Baixaria Aquecimento Globval Veiga - Vale

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  • 8/6/2019 Baixaria Aquecimento Globval Veiga - Vale

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    So Paulo, quinta-feira, 25 de setembro de 2008

    TENDNCIAS/DEBATES

    Baixaria sobre o aquecimento global

    JOS ELI DA VEIGA e PETTERSON VALE

    BASTA UM pouco de conhecimento histrico para saberque a evoluo cultural da humanidade passou por trs saltosdecisivos, com o domnio do fogo, da agricultura e damquina a vapor. E no preciso muito esforo imaginativopara prever que a quarta tarefa de Prometeu ser a descobertade novas fontes de energia que no sejam fsseis. Com ousem aquecimento global, a esperana de continuidade doprogresso material da espcie humana depender deutilizaes mais diretas da energia solar.

    Tambm se sabe que a chamada revoluo agrcola doNeoltico no esperou que terminassem as fontes de caa ede coleta e que o aproveitamento do carvo mineral foi bemanterior a um possvel desaparecimento da lenha. Aguardarcomodamente a intensificao do processo de esgotamentodas reservas de carvo, petrleo e gs s servir para tornarainda mais freqentes e trgicos os conflitos blicosmotivados pelas crescentes desigualdades de acesso a taisrecursos.

    Assim, longe de ser opo apenas econmica, eminentemente tica a necessidade de drsticodirecionamento das atividades de cincia, tecnologia einovao (CT&I) para o que tem sido chamado de "energiasalternativas". E pura irresponsabilidade etiquetar dedesperdcio o atual gasto mundial nessa rea. Ao contrrio,os baixssimos investimentos em CT&I para a superao daera dos fsseis s atestam o atraso e a miopia das elitesdirigentes.

    Mesmo os mais recalcitrantes "cticos", que insistem emnegar o aquecimento global ou que ele seja provocado poratividades humanas, deveriam apoiar investimentos na buscade novas fontes energticas.

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    Por isso, chega a ser escandalosa a desonestidade intelectualdos que repetem como papagaios que j teriam sido gastosUS$ 50 bilhes em tentativas de provar a influnciaclimtica das emisses antrpicas de CO2.

    Por enquanto, a despesa total do IPCC (PainelIntergovernamental sobre Mudana Climtica, na sigla emingls) s atingiu uma minscula frao desse montante:US$ 34,2 milhes, de 2001 a 2007.

    Quem criou a lenda dos US$ 50 bilhes foi o paleontlogoaustraliano Robert M. Carter, porque contra os esforos emCT&I focados na procura de usos mais diretos da energiasolar. Prefere que se continue a esbanjar recursos fsseis eno lamenta os US$ 3 trilhes j queimados na Guerra doIraque.

    Na contramo desse tipo de baixaria, est despontandoaquilo que o jornalista Thomas L. Friedman havia apelidadode "green new deal" e agora chama de "revoluo verde".Eltrons abundantes, baratos, limpos e confiveis poderosolucionar cinco dos principais problemas contemporneos:oferta e demanda de energia e de recursos naturais, ditaduraspetroleiras, mudana climtica, perda de biodiversidade epobreza energtica.

    As naes que liderarem tal mudana sero detentoras da

    maior fonte de valor agregado deste sculo. E, nessa corrida,tero mais sucesso as que anteciparem polticas pblicas einstituies capazes de induzir a nova onda das energiaslimpas. O que exigir a combinao de pelo menos quatroinstrumentos: precificao do carbono por impostos econtingenciamentos, subvenes s inovaes, regulao daeficincia energtica e educao para a mudana de hbitos.

    claro que a economia global tambm poderia serimpulsionada por uma nova onda blico-tecnolgica, comoparecem preferir alguns dos detratores do IPCC. Mas essa

    uma tica to reacionria quanto a dos que teriam preferidocontinuar no Neoltico at que se manifestasse a escassez depedras.

    JOS ELI DA VEIGA , 60, professor titular de economia da USP, ePETTERSON MOLINA VALE , 25, mestrando em desenvolvimentoeconmico na Unicamp, so co-autores do captulo sobre economia epoltica do livro "Aquecimento Global: Frias Contendas Cientficas".