Bárbara Maix em Porto Alegre

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Trajetria de Brbara Maix, em Porto Alegre 1856 a 1870 14 anos Congregao das Irms do Imaculado Corao de Maria a 1 no Estado/RS A fundadora da Congregao das Irms do Imaculado Corao de Maria, Brbara Maix, austraca de nascimento, foi quem viabilizou a chegada da primeira Congregao Religiosa feminina, no Rio Grande do Sul. Brbara Maix chegou ao Brasil em 1848, e fundou a Congregao, no Rio de Janeiro, no dia 08 de maio de 1849. Pelotas - 1855 Atendendo ao pedido da diretoria do Asilo Nossa Senhora da Conceio, da cidade de Pelotas, Brbara enviou, do Rio de Janeiro, duas Irms, para atenderem as meninas rfs daquela casa assistencial. As Irms chegaram em setembro de 1855. Seu trabalho tornou-se conhecido. Era elogiado e comentado pela imprensa local. Porto Alegre - 1856 Foi assim que, tendo ouvido boas referncias sobre o trabalho das Irms nos asilos de Niteri/RJ e na vizinha Pelotas/RS, a Diretoria da Santa Casa de Misericrdia, de Porto Alegre, solicitou a Madre Brbara, que enviasse Santa Casa, algumas de suas Irms, para atenderem as crianas da Repartio dos Expostos (crianas que eram deixadas na Casa da Roda). Madre Brbara, julgando ser esta a expresso da Vontade de Deus, aceitou a proposta. Estava no Rio de Janeiro e quis viajar pessoalmente a Porto Alegre, antes de assumir o compromisso. No dia 14 de outubro, Brbara e as Irms Jacinta e Angela embarcaram no vapor Tocantins, no Rio de Janeiro, com destino a Pelotas, em visita s Irms daquela comunidade. De l, partiram para Porto Alegre, no dia 20 de novembro de 1856. Chegando, foram recebidas, no cais, por alguns mesrios da Santa Casa e alojadas na Casa da Roda. Aps entendimentos com a referida Diretoria e, tendo analisado as instalaes que seriam destinadas ao atendimento das meninas, Madre Brbara julgou que o mesmo no era suficiente, e exigiu espao mais amplo, que possibilitasse um atendimento digno, conforme a condio das meninas. No o tendo conseguido, tratou de procurar outro lugar. No prdio do Carmelo 1856 Depois de hospedar-se por alguns dias na Santa Casa de Misericrdia, Brbara e as duas Irms encontraram acolhida no prdio do Carmelo, que estava em construo. As Irms eram muito pobres. Sua riqueza consistia em confiar-se plenamente a Deus, e buscar, sempre e em tudo, fazer a Sua Vontade. No lhes sendo permitido permanecer mais tempo, ao sair do Carmelo, foram morar nas casas da Rua da Igreja, propriedade dos herdeiros de Jos Simo de Oliveira. Asilo de Santa Leopoldina - 1857 A Diretoria da Santa Casa, porm, face urgente necessidade de criar um asilo que atendesse s meninas da Repartio dos Expostos, apresentou a questo Assemblia Legislativa. Esta aprovou o projeto e, no dia 12 de janeiro de 1857, o Presidente da Provncia decretou a criao de um asilo para meninas desvalidas e expostas, da Santa Casa. Um administrador, designado pelo mesmo Presidente da Provncia, cuidaria da manuteno, enquanto era confiada s Irms do Corao de Maria, a administrao interna do asilo. Madre Brbara alugou uma casa do Baro do Jacu, na Rua Duque de Caxias, perto do projetado asilo e para l se transferiram, a fim de preparar toda a roupa para as rfs e para o asilo. Tratava-se, porm, de escolher o prdio em que se instalaria o asilo. Foi proposto que fosse instalado em uma pequena casa, junto Santa Casa. As Irms foram convidadas a

examin-la. Esta igualmente foi julgada pequena e imprpria para a finalidade. O mesmo Presidente da Provncia julgou, tambm, que o ambiente, perto do Hospital, no seria favorvel educao das rfs. Foi alugada, ento, a casa do falecido Simo de Oliveira, na Rua Duque de Caxias, esquina com a Rua Joo Manuel. O Presidente da Provncia mandou fazer as reformas necessrias na casa, nomeou uma comisso para elaborar o regulamento do asilo e ordenou que as Irms preparassem as roupas para 40 rfs. Deviam preparar vrios vestidos para todas elas, e toda a roupa de cama e de casa: 40 colches, 40 colchas, cerca de 100 lenois, toalhas para o refeitrio e toda a roupa para a capela. Para desincumbir-se da tarefa, trabalhavam noite, luz de velas. Madre Brbara precisou pedir ao Presidente o tecido para a confeco do vesturio e de tudo o mais que era necessrio para as 40 meninas. Como houvesse muito trabalho no asilo, Madre Brbara providenciou a vinda de mais duas Irms, do Rio de Janeiro: Ana do Menino Deus e Isabel do Precioso Sangue. O Asilo de Santa Leopoldina foi inaugurado no dia 07 de setembro de 1857. O ato ocorreu na sala de sesses da Diretoria da Santa Casa. As cinco Irms estavam presentes. Foi lida e assinada a ata de entrega do Asilo Santa Leopoldina, s Irms do Sagrado Corao de Maria. A seguir dirigiram-se ao Asilo, em procisso, as 26 meninas expostas, vestidas de branco, e acompanhadas pelas Irms. L, o Vice Presidente entregou as chaves do Asilo, e as 26 meninas expostas Madre Fundadora, com palavras alusivas ao ato, a que ela respondeu. Segundo o Regulamento, o Asilo somente podia receber as expostas da Santa Casa e, destas, somente dos 5 aos 13 anos de idade. At essa idade, as crianas deixadas na Casa da Roda eram mantidas pela Santa Casa, num anexo denominado Repartio dos Expostos. O trabalho das Irms era mantido pelo governo da Provncia, de quem dependiam o aluguel, o dinheiro para as compras, a manuteno, a indicao do Administrador. Consta que o salrio para a manuteno das trs Irms que atuavam no asilo era de insignificantes 10$000 (dez mil reis), e que, para terem o que vestir e calar, para si e para as rfs, deviam solicitlo, em ofcio, ao Presidente da Provncia. Haviam chegado do Rio de Janeiro mais duas Irms. E vrias jovens estavam solicitando para ser admitidas na Congregao. Madre Brbara decidiu transferir para Porto Alegre o Noviciado. Para essa finalidade, puseram-se procura de casa. O Presidente da Provncia, por sua vez, adiantou-se em escrever ao Administrador do Asilo, ordenando que no permitisse que as duas Irms e as jovens se hospedassem no Asilo. Nessa poca instalou-se um conflito entre o Presidente da Provncia, o Administrador do Asilo e Madre Brbara. As razes foram, especialmente, os gastos na compra dos tecidos, a proibio de hospedar Irms no asilo, as exigncias do regulamento do asilo no respeitavam as normas internas da Congregao, o tipo de educao que ministravam. Existem vrias cartas escritas por Brbara para as autoridades, e dessas, para Brbara. So desse contexto os seguintes escritos de Brbara ...no creio haja autoridade na terra que me possa obrigar a fazer coisa alguma contra a minha conscincia. No somos escravas, Sr. Administrador, somos livres por Misericrdia de Deus... (1857) e Deixaremos o asilo e Deus velar por ns. (1857) Madre Brbara no alimentava esperanas de prosperidade nessa situao e tratou de conseguir existncia independente. No vero de 1858, decidiu abrir um pensionato na casa por elas alugada, prxima ao Asilo. E ali iniciaria tambm o Noviciado. Noviciado em Porto Alegre - 1858 No dia 05 de abril de 1858, Madre Brbara admitiu ao Noviciado as jovens Rita Escolstica e Emlia Pereira da Silva, as duas primeiras vocacionadas de Porto Alegre. Como, na poca, havia proibio de admitir novias, o Presidente da Provncia viu-se obrigado a mandar ao Asilo o Delegado de Polcia com um escrivo, a fim de proceder a um inqurito. Madre Brbara foi interrogada sobre as condies do estabelecimento, sobre a sade das

meninas, sobre o regulamento, sobre a educao ministrada, se as rfs estavam contentes, sobre as oraes, sobre as pregaes do capelo, sobre a admisso das duas novias, sobre o nmero de meninas e de Irms que estavam no asilo, entre outros. Asilo prprio e pensionato - 1859 Em dezembro de 1859, as autoridades decidiram transferir o Asilo de Santa Leopoldina para um local mais distante, chamado Caminho Novo (Voluntrios da Ptria). Madre Brbara, porm, permaneceu no local onde estava, com as Irms e algumas rfs que no quiseram separar-se delas. Ali iniciou um asilo prprio e um pensionato. Vrias das senhoras que prestavam servios ao Asilo Santa Leopoldina, aps a transferncia do mesmo, deixaram de faz-lo, alegando dificuldades relacionadas distncia. E passaram a colaborar com o asilo e pensionato de Madre Brbara. Em janeiro de 1863 as Irms que estavam no Asilo Nossa Senhora da Conceio, na cidade de Pelotas, foram exoneradas de suas funes. A razo de tal exonerao foi a fobia antimonstica de integrantes da Diretoria do Asilo. Retiraram-se daquela cidade e chegaram a Porto Alegre, em nmero de onze. Como conseqncia, a comunidade de Brbara tornou-se mais numerosa. Duas Irms foram enviadas a Niteri. Por sua vez, o Sr. Bispo de Porto Alegre, Dom Feliciano Jos Rodrigues Prates, percebia a necessidade de mais um asilo para receber um nmero maior de rfs. E havia muitas, como conseqncia da epidemia do clera e tambm da guerra com o Paraguai. O asilo de Madre Brbara era pequeno e insuficiente. Como tivessem chegado as Irms que saram da cidade de Pelotas, havia condies de ampliar o asilo e, desta forma, atender a um nmero maior de meninas. Enquanto Brbara e suas Irms buscavam concretizar a ampliao, a Divina Providncia, em quem Brbara sempre confiara, tornou isso possvel. Em 1858 havia falecido Dona Teresa Joaquina de Carvalho uma senhora portuguesa, que no deixou herdeiros. Destinou, em testamento, um prdio na Rua da Ponte (Riachuelo), sob a responsabilidade do Sr. Bispo da Diocese de Porto Alegre, e dos seus sucessores. O imvel deveria ser destinado a um Asilo. Em troca, pediu apenas para que, aps a morte, fosse vestida com o hbito de Santa Catarina de Sena. O Sr. Bispo, porm, faleceu no dia 27 de maio de 1858. A carta testamento deveria ser entregue ao seu sucessor, o que ocorreu somente em 1861. Asilo Providncia Na Rua Riachuelo - 1863 Tendo chegado a Porto Alegre, o novo Bispo, Dom Sebastio Dias Larangeira, tomou a iniciativa de destinar o imvel ao que estava destinado. Decidiu fundar um novo Asilo. Confiou a parte econmica s Mes Crists, e a educao das rfs, s Irms do Corao de Maria. O novo Asilo, denominado Asilo Providncia teve a sua inaugurao no dia 23 de agosto de 1863, na Capela das Irms do Corao de Maria. O Sr. Bispo entregou-o aos cuidados da Madre Brbara e de suas Irms. No mesmo ato, as Mes Crists apresentaram ao Sr. Bispo dez meninas, para que fossem admitidas. O Asilo Providncia foi se tornando um centro de irradiao crist em torno da residncia das Irms. A obra hoje conhecida como Instituto Providncia e situa-se na Rua Demetrio Ribeiro, 594, Nesta Capital. Guerra do Paraguai - 1865 Com o incio da Guerra do Paraguai, Madre Brbara ofereceu ao Estado o trabalho gratuito de suas agulhas para manufaturarem fardamento e demais misteres... enquanto durar a necessidade urgente do Exrcito. Brbara ofereceu, igualmente, seus servios e de suas Irms para cuidarem dos soldados feridos na guerra. O Presidente da Provncia confiou-lhes uma das enfermarias improvisada, fora da Santa Casa. Comunidade de Porto Alegre - 1870 Em 1869 o proprietrio da casa da Rua da Igreja, decidiu reformar o imvel. As Irms, portanto, deviam sair. Madre Brbara quis comprar uma casa. Teria sido a primeira

propriedade da Congregao. No conseguiu reunir o valor necessrio. A Diretoria do Asilo tambm no contribuiu, e a casa no pode ser adquirida. Com a ajuda do Bispo, alugaram outra casa na Rua da Ponte (Riachuelo), ao lado de onde est, atualmente, o Instituto Corao de Maria. Em maro de 1870 havia, em Porto Alegre, 18 Irms, sendo 07 brasileiras e 11 estrangeiras. Havia 20 alunas internas. Nesse mesmo ano, o Pe. Joo Francisco de Siqueira Andrade fundou a denominada Escola Domstica Nossa Senhora do Amparo, na cidade de Petrpolis, RJ. Tendo sido informado do trabalho das Irms do Corao de Maria, com as rfs, decidiu pedir Madre Brbara que enviasse algumas de suas Irms para assumir aquela escola. Madre Brbara, aps informar-se das condies de funcionamento da escola, decidiu aceitar. Visita Pastoral na Comunidade de Porto Alegre - 1870 O descontentamento que j reinava entre algumas Irms da Comunidade de Pelotas vinha influenciando vrias das que estavam em Porto Alegre. Graves acusaes haviam sido formuladas por essas Irms, contra Brbara, e manifestadas, por escrito, ao Sr. Bispo e a alguns sacerdotes. Tais acusaes provocaram a visita e interveno do Sr. Bispo, na Casa da Congregao. A visita Pastoral teve incio no dia 21 de dezembro de 1870 e culminou com a alterao de 16 captulos da Constituio da Congregao, que havia sido elaborada por Brbara. No dia 28 de dezembro, Dom Sebastio ordenou que as modificaes por ele elaboradas fossem obedecidas pelas Irms existentes e as que viessem a existir. Nomeou nova superiora e nova mestra de novias, sem levar em considerao o que Brbara desejava, como Fundadora. Esse ato significou a deposio de Madre Brbara, de sua funo de Superiora Geral da Congregao. Em razo das acusaes, Madre Brbara foi desprezada e maltratada de todos os modos possveis, pelas suas prprias Irms. Apesar de todo o sofrimento que a situao provocou no corao de Brbara, ela mostrou-se sempre maternal e pronta a perdoar suas filhas. Mais tarde escreveu: O estado de nimo das minhas filhas pelas quais eu estaria pronta a dar o meu sangue e a minha vida penetrou profundamente em minha alma... Deus todo poderoso e somente Ele pode mudar tudo e dirigir tudo como quer que seja a nossa Congregao... (1871) Alcanou o pice da Caridade quando, sem revoltar-se, foi coberta pelas crticas e ferida pela traio: sempre pronta a perdoar e a oferecer reconciliao, dizendo sou vossa me at minha morte (Congresso dos Telogos Roma). Despedida de Porto Alegre - 1870 No dia 31 de dezembro de 1870, Madre Brbara despediu-se de Porto Alegre, com destino a Petrpolis. Levava consigo quatro Irms: Isabel, Maria de Jesus, Teresa e Estanislau. Chegaram ao Rio de Janeiro no dia 08 de janeiro de 1871. No dia 10, chegaram em Petrpolis onde, no dia 22, assumiram a Escola Domstica Nossa Senhora do Amparo. No levou muito tempo para se comprovar que as acusaes contra Madre Brbara haviam sido caluniosas. Cartas escritas diretamente a ela, e que no foram tornadas conhecidas, enquanto vivia, provam o quanto Madre Brbara sofreu calada, e buscou assemelhar-se a Jesus. Isso comprovado no elogio fnebre composto pela Irm Jacinta (a mais rebelde), ao receber a notcia da morte de Brbara (1873). Brbara escreveu vrias cartas s Irms de Porto Alegre, no tempo em que estava em Petrpolis. So dessa poca as afirmaes: A mim, tudo pode opor-se e me afligir... Deus seja bendito. (1871) e podem tirar-me tudo, mas no o ser vossa me, e o corao de me. (1872) Eu me calei, mas Deus defender a si mesmo... Ele mostrar bem claro o que at agora estava oculto e s eu sabia. (1871) Rezo e peo a Deus por todas! Perdo de todo o corao a todas (1872). Seus escritos revelam a vivncia heroica das virtudes. Toda essa sabedoria, aprendese na escola da Santa Cruz, escreveu em (1871).

Barbara viveu 14 anos em Porto Alegre. Foram anos marcados por sacrifcios, provaes, trabalho, dedicao, diferentes iniciativas em favor das rfs, dos soldados, da sade. No faltou o sofrimento, a cruz, a oposio, mas ela tinha o olhar sempre atento realidade, Palavra e Vontade de Deus, e por isso nunca desanimou. Caminhava, de um lugar para outro, sem lugar fixo, sempre buscando melhor servir aos pequenos e pobres, pois sabia que, neles, era ao prprio Cristo que servia. A Obra dEle... e Ele sabe tirar o bem do mal (1872) Faleceu no Rio de Janeiro, no dia 17 de maro de 1873. Seus restos mortais encontram-se na Capela So Rafael, em Porto Alegre, na Rua Riachuelo, 508. Porto Alegre, 08.08.2010 Sntese elaborada por Ir. Gema Tonial Fonte: Bortoluzzi, Pe. Octavio Cirillo - Documentrio 2 edio- 1996 Correspondncia de Brbara edio 2008