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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRÃO PRETO
DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA CELULAR & MOLECULAR E BIOAGENTES PATOGÊNICOS
LEONARDO BARCELOS DE PAULA
“Análise proteômica das diversas fases de diferenciação osteoblástica de
células‐tronco mesenquimais de medula óssea”
Ribeirão Preto 2010
LEONARDO BARCELOS DE PAULA
“Análise proteômica das diversas fases de diferenciação osteoblástica de
células‐tronco mesenquimais de medula óssea”
Dissertação apresentada ao Programa de Pós‐Graduação em Biologia Celular e Molecular da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto para a obtenção do título de Mestre em Biologia Celular e Molecular
Departamento: Biologia Celular & Molecular e Bioagentes Patogênicos Área de concentração: Biologia Celular e Molecular Orientador: Prof. Dr. José César Rosa
Ribeirão Preto 2010
AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA À FONTE.
FICHA CATALOGRÁFICA
Barcelos, Leonardo de Paula
“ANÁLISE PROTEÔMICA DAS DIVERSAS FASES DE DIFERENCIAÇÃO OSTEOBLÁSTICA DE CÉLULAS‐TRONCO MESENQUIMAIS DE MEDULA ÓSSEA”. Ribeirão Preto, 2010.
145 p. : II. ; 30 cm.
Dissertação de Mestrado, apresentada à Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto/USP, 2010.
Área de concentração: Biologia Celular e Molecular
Orientador: Prof. Dr. José César Rosa.
1. Células‐tronco mesenquimal. 2. Diferenciação osteoblástica.
3. Shotgun proteomics e iTRAQ. 4. Processo de regeneração óssea.
FOLHA DE APROVAÇÃO
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho às pessoas inesquecíveis em minha vida...
À Deus, fonte inesgotável de energia que me fortalece todos os dias.
Aos meu pais,
À minha mãe, Margareth Maria Barcelos de Paula, mulher de fibra que nunca se
deixou abater pelos problemas sejam eles os mais complicados de serem resolvidos.
Dedicação em tempo integral com sua força de mulher e seu amor sincero e único. Sempre
lutou pela felicidade de seus filhos fortalecendo cada passo dos mesmos através de sua
imensa ternura, braços fortes e coração puro. Mulher, companheira, guerreira, lutadora,
protetora, amiga, meu anjo... minha mãe! Atravessou montanhas, percorreu caminhos de
pedra, chorou em silêncio, mas estava ali, sempre com seu brilho no olhar e sua firmeza
inabalável...
Mãe, obrigado pelo eterno amor, carinho, graditão, pela confiança deposita em mim
e por estar sempre ao meu lado onde quer que eu esteja...
Ao meu pai, Adahil de Paula Rodrigues, meu herói que sempre me orientou não com
base nas suas próprias experiências, mas sim, demonstrando que em cada experiência existe
uma lição a ser aprendida. Sempre procurou dar a melhor educação para os seus filhos
mostrando o quanto é necessário a busca do conhecimento para continuar caminhando na
vida. Na verdade, pai não é aquele que sempre diz “não faça isso”ou “faça aquilo”, mas sim
faça o melhor de acordo com os seus princípios.
Pai, obrigado por ser esse amigo sempre presente, atento, amoroso e por ter me
dado todo o suporte para que eu pudesse alcançar todos os meus objetivos da melhor
maneira possível.
Ao meu irmão, Leandro Barcelos de Paula, grande amigo que eu posso contar
sempre seja nos momentos bons ou ruins. Meu carinho, admiração e respeito por você não
tem fronteiras. Não importa a nossa distância, sempre seremos irmãos‐amigos.
À minha irmã, Ludmilla Barcelos de Paula, a garotinha que eu sempre quis ter... Só
podia ser a minha irmãzinha... Uma grande amiga que eu posso contar sempre. Está sempre
disposta a me oferecer seu abraço e seu carinho incondicional. Nos momentos em que eu
não via, estava ali, para me ajudar a enxergar. Sempre me divertiu, me surpreendeu e claro,
me aconselhou quando necessário. É maravilhoso poder compartilhar contigo esse laço
sanguíneo que nos uni pela força de nossas almas.
AGRADECIMENTOS ESPECIAIS
Ao meu orientador Dr. José César Rosa, pela oportunidade de fazer parte de seu
grupo e compartilhar de seus conhecimentos que, sem dúvida, contribuíram para o meu
crescimento profissional. Ter sido seu aluno de mestrado me proporcionou “desvendar” o
mundo proteômico que, até então, era obscuro para mim. O convívio no dia‐a‐dia não
proporcionou apenas o meu enriquecimento intelectual, mas sim, o meu crecimento pessoal
e amadurecimento profissional permitindo que eu compreendesse o significado profundo do
que é ciência. Sob sua orientação, a palavra profissionalismo sempre foi marcante em seus
ensinamentos. Ser membro do Centro de Química de Proteínas é um grande diferencial na
minha vida profissional. Parabéns pelo empenho e competência frente à pesquisa, por todo
apoio e suporte para o desenvolvimento desse trabalho e por sempre me incentivar a
alcançar os meus objetivos. O senhor sempre terá o meu respeito e admiração.
Ao Dr. Adalberto Luiz Rosa, pelo apoio incondicional e ensinamentos que
proporcionaram o desenvolvimento desse trabalho, abrindo as portas do seu laboratório e
deixando a disposição toda a sua equipe para que o mesmo fosse desenvolvido da melhor
maneira possível. Agradeço pela oportunidade de poder trabalhar com pessoas
extremamente competentes e profissionais.
AGRADECIMENTOS
Ao Dr. Lewis Joel Greene, pelo compartilhamento da sua vasta experiência na vida
acadêmica para o meu crescimento profissional e pessoal.
À Dra. Clarice Izumi, pelos momentos de grandes ensinamentos em que durante a
execução de um experimento se tornava obscuro, ali ela estava, para deixar tudo as claras.
À Dra. Hélen Julie Laure, pelos inúmeros esforços durante a obtenção dos resultados
gerados no espectrômetro de massas.
Aos companheiros do Centro de Química de Proteínas (CQP‐USP): Silvia Elena
Bolfarini, Regina Amábile Mazzucato de Oliveira, Maria Helena da Silva Martins, Dra. Helen
Cristina Miranda, Dra. Glauce Gaspar Gomes, Dra. Patrícia Pereira Macaroff, Dra. Gisele
Guiçardi Tomazella, Alana Maria Cerqueira, Ana Carolina Humanes, Anelisa Ramão, Carolina
Hassibe Thomé e Germano Aguiar Ferreira, pelos momentos de alegrias, festas e de muitas
risadas... muito obrigado!!
Ao trio fantástico: Marcela Gimenez, Lucas Oliveira Sousa e Talita Diniz Melo, pelas
inúmeras discussões científicas, companheirismo e, principalmente, pela amizade que foi de
fundamental importância nessa caminhada...
À Fabíola Singaretti de Oliveira e o Roger Rodrigo Fernandes, pertencentes aos
Laboratórios de Biologia Molecular e Cultura de Células da Faculdade de Odontologia de
Ribeirão Preto (FORP‐USP) por todo o apoio e dedicação no auxílio do desenvolvimento
desse trabalho. A colaboração de vocês foi de suma importância.
Aos grandes amigos: Dra. Angela Adamski da Silva Reis, Rodrigo da Silva Santos, Aline
Helena da Silva Cruz e Danilo Candido de Almeida, pela força, pelo companheirismo sendo
na alegria ou na tristeza sempre estaremos juntos na caminhada... Agradeço de coração. Ao
companheiro Victor Rodrigues Santos pela empreitada na vida de pós‐graduando.
À Sandra Navarro Bresciani, sempre disposta a me socorrer nos momentos de
desespero para a construção de uma imagem e responsável pela arte gráfica desse trabalho.
Muito obrigado!!!
À Rosângela Catarina Peral Mesquita, por sempre ajudar e auxiliar nos momentos
burocráticos que deparamos durante esse período.
À Fundação Hemocentro de Ribeirão Preto, pelo suporte e auxílio permitindo que o
conhecimento adiquirido com esse trabalho fosse difundido na comunidade científica
através de congressos e eventos científicos.
À Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), pela bolsa de
mestrado concedida que, sem dúvida, sem este auxílio tudo teria sido muito mais
complicado.
À Universidade de São Paulo e ao Departamento de Biologia Celular & Molecular e
Bioagentes Patogênicos, sempre preocupados na formação de excelentes pesquisadores e
profissionais.
À todos que de alguma forma contribuíram para a execução desse trabalho, deixo
registrado a minha eterna gratidão.
EPÍGRAFES
“Querem que vos ensine o modo de chegar à ciência verdadeira? Aquilo que se sabe, saber que se sabe; aquilo que não se sabe, saber que não se sabe; na verdade é este o saber.”
Confúcio ( 551 a.C. ‐ 479 a.C.)
“Não confunda derrotas com fracasso nem vitórias com sucesso. Na vida de um campeão sempre haverá algumas derrotas, assim como na vida de um perdedor sempre
haverá vitórias. A diferença é que, enquanto os campeões crescem nas derrotas, os perdedores se acomodam nas vitórias.”
Roberto Shinyashiki (1952 ‐)
XI
RESUMO
BARCELOS, L. P. Análise proteômica das diversas fases de diferenciação osteoblástica de
células‐tronco mesenquimais de medula óssea. [Proteomics analysis of the various stages of
osteoblastic differentiation of mesenchymal stem cells from bone marrow] Dissertação
(Mestrado em Biologia Celular e Molecular) ‐ Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto,
Departamento de Biologia Celular & Molecular e Bioagentes Patogênicos ‐ Universidade de
São Paulo, Ribeirão Preto, 2010.
O crescimento, desenvolvimento e manutenção do tecido ósseo são processos altamente
regulados. Diversas proteínas como hormônios, fatores de crescimento e citocinas estão
envolvidas nestes processos e exercem atividade direta sobre células osteoblástica e
osteoclástica, atuando em sua diferenciação e ativação metabólica. O processo de
regeneração óssea é iniciado por fatores estimuladores locais como as proteínas
morfogenética óssea (BMP – “Bone Morphogenetic Proteins”). As BMPs são um produto do
metabolismo dos osteoblastos, odontoblastos e de várias células tumorais, sendo
armazenadas na forma de concentrados no osso, dentina e em células neoplásicas do
osteossarcoma e de certos tumores odontogênicos, tais como: fibroma cementificante,
cementoblastoma benigno, dentinoma, fibroma odontogênico e odontoma. Esclarecer os
mecanismos que controlam a remodelação óssea é uma questão bastante relevante. Nesse
sentido, as células‐tronco mesenquimais têm despertado grande interesse devido ao seu
potencial envolvimento no processo de reparo tissular. A obtenção de osteoblastos
funcionais a partir de células‐tronco mesenquimais tem sido utilizada na engenharia de
tecidos e terapia celular. Desse modo, no presente trabalho foi realizada uma análise
proteômica das proteínas envolvidas nas diversas fases de diferenciação osteoblástica de
células‐tronco mesenquimais de medula óssea de rato Wistar e humana, no sentido de obter
maiores informações sobre a diferenciação celular e a biologia do tecido ósseo. Células‐
tronco mesenquimais obtidas de medula óssea foram cultivadas em meio osteogênico por
diferentes períodos para obter células em diversas fases da diferenciação osteoblástica. Para
análise proteômica foram utilizadas ferramentas como a estratégia de “shotgun proteomics”
XII
e quantificação relativa (iTRAQ ‐ Isobaric Tag for Relative and Absolute Quantitation) para
separação de proteínas e a espectrometria de massas para a identificação e quantificação
relativa de proteínas e peptídeos. Neste contexto, os nossos resultados nos levam a concluir
que: as CTMs de medula óssea de rato Wistar expressam genes que estão envolvidos na
diferenciação osteogênica quando estimuladas in vitro formando matriz óssea no período de
14 dias, ou seja, o fator estimulante no microambiente é de fundamental importância; as
CTMs de medula óssea humana apresentaram resultados semelhantes com as CTMs de ratos
em nível genômico durante a diferenciação osteogênica, entretanto quando estimuladas in
vitro formaram a matriz óssea no período de 21 dias; utilizando duas abordagens
proteômicas, foi possível identificar proteínas importantes que estão envolvidas no processo
de diferenciação. Mas cabe salientar que, embora tenham sido detectados genes que
parecem envolvidos no processo de diferenciação, isso não teve reflexo no proteoma dessas
células nos períodos de 7 e 14 dias da indução de diferenciação à osteogênese, o que indica
que a maior parte da funcionalidade dessas células quanto aos outros processos biológicos
estão preservados, como por exemplo a proliferação celular permaneceu sem grandes
alterações. Isso indica que manipulações de isolamento, cultivo e indução da diferenciação
dessas células não afetaram o proteoma, com aspectos positivos para a utilização de células‐
tronco mesenquimais em terapia celular. Do ponto de vista metodológico, esse trabalho
abre perspectivas da utilização de estratégias proteômicas baseadas na marcação por
isóbaros em combinação com separação de proteínas por eletroforese unidimensional SDS‐
PAGE para a análise de amostras biologicamente complexas e de quantidades limitadas de
obtenção como células‐tronco mesenquimais. O estudo da expressão de proteínas durante
as fases de diferenciação osteoblástica de células‐tronco mesenquimais de medula óssea
deve refletir seu estado funcional e contribuir para o entendimento das diversas vias
envolvidas no processo de diferenciação.
Palavras Chaves: 1. Células‐tronco mesenquimal. 2. Diferenciação osteoblástica. 3. Shotgun
proteomics e iTRAQ. 4. Processo de regeneração óssea.
XIII
ABSTRACT
BARCELOS, L. P. Proteomics analysis of the various stages of osteoblastic differentiation of
mesenchymal stem cells from bone marrow Dissertação (Mestrado em Biologia Celular e
Molecular) ‐ Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Departamento de Biologia Celular &
Molecular e Bioagentes Patogênicos ‐ Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2010.
The growth, development and maintenance of bone tissue are highly regulated processes.
Several proteins such as hormones, growth factors and cytokines are actively involved in
these processes and exert direct activity on osteoblastic and osteoclastic cells, acting in their
differentiation and metabolic activation. The process of bone regeneration is initiated by
local stimulating factors as bone morphogenetic proteins (BMP). BMPs are a product of the
metabolism of osteoblasts, odontoblasts and various tumor cells and is stored in the form of
concentrates in bone, dentin and neoplastic cells of osteosarcoma and certain odontogenic
tumors such as fibroma cementifying, cementoblastoma benign dentinoma, odontogenic
fibroma and odontoma. Clarify the mechanisms that control bone remodeling is a very
relevant issue. Accordingly, the mesenchymal stem cells have attracted great interest
because of its potential involvement in the process of tissue repair. Obtaining functional
osteoblasts from mesenchymal stem cells has been used in tissue engineering and cell
therapy. Thus, this present work performed a proteomic analysis of proteins involved in
various stages of osteoblast differentiation of mesenchymal stem cells from bone marrow of
Wistar rat and human, in order to obtain more information on the biology of cell
differentiation and bone tissue. Mesenchymal stem cells obtained from bone marrow were
cultured in osteogenic medium for different periods to obtain cells at different stages of
osteoblast differentiation. For proteomics analysis tools were used as the strategy of
shotgun proteomics and relative quantification (iTRAQ ‐ isobaric Tag for Relative and
Absolute quantitation) for protein separation and mass spectrometry to identify proteins. In
this context, our results take us to conclude that the MSCs of Wistar rat bone marrow
express genes that are involved in osteogenic differentiation in vitro when stimulated to
form bone matrix during the 14 days, thus stimulating factor in the microenvironment is of
fundamental importance, the MSCs from human bone marrow showed similar results with
XIV
rat MSCs at the genomic level during osteogenic differentiation, however, when stimulated
in vitro formed bone matrix within 21 days, using two proteomic approaches, we could
identify proteins important that are involved in the process of differentiation. But it should
be noted that although it has been identified genes that seem involved in the process of
differentiation, it was not reflected in the proteome of these cells at 7 and 14 days after
induction of the osteogenic differentiation, indicating that most of the functionality of these
cells and other biological processes are preserved, such as cell proliferation remained
without major changes. This indicates that manipulations of isolation, culture and induction
of differentiation of these cells did not affect the proteome, with positive aspects to the use
of mesenchymal stem cells in cell therapy. From the methodological point of view, this work
opens up the use of proteomic strategies based on the score for isobars in combination with
protein separation by electrophoresis, one‐dimensional SDS‐PAGE for the analysis of
complex biological samples and limited quantities of production as mesenchymal stem cells.
The study of protein expression during stages of osteoblast differentiation of mesenchymal
stem cells from bone marrow should reflect their functional status and contribute to the
understanding of pathways involved in the process of differentiation.
Keywords: 1. Mesenchymal stem cells. 2. Osteoblast differentiation. 3. Shotgun proteomics
and iTRAQ. 4. Process of bone regeneration.
XV
LISTAS DE ILUSTRAÇÕES Figura 1. Representação esquemática da diferenciação da célula‐tronco multipotente em determinados tipos celulares....................................................................................................3
Figura 2. Representação esquemática dos possíveis processos de plasticidade celular. A) Existência de células de um determinado tecido em um órgão não‐relacionado. B) Fusão entre célula‐tronco e célula diferenciada. C) Reprogramação genética. D) Presença de células‐tronco pluripotentes em tecidos adulto........................................................................5
Figura 3. Potencialidade de diferenciação das células‐tronco mesenquimais da medula óssea..........................................................................................................................................9
Figura 4. Delineamento experimental para estudo da diferenciação das células‐tronco mesenquimais de medula óssea de rato.................................................................................12 Figura 5. Delineamento experimental para estudo da diferenciação das células‐tronco mesenquimais de medula óssea humana................................................................................21
Figura 6. Exemplo de espectro de massa de peptídeo obtidos por em uma fração de nano‐HPLC em que a fragmentação do íon m/z 1620.86 [M+H+] por CID‐MS/MS para a visualização da marcação com iTRAQ. (Fração 7, SDS‐PAGE). A proteína Ras‐related protein Rab‐1A foi identificada utilizando o software MASCOT contra o banco de dados Swiss Prot versão 57.2.fasta......................................................................................................................34
Figura 7. Atividade da fosfatase alcalina de células osteogênicas derivadas da medula óssea de ratos Wistar cultivadas durante o período de 7, 10 e 14 dias. Desvio padrão – MEM (7 dias: 1,4978; 10 dias: 1,6915; 14 dias: 1,1068) e MTS (7 dias: 3,2634; 10 dias: 9,9566; 14 dias: 13,1430). Os dados são reportados como média ± desvio padrão (n=4)...............................41 Figura 8. Atividade da fosfatase alcalina de células osteogênicas derivadas da medula óssea humana cultivadas durante o período de 7, 10 e 14 dias. Desvio padrão – MEM (7 dias: 2,2545; 10 dias: 0,9862; 14 dias: 0,7623) e MTS (7 dias: 1,7540; 10 dias: 9,0064; 14 dias: 9,6961). Os dados são reportados como média ± desvio padrão (n = 3)................................41 Figura 9. Processo de mineralização das células osteogênicas derivadas da medula óssea de ratos Wistar cultivadas durante 14 dias. Microscopia de contraste de fase: (A) células
XVI
cultivadas em MEM 15%; (B) células cultivadas em MTS 15%. Coloração pelo método Alizarin red S: (C) cultura de células mesenquimais com ausência de estímulos de diferenciação osteogênica (MEM 15%); (D) cultura de células mesenquimais na presença de estímulos para a osteogênese (MTS 15%)........................................................................................................43 Figura 10. Processo de mineralização das células osteogênicas derivadas da medula óssea humana cultivadas durante 21 dias. Microscopia de contraste de fase: (A) células cultivadas em MEM 10%; (B) células cultivadas em MTS 10%. Coloração pelo método de Alizarin red S: (C) cultura de células mesenquimais com ausência de estímulos de diferenciação osteogênica (MEM 10%); (D) cultura de células mesenquimais na presença de estímulos para a osteogênese (MTS 10%)........................................................................................................43 Figura 11. Processo de mineralização das células osteogênicas derivadas da medula óssea de ratos Wistar cultivadas durante 14 dias. Viabilidade células (média ± desvio padrão, em densida óptica) de culturas de células‐tronco mesenquimais na aus%encia (MEM) e na presença (MTS) de estímulos para a diferenciação osteogênica nos períodos de 24 horas, 3, 7 e 10 dias, determinada pelo ensaio colorimétrico MTT..........................................................44 Figura 12. Viabilidade celular (média ± desvio padrão, em densidade óptica) de culturas de células‐tronco mesenquimais na ausência (MEM) e na presença (MTS) de estímulos para a diferenciação osteogênica nos períodos de 3, 7 e 10 dias, determinada pelo ensaio colorimétrico MTT...................................................................................................................45 Figura 13. Análise da expressão gênica dos marcadores de diferenciação osteoblástica ALP, RUNX2, BSP, OC, OSTERIX e MSX2 em culturas com ausência (MEM) e na presença (MTS) de estímulos para a diferenciação osteogênica nos períodos de 7, 10 e 14 dias. Os valores foram normalizados pelo gene constitutivo GAPDH e calibrados pelos valores obtidos para o grupo MEM........................................................................................................................................46 Figura 14. Análise da expressão gênica dos marcadores de diferenciação osteoblástica COL I, RUNX2, BSP, ALP, OP, OC e RANKL em culturas com ausência (MEM) e presença (MTS) de estímulos de diferenciação osteogênica nos períodos 7 e 14 dias. Os valores foram normalizados pelo gene constitutivo ACTIN (β‐actina) e calibrados pelos valores obtidos para o grupo MEM...........................................................................................................................46 Figura 15. SDS‐PAGE obtido de extratos de células mesenquimais de medula óssea de rato. Foram submetidos à eletroforese 25µg de proteínas de cada amostra em duplicata. (I) células cultivadas em MEM 15%: as bandas foram recortadas do gel e submetidas à hidrólise enzimática por tripsina. As bandas que apresentaram em duplicidade, foram unidas em um único tubo (a+b=A: 7 dias, c+d=B: 14 dias). (II) células cultivadas em MTS 15%: as bandas sofreram os mesmos procedimentos do (I), sendo (e+f=C: 7 dias, g+h=D: 14 dias). M:
XVII
marcador de peso molecular – LMW (Protein and Peptide Molecular Weigth Markers) GE Healthcare…………………………………………………………………………………………..………………………………48 Figura 16. Análise por Gene Ontology (BABELOMICS v3.2) das proteínas identificadas por MS de células‐tronco mesenquimais de medula óssea de rato durante a indução da osteogênese.............................................................................................................................57 Figura 17. Eletroforese em SDS‐PAGE obtido de extratos de células mesenquimais de medula óssea de rato para a marcação com iTRAQ. Foram submetidos à eletroforese 30µg de proteínas de cada amostra. (I) células cultivadas até o período de 7 dias (7D). (A) MEM 15%; (B) MTS 15% e (C) Controle interno 1 (15µg MEM 7D + 15µg MTS 7D). (II) células cultivadas até o período de 14 dias (14D). (D) MEM 15%; (E) MTS 15% e (F) Controle interno 2 (15µg MEM 14D + 15µg MTS 14D). M: marcador de peso molecular – LMW‐SDS Marker Kit GE Healthcare. As frações foram recortadas do gel e submetidas à hidrólise enzimática por tripsina............................................................................................................59 Figura 18. Eletroforese em SDS‐PAGE obtido de extratos de células mesenquimais de medula óssea humana para a marcação com iTRAQ. Foram submetidos à eletroforese 30µg de proteínas de cada amostra. (I) células cultivadas até o período de 7 dias (7D). (A) MEM 10%; (B) MTS 10% e (C) Controle interno 1 (15µg MEM 7D + 15µg MTS 7D). (II) células cultivadas até o período de 14 dias (14D). (D) MEM 10%; (E) MTS 10% e (F) Controle interno 2 (15µg MEM 14D + 15µg MTS 14D). M: marcador de peso molecular – LMW‐SDS Marker Kit GE Healthcare. As frações foram recortadas do gel e submetidas à hidrólise enzimática por tripsina............................................................................................................65 Figura 19. Análise por Gene Ontology das proteínas identificadas por MS de células‐tronco mesenquimais de medula óssea humana durante a indução da osteogênese....................68 8.1 ANEXO A – COMITÊ DE ÉTICA NO USO DE ANIMAIS ‐ FACULDADE DE MEDICINA DE CATANDUVA.............................................................................................................................93 8.2 ANEXO B – COMITÊ DE ÉTICA NO USO DE CÉLULAS HUMANAS – UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE RIBEIRÃO PRETO)...............................................94 8.3 ANEXO C – Identificação de proteínas das células‐tronco mesenquimais de medula óssea de rato através do método de shotgun proteomics................................................................95 8.4 ANEXO D – IDENTIFICAÇÃO DE PROTEÍNAS DAS CÉLULAS‐TRONCO MESENQUIMAIS DE MEDULA ÓSSEA DE RATO ATRAVÉS DO MÉTODO DE iTRAQ..................................................99
XVIII
8.5 ANEXO E – IDENTIFICAÇÃO DE PROTEÍNAS DAS CÉLULAS‐TRONCO MESENQUIMAIS DE MEDULA ÓSSEA HUMANA NO PERÍODO DE 7 DIAS: MEM 10%(113), MTS 10% (114)..........110 8.6 ANEXO F – IDENTIFICAÇÃO DE PROTEÍNAS DAS CÉLULAS‐TRONCO MESENQUIMAIS DE MEDULA ÓSSEA HUMANA NO PERÍODO DE 14 DIAS: MEM 10%(116), MTS 10% (117)........124
XIX
LISTAS DE TABELAS Tabela 1 – Primers utilizados para a reação de Real time PCR para amostras de células‐tronco de medula óssea de rato..............................................................................................28
Tabela 2 – Primers utilizados para a reação de Real Time PCR para amostras de células‐tronco de medula óssea humana.............................................................................................29
Tabela 3 – Característica imunifenotípicas de células mesenquimais obtidas de medula óssea humana cultivadas em meios de cultura sem fatores estimuladores da osteogênese (MEM) e com fatores estimuladores da osteogênese (MTS) com pacientes entre 21 a 45 anos..........................................................................................................................................39
Tabela 4 – Identificação das proteínas por MALDI‐TOF‐TOF detectadas a partir de células cultivadas em MEM 15% com score ≥ 35.................................................................................49 Tabela 5 – Identificação das proteínas por MALDI‐TOF‐TOF detectadas a partir de células cultivadas em MTS 15% com score ≥ 35 .................................................................................52
Tabrla 6 – Identificação de proteínas por MALDI‐TOF‐TOF comuns entre as células cultivadas em MEM 15% e MTS 15%........................................................................................................55
Tabela 7 – Identificação de proteínas por MALDI‐TOF‐TOF exclusivas das células cultivadas em MEM 15%...........................................................................................................................56 Tabela 8 – Identificação de proteínas por MALDI‐TOF‐TOF exclusivas das células cultivadas em MTS 15%............................................................................................................................56 Tabela 9 – Identificação de proteínas por MALDI‐TOF‐TOF marcadas com iTRAQ nos períodos 7 e 14 dias das células cultivadas em MEM 15% e MTS 15% ................................................60 Tabela 10 – Identificação de proteínas por MALDI‐TOF‐TOF no período 7 dias das células cultivadas em MEM 15% (113) e MTS 15% (114)....................................................................61 Tabela 11 – Identificação de proteínas por MALDI‐TOF‐TOF no período 14 dias das células cultivadas em MEM 15% (116) e MTS 15% (117)....................................................................62
XX
Tabela 12 – Identificação de proteínas por MALDI‐TOF‐TOF com único peptídeo marcado com iTRAQ nos períodos 7 e 14 dias das células cultivadas em MEM 10% e MTS 10%..........................................................................................................................................66 Tabela 13 – Identificação de proteínas por MALDI‐TOF‐TOF com dois peptídeos marcados com iTRAQ no período 7 dias das células cultivadas em MTS 10%........................................67
XXI
LISTAS DE SIGLAS E SÍMBOLOS
1D: eletroforese unidimensional
ARS: do inglês “Alizarin red S”
BMP: do inglês “Bone Morphogenetic Protein” oC: Graus Celsius
cDNA: do inglês “Complementary desoxiribonucleic acid”
CFU‐F: do inglês “Colony forming units – fibroblastic”
cm2: Centímetros quadrados
CO2: Dióxido de Carbono
CT: Célula‐tronco
CTM: Célula‐tronco mesenquimal
CTM‐MO: Célula‐tronco mesenquimal derivada da medula óssea
DNA: do inglês “Desoxiribonucleic acid”
DO: Densidade óptica
DTT: Ditiotreitol
EDTA: Ácido etilenodiamiotetracético (sal dissódico)
FORP‐USP: Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto da Universidade de São
Paulo
HCFMRP‐USP: Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da
Universidade de São Paulo
HCI: Ácido Clorídrico
iTRAQ: do inglês “(Isobaric Tag for Relative and Absolute Quantitation)”
MAPC: do inglês “Multipotent adult progenitors cells”
MALDI‐TOF/TOF: Espectrômetro de massas do tipo MALDI‐TOF/TOF
MEM: do inglês “α‐Minimum Essential Medium”
MTS: Meio de cultura MEM suplementado com os estimuladores para a
osteogêneses
mg: Miligrama
mL: Mililitro
mM: Milimolar
XXII
MO: Medula Óssea
pb: Pares de bases
PBS: do inglês “Phosphate Buffered Saline”
PCR: do inglês “Polimerase chain reaction”
RNA: do inglês “Ribonucleic acid”
RT‐PCR: do inglês “Reverse transcriptase‐polymerase chain reaction”
SITC: Sociedade Internacional de Terapia Celular
SP: do inglês “Shotgun Proteomics”
TA: Temperatura Ambiente
TGF‐β: do inglês “Transforming Growth Factor‐β”
v/v: Volume/Volume
VEGF: do inglês “Vascular endothelial growth factor”
µg: Micrograma
µl: Microlitro
µm: Micrômetro
SUMÁRIO
RESUMO ..................................................................................................................................... XI ABSTRACT ................................................................................................................................ XIII LISTAS DE ILUSTRAÇÕES ........................................................................................................... XV LISTAS DE TABELAS .................................................................................................................. XIX LISTA DE SIGLAS E SÍMBOLOS .................................................................................................. XXI 1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 2
1.1. Definição e classificação das células‐tronco ............................................................. 2 1.2. Células‐tronco adultas e sua plasticidade celular .................................................... 3 1.3. Células‐tronco mesenquimais .................................................................................. 6 1.4. Células‐tronco mesenquimais e diferenciação em osteoblastos ........................... 12 1.5. Abordagem proteômica ......................................................................................... 14
2. OBJETIVOS ....................................................................................................................... 17 2.1. Objetivo geral ......................................................................................................... 17 2.2. Objetivos específicos .............................................................................................. 17
3. MATERIAL E MÉTODOS .................................................................................................... 19 3.1. Obtenção das células‐tronco mesenquimais de medula óssea de rato ................ 19 3.2. Obtenção de células‐tronco mesenquimais de medula óssea humana ................ 20
3.2.1. Caracterização imunofenotípica das células‐tronco mesenquimais humanas ..................................................................................................... 20
3.3. Padronização das condições de diferenciação osteoblástica ................................ 21 3.4. Caracterização da diferenciação osteoblástica ...................................................... 22
3.4.1. Determinação dos níveis enzimáticos de fosfatase alcalina ...................... 22 3.4.2. Análise da formação da matriz extracelular e mineralização por
colorimetria utilizando “Alizarin red S” ...................................................... 23 3.4.3. Ensaio de proliferação celular .................................................................... 24
3.5. Análise da expressão gênica dos marcadores da diferenciação osteoblástica ........................................................................................................... 24 3.5.1. Extração de RNA total ................................................................................. 24 3.5.2. Quantificação de RNA ................................................................................. 25 3.5.3. Construção do cDNA ................................................................................... 26 3.5.4. Análise da diferenciação osteoblástica por pcr em tempo real
(Real‐time PCR) ........................................................................................... 26 3.6. Análise proteômica ................................................................................................. 30
3.6.1. Obtenção dos extratos protéicos de células‐tronco mesenquimais de medula óssea de rato e humana ........................................................... 30
3.6.2. Caracterização de protéinas por “shotgun proteomics” ............................ 30 3.6.3. Marcação isobárica para quantificação absoluta e relativa ‐ iTRAQ .......... 33
4. RESULTADOS .................................................................................................................... 38 4.1. Imunofenotipagem de células mesenquimais obtidas de medula óssea
humana ................................................................................................................... 38 4.2. Caracterização da diferenciação osteoblástica ...................................................... 40
4.2.1. Atividade de fosfatase alcalina ................................................................... 40
4.2.2. Avaliação do processo de calcificação ........................................................ 42 4.2.3. Proliferação celular ..................................................................................... 44
4.3. Análise da expressão gênica durante a diferenciação osteoblástica ..................... 45 4.4. Análise proteômica de células mesenquimais de medula óssea de rato
em diversas fases de diferenciação osteoblástica ................................................. 47 4.4.1. Identificação de proteínas por 1D‐LC‐MALDI‐TOF/TOF ............................. 47 4.4.2. Quantificação relativa de proteínas presentes nas diferentes
fases da diferenciação osteoblástica utilizando isóbaros iTRAQ ............... 57 4.5. Análise proteômica de células mesenquimais da medula óssea humana
em diversas fases de diferenciação osteoblásticas ................................................ 63 5. DISCUSSÃO....................................................................................................................... 72 6. CONCLUSÃO ..................................................................................................................... 83 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................................... 85 8. ANEXOS .......................................................................................................................... 101
INTRODUÇÃO
INTRODUÇÃO
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1. INTRODUÇÃO
1.1. Definição e classificação das células‐tronco
As células‐tronco (CT) são definidas como as células que se encontram no topo da hierarquia
de uma linhagem com capacidade de auto‐renovação contínua (proliferação), possibilitando originar
células funcionalmente e morfologicamente diferenciadas de um determinado tecido (diferenciação)
(KOOY et al., 2000).
Com relação à sua origem e suas propriedades biológicas, as CTs podem ser classificadas em
embrionárias e adultas. As células‐tronco embrionárias são derivadas da camada interna do embrião,
na fase de desenvolvimento do blastocisto e possuem capacidade de originar mais de 200 tipos
celulares diferentes (ZHANG et al., 2006). Já as células‐tronco adultas estão presentes em órgãos ou
tecidos diferenciados, como cérebro, medula óssea, vasos sanguíneos, pele e fígado (BARRY;
MURPHY, 2004) e são responsáveis pela manutenção da integridade dos tecidos, pelo reparo diante
de lesões e pela remodelação dos tecidos (ZAGO; COVAS, 2006).
Com relação ao potencial de diferenciação, as CTs podem ser classificadas em quatro
categorias: totipotentes, pluripotentes, multipotentes e oligopotentes (ZHANG et al., 2006).
As células‐tronco totipotentes possuem o potencial de diferenciação em todos os tipos
celulares desde os três folhetos embrionários (ectoderme, mesoderme e endoderme) até os anexos
embrionários. Tais células têm a capacidade de originar um ser humano completo quando
implantadas em um útero normal. Particularmente em mamíferos, apenas os zigotos são
totipotentes (ZHANG et al., 2006). Entretanto, na fase de blastocisto, as camadas mais internas
podem originar células do folheto embrionário sendo denominadas de pluripotentes. Já a placenta
originará células da camada mais externa (ZHANG et al., 2006).
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As células multipotentes podem se diferenciar em determinados tipos celulares dentro de
um determinado órgão; por exemplo, as células‐tronco hematopoiéticas adultas darão origem
apenas a glóbulos vermelhos e brancos ou plaquetas (Figura 1). Células‐tronco oligopotentes podem
originar poucos tipos celulares especializados; por exemplo, as células mesenquimais se diferenciam
em células ósseas, musculares, lipídicas e células de tecidos conectivos (ZHANG et al., 2006).
Figura 1. Representação esquemática da diferenciação da célula‐tronco multipotente em determinados tipos celulares.
1.2. Células‐tronco adultas e sua plasticidade celular
As células‐tronco adultas foram isoladas de vários tecidos, dentre eles: hematopoiético,
neural, gastrointestinal, epidermal, hepático (JIANG et al., 2002), vascular, muscular, pancreático
(SPPES et al. 2003), cordão umbilical (KIM et al., 2004; LEE et al., 2004), dentre outros.
O papel fisiológico destas células em adultos ainda não está totalmente esclarecido.
Entretanto, o seu potencial de diferenciação in vitro em vários tecidos está sendo explorado, visando
a regeneração óssea (LUYTEN, 2004) e de outros tecidos (BOCELLI‐TYNDALL et. at., 2007). As células‐
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tronco tecido‐específicas, até pouco tempo, eram consideradas como células capazes de se
diferenciar somente em células do tecido de origem, ou seja, multipotentes. Entretanto, Jiang e
colaboradores (2002) demonstraram que tais células podem se diferenciar em outras linhagens além
das do tecido de origem (JIANG et al., 2002).
Tal atributo, em relação à potência das células‐tronco adultas, é denominado como
plasticidade celular. Herzog e colaboradores (2003) definiram que a plasticidade se refere às novas
habilidades, descritas na literatura, das células‐tronco adultas de atravessar barreiras de linhagem e
adquirir fenótipos funcionais de células de outros tecidos (HERZOG et al., 2003), sendo tal definição a
mais aceita pela comunidade científica.
Experimentos in vivo demonstraram o processo de plasticidade através de modelos de lesão
induzida e observações da migração e diferenciação dessas células para as áreas lesadas com
subseqüente regeneração (HERZOG et al., 2003). Quatro hipóteses são propostas para explicar a
plasticidade observada em experimentos in vivo (Figura 2), entre elas: (1) múltiplas células‐tronco
(células de um determinado tecido podem existir em um órgão não relacionado); (2) fusão celular;
(3) transdiferenciação e (4) pluripotência (persistência de células‐tronco pluripotentes em tecidos
adultos). A primeira é atribuída à presença de CT em um dado tecido que poderiam se diferenciar
em células de um tecido não‐relacionado, dando a falsa impressão de plasticidade (VERFAILLIE,
2002). Um mecanismo alternativo seria a fusão celular de uma célula‐tronco adulta com uma célula
diferenciada, o que converteria o padrão de expressão da célula‐tronco no padrão de célula
diferenciada. Entretanto, experimentos in vitro têm mostrado que este parece ser um evento
bastante raro (1/104 a 1/106) (JIANG et al., 2002; HERZOG et al., 2003; VERFAILLE, 2002). Há ainda a
possibilidade de uma célula diferenciada sofrer reprogramação genética e tornar‐se pluripotente,
fenômeno denominado transdiferenciação ou desdiferenciação (VERFAILLIE, 2002). Uma última
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explicação seria a permanência de células‐tronco pluripotentes em tecidos adultos (JIANG, et al.,
2002; VERFAILLIE, 2002). A presença desses tipos celulares no organismo adulto não é
completamente aceita na comunidade científica, devido às contradições nos experimentos
realizados in vitro e in vivo.
Figura 2. Representação esquemática dos possíveis processos de plasticidade celular. A) Existência de células de um determinado tecido em um órgão não‐relacionado. B) Fusão entre célula‐tronco e célula diferenciada. C) Reprogramação genética. D) Presença de células‐tronco pluripotentes em tecidos adulto.
Song e Tuan (2004) mostraram que células‐tronco mesenquimais humanas podem sofrer
transdiferenciação in vitro em outros tipos celulares de acordo com o estímulo externo. Ou seja,
quando o agente indutor de diferenciação é trocado, as células totalmente diferenciadas
(osteoblastos, condrócitos e adipócitos) poderiam sofrer transdiferenciação a um estágio
indiferenciado através de reprogramação genética. Esses autores conseguiram originar adipócitos e
condrócitos a partir de osteoblastos derivados de CTMs, bem como osteócitos e condrócitos a partir
de adipócitos e osteoblastos e adipócitos a partir de condrócitos (SONG & TUAN, 2004).
INTRODUÇÃO
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Outros estudos mostraram uma série de eventos de transdiferenciação: células de músculo
esquelético (células satélites) em células sanguíneas (TSAI; KITTAPPA; MCKAY, 2002; CAPLAN;
BRUDER, 2001); do sistema nervoso central em musculares, hepatócitos, miocárdio e neurais;
hematopoéticas em epitélio e tecidos endodérmicos e ectodérmicos (TSAI; KITTAPPA; MCKAY,
2002). A falta de consenso na literatura envolve o fato de que os dados coletados são geralmente
baseados em características morfológicas e ensaios imunohistoquímicos, o que pode ser insuficiente
para concluir que estas células irão se integrar funcionalmente nos tecidos. Segundo estudos
desenvolvidos por Verfaillie (2002), Grove e colaboradores (2004) a ausência de provas funcionais in
vivo se torna insustentável a conclusão de que estas células são, de fato, plásticas.
1.3. Células‐tronco mesenquimais
Dentre os diversos tipos de células‐tronco adultas, as células‐tronco mesenquimais (CTM)
compõem um grupo que vem despertando grande interesse.
Segundo Minguell e colaboradores (2001), a multipotencialidade, bem como a facilidade de
isolamento e sua expansão in vitro, tornam as CTMs uma alternativa terapêutica atrativa com um
amplo espectro de aplicações clínicas no contexto de terapia celular (MINGUELL et al., 2001). O
interesse neste tipo celular cresceu nos últimos anos devido ao seu grande potencial de uso na
regeneração de tecidos e órgão lesados, como vem sendo demonstrado nos estudos clínicos e pré‐
clínicos (BARRY; MURPHY, 2004). As CTMs são responsáveis pela manutenção do microambiente
estromal da medula óssea e participam como agentes reguladores da hematopoiese (GARTNER;
HIATT, 2007).
Em 1867, com estudos realizados pelo patologista Julius Friedrich Cohnheim, surgiu a
primeira evidência de que células não hematopoéticas apresentavam potencial regenerativo.
Cohnheim, com base em suas observações em trabalhos de reparo de feridas, identificou não só
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células inflamatórias, mas também células com formato fibroblastóide agindo no local da
cicatrização. Foi observado também que a maioria das células, as quais atuavam na cicatrização,
eram, provavelmente, oriundas da medula óssea (FEHRER; LEPPERDINGER, 2005).
Após um século, as CTMs foram originalmente descritas por Alexander Friedenstein e
colaboradores em 1966 e posteriormente em 1970 e 1974 (FRIEDENSTEIN et al., 1966). No entanto,
nestes estudos os autores propuseram somente a identificação de uma população de células
fibroblastóides com capacidade de aderência e formação de colônias CFU‐Fs (“colony‐forming units‐
fibroblast”) in vitro.
Arnold Caplan, em 1991, propôs que as CTMs poderiam ser isoladas da medula óssea de
indivíduos adultos e seriam correspondentes às CTMs do embrião. Nesse trabalho, o autor relatou
que essas células poderiam ser utilizadas terapeuticamente para tratamento de doenças ósseas e
articulares.
As CTMs ganharam maiores destaque na comunidade científica há apenas quase uma
década. Entretanto, evidências in vivo de que as referidas CTMs possuam características de célula‐
tronco (CT) como capacidade de auto‐renovação, sobrevivência por um longo período e repopulação
tecidual com potencial de diferenciação em múltiplas linhagens permanecem escassas (PHINNEY,
2002 e HORWITZ et al., 2005) assim como estudos proteômicos relacionados com o processo de
diferenciação dessas células.
A Sociedade Internacional de Terapia Celular (SITC), em 2005, com o objetivo de
promover o uso de uma terminologia padronizada para facilitar o intercâmbio de conhecimento
entre pesquisadores da área, propôs que as células aderentes ao plástico, atualmente chamadas
células‐tronco mesenquimais, sejam nomeadas como células estromais mesenquimais
multipotentes. A terminologia células‐tronco mesenquimais deve ser utilizada apenas para um
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subgrupo destas células que demonstrem atividade de células‐tronco através de critérios mínimos
(HORWITZ et al., 2005). A SITC estabeleceu três critérios mínimos para definir as células
estromais mesenquimais multipotentes: (1º) essas células devem manter a propriedade de
aderência ao plástico quando submetidas a uma condição padrão de cultura; (2º)
obrigatoriamente devem expressar como moléculas de superfície celular os marcadores
CD105, CD73 e CD90 e, simultaneamente, não expressar CD45, CD34, CD14 (ou CD11b, CD79a
ou CD19) e HLA‐DR e (3º) esses tipos celulares devem, pelo menos, diferenciar em
condroblastos, adipócitos e osteoblastos in vitro (DOMINICI et al., 2006). A versatilidade e a
abundância de fontes para obtenção destas células são notáveis. Assim como as demais
células‐tronco adultas, vários estudos demonstram a plasticidade destas células in vivo e in
vitro (Figura 3). Todavia, no presente trabalho, somente por razões de conveniência, as células
estromais mesenquimais multipotentes serão denominadas de células‐tronco mesenquimais.
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Figura 3. Potencialidade de diferenciação das células‐tronco mesenquimais da medula óssea.
As CTMs são consideradas progenitores multipotentes e podem ser caracterizadas in vitro
pelo seu potencial de diferenciação (sob estímulo adequado) em: osteócitos, condrócitos e
adipócitos. Essas células também possuem grande habilidade para a produção de um número
variado de citocinas e fatores de crescimento (AWAD et al., 1999, CAPLAN; BRUDER, 2001 e
CHATEAUVIEUX et al., 2007). As CTMs estão sendo testadas para o tratamento de doenças cardíacas
isquêmicas e degenerativas, lesões ósseas, condrais, tendinosas, pulmonares, da medula espinhal,
do sistema nervoso central, do fígado e em doença genéticas como a osteogênese imperfeita (ZAGO;
COVAS, 2006).
Como parte do nicho das CT hematopoiéticas, as CTMs participam na regulação da
sobrevivência, quiescência e diferenciação em células sanguíneas maduras. As CTMs exercem uma
influência na formação inicial de linfócitos B, sendo a interação com as células estromais da medula
óssea fundamental para o desenvolvimento normal dos progenitores de linfócitos B. Foi
demonstrado que a galectina‐1 é um ligante da célula estromal para o receptor pré‐B humano, que é
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indispensável para a sobrevivência do linfócito B imaturo. Interessantemente, a galectina‐1 é
altamente expressa em CTMs (AGGARWAL; PITTENGER, 2005).
Nos estudos com células de medula óssea já era conhecida a existência de um grande
número de células que se aderiam ao plástico na cultura, proporcionando um microambiente para o
crescimento das CT hematopoiéticas e para a diferenciação em granulócitos e eritrócitos. Observou‐
se que os precursores hematopoiéticos interagiam diretamente com estas células aderentes e estas
compartilham muitas características com as CTMs (PROCKOP, 1997).
Pitterger e colaboradores (1999) realizaram o isolamento, a expansão e a caracterização
destas células a partir de medula óssea humana extraída da crista ilíaca. Estas células multipotentes,
responsáveis pela composição em torno de 0,001% a 0,01% das células nucleadas da medula óssea
adulta, crescem in vitro de maneira aderente, como células fibroblastóides em meio de cultura
apropriado. Observou‐se ainda a capacidade das células expandidas de se diferenciar, mediante
estímulos específicos, em linhagens mesenquimais tais como: ossos, cartilagens, adipócitos, tendões,
músculos e estroma medular (PITTERGER et al., 1999).
Do ponto de vista fisiológico, a diferenciação de CTM em osteoblastos é importante na
manutenção das espículas trabeculares ósseas, que compõem a medula óssea. Por outro lado, com a
idade, a medula é parcialmente substituída por tecido adiposo, o que explicaria a diferenciação em
adipócitos. Com relação aos condroblastos, pode estar relacionada ao reparo inicial de fraturas
(PROCKOP, 1997).
As CTMs são encontradas tipicamente na fração estromal da medula óssea adulta, porém
nos últimos anos, células exibindo características morfológicas de CTM foram isoladas de tecido
adiposo (ZUK et al., 2001), trabéculas ósseas (SOTTILE et al., 2002), cordão umbilical (LEE et al., 2004;
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KIM et al., 2004) sangue fetal, fígado, pulmão, vilo coriônico da placenta e fluido amniótico (JACKSON
et al., 2007).
A presença destas células em sangue periférico adulto é controversa. O estudo conduzido
por Zvaifler et al. (2000) demonstrou que existem CTMs no sangue periférico de indivíduos normais.
Já DA SILVA MEIRELLES; CHAGASTELLES; NARDI (2006) demonstraram que as CTMs são encontradas
em todos os tecidos, exceto em sangue periférico, sugerindo que o compartimento perivascular deva
ser considerado um novo nicho para estas células.
O método de isolamento tradicional baseia‐se na característica das CTMs aderirem
seletivamente em superfícies plásticas, enquanto as hematopoiéticas são removidas com as trocas
de meio de cultura. Não há um marcador específico que a identifique, por isso diferentes grupos têm
optado por uma variedade de combinações de marcadores, a maioria inclui CD29 e CD105 (JACKSON
et al., 2007).
A diferenciação de células‐tronco mesenquimais em células neurais foi demonstrada em
vários trabalhos tanto in vitro como in vivo. Entretanto, a capacidade de geração de neurônios com
capacidade funcional é hipotética. De acordo com o estudo de Mareschi e colaboradores (2006), a
presença de marcadores e morfologia neurais, somadas às propriedades eletrofisiológicas
características, demonstram a capacidade de células‐tronco mesenquimais de medula óssea gerar
células que se assemelham a neurônios.
Reyes e colaboradores (2002) mostraram que as MAPCs (Multipotent adult progenitors
cells) diferenciam em células com morfologia e fenótipo endotelial tanto in vitro quanto in vivo.
Ferrari e Mavilio (2002) observaram que as células de medula óssea entravam em processo de
diferenciação miogênica frente a danos musculares, participando assim do reparo muscular. Outros
estudos sugerem ainda que CTMs podem dar origem a endotélio, hepatócitos, células neurais após
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injeção em blastocistos (TSAI; KITTAPPA; MCAY, 2002; MINGUELL; ERICES; CONGET, 2001; CAPLAN;
BRUDER, 2001).
1.4. Células‐tronco mesenquimais e diferenciação em osteoblastos
O modelo de diferenciação in vitro de CTMs em osteoblastos é clássico e de fácil
reprodutibilidade para estudos de diferenciação celular.
Jaiswal e colaboradores (1997) desenvolveram um sistema‐modelo de indução de
diferenciação de CTMs humanas adultas em osteoblastos. O protocolo otimizado inclui meio de
cultura (DMEM ou α‐MEM) suplementado com indutores (dexamentasona 100nM, β‐glicerofosfato
10nM e ácido ascórbico 0,05nM).
Os glicocorticóides endógenos estão envolvidos no remodelamento e formação óssea. A
dexametasona é um potente corticosteróide muito utilizado na avaliação de respostas celulares in
vitro. O ácido ascórbico, essencial em culturas de células osteogênicas, age como cofator na
hidroxilação de resíduos de lisina e prolina do colágeno, atuando ainda como promotor da síntese de
matriz óssea (JAISWAL et al., 1997).
Segundo Long (2001), a osteopoiese pode ser definida como o processo de desenvolvimento
de células ósseas que geram osteoblastos a partir de células‐tronco mesenquimais. O termo
osteogênese deve ser reservado para a geração de matriz óssea mineralizada por osteoblastos
maduros.
A indução da osteopoiese é observada pelo aparecimento de morfologia de osteoblastos
(forma cubóide), pelo aumento na atividade de fosfatase alcalina e formação de matriz extracelular
mineralizada (JAISWAL et al., 1997).
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Quatro estágios na maturação destas células são observados, de acordo com critérios
morfológicos e histoquímicos: pré‐osteoblasto, osteoblasto, osteócito e células de revestimento
ósseo (AUBIN, 1998).
Segundo Long (2001), pode‐se compartimentalizar de acordo com o estágio do
desenvolvimento em: CTM, células osteoprogenitoras, pré‐osteoblastos e osteoblastos. As
osteoprogenitoras seriam células comprometidas com a linhagem óssea.
Osteoblastos são definidos como células pós‐proliferativas, cubóides, fortemente positivas
para fosfatase alcalina, que revestem a matriz óssea em regiões ativas de produção de matriz. Os
osteoblastos podem ainda ser identificados pela capacidade de sintetizar macromoléculas fenótipo‐
específicas, como proteínas da matriz óssea, receptores de hormônios, citocinas e fatores de
crescimento. O fenótipo de um osteoblasto maduro é definido pela habilidade de síntese de tecido
mineralizado, conhecido como osso (AUBIN, 1998).
Aproximadamente 10‐20% de osteoblastos são incorporados na matriz extracelular recém‐
formada fazendo parte do estágio maduro de diferenciação da linhagem osteoblástica, os osteócitos.
Estes, são menores que os precursores, perdem muitas organelas citoplasmáticas e são considerados
metabolicamente inativos (AUBIN, 1998).
Os ossos são responsáveis pelas funções de locomoção, suporte e proteção de órgãos vitais
(encéfalo, medula espinhal, coração e pulmões), suporte da hematopoiese na medula óssea, reserva
de minerais, especialmente cálcio, apoio para músculos, ligamentos e tendões.
A deposição óssea e a reabsorção, efetuados por, respectivamente, osteoblastos e
osteoclastos, são processos dinâmicos que ocorrem continuadamente (COHEN, 2006).
A compreensão dos processos celulares e mecanismos moleculares da formação óssea
requer a identificação de genes e proteínas envolvidos no comprometimento das CTMs, proliferação
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de osteoprogenitores, diferenciação e mineralização (LONG, 2001; NAKASHIMA; CROMBRUGGHE,
2003).
A obtenção de osteoblastos funcionais a partir de células‐tronco mesenquimais tem sido
utilizada amplamente na engenharia de tecidos e terapia celular. Ohgushi e colaboradores (2004)
desenvolveram um estudo envolvendo mais de 30 pacientes usando CTMs para reconstrução de
ossos após excisão cirúrgica. As células foram extraídas da medula óssea e cultivadas sobre próteses
de hidroxiapatita e fosfato tricálcio e então implantadas nos locais lesados.
Infusões intravenosas de CTM humanas expandidas ex vivo foram bem toleradas em
pacientes voluntários e parecem ser seguras (DEANS; MOSELEY, 2000).
1.5. Abordagem proteômica
Vários estudos têm demonstrado que a medula óssea (MO) é dos locais em que se
encontram as células‐tronco mesenquimais. De acordo com Baksh e colaboradores (2004), as
células‐tronco mesenquimais adultas expressam oito genes essenciais durante a diferenciação em
condroblastos, osteoblastos e adipócitos. De acordo com os achados desses autores, 235 genes são
comuns entre os processos de adipogênese e osteogênese, quando comparado com 3 genes
comuns entre a condrogênese e osteogênese, e 10 genes comuns para adipogênese e
condrogênese, sendo que os dois tipos celulares (adipócitos e osteoblastos) vieram de um mesmo
precursor. Ou seja, os processos celulares e moleculares da diferenciação de CTMs foram elucidados
em nível genômico (ÇELEBI et al. 2010).
Recentemente, foi relatado que proteínas são reguladas através de períodos específicos
durante o processo de diferenciação das CTMs, podendo desempenhar um papel na diminuição do
potencial de proliferação de CTMs de medula óssea de ratos durante os períodos de cultivo celular
(ÇELEBI et al. 2009).
INTRODUÇÃO
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A possibilidade de diferenciação de CTMs‐MO de ratos em condições de cultura, na ausência
de estímulos, em outros tipos celulares é um processo lento e contínuo (ÇELEBI et al. 2009). Nesse
contexto, a utilização da ferramenta proteômica na análise das proteínas que estão sendo expressas
durante o processo de diferenciação das CTMs é praticamente ausente.
A espectrometria de massas é atualmente o método para identificação e para análise
estrutural utilizado em estudos proteômicos, devido à sua alta sensibilidade e a capacidade de
produzir informações estritamente com base em estrutura de proteínas e peptídeos. A proteína é
identificada por correlação com sequências depositadas em banco de dados, utilizando‐se de
parâmetros restritivos, tais como grupo de massas de peptídeos e sequências de aminoácidos
parciais ou totais obtidas de peptídeos que foram produzidos por proteólise limitada (GRAVES &
HAYSTEAD, 2002).
Ye e colaboradores (2006) demonstraram os efeitos do indutor de cardiomiócitos, 5‐
azacitidina, em CTMs‐MO de ratos, sendo que 9, entre as 34 proteínas identificadas pela análise por
MALDI‐TOF‐MS, mostraram distinta regulação protéica depois do tratamento com o indutor.
Estudos realizados por Sun e colaboradores (2006) mostraram mudanças no perfil proteômico
durante a diferenciação de CTMs humanas no processo da osteogênese.
A abordagem “shotgun proteomics” (SP) compreende a produção de uma mistura complexa
de peptídeos, obtidos por tratamento enzimático com tripsina de proteínas extraídas a partir de
células inteiras. A análise proteômica por SP é complementar ao método de separação de proteínas
por gel bidimensional. O método de SP é extremamente útil para a identificação de classes de
proteínas de difícil análise em gel bidimensional, dentre elas, as proteínas de membrana, proteínas
com ponto isoelétrico muito alcalino e proteínas de alta massa molecular (FOURNIER et al., 2007).
INTRODUÇÃO
16
Outra abordagem proteômica consiste na marcação isobárica (iTRAQ) para quantificação
absoluta e relativa que se baseia na derivação de grupos amino primários de peptídeos obtidos após
o processo de digestão. Esse método permite marcar peptídeos de diferentes amostras com
diferentes isóbaros denominado iTRAQ (8 plex, m/z 113, 114, 115, 116, 117 e 118). Estas amostras
são reagrupadas após a derivação química, separadas por nano‐HPLC e, posteriormente, submetidas
à análise em espectrometria de massas. Durante o processo de fragmentação dos íons peptídeos
tripsínicos que foram marcados, ocorre a formação de íons repórteres de baixa massa (m/z 113, 114,
115, 116, 117 e 118) (“low mass zoom”) que são utilizados para a quantificação relativa da proteína
nas diversas amostras em uma análise única, seguindo o princípio da diluição isotópica, como
descrito por Shadforth e colaboradores (2005).
Os trabalhos na literatura, relacionando a diferenciação das CTMs em osteoblastos, são
escassos, havendo a necessidade de uma análise minuciosa do perfil protéico dessas células para
entendermos os aspectos biológicos referentes ao processo de diferenciação celular in vitro para a
utilização das mesmas no auxílio dos biomateriais que são usados em processos ortopédicos.
OBJETIVOS
OBJETIVOS
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2. OBJETIVOS
2.1. Objetivo geral
Investigar o perfil protéico, por análise proteômica, nas diversas fases da diferenciação
osteoblástica (células indiferenciadas, pré‐osteoblastos e osteoblastos) de células‐tronco
mesenquimais de medula óssea de ratos e humana, visando obter subsídios para a
compreensão de eventos celulares e moleculares envolvidos no processo de diferenciação
celular.
2.2. Objetivos específicos
Cultivo e caracterização morfológica e imunofenotípica de células‐tronco
mesenquimais de medula óssea de rato e humana em diferentes estágios de
diferenciação osteoblástica durante 7, 14 e 21 dias após estímulos osteogênicos.
Análise proteômica dos extratos de células mesenquimais de medula óssea de rato e
humana em diferentes estágios de diferenciação osteoblástica pela combinação de
eletroforese em gel de poliacrilamida com SDS seguida de cromatografia de alta
performance de fase reversa e identificação de proteínas por espectrometria de
massas tipo MALDI‐TOF/TOF.
Quantificação relativa de proteínas nos diferentes extratos celulares utilizando a
marcação com isóbaros e espectrometria de massas.
Análise da expressão gênica de células‐tronco mesenquimais de medula óssea de
rato e humana quanto ao grau de diferenciação osteoblástica através de Real Time
PCR.
MATERIAL E MÉTODOS
MATERIAL E MÉTODOS
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3. MATERIAL E MÉTODOS
3.1. Obtenção das células‐tronco mesenquimais de medula óssea de rato
Células mesenquimais de medula óssea de rato foram obtidas e submetidas ao
estudo genômico e proteômico segundo o delineamento experimental mostrado na
figura 4.
Figura 4. Delineamento experimental para estudo da diferenciação das células‐tronco mesenquimais de medula óssea de rato.
Células mesenquimais foram obtidas de fêmures de quatro ratos da espécie
Wistar, sob aprovação prévia do Comitê de Ética no Uso de Animais da Faculdade de
Medicina de Catanduva (Fundação Padre Albino) (ANEXO A). Estas células foram
cultivadas em frascos de cultura de 75mm2 em meio essencial mínimo, modificação alfa
(Gibco‐Life Technologies, EUA), suplementado com 15% de soro fetal bovino (Gibco),
50µg/mL de vancomicina (Acros Organics, Bélgica), 20µg/mL de ampicilina (USB
Corporation, EUA) e 0,3µg/mL de fungisona (Gibco) durante cerca de 6‐7 dias. Durante
MATERIAL E MÉTODOS
20
todo o período, as células foram mantidas a 37°C em atmosfera umidificada contendo
5% de CO2 e 95% de ar atmosférico, sendo os meios trocados a cada 3 dias.
3.2. Obtenção de células‐tronco mesenquimais de medula óssea humana
A figura 5 apresenta o delineamento experimental utilizado no presente trabalho
para o estudo genômico e proteômico de células mesenquimais de medula óssea
humana.
Células mesenquimais foram obtidas de descartes de pacientes, entre 20 a 25
anos, submetidos a cirurgias ortopédicas no Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (HCFMRP‐USP), sob aprovação
prévia do Comitê de Ética da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (FORP‐USP)
(ANEXO B). Estas células foram cultivadas em frascos de cultura de 75mm2 em meio
essencial mínimo, modificação alfa (Gibco‐Life Technologies, EUA), suplementado com
10% de soro fetal bovino (Gibco), 20µg/mL de ampicilina (USB Corporation, EUA) e
0,3µg/mL de fungisona (Gibco) durante cerca de 4‐5 dias. Durante todo o período, as
células foram mantidas a 37°C em atmosfera umidificada contendo 5% de CO2 e 95% de
ar atmosférico, sendo os meios trocados a cada 3 dias.
3.2.1. Caracterização imunofenotípica das células‐tronco mesenquimais humanas
As células‐tronco mesenquimais humanas foram caracterizadas por
imunofenotipagem nos diferentes graus de diferenciação celular (pré‐osteoblastos e
osteoblastos) por citometria de fluxo com diferentes anticorpos monoclonais de
moléculas de superfície celular (CD45, CD14, CD61, CD44, CD29, CD13, CD90, HLA classe
MATERIAL E MÉTODOS
21
1, HLA classe 2, CD34, CD73, CD49e, CD105, caderina, CD54, CD31, CD106, CD166 e
CD146 – BD Biosciences) conforme instruções do fabricante.
Figura 5. Delineamento experimental para estudo da diferenciação das células‐tronco mesenquimais de medula óssea humana.
3.3. Padronização das condições de diferenciação osteoblástica
Ao final de 6‐7 dias (para CTM de rato) ou 4‐5 dias (para CTM humana), as células
foram removidas dos frascos de cultura por lavagem com solução contendo EDTA 1mM
(Gibco, EUA) e tripsina 0,25% (Gibco, EUA) e contadas em hemocitômetro. Células
obtidas da cultura primária foram cultivadas em frascos de cultura de 25 mm2 na
ausência (MEM) ou na presença dos estimuladores da osteogênese (MTS): ácido
ascórbico (Gibco) na concentração final de 5µg/mL, β‐glicerofosfato 7mM (Sigma) e
dexametasona 0,1µM (Sigma, EUA).
MATERIAL E MÉTODOS
22
3.4. Caracterização da diferenciação osteoblástica
3.4.1. Determinação dos níveis enzimáticos de fosfatase alcalina
As células foram caracterizadas aos 7, 10 e 14 dias, quanto ao grau de
diferenciação celular (pré‐osteoblastos e osteoblastos) pela determinação da atividade
enzimática de fosfatase alcalina (ALP) (proteína presente nos estágios iniciais de
diferenciação dos osteoblastos).
A atividade de ALP foi medida através da liberação de timolftaleína pela hidrólise
do substrato timolftale�