BARBOSA MOREIRA, José Carlos; A Constituição e as provas ilicitamente obtidas

Embed Size (px)

Citation preview

  • 5/15/2018 BARBOSA MOREIRA, Jos Carlos; A Constitui o e as provas ilicitamente obtidas

    1/10

    1 1 1 1 1 1 ~

  • 5/15/2018 BARBOSA MOREIRA, Jos Carlos; A Constitui o e as provas ilicitamente obtidas

    2/10

    nao ser assim, ficaremos, como de costume, reduzidos ao cotejo de me-ras impressoes subjetivas, sern nenhum peso cientifico.

    De qualquer maneira, trata-se de modificacao significativa pelo as-pecto que aqui particularmente interessa. Incorreriamos em manifestoexagero se a apresentassernos como urn avanco decisivo no caminho daunificacao do processo no mundo ibero-americano. De r es to , nao obstantea elevada inspiracao de tal proposta, quer-nos parecerque, ao menos nasatuais circunstancias, ela excede claramente os lindes da viabilidade pra-tica. Nao se trata de pessimisrno, senao de puro e simples realismo.Tampouco ha inferir deste nosso entendimento fal ta de simpatia peloprojeto, nem pelos ex it os p a rc ia is e paulatinos que ele possa vir a aIcan-car, Apenas na o desejamos iludir-nos com falsas esperancas.o importante e sabermos em que d ir ec ao t er no s de marchar. Quenos movamos com maior au menor rapidez e coisa que depende de nu-merosos fatores, suscetiveis de mudar com 0 tempo. Em todo caso, naodeixa de ser uti l a todos 0 conhecimento reciproco das experiencias ten-tadas, sejam quais forem - mais oumenos compensadores - osresul-tados colhidos. No tocante a consagracao de urn procedimento por au-diencias, tivemos ensejo de indicar as questoes fundamentais, ao diag-nosticar as principals causas das dificuldades encontradas no Brasil (su-pra, nQ 4): para garantir 0 exilo da empresa, sera preciso, entre outrascoisas, aurnentar 0 ruirnero de jufzes, melhorar as condicoes de trabalhono campo judicial, incrernentar 0 emprego da moderna tecnologia, pro-porcionar aos litigantes maior facilidade de acesso as sedes dos juizos,dar preparacao adequada a todos quantos hajam de participar da ativida-de a realizar-se na audiencia, Fica evidente que na o basta a transforma-'rao dos elementos extrinsecos: tern de acompanha-la uma autenticamudanca de mentaiidade. D iff cil? S im , I mp os siv el? N ao .

    J a . se disse e repetiu muitas vezes que toda viagem, longa que seja,sempre comeca por urn pequeno passo. NaQ ha supor que aqui se abraexcecao a essa regra. Valorizemos os pequenos passos; eles talvez nosconduzam, urn dia, a suspirada meta.

    Julho de 1995.

    106

    A CONSTITUI

  • 5/15/2018 BARBOSA MOREIRA, Jos Carlos; A Constitui o e as provas ilicitamente obtidas

    3/10

    A regra e a admissibilidadc das provas: e as excecoes precisam sercumpridamente just ificadas, par alguma razao relevante. Esse 0 princi-p io fundamenta l, que se refl ete , por exemplo, na propensao dos moder-nos ordenamentos processuai s pa ra abandonar , na mate ria, a tecnica daenumeracao taxativa e permitir que, alern de documenlOS, depoimentos ,pericias e outros meios t radicionai s, em geral minuciosamente regula-dos ern textos legai s espedficos, se r ecorr a a exped ientes nao previ stosem tennos expressos, mas even tualmente id6neos para mini st rar ao juizinformacoes uteis a reconstituicao dos fatos (provas "atipicas"}'.2. Por outro lado, convem ter presente que no dire ito em geral, e noprocesso em especial, e sempre impntdente e as vezes muito danosolevar as u ltimas consequencias, como quem dirigi sse vefculo sem fazerusa do freio, a aplicacao rigorosamente 16gica de qualquer principio.Desnecessarto frisar que os p rinc ipios processua is estao longe de confi-gurar dogmas rel igiosos. Sua signif icacao e essencialmente instrumen-tal: 0 l egi sl ador adota -os porque ere que a respec tiva obse rvanc ia f aci -I itara a boa administracao da jus tica. Eles merecem reverencia na medidaem que sirvam a consecucae dos f ins do processo, e apenas em tal medida.

    Adernais, com rnuita freqiiencia hao de levar-se em consideracao,ao mesrno tempo, dois ou mais princ ipios ordenados a proteger va loresigualmente importantes para 0 direito, mas suscetiveis de achar-se emreciproca oposicao. Trata-se de fen6meno assaz conhecido: nao seriatemerario afinnar que toda normajuridica result a de uma tentativa, ma isou menos bem-sucedida, de conci li ar necessidades cont rapostas de pol l-ti ca legisla tiva, entre as quai s e mister f ixar urn ponte de equilfbrio.

    A disciplina da atividade probat6ria nao constitui aqui excecao.Faci lmente se entende que 0ala de tomar conv incente para 0orgao judi-cial esta' ou aquela versao dos fatos possa induzir a parte. a exceder as

    3. Por exemplo, art . 332 do C6digo de Processo Civil: "Todos os rneios legais,bern como os moralrnente legrtimos, ainda que nao especif icados neste C6digo, saohabeis para demonstrar a verdade dos fates, em que se funda a acso ou a defesa", Adisposicao inspirou-se no art. 87 do Codigo vaticano,cuja redacao, cabe observar, 6rnais clara; para uma compara

  • 5/15/2018 BARBOSA MOREIRA, Jos Carlos; A Constitui o e as provas ilicitamente obtidas

    4/10

    dana causado e outras circunstancias. 0 julgador decidiria qual dos inte-resses em conflito deve ser sacrificado, e em que medida,

    Alude-se, a talproposito, aochamado prindpio da proporcionalidade7Ha que verificar se a transgressao seexplicava par autentica necessidade,suficiente para tamar escusavel 0 cornportamenlo da parte, e se esta semanteve nos limites por aque1adelenninados; au se, 30contrario, existia apossibilidade de provar a alegacao por meios regulares, e a infracao geroudana superior aobeneficio trazido a instrucao do processo. Em suma: ave-riguar se, dos dois males, se ted. escolhido realmente 0menor,4. A s vezes se imputa a semelhante doutrina 0 risco de dar margem aexcessiva influencia de fatores subjetivos e, por conseguinte, a emer-gencia do arbitr io judiciaL Mas cumpre nao perder de vista quao fre-qiientes sao as situacoes em que a lei confia na valoracao (inclusive ti-ca) do juiz para possibilitar a aplica

  • 5/15/2018 BARBOSA MOREIRA, Jos Carlos; A Constitui o e as provas ilicitamente obtidas

    5/10

    6. Apesar disso, e irrealistico pensar que se logrc evitar totalmenle aconveniencia (au melhor, a necessidade) de ternpera r a aparente rigidezda norma. Para nao ir mais longe: como se procedera, se urn acusadoconsegue dernonstrar de maneira cabal sua inocencia, com apoio emprova que se descobre ter sido ilicitamente adquirida? Algum juiz seanimara a pcrpet rar injusti ce consciente . condenando 0 reu, por merotemor de contravir a proibicao de fundar a s en te nc e n a p ro va ilicita? Essaquestao ja preocupa a doutr ina, que nega em tal emergencia a aplicabilidadedo art. j!!, nQLVI , da Constitui~ao.lnvocando jurisprudencia norte-ameri-cana, argumenta-se que a direito de provar a inocencia deve prevalecersobre 0 interesse de protecao que inspira a norma proibit iva, e acrescenta-se que nao pode interessa r ao Estado a condenacao de urn inocente , a qua limplicata talvez a impunidade do verdadeiro culpad09.

    Todavia, se a defesa - a diferenca da acusa~ao - fica isenta doveto a uti lizacao de provas i legalmente obtidas, nao sera essa disparidadede tra tamento incompat ivel com 0princfpio, tarnbern de nivel const itu-c iona l, da igualdade das partes? Qui~a se responda que, bern vistas ascoisas, e sempre mais camoda a posicao da acusacao. porque os orgaosde repressao penal dispoem de rnaiores e melhores recursos que 0 reu.Em tal perspectiva, ao favorecer a atuacao da defesa no campo probat6rio,nao obstante posta em xeque a igualdade formal, se estara tratando deres tabelecer entre as par tes a igualdade substancial . 0raciodnio e habile, em cond icoes normais, difi cilmente se contestara a premissa da supe-rioridade de arrnas da acusacao. Pode suceder, no entanto, que ela deixede refletir a realidade em situacoes de expansao e fortalecimento dacriminalidade organizada, como tantas que enfrentam as soeiedades COI1-temporaneas. 1 3 - fora de diivida que atualmente. no Brasil, certos trafi-

    9 . A ss im , n a m ai s r ec en te l it er at ur a, ANTONIO MAGP,UI."ES GOMESFILHO. Sobre 0direito a provo no processo penal, S. Paulo, 1995. p. 107. A rnesma conclusao, invo-cando a garantia constitucional da "ampla defesa", chega LUIs Gusrwo GRANDINETTICASTANHO DE CARVALHO, 0 processo penal em face da Constitui9Go. Rio de Janeiro,1992, p.25/6. Para ela tambern parece inc\inar-se, embora em termos menos categ6ri-cos, Juuo FABBRINI MIR.~BETE. Processo penal, 4! ed..S. Paulo, 1995, p. 260. Consoan-te informa LUtz FRANCISCO TORQUATO Avouo, Provas ilicitas, S. Paulo, 1995 , p .77, as"Mesas de Processo Penal", ligadas ao Departamento de Direito Processual da Facul-dade de Direito da Univers idade de S. Paulo, consagraram em Slimuia (n2 50) a se-guinte proposi\=ao: "Podem ser utilizadas no proccsso penal as provas ilicitamentecolhidas, que beneficiem a defesa".

    112

    cantes de drogas estao muito mats bern armados que a polfcia e. prova-velmente, nao lhes sera mais diffcil que a ela, nem Ihes suscitara maioresescnipulos, munir-se de provas por meios ilegais. Exemplo 6bvio e 0dacoacao de testernunhas nas zonas cont roladas pelo narcotra fico: nem passapela cabeca de ninguern a hip6tese de que algum morador da area decla-re a polfcia, au em juizo, algo diferente do que the houver ordenado 0"poderoso chefao" local .7. Seja como for, 0 essencial aqui e p or em realee 0 carater relative quepor forca se tern de atribuir ao principio constitucional atinente ainadmissibil idade das provas ili ci tamente adquiridas'". Visto que , a indaentre os juristas rnais compromeridos com a tese da proibicao, se acabapor adrnit ir que e1a nao se apli ca de modo au torna tico e indiscr iminadosob quaisquer circunstancias, fica aberta a possibilidade de uma cans-t rucao ju risprudencia l que tome na devida conta as variavei s necessida -des sociais.

    Sabemos todos que as normas juridicas em geral, e as normas cons-titucionais em particular, se articulam num sistema, cujo equilibria im-poe que em certa medida se tolere detrimento aos direitos por elas confe-ridos. Os interesses e val ores que as inspirarn nao raro entram em confli-to uns com os outros, de tal sorte que se lorna impraticavel dispensar atodos, ao mesmo tempo, protecao irrestrita. Para assegurar a harmoniado conjunto, e imper ioso reconhecer que eles se l imitam reciprocamentede modo inexoravel. Basta recordar, por exernplo, como a liberdade demanifestacao do pensamento e a da atividade de comunicacao podemencontrar fronteiras na necessidade de resguardar a honra alheia ou 0direito do autor de divulgar ou nao os produtos de seu engenho e arte.

    A possibil idade de provar a legacoes em jufzo e insit a na de subme-ter a apreciacao do Poder Judiciario qualquer lesao ou ameaca a direito(Constituicao, art. 5 \!, n Q X XX V ). N ao parece razoavel que se lhe tenhade sobrepor sempre, abstraindo-se de tudo mais, a preservacao da inti-midade de quem haja motivos para supor que possa ter incidido, ou estar

    10. No dizer de CELSO RIBEIRO Bxsros, in CELSO RIBEIRO BASTOS-rVES GANDRAMARTINS. Comentdrios ii Constituicdo do Brasil, 2" vol., S. Paulo, 1989. p. 273, "0preceito constitucional h< i de s~( interpre tado de forma a comportar a lguma sorte deabrandamento relativamente a expressao taxativa de sua reda. .ao".. .

    113

  • 5/15/2018 BARBOSA MOREIRA, Jos Carlos; A Constitui o e as provas ilicitamente obtidas

    6/10

    incidindo, au em vias de incidir , em algum comportamento antijurfdico.Daf a conveniencia de dcixar ao aplicador da norma restri tiva determina-da margem de flexibi lidade no respective rnanejo. S6 a atenta pondera-~ao comparat iva dos interesses ernjogo no caso concreto af~gura-se ca-paz de permi tir que se chegue a solucao conforme a Just ica. E exatarnen-te a isso que visa 0 recurso ao principio da proporcionalidade.8. Tern-se notado sinais de reacao, aqui e ali, aos exageros a que levauma conside racao unilate ral do problema . Em deci sao recente e unani -me, de 5-3-1996, no Habeas corpus nQ4.138 - e na qual se indicaprecedente analogo -, esposou a 6! Turma do Superior Tribunal de Jus-t ica entendimento matizado, rejei tando a alegacao de inadmiss ibil idadede gravacao de conversa telefonica , mediante escu ta pol ic ial suposta -mente ili ci ta, no presidio a que se achavarn recolhidos os impet rantes.Acentuou 0 re lator, Ministro Adhernar Maciel , a re lat ividade dos di rei -tos contemplados no texto constitucional, decorrente da pr6pr ia necess i-dade de harmonizacao reciproca, e referiu-se ao "substrato etico" quenao pode deixar de orientar 0 interprete na f ixacao dos limites razoaveis .

    Independentemen te do juizo que cada um faca sobre a solucao dadaa espec ie, nao sofre duv ida a re levancia de a rgumentos contidos na mo-tivacao do aco rdao. Com razao subl inha 0Ministro Relator quao des-cabido e arvorar em valor supremo, sejam quais forem ascircunstancias , aprivacidade des te ou daquele individuo: "pode haver", adver te, "do outrolade da balanca, 0peso do interesse publico a ser preservado e protegido".9. Retomemos 0 fio da meada. Em linha de principio, a violacao do art.S ! ! , n2 LVI, da Constituicao acarreta a ineficacia das provas ilicitas e,eventualmente, a nulidade da sentenca nelas fundada It. Esta ultima conse-qiiencia, porem, nao se produz senao quando se trata do jinico fundarnen-to. au pelo menos do fundamento principal da decisao. Se 0juiz, ao rnotiva-la, invoca outras razoes, suficientes de per si - quer dizer, se 0 conteiidoda sentenca permaneceria ident ico ainda com abst racao da prova irnpug-nada como inadmissfvel -, entao nao ha por que invaJidar 0julgarnento.

    I LAD" Pa.LEGR1Nl GRINOVER. ANTONIO SCARANCE FERNANDES e ANTO!l IO MAGA~LHAES GO~lES FILHO, As nulidades 110 process(} penal, S. Paulo, 1992, p. 116f7: LUll.FRANCISCO TORQUATO AVOLIO, ob. CiL (nota 9), p. 89.

    114

    o Supremo Tr ibuna l Federa l ja se pronunciou mais de urna vcznesse sentido.Ao julgar 0Habeas corpus n269.079, em 17-3-1992, con-siderou despicienda a irregularidade na obtencao da confissao do reu,desde que fundada a condenacao noutras provas 12. Ern acordao de 31- 3-1992, no Habeas corpus n2 69.209, decidiu que, em iguai s c ircunstan-cias, nao se deve anular a sentenca unicamente por figurar, entre os ele-mentos submetidos a apreciacao do julgador, fila rnaguetica que se ale-gava ter sido ilegalmente gravadalJ.

    Identica posicao, num primeiro memento, havia tornado a Corle em30-6-1993, no Habeas corpus n2 69.912, tambern a prop6sito de casoem que outras provas existiam alern da transcricao de fitas gravadasmediante interceptacao telefonica i lfci ta I~.Tal decisao, porern, foi depoisanulada e substituida por outra, de 16-11-1993, em que veio oT ribunal aconceder a ordem de habeas corpus antes denegada. Ao faze -lo, adotouo entendimento de que, como s6 fora possivel tef acesso a s outras pro-vas pelo uso de informacoes contidas nas fitas rnagneticas, aquelas ti-nham ficado "contaminadas" peJa ili ci tude destas e deveriam reputa r-seigua lmente inadmissive is. Acolheu- se assim uma doutrina de proceden-cia norte-americana, segundo a qual 0 vicio de origem se transmite atodos os e lementos proba torios obt idos gracas a prova ilici ta: na conhe-cida expressao, nao se podem aproveitar os "frutos da arvore venenosa"(fruits of the poisonous tree)l5.10. Para determinar 0exato alcance da norma constitucional atinente a sprovas ilicitas impende confrontar duas disposicoes do art. 511 : 0suprameneionado ineiso LVI eo inciso XII, em que se Ie : "E inviolavelo sigilo da correspondencia e das cornunicacoes telegraficas, de dados edas cornunicacoes te lefonicas, sal vo, no ult imo caso, por ordem judic ia l,nas hip6teses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigacaocrimina l ou inst rucao processua l penal". Do confronto podern-se ex trai rimedia tamente a lgumas inferencias seguras: a) nao e ilicita, nem por

    12. Rev. Trim. de Jurisprudencia, Y. 141, p. 1.13. Ibid., p. 924.14. Ret: Forense, Y. 332. p. 353.15. lbid., p. 381. Nao tem sido constante, porem, a adesao a tal doutr ina: vide a

    nota 17, infra.115

  • 5/15/2018 BARBOSA MOREIRA, Jos Carlos; A Constitui o e as provas ilicitamente obtidas

    7/10

    -------conseguinte inadrnissivel, uma prova obtida nos tcrmos da ressalva cons-tame da parte final do nQXII; b) a ressalva nao abrange 0 segredo dacorrespondencia, nem 0das comunicacoes telegra fi cas au de dados, masexclusivarnente 0 das comunicacoes telefonicas (verbis "no ultimo caso");c) cinge-se a ressalva a esfera criminal, nao alcanca 0 processo civil.

    Acerca da primeira inferencia (a), e oportuno assinalar a existenciade autorizada opiniao eonsoante a qual, para ser apli cavel, t eria a ressal-va fieado dependente do advento de lei definidora das hipoteses e daforma exigiveis para que se tornasse licito ao juiz autorizar a quebra dosigilo das c omu nic ac oe s t el ef on ic as . Em s em e lh an te p er sp ec ti va , e nq ua n-to perdurasse 0 silencio do legislador - sornente quebrado, como sesabe, pela Lei nQ9.296, de 24-7 -1996 -, seria inconstitucional toda equalquer violacao do sigi lo e, portanto, inadmissfvel toda e qualquerprova adquirida por esse meio".

    Merece alusao aqui urn julgamento de grande repercussao, mesmofora dos meios j u ri d ico s, r eal izado em 7-12-1994: 0 da A~ao Penal nl!307,em que foram reus, entre outros, 0 ex-Pres idente Fernando Collor de Meloe Paulo Cesar Farias ". A defesa deste arguira em pre liminar ainadmissibi lidade de duas provas: a gravacao de conversa telefonica, fei tapor uma das tes temunhas, sern 0conhecimento dos outros interlocutores,entre des Paulo Cesar; e as registros extraldos da memoria de computadorda empresa Verax, objeto de apreensao no respectivo escritorio. Emboracom divergenc ias, foi a arguicao acolhida em ambos os casas pe lo Supre-

    16. Nesse sent ido, v g. . TOURINHO FILHO, Processo p ena l , 3~vol ., 121ed., S .Paulo, 1990, p. 213; AD.'" PELLEGRINI GRINOVER, ANTONIO SCAR.A.NCE FERNANDES e ANTO-NIO MAGALHAES GOMES FILHO, ob. cit. (nota 11), p. 147, com indicacoes de jurispruden-cia, as quais e oportuno acrescentar 0 mencionado acordao do Supremo Tribunal Fe-deral , de 30-6-1993. no Habea s co rp u s n~ 69.912. 0mesmo argurnento, entre outros,foi u ti lizado nojulgamento da A~ao Pena l n2 307, a que nos refer imos no paragra tosubsequente do texto. Diversamente, aojulgar 0 Habea s co rp u s n269.204 (26-5-1992),a Cor te Suprema havia admit ido a e ficac ia de autorizacao judic ia l para gravacao deconversa telefonica entre uma das vit imas de concussao e seu advogado (Rev. Trim. deIurisprudencia, v. 144, p. 213),

    1 7 . R e v . F o re ns e, v . 335, p. 183 es.Registre-se que, nesse julgamento, por maioriade vOIOS, foi rejeitada (p. 1 8 5, 4 3 7) a tese deque a il ic itude na obtenc;:ao de uma provarepercutiria sabre as adquiridas em consequencia, tornando-as igualrnente inadrnissi-veis; isto e , 0 Tribuna l nao apli cou a doutr ina dos "Irutos da a rvore venenosa" (d. 0voto do Ministro CElSO DE MEl.LO, que expressamenre a aplicava: p. 367). .

    116

    ------- -------mo Tribunal Federal. 0 rela tor. Mini stro Ilmar Galvao, sustentou em sellvoto que. ine x istindo lei dcfinidora das hipoteses e da forma dainterceptacao, nao seria possivel a juiz algurn, mesmo que se houvesserequerido - 0que nao ocorrera -, conceder autorizacao para gravar sub-repticiamente a conversa. Quante aos registros do computador , tarnpoucoassistiria a polfcia 0 direito de aprecnder 0 aparelho sem ordem judicial,nem 0 de extrair dele dados particulates da ernpresa, ali arrnazenados.

    Quanta a segunda inferencia (b), nao e facil perceber a razao depoli tica legi slat iva capaz de justifi car a discipl ina heterogenea da mate-ria no tocante, por urn lado, a s cornunicacoes telefonicas e, por outro,aos demais t ipos de comunicacao 18 _ Soa extravagante que se possa ou-torgar ao orgao judicial 0poder de autor izar uma interceptacao telefoni-ca. e a mesma providencia xe ja, ao cont ra rio, inadmissivel no que respei -ta a urna carta ou a um telegrama. Se dois mernbros de uma quadrilhaconversa rn par tele fone, exist ira a possibilidade de escutar 0 que dizem,sem que eles saibarn; mas, se urnenvia 10 out ro folha de papel, nao haven!rneio l icito de descobrir 0 que nela foi escrito, a menos que 0 propriodest inatario faca a cor tesia de revela-lo .._0 minimo que cabe dizer e que 0legislador const ituinte revelou at estranho amor pelo paradoxo".11. Tampouco parece razoavel - eo terna, ao nosso ver, faz jus a cons i-deracao especial ~ a diferenca que se estabeleceu (c) entre 0 campo

    18.Ct. AlC lNO PINTO F.....C.> .O , i ll WI1ITAKER DA CUNHA C outros, Comenillrios aConstilui{=clO,1"vol. , Rio de Janeiro. 1990, p. 190: "0 inciso [02 X1I1 contem a singu- .laridade injustificavel de abrir excecao para 0 casu de cornunicacoes telefonicas , dei-xando de dar igual t ra tarnento para ,IS telegraficas e radiofon icas, pondo de lado aparernia rnilenar ubi eadem ratio. ibi eadem legis dispositio, de boa aceitacao par a aexcgese do direi to const itucional ", Tambem cri ti cam a dispos icao ADA Pt.lLEGRINlGRINOVER, ANTONIO SCARANCE FERNANDES e ANTONIO MAGALH."ES GOMES FILl-IO. ob. cit.(nota 11) , p . ll6n. Juuo FABBRINI MIRAIlETE, ob. e lug. c it . (nota 9), chega a admi ti r,"apesar da rn a redacao do disposi tive const itucional", a possibi lidade de "regulamen-ta9ao de ordern judic ia l para vio lacao do sigi lo de cor respondenc ia, cornunicacoest el egra fi cas e de dados, com fins proba torios na a rea penal ".

    19. Observa ALCINO PINTO FALCAO, Db.e lug. ci t. (nota 1S), a incoerencia ent re 0texto do art. 52, nl! XII, e asdisposicoes dos arts. 136, nl!I , b e c , e 139, n~II I, nos quai s,ao enumerar as res tricoes irnponiveis aos direi tos fundamentals por ocasiao do "esta-do de dcfcsa'' e do "estado de sitio", respectivamen te, a Constituicao se refere in-discriminadamente a inviolabi lidade da correspondencia e ao sigilo das outras rnoda-lidades de comunicacao.

    11 7

  • 5/15/2018 BARBOSA MOREIRA, Jos Carlos; A Constitui o e as provas ilicitamente obtidas

    8/10

    penal eo civil". Nao serepitam aqui as vel has e dcsmoralizadas triviali-dades sobre 0 carater mais "grave" dos cfeitas da sentenca penal emcornparacao com os da sentence civil. Um pensarnento superficial cos-tuma trazer a colacao, a tal respeito, a oposicao entre decisoes que s6interessam ao patrimonio e decisoes que afetam a liberdade pessoal. Eesquecer que no ambito civil se trata com freqiiencia de problemas rela-tivos a aspectos Intimos e relevanlissimos da vida das pessoas, comoocorre, por exernplo, nos assuntos defamilia; e tambern que no processopenal pode igualmente estar emjogo apenas 0 patrimonio, como aconte-ce quando a infracao nao e punfvel senao com rnulta.

    No direito brasileiro - e nao s6 nele - a expressao "processocivil" compreende muito rnais que a atividade judicial concemente arelacoes juridicas de caniter privado. E no processo civil que se discu-tern e se decidem pleitos atinentes a materias reguladas pelo direito publi-co (administrativo, tributano, internacional e -last but not least - cons-t itucionaL), em regra subtraldas, nao menos que as de direi to penal, aopoder de disposicao das partes. Os interesses sujeitos a influencia dojul-gamento nem sempre se cingem a esfera particular dos litigantes: podemtocar a amplas coletividades, quando nao a sociedade como urn todo.

    Dizer que 0processo penal persegue a chamada "verdade real", aopasso que 0 processo civil se satisfaz com a denominada "verdade for-mal", e repetir qual papagaio tolices mil vezes desmentidas. A verdade euma e interessa a qualquer processo, se bern que a justica possa (e asvezes deva) renunciar - na area civil e na penal- a sua reconstituicaocompleta, em atencao a outros valores de iguaJ dignidade".

    A Constituicao de 1988 equiparou com acerto 0 processo civilirectius: qualquer processo) ao penal. no que lange as garantias dos liti-gantes. Por exemplo: 0 art. 52,n9;LV,que sanciona 0 principio do contra-ditorio, nenhuma distincao adrnite desse ponto de vista: "Aos litigantes,em processo judicial ou administrative, e aos acusados em geral saoassegurados 0contraditorio e ampla defesa, com os meios e recursos aeta inerentes". De maneira alguma sejustifica a adocao dediretriz diver-

    2 0. D e a co rd o: ADA PELLEGRINI GRINOVER, ANTONIO SCARANCE FERNANDES e A N TO -NIO MAGALHAES GOMES FILHO, Db. cit. (nota 11) , p . 146 .

    21. V. g., a credibilidade do sigilo profissional: vide 0 art. 207 do C6digo deProcesso Penal e 0 art. 406, n~II , do C6digo de Processo Civil .

    118

    sa no topico aqui focalizado A diferenca de tratamento nao pode deixardecausar perplcxidade: cis a explicacao mais provavel do fato de haverilustre constitucionalista afirmado que 0 texto "nao distingue entre a ins-trucao processual penal e a civil?". 0 autor tera suposto ler na Constitui-\ao aquilo que gostaria de ver nela escrito ...12. A disposicao que estamos criticando corresponde 0 art . 15da Cons-tituicao italiana de 1947/8. La, entretanto, nao se incidiu no mesmo erro.o texto peninsular absteve-se de consagrar diferencas arbitrarias como ada parte final de nosso art. SQ,n2 XU: "La Liberti! e la segretez:a dellacorrispondenza e di ogni altra forma di comunicarioni sono inviolabili.La lora limitazione pub avvenire soltanto per alto motivate dell' autoritagiudiziaria con le garanzie stabilite dalla Legge" (art. 15). Se 0 legisla-dar constituinte brasileiro se inspirou em tal modelo, salta aos olhos quea copia saiu desgra

  • 5/15/2018 BARBOSA MOREIRA, Jos Carlos; A Constitui o e as provas ilicitamente obtidas

    9/10

    \\l\III

    I3.A injusti ficave l distincao fei ta no art. 52. n2 XlI,fine. entre 0 proces-so civi l e 0penal susci ta questoes interessantes no plano teorico e impor-lantes no pra tico. Uma delas se re fere a cvcntua lidade de que , em ple itocivil, a lguern invoque, como ele rnento de conviccao para 0 juiz, provaproduzida em ante rior processo penal . A dout rina e ajurisprudencia pa-trias reconhecern eficacia. sob dctenninadas circunstancias. a prova "em-prestada" _ isto e, transferida de urn para outre processo ~, contantoque a pessoa a quem se pretende opor a prova haja participado do feitoem que ela se produzira. Pois bern: suponhamos que se cuide de fitamagneti ca , gravada mediante in tercepta~ao tele fonica para a qual se di s-punha de autorizacao judicial. A fita era admissivel como prova no a m -bi to pena l; nao no c ivi l, ja que para este nao teri a sido possivel auto riza ra mterceptacao. Quid iuris se 0 interessado quer utiliza-la a guisa de"prova emprestada" perante 0juiz civil?

    No campo doutr inar io tern-se admitido a possibi lidade de semelhan-te util izacao". A favor de la pode argumentar -se que , uma vez rompido 0s igilo, e por conseguinte sacrifieado 0 direi to da par te a preservacao daint irnidade, n30 far ia sentido que continuassemos a preocupar-nos com 0risco de arrornbar-se urn cofre ja aberto. Mas por outro lado talvez seobje te que assim se acaba por condeseender com autent ica fraude a Cons-t ituicao. A prova ili ci ta, expulsa pe la porta , volt ari a a ent rar pe la janela ...

    Outra questao deriva do peculiar mecanisme consagrado nos arts.63 do C6digo de Processo Penal e 584, ni l I I, do Codigo de ProcessoCivil, que atribuern a senten~a penal irreeorrfvel a eficacia de titulo exe-cutivo civil, para fins de ressarc imento do dano causado pelo crime. Sig-nifica isso que, se 0 juiz penal condenou 0 reu, par sentence tr ansit a emjulgado, a vit ima nao precisa intentar acao civil para pleitear a reparacao,pelo infra tor, do prejufzo sofrido em seu pa trimonio: basta ra que reque i-ra ao juiz civil, com esse objetivo, a execucao da sentence penal.

    Claro esta que, nessa execucao. ja nao sera.necessar io provar a ocor-rencia da infracao, nem a culpabilidade do infrator: sao quest6es que acoisa julgada pena l cobriu com 0 manto da predusao. E concebfvel, po-rem, que no juizo crimina l se ha ja logrado demonstrar algum pressupos-to da condena~ao rnerce de interceptayao telef6nica, judicialmente auto-

    25. N EL SO N N ER 'Y " Jur.I]OR, ob. cit. (nota 7), p. 145-6.

    120

    ri zada , sern a qual 0 reu teria sido com toda a certeza absolvido. Caso 0inte ressado requei ra a execucao civi l, podera 0 devedor opor-se efi caz-mente a e la, alegando que a prova na qual repousara sua condenacao erainadmissive1 na esfera civil?

    A essa indagacao e facil dar res p osta cabal. A coisa julgada tern 0efeito de subtrair toda relevancia as questoes enfreotadas e resolvidasno processo de conhecimento (e ate a s questoes que oele se poderiamter enfrentado e resolvido j 2 6 . Desde que a sentenca transita em julga-do, ja nada importa saber em que provas se baseou 0 juiz, com ressalvadas hip6tcses, por sinal excepcionais, em que a lei permite a destruicaoda coi sa julgada; tampouco, a fortiori, se essas pro vas sao idoneaspara fundamenta r uma condenacao civil. Diante da condenacao penal,tudo que interessa, para a execucao civil, e verificar se se trata de sen-tenca passada em julgado. Nenhuma objecao extraida do que sucedeuna instrucao do processo-crime pode ter aqui a virtude de impedir se-melhante execucao.14.0 problema das provas ilicitas inclui-se entre os mais arduos que aciencia processual e a polit ic a legis lativa tern precis ado enfrentar, dada asingular relevancia dos valores eventualrnente em conflito. De urn lado,e natural que suseite escnipulos series a possibilidade de que alguem tireproveito de uma a~ao antijuridica e, em nao poucos casos, antictica; deout ro, M 0 interesse publico de assegura r ao processo resultado justo, 0qual norrnalmente imp5e que nao se despreze elemento algurn capaz decontribuir para 0 descobr imento da verdade. E sumamente diffc il , quicaimpossivel, descobrir 0 ponte de perfeito equilibrio entre as duas exi-gencias eontrapostas.

    A Constituicao de 1988 optou a evidencia por uma solucao - aomenos 1' 1 primeira vista ~ radical. Nao s6 proibiu em termos amplos autilizacao de provas ilfcitas, mas fixou limites muito estreitos ao poderdo juiz de, mediante autorizacao, legitimar a obtencao de provas quesem ela fi cam sujei tas a ve to li te ralmente categ6rico.

    26. Cf. 0 art . 474 do C6digo de Processo Civi l. Acerca do terna, vide EARBOSAMOREIRA. A eficacia preclus ive da caisaju lgada material , in Libra Homenaje a LuisLoreto, Caracas. 1975, p. 295,ou Temas de Direito Processual (Primeira Serie), 2led.. S. Paulo, 1988, p. 97. .

    121

  • 5/15/2018 BARBOSA MOREIRA, Jos Carlos; A Constitui o e as provas ilicitamente obtidas

    10/10

    Explica-se tal opcao, em grande parte , por c ircl lnstancias h is,t? ri-cas. A Constitui;;ao foi elaborada logo apos notavel mudanca politica.Extinauira-se recentemente 0 regime autoritario que por tanto tempodominata 0 Pais, e sob 0 qual eram freqtientes e graves as viola~oes dedirei tos fundamentais, sem exclusao dos proclamados na propria Carlada Republica entao em vigor , como a i.nviolabil i.dade do d.o.m~ci1~oe dacorrespondencia. Ninguem podia conslderar-se irnune a d~~I~enClas p.o-liciais arbitrarias ou ao "grampeamcnto" de aparelh,-:!:steletomcos. QUlS-se preveni r a reca ida nesse genero de :iol~nci~s ..E mister reco_nhecerque, naquele momento historico, nao lena sido facil conter a_reac;:aocon-tra 0 passado proximo nos lindes de urna prudente moder~c;:ao. Se p.uxa-mas urn pendulo com demasiada energia em certo sentido e assrrn 0mantemos par largo tempo. quando seja liberado de fatal mente se mo-vera com forca equiva lente no sentido oposto.E cer to que outros paises t iveram sorte diferente n_opar ticular. J~ semenc ionaram as exemplos da Ita lia c da Espanha , que Igualmente Sa lamde regimes autorua rios. mas souberam abste r-se de d~te r~inados ~xage-ros. Nao escandaliza 0 mundo juridico espanhol OUVlI dizer ao TribunalConst itucional que os proprios di rei los fundamentai s nao devem erguer"obstaculo intransponlvel a busca da verdade material que nao se podeobter de outro modo':". Ninguem se animara a tirar dai motive para porem duvida 0 carater democn'i tico da sociedade espanhola contempora-nea. Talvez algnm dia possamos reagir no Brasi l com circunspec~ao igual .Teremos aprendido urna antiga e importante licao: a melhor fo~~a decoibir u rn excesso e de impedir que se rep ita nao consiste em santi ficat 0excesso oposto.A prop6sito: ol io merece ra part icular reexame a preeipit ac; :ao emimportar, de maneira passiva e acr it ica ~ segundo niio raro acooteee--- .=-- .a dout rina dos "frutos da a rvore venenosa", ainda rnai s em formula~aoindiscriminada, nua dos rnatizes que a recobrem no pr6prio pais de ori-gem?28 Sera ela adequada a realidade do Brasil de hoje? Ampliar em talmedida, para os infratores a tua is e potenc iai s - sobre tudo na area, cons-

    27. Apud ASENCIOMELLAOO,b. cit. (nola 7), p. 96.28. Ajurisprudencia norte-americana, com del to, nao a consagra sem ponderaveis

    restri ..5es: vide, a respeito. LA EWE-IsRAEL,ob, cit. (nota 24), p. 471 e S.; DE~,CARMEN,ob. cit . (nola 23) , p, 65 e s. Boa informa ..1iono artigo de D?.NILOKNiJ"lK~ doulnnados frutos da orvore venenosa" e os discursos da Suprema Corte na decisao de 1 _ 6 - I 2 ,93, in Ajuris, ng66, p. 76 e s.Alguns dados em COST.~ANDRADE,obre asproibicoes de. .122

    tanlemcnte em expansao, da "criminalidadc organil.ada" -, a perspecti-va de cscapar a s sancoes cominadas em lei acaso cont ribuin'i pa ra sa t i s-fazer 0 general izado c lamor cont ra a impunidade2'J, vi st a por tantos, comrazoes ponderaveis (e descontados a lguns acessos de paranoia), qua l fa-lor relevante na aceleracao do ritrno em que vai baixando 0 nivel eticodos nossos costumes, polltieos e outros? Devernos confessar de resto,com absolute franqueza, a enorme dificuldade que sentimos em aderir auma escala de valores que coloca a preserva-;ao da intimidade de trafi-cantes de drogas acima do interesse de toda a comunidade nac iona l (oumelhor: uni versa r I O ) em dar combate efic iente a praga do trafico - com-ba te que, diga -sc de passagem, Ii tombem urn valor cOllstitucional, con-forme ressalta da inclusao do "trafico ilicito de entorpecenles e drogasafins" entre os "crimes inafianc;aveis e insuseetiveis de graca ou anistia"(art. Y" n Q XLIII).Ternes, no particular, a penosa impressao de ver materializar-se aosnossos olhos autentico fantasma retardatario de urn tipo de individualis-mo exasperadamente anti-social , que supunhamos exorcizado ha muitotempo e em definitivo. Custa-nos crer que assornbracoes do genero pos-sam fazer boa companhia na marcha para a construcao de urna socieda-de mais civilizada.

    Outubro de 1996.

    provo em processo penal; Coimbra, 1992, p. I7lf2. Interessante notar que nos EstadosUnidos , ent re out ros casos, se tern r epelido a lese da i lici tude "derivada" ou "por con-l(lmina~1io" quando 0 orgao judicial se convence de que, fossc como fosse , se chcgaria" inevitavelmente". [las c ircunslancias, a obter a prova por meio leg it im~, i sto e . aindaa Iazcr-se abstracao da ilegalidade pratlcada.

    29. A crer-se em ensinarnento consptcuo. mais irnporta, no combate a criminalidade.evitar que os delinquentes f iquern impunes do que exasperar as penas. Vide, entre muilasoutras, a obra classics de C..>,RR.-\R?.,rograma do cwso de direito criminal, trad, de JoseLuiz V . de A. Franceschini .e J . R. Prestes Barra, S. Paulo, 1957, 642 , v . n. p. 88: "Atorca moral objet iva da pena se encon tra mais em razao de sua certeza que da sua seve-ridade, ou seja: esta sem aquela e ilusoria" (grifado no original).

    30. Atente-se no que consta do prearnbulo da Convem,ao de Viena, de 20-12-1988, assinada pelo Brasil, aprovada pelo Congresso Nacional em 14-6-1990 e pro-mulgada pelo Dec. n2 154, de 26-6-199\: "As Partes nesta Conven\=ao, ( . .. ) Recoohe-cendo os vfnculos que existem entre 0 trafico ilicito e outras atividades criminosasorganizadas, a ele r elacionadas, que minam as economias l fc itas e arneacam a estabi -Iidade, a seguran~a e a soberania dos Estados; Recoohecendo tambern que 0 tnificoilicito e uma atividade crirninosa internaciona1. cuja supressao exige aten. .ao urgente ea mais al ta prioridade, . .. " (sern grifo no original). .

    123