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A (PASSAGENS, MAGASIN S DE NOUVEAUTÉS, 1 (AUTS2 ] "Desses palácios as colunas mágicas Ao amador mostram por todas as paes Nos objetos que exibem seus pórticos Que a indústria é rival das a es." Chanson Nouvee cit Nouveax Tableaux de Paris ou Obseations sur /es Moeurs et Usages des Parisiens au Commencement du XIX" Siec/ e, Paris, 1828, I, p. 27. venda os Corpos, as vozes, a imensa opulência inquestio náve l, aquilo que não se venderá jamais". Rlmbaud3 "Chamamos repetidamente a atenção", diz o guia ilustrado de Paris do ano de 1852, um retrato completo da cidade às margens do Sena e de seus arredores, "às passagens que desembocam nos bour internos. Estas passagens,4 uma recente invenção do luxo industrial, são galeri as cobertas de vidro e com paredes revestidas de mármore, que at raves sam quartei rões inteiros, cujos proprietários se uniram para esse tipo de especulação. Em ambos 1 Cf. "Exposés". nota 2. 2 Ca t - Empr egado encarregado das vendas ao público, em casas comerci ai s ; d. A 8, 3 e A 9, 1. (w.b.) 3 Arthur Rimbaud, uvres Compl et es, ed . org. por Antoine Adam, Paris 1976 (Bibliotheque de la Pléia de, 68), p. 146 ( 1 1/uminations, "Solde"). (R.T} 4 Da extensa nota do tradutor francês (J.L.) sobre as . passagens ofer ecemos aqui um resumo: a primeira passagem parisiense. a Passage du Caíre, f oi inaugurada em 1 799. No ano seguinte, abriu-se a Passage des Panoramas (ver o arquivo temático "Q: Panorama "); era mais el egant e, reservada ao comércio de luxo e aos magasin s de nouveautés (os chocol at es Marquis, a loja de perfumes Farina, o joalheiro Stern etc.), além de abrigar o Théâtre des V ar ié tés. Em 1840, havia em P ar is aproximadamente uma centena de passagens. Menci onemos algumas das que subsist em: a Passage Véro-Dodat (construída em 1 826), as passagens vizinhas Vivienne (1 823) e Colbe (1 826), pr óximas da Bibliothêque Nationale; a Passage Choiseul (1 826), as passagens Verdeau e Jouffroy (ambas de 1 845), as passagens Brady (1 828) e du Grand Cerf (1 825), e a Passage des Princes, criada em 1 860 pelo banqueiro Mires. - Uma passagem mui t o especial é a Passage de I'Opéra. Aberta em 1 822 e contendo duas galeri as. a do Relógio e a do Barômetro, ela levava do Boulevard des ltaliens até a Ópera. Foi demolida em 1924, quando da abeura do Boulevard Haussmann. O tex to fundamental sobre es ta passagem é Le Pays an de Pari s ( 1 926), de Loui s Aragon, livro decisivo para a gênese do pro jeto ben j aminiano das Passagens. Ed. br asilei r a: O Camponês de Paris, apres., tr ad. e no tas de Flávia Nascimento, Rio de Janeiro , Imago, 1996. - Eis um guia pr átic o para se conhecer as passagens ainda exi stentes: Patrice de Moncan, L es Pas sage s Couverts de Paris: Plans, Promenades, Hi stoire, ture, 4• ., P ar i s, Les É dit ions du Mécene, 2003. (w.b.}

BENJAMIN, Walter - Passagens · e aos magasins de nouveautés (os chocolates Marquis, a loja de perfumes Farina, o joalheiro Stern etc.), além de abrigar o Théâtre des Variétés

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A

(PASSAGENS, MAGASINS DE NOUVEAUTÉS, 1 (AUCOTS2 ]

" D esses palácios as colunas mágicas Ao amador mostram por todas as partes Nos objetos que exibem seus pórticos Que a indústria é rival das artes ."

Chanson Nouvelle cit Nouveax Tableaux de Paris ou Observations sur /es Moeurs et Usages des Parisiens au Commencement du XIX" Siec/e, Paris, 1828, I, p. 27.

"À venda os Corpos, as vozes, a imensa opulência

i nquestio náv e l,

aquilo que não se venderá jamais". Rlmbaud3

"Chamamos repetidamente a atenção", diz o guia ilustrado de Paris do ano de 1852, um retrato completo da cidade às margens do Sena e de seus arredores, "às passagens que desembocam nos boulevards internos. Estas passagens,4 uma recente invenção do luxo industrial, são galerias cobertas de vidro e com paredes revestidas de mármore, que atravessam quarteirões inteiros, cujos proprietários se uniram para esse tipo de especulação. Em ambos

1 Cf. "Exposés". nota 2.

2 Calicot- Empregado encarregado das vendas ao público, em casas comerciais ; d. A 8, 3 e A 9, 1. (w.b.)

3 Arthur Rimbaud, <:Euvres Completes, ed . org. por Antoine Adam, Paris 1976 (Bibliotheque de la Pléiade,

68), p. 146 (11/uminations, "Solde"). (R.T.}

4 Da extensa nota do tradutor francês (J.L.) sobre as. passagens oferecemos aqui um resumo: a primeira

passagem parisiense. a Passage du Caíre, foi inaugurada em 1 799. No ano seguinte, abriu-se a Passage

des Panoramas (ver o arquivo temático "Q: Panorama "); era mais elegante, reservada ao comércio de luxo

e aos magasins de nouveautés (os chocolates Marquis, a loja de perfumes Farina, o joalheiro Stern etc.),

além de abrigar o Théâtre des Variétés. Em 1840, havia em Paris aproximadamente uma centena de

passagens. Mencionemos algumas das que subsistem: a Passage Véro-Dodat (construída em 1 826), as

passagens vizinhas Vivienne (1 823) e Colbert (1 826), próximas da Bibliothêque Nationale; a Passage

Choiseul (1 826), as passagens Verdeau e Jouffroy (ambas de 1 845), as passagens Brady (1 828) e du

Grand Cerf (1 825), e a Passage des Princes, criada em 1 860 pelo banqueiro Mires. - Uma passagem

muito especial é a Passage de I'Opéra. Aberta em 1 822 e contendo duas galerias. a do Relógio e a do

Barômetro, ela levava do Boulevard des ltaliens até a Ópera. Foi demolida em 1924, quando da abertura

do Boulevard Haussmann. O texto fundamental sobre esta passagem é Le Paysan de Paris (1 926), de

Louis Aragon, livro decisivo para a gênese do projeto benjaminiano das Passagens. Ed. brasileira: O Camponês de Paris, apres., trad . e notas de Flávia Nascimento, Rio de Janeiro, Imago, 1996. - Eis um guia

prático para se conhecer as passagens ainda existentes: Patrice de Moncan, Les Passages Couverts de

Paris: Plans, Promenades, Histoire, Littérature, 4• ed., Paris, Les Éditions du Mécene, 2003. (w.b.}

- . �

os lados dessas galerias, que recebem sua luz do alto, alinham-se as lojas mais elegantes, de modo que uma tal passagem é uma cidade, um mundo em miniatura • Flâneur •, onde o comprador encontrará tudo que precisar. Numa chuva repentina, são elas o refúgio para todos os que são pegos desprevenidos, garantindo-lhes um passeio seguro, porém restrito, do qual também os comerciantes tiram suas vantagens." • Tempo atmosférico •

Esta passagem é o locus cúzssicus para a apresentação das passagens, não só porque a partir dela desenvolvem-se as divagações acerca do flâneur e do tempo, mas também porque o que se tem a dizer sobre a construção das passagens do ponto de vista económico e arquitetônico poderia encontrar aqui o seu lugar.

[A 1, 1]

Nomes de casas de moda: A Dama de Honra I A Vestal I O Pagem Inconstante I A Máscara de Ferro I Chapeuzinho Vermelho I A Pequena Nanette I A Cabana Alemã I Ao Mameluco I Na Esquina - nomes que na maioria das vezes advêm de bem-sucedidos espetáculos de vaudeville.5 • Mitologia • Um luveiro: Aqui em frente, Jovem; um confeiteiro: Às Armas de Werther.

"O nome do joalheiro está escrito acima da porta da loja em grandes letras incrustadas de imitações quase perfeitas de pedras preciosas." Eduard Kroloff, Schilderungen aus Paris, Hamburgo, 1839, II, p. 73. "Na Galerie Véro-Dodat há uma loja de produtos alimentícios sobre cuja porta lê-se a inscrição Gastronomia Cosmopolita, com letras muito divertidas, formadas de galinhas, faisões, lebres, chifres de cervos, lagostas, peixes, rins de pássaros etc." K.roloff, Schi!derungen aus Paris, Paris, II, p. 75. • Grandville •

[A 1, 2]

Quando o negócio prosperava, o proprietário comprava provisões para uma semana e mudava-se para o entressolho no intuito de ganhar espaço para guardar sua mercadoria. Dessa maneira, a boutique transformava-se em magasin.

[A 1,3]

Era a época em que Balzac podia escrever: "O grande poema das vitrines canta suas estrofes coloridas da Madeleine à porte Saint-Denis." Le Diable à Paris, Paris, 1846, II, p. 91 (Balzac, "Les Boulevards de Paris").

[A I, 4]

"No dia em que a Especialidade 6 foi descoberta por Sua Majestade, a Indústria, rainha de França e de algumas localidades vizinhas, naquele dia, dizem, Mercúrio, deus especial dos comerciantes e de várias outras especialidades sociais, bateu três vezes com seu caduceu no frontão da Bolsa e jurou pela barba de Proserpina que a palavra lhe parecia borúta." • Mitologia • Aliás, a palavra foi a princípio empregada apenas para mercadorias de luxo. La Grande Vil/e: Nouveau Tableau de Paris, Paris, 1 844, II, p. 57 (Marc Fournier, "Les spécialités parisiennes").

·

[A I, 5]

"As ruas estreitas que circundam a Ópera, sempre sitiada de veículos, e os perigos a que estavam expostos os pedestres ao sair do espetáculo, deram, em 1821, a uma companhia de especuladores, a idéia de utilizar uma parte das construções que separavam o novo teatro

5 Vaudeville - peça de teatro em estilo de comédia leve, para fins de divertimento. (w.b.)

6 Spécialité -cf. Léxico. (w.b.)

A [Passagens. Magas ins de Nouveautés. Calicots I 79

do boulevard. I Esse empreendimento, ao mesmo tempo que se tornou uma fonte de riquezas para seus autores, foi para o público de uma imensa vantagem. I Com efeito, por meio de uma pequena passagem estreita, erguida em madeira e coberra, passa-se a pé e com toda segurança, nessas galerias, do vestíbulo da Ópera ao boulevard. .. Acima do entablamento das pilastras dóricas, que dividem as lojas, erguem-se dois andares de apartamentos, e acima desses apartamentos, e ao longo das galerias reinam grandes vidraças." J. A. Dulaure, Histoire Physique, Civile et Mora/e de Paris Depuis 1821 ]usqu'à nos ]ours, Paris, 1835, II, pp. 28-29.

[A 1, 6]

Até 1 870, as carruagens dominavam a rua. Era demasiado apertado andar sobre as calçadas estreitas e por isso flanava-se sobretudo nas passagens, que ofereciam abrigo do mau tempo e do trânsito. "Nossas ruas mais largas e nossas calçadas mais espaçosas tornaram mais fácil e doce a flânerie, impossível a nossos pais noutro lugar que não nas passagens." • Flâneur • Edmond Beaurepaire, Paris d'Hier et d'Aujourd'hui: La Chronique des Rues, Paris, 1900, p. 67.

(A la, I)

Nomes de passagens: Passage des Panoramas, Passage Véro-Dodat, Passage du Désir (que levava outrora a um lugar de encontro), Passage Colbert, Passage Vivienne, Passage du Pont-Neuf, Passage du Caíre, Passage de la Réunion, Passage de l'Opéra, Passage de la Trinité, Passage du Cheval-Blanc, Passage Pressiere <Bessieres?>, Passage du Bois de Boulogne, Passage Grosse-Tête. (A Passage des Panoramas chamava-se anteriormente Passage Mires.)

[A la, 2]

A Passage Véro-Dodat (construída entre as ruas Bouloy e Grenelle-Saint-Honoré) "deve seu nome a dois ricos salsicheiros, os senhores V éro e Dodat, que empreenderam, em 1823, sua abertura assim como as imensas construções que dependem dela. O que levou a se dizer, na época, que essa passagem era um belo pedaço de arfe 7 situado entre do is.frairros." J. A. Dulaure, Histoire Physique, Civile et Mora/e de Paris bepuis 1821 ]usqu'à Nos jours, Paris, 1835, II, p. 34.

(A la, 3)

A Passage Véro-Dodat possuía pavimentação de mármore. A atriz Rachel morou nela por um tempo.

[A la, 4)

Galerie Colbert n° 26. '�, sob a aparência de uma luveira, brilhava uma beleza acessível, �as que só levava em conta, em matéria de juventude, a sua própria. Impunha aos mais favorecidos provê-los com seus enfeites dos quais esperava uma fortuna... Esta jovem e bela mulher atrás do vidro chamam-na Labsolu (0 Absoluto); mas a filosofia teria perdido seu tempo em correr atrás dela. Era a empregada que vendia as luvas, a dona exigia que fosse assim." • Bonecas • Prostitutas • l.efeuve, Les Anciennes Maisons de Paris, N, Paris, 1875, p. 70.

• [A la, 5)

Cour du Commerce: '�i foi feita com carneiros uma primeira experiência da guilhotina, instrumento cujo inventor morava ao mesmo tempo na Cour du Commerce e na Rue de l'Ancienne Comédie". l.efeuve, Les Anciennes Maisons de Paris, IV, p. 148.

[A la, 6)

7 Trocadilho: beau morceau de l'art, "um belo pedaço de arte", é homófono de beau morceau de /ard,

"um belo pedaço de toicinho". (w.b.)

8fJ • Passagens

"A Passage du Caire, cuja principal indústria é a impressão litográfica, deve ter sido iluminada quando Napoleão III suprimiu a obrigação do selo para as circulares do comércio. Essa libertação enriqueceu a passagem que se mostrou reconhecida fazendo despesas de embelezamento. Até então era preciso, em caso de chuva, ter guarda-chuvas abertos nas suas galerias, que em muitos lugares não tinham cobertura de vidro." Lefeuve, Les Anciennes Maisons de Paris, II, p. 233. • Moradas de sonho • Tempo atmosférico • (Ornamentos egípcios)

(A la, 7]

"Impasse Maubert, antigamente Amboise." Por volta de 1756, morava nos números 4 e 6 uma envenenadora com suas duas cúmplices. Certa manhã, encontraram as três mortas por terem inspirado gases venenosos.

(A la, 8]

Os anos de expansão sob Luís XVIII. Com os letreiros dramáticos dos magasins de nouveautés, a arte se coloca a serviço do comerciante.

[A la, 9]

"Depois da Passage des Panoramas, que remontava ao ano de 1800 e cuja reputação mundana estava estabelecida, eis, a título de exemplo, a galeria aberta em 1826 pelos açougueiros Véro e Dodat e representada por uma litogravura d'Arnout, de 1 832. De 1 800 é preciso ir até 1822 para encontrar uma nova passagem: é entre esta data e 1 834 que se distribui a construção da maior parte dessas vias tão particulares, e das quais as mais importantes encontram-se agrupadas entre a Rue Croix-des-Petirs-Champs, ao sul, a Rue Grange-Bateliere, ao norte, o Boulevard Sebastopol, a leste e a Rue Ventadour, a oeste." Marcel Poete, Une Vie de Cité, Paris, 1925, pp. 373-374.

[A la, 10]

Lojas na Passage des Panoramas: Restaurante Véron, gabinete de leitura, loja de música, Marquês, comércio de vinhos, malharia, aviamentos, alfaiates, sapateiros, malharias, livreiros, caricaturista, Théâtre des Variétés. Em contraposição, a Passage Vivienne era a passagem séria. Lá não havia lojas de luxo. • Moradas de sonho: passagem como nave de igreja com as capelas laterais. •

[A 2, I]

Evocava-se ao mesmo tempo o "gênio dos jacobinos e dos industriais", atribuía-se este dito a Luís Filipe: Deus seja louvado e minhas boutiques também. As passagens como templo do capital mercantil.

[A 2, 2)

Na passagem parisiense mais recente nos Champs-Elysées, construída por um rei das pérolas, americano, mais nenhuma loja. • Decadência •

[A 2, 3]

"Houve, em Paris, tentativas de bazar e de boutiques vendendo a preço fixo, por volta do final do Antigo Regime. Foram fundados na Restauração e no reino de Luís Filipe alguns grandes magasins de nouveautés, como o Diable boiteux, os Deux Magots, o Petit Matelot, Pygmalion; mas essas lojas eram estabelecimentos de ordem muito inferior se comparadas aos atuais. A era dos grands magasins8 data, na realidade, apenas do Segundo Império. Eles

8 Lojas de departamentos. (w.b.)

A [Passagens, Magasins de Nouveautés, Ca/icots J 81

tiveram um grande desenvolvimento a partir de 1 870 e continuam a se desenvolver." E. Levasseur, Histoíre du Commerce de la. France, II, Paris, 1912, p. 449.

[A2, 4]

Passagens como origem das lojas de deparramemos? Quais das lojas acima àtadas localizavam-se em passagens?

[A 2, 5]

O régíme das especialidades fornece também - diga-se de passagem - a chave histórico­materialista para o florescimento (quando não para o surgimento) da pintura de gênero nos anos quarenta do século passado. Com o interesse crescente que a burguesia dedicou à arte, esta pintura diferenciou-se no conteúdo e no assumo, segundo a pouca compreensão artística inicial desta classe; surgiram então como gêneros bem definidos as cenas históricas, a pintura de animais, as cenas infantis, as imagens da vida monástica, familiar, aldeã. • Fotografia •

[A 2, 6)

Investigar a influência do comércio sobre Lautréarnont e Rimbaud! [A2, 7]

"Uma outra característica, a partir sobretudo do Diretório (provavelmente até 1830?), será a leveza dos tecidos; mesmo durante o frio mais rigoroso, só muito raramente aparecerão peliças e matelassês quentes <?>. Correndo o risco de morrer, as mulheres se vestirão como se as rudezas dos invernos não existissem mais, como se a natureza, subitamente, tivesse se transformado num eterno paraíso." Grand-Carteret, Les Élégances de la Toilette, Paris, p. XXXIV

[A2, 8]

O teatro forneceu também naquela época o vocabulário para assuntos da moda. Chapéus à moda Tarare, à moda Théodore, à moda Fígaro, à moda Grande-Sacerdotisa, à moda Ifigênia, à moda Calprenade, à moda Vitória. A mesma futilidade, que no balé procura a origem do real, trai-se quando - por volta de 1830 - um jornal dá a si mesmo o nome de Le Sylphe. • Moda •

[A 2, 9]

Alexandre Dumas, rtuma soirée em casa da princesa Mathilde. Os versos referem-se a Napoleão III.

"Nos seus fastos imperiais O tio e o sobrinho são iguais O tio tomava as capitais O sobrinho os nossos capitais."

Seguiu-se um silêncio sepulcral. Registrado nas Mémoires du Comte Horace de Viel-Castel sur le Regne de Napoléon III, vol. II, Paris, 1883, p. 185.

[A 2, lO]

''Acoulisse 9 significava a continuidade das atividades da Bolsa. Aqui nunca o expediente chegava ao fim, freqüentememe nem mesmo à noite. Quando o Café Tononi fechou, a coluna transferiu-se

9 Espaço paralelo à Bolsa de Valores, onde são realizados negócios não-oficiais; cf. A 7a, S. (EJM; w.b.)

f

para os boulevards adjacentes e ondulava-se de um lado para o outro, principalmente diante da Passage de !'Opera." Julius Rodenberg, Paris bei Sonnenschein und Lampenlicht, Leipzig, 1867, p. 87.

[A2, 11 ]

Especulação de ações ferroviárias sob Luís Filipe. [A2, 12]

"Da mesma origem [isto é, da casa dos Rothschild] provém Mires, de admirável eloqüência, que só precisava abrir a boca para convencer seus credores que a perda é um ganho - mas cujo nome não obstante foi apagado da Passage Mires após o escandaloso processo contra ele, transformando-se esta na Passage des Princes (com os famosos salões de jogo do restaurante Peters)." Rodenberg, Paris bei Sonnenschein und Lampenlicht, Leipzig, 1 867, p. 98.

[A 2a, 1]

Pregão de rua dos vendedores de boletins da bolsa. Na alta: "A alta da Bolsà'. Na baixa: ''As variações da Bolsà'. O termo baixa foi proibido pela polícia.

[A 2a, 2]

Por sua importância para os negócios de bastidores, a Passage de l'Opéra pode ser comparada à esquina da Confeitaria Kranzler. 10 Gíria dos corretores "nos dias que precederam a eclosão da guerra alemã [ 1866]: a renda de três por cento chamava-se 'Alphonsine'; o crédito imobiliário, 'o gordo Ernesto'; a renda italiana, 'o pobre Vito r'; o crédito mobiliário, 'o pequeno Julio"'. Segundo Rodenberg, Leipzig, 1 867, p. 100.

[A 2a, 3]

Preço de um encargo como corretor na Bolsa entre 2.000.000 <sic> e 1 .400.000 francos. [A 2a, 4]

"As passagens que datam, quase todas, da Restauração." Théodore Muret, L'Histoire par le Théâtre, Paris, 1865, II, p. 300.

[A 2a, 5]

Algumas considerações sobre Avant, Pendant et Apres, de Scribe e Rougemont. Estréia em 28 de junho de 1 828. A primeira parte da trilogia representa a sociedade do Antigo Regime, a segunda, a época do Terror, a terceira passa-se na sociedade da época da Restauração . A personagem principal, o General, tornou-se, em tempos de paz, um industrial, um grande fabricante. "A manufatura substitui aqui, para o alto escalão, o campo que o Soldado-Lavrador cultivava. O elogio da indústria não foi menos cantado, pelo vaudeville da Restauração, que o dos guerreiros e dos laureados. A classe burguesa, em seus diferentes níveis, era comparada à classe nobre: a fortuna adquirida pelo trabalho opurilia-se ao brasão secular, às torres dos antigos castelos. Esse terceiro estamento, que se tornou o poder dominante, tinha, por sua vez, seus bajuladores." Théodore Muret, L'Histoire par le Théâtre, II, p. 306.

[A2a, 6]

As Galeries de Bois11 "que desapareceram de 1828 a 1 829, para dar lugar à Galerie d'Orléans, eram formadas por uma tríplice linha de boutiques pouco luxuosas, e consistiam de duas alas

1 ° Confeitaria famosa em Berlim. (w.b.)

1 1 Passagens de Madeira. (w.b.)

A [Passagens, Magasins de Nouveautés, Calicots ] 83

paralelas, cobenas de tecido e em pranchas, com a4:,oumas vidraçl.s para entrar a luz. Andava-se aí simplesmente sobre a terra batida, que as pancadas de chuva aansformavam, algumas vezes, em lama. Pois bem! Vinha-se de roda parte aperrar-se nesse ltiooar que não era nada menos que magnífico, entre suas filas de boutiques que pareceriam barracas em comparação com as que lhes sucederam. &sas boutiques eram ocupadas principalmente por duas indúmias, rendo cada uma seu gênero de atrativo. Havia muitas modistas que trabalhavam sobre grandes tamboretes voltados para o exterior, sem que nenhum vidro as separasse, e seu rosto muito alegre não era, para a4:,ouns passantes, dos menores encantos do lugar. E mais: as Galeries de Bois eram o cencro da livraria nova." Théodore Muret. EHistoire par !e Théâtre, II, pp. 225-226.

[A 2a, 7]

Julius Rodenberg sobre o pequeno gabinete de leirura na Passage de fOpéra: "Como este pequeno cômodo na serni-escuridão aparece simpático em núnha lembrança, com suas altas prateleiras de livros, mesas verdes, seu atendente ruivo (um grande amante dos livros, que sempre fica a ler romances em vez de levá-los aos outros), com seus jornais alemães que alegravam o coração do alemão todas as manhãs (à exceção do jornal Der Kolnische, que era publicado em média uma vez a cada dez dias). Porém, quando há novidades em Paris, é este o lugar onde se pode ouvi-las, aqui nós nos inteiramos delas. Apenas sussurradas (pois o ruivo cuida para que nem ele nem os oucros sejam perrurbados), fazem o caminho dos lábios aos ouvidos, quase inaudíveis, passam da pena ao papel, da escrivaninha até a vizinha caixa do correio. A bondosa senhora do escritório tem um sorriso simpático para todos, papel e envelope para os correspondentes: o primeiro correio está pronto, Colônia e Augsburg têm suas notícias; e agora - meio-dia! - à taberna." Rodenberg, Paris bei Sonnenschein und l.ampenlicht, Leipzig, 1867, pp. 6-7.

[A 2a, 8]

"A Passage du Caíre lembra muito, em tamanho menor, a Passage du Saumon, que existia outrora na Rue Mommartre, no lugar onde se encontra hoje a Rue Bachaumont". Paul Léautaud, "Vieux Paris", Mercure de France, 1927, p. 503 ( 15 de outubro).

[A 3, 1 ]

"Boutiques em modelo antigo, ocupadas por comércios que só se vê ali, continham antigamente uma pequena sobreloja, com janelas trazendo cada uma o número numa placa, correspondente a cada butique. De tempos em tempos, uma porta dando para um corredor, na extremidade do qual uma pequena escada conduzia a essas sobrelojas. Na maçaneta de uma dessas portas, um aviso escrito à mão:

O foto de você fechar a porta,

para ela não bater,

vai lhe trazer o reconhecimento do operário

que trabalha ao lado. [A 3, 2]

No mesmo lugar (Léauraud, "Vieux Paris", Mercure de France, 1 927, pp. 502-503), uma outra placa é citada:

ÂNGELA

primeiro andar à direita [A3, 3]

- �

Um nome amigo para as lojas de departamentos: "entrepostos baratos". Gíedíon, Bauen in Frankreich, Leipzíg, Berlim, 1928, p. 3 1 .

[A 3,4]

A transformação das grandes lojas nas passagens em lojas de departamentos. Princípio das lojas de departamentos: "Os andares constituem-se de um único espaço. A vista pode abrangê-los 'por assim dizer, com um único olhar'." Giedion, Bauen in Frankreich, p. 34.

(A 3, 5]

Giedion mostra (Bauen in Fmnkreich, p. 35) como o princípio de "acolher a multidão e retê-la através da sedução" (Science et !1ndustrie, 1925, no 143, p. 6) leva a soluções arquitetônícas desastrosas quando se construiu o Printemps ( 1881-1889). Função do capital mercantil!

(A 3, 6]

''As próprias mulheres, a quem é proibida a entrada na Bolsa, agrupam-se à porta para obter indicações sobre as cotações e dar aos corretores suas ordens, através da grade. La Transformation de Paris sous le Second Empire (autores: Poete, Clouzot, Henriot) , Paris, 19 10, por ocasião da exposição da Biblioteca e dos trabalhos históricos, p. 66.

(A 3, 7]

"Não temos spécialité", escrevera o famoso brocante Frémin, "o homem da cabeça grisalhà', na tabuleta de seu ferro-velho na Place des Abbesses. Em meio aos trastes velhos, vem à tona mais uma vez a antiga fisionomia do comércio que começou a ser repelida nas primeiras décadas do século passado pelo domínio da spécialité. ''Ao Filósofo" é como denominava o proprietário este "Grande canteiro de demolições" - que demonstração e demolição do estoicismo! ''Atenção, não olhe a folha pelo avesso", lia-se em seus cartazes. E: "Não compre nada no escuro."

[A 3, 8]

Pelo visto, já se fumava nas passagens quando isso ainda não era comum na rua. "Preciso dizer aqui ainda algumas palavras sobre a vida nas passagens como o lugar de preferência dos que passeiam e dos que fumam, lugar de recreação dos mais variados ofícios. Em cada passagem existe pelo menos um salão de limpeza. Em um gabinete decorado de maneira tão elegante quanto permite sua destinação, sentam-se os cavalheiros sobre estrados elevados e lêem tranqüilamente um jornal enquanto alguém se empenha em escovar-lhes o pó das roupas e das botas." Ferdinand von Gall, Paris und seine Salons, II, Oldenburg, 1 845, pp. 22-23.

[A 3, 9]

Um primeiro jardim-de-inverno - espaço envidraçado com canteiros de flores, alpendres e chafarizes, em parte subterrâneo, no local onde, em 1 864, localizava-se o reservatório no jardim do Palais-Royal (e ainda hoje?). Instalado em 1788.

(A 3, 10]

"Do fim da Restauração datam os primeiros magasins de nouveautés: Les Vêpres Sicilíennes, Le Solitaire, La Filie Mal Gardée, Le Soldar Laboureur, Les Deux Magots, Le Petit Saint­Thomas, Le Gagne-Denier. Dubech e D'Espezel, Histoire de Paris, Paris, 1926, p. 360.

[A3, II]

"Em 1�20, abriram-se ... a Passage Violler e a Passage des deux Pavillons. Essas passagens foram uma das novidades da época. Eram galerias cobertas, de iníciariva privada, onde se

A (Passagens, Magasins de Nouveautés, Calicots ] 85

instalaram boutiques que a moda fez prosperar. Sendo a mais famosa a Passage des Panoramas, cuja voga durou de 1 823 a 1831 . No domingo, dizia :\1usset. a mulciàão ·está nos panoramas ou então nos boulevards'. Foi também a iniciaciva pri,·ada que \"ÔO a ciar. um pouco ao acaso, as cités, ruas curtas ou sem saída, construídas com despesas comum por um sincücaro de proprietários." Lucien Dubech e Pierre D'Espezel, Histoire de Paris, Paris, 1926, pp. 355-356.

:.\ 3a. 1 .

Em 1825, abertura das "Passages Dauphine, Saucede, Choiseul", e da Cité Bergere. "Em 1827 . . . as Passages Colbert, Crussol, de !'Industrie .. . 1828 viu abrir . . . as Passages Brady e des Gravilliers e começar a Galerie d'Orléans no Palais-Royal, no lugar das galerias de madeira incendiadas neste ano." Dubech e D'Espezel, Histoire de Par is, pp. 357-358.

[A 3a, 2)

"O antepassado das lojas de departamentos, La Ville de Paris, aparece no número 174 da Rue Montmartre, em 1843." Dubech e D'Espezel, Histoire de Paris, p. 389.

(A 3a, 3)

"Incomodado pelas pancadas de chuvas; escapei de uma delas refugiando-me em uma passagem. Existem muitas destas vielas coherras de vidro que perpassam blocos de casas

por vezes em inúmeras ramificações, oferecendo assim atalhos bem-vindos. São em parte construções de grande elegância, oferecendo em dias de tempo ruim ou à noite, com uma iluminação que imita a luz do sol, passeios muito procurados ao longo das ftleiras de lojas resplandescentes." Eduard Devrient, Briefe aus Paris, Berlim, 1 840, p. 34.

[A 3a, 4)

"Rua-Galeria. - A rua-galeria de uma falange é a principal peça do Palácio da Harmonia, do qual não se. pode ter nenhuma idéia na civilização. Aquecida no inverno, ela é refrigerada no verão. As ruas-galerias internas em peristilo contínuo estão situadas no primeiro andar do palácio da falange (A galeria do Louvre pode ser considerada um modelo.)." Cit. segundo Fourier, Théorie de l'Unité Universelle, 1822, p. 462 e Le Nouveau Monde Industriei et Sociétaire, 1829, pp. 68, 125, 272; E. Silberling, Dictionnaire de Sociowgie Phakmstérienne, Paris, 1922, p. 836. A este propósito: "Galeria. - Galerias cobertas e aquecidas ligam as diversas partes do edifício de um falanstério, formando ruas-galerias" cit. segundo Fourier, Théorie Mixte, ou Spéculative et Synthese Routiniere de l'Association, p. 14; E. Silberling, op. cit., pp. 197-198.

[A 3a, 5)

A Passage du Caíre, vizinha da antiga Cour des Miracles. Erigida em 1799 sobre o antigo jardim do convento das Filles-Dieu.

[A 3a, 6)

O comércio e o tráfego são os dois componentes da rua. Ora, nas passagens, o segundo está praticamente extinto; o tráfego aí é rudimentar. A passagem é apenas rua lasciva do comércio, só afeita a despertar os desejos. Mas como nesta rua os humores deixam de fluir, a mercadoria viceja em suas bordas enuemeando relações fantásticas como um tecido ulcerado. - O flâneur sabota o tráfego. Ele também não é comprador. f. mercadoria.

[A 3a, 7)

Pela primeira vez na história, com a criação das lojas de departamentos, os consumidores começam a sentir-se como massa. (Antigamente, só a escassez lhes dava esta sensação.) Com isso aumenta consideravelmente o elemento circense e teatral do comércio.

[A4, 1 ]

Com a produção de artigos de massa, surge o conceito de especialidade. Deve ser estudada sua relação com o conceito de originalidade.

[A 4, 2]

''Admito que o comércio do Palais-Royal teve sua época crítica; mas creio que seja preciso atribuí-lo não à ausência de prostitutas, mas à abertura de novas passagens e à ampliação e ao embelezamento de muitas outras: citarei as de l'Opéra, du Grand-Cerf, du Saumon, de Véro-Dodat, de Lorme, de Choiseul e des Panoramas." F. F. A. Béraud, Les Filles Publiques de Paris et la Police qui les Régit, Paris-Leipzig, 1 839, I, p. 205.

[A 4, 3]

"Não sei se o comércio do Palais-Royal sofreu realmente com a ausência de prostitutas; mas o certo é que o pudor público ganhou muito com isso . . . Parece-me, além disso, que as mulheres respeitáveis vão agora à vontade fazer suas compras na lojas das galerias . . . ; isso deve ser uma compensação vantajosa para os comerciantes; porque, quando o Palais-Royal era invadido por um enxame de prostitutas quase nuas, os olhares da multidão se voltavam para elas e não eram esses olhares que faziam prosperar o comércio local; alguns já estavam arruinados por suas desordens, e os outros, cedendo ao impulso da libertinagem, não pensavam então em comprar objero algum, mesmo de necessidade imediata para eles. Creio poder afirmar ... que nesses tempos de tolerância desmedida, muitas boutiques do Palais-Royal estavam fechadas, e que, em outras, os compradores eram raros: logo, o comércio não prosperava, e seria mais verdadeiro dizer que, nessa época, sua estagnação provinha mais da livre circulação das prostitutas do que acusar hoje sua ausência que levou às galerias e ao jardim desse palácio inúmeros transeuntes mais favoráveis aos comerciantes que prostitutas e libertinos." F. F. A. Béraud, Les FiUes Publiques de Paris, Paris-Leipzig, 1 839, I, pp. 207-209.

"Os cafés se enchem

de gourmets, de fumantes,

os teatros se lotam

de alegres espectadores.

As passagens fervilham

de curiosos, de amadores,

e os trapaceiros agitam-se

atrás dos flâneurs."

[A 4, 4]

Ennery et Lemoine, "Paris la nuit", cit. em H. Gourdon de Genouillac, Les Réfrains de la Rue de 1830 à 1870, Paris, 1879, pp. 46-47. - A comparar-se com "Crépuscule du soir", de Baudelaire.

[A 4a, I]

"E aqueles que não podem pagar . . . um albergue? Ora, esses dormem onde quer que achem um lugar, em passagens, arcadas, num canto qualquer onde a polícia ou os

A (Passagens, Magasins de Nouveautés, Calicots ] 87

proprierários os deixem dormir sem incomodá-los." Friedrich Engels. Die Lage tkr arbeitenden Kla.sse in England, 2" edição, Leipzig, 1 848, p. 46 ("Die gro!Sen Sradre ..,).

[A 4a, 2]

"Em todas as boutiques, como de cosrume, o balcão em carvalho é enfeitado de peças falsas de rodo tipo de metal e formato, implacavelmeme pregados no lugar, como pássaros predadores na porta, garantia sem réplica da lealdade do comerciante.,.. :'\adar, Quand j'étais Photographe, Paris ( 1900), p. 294 (" 1830 et environs").

Fourier sobre as ruas-galerias. "Esta facilidade de ir por todo lado, ao abrigo das intempéries, de ir ao baile durante as geadas, ao espetáculo em roupa leve, em sapatos de cor, sem encontrar lama nem frio, é um encanto tão novo que bastaria isso para tornar nossas cidades e castelos detestáveis a quem quer que tivesse passado um dia de inverno num falanstério. Apesar de ser esse edifício destinado aos usos da civilização, só a comodidade das comunicações, abrigadas e temperadas pelas lareiras e ventiladores, lhe daria um enorme valor. Seus aluguéis valeriam o dobro em um outro edifício. E. Poisson, Fourier [Antologia] , Paris, 1932, p. 1 44.

[A 4a, 4]

"As ruas-galerias são um método de comunicação interna que por si só bastam para fazer desdenhar os palácios e as belas cidades da civilização .. . O rei da França é um dos primeiros monarcas da civilização; não há nenhum pórtico no Palácio das Tuileries. O Rei, a Rainha, a família real, quer subam em uma carruagem, quer desçam dela, são obrigados a se molhar como pequenos-burgueses que fazem vir um fiacre diante de sua boutique. Talvez, em caso de chuva, encontrar-se-ão muiros lacaios e muitos cortesãos para segurar um guarda-chuva para o Príncipe ... ; mas trata-se sempre de não ter pórtico nem abrigo, de não estar protegido . . . Passemos à descrição das ruas-galerias, que são um dos encantos mais preciosos de um Palácio da Harmonia . . . A Falange não tem rua exterior ou via descoberta exposta às intempéries; todos os blocos do edifício central podem ser percorridos através de wna larga galeria situada no primeiro andar e se estendendo por todos os blocos da construção; nas extremidades dessa via estão corredores sobre colunas, ou subterrâneos ornamentados, levando a rodas as partes e anexos do Palácio uma comunicação abrigada, elegante e aclimatada em rodas as estações graças às lareiras ou ventiladores . . . A rua-galeria ou 'peristilo contínuo' está situada no primeiro andar. Não pode adaptar-se ao térreo o qual é preciso vazar em diversos pomos para arcadas de veículos . . . As ruas-galerias de uma Falange não recebem a luz dos dois lados; aderem a cada um dos edifícios principais; todos esses blocos têm uma dupla fila de quartos, das quais uma se abre sobre o campo e outra sobre a rua-galeria. Esta deve ter toda a altura dos três andares que de um lado abrem sobre ela . .. O térreo contém, em alguns pontos, salas públicas e cozinhas cuja altura alcança a sobreloja. Abrem-se aí alçapões, a cada espaço, para levar o bufê às salas do primeiro andar. Esta abertura será muito útil nos dias de festa e nas passagens de caravanas e legiões que não poderiam ser contidas nas salas públicas ou séristeres, e que comerão em mesas dispostas numa dupla fileira nas ruas-galerias. Deve-se evitar estabelecer no térreo rodas as salas de relações públicas e por uma dupla razão. A primeira é a de ser preciso instalar no térreo os cômodos dos patriarcas em baixo, e as crianças no enrressolho. A segunda é ser preciso isolar as crianças das relações não industriais dos adultos." Poisson, Fourier [Antologia], Paris, 1932, pp. 1 39-144.

[A, 5]

"Sim, pois é: do Tibet você conhece o poder.

Implacável inimigo da orgulhosa inocência,

Mal ele apareceu, arrastou ao mesmo tempo

A mulher do caixeiro, a filha do burguês,

E a puritana severa, e a fria coco te:

Ele é para os amantes um sinal de conquista,

Não há austeridade que enfrente seu poder;

A vergonha verdadeira é não o possuir;

E seu tecido desprezando a palavra exara que circula,

Atenua nas suas dobras os traços do ridículo;

Dir-se-ia ao vê-lo um talismã vencedor:

Ele abre os espíritos, subjuga o coração;

Para ele, vir é vencer, e triunfar aparecer;

Ele reina como conquistador, soberano, mestre,

E tratando sua aljava de inútil fardo,

O Amor de uma caxemira formou seu turbante."

Edouard [d'Anglemont], Le Cachemire, comédia em um ato e em versos, representada pela primeira ve:z em Paris, no Théâtre Royal de I'Odéon, em 16 de de:zembro de 1826. Paris, 1827, p. 30.

[A 5a, I)

Delvau sobre Chodruc-Duclos: "Ele ... fez, no reino de Luís Filipe, que não lhe devia nada, o que havia feito no reino de Charles X, que lhe devia alguma coisa . . . seus ossos levaram mais tempo a apodrecer que seu nome a se apagar da memória dos homens." Alfred Delvau, Les Lions du ]our, Paris, 1867, pp. 28-29.

[A 5a, 2)

<fase média>

"Não foi senão depois da expedição ao Egito12 que se pensou, na França, em divulgar o uso dos preciosos tecidos de caxemira que uma mulher, grega de nascimento, introduziu em Paris. O Sr. Ternaux ... concebeu o admirável projeto de naruralizar na Frar�ça as cabras do Hindustão. Desde então ... quantos operários a formar, ofkios a estabelecer, para lutar com vantagem contra produtos cuja celebridade data de tantos séculos! Nossos fabricantes começam a triunfar . . . da prevenção das mulheres contra os xales franceses ... Conseguiu-se fazê-las esquecer um instante os ridículos desenhos dos hindus, reproduzindo com sucesso a luminosidade e a brilhante harmonia das flores de nossos canteiros. Existe um livro em que todos esses assuntos interessantes são tratados com um estilo pleno de interesse e elegância. L'Histoire des Schalls, do Sr. Rey, embora seja dedicado aos fabricantes de xales de Paris, cativará a atenção das mulheres . . . Esse livro contribuirá, sem dúvida, assim como as magníficas produções de seu autor, para dissipar o entusiasmo que inspira aos franceses o trabalho dos

12 A campanha do Egito, de Napoleão I, ocorreu em 1 798-1799. (EIM)

A (Passagens, Magasins de Nouveautés, Calicots I 89

estrangeiros. O Sr. Rey, fabricante de xales de lã, de caxemira etc., ... expôs várias caxemiras cujo preço variava entre 170 e 500 francos. Deve-se-lhe, entre ourros aperfeiçoamentos, ... a imitação graciosa de flores naturais, para subsrituir as estranhas palmas do Oriente. Nossos elogios seriam fracos demais, depois do fàvor ... , depois das demonstrações honoráveis de distinção que esse literato-manufarureiro deve às suas longas pesquisas e a seus talemos: basta-nos nomeá-los." Chenoue e H. D., Notice sur l'Exposition des Produits de l1ndustrie et des Arts qui a Lieu à Douai en 1827, Douai, 1827, pp. 24-25.

[AG, l]

Após 1850: "É no decorrer desses anos que são criadas as lojas de departamentos: Le Bon Marché, Le Louvre, La Belle Jardiniere. O montante de negócios do Bon Marché, em 1852, era de apenas 450.000 francos; elevou-se, em 1869, a 2 1 milhões." Gisela Freund, La Photographie du Point de Vue Sociologique (manuscrito) ; segundo Lavisse, Histoire de France.13

[A 6, 2]

"Os tipógrafos ... ocuparam, no fim do século XVIII, um vasto espaço ... A Passage du Caire e seus arredores ... Mas com o crescimento de Paris, os tipógrafos ... dispersaram-se por toda a cidade ... Que pena! Quantos tipógrafos, hoje trabalhadores degradados pelo espírito da especulação, deveriam lembrar-se que . . . entre a Rue Saint-Denis e a Cour des Miracles existe ainda uma longa galeria enfumaçada onde jazem esquecidos seus verdadeiros penares." Edouard Foucaud, Paris lnventeur, Paris, 1 844, p. 154.

[A G, 3]

Descrição da Passage du Saumon, "que por três degraus abria-se para a Rue Montorgueil. Era um estreito corredor decorado de pilastras que sustentavam uma vidraça em forma de A, suja de dejetos que ali se jogava das casas vizinhas. Na entrada, a tabuleta: um salmão em folha de flandres indicava a especialidade maior do lugar; no ar flutuava um cheiro de peixe ... e também um odor de alho. É que aqui o Sul desembarcado em Paris marcava encontro ... Através das portas das boutiques percebiam-se cubículos escuros onde às vezes um móvel de acaju, o móvel clássico da época, conseguia apanhar um raio de luz; adiante um café enevoado pela fumaça dos cachimbos; uma loja de alimentos coloniais deixando filtrar um curioso perfume de erva, de temperos e de frutas exóticas; um salão de baile aberro aos domingos e todas as noites da semana; por último, o gabinete de leitura do Sr. Ceccherini que oferecia aos clientes seus jornais e seus livros." J. Lucas-Dubreton, LAjfaire Alibaud ou Luís Filipe Traqué (1836), Paris, 1927, pp. 1 14-1 1 5.

[A 6a, 1]

A Passage du Saumon foi cenário de uma batalha de barricada, na qual - por ocasião dos protestos durante o fUneral do General Lamarque, em 5 de junho de 1832 - 200 operários entraram em confronto com as tropas.

[A Ga, 2]

"Martin: O comércio, o senhor percebe? . . . é o rei do mundo! - Degenais: Sou de sua opinião, senhor Martin, mas não basta o rei, é preciso vassalos. Pois bem! A pintura, a escultura, a música . . . - Martin: É preciso um pouco delas ... e ... eu também encorajei as artes; assim, no meu último estabelecimento, o Café de França, eu tinha muitas pinturas,

13 Cf. a edição citada na "Bibliografia Utilizada por Benjamin", n° 329, p. 73. (R.T.)

;.

. . .. 1'11 .......

'1iUD3S alegóricos ... E ainda, à noite, deixava entrar os músicos ... ; e, enfim, se eu o convidasse a vir em minha casa ... , o senhor veria sob meu peristilo duas gran�es estátuas, pouco vestidas, e tendo cada. uma. delas uma. lanterna. sobre a. cabeça.. - De'?,enais: Uma. \a.ntema.� -Ma.mn.: "É. ass\.rn o._ue c.orn\)!.eenà..o a. esc.u\.tura., e\a. tem (\Ue seN\.t 'Ç)'dta. 'd\'&Urna. c.o\sa. . . • �

rodas essas estátuas, com uma perna ou um braço no ar, para que servem? Uma V€2 que não se instalou nem mesmo o cano de gás ... para que" Théodore Bariere, Les Parisiens, Paris, 1855 (Théâtre du Vaudeville, 28 de dezembro de 1 854), p. 26. A peça passa-se em 1839.

[A 6a, 3]

Existiu uma Passage du Désir. [A 6a, 4]

Chodruc-Duclos - um figurante do Palais-Royal. Foi monarquista, combatente na Vendéia e tinha motivos de queixar-se de ingratidão sob Charles X. Sua forma de protesto foi mostrar-se em público maltrapilho e de barba crescida.

[A 6a, 5]

Em uma gravura que representa a fachada de uma loja na Passage Véro-Dodat: "Nunca é demais louvar esta decoração, a pur� destes perfis, o. efeito pitoresco e brilhante que produzem os globos para a iluminação a gás, colocados entre os capitéis de duas pilastras acopladas, separando cada boutique, e cujo espaço intermediário é decorado com um espelho refletor." Cabinet des Estampes.14

[A 7, 1]

No número 32 da Passage Brady localizava-se a tinturaria Marion Donnier. Era (famosa) por seus "ateliês imensos", por seus "funcionários numerosos". Numa gravura coetânea, vê-se o estabelecimento de dois andares, coroado por pequenas mansardas; as moças - em grande número - podem ser avistadas pelas janelas; no teto, há roupas penduradas.

[A 7, 2]

Uma gravura no Império: A dança do xale das três sultanas. Cabinet des Estampes. [A 7, 3]

Esboço e planta geral da passagem, Rue Haureville, 26, preto, azul e cor-de-rosa, do ano de 1856, sobre papel timbrado. Está retratado também um hotel que fazia parte do projeto. Em negrito: ·"Propriedade para alugar." Cabinet des Estampes.

[A 7, 4]

As primeiras lojas de departamentos parecem romar os ba7.;.Jre.s orientais como modelo. Vê-se em gravuras, pelo menos em 1880, como a moda ditava que se revestissem de tapetes as balaustradas que davam para o pátio interno. Por exemplo, a loja de departamentos Ville de Saint-Denis. Cabinet des Estampes.

[A 7, 5]

''A Passage de l'Opéra, com suas duas galerias chamadas do Relógio e do Barômerro . . . A abertura da Ópera, na Rue Le Peletier, em 1821, deu-lhe a voga, e, em 1825, a duquesa de Berry veio em pessoa inaugurar um 'Europama', na Galeria do Barômetro .. . As costureirinhas da Restauração dançavam no baile de Idalie, instalado no subsolo. Mais tarde,

1 4 Trata-se, nesta referência e nas demais deste tipo, do Cabinet des Estampes, ou seja, da seção iconográfica

da Bibliothéque Nationale em Paris. (R.T.)

. •'

A [Passagens, Magasins de Nouveautés, Ca/icots J 91

um café chamado 'Divan de l'Opéra' estabeleceu-se na passagem .. . Observava-se também, na Passage de l'Opéra, o fabricante de annas e braséies Caron, as edições de música Marguerie, o confeiteiro Rollet e, enfim, a perfumaria da Ópera. .. Acrescentemos. .. lemonier, 'artista em cabelos', isto é, fabricante de ponras de lenço, relicários ou arrigos funerários com cabelos." Paul D'Ariste, La Vze et le Monde du Boulevard, 1830-1870, Paris, 1 930, pp. 14-16.

[A 7, 6]

"A Passage des Panoramas, assim chamada em lembrança dos dois panoramas que se erguiam de cada lado de sua entrada e que desapareceram em 1831." Paul D'Ariste, La Vie et le Monde du Boulevard, Paris, 1 930, p. 14.

[A 7, 7]

A linda apoteose de Michelet da "maravilha do xale indiano", no capítulo sobre arte indiana de sua Bible de l'Humanité, Paris, 1864.

"O Jehuda ben Halevy, 15 disse ela, Está guardado com grande honra Em um lindo invólucro de papelão

Com elegantes arabescos chineses, Como as lindas bonbonnieres De marquês, na Passage Panorama."

[A 7a, I ]

Heinrich Heine, Hebriiísche Melodien, "Jehuda ben Halevy" 4, Buch des Romanzero, III (cit. numa carta de Wiesengrund [Adorno] !6 )Y

[A 7a, 2]

-· Tabuletas comerciais. À moda das charadas seguiu-se a das alusões literárias e guerreiras. "Se uma erupção da colina de Montmartre vier a destruir Paris, como o Vesúvio destruiu Pompéia, poder-se-á, depois de 150 anos, encontrar sobre nossas tabuletas a história de nossos tritmfos militares e a de nossa literatura." Victor Fournel, Ce Quon Vóít dans les Rues de Paris, Paris, 1858, p. 286 ("Enseignes et affiches").

[A 7a, 3]

Chaptal, no discurso sobre a proteção dos nomes na indústria: "Que não se diga que o consumidor saberá distinguir bem, na compra, os graus de qualidade de um tecido: não, senhores, o consumidor não pode apreciá-los; julga somente o que lhe cai sob os sentidos. Bastariam os olhos e o tato para julgar a solidez das cores, para determinar com precisão o grau de leveza de um tecido, a natureza e a qualidade dos processos de preparação?" Chaptal, Rapport au nom d'une comm ission spéciale chargée de l'examen du projet de foi relatif aux altérations et suppositions de noms sur les produits fabriqués. ["Chambre des Pairs de France", Sessão de 17 de julho de 1 824] p. 5 . - A importância do crédito aumenta à medida que se especializa o conhecimento das mercadorias.

[A 7a, 4]

15 Poeta e filósofo judeu. n'ascido por volta_ de 1 .085 em Toledo (Espanha) e morto por volta de 1 . 140

numa peregrinação a Jerusalém. (EIM)

1 6 Nota w.b.

17 Heine, Samtliche Werke, ed. org. por Ernst Elster. vol. I, Leipzig 1 Viena. 1893, p. 457_ Não se conservou

nenhuma carta de Adorno em que são citados estes versos. (RT)

-o que direi agora desta coulisse8 que, não contente com uma sessão ilegal de duas horas na Bolsa, apresentava-se ainda, outrora, duas vezes por dia, ao ar livre, no Boulevard des Italiens, em fu:me à Passage de l'Opéra, onde quinhentos a seiscentos jogadores clandestinos, formando uma massa compacta, se arrastavam atrás de um grupo de uns quarenta corretores não-licenciados, falando em voz baixa como conspiradores, enquanto agentes da polícia os empurravam para fazê-los circular, como se empurra carneiros gordos e cansados que são conduzidos ao abaredouro." M. J. Ducos (de Gondrin), Comment on se Ruine à la Bourse, Paris, 1858, p. 19.

[A 7a, 5]

Na Rue Saint Martin, 271, na Passage du Cheval Rouge, aconteceu o assassinato de Lacenaire. [A 7a, 6]

Tabuleta comercial: "Lépé-scié" [A Espada-Serrada-ao-Meio] .19 [A 7a, 7]

Do prospecto "Aos moradores das ruas Beauregard, Bourbon-Villeneuve, du Caíre e da Cour des Miracles": "Projeto de duas passagens cobertas indo da Place du Caire à Rue Beauregard, terminando exatamente em frente à Rue Hauceville. Senhores: Há muito tempo nós nos preocupamos com o futuro deste bairro; sofremos ao ver propriedades tão perto do bouLevard estarem tão longe do valor que deveriam ter; esse estado de coisas mudaria se abríssemos vias de comunicação, e, como é impossível traçar ruas nesse lugar, devido à grande diferença de nível do solo, e que o único projeto praticável é o que temos a honra de lhes submeter, esperamos, senhores, que, na qualidade de proprietários ... , os senhores queiram nos honrar com sua colaboração e com sua ·adesão .. . Cada participante será responsável por um depósito de 5 francos por ação de 250 &ar!cos que quiser possuir na sociedade defmitiva. Logo que se atingir o montante de 3.000 francos de capital, esta subscrição provisória será fechada, a referida soma sendo por ora considerada suficiente. Paris, 20 de outubro de 1847." Convite impresso para subscrição.

[A 8, l]

"Na Passage Choiseul, Monsieur Com te, 'físico do rei', exibe, entre duas sessões de magia realizadas por ele mesmo, sua célebre trupe de crianças, a tores admiráveis." J. L. Croze, "Quelques spectacles de Paris pendam l'écé de 1835", Le Temps, 22 de agosto de 1935.

[A S, 2]

"Nessa virada da história, o comerciante parisiense faz duas inovações que transformam o mundo da moda: a vitrine e o empregado �asculino (o calicot). A vitrine, que lhe faz enfeitar seu estabele�f�ento, Jo ·térreo às mansardas, e sacrificar trezentas varas de tecido para e�ouirlandar sua fachada como um navio almirante; o empregado masculino, que substitui a sedução do homem pela mulher, · como haviam imaginado os lojistas do Antigo Regime, pela sedução dá mulher pelo homem, muito mais psicológica. Acrescentemos o preço fiXo, marcado ao lado da mercadoria." H. Clouzot e R H. Valerísi, Le Pam -�die Humatne: l3a!üzé et ses Fournzssezm:-Pãiís: 1 926, pp. 31-32 ("Magasins de nouveautés").

18 Ver supra, nota 9; d. [A 2, 1 1 ].

[A 8, 3]

19 Provavelmente um trocadilho: o " e " final em épée (espada) e sciée (serrada) foi cortado, resultando na

palavra quase homófona l'épicier: "(o dono de) mercearia". (EJM)

A (Passagens, Magasíns de Nouveautés, Calícots I 93

Balzac, quando um magasin de nouveautés alugou salas que foram ocupadas anteriormente por Hetzel, o editor da Comédia Humana: "A Comédie Rumai� cedeu lugar à comédia das caxemiras." (Clouwt et Valensi, Le Paris de la Comédie HUT1U1ine, p. 37.)

[A S, 4]

Passage du Commerce-Saint-André: um gabinete de leitura. : • .l,. Ba. I]

"Desde que o governo socialista tornou-se o proprietário legítimo de todas as casas de Paris, entregou-as aos arquitetos com ordem ... de ali construir-se ruas-galerias ... Os arquitetos se empenharam o melhor possível na missão que lhes foi confiada. No primeiro andar de cada casa, tomaram todas as peças que davam para a rua e demoliram suas divisões intermediárias; depois fizeram largas aberturas nas paredes divisórias e obtiveram assim ruas-galerias que tinham a largura e a altura de uma sala comum e ocupavam toda a extensão de um bloco de prédios. Nos bairros novos, onde as casas contíguas têm seus andares mais ou menos na mesma altura, o piso das galerias teve seu nível bastante regular ... Mas nas velhas ruas ... foi preciso elevar ou rebaixar vários pisos e, muitas vezes, foi necessário resignar-se a chegar ao solo por uma inclinação um pouco acentuada ou a cortá-la por alguns degraus de escada. Quando rodos os blocos de prédios encontraram-se assim abertos em galerias ocupando . . . seu primeiro andar, faltava reunir esses fragmentos esparsos uns aos outros, de maneira a constituir urna rede . . . abrangendo toda a extensão da cidade. Isso foi feito facilmente construindo em cada rua pontes cobertas . . . Pontes semelhantes, mas muito mais longas, foram lançadas sobre diversos boulevards, sobre as praças e sobre as pontes que atravessam o Sena, de maneira que . . . um transeunte podia· percorrer toda a cidade sem nunca estar a descoberto ... Desde que os parisienses experimentaram as novas galerias, não quiseram mais pôr os pés nas antigas ruas que, diziam, só serviam para os cães." Tony Moilin, Paris en l'An 2000, Paris, 1869, pp. 9- 1 1 .

[A Ba, 2]

-.j__ "O primeiro andar é ocupado por ruas-galerias ... Ao longo das grandes vias ... formam as ruas-salões . . . As outras galerias, muito menos espaçosas, são mais modestamente ornamentadas. Foram reservadas ao comércio de varejo que ali exibe suas mercadorias de maneira que os transeuntes circulam não mais diante das lojas, mas no seu próprio interior." Tony Moilin, Paris en l'An 2000, Paris, 1 869, pp. 15-16 ("Maisons-modeles").

[A Ba, 3]

Calicots: "Há pelo menos 20.000 em Paris ... Um grande número desses vendedores fez seu curso de humanidades ... ; vê-se mesmo entre eles pintores, arquitetos que romperam com o ateliê e riram um partido maravilhoso de seus conhecimentos ... desses dois ramos da arte para a edificação das vitrines, para a disposição dos desenhos das modas, para a direção das modas a criar." Pierre Larousse, Grand Dictionnaire Universel du � Si'ecle, III, Paris, 1867 (verbete calicot), p. 1 50.

[A9, L ]

"A que impulso obedeceu o autor de Études des Moeurs, 20 ao imprimir vividamente, numa obra de imaginação, os notáveis de seu tempo? Ao seu prazer, em primeiro lugar, não duvidemos ... Isto explica as descrições. É preciso procurar uma outra razão para as citações

20 Estudos dos Costumes: uma das três grandes partes dos escritos de Balzac. (EIM; w.b.)

cMa:a:s e não vemos outra melhor que uma intenção bem marcada de propaganda. Balzac é um dos primeiros a ter adivinhado o poder do anúncio e, sobretudo, do anúncio disfarçado. :\""aquele tempo ... os jornais ignoravam sua força .. . Quando muito, por volta da meia­noite, quando os operários terminavam a paginação, os anunciantes vinham introduzir algumas linhas, abaixo da coluna sobre a Massa Regnault ou o Café Brasileiro. Nos jornais, a rubrica reclame era desconhecida. Mais desconhecido ainda um procedimento tão engenhoso quanto a citação num romance ... Os fornecedores escolhidos por Balzac ... pode-se dizer, sem medo de errar, são os seus . . . Ninguém mais que o autor de César Bírotteau adivinhou o poder ilimitado da publicidade ... Se se duvidasse da intenção, bastaria suprimir os epítetos ... que justapõe a seus industriais ou a seus produtos. Imprime sem pudor: a célebre Victorina, Prazer, um ilustre cabeleireiro, Staub, o alfaiate mais célebre dessa época, Gay, um sapateiro famoso .. . Rue de la Michodiere (e mesmo o endereço) ... a cozinha de Rocher de Cancale . . . o primeiro restaurante parisiense ... isto é, do mundo inteiro." H. Clouzot e R.-H. Valensi, Le Paris de la Comédie Humaine ("Balzac et ses fournisseurs") , Paris, 1926, pp. 7-8 e 177-179.

[A 9, 2]

A Passage Véro-Dodat liga a Rue Croix-des-Petits-Champs à Rue Jean-Jacques-Rousseau. Nesta última, por volta de 1840, Caber realizava suas reuniões em seus salões. Acerca da atmosfera que nelas reinava, Martin Nadaud (Mémoires de Léonard, Ancíen Garçon Maçon) dá uma idéia: "Ele tinha ainda na mão a toalha e o barbeador de que se servira. Pareceu-nos tocado de alegria vendo-nos convenientemente vestidos, o ar sério: 'Ah! Senhores, disse (ele não disse: cidadãos), se vossos adversários vos conhecessem, vós desarmaríeis sua crítica; vossa aparência, vosso comportamento são os de pessoas muito bem educadas'." Cit. Charles Benoist, 'Thomme de 1848", II (Revue des Deux Mondes, 1 de fevereiro de 1914, pp. 641-642). - É característico de Cabet o fato de sustentar a opinião de que operários não deviam ter uma ocupação que exigisse a escrita.

[A 9, 3]

Ruas-salões: "As mais largas e mais bem situadas dentre as ruas-galerias foram ornamentadas com gosto e suntuosamente mobiliadas. As paredes e os tetas foram cobertos de ... mármores raros, de douraduras ... , de espelhos e de quadros; guarneciam-se as janelas de magníficas tapeçarias e de cortinas bordadas com desenhos maravilhosos; cadeiras, poltronas, canapés ... ofereceram assentos cômodos aos visitantes fatigados; enfim, móveis artísticos, antigos baús ... , vitrines cheias de curiosidades ... , potes contendo flores naturais, aquários cheios de peixes vivos; gaiolas povoadas de pássaros raros completaram a decoração dessas ruas-galerias que, à noite, eram iluminadas por candelabros dourados e lustres de cristal. O Governo quis que as ruas pertencendo ao povo de Paris ultrapassassem em magnificência os salões dos mais poderosos soberanos.. . Pela manhã, as ruas-galerias ficam entregues ao pessoal da limpeza que areja, varre cuidadosamente, escova, espana, esfrega os móveis e conserva por toda parte a mais escrupulosa limpeza. Em seguida, conforme a estação, fecham-se as janelas ou deixam-nas abertas, acende-se a lareira ou se descem as cortinas ... Entre nove e dez horas, todo esse trabalho de limpeza está terminado e os transeuntes, raros até então, se põem a circular em grande número. A entrada das galerias é rigorosamente proibida a todo indivíduo sujo ou portador de um grande fardo; é igualmente proibido fumar e escarrar." Tony Moilin, Paris en l'An 2000, Paris, 1869, pp. 26-29 (Aspects des rues-galeries") .

[A 9a, I)

A (Passagens, Magasins de Nouveautés, Ca/icots ) 95

Os magasins de nouveautés resultam da liberdade de comércio conferida por Napoleão I. "Dessas casas, famosas em 18 17, que se chamavam La Filie �1i Gardée.. Le Diable Boiteux, Le Masque de Fer ou Les Deux Magots, não existe mais nenhuma .. �1uitas das que as substituíram, sob Luís Filipe, caíram mais tarde, como La Belle �e:-::niere e La Chaussée d'Antin, ou foram liquidadas mediocremente como Le Coia de Rt:e e u Paune Oiable." Visconde G. D'Avenel, "Le mécanisme de la vie moderne'', I. �les g:-a..1es �c-azins ... Ret!ue � .... eles Deux Mondes, 1 5 de julho de 1 894, p. 334.

f ' .:) ., • .. -. ,a, -.

O escritório do [semanário]21 La Caricature, de Philipon, localizava-se na Passage \ ·é.:-o-Dodar. :.� • .."la. 3:

Passage du Caíre. Instalada após o retorno de Napoleão do Egito. Possui algumas reminiscências egípcias em seus relevos - entre outras, na entrada, cabeças que lembram esfinges. "As passagens são tristes, sombrias, cruzam-se a cada instante de uma maneira desagradável aos olhos ... Parecem destinadas aos ateliês de litografia e às lojas de cartonagem, como a rua vizinha é destinada às fábricas de chapéus de palha; os transeuntes são raros ali." Elie Berthet, "Rue et passage du Caíre" (Paris Chez Soi) , Paris, 1 854, p. 362.

lA 10, 1)

"Em 1798 e 1799, a expedição do Egiro contribuiu enormemente para a moda dos xales. Alguns generais do exército expedicionário, aproveitando a vizinhança da Índia, enviaram a suas mulheres e a suas amigas xales de ... caxemira ... A partir desse momento, a doença que se poderia chamar de febre da caxemira tomou proporções consideráveis, cresceu no Consulado, cresceu no Império, tornou-se gigantesca na Restauração, colossal no governo de Julho, e chegou, enfim, ao estado de esfinge depois da Revolução de fevereiro de 1848." Paris Chez Soi, p. 139. (A. Durand, "Châles-cachemires indiens et français"). Contém uma entrevista com M. Martin, Rue Richelieu, 39, proprietário do magazine "Aux Indiens"; relata que xales, que antes custavam de 1.500 a 2.000 francos, podem ser agora adquiridos por 800 a 1 .000 francos.

Em Brazier, Gabriel e Dumersan, Les Passages et les Rues, vaudeville em um aro, representado pela primeira vez em Paris, no Théâtre des Variétés, em 7 de março de 1827, Paris, 1827.

- Início de uma copia do acionista Dulongot:

"Para as passagens faço

Votos sempre renovados:

Na Passage Delorme

Apliquei cem mil francos." (pp. 5-6)

"Saibam que querem cobrir todas as ruas de Paris com vidros, o que vai resultar em belas estufas aquecidas; viveremos lá dentro como melões." (p. 19)

[A 10, 3]

De Girard, Des Tombeaux ou De l'Influence eles !nstitutions Funebres sur les Moeurs, Paris, 1 801 : ''A nova Passage du Caire, peno da Rue Saint-Denis, . . . é pavimentada em parte

21 Nota E/M.

mm pedras sepulcrais das quais nem mesmo se apagaram as inscrições góticas nem os emblemas." Com isso, o autor quer chamar a atenção para a decadência da devoção. Cit. por fdouard Fournier, Chroniques et Légendes des Rues de Paris, Paris, 1864, p. 1 54.

[A 10, 4]

Brazier, Gabriel e Dumersan, Les Passages et les Rues, ou La Guerre Declarée, vaudeville em um ato, representado pela primeira vez em Paris, no Théâtre des Variétés, em 7 de março de 1827. Paris, 1 827. - O partido dos adversários das passagens é composto pelo Sr. Duperron, comerciante de guarda-chuvas, Sra. Duhelder, mulher de um locador de coches, Sr. Moufferard, fabricante de chapéus, Sr. Blancmanteau, comerciante e fabricante de tamancos, Sra. Dubac, que vive de renda - cada um deles provindo de um bairro diferente. Sr. Dulingot, que aplicou seu dinheiro em ações de passagens, abraça a causa das passagens. Seu advogado é o Sr. Afavor, o advogado de seus opositores é o Sr. Contra. Na antepenúltima cena (a 14a), surge o Sr. Contra à dianteira nas Ruas. Estas ostentam bandeiras apropriadas a seu nome. Entre elas, a Rue aux Ours, Rue Bergere, Rue du Croissant, Rue des Puits-qui-Parle, Rue du Grand-Hurleur etc. Analogamente, aparece na cena seguinte o cortejo das Passagens com suas bandeiras: Passage du Saumon, Passage de l'Ancre, Passage du Grand-Cerf, Passage du Pont-Neuf, Passage de l'Opéra, Passage du Panorama. Na cena seguinte, a última (a 16a), emerge Lurécia22 do seio da terra, a princípio na figura de uma velha. Diante dela, o Sr. Con ua defende sua causa contra as Passagens do ponto de vista das Ruas: "Cento e quarenta e quatro passagens abrem suas bocas escancaradas para devorar nossos hábitos, para fazer fluir as ondas incessantemente renovadas de nossa multidão ociosa e ativa! E vocês querem que nós, Ruas de Paris, fiquemos insensíveis a essas invasões de nossos direitos antigos! Não, nós pedimos . . . a interdição de nossos cento e quarenta e quatro adversários, além de quinze milhões e quinhentos mil francos de indenizações e juros." (p. 29) A defesa das Passagens, pelo Sr. Afavor, rem a forma de uma copia. Eis uma amostra:

"Nós, os proscritos, nosso uso é cômodo,

Não fizemos, com nosso aspecto risonho,

Paris inteiro adotar a moda

Destes bazares, famosos no Oriente?

Quais são estas paredes que a multidão contempla?

Estes ornamentos, estas colunas, sobretudo?

Acreditar-se-ia estar em Atenas, e este templo

É ao comércio erguido pelo gosto." (pp. 29-30).

Lutécia faz a arbitragem da disputa: "O caso está concluído. Gênios das luzes, obedeçam à minha voz. (Neste momento toda a galeria se ilumina a gás.)" (p. 31). Um balé das Passagens e Ruas encerra o vaudeville.

[A !Oa, 1]

== : :: _JrEria. nome romano de Paris. (EIM)

<fase tardia>

A [Passagens, Magasíns de Nouveautés, Calícots] 97

"Não hesito em escrever, por mais provocador que isso possa parecer aos sérios escrirores de arte: foi o calicot que lançou a litografia ... Condenada às �ow:as segundo Rafael., às Briseidas de Regnault, ela talvez estivesse mona; o Calicot a salvou."' Henri 8oodiot, La lizhographie, Paris, 1895, pp. 50-5 1 .

"Na Passage Vivienne,

Ela me disse: sou de Vienne.

E acrescentou:

Moro em casa de meu tio,

É o irmão de papai!

Eu lhe cuido um furúnculo,

É uma sorte cheia de encantos.

Eu devia encontrar a donzela

Na Passage Bonne-Nouvelle,

Mas em vão esperei-a

Na Passage Brady.

Ei-los, os amores de passagem!"

[A 11 , 1]

Narcisse Lebeau, cit. por Léon-Paul-Fargue, "Cafés de Paris", II [in: Vu, IX, 416, 4 de março de 1 9 36].

"Nenhuma razão particular ... , à primeira vista, para que a história tenha recebido este nome: A Loja de Antigüídades. Há apenas dois personagens que têm alguma coisa a ver com esse gênero de boutique, e desde as primeiras páginas eles a deixam para sempre... Mas quando estudamos as coisas em seqüência, percebemos que esse título é uma espécie de chave para todo o romance de Dickens. Suas histórias tinham sempre corno ponto de partida alguma lembrança de rua; as lojas, talvez a coisa mais poética de todas, muitas '\-ezes movimentaram sua imaginação desabusada. Cada boutique, na verdade, despertava nde a idéia de uma novela. Entre as diversas séries de projetas ... é surpreendente não se ver começar uma série com o título A Rua; ela seria inesgotável e as boutíques seriam os capírulos. Ele poderia ter escrito romances deliciosos. A Boutique do Padeiro, A Farnuú:ia, A Boutique do Comerciante de Óleos: outros tantos complementos da Loja de Antígüidades." G. K Chesrerron, Díckens, traduzido por Laurent e Martin-Dupont, Paris, 1927, pp. 82-83Y

(A ll , 3)

"Pode-se evidentemente perguntar em que medida o próprio Fourier acreditava nessas fantasias. Em seus manuscritos, acontece-lhe lamentar as críticas que tomam ao pé da letra o figurado, e falar, noutro lugar, de suas 'esquisitices estudadas'. Não é proibido pensar que haja ali pelo menos uma parte de charlatanismo voluntário, uma aplicação - quando ele

23 G. K. Chesterton, Charles Dickens (1 906; reimpressáo: Nova Iorque, Schocken, 1 965), pp. 1 1 9-120. (EIM)

lançou seu sistema - de procedimentos de publicidade comercial, que começavam a se desenvolver." F. Armand e R Maublanc, Fourier, Paris, 1937, I, p. 158. • Exposições •

[A ! la, J ]

Confissão de Proudhon ao fim de sua vida (in: La justice24 - a comparar com a visão do falanstério em Fourier): "Foi mesmo preciso civilizar-me. Mas confessá-lo-ei? O pouco que dela aprendi me desgostou ... Odeio as casas de mais de um andar nas quais, numa inversão da hierarquia social, os pequenos são instalados no alto, e os grandes estabelecidos no térreo." (cit. Armand Cuvillier, Marx et Proudhon: A la Lumil:re du Marxisme, IT, Primeira Parte. Paris, 1937, p. 21 1.)

[A l la, 2]

Blanqui: "Usei", disse ele, "a primeira insígnia tricolor de 1830, feita pela Sra. Bodin, Passage du Commerce". Gustave Geffroy, L'Enfermé, Paris, 1897, p. 240.

[A ! la, 3]

Baudelaire escreve ainda: "um livro luminoso como um lenço ou um xale da Índia". Baudelaire, L'Art Romantique, Paris, p. 192 ("Pierre Dupom").25

[A ! la, 4]

A coleção Crauzar possui uma bela reprodução da Passage des Panoramas de 1808. Encontra-se aí também um prospecto de um engraxare, que trata principalmente do Gato-de-Botas.

[A l la, 5]

Baudelaire, em 25 de dezembro de 1861, em carta à mãe sobre sua tentativa de empenhar um xale: "Disseram-me que havia um acúmulo de caxemiras nos escritórios, com a aproximação do ano novo, e que se procurava desestimular o público a levá-los." Baudelaire, Lettres à sa Mere, Paris, 1932, p. 198.

[A l la, 6]

"Nosso século ligará o reino da força isolada, abundante em criações originais, ao reino da força uniforme, mas niveladora, igualando os produtos, lançando-os em massa e obedecendo a um pensamento unitário, última expressão das sociedades." H . de Balzac, L'Jllustre Gaudissart, Paris, ed. Calman-Lévy, p. 1 ( 1 837).

[A ! la, 7}

Crescimento das vendas do Bon Marché, emre 1852 e 1863, de 450.000 francos para 7 milhões de francos. O aumemo do lucro deve ter sido percemualmeme muito menor. Movimento grande, lucro pequeno foi um novo princípio, que se coadunava com os principais efeitos, o efeito da multidão compradora e o da massa do estoque. Em 1852, Boucicaut associa-se a Vidau, o proprietário do magasin de nouveautés Au Bon Marché. ''A originalidade consistia em vender a mercadoria de qualidade, garantida pelo preço da mercadoria dos camelôs. A etiqueta com preço fixo foi outra inovação ousada, que suprimia a pechincha e a 'venda segundo a cara do freguês'; a 'devolução' permitia ao cliente anular sua rransação à vomade; finalmente, os empregados eram pagos quase integralmente através de comissões sobre as vendas: estes foram os elementos constitutivos da nova organização." George d'Avenel, "Le mécanisme de la vie moderne: Les grands magazins", Revue des Deux Mondes, Paris, 1894, pp. 335-336; 124 tomos.

[A 12, I }

24 De la Justice dans la Révolution e t dans I'Églíse, 3 vols., 1858. (EIM) 25 Baudelaire, OC 11, pp. 26-27. (RT)- Baudelaire se refere ao livro de poemas de Victor Hugo, Les Oríer.tales

( 1 829). (EIM)

A (Passagens, Magasins de Nouveautés, Ca/icots J 99

Na contabilidade das lojas de departamentos, o ganho de tempo deve ter representado um papel importante no início; em comparação com o varejo, das se beneficiaram com a supressão das transações comerciais.

[.� 12, 2]

Um capítulo "Xales, caxemiras", em Ludwig Borne, Industrie-Ausstellung im Louvre, Gesammelte Schriften, Hamburgo I Frankfurt a. M., 1 862, III, p. 260.

:A 12, 3]

A fisionomia da passagem surge em Baudelaire em uma frase no início do "Joueur génereux": "Parece-me estranho que eu tivesse passado tantas vezes ao largo · desse prestigioso anuo sem desconfiar que ali era a entrada." Baudelaire, CEuvres, texto organizado e anotado por Y.-G. Le Dantec, I, Paris, 1931 , p. 456.26

[A 12, 4]

Característica específica das lojas de departamentos: os compradores semem-se como massa; são confrontados aos estoques; abrangem todos os andares com um só olhar; pagam preços fixos; podem "trocar as mercadorias".

[A 12, 5]

"Naquelas partes da cidade onde se situam os teatros, os passeios públicos ... , onde, por isso, mora e circula a maioria dos forasteiros, pratican1ente não existem casas sem lojas. Trata-se de um minuto ou de um passo para deixar as atrações exercerem seu apelo; pois um minuto depois, um passo adiante, o transeunte já se encontra em freme a uma outra loja ... Os olhos são conduzidos como que à força, é preciso olhar para cima e ficar parado até que o olhar seja restituído. O nome do comerciante ou de sua mercadoria está escrito dez vezes em tabuletas penduradas por roda parte, sobre as portas, acima das janelas, o lado externo da abóbada assemelha-se ao caderno de uma criança de escola, que repete continuamente as poucas palavras a serem copiadas. As coisas não são exibidas em amostras, e sim penduradas em peças inteiras estendidas diante da porta e das janelas. Por vezes, ficam presas no terceiro andar, chegando até a calçada numa variedade de entrelaçamentos. O sapateiro pintou toda a parte externa de seu estabelecimento com sapatos de várias cores, uns ao lado dos outros, qual um batalhão. O emblema do serralheiro é uma chave banhada a ouro de seis pés de altura; nem mesmo os gigantescos portões do céu precisariam de uma chave maior. As paredes das lojas dos comerciantes de meias estão pintadas com meias brancas de quatro palmos de altura, diante das quais nos assustamos no escuro, fazendo-!los imaginar que fantasmas vestidos de branco vagam por aí . ... Porém, de uma maneira mais nobre e mais graciosa, os pés e os olhos são atraídos pelos quadros pendurados diante de muitas lojas ... Estes quadros são freqüemememe verdadeiras obras de arte, e se estivessem na galeria do Louvre, os especialistas ficariam diante deles observando-os com prazer, quando não com admiração .. . Na loja de um peruqueiro [há] um quadro que, embora mal pintado, apresenta uma idéia divertida. O príncipe herdeiro Absalão27 está pendurado pelos cabelos numa árvore e é perpassado por uma lança inimiga. Abaixo os versos: 'Contemplai de Absalão o deplorável destino,/ Se ele usasse peruca, evitaria a morre.' Um outro ... quadro, representando uma moça que de joelhos recebe a coroa de rosas de

26 Baudelaire, OC I, p. 325 (Le Spleen de Paris). (J.L.; w.b.)

27 Filho herdeiro do rei Davi, no Velho Testamento. Ele se revolta contra seu pai e é morto. Cf. 2 Samuel 18. (EJM)

um cavaleiro, enfeita a porta da loja de uma chapeleira." Ludwig Borne, Schilderungen aus Paris, 1822 e 1823, VI ("Die Laden''), in: Gesammelte Schriften, Hamburgo I Frankfurt a. M., 1862, III, pp. 46-49.

[A 12a]

; Sobre a "embriaguez religiosa das grandes cidades" de Baudelaire: as lojas de departamentos ( são os templos consagrados a esta embriaguez.28

28 Baudelaire, OC 1, p. 651 ("Fusées", 11). (R.T.)

[A 13]