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Beatriz Michelini Lippi MONOGRAFIA PODODERMATITE ASSÉPTICA DIFUSA OU LAMINITE EM EQUINOS (Equus caballus) São Paulo-SP 2008

Beatriz Michelini Lippi MONOGRAFIA PODODERMATITE …arquivo.fmu.br/prodisc/medvet/bml.pdf · FIGURA 16 A A aplicação de material acrílico (Equi-Pak) para suportar a ranilha e porção

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Beatriz Michelini Lippi

MONOGRAFIA

PODODERMATITE ASSÉPTICA DIFUSA OU LAMINITE EM EQUINOS (Equus caballus)

São Paulo-SP 2008

  

Beatriz Michelini Lippi

FMU-FACULDADE METROPOLITANA UNIDAS ICS – INTITUTO DE CIENCIAS E SAÚDE

MEDICINA VETERINÁRIA

MONOGRAFIA

PODODERMATITE ASSÉPTICA DIFUSA OU LAMINITE EM EQUINOS (Equus caballus)

Monografia apresentada, no curso de Medicina Veterinária/FMU, sob orientação do Professor Antonio Carlos Bolino

São Paulo-SP 2008

  

Beatriz Michelini Lippi

PODODERMATITE ASSÉPTICA DIFUSA OU LAMINITE EM EQUINOS (Equus caballus)

Monografia apresentada no curso de Medicina Veterinária/FMU, sob orientação do Professor Antônio Carlos Bolino. Defendida e aprovada em 09 de dezembro de 2008, pela banca examinadora:

_____________________________________________________________ Prof. Ms. Antônio Carlos Bolino

FMU- Orientador _____________________________________________________________

Prof. Ms. Daniel Medes Netto FMU

_____________________________________________________________ Prof. MV.Luiz Augusto Sibinelli Spolidoro

RESIDENTE HOVET - FMU

  

Dedicatória                          

“Dedico este trabalho aos meus pais Nair Gonçalves Michelini Lippi e Márcio de Paulo Lippi, meu irmão Eduardo Michelini Lippi e todas as pessoas que me ajudaram neste trabalho, também agradeço à minha primeira cachorra Kelly.”

                          

  

Agradecimentos

Agradeço a todas as pessoas que já me deram oportunidades para aprender mais, aos meus professores e todos que me ajudaram neste trabalho, em especial Dra.

  

Sumário

Página

  

1. Introdução 11

2. Anatomia 13

2.1. Ossos digitais do membro anterior do cavalo 13

2.2. Casco (Úngula) do cavalo 14

2.2.1 Definição 14

2.2.2 Forma do Casco 17

2.2.3 Parede córnea do casco 18

2.2.4 Face Solear 18

2.2.5 Regiões do casco 19

2.2.5.1 Limbo 19

2.2.5.2 Coroa 20

2.2.5.3 Parede do Casco 21

2.2.5.4 Sola (Solea) 22

2.2.5.5 Coxim digital 22

2.2.6. Cunha da Úngula ou ranilha 22

3. Etiologia 23

3.1. Etiopatogenia dietética 25

3.2. Etiopatogenia mecânica 26

3.3. Etiopatogenia infecciosa 26

3.4. Etiopatogenia causas diversas 26

4. Epidemiologia 27

5. Fisiopatologia 27

6. Sinais Clínicos 28

7. Diagnóstico 33

8. Tratamento 37

9. Prognóstico 41

10. Conclusão 41’

11. Referências Bibliográficas 43

  

Lista de Figuras

FIGURA 1 Fotografia de uma secção sagital do casco de um cavalo normal ilustrando a falange distal (FD), falange média (FM), articulação interfalangeana distal (AID) e parede interna do casco (PIC)

15

5

FIGURA 2 Fotografia de um casco de um cavalo normal ilustrando a interface do tecido laminar (TL) entre a superfície de falange distal (FD) e a parede interna do casco (PIC

16

FIGURA 3 Fotografia de uma imagem microscópica do tecido laminar ilustrando a disposição sinuosa das lamelas dérmicas aderidas às lamelas epidérmicas, com respectivas lamelas primárias e lamelas secundárias

16

  

FIGURA 4 Lâmina dérmica e epidérmica do casco eqüino 17

FIGURA 5 Fotografia de um casco ilustrando a região da sola onde normalmente um cavalo com laminite apresenta um elevado grau de dor (cruzes vermelhas)

29

FIGURA 6 Fotografia de um cavalo com laminite ilustrando a postura e andamento típicos desta doença

29

FIGURA 7 Fotografia de uma secção sagital do casco de um cavalo afetado com laminite ilustrando a rotação da falange distal (FD) causada pela rotura do tecido laminar (TL) com conseqüente separação entre a falange distal e a parede do casco (PIC). Note-se a concavidade (seta amarela) na sola causada pela pressão exercida pela falange distal

30

FIGURA 8 Distrofia necrótica do casco por laminite: evidência da rotação da falange distal - (A) necrose laminar com descolamento entre as lâminas dérmica e epidérmica; (B) evidente necrose do tecido laminar, ápice em sentido ventral com perfuração da sola

31

FIGURA 9 Radiografia A – Cavalo normal: Nota-se que a superfície externa da falange distal é paralela à superfície da parede do casco ao longo de todo o comprimento

35

FIGURA 10 Radiografia B – Cavalo com laminite: Devido à rotura do tecido laminar, a falange distal separouse da parede do casco e sofreu rotação. Isto é evidenciado radiograficamente ao verificar-se um grau de divergência entre a parede do casco e a superfície da falange distal, que deixaram de ser paralelas

35

FIGURA 11 Angulação do casco com a terceira falange 36

FIGURA 12 Lâminite aguda tendendo a cronicidade 36

FIGURA 13 Cavalo com laminite submetido ao exame de termografia 37

FIGURA 14 Lily Pads 39

FIGURA 15 Ferradura ortopédica frequentemente usada em cavalos com Laminite

39

FIGURA 16 A A aplicação de material acrílico (Equi-Pak) para suportar a ranilha e porção posterior da sola num cavalo com laminite. Fig. 16 B: Produto final

40

FIGURA 17 A Placa de esferovite antes de ser aplicada ao casco com fita adesiva, 40

  

FIGURA 17 B Produto final após aplicação 40

  

Resumo

Pododermatite asséptica difusa ou laminite é uma doença que acomete o casco eqüino, é de

causa multifatorial, a qual possui uma etiologia e patogenia não completamente compreendidas,

diversas doenças sistêmicas podem causá-la e resultar na inflamação dos tecidos lamelares,

podendo haver rotação da terceira falange, o que é um processo extremamente doloroso. Seus sinais

clínicos variam de acordo com o progresso e severidade. Uma forma sub-clínica é comum. O

diagnóstico pode ser muito simples mas, se não diagnosticada precocemete é uma doença

potencialmente perigosa, levando o animal a eutanásia. O objetivo do diagnóstico e o tratamento

precoce é evitar que a doença chegue a um estado avançado.

  

Abstract

  

Pododermatitis aseptica diffusa or laminitis is a disease that affects the horse hoof, is

concerned multifactorial disease of which the etiology and pathogenesis are not completely

understood any systemic disease can cause it and result in inflammation of the lamellar, and there

rorotation of the third phalanx which is very painful process. His clinical signs are variable in their

progress an severity, and a subclinical form is common. The diagnosis can be very simple, but if not

diagnosed in time is potentially dangerous disease leading to the animal euthanasia. The goal of early

diagnosis and treatment is to avoid the disease reaches an advanced stage.

  

1. INTRODUÇÃO

A Laminite (também conhecida por aguamento ou pododermatite asséptica

difusa) é uma doença com efeitos potencialmente devastadores que afeta o

pododerma dos cavalos. O nome da doença provém dos tecidos afetados que são

as estruturas laminares submurais do casco, também conhecidas por lamelas ou

lâminas.

A laminite é uma doença que resulta geralmente na inflamação dos tecidos

laminares. Uma das conseqüências do processo inflamatório é a perda de função

das estruturas afetadas. De fato, o que acontece em caso de laminite é a diminuição

da adesão entre a parede interna do casco e a falange distal. A força do peso do

cavalo é transmitida através da falange distal até a interface do tecido laminar,

resultando na separação das lamelas. Na prática, a falange distal separa-se da

parede do casco, exercendo pressão sobre a sola. Nestas situações, diz-se que a

falange distal sofreu “rotação” ou que “afundou”, conforme o grau de separação.

Este processo é extremamente doloroso para o cavalo, uma vez que ele tem

necessidade de continuamente apoiar o peso do seu corpo nos cascos. A única

forma que o cavalo tem de aliviar as forças de tensão exercidas no casco durante o

processo da laminite é deitar-se. No entanto o que freqüentemente acontece é que

estes animais normalmente hesitam em deitar-se porque o ato de se deitarem, e

principalmente levantarem, torna-se demasiado doloroso.

As maiorias dos casos de laminite estão associadas com fatores nutricionais,

estados de hipovolemia, infecções e traumatismo do casco. Apesar do enorme

progresso verificado no estudo desta doença nas duas últimas décadas o

mecanismo exato de como a laminite ocorre nos cavalos não é ainda

completamente compreendida nos dias de hoje.

Uma das causas mais freqüentemente reconhecidas é a ingestão em excesso

repentino de hidratos de carbono (glúteos ou açúcares) na dieta; na ração,

concentrado ou sob a forma de pastagem. Cavalos obesos estão mais predispostos

a sofrerem de laminite e apresentam um prognóstico ruim, quando comparados com

animais magros ou de condição física normal. Qualquer doença sistêmica que cause

estresse e debilidade; principalmente infecções do sistema respiratório

(pleuropneumonia) e do sistema digestório (peritonite) pode resultar em laminite.

Outro exemplo comum, no caso de éguas, são as infecções do útero (metrite)

  

causadas por retenção placentária. Outra causa freqüente é o traumatismo do

casco. Isto pode ocorrer por dois modos: concussão repetitiva por trabalho

excessivo, principalmente em superfícies duras e com ferrageamento inadequado;

ou por excesso de apoio de peso quando o cavalo apresenta uma claudicação

severa em que não apóia um dos membros e conseqüentemente tem de apoiar o

peso do seu corpo nos demais membros. Isto vai sobrecarregar os cascos,

principalmente dos membros anteriores, com resultante excesso de tensão no tecido

laminar, podendo levar à ruptura das lamelas, desencadeando o processo de

laminite.

Existe também uma forte associação entre a administração de medicamentos

corticoesteróides (cortisona) e o desenvolvimento de laminite. A laminite é também

uma seqüela freqüente em animais afetados com doença de Cushing.

O diagnóstico da laminite é obtido com base nas manifestações clínicas

típicos da doença, e deve ser complementado com o exame radiográfico dos

cascos.

A laminite deve ser considerada uma emergência médica. Esta doença pode

ter efeitos potencialmente devastadores, uma vez que, em estado avançado, o grau

de destruição do casco e conseqüente grau de dor podem levar a eutanásia como

única opção para aliviar o sofrimento do animal. Posto isto, o objetivo principal ao

tratar esta doença deve ser evitar a progressão para um estado avançado, tentando

minimizar o grau de destruição dos tecidos laminares afetados. Ao longo dos anos,

têm sido aplicados variados tipos de tratamentos aos cavalos.

  

2. ANATOMIA

2.1. Ossos digitais do membro anterior do cavalo

Os ossos digitais do membro anterior do eqüino estão reduzidos somente a

um dedo, a terceira radiação. Assim sendo estão formados (KONIG, LIEBICH,

2002):

- a falange proximal

- a falange média

- a falange distal

- três ossos sesamóides (dois proximais e um distal – o osso navicular)

A falange proximal apresenta a forma de um cilindro comprimido no sentido

dorso palmar, cuja base proximal é mais forte em comparação com a cabeça distal.

Na superfície palmar, obeservam-se linhas nessa falange – o trígono da falange

proximal (KONIG, LIEBICH, 2002).

A falange média assemelha-se à falange proximal. A superfície articular

dorsal encaixa-se na área curva da superfície articular distal da falange proximal e

divide-se, através de uma crista sagital, em duas fossas (KONIG, LIEBICH, 2002)

A falange distal apresenta uma cartilagem ungueal de cada lado e o osso

sesamóide distal posicionado em sentido proximal e palmar. Diferenciam-se uma

superfície parietal, uma solear e uma face articular, uma margem solear, no encontro

entre as superfícies da parede e da sola, e uma margem coronal, que contorna as

superfícies articular da parede. Na margem coronal, projeta-se um processo

extensor. A margem solear retrai-se no plano longitudinal mediano na crena da

margem solear. Em sentido palmar, surge de cada lado um processo palmar medial

e lateral, que é dividido por uma incisura do processo palmar em um ângulo proximal

e um distal. Frequentemente, neste local é formado somente um forame (KONIG,

LIEBICH, 2002).

A face parietal forma uma face convexa, apresentando em sentido caudal,

várias rugosidades, e uma superfície lateral, a qual é perfurada por um número

muito grande de orifícios; encontram-se, ainda, vasos sanguíneos nos sulcos dessa

parede.

A face solear é dividida por uma linha semilunar em um plano dérmico cranial

e em uma face flexora palmar para a inserção distal do tendão do músculo flexor

digital profundo. A face articular conecta-se com a tróclea da falange média em

  

sentido palmar com o osso sesamóide. Um sulco bastante marcado e nítido

prolonga-se no forame solear e no canal solear (KONIG, LIEBICH, 2002).

Dois ossos sesamóides estão presentes na extremidade proximal da

articulação da falange proximal. Eles são triangulares, em forma piramidal, e estão

em conexão entre si e com a falange proximal através de ligamentos. A face dorsal

encaixa-se com a sua superfície côncava na cavidade da articulação da falange

proximal. Na face abaxial, o ligamento sesamóideo proximal bifurca-se nos ramos

extensores lateral e medial que se inserem no tendão do músculo extensor digital

comum (KONIG, LIEBICH, 2002).

O osso sesamóide distal ou osso navicular apresenta sua margem distal

convexa unida firmamente à falange distal através de um ligamento. Em sentido

palmar, sua superfície dorsal articula-se com essa falange. A margem proximal é

linear, e a superfície palmar serve como superfície de deslizamento ao tendão do

músculo flexor digital profundo (KONIG, LIEBICH, 2002).

A cartilagem ungueal é par e representa uma lâmina cartilagínea fibrosa, na

qual podem ser diferenciados um longo ângulo proximal e distal, e um curto ângulo

dorsal e palmar. A lâmina contém uma face convexa abaxial e uma face côncava

axial. A cartilagem é unida aos processos lateral e medial. Em sentido palmar, ela

eleva-se livremente sobre a falange distal. A metade distal posiciona-se diante da

cápsula articular; a metade proximal sobrepõe-se à margem coronal da cápsula e

alcança a metade da falange média (KONIG, LIEBICH, 2002).

2.2. Casco (Úngula) do cavalo

O casco é o envoltório córneo do órgão digital do cavalo. A redução de

apenas um casco para cada membro exige uma estrutura capaz de assegurar total

proteção ao órgão digital. A integridade e saúde é, por isso, para o cavalo, que se

apóia na extremidade do terceiro dedo, de especial importância, senão mesmo vital

(KONIG, BUDRAS, 2002).

2.2.1 Definição

O casco, em uma definição restrita, é tido como envoltório córneo e pouco

elástico. Em uma visão mais ampla, clinicamente usada, pode-se considerar também

as partes de apoio internas envolvidas pelo casco, isto é, a porção distal da falange

média, o osso sesamóide distal, a falange distal e as cartilagens ungulares mediais e

  

laterais, que a ela aderem em todos os membros locomotores, bem como a

podotróclea, constituída pelo osso sesamóide distal, pela bolsa podotroclear e pela

área de inserção do tendão do músculo flexor digital profundo (KONIG, BUDRAS,

2002).

Fig. 1: Fotografia de uma secção sagital do casco de um cavalo normal

ilustrando a falange distal (FD), falange média (FM), articulação interfalangeana

distal (AID) e parede interna do casco (PIC). Fonte: Adaptação de Cruz (2007).

A superfície da falange distal é aderida à porção interna do casco através

deste tecido conjuntivo especializado que é o tecido laminar (Fig.2). O Tecido

laminar é constituído por duas camadas principais: as lamelas epidérmicas (camada

externa) e as lamelas dérmicas (camada interna) (Fig.4). De modo a aumentar a

superfície de adesão entre estas estruturas, o tecido laminar está disposto numa

forma sinuosa sendo constituído por lamelas primárias e lamelas secundárias. A

disposição da arquitetura do tecido laminar pode ser verificada quando este é

analisado ao microscópio (Fig.3).

  

Fig.2: Fotografia de um casco de um cavalo normal ilustrando a interface

do tecido laminar (TL) entre a superfície de falange distal (FD) e a parede

interna do casco (PIC). Fonte: Adaptação de Cruz (2007).

Fig.3: Fotografia de uma imagem microscópica do tecido laminar

ilustrando a disposição sinuosa das lamelas dérmicas aderidas às

lamelas epidérmicas, com respectivas lamelas primárias e lamelas

secundárias. Fonte: Adaptação de Cruz (2007).

  

Fig.4: Lâmina dérmica e epidérmica do casco eqüino.

Fonte: http://culturamascalcia.org/wp-content/uploads/foto_sito/lamine_1.jpg

2.2.2 Forma do Casco

Os cascos de potros recém nascidos são semelhantes nos quatro membros.

Só no seu desenvolvimento, nos primeiros meses de vida, ocorre a configuração da

forma do casco, característica para os eqüinos adultos, que torna possível uma

diferenciação entre os cascos dos membros torácicos e dos membros pélvicos. A

limitação de movimentos do potro pode determinar deformidades do casco (KONIG,

BUDRAS, 2002).

No cavalo adulto, o ângulo dorsal digital nos cascos dos membros torácicos

compreende de 45 a 50°; nos cascos dos membros pélvicos atingem, entretanto, de

50 a 55°. As porções laterais da parede do casco são medialmente mais íngremes

ao solo do que lateralmente, de onde é possível uma identificação entre o casco

esquerdo e o direito. A área solear do casco do membro torácico é circular, e, no dos

membros pélvicos, tem a forma elíptica (KONIG, BUDRAS, 2002).

  

2.2.3 Parede córnea do casco

A parede do casco, com uma inclinação do estojo córneo, é delimitada em

diversas seções, cujos limites correm paralelamente ao eixo longitudinal dos túbulos

da coroa (KONIG, BUDRAS, 2002):

- a parte dorsal é limitada por duas linhas imaginárias, que correm em ângulo

de 45° com o eixo longitudinal;

- as partes laterais e mediais aderem palmar e plantarmente até uma linha

oblíqua imaginária coincidente com o diâmetro transversal da sola;

- as partes caudais laterais e mediais formam a parte palmar e plantar da

parede respectivamente até a sua inflexão nas margens

palmar/plantar lateral e medial;e

- a parte inflexa lateral e medial.

2.2.4 Face Solear

A face solear do estojo córneo apresenta as seguintes partes (KONIG,

BUDRAS, 2002):

- margem solear;

- porção córnea da sola;

- cunha córnea;e

- toro digital.

A margem solear, como suporte da carga da parede do casco, é parte

decisiva da superfície de contato do casco, na qual incide o peso do corpo. Na parte

interna, adere a ela a sola córnea côncava, cujo pedúnculo solear, projetando-se do

corpo solear apical, prolonga-se até os ângulos parietais palmares e plantares

laterais e mediais (KONIG, BUDRAS, 2002).

A cunha córnea, limitada pelos sulcos paracuneais laterais e mediais, situa-se

entre os pedúnculos soleares. Em corte transversal, aparece em forma de W, onde a

retração média do W corresponde ao sulco central da cunha, e as pontas dirigidas

para fora, aos dois pedúnculos cuneais lateral e medial (KONIG, BUDRAS, 2002).

Apicalmente, estes se unem, formando o ápice cuneal. Observando-se o

estojo córneo internamente, o sulco cuneal médio forma uma elevação, a crista

cuneal. A cunha, com os seus pedúnculos cuneais, dependendo da forma do casco,

suporta o peso do corpo no ato de pisar. Em sua base cuneal a ranilha transforma-

se no coxim córneo. Este, lateralmente, possui em continuação com os pedúnculos

  

cuneais, as partes laterais e mediais do coxim, que são separadas do sulco cuneal

central (KONIG, BUDRAS, 2002).

2.2.5 Regiões do casco

Das regiões do casco, só após a exungulação, limitam-se nitidamente no lado

interno do estojo córneo e na superfície da derme os três segmentados proximais

(KONIG, BUDRAS, 2002) :

- limbo

- coroa

- parede do casco

Entre o limbo e a coroa, ambos circundando em forma de faixa a

semicircunferência do casco, posiciona-se o sulco do limbo (KONIG, BUDRAS,

2002).

Na superfície da base estão limitados (KONIG, BUDRAS, 2002):

- a sola, no seu arqueamento côncavo e

- o coxim digital, que, no eqüino, é dividido no cúneo apical e no coxim

proximal.

2.2.5.1 Limbo

O limbo é uma faixa de poucos milímetros de largura abaixo da inserção do

pêlo, passando palmar e plantarmente para o coxim (KONIG, BUDRAS, 2002).

Seu tecido subcutâneo é modificado para o seu coxim e segue palmar e

plantarmente para parte tórica do púlvino digital (KONIG, BUDRAS, 2002).

A derme do limbo é formada em sua superfície por papilas delgadas, de

poucos milímetros de comprimento (KONIG, BUDRAS, 2002)

Por sua vez, sua epiderme forma uma arquitetura em túbulos que esmaece

em sentido distal. Proximalmente, abaixo da inserção do pêlo, o cório do limbo forma

uma saliência córnea amarelo-acastanhada, cujas células irrompem do envoltório

celular (KONIG, BUDRAS, 2002).

A partir daí, em sentido distal o cório do limbo é empurrado para baixo como

uma camada de esmalte cinzenta semelhante à telha, sendo desgastado até

alcançar a metade da parede. O cório do limbo tem a função de um reservatório de

umidade, uma vez que as células e o aglutinante intercelular retêm umidade por

embebição, mantendo-o situado abaixo, úmido e elástico. Além disso, possui uma

  

função seladora. Seu aglutinante intercelular contém elevada concentração de

lipídeos que, como um creme hidratante, conservam seu teor de umidade. A

lubrificação da parede do casco, não a da sola nem a da ranilha, com gorduras

apropriadas para o casco, representa, por isso, uma renovação adequada (KONIG,

BUDRAS, 2002).

2.2.5.2 Coroa

A coroa é uma faixa de até 15 mm de largura que adere proximalmente ao

limbo. O tecido subcutâneo da coroa é reforçado para um espesso coxim coronário

que forma a base da saliência coronária. (KONIG, BUDRAS, 2002).

A derme coronária projeta com papilas de até 8 mm de comprimento, dirigidas

distalmente e ordenadas em fila, mais fortes do que as papilas do limbo ou períoplo

(KONIG, BUDRAS, 2002).

A epiderme da coroa possui uma marcante arquitetura tubular. Seu cório

coronário é marcado por forte resistência à pressão e à tração, sendo movimentado

paralelamente à face parietal da falange distal, em direção distal, formando o estrato

médio da parede do casco, com cerca de 1,2 cm de espessura que, em razão de

sua resistência mecânica, é também chamado de camada de proteção (KONIG,

BUDRAS, 2002).

O segmento córneo coronário da parede apresenta uma camada interna, uma

média e uma externa, cada uma constituída por um determinado tipo de túbulos.

Externamente predominam túbulos com diâmetro oval oblíquo. Na camada externa e

média, o córtex tubular compõe-se de células córneas superpostas semelhantes, e

uma casca de cebola, que apresenta alta estabilidade contra as forças de pressão

radial dirigidas de fora para dentro. A camada interna de estrato córneo constitui-se

de túbulos córneos cilíndricos, cujo córtex contém células córneas fusiformes,

ordenadas longitudinalmente. Esse tipo de túbulos recebe forças de pressão, que

atuam, sobretudo em direção proximodistal, como se fosse um amortecedor

(KONIG, BUDRAS, 2002).

Na região do limite entre os dois tipos de túbulos, isto é, entre as camadas

média e interna do cório coronal, ocorrem leves fissuras que levam à formação de

espaços na parede. Um cravo aplicado no casco não encontra ótima fixação nessa

região (KONIG, BUDRAS, 2002).

  

2.2.5.3 Parede do Casco

A parede situa-se sobre a camada do cório coronário, sendo coberta no seu

terço proximal pelo limbo ou períoplo (KONIG, BUDRAS, 2002).

A derme parietal está diretamente unida à superfície parietal do casco por seu

estrato reticular (KONIG, BUDRAS, 2002).

A derme lamelar é formada por cerca de 600 lamelas dérmicas primárias, com

direção proximodistal e comprimento médio de 3,5 mm. Complementarmente,

existem cerca de 110 lamelas dérmicas secundárias, também de direção

proximodistal. Algumas papilas da crista proximal têm a sua origem no ápice das

lamelas primárias. As papilas córneas distais encontram-se próximas da

extremidade das lamelas, em continuação com as papilas terminais digitiformes,

com as quais termina a lamela (KONIG, BUDRAS, 2002).

A epiderme parietal é formada por lamelas epidérmicas primárias e

secundárias, correspondendo à forma das papilas córneas. Apenas a lamela

epidérmica primária possui centralmente um estrato córneo – a lamela córnea. As

lamelas córneas são deslocadas em direção distal através de constante divisão

celular, sendo visíveis na zona branca como riscos brancos e estreitos. Sobre os

ápices das lamelas dérmicas primárias forma-se, pela epiderme parietal, o estrato

córneo externo cujos poucos túbulos córneos quase sempre esmaecem antes de

alcançar a margem solear (KONIG, BUDRAS, 2002).

As extremidades lamelares da epiderme parietal apresentam papilas córneas,

ao contrário da epiderme parietal restante, conforme o tipo de cornificação macia.

Surgem as papilas terminais, cujos túbulos córneos espessos possuem espaços

medulares muito amplos. Após sua movimentação em direção distal, é visto na zona

branca como tecido córneo amarelo-castanho, que preenche os intervalos entre as

lamelas córneas. O cório parietal – a camada de união da epiderme laminar – forma

a união de tração e carga entre o cório coronário e o segmento parietal, firmemente

unido a falange distal. As células córneas das lamelas especialmente alongadas,

esponjosas, com seu alto teor de água em seus espaços internos, apresentam a

elasticidade de uma almofada d’água subcâmara e são dispostos ao longo do estojo

córneo, em sentido oblíquo (KONIG, BUDRAS, 2002).

A zona branca (linha Alba) faz uma união discretamente distensível entre o

córeo coronário e o córeo solear. Sua largura corresponde à altura das lamelas

córneas. A construção heterogênea do estrato córneo lamelar macio faz da zona

  

branca um ponto fraco da parede do casco em sua função como barreira contra

agentes mecânicos, químicos e biológicos. A medula tubular dos túbulos córneos

terminais, que precocemente se decompõe, é a parte mais fraca da zona branca

contra correntes líquidas ascendentes predispondo a uma ascendente colonização

de germes (KONIG, BUDRAS, 2002).

2.2.5.4 Sola (Solea)

O segmento solear com seu tecido córneo de superfície côncava se situa

junto à margem solear, internamente, e participa, ao contrario do casco, apenas com

a sua margem externa ao apoio no solo. Não existe uma tela subcutânea.

A derme solear assenta-se firmemente sobre a fáscia solear da falange distal.

Sua superfície é ocupada com papilas alongadas, um pouco inclinadas, em direção

apical (KONIG, BUDRAS, 2002).

A epiderme solear possui arquitetura tubular. A espessura de seu estrato

córneo varia muito regionalmente em torno de valores médios de cerca de 1 cm. A

porção córnea da sola é mais espessa no limite com a zona branca, razão pela qual

esta é ancorada. As camadas profundas do cório solear compõem-se de lamelas

firmemente unidas entre si, capazes de serem cortadas, semelhantes ao cório

coronário, porém menos firmes. Na superfície externa, o estrato córeo fragmenta-se,

apresentando um aspecto de fissuras esfoliativas e uma coloração branco-

acinzentada, com manutenção do arqueamento solear natural (KONIG, BUDRAS,

2002).

2.2.5.5 Coxim digital

O coxim digital apresenta, como o casco, uma porção apical (distal) e uma

proximal. A ranilha situa-se entre os pedúnculos soleares. O coxim proximal

corresponde à base digital do casco, dirigindo-se para o limbo e a pele coberta de

pêlos (KONIG, BUDRAS, 2002).

2.2.6. Cunha da Úngula ou ranilha

A ranilha é a estrutura amortecedora mais importante do órgão digital. Sob

carga, sua forma em W, visível em um corte transversal, é achatada sob absorção

de impacto, ou seja, é distendida pela sua natureza flexível. A elasticidade de cunha

  

possibilita, na fase de suspesão do casco, o retorno para a sua forma original

(KONIG, BUDRAS, 2002).

O tecido subcutâneo espessado da porção cuneal do coxim digital reforça

ainda as características amortecedoras da cunha (KONIG, BUDRAS, 2002).

A derme, ou cório cuneal, apresenta vilosidades de configuração espiralada

que possuem menor comprimento do que as papilas soleares (KONIG, BUDRAS,

2002).

A epiderme cuneal não cornifica, como a epiderme da margem proximal do

casco, sobre um estrato granuloso. O cório cuneal possui uma consistência retrátil

devido às suas vilosidades espiraladas, que correspondem aos túbulos córneos da

epiderme cuneal, também de forma espiralada (KONIG, BUDRAS, 2002).

3. ETIOLOGIA

A laminite é definida como inflamação da lâmina sensitiva do casco,

causadora de degeneração e necrose das lâminas dérmicas e epidérmicas do

casco. Apesar de correta, é uma definição simplificada da seqüência complicada de

eventos que resultam em diferentes graus de quebra da interdigitação entre as

lâminas dérmicas e epidérmicas, culminando na rotação ou no deslocamento distal

da terceira falange (MIKAIL, PEDRO, 2006).

Ainda que não exista correlação com idade, sexo e peso, os pôneis são mais

suscetíveis, e os eqüinos que apresentam laminite crônica são freqüentemente mais

velhos e do sexo feminino. A laminite normalmente afeta ambos os cascos dos

membros torácicos, mas todos os cascos ou somente um pode ser acometido

(MIKAIL, PEDRO, 2006).

A laminite pode resultar de uma variedade de eventos patológicos que

envolvem outros sistemas do organismo, principalmente o gastrointestinal. Entre os

fatores predisponentes, pode-se citar o excesso de ingestão de carboidratos, a

síndrome cólica, as diarréias e as infecções graves, como peritonite,

pleuropneumonia e endometrite. Também já foram citadas como causas

predisponentes a ingestão de algum tipo de gramíneas, exercício intenso, trabalho

em piso duro, transporte prolongado e terapia prolongada com corticosteróides

(MIKAIL, PEDRO, 2006).

Apesar dos diversos mecanismos propostos para esclarecer a degeneração

laminar, a patogênese da laminite permanece desconhecida. Sabe-se, contudo, que

  

o resultado final do processo inclui hipoperfusão do dígito levando a isquemia,

necrose e edema das lâminas (MIKAIL, PEDRO, 2006).

Sendo assim, após décadas de estudo, a causa exata da quebra de

interdigitação laminar no casco eqüino ainda é debatida entre os pesquisadores.

Uma explicação unânime é que o fluxo de sangue laminar é interrompido em algum

local, causando necrose isquêmica do tecido. Com essa falta de oxigênio e de

energia para manter a adesão entre as células epidérmicas laminares e sua

membrana basal, a estrutura é quebrada. No entanto, a literatura sobre laminite

divide-se em relação à causa primária dessa interrupção de perfusão laminar

(MIKAIL, PEDRO, 2006).

As causas propostas para isquemia tecidual incluem microtromboses

induzidas por endotoxemia, alteração na dinâmica vascular e ativação da destruição

enzimática da membrana basal laminar (MIKAIL, PEDRO, 2006).

Os trabalhos que tentaram relacionar endotoxemia, disfunção da coagulação

e formação de microtrombos na vascularização laminar não foram claros. No

entanto, existe uma correlação direta entre laminite e endotoxemia, ou seja, eqüinos

que exibem clinicamente sinais de endotoxemia possuem grande chance de

desenvolver laminite (MIKAIL, PEDRO, 2006).

A hipótese de alteração na dinâmica vascular inclui trabalhos que comprovam

o aumento ou a diminuição do fluxo sanguíneo no casco, ou trabalhos nos quais a

perfusão digital diminui apesar de o fluxo total de sangue aumentar via “shunts”

arteriovenosos (MIKAIL, PEDRO, 2006).

Deve-se salientar que poucos trabalhos estudaram a circulação digital durante

a fase de desenvolvimento da laminite. Segundo “Pollitt”, existe a evidencia de que,

durante a fase de desenvolvimento da laminite, ocorre vasodilatação no casco e a

laminite não acontecerá se no casco existir vasoconstrição. Nesses estudos, não

foram encontrados necrose de células epidérmicas, edema, coagulação

intravascular ou microtrombos na fase prodrômica da laminite (MIKAIL, PEDRO,

2006).

Outra hipótese para a isquemia digital são o dano e a morte das células

epidérmicas, decorrentes da destruição enzimática da membrana basal. Essa teoria,

baseada na ativação descontrolada das metaloproteínases 2 e 9 ou na dissolução

dos hemidesmossomas, altera a teoria de que a laminite se inicia por causa da

necrose isquêmica laminar decorrente de uma interrupção do fluxo sanguíneo.

  

Acredita-se que a ativação descontrolada das metaloproteínases é conseqüente à

chegada local de fatores desencadeantes, como endotoxinas, e que a dissolução

dos hemidesmossomas ocorre por causa da alteração no metabolismo da glicose.

(MIKAIL, PEDRO, 2006).

Com a destruição da membrana basal, estrutura que liga a epiderme do casco

ao tecido conjuntivo da falange distal, ocorre a separação das lâminas dérmicas e

epidérmicas. Conforme a membrana basal e o tecido conjuntivo entre as lâminas

epidérmicas secundárias desaparecem, os capilares também são destruídos. Sem

os capilares na circulação laminar, ocorre a abertura dos “shunts” arteriovenosos e a

mudança drástica da circulação do casco (MIKAIL, PEDRO, 2006).

A fase de desenvolvimento da laminite ocorre durante 30 a 40 horas antes do

aparecimento da dor nos cascos. Nessa fase, os fatores desencadeantes da laminite

atuam no tecido laminar, levando à separação e à desorganização de sua anatomia.

Após o aparecimento da dor, a laminite pode ser dividida em aguda e crônica, sendo

que a laminite aguda ainda pode ser subdividida em subaguda, aguda e refratária

(MIKAIL, PEDRO, 2006).

3.1. Etiopatogenia dietética

A ingestão de grãos ou concentrado maior do que a quantidade

organicamente tolerável no eqüino constitui-se em um fator preponderante no

desencadeamento da laminite. Apesar da oferta quantitativa poder variar, uma vez

que, estes animais podem desenvolver tolerância, quanto a ingestão de grandes

quantidades de grãos (GARNER, 1980; STASHAK, 2002). Dentre os grãos, uma

maior utilização e inter-relação com laminite, o consumo de milho, aveia e trigo. Bem

como, geralmente associados ao desencadeamento de indigestão ou gastrenterite,

onde a histidina produzida na digestão é transformada em histamina, principal

substância vasoativa na circulação dos cascos. (HUNT, 1993; THOMASSIAN, 2005).

A ingestão de excesso de carboidratos altera o equilíbrio bacteriano no

interior do ceco, resultando em um aumento das bactérias produtoras de ácido

láctico, principalmente Lactobacillus e Streptococcus. O aumento no ácido láctico e a

diminuição no pH quebram a parede celular das bactérias gram-negativas resultando

na liberação de lipopolissacarídeos vasoativos (endotoxinas). Acredita-se que a

redução do pH do ceco e a presença da endotoxina seriam as responsáveis pela

quebra da barreira da mucosa, possibilitando a absorção da toxina e o

  

desencadeamento dos demais fenômenos etiopatogênicos (GARNER, 1980;

STASHAK, 2002; THOMASSIAN,2005; SOUZA, 2007).

Eqüinos que apresentam laminite por pasto, geralmente estão acima do peso

ideal, sendo comum entre cavalos que pastam durante o verão ou que apresentam

uma grande crista no pescoço devido ao tecido adiposo. Fatores hormonais podem

resultar em ação etiológica em certos casos, conforme algumas gramíneas ou

leguminosas que contenham estrógenos. (STASHAK, 2002).

3.2. Etiopatogenia mecânica

Resulta da concussão digitais devido a um trabalho intenso em superfície

dura (STASHAK, 2002). Ocorre em animais com treinamento deficiente ou

inadequado e que são submetidos a trabalho intenso. Assim como, por impotência

funcional de apoio de um dos membros torácicos, geralmente são acometidos, após

alguns dias, de laminite no membro contralateral devido à intensa fadiga de apoio

(PELOSO et al., 1996; THOMASSIAN, 2005).

3.3. Etiopatogenia infecciosa

Éguas com retenção placentária e conseqüente endometrite, desenvolvem

laminite bastante severa, por desordem circulatória séptica; assim como, decorrente

de pneumonia ou graves infecções sistêmicas. Ocorre ampla variedade de distúrbios

que afetam o cavalo, como a septicemia e a toxemia (HUNT, 1993; KNOTTENBELT

& PASCOE, 1998; SAVAGE, 2001; THOMASSIAN, 2005).

Diversas doenças sistêmicas que causem estresse ou debilitação pode

resultar no desencadeamento dessa morbidade; principalmente infecções do

sistema respiratório (pleuropneumonia) e do sistema digestório (peritonite)

(THOMASSIAN, 2005; CRUZ, 2007; RIET-CORREA et al., 2007).

3.4. Causas diversas

Muitos são os fatores que podem ser responsáveis pela laminite, porém

quando não existem evidências de causas mais comuns, deve-se atentar à

possibilidade de desequilíbrios hormonais, alterações tróficas da falange distal, uso

prolongado de doses excessivas de corticosteróides e derivados da fenilbutazona

em animais com "hipertensão" digital (THOMASSIAN, 2005). Stashak (2002) relata

que éguas que não apresentam estro mostraram sinais de laminite, e uma vez

  

ocorrido o cio, a laminite cessa quase de imediato. Em outros casos, éguas com

estro contínuo apresentaram laminite que rescindia completamente após a correção

do cio.

É bastante enfatizado, que durante exercícios de alta intensidade, ocorre

aumento do volume globular e alterações nas concentrações plasmáticas de íons

fortes, e de proteínas plasmáticas. Durante testes de exercício progressivo, verifica-

se aumento das concentrações plasmáticas de sódio e proteínas totais, com

diminuição do conteúdo e da concentração de sódio eritrocitário (CARLSON, 1995;

THOMASSIAN et a.l, 2007).

4. EPIDEMIOLOGIA

Uma pesquisa dos fatores de risco associados com a laminite indicou que

éguas e garanhões não castrados apresentam maiores riscos de desenvolvimento

de laminite do que os animais castrados. O pico de incidência de novos casos

também correspondeu ao crescimento das pastagens luxuriantes da primavera,

sugerindo que a ingestão de grandes quantidades de capim fresco é também fator

de risco significativo para cavalos em regime de pastagens (SMITH, 1994).

5. FISIOPATOLOGIA

A degradação do aparato lamear é iniciado conforme há o desenvolvimento

da laminite. Visto que as lâminas epidérmicas suspendem a falange distal e,

portanto, o peso do cavalo e a degeneração laminar destroem o mecanismo de

suspensão e permite que as forças de sustentação do peso empurrem a falange

distal ventralmente (SMITH, 1994).

  No casco do cavalo, os mecanismos vasoativos e de coagulação (por ação de

mediadores como prostaglandina, serotonina, histamina) são responsáveis por

alterar o fluxo sangüíneo podal que se processa por vasos através dos forames

nutridores da falange distal, para depois formar a rede de microcirculação no

sistema de sustentação laminar do casco. A vasoconstrição causa diminuição do

fluxo sangüíneo e edema, falta de nutrientes e conseqüente, necroses isquêmica no

tecido lamelar, gerando o desvio “shunts” arteriovenosos no restante da circulação.

A instalação da necrose isquêmica produz perda da interrelação do tecido

podofiloso, predispondo ao abaixamento e aos fenômenos de rotação da falange

distal. O cório coronário palmar, lâmina dérmica palmar e cório palmar da sola, não

  

são comprometidos pelos fenômenos de isquêmia, por apresentarem intensa rede

de vasos colaterais (THOMASSIAN, 1997). A dor gerada no processo é um estímulo

que libera catecolaminas que irão agir no interior dos vasos, causando a

vasoconstrição e aumentando a isquemia. Conforme a laminite passa para a fase

crônica, a necrose se estende às estruturas dérmicas, causando uma perda do

apoio suspensório entre as lâminas dérmicas e epidérmicas(STASSHAK,1994). Um

cavalo normal carrega aproximadamente 22% de seu peso em cada membro pélvico

e 28% sobre cada membro torácico. Existem cinco cargas preliminares colocadas no

dígito de um eqüino em estação: (1) cargas compressivas devido ao peso do cavalo;

(2) força tênsil de tração do tendão flexor digital profundo; (3) força tênsil de tração

interdigital laminar da parede casco; (4) força tênsil de tração do tendão extensor

digital comum longo; e (5) força compressiva da sola no chão. As três forças

predominantes em ordem ascendente de importância são a carga compressiva

exercida pela massa do corpo, a força tênsil produzida pela tração do tendão flexor

digital profundo sobre a falange distal e a força tênsil da interface laminar (GARNER

et al., 1975). Uma combinação das forças de tração do tendão do músculo flexor

digital profundo e as forças rotacionais que têm o seu foco na pinça separam

mecanicamente a falange distal da parede do casco (STASHAK,1994).

A integridade do mecanismo suspensório laminar depende da manutenção de

proteínas nas redes citosequeléticas e junções intercelulares das células laminares

epidérmicas. A degeneração laminar pode ocorrer devido a fatores citotóxicos ou por

distúrbios que aumentam a tensão sobre as lâminas (SMITH, 1994).

6. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS

As manifestações clínicas num cavalo com laminite são claudicação severa e

bilateral (que afeta os dois membros) na maioria dos casos ou em alguns casos

quadrilateral (que afeta os quatro membros).

O cavalo hesita em mover-se e tende a alternar o apoio do seu peso de uma

mão para a outra. Quando forçado a deslocar-se, o cavalo tende a inclinar o peso do

seu corpo sobre os posteriores, tentando apoiar-se apenas na porção dos talões dos

membros torácicos (Fig.6)

  

O exame físico revela ainda um pulso digital forte e calor na parede do casco

e banda coronária. Quando o casco é testado com uma pinça de casco, o cavalo

apresenta dor na região dos pinças e à frente do vértice das ranilhas (Fig.5).

Fig. 5: Fotografia de um casco ilustrando a região da sola onde normalmente um cavalo com laminite

apresenta um elevado grau de dor (cruzes vermelhas). Fonte: Texto, Saiba mais, disponível em

www.equisport.pt

Fig.6: Fotografia de um cavalo com laminite ilustrando a postura e

andamento típicos desta doença. Fonte: Texto, Saiba mais, disponível em www.equisport.pt

A forma subaguda apresenta sinais clínicos menos severos e pode ser vista

em eqüinos que trabalharam em superfícies duras ou que tiveram seus cascos

aparados excessivamente. Nesses casos, não ocorre dano laminar ou rotação da

terceira falange. Na forma aguda, os sinais clínicos são mais severos, e a doença

não responde imediatamente ao tratamento, sendo a rotação da terceira falange

uma possível conseqüência. Equinos com laminite refratária são aqueles que pouco

  

respondem ao tratamento no período de 7 a 10 dias, sendo inevitável a ocorrência

de degeneração laminar e inflamação e, normalmente o prognóstico é ruim (MIKAIL,

PEDRO, 2006).

O diagnóstico de laminite subaguda é mais difícil, pois os sinais clínicos são

menos evidentes. Durante essa fase, os eqüinos apresentam pulso digital cheio e

forte, claudicação leve, troca de apoio e sensibilidade à pinça de casco. Na laminite

aguda, acrecentam-se os sinais de desvio do centro de gravidade, relutância à

locomoção, ansiedade, e temperatura aumentada da muralha e da banda coronária

(MIKAIL, PEDRO, 2006).

A laminite crônica é a continuação da laminite aguda, especificamente da

refratária, e inicia-se no primeiro sinal de instabilidade da terceira falange dentro do

estojo córneo (Fig. 7 e 8). Essa fase pode ainda ser dividida, segundo alguns

autores, em crônica prematura, crônica ativa e crônica estável (MIKAIL, PEDRO,

2006).

A fase crônica prematura inicia-se ao primeiro sinal de nstabilidade da terceira

falange e pode perdurar por dias a meses. A fase crônica ativa caracteriza-se pela

rotação e pelo constante movimento e instabilidade da terceira falange, podendo

esta perfurar a sola do casco. Casos crônicos estáveis são aqueles em que a

terceira falange se estabilizou, e o casco e a sola voltaram a crescer, ocorrendo

melhora clínica evidente (MIKAIL, PEDRO, 2006).

Fig.7: Fotografia de uma secção sagital do casco de um cavalo

afetado com laminite ilustrando a rotação da falange distal (FD)

causada pela rotura do tecido laminar (TL) com conseqüente

separação entre a falange distal e a parede do casco (PIC). Note-se

a concavidade (seta amarela) na sola causada pela pressão exercida

pela falange distal. Fonte: KNOTTENBELT & PASCOE (1998).

  

Fig.8:. Distrofia necrótica do casco por laminite: evidência da rotação da

falange distal - (A) necrose laminar com descolamento entre as lâminas dérmica e

epidérmica; (B) evidente necrose do tecido laminar, ápice em sentido ventral com

perfuração da sola. Fonte: KNOTTENBELT & PASCOE (1998).

Equinos com laminite crônica podem apresentar, além da claudicação,

escaras de decúbito, hiporexia, depressão coronária, abaulamento da sola,

descolamento da coroa, exungulação, perfuração da sola e osteíte da terceira

falange. As alterações no crescimento, sola projetada, pinça aumentada e

concavidade de muralha (MIKAIL, PEDRO, 2006).

A laminite aguda pode afetar ambas as patas dianteiras ou todas as quatro

patas. Se todas as quatro patas estiverem afetadas, o cavalo tende a permanecer

deitado por longos períodos. Quando em pé, o cavalo posiciona as patas traseiras

bem sob o corpo e as patas dianteiras mais caudalmente, de modo que há uma

base de apoio muito pequena. Na maior parte das vezes, apenas as patas dianteiras

estão comprometidas. Neste caso, as patas traseiras são posicionadas bem sob o

corpo (cranialmente) e as patas dianteiras são estendidas para frente, com o peso

apoiado nos talões do casco. O cavalo mostra grande relutância em se mover

(ADAMS, 1994).

Obel caracterizou clinicamente e graduou a gravidade da claudicação pelo

seguinte critério (ADAMS, 1994):

- Grau 1 – Quando em repouso, o cavalo vai levantar as patas

alternadamente e de modo incessante. A claudicação não é evidente ao passo, mas

nota-se um andar curto e “defendido” ao trote.

  

- Grau 2 – Os cavalos se movem sem problemas ao passo, mas o andar é

entrecortado. Pode-se levantar uma pata do solo sem dificuldades.

- Grau 3 – O cavalo se move com grande relutância e resiste vigorosamente

às tentativas de levantar uma pata do solo.

- Grau 4 – O cavalo recusa-se a andar e somente o fará se forçado.

A parede do casco e a faixa coronária estão quentes. Há um pulso digital

aumentado. Muitos cavalos demonstram ansiedade, tremores na musculatura devido

à dor intensa, respiração acelerada e elevação variável da temperatura corpórea. As

mucosas estão congestas. Muitas vezes é difícil para o cavalo erguer uma pata, pois

isto coloca peso adicional na(s) outra(s) pata(s) afetada(s).

Os sintomas de laminite por grãos geralmente não aparecem antes de 12 ou

18 horas após a ingestão do grão, muitas vezes levando o proprietário a crer que o

animal não será afetado. Após esse intervalo, no entanto, aparece a laminite,

diarréia, toxemia, tremores musculares, aumento na pulsação e respiração, com

uma elevação variável na temperatura (ADAMS, 1994).

Nas éguas que sofrem de laminite devido à uma metrite, a temperatura muitas

vezes é alta (de 40 a 41°C), as mucosas se apresentam congestas e há taquicardia

e taquipnéia consideráveis. O exame do útero revela um líquido escuro e aquoso em

quantidades variáveis, podendo ser encontradas restos das membranas fetais.

A laminite aguda pode causar a morte, mas isso não é comum. Em laminites

intensas o casco pode se desprender, havendo perda do estojo córneo (ADAMS,

1994).

A laminite torna-se crônica após 48 horas de dor contínua, ou quando ocorre

rotação da falange distal. Pode não haver claudicação intensa após a fase aguda,

porém, pode ocorrer uma recorrência aguda. Os pôneis e cavalos gordos que

tiveram laminite, frequentemente apresentarão recorrência com alteração súbitas no

pasto, quando os brotos verdes e viçosos surgem na primavera. Os cavalos de

exposição apresentam um risco maior durante o fim do verão e início do outono, no

pico da temporada de exposições. Durante este período o animal geralmente está

sob muito estresse, normalmente, sendo alimentado com dietas ricas em

carboidratos (grãos) (ADAMS, 1994).

Se a rotação da falange distal ocorre, e quando ocorre, pode variar de ligeira

a grave. A rotação grave é muitas vezes acompanhada por separação da faixa

coronária na região do processo extensor, com exsudação de soro por esta falha.

  

No exame da superfície basal da pata pode ser notada uma separação semicircular

da sola imediatamente dorsal ao ápice da ranilha, indicando que a ponta da falange

distal está começando a penetrar na sola. Esse é um quadro bastante grave, sendo

que os cavalos raramente se recuperam ou podem ser salvos. Nas rotações leves

ou moderadas e crônicas da falange distal, anéis divergentes serão visíveis na

parede do casco. O espaço entre os anéis na região dos talões será tipicamente

maior que na região da pinça. Isso representa um padrão de crescimento

diferenciado, no qual os talões estão crescendo muito mais rapidamente que a

pinça, pois há diminuição do suprimento sanguíneo e da síntese de ceratina nessa

região. Os cavalos que sofrem de laminite crônica com rotação da falange distal

possuem uma tendência a apoiar o casco sobre os talões e, a seguir, bater de modo

exagerado a pinça. Isso era de se esperar, pois a falange distal não está em

alinhamento normal com a parede do casco ou com a sola (ADAMS, 1994).

Uma pinça gasta resultante da separação das lâminas geralmente está

presente na laminite crônica. Pode ocorrer uma separação da linha branca grande o

suficiente para permitir a penetração de infecção nas lâminas. Na laminite crônica,

uma infecção similar à da ranilha pode invadir a sola escamosa e destruir toda a

proteção da falange distal. A região da sola se apresenta também convexa (ADAMS,

1994).

Quando se apara os cascos de um cavalo afetado por laminite é fácil provocar

um enrubescimento e sangramento da sola, pois a vascularização desta região

aumenta na laminite. Esta tendência hemorrágica aumentada se mantém por muitos

meses após um ataque de laminite. O exame com a pinça de cascos durante a fase

crônica raramente provoca uma resposta dolorosa. A razão disto é desconhecida

(ADAMS, 1994).

7. DIAGNÓSTICO

Os sintomas observáveis tornam o diagnóstico da laminite relativamente fácil.

A atitude típica do animal, a pulsação aumentada das artérias digitais, o calor nos

cascos e a dor evidenciada pela pinça dos cascos, na fase aguda, devem fornecer

provas adequadas de laminite. A laminite crônica mostra alterações características

no casco e um andar típico (ADAMS, 1994).

Como os sintomas de laminite são óbvios e o diagnóstico é facilmente

realizado, a anestesia perineural raramente é indicada para o diagnóstico, mas

  

muitas vezes é utilizada para tratamento. Se for empregada a anestesia perineural,

no entanto, pouco alivio é obtido com o bloqueio do nervo digital palmar na base dos

sesamóides ou, alternativamente, com a utilização de um bloqueio em anel na

quartela.

Em todos os cascos devem ser realizadas radiografias em série, de 48 a 72

horas após o início agudo da laminite, para monitorar o progresso da rotação da

falange distal. A evidência radiográfica da rotação da falange distal é identificada

pela divergência do osso em relação à parede do casco. Uma forma objetiva de

avaliar-se o grau de rotação foi recomendado por Stick. O grau de rotação é

estimado traçando-se linhas paralelas à face dorsal da parede do casco e á face

dorsal da falange distal em uma folha de acetato. O ângulo de intersecção da parede

do casco e da falange distal com a superfície do solo é identificado e os dois valores

são substraídos para se obter o grau de rotação. Esta informação é valiosa por

vários motivos. Primeiro, radiografias em série com intervalos semanais

prolongando-se por períodos maiores de tempo irão permitir que o veterinário avalie

o tratamento e a gravidade do processo patológico inicial que ocorreu. Um grau

crescente de rotação da falange distal é um sintoma grave. Segundo, no estágio

crônico a classificação da utilidade do cavalo pode ser predita (ADAMS, 1994).

O exame radiográfico é fundamental para se planejar o tratamento e obter um

prognóstico. Por meio deste exame, pode-se observar o deslocamento distal ou a

rotação da terceira falange, com ou sem áreas radioluscentes, sugestivas de

acúmulo de ar na região submural ou subsolear (MIKAIL, PEDRO, 2006)

Podemos utilizar também a venografia como diagnóstico, que é uma técnica

radiográfica que contrasta as veias por via retrógrada, onde são destacados pela

utilização de uma solução radiopaca, a fim de avaliar sua integridade, distribuição e

posição anatômica (FRAZÃO, BORJA, FERNANDES, HAGEN, 2007).

  

Fig. 9: Radiografia A – Cavalo normal: Nota-se que a superfície externa da falange distal é paralela à

superfície da parede do casco ao longo de todo o comprimento. Fonte: Cruz (2007).

Fig. 10: Radiografia B – Cavalo com laminite: Devido à rotura do tecido laminar, a falange distal

separou-se da parede do casco e sofreu rotação. Isto é evidenciado radiograficamente ao verificar-se

um grau de divergência entre a parede do casco e a superfície da falange distal, que deixaram de ser

paralelas. Fonte: Cruz (2007).

  

Para auxiliar na avaliação do ângulo formado entre a parede do casco e a

terceira falange, pode-se colar um corpo radiopaco na face dorsal do casco(fig 10):

Fig. 11 : Angulação do casco com a terceira falange Fonte: Cruz (2007).

Fig. 12: Lâminite aguda tendendo a cronicidade Fonte: Cruz (2007).

Outro tipo de exame pode ser realizado como diagnóstico como a termografia

que é a representação gráfica da temperatura superficial de um objeto (Fig.12). A

câmara capta as radiações infravermelhas emitidas pelo corpo e as transforma

numa escala de cores que pode ser correlacionada com o índice de perfusão

sanguínea local, captando variações de temperatura a partir de 0,1 ou 0,2 graus que

seriam imperceptíveis a palpação.

  

Fig.13: Cavalo com laminite submetido ao exame de termografia Fonte: Texto Termografia, disponível

em www.equisports.com.br

8. TRATAMENTO

O tratamento baseia-se em eliminar ou minimizar os fatores predisponentes,

reduzir o ciclo de dor/hipertensão, reduzir ou previnir danos laminares permanentes,

melhorar a hemodinâmica capilar laminar e previnir a rotação da terceira falange.

Partindo do princípio de que a maioria das doenças que predispõem os eqüinos a

apresentarem laminite está associada a endotoxemia circulatória, combater efeitos

da endotoxemia e “sepsis” por meio de fluidoterapia, antibióticoterapia, utilização de

flunixin meglumine ou cetoprofeno e soro ou plasma hiperimune é essencial

(MIKAIL, PEDRO, 2006).

A crioterapia durante a fase de desenvolvimento da laminite tem sido sugerida

como uma importante estratégia preventiva. A aplicação de gelo resulta em

analgesia local, diminuindo a atividade enzimática local e vasoconstrição. Estudos

com cintilografia mostram que a terapia a frio diminui significamente a perfusão dos

cascos quando tratados durante 30 minutos com frio extremo. Já a terapia a quente

ou vasodilatadora é contra-indicada na fase de desenvolvimento da laminite

(MIKAIL, PEDRO, 2006).

Os antiinflamatórios não-esteróides são necessários para reduzir a dor e a

inflamação nos cascos. A fenilbutazona é o antiinflamatório não-esteróide mais

comumente utilizado. Deve inicialmente ser utilizado na dose de 4,4 mg/kg via oral

ou via intravenosa a cada 12 horas, durante três a quatro dias, diminuindo-se

gradualmente para 2,2 mg/kg nos dias subseqüentes ou até quando necessário.

A fenilbutazona reduz potencialmente a inflamação, o edema e a dor no

dígito, sendo aparentemente mais eficaz em reduzir a dor do que o flunixin

meglumine e o cetoprofeno. Entretanto o flunixin pode ser utilizado na dose de 1,0

  

mg/kg a cada 12 horas ou 0,25 mg/kg a cada 8 horas, sozinho ou em associação à

fenilbutazona em dose menor, nos cascos em que há endotoxemia ou sepsis

(MIKAIL, PEDRO, 2006).

O cetoprofeno trabalha de forma similar ao flunixin e deve ser utilizado na

dose de 3,60 mg/kg. Estudos mostraram que o cetoprofeno é mais efetivo em

diminuir a inflamação do que a fenilbutazona e o flunixin. Também demonstrou-se

que o cetoprofeno é mais potente do que a fenilbutazona em dores crônicas do

casco (MIKAIL, PEDRO, 2006).

O dimetilsulfóxido (DMSO) é um agente antiinflamatório potente e age contra

radicais livres, prevenindo a lesão de reperfusão após isquemia. Apesar de não

haver comprovação científica de sua eficácia para o tratamento de eqüinos com

laminite, melhoras clínicas são observadas quando utiliza-se a dose de 0,1 mg/kg a

cada 12 horas, durante dois a três dias (MIKAIL, PEDRO, 2006).

A terapia vasodilatadora visa restabelecer a circulação e melhorar a perfusão

do casco. Pode-se utilizar acepromazina na dose de 0,03 a 0,06 mg/kg por via

intramuscular a cada seis ou oito horas por três a cinco dias ou semanas. O

isoxsuprine na dose de 1,2 mg/kg a cada 12 horas via oral também é recomendado,

apesar de controvérsias quanto a sua eficácia. A pentoxifilina na dose de 4,4 mg/kg

a cada oito horas tem sido utilizada para melhorar a circulação e a distribuição de

oxigênio, porém sua utilização não tem encontrado respaldo científico (MIKAIL,

PEDRO, 2006).

O oxido nítrico é uma substância vasodilatadora endotélio-dependente, sendo

ele o mediador responsável pela atuação da nitroglicerina e de outros

vasodilatadores nitrogenados. A nitroglicerina deve ser aplicada na região da

quartela sobre o plexo vascular digital. Inicialmente, utiliza-se 60 mg/dia durante dois

dias. Caso haja melhora do quadro clínico, reduz-se para 40 mg por outros dois dias

e, em seguida, para 20 mg por mais dois dias.

O tratamento com anticoagulantes envolve a utilização da heparina na dose

de 40 a 80 UI/Kg intravenoso. ou via subcutânea sub-cutâneo a cada 8 ou 12 horas,

e a aspirina na dose de 10 a 20 mg/Kg a cada 48 horas via oral (MIKAIL, PEDRO,

2006).

Recomenda-se retirar a ferradura, quando houver, e aparar cascos com

pinças longas, retirando o apoio destas. Deve-se dar suporte também ao casco por

meio da utilização de piso de areia e cama seca e macia. A distribuição de peso é

  

alcançada com a utilização de palmilhas preferencialmente confeccionadas com

isopor. Outra possibilidade é a utilização de lily pads (Fig. 14), apesar de estudos

mostrarem que seu uso pode aumentar significativamente a dor em alguns casos

(MIKAIL, PEDRO, 2006).

Fig. 14: Lily Pads. Fonte:www.ortovet.com.br

A colocação de ferraduras ortopédicas (Fig.15) na fase crônica é

recomendada, podendo ser em forma de coração, em forma de W, oval, com talões

elevados ou o EDSS (equine digital support system) (MIKAIL, PEDRO, 2006).

Fig. 15: Ferradura ortopédica frequentemente usada em cavalos com laminite.

Fonte:www.ortovet.com.br

Contudo, técnicas modernas permitem a aplicação de ferraduras ortopédicas

com colas ou resinas especializadas, evitando a necessidade de ter de martelar

cravos, o que permite que as ferraduras possam ser usadas numa fase bastante

mais precoce.

  

Fig. 16 A: A aplicação de material acrílico (Equi-Pak) para suportar a ranilha

e porção posterior da sola num cavalo com laminite. Fig. 16 B: Produto final. Fonte:

www.soundhorse.com

Outro método diferente utilizado para aliviar o apoio do peso na parede do

casco e transferir as forças de tensão para a palma e ranilha consiste na aplicação

de placas de esferovite especializadas para este efeito (Fig. 17).

Fig. 17 A: Placa de esferovite antes de ser aplicada ao casco com

fita adesiva, Fig. 17 B: Produto final após aplicação

Para diminuir a tensão sobre a região dorsal da parede do casco, pode-se

confeccionar um sulco coronário. Outra forma mais agressiva seria a ressecção da

  

muralha do casco, recomendada somente quando há separação física entre as

lâminas epidérmicas e dérmicas.

O tratamento cirúrgico inclui a desmotomia do ligamento acessório do tendão

do músculo flexor digital profundo e a tenotomia do tendão do músculo flexor digital

profundo (MIKAIL, PEDRO, 2006).

Por fim, recomenda-se a suspensão do concentrado e a suplementação com

metionina e biotina, que melhoram a qualidade e a quantidade do crescimento dos

cascos. A suplementação com 0,12 mg/kg/dia de biotina aumenta

consideravelmente a velocidade do crescimento do casco (MIKAIL, PEDRO, 2006).

9. PROGNÓSTICO

O prognóstico é sempre reservado em um caso de laminite. Se os sintomas

persistem por um período maior que 10 dias, o prognóstico é desfavorável. No

entanto, alguns casos, como os associados a um desequilíbrio endócrino, podem se

prolongar por longos períodos sem causar alterações excessivas na pata, como

anéis na parede do casco e rotação da falange distal. Alguns casos de laminite

prolongam-se por um grande período e, então, desaparecem, deixando o casco

deformado. A falange distal freqüentemente está rotacionada quando observada nas

radiografias. Sempre que ocorre rotação da falange distal o prognóstico é

desfavorável. Ocasionalmente, a infecção vai penetrar na pododerme como

resultado da separação da linha branca (pinça gasta) causada pela desunião das

lâminas sensíveis e insensíveis; ela pode também penetrar pela sola. Qualquer

infecção torna o prognóstico desfavorável. Se aparecem rachaduras na faixa

coronária, é provável que o casco se solte, tornando o prognóstico mais

desfavorável. (ADAMS, 1994)

10. CONCLUSÃO

Com o presente estudo, pode-se concluir, segundo encontrado em literatura,

que a pododermatite asséptica difusa também chamada de laminite ou aguamento

trata-se de uma inflamação da lâmina do casco, causada por uma degeneração e

necrose das laminas dérmica e epidérmicas, gerando dor e consequentemente,

claudicação. Desta forma, torna-se necessário uma intervenção precoce eliminando

ou minimizando primeiramente os fatores predisponentes a fim de evitar a

cronicidade, prevenindo o aparecimento de escaras de decúbito, abaulamento da

  

sola, descolamento da coroa e osteíte da terceira falange. Sabe-se também, que o

diagnóstico precoce na fase sub-aguda é mais difícil, mas essencial para evitar que

a laminite atinja a fase crônica.

  

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