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PRÁTICA DE ESPORTES NO BRASIL EDUCAÇÃO, SAÚDE, CIDADANIA, AVANÇOS TECNOLÓGICOS, EXCENTRICIDADES E SONHOS

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Educação, saúde, cidadania, avanços tecnológicos na área

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PRÁTICA DE ESPORTES NO BRASILEducação, saúdE, cidadania, avanços tEcnológicos, ExcEntricidadEs E sonhos

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ReitorDr. Mario Veiga de Almeida Júnior

Vice-ReitorProf. Tarquínio Prisco Lemos da Silva

Pró-Reitor AcadêmicoArlindo Cadarett Vianna

Pró-Reitor ComunitárioDr. Antônio Augusto de Andrade Magaldi

Diretor Administrativo-FinanceiroMauro Ribeiro Lopes

Diretor do Campus TijucaProf. Abílio Gomes de Carvalho Júnior

Curso de Comunicação Social reconhecido pelo MEC em 07/07/99, parecer CES 694/99

CoordenadorProf. Luís Carlos Bittencourt

Coordenador de PublicidadeProf. Oswaldo Senna

A Revista VEIGA MAIS é um produto da Oficina de Jornalismo com o apoio da AgênciaUVA

Edição e reportagensAlunos do 6º período

Professores-orientadoresMaristela Fittipaldi e Luiza Cruz

Projeto gráfico e diagramaçãoÉrica Ribeiro

Fotos sem o crédito direto: www.sxc.hu

AgênciaUVA

Redação: Rua Ibituruna 108, Casa da Comunicação, 2º andar. Tijuca, Rio de Janeiro - RJ 20271-020Telefone: 21 2574-8800 (ramal 416)Site: www.agenciauva.com.bre-mail: [email protected]

Oficina de [email protected]

Núcleo de Fotografiawww.agenciauva.com.br/nfoto

Impressão: Gráfica O LanceTiragem: 2.000 exemplares

UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDAREVISTA VEIGA MAIS

Edição EsporteAno 9 | 1o semestre de 2010

Muito Mais do que o esporte bretão

EDITORIAL

O futebol alcançou no Brasil status de paixão nacional pela emoção arrebatadora que provoca nas multidões. É inegável a importância da combinação bola-gramado-torcida para a formação da sociedade brasileira e a influência desse conjunto na história nacional. Tanto que alcançamos o status de “País do Futebol”. Mas ele simboliza uma pequena parte do poder transformador que a prática desportiva pode ter. A Revista Veiga A+ deste semestre reafirma essa característica, explorando a conexão das modalidades esportivas com as diversas áreas da sociedade.

Nossas páginas vão além do esporte bretão, procurando trazer a amplitude da área de esporte, que cresce no compasso da geração saúde. No Brasil, por exemplo, há uma demanda cada vez maior por profissionais aptos a trabalhar com marketing esportivo – o setor está aquecido e deve se expandir com a Copa da Copa do Mundo, em 2014.

Não custa nada lembrar também como a prática esportiva pode construir pontes dentro da sociedade brasileira. Além dessa característica, destaca-se a contribuição das modalidades dentro das escolas, aumentando o desempenho nos estudos e trabalhando a inclusão social. A Veiga A+ descobriu até onde o país pode chegar se incentivar a formação de atletas e investir na interdisciplinaridade, ou seja, combinar aulas de Educação Física com outras matérias, como Química, Matemática e Biologia.

Quebrar barreiras e incentivar a superação são outras características da prática esportiva, tanto que uma matéria conta como é o envolvimento de portadores de deficiência com ativi-dades físicas. Além disso, falamos sobre a descoberta do desporto por crianças e pela terceira idade, com destaque para os benefícios para os dois grupos.

Os alunos da universidade Veiga de Almeida procuraram dar sentido ao sinal de adição que a Revista carrega no nome. A proposta não é fazer jornalismo esportivo, mas promover um encontro do leitor com toda a dimensão que o esporte pode ter dentro da sociedade. O “a mais” que colocamos aqui é a profundidade de quem aprende na Faculdade de Comunicação o compromisso de escrever analisando o passado, interligando-o com o presente e oferecendo soluções para o futuro.

Renato Alves Costa

Ponto de equilíbrio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4

Esporte cidadão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

Prática de esporte melhora rendimento escolar . . . . . . . . . . . . 6

A tecnologia produz os atletas de hoje . . . 7

Atletas de aluguel : prós e contras da naturalização de esportistas . . . . . . . . . 8

Afinal, o que é esporte? . . . . . . . . . . . . . . . . 10

Sonho olímpico: governo ajuda a realizá-lo . . . . . . . . . . . . . . 12

Esporte, educação e inclusão social . . . . . 13

Esporte: o resgate da vida . . . . . . . . . . . . . . 14

O avanço tecnológico e sua influência no esporte . . . . . . . . . . . . . 15

Medicina e Esporte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

Falta investimento para atletas brasileiros . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

Esporte e notícia em contato direto . . . . 18

Em sintonia com o esporte . . . . . . . . . . . . . 19

Bola e Bebida: uma difícil parceria . . . . . . 20

Excêntricos esportes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21

Sonhos do jovem atleta brasileiro . . . . . . 22

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PONTO DE EquILíBRIOAtletas comentam o quanto complicado é viver

entre a razão e a emoção dentro da profissãopor Daniela Machado

Ser o tempo todo racional, apesar de necessário, nem sempre é possível. Deixar de lado a emoção para se con-

centrar apenas no trabalho é uma tarefa, às vezes, difícil demais. Angústia, medo, alegria, nervosismo, ansiedade, dentre tantos outros sentimentos, podem ser o caminho para o sucesso ou o fracasso. Em todas as áreas profissionais é possível encontrar pessoas que sofrem para equilibrar essa balança. Ou seja, para elas, razão e emoção não existem senão interligadas. Mas em esportes e atividades que exigem muito da parte física, é prioritário que exista essa dosagem. Em especial se há competição envolvida.

Descobrir qual é o real conflito interno e tentar solucioná-lo, buscando ajuda dos pais, amigos, técnicos e, principalmente, de um profissional qualificado, é o que aconselha o psicólogo Paulo Penha de Souza Filho, que realiza trabalhos na área de Psicologia do Esporte no Paraná Clube, na Gustavo Borges e na Pietro Tennis, e de Psicoterapia, Psicope-dagogia e Psicologia do Esporte na Clínica Psiccom. Para ele, cada atleta se manifesta de acordo com o seu histórico de vida e sua pre-

paração para uma determinada competição. “Se desligar totalmente da vida pessoal é uma tarefa difícil, mas não impossível. É necessário ter principalmente disciplina, assim o atleta estará no caminho do profissionalismo”, ex-plica Paulo Penha.

O sucesso na carreira pode estar as-sociado a uma grande alegria interior, ou seja, à felicidade. O atleta deve canalizar as emoções de forma que estas se tornem fortes aliadas no desempenho esportivo. Para a dupla brasileira de vôlei de praia Ricardo e Emanuel, o esportista precisa ter equilíbrio e certeza do que realmente quer do esporte, ou seja, não pode levar para a sua área de treinos problemas que não fazem parte da rotina de treinamento. “A felicidade pessoal é primordial, mas tem que ser na medida certa. Mente sã, corpo são, como diz o ditado. A motivação é muito importante não apenas no esporte, mas em qualquer área da sociedade”, comenta Ricardo.

O equilíbrio é uma das maiores virtudes no meio esportivo. Segundo Emanuel, a tor-ção que seu parceiro Ricardo sofreu no pé esquerdo e que quase o tirou das Olimpíadas

foi o problema mais sério que viveram. Ri-cardo voltou poucos dias antes do início das Olimpíadas de Atenas, em 2004. “Mesmo com pouco treino e com dores muito fortes, meu parceiro se poupou ao máximo e passou por um tratamento intensivo, que tomava quase seis horas diárias, para poder jogar as Olimpíadas. Apesar de tudo, fomos campeões e o ouro foi nosso”, revela, emo-cionado, Emanuel.

Ser atleta não necessariamente significa ser uma máquina. O assessor de imprensa da dupla de vôlei, Samy Vaisman, ressalta que por mais frio que o atleta possa ser ou con-seguir ser no momento da competição, ele é humano. “A vivência que tenho com eles me fez acreditar que a confiança que existe de um pelo outro é o caminho para o sucesso da dupla”, declara Samy.

Mas quando a emoção é exagerada, ex-trapolada e volátil demais, de acordo com o psicólogo Paulo Penha de Souza Filho, é necessário que se faça um bloqueio dela no momento da prática esportiva, o que poderia se chamar como o uso da razão. “Na minha visão, é essa razão que irá selecionar

as emoções úteis para uma determinada atividade esportiva ou competição. Meu conselho é que o esportista precisa ter um considerável autoconhecimento e conseguir fazer as conexões cabíveis para a conquista de um equilíbrio entre corpo e mente e en-tre o meio esportivo e o ambiente externo ao esporte. Afinal, este é o caminho para o controle emocional”, explica o psicólogo. Em muitos casos, os problemas pessoais podem estar diretamente ligados ou não às pressões das competições. Para o atleta, o maior agravante é a queda motivacional em relação à sua prática esportiva, afetando diretamente seu desempenho e seu futuro na profissão.

“O atleta tem sempre que buscar a perfeição e ser o mais concentrado possível, independentemente se tem

problemas ou não”

Hugo Hoyama

Para o mesatenista brasileiro, cria de São Bernardo do Campo, Hugo Hoyama, o maior desafio que teve que driblar para que não afetasse sua trajetória foi a perda de seu grande parceiro Cláudio Kano, que, a três semanas dos Jogos Olímpicos de Atlanta, morreu em um acidente de moto. “Mas coloquei na minha cabeça que teria que jogar por mim e por ele, e isso me deu muito mais força para obter um bom resul-tado lá, onde fiquei em 9° lugar”, declara Hoyama. Jogar sem pensar nos problemas é a meta do mesatenista, que tenta ao máximo deixar de lado as questões pes-soais durante a competição. “O atleta tem sempre que buscar a perfeição e ser o mais concentrado possível, independentemente se tem problemas ou não. Sempre que eu consegui jogar bem concentrado, obtive bons resultados”, comenta.

É preciso, entretanto, que exista um alicerce para que a razão não se engrandeça diante da emoção. “Não adianta pensar, pensar e não poder sentir. Apenas é preciso fazer com que os limites prevaleçam diante de tantas emoções diárias que nós, meros seres pensantes, sofremos a cada minuto”, diz o psicólogo Paulo Penha de Souza Filho. Mente sã em corpo são, razão e emoção em harmonia.

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ESPORTE CIDADÃOCarlos Eduardo Barbosa de Lima

Tarde de terça-feira. Um grupo de jovens se reúne embaixo do Viaduto Negrão de Lima, em Madureira,

Zona Norte do Rio de Janeiro. Eles se cumprimentam com gírias e quase todos têm um apelido. As pessoas que transitam próximas ao local os observam com atenção. Um homem mais velho chega, todos param de conversar e se reúnem em volta dele. Ao abrir sua mochila, todos ficam ofegantes. O professor de Educação Física Orlando de Jesus Corrêa, 27 anos, joga a bola no meio da quadra improvisada, com pouca iluminação, e começa ali mais um treino da Escolinha de Basquete de Rua da Central Única das Favelas (CUFA). Naquele momento, todos são iguais, não importa quem veio de comunidade carente ou do ‘asfalto’, como eles denominam quem não mora em favelas. Aqueles jovens poderiam estar na ociosidade que as ruas oferecem, mas estão em busca de dignidade e formando valores. Alguns, inclusive, podem estar descobrindo uma profissão.

“Os alunos que mais se destacam aqui são encaminhados para fazer testes em times de basquete profissionais, como o Flamengo. Aqui eu tento encaminha-los para a vida. Alguns dos nossos alunos já estão jogando no time oficial de Basquete de Rua, BDRB”, afirma o professor, que já jogou basquete tradicional no Fluminense e trabalha há dois anos no projeto, mas começou como voluntário. Orlando já tinha ouvido falar do basquete de rua que fazia sucesso nos guetos dos Estados Unidos, até que foi convidado por um amigo para assistir ao festival de Hip Hop que a ONG promove todos os anos. Chegando lá, viu a galera jogando um basquete um pouco diferente daquele que ele conhecia e a mistura do esporte com música fazia com que se sentisse à vontade. Não demorou muito tempo e lá estava o professor, mudando o futuro de muita gente.

Alguns alunos do projeto ainda nem têm noção do bem que o esporte pode lhes proporcionar. É o caso de André Luiz Atanásio de Oliveira, 10 anos, que há um ano participa da escolinha, para não ficar andando pelas vielas da comunidade do Congonha, em Madureira, onde mora. “Eu morava lá no Centro da Cidade, e tinha muita coisa pra eu fazer. Tinha vila olímpica, piscina. Só que minha mãe se mudou pra cá e aqui não tinha nada pra eu fazer e tem muito tiroteio. Então minha mãe me colocou aqui no basquete”, diz o menino, atento ao jogo. Afinal, bastam alguns pontos para uma das equipes perder e, enfim, a sua entrar na quadra.

Entra André, sai João Alberto dos Santos, 16 anos, que descobriu o basquete de rua há apenas quatro meses e, como é fã de Hip

Hop, diz que se encontrou. “Gosto do estilo, me identifico”, afirma o adolescente, que já levou um amigo para conhecer a turma. Todos são muito bem recebidos pelo professor, que também trabalha na base da CUFA do morro do Alemão e está acostumado a lidar com as dificuldades do dia-a-dia. Ele relata que, às vezes, tem que providenciar as roupas de treinos, pois alguns alunos não têm condições nem de adquirir o uniforme.

Essas dificuldades são bastante conhecidas de todas as pessoas que trabalham em áreas carentes. A assistente social Adriana de Oliveira Hero, 25 anos, coordena um projeto social na Vila Cruzeiro e diz estar acostumada com esse tipo de situação. O Espaço Cultural Recreativo Arca de Noé, que hoje trabalha com projetos de alfabetização de crianças, já teve escolinha de futebol e vôlei, mas as atividades foram suspensas por falta de parcerias. “É uma pena que esses projetos tenham voltado para a gaveta, porque o esporte faz com que as crianças e adolescentes interajam. Eles criam valores, aprendem a trabalhar em equipe, e ficam mais solidários”, relata a assistente social. Ela fala também da falta de apoio dos empresários, que poderiam investir um pouco mais nesses projetos. Segundo Adriana, muita gente reclama da situação, mas são poucos os que fazem algo concreto. “O esporte é uma maneira de integrar cidadãos, pois quando vão disputar um campeonato, não importa se o jogador veio da favela ou de bairro de luxo, todos são iguais”.

Lays Pereira do Nascimento, 10 anos, conhece bem essa história. Ela participa do Programa Esporte Seguro do Governo do Estado do Rio de Janeiro, em parceria com o corpo de bombeiros, e quatro vezes por semana treina na quadra do quartel. Duas vezes por semana ela pratica futebol e nas outras duas, handball. Assim como as outras crianças que participam do projeto, ela também mora na Vila Cruzeiro, e afirma que essa é uma das poucas maneiras de se divertir: “Minha mãe não deixa eu ficar na rua, porque onde eu moro não tem hora para dar tiro. É muito perigoso. Aqui no bombeiro eu tenho um monte de amigos, e ainda posso praticar esportes, que é o que eu mais gosto de fazer”, resume a pequena estudante, que, apesar da pouca idade, já pensa em fazer faculdade de Educação Física.

A intenção desses projetos que levam esporte para áreas mais pobres é justamente integrar a sociedade. O objetivo não é simplesmente ensinar uma modalidade esportiva, mas mostrar para essas crianças que têm poucos recursos que existe vida saudável além da comunidade onde vivem. Tentar encaminhá-los para o mundo e fazer

principalmente com que todos se tornem cidadãos conscientes.

Na Casa de Luciah, no Méier, a assistente social Ana Paula de Souza, 35 anos, faz justamente isso. A instituição onde trabalha não é voltada para o esporte, mas sempre que pode, ela cria atividades relacionadas ao tema para incentivar os 40 adolescentes que passam o dia na instituição. Sempre que sobra um tempo na agenda, ela programa pequenos torneios de futebol entre os próprios alunos. “O esporte está muito presente na vida deles, seja na pelada que eles jogam durante o intervalo das atividades ou nas brincadeiras que eles inventam”, afirma Ana, que também acredita que, ao praticar esporte, corpo e mente ficam mais saudáveis.

A professora de Psicologia Elane Gouveia Nunes, 33 anos, que também atua em projetos sociais para pessoas de baixa renda, concorda com a afirmação da assistente social e completa que alguns pacientes seus já conseguiram superar traumas quando resolveram praticar algum tipo de esporte. Segundo a psicóloga, o esporte tem esse poder. Afinal, quando a pessoa começa a fazer qualquer tipo de atividade física, o corpo fica mais ativo e isso termina ajudando a superar barreiras emocionais. “O esporte tem esse poder de unir. Ao praticar um esporte, durante o exercício físico, todos são iguais. E esses projetos que fazem inclusão a partir do esporte ainda ajudam a trabalhar o psicológico das pessoas que participam, pois mostram que existem maneiras saudáveis de viver e interagir”, explica Elane.

Quem também acredita no poder transformador do esporte é Andréia de Mattos

Souza, 27 anos, professora de Educação Física. Atualmente, ela trabalha numa academia, mas sempre que pode participa de ações sociais que envolvem o esporte. A professora se encanta ao ver o esporte abrindo portas e derrubando preconceitos. Afinal, ela é de família de classe média e pode concluir seu curso universitário. “Eu sei exatamente como é difícil conviver com essas questões, principalmente num país onde as pessoas têm que pagar um preço por serem negras, nordestinas, pobres ou simplesmente por estarem fora do padrão de beleza determinado por alguém”. Ela cita também o basquete de rua como uma forma de expressão, e por isso muita gente torce o nariz para a modalidade. Mas, segundo ela, as pessoas que participam desse tipo de movimento não se preocupam com o preconceito, simplesmente fazem o que gostam e muitos inclusive se tornam atletas profissionais. Basta observar o número de jogadores de futebol e outros tantos atletas que vieram de lugares menos favorecidos que viram seu destino mudar a partir do esporte.

O jogador do time de basquete juvenil do Flamengo Douglas Rosa de Souza, 20 anos, fez o caminho inverso. Primeiro começou a treinar na Gávea, depois resolveu participar da escolinha da CUFA, por ficar mais à vontade. “Muita gente não gosta porque é esporte de pobre, mas da vida a gente não leva nada”, afirma Douglas, enquanto se junta aos outros amigos para pegar o lanche oferecido pela instituição e que é dividido igualmente pelos próprios alunos. Uma ilustração bastante colorida da missão que o projeto se propõe a realizar: cidadania para todos.

Os melhores alunos da escolinha de basquete da CUFA são encaminhados para testes em grandes equipes

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PRÁTICA DE ESPORTE mELhORA RENDImENTO ESCOLARVerônica Bernardo Garcia

Ele tem apenas 13 anos e já participa de competições intercolegiais pela escola em que estuda. É apaixonado

por basquete e se aproveita desse sentimento para manter as notas na média. O estudante Lucas Villela está na oitava série do Colégio Nossa Senhora da Paz, em São Gonçalo, e diz que, se não mantiver boas notas, não pode permanecer no time. Ele treina, geralmente, duas ou três vezes por semana e está na final do Campeonato Gonçalense de Basquete, que poderá levá-lo para o intercolegial estadual. Sem forçar, Lucas demonstra sua empolgação com o basquete e também a motivação que o esporte traz para seus estudos.

De acordo com um relatório da Organiza-ção das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura – Unesco, o Brasil é o quinto país no mundo com o maior índice de matrículas em escolas depois da Holanda, Botsuana, Coréia do Sul e Chile. O censo escolar do Ministério da Educação – MEC contabilizou 53 milhões de estudantes matriculados na Educação Básica. Destes, 7,9% integram o ensino pré-escolar; 63%, o Ensino Fundamental e 16,6%, o Ensino Médio. E os 10,9% restantes pertencem ao Ensino Superior.

hor solução para conter a evasão escolar. “As escolas públicas e o ensino privado, precisam investir em infraestrutura e em recursos para que os alunos tenham acesso às atividades físicas. E eu não falo somente de competições intercolegiais”. A orien-tadora considera que é necessário haver investimento na formação dos professores e também na forma como a disciplina Edu-cação Física é ministrada. “A metodologia educacional faz uma grande diferença para motivar os alunos”. Andréia explica que os estudantes precisam entender que a Educação Física não é somente para aque-les que têm alguma habilidade esportiva. Ela contribui também para a saúde física e psicológica da criança e do adolescente. “Competir estimula sim, mas é o menos importante”.

Mauro Macedo, professor do curso de Educação Física da Universidade Veiga de Almeida no Campus de Cabo Frio, destaca uma série de benefícios para o dia-a-dia do aluno. Além de trazer hábitos saudáveis como boa alimentação, descanso diário e conduta ética esportiva, o professor afirma que a prática esportiva traz respon-sabilidade e consideração ao próximo. “Por meio do respeito às regras e ao colega, o “jogar junto” faz com que a criança aprenda a confiar em outra pessoa e também a respeitá-la”. Para Mauro, o esporte é o maior instrumento de mobilização social e de socialização que existe. “Por meio do esporte, vemos os povos que estão em guerra se confraternizar e crianças excluí-das serem incluídas na sociedade”.

Além disso, estudos de psicologia reforçam várias teses relacionadas à con-tribuição do esporte para o bom relacio-namento da criança com outros amigos, e se transformam em linguagem fundamental para o desenvolvimento da socialização, da autoestima, do respeito e do desenvol-vimento de ações em grupos. O esporte para-olímpico, por exemplo, tem sido um exemplo consistente e pertinente desses argumentos. Literaturas que apontam essas questões vêm sendo produzidas no Brasil de forma mais intensa e demonstram a atual preocupação com a área.

O professor da Faculdade de Educação Física da Unicamp (FEF-Unicamp), Paulo Montagner, confirma a existência de estu-dos e pesquisas na área da Pedagogia do Esporte que se dedicam à sua prática em diferentes níveis, à ação por meio de difer-entes agentes e a canais de divulgação, com o objetivo de estimular crianças e adoles-centes. Para o professor, os benefícios ped-agógicos, de saúde, biológicos, fisiológicos, culturais e emocionais merecem destaque. Apesar de o esporte ter essas várias possi-bilidades, porém, Montagner cita Parlebas quando diz que “o esporte não é nem so-cializante, nem anti-socializante, mas sim o que fizermos dele. Depende muito dos valores e das pessoas que trabalham com essa linguagem rica e com esse patrimônio cultural da humanidade”.

O professor ressalta também o modelo do esporte brasileiro, geralmente com-parado com o sistema americano, que está articulado em um princípio de organização diferente. Segundo Montagner, o modelo saxônico tem na escola e nas universidades o seu local de desenvolvimento esportivo nos níveis iniciais, de aprofundamento e aperfeiçoamento das gerações de atle-tas. Ele considera que isso proporciona condições econômicas, num país rico, de desenvolvimento de estratégias e modelos de financiamento para os atletas. “No Brasil, nosso sistema, que se desenvolveu a partir dos conceitos da escola européia-ocidental, formou suas bases de organização a partir dos clubes, do sistema federativo e das

associações de pessoas que formaram a nossa cultura esportiva nos últimos 120 anos aproximadamente”. Para o professor, estimular as crianças e os adolescentes à prática do esporte é uma necessidade real, mas existe um conceito importante que não pode ser colocado de lado: de nada vai adiantar se eles tiverem desejos e interesses por diferentes manifestações esportivas, se não encontrarem locais e projetos para serem desenvolvidos. “Isso é frustrante e desmotiva nossas gerações”.

Juliana da Costa, como professora da Escola Municipal Hélio Mentes do Ama-ral, em Mesquita, na Baixada Fluminense, enfrenta a realidade citada pelo professor Montagner. As crianças da Educação Infan-til e do primeiro segmento do Ensino Fun-damental não têm aulas de Educação Física na escola em que ela trabalha, porque a disciplina não faz parte da grade curricular. Um dos agravantes, segundo a professora, é a falta de espaço nas escolas, que não dis-põem de quadras de esportes e nem mesmo de um local seguro para a prática de ativi-

“A experiência da competição esportiva leva para o dia-a-dia valores importantes a qualquer

ser humano”

Mauro Macedo

“As escolas públicas e o ensino privado, precisam investir em infraestrutura e em recursos para que os alunos tenham acesso às

atividades físicas”

Andréia Barroso

Mas apesar da realidade de Lucas e tam-bém da posição privilegiada no ranking mun-dial, o número de estudantes brasileiros sofreu uma redução de 0,5% em 2007 na compara-ção com 2006, de acordo com a Pesquisa Na-cional por Amostragem de Domicílio (Pnad). Ou seja, aproximadamente 890 mil estudantes deixaram a escola no ano passado.

Para a orientadora pedagógica Andréia Barroso, a prática esportiva seria a mel-

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A TECNOLOgIA PRODuz OS ATLETAS DE hOjERenato Alves Costa

DAS quADRAS PARA AS RuAS

A expectativa é sempre grande, a ten-são é perceptível já no aquecimento. Mas a vencer já não é mais o único

objetivo: quebrar recordes tornou-se, com ajuda da tecnologia, a mais nova missão dos atletas. Marcas extraordinárias alcançadas por eles resultam de uma verdadeira revolução provocada pela tecnologia. Associada ao es-porte, ela tem proporcionado novas formas de preparo físico, evolução dos materiais usados pelos competidores, aumento da performance e, principalmente, a quebra de limites e re-cordes. As olimpíadas são o laboratório onde essa combinação é posta em prática, com os países investindo alto para constituírem atletas de elite como Michael Phelps, da natação, e Usain Bolt, do atletismo. Hoje, já não basta somente o biótipo ou o treinamento: um campeão é preparado com o que há de mais moderno em ciência e tecnologia do desporto.

“Atualmente, o desenvolvimento permite que técnicos saibam o momento em que os atletas podem atingir a performance máxima. Logo, pode-se prever quando ele vai estar na melhor forma física para competir e com mais probabili-dade de ganhar uma prova”, explica o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Victor Andrade de Melo, especialista em história do esporte. Esse direcionamento é feito com base no monitoramento das atividades do corpo do atleta, como batimentos cardíacos e pressão arterial. Há também técnicas que se baseiam em recursos como o vídeo, que influenciam na mudança dos exercícios práticos, enquanto nos esportes cole-tivos elas alteram as táticas do jogo.

Ao mesmo tempo em que o uso intensivo da tecnologia melhora a performance dos atletas e

torna as modalidades mais competitivas, põe em xeque a capacidade dos desportistas. Por exem-plo, é impossível imaginar um recorde mundial no ciclismo olímpico sem que o competidor esteja usando uma bicicleta feita em fibra de carbono, ou roupas desenvolvidas com tecidos que diminuem o atrito com o vento, propor-cionando uma melhor performance. Por outro lado, o emprego do desenvolvimento científico dentro das competições esportivas trouxe um outro problema: o doping. Ele é caracterizado pelo uso de substâncias químicas para aumentar artificialmente o desempenho do competidor.

“O doping é uma conseqüência da perseguição da plenitude física para conseguir conquistar uma marca. É notório o uso de substâncias dentro do mundo do esporte, principalmente por atletas de alto nível. Casos como o de Ben Johnson, nas Olimpíadas de Seul e, recentemente, o de Rebecca Gusmão, nos Jogos Pan-Americanos, mostram que cada vez mais os competidores tentam conquistar uma medalha de qualquer forma. O preço, às vezes, pode ser a vida”, sentencia o professor.

Mesmo que o desenvolvimento científico traga conseqüências ruins para o esporte, Victor Andrade diz que o saldo do emprego da tecnologia durante toda a história do esporte foi imensa-mente positivo. “À medida que a tecnologia se desenvolve e as pessoas exploram ideias originais, novas e mais aplicações criativas estão sendo de-senvolvidas. A tecnologia vai permitir recreação animada instantânea dos jogos. No futuro, os fãs poderão acompanhar, por exemplo, as reações dos atletas durante os jogos, em tempo real, e saber informações que hoje estão restritas aos técnicos. Há uma revolução silenciosa em curso”.

Ao mesmo tempo em que a tecnologia ajuda os atletas na conquista de recordes olímpicos, ela acaba

saindo de dentro dos estádios para as ruas. São inovações como novos tipos de tecidos para promover a

melhor absorção do suor, tênis que diminuem o impacto com o solo e até pesquisas na área de fisiologia

humana (área que busca entender o funcionamento do corpo) que chegam às pessoas comuns.

“Três fatores principais vão influenciar a adoção generalizada das inovações tecnológicas: custo,

facilidade de uso e confiabilidade”, aponta Victor Andrade. Para ele, as competições são um laboratório

para o desenvolvimento de produtos que, mais tarde, estarão presentes de alguma na vida de cada um.

dades físicas. A opção adotada pelo colégio foi oferecer um horário para recreação em que os próprios professores, não treinados previamente, preparam jogos e brincadei-ras lúdicas possíveis de serem aplicadas no espaço disponível. “As crianças sempre reclamam. Todas as vezes, no início do ano, uma das primeiras perguntas é se vai haver aula de Educação Física”, diz Juliana.

A professora também acrescenta que é necessário o reconhecimento da Educação Física como disciplina obrigatória na grade para o processo de desenvolvimento da criança e do adolescente não só na apren-dizagem, mas na questão social, já que, por meio da prática de exercícios, pode haver interação entre colegas, respeito ao tempo, ao espaço e às limitações de cada um. Para Juliana, ao realizar exercícios, a criança se sente livre para explorar o corpo e sai do ambiente fechado e tradicionalista que é a sala de aula.

Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB (Lei nº 10.793, de 1º.12.2003), a Educação Física na grade curricular é um direito dos estudantes e deve ser um componente da proposta pedagógica das escolas. Essa prática torna-se apenas facultativa a alunos com jornada de trabalho igual ou superior a seis horas, que tenham mais de trinta anos ou, ainda, que estejam prestando serviço militar inicial. “Somos sabedores – e o mundo inteiro também reconhece isso – que o local de maior acessibilidade e desenvolvi-mento do esporte para as crianças e jovens é no sistema escolar, o que permitiria um

número maior de pessoas praticantes das diferentes modalidades e culturas esporti-vas”, diz Montagner. Investimento na área, políticas públicas adequadas e conceitos pedagógicos de desenvolvimento do esporte seriam, para o professor, funda-mentais para crianças e jovens. “O sistema esportivo no Brasil não tem como foco de investimento o sistema escolar. Numa aná-lise bastante ligeira, podemos observar que as escolas públicas que aglutinam o maior número de jovens do país possuem estru-turas rudimentares”. O professor comenta também que o esporte requer condições mínimas de trabalho e, em muitos casos, aparelhos adequados e instrumentos que dêem condições mínimas para o desenvol-vimento de projetos na área.

O estudante Lucas já entende a im-portância não só da disciplina Educação Física, mas também da prática esportiva na vida de outros alunos. E não foi preciso que ele utilizasse termos técnicos, como o aspecto cognitivo desenvolvido a partir do aspecto motor ou, ainda, o efeito da ativi-dade física e dos esportes que coopera com o rendimento acadêmico dos alunos, para que sua mensagem fosse bem entendida. Ele enumera cinco aspectos que, para ele, são fundamentais no esporte: o físico, a competição saudável, a idéia de superação, a ligação dos esportes com os estudos e a responsabilidade social dentro e fora da quadra. Como diz o professor Mauro Macedo: “A experiência da competição esportiva leva para o dia-a-dia valores importantes a qualquer ser humano”.

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ATLETAS DE ALuguEL : PRóS E CONTRAS DA NATuRALIzAçÃO DE ESPORTISTAS

Jéferson Barros Rodrigues

Um africano enfrenta inúmeras difi-culdades para entrar na Europa por causa das leis de imigração. Mas

tudo isso pode ser diferente se ele é espor-tista. Craques do futebol, ídolos do atletismo ou jovens valores de qualquer modalidade encontram as portas abertas nas nações da Co-munidade Européia. A situação se repete nos Estados Unidos, um dos campeões em matéria de restrição à entrada de estrangeiros, prin-cipalmente se oriundos do Terceiro Mundo. No caso dos atletas, porém, as autoridades americanas flexibilizam as regras e os vistos saem com a velocidade dos recordes. A glo-balização elevou o atleta de ponta à categoria de “imigrante privilegiado”. Ao mesmo tempo em que a maioria dos países desenvolvidos cria ou endurece suas leis de imigração, cresce rapidamente o número de desportistas que trocam de cidadania. Em algumas modali-dades, notadamente no atletismo, percebe-se a “exportação” de atletas da África para as nações ricas da Europa, Ásia e estados Unidos. Eles mudam de nacionalidade, deixam a terra natal, muitas vezes enfrentam dificuldades com o idioma, mas encontram condições su-periores de treinamento, dispõem de suporte médico e psicológico, além de receberem muitos dólares ou euros.

Nações desenvolvidas e algumas em de-senvolvimento encontram na importação de atletas o caminho para o aprimoramento téc-nico nos esportes que são pouco competitivos. Os Estados Unidos, por exemplo, reinam ab-solutos nas provas de velocidade do atletismo, mas nunca conseguiram resultados expressi-vos nas provas longas. A solução encontrada

foi trazer da Eritréia o atleta Mebrahtom Keflezighi, que ganhou a cidadania norte-americana e disputou a maratona em Atenas. O investimento deu retorno. Keflezighi con-quistou a medalha de prata. Portugal foi outro país que apelou para a importação de atletas para melhorar seu desempenho nos Jogos Olímpicos de Atenas. Da Nigéria veio Francis Obikwelu para defender as cores lusitanas na prova que é considerada a mais importante no atletismo: os 100 metros rasos. Ele fez bonito e conquistou a medalha de prata, tornando-se o segundo homem mais rápido do mundo e dando destaque especial à participação de Portugal em Atenas.

Mas não são apenas países pobres que exportam atletas. A China, que se consolidou como potência olímpica, há mais de uma década fornece jogadores de tênis de mesa para o mundo. Na última Olimpíada, foram credenciados 40 mesatenistas chineses, mas apenas nove competiram pela terra natal. Os demais 31 vestiram os uniformes de nações da Ásia, Europa, Américas e Oceania – todos devidamente naturalizados. Jun Gao, me-satenista de 39 anos, que, em 1992, no Jogos de Barcelona, ganhou uma medalha de prata para a China, hoje defende a equipe ameri-cana. A história de Jun Gao é curiosa: ela não gosta de jogar tênis de mesa. “Meus pais me mandaram para uma escola em Pequim, e na China não se diz ‘não’ aos pais”, declarou ao “USA Today” no ano passado. Depois da medalha de Barcelona, parou de jogar. Casou-se com um programador de computadores americano, Frank Chang, ganhou cidadania nova, foi convidada pelos EUA para jogar pelo país em 1997 e foi à China com outra bandeira no peito.O detalhe é que o uniforme desta vez era chinês: a equipe americana de tênis de mesa é patrocinada pela marca esportiva LI Ning, que pertence ao ex-ginasta chinês que acendeu a pira no Ninho do Pássaro.

A China tem um zilhão de praticantes de tênis de mesa, e a equipe nacional, apenas seis representantes. Sobram chinesas e chineses bons de raquetinha e o negócio é exportar. Como as regras olímpicas de nacionalidade não são lá muito rigorosas — basta lembrar que a Geórgia disputou o vôlei de praia, no feminino e no masculino, com duplas brasile-iras que não têm a menor idéia do que seja a Ossétia do Sul —, muitos países vieram

buscar gente aqui para representá-los na mo-dalidade. Depois de analisar a lista de inscritos para as provas individuais de tênis de mesa, fica fácil perceber: há chineses e chinesas vestindo as camisas da Austrália, Áustria, Canadá, Congo, República Dominicana, Espanha, França, Alemanha, Luxemburgo, Holanda, Polônia, Estados Unidos, Argentina e Ucrânia. País com melhor desempenho histórico no tênis de mesa, a China faz dos Jogos Olímpi-cos praticamente um campeonato nacional. Espalhados pela Europa, Ásia, Américas e Oceania, os jogadores chineses naturalizados por outras nações mostram a supremacia de seu país de origem na modalidade. O Brasil, no entanto, na contramão da tendência, refuta a possibilidade.

Sem tradição no esporte, nações de prati-camente todo o globo atuam com chineses para aumentar as chances de medalha em todo tipo de competições, como os Jogos Pan Americanos, o Mundial e também os Jogos Olímpicos. Em Sydney-2000, o tênis de mesa viu 38 atletas nascidos em território chinês competirem, inclusive pela própria China. Em Atenas, o número foi ainda maior: 40 jogadores, o que representa quase um terço do total de competidores que participarão do evento. Apenas nove destes atletas atuaram sob a bandeira da China. O restante (31) joga-ram defendendo as cores de outras nações, incluindo a de territórios que fazem parte da república chinesa, mas que competem separadamente nos Jogos Olímpicos --casos de Taiwan e Hong Kong. Em Atenas, o único continente que não levou representantes chineses foi a África.

O Brasil, apesar de ter atletas chineses atuando em sua liga nacional, é contra o recurso de utilizar jogadores provenientes de outros países e foi uma das exceções na competição. Thiago Monteiro e Hugo Hoyama representaram o país. Recordista brasileiro de medalhas de ouro nos Jogos Pan Americanos, Hoyama critica a participação de atletas natu-ralizados na Olimpíada. “Não concordo com a naturalização, pois eles só vão para ganhar as medalhas para o país e não para incentivar os mais novos”, explicou o veterano de 35 anos, que participou de sua quarta Olimpíada con-secutiva. Nos últimos Jogos Pan Americanos, o mesatenista brasileiro foi derrotado pelo “dominicano” Lin Ju e ficou fora da disputa

da medalha de ouro. O atleta, de origem chinesa, foi naturalizado semanas antes da competição e terminou o Pan sabendo pou-cas palavras em espanhol. Após a conquista, Lin Ju cometeu a gafe de comemorar a conquista carregando a bandeira dominicana invertida. O atleta participou da Olimpíada de Atenas, novamente defendendo o país da América Central. Hoyama reconhece o favor-itismo dos jogadores de nacionalidade chinesa no torneio, mas afirma que é possível batê-los. “Não acredito em jogadores imbatíveis, tanto é que no mundial do ano passado eles foram derrotados. Podem ser favoritos, mas imbatíveis, não.”

“Os jogadores terminam os contratos e vão

embora. Não representam nenhum ganho para os

nossos clubes”

Lúcio de Castro

Até a década de 90, a maioria dos ca-sos de naturalização de atletas se dava por questões políticas: muitos deixavam os países do bloco comunista e pediam asilo nos Esta-dos Unidos ou na Europa, outros mudavam de pátria para poder competir. Este é o caso da África do Sul, que, na época da política de apartheid racial, foi banida pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) de todas as competições esportivas. Seus atletas troca-vam de nacionalidade e faziam carreira, por exemplo , pela Grã-Bretanha. Com o apro-fundamento do processo de globalização, sai de cena o fator político. Em seu lugar, aparecem as bolsas de estudo em universi-dades renomadas, os altos salários em clubes, os contratos milionários de publicidade e a fama. O COI e as federações internacionais das várias modalidades, a princípio, viram como positiva a transferência de atletas. Jul-gava-se que tal processo estimularia a prática de certos esportes em países ricos. Mas o tempo mostrou que havia o lado negativo da questão. Situações como a do tênis de mesa, com os chineses exportando jogadores em profusão, tiveram efeito inverso: a modali-

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2001 com a chamada Lei do Passe, vínculo que prendia os jogadores aos clubes. “Hoje, é um vínculo de contrato, e eles (jogadores) só esperam terminar para ir embora. Esse prob-lema do êxodo de jogadores brasileiros para o futebol internacional é um fato real. Na década de 80, só deixavam o país os atletas consagrados, mas, a partir de 2000, começou o êxodo mesmo de jogadores desconhecidos e jovens”, disse Lúcio.

O Banco Central começou a registrar os dólares da venda de atletas para o exterior em 1993. Desde então, as exportações de jogadores já somam mais de US$ 1 bilhão. Os valores das transferências entram no Brasil como exporta-ção de serviços e ajudam a equilibrar a balança de pagamentos. Segundo a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), o maior êxodo de atletas aconteceu em 2003, quando 858 deixaram o país para jogar em clubes estrangeiros. Em 2003, a exportação de atletas rendeu ao país US$ 72,8 milhões. Após o fim do passe no futebol brasileiro em 2001, o menor volume de dólares registrado com a transferência de atletas acon-teceu em 2002, com apenas US$ 66,6 milhões (665 jogadores).

dade não se desenvolveu e ficou dependente da importação de atletas.

Hoje os organismos internacionais do esporte buscam formas de coibir abusos na troca de nacionalidade dos atletas. A primeira iniciativa partiu da Fifa. Tudo por causa do Qatar, um pequeno país árabe rico em petróleo. Para ter mais chances de conquistar uma vaga na disputa das Elimi-natórias da Copa de 2006, a federação bolou um plano de “importação de craques”. Três jogadores brasileiros que atuam no futebol alemão receberam proposta para trocar de nacionalidade e integrar a seleção do Qatar. Cada um ganharia 1 milhão de euros pela naturalização e cerca de 400 mil euros por temporada – cerca de R$3,5 milhões e R$1,4 milhão, respectivamente. Surgiram na mídia protestos contra “a seleção de mercenários”. Além disso, muitas federa-ções da Europa recorreram à Fifa, acusando o Qatar de não respeitar a ética esportiva ao montar artificialmente um time para as Eliminatórias da Copa. Diante de tamanha pressão, a Fifa convocou uma reunião de emergência e estipulou regras para permitir que jogadores atuem nas seleções nacionais: nascer no território, ter pai, mãe ou avós na-scidos no país, haver residido por pelo menos dois anos no país que pretende defender.

A iniciativa da Fifa já inspira outras fed-erações esportivas. Várias estudam a criação de regras para dificultar a montagem de “equipes mercenárias”. O grande temor é que o poder do dinheiro desfigure o con-ceito de delegação nacional. Busca-se com isso evitar que aconteça com as seleções dos países o que ocorre atualmente com times de futebol, vôlei, futebol de salão e basquete na Europa. No futebol, por exemplo, há casos de equipes espanholas que têm apenas um jogador nacional entre os titulares – os demais são “importados” de várias partes do mundo. Nos últimos quatro anos, as transferências de jogadores de futebol brasileiros para o exterior ren-deram mais dólares ao país do que as vendas de algumas frutas tradicionais da pauta de exportações brasileira, como banana, melão, mamão e uva, ou mesmo de alguns produtos industrializados. Segundo dados do Banco Central, entraram no Brasil US$ 159,2 milhões referentes à exportação de jogadores para clubes do exterior. O vol-ume de dólares foi um pouco menor, tendo totalizado US$ 131 milhões. De acordo com o Ministério de Desenvolvimento, as exportações brasileiras de banana somaram US$ 33,027 milhões e US$ 38,460 milhões nos últimos dois anos. Já as vendas de melão

para o exterior totalizaram US$ 91,478 milhões e US$ 88,238 milhões.

Não é apenas em relação às frutas, porém, que o produto futebol é mais lucra-tivo. A venda de jogadores também rendeu mais que as exportações brasileiras de instru-mentos e aparelhos médicos, que totalizaram US$ 104,146 milhões e US$ 119,175 mil-hões nos últimos dois anos. Segundo o Banco Central, os dólares provenientes da venda de atletas entram na balança de serviços. O órgão começou a contabilizar os valores das transferências em 1993, e, desde então, a exportação de jogadores já rendeu ao país mais de US$ 1 bilhão. Apesar de o futebol brasileiro ter exportado no primeiro semes-tre de 2007 quase 600 jogadores, o volume de dólares que entrou no país entre janeiro e junho com a transferência de atletas para o exterior não chegou a US$ 50 milhões, segundo o Banco Central.

Mas o aumento das transferências nem sempre se reflete necessariamente em dividendos para os clubes, porque “a maioria dos jogadores que saem atualmente é composta por jovens, que muitas vezes não têm nenhum valor comercial”, segundo o professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e especialista em gestão esportiva José Antônio Barros Alves. “Eles (clubes estrangeiros) estão apostando cada vez mais nos adolescentes, com baixo valor comercial. Além disso, muita gente sai sem vínculo com clubes e vai para times muito pequenos, de países do segundo e terceiro escalões”, complementou Barros Alves.

Nos seis primeiros meses de 2008, a exportação de atletas para o exterior rendeu US$ 49,8 milhões para os clubes brasileiros. Na média, cada jogador deixou o país para atuar em times estrangeiros por um valor de aproximadamente US$ 8,3 mil. O valor mé-dio das transferências em 2008 foi bem abaixo do registrado nos dois últimos anos. Em 2006, 804 jogadores deixaram o Brasil para jogar no exterior, o que rendeu US$ 159,2 milhões (US$ 19,8 mil por atleta). No ano passado, 851 atletas se transferiram para clubes de 86 países, incluindo alguns, como Líbia, Uzbeq-uistão, Ilhas Faroe, Chipre, Vietnã, Tailândia, com pouca tradição. As vendas renderam, segundo o Banco Central, US$ 131 milhões (valor médio de US$ 15,4 mil).

Para Lúcio de Castro, repórter do Sportv, não há no Brasil nenhuma legisla-ção que proteja as equipes. “Os jogadores terminam os contratos e vão embora. Não representam nenhum ganho para os nossos clubes”, afirmou. Isso aconteceu, segundo o jornalista, devido à Lei Pelé, que acabou em

Segundo Paulo Vinícius Coelho, co-mentarista da ESPN BRASI, a maioria dos jogadores sai por valores muito menores do que poderiam ser negociados, porque a legislação não permite que os clubes façam contratos mais longos. “Isso aqui é uma porteira aberta e não tem como segurar”, disse o comentarista. Até hoje, foram poucos os clubes brasileiros que receberam somas significativas em transações de atletas para o exterior. Em 1998, o São Paulo recebeu do Bétis (ESP) US$ 32 milhões pelo atacante Denílson. Em 2005, o Real Madrid (ESP) desenbolsou US$ 30 milhões para tirar o atacante Robinho do Santos. Mesmo joga-dores de ponta como Kaká foram negociados por valores abaixo do valor de mercado. Em 2003, o Milan (Itália) contratou do São Paulo o meia-atacante por US$ 8,25 milhões, valor considerado baixo pelos próprios dirigentes milanistas. Após a contratação de Kaká, que se tornou em pouco tempo um dos principais jogadores do clube italiano, o presidente do Milan e ex-primeiro-ministro da Itália, Sílvio Berlusconi, disse: “Foi a maior contratação da história do Milan. E a preço de banana”.

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AFINAL, O quE É ESPORTE?Aline Vassali

“Praticar esportes”. Essa é, atualmente, a prescrição mais recomendada por médi-cos das mais diversas especialidades. As atividades esportivas proporcionam uma vida saudável e são medidas eficazes para o tratamento de distúrbios da

saúde e, principalmente, do mal do século, o estresse. Mas antes de se lançar na prática esportiva, é preciso entender um pouco de sua teoria. Na definição dos dicionários, esporte tanto é passatempo, divertimento, quanto prática metódica de exercícios físicos, que con-sistem geralmente em jogos competitivos entre pessoas, ou grupos de pessoas, organizados em partidas; ou ainda desporto.

Mas não é só isso. Ele é também dividido em modalidades, que, segundo a psicóloga do esporte Marina Lobo, englobam esporte escolar, esporte recreativo ou de tempo livre, reabili-tação e alto rendimento. Segundo a especialista, o contato com o esporte começa na infância com os pais ou nas escolas. O esporte escolar é uma atuação junto aos pais e professores visando um melhor entendimento dos processos de ensino, formação e educação da criança.

ExERCITANDO O CORPO E A MENTE

Já o esporte recreativo busca intervir e entender a prática da atividade física em tempo livre e os comportamentos desenvolvidos pelos grupos ou pelo indivíduo, de diferentes idades, durante a atividade recreativa.

A reabilitação, por sua vez, é o acompanhamento de indivíduos com limitações físicas ou atletas lesionados, com o objetivo de restabelecer a saúde psíquica por meio do exercício físico, assim como proporcionar melhorias físicas a partir do acompanhamento psicológico. E, finalmente, o alto rendimento, que visa à intervenção junto ao atleta, à equipe e à institu-ição, tem como finalidade a competição e a busca pela vitória, desenvolvendo trabalhos que auxiliem no alto desempenho, identificando fatores internos e externos que influenciem em seu rendimento.

Uma vez por dentro teoria, é hora de desvendar a prática de alguns tipos de esportes, deixando um pouco de lado esportes tradicionais como futebol, vôlei e natação e mergulhando em outras atividades como yôga, pilates e esportes radicais.

Enquanto a mídia e as academias es-timulam a prática da musculação para dar ao corpo um aspecto “malhado”, muitas pessoas preferem aliar o equilíbrio do corpo e da mente. Para isso, nada melhor do que a yôga. Apesar dos diversos segmentos encontrados, essa prática contribui para a flexibilidade e fortalecimento do corpo físico, enquanto estimula a concentração e a tranqüilidade mental. Para a professora de yôga Ana Maria Rodrigues, esse é o mais completo gênero esportivo, já que o exercício traz benefícios aos seus adeptos como um todo, o que a mus-culação não faz. Além disso, não há restrições para praticá-lo.

Após sua aposentadoria como profes-sora primária, Ana Maria decidiu aproveitar o tempo livre para se aprofundar nesse esporte. “Eu era apenas praticante de yôga, mas fui me envolvendo e me encantando com ela. Há 20 anos sofri um acidente no qual fraturei o fêmur e não pude mais praticar esportes de alto im-pacto”. A professora encontrou na yôga uma possibilidade para não ‘enferrujar’ e decidiu que levaria esse conceito às pessoas que se acham com limitações, o que não é verdade. “Me sentia impotente, sempre fui muita ativa e adorava praticar todo tipo de esporte. Assim como a yôga melhorou meu condicionamento físico após o acidente, quero que outras pes-soas também se sintam melhor”. A profes-sora destaca ainda que há alunos menores de 10 anos e maiores de 60 anos. “Além dos benefícios, é muito legal ver como as crianças estimulam os idosos a vencer os obstáculos do corpo, e os idosos, reciprocamente, estimulam as crianças a vencer seus medos”.

A bióloga Cássia Teixeira praticou yôga dos 17 aos 22 anos por recomendação médica.

Além de problemas respiratórios, ela precisava eliminar o excesso de peso. “Como eu respirava pela boca, meu médico achou melhor que eu primeiramente reeducasse minha respiração e para isso me indicou a yôga e as caminhadas diárias. Diante dos excelentes resultados, após dois meses da combinação de exercícios, o médico pediu que eu não mudasse essa minha nova rotina”. Durante o período em que prati-cou o esporte, Cássia conseguiu eliminar vinte quilos e mantém seu peso até hoje. “Respirava pela boca, consumia mais e não me sentia satisfeita”. Com a reeducação respiratória, o equilíbrio do corpo e da mente, a bióloga passou a ter mais consciência de seus limites e necessidades. Além disso, ela aprimorou sua flexibilidade e melhorou o desempenho até mesmo nas atividades do dia-a-dia. “A yoga é, com certeza, o melhor dos esportes”.

Ainda pouco difundido no Brasil, o método pilates vem dividindo opiniões. Se-gundo a professora Eliane Duna, assim como a yôga, o pilates promove o equilíbrio do corpo e da mente, fortalece os músculos e as articulações, além de proporcionar bem-estar e melhorar a qualidade de vida. Para o professor de Educação Física, André de Castro, porém, ele não é considerado esporte e sim uma terapia para o corpo, assim como a musculação também não é esporte, já que seu objetivo é proporcionar tônus muscular. André informa ainda que para ser considerada esporte, a atividade deve ter como objetivo afastar o sedentarismo, vencer alguém ou alguma coisa. “Todo esporte é baseado em competição, vencer obstáculos que podem ser físicos, psicológicos ou até objetos, e, prin-cipalmente, fazer de seus praticantes pessoas ativas, longe do sedentarismo”.

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ESPORTE PARA quEM GOSTA DE ADRENALINAO esporte oferece a quem o pratica muito mais que um visual saudável e bonito. A prática

de esportes é uma atitude inteligente em relação a si próprio. Além dos benefícios para saúde e para a qualidade de vida, o esporte é um elixir na prevenção de doenças, no alívio da ansiedade e na melhora do humor. Aliado a isso, ainda estimula a produção de uma substância existente no próprio corpo: a adrelina.

Para quem gosta de emoções fortes e de muita adrenalina, os esportes radicais são a melhor opção. Essa substância é produzida por pequenos órgãos que ficam sobre os rins (glândulas supra-renais). “A adrenalina provoca um grande aumento nos batimentos cardíacos e eleva as artérias, fazendo com que o sangue chegue mais rapidamente aos órgãos mais importantes como o cérebro e o coração. O efeito que ela provoca no organismo de quem pratica esportes radicais é o mesmo de um orgasmo. Essa oxigenação do sangue faz muito bem”, informa o professor André de Castro.

O professor esclarece ainda que rapel, montanhismo, trekking, entre outros, estão na classe dos esportes radicais e que tais práticas se enquadram em esporte, pois proporcionam a com-petição, representada pelo desafio de vencer a si mesmo e, muitas vezes, também a natureza. Esta modalidade sempre existiu, mas começou a ser difundida no Brasil na década de 90 pela mídia, o que fez com que aumentasse a procura pela atividade. “A mídia deu um ‘boom’ nos esportes radicais. Mas, às vezes, se esquece de divulgar também que a utilização dos itens de segurança é obrigatória e a presença de um instrutor é sempre muito importante. O único elemento que deve ficar bem longe de qualquer esporte, principalmente dos radicais, é o medo”, afirma André.

E medo é uma palavra que não existe no dicionário do consultor Magno Santos. O amor pelo esporte radical sempre fez parte de sua vida e aumentou durante o período em que cursou Turismo, mas sua mãe não deixava que ele se aventurasse neste terreno. “Minha mãe não podia sonhar que eu praticava canoagem e rapel nos ‘passeios’ da faculdade. As fotos das minhas aventuras ficavam sempre escondidas dos olhares dela”. Morando atualmente na França, onde se casou e teve seu filho, Magno é amante de aventura. Conheceu sua esposa durante uma temporada de mergulho na Holanda e a ‘afinidade radical’ os uniu e ainda é o elemento importante na vida do casal. “Não sei se daria certo se a Nady não gostasse de aventuras como eu. Nossas férias são sempre em lugares que podem nos oferecer esse tipo de emoção”. Magno conta que, com menos de dez meses, seu filho os acompanhou em uma estação de esqui nos Alpes Franceses e parecia se divertir como um adulto. “Meu filho Gael, desde bebê, sempre nos acompanhou nessas aventuras e já percebemos que ele adora!”.

ESPORTES NO DIA-A-DIA DOS TRABALHADORESEnquanto para alguns é diversão, para

outros é ‘ralação’. O esporte faz parte do cotidiano de muitos trabalhadores. A caminhada, por exemplo, é o esporte mais indicado no combate ao sedentarismo, por melhorar a circulação e a atividade do coração, além de poder ser praticada por todas as pessoas, das mais diversas idades, já que o risco de lesão é pequeno (quase inexistente). Mas ela é também a base da atividade exercida diariamente pelos carteiros.

Os carregadores também praticam diariamente a modalidade ‘levantamento de peso’. No trabalho de carga e descarga, chegam a levantar em média 800 quilos por dia. “Nos dias em que recebemos as carnes é que o trabalho é maior. Você tem como pegar uma caixa de cada vez, porém uma peça de boi você não tem como desmem-brar. Tem que carregar no tamanho que chega, no açougue é que eles irão partir em tamanhos menores”, afirma Miguel Silva, carregador em um hipermercado.

Para a dona-de-casa Adriana Duarte não existe ginástica melhor do que execu-tar as atividades domésticas. Varrer, lavar, passar e exercer mil atividades diferentes ao mesmo tempo não é para qualquer atleta. “Esse é meu esporte. Com três

filhos adolescentes, não tenho tempo para o sedentarismo”.

Apesar de serem atividades que exigem bastante esforço físico, elas não podem se en-quadrar na modalidade desportiva. Segundo o professor André de Castro, para o corpo, o im-pacto é bem diferente nas atividades esportivas e nas atividades de trabalho. “O esforço poderá ser semelhante, mas na atividade orientada o risco de lesão é bem menor. Um carregador não sabe as técnicas e a postura para se levantar um peso. O carteiro esquece de dar atenção à técnica de respiração”. O professor afirma ainda que a roupa também influência na troca de calor com o ambi-ente e o uniforme que esses profissionais normal-mente utilizam limita os movimentos e reflexos do corpo. Além disto, o fator que mais afasta tais atividades de serem consideradas esporte é o lado psicológico “A pressão e o estresse causados por estes tipos de trabalho comprometem, e muito, desempenho de uma atividade”.

Em diversas modalidades, tradicionais ou não, existe sempre uma boa opção de esporte que se encaixa com sua disponibilidade e per-fil, contribuindo acima de tudo para a saúde, o equilíbrio e uma vida saudável. Portanto, escolha o esporte que mais que lhe agrada e, antes de iniciá-lo, procure orientação médica e profissional. Com disposição, você conseguirá sair da teoria e partir para a prática!

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SONhO OLímPICO:gOvERNO AjuDA A REALIzÁ-LOCrianças e adolescentes pobres recebem

incentivos para se tornarem grandes atletasEmanuelle Bezerra Silva

Todo ano surge um novo ídolo no esporte brasileiro. As histórias deles, na maioria das vezes, têm algo em comum: a origem humilde dos atletas. Garotos se enchem de esperança ao conhecer a trajetória de um rapazote de Bento Ribeiro que vi-

rou milionário jogando futebol. Meninas sonham em usar a indumentária das ginastas e conseguir reproduzir seus movimentos. Muitos destes sonhos são frustrados pela falta de informação dos pais destas crianças, que não têm conhecimento de que há possibilidades de realizar o desejo dos filhos sem que, para isto, precisem pagar um clube ou escola voltada para o esporte. Vários brasileiros que brilham no esporte nacional e mundial começaram suas carreiras em vilas olímpicas e centros esportivos financiados pelo governo. Alguns deles contaram ainda com ajuda financeira do governo federal, como o programa Bolsa-Atleta, que também beneficia atletas que já passaram da fase estudantil e que enfrentam o maior desafio de um esportista: encontrar um patrocinador. Além disso, existem leis de incentivo ao esporte e iniciativas nas esferas estadual e municipal que colaboram para que o esporte brasileiro alcance o topo dos pódios mundiais.

Os atletas beneficiados pelo programa Bolsa-Atleta, do Ministério do Esporte, tiveram um significativo papel no quadro de medalhas da delegação brasileira que participou dos Jogos Pan-americanos Rio 2007. Das 161 medalhas conquistadas, 19 foram dos competidores beneficiados, sendo oito de ouro, quatro de prata e sete de bronze. O programa prevê o incentivo a atletas que não contam com patrocínio por meio de um repasse mensal que vai de R$300 (estudantil) até R$2.500 (olímpica e para-olímpica). Entre os destaques, estão a primeira medalha do badminton brasileiro, com a dupla Guilherme Pardo e Guilherme Kumasaka; a quebra do jejum de 12 anos sem medalha no levantamento de peso, com o bolsista Fabrício Mafra; e os três ouros da equipe da ginástica rítmica, que tem duas bolsistas na seleção. Participaram da competição 82 atletas bolsistas. Metade da equipe de beisebol do Pan, por exemplo, possui o benefício. Dos nove convocados para competições de karatê, seis recebem a bolsa. Ainda nove esgrimistas são bolsistas, do total de 14 convocados. O programa, criado em 2005, já beneficiou 2.800 atletas de diversas modalidades.

Cristovam Lima, atleta paraolímpico, praticante de tênis de mesa, só conseguiu treinar em tempo integral após receber a bolsa. Ele está no esporte desde os 12 anos, mas, com a deficiência, causada pela paralisia infantil, ele não podia dedicar o tempo necessário ao tênis de mesa, porque, além de ter que trabalhar para se sustentar, passava longos períodos procurando emprego. Depois que começou a receber o auxílio mensal de R$2.500 mil, ele conseguiu comprar equipamentos necessários para os treinos e, com isto, conquistou os campeonatos brasileiro, sul-americano e o Parapanamericano da modalidade. “Uma raquete profissional custa de R$200 a R$500. Como eu poderia comprar uma com os salários que se pagam nos cargos que aceitam deficientes? Fora o tempo, ganhei qualidade nos treinos”, explica Cristovam.

Para que outros esportistas tivessem a oportunidade que Cristovam teve com a bolsa, em outubro de 2008, o Ministério do esporte ampliou o benefício, que passou a atender a todos os atletas que são aptos a recebê-lo. Não apenas alguns escolhidos entre os que se inscrevem. Israel Salas, baiano vencedor da penúltima etapa do circuito brasileiro de bodyboard, real-izado em Macaé, encabeça a lista dos atletas que recebem o incentivo. Seu conterrâneo, Renê Xavier, que obteve um alto rendimento nas etapas do circuito mundial realizadas na Europa, também recebe a bolsa, na categoria nacional, de R$750. Eles dizem que, com este dinheiro, poderão se manter no estado do Rio de Janeiro, onde têm mais oportunidades.

Outro exemplo de ações do governo em prol dos atletas é a Lei de Incentivo ao Esporte, sancionada em dezembro de 2006, que permite que patrocínios e doações para a realização de projetos desportivos e paradesportivos sejam descontados do Imposto de Renda devido por pessoas físicas e jurídicas. De acordo com o decreto, pessoas físicas podem descontar até 6% do débito, e pessoas jurídicas, até 1%. Para ser aprovado, o projeto precisa ser apresentado à Comissão Técnica que o avaliará. Com isto, jovens e adolescentes matriculados na rede pública de ensino que apresentam níveis de desempenho motor que os ajudem a desempenhar competições esportivas podem ser contemplados com um incentivo financeiro.

“Um ‘herói’ do esporte nacional não se faz de um dia para o outro. Todas as histórias que você irá ouvir sobre crianças pobres que deram certo, terão um incentivador

adulto por trás”

Rosângela Santos

O Ministério do Esporte também mantém uma parceria com o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, o Conand, para incentivar pessoas físicas e jurídicas a direcionar doações aos Projetos Esportivos Sociais aprovados pelo governo e escolhidos por elas. Os interessados depositam em conta específica no Fundo Nacional para a Criança e o Adolescente, visando à democratização do esporte. Na cidade de Cotia, por exemplo, a 30 km da capital de São Paulo, foi construído, integralmente com recursos captados pela Lei de Incentivo ao Esporte e doados ao São Paulo Futebol Clube, um centro de treinamento para as categorias de base, o Centro de Formação de Atletas Presidente Laudo Natel. O custo total da construção foi de R$13,8 milhões.

Apesar de sonhos de ascensão social, o esporte não deve ser visto apenas como um meio de ganhar dinheiro e conseguir sucesso profissional. Ele gera saúde, equilíbrio e é um importante instrumento para capacitar pessoas a ingressarem construtivamente na sociedade. O Conselho Nacional do Esporte, um colegiado de assessoria ao ministro do Esporte que desenvolve políticas em prol do desporto nacional, representa um passo a mais na criação de novas perspectivas para o futuro do esporte no país. Um dos seus principais objetivos é dar este tom de conscientização social ao esporte. O Conselho busca o desenvolvimento de programas que promovam a prática intensiva e planejada da atividade física para toda a população, além da melhoria do padrão de organização, gestão, qualidade e transparência do setor.

Outro lugar onde há democratização, inclusão e ingresso ativo na sociedade são os cursos oferecidos gratuitamente em vilas olímpicas e centros esportivos, que, em sua maioria, são gerenciados pelas prefeituras. O complexo Miécimo da Silva, o maior e mais importante da América Latina, fica na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro e recebe crianças e jovens dos bairros carentes das proximidades para aprenderem a praticar profissionalmente um esporte, além de ter espaços para os responsáveis pelos jovens desenvolverem a integração e ainda oferecer acesso a cursos profissionalizantes oferecidos no local.

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Maria Eduarda Gomes Silva tem 14 anos e pratica handebol no complexo es-portivo desde os 10. Sua mãe, Gláucia Gomes Silva, a acompanhava nos treinos e acabou se interessando pelas aulas de hidroginástica para pessoas adultas ministradas nos mesmo horário do handebol de Maria. Gláucia conta que sua saúde melhorou muito desde que começou a praticar. Ela é hipertensa e com o exercício consegue liberar a energia acumu-lada e relaxar. Sua filha também foi beneficiada. “Ela reclamava que perdia todas as manhãs de terças e quintas. Agora me apressa para sair de casa”. Gláucia também leva sua filha menor, Millena, que sonha em ser ginasta. “Eu queria ser bailarina, mas já estou com 11 anos e meus pais ainda não podem pagar o balé para mim. Eu vi na TV que as ginastas são quase bailarinas. Então eu vim fazer ginástica olímpica aqui, depois vou fazer a rítmica, que é mais bonita”.

Assim como as filhas de Gláucia, muitas meninas conseguem chegar mais perto de seus sonhos com oportunidades obtidas por meio das vilas olímpicas. A velocista Rosângela San-tos, de 17 anos, é ex-aluna da Vila Olímpica de Padre Miguel e participou das Olimpíadas de Pequim. Garantiu a vaga para o maior campeonato mundial ganhando o Troféu Brasil nos 100m rasos, em julho do ano passado. Sua técnica, Edileuza Medeiros, professora de atletismo de outra vila, a Mestre André, encontrou o talento na velocista quando ela ten-tava ingressar em outro esporte. “Quando tinha 9 anos, meu primo me levou no bairro de Campo Grande, onde estavam selecionando atletas para participar do Torneio Miécimo da Silva. Como a equipe de natação estava completa, entrei no time de basquete. A Edileuza me viu na quadra e veio conversar comigo para saber se eu estava interessada em treinar com ela. Aceitei, acabei gostando, e é o esporte em que me encaixei e tive grandes opor-tunidades”. A menina foi contratada pelo Clube Fluminense após anos de treinamento na vila olímpica de seu bairro, até que conseguiu chegar em uma olimpíada.

Essas oportunidades muitas vezes são perdidas quando a criança não tem um lugar perto de casa, como Rosângela, para aprender e se dedicar. Como o esporte é uma atividade que, para se profissionalizar, a pessoa precisa praticar desde muito cedo, se não houver paralelamente um incentivo familiar, o talento é desperdiçado. Não é sempre que se vê uma mãe como Gláucia Gomes Silva, que, mesmo no período em que não fazia uma atividade no centro esportivo, levava e buscava as filhas. Muitas vezes a mãe até gostaria de ajudar os filhos, mas é impossibilitada pelo horário de trabalho e por não ter com quem contar para isso. Este problema também não alcançou Rosângela, que, aos 9 anos, ia e voltava dos treinos sozinha. “A Vila é bem perto da minha casa. Era como se eu estivesse indo brincar na casa de uma amiga”.

Edileuza, que trabalha em vilas olímpicas e viu grandes talentos como o de Rosângela indo e vindo dos treinos, conclui: “As pessoas reclamam que o governo não faz nada. Não é verdade. Olha para tudo isso (aponta para os equipamentos e o espaço oferecido). O que acontece é que muitos pais não acreditam em seus filhos, ou não querem investir tempo neles. Um ‘herói’ do esporte nacional não se faz de um dia para o outro. Todas as histórias que você irá ouvir sobre crianças pobres que deram certo, terão um incentivador adulto por trás, isso em qualquer área”.

O complexo Miécimo da Silva fica na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro

ESPORTE, EDuCAçÃO E INCLuSÃO SOCIALVinicius Badenes

Que o Brasil é um país de diferenças e mazelas sociais gritantes, todos estão cansados de saber. A desigualdade social é uma das maiores do mundo. Uma das muitas con-sequências deste problema é a violência, que aparece de várias formas na sociedade.

A mais próxima da realidade carioca é o tráfico de drogas, que cada vez mais cedo coopta os jovens para este mundo. Dentre várias formas de evitar esse ciclo vicioso pobreza, tráfico e morte, a educação associada ao esporte tem aparecido como uma medida que tem surtido efeitos positivos e animadores. A utilização do esporte como meio de inclusão social dos menos favorecidos vem rendendo bons frutos sociais. A ideia é oferecer uma alternativa de aprendizado, levando em consideração o fato de o esporte disciplinar, ensinar a trabalhar em equipe, a ter espírito de liderança, aprender a lidar com a pressão, além de ocupar na vida destes jovens uma lacuna de tempo em que eles ficariam ociosos. Além disso, muitos atletas são revelados por essas iniciativas.

O professor Alexandre Gomes, do Colégio Municipal Manuel Bandeira, em Del Castilho, concorda com essa opinião, e vai além: “Achar atletas em potencial não é uma coisa simples, mas o que eu defendo e acho mais importante é que as crianças não podem ficar na rua. O esporte na escola deve servir para educar e preencher o tempo livre destes jovens”. Jonas San-tos, de 11 anos, é aluno do “tio Alê”, como é chamado o professor, diz gostar muito das aulas de basquete e fala da importância que elas tem para ele: “As aulas são muito legais, quando crescer quero ser professor de basquete também”. Outro fator levantado pelo professor é o aumento da auto-estima dos alunos.

No clube Maria da Graça, quem comanda a escolinha de vôlei feminino é o professor Marcos Almeida. As aulas têm como objetivo, além do entretenimento, garimpar talentos. No clube, o ponto de vista é diferente do da escola, no qual o trabalho tem como objetivo apenas a inclusão social dos jovens. Para o professor Marcos, essa visão mais capitalista do esporte não é um problema: “As crianças devem se divertir, mas ao mesmo tempo cobramos pelo desempenho, o nosso grande desafio é dosar bem essa cobrança, para que não faça mal a elas”. A jovem Nathália Bastos, de 10 anos, aluna da escolinha, disse acompanhar e entender muito de vôlei e até escolheu suas atletas preferidas: “Eu gosto muito da Mari e principalmente da Fabi, porque ela joga muito e é baixinha como eu”.

Não importa a finalidade para a qual o esporte é colocado em prática, se como inclusão social ou para garimpar talentos. O fato é que essa atividade deveria ser olhada com ainda mais carinho pelos governantes, inclusive dando mais condições de trabalho para os profissionais que atuam diretamente nesta área, ou seja, os professores de Educação Física, já que eles apenas há pouco tempo tiveram sua profissão regulamentada. Esse foi um grande passo e espera-se que medidas tanto para facilitar a vida do professor, tanto a dos alunos sejam postas em prática. Assim, quem sabe, num futuro não muito distante, além de desempenhos olímpicos ainda melhores, o país tenha um desempenho social mais digno, para que mais crianças brasileiras tenham alternativas e possam seguir uma vida feliz e honesta.

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ESPORTE: O RESgATE DA vIDACarolina Marques de Araújo

O esporte, que, para a maioria das pessoas, está associado a diversão, entretenimento e competição, é,

para alguns deficientes físicos, sinônimo de superação e de força de vontade para enfren-tar todos os desafios que a vida lhes impõe. Adaptado no Brasil em 1957, o esporte para deficientes físicos tem como objetivo prin-cipal desenvolver ações socializadoras que contribuam para o resgate da autonomia e da independência da pessoa portadora de alguma deficiência, seja ela física ou mental.

E esse contingente não é pequeno. Se-gundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas – IBGE existem no Brasil cerca de 25 milhões de pessoas portadoras de alguma limitação física e, destas, apenas 48% prati-cam alguma atividade para tentar driblar essa dificuldade que é vista, na maioria das vezes, com um olhar preconceituoso por parte da população.

A fisioterapeuta Anna Cecília Francisco acredita que a inclusão e a sociabilização de pessoas com alguma deficiência por in-termédio da prática de esportes resgata o cidadão para um melhor convívio social. “A participação em diferentes atividades físicas oferece aos deficientes a oportunidade de experimentarem sensações e movimentos que, frequentemente, são impossibilitados pelas barreiras físicas, ambientais e sociais. O espírito competitivo existente nestes por-tadores é movido pela vontade de vencer e mostrar que são capazes”.

O esporte na vida dessas pessoas é de grande importância, pois é por meio dele que as limitações dos portadores são superadas, já que muitas vezes o deficiente físico se reprime pelo preconceito com que parte da sociedade ainda o vê. “Sempre quis mostrar para meu filho que ele era diferente das outras pessoas devido às suas limitações, mas que isso não significava que ele era melhor ou pior que os outros. Com a prática de es-portes, ele passou a enfrentar suas diferenças e seus obstáculos com uma vontade enorme de viver. O grande problema disso tudo é que a população ainda é preconceituosa”, afirma a pedagoga Cristina Silva, mãe de Augusto Silva, 12 anos, paraplégico.

Apesar do preconceito e da deficiência, porém, essas pessoas não trazem tristeza por sua condição, mas sim garra e determinação para vencer. A professora de Educação Física

de uma escola especial para cegos, Vanessa Vesterman, afirma que o esporte é capaz de transformar vidas, ajudando a superar todas as dificuldades. “Meus alunos, enquanto praticam essas atividades, transmitem um sentimento de quem quer melhorar o mundo. É incrível como eles driblam suas dificuldades e reesta-belecem sua auto-estima. Aqui eles só dizem uma coisa: que serão sempre campeões”.

Estes jogos mostram que, apesar da de-ficiência física, estas pessoas conseguem se dedicar aos esportes, até mesmo em nível profissional. Exatamente por isso, surgiu, em 1960, a primeira Para-olimpíada Mundial. Organizada pelo COI – Comitê Olímpico Internacional, esta primeira edição teve competições de esgrima, basquete, tênis de mesa e arco-e-flexa. Hoje, os Jogos Paraolímpicos, organizados pelo Centro Paraolímpico Internacional - CPI abrigam muito mais modalidades, como a natação, o judô, o hipismo, entre outros. O desenvol-vimento desses esportes e a superação e a força de vontade dos atletas são tão grandes que fizeram, e fazem até hoje, o Brasil brilhar nessas competições.

Os benefícios que o esporte traz para as pessoas com limitações físicas ou mentais são muito claros, pois, além de trazer de volta a alegria em suas vidas, ele também contribui na inserção dos deficientes no mercado de

trabalho. O assistente de telemarketing e paraplégico, Fábio Fillipi, 32 anos, afirma que depois que começou a praticar natação, conseguiu driblar o preconceito e correu atrás de uma profissão. “Antigamente, sempre era vítima de preconceitos, porém depois que comecei a exercer uma atividade física, mostrei para mim e para todos que eu era capaz de superar esse obstáculo da minha vida. Depois disso, batalhei por um emprego e hoje estou aqui, feliz, praticando minha atividade física todos os dias e, o mais importante, trabalhando e superando as limitações que durante anos me deixaram sem motivação e vontade de viver”.

A prática de esportes é fundamental no desenvolvimento físico e psicológico das pessoas, principalmente, daquelas que apre-sentam alguma dificuldade ou deficiência. Mas ainda há uma barreira que precisa ser vencida: o preconceito da população. Este não se combate somente com a lei, mas tam-bém com a conscientização e a sensibilidade da sociedade. Incluir não se trata apenas de fazer pessoas diferentes estarem juntas em um mesmo ambiente: requer a verdadeira convivência, por meio de empatia, respeito e aceitação do outro, não da aceitação no sen-tido assistencial e da conformidade, mas sim pelo reconhecimento das condições e valores do outro ser humano.

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O AvANçO TECNOLógICO E SuA INFLuêNCIA NO ESPORTEBruno Cesar Fournier Vieira

O esporte vive uma época de mu-danças. Os avanços tecnológicos, os novos recursos e as modernas

aparelhagens influenciam de maneira decisiva no esporte, aumentando o desempenho dos atletas em suas atividades. Mas tantas transfor-mações também trazem consigo polêmicas: há discussões sobre lances duvidosos, vitórias con-seguidas por milésimos de segundos, atletas que estão virando mitos, capazes de quebrar cada vez mais recordes. Nas olimpíadas em Pequim, por exemplo, na natação, só nos primeiros quatro dias foram dezesseis quebras de recordes olím-picos e mundiais. Várias teorias surgem para explicar tal fenômeno.

Avançadas técnicas de treinamento, mel-hores dietas, novas tecnologias na confecção dos maiôs, piscinas que eliminam ondas e reduzem turbulência na água e até mesmo a utilização de golfinhos, para ensinar os melhores movimentos para impulsionar as pernas sob a água são alguns dos fatores listados para justificar o número expressivo de marcas quebradas.

A teoria mais popular para o fluxo de recordes em Pequim é a introdução do maiô LZR, da Speedo, desenhado com ajuda da Nasa, a agência espacial norte-americana. Seu design foi inspirado na era espacial e não tem costura. Suas partes são soldadas por um processo ul-trassônico. O material se ajusta perfeitamente ao corpo dos atletas, cria silhuetas sem ondulações e diminuiu o atrito com a pele em 6%.

Os nadadores não foram os únicos privi-legiados com as novidades criadas pelas em-presas de material esportivo para dar mais conforto e auxiliar os competidores na busca pelas melhores marcas. A delegação brasileira, que contou com 450 atletas, recebeu uniformes com proteção solar, fabricados com a tecnologia Dry Action e Elastano, que facilita ao máximo a circulação de ar, à medida que elimina o suor e livra a pele da umidade. As peças são leves, compactas e maleáveis.

As competições esportivas passaram a ser-vir como vitrine de produtos e marcas. Atletas se tornaram reféns e são verdadeiros garotos propaganda em tempo integral. Esse é o preço que se paga quando se deseja bons resultados individuais ou coletivos. A interferência das empresas, porém, não fica apenas na divulgação de suas marcas. Para justificar a força, é preciso

produzir vencedores e associá-los a seus produ-tos. Esse é o ponto mais polêmico na influência da tecnologia.

Nas últimas décadas, observou-se um grande avanço no esporte com o advento de novas pesquisas em diferentes áreas. Grandes marcas passaram a patrocinar atletas e disponibi-lizaram centros de treinamentos, um conjunto de equipamentos e profissionais, com o único objetivo de capacitá-los ao máximo.

Até o mais tradicional dos esportes se rendeu a uma funcional invenção high-tech. A bola inteligente, dotada de um micro chip que ajuda o juiz na marcação, foi testada em um Mundial Sub 17 do Peru e aprovada pela Federação Internacional de Futebol (Fifa). A principal entidade do futebol pretende usar a bola inteligente outras vezes. O campo sintético também passou por um teste ár-duo. Diferentemente dos gramados comuns, ele é o que se pode chamar de gramado de última geração. Por ter grama fixada com micro bolinhas de borracha, ele permite que a bola deslize como se estivesse em um gramado natural.

extraordinário, cada vez mais acompanham as modalidades.

O melhor da tecnologia no esporte é a de-mocratização. As pessoas se aproximam dos es-portistas profissionais ao buscar esses acessórios que ajudam a melhorar o desempenho. A cada geração, são apresentados atletas com melhor desempenho, rompendo a barreira do que a sociedade possa identificar como “humano”. Uma fábrica de resultados que intriga e provoca aplausos e críticas.

Não há como negar que o forte avanço tecnológico dos últimos tempos vem impulsio-nando os resultados no esporte. A competição exige do atleta superação física e muita concen-tração para melhor execução das atividades. Diante da necessidade de um estudo contínuo e dependente de aprimoramento, dos limites e dos objetivos definidos, não seria absurdo considerar o esporte como uma ciência, ou seja, uma modalidade de tecnologia.

O esporte de alto nível sem a aplicação da ciência dependerá sempre do surgimento de atletas considerados “gênios”, para que se obten-ham resultados internacionais expressivos. Sabe-se que esta possibilidade é pequena e não permite o crescimento contínuo de uma determinada modalidade. Esporte é adrenalina, superação dos próprios limites, técnica e desafio. Cada deslize pode custar a derrota, cada segundo faz a difer-ença. E são esses pequenos detalhes que fazem do esporte uma paixão mundial, proporcionando momentos inesquecíveis na história.

Como em qualquer duelo, cada um apre-senta as suas armas e promove um desafio de gigantes, no qual somente um será o vencedor. Hoje, o atleta é praticamente como uma escola de samba e precisa compartilhar suas vitórias com uma enorme equipe de apoio e com os patrocinadores, que oferecem todos os recursos e equipamentos que o diferenciam dos demais.

Cesar Augusto, ex-jogador de basquete do Clube de Regatas Vasco da Gama, jogou por cinco anos quando era jovem e acredita que o

avanço tecnológico no esporte transformou a atividade. ”Quando eu jogava, tínhamos que nos dedicar aos exercícios físicos e aos treinamentos que, a meu ver, eram muito importantes para se manter a forma e a resistência durante os jogos. Procurávamos fazer uma alimentação equilibrada e seguir à risca todas as instruções recebidas do técnico. Também assistíamos pela TV a vários outros jogos, principalmente os estrangeiros, para tentar assimilar alguma outra jogada que considerássemos importante. Naquela época, o que valia realmente era técnica, vigor físico e muita vontade de vencer.”

Outro que fala sobre o assunto é o nadador Ricardo Pereira, integrante da equipe de natação do Sport Club Mackenzie do Rio de Janeiro. Segundo ele, a atual aparelhagem usada nos treinamentos dos atletas e no tratamento médico ajuda e muito na evolução do atleta, tornando-o superior aos demais, que não têm acesso à tec-nologia de ponta. O nadador afirma que o uso do maiô da Speedo é um diferencial enorme perante os outros competidores. Ricardo diz ainda que, apesar desse avanço, se o atleta não tiver vontade de vencer, comprometimento com os treinamentos e disciplina, não terá sucesso na carreira. “É preciso bem mais do que com-putadores e estudos para criar um campeão, é necessário possuir espírito de luta e acima de tudo apoio da família e amigos”.

Mesmo com todos os frutos alcançados, a sociedade ainda precisa definir até que ponto a graça do esporte pode sofrer influências da tec-nologia. Apontar, para cada competição, o que está realmente em jogo. A evolução natural dos estudos sobre cada modalidade esportiva con-tribui de forma significativa no aperfeiçoamento de sua prática. O esporte, como ciência, sofre a influência natural e direta da evolução tecnológi-ca. Avanços de diferentes áreas podem indicar, por exemplo, um movimento mais eficiente ou até uma dieta mais adequada. É o esporte par-ticipando de forma efetiva do ciclo tecnológico, gerando e transformando conceitos.

“É preciso bem mais do que computadores e estudos para criar um campeão, é necessário

possuir espírito de luta e acima de tudo apoio da

família e amigos”

Ricardo Pereira

As pesquisas de novos produtos vão desde a bolinha de ping pong, tênis para corrida e chuteiras até equipamentos que ajudam a corrigir a postura dos atletas du-rante os treinamentos. Cientistas do mundo inteiro não conseguiram ainda comprovar que o maiô realmente faça a diferença, mas ele ajuda muito na hora da competição. Esse avanço não só causou espanto no mundo como também trouxe uma gama muito maior de admiradores de esportes. Pessoas que, ao se deparar com algum feito

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mEDICINA E ESPORTEJoyce Tostes Prudente

No dia 12 de abril de 2000, o mundo inteiro vibrou ao ver Ronaldo Fenômeno, que estava

no banco, começar o trabalho de aqueci-mento para entrar em campo, pela Inter de Milão (Itália), aos 12 minutos do segundo tempo. Demonstrando vontade, sofreu uma falta do zagueiro Fernando Couto, tocou três vezes na bola, mas ainda estava tímido. Aos 19 minutos, recebeu a bola com espaço. No melhor estilo Ronaldo, partiu para cima da marcação de Couto. Ele jogou a perna direita por cima da bola e armou o drible. Só que, quando bateu o pé no chão, a perna que deveria sustentar o peso do corpo começou a dobrar. Ao ver o fenômeno tombando com a mão no joelho direito, a mesma torcida que, 30 minutos antes, estampava um sorriso no rosto, agora estava apreen-siva. Ronaldo caiu no gramado do estádio Olímpico de Roma com o tendão patelar do joelho direito completamente rompido. Em uma cena chocante, levou a mão ao local da dor, chorando desesperadamente. No dia seguinte, foi operado e ficou mais de um ano afastado dos gramados. O joelho não deu fim à carreira de Ronaldo, eleito melhor jogador do mundo três vezes, por pouco. E foi o avanço na Medicina Desportiva ou Medicina do Esporte, que vem crescendo de maneira impressionante nos últimos 15 anos, que ajudou Ronaldo e vem ajudando muitos outros atletas.

A medicina esportiva abrange os ramos da medicina que estudam a influência do exercício, do treinamento e do esporte em atletas em bom estado de saúde ou contun-

didos. Também estuda os efeitos da falta de exercício e as lesões que podem acontecer durante a realização do exercício. Além disso, tem um papel importante na hora de aconselhar um tipo de esporte; de adaptar alguns exercícios ao paciente; e de aconsel-har uma linha de trabalho a uma pessoa, a fim de que este se adapte ao exercício com um menor risco de sofrimento de lesões ou patologias.

E esses avanços estão ocorrendo princi-palmente em lesões de joelhos e tornozelos, áreas vitais para os atletas e que costumam ser as mais prejudicadas em atletas de difer-entes modalidades. Ao contrário do que muitos imaginam, as lesões de joelho são bastante comuns e não são provocadas ap-enas por traumas. Elas podem ser também congênitas, como afirma o médico Mateus Facchin, do Instituto de Medicina do Esporte e Ciências Aplicadas ao Desenvolvimento Humano (IME/UCS), de Caxias do Sul (RS). “A boa notícia é que, com o advento da ressonância magnética para o diagnóstico preciso da gravidade da lesão e dos procedi-mentos e equipamentos cirúrgicos, como a artroscopia (procedimento minimamente invasivo, uma espécie de videocirurgia, que permite visualizar precisamente as lesões nos tendões e articulações, além de tratá-las e prevenir a evolução das mesmas), os índices de cura têm elevado significativamente, girando em torno de 90% dos casos. Mas é preciso salientar a importância da fisiotera-pia no processo de recuperação das lesões de joelho, que dependem de intervenção cirúrgica. A fisioterapia é tão fundamental

quanto a cirurgia, e indispensável para o sucesso do tratamento”.

Ainda de acordo com Gennari, os atle-tas são sempre sujeitos a lesões, mas elas se modificam, dependendo da modalidade esportiva. Os surfistas sofrem mais com meniscos e ligamentos rompidos devido à força aplicada em uma manobra, quando o joelho é forçado a um movimento br-usco de rotação. No voleibol, os saltos constantes e a impulsão vertical provocam lesões na articulação do joelho. Os ciclis-tas reclamam com freqüência de dor nos membros inferiores e isso se deve, geral-mente, a lesões provocadas pela inadequa-ção das dimensões da bicicleta ao corpo do atleta. Além destas peculiaridades, as variações anatômicas de quem pedala, a intensidade, a forma de treinamento e a duração dos treinos também são respon-sáveis pelo problema.

Mas a preocupação maior fica por conta dos atletas profissionais, junto aos quais a exigência de preparo físico é muito maior e mais freqüente e contra os quais há dois pontos ruins: o calendário exaustivo dos campeonatos em grande parte das modali-dades, o que favorece o aparecimento das

lesões, apesar de todos os cuidados dos técnicos e comissões esportivas, e a idade mais avançada de alguns atletas ainda em plena atividade, o que torna a recuperação mais lenta.

Apesar disso, o médico Ney Pecegueiro, que trabalha com o time feminino de volei Rexona/Ades e com a seleção masculina de vôlei, explica que hoje em dia existem diversos métodos de treinamento especiais para o esporte de alto rendimento, de lazer e para o esporte praticado por deficientes físicos, com objetivos preventivos e reabili-tadores. “Atualmente, contusões que amea-çavam a carreira dos atletas são curadas rapidamente, com microcirurgias no local. Um atleta, hoje, consegue voltar em menos de um mês ao trabalho. Até as contusões mais graves, como as de ligamentos, que decretavam o final de carreira, hoje, com um bom tratamento, permitem que os atle-tas voltem à melhor condição. Além disso, é possível modificar a preparação dos atletas, fazendo com que, ao final de partida e/ou uma competição, eles consigam ter um despenho físico muito próximo do início do jogo”. Medicina e tecnologia aliadas no auxílio ao esporte.

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FALTA INvESTImENTO PARA ATLETAS BRASILEIROSMarcelo Araújo

É mais do que evidente a superpotência olímpica sustentada pelos chineses ao passar das décadas. Mas o mais

importante não é número de medalhas, e sim de onde vêm todos esses resultados. Já foi pro-vado que, ao contrário do que Hitler imagi-nava, não existe supremacia genética. Mas o ditador também deu uma dica importante para a fonte dos resultados: treinar. Na busca de provar a superioridade ariana ao mundo, o Estado investiu pesado no treinamento de “superatletas”. Na China não é muito difer-ente: ela quer mostrar a superioridade de sua organização social. O país mais populoso planeta, que, por muito tempo, fechou suas portas ao mundo, hoje mostra alguns de seus segredos. E o esporte alcançou seus objetivos pela política nacional chinesa para o esporte. O investimento na criação centros de treina-mento é massivo e há uma intensa busca de talentos em todas as modalidades esportivas. Significa que há mais pessoas praticando esportes profissionalmente, pois o Governo não deixa um bom atleta passar despercebido. E como quase tudo para os orientais é fun-damentado no costume, o esporte não deixa de ser também.

A prática esportiva começa muito cedo para os chineses. Um dia inteiro de cada se-mana é dedicado ao que é chamado no Brasil de Educação Física. E tudo começa a se de-senvolver a partir desse ponto. Nem sempre o que a criança quer praticar se encaixa no seu biótipo. Se ela já cresceu 20 centímetros a mais que os colegas da mesma idade, o bas-quete pode ser uma boa opção. E se o talento for identificado, as atenções na criação e no desenvolvimento desse cidadão serão voltadas para o esporte. Mas, entre os brasileiros, é comum pensar que com uma vida dedicada ao esporte, é difícil se estabilizar financeira-mente. De fato, no Brasil pode ser sim.

Mas não há como pensar diferente. O ex-jogador de futebol Jéferson Rodrigues, hoje com 24 anos, teve a oportunidade de jogar no time juvenil do Porto em Portugal. “Aqui no Brasil, escolher ser jogador de futebol ou atuar em qualquer outro esporte é como você tentar ser músico. Você não tem incentivo de lugar algum, tem que ser bom naturalmente, por assim dizer. Não há como se desenvolver

no esporte apenas pelo treino”, comenta. Ele se aposentou dos campos aos 18 por causa de uma lesão no joelho. “Não existem centros de treinamento especializados que dêem vazão ao número de interessados em praticar esporte. Além disso, muitos procuram no esporte, principalmente no futebol, o sonho de en-riquecer”, acrescenta. E, mesmo lesionado, Jéferson jogou futebol de salão pelo Clube América do Rio de Janeiro até os 21 anos. Hoje joga uma “pelada” de vez em quando, e afirma que só conseguiu evoluir no esporte pelo apoio financeiro dado pela família, e que muitos garotos bons ou melhores que ele abandonaram seus sonhos para começar a trabalhar.

“O Brasil viu os ‘Ronaldos’ do futebol, que saíram das favelas e foram para a Europa andar de carros esportivos. Isso é o esporte para eles. Isso não acontece só no futebol. No judô e no jiu-jitsu, o sonho de alguns é ir para o Japão lutar vale-tudo e ficar rico. Aí está a diferença em relação à China. O esporte lá tanto é ocupação social como lazer. Uma coisa não impede a outra. Aqueles que não se destacam continuam amadores, os melhores se profissionalizam. Esse é o processo que de-veria ser natural, que gera o real benefício do esporte: o bem estar físico”, diz o Sociólogo, Marcos Vinícius, formado pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro.

Tudo funciona muito bem nas ideias: o governo incentiva com propagandas e a televisão deixa a sociedade eufórica com os eventos esportivos, mas a euforia vai embora para algumas pessoas junto com as festas de

encerramento. Principalmente para aquelas pessoas como a faxineira Maria Aparecida, de 42 anos, que largou o ensino médio para trabalhar. “Acordo às cinco horas da manhã, pego uma condução lotada e demoro duas horas para chegar no trabalho. Fico lá mais de oito e volto a pegar o ônibus lotado por mais duas horas até chegar casa, faço jantar e durmo. Isso quando o dia foi tranquilo. Onde e quando um ser humano consegue se exercitar se a vida dele é trabalhar?”, desabafa. A rotina de trabalho é o motivo mais comum para aqueles que deixam de praticar algum esporte ou freqüentar uma academia. O que poucos brasileiros sabem é que um operário chinês tem uma remuneração mensal de US$ 50 a US$ 100, além de uma jornada de tra-balho de 12 horas por dia e, mesmo assim, as praças ficam cheias todas as manhãs de gente caminhando, praticando tai chi chuan, kungfu, se exercitando de alguma outra maneira.

Cerca de 33,9% da população pratica algum tipo de esporte, segundo o censo real-izado no país em 2005, sendo que, no caso dos estudantes, calcula-se que aproximadamente 90% pratica alguma atividade física. Existem mais de 100 mil centros comunitários de esporte. É um país onde as crianças crescem fazendo esporte e tudo o que elas precisam fazer é ir à escola, como fazem diariamente. Já no Brasil, existem cerca de 35 mil escolas públicas, mas apenas 18 mil delas têm insta-lações esportivas, segundo a pesquisa mais recente do IBGE, o que gera o total de 58% de escolas com estrutura esportiva. A desigual-dade entre as regiões ricas e pobres do país,

porém, é gritante. Enquanto o estado de São Paulo detém 82,8% de núcleos esportivos em escolas públicas, os estados do Acre, Paraíba e Alagoas não atingem nem 20%.

Não se trata de um país mais rico do que o outro. A grande diferença entre a China e o Brasil está na organização política, no uso da verba pública da maneira correta. Claro que a conservação da estrutura existente é respons-abilidade de todos, tanto do governo quanto dos cidadãos usuários dessas estruturas. “Falta um sentimento de posse do dinheiro público na população. Quando ele vem do governo, seja por meio de obras ou programas sociais, é normal descaso, roubo, vandalismo e aban-dono gradativo dessas estruturas”, acredita o professor Edson dos Santos, 45 anos, profes-sor Educação Física da escola pública Afonso Pena. “Eu vejo as crianças picharem, quebra-rem lixeiras e roubarem equipamentos. Sem contar as centenas de famílias que fraudam o Bolsa-escola. É complicado falar sobre isso. Muito se perde pela falta de respeito pelo o que é de todos. Mas eu acredito que a cada geração a consciência está mudando, dez anos atrás era bem pior”, diz o professor.

Essa consciência parece ter vindo com a onda PAN que chegou ao Brasil. Depois que o Rio de Janeiro foi a sede dos jogos Pan Ameri-canos de 2007, o país entrou em um espírito esportivo, muito estimulado pelo governo via propaganda. Hoje, o governo já conquistou a chance de ser a sede do Jogos Olímpicos de 2016. É claro que pouca coisa mudou no Rio de Janeiro depois do jogos do Pan, houve a con-strução de instalações faraônicas para o esporte e muitas escolas continuam abandonadas. Se a cidade quer conquistar o direito de abrigar a competição, porém, terá que investir em vários setores. E se o Brasil quer um dia se aproximar da China no número de conquistas esportivas, sociais e culturais, terá que fazer como o país oriental, que vem apostando em um programa social em que todos têm direito, acesso e opor-tunidade de desfrutar um ambiente esportivo de qualidade: o projeto de bem-estar físico nacional. No Brasil, o esporte ainda tem sido usado, em muitos casos, como “tapa-buraco” social, uma tentativa de inserir nos proces-sos sociais, via esporte, aqueles que não têm recursos para se integrar naturalmente. Além disso, alguns atletas que não têm condições financeiras para praticar sua modalidade são ajudados pelo governo. Mas é preciso mais: é fundamental investir fundo no esporte como alicerce de formação do cidadão e apostar em seus atletas. Tanto nos que já se revelaram por seus próprios méritos e precisam de apoio e incentivo quando aqueles que são promessas e talentos a serem descobertos e estimulados.

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ESPORTE E NOTíCIA Em CONTATO DIRETO

Comentarista do Jogo Aberto da TV Bandeirantes, Jorge Ramos acredita em uma cobertura mais ampla

Isabel Gomes

Não dá para imaginar um jornal impresso, um telejornal, um programa de rádio ou um site de

notícias na web sem nenhuma manchete es-portiva. Mas nem sempre foi assim. Somente a partir da década de 60 é que os jornais ganharam editorias esportivas e só nos anos 70 passaram a ter publicações regulares sobre o tema, que antes se limitavam a divulgar placar de jogos.

O futebol foi quem impulsionou o jor-nalismo esportivo, que hoje ocupa lugar de destaque em toda a mídia. Como o futebol é a paixão de muitos brasileiros, ele tem a maior cobertura jornalística e está ligado ao entretenimento e à cultura do povo brasileiro. Por isso consegue reunir o maior número de pessoas de diferentes classes e hábitos em uma única partida.

Apesar de o futebol movimentar o mer-cado esportivo, também existem os esportes amadores, que são pouco divulgados, mas que estão presentes na cobertura. Jorge Ramos é comentarista do programa “Jogo Aberto Rio da TV Bandeirantes” e defende a participação de outras modalidades na grade televisiva. Ele acredita que as emissoras de rádio e de TV públicas devem cobrir outros eventos além do futebol, para mudar um pouco a formação das pessoas que acham que esporte é só futebol.

Para mudar a mentalidade do telespecta-dor, será necessária uma reestruturação do jornalismo que é feito hoje no Brasil. A chegada da televisão modificou a forma das transmissões e dos conteúdos. As reportagens

são realizadas com foco na vida pessoal dos atletas, na rivalidade dos clubes e torcidas e em fatos exóticos que envolvam esportistas.

A TV permite ao torcedor assistir a uma competição ao vivo e a cores, o que é muito bom e acaba por atrair mais telespectadores. Em contrapartida, o rádio perde cada vez mais ouvintes. É o que explica Tássio Santos, apresentador do “Esporte e povão”, da Rádio Roquete Pinto. “Como o rádio só tem áudio, ele leva desvantagem diante da televisão”. Ele acrescenta outro motivo para a perda de audiência: a falta de inovação e criatividade. “O radio de hoje é feito da mesma forma que ele foi criado nos anos 60”. O apresentador acredita que o programa pode ser feito de maneira diferente, como mais conversa e bate-papo.

A insatisfação do noticiário esportivo tam-bém atinge as profissionais do sexo feminino. As mulheres são bem preparadas e entendidas no assunto, mas nem sempre elas conseguem espaço. Como o futebol representa 80% do conteúdo publicado, elas gostariam de partici-par ainda mais dessa modalidade.

“O preconceito contra a mulher diminuiu, mas ainda existe. A prova é que não há mulheres narrando partidas de futebol, nem jogos de ter-ceira divisão”, diz a jornalista Gabriela Gomes, comentarista de esporte da Rádio Roquete Pinto. Ela conta que o número de mulheres na profissão ainda é pequeno, se comparado ao de homens, mas acredita na mudança como poder de transformação no noticiário esportivo. Mais um desafio a ser vencido pelos profissionais da comunicação.

Foto: Isabel Gomes

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Em SINTONIA COm O ESPORTECarlos Eduardo Marques Cardoso F.Silva

Toda vez que está prestes a cair na água, o nadador norte-americano Michael Phelps liga seu I pod para

ouvir “Go Getta“, de Young Jeezy, astro do Hip Hop. Foi assim nos Jogos Olímpicos de Pequim, ocasião em que Phelps se tornou um supercampeão, o maior ganhador e recordista em número de medalhas em uma mesma Olimpíada (8) e superou a marca alcançada por seu compatriota Mark Spitz nos jogos Olímpicos de Munique, em 1972 (7). Ele não é o único a lançar mão de acordes mu-sicais para alcançar determinado estado de espírito. A música está presente na vida de quase todas as pessoas. E na dos atletas não seria diferente.

Muitos competidores a ouvem, nos mais variados estilos, em diferentes modalidades e com objetivos diversos. Uns para se energizar, outros simplesmente para relaxar. Mas há aqueles que vêem nesse hábito uma forma de se concentrar e até mesmo se estimular antes de provas e torneios, visando obter vitórias e maximizar suas performances em busca de recordes e medalhas.

Outro exemplo é o tenista Rafael Nadal, medalha de ouro na modalidade. Ele gosta de ouvir o grupo pop mexicano Maná, os roqueiros norte-americanos do grupo Bon Jovi e o cantor canadense Bryan Adams antes das competições. A brasileira Natália Fala-vigna, medalha de bronze no Taekwondo e primeira atleta verde-amarela a conquistar tal vitória na modalidade, é mais uma que procura sempre alcançar o equilíbrio necessário para as provas escutando música evangélica minutos antes de começar a disputar as provas.

Quem também recorre ao mesmo melódico artifício é Juliana Velasquez, de 22 anos, que pratica judô na categoria médio (até

70 kilos), na Universidade Gama Filho. Seus estilos musicais favoritos são Música Clássica e Trance (vertente de música eletrônica), que ela costuma ouvir em momentos espe-cíficos de sua preparação, seja em treinos ou quando está prestes a começar as provas das competições de que participa: “Na verdade, há músicas certas para cada momento. Antes do treino, eu ouço a 9ª Sinfonia de Beethoven e no fim eu ouço Johann Sebastian Bach, que me acalma bastante”.

estudo realizado na Inglaterra, que descreve a interferência positiva da música no esporte, comprovando que os competidores alcançam melhores resultados ouvindo música antes ou durante as provas. A própria atleta da Gama Filho é um exemplo de quem conseguiu ser bem sucedida seguindo esta linha. Em seu histórico, só em 2008, estão conquistas como o 1º lugar no campeonato Carioca, o 2º lugar no Campeonato Brasileiro regional, o 3º lugar no Troféu Brasil e ainda o 3º lugar no campeonato brasileiro por equipe.

Além de Juliana, o também judoca Hugo Peçanha, 22 anos, categoria médio (para ho-mens é de menos de 90 kilos), diz que ouve música por ser uma forma de se revigorar. “Entre uma luta e outra, o atleta vai se cansan-do, perdendo muito peso, ficando debilitado, e a música é uma maneira de dar um novo ânimo para prosseguir”, relata ele.

Conquistas de atletas que costumam ouvir “um som” antes das provas também são comuns na vida de Victor Bellizi, 25 anos, praticante de futebol-americano e jogador do Red Lions. Seu time foi vencedor dos Torneios de Saquarema, de Niterói e finalista do Carioca 2009. “Eu e meus colegas de time ouvimos música antes das partidas para nos motivarmos mesmo”. E acrescenta: “Eu gosto de ouvir rock pesado, outros preferem hip hop, mas nosso objetivo é ouvir para entrar pilhado. Qualquer tipo de esporte em que você possa ouvir música com esse objetivo é interessante”.

Técnicos têm opinião similar. Para Álvaro Sctenni, técnico de Jiu Jitsu, a música estimula os lutadores a desempenharem bem suas atividades. Ele se diz totalmente favorável a esta prática, mas faz uma consideração: “Depende um pouco de cada um. Há pessoas que preferem dar um treino

mais concentrado, sem música como estímulo. Mas a maioria já usa a música para fazer um treino mais forte e puxado. Eu, particularmente, acho que a música ajuda a estimular”.

Álvaro afirma que observa isso desde quando as academias começaram a utilizar rádios com música de hip hop e rock pesado para colocar um treino mais puxado ou fazer com que os esportistas consigam bons resul-tados. “Aconselho os técnicos que desejarem estimular os alunos para um treinamento mais forte que usem música, porque treino é uma coisa muito rotineira. Então, um estímulo a mais é sempre melhor”.

Carlos Eduardo de Castro Cappelli, tam-bém instrutor de Jiu Jitsu, concorda e reforça a idéia de se usar a música como motivador para se conseguir bons resultados. Ele cita o exemplo do vencedor da prova dos 5.000 met-ros (Tirunesh Digaba), que conseguiu superar seu recorde mundial a partir das batidas das músicas que ouvia, batidas estas que tentava acompanhar com passadas cada vez mais velozes e, com isso, mantinha o timing do ritmo da batida que ouvia.

Certos psicólogos, como Rita Cardoso, entretanto, são cautelosos: “Não há nada ci-entificamente comprovado no sentido de que a música ajude os atletas a obterem melhores resultados em competições”. Ela acrescenta que esporte está relacionado a uma vida mais saudável. Para uns, se faz necessário por pre-scrição médica, para outros, porque os faz se sentir bem e para alguns até mesmo pela vaidade com o corpo. Mas é preciso saber os limites de cada um e ter sempre acompanha-mento de profissionais. Afinal, música e esporte atraem milhares de pessoas por todo o mundo e sua união pode ser duradoura e render bons resultados. Os atletas que o digam.

"Há pessoas que preferem dar um treino mais

concentrado, sem música como estímulo. Mas a

maioria já usa a música para fazer um treino mais

forte e puxado"

Álvaro Sctenni

Antes das provas, portanto, ela gosta de ouvir músicas que passem calma e harmonia. Juliana enfatiza: “Durante a competição, meia hora antes mesmo, eu coloco meu MP3 e ficou ouvindo Trance, que me dá ânimo para competir e me dá mais vontade ainda de entrar e lutar”. Mas na hora do “vamos ver” gosta de ouvir algo bem agitado. O técnico de Juliana, André Silva, acha que isso faz muito bem a ela e não interfere em seus hábitos, pois acredita que cada atleta decide o que é melhor para si.

Juliana enaltece a iniciativa de se ouvir música aliada à prática esportiva e cita um

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BOLA E BEBIDAumA DIFíCIL PARCERIAJuliana Machado

Tudo começa na roda de amigos. O rapaz tímido do interior aos poucos é inserido em um novo mundo, cercado

de glamour, fama e ostentação. Logo, chegam as festas regadas a todo tipo de álcool e drogas. No dia seguinte, o corpo ainda combalido luta para estar de pé e cumprir a rotina de treinamentos. Essa história poderia ser de alguns gênios, como Heleno de Freitas ou Garrincha, dos talentosos estrangeiros George Best e Paul Gascoigne, ou ainda dos nem tão famosos assim, Ciel e Beto. Bebida e profissionalismo podem até caminhar juntos por um tempo, mas as conseqüências não tardam a aparecer.

Artilheiro dentro do campo e dono de um dos maiores contratos profissionais dos anos 40, Heleno de Freitas tinha seu nome citado das duras arquibancadas de cimento aos mais famosos bares da cidade. Sua vida fora dos campos se resumia à alta sociedade e a casos amorosos, sempre com a companhia constante do álcool. Acabou contraindo sífilis. Sem saber que estava doente, enlouqueceu aos poucos e terminou morto em um sanatório.

“Heleno é um personagem incrível, costumava mandar fazer seus ternos no mesmo alfaiate do presidente Getúlio Vargas. Uma de suas passagens mais interessantes foi jogando pelo Boca Juniors. No inverno de Buenos Aires ele apareceu para treinar bêbado e vestindo apenas um sobretudo, sem nada por baixo”, conta Marcos Eduardo Neves, autor de “Nunca Houve um Homem como Heleno”, obra sobre a vida do jogador, que vai virar filme, com o ator Rodrigo Santoro no papel principal.

Se Heleno tomava um copo aqui e outro ali, o que dizer de Manoel dos Santos, ou simplesmente Mané Garrincha. Nascido na pequena cidade de Pau Grande, o garoto de pernas tortas foi levado para o Botafogo de Futebol e Regatas com apenas 14 anos. O jeito simplório e até certo ponto tímido escondia o lado mulherengo e ao mesmo tempo solitário de Mané. A facilidade que tinha para driblar adversários não era a mesma que tinha para se desvencilhar do primeiro, segundo e terceiro goles.

Em 1963, em decorrência de uma artrose, sua vida futebolística começa a declinar. O alcoolismo já é então uma realidade. O fim da carreira, em 1973, decreta os dias difíceis da “Alegria do Povo”, alcunha dada pelos

jornalistas da época. Morre em 1983, vítima de cirrose hepática, sendo que antes já havia sofrido diversos acidentes de automóvel e tentado o suicídio. O caso de Garrincha é a exemplificação de como a bebida pode destruir gradativamente uma carreira brilhante.

A dependência alcoólica não estabelece fronteiras e suas vítimas estão também do outro lado do Atlântico, na terra da Rainha. Nascido na Irlanda do Norte, George Best foi um dos principais responsáveis pela conquista do primeiro título da Liga dos Campeões do Manchester United, principal clube inglês, em 1968. Tamanho feito o fez ganhar da mídia o apelido de “o quinto Beatle”. Bastaram as primeiras saídas dos pubs londrinos, porém, desgrenhado e com a cara amassada, para os tablóides britânicos o atacarem sem dó nem piedade.

A derrocada começava. Em 1974 deixa Manchester e vai para os Estados Unidos, participar da introdução do esporte no país. Com o bolso cada vez mais cheio, o alcoolismo apenas se agravou. Encerrou sua carreira futebolística em 1984, vencida pelas dezenas de garrafas que consumia e que lhe rendiam multas por chegar atrasado aos treinos. Em 1991 participa completamente embriagado de um debate esportivo ao vivo na BBC de Londres. Nem o transplante de fígado em 2002 fez diminuir seu vício. Morreu em 2005, vítima de complicações renais.

Ainda próximo ao palácio de Buckingham está o maior expoente do alcoolismo na história recente do futebol. Paul Gascoigne, camisa 10 da seleção inglesa em 1990. Altamente emotivo, sensibilizou o mundo ao chorar copiosamente em campo após receber um cartão amarelo na partida semifinal que o tiraria de uma possível final. A Inglaterra não se classificou e não tardou para que o temperamental atleta mergulhasse nos destilados e afins.

Em 19 de setembro de 2008, Gascoigne, hoje com 42 anos, foi fotografado tentando entrar em um bar fechado, além de afirmar ter falado com o Papa e com a Casa Branca por telefone. Em entrevista dramática a um jornal britânico, sua irmã pediu aos fãs que não convidassem Gascoigne para beber. É acusado de ter envolvimento com drogas e ter tentado o suicídio.

De volta ao Brasil, três casos chamam atenção. O personagem agora é Beto, campeão brasileiro pelo Botafogo, e que defendeu outros três clubes cariocas. Episódios como servir água em tulipas para jornalistas e entrar alterado em campo marcam a carreira do atleta, que sempre foi elogiado por sua capacidade física. Com 34 anos, o jogador não pensa em encerrar a carreira tão cedo. “Ainda me considero novo e penso em jogar mais três anos”, garante o jogador.

A boêmia, aliada à idade avançada, impede Beto de assinar um bom contrato, já que, além da preocupação com o rendimento em campo, existe o perigo da “contaminação” aos atletas mais jovens, que assistem esportistas com estabilidade financeira exibirem carros importados e serem vistos constantemente na vida noturna.

Por esse motivo, Somália foi expulso do Grêmio. O atacante estava levando jogadores da categoria de base, entre eles a jovem promessa Anderson, para a agitada badalação porto alegrense. Temendo pelo futuro de seus atletas, os dirigentes gaúchos decidiram rescindir o contrato com o atleta. Somália ainda é marcado pela curiosa história de que, mesmo com a perna engessada, freqüentava boates.

Embora o binômio álcool e futebol tenha seus males comprovados em longo prazo, o ex- diretor de futebol do Vasco da Gama e psicólogo formado, Paulo Angioni, afirma que a questão é subjetiva quanto ao rendimento, principalmente no que diz respeito à capacidade aeróbica do atleta. Segundo Angioni, em alguns casos, os jogadores não necessariamente ficam abaixo de seus companheiros. “Já tive jogadores que chegavam depois de noitadas e corriam muito mais do que outros que não tinham o mesmo costume”, afirma o ex-diretor.

O caso mais recente é do atacante Ciel. O atacante se transferiu no meio do ano para o Fluminense, vindo do modesto Ceará, da Série B. Com um passado recheado de problemas com a bebida, que ia desde brigas com uma antiga esposa ao constante atraso nos treinos, o atleta teve sua contratação ameaçada. Certa vez, Lula Pereira, então treinador, pediu que o ele não chegasse naquele estado. A solicitação, no entanto, foi em vão. No dia seguinte, o jogador chegou com um odor característico de quem está embriagado.

Casado novamente, Ciel não teve mais problemas e dá prosseguimento a sua carreira.

Outro prejuízo dos atletas vinculados à bebida é a imagem. Referência para milhares de crianças, atletas deploram suas imagens sendo flagrados com latas de cerveja ou em comemorações recheadas de álcool. Ronaldo Fenômeno, embaixador da UNICEF, se envolveu em um escândalo com travestis em motel na cidade do Rio. Outro caso é o de Adriano, o Imperador, afastado de seu clube, o Inter de Milão, por promover festas com direito a cigarros e muitos engradados de cerveja. Ambos pediram perdão aos fãs, se redimiram e voltaram a brilhar nos gramados.

Se, no futebol, um esporte coletivo, o jogador em sua plenitude física e técnica é capaz de suportar uma rotina desgastante de treino e boates, em esportes individuais a situação é exatamente o contrário. Ginastas como os irmãos Hipólyto, Daniele e Diego não podem se dar ao luxo de ir para noitadas e perder um treino de suas seis horas diárias. Diego, que é visto sempre em quadras de Escola de Samba, está sempre acompanhado de uma garrafa de água mineral. Já na natação, Mariana Brochado campeã Sul- americana é a chamada atleta modelo. Além da beleza física, é avessa a badalações, não fuma e não ingere quaisquer tipos de bebida. Sábia escolha para quem quer competir e vencer por muito tempo.

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ExCêNTRICOS ESPORTES Danielle Cristina Lourenço dos Santos

Futebol, vôlei, basquete. Esportes, certo? Sim, os mais conhecidos, mais adorados, mais praticados de todo o

planeta. Existem copas mundiais para as seleções nacionais de todos eles, fora o beisebol, nos Estados Unidos; o rúgbi, na Nova Zelândia e até mesmo a pouco conhecida bocha, esporte no qual o Brasil já foi campeão mundial. Mas o fato destes esportes serem os mais queridos, patrocinados e idolatrados não faz com que o lançamento de atum, o enlaçamento de ciclista, o boxadrez e o arremesso de anão sejam menos esportivos, não é?

Arremesso de anão? Isso mesmo! Esse esporte, também conhecido como lancer de nain, é originário da França e pouquíssimo difundido em terras tupiniquins. O “esporte” foi lançado como mais uma forma de entretenimento nas discotecas parisienses. Trata-se de usar uma pessoa de pequena estatura – um anão – como projétil. Obviamente, o arremessado conta com a proteção de um capacete e é lançado contra paredes acolchoadas. Vence quem conseguir jogar o coitado mais longe. Mas ninguém precisa bradar palavras de ordem em favor dos direitos humanos. “A prática foi proibida em 1991, depois de decisão tomada pelo Tribunal Administrativo de Versailles”, conta Edilson

Pereira Nobre Júnior, juiz federal e autor do artigo “O Direito brasileiro e o princípio da dignidade da pessoa humana”.

Alguns estados americanos, como a Flórida, consideram a possibilidade de legalizar novamente a insólita atividade, depois de quase 20 anos de proibição. “Por mais que a Lei não preveja, especificamente, esse caso, há que se observar os Direitos Humanos. Os anões em questão estariam sofrendo humilhação pública, por mais que dissessem estar de acordo com tal feito, além dos riscos à sua integridade física”, afirma o juiz Pereira Nobre.

Menos polêmico, mas não menos estranho, é o enlaçamento de ciclistas, esporte muito

praticado na Espanha. Talvez motivados pelo espírito de solidariedade com os bovinos, pouco a pouco, os espanhóis parecem substituir a tourada pelo enlaçamento de ciclistas. As regras são simples (e parecidas com as do primo sanguinário): os alvos pedalam, como se estivessem em uma corrida normal, enquanto os competidores, munidos de correntes, tentam enlaçá-los e derrubá-los das bicicletas.

Curiosamente, a prática ficou bastante conhecida nos anos 90, nos Estados Unidos, como forma de ajudar as crianças a pedalarem com mais segurança. A vertente educacional do enlaçamento de ciclistas se chama bike rodeo e trata-se de fazer com que os mini-ciclistas pedalem amarrados a uma corda segura por um instrutor, o que acaba por controlar sua velocidade. “Ninguém nunca morreu por não saber como jogar bandeirinha. Ainda assim, pagamos para que as crianças aprendam a não se machucar durante as aulas de Educação Física, enquanto a segurança ao pedalar é ignorada pela maioria das escolas”, comenta Don Cuerdon, ciclista profissional norte-americano. “É um método visto como rude no Brasil e acho que não poderíamos aplicá-lo por aqui. Contei a idéia para uma amiga minha que é professora de ginástica e ela disse que as crianças seriam encoleiradas como cachorros e que isso era um absurdo. Nos Estados Unidos é muito normal”.

De volta aos arremessos, a Austrália é outro país que abriga um excêntrico esporte. Anualmente, acontece o Campeonato Mundial de Lançamento de Atum à Distância (Tuna-Tossing World Championship), sediado pela pequena cidade de Port Lincoln, sul da ilha. O esporte foi criado em 1962 como uma mera brincadeira e hoje atrai cerca de 20 mil turistas à cidadela, graças ao campeonato. A atividade consiste em segurar um peixe congelado pesando cerca de dez quilos pelo rabo e lançá-lo o mais longe possível. O recorde mundial pertence ao ex-campeão olímpico de arremesso de martelo Sean Carlin, que lançou, em 1998, um peixe à distância de 37,23 metros.

Apesar do cheiro não muito agradável do equipamento utilizado, as crianças também entram na brincadeira. Durante a Tunarama, feira na qual acontece o Campeonato Mundial, há duas categorias competitivas para os pequenos: o lançamento de cavala e o lançamento de camarão, para as crianças ainda menores, de até 5 anos. Há também as categorias amadora, sênior e feminina, da qual participa Faye Grey, 46 anos, dona-de-casa neozelandesa que sai

de Auckland há oito anos para participar da competição. “É divertidíssimo! Além da disputa, a feira é muito agradável. Vem gente do mundo inteiro assistir às competições. Eu, como sempre tenho estudantes de intercâmbio em minha casa, costumo trazer um ou dois por ano comigo”.

Um pouco mais conhecido, principalmente após exibição na lâmina higiênica de bandejas da rede de lanchonetes Mc Donald’s, é o boxadrez, ou boxe-xadrez. Como diz o nome, o esporte é nada mais nada menos que uma peculiar combinação de enxadrismo com pugilismo. Sua primeira aparição data de 1992, na novela Froid-Équateur, do cartunista

francês Enki Bilal. O que era para ser apenas uma ilustração cômica tornou-se real em 2003, quando o excêntrico artista performático holandês Iepe Rubingh promoveu a primeira partida-luta de boxadrez.

O esporte exige que os atletas tenham habilidades tanto físicas quanto intelectuais, uma vez que se deve jogar xadrez por quatro minutos e lutar boxe por mais quatro, sucessivamente, até que haja um nocaute. Ou um xeque-mate, o que

vier primeiro. O jogo tornou-se incrivelmente popular, principalmente na Alemanha, onde acontece a Copa Mundial de Boxadrez (Chess-Boxing World Cup) que tem, como atual campeão, o estudante de matemática russo Nikolai Sazhin, de apenas 19 anos.

Por mais exóticos que pareçam, todos esses são considerados esportes, têm suas ligas particulares, praticantes e amantes incorrigíveis. Fica somente a dúvida de se e quando esses esportes farão parte de competições internacionais de grande porte, como, por exemplo, as Olimpíadas. Você consegue imaginar o Brasil ganhando uma medalha de ouro em Arremesso de Anão?

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SONhOS DO jOvEm ATLETA BRASILEIRORaphael Abreu de Andrade

Ele tem apenas 7 anos, mas já tem sonhos, e o maior de todos eles é ser um jogador de futebol. E não é

um jogador qualquer. Quer ser renomado, artilheiro e de preferência do Botafogo, clube do coração. Acompanha todos os jogos de seu time, conhece cada jogador e tem a convicção de que fará muitos gols, aleg-rando a torcida, como seu ídolo Wellington Paulista. Essa é a história de Arthur Cesar, uma entre tantas crianças e jovens que têm o desejo de se tornar um atleta de sucesso num país como o Brasil.

País que não é pobre na quantidade de talentos. Pelo contrário, é riquíssimo, mas nem sempre sabe ou consegue aproveitá-los de maneira positiva. Um das iniciativas que visa apoiar essas promessas do esporte é o Projeto Segundo Tempo, do qual Arthur faz parte. Esse programa é uma parceria do governo do Estado do Rio de Janeiro com as escolas públicas e funciona da seguinte forma: o aluno deve estar matriculado na escola pública, escolhe uma das modalidades contempladas pelo projeto - handball, vôlei, futebol, entre outras - e tem a oportunidade de fazer aulas em escolinhas particulares duas vezes na semana. Arthur, por exemplo, tem aulas de futebol no Social Ramos Clube, clube particular localizado em Ramos. Mãe do menino, a operadora de atendimento Ana Claudia demonstra claramente sua insatisfa-ção por não conseguir proporcionar mais do que queria ao seu filho “É meio complicado, pois para atender às expectativas dele, o ideal seria treinar cinco vezes na semana. Sei disso porque o acompanho e vejo as técnicas que ele aprende lá, mas não tenho condições financei-ras para pagar a aula para ele”, lamenta.

Essa questão financeira é bastante com-plicada, delicada e atinge grande parcela das famílias brasileiras. E esse é um dos empecil-hos para o futuro de um atleta, pois, para os jovens que optam pela carreira de esportista, a vida começa cedo, é uma eterna “peneira” e é preciso abdicar de muitas coisas em prol do esporte. Ao fim dessa mudança de vida, após uma infância e uma adolescência de muito estudo e treino, o jovem pode não ter mais condições de dar prosseguimento à carreira pela ausência de recursos financeiros, como revela o coordenador técnico do Centro de Treinamento do Célio de Barros e treina-dor da Equipe de Atletismo da Mangueira,

Guilherme Erbesdobler. “A maioria desses jovens, quando chega aos 20 anos, se não conseguir nada, acaba desistindo. Não tem como tirar do bolso e são poucas as equipes que patrocinam os atletas com bolsas. Mesmo assim, quando chega a fase ‘adulta’, esse benefício acaba e eles vão trabalhar em outra área”, conclui ele, que também é palestrante da Federação Internacional.

As bolsas citadas pelo professor Guil-herme realmente existem, mas poucas equipes de atletismo são contempladas com elas. São patrocínios que servem como incentivos tanto na área da educação quanto no esporte. Crianças e jovens recebem, mensalmente, um valor que gira em torno de 20 a 30% da renda familiar. Para isso, eles devem estar comprometidos com o estudo e com a carga de treinos, que é de cinco vezes por semana. No Rio de Janeiro (considerado o segundo pólo do Brasil em termos de investimento, só perdendo para São Paulo), há no máximo seis equipes da modalidade agraciadas com a bolsa. Entre eles, a própria Mangueira, a Silveira Sampaio (de Curicica) e o Núcleo Arnaldo de Oliveira (presidido pelo ex-atleta e hoje coordenador de atletismo do Miécimo da Silva e fisioterapeuta da Federação Estadual de Atletismo que dá o nome ao Núcleo).

O investimento, porém, ainda é precário na visão de atletas e profissionais da área. Para Guilherme, que também é ex-atleta, o Rio estar em segundo lugar neste quesito e ser ainda um Estado de pouco crescimento mostra a precariedade do país neste setor. “Só essas bolsas não adiantam e, mesmo assim, são para poucos”, reclama. Erbesdobler aproveita para alfinetar a Confederação Brasileira de Atletismo (CBAT). “Estamos aguardando a verba e aprovação do novo regulamento do Centro de Treinamento há muito tempo. A CBAT só ajuda os atletas nas competições estaduais, o restante é só com verba própria e até temos contribuição das corridas de rua. Precisamos do novo regulamento logo para podermos cobrar mais, igual multa no trân-sito. Assim não conseguimos nem manter os atletas top”, critica o coordenador. Ele, que trabalha diariamente com 100 a 150 jovens por turno, aproveita para enaltecer o trabalho de São Paulo e apresentar uma triste constata-ção “São Paulo tem tudo melhor porque as prefeituras investem no esporte. Para se ter uma ideia, os Jogos Abertos do Interior em SP tiveram mais atletas do que os enviados para a Olimpíada pelo Brasil. As crianças aqui não

têm um ídolo local, precisam buscar lá fora. A que mais se aproxima do convívio delas é a Fabiana Mürer”, conclui.

Atletas de clubes, como Vasco e Flumin-ense, por exemplo, têm as mesmas dificul-dades de atletas de comunidades, a diferença é que a estrutura é um pouco melhor. No Clube de Regatas Vasco da Gama há uma escola para jovens atletas de diversas modalidades. A treinadora de Atletismo do clube, Solange Costa, informa como funciona o planejamento “Eles estudam dentro do Vasco, depois treinam lá mesmo e alguns dias treinam no Célio de Barros com o restante das equipes”, conta. A psicóloga da categoria infantil de futebol, Ma-rina Fonseca, relata que o grupo com que ela trabalha deve ter muita “cabeça” para driblar as adversidades do dia-a-dia. “Os atletas têm entre 14 e 15 anos e são testados o tempo todo. A cada mudança de categoria, centenas ficam para trás. O futuro para eles é incerto, tudo pode acontecer. Desde uma lesão que os tire dos treinos até a desistência por parte do clube em investir neles”. Marina ressalta ainda outro fator determinante na trajetória desses jovens atletas: a família. A participação da família é muito importante, seja para o lado positivo quanto para o negativo, e pode influenciar até sua vida pessoal. “A frustração pela qual grande parte destes atletas passa, muitas vezes, não é levada em conta pelos pais, o que pode vir a impactar futuramente em sua vida”, afirma a psicóloga.

O professor de Educação Física Júlio Gomes compartilha a mesma opinião e ainda acrescenta: “Trabalho com muitos jovens, muitos oriundos de comunidades. Não podemos generalizar, pois depende da ‘ra-diografia’ da comunidade. Mas assim como há pais presentes, que apóiam, incentivam; há os que criam confusão, sempre gerando um transtorno, e aqueles que ‘largam’ o filho no mundo. Cabe a nós, profissionais, mostrarmos o caminho para eles seguirem”, explica o professor.

As adversidades existem e não são poucas, mas os jovens procuram sempre acreditar em seus sonhos. Felipe Pacheco, atleta do Salgueiro, começou tarde a carreira e nunca viu isso como um obstáculo para seus planos. Corredor dos 400m livre e com 23 anos, atualmente, Felipe começou há dois anos no Atletismo e aposta que pode alçar vôos mais longos. “Acredito no meu potencial, apesar de a minha equipe estar quase acabando (por falta de verbas) e da minha idade, considerada

avançada. Ainda acho que consigo uma vaga em uma equipe forte e, quem sabe, um dia, conquisto uma medalha olímpica”.

Atleta da categoria Sub-23 em sua modali-dade, Felipe tem plena consciência de que a importância dos estudos, o apoio da família e do treinador são fundamentais para o sucesso de um campeão. “Sempre trabalhei e estudei. Hoje curso Educação Física, graças a uma bolsa que ganhei por meio do esporte e ao apoio dos meus pais e do meu treinador. Aliás, a presença do técnico é de vital importância. Ele é quem dá uma palavra, corrige os erros e apóia nos momentos difíceis do treina-mento”, completa. Além disso, ele tem como ídolo um atleta pouco conhecido, mas de um exemplo para ele muito valioso: “Admiro muito o Claudemir Nascimento dos Santos, velocista para-olímpico que foi medalhista na última Olimpíada. Ele é um cara já com 34 anos, sempre foi correto em sua carreira. Nunca soube de nenhuma besteira que ele fez na vida, como o Romário, por exemplo”, enaltece Pacheco.

O fator sorte também existe no meio esportivo, principalmente para o jovem que ainda busca sua afirmação. O caso do jovem Léo Silveira, 16 anos, é um bom exemplo disso. Desde criança, Léo joga futsal e, numa partida válida pelo Campeonato Inter-colegial, um olheiro o viu e o levou para Cabo Frio, na Região dos Lagos do Rio. Ele está lá até hoje, tem moradia, alimentação e algum conforto dentro do próprio clube. Foi preciso se afastar um pouco da família, namorada, festas (tudo que faz parte da vida de um adolescente) em prol do futuro que ele escolheu, mas nada que o desanimasse. “Claro que senti um pouco no início, mas faz parte. Fui para lá sabendo de tudo e isso era o mais importante. Aquela ‘choradeira’ do primeiro dia se transformou nos muitos sorrisos de hoje”, emociona-se Léo. Só houve progressos em sua carreira. Ele agradece e espera um crescimento cada vez maior. “Hoje disputo as Ligas Estadual e Nacional de igual para igual com as grandes equipes. Um dia, quem sabe, não visto a ‘Amarelinha’ e serei um novo Falcão”, diz ele, fazendo alusão ao craque do futsal brasileiro. A história de Léo pode servir de exemplo para todos os atletas e para aqueles que almejam um dia ser reconhecidos pelo seu trabalho. As dificuldades não cessam, mas o sonho, a vontade e a determinação de jovens como ele também não.

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