professores, mdia e outros que pressupunham meramente que a nicarazo pela qual algum seria religioso era devido influncia dos pais, lavagem cerebrale mente fraca. Sabe, o nico alvio real veio quando eu percebi que podia ser um cristoe pensar por mim mesmo e procurar fazer diferena no mundo; e que no tinha que meenvolver em todas as idiossincrasias e nuanas culturais de grupos religiosos, nem nofundamentalismo dos secularistas que s sabiam que estavam certos.

    No consigo imaginar uma nica opo de carreira na Gr-Bretanha onde ser umateu colocaria voc em desvantagem (a menos que esteja pensando em se tornar ummembro do clero se bem que o grupo atual d a entender que at ali voc poderia sedar bem!). Entretanto, h muitas pessoas s quais admitir que so religiosas um duroobstculo s suas carreira e vida. Aqueles que visam a ser polticos, cantores, homens denegcios, professores e assistentes sociais cristos amide defrontam significativopreconceito e medo irracional. Algumas vezes, desvantajoso negar a prpria f oumesmo abandon-la. Ser um cristo , com mais freqncia, uma pedra de tropeo parase trilhar a carreira escolhida, mais do que quando se ateu.

    Sem dvida, h aqueles que pertencem a cultos que exercem uma forma decontrole mental equivalente lavagem cerebral, mas o senhor daria evidncias segurasde que toda pessoa religiosa est nessa categoria? O senhor parece imaginar que todosos que so religiosos esto, verdadeiramente, em um nvel de conscincia inferior eprecisam ficar livres tornando-se atestas. Definitivamente, no oferece nenhuma provaemprica para tal. Como muita coisa do livro, uma pressuposio (at um preconceito)que no aparenta estar fundada em outra coisa que no a que seja da forma que o senhorgostaria. J pensou que podia haver muitos outros na posio contrria educados em

    uma sociedade secular atesta e descobrindo que podem de fato crer em Deus? O senhordaria a eles a liberdade de assim agirem? O que o senhor faria se sua filha se tornasseuma crist crente na Bblia? Renegaria a ela? Conceder-lhe-ia mesmo tal escolha? Outem o senhor feito o seu melhor para vacin-la contra o vrus da religio? Lembro-me deum jovem, extremamente inteligente, que veio a um grupo do Christianity Explored 41.

    41 Christianity Explored um curso baseado no Evangelho de Marcos, que diz ter por objetivo no falaracerca do cristianismo, mas apresentar Jesus s pessoas, abordando quem ele , qual o escopo de suamisso e quais so os seus mandamentos, aberto tanto a quem j procede de famlia crist quanto para

    quem no teve esse tipo de background(at mesmo ateus convictos). O site oficial (em ingls apenas) http://www.christianityexplored.org/(N. do T.)

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    Quando lhe foi perguntado qual sua posio religiosa, ele disse: Eu sou um atesta,porm, estou comeando a ter as minhas dvidas. Eu ri. Um ateu apstata! Eu o

    julgava ser muito esperto. Talvez haja muitssimos mais deles do que o senhor pensa. Osenhor deve ser cuidadoso sobre elevar a conscincia talvez as pessoas vo ficar

    cansadas de suas certezas modernistas e, em vez delas, encontrem refgio no lmpido efresco ar de Jesus Cristo!

    Eu tambm sorri quando li sua queixa de que os ateus foram perseguidos e malcompreendidos. O senhor contrasta a situao corrente dos atestas com a doshomossexuais h duas dcadas atrs e sugere que, assim como os gays tiveram quesair do armrio, assim tambm os brights [brilhantes] (o um tanto esperanoso ealgo arrogante nome recm-cunhado para os ateus) precisam sair de l e estabelecer olugar deles na sociedade. Eu no tinha notado que os ateus eram particularmentesilenciosos ou mediocremente representados na sociedade britnica (ou mesmoamericana). Na Gr-Bretanha, todas as nossas instituies governamentais, rgos damdia e estabelecimentos educacionais so, antes de mais nada, secularistas. A NationalSecular Society recebe uma exposio de longe maior do que a da larga maioria dasigrejas crists a despeito do fato de os membros da maioria das sociedades secularespoderem caber dentro de uma cabine telefnica. At quando se perguntou ao PrimeiroMinistro uma questo relativamente incua sobre se ele ora, seu supervisor de mdiaAlasdair Campbell sentiu-se compelido a frisar que ns no nos ocupamos com Deus.Atesmo e secularismo so, sem dvidas, as filosofias predominantes daqueles que sereputam como a elite.

    Ao senhor foi dado o imenso privilgio de ter controle editorial da sua prpriasrie de TV The Root of all Evil [A Raiz de Todos os Males]. Pode me dizer qual altima vez em que foi dado a um cristo evanglico, por um canal nacional de TV, aoportunidade de produzir um filme demonstrando os males do atesmo? O senhor noacha que em uma sociedade aberta e democrtica, quando se permite a voc fazer umdocumentrio atacando grupos inteiros de pessoas, a elas deveria, no mnimo, serconcedido algum direito de resposta? Naturalmente, isso no vai acontecer, porque,como o senhor bem sabe, aqueles que so os principais responsveis por nossos rgos

    de mdia so os que compartilham muitas das suas pressuposies e preferem fazerprogramas que apresentem os cristos, ou como vigrios anglicanos fracos e inteis, ouevangelistas americanos bombsticos da Direita que querem enforcar gays. Isso propaganda no verdade, nem razo, tampouco debate e, com a maior certeza, no imparcial.

    Em um encontro dos executivos da BBC em 2006 foi relatado 42 que a polticada Corporao que o secularismo a nica filosofia com a qual os outros devem, nofinal das contas, consentir. Outros sistemas filosficos e de crenas podem ser tolerados,

    42Daily Mail (24 October 2006); ProspectMagazine (November 2006).

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    mas jamais lhes deve ser permitido qualquer expresso de opinio real na BBC.Aparentemente, alguns tiveram a audcia de sugerir que talvez a BBC devessereconhecer que o secularismo uma filosofia e no a filosofia. Espero que o senhorapie tal tolerncia pluralista.

    O renascimento atesta est agora sendo desafiado de todos os lados. Havendotido um sculo de dominao elitista e controle, muitos no Mundo Ocidental estocomeando a despertar para o fato de que o reino secular est nu. O sculo XX podeverdadeiramente ser denominado o Falido Sculo Atesta. Posso recomendar umexcelente livro sobre esse assunto, escrito por um de seus colegas de Oxford, NiallFerguson, The War of the World: Historys Age of Hatred 43[A Guerra do Mundo: AEra de dio da Histria]? Ele compartilha de suas pressuposies secularistasevolucionistas, mas seu relato do sculo XX uma colossal denncia do fracasso dosecularismo e da cincia em trazer paz terra.

    O seu livro topa com uma tentativa desesperada de escorar as defesas emdesintegrao do atesmo. Ironicamente, isso me faz lembrar de alguns na Igreja que,confrontados com o que parece ser desvantagem esmagadora e encarando a derrota,distribuem folhetos, artigos e livros evangelsticos cujo propsito o de escorar a f dosfiis em vez de ter como fito a converso dos incrdulos. Deus, Um Delrio, ajusta-seexatamente nessa categoria. Estou certo de que o senhor contentar os seus discpulos,consolidando o que eles j crem, mas duvido muitssimo que o senhor causar algumimpacto em outros que esto menos firmes em suas opinies e que realmente esto

    procurando a verdade. O que aprecio mesmo que, ao contrrio dos irracionais epreguiosos que necessitam negar a existncia dela, o senhor admite que existe algo talcomo a verdade. O senhor pode rir da idia de que a verdade , em ltima anlise,encontrada em Jesus Cristo. Porm, continuo otimista. No somente creio na verdade,mas tambm no poder de Deus e de seu Esprito Santo para trazer iluminao atmesmo mente mais tenebrosa. Assim, ainda h esperana para ns dois.

    Seu, etc.David

    43 Allen Lane (2006).

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    SEGUNDA CARTA: O MITO DA BELEZA SEM DEUS

    Caro Dr. Dawkins:

    Obrigado por postar a minha carta em seu website. Isso foi muito inesperado quase to inesperado quanto a reao de alguns de seus companheiros ateus, comomanifestada em seu message board. Conquanto alguns foram inteligentes, ponderados,expressando sua discordncia de uma maneira construtiva e estimulante, um nmerosurpreendente reagiu com toda a veemnica dos crentes religiosos cujo livro sacrossantofoi blasfemado. Pensava que j tinha visto acrimnia antes, mas essa quantidade foi umtanto superior. Seja como for, no justo julgar um sistema de crenas por aquelesdentre os seus defensores que so excntricos, extremos e que necessitam de algum tipode terapia. Por favor, lembre-se disso quando discutir cristianismo.

    Eu tambm achei muito interessante assistir o seu tour of the USA 44. Ocorreu-me que h vrias semelhanas entre esse e algumas reunies reavivalistas evangelistasda TV. O senhor tem reunies de massas para os convertidos (as quais o senhor controlatotalmente). Ridiculariza aqueles que no esto de acordo com o senhor e recusa-se seenvolver com eles de alguma forma construtiva. Demoniza aqueles que nocompartilham do seu ponto de vista. O senhor (ou os seus defensores) exultam por seulivro estar na lista de bestsellers do New York Times e incentivam as pessoas a irem ecomprarem cpias para amigos e at, na ltima campanha, cpias para polticos. Os fs

    so tambm estimulados a assistirem ao ltimo vdeo de Dawkins Destroying DumbFundies ['Dawkins Destruindo os Fundamentalistas Burros'] no YouTube. Posso atobter capas de edies especiais e banners de website. muito divertido do mesmomodo que Reality ['Realidade'] ou mesmo God TV ['TV Deus'] o podem ser, masdificilmente representa argumento e discusso racionais.

    Seja como for, deixemos de lado esta conduta bastante comercial e politizada eno cedamos opinio de que, porque os mtodos so suspeitos, a mensagem deve serfalsa. Vamos ao captulo um do seu livro. um grande incio, bem escrito, bemargumentado, informativo e, para minha grande surpresa, muito persuasivo. Esse provavelmente meu captulo favorito. H muita coisa com que posso me identificar eat dizer 'Amm'! Entretanto, embora eu possa aceitar e ficar convencido por algumasdas premissas que o senhor expe, no fico to convencido por algumas das conclusesque o senhor tira.

    Um Senso de Admirao

    Este um conceito chave e o senhor lida com ele brilhantemente. Muitos de nsestamos ali. Quando garoto, lembro-me de ficar paralisado pelas estrelas enquanto

    44 Ver www.richarddawkins.net

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    caminhava para casa atravs do Pntano Morrich nas Terras Altas Escocesas. Moravano topo das falsias Nigg, onde muitas vezes sentava observando o Esturio Cromarty(uma enseada que leva ao Mar do Norte), ficando completamente admirado pela belezae variedade da natureza: as gaivotas, o mar azul, a urze prpura, o tojo amarelo, as focas

    e at o golfinho ocasional. Parecia paraso (mesmo com as velhas plataformas deartilharia da Segunda Guerra Mundial incrustadas nos penhascos). Se voc noexperimentar um sentido de admirao em um tal ambiente voc no tem almanenhuma. Obviamente, o senhor teve a mesma experincia como suspeito que amaioria dos seres humanos a tem. Porm, interpreta-o de maneira diferente.

    O senhor acha que acreditar que Deus tenha criado e seja responsvel porsemelhante magnificncia de certo modo aviltar a beleza e minimizar o senso deadmirao. Devo admitir, tal pensamento no foi coisa nova a mim. Com dificuldade,tentei realmente pensar a mesma coisa. Pareceu-me tambm que os 'deuses' da religioso de algum modo triviais comparados a semelhante beleza e graa. E aqui est adificuldade. Eles so. E no consegui substitu-los pelos humanos. A citao de Darwin,que o senhor menciona, um exemplo de arrogncia humana da pior espcie:

    Assim, da guerra da natureza, da fome e da morte, o mais exaltado objeto quesomos capazes de conceber, a saber a produo dos animais mais elevados,segue-se imediatamente.

    isso, de fato? A humanidade o objeto mais exaltado que somos capazes de

    conceber? Lembro-me de um bom homem dizendo que se Jesus Cristo no fosse realele adoraria o homem que o inventou! Devia eu ser confrontado para escolher entredolos feitos por homem e seres humanos como o pice da criao? Nenhuma erasatisfatria. Mas de onde essa beleza vinha? Por que eu a sentia? Ningum d respostamelhor que Salomo, o homem mais sbio que j viveu: Tudo fez Deus formoso no seudevido tempo; tambm ps a eternidade no corao do homem, sem que este possadescobrir as obras que Deus fez desde o princpio at ao fim (Eclesiastes 3.11, ARA).

    Tentei arduamente ser um ateu ou, pelo menos, um agnstico, mas realmenteno consegui chegar l. Numa Vspera de Ano Novo eu at orei a Deus, falando-lhe queno estava mesmo certo de que ele existisse: Deus, se tu existes, mostra-me e euservirei a ti pelo resto da minha vida. No houve voz alguma do cu. Nenhuma luzbrilhante. E, quando pude perceber que a orao continuava sem resposta, ento, em umdomingo, decidi que afinal iria Igreja. Fui a uma pequena igreja presbiteriana escocesade beira mar, embaixo daquelas mesmas falsias. Enquanto escutava o som do cnticodos salmos bblicos, desacompanhado de instrumentos, e ouvia a pancada das ondas domar nas paredes da igreja, ocorreu-me o que tolo eu havia sido. Com certeza, Deusexistia. Nada mais fazia sentido. No se pode explicar a beleza ou o mal, a criao ou ahumanidade, o tempo ou o espao, sem ele. Ou at pode, mas minha mente aexplanao materialista e atesta emocional, espiritual e, sobretudo, intelectualmente

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    inadequada. Na verdade, ser ateu exige uma grande dose de f.

    A propsito, devo mostrar que h aqui uma conexo interessante entre religio ecincia. Pelos despenhadeiros, do outro lado do Pntano, tem uma pequena viladenominada Cromarty. H cerca de 150 anos atrs viveu ali um homem extraordinriochamado Hugh Miller. Ele foi um gnio. Possua o mesmo dom seu para escrever e foitambm um dos pais fundadores da geologia moderna. Seu livro The Old Red Sandstone[O Antigo Arenito Vermelho] e In the Footprints of the Creator [Nas Pegadas doCriador] ainda so clssicos. Ele ficou absolutamente convencido de que a evidnciageolgica era de uma terra velha. Miller foi ancio da Free Church [Igreja Livre], editordo jornal dela e um forte advogado poltico dos lavradores das Terras Altas que estavamsendo removidos de suas casas (em mais um outro exemplo do princpio do GeneEgosta em ao). Amava cincia e nela achou, no uma contradio da Bblia, mas umacomplementaridade. O senhor cita Pale Blue Dot[Ponto Azul Claro], de Carl Sagan 45.Isso merece ser citado de novo por inteiro.

    Por que to difcil que alguma grande religio olhe para a cincia e conclua:Isso melhor do que pensvamos! O Universo muito maior do que diziamnossos profetas, maior, mais sutil e mais elegante? Em vez disso, dizem: No,no e no! Meu deus um deus pequeno, e eu o quero que fique desse jeito.Uma religio, velha ou nova, que enfatizasse a magnificncia do Universo talcomo revelado pela cincia moderna seria capaz de expor reservas de revernciae temor quase no obtidas pelas fs convencionais.

    Isso brilhante. Eu daria um grito de Aleluia no fosse o fato de, imediatamente,isso caricaturar-me como um evanglico bombstico! A moderna igreja crist noOcidente, como um todo, abana suas mos e admite a culpa. Mea culpa.Freqentemente reduzimos Deus a uma frmula, crena em um sistema e prestamoscultos em um show de palmas alegres e para se sentir bem na nave do templo. NossoDeus pequeno demais. Mas isso porque ele o nosso Deus, no o Deus da Bblia.

    No muito tempo depois de me tornar cristo vim a entender e a apreciar osescritos de Joo Calvino e de outros que seguiam sua particular linha de ensino bblico.

    Eu gostava. Eles retratavam o Deus da Bblia como grandioso, poderoso, profundo,glorioso, soberano, digno de louvor e o criador desse universo maravilhoso, vasto ecomplexo. Eles no o colocavam em uma caixa, de fato, argumentavam que, pelaprpria definio, Deus no podia ser posto numa. Eis o que levou homens como otelogo escocs do sculo XIX Thomas Chalmers a investigar e a pensar fora da caixa.Chalmers at escrever um livro bestsellerintitulado Astronomical Discourses [TratadosAstronmicos] que discutiam a possibilidade de vida em outros planetas.

    Quando primeiro me tornei cristo, eu achava que tivesse resolvido tudo. Eu

    45 Ballantine Books (1997)

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    tinha Deus em uma caixa. Eu tinha Jesus. Mas conforme cresci e amadureci dei-meconta de que, em vez de estar no controle da piscininha, tudo que eu fizera foimergulhar meu dedo no oceano do conhecimento, amor e ser de Deus. O pequenoDeus na caixa resulta mesmo em uma posio antagnica a tudo (cincia inclusive) que

    no se ajuste naquela caixa. Mas o Deus fora da caixa, o Deus da Bblia, permite-nos na verdade, encoraja-nos a explorar a sua criao, a subir as alturas e baixar sprofundezas. Penso no premiado e brilhante bioqumico que me ouviu expressarextasiado acerca de admirar Deus nas estrelas e falou-me posteriormente. Contou-meque, em seu trabalho, estudando algumas das menores coisas observveis conhecidas dohomem, tambm estava vendo a maravilha e a glria divinas.

    Alguns dos seguidores do senhor esto tentando contrapor cincia e cristianismocom este desafio bem tolo: a cincia nos d carros, torradeiras, astronaves etc. O que areligio j nos deu? tolice, pois que esto estabelecendo uma falsa dicotomia entre acincia e a religio, como se a primeira fosse um sistema de crenas e o cristianismo,outro. No. A diferena no em termos de cincia, mas em termos de filosofia ecrena. O perigo da posio que o senhor est defendendo que quer enfiar uma cunhaentre a cincia e a religio para se ajustar sua prpria filosofia (certamente, nisso osenhor se junta a alguns fundamentalistas religiosos). Mas a sua posio filosfica,no cientfica. Pondo em termos mais claros, o motivo pelo qual o senhor um ateu no porque levado pelo fato cientfico, mas porque a sua filosofia. O senhor usa acincia para justific-la, mas muitas pessoas religiosas tambm utilizam a cincia para

    justificarem a posio delas. A questo no a cincia mas, antes, as pressuposiesque trazem a esta.

    Permita-me deixar esta seo sobre admirao sugerindo que o senhor fariamuito melhor se lesse uma das maiores mentes filosficas que a Amrica j produziu Jonathan Edwards. Se algum ser humano j apreendeu algo da majestade de Deus, essefoi Edwards. Leia isto de sua obra The Nature of True Virtue [A Natureza da VerdadeiraVirtude]:

    Pois, visto como Deus infinitamente o Ser Maior, tambm ele

    infinitamente o mais belo e excelente. Toda a beleza que se encontra de umextremo a outro da criao no seno o reflexo dos raios difusos desse Ser quepossui uma plenitude infinita de esplendor e glria. Deus o fundamento detoda beleza e glria. 46

    Um Senso de Religio

    Agora, voltemo-nos ao uso que o senhor faz do termo religioso. Concordo coma maior parte do que o senhor diz aqui. Tudo aquilo sobre como utilizamos ecompreendemos o termo Deus. Aceito plenamente que muitssimos cristos so

    46 1765. Republicado pela Banner of Truth (1974)

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    culpados de citao seletiva (selective quotation) e circulao de mitos urbanos, a fimde provar que essa ou aquela pessoa famosa ou era cristo ou teve uma converso noleito de morte. Sua prova concernente a Einstein parece absolutamente convincente esignifica que tenho que ser cuidadoso sobre empregar citaes tais como cincia sem a

    religio manca, religio sem cincia cega. Apesar de estar convencido de que osenhor est certo quanto a isso e, realmente, quanto a muita gente religiosa que usa otermo deus como sinnimo para seus prprios sentimentos religiosos ou senso deadmirao, todavia, no estou convencido de que tal senso de admirao algo apenasproduto de nosso ser e ambiente naturais.

    O senhor afirma que os naturalistas crem que tudo fsico. Penso em umqumico altamente inteligente que quando desafiado sobre isso admitiu que amor, dio,beleza, espiritualidade etc. eram tudo, por fim, s reaes qumicas. Isso me pareceum ponto de vista minimalista e profundamente deprimente do universo e da vidahumana. Naturalmente, se o senhor no pde prov-la, bem como comprovar que nohavia nenhum Deus pessoal, ento acho que teramos de conviver com isso. Mas osenhor no pode. A sua hiptese de que o universo somente fsico uma hiptese, euma hiptese que grandemente baseada em auto-iluso (wishful thinking). Na verdade,a sua posio uma espcie de 'cincia das brechas': h certas coisas que o senhorobserva, no consegue realmente explic-las de forma cientfica e no quer recorrer explicao delas de modo espiritual (pois que o senhor tem uma pressuposiofilosfica bsica de que nada existe seno a matria), assim, em vez de deixar algumasbrechas (atravs das quais algum pequeno deus possa entrar furtivamente), o senhorbasicamente expande o seu conhecimento cientfico para que ele vire a teoria de tudo e, convenientemente, deixa de fora todas as coisas que no caibam naquela caixa.Ironicamente, isso mesmo de que acusa os cristos de fazerem com Deus, pondo-odentro de uma caixa, algo que o senhor est em risco de fazer com a cincia, criandoum conceito humano baseado em suas pressuposies anti-religiosas as quais, emboratencionadas para excluir Deus, na verdade, termina com caixas na cincia.

    Embora no geral concorde com a seo sobre o uso do termo 'deus', h doiscomentrios que no se sustentam. Por exemplo, o senhor afirma que a noo de que a

    religio um campo respeitvel, no qual se pode reivindicar qualificao, uma nooque no deve prosseguir sem ser questionada'. Aqui, o seu dio pela religio chegaraivosamente ao pico. Dado que a maioria do mundo, ao longo da maior parte dahistria, foi, e ainda , religiosa, pensar-se-ia que um campo para estudos razovel eque h alguns que podem alegar algum grau de qualificao nele. De fato, seu

    julgamento sumrio de algum que reivindique isso um bom truque que concede aosenhor criticar religies e livros religiosos sem ter que recorrer a qualquer tipo deerudio acadmica porque, afinal de contas, a religio no um campo respeitvel.Isso, ento, permite-lhe fugir com declaraes simplistas tais como 'o pantesmo

    apenas o atesmo com outro sexo'. Dado que a sua definio anterior de ateus como

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    sendo naturalistas que se apegam concepo de que h somente o material, o senhordescobrir que h muitos pantestas que no so ateus. Eles crem em numerososespritos, deuses e coisas imateriais.

    Descubro tambm que o senhor faz um uso interessante das citaes. Cita cartasde um catlico romano estadunidense e do presidente de uma sociedade histrica.Tenho certeza de que no so as nicas cartas enviadas por aqueles que discordavamdas opinies de Einstein, mas so elas que o senhor selecionou. Por qu? Porque elaslhe permitem inferir ou asseverar que os cristos, ou so ignorantes, ou cheios de'covardia intelectual e moral'. o clssico argumento ad hominem : veja quo estpidosso esses cristos, logo, Deus no pode existir. Eu, como cristo, no concordo com otom nem com a essncia de tais cartas, e conheo pouqussimos eruditos cristos queconcordariam (mas o senhor j protegeu suas bases com aquilo, declarando que no halgo tal como erudio crist!). Em especial, a assero amide mencionada, mas falsabiblicamente, de que como todo mundo sabe, a religio baseada na f, no noconhecimento. Eu sustentaria o oposto a f sem conhecimento cega e estpida. A fbblica est em uma pessoa. Se voc no sabe acerca daquela pessoa, voc no pode terf nela.

    Como o senhor se sentiria se eu pegasse alguns dos comentrios mais absurdos eignorantes de alguns dos ateus em seu website e as usasse como exemplo que como oatesmo deteriora o crebro? No seria justo nem honesto.

    Um pensamento final. O senhor alega ser um no-crente religioso. Para mim,isso o pior de dois mundos. Eu odeio a religio. Julgo que Marx estava, em certosentido, correto a religio, com muitssima freqncia, utilizada como pio do povo.Em nome da religio, uma grande quantidade de malefcio e dano perpetrada.Ironicamente, acredito que a religio per se nos trouxe uma grande dose de prejuzo.Porm, eu creio mesmo assim. Eu creio no Deus da Bblia. Acho que sua revelao de siprprio tanto na criao quanto nas Escrituras maravilhosamente libertadora e a quemelhor se ajusta aos fatos tanto quanto os podemos ver. O senhor pode aspirar a ser umreligioso no crente. Deleito-me em ser um crente no-religioso.

    Tudo de bom,David

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    TERCEIRA CARTA: O MITO DA RACIONALIDADE E TOLERNCIAATESTAS

    Caro Dr. Dawkins:

    Gostaria de me desculpar se estou de alguma forma deturpando a sua posio.No intencional. Discordo do que diz e, portanto, bem intil escrever acerca do queo senhor no est dizendo. Contudo, estou ficando cada vez mais convencido de que asua posio , primeiramente, uma posio filosfica e religiosa, no uma a que se levado pela cincia. Essa tambm parece ser a de muitos de seus companheiros atestasno website, cuja reao crtica bem similar de alguns fundamentalistas religiososque conheo.

    O senhor tem uma tese central, a de que a cincia prova, at onde possvel, queDeus no existe e que a crena nele uma iluso. Mas o senhor cerca tal tese com umexrcito inteiro de argumentos menores, tais como a natureza da religio, os supostoserros na Bblia, a hipocrisia na Igreja etc. Essas tm o efeito de, aparentemente,reforarem o seu argumento principal, embora simultaneamente permita aos seusapoiadores queixarem-se, quando tais argumentos em redor so desafiados, de que ospontos de vista do desafiante so irracionais e estpidos porque no se dirigem tesecentral.

    Alguns cristos querem argumentar com a mesma disposio com certezaDeus existe, e todos os que negam isso no so seno ignorantes, irracionais etc. Assim,terminamos no dilogo do cego e do surdo. O que bastante estpido. O que estoutentando fazer nestas cartas tratar de todos os argumentos secundrios na ordem emque o senhor os apresenta no livro. medida que dissecamos estes, podemos perceberque muitos deles, ou desviam o assunto, ou so irrelevantes e pura e simplesmenteerrados. Ento, somos deixados com o ncleo central do seu argumento, o qual,reforado com tal patbulo, v-se estar nu e sem qualquer apoio substancial. V-se que orei ateu no tem roupas.

    H vrios anos atrs, quando eu era estudante da Universidade de Edimburgo,fui envolvido em um debate com membros da Sociedade Feminista. Isso deixou umaprofunda impresso. Juntamente com os outros argumentos racionais usados paraprovar que os homens no mais eram necessrios era o clssico a bomba atmica osmbolo flico definitivo e, por conseguinte, todos os homens esto em grau inferior aodas pessoas decentes (parafraseio ligeiramente por amor decncia!). Em determinadoponto, at atiraram farinha e ovos em mim e no meu colega, berrando que ns ramosMCPs (Male Chauvinist Pigs [Porcos Chauvinistas Trad.]) s porque declaramosque havia um papel para os homens desempenharem na terra. Tudo teria sido bem

    engraado se no fosse pelo fato de que algumas delas realmente acreditavam naqueleexagero e disparate que estavam declamando. Pergunto-me se elas haviam tido uma m

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    experincia com um ou outro homem e isso foi ento projetado em todos os homens,para uma espcie de filosofia feminista radical.

    Tive uma sensao de deja vu enquanto olhava o seu website. Receio que muitosatestas parecem trabalhar a partir da mesma premissa a prpria experincia deles,como de fato muitos cristos, incluindo eu mesmo, tambm fazem. Entretanto, estoucerto de que o senhor reconheceria que, embora a experincia seja um fator importante,no pode ser o fator determinante para atribuir o que a verdade objetiva. Muitostiveram uma m experincia com a religio, de uma ou outra forma; logo, projetam issosobre toda religio ou pessoa religiosa. E, quando algum como o senhor desenvolve efornece o que parece ser uma justificao intelectual absolutamente garantida, elesagarram-na como um alcolatra agarra a garrafa. No apenas seus sentimentos so

    justificados, mas tambm, de sbito, passam a fazer parte da inteligncia mais elevadaou da conscincia maior. O problema o argumento que o senhor utiliza e a maneiracom que aborda o seu tpico.

    Recebi vrias queixas de alguns de seus seguidores de que no me dirigi questo central nas duas cartas anteriores, a saber a existncia de Deus. Vamos, dizemeles, prove-a. Ento, reclamam que eu discorri sobre os temas sobre os quais o senhorfala. O que eles fazem uma simples e falsa equao. Afirmam que h somente amatria e que a nica coisa que pode ser denominada prova a prova material. Comefeito, esto me pedindo para provar Deus como numa equao qumica. Se voc noconsegue fazer isso, dizem, no existe Deus. , definitivamente, o argumento

    circular. Mas ele falha em dois nveis. Antes de tudo, sua pressuposio eassero/hiptese de que tudo qumico ou resultado de reao qumica , em simesma, uma asseverao improvvel. Em segundo lugar, no uma assero que seajuste aos fatos observveis em nosso redor. De fato, requer grande dose de especialpostulao antes de algum poder honestamente chegar posio de que religio somente uma reao qumica, beleza somente uma reao qumica, bem como o mal eainda o senso de Deus. Alm disso, as conseqncias lgicas de uma tal crena sodesastrosas. Terminamos no absurdo do homem como Deus a mais altamente evoludareao qumica.

    Como j apontei, a maior parte do seu livro no visa a provar sua hiptesecentral de que tudo qumico, mui simplesmente porque isso no pode ser provado.Assim, a fim de proteger e escorar a f dos seus companheiros ateus e encoraj-los asarem, o senhor faz duas coisas. Primeiro, defende o atesmo da acusao de que levaa vrias conseqncias negativas. Segundo, parte para o ataque ridicularizando,zombando e denegrindo as crenas daqueles que no compartilham de suaspressuposies. O senhor se d conta de que isso lhe enseja a acusao de ser agressivo,arrogante e at nocivo sua prpria causa. Desse modo, procura defender a sua

    metodologia aos outros atestas. Realmente, h um subtexto fascinante em seu livro odebate interno nos crculos atestas. Na Igreja do Ateu Abenoado, parece que h como

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    que uma disputa doutrinria que pode resultar em um cisma. Por um lado, h o partidodo Respeito (os bonzinhos); por outro, o partido da Zombaria (os maldosinhos). Asduas faces crem que a religio m e que todos os que acreditam em Deus sosupersticiosos anti-racionalistas. Os do Respeito argumentam que voc deve ser

    simptico com as pessoas a fim de ganh-las. Os da Zombaria consideram isto comocovardia, ocupar-se mais de manter a paz do que apoiar a verdade.

    Se eu pertencesse sua religio ficaria inclinado ao seu lado. E tambm oapstolo Paulo, que argumentava que, se a ressurreio no era verdadeira, ento oscristos eram de todos os homens, os mais dignos de compaixo (1 Corntios 15.19,NVI). Como o profeta Elias, que mofava e ridicularizava os profetas de Baal enquantoesses oravam, danavam e se cortavam a fim de acordar o Deus deles Ao meio-diaElias comeou a zombar deles. Gritem mais alto!, dizia, j que ele um deus. Quemsabe est meditando, ou ocupado, ou viajando. Talvez esteja dormindo e precise serdespertado (1 Reis 18.27, NVI). At Jesus foi bastante mordaz para com aqueles quevendiam mitos e inverdades religiosas.

    neste contexto que a ltima parte do seu primeiro captulo discorre sobre aquesto do respeito. Seu argumento principal que o senhor julga incorreto e ilgicoque, s porque se considera alguma coisa como sendo religiosa, deva ser tratada comluvas de pelica. Cita com ardente aprovao o seu amigo, o recm-falecido DouglasAdams: A religio possui certas idias em seu mago que chamamos de sagradas ousantas ou seja l o que for. O que isso quer dizer : Aqui est uma idia ou conceito

    sobre o qual no permitido a voc dizer nada de ruim; simplesmente no o . Por queno? porque no pode. Concordo com a essncia principal do seu argumento sporque algum cita seu ponto de vista como religioso isso, de facto, no autoriza queesse seja respeitado. O que tanto o senhor quanto Adams no percebem que erram aono reconhecer que toda sociedade, seja ou no abertamente religiosa, tem seus santos-e-senhas. H algumas coisas as quais no se admitem questionar, pelo menos, no semperder o prprio emprego, posio etc. E tal verdadeiro tanto em uma sociedadesecular (qui at mais) como em uma religiosa.

    Isso visto em um outro exemplo apresentado pelo senhor, aquele dos gruposcristos nos campi processando suas universidades por estarem acossando-os pelavisvel posio anti-homossexual deles. Enquanto isso ocorre, estou escrevendo estatendo do lado uma cpia do The Times (18 de novembro de 2006) o qual, em suaprimeira pgina, relata uma situao similar no Reino Unido. A Universidade deEdimburgo, por exemplo, proibiu a Unio Crist de dar um curso acerca de sexo erelacionamentos por que ele promove a homofobia. Eu vi este curso (intuitulado Pure[Puro Trad.]) e esse no pratica coisa alguma