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O conhecimento do período romano no Concelho de S. Brás de Alportel revela-se convidativo, embora a investigação se encontre ainda em fase embrionária. O número de sítios prospectados permite antever uma mais densa malha de povoamento do que aquela que tem sido apresentada para este Concelho. No período romano, terá tido um povoamento de carácter rural, junto a cursos de água e em solos férteis (ESTRELA, S. e BARROS, P., 1999). A cronologia dos materiais mais antigos recolhidos em trabalhos de prospecção, remonta aos séculos II/I a.C..

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O conhecimento do período romano no Concelho de S. Brás de Alportel

revela-se convidativo, embora a investigação se encontre ainda

em fase embrionária.

O número de sítios prospectados permite

antever uma mais densa malha de povoamento

do que aquela que tem sido apresentada para

este Concelho.

No período romano, terá tido um

povoamento de carácter rural, junto a cursos

de água e em solos férteis (ESTRELA, S. e

BARROS, P., 1999).

A cronologia dos materiais mais antigos

recolhidos em trabalhos de prospecção,

remonta aos séculos II/I a.C..

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O "Levantamento Arqueológico do Concelho de S. Brás de Alportel - Relatório de Progresso 1999" e "Relatório de Progresso II -

- 2000", efectuados por Drª. Susana Estrela e Dr. Pedro Barros, contêm referência a 11 sítios arqueológicos onde foram detectados vestígios

materiais do período romano, cujo potencial interesse é significativo. Existem dois sítios deste período, que merecem a nossa particular atenção. É, de certa forma, a informação deles proveniente que mais

contribui para começar a "construir" um cenário explicativo e adequado para o período romano no Concelho. De salientar que estamos

perante a investigação mais recente realizada sobre sítios arqueológicos em S. Brás de Alportel.

O sítio da Corte, constitui um local cuja informação artefactual disponível não nos

permite uma visão muito clara sobre a sua tipologia

(funcionalidade). Poderá tratar-se de um casal agrícola - uni-

dade de produção de tipo familiar, de pequenas dimensões. Proveniente desta estação é a asa de sítula, em bronze, Tipo I

(DELGADO, 1975), do séc. IV, que deu "forma" a esta publicação. Em escavações realizadas no casal agrícola do Curral dos Cães

(Montemor-o-Novo), foram encontradas asas de sítula semelhantes à supra

referida (PAÇO A. do e Lemos, J. de, 1962, 325).Embora paradoxal, não deixa de ser curioso o facto de aparecer num sítio modesto,

como o é por definição um casal agrícola, um objecto que, tradicionalmente, se

consideraria mais relevante e, como tal, de exótica presença num local deste tipo.

No Vale do Joio, os testemunhos artefactuais indiciam que provavelmente o local terá

sido uma uilla (ESTRELA, S. e BARROS, P., 1999) - "exploração rural de cariz senhorial"

(FABIÃO, 1999, 47). A identificação, numa fase preliminar à escavação arqueológica ou de um programa de

sondagens, de um determinado tipo de povoamento num local, atribuindo-lhe, a partir

da relacionação dos vestígios materiais avulsos, uma funcionalidade específica, não é

definitiva. É, de todos os sítios identificados, o que possui uma maior área de dispersão

de materiais arqueológicos (cerca de 2,5 hectares), o que sugere a existência

de uma ocupação extensa. Exactamente por esta razão são daqui

provenientes os materiais que a seguir apresentamos, cuja

cronologia se situa entre os séculos II/I a.C. e II d.C..

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Terra Sigillata: a sua designação provém do facto de

ostentar um sigillum (selo) impresso, geralmente no

fundo. Aquando da sua existência, lê-se o nome do oleiro

que a fabricou. Caracteriza-se por possuir um verniz

brilhante e vermelho. Classifica-se segundo critérios

geográficos (local de produção): itálica, sud-gálica,

hispânica e clara (Norte de África).

Fig. 1Fragmento de pátera de Campaniense A, forma 5; séc. II/I a.C.

Fig. 2Fragmento de vaso em terra sigillata sud-gálica, da forma decorada Dragendorff 37; séc. I d.C.

Fornece-nos informações preciosas. A cerâmica fina, importada,

que circulava por todo o Império, permite-nos saber a datação,

centro de produção e de difusão (comércio). A sua distribuição e

consumo permite-nos saber alguns aspectos da vida económica do

mundo romano. Cerâmica Campaniense: caracteriza-se por possuir um verniz

negro e brilhante, sendo de tradição grega (cerâmica Ática). Foi

produzida desde finais do séc. IV até finais do I a.C..

Fig. 3Fragmento de catillus em terra sigillata hispânica, da forma lisa Dragendorff. 18;2ª metade séc. I d.C.- inícios séc. II d.C.

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Os Romanos enterravam os seus mortos segundo um dos dois ritos da sua época: a incineração

(cremação) ou a inumação (enterramento simples).

As lápides de pedra, onde se escreviam os epitáfios, eram colocadas junto das sepulturas para

que o morto fosse perpetuado, embora nem todas fossem assinaladas com um epitáfio em pedra.

Nestas (aras, cipos, cupas ou estelas) inscrevia-se o nome, filiação e idade do defunto. Não raras

vezes, surgem associadas a fórmulas fúnebres: Diis Manibus sacrum (consagrado aos deuses

Manes - protectores da família), Hic Situs(a) est (aqui jaz), Sit Tibi Terra Leuis

(que a terra te seja leve).

A ara apresentada (Inscrições Romanas do Conventus

Pacensis (IRPC) nº 64) apresenta uma decoração única no

Conventus Pacensis: pátera, jarro (objectos para abluções

rituais), especialmente no que concerne ao crescente. O qual

documenta "o culto da Lua, morada dos mortos" (ENCARNAÇÃO,

1999, 113).

Transcrição: "Consagrado aos deuses Manes.

A Cecília Marina, filha de Lúcio, ossonobense, de

oitenta e cinco anos. Aqui jaz. Que a terra te

seja leve." (ENCARNAÇÃO, 1984, 112-114).

Fig. 4Ara funerária com relevo de pátera “urceus” e crescenteCapela de S. Romão (S. Brás de Alportel). Época Romana. Séc. II d.C.. Dimensões: Alt. 1040 x Larg. 470 Esp. 470 mm. (IRPC 64). Museu Nacional de Arqueologia - Lisboa. Fotógrafo: José PessoaFoto cedida por: DDF/IPM