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Rua Dr. Moacir Birro, 663 Centro Cel. Fabriciano MG CEP: 35.170-002 Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: [email protected] BIBLIOTECA PARA O CURSO DE BIOLOGIA VEGETAL Selecionamos para você uma série de artigos, livros e endereços na Internet onde poderão ser realizadas consultas e encontradas as referências necessárias para a realização de seus trabalhos científicos, bem como, uma lista de sugestões de temas para futuras pesquisas na área. Primeiramente, relacionamos sites de primeira ordem, como: www.scielo.br www.anped.org.br www.dominiopublico.gov.br SUGESTÕES DE TEMAS 1. PRÁTICA DE ENSINO DE BIOLOGIA VEGETAL 2. TEMAS CIENTÍFICOS CONTEMPORÂNEOS NO ENSINO DE BIOLOGIA VEGETAL 3. A PESQUISA EDUCACIONAL: um estudo enfocando dissertações e teses sobre o ensino de biologia Vegetal no Brasil 4. ENCONTRO PERSPECTIVAS Da BIOLOGIA VEGETAL 5. REFORMAS E REALIDADE: O CASO DO ENSINO DAS CIÊNCIAS 6. A EDUCAÇÃO CIENTÍFICA SOB A PERSPECTIVA DA PEDAGOGIA HISTÓRICO-CRÍTICA E DO MOVIMENTO CTS NO ENSINO DE CIÊNCIAS 7. PESQUISA EM ENSINO DE CIÊNCIAS COMO CIÊNCIAS HUMANAS APLICADAS 8. ÉTICA NO ENSINO DE CIÊNCIAS: responsabilidades e compromissos com a evolução moral da criança nas discussões de assuntos controvertidos 9. A PRÁTICA DE ENSINO NAS LICENCIATURAS EA PESQUISA EM ENSINO DE CIÊNCIAS: questões atuais 10. A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE BIOLOGIA E O ENSINO DA EVOLUÇÃO BIOLÓGICA

BIBLIOTECA PARA O CURSO DE BIOLOGIA …jottaclub.com/wp-content/uploads/2015/04/BIOLOGIA-VEGETAL.pdf · à medida que o tonoplasto incorpora vesículas derivadas do complexo de Golgi

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BIBLIOTECA PARA O CURSO DE BIOLOGIA VEGETAL

Selecionamos para você uma série de artigos, livros e endereços na Internet

onde poderão ser realizadas consultas e encontradas as referências necessárias

para a realização de seus trabalhos científicos, bem como, uma lista de sugestões

de temas para futuras pesquisas na área.

Primeiramente, relacionamos sites de primeira ordem, como:

www.scielo.br

www.anped.org.br

www.dominiopublico.gov.br

SUGESTÕES DE TEMAS

1. PRÁTICA DE ENSINO DE BIOLOGIA VEGETAL

2. TEMAS CIENTÍFICOS CONTEMPORÂNEOS NO ENSINO DE BIOLOGIA

VEGETAL

3. A PESQUISA EDUCACIONAL: um estudo enfocando dissertações e teses sobre o ensino de biologia Vegetal no Brasil

4. ENCONTRO PERSPECTIVAS Da BIOLOGIA VEGETAL

5. REFORMAS E REALIDADE: O CASO DO ENSINO DAS CIÊNCIAS

6. A EDUCAÇÃO CIENTÍFICA SOB A PERSPECTIVA DA PEDAGOGIA

HISTÓRICO-CRÍTICA E DO MOVIMENTO CTS NO ENSINO DE CIÊNCIAS

7. PESQUISA EM ENSINO DE CIÊNCIAS COMO CIÊNCIAS HUMANAS APLICADAS

8. ÉTICA NO ENSINO DE CIÊNCIAS: responsabilidades e compromissos com a

evolução moral da criança nas discussões de assuntos controvertidos

9. A PRÁTICA DE ENSINO NAS LICENCIATURAS EA PESQUISA EM ENSINO DE CIÊNCIAS: questões atuais

10. A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE BIOLOGIA E O ENSINO DA

EVOLUÇÃO BIOLÓGICA

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11. A “REVISÃO DA BIBLIOGRAFIA” EM TESES E DISSERTAÇÕES: meus tipos inesquecíveis em biologia vegetal

12. O MÉTODO NAS CIÊNCIAS NATURAIS E SOCIAIS: pesquisa quantitativa e

qualitativa

13. TENDÊNCIAS ATUAIS DAS PESQUISAS NO ENSINO DE BIOLOGIA VEGETAL

14. FORMAR: encontros e trajetórias com professores de ciências

15. PESQUISA EM EDUCAÇÃO: buscando rigor e qualidade

16. ESTADO DA ARTE DA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE BIOLOGIA NO

BRASIL

17. PRIMÓRDIOS DOS CENTROS DE CIÊNCIAS NO BRASIL: concepções de ciências em projetos curriculares

18. ENSINO DE BIOLOGIA: fundamentos e métodos

19. O QUE SABEMOS SOBRE OS LIVROS DIDÁTICOS PARA O ENSINO DE

BIOLOGIA NO BRASIL

20. PERSPECTIVAS DA PESQUISA E DA PÓS-GRADUAÇÃO EM ENSINO DE BIOLOGIA NO BRASIL

21. UM PANORAMA DA EDUCAÇÃO EM BIOLOGIA

22. A EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS FÍSICAS E BIOLÓGICAS A PARTIR DAS

TESES E DISSERTAÇÕES (1981 A 1995): uma história de sua história

23. TENDÊNCIAS DA PESQUISA ACADÊMICA SOBRE O ENSINO DE CIÊNCIAS NO NÍVEL FUNDAMENTAL

24. O ENSINO DE BIOLOGIA NO BRASIL: catálogo analítico de teses e

dissertações

25. O QUE SABEMOS SOBRE A PESQUISA EM ENSINO DE BIOLOGIA NO BRASIL (1990-2010)

26. A PRODUÇÃO ACADÊMICA EM ENSINO DE BIOLOGIA

27. O QUE FOGE DO OLHAR DAS REFORMAS CURRICULARES: nas aulas de

biologia, o professor como escritor das relações entre ciência, tecnologia e sociedade

28. O PROFESSOR EO CURRÍCULO DE BIOLOGIA

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29. ALFABETIZAÇÃO CIENTIFICO-TECNOLÓGICA: um novo" paradigma"?

30. TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS DO ENSINO DE BIOLOGIA NO BRASIL

31. AULAS DE CAMPO EM AMBIENTES NATURAIS E APRENDIZAGEM EM

BIOLOGIA: um estudo com alunos do Ensino Médio

32. CONCEITOS UNIFICADORES E ENSINO DE BIOLOGIA

33. O ENSINO DE BIOLOGIA A PARTIR DE TEMAS CONTROVERSOS: a produção de energia elétrica em larga escala

34. PROJECTO “EDUCAÇÃO EM BIOLOGIA, EDUCAÇÃO PARA A SAÚDE E

EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA UMA MELHOR CIDADANIA”: análise de manuais escolares e concepções

35. A CONSTRUÇÃO COLETIVA INTERDISCIPLINAR EM EDUCAÇÃO

AMBIENTAL NO ENSINO MÉDIO: a microbacia hidrográfica do ribeirão dos peixes como tema gerador

36. OFICINAS DE PRODUÇÃO EM ENSINO DE BIOLOGIA: uma proposta

metodológica de formação continuada de professores

37. ENSINO E APRENDIZAGEM DE BIOLOGIA NO ENSINO MÉDIO E A APROPRIAÇÃO DO SABER CIENTÍFICO E BIOTECNOLÓGICO

38. A PRODUÇÃO DE JOGOS DIDÁTICOS PARA O ENSINO DE CIÊNCIAS E

BIOLOGIA: uma proposta para favorecer a aprendizagem

39. O ENSINO DE CONTEÚDOS DE HISTÓRIA E FILOSOFIA DA CIÊNCIA

40. MEMÓRIAS DA EDUCAÇÃO EM BIOLPGIA NO BRASIL: a pesquisa em Ensino de Biologia

41. ESPAÇOS NÃO-FORMAIS DE ENSINO E O CURRÍCULO DE BIOLOGIA

42. A ABORDAGEM DO DNA EM LIVROS DE BIOLOGIA EM QUÍMICA DO

ENSINO MÉDIO: uma análise crítica

43. INTERDISCIPLINARIDADE NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE BIOLOGIA: conhecendo obstáculos

44. ENSINO DE BIOLOGIA NA ESCOLA MÉDIA: algumas possibilidades de

desenvolver o tema produção de energia elétrica em larga escala em uma situação de ensino

45. ANÁLISE DO GRAU DE ABORDAGEM DO TEMA PALEONTOLOGIA NOS LIVROS DE BIOLOGIA DO ENSINO MÉDIO

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ARTIGOS PARA LEITURA, ANÁLISE E UTILIZAÇÃO COMO FONTE OU REFERENCIA.

Estrutura da célula vegetal

Universidade Santa Cecília

Vários processos ocorrentes na célula vegetal são semelhantes aos que ocorrem na célula

animal. Porém, algumas características são peculiares à célula vegetal, principalmente

referentes à parede celular, a qual envolve o protoplasto (conteúdo celular).

Citoplasma: constituído pelo hialoplasma, um material com moléculas proteicas; a porção

externa, mais viscosa, é conhecida como ectoplasma e a interna, fluida, é o citossol. No

citossol, é possível observar, muitas vezes, o movimento citoplasmático (ciclose); esse

movimento sofre influência de luz e temperatura. O citoesqueleto é composto por fibras de

proteínas finíssimas no hialoplasma.

Microfotografia de uma célula que foi manchada com dois corantes

fluorescentes. Um deles foi para uma proteína de microtúbulos e outro

para os microfilamentos de actina (vermelho). Como mostra a imagem,

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tanto microtúbulos como microfilamentos, formam uma rede através do

esqueleto interno.

Estruturas características da célula vegetal: parede celular, vacúolo grande na célula adulta

(resultante da união de pequenos vacúolos), plastos e substâncias esgásticas. Evidentemente,

estão presentes nas células vegetais muitas organelas também encontradas nas células

animais, como mitocôndrias, dictiossomos (pilhas de membranas lisas, que constituem o

Aparelho Golgiense), núcleo, microtúbulos, ribossomos etc.

1. PAREDE CELULAR: restringe a distensão do protoplasto configurando, à célula adulta,

tamanho e formas fixos; confere proteção aos componentes do protoplasto.

Componentes:

a) Celulose (C6H10O5)n, constituída por moléculas lineares de glicose.

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Fórmula da celulose

A celulose é formada por microfibrilas, que se reúnem em feixes maiores (fibrilas). As

microfibrilas são sintetizadas por enzimas que se encontram na membrana plasmática. A

celulose está associada a outros polissacarídeos, principalmente hemiceluloses (xiloglicanos e

xilanos) e compostos pécticos (galacturonanos).

b) Substâncias de origem orgânica

natureza protéica: várias

natureza lipídica: cutina, suberina, lignina - esta última confere maior rigidez à

parede e sua presença comprova a existência de parede secundária; sua formação pode

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ocorrer dentro dos dictiossomos, um sistema de membranas que forma o Complexo de

Golgi.

Formação:

As primeiras camadas de microfibrilas a se formarem constituem a parede primária. Essas

microfibrilas apresentam uma disposição intercarlar. Em muitas células, camadas adicionais

são depositadas internamente à parede primária, formando a parede secundária; essas camadas

são denominadas S1, S2 e S3, respectivamente, sendo que a última pode estar ausente. Na

parede secundária, o arranjo das microfibrilas se dá de diversas maneiras diferentes. Lamela

média é a linha de união entre as paredes primárias de duas células contíguas e possui

natureza péctica.

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A formação da parede celular ocorre no final da telófase, com o surgimento da placa celular,

que dará origem à lamela média e parte da membrana plasmática das duas células-filhas, por

ela separadas; durante a formação da parede primária e da lamela média, elementos do

retículo endoplasmático ficam retidos entre as vesículas em formação, originando

osplasmodesmos, continuidades protoplasmáticas entre uma célula e outra, que geralmente se

localizam em pequenas depressões denominadas campos de pontoação primários, originados

por uma menor deposição de microfibrilas de celulose.

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Posteriormente, durante a formação da parede secundária, não há deposição de material sobre

essas áreas, originando diversos tipos de pontoações.

Pontoações - As pontoações mais comuns são:

Pontoação simples: interrupção na parede primária, com formação de uma cavidade

de pontoação (espaço onde a parede primária não é recoberta pela secundária).

Quando as pontoações simples de duas células contíguas se encontram, temos uma

membrana de pontoação, formada pelas paredes primárias de ambas as células, mais a

lamela média entre elas.

Pontoação areolada: saliência de contorno e abertura central circulares (em vista

frontal, forma uma aréola). Trata-se de uma interrupção da parede secundária. Quando

a parede secundária e a primária estão bem separadas, delimita-se uma câmara de

pontoação. Além disso, quando a parede secundária se espessa, percebe-se a formação

de um canal de pontoação, entre a abertura interna e a externa da pontoação areolada.

Esse tipo de pontoação é encontrado em células do xilema, isto é, nos elementos de

vaso e traqueídes. Nas traqueídes das coníferas ocorre, na pontoação areolada, um

espessamento especial denominado toro, que pode funcionar como uma válvula,

fechando quando a pressão num lado é superior à pressão no outro e impedir

rompimento da região, em caso de vergamento. Uma mesma célula pode apresentar

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mais de um tipo de pontoação. Por exemplo, um elemento de vaso que esteja contíguo

a outro elemento de vaso, apresenta um par de pontoações areoladas; no entanto, se ele

estiver contíguo a uma célula de parênquima, apresentará um par de pontoações semi-

areoladas.

2. CONTEÚDO CELULAR- principais organelas

a) Vacúolo: Delimitado por uma membrana denominada tonoplasto. Contém água, açúcares,

proteínas; pode-se encontrar ainda compostos fenólicos, pigmentos como betalaínas,

antocianinas cristais de oxalato de cálcio (drusas, estilóides, cristais prismáticos, rafídios etc.).

Muitas das substâncias estão dissolvidas, constituindo o suco celular, cujo pH é geralmente

ácido, pela atividade de uma bomba de próton no tonoplasto. Em células especializadas pode

ocorrer um único vacúolo, originado a partir da união de pequenos vacúolos de uma antiga

célula meristemática (célula-tronco); em células parenquimáticas o vacúolo chega a ocupar

90% do espaço celular.

Funções: Ativo em processos metabólicos, como:

Armazenamento de substâncias (vacúolos pequenos - acúmulo de proteínas, íons e

outros metabólitos). Um exemplo são os microvacúolos do endosperma da semente de

mamona (Ricinus communis), que contêm grãos de aleurona.

Processo lisossômico (através de enzimas digestivas, existentes principalmente nos

vacúolos centrais e bem desenvolvidos, cujo tonoplasto sofre invaginações para

englobar material citoplasmático contendo organelas (a autofagia ocorre em células

jovens ou durante a senescência).

Se originam a partir do sistema de membranas do complexo golgiense. Seu tamanho aumenta

à medida que o tonoplasto incorpora vesículas derivadas do complexo de Golgi.

b) Plastos: Organelas formadas por um envelope de duas membranas unitárias contendo

internamente uma matriz ou estroma, onde se situa um sistema de membranas saculiformes

achatadas, os tilacóides. Originam-se dos plastídios e contêm DNA e ribossomos. São

divididos em três grandes grupos: cloroplasto, cromoplasto e leucoplasto; estes, por sua vez,

originam-se de estruturas muito pequenas, os proplastídios (que normalmente já ocorrem na

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oosfera, no saco embrionário e nos sistemas meristemáticos). Quando os proplastídios se

desenvolvem na ausência de luz, apresentam um sistema especial, derivado da membrana

interna, originando tubos que se fundem e formam o corpo prolamelar. Esses plastos são

chamados estioplastos.

Cloroplastos

Seu genoma codifica algumas proteínas específicas dessas organelas; contêm

clorofila e estão associados à fase luminosa da fotossíntese, sendo mais

diferenciados nas folhas. Seu sistema de tilacóides é formado por pilhas de

membranas em forma de discos, chamado de granos; é nesse sistema que se

encontra a clorofila. Na matriz ocorrem as reações de fixação de gás

carbônico para a produção de carbohidratos, além de aminoácidos, ácidos

graxos e orgânicos. Pode haver formação de amido e lipídios, estes últimos

em forma de glóbulos (plastoglóbulos).

Cromoplastos

Portam pigmentos carotenóides (geralmente amarelos, alaranjados ou

avermelhados); são encontrados em estruturas coloridas como pétalas, frutos

e algumas raízes. Surgem a partir dos cloroplastos.

Leucoplastos

Sem pigmentos; podem armazenar várias substâncias:

- amiloplastos: armazenam amido. Ex.: em tubérculos de batatinha inglesa

(Solanum tuberosum).

- proteinoplastos: armazenam proteínas.

- elaioplastos: armazenam lipídios. Ex.: abacate (Persea americana).

3. CONTEÚDO CELULAR - organelas em comum com células animais

Núcleo

Importante organela existente nas células eucariontes, constitui-se de

duas membranas com um espaço entre si e contendo poros. Possui dua

funções básicas: regular as reações químicas que ocorrem dentro da

célula, e armazenar as informações genéticas da célula. Em seu interior

distinguem-se o nucléolo e a cromatina. Durante a divisão celular, a

cromatina se condensa em estruturas com formas de bastão, os

cromossomos.

Sistema Golgiense É constituído de várias unidades menores, os dictiossomos. Cada

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(complexo de

Golgi)

dictiossomo é composto por uma pilha de cinco ou mais sacos

achatados, de dupla membrana lipoprotéica. Nas bordas dos sacos

podem ser observadas vesículas em processo de brotamento. Está

relacionado aos processos de secreção, incluindo a secreção da primeira

parede que separa duas células vegetais em divisão.

Ribossomos

Estruturas constituídas de RNA e proteínas; podem estar livres no

hialoplasma ou presos entre si por uma fita de RNA (polissomos) e,

nesse caso, juntam os aminoácidos do citoplasma para formar cadeias

de proteínas.

Retículo

endoplasmático

Constituído de um sistema de duplas membranas lipoproteícas. O

retículo endoplasmático liso, é constituído por duas membranas e o

retículo endoplasmático rugoso possui ribossomos aderidos do lado

externo aderidos ao lado externo. O retículo liso facilita reações

enzimáticas, já que as enzimas se aderem à sua membrana, sintetiza

lipidios (triglicerídeos, fosfolipideos e esteróides), regula a pressão

osmótica (armazenando substâncias em sua cavidade), atua no

transporte de substâncias (comunicando-se com a carioteca e com a

membrana celular). o retículo rugoso além de desempenhar todas as

funções do retículo liso ele ainda sintetiza proteínas, devido a presença

de ribossomos.

Mitocôndrias

Organelas constituídas de duas membranas; a interna sofre

invaginações, formando cristas mitocondriais que aumentam a

superfície de absorção de substâncias existentes na matriz mitocondrial.

O papel da mitocôndria é a liberação de energia para o trabalho celular.

Peroxisomos

Estruturas com mebrana 2-lipídica - contêm enzimas que auxliam no

metabolismo lipídico; participa do processo de fotorespiração,

efetuando a oxidação do glicerato em glicolato, que é transaminado em

glicina.

4. SUBSTANCIAS ERGÁSTICAS

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Produtos do metabolismo celular. Podem ser material de reserva ou produtos descartados pelo

metabolismo da célula. Encontradas na parede celular e nos vacúolos, além de outros

componentes protoplasmáticos. As mais conhecidas são: amido, celulose, corpos de proteína,

lipídios, cristais de oxalato de cálcio (drusas, ráfides etc.), cristais de carbonato de cálcio

(cistólitos) e de sílica (estruturas retangulares, cônicas etc.). Também são esgásticas as

substâncias fenólicas, resinas, gomas, borracha e alcalóides. Muitas vezes as células que

contêm essas substâncias são diferentes morfo e fisiologicamente das demais, sendo

denominadas idioblastos.

AS IDÉIAS DOS ESTUDANTES, O ENSINO DE BIOLOGIA VEGETAL E O VESTIBULAR DA UFMG

Carmen Maria De Caro Martins

1

Selma A de Moura Braga

2

Resumo

Este trabalho tem por objetivo analisar algumas questões da prova de Biologia do

vestibular da UFMG permitindo um diagnóstico do desempenho dos candidatos e uma

discussão referente ao ensino de Biologia do nível médio. Escolhemos questões que abordam

temas de Biologia Vegetal, especialmente aquelas que avaliam os conhecimentos dos

candidatos referentes aos conceitos de nutrição vegetal, reprodução, adaptação e anatomia

vegetal. Pesquisas relativas ao ensino de Biologia Vegetal (WANDERSEE, 1986 e

KAWASAKI, 1998) apontam preferência, entre os estudantes, pelo estudo de animais e uma

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pequena atração pelas plantas. Experiências em programas de formação continuada de

professores de Ciências e Biologia revelam, também, uma preferência de professores em

priorizar certos temas em sala de aula, deixando aqueles referentes à Biologia Vegetal para

etapas finais. Procuraremos, através dessa análise, identificar concepções prévias dos

estudantes através das respostas às questões da prova de Biologia. Esses dados, extraídos da

análise da prova de Biologia permitem discutir e questionar alguns aspectos relevantes do

processo ensino-aprendizagem de conceitos relacionados à Biologia Vegetal.

Uma crítica comum entre os biólogos educadores de todo o País sobre as falhas do

ensino de Biologia relaciona-se à ausência de atividades experimentais em sala de aula; a

ênfase excessiva à memorização, a falta de correlação entre os conteúdos aprendidos e os

acontecimentos da vida cotidiana. Deste modo o ensino de Biologia torna-se puramente

acadêmico e desvinculado das aplicações e implicações sociais.

Desde 1980, o "Movimento das Concepções Alternativas" no cenário pedagógico tem

produzido diversas pesquisas direcionadas à importância dos conhecimentos prévios dos

alunos em sala de aula. Entretanto, a nível nacional, há uma carência de pesquisas, que

apontem questões a respeito de concepções e idéias alternativas de estudantes de nível médio,

relacionados aos conceitos biológicos e integrados à propostas alternativas de

ensinoaprendizagem.

Na prática pedagógica vigente, de uma maneira geral, os conhecimentos prévios dos

alunos/as (suas idéias sobre célula, DNA, nutrição vegetal, reprodução, hereditariedade, e

outros) não são consideradas. WANDERSEE et alli (1994) em um artigo de revisão

encontraram mais de 200 estudos relacionados ao levantamento das concepções alternativas

dos alunos em temas da área de Biologia. Pesquisas realizadas por DRIVER (1988), indicam

a importância da elaboração de currículos de ciências que considerem a idéias prévias dos

alunos como ponto de partida para o processo ensino-aprendizagem de ciências.

1

Professora do Colégio Técnico da UFMG

2

Professora do Centro Pedagógico da UFMG

*Pesquisa financiada pela FAPEMIG, Pró Reitoria da UFMG e CECIMIGII ENCONTRO

NACIONAL DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS

2 de 11

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A necessidade de se partir do conhecimento do aluno, implica mudanças radicais nas

interações de sala de aula e consequentemente no papel do professor/a ante o ensino. Numa

prática mais adequada que conceba a sala de aula como espaço de criação de possibilidades de

intervenção no modo como o estudante vê a realidade, requer do professor uma atitude

constante de diálogo com seus alunos, no sentido de intuir deles as idéias relacionadas a um

fenômeno ou a um fato da ciência e a natureza de suas dúvidas em relação aos conceitos

trabalhados.

Esta pesquisa* teve como objetivo fazer um levantamento das concepções alternativas

dos alunos oriundos do ensino médio de escolas de diversas regiões do Estado de Minas

Gerais em temas relacionados a Biologia Vegetal. Esta análise oferece alguns subsídios para a

identificação de idéias alternativas e de conceitos científicos, apresentados pelos

vestibulandos. Identifica ainda alguns aspectos do ensino de Biologia no Estado de Minas

Gerais.

Para este estudo foram escolhidas questões sobre Biologia Vegetal, da prova de

Biologia da primeira fase do vestibular da UFMG, dos anos de 1994, 1995 e 1997. Foram

analisadas as respostas de 35.989 candidatos em 1994, 36358 em 1995 e em torno de 45000

em 1997, de modo a abranger o universo de egressos do ensino médio.

Para cada prova foram analisados os dados fornecidos pela Comissão Permanente do

Vestibular da UFMG (COPEVE), a partir da teoria clássica e moderna de análise do item

relativos ao grau de atração (a alternativa mais escolhida), índice de discriminação (se a

alternativa discriminou bem os candidatos que marcaram a alternativa correta) e o grau de

dificuldade (fácil, médio, difícil) de cada questão.

O índice de dificuldade de um item mede seu nível de dificuldade. Para SOARES e

FONSECA(1997) “em testes de sala de aula, a dificuldade dos itens deverá ser bem

distribuída de forma a proporcionar aos estudantes desafios de acordo com suas capacidades.

Por outro lado, em testes de seleção, os itens deverão ter níveis de dificuldade apropriados

para os níveis de habilidade dos candidatos. Itens muito difíceis ou muito fáceis geram poucas

informações para a classificação dos candidatos. Mesmo nesses casos, itens com dificuldade

baixa podem ser incluídos para encorajar estudantes considerados fracos e até mesmo os mais

nervosos. O índice de dificuldade permite apenas fazer uma estimativa da possível dificuldade

do item. Dizer que o item é de fato difícil ou fácil só é possível após a aplicação do teste”.

O índice de dificuldade é dado como a proporção de respostas erradas de um

determinado item. As teorias de análise de item consideram de dificuldade moderada aqueles

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itens que se encontram numa faixa entre 0,40 e 0,70.

Para o índice de discriminação, admite-se que os estudantes de habilidade alta obtêm

as maiores notas do teste e tendem a acertar o item, enquanto estudantes de habilidade baixa

obtêm as menores notas e tendem a errar o item. Esta associação pode ser quantificada pelo

uso de um coeficiente de correlação denominado bisserial (rbis), SOARES e FONSECA,

1997.

Outra característica do item é a análise dos distratores (alternativas erradas). Idealmente estes

devem ser elaborados a partir de respostas dos alunos em provas abertas. Os distratores devem

representam idéias incorretas dos estudantes. Entretanto nenhum deles deve atrair mais a

atenção do que outros.II ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO EM

CIÊNCIAS

3 de 11

Para esta pesquisa, foram selecionadas questões sobre alguns temas importantes da

biologia e, entre as alternativas propostas para cada questão, foram identificadas aquelas que

abordam as concepções alternativas mais freqüentes. Estas concepções dos estudantes são

identificadas como distratores do item.

As seguintes questões foram objetos de nossa análise

UFMG/ 1994/Caderno A

Analise o experimento.

Com relação aos eventos indicados pelos números I, II, III e IV, todas as afirmativas

estão corretas, exceto:

A. A quantidade de CO2 retida no frasco III será menor do que aquela do frasco II.

B. A taxa de CO2 produzido pelas sementes pode ser calculada pesando-se a quantidade de

carbonato de bário nos frascos III e IV.

C. O CO2 proveniente do ar fica retido na solução de Ba(OH)2 nos frascos I e II.

D. O frasco III recebe o CO2 proveniente da respiração das sementes.

E. O oxigênio penetra no frasco que contém as sementes depois de passar pelos frascos I e II.

Esta questão foi considerada difícil e com um grau de discriminação muito bom. O

maior grau de atração foi para a letra A e o menor para a letra E.

O tema abordado na questão é a respiração e para resolvê-la o candidato deve

compreender o processo de respiração dos seres vivos e os gases envolvidos. Em torno de

15% dos candidatos indicaram a alternativa D como incorreta.

Segundo OLIVEIRA (1991) os alunos tendem a não discriminar a respiração da

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fotossíntese; dizem por exemplo que as plantas respiram o ar de forma oposta à dos animais e

que “a fotossíntese é uma espécie de respiração” ou ainda que as plantas respiram oxigênio de

dia e de noite dióxido de carbono. Uma outra dificuldade dos estudantes é considerar a

semente uma estrutura viva e que consequentemente, respira.

A interpretação de experimentos, avaliada na questão, causa dificuldade para os

candidatos, especialmente quando está integrado a conteúdos de outra disciplina, no caso aII

ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS

4 de 11

química. A abordagem dos conteúdos em sala de aula são, freqüentemente, fragmentados e

relacionados aos temas específicos tratados pela disciplina, no caso a Biologia. Apenas 33%

dos estudantes acertaram a questão, é um indicador de que possivelmente os estudantes não

tem oportunidade de trabalhar em sala de aula com temas integradores.

A questão seguinte exige conhecimento de conceitos de adaptação, evolução dos

grandes grupos vegetais e conhecimento sobre características morfológicas e histológicas dos

vegetais:

UFMG/ 1994/Caderno A

Todas as alternativas contêm adaptações evolutivas que permitem a sobrevivência dos

vegetais fora do ambiente aquático, exceto

a) Epiderme impregnada de cutina.

b) Presença de parede celular.

c) Presença de raiz.

d) Tecidos condutores: xilema e floema.

e) Troncos recobertos de súber.

Os dados mostram que a questão apresentou alto grau de dificuldade com grande

discriminação dos candidatos. Entretanto, a alternativa A teve um índice de atração muito alto

(25%) indicando a dificuldade dos candidatos em relação a temas de Biologia Vegetal,

especialmente adaptação. Pesquisas em ensino de ciências identificam uma tendência dos

estudantes explicarem os fenômenos de adaptação e sobrevivência dos seres vivos em termos

finalistas (TAMIR, 1994) e em termos causais (FERRARI e CHI, 1998).

O conceito de adaptação é de modo geral compreendido incorretamente como uma

modificação no ser vivo em relação a uma alteração no ambiente. Pesquisas relacionadas às

concepções alternativas tem evidenciado a tendência dos estudantes em pensar que as

modificações exercidas pelo ambiente sobre os seres vivos são diretamente transmitidas por

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reprodução, às gerações seguintes SANTOS(1991).

Dificilmente os estudantes relacionam adaptação à seleção natural. Os resultados das

pesquisas realizadas por FERRARI e CHI (1998) mostram que estudantes de nível médio

consideram a seleção natural como um evento complexo. Tendem a não entender os processos

de equilíbrio na natureza tais como as relações presa-predador.

Esta tendência é verificada também em professores e livros didáticos de Biologia o

que poderia justificar as dificuldades dos alunos. Veja por exemplo uma referência extraída de

um livro didático de Biologia: "O termo "adaptação" (do latim adaptare, tornar apto) significa,

para os biólogos, a capacidade que todo ser vivo tem de se ajustar ao ambiente, isto é, de

mudaram em resposta a uma alteração ambiental".

O objetivo da questão, a seguir, é avaliar o conhecimento do candidato com relação ao

papel da luz como fator determinante da fotossíntese e da distribuição dos vegetais em

diferentes ambientes.

UFMG/1995/Caderno AII ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO EM

CIÊNCIAS

5 de 11

Observe o gráfico referente à taxa de fotossíntese de duas espécies de plantas adultas,

1 e 2 em diferentes intensidades de luz.

Com base no gráfico e em seus conhecimentos sobre o assunto, é correto afirmar-se que:

a) 1 pode ser cultivada no interior de uma casa.

b) 1 provavelmente é uma umbrófila.

c) 2 pode ser arbusto da Mata Atlântica.

d) 2 pode ser uma espécie do cerrado.

e) 2 possui maior eficiência fotossintética.

As alternativas A,C e D apresentaram í

As alternativas A,C e D apresentaram índices muito próximos de atração. Estes resultados

apontam para uma dificuldade na interpretação de gráficos relacionado às características dos

ecossistemas brasileiros.

Pesquisas mostram que os estudantes dos diferentes graus de ensino básico tem

dificuldade em reconhecer as características do cerrado. Dizem por exemplo que as plantas do

cerrado possuem adaptações para falta de água e que o leão é um animal típico do cerrado.

(Martins, 1999).

A questão a seguir avalia o conceito de nutrição dos vegetais através da interpretação de

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um sistema hidropônico.

UFMG/ 1997/Caderno B

A figura abaixo representa o cultivo de tomates em um sistema hidropônico I e em um

canteiro adubado II.II ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO EM

CIÊNCIAS

6 de 11

Verificou-se que a produção de tomates em I e II não apresentou diferenças quantitativas

nem qualitativas. Com relação aos cultivos I e II, é incorreto afirmar que:

A. A absorção da matéria orgânica e de sais minerais resulta na mesma produtividade.

B. A produtividade, tanto em I quanto em II, é resultante da fotossíntese.

C. Húmus contém substâncias que, após decomposição, liberam nutrientes para o solo.

D. Solo e a solução nutritiva atendem, qualitativamente, às necessidades da planta.

Na alternativa A é possível analisar a concepção dos estudantes de que a planta absorve

matéria orgânica através das raízes. Os dados indicam que somente 16% dos estudantes

considerou esta alternativa incorreta, enquanto 59% considerou incorreta a alternativa B. Isto

aponta para a dificuldade de compreensão deste tema pelos estudantes de nível médio.

Pesquisas em Ensino de Ciências (WANDERSEE 1983; DRIVER et alii, 1994) tem revelado

as mesmas concepções e dificuldades no entendimento da nutrição dos vegetais por

estudantes de outros países. DRIVER et al (1994) e BELL e BROOK (1985 ) identificaram

junto a estudantes de escolas secundárias explicações de que as plantas retiram substâncias

orgânicas (açúcares e proteínas) do solo. Alguns estudos indicam que as explicações

heterotróficas ocorrem concomitantemente com as idéias de fotossíntese. Nas atividades de

ensino observa-se nos estudantes a idéia de que o alimento das plantas é o material que elas

absorvem. Os estudantes entendem ainda que a água, os minerais e o dióxido de carbono são

alimentos para as plantas e que estão relacionados com a obtenção de energia. Consideram

que a água é absorvida através das folhas e que água e CO2 estão envolvidos com os

processos de embebição e transpiração, respectivamente, permanecendo sem se

transformarem durante este processo. TAMIR (1989) em sua pesquisa verificou que as

crianças pensavam que a luz absorvida pelas plantas é alimento e os minerais absorvidos do

solo, além de serem alimento, contribuem diretamente para a fotossíntese.

A fotossíntese é tida como um dos assuntos mais importantes e difíceis na Biologia

(EISEN, 1993). Além da dificuldade em diferenciar respiração e fotossíntese (CAÑAL, 1999)

há também, grande resistência por parte dos alunos, em compreender a relação entre a

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fotossíntese e a produção de energia (alimento das plantas, produzido por elas mesmas), assim

como os aspectos químicos desta (elementos envolvidos na produção de energia), como foi

citado por LUMPE, 1995.II ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO

EM CIÊNCIAS

7 de 11

Análise de livros didáticos tem revelado que o conceito de nutrição dos vegetais é

visto de modo simplificado, em unidades separadas, e com grande ênfase no processo geral. A

fotossíntese é tratada a nível bioquímico e em estruturas celulares, sem contexto de vivência

do aluno.

A questão a seguir questão avalia os conceitos de divisão celular e sua relação com a

reprodução da célula

UFMG/1994 - Questão 07 /Caderno B

Observe o esquema.

Com base na análise do esquema e em seus conhecimentos sobre o assunto, pode-se

afirmar que

a) nas Angiospermas, a fase 4 é muito desenvolvida.

b) nas Briófitas, a formação de 3 independe da água.

c) nas Briófitas, a fase 1 é dependente de 4.

d) nas Pteridófitas, a fase mais longa está representada em 1.

e) nas Pteridófitas, a meiose ocorre na fase 1.

Esta questão foi considerada muito difícil e com boa discriminação, entretanto as

alternativas A, C e E obtiveram índices de atração próximos (em torno de 20%).

A abordagem dos conceitos de mitose e meiose em sala de aula remete para algumas

considerações. É comum em atividades de ensino a referência à divisão celular como uma

seqüência de acontecimentos celulares sem ênfase no comportamento e produtos

cromossômicos. Assim o estudante tem domínio memorístico das diferentes fases da divisão

celular sem perceber os principais acontecimentos envolvidos nestas divisões celulares: a

manutenção do número de cromossomos, na mitose, e a redução e recombinação dos

cromossomos na meiose.

Assim sendo, é extremamente difícil aplicar estes conceitos em situações problema

como o indicado na questão. O estudante é convidado a reconhecer o ciclo reprodutivo de

diferentes vegetais e as fases em que os processos de divisão celular ocorrem. Nosso

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entendimento é que os estudos desses conceitos deveriam acontecer em atividades de

ensinoaprendizagem que propiciassem sua aplicação em contextos de vivência e não como

sugeridoII ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS

8 de 11

nos materiais didáticos disponíveis, em que o processo ocorre numa célula hipotética,

completamente desarticulado dos processos de reprodução dos seres vivos.

Questões que exploram aplicação de conhecimentos científicos em textos literários

também apresentam dificuldades no entendimento e resolução. A questão seguinte avalia a

capacidade do estudante em reconhecer o contextos referenciado pelo poeta.

UFMG/1997 -Questão 16/Caderno B

A estrofe abaixo foi extraída do poema, "Jogos Frutais", de João Cabral de Melo Neto.

"Está desenhado a lápis

de ponta fina,

tal como a cana-de-açucar

que é pura linha."

O termo "pura linha" a que se refere o poeta corresponde ao tecido vegetal:

a) colênquima

b) esclerênquima

c) meristema

d) parênquima

No contexto referenciado pelo poeta: cana de açúcar - pura linha, os estudantes são

convidados a reconhecer o tipo de tecido vegetal presente na "pura linha" da cana de açúcar.

Todas as alternativas apresentaram índice de atração muito próximos. Por esta razão a questão

foi considerada muito difícil e com baixo índice de discriminação dos candidatos.

Reconhecemos que no estudo de morfologia e anatomia, dentre outros temas de biologia

vegetal, em situações de sala de aula, o estudante é raramente convidado a identificar órgãos e

tecidos vegetais que fazem parte de seus alimentos. Causa estranheza aos estudantes quando

questionados se ingerem diariamente tecidos vegetais.

Considerações finais

Para YIP (1998) as concepções dos estudantes derivam de: 1) idéias elaboradas no

cotidiano e que são levadas para sala de aula; 2) idéias elaboradas durante as atividades em

sala de aula e 3) conceitos errôneos propagados pelos professores e livros didáticos. As

concepções dos estudantes identificadas na primeira categoria são geralmente elaboradas a

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partir de suas experiências de vida e são de uso indiscriminado na linguagem cotidiana.

Conceitos de vida, animal, planta, fotossíntese, respiração, trocas gasosas, estão inseridos no

contexto real da vida dos estudantes e são identificados em situações anteriores as atividades

de ensino (MINTZES et al, 1991; DRIVER et al, 1994). Por sua vez, as atividades de ensino

têm se mostrado ineficientes para promover mudança conceitual. Os estudos de NUSBAUM,

1985, identificam a complexidade e a resistência de mudança conceitual por parte dos

estudantes. Estas sobrevivem a muitos estágios da instrução formal.

Entretanto, há autores que consideram que um número significativo de concepções

prévias podem não estar relacionadas com as experiências pessoais dos estudantes (VEIGA et

al, 1989). Conceitos de divisão celular, funcionamento do néfron, circulação sanguíneaII

ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS

9 de 11

exigem maior grau de abstração e estão mais distantes das experiências dos estudantes, tendo

portanto, menor chance de se fixarem como concepções espontâneas. Para YIP (1998) as

idéias relacionadas a conceitos dessa natureza são desenvolvidas por atividades de ensino

aprendizagem ineficientes tais como: a falta de entendimento de instruções das atividades; a

identificação de pré-requisitos para a construção do conceito; ênfase exagerada a informação

factual o que leva os estudantes a incorporarem conceitos isolados sem compreensão ou

integração dos mesmos.

Outra origem das concepções espontâneas podem estar relacionadas a baixa

competência dos professores para ensinar certos conceitos. Eles podem propagar uma visão

errada ou incompleta para os estudantes através de instruções incorretas ou uso não crítico de

certos textos didáticos (SANDERS, 1993). Este tipo de concepção é mais comum entre os

estudantes que assumem um modo de aprendizagem com total aceitação da informação

transmitida pelo professor sem questionamento.

Nessa pesquisa identificamos um grau de dificuldade dos estudantes em resolver

questões que requerem conhecimento da Biologia Vegetal; tais como a morfologia externa, a

reprodução e a estrutura interna das plantas. Resultados dos vestibulares de outras

Universidades identificam esta mesma dificuldade em relação aos temas de Biologia Vegetal.

A última análise comentada da prova de Biologia da UNICAMP, publicada em 1999, relata o

baixo rendimento dos candidatos nas questões relativas a esta temática.

Entrevistas, contatos pessoais e cursos oferecidos para professores da rede pública de

Minas Gerais tem revelado que os temas de Biologia Vegetal são mais complicados para

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serem abordados em sala de aula. É prática comum do professor deixarem estes temas para

serem trabalhados no final do semestre. Os resultados obtidos em nossa pesquisa apontam não

só para um cuidado especial que se deve tomar em relação às concepções dos estudantes,

como também para uma atenção à formação dos professores de Biologia. É preciso rever

nosso ensino de modo a torná-lo mais adequado e próximo à vivência dos estudantes de modo

a propiciar a externalização dos conhecimentos prévios dos alunos e escolhermos estratégias

de ensino que confrontem estas concepções com o conhecimento científico.

YIP (1998) sugere como estratégia para enfrentamento dessas dificuldades um

planejamento e estrutura curricular com atividades de ensino usando uma abordagem

construtivista, conflitos cognitivos, mapas conceituais, uso de analogias e demonstrações.

Outro aspecto a ser considerado é a formação do professor de Biologia. É fundamental

programas de formação continuada buscando uma competência do professor para o ensino de

conceitos biológicos a partir de uma reflexão de suas próprias concepções.

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_________________________________________________________________

ENSINO DE BIOLOGIA

Felipe Rodrigues Pius1 ; Érik Jony Rosa 2 ;

Cátia Sue

li Fernandes Primon3

Área do Conhecimento: Ciências humanas.

Palavras-chave: Ensino de Biologia; Aprendizagem significativa; metodologia.

INTRODUÇÃO

David Ausubel e colaboradores ( 980) defendem a idéia de que toda aprendizagem

deve ser significativa, isto é, que o estudante relacione a nova informação a ser

aprendida com o que já sabe, dando-lhe um lugar dentro de um todo mais amplo. Só

assim, o estudante seria capaz de aplicar o que foi aprendido em determinada

situação a uma variedade de situações semelhantes. Segundo esses autores,

quanto mais significativo for o conteúdo aprendido, mais rápido será o processo de

aprendizagem e quanto mais significativa for a aprendizagem, mais duradoura será

a retenção na memória. Só será de fato aprendido aquilo que fizer sentido para o

estudante, caso contrário ele irá reproduzir as informações nas avaliações e em

seguida descartá-las. Contrastando com a aprendizagem significativa, Ausubel

define aprendizagem mecânica como sendo a aprendizagem de novas informações

com pouca ou nenhuma interação com conceitos relevantes existentes na estrutura

cognitiva. Nesse caso, a nova informação é armazenada de maneira arbitrária. Não

há interação entre a nova informação e aquela já armazenada.

O conhecimento assim adquirido fica arbitrariamente distribuído na estrutura

cognitiva, sem ligar-se a conceitos facilitadores específicos.

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Outra condição é que o aprendiz manifeste uma disposição para relacionar de

maneira substantiva e não-arbitrária o novo conceito, potencialmente significativo, à

sua estrutura cognitiva. De maneira recíproca, independentemente de quão disposto

para aprender estiver o indivíduo, nem o processo ou o produto da aprendizagem

serão significativos se o material não for potencialmente significativo (Primon, 2005).

Banet e Ayuso (2000) afirmam que as estratégias de ensino tradicionais têm pouco

efeito na aquisição conceitual dos estudantes. Vários estudos sugerem que se

modifiquem as práticas pedagógicas por meio de novas estratégias de ensino.

OBJETIVO

O objetivo desse trabalho de pesquisa consiste em investigar os principais fatores,

do ponto de vista metodológico, que facilitam o ensino e a aprendizagem de

conceitos de Ciências e Biologia nos Ensinos Fundamental II e Médio.

MÉTODOS

Para a realização da presente pesquisa, entrevistamos professores de Ciências e

Biologia que trabalham em duas escolas públicas distintas da região do ABC

paulista para identificar os conceitos mais difíceis de trabalhar na visão dos

professores. Em seguida, entrevistamos os alunos desses professores para

identificar os conceitos mais difíceis de aprender na visão dos alunos.

Observamos a dinâmica de algumas aulas dos professores participantes da

pesquisa, definimos o conceito a ser trabalhado, aplicamos um pré-teste e

propusemos metodologias de ensino diferenciadas, com o intuito de tornar o ensino

de Ciências e Biologia mais significativo aos alunos e mais gratificante ao professor.

Aplicamos as metodologias propostas e verificamos os resultados obtidos através de

entrevistas com alunos e professores e de um pós-teste.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As entrevistas realizadas pelo aluno 1 identificou dificuldades no trabalho de

conceitos de física na disciplina de Ciências no nono ano do Ensino Fundamental II

(EFII), enquanto que o aluno 2 verificou a necessidade de se trabalhar com

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questões voltadas à Educação Ambiental no Ensino Médio (EM), que ─ apesar de

caracterizar um Tema Transversal ─ é pouco abordada nas escolas.

Os resultados obtidos no pré-teste de ambos os alunos evidenciam que nos dois

casos os alunos participantes desconhecem o assunto, pois suas concepções fazem

parte do senso comum e, na maioria dos casos, a fonte de informações é a mídia,

representada principalmente pela televisão.

O aluno abordou o tema “Luz e Cores” iniciando o processo com uma atividade

prática (confecção de sabonetes) e depois desenvolveu um jogo didático. O aluno 2

propôs uma dinâmica de interação entre os alunos voltada à conservação ambiental

e consumo sustentável.

Em ambos os casos, a participação dos alunos foi máxima e o interesse

demonstrado na atividade foi total.

Após essa etapa, foi aplicado um pós-teste pelo aluno enquanto o aluno 2 realizou

uma discussão e coletou dados em uma entrevista coletiva com os participantes no

decorrer dessa discussão. Verificamos que nas duas situações houve mudança

conceitual. Os alunos do EFII apresentaram resultado muito mais satisfatório no

teste realizado após a atividade prática e atribuem o fato à “facilidade de

entendimento do assunto com a atividade prática” (aluno ). Provavelmente isso

acontece pelo fato de que nas aulas que são ministradas no decorrer do ano letivo, a

informação foi recebida passivamente pelo estudante e não passou a fazer parte de

sua rede conceitual.

Para que o conhecimento passe a fazer parte efetivamente da rede conceitual do

aprendiz, é necessário que o estudante seja um sujeito ativo de sua aprendizagem,

isto é, ele deve ser um agente na construção do seu conhecimento e não apenas

receber as informações transmitidas pelo professor durante as aulas. O novo

conceito deverá ser incorporado na rede conceitual do estudante e, para que isso

ocorra, torna-se fundamental que ele encontre significado nesse conceito. Através

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da aprendizagem significativa é que temos o aprendizado efetivo (Ausubel e col.,

1980).

No caso dos alunos do EM, as concepções de temas ambientais trabalhadas

deixaram de pertencer ao senso comum. Os alunos entenderam, por exemplo, que a

vida na Terra depende do efeito estufa. Também afirmaram que ‘‘a aula do professor

Érik foi muito mais interessante”, isso demonstra que o uso de uma metodologia

diferenciada envolve o aluno e desperta o interesse pelo assunto.

Em algumas ocasiões, os resultados insatisfatórios são atribuídos ao desinteresse

do estudante, porém, em nossa pesquisa, notamos que os estudantes não estão

alheios e desinteressados, e chegam a nos dar pistas para a melhoria da qualidade

do ensino. Diversos autores chamam a atenção para o fato de que os estudantes

não são generalizadamente desinteressados, ao contrário, demonstram estar

prontos a traduzir as informações transmitidas pela escola em conhecimentos úteis

ao seu dia-a-dia.

Cabe, portanto, à escola não sufocar este anseio por compreender a vida,

despejando sobre os estudantes informações estéreis, por serem despidas de

significado e relevância. É preciso preservar e resgatar, quando for o caso, o prazer

da aprendizagem e a curiosidade em compreender os fatos da vida em todos os

níveis de escolarização.

De acordo com Galagovsky e Adúriz-Bravo (2001), o modelo didático-analógico de

ensino possibilita aprendizagens verdadeiramente significativas. De acordo com

esse modelo, as analogias devem ser criadas pelo próprio aprendiz, o que possibilita

que o estudante estabeleça relações válidas e, portanto, que a aprendizagem seja

realmente significativa. Quando é o estudante quem elabora as próprias relações

entre sua analogia e os conceitos, este conceito liga-se em sua rede conceitual e

passa a fazer parte de um todo mais amplo.

Na perspectiva da aprendizagem significativa de Ausubel é importante considerar

que o estudante é um sujeito que está atribuindo sentidos e significados ao mundo e

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aos objetos que os cercam. Alguns autores afirmam que um dos prazeres mais

naturais e espontâneos para o ser humano é o de dar significação às coisas e ao

universo. O homem faz isso desde o nascimento até a morte. O estudante,

independente do seu grau de escolaridade, vem para a escola repleto de

curiosidade e esperança em relação à possibilidade de enriquecer o seu poder de

dar significação às coisas e compreendê-las. Ele é ativo e iniciador de atividades.

Para o autor, não existe estudante apático, o que pode ocorrer é que ele esteja

apático. Esse resultado se dá, segundo Amabis (2001), principalmente, pelo fato de

se trabalhar um currículo centrado no professor, cujo principal objetivo é transmitir

um corpo organizado de conhecimentos. Assume-se que quando um estudante

adquiriu uma massa de conhecimentos ele pode aplicá-la na solução de problemas

do cotidiano. Isso é o inverso do que acontece na pesquisa científica e na vida em

geral, onde o aprendizado ocorre à medida que tentamos resolver os problemas que

surgem, ou seja, no dia-a-dia o problema aparece primeiro. A vida é a solução de

problemas e descoberta de novos fatos, de novas possibilidades, por meio da

experimentação de possibilidades concebidas na nossa imaginação.

Desde a educação infantil, os estudantes são expostos a modelos de aprendizagem

segundo os quais o professor decide que informação deve ser aprendida, como ela

deve ser aprendida, em que seqüência e em que velocidade deve ocorrer a

aprendizagem.

Raramente, o estudante pode experimentar o excitamento intelectual envolvido na

busca do conhecimento, ou sentir o fervor do questionamento científico. O professor

fornece as informações para os estudantes como um produto acabado e não revela

seu próprio esforço criativo para fornecer o material dessa forma. O papel passivo

do estudante contrasta com a postura ativa do professor na preparação das aulas. A

atividade do professor promove aprendizado para ele, não para os estudantes. Se

nós realizamos o trabalho mental para o aprendiz, nós reduzimos seu investimento

no aprendizado, prejudicando seu desempenho (Amabis, 2001).

CONCLUSÕES

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A metodologia aplicada atingiu a maioria dos alunos, porém, muitas dúvidas

permaneceram, o que nos faz concluir que são necessárias mais situações práticas

de aprendizagem para que o aluno realmente compreenda os conceitos. Notamos

que os conteúdos não são contextualizados, ou quando o são, essa

contextualização é muito distante da realidade vivenciada pelo educando.

Concluímos que quando utilizamos exemplos ou situações que fazem parte do

cotidiano, os alunos conseguem se inserir e compreender melhor os conceitos

trabalhados.

Sendo assim, faz-se necessário que utilizemos uma metodologia prática, interativa,

na qual o aluno não tenha que aprender de forma passiva, mas sim de forma

participativa e, sempre que possível, colocá-lo como agente de situações práticas

para que desempenhe um papel ativo no processo de construção de seu

conhecimento.

REFERÊNCIAS

AMABIS, J. M. A Revolução na Genética: Um tema para a escola secundária? In. Encontro sobre temas de Genética e melhoramento, 18, 2001, Piracicaba. Anais. Piracicaba: USP,2001. p. 7-10.

AUSUBEL, D. P.; NOVAK, J. D.; HANESIAN, H. Psicologia Educacional. Rio de Janeiro: Interamericana, 980.

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GALAGOVSKY, L.; ADÚRIZ-BRAVO, A. Modelos y analogias em la enseñanza de lãs ciências naturales. El concepto de modelo didáctico analógico. Enseñanza de las Ciências, v. 19, n. 2, p. 231-242, 2001.

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DEBATE: A HISTÓRIA DA CIÊNCIA E O ENSINO DA BIOLOGIA

Lilian Al-Chueyr Pereira Martins

Introdução

A História da Ciência pode ser utilizada como um dispositivo didático útil,

contribuindo para tornar o ensino da ciência a nível médio mais interessante e

facilitar sua aprendizagem. lsso pode ser aplicado tanto ao ensino da Biologia

como ao ensino de outras disciplinas. Mas além disso, a História da Ciência pode

fazer bem mais pelo ensino, como por exemplo:

a) Mostrar através de episódios históricos o processo gradativo e lento de

construção do conhecimento, permitindo que se tenha uma visão mais concreta da

natureza real da ciência, seus métodos, suas limitações.

lsso possibilitará a informação de um espírito crítico fazendo com que o

conhecimento científico seja desmitificado sem, entretanto, ser destituído de valor.

Assim, o estudo da história da ciência deve evitar que se adote uma visão ingênua

(ou arrogante) da ciência, como sendo "a verdade" ou "aquilo que foi provado",

alguma coisa de eterno e imutável, construída por gênios que nunca cometem erros

e eventualmente alguns imbecis que fazem tudo errado. Por outro lado, deve impedir

a adoção de uma visão anti-cientificista de que todo conhecimento nada mais é do

que mera opinião, que todas as idéias são equivalentes e que não há motivo para

aceitar as concepções científicas.

No primeiro caso, a história da ciência irá mostrar através de uma análise histórica

que a ciência muda no decorrer do tempo e que ela é feita por seres humanos

falíveis que podem aperfeiçoar o conhecimento, o que não significa que suas

propostas possam ser consideradas definitivas. No segundo caso, a história da

ciência mostrará que, apesar de cometerem erros, os cientistas não agem

cegamente e costumam se basear em evidências.

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b) A História da Ciência mostra, através de episódios históricos, que ocorreu um

processo lento de desenvolvimento de conceitos até se chegar às concepções

aceitas atualmente. lsso pode facilitar o aprendizado do próprio conteúdo científico

que estiver sendo trabalhado. O educando perceberá que suas dúvidas são

perfeitamente cabíveis em relação a conceitos que levaram tanto tempo para serem

estabelecidos e que foram tão difíceis de atingir.

c) Através da História da Ciência o educando irá perceber que a aceitação ou o

ataque a alguma proposta não dependem apenas de seu valor intrínseco, de sua

fundamentação, mas que também nesse processo estão envolvidas outras forças

tais como as sociais, políticas, filosóficas ou religiosas.

O que se deve evitar quando se aplica a história da ciência ao ensino da ciência?

Nem sempre o uso de História da Ciência no ensino é adequado. Há muitas coisas

que se deve evitar, pois podem atrapalhar, ao invés de auxiliar o ensino.l

Em primeiro lugar, deve-se fugir de biografias longas, repletas de datas, sem

nenhuma referência à filosofia e às idéias científicas, ao contexto temporal, social e

cultural daquilo que se está ensinando (MARTINS, 1993).

Deve-se evitar também mostrar apenas aquilo que "deu certo", omitindo as

dificuldades encontradas e as propostas alternativas. Essa foi a causa do fracasso

de algumas tentativas feitas. Esse tipo de procedimento contribui para que o

educando tenha uma visão tendenciosa a respeito do conteúdo científico que está

sendo trabalhado.

Deve-se evitar também não considerar ou mesmo desvalorizar a experiência do

próprio aluno. Em vez disso, deve-se trabalhar com ela, procurando mostrar que

muitas vezes suas idéias são semelhantes às de alguma das etapas pelas quais

passou a construção daquele conceito.

A história da biologia e os livros didáticos

Uma das utilidades da História da Ciência é procurar esclarecer concepções

históricas errôneas que vêm sendo perpetuadas no decorrer do tempo, muitas delas

por culpa mesmo de alguns historiadores da ciência.

Analisando alguns livros didáticos de nível médio destinados ao ensino da Biologia,

com relação a três pontos específicos2 - geração espontânea, a teoria de "evolução"

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de Lamarck3 e a teoria cromossômica da hereditariedade - encontrou-se esse tipo

de problema. Vamos agora discutir um pouco sobre isso, reproduzindo textos

encontrados nesses livros da maneira exata em que foram encontrados.

Geração espontânea

a) "Em meados do século XVll, Francesco Redi, biólogo e médico italiano

demonstrou experimentalmente que a geração espontânea não podia ser

verdadeira".4

Na realidade o que Redi mostrou foi que as moscas encontradas sobre a carne em

putrefação não eram geradas espontaneamente a partir da carne, como se

acreditava na época, mas se originavam de ovos colocados por outras moscas.

Entretanto, mesmo Redi, continuou a aceitara idéia da geração espontânea dos

vermes intestinais, por exemplo. Então o que ele demonstrou foi que não havia

geração espontânea com relação a um caso específico, mas não em geral (ver

RED|,Opere).

b) "A teoria que diz que os seres vivos podem, em determinadas condições, formar-

se a partir da matéria bruta, denomina-se Abiogenêse ou Teoria da geração

espontânea. Apesar de ainda aceita por alguns indivíduos de pouca instrução, está

morta, cientificamente, desde os fins do século XlX. A queda definitiva da

abiogênese foi causada pelas brilhantes experiências de Louis Pasteu/'.

Embora as experiências efetuadas por Pasteur trouxessem evidências contrárias à

geração espontânea, ele não resolveu a questão. Na mesma época as experiências

realizadas pelo médico e naturalista Felix Archimède Pouchet, igualmente bem

concebidas, traziam evidências favoráveis a geração espontânea (ver POUCHET,

Hétérogénie ou traité de la génératìon spontanée). Assim, sob o ponto de vista

puramente científico, a situação estava equilibrada (ver uma descrição detalhada em

MARTINS & MARTINS, 1989).

Depois de Pouchet, Pasteur defrontou-se com outros opositores, tais como Charlton

Bastian, cujas experiências ofereciam evidências favoráveis a geração espontânea.

c)"As substâncias orgânicas guardadas em congeladores não se decompõem devido

à baixa temperatura daquele local, que impossibilita a atividade bacteriana. As

experiências de Pasteur tiraram todo o significado da teoria que defendia a origem

do ser vivo a partir do 'inerte' e deu bases sólidas à biogênese, porque

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comprovou de maneira simples, completa e irrefutável que todo o ser vivo provém de

outro pré-existente".

Embora as experiências de Pasteur fossem bem feitas e apresentassem evidências

contrárias à geração espontânea elas não provaram que todo o ser vivo provém de

um outro pré-existente, uma vez que isso seria impossível: para isso, Pasteur teria

que ter estudado a reprodução de todos os seres vivos (ver PASTEUR, Mémoires

sur les corpuscules organisés qui existent dans l'atmosphère). Por outro lado, é

necessário lembrar que atualmente aceitamos que em algum instante, na evolução

do universo - e da Terra, em particular - surgiram os primeiros seres vivos, a partir

da matéria inanimada. Portanto, aceitamos, de certa forma, um tipo de abiogênese.

A teoria de evolução de Lamarck a) "Lamarck propôs sua doutrina na Philosophie

zoologique, publicada em 1809. Seu maior mérito foi provocar debates e pesquisas.

Estudos posteriores vieram mostrar que o lamarckismo está irremediavelmente

errado [...]".

Em primeiro lugar a teoria de Lamarck é encontrada em diversas obras publicadas

no decorrer do tempo,5 nas quais ela vai sendo aprimorada. A Philosophie

zoologiquenão é a versão final. Além dessa série de obras específicas, encontram-

se elementos da teoria de "evolução" em outras.6 Para se ter idéia da referida teoria

seria preciso ler todas essas obras e compará-las, e não se basear em apenas uma

delas.

Em segundo lugar, a teoria de Lamarck não é aquilo que se chama de

"lamarckismo".T Ela é alguma coisa bem diferente, muito mais ampla (MARTINS,

1997).

lnfelizmente não é possível discorrer sobre ela aqui nesse espaço.8

b)"Lamarck (1744-1825), baseando-se em suas observações, emitiu a hipótese da

transmissão hereditária dos caracteres adquiridos'. Essa hipótese evolucionista é

também conhecida como 'lamarckismo', apesar de Hipócrates (400 A. C.) e em pane

também Aristóteles já haverem emitido idéias semelhantes".

Em primeiro lugar, a teoria de Lamarck não é uma mera hipótese de herança do

adquirido u aquilo que atualmente se chama de lamarckismo. Além disso, tal

hipótese ocupa um lugar secundário na teoria de Lamarck. A herança dos caracteres

adquiridos é uma idéia muito anterior a Lamarck que continuou a ser aceita na sua

época. Tanto é que ele pouco escreveu sobre ela. Essa idéia continuou a ser aceita

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mesmo após a morte de Lamarck. Charles Darwin a aceitou até o fim de sua vida,

admitindo inclusive que as mudanças acidentais (como perda do chifre de uma vaca

por doença) se transmitiam aos descendentes (ver DARWIN, The variation of

animals and plants under domestication, vol. 1, pp. 467-70).

c) "[...] Como a maioria dos biólogos de sua época, Lamarck acreditava que todas as

coisas vivas eram dotadas de uma força vital que controlava o desenvolvimento e o

funcionamento de suas partes e fazia com que transpusessem obstáculos do meio

ambiente. Acreditava que qualquer característica adquirida por um organismo

durante a sua vida era transmitida para as gerações seguintes – as características

adquiridas eram herdadas [...]".

Lamarck em sua obra evolucionista não era vitalista (MARTINS, 1 995). Um de seus

méritos foi justamente procurar uma explicação para a vida através das forças físicas

(naturais) conhecidas na época: calórico e eletricidade. Numa de suas obras ele

escreveu:"4 vida não é um ser, um corpo, uma matéria qualquer. Ela é um fenômeno

físico l...l" (LAMARCK, Histoire naturelle dês animaux sans verlèbres, vol. 1, p. 57).

Para Lamarck, nem toda característica adquirida era herdada pelos descendentes.

Era preciso que ela fosse comum aos dois sexos, ou seja, a ambos os progenitores.

Além disso, tratar-se-ia de um processo lento e cumulativo (ver LAMARCK,

Philosophie zoologique, vol. 1, p. 200 e Histoire naturelle dês animaux sans

vertèbres, vol.1 , p. 167).

A teoria cromossômica da hereditariedade

a)"Mc Clung demonstrou que, em certos insetos Odhoptera, as células masculinas

continham um Cromossomo a menos do que as células femininas.

Ocorria, portanto, no macho um cromossomo que não possuía homólogo com o qual

pareasse durante a meiose. Esse cromossomo especial foi denominado

'cromossomo X ou cromossomo sexual', por estar relacionado ao mecanismo da

determinação sexual [...].

Ocorreu justamente o contrário do que está apresentado nessa citação. Clarence

Erwin McOlung, por volta de 1900-1902, estudava a espermatogênese desses

insetos e concluiu que eram formados dois tipos de espermatozóides. Um deles

possuía um cromossomo a mais, que ele chamou de acessório. McClung levantou a

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hipótese de que esse espermatozóide produziria indivíduos masculinos, ou seja, o

cromossomo acessório imprimiria as células que o possuíssem a masculinidade - e,

portanto, os machos possuiriam um cromossomo a mais do que as fêmeas (ver

McCLUNG, 1900 e 1902).

Tratava-se de uma hipótese equivocada, mas que foi o início de uma longa série de

estudos por parte de outros pesquisadores procurando esclarecer o processo de

determinação do sexo (MARTINS, 1998b). McClung não estudou a ovogênese. Só

mais tarde, por volta de 1906, Walter S. Sutton, estudando a ovogênese do

gafanhoto Brachystola magna percebeu que a fêmea possuía dois cromossomos

acessórios (dois cromossomos X) (ver sutton,1906).

b) "Faltava agora fazer a junção entre os fatos do mendelismo e a hipótese

cromossômica, por outras palavras, mostrar que as unidades hereditárias ou fatores

mendelianos têm de fato os cromossomas como base.

Esta etapa foi realizada pelo biólogo americano Thomas Hunt Morgan (1866-1945),

que introduziu em genética um novo animal de experiência: o drosóÍilo [src],

pequena mosca fácil de criar, com um grande número de mutações e não tendo

mais que 8 cromossomas no estádio diplóide (isto é, 4 nos gamêtas)".

E importante colocar que Morgan durante muitos anos de sua vida foi contrário ao

mendelismo e a hipótese cromossômica (MARTINS, 1998a). Ele não se dedicou ao

estudo das moscas com o objetivo de unir o mendelismo à hipótese cromossômica,

já que não os aceitava. Além disso, havia estudiosos que aceitavam o mendelismo e

não aceitavam a hipótese cromossômica, como William Bateson, por exemplo e não

é necessário associar as duas coisas. Morgan, por volta de 1909, começou a

trabalhar com Drosophila. Ele estava estudando as mutações no sentido de De

Vries, não no nosso sentido atual e nessa época não aceitava nem a hipótese

cromossômica e nem o mendelismo. Além disso, não foi ele quem introduziu a

Drosophilanos estudos genéticos. Outros pesquisadores como Lutz, Castle e Nettie

Maria Stevens, por exemplo, já utilizavam esse material antes de Morgan.

A falsa imagem de ciência passada por essas citações

O uso superficial e falho de História da Ciência que se faz nos livros didáticos, como

foi exemplificado acima, transmite uma visão distorcida do que é a ciência. As idéias

básicas que estão por trás dessas citações são:

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. Aquilo que atualmente aceitamos é correto e foi provado de forma definitiva por

alguém, no passado.

. E possível se identificar quem fez e quando foi feita cada descoberta científica

importante.

. Na História da Ciência, há os "heróis" (os que chegam à verdade)e os "vilões" (que

só fazem confusões e cometem erros).

. Os grandes cientistas do passado não se enganavam e já tinham chegado

exatamente às idéias que nós aceitamos hoje em dia.

No entanto, qualquer estudo mais profundo de História da Ciência mostra que essas

concepções são falsas. Ocorre que os autores de muitos livros didáticos utilizam

uma descrição superficial e falha da História da Ciência para passar uma visão

preconcebida e simplista da dinâmica científica. E preciso fazer um estudo profundo,

baseado em material original, para poder compreender o que realmente se passa no

processo de construção da ciência.

Como fazer isso aqui no Brasil?

Sabe-se que em outros países do primeiro mundo, como a Inglaterra e o País de

Gales, a História da Ciência faz parte do currículo nacional (PUMFREY 1991). Em

muitos casos surtiu os efeitos desejados, atingindo os objetivos propostos - como

contribuir para a formação de um espírito crítico, procurando relatar os episódios

históricos como eles ocorreram, mostrando que muitas concepções mudam e que as

explicações científicas do passado eram válidas dentro do contexto de sua época.

Através da História da Ciência são relatados os eventos históricos da maneira mais

ampla possível, mostrando as hipóteses apresentadas pelos cientistas, as teorias

alternativas, tudo dentro do contexto da época.

O historiador da ciência é alguém treinado para fazer isso.

Ele deve estudar as obras dos estudiosos (fontes primárias) em sua língua original e

também as obras de outros historiadores da ciência falando sobre aqueles estudos

(fontes secundárias). E para uma aplicação da História da Ciência ao ensino é

preciso que o professor e o historiador da ciência trabalhem juntos, na parte histórica

do conteúdo que será apresentado aos alunos.

lsso porque, mesmo com a melhor das intenções, ao relatar os fatos históricos, da

maneira mais fidedigna possível, poderão ser omitidos aspectos importantes

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perceptíveis pelos indivíduos treinados para isso, e assim prejudicar tudo aquilo que

se está procurando atingir.

Algumas propostas falharam justamente porque, ao invés de passar uma versão dos

fatos mais ampla, passaram alguma outra tendenciosa, como por exemplo,

mostrando apenas aquilo que "deu certo" e omitindo o resto.

Pode-se utilizar textos de História da Ciência elaborados por profissionais com o

intuito de auxiliar o ensino dos conteúdos científicos. Existem livros paradidáticos de

boa qualidade que podem também realizar o mesmo papel. No caso dos pontos

mencionados aqui, não há traduções da obra de Pasteur (especificamente em

relação à geração espontânea) para o Português, nem daquelas de Pouchet.

Também a obra de Lamarck não está traduzida para o Português e muitos de seus

livros são de difícil acesso. Existem algumas obras de Morgan traduzidas para o

Português.

Deve-se, entretanto tomar cuidado com as traduções pois muitas vezes elas não são

bem feitas.

Considerações finais

Este artigo procurou mostrar uma visão do que está ocorrendo. Existem problemas e

está-se aqui apontando alguns deles e procurando sugerir meios de se não resolvê-

los de imediato ao menos amenizá-los. E claro que não vai se jogar tudo fora, mas

pode-se trabalhar de uma outra forma, fazendo da História da Ciência uma aliada e

não alguma coisa que atrapalhe o estudo da ciência e que contribua para uma visão

equivocada, tendenciosa impedindo a formação de um espírito crítico.

Essa questão poderá ser resolvida longo prazo.

Existem muitos profissionais bastante preocupados com isso e que estão

trabalhando nesse sentido.

Notas

1 Há muitos estudos obre o modo como a História da Ciência pode contribuir para o

ensino. Ver, por exemplo: MANUEL, 1986.

2 Cada um desses aspectos foi pesquisado por nós durante um período de dois

anos, ou mais.

3 É importante comentar que Lamarck propôs o que nós chamamos, hoje, de uma

teoria de evolução. Em sua época, entretanto, o termo "evolução" apresentava uma

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conotação diferente daquela que se adota atualmente. Este era empregado no

sentido de descrever o desenvolvimento ontogenético, ou seja o desenvolvimento de

um indivíduo desde o ovo até a sua fase adulta.

4 Não vamos indicar aqui as fontes de onde foram tiradas essas citações que são

criticadas. Nossa intenção não é lazer uma análise crítica de algum autor de livro

didático em particular, mas mostrar erros que vêm sendo cometidos para

exemplificar os cuidados que devem ser tomados com informações de História da

Ciência.

5 Essas obras são: Recherches sur I'organisation des corps vivants (1802), Histoire

naturelle des animaux sans vertèbres (1816-22) e o Système analytique des

connaissances positives de I'homme (1830), por exemplo.

6 Como a Hydrogéologie, por exemplo.

7 Chama-se de "lamarckismo" uma teoria defendida pós o surgimento da teoria de

Darwin por alguns autores que consideravam que a evolução biológica pode ser

explicada sem a suposição da seleção natural, utilizando-se apenas as concepções

do uso-desuso e herança de caracteres adquiridos.

B Um estudo aprofundado do trabalho de Lamarck, a partir de suas obras originais,

é apresentado em MARTINS (1993), Á teoria da progressão dos animais de

Lamarck.

REFERÊNCIAS

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LAMARCK, Jean Baptiste de Monet. Hìstoire naturelle des animaux sans vertèbres. 2ème édition. 11 vols. Paris: Baillière, 1835-1845.

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INVESTIGANDO A PESQUISA EDUCACIONAL: um estudo enfocando dissertações e teses sobre o ensino de Biologia no

Brasil

Paulo Marcelo Marini Teixeira [[email protected]]

Departamento de Ciências Biológicas Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia

Jorge Megid Neto [[email protected]] Faculdade de Educação

Universidade Estadual de Campinas

RESUMO

O artigo apresenta breve resgate histórico sobre a gênese da pesquisa em

Educação no Brasil, situando o aparecimento e desenvolvimento da pesquisa em

Ensino de Ciências, com destaque para a pesquisa desenvolvida no âmbito dos

programas de pós-graduação em Educação e Educação em Ciências. Destaca a

relevância dos estudos denominados de “estado da arte”, como um gênero de

investigação fundamental para estudos analíticos da produção em determinada área

de pesquisa e discute os procedimentos básicos a serem desenvolvidos em

investigações dessa natureza. Por fim, apresenta algumas tendências da pesquisa

sobre a produção acadêmica brasileira em Ensino de Biologia, constituída na forma

de dissertações e teses produzidas no período entre 1972 e 2003.

Palavras-chave: Pesquisa Educacional; Estado da Arte; Ensino de Ciências;

Ensino de Biologia.

Abstract

This paper is a brief historical survey on the emergence of educational research in

Brazil, namely the rise and development of Science Education research, with special

focus on research developed in Education and Science Education graduate

programs. It highlights the relevance of the so-called ‘state-of-the-art” studies as a

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category of investigation that is fundamental for analytical studies on production in a

given field of research, and addresses basic procedures to be carried out in

investigations of this nature. Finally, this paper presents some trends in Biology

Education research in Brazil as shown in Brazilian dissertations and theses produced

between 1972 and 2003.

Keywords: Research Education; State of Art; Science Education; Biology Teaching.

Introdução

A pesquisa científica no campo da Educação é atividade regularmente existente no

Brasil desde fins da década de 1930. É um empreendimento inicialmente restrito,

sendo realizado predominantemente em instituições ligadas à administração pública.

Segundo Gouveia (1971), o reconhecimento da importância da pesquisa em

Educação pode ser remetido a 1938, quando se instala o Instituto Nacional de

Estudos Pedagógicos (INEP). Na época, o INEP tinha a finalidade de desenvolver

investigações a respeito dos problemas de ensino nos seus diferentes aspectos,

procurando subsidiar a administração pública na tomada de decisões sobre

problemas relacionados ao sistema educacional brasileiro.

Os estudos de Gouveia (1971, 1976) apresentam um levantamento dos caminhos da

pesquisa educacional brasileira em sua gênese e primeiros passos. São trabalhos

de referência porque descrevem e analisam a pesquisa na área, tomando como

período de abrangência o intervalo de pouco mais de 30 anos, de 1938 até 1970.

Neste intervalo, a autora identifica três fases para caracterizar momentos diferentes

desse campo de pesquisa, sobretudo, em termos de enfoque temático dos estudos

realizados. Assim, segundo a autora, de 1940 a 1955 predominam estudos de

natureza psicopedagógica; de 1956 a 1964 estudos com enfoque sociológico; e de

1964 a 1970 estudos de natureza econômica. Posteriormente, Gatti (1983) estende

essa análise até o ano de 1981, num trabalho de revisão avaliativa da produção de

recursos humanos e da geração de conhecimentos na área. Adentrando a década

de 70, ela assinala a ampliação das temáticas de estudo e o aprimoramento

metodológico, especialmente em alguns setores. A autora destaca também o

aparecimento de um referencial mais crítico no final na década de 70 e início de 80,

revestindo paulatinamente a produção de pesquisa de um caráter filosófico-social.

Por fim, o período de 1982 até 1991 é descrito por um trabalho encomendado pela

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ANPEd – Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação, sob o

título de “Avaliação e perspectivas na área de educação – 1982-91”. Outros

trabalhos de referência para o tema são os de Cunha (1979, 1991), Mello (1983),

Warde (1990, 1993), Gatti (2001), Alves-Mazzotti (2001), André (2001), e Angelucci

et al. (2004).

Sem a pretensão de descrever aqui uma história da origem e desenvolvimento da

pesquisa em educação no Brasil, podemos, grosso modo, mencionar dois períodos

marcantes distinguidos pelo tipo de espaço onde se realizam privilegiadamente as

investigações. Do final da década de 1930 até aproximadamente 1970, temos uma

primeira etapa em que a pesquisa acontece no âmbito de institutos e centros ligados

a órgãos governamentais (MEC, Secretarias Estaduais etc.) e mais raramente em

núcleos de pesquisa vinculados a entidades privadas. Até esse momento a

participação das universidades nesse campo era pouco expressiva. Conforme

assinala Gouveia (1971, p. 10):

[...] a maior parte [...] dos trabalhos realizados por professores universitários resulta

de esforços individuais relacionados com interesses intelectuais ou acadêmicos. A

pesquisa é praticamente negligenciada nos orçamentos das universidades e, em

geral, desempenha papel secundário na carreira do professor universitário.

A partir de fins da década de 1960 e início da década de 70, com a criação dos

primeiros programas de pós-graduação em Educação, temos a configuração de uma

nova etapa, em que, gradativamente, a pós-graduação vai se constituir como o foco

privilegiado de geração de pesquisas no meio universitário.

A passagem da primeira para a segunda etapa não foi um processo de mudança

desenvolvido sem percalços. Para Warde (1990), isso representou uma

descontinuidade radical, já que a “universidade estava conceitual e

administrativamente despreparada para tal empreitada”. O deslocamento da

pesquisa para as universidades acontece por força de interesses mais voltados para

a geração de quadros para essas instituições do que para gerar pesquisa. Assim a

pós-graduação assume a demanda de “aprimoramento da universidade através do

aperfeiçoamento de seu corpo docente”, e os cursos de pós-graduação tornaram-se

condição de sobrevida na universidade ou condição para nela ingressar. Conforme

Megid Neto (1999), o antigo Estatuto do Magistério Superior, Lei Federal n. 4.881–

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A/65, apontava que o acesso e a progressão funcional na carreira docente no

ensino superior dependia também da titulação. Com o tempo, paulatinamente,

decresce o número de candidatos oriundos da própria universidade e aumenta a

demanda de profissionais externos à universidade, com destaque para profissionais

vinculados à educação básica, isto é, especialistas, técnicos e professores (Cunha,

2003; Warde, 1990).

Agora, no início do Século 21, passados mais de 35 anos da instalação dos

primeiros cursos de pós-graduação em educação, já podemos perceber também no

caso da Pós-Graduação algumas mudanças históricas. Inicialmente um processo de

institucionalização e expansão (década de 1970); passando pela consolidação dos

principais programas e relativa retração do processo de expansão iniciado nos anos

70 (década de 1980); e na década de 1990, uma etapa ainda em andamento,

marcada por novo período de expansão, agora desenvolvido em ritmo moderado e

caracterizado pela definição de critérios para avaliação institucional, além do

delineamento de modelos e estruturas alternativas para os programas, como por

exemplo, o mestrado profissionalizante (Megid Neto, 1999).

Temos um processo de consolidação da pesquisa em educação, com vários

programas distribuídos pelas regiões geográficas do Brasil, muito embora a grande

maioria ainda esteja localizada nas regiões Sul e Sudeste.

Analisando a literatura recente sobre a pesquisa educacional brasileira, nota-se

também que o momento atual é caracterizado por uma postura reflexiva, isto é, um

“interesse em rever e analisar criticamente o que vem sendo produzido na área e em

buscar caminhos para seu contínuo aprimoramento” (André, 2001, p. 52). Desta

tendência decorrem os estudos investigativos do tipo “estado da arte” que

proliferaram em diferentes campos da pesquisa em educação na última década,

ampliando e diversificando as contribuições das revisões bibliográficas da produção

científica em educação mencionadas anteriormente.

A pesquisa com enfoque voltado para a Educação na área de Ciências

Dentro desse contexto mais amplo, de criação de uma tradição de investigação

sobre temas educacionais e implantação e expansão da pós-graduação no país,

emergiu progressivamente um campo de pesquisa preocupado especificamente com

aspectos ligados ao ensino na área de Ciências.

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Segundo Fracalanza (1992), a origem dos estudos sobre ensino de Ciências no

Brasil, antes mesmo da instituição dos cursos de pós-graduação, está relacionada

com o movimento de reforma no ensino de Ciências que aconteceu no pós-guerra

(1950 – 1960) nos EUA e Inglaterra. Esses movimentos tiveram forte repercussão

aqui no Brasil, gerando reformas no ensino de Ciências no país entre 1950 e 1970.

Para Nardi (2005):

Os reflexos deste movimento de inovação parecem coincidir com o surgimento dos

programas de pesquisa em ensino de Ciências no Brasil, no início da década de

1960. Esses programas de pesquisa foram uma resposta à crescente inquietação de

docentes e pesquisadores com a ausência de materiais nacionais de apoio ao

docente de Ensino Fundamental e Médio, uma vez que a aplicação dos projetos

americanos e ingleses traduzidos e implantados no Brasil, por não corresponderem

às expectativas (peculiaridades) da cultura nacional, assim como nos países de

origem, redundaram em fracasso (p. 92, grifo do autor).

A fundação do IBECC (Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura) em 1965,

de vários Centros de Ciências em algumas capitais brasileiras1 , a implantação da

FUNBEC (Fundação Brasileira para o Desenvolvimento do Ensino de Ciências) em

1966, e o aparecimento da Revista de Ensino de Ciências produzida por esta

Fundação são fatos significativos para demonstrar ações visando popularizar a

Ciência e melhorar o ensino de Ciências em nossas escolas; acabaram também

contribuindo para a formação de grupos de pesquisadores que passaram a se

dedicar mais especificamente à Educação em Ciências (Fracalanza, 1992; Megid

Neto e Pacheco, 2001; Nardi, 2005).

Há autores que, embora reconhecendo a importância do movimento de renovação e

atualização no ensino de Ciências característico das décadas de 50 e 60, e as

atividades desenvolvidas no âmbito do IBECC e FUNBEC, não qualificam as ações

empreendidas nesse processo como pesquisa, no sentido específico do termo. Com

efeito, tais atividades são demarcadas como práticas voltadas à “qualificação da

prática de ensino na escola, caracterizando-se, portanto, por atividades de cunho

pedagógico” (Slongo, 2004). Segundo Myriam Krasilchik, não esteve presente

1 Foram criados seis “Centros de Treinamento de Professores de Ciências” no país, com abrangência

regional, com a finalidade de traduzir e implementar projetos curriculares importados dos Estados Unidos e da Inglaterra (Borges, 1997, 2005).

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nestas iniciativas, nem explícita e nem estruturalmente, a dimensão da pesquisa na

forma como ela é hoje concebida, a partir da implantação da pós-graduação

(Krasilchik apud Slongo, 2004). Para outros autores, “tais iniciativas demarcam os

primórdios da pesquisa acadêmica brasileira em ensino de Ciências, de natureza

marcadamente aplicada nos primeiros momentos, do tipo pesquisa e

desenvolvimento (P&D)” [Megid Neto, 1999, p. 51, grifo do autor].

Com o aparecimento dos cursos de pós-graduação, os primeiros trabalhos

defendidos na área datam de 1972, com nove pesquisas defendidas nesse ano: três

teses de doutorado na USP; três dissertações de mestrado na UFSM; e uma

dissertação na PUC-RJ, na UnB e na UFRGS respectivamente.

No cenário mundial, o desenvolvimento de investigações sobre problemas

relacionados à Educação em Ciências, enquanto movimento de pesquisa, é uma

atividade que teve sua origem há aproximadamente 60 anos, intensificando suas

ações na segunda metade do século XX. No Brasil, esse movimento se expande no

início dos anos 70 com o tratamento dessa temática no âmbito da pós-graduação e

pela realização de grande quantidade de encontros, simpósios e demais eventos

que congregam pesquisadores e outros profissionais vinculados à área (Delizoicov,

Angotti e Pernambuco, 2002).

Os primeiros encontros surgem na década de 1970 com os Simpósios Nacionais em

Ensino de Física, organizados bienalmente pela Sociedade Brasileira de Física

(SBF). Em 1986 organizou-se o primeiro Encontro de Pesquisadores em Ensino de

Física, com ocorrência de nove encontros até o ano 2004. Com relação à Biologia,

desde 1984 acontecem os encontros “Perspectivas do Ensino de Biologia” (EPEB),

organizados inicialmente pela Faculdade de Educação da USP e posteriormente em

conjunto com outras universidades e apoio da Sociedade Brasileira de Ensino de

Biologia (SBEnBIO). Aliás, a SBEnBio nasceu e se estruturou no interior desses

encontros (Marandino, 2005). Esta entidade promoveu, em 2005, o I Encontro

Nacional de Ensino de Biologia. A divisão de ensino da Sociedade Brasileira de

Química (SBQ) promove, desde 1982, o Encontro Nacional de Ensino de Química.

Por fim, desde 1997, tem-se o Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em

Ciências, que já teve cinco edições - a última realizada em 2005. O Encontro é

promovido pela ABRAPEC (Associação Brasileira de Pesquisa em Educação em

Ciências), entidade fundada em 1997, com intuito de reunir e integrar os

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pesquisadores em educação nas diversas áreas de Ciências Naturais, até então

agregados em sociedades científicas específicas.

Esses eventos e outros afins no campo da Educação reúnem professores, alunos,

pesquisadores e demais interessados na divulgação de pesquisas, publicação de

seus resultados, intercâmbio de conhecimentos e organização de associações de

pesquisadores, denotando a importância do movimento no âmbito acadêmico e

científico. A área também conta com periódicos gerados para socializar os

resultados das investigações e questões pertinentes à Educação em Ciências no

Brasil e no mundo: Revista Ciência & Educação (Unesp-Bauru); Cadernos

Brasileiros de Ensino de Física (UFSC); Revista de Ensino de Física (SBF);

Química Nova na Escola (SBQ); Revista Ensaio (UFMG); Investigações em Ensino

de Ciências (UFRGS); entre outros. Mencionam-se, ainda, os programas específicos

de pós-graduação na área, alguns existentes desde a década de 19702, tendo

ocorrido forte expansão numérica no final dos anos 90 e início de 2000. Uma relação

destes programas pode ser obtida em Moreira (2002) e Nardi (2005). Outro fato

significativo foi a criação, em Setembro/2000, da área 46 da CAPES/MEC - Área de

Ensino de Ciências e Matemática.

Embora revestido de muita controvérsia no âmbito acadêmico, este ato deveu-se ao

reconhecimento, pelo órgão oficial responsável pelo acompanhamento e avaliação

da pós-graduação e da pesquisa inserida nesse contexto, da importância da área e

da sua evolução quantitativa e qualitativa.

Tendo em vista o crescimento das investigações na área de Educação em Ciências,

seria interessante analisar suas conseqüências sobre a pesquisa e sobre o próprio

ensino de Ciências desenvolvido nas escolas de todo o país.

É fundamental, pois, estabelecer processo reflexivo sobre a qualidade da pesquisa

em educação realizada no Brasil. Uma das questões importantes a analisar refere-

se ao impacto dessas pesquisas, em termos de geração de conhecimentos e

constituição de um corpo sólido e abrangente de saberes capazes de impulsionar

essa área de pesquisa e a melhoria da qualidade educativa nos mais diversos níveis

2 Os primeiros programas específicos de pós-graduação dedicados à área de Ensino de Ciências

foram os da Universidade de São Paulo e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, implantados no início dos anos 70 e que contemplavam o ensino de Física (Megid Neto e Pacheco, 2001).

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de ensino. Outro aspecto a apontar diz respeito ao estado da arte da produção

acadêmica nesse campo, quais as suas contribuições, os pontos de redundância, as

deficiências e as lacunas ainda a preencher, além das novas demandas para

pesquisa no futuro próximo.

Ademais, temos um problema ainda não resolvido, qual seja, a incipiente divulgação

dos trabalhos de pesquisa – sobretudo as dissertações e teses. Diversos estudos

apontam o reduzido número de trabalhos produzidos no Brasil procurando mapear e

analisar o conhecimento acumulado numa determinada área. As dissertações e

teses são divulgadas na maior parte dos casos de forma pouco eficiente, sendo

encontradas predominantemente nas bibliotecas das instituições onde ocorreu a

defesa (Schiefelbein e Cariola, 1989; Warde, 1990; Alves, 1992; Alves-Mazzotti e

Gewandsznajder, 2002; Gatti, 2003).

No caso específico dos trabalhos enfocando a Educação em Ciências a situação é

similar. Existem trabalhos indicando a precariedade da divulgação da produção de

dissertações e teses na área de Educação em Ciências, e apontando a necessidade

de busca de estratégias para facilitar a socialização das contribuições obtidas por

meio das investigações (Fracalanza, 1992; Megid Neto, 1999; Megid Neto e

Pacheco, 2001; Slongo, 2004). Uma das possibilidades para minimizar esse

problema está na realização de pesquisas que analisem o conjunto da produção

acadêmica nas mais diversas áreas de investigação. Daí a importância dos

chamados estudos do tipo “estado da arte”, tema que é foco de atenção neste

trabalho.

As pesquisas do tipo “estado da arte”

Sem deixar de reconhecer que o crescimento, em termos quantitativos, das

pesquisas na área de educação representa conquista de alto valor, precisamos

periodicamente avaliar o alcance dos estudos desenvolvidos num determinado

período de tempo.

Nesse sentido é necessário levar em conta que, na medida em que o número de

pesquisas aumenta e cresce o volume de informações, a área de investigação vai

adquirindo densidade, surgindo a necessidade de parar e olhar em volta para ver o

que já foi feito, por onde se andou e para onde se pretende ir (Goergen, 1998).

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Isso pressupõe uma análise descritiva e qualitativa do conjunto dessa produção.

Nessa perspectiva, fazer um balanço sobre o estado das coisas vigente numa

determinada área é uma necessidade premente para qualquer setor de pesquisa, já

que o crescimento quantitativo não pode ser tomado isoladamente como critério de

avanço no campo de investigação, qualquer que seja ele. Aparece, então,

inevitavelmente, a necessidade e a preocupação com a qualidade.

Segundo Sánches-Gamboa (1998a), isso implica a análise de diversos aspectos,

como, por exemplo, o aparecimento de questões associadas com a avaliação dessa

produção, suas características e tendências, os critérios de validade científica de

seus resultados e a aplicabilidade de suas conclusões, o que acarreta uma nova

demanda para os pesquisadores e educadores: como pesquisar a própria pesquisa?

E como abordar esse novo objeto de investigação?

Para dar conta dessa demanda, existe um campo especial de investigação

denominado de “estado da arte” ou “estado do conhecimento”: pesquisas dedicadas

ao estudo de um conjunto determinado de pesquisas, que reúne uma área

(Educação; Ensino de Ciências), um tema de interesse e relevância (fracasso

escolar; livro didático etc), ou ainda, um campo específico de estudo (ensino de

Biologia; formação de professores etc). Mas como poderiam ser definidas e se

caracterizariam as pesquisas tipo estado da arte?

Uma primeira resposta pode ser encontrada no artigo de André et al. (1999): são

trabalhos de revisão de literatura, que incluem “os estudos do tipo estado da arte,

estado do conhecimento ou ‘reconciliação integrativa’. Eles consistem num balanço

do conhecimento, baseado na análise comparativa de vários trabalhos que incidem

sobre determinada temática”.

Ferreira (2002, p. 258), também construiu uma conceituação a partir do caráter

bibliográfico desses estudos. Para a autora, eles trazem em comum:

[...] o desafio de mapear e de discutir uma certa produção acadêmica [...], tentando

responder que aspectos e dimensões vêm sendo destacados e privilegiados em

diferentes épocas e lugares, de que formas e em que condições têm sido produzidas

certas dissertações de mestrado, teses de doutorado, publicações em periódicos e

comunicações em anais de congressos e seminários.

Por fim, podemos acrescentar, aos elementos já apresentados, a visão de Megid

Neto e Pacheco (2001) e Haddad (2002). Eles qualificam esse tipo de pesquisa

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como um campo de estudo que analisa, num recorte temporal definido, as

características da evolução histórica, tendências temáticas e metodológicas, os

principais resultados das investigações, problemas e limitações, as lacunas e áreas

não exploradas, dentre muitos outros aspectos que devem ser objeto de análise em

relação à produção acadêmica em uma determinada área de pesquisa.

Justificando a necessidade de realização de estudos dessa natureza, Soares e

Maciel (2000) argumentam que:

da mesma forma que a ciência se vai construindo ao longo do tempo, privilegiando

ora um aspecto ora outro, ora uma metodologia ora outra, ora um referencial teórico

ora outro, também a análise, em pesquisas de “estado do conhecimento” produzidas

ao longo do tempo, deve ir sendo paralelamente construída, identificando e

explicitando os caminhos da ciência, para que se revele o processo de construção

do conhecimento sobre determinado tema, para que se possa tentar a integração de

resultados e também, identificar duplicações, contradições e, sobretudo, lacunas,

isto é, aspectos não estudados ou ainda precariamente estudados, [e] metodologias

de pesquisa pouco exploradas (p. 6).

Os autores mencionados defendem que esses estudos devem ter caráter

permanente, sobretudo porque em nosso país as fontes de informação sobre as

pesquisas são ainda precárias, de modo que o produto das pesquisas tipo “estado

da arte” pode constituir um banco de dados regularmente atualizado, dado seu

caráter orientador para pesquisadores, estudiosos e demais interessados.

Utilizando a classificação dos gêneros de pesquisa proposta por Soares e Maciel

(2000), podemos caracterizar os estudos do tipo “estado da arte” como pesquisas

descritivo-explicativas com base na análise de documentos. São estudos descritivo-

explicativos porque intencionam, num primeiro momento, identificar, descrever e

explicar determinados fatos ou fenômenos – neste caso, a produção científica numa

determinada área de pesquisa e, num segundo momento, estabelecer compreensão

sobre o significado dessa produção no contexto da área de pesquisa (Soares e

Maciel, 2000).

No que se refere às questões de cunho metodológico, as investigações do tipo

“estado da arte” estão vinculadas aos estudos de revisão bibliográfica. Para Ferreira

(2002), a metodologia adotada nesses trabalhos tem um caráter inventariante e

descritivo da produção acadêmica. Segundo a autora, usualmente essas pesquisas

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incidem sobre dissertações e teses, artigos publicados em periódicos especializados

e comunicações apresentadas em eventos, porque estes são os principais canais

para divulgação do que se faz em pesquisa num determinado campo.

O pesquisador que deseja se dedicar a este tipo de pesquisa deveria, então, buscar

informações sobre esses trabalhos. No caso dos periódicos e comunicações

apresentadas em eventos, é necessário ter acesso aos exemplares das revistas e

atas dos eventos, geralmente disponíveis nas bibliotecas das instituições de nível

superior. Hoje, tal procedimento é facilitado, dado que um número cada vez maior de

revistas, além da versão impressa, disponibiliza também a versão eletrônica. O

mesmo pode ser dito em relação aos eventos científicos, que têm suas atas

arquivadas no suporte eletrônico do CD ROM e/ou disponíveis nos sites das

associações de pesquisa, democratizando os trabalhos, inclusive para

pesquisadores e demais interessados que não participaram do evento.

No caso das dissertações e teses a situação é mais difícil e complexa, pois o

processo de divulgação dessa produção é incipiente. Os originais desses trabalhos

podem ser encontrados, na maioria das vezes, apenas nas bibliotecas das

instituições de origem, dificultando o acesso, mesmo porque não temos um sistema

de intercâmbio bibliográfico de baixo custo entre bibliotecas funcionando a contento

nas universidades brasileiras. O caminho mais seguro é iniciar a busca pelos

catálogos de teses e dissertações, que oferecem informações gerais sobre cada

documento.

Os catálogos trazem os títulos das dissertações de mestrado e teses de doutorado,

mas também os dados identificadores de cada pesquisa quanto aos nomes do autor

e do orientador, do local, data de defesa do trabalho, da área em que foi produzido.

Os dados bibliográficos são retirados das dissertações [...] e teses [...] para serem

inseridos nos catálogos (Ferreira, 2002, p. 261).

Além desses dados identificadores (bibliográficos) os catálogos oferecem, via de

regra, um resumo que contém [ou deveria conter minimamente] informações sobre

os objetivos, metodologia adotada, referências teóricas e conclusões.

Na área de Educação, aqui no Brasil existem diversos catálogos. Os mais

conhecidos são: o Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES e o Catálogo de

Teses e Dissertações da ANPEd. Na área do Ensino de Ciências, temos o Catálogo

“O Ensino de Ciências no Brasil”, do Centro de Documentação em Ensino de

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Ciências (CEDOC - FE/UNICAMP) e o catálogo “O Ensino de Física no Brasil”, do

IF-USP.

A obtenção de cópias das dissertações e teses pode ser outro ponto gerador de

óbices.

Esse problema é agravado no caso da produção de anos recentes. Existe um

intervalo de tempo entre a defesa do trabalho e sua alocação nas bibliotecas

depositárias. Segundo Megid Neto (1999), em algumas instituições é comum que o

autor tenha um prazo para as correções sugeridas pela banca de defesa, o que

implica um período de até um ou dois anos para que o trabalho seja depositado na

respectiva biblioteca. Outras dificuldades se referem à retirada desses trabalhos das

bibliotecas, problemas de comutação bibliográfica (Comut) e custos excessivos para

reprografia desses documentos, que aumentam proporcionalmente ao tamanho da

amostra que será estudada. Uma saída pode ser viabilizada no contato com o

próprio autor, e conseguir uma cópia do trabalho em mídia eletrônica (disquete, CD

ROM ou arquivo enviado por e-mail). No caso das teses e dissertações na área do

ensino de Ciências, o CEDOC, da FE/UNICAMP, mantém um acervo que contém a

grande maioria das dissertações e teses defendidas nessa área. No momento, este

acervo está sendo atualizado, e tem sido utilizado por pesquisadores de todo Brasil.

Hoje, muitas universidades já disponibilizam em bibliotecas virtuais o texto completo

das teses e dissertações defendidas. É o caso da UNICAMP, USP e FURG, entre

outras. Há perspectiva de isto se expandir para várias outras universidades.

Vencida a dificuldade de obtenção dos documentos, é momento de tratarmos dos

demais procedimentos para dar prosseguimento à pesquisa. O caminho descritivo-

analítico a desenvolver em pesquisas do tipo “estado da arte” pode ser considerado

em duas dimensões.

A primeira é aquela em que o pesquisador:

[...] interage com a produção acadêmica através da quantificação e de identificação

de dados bibliográficos, com o objetivo de mapear essa produção num período

delimitado, em anos, locais, áreas de produção. Nesse caso, há um certo conforto

para o pesquisador, pois ele lidará com os dados objetivos e concretos localizados

nas indicações bibliográficas que remetem à pesquisa. [...].

Nesse esforço de ordenação de uma certa produção de conhecimento também é

possível perceber que as pesquisas crescem e se espessam ao longo do tempo;

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ampliam-se em saltos ou em movimentos contínuos; multiplicam-se, mudando os

sujeitos e as forças envolvidas; diversificam-se os locais de produção, entrecruzam-

se; desaparecem em algum tempo ou lugar (Ferreira, 2002, p. 265).

Portanto, nesse primeiro momento o conjunto de trabalhos passa por uma análise

inicial, fornecendo um panorama geral dessa produção em termos de volume

(crescimento/decréscimo), instituições onde se realiza, distribuição geográfica,

autores, orientadores, nível de titulação, objetos de estudo, nível de ensino sob

enfoque nas investigações; entre outros aspectos. A pesquisa pode ser concluída

nesse momento e, neste caso, se obtêm uma radiografia abrangente dos trabalhos

num determinado período de tempo, ou seja, a construção de um panorama geral da

área. Porém, é possível se debruçar de modo mais aprofundado sobre a produção,

analisando aspectos específicos, penetrando na estrutura interna das investigações

e desencadeando um estudo analítico que pode incidir sobre determinadas

características dessa produção. Entraria em cena um segundo momento em que o

investigador indagaria sobre a possibilidade de inventariar essa produção,

analisando tendências, ênfases, enfoques temáticos e metodológicos, opções

teóricas, aproximando ou diferenciando diferentes pesquisas, na escrita de uma

história de uma determinada área de conhecimento (Ferreira, 2002).

Nestes casos, o trabalho a ser realizado dependerá dos interesses do pesquisador

ou do grupo de pesquisa que se debruça sobre a produção, e as possibilidades são

muito abrangentes. Um exemplo interessante é o trabalho de Sánches Gamboa

(1998b), que estudou a problemática da investigação educativa, procurando

reconstituir a estrutura lógica e epistemológica da produção científica centrada em

teses e dissertações em Educação no estado de São Paulo. Na área de Ensino de

Ciências, temos o trabalho de Slongo (2004), que utilizou a Epistemologia de L.

Fleck para analisar a produção acadêmica (dissertações e teses) sobre o Ensino de

Biologia e recontar, a partir disto, a formação da área de pesquisa em Ensino de

Biologia no Brasil.

Nosso objetivo, ao alcançar este ponto do texto, foi o de destacar a relevância das

investigações do tipo “estado da arte” e seu papel articulador da produção

acadêmica num determinado campo de investigação. A seguir, apresentaremos

alguns resultados de uma pesquisa sobre a produção acadêmica no campo do

Ensino de Biologia.

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Uma leitura sobre as dissertações e teses brasileiras em ensino de Biologia

Por uma questão de recorte empírico da realidade a ser estudada, optamos por

trabalhar especificamente com pesquisas que incidem sobre o Ensino de Biologia,

na forma de dissertações de mestrado e teses de doutorado e livre docência.

Optamos pelas dissertações e teses porque, embora não retratem toda a produção

em pesquisa na área, são as investigações produzidas no âmbito dos cursos de pós-

graduação que representam importante elo de ligação entre pesquisadores mais

experientes e alunos, constituindo-se num lócus imprescindível e insubstituível de

formação de pesquisadores que vão atuar nas mais diversas instituições de todo

país. Além disso, como assinala Megid Neto (1999), o modelo universitário vigente

no país privilegia a produção de pesquisa no âmbito da pós-graduação. A maior

parte das investigações científicas realizadas nas instituições de ensino superior

está vinculada aos cursos de mestrado e doutorado. Além disso, essa produção é

significativo indicador daquilo que as instituições de nível superior realizam enquanto

pesquisa científica, particularmente na área de Educação (idem, p. 8).

Sendo assim, o objetivo da pesquisa aqui descrita foi identificar e analisar a

pesquisa acadêmica brasileira sobre Ensino de Biologia, apresentada sob a forma

de dissertações e teses no período compreendido entre 1972 e 2003.

A produção acadêmica ligada à área de Ensino de Ciências, na forma de

dissertações e teses, existe desde o início da década de 1970. Em pouco mais de

30 anos se consolidou, tornando-se um campo bastante relevante no âmbito da

pesquisa em Educação no país. Uma parcela significativa dessa produção se refere

aos trabalhos que enfocam o Ensino de Biologia (Ciências Biológicas). Megid Neto,

Fracalanza e Fernandes (2005) constataram que os trabalhos no campo da Biologia

comparecem com aproximadamente 14% das teses e dissertações na área de

Educação em Ciências numa amostra que contemplou trabalhos de 1972 a 2004.

Em pesquisa recente, Slongo (2004) identificou trabalhos defendidos sobre Ensino

de Biologia entre 1972 e 2000. A pesquisadora usou como fonte de coleta de

informações as referências disponíveis no CEDOC da Faculdade de Educação da

Unicamp. Sobre a produção na área até 1995, o CEDOC produziu o catálogo “O

ensino de Ciências no Brasil: catálogo analítico de teses e dissertações, 1972-

1995” em que praticamente todas as teses e dissertações nas várias áreas da

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Educação em Ciências estão referenciadas e classificadas segundo vários aspectos.

Todavia, as informações da produção após 1995 ainda estão em fase de

consolidação, por meio de um novo projeto em desenvolvimento pelos

pesquisadores do CEDOC. A presente pesquisa integra-se a esse projeto e vem, ao

mesmo tempo, complementar o trabalho de Slongo no que se refere ao

mapeamento da produção na área do Ensino de Biologia.

Procedimentos metodológicos

O período de abrangência dos documentos que constitui nosso objeto de pesquisa

começa em 1972, porque esse é o ano em que os primeiros trabalhos sob a forma

de dissertações ou teses na área de Ensino de Ciências foram defendidos. Em

1972, houve a defesa de três trabalhos no campo da pesquisa sobre o Ensino de

Biologia, não havendo tese ou dissertação na área defendida antes dessa data. O

marco final é 2003, ano que estabelecemos para finalizar a coleta de dados junto a

diversas fontes de informação bibliográfica.

As informações explicitadas aqui foram obtidas a partir da consulta aos bancos de

teses da CAPES, do CEDOC, do IBICT (Instituto Brasileiro de Informação em

Ciência e Tecnologia) e da ANPEd. Além disso, cruzamos as informações obtidas

com o trabalho de Slongo (2004) e em bancos de teses dos programas de pós-

graduação de várias universidades, para garantir segurança no levantamento dos

trabalhos defendidos na área. Nos bancos de dados mencionados, foram coletados

informações gerais e os resumos das dissertações e teses que tinham, de alguma

forma, o Ensino de Biologia como objeto de estudo.

A partir da identificação desses documentos, foram organizados e classificados seus

respectivos resumos e referências bibliográficas. A leitura atenta dessas

informações permitiu a análise preliminar das pesquisas e o desenvolvimento de

uma classificação, conforme as seguintes categorias: a) ano de defesa e evolução

quantitativa da produção; b) distribuição geográfica; c) instituições onde os trabalhos

foram desenvolvidos; d) grau de titulação; e) nível escolar privilegiado pelas

pesquisas; f) principais focos de estudo; g) orientadores.

Utilizamos os resumos como fonte para a caracterização das pesquisas enfocando o

Ensino de Biologia, sem, no entanto, ignorar as limitações que esse meio de

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divulgação de pesquisa oferece. Todas as teses e dissertações estão sendo obtidas

por meio eletrônico ou impresso, para uma análise mais detalhada.

Resultados e discussão

No período compreendido entre 1972 e 2003 – que implica um intervalo de 32 anos

incluindo os extremos - encontramos 276 dissertações e teses sobre o Ensino de

Biologia. A evolução da produção pode ser visualizada mais facilmente no gráfico

abaixo.

A primeira característica que observamos é o crescimento da área em termos

quantitativos, mostrando que, desde o aparecimento dos primeiros trabalhos em

1972, a pesquisa voltada para o Ensino de Biologia expandiu-se, embora com

crescimento modesto até meados da década de 1990. Considerando todo o período,

a expansão desse campo de pesquisa acontece em sintonia com a área de Ensino

de Ciências e com a pesquisa educacional vista no sentido mais amplo, como

indicam os trabalhos de Lemgruber (1999, 2000), Megid Neto (1999), André (2001),

Slongo (2004) e Amaral (2005). Esse movimento de crescimento está associado ao

processo que se verificou nos últimos 20 anos de expansão e diversificação da pós-

graduação em Educação no Brasil (André, 2001). Como se observa, houve pequeno

crescimento até 1997, com algumas flutuações, mas é importante destacar que, nos

últimos sete anos, o número de trabalhos defendidos aumenta sensivelmente.

Verifica-se que 82,6% da produção neste campo está contida no período entre 1990

e 2003. A distribuição dessa produção indica uma média anual de pouco mais de 8

trabalhos por ano. A produção extrapola a média anual a partir do início dos anos

90, período que coincide com a criação de novos cursos de pós-graduação, alguns

dos quais, específicos para a área de Ensino de Ciências, potencializando a

pesquisa neste campo, e confirmando os dados obtidos por Slongo (2004), ao

assinalar que o campo de investigação está em significativo crescimento.

Figura 1 – Gráfico que representa a distribuição da produção acadêmica enfocando

o Ensino de Biologia ao longo das últimas quatro décadas.

Quanto à distribuição geográfica, detectamos que há uma distribuição bastante

concentrada nas regiões Sul e Sudeste; juntas elas perfazem 89,1% da produção

em termos de dissertações e teses sobre Ensino de Biologia. Na região Sudeste

encontra-se a maior parte dos trabalhos, totalizando aproximadamente 67% da

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produção. Foram encontrados trabalhos em 18 estados. Os estados em que a

freqüência da produção é maior são, por ordem decrescente: São Paulo: 144

trabalhos, Rio de Janeiro: 31; Santa Catarina: 28; Rio Grande do Sul: 26; e Minas

Gerais: 9 trabalhos.

Em referência à concentração das produções no eixo Sul-Sudeste, característica

também presente para o conjunto das pesquisas em Educação, Megid Neto (1999),

argumenta que “a baixa concentração de programas nas regiões Norte, Centro

Oeste e Nordeste restringe o desenvolvimento de pesquisas educacionais nessas

três regiões”. Esse quadro, segundo o autor, exige que muitas Instituições de

Ensino Superior, localizadas nessas regiões, encaminhem docentes de seus

quadros para realizar estudos de pós-graduação predominantemente em instituições

do Sudeste e Sul, correndo o risco de perder parte desses profissionais, que podem

não retornar para as instituições de origem após a titulação, dificultando assim a

abertura futura de programas de pós-graduação nessas localidades e reforçando a

dependência em relação ao eixo Sul-Sudeste.

Os dados de Megid Neto tomam por base o cenário da pesquisa no campo da

Educação em Ciências até o final dos anos 90. De lá para cá, o número de

programas de pós-graduação específicos nesse campo expandiu-se

consideravelmente com a criação da Área de Ensino de Ciências e Matemática na

CAPES. Alguns programas de mestrado e também de doutorado surgiram em

instituições do Norte, Nordeste e Centro-Oeste, o que poderá em médio prazo

alterar essa distribuição.

Outro autor que desenvolve considerações críticas a esse respeito é Amaral (2005).

Ele faz indagações sobre o quase monopólio das instituições do Sul e Sudeste,

sobretudo São Paulo, na produção de pesquisas na área do ensino de Ciências,

refletindo distorções do sistema educacional brasileiro, induzindo “a uma produção

acadêmica pouco compatível com os interesses e necessidades regionais” (idem, p.

36). Para corrigir tais distorções, seria preciso um plano estratégico implementado

em médio prazo, buscando reduzir a distribuição desigual dos programas de pós-

graduação nas diversas regiões brasileiras. Nesse aspecto, sabe-se que a

descentralização da pesquisa no Brasil é uma das metas do Plano Nacional de Pós-

Graduação, formulado pela Capes e com vigência entre 2005 e 2010.

Em relação às instituições onde se desenvolve a produção ao longo de todos esses

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anos, podemos mencionar que foram encontrados trabalhos em 57 diferentes

instituições. A produção se desenvolve predominantemente em instituições de

natureza pública, conforme sintetiza o gráfico a seguir:

Figura 2 – Distribuição da produção em Ensino de Biologia conforme a natureza da

instituição.

Foram encontrados 220 trabalhos defendidos em instituições públicas, sendo que

109 se referiam a instituições estaduais e 111 a instituições federais. Dentre as

instituições estaduais há nítido predomínio das instituições do Estado de São Paulo,

concentrando 96,3% das pesquisas. Dentre as instituições federais, há predomínio

respectivamente da UFSC, com 9%, e da UFSCar, com 4% dos trabalhos

defendidos na área.

Conforme o gráfico, somando-se o número de trabalhos defendidos em instituições

federais e estaduais, temos 80% da produção contida nesses dois segmentos. Os

20% restantes acontecem em universidades privadas, destacando-se a PUC-SP e

UNIMEP-Piracicaba, com 9 trabalhos; PUCCAMP, com 7; PUC-RJ e PUC-RS, com

5 trabalhos cada.

Tais informações são indicadores importantes para apontar o papel das instituições

públicas no desenvolvimento da Ciência no Brasil. A pesquisa científica e

tecnológica concentra-se nessas instituições, o campo de pesquisa educacional não

foge a essa realidade e a área de Ensino de Ciências também não. Nesse contexto,

entre os principais centros de produção de pesquisa na área estudada,

considerando a produtividade acadêmica mensurada em termos estritamente

quantitativos, destacam-se quatro instituições, todas elas de domínio público, as

quais concentram aproximadamente 44,2% da produção discente no campo do

Ensino de Biologia. São elas: a USP com 40 trabalhos; a UNICAMP com 30; a

UNESP-FC/Bauru com 27 e a UFSC com 25 trabalhos. A USP e a UNICAMP

possuem uma produção distribuída mais equilibradamente ao longo de todo o

período (1972-2004). A UFSC implantou linha no campo de Educação em Ciências

em 1986, enquanto a UNESP/Bauru concentra sua produção a partir do final dos

anos 90 e início dos anos 2000.

É provável que, nos próximos anos, os programas de pós-graduação vinculados

especificamente à área de Ensino de Ciências venham a se converter nos pólos

concentradores de pesquisas no campo ora estudado.

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Por enquanto, analisando o conjunto da produção objeto deste estudo, constata-se

que as faculdades, centros e departamentos de Educação sem dúvida são os

principais locais onde se realiza a pesquisa nessa área, concentrando praticamente

67% de toda a produção detectada até o momento. Os programas específicos na

área de Ensino de Ciências são responsáveis por 33 documentos (12%); e os

programas na área de Ciências Biológicas agregaram 12 documentos (4,3%). Além

disso, foram encontrados trabalhos em programas de Ciências Humanas; Química;

Bioquímica; Saúde Pública; Sexologia; Ciências Ambientais; Comunicação Social;

Psicologia; Tecnologia; Engenharia de Produção, Matemática e Computação. É

interessante notar que as investigações voltadas para questões relacionadas ao

ensino estejam presentes também em centros ligados às áreas mais específicas

como a Biologia, a Química e a Tecnologia. Isso demonstra uma preocupação com

o ensino antes não percebida com facilidade na academia, e também uma

tendência interdisciplinar típica de muitas investigações que reúnem objetos de

estudo não limitados a apenas uma disciplina.

No que tange à titulação, nos documentos analisados há claro predomínio das

dissertações de mestrado, constituindo 86,6% da produção, enquanto as teses de

doutoramento e livre docência representam 13,4% do volume investigado. Com

referência às dissertações, a produção cresce ao longo do período representado. O

mesmo se pode dizer das teses de doutorado, porém aí o crescimento é modesto e

não acompanha a taxa de crescimento das dissertações. Esses números podem

significar, por um lado, a dificuldade de mobilidade na academia, posto que muitos

alunos do mestrado não continuam seus estudos no doutorado; e, por outro lado,

podem também indicar que muitos dos alunos que fizeram pesquisas nessa área no

mestrado não mantiveram a mesma temática no doutoramento. No caso dos

trabalhos investigados, das 37 defesas de doutorado identificadas, apenas 24%

representam autores que também trabalharam com o Ensino de Biologia no

mestrado.

Ainda em relação à titulação, os números encontrados até aqui, em termos de

evolução quantitativa, se cotejados com a produção discente em Educação, no

período de 1986 a 1998, que soma 7.568 estudos segundo o CD-ROM - ANPEd

(1999), indicam similar proporção entre documentos de mestrado e doutorado.

Segundo a ANPEd, no período mencionado temos 6.449 dissertações (85,2%) e

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1.119 teses (14,8%), apontando uma relação dissertações/teses equivalente à

encontrada para as pesquisas que enfocam o Ensino de Biologia (dissertações

86% e teses 14%). Isso mostra que a distribuição da produção de dissertações e

teses nessa área acompanha o ritmo de desenvolvimento da pesquisa em educação

no Brasil em programas de pós-graduação.

A partir de 1997 começam a surgir programas de pós-graduação vinculados

estritamente à área do Ensino de Ciências, tais como os presentes na UFSC

(Educação Científica e Tecnológica); UFRPE; UNESP-Bauru; UEFS/UFBA etc.

(Nardi, 2005).

Bom exemplo dessa tendência é o Instituto Oswaldo Cruz, uma das unidades da

Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, de onde surgiram alguns trabalhos na

área de ensino de Biologia dentro do Programa de Pós-Graduação em Biologia

Celular e Molecular.

Um outro detalhe interessante aparece quando procuramos identificar os principais

centros onde se encontram os cursos de doutorado. Nesse caso, é flagrante a

liderança da Faculdade de Educação - USP, com 17 documentos identificados, ou

seja, aproximadamente 46% da produção em nível de doutorado. Outra instituição

importante nesse contexto é a UNICAMP, com 7 defesas. Das 57 instituições em

que encontramos trabalhos abordando o ensino de Biologia, apenas 15 (26,3%)

apresentaram trabalhos de doutoramento. Esse baixo percentual de instituições que

oferecem cursos de doutorado pode explicar parte das dificuldades encontradas

pelos discentes, em termos de mobilidade do mestrado para o doutorado.

Outra característica analisada refere-se ao nível escolar sob enfoque nos trabalhos

acadêmicos. Em linhas gerais, podemos detectar preocupação dos autores com um

ou mais níveis escolares, sendo eles: Ensino Fundamental (EF); Ensino Médio

(EM) e Educação Superior (ES). Há trabalhos discutindo questões relacionadas ao

Ensino de Biologia num âmbito mais genérico; outros enfocando um nível

específico; ou dois níveis conjuntamente; e ainda, investigações trabalhando

questões relacionadas ao Ensino de Biologia em processos e ambientes não

escolarizados (museus, parques, zoológicos etc).

A tabela apresentada a seguir nos permite visualizar de forma sistematizada essas

informações. Observando os números encontrados verifica-se a predominância de

trabalhos voltados para o Ensino Médio e Educação Superior. No caso da

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Educação Superior, o número de trabalhos encontrados perfaz 108 documentos

isoladamente ou em conjunto com outros níveis (EF+ES; EM+ES; ES), ou seja,

aproximadamente 39,1% dos trabalhos que compõem a pesquisa.

O forte interesse neste nível de ensino é constatado também por outros trabalhos,

como, por exemplo, Megid Neto (1999), ao analisar a produção em Ensino de

Ciências; e Slongo (2004), ao investigar teses e dissertações sobre o Ensino de

Biologia. A nosso ver, a concentração de trabalhos enfocando o nível superior

ocorre em função de pelo menos duas situações: i) A fase inicial da pós-graduação

no país esteve ligada à expansão das vagas na universidade, à conseqüente

melhoria da formação dos quadros docentes das Instituições de Ensino Superior e

às exigências de titulação acadêmica para ingresso ou ascensão na carreira do

magistério superior (Megid Neto, 1999). Daí a tendência em focalizar as

investigações em questões relacionadas ao ensino superior, posto que ainda eram

poucos os mestrandos e doutorandos a acumular experiências e contato com a

escola básica; ii) Por outro lado, analisando as temáticas de estudo prevalentes ao

longo dos 32 anos abarcados pelo estudo, mantém-se intenso interesse nas

questões relacionadas à Formação de Professores (inicial e continuada) e análise de

cursos de formação (Currículos e Programas), focos temáticos com forte ligação à

Educação Superior.

No que concerne aos trabalhos que investigam problemas associados ao Ensino

Médio, foram encontrados 119 documentos (EF+EM; EM+ES; EM), correspondendo

a 43,1% da produção analisada. A significativa presença de trabalhos dedicados à

escola secundária se explica dado que o Ensino de Biologia – em termos de

educação básica – aparece como disciplina específica neste nível de ensino. Isso

também explica a quantidade menor de trabalhos dedicados ao Ensino

Fundamental (22,1%), posto que, nesse nível de ensino, a Biologia está diluída nos

conteúdos de Ciências Naturais. Outro fator explicativo para a baixa incidência de

trabalhos vinculados ao Ensino Fundamental, em contraponto ao número de

documentos dedicados ao Ensino Médio e à Educação Superior, é que os

pesquisadores que se aproximam e se dedicam a esse campo de estudo o fazem

em função de sua formação de graduação na área de Ciências Biológicas. Muitos

pesquisadores são professores de Biologia em cursos de nível médio e superior,

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daí a tendência no privilegiamento desses níveis em detrimento de investigações

enfocando o Ensino Fundamental.

Ainda com relação à distribuição dos trabalhos por nível de ensino, destacamos o

número reduzido de pesquisas abordando questões de educação em processos não

escolarizados e que lidam genericamente com o ensino de Biologia, além dos

trabalhos articulando o estudo de dois diferentes níveis.

Um detalhe chama atenção quando somamos os trabalhos dedicados

especificamente a um nível de ensino, cifra que totaliza 79,7% da amostra. Ao

analisar esse número, levando em consideração as problemáticas investigadas,

revela-se a tendência de estudo de realidades específicas, fato característico das

pesquisas em Educação nas últimas décadas (por exemplo: os estudos de caso).

Essa tendência é apontada por vários autores (André, 2001; Alves-Mazzotti, 2001;

Gatti, 2001, 2003). Entre eles, destaca-se Alves-Mazzotti (2001), ao observar que

nos últimos anos os “estudos costumam ser restritos a uma situação muito

específica”, e as razões para explicar essa tendência se referem à preocupação dos

pesquisadores, sobretudo os iniciantes, com a aplicação imediata dos resultados. Os

pesquisadores “permanecem colados em sua própria prática, dela derivando o seu

problema de pesquisa e a ela buscando retornar com aplicações imediatas dos

resultados obtidos” (Alves-Mazzotti, 2001, p. 41, grifo da autora). Outro aspecto a

destacar, quando novamente analisamos as problemáticas investigadas, refere-se à

grande preocupação dos autores com a repercussão de suas pesquisas na sala de

aula. Aliás, essa é tendência já apontada por Mortimer (2002), revelando o

compromisso da área de Educação em Ciências no Brasil, no sentido de auxiliar

professores em sala de aula e formuladores da política educacional a tomar

decisões para melhorar a qualidade de ensino, embora nem sempre as pesquisas

consigam garantir isso, seja pelas suas próprias limitações, seja pela distância

existente entre os pesquisadores e os técnicos que administram a educação

brasileira.

Quanto aos focos temáticos, a análise dos documentos da amostra detectou a

presença dos seguintes: Formação de Professores (58); Conteúdos e Métodos (57);

Características dos Alunos (55); Recursos Didáticos (53); Característica dos

Professores (51); Currículos e Programas (48); Formação de Conceitos e Mudança

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Conceitual (22); História e Filosofia da Ciência (16); Educação em Processos não

Escolarizados (6); e outros focos (34).

Esclarecemos que os números entre parênteses representam a quantidade de

trabalhos detectada em cada foco de pesquisa, considerando que na maioria dos

casos os pesquisadores trabalharam com mais de um foco de investigação.

Até o final dos anos 80, o foco temático mais significativo é Conteúdos e Métodos,

com trabalhos que caracterizam a relação conteúdo e forma, analisam a aplicação

de diferentes métodos e técnicas; planejam, aplicam e avaliam o impacto de

alternativas metodológicas; e caracterizam determinados conteúdos no processo de

ensino. Essa linha de pesquisa não perdeu espaço nos últimos anos, sendo um dos

focos que concentra maior número de trabalhos (20,6% dos documentos). Outras

linhas com destaque são Formação dos Professores; Características dos

Professores; e Currículos e Programas. Em relação à Formação de Professores

merecem atenção os trabalhos que analisam processos de formação inicial e

continuada, que somam juntos 58 estudos (21%). Quanto às Características dos

Professores, foram encontrados 51 documentos, a larga maioria contida a partir dos

anos 90, com pesquisas que identificam concepções e representações dos

professores, analisam suas práticas e constroem diagnósticos das condições

profissionais (perfil dos professores). Ao somar o número de trabalhos que, de

alguma forma, tratam de questões relacionadas aos professores, encontramos 102

documentos (37%), revelando forte interesse dos pesquisadores por essa temática.

No caso do foco Currículos e Programas (17,4% da amostra), temos investigações

que avaliam currículos de cursos, apresentam propostas curriculares, a inserção de

disciplinas em propostas de cursos de formação, relações do currículo com os

exames vestibulares, e relações dos currículos de Biologia com necessidades

formativas para o mundo contemporâneo, dentre outras temáticas.

Na categoria Recursos Didáticos encontramos 53 documentos (19,2%).

Predominam estudos analisando livros didáticos (28 trabalhos), principalmente a

partir de 1990; há também trabalhos investigando o emprego de filmes, kits de

experimentos e experimentação, mapas conceituais, jogos, revistas de divulgação

científica, informática e novas tecnologias.

Outras duas linhas importantes são as que tratam de Características dos Alunos,

suas concepções, representações, perfil sociocultural, diagnósticos de perfil de

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aprendizagem, comportamentos, atitudes etc, e que estudam os processos

vinculados a concepções espontâneas, formação e mudança conceitual (Formação

de Conceitos) dentro dos referenciais construtivistas. Esses documentos

totalizaram 56 (20,3%) trabalhos, com significativa concentração a partir dos anos

90.

A categoria ‘História e Filosofia da Ciência’ foi temática contemplada em 16 (5,8%)

documentos, todos encontrados também a partir da década de 1990, abordando

aspectos relacionados à História e Filosofia da Ciência e seu emprego no ensino e

aprendizagem de Biologia.

Finalmente, cabe assinalar a presença de outros focos de investigação aparecendo

em número menor de documentos. Entretanto, são áreas promissoras, podendo

crescer no futuro próximo. São elas: Linguagem e Comunicação, com investigações

analisando a linguagem em manuais didáticos e outras mídias; presença de imagens

e ilustrações; analogias e metáforas, e temas afins; investigações no campo da

Educação Ambiental; Saúde; Orientação para a Sexualidade; relações CTS; Ética e

Bioética; estudos sobre avaliação do processo ensino-aprendizagem; propostas de

educação à distância; e finalmente o conceito de Interdisciplinaridade – sempre na

sua interface com o Ensino de Biologia. Apenas um trabalho do tipo Estado da

Arte foi encontrado neste estudo e seis trabalhos relativos a processos educacionais

desenvolvidos em ambientes não escolarizados (museus, centros de ciência e

zoológicos).

Outro aspecto a destacar se refere aos pesquisadores que ao longo desses anos

vêm orientando trabalhos nesse campo de investigação. É destacado o trabalho da

Profa. Myriam Krasilchik, com 12 orientações identificadas especificamente no que

tange ao Ensino de Biologia. Sem dúvida, Krasilchik é uma das pioneiras na área,

com trabalho significativo não só pelas orientações de dissertações e teses, mas

também pelos artigos, textos e livros publicados que dedicam reflexões sobre temas

vinculados a Biologia e seu ensino. No quesito orientação, constata-se uma

dispersão muito grande de pesquisadores que, ao longo do tempo, vem orientando

trabalhos na área. Ao todo, foram identificados 192 diferentes orientadores, sendo

que 176 (91%) orientaram no máximo dois trabalhos, caracterizando forte dispersão

e mostrando que não há ainda número significativo de orientadores estritamente

ligados à área de Ensino de Biologia. É possível que os pesquisadores estejam

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ligados a linhas de pesquisa no campo da Educação em Ciências, e não à

orientação de trabalhos específicos no campo do Ensino de Biologia. Contudo,

seria preciso estudar esta questão de forma aprofundada para termos condição de

fazer inferências a esse respeito.

Com efeito, é importante que a área de pesquisa tenha nomes de referência e

pesquisadores reconhecidos, geralmente coordenadores ou responsáveis pela

consolidação de grupos de pesquisa, pois esse é um sinal de maturidade e de

consolidação do campo de investigação. Autores como Alves-Mazzotti (2001, p. 40)

defendem que é visível, no campo da pesquisa em Educação, a “quase ausência de

equipes com articulação e continuidade suficientes para o estabelecimento de linhas

de investigação que favoreçam a produção de um corpo sólido e integrado de

conhecimentos e configuram um perfil próprio aos diferentes programas de pós-

graduação”, prevalecendo em muitos casos a pulverização de temas escolhidos.

Essa situação pode acontecer, por exemplo, em função dos mestrandos e

doutorandos que, em geral, escolhem seus problemas de investigação

isoladamente, sem vínculos com grupos e tradições de pesquisa.

Moreira (2004), ao analisar a pós-graduação e a pesquisa em Ensino de Ciências

no Brasil, também se refere à pulverização das pesquisas, assinalando que há uma

tendência na qual os pesquisadores conduzem ou orientam projetos de pesquisa

desarticulados, denunciando que praticamente não temos programas de pesquisa:

“[...] é importante que nossos pesquisadores tenham linhas de pesquisa ao invés de

dispersar esforços em investigações isoladas, pontuais e pouco significativas” (p. 3).

Os dados encontrados aqui, referentes à questão da orientação, parecem indicar

essa tendência à dispersão, isolamento e fragmentação.

Considerações Finais

Para finalizar, é conveniente tecer algumas considerações de âmbito geral. Foi

possível verificar que a área de pesquisa em Ensino de Biologia está em franco

crescimento, fenômeno vinculado ao processo de expansão e consolidação da Pós-

Graduação em Educação no Brasil. Mas nota-se uma particularidade: a pesquisa em

Ensino de Biologia não cresce de maneira similar à área de Ensino de Ciências;

até meados da década de 90 o crescimento era muito baixo relativamente; daí por

diante, passa a uma intensa expansão, proporcionalmente superior aos índices da

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pesquisa em Educação em Ciências. Tentar explicar esse fenômeno poderá ser

objetivo para futura pesquisa. Contudo, o avanço no volume de defesas é um dado

indubitável, sobretudo a partir da segunda metade dos anos 90, mas é preciso

avaliar com mais cuidado o impacto dessa produção sobre a área de pesquisa em

Ensino de Ciências e suas relações com propostas voltadas para a melhoria do

ensino em todos os níveis. A produção se concentra em instituições de caráter

público, sobretudo faculdades e centros de Educação, e tende, no futuro próximo, a

se intensificar nos programas específicos de Educação em Ciências. Foram

encontrados trabalhos em 18 estados, mas a produção na maioria deles é residual.

Está aí um dado preocupante, referente à concentração das pesquisas do ponto de

vista geográfico, caracterizando a centralidade do Sul e Sudeste, que vai contra os

interesses regionais vinculados a outras localidades do país. Acreditamos que a

criação de programas específicos em Educação em Ciências nas regiões Norte,

Nordeste e Centro-Oeste, desde o final dos anos 90, brevemente poderá reverter

esse quadro.

Em termos de nível de titulação prevalecem as dissertações de mestrado. Nota-se

que a produção acadêmica em Ensino de Biologia acompanha a cadência da

produção dos Programas de Pós-Graduação em Educação brasileiros, em que as

teses de doutoramento representam apenas 14% das defesas até fins da década de

1990. Esse quadro é estável nos anos recentes e, deste modo, seria relevante

investigar as causas desse gargalo dificultador da passagem do mestrado para o

doutorado e que parece ser realidade também para os estudantes que atuam no

campo da pesquisa em Ensino de Biologia.

Quanto ao nível escolar investigado, predominam pesquisas dedicadas ao Ensino

Médio e à Educação Superior, destacando-se o baixo índice de estudos dedicados

ao Ensino Fundamental. Em relação às problemáticas investigadas, é visível a

preocupação com a aplicabilidade dos resultados e a pulverização dos temas de

pesquisa. A situação encontrada, na maioria das vezes, foi a de investigações que

tomam como foco de estudo mais de uma temática, combinando problemáticas que

se interpenetram na realidade de sala de aula (Ex: formação de professores;

conteúdos e métodos; recursos didáticos etc). As problemáticas investigadas

configuram uma agenda de pesquisa que até aqui vem se dedicando a estudos

envolvendo os professores de Biologia (sua formação, suas concepções e práticas);

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os alunos (suas características, concepções etc); currículos e programas; recursos

didáticos, concepções espontâneas e formação de conceitos (alunos e professores),

além de conteúdos e métodos. A partir de 1990 surgem novas temáticas, ligadas a:

temas interdisciplinares, linguagem e comunicação, História e Filosofia da Ciência.

Destaque-se o pequeno número de trabalhos dedicados a investigar um conjunto de

pesquisas (revisão bibliográfica e estados da arte), os processos educativos em

ambientes não escolarizados e os processos de avaliação. As informações sobre os

orientadores sinalizam para uma tendência à dispersão e isolamento, com um

trabalho ainda pouco articulado entre diferentes orientadores, inclusive dentro de um

mesmo programa, refletindo a quase ausência de grupos de pesquisa específicos na

área.

Esperamos com este trabalho ampliar a divulgação das pesquisas no campo do

Ensino de Biologia e desenvolver descrições e análises que permitam

compreender melhor a formação dessa área de pesquisa no Brasil.

REFERÊNCIAS

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AMARAL, I. A. Tendências atuais das pesquisas no ensino de Ciências. In: In: ROSA, M. I. P. (Org.). Formar: encontros e trajetórias com professores de ciências. São Paulo: Escrituras, 2005. p. 31-40.

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UM PANORAMA DA PRODUÇÃO ACADÊMICA EM ENSINO DE BIOLOGIA

DESENVOLVIDA EM PROGRAMAS NACIONAIS DE PÓS-GRADUAÇÃO

Iône Inês Pinsson Slongo [[email protected]] Centro de Educação – Universidade Comunitária Regional de Chapecó – UNOCHAPECÓ

Demétrio Delizoicov [[email protected]] Centro de Educação – Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC

Resumo

Um estudo realizado, com base em pesquisas que tiveram como objetivo

caracterizar a produção acadêmica na forma de teses e dissertações em Ensino de

Ciências, apontou a existência de uma lacuna quanto à produção acadêmica em

Ensino de Biologia. Nesse sentido, uma investigação sobre teses e dissertações

em Ensino de Biologia foi realizada.

Foram analisadas 130 pesquisas desenvolvidas em programas nacionais de pós-

graduação, no período entre 1972 e 2000. Neste artigo, explicitam-se alguns dados

obtidos, notadamente aqueles que mostram a extensão e a intensidade alcançada

pela área ao longo de quase três décadas de história. Detectou-se um crescimento

significativo da área nos anos 90, sobretudo no período entre 1997 e 2000, quando

cerca de um terço da produção identificada foi desenvolvida. Argumenta-se que este

dado é um importante indicativo da consolidação de uma comunidade nacional de

investigadores como, também, de grupos e linhas de pesquisa em Ensino de

Biologia.

Palavras-chave: Características da pesquisa em Ensino de Biologia; Análise de

teses e dissertações; Parâmetros epistemológicos; Fleck.

Introdução

A pesquisa educacional no Brasil tem, atualmente, como locus principal os

programas de pós-graduação implantados e sediados nas universidades desde

1970. Particularmente, os programas de pós-graduação stricto sensu registram uma

história que pode ser considerada recente. Os primeiros cursos de mestrado na área

da Educação foram implantados em meados da década de 60. Na área da educação

científica, o pioneirismo foi marcado, no início da década de 70, pelas iniciativas do

Instituto de Física da Universidade de São Paulo - USP, com o Mestrado em Ensino

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de Ciências (modalidade Física), em conjunto com a Faculdade de Educação, e pelo

Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS, com o

Mestrado em Física e área de concentração em Ensino de Física.

Nas décadas de 80 e 90, a pesquisa educacional no Brasil experimentou um

crescimento surpeendente, favorecido, entre outros fatores, pela criação de novos

programas.

Neste contexto, as pesquisas que tomaram como objeto de estudo o Ensino de

Biologia despontaram vagarosamente, muito embora os primeiros estudos estejam

datados do início dos anos 70. Atualmente, a área registra um crescimento

importante e conta com um significativo acervo de teses e dissertações.

Ao realizarmos uma revisão de pesquisas que tomam como objeto de estudo a

produção discente na forma de teses e dissertações de programas nacionais de pós-

graduação, notadamente nas áreas de Educação (GAMBOA, 1987); Educação

Matemática (FIORENTINI, 1994); Ensino de Física (MEGID, 1990; PIERSON,

1997); Ensino de Ciências (MEGID, 1999) e Ensino de Ciências Físicas e

Biológicas (LEMGRUBER, 1999, 2000), detectamos que esses estudos, além de

importantes contribuições que trouxeram para identificar e sistematizar

características sinalizadoras do perfil da produção acumulada pelas respectivas

áreas, acabaram por apontar uma lacuna existente no que diz respeito à produção

acadêmica acumulada pela área Ensino de Biologia. Diante da demanda

colocada/identificada, algumas questões nos desafiaram: qual a trajetória descrita

pela área de investigação Ensino de Biologia? Que características possuem as

teses e as dissertações desenvolvidas? Quais os pressupostos teóricos que as

inspiram? Quais as temáticas priorizadas? Que tendências metodológicas as têm

norteado? É possível localizar tendências de pesquisa no conjunto da produção

nacional? Como essas tendências surgiram e foram transformadas? É possível

identificar grupos de pesquisa?

Nesse sentido, um estudo específico sobre a produção acadêmica em Ensino de

Biologia foi desenvolvido (SLONGO, 2004). A pesquisa inventariou teses e

dissertações defendidas no período entre 1972, data das primeiras defesas, e 2000.

Além de explicitar uma visão panorâmica da produção acumulada pela área, a

pesquisa, da qual este artigo é um extrato dos dados quantitativos, desenvolveu

uma análise histórico-epistemológica sobre as teses e dissertações identificadas,

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explicitando tendências de pesquisa manifestas ao longo do período estudado. No

presente artigo serão priorizadas informações que oferecem mais a visão

panorâmica da área do que a análise epistemológica. No entanto, apenas esse

aspecto já evidencia o vigor e a intensidade alcançada pela pesquisa em Ensino de

Biologia, desenvolvida ao longo de quase três décadas de história.

No foco da investigação realizada estiveram as pesquisas que tomam como objeto

de estudo o Ensino de Biologia, isto é, o ensino de conteúdos pertinentes ao

campo da Biologia ou das Ciências Biológicas, independentemente do nível escolar

ou da modalidade curricular em que este ensino ocorre. Não foram incluídos na

pesquisa os estudos relacionados à Educação Ambiental, Saúde e

Orientação/Educação Sexual.

Procedimentos metodológicos

No estudo citado, estiveram no foco da análise realizada 130 teses e dissertações

em Ensino de Biologia produzidas em programas nacionais de pós-graduação e

defendidas no período entre 1972 e 2000.

A identificação deste universo deu-se por meio de incursão no Catálogo Analítico de

Teses e Dissertações do Centro de Documentação em Ensino de Ciências -

CEDOC/UNICAMP (MEGID, 1998), focalizando as pesquisas elencadas na área de

conteúdo Biologia. Deu-se, também, através de incursão por resumos avulsos de

pesquisas desenvolvidas no período entre 1996 e 2000 e que não haviam sido

catalogados, ainda, pelo CEDOC.

Tendo localizado os estudos pertencentes à área Ensino de Biologia , realizamos

uma análise das respectivas referências bibliográficas e resumos, buscando dados

que nos fornecessem uma visão panorâmica sobre a produção da área. Nesse

sentido, procuramos identificar: o título do trabalho, o ano de defesa, autor, o

orientador, as palavras-chave, a instituição à qual pertence o programa onde o

estudo foi desenvolvido, titulação acadêmica obtida e nível de ensino investigado.

Os dados possibilitaram a construção de um quadro sinóptico que traduziu a

extensão e a intensidade da área, contribuindo para um delineamento do perfil da

produção acumulada.

Cabe argumentar que embora os conteúdos de Saúde, Educação Ambiental e

Educação/Orientação Sexual estejam associados à área de conteúdo Biologia,

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tanto no ensino fundamental quanto no médio, essas áreas não foram levadas em

conta na presente pesquisa, especialmente por constatarmos que há um volume

significativo de estudos já desenvolvidos, além do que cada uma dessas áreas

guarda certa especificidade, que passa necessariamente pela concepção de saúde,

meio ambiente e sexualidade. Portanto, averiguá-las sugere um estudo específico.

Resultados e análise

A tabela 01 mostra a distribuição das teses e dissertações ao longo do período

investigado, como também o significativo crescimento da área na última década.

Observa-se que mais de 50% das dissertações e 70% das teses foram defendidas

na década de 90, o que revela um notável crescimento dessa área de pesquisa na

última década analisada. O crescimento surpreendente do número de teses nesse

período pode ser atribuído ao volume de dissertações produzidas nas décadas de

70 e 80 (49,53%), principalmente se levarmos em conta o modelo seqüencial de

pós-graduação brasileiro, em que, de modo geral, o curso de mestrado antecede o

curso de doutorado. A criação de novos programas de pós-graduação que passaram

a oferecer essa titulação no país foi outro fator que contribuiu para a elevação do

número de teses desenvolvidas na década de 90.

A tabela 02 oferece maior detalhamento desses dados, mostrando certa volubilidade

das pesquisas em Ensino de Biologia na década de 70 e boa parte da década de

80. A partir de meados da década de 80, observa-se uma produção mais contínua e

crescente.

Chama a atenção a produção alcançada pela área a partir de 1987, quando mais de

70% dos estudos foram realizados. Particularmente sobre as teses em Ensino de

Biologia, verificam-se três defesas no início da década de 70, seguidas por um

interstício de 14 anos (1974 a 1987) em que não houve defesa alguma de tese.

Muito provavelmente são os mestres formados no período entre 1972 e 1987 que

retornam aos programas de pós-graduação a partir de 1988, impulsionando as

pesquisas em nível de doutorado. Conforme já argumentamos, esses dados

poderão resultar também do aumento da oferta de cursos no país com esse nível de

titulação. Assim, é possível inferir que a produção acadêmica brasileira em Ensino

de Biologia desenvolveu-se também à medida que foram surgindo novos cursos e

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novas áreas de concentração, e os programas já existentes foram sendo

consolidados, ampliando o número de vagas.

Por sua vez, a produção de pesquisas no nível de mestrado manteve-se mais

regular ao longo do período estudado, registrando um crescimento significativo a

partir do final da década de 80. Ao detectar comportamento similar com relação à

produção acadêmica em Ensino de Ciências no nível fundamental, Megid (1999)

atribui o fato, em boa medida, à ampliação de vagas e criação de novos programas

de pós-graduação.

Outro aspecto importante na identificação do perfil da produção acadêmica em

Ensino de Biologia é a localização dos trabalhos por instituições e programas,

conforme mostra a tabela 03.

Observa-se que a instituição que concentra maior número de pesquisas em Ensino

de Biologia nas três décadas é a USP, seguida pela UNICAMP, UFSC e UFSCar.

Cruzando os dados obtidos sobre a procedência das pesquisas e sua localização no

tempo, surgem os seguintes dados:

O quadro mostra que iniciativas pouco sistemáticas na área de Ensino de Biologia

marcaram a atuação dos programas de pós-graduação no período entre 1972 a

1986. Neste período, chama a atenção o volume significativo de trabalhos

produzidos pela UNICAMP.

Detectamos que esses estudos decorreram do programa temporário de mestrado

oferecido pelo Instituto de Matemática, Estatística e Ciência da Computação -

IMECC, em convênio com o Ministério da Educação, a fim de promover a melhoria

da qualidade do ensino de Ciências. A partir de 1987, os programas da USP,

UNICAMP, UFSC, UFSCar mostram seu potencial, com uma produção significativa e

mais sistemática. No início da década de 90, desponta o programa da UFSC, cuja

produção é comparável à da USP e da UNICAMP, no período equivalente. Além

deste, no mesmo período, chama a atenção a produção dos programas da UFRGS,

UNESP/Bauru, UFF, UNESP/Marília, UFU e UNIMEP, levando-nos a inferir sobre a

existência de grupos de pesquisadores que têm fortalecido a área Ensino de

Biologia com uma produção mais ordenada e sistemática. A produção da década

de 90, como um todo, mostra um salto quantitativo que, praticamente, dobra o

volume de trabalhos até então produzidos pela área.

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O cruzamento dos dados das tabelas 02 e 03, titulação versus instituição, fornece

novos dados:

Faz-se necessário destacar que esse Programa de Pós-Graduação, após 2000,

desenvolveu um volume considerável de pesquisas na área de Ensino de Biologia,

inclusive de teses, as quais, tendo em vista os recortes do presente estudo, não

foram aqui analisadas.

As 109 dissertações estão dispersas por 31 programas distintos, enquanto que as

20 teses estão localizadas especialmente nos programas da USP e UNICAMP.

Esses dados sinalizam a liderança desses programas, como, também, a

consolidação de algumas linhas de pesquisa.

Para verificar o nível de ensino priorizado pelas teses e dissertações analisadas,

seguimos a classificação apresentada pelo Catálogo Analítico do CEDOC (MEGID,

1998), para os estudos desenvolvidos até 1995. Para os demais trabalhos,

desenvolvidos entre 1996 e 2000, os quais ainda não haviam sido catalogados, o

nível de ensino foi, nesta ocasião, identificado, levando em conta os critérios

propostos pelo Catálogo Analítico, que já utiliza a nomenclatura proposta pela Lei

Federal nº 9.394/96, qual seja:

➢ Educação Infantil: trabalhos relacionados ao ensino de 0 a 6 anos;

➢ Ensino Fundamental: trabalhos relacionados ao 1º grau de modo geral, sem

especificar uma fase ou série. Poderá subdividir-se em 1ª fase (1ª a 4ª série) ou 2ª

fase (5ª a 8ª série) ou ensino supletivo, equivalente ao nível fundamental;

➢ Ensino Médio: estudos relacionados ao ensino médio, correspondendo ao antigo

2º grau, que inclui a modalidade Normal, antigo Magistério, ou ensino supletivo,

equivalente ao ensino médio;

➢ Ensino Superior: corresponde ao antigo 3º grau, envolvendo trabalhos voltados

aos processos educacionais no âmbito das instituições de ensino superior e

relativos às várias modalidades curriculares;

➢ Geral: pesquisas que discutem o ensino de Ciências no âmbito escolar de forma

genérica quanto ao nível escolar ou, ainda, que tratam dos vários níveis de ensino

formal sem haver uma abordagem mais específica para alguns deles;

➢ Outro: pesquisas que tratam da educação científica em processos não-

escolarizados ou não-formais de ensino. Os trabalhos aqui incluídos devem manter

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alguma relação também com o ensino escolar na área de Ciências. São, portanto,

classificados simultaneamente em outro nível dentre os anteriormente mencionados.

Considerando que muitos estudos investigam elementos do Ensino de Biologia

relativos a mais de um nível de ensino, essa prioridade foi mantida. Nesse caso, os

níveis de ensino contemplados no estudo comparecem em composição na tabela a

seguir.

Detectamos um volume significativo de trabalhos que têm como foco o Ensino de

Biologia no Ensino Superior, praticamente 30% dos estudos analisados. As teses e

dissertações voltadas à formação dos professores ou à análise de currículos e

programas garantem essa liderança. Essa preocupação com o Ensino de Biologia,

no nível superior, esteve presente ao longo de todo o período, e intensificada na

década de 90.

Na seqüência, encontram-se as pesquisas voltadas ao Ensino Médio, com

aproximadamente 25 % dos trabalhos analisados, também presentes ao longo de

todo o período. No descritor Outro, observamos que o desenvolvimento alcançado,

ao final da década de 70 e início de 80, deve-se às pesquisas desenvolvidas no

programa temporário do IMECC/UNICAMP, particularmente aquelas dedicadas a

testar novos métodos de ensino.

Por sua vez, ao final da década de 90 o descritor Outro volta a ser impulsionado,

neste momento, pelos trabalhos relacionados à formação continuada ou permanente

dos professores de Biologia. O Ensino de Biologia no nível fundamental, de modo

geral, ou relativo à segunda etapa, isto é, 5ª a 8ª série, passa a ser alvo das

pesquisas, especialmente na década de 90.

Detectamos a ausência de trabalhos na pré-escola, e sua escassez no primeiro

período do Ensino Fundamental (1ª a 4ª série). Um estudo mais específico dessa

ausência, sobretudo a relativa ao ensino de 1ª a 4ª série, parece ser necessário

para uma melhor compreensão do seu significado. No entanto, uma primeira

hipótese é que trabalhos sobre ensino de ciências que têm como foco essa fase da

educação fundamental, mesmo quando realizados por pesquisadores oriundos da

área de Ensino de Biologia, não explicitavam os indicadores que possibilitassem,

na pesquisa em pauta, identificar as dissertações e teses como sendo pesquisa em

Ensino de Biologia.

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A tabela 07 mostra a distribuição das teses e dissertações em Ensino de Biologia

por orientador (a), bem como a área acadêmica de origem deste. Foram

especificados aqueles orientadores que dirigiram mais de um trabalho de tese ou

dissertação. Os orientadores que tiveram apenas um trabalho sob sua direção foram

incluídos na categoria outros.

A tabela mostra dois grupos de trabalhos. O primeiro composto por 49 pesquisas,

isto é, 37,7% do total, orientadas por 25 pesquisadores, cuja origem acadêmica é a

área de Biologia. Observa-se que, deste grupo, 14 pesquisadores, ou seja, mais de

60%, têm apenas um trabalho sob sua direção. O segundo grupo, composto por 56

pesquisas, isto é, 43,1% do total, orientadas por 49 pesquisadores que procedem de

diferentes áreas acadêmicas. Dentre estas, destacam-se Física, com 12 trabalhos;

Pedagogia, com 9; Letras, com 7; Filosofia, Comunicação Social e Psicologia, com 5

cada uma; Matemática, com 4; História e Química, com 3 cada uma. Observa-se

ainda que 25 pesquisas, isto é, 19,2%, não apresentam esse dado, porque o estudo

não informa, porque não possui orientador (5 estudos) ou porque o dado não estava

disponível nas fontes consultadas (20 estudos).

Desse modo, no conjunto da produção acadêmica em Ensino de Biologia, o

volume de pesquisas orientadas por pesquisadores que procedem de diferentes

áreas acadêmicas supera o volume de pesquisas orientadas por pesquisadores com

formação em Biologia. Essa situação dos orientadores, provenientes de diferentes

áreas acadêmicas, assemelha-se à orientação de teses e dissertações em ensino

das demais disciplinas científicas que constituem objeto de investigação da área de

ensino de ciências, conforme análise de Delizoicov (2004). Ao considerar a

categoria epistemológica de Fleck (1986), “circulação intercoletiva” de idéias,

conhecimentos e práticas, Slongo (2004) destaca a intensa interação efetivada pela

pesquisa em ensino de ciências com várias áreas do conhecimento. O fato é

relevante, uma vez que, conforme Fleck (1986), está no diálogo entre distintos

campos do saber a origem de novos problemas, conhecimentos e práticas e,

portanto, uma importante alternativa capaz de levar um campo do conhecimento à

transformação. Esta consideração, aliada ao significativo número de pesquisadores

com apenas um trabalho sob sua direção, é indicativo de que a comunidade de

pesquisadores em Ensino de Biologia, até o ano de 2000, pelo menos, ainda

estava em processo de constituição.

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Com relação à unidade da instituição, detectamos que o lugar privilegiado da

pesquisa em Ensino de Biologia tem sido os Centros ou Faculdades de Educação,

de onde procedem 71 pesquisas, ou seja, mais de 50% das pesquisas analisadas.

As demais, acham-se distribuídas entre os Institutos de Teologia, Biologia e

Matemática. Apesar de parecer oposto ao costume, foram localizados 5 estudos no

Instituto de Teologia e Ciências Humanas da PUC/RJ, e outros 12 no Instituto de

Matemática, Estatística e Ciência da Computação da UNICAMP, relativos ao

programa temporário de Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática,

anteriormente caracterizado.

Com o intuito de explicitar ainda mais o perfil dessa produção acadêmica, buscando

aproximações com tendências de pesquisa manifestas ao longo do período,

realizamos uma análise dos resumos das 130 teses e dissertações, procurando

identificar os aspectos do Ensino de Biologia que foram investigados. Extraímos

dos resumos das pesquisas as temáticas privilegiadas, agrupando-as a partir da sua

recorrência no conjunto dos trabalhos. Este procedimento possibilitou-nos agrupar

78 teses e dissertações, ou seja, 60% do total de pesquisas identificadas, assim

distribuídas entre as diferentes temáticas:

➢ Metodologia do Ensino: aglutina 19 estudos, sendo 3 teses e 16 dissertações;

➢ Formação de Professores: aglutina 18 estudos, sendo 3 teses e 15 dissertações;

➢ Concepções alternativas/Pré-concepções/concepções espontâneas: aglutina 15

estudos, sendo 2 teses e 13 dissertações;

➢ História e Epistemologia da Ciência: agrupa 10 estudos, sendo 1 tese de livre

docência, 2 teses de doutorado e 7 dissertações;

➢ Currículo: aglutina 9 estudos, dos quais 3 são teses e 6 são dissertações;

➢ Recursos Didáticos: agrupa 3 estudos, todas dissertações;

➢ Ciência Tecnologia e Sociedade (CTS): agrupa 3 estudos, sendo 1 tese e 2

dissertações;

➢ Outros: esta categoria abriga 1 dissertação que trata da formação de conceitos

pelos alunos.

Ao verificar a ocorrência dessas temáticas, ao longo do período estudado,

observamos o seguinte:

Observa-se que as temáticas Metodologia do Ensino, Formação de Professores e

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Currículo estiveram presentes ao longo de todo o período, com significativo

crescimento da temática Formação de Professores na última década. Por sua vez,

os estudos que investigam Concepções Alternativas dos alunos, elementos da

História e Filosofia da Ciência ou CTS comparecem com expressão nos anos 90.

Esses dados mostram grande sintonia das investigações em Ensino de Biologia

com aquelas estudadas por Fiorentini (1994), Pierson (1997), Megid (1999), Megid

et al. (1999) e Lemgruber (1999, 2000), nas áreas de Educação Matemática, Ensino

de Física, Ensino de Ciências no ensino fundamental, e o Ensino de Ciências

Físicas e Biológicas, respectivamente. A semelhança a ser explicitada, diz respeito

especialmente aos novos rumos que as pesquisas nas áreas citadas assumem no

Brasil, a partir de meados da década de 80, quando, com base em outra perspectiva

epistemológica, novos problemas passaram a desafiar as pesquisas em Ensino de

Ciências, além das dimensões didático-metodológica e psicológica que marcaram os

anos 70 e início dos anos 80.

As instituições, nas quais os trabalhos dos oito grupos identificados foram

desenvolvidos, também foram analisadas. Os dados estão na tabela abaixo.

Alguns dados chamam a atenção, como, por exemplo, a concentração dos estudos

em Concepções Espontâneas, e História e Epistemologia da Ciência no programa

da USP, seguido pelo programa da UNICAMP e UNESP/Bauru. O destaque da

UNICAMP, na temática Metodologia do Ensino, deve-se aos trabalhos produzidos

no final da década de 70 e início da década de 80, no programa temporário de

Mestrado, desenvolvido no Instituto de Matemática, Estatística e Ciência da

Computação - IMECC. As temáticas Formação de Professores e Currículo, além de

comparecerem de modo contínuo ao longo de todo o período, acham-se dispersas

por diversas instituições.

Alguns indicativos de tendências de pesquisa

Após obter essa visão panorâmica sobre teses e dissertações em Ensino de

Biologia, produzidas em programas nacionais de pós-graduação, realizamos um

estudo desses documentos amparado em pressupostos epistemológicos defendidos

por Fleck (1986), especialmente a partir da argumentação do autor sobre a

existência de distintos coletivos de pensamento – isto é, coletivos que compartilham

conhecimentos e práticas - e seus específicos papéis no processo de produção e

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difusão do conhecimento. Com esta perspectiva, Fleck (1986) argumenta a

existência de círculos esotéricos – constituídos por investigadores que produzem

conhecimentos inéditos - e círculos exotéricos - constituídos por sujeitos que

compartilham, em distintos níveis de profundidade, conhecimentos produzidos por

círculos esotéricos – com o objetivo de analisar dinâmicas estabelecidas nas

interações decorrentes tanto da produção de conhecimentos como na da sua

difusão.

De modo semelhante a Delizoicov (2004), que faz uso destas categorias de Fleck

para fazer considerações epistemológicas sobre a área de investigação Ensino de

Ciências, pode-se ter como pressuposto que os professores de Biologia do ensino

básico constituem um círculo exotérico - uma vez que, salvo exceções, não

investigam problemas da área de Biologia e nem da de Ensino de Biologia - e que

os alunos que estão estudando e se apropriando das teorias biológicas constituem

outro círculo exotérico, foi-nos possível retomar o conjunto das 130 teses e

dissertações em Ensino de Biologia para uma análise pautada em tais elementos

epistemológicos. Passamos a associar os problemas investigados pelas teses e

dissertações com o processo de produção e disseminação dos conhecimentos na

área das Ciências Biológicas. Da utilização deste critério, surgiram as seguintes

categorias:

➢ Pesquisas relativas às atividades desenvolvidas pelo círculo exotérico dos

professores: aglutinou 105 pesquisas, cujos problemas privilegiam situações do

ensino, quais sejam, currículos, programas, recursos didáticos, formação de

professores, conteúdo e método e características do professor;

➢ Pesquisas relativas às atividades desenvolvidas pelo círculo exotérico dos

alunos: aglutinou 13 pesquisas, que têm como foco temático explícito o pensamento

do aluno, ou seja, a cognição;

➢ Pesquisas relativas à dinâmica de interação entre ambos os círculos

exotéricos (professores e alunos): aglutinou 11 teses e dissertações, cujos

problemas relacionam-se com a dinâmica de interação no processo de socialização

do conhecimento, como, por exemplo, aquelas que investigam o desempenho do

aluno frente a uma nova proposta de ensino.

A tabela 10 mostra a distribuição dessas pesquisas ao longo do período investigado.

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Observa-se que as pesquisas, cujos problemas investigam os processos

organizados pelo círculo exotérico dos professores, alcançam índices expressivos,

isto é, representam 80,76 % do conjunto dos trabalhos analisados. Ou seja, ao longo

do período estudado, a área tem priorizado problemas relativos a currículos,

programas, recursos didáticos, formação de professores, conteúdo e método, entre

outros. Essas pesquisas obtiveram um crescimento significativo ao final da década

de 80 e ao longo de toda a década de 90, quando o volume de pesquisas

praticamente dobrou (65,7%) em relação ao produzido no período anterior (33,3%).

Os estudos, cujos problemas investigam o processo de apropriação do

conhecimento pelo círculo exotérico dos alunos, representam 10% das pesquisas

em análise e comparecem de modo significativo a partir da década de 90, mostrando

um discreto crescimento.

Por sua vez, os estudos, cujos problemas investigam a dinâmica de interação entre

ambos os círculos exotéricos no processo de socialização do conhecimento,

representam 8,4% do total de pesquisas analisadas e, como aqueles do grupo

anterior, comparecem de modo representativo na década 90.

Os dados chamam a atenção para o fato de as pesquisas relativas às atividades do

círculo exotérico (dos alunos) e às que integram os dois círculos exotéricos (de

alunos e professores) surgirem, salvo casos não localizados por esta investigação,

somente no final da década de 80. Esta nova perspectiva sinaliza a ocorrência de

transformações na área, seja na forma de conceber ou de promover a pesquisa em

Ensino de Biologia.

Com o objetivo de explicitar um pouco mais a natureza dos problemas investigados,

identificamos os focos temáticos nos quais as pesquisas em Ensino de Biologia

foram classificadas. Vale ressaltar que, para as pesquisas em Ensino de Biologia,

defendidas no período de 1996 a 2000, que não haviam sido catalogadas pelo

CEDOC, os focos temáticos foram por nós identificados, conforme especificações

contidas no Catálogo Analítico de teses e dissertações (MEGID, 1998). Este

exercício ofereceu-nos maior clareza quanto à problemática envolvida na pesquisa e

seus desdobramentos.

Observamos que, até meados da década de 80, as pesquisas em Ensino de

Biologia estiveram centradas nos focos temáticos Conteúdo-Método, Formação de

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Professores e Currículos e Programas. No período posterior, mesmo variando o

enfoque e a intensidade, esses focos temáticos mantiveram-se presentes.

É a partir da segunda metade da década de 80 que algumas mudanças importantes

se fizeram sentir na área. Muito provavelmente por influência dos pressupostos

construtivistas, decorrentes de pesquisas produzidas em outros países, as

pesquisas em Ensino de Biologia no Brasil passaram a manifestar uma mudança

de eixo. Conforme explicitamos anteriormente, de uma pesquisa essencialmente

centrada nos elementos do ensino e na atividade docente, ou seja, do círculo

exotérico dos professores de Biologia, passamos a localizar também estudos

relacionados aos elementos da aprendizagem e do ensino-aprendizagem,

relacionados às atividades do círculo exotérico dos alunos e de ambos os círculos

exotéricos de modo articulado. Nesse sentido, os focos temáticos Conteúdo-Método,

Formação de Professores e Currículos e Programas deixam de ser exclusivos.

Surgem os primeiros estudos que envolvem as Concepções Espontâneas,

Representações dos Professores, História e Filosofia da Ciência e CTS. A partir de

meados de 1997, os estudos que abordam essa perspectiva proliferaram

significativamente. Em maiores detalhes, o que encontramos foi o seguinte:

➢ No período de 1972 a 1976, as pesquisas situaram-se especialmente nos focos

temáticos Conteúdo-Método, Currículos e Programas e Formação de Professores;

➢ De 1977 a 1981, de um total de 17 pesquisas desenvolvidas, 14 situaram-se no

foco Conteúdo-Método de modo individual ou em composição com Currículos e

Programas e Formação de Professores. Neste grupo de trabalhos, encontram-se os

estudos desenvolvidos no programa temporário do IMECC/UNICAMP;

➢ No período que vai de 1982 a 1986, há um arrefecimento da área, cujo volume de

defesas é menor que o período anterior, mantendo a produção centrada nos

mesmos focos temáticos;

➢ De 1987 a 1991, a área retoma o crescimento, que se manifesta no volume de

estudos produzidos. Neste período, além da persistência dos focos temáticos

Conteúdo-Método, Formação de Professores e Currículos e Programas, observa-se

a emergência de novos focos temáticos: surgem os primeiros estudos envolvendo a

História e a Filosofia da Ciência (6 pesquisas) e Representações de professores (6

pesquisas) e alunos. Tais focos expressam a valorização, por parte das pesquisas,

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de novos elementos do processo educacional. Esse fato levou-nos a inferir sobre a

presença de novos pressupostos teóricos (concepção de conhecimento, concepção

educacional) a nortear as investigações em Ensino de Biologia;

➢ No período de 1992 a 1996, a área registra um crescimento importante,

abrigando quase 1/4 das pesquisas em análise. Os estudos em Concepções

Espontâneas (8 pesquisas), História e Filosofia da Ciência (5 pesquisas), Formação

de Professores (8 pesquisas), Currículo e Programas (16 estudos) comparecem de

forma mais regular e sistemática.

Detectamos, nesse período o primeiro estudo envolvendo as discussões em CTS. É

importante destacar que, especialmente a partir deste período, as pesquisas

passaram a priorizar mais de um foco temático, mostrando uma transformação na

concepção dos problemas de pesquisa, uma vez que no início do período estudado

detectamos inúmeros estudos classificados em apenas um foco temático;

➢ O período que vai de 1997 a 2000 abriga 30% das pesquisas em Ensino de

Biologia analisadas, dado que permite inferir sobre a consolidação da área. Os

focos temáticos História da Ciência e Filosofia da Ciência (11 estudos); Formação de

Professores (10 estudos); Concepções Espontâneas (7 estudos); Representação de

Professores (7 estudos); e Currículo e Programas (17 estudos), mantiveram-se

presentes com produção crescente em relação ao período anterior.

Além desses critérios relacionados diretamente aos problemas de investigação,

também procuramos averiguar o comportamento das pesquisas no enfrentamento

dos problemas que elas propuseram, uma vez que é crescente o debate em torno de

aspectos que envolvem a relação entre os resultados de pesquisa em ensino de

ciências e o ensino de ciências promovido nas escolas, a exemplo dos trabalhos de

Cachapuz (2000), Pietrocola (2002), Vaz et al. (2002), Delizoicov (2004, 2005) e

Rezende e Osterman (2005). Nesse sentido, os três grupos de trabalhos obtidos

pela utilização do critério anterior, isto é, pesquisas relacionadas ao círculo exotérico

dos professores, círculo exotérico dos alunos e a ambos os círculos (de professores

e alunos), foram novamente analisados, agora, a partir dos pressupostos adotados

pelos pesquisadores quanto ao papel da pesquisa na sua relação com o ensino.

Assim, procuramos obter informações que pudessem dar algum indicativo da

circulação intercoletiva (FLECK, 1986) de conhecimentos, idéias e práticas que

estariam ocorrendo entre a produção do círculo esotérico, composto por

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pesquisadores em Ensino de Biologia, e a dos círculos exotéricos mencionados.

Pela utilização deste critério, optou-se por considerar também dois grupos de

trabalhos cujas características se referem a:

➢ Pesquisas com intervenção: aglutina as pesquisas em que o investigador

interferiu no processo, introduzindo novos elementos e avaliando seus

desdobramentos.

➢ Pesquisas sem intervenção: aglutina as pesquisas em que o pesquisador se

ateve descrevendo o fenômeno estudado, sem intervir no sentido de alterá-lo.

A tabela 11 mostra os dados obtidos a partir da utilização deste critério, situando-os

no tempo.

Observa-se, nas três modalidades, o predomínio de pesquisas sem intervenção,

cujo índice alcança 63% do total de pesquisas analisadas, ao passo que as

pesquisas com intervenção perfazem um total de 35%. Essa prevalência de

pesquisas sem intervenção é observada ao longo de todo o período estudado,

exceto no intervalo, que vai de meados da década de 70 até meados da década de

80, quando as pesquisas relativas ao círculo exotérico dos professores

desenvolveram-se, predominantemente, na forma de pesquisas com intervenção.

Este predomínio de pesquisas com intervenção, no período citado, deve ser

analisado à luz do contexto educacional mais amplo, quando o Ensino de Ciências

orientava-se pela pedagogia tecnicista. O tecnicismo teve como meta otimizar o

papel da escola para que esta preparasse e integrasse os indivíduos ao sistema

vigente. Desse modo, fomentou soluções pragmáticas para os problemas do

ensino, estimulando o emprego das chamadas técnicas de ensino. Modalidades

como o ensino individualizado, a técnica da (re)descoberta, a instrução programada,

dentre outras, foram averiguadas e sugeridas pelas pesquisas desenvolvidas neste

período. Portanto, resulta deste contexto o predomínio de pesquisas com

intervenção, também na área Ensino de Biologia.

Ao longo de todo o período posterior, mostra-se uma inversão, quando as pesquisas

sem intervenção assumem e aprofundam essa liderança, mantendo-a até o final do

período estudado.

Considerações Finais

Mais de 30 anos de investigações em Ensino de Biologia é tempo suficiente para a

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área acumular um acervo de pesquisas, cujo volume e diversidade a tornam

merecedora de um estudo específico. A investigação que realizamos teve a

pretensão de contribuir para aglutinar esses estudos e explicitar suas principais

características. A visão panorâmica obtida possibilitou uma caracterização geral da

produção acumulada, como, também, a localização de alguns dados que acenam

para o atual "estado do conhecimento" atingido pela área.

Explicita o desenvolvimento espetacular alcançado na década de 90, fato que nos

levou a inferir sobre a consolidação de uma comunidade nacional de investigadores

em Ensino de Biologia.

Um aprofundamento desta identificação e caracterização das teses e dissertações

em Ensino de Biologia, por meio de uma análise histórico-epistemológica

(SLONGO, 2004), realizada com o objetivo de explicitar o movimento histórico de

construção da área de investigação e da comunidade nacional de investigadores em

Ensino de Biologia, permitiu explicitar as características da pesquisa desenvolvida

nas três décadas em análise. Com procedimento semelhante ao adotado por

Delizoicov (2004), para analisar a produção oriunda de teses e de dissertações

sobre Ensino de Ciências e de Física, defendidas em programas de pós-graduação

no Brasil, foi utilizada a mencionada categoria coletivo de pensamento (FLECK,

1986) para uma imersão nos textos das teses e dissertações em Ensino de

Biologia.

Isso possibilitou identificar características compartilhadas por cada um dos grupos

de trabalhos, ou, o que Fleck (1986) denomina de estilo de pensamento

compartilhado pelos pesquisadores que compõem determinado coletivo ou grupo.

De modo particular, os pressupostos teóricos e as práticas de pesquisa estiveram

em nosso foco de análise.

Conforme explicitamos, movimentos de transformação foram detectados quando, de

uma pesquisa essencialmente centrada em questões de cunho didático-

metodológico, enfrentados a partir de uma perspectiva educacional tecnicista, que

marcou os anos 70 e início de 80, a área passou a incorporar aspectos

sociopolíticos e culturais da educação científica.

Diversificou tanto os focos temáticos como os modos de enfrentamento dos

problemas de pesquisa propostos. Esse processo de transformação foi intensificado

nos anos 90, período em que a pesquisa em Ensino de Biologia passou a ocupar-

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se também com os conhecimentos prévios dos alunos, com a formação de conceitos

e as representações dos professores. Teve como pressuposto que os sujeitos do

conhecimento, isto é, alunos, professores e inclusive pesquisadores, nas suas

interações com os objetos do conhecimento, não são neutros.

Portanto, têm uma participação ativa e distinta daquela que supunha a perspectiva

empirista no processo de produção do conhecimento. Desse modo, concluímos que

a pesquisa em Ensino de Biologia desponta no Brasil, num contexto

epistemológico empirista/positivista e, gradativamente, à medida que a área vai se

consolidando, passa por transformações, pautando-se por pressupostos

explicitamente não-empiristas.

A dinâmica de transformação, detectada na área, traduz o percurso histórico de

constituição e consolidação de uma comunidade nacional de investigadores em

Ensino de Biologia. Este processo foi permeado por uma intensa circulação inter e

intracoletiva de conhecimentos, idéias e práticas (FLECK, 1986).

Por outro lado, uma continuidade na busca de indicadores da produção ocorrida

após 2000, último ano considerado na investigação, poderia contribuir para um

aprofundamento da compreensão dessa área de pesquisa. Por exemplo, se as

transformações identificadas ao longo do período, inferidas com base nos problemas

e focos de investigação surgidos a partir da década de 90, são consolidadas, e se

outros surgiram, principalmente devido à intensificação da disseminação de

processos institucionalizados dos resultados da pesquisa, tais como o Encontro

Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências (ENPEC), o Encontro Perspectivas

do Ensino de Biologia (EPEB) e os encontros Nacional e Regionais de Ensino de

Biologia (ENEBIO E EREBIO).

Os anais destes eventos, do mesmo modo que os artigos publicados nas revistas,

são fontes de dados que também fornecem informações que precisam ser obtidas e

analisadas, como mostram os trabalhos de Lopes et al. (2005) e Cachapuz et al.

(2005), relativamente à produção da área de Didática das Ciências publicada em

periódicos internacionais.

REFERÊNCIAS

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TEMAS CIENTÍFICOS CONTEMPORÂNEOS NO ENSINO DE BIOLOGIA E FÍSICA

Tatiana Galieta Nascimento Marco A. S. Alvetti

TÓPICOS DE BIOLOGIA CONTEMPORÂNEA E FÍSICA MODERNA E CONTEMPORÂNEA NOS CURRÍCULOS ESCOLARES

Você é professor(a) de Física, está em sala e, antes mesmo de começar sua aula,

um estudante aproxima-se com a seguinte pergunta: Professor(a), você viu no jornal

que Plutão deixou de ser planeta? Caso você seja professor(a) de Biologia

provavelmente já deve ter sido questionado algum dia sobre a possibilidade de

clonagem de seres humanos ou as maravilhas das células-tronco. Na maioria das

vezes, essas perguntas nos pegam de surpresa pelo fato de não termos

contemplado em nosso planejamento de curso esses assuntos.

Tais questionamentos têm feito, a nós professores de ciências, de uma forma geral,

refletirmos sobre os temas que selecionamos para ensinar em nossas aulas. Além

disso, por trás da discussão sobre a seleção dos conteúdos temos um debate mais

amplo que nos remete à relevância social, cultural e política do ensino de ciências

que nos faz avaliar o porquê de termos presentes determinados conhecimentos em

sala de aula.

Pensando especificamente no ensino de Biologia e de Física, percebemos a

estabilidade de determinados conteúdos da Ciência clássica no currículo do ensino

médio (EM). No ensino de Biologia, por exemplo, encontramos conhecimentos de

Citologia, Fisiologia (humana e vegetal) e Genética clássica desenvolvidos no século

XIX. O mesmo tem sido observado no ensino de Física ao constatarmos que

conteúdos da Mecânica Clássica, Óptica Geométrica e Eletrostática, por exemplo,

predominam nas aulas. No mundo contemporâneo esses conhecimentos, quando

contextualizados socialmente, tornam-se importantes tanto para a inserção do

cidadão no mercado de trabalho quanto para uma melhor compreensão dos

fenômenos da natureza bem como dos artefatos tecnológicos que estão à sua volta.

A isso também se acrescenta o fato de que a Ciência esteve e está presente em

decisões socialmente significativas, legitimando discursos. Se não temos esses

conhecimentos, no mínimo como ferramenta para negociações, não podemos

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sequer questionar ou nos posicionar acerca de importantes decisões que nos

envolvem.

Exatamente por isso os conhecimentos científicos modernos e contemporâneos não

podem ficar de fora do escopo escolar.

Além disso, por trás da discussão sobre a seleção dos conteúdos temos um

debate mais amplo que nos remete à relevância social, cultural e política do

ensino de ciências que nos faz avaliar o porquê de termos presentes

determinados conhecimentos em sala de aula.

É importante ainda ressaltar a possibilidade que os professores têm tido

recentemente de promoverem mudanças curriculares (e aqui consideramos uma

concepção de currículo para além daquela que se refere apenas aos conteúdos

abordados em nossas aulas) – através de sua participação na elaboração dos

Projetos Políticos Pedagógicos (PPP) escolares. Esse papel de atuação assegurado

por meio de normas legais constantes nas Diretrizes Curriculares Nacionais para o

Ensino Médio e que embasam os Parâmetros Curriculares Nacionais (Brasil, 1998)

garantem os pressupostos pedagógicos da identidade, autonomia e diversidade com

as quais temos a oportunidade de participarmos ativa e coletivamente das decisões

acerca dos currículos de nossas escolas.

Nesse sentido, temos avistado nas políticas oficiais – também como reflexo dos

debates ocorridos nas últimas décadas na comunidade de educação em ciências

(Ostermann e Moreira, 2000) – sugestões de incorporação de temas da Ciência

moderna e contemporânea nos currículos das disciplinas da área das Ciências da

Natureza. Os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio (PCNEM) ao

enfatizarem a necessidade de se relacionar a aprendizagem de conhecimentos

científicos e suas tecnologias por meio da contextualização criticam a omissão dos

desenvolvimentos científicos realizados ao longo do século XX tratando de “maneira

enciclopédica e excessivamente dedutiva os conteúdos tradicionais” (Brasil, 2000, p.

8) das disciplinas científicas. Quando são definidos os conteúdos de Biologia, por

exemplo, os PCNEM destacam a importância para a compreensão de

procedimentos científicos e tecnológicos cada vez mais em voga nos meios de

comunicação e no cotidiano do cidadão.

Ter uma noção de como operam esses níveis submicroscópicos da Biologia não é

um luxo acadêmico, mas sim um pressuposto para uma compreensão mínima dos

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mecanismos de hereditariedade e mesmo da biotecnologia contemporânea, sem os

quais não se pode entender e emitir julgamento sobre testes de paternidade pela

análise do DNA, a clonagem de animais ou a forma como certos vírus produzem

imunodeficiências (Brasil, 2000, p. 9).

Nas Orientações Educacionais Complementares aos PCNEM (os PCN+) da área

das Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias também encontramos

comentários sobre a inserção da Biologia Contemporânea nesse nível de ensino a

partir de relações com os fenômenos naturais e aplicações tecnológicas.

Podemos considerar que as principais áreas de interesse da Biologia

contemporânea se voltam para a compreensão de como a vida (e aqui se inclui a

vida humana) se organiza, estabelece interações, se reproduz e evolui desde sua

origem e se transforma, não apenas em decorrência de processos naturais, mas,

também, devido à intervenção humana e ao emprego de tecnologias (Brasil, 2002, p.

70).

Da mesma forma que na Biologia, as orientações voltadas ao ensino de Física

presentes nos PCNEM e PCN+ ressaltam a relevância da introdução de

conhecimentos da Física Moderna e Contemporânea nos currículos escolares.

No caso específico do estudo da matéria e da radiação, alguns comentários são

tecidos.

Alguns aspectos da chamada Física Moderna serão indispensáveis para permitir aos

jovens adquirir uma compreensão mais abrangente sobre como se constitui a

matéria, de forma que tenham contato com diferentes e novos materiais, cristais

líquidos e lasers presentes nos utensílios tecnológicos, ou com o desenvolvimento

da eletrônica, dos circuitos integrados e dos microprocessadores (Brasil, 2002, p.

41).

Notamos que, de certa forma, os parâmetros curriculares incorporam as discussões

das pesquisas em educação em ciências que reconhecem a necessidade de se

realizar um estudo sistemático das teorias e modelos desenvolvidos mais

recentemente.

Apesar, e também por causa, de todo esse debate, nós professores temos todo o

direito de nos perguntar se é realmente necessário sobrecarregar ainda mais nossos

planos de curso com as mudanças inerentes ao ensino desses novos conteúdos.

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Desta forma, uma questão legítima decorre dessa discussão: Mas, afinal, por que

inserir temas científicos contemporâneos na sala de aula de ciências?

O que alguns pesquisadores da área de educação em ciências têm discutido é que

não se trata apenas de inserir temas contemporâneos nos currículos das disciplinas

escolares científicas meramente por uma questão de atualização dos conteúdos

uma vez que a Física e a Biologia clássica dão conta de explicar vários (mas não

todos) fenômenos naturais, grande parte deles presentes no cotidiano dos

estudantes. Trata-se de pensar em mostrar para esses estudantes a Ciência e seu

desenvolvimento como parte de um processo histórico, que é produto da vida social

e que leva a marca cultural de sua época.

Acreditamos que nossa dificuldade de visualizar a ciência como elemento da cultura

contemporânea ao lado de outras manifestações e produções culturais, tais como a

música, o teatro, a pintura, a literatura e o cinema, vem de uma tradição que se

encontra relacionada a uma conceituação mais clássica de cultura que incorpora

“somente as contribuições das Artes, Letras e Ciências desinteressadas” excluindo

os empreendimentos das Ciências Aplicadas e da Tecnologia (Delizoicov et al.,

2002, p. 35).

Atualmente, a condição da Ciência e da Tecnologia como partes da cultura

contemporânea não deixa margem a discussões, da mesma forma que também é

indiscutível o status de sucesso dessas instâncias como construção do

conhecimento humano.

Ao encararmos a Ciência enquanto produto cultural determinado sócio-

historicamente e também determinante de novas relações entre as pessoas que

compartilham de uma mesma cultura, o conteúdo (geralmente reconhecido como

produto final da Ciência) deixa de ser o foco principal do ensino de ciências.

Notamos que, de certa forma, os parâmetros curriculares incorporam as

discussões das pesquisas em educação em ciências que reconhecem a

necessidade de se realizar um estudo sistemático das teorias e modelos

desenvolvidos mais recentemente.

Passamos, assim, a pensar todo o processo de produção do conhecimento científico

que engloba aspectos sociais, históricos, políticos, culturais e econômicos. E é

nesse sentido que a introdução de tópicos da Ciência moderna e contemporânea

pode ser crucial.

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Uma vez tendo sido apresentada a relevância da introdução de temas científicos

contemporâneos nas aulas de Biologia e de Física, surgem outras dúvidas: De que

maneiras podemos inserir esses temas em nossas aulas?

Quais materiais podemos utilizar para introduzir a Ciência moderna e

contemporânea em sala de aula? Tentamos na próxima seção explorar essas

questões por meio de uma discussão acerca dos diferentes materiais presentes nas

aulas de ciências, detendo-nos aos livros didáticos e aos textos de divulgação

científica.

Livros didáticos e textos de divulgação científica

A estabilidade que determinados conteúdos têm assumido no ensino de ciências

parece estar intimamente relacionada aos temas presentes nos livros didáticos. A

importância desse material para a organização do trabalho docente é inegável e não

pretendemos aqui realizar uma avaliação apreciativa do mesmo. No entanto, se

estamos discutindo a relevância e as formas pelas quais tópicos da Biologia e da

Física Modernas e Contemporâneas são (ou podem vir a ser) introduzidos nas aulas

do ensino médio, devemos prioritariamente voltar nosso olhar para eles.

O livro didático apresenta uma estrutura composicional estável uma vez que

determinados elementos no corpo do texto principal são recorrentes como, por

exemplo, a divisão em capítulos que discorrem sobre um determinado tema a partir

da organização em um texto de abertura, seções e sub-seções nas quais são

explorados os conteúdos relacionados à temática central e, ao final, atividades ou

exercícios. Temos notado um movimento de incorporação pelos livros didáticos de

Biologia e Física de temas contemporâneos sem que necessariamente seja

promovida uma modificação dessa estrutura. De fato, alguns estudos mostram que a

inserção de tópicos científicos atuais nos livros didáticos tem se dado de maneira

pontual geralmente sob a forma de textos ilustrativos que poucas vezes têm

aprofundado relações com os conteúdos que são explorados naquele capítulo

(Martins e Damasceno, 2002; Rezende Júnior e Ricardo, 2003).

Esses textos estão presentes em seções especiais, apêndices ou quadros (boxes)

no decorrer dos capítulos ou junto das atividades de exercícios.

Em alguns livros didáticos de Biologia observamos com freqüência quadros cujos

textos apresentam inovações científicas e tecnológicas, sobretudo quando são

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comentadas pesquisas nos campos da Farmacologia, Biologia Molecular e

Biotecnologia e apresentados assuntos relacionados à Genética contemporânea,

tais como: projeto genoma humano, melhoramento genético de plantas,

discriminação genética, mapeamento genético (Linhares e Gewandsznajder, 2002;

Paulino, 2002).

Já nos livros de Física como, por exemplo, a coleção “Tópicos de Física” (Doca et

al., 2001) observa-se a presença de alguns quadros ocupando no máximo uma

página, que tratam assuntos da física moderna e contemporânea de forma

ilustrativa. O mesmo é observado nos volumes da coleção “Física” (Gaspar, 2000)

quando temas como o Princípio da Incerteza, as colisões no mundo subatômico, a

discussão sobre onda e partícula são tratados em quadros que compõem capítulos

que abordam conteúdos mais clássicos. Outro exemplo de livro didático: em “Física”

(Paraná, 1998) são destinadas aproximadamente oito páginas em todo o livro a

rápidos comentários sobre a Teoria da Relatividade, Quarks e Energia Nuclear e

alguns artefatos tecnológicos como o laser, o forno microondas e o computador

atômico.

A opção por essa forma de apresentação pode demarcar uma desvalorização dos

conhecimentos relacionados à Ciência contemporânea uma vez que estes podem

assumir o papel de leitura complementar e de satisfação de curiosidades sem que

haja a sistematização do conhecimento por meio da explicação de conceitos básicos

e a operacionalização pela ausência de exercícios, especificamente no caso da

Física.

No caso específico da Física, a apresentação pontual de tópicos de física moderna e

contemporânea tem relação com o enfoque tradicional dado aos conteúdos da

Física Clássica apresentados nos livros didáticos, o qual pode ser resumido em três

passos: desenvolvimento do ferramental matemático, apresentação das teorias e

confirmação das teorias através de relatos de experiências ou exemplos. Observa-

se com isso uma notória diminuição da discussão sobre o problema físico, dos

envoltos epistemológicos, da História e Filosofia da Ciência, em prol de conteúdos

que buscam, sobretudo, a formulação de exercícios adequados (que utilizam

prontamente as fórmulas) para o nível de conhecimento matemático do aluno.

Nesse sentido, notamos que a disposição tradicional dos conteúdos nos livros

didáticos de Física utilizados no ensino médio brasileiro tende a formar, ao que

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parece, um paradigma didático para o Ensino de Física, claramente não compatível

com os objetivos enquadrados nos preceitos de uma formação como cultura

contemporânea.

Romper com esse enfoque nos livros didáticos parece ser tarefa complicada e a

opção por incluir conteúdos de Ciência moderna e contemporânea em fragmentos

localizados em seções específicas tem sido uma saída viável e até certo ponto

coerente com a organização adotada pela maioria dos livros didáticos de ensino

médio de Biologia e Física. O que observamos com alguma recorrência neste tipo

de iniciativa é um processo de transposição e re-elaboração de textos originalmente

publicados em jornais e revistas de divulgação científica para o livro didático. Isso

demonstra uma preocupação por parte dos autores e revisores dos livros didáticos

em contemplar assuntos que são atuais e presentes no cotidiano dos estudantes. O

fato dos livros didáticos virem incorporando não apenas a linguagem dos meios de

comunicação como também introduzindo (mesmo que após etapas de re-

elaboração) textos oriundos de jornais e revistas nos indica o papel crescente que a

educação não formal vem exercendo na formação científica dos cidadãos e, mais

especificamente, dos estudantes.

Por outro lado, já vislumbramos em alguns livros didáticos de Física1 algumas

perspectivas diferenciadas no que concerne ao tratamento de tópicos de física

moderna e contemporânea. Por exemplo, a coleção “Física” (Gaspar, 2000)

apresenta uma proposta ainda mais diferenciada, apesar de sua seqüência didática

não se distanciar da macrodivisão tradicional e da principal abordagem para a

inserção de tópicos de física moderna e contemporânea ser feita em quadros

dispostos ao longo de seus três volumes, conforme comentado anteriormente. O que

chama a atenção nessa coleção é o fato de que quase metade desse livro é

dedicada a temas relacionados à natureza corpuscular das Ondas Eletromagnéticas,

Teoria da Relatividade, Radiação, Física de Partículas e Mecânica Quântica.

1 As obras citadas a seguir não representam as únicas iniciativas desenvolvidas nos

últimos anos para inserir a Ciência Moderna e Contemporânea no ensino formal e

foram utilizadas apenas como exemplos para subsidiar nossas discussões. Dentre

outros, podemos citar os livros do Grupo de Reelaboração do Ensino de Física

(GREF, 1991).

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Em livros de Biologia também encontramos conhecimentos contemporâneos no

corpo do texto principal. No livro "Biologia atual" (Paulino, 2002), por exemplo, a

primeira seção do capítulo “Conceitos básicos de genética e a primeira lei de

Mendel” traz de forma resumida o desenvolvimento de um dos experimentos iniciais

realizado por Paul Berg na década de 1970 que marcou para o surgimento da

engenharia genética. A partir daí, ao longo de todos os capítulos sobre Genética são

apresentados temas relacionados à manipulação do DNA, ou em quadros isolados

ou numa seção intitulada “Biologia em todos os tempos” visando a “ampliar os

conhecimentos proporcionados pela genética clássica e constituir um convite à

reflexão sobre seus possíveis benefícios para a humanidade, bem como sobre suas

múltiplas implicações” (Paulino, 2002, p. 66). Já o livro “Bio” (Lopes, 2004) traz um

capítulo inteiro dedicado às questões relacionadas à Biotecnologia e Engenharia

Genética.

Nele são exploradas as técnicas de hibridização usadas no mapeamento genético,

os programas de triagem populacional (screening genético), a técnica do DNA

recombinante, além de comentar o desenvolvimento da terapia gênica, de

organismos transgênicos e de programas de recuperação de espécies em extinção.

Além dos livros didáticos temos notado um aumento no número de publicações de

divulgação científica com tópicos científicos atuais e que têm sido introduzidas no

ensino formal de ciências em maior ou menor proporção (El-Hani e Videira, 2000;

Valadares et al., 2005).

Vários livros paradidáticos têm tratado temas da Biologia e da Física Modernas e

Contemporâneas refletindo a importância dada a esses temas por pesquisadores

das áreas científicas específicas e da área de educação em ciências2.

Um outro material que tem sido cada vez mais utilizado nas aulas de ciências como

alternativa aos livros didáticos são os textos de divulgação científica, publicados em

revistas de divulgação científica e jornais. Esta iniciativa pode ser entendida como

satisfazendo algumas necessidades práticas dos professores de ciências, entre elas

dar conta da demanda trazida pelos próprios estudantes que estão em contato com

as novidades e inovações científicas através dos meios de comunicação. Além

disso, estudos mostram que os textos de divulgação científica podem cumprir

diferentes funções nas aulas de ciências, tais como: motivação e estímulo à

participação dos estudantes, complementação de materiais didáticos,

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desenvolvimento de habilidades e práticas de leitura, estabelecimento de relações

entre a linguagem do estudante e a linguagem científica, contato com valores sócio-

culturais implícitos ou explícitos nas informações presentes em reportagens sobre

ciência e tecnologia, possibilidades de se explorar relações entre ciência, tecnologia

e sociedade, formação de espírito crítico e reflexivo (Chaves et al., 2001; Ribeiro e

Kawamura, 2006; Ricon e Almeida, 1991; Monteiro ET al., 2003; Lança e Almeida,

2005; Silva e Almeida, 2005).

2 No ano de 2005 comemorou-se o Ano Mundial da Física, em homenagem ao

centenário das publicações de Einstein e, nesse período, foi incentivada a produção

de obras paradidáticas por entidades como a Sociedade Brasileira de Física.

Algumas dessas pesquisas mostram que o processo de transformação de um texto

de divulgação científica em um recurso didático é mais complexo do que se possa

imaginar à primeira vista uma vez que ele envolve etapas de seleção (e seus

diferentes critérios de escolha dos textos), re-estruturação (o texto pode ser

encurtado, complementado ou ter a ordem de suas seções trocadas) e introdução

em sala de aula (pode ser utilizado em diferentes momentos da aula, no início como

elemento motivador, ou como texto principal e estruturador da aula ou compondo a

avaliação). E é nas diversas etapas desse processo de elaboração e inserção de

textos de divulgação científica na sala de aula que o professor exerce papel

fundamental e determinante já que são seus objetivos educacionais mais amplos e a

forma como ele encara o ensino de sua disciplina que determinarão as funções que

os textos de divulgação científica assumirão nas aulas.

Vários relatos de professores apresentados em eventos de ensino de Biologia e

Física demonstram a operacionalidade do uso de textos de divulgação científica em

aulas. Alguns desses descrevem o potencial prático de inserção de tópicos de

Ciência contemporânea por meio de atividades organizadas em torno de textos de

revistas, jornais e outras mídias. Um exemplo de experiência desenvolvida no

âmbito do ensino de Biologia é oferecido por Morgado et al. (2005) que descrevem

e analisam uma situação didática em uma turma de 2º ano do ensino médio que

envolveu o uso do artigo “O drama dos raríssimos primatas albinos” publicado no

Jornal O Globo com o intuito de promover uma melhor compreensão dos conceitos

básicos de Genética e de buscar relações com a Biotecnologia moderna. Já no

ensino de Física, dentre vários trabalhos desenvolvidos nos últimos anos, pode-se

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citar a proposta pedagógica de Melo e Hosoume (2003) que utiliza textos retirados

dos jornais Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo abordando aplicações

práticas da Física clássica e conceitos da Física Moderna. As aulas descritas nesse

trabalho tinham como objetivos, ao utilizarem diferentes textos de divulgação

científica, qualificar a Física enquanto uma ciência de aplicação cotidiana e

proporcionar o contato dos estudantes com conteúdos que vão além daqueles que

são tradicionalmente abordados na escola.

Além desses trabalhos de autoria de professores que descrevem suas experiências

com textos de divulgação científica, encontramos pesquisas acadêmicas que

analisam situações didáticas envolvendo o uso de textos de divulgação científica

(Almeida e Silva, 1998; Martins et al., 2004) ou exploram a possibilidade de que

esses textos venham a integrar o ensino formal de Biologia e Física

proporcionando uma renovação dos conteúdos nas aulas dessas disciplinas ao

mesmo tempo em que aspectos históricos e sociais da Ciência são contemplados

(Ferrari et al., 2005, Goldbach et al., 2005). Alvetti (1999), por exemplo, em trabalho

de pesquisa realizado a partir do Banco de Dados FisBit3, que contém referências

de textos e livros de divulgação científica da Física, levantou vários artigos da revista

Ciência Hoje que possibilitam trabalhar conteúdos de física moderna e

contemporânea de forma sistemática e na perspectiva de renovação curricular. Um

texto exemplar constante neste trabalho é o artigo “O início e o fim” que aborda

teorias cosmológicas com esquemas bastante didáticos, mencionando várias áreas

da física moderna e contemporânea.

A leitura desse texto é sugerida no último tópico da ementa do livro Física

(Delizoicov e Angotti, 1991) – “Energia Solar e a terra: fusão nuclear” – como

alternativa para o professor que deseja abordar o tema em suas aulas.

Considerações finais

Com base nos exemplos de estudos, nos relatos de professores e nas políticas

curriculares oficiais anteriormente explorados podemos perceber que a discussão

não tão recente sobre a inserção de temas relacionados à Ciência moderna e

contemporânea nas aulas de Biologia e de Física está presente em diferentes

instâncias ainda que modelos e teorias da Ciência clássica continuem servindo

como base para o ensino dessas disciplinas.

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Conforme discutimos anteriormente, o debate sobre a inserção de tópicos da

Biologia Contemporânea e da Física Moderna e Contemporânea em aulas do

ensino médio extrapola a questão da introdução e renovação de conteúdos atuais

dessas ciências. Esta outra perspectiva encontra-se relacionada à necessidade de

se pensar como tais conhecimentos ajudam a compreender a Ciência enquanto

instância sócio-cultural situada num determinado período histórico e produtora de

reflexos e impactos na vida cotidiana dos estudantes.

Ao olharmos para as nossas práticas em aulas de Biologia e Física e, mais

especificamente, para os livros didáticos que servem como base para o

desenvolvimento e elaboração de boa parte dessas aulas percebemos que seus

conteúdos ainda estão relacionados à Ciência clássica. Contudo, localizamos

iniciativas de inserção de tópicos contemporâneos de Biologia e de Física que vão

desde uma abordagem pontual e isolada até esforços de incorporação efetiva dos

mesmos. Percebemos que recorridas vezes essas iniciativas nos livros didáticos

estão relacionadas à re-elaboração de textos de divulgação científica, o que parece

ser uma tendência já que os próprios professores de ciências têm usado em suas

aulas jornais, revistas, livros, filmes etc. atribuindo a esses textos diferentes funções.

Percebemos, então, que os TDC acabam auxiliando nessa mediação de inserção de

temas da Ciência moderna e contemporânea já que eles trazem informações

atualizadas e, na maioria das vezes, relacionadas a um determinado fato ou

acontecimento da vida cotidiana dos estudantes.

Não devemos, entretanto, esquecer que os textos de divulgação científica são

produzidos por jornalistas e/ou cientistas que não têm como foco o ensino formal de

ciências uma vez que seu principal objetivo é veicular informações científicas para

um público de não especialistas, portanto não apresentando originalmente um

caráter didático inerente à prática escolar. Essa característica acaba por destacar o

papel que nós professores exercemos quando no momento de seleção, adaptação e

introdução dos textos de divulgação científica nas aulas, mediação esta que possui

um caráter distinto daquela que é feita pelo professor durante o uso do livro didático.

Nesse sentido, é fundamental pensarmos, propormos e experimentarmos iniciativas

em nossas salas de aula que não simplesmente insiram novos conteúdos de

Biologia e de Física, mas que conectem conhecimentos atuais ou clássicos com a

realidade do estudante – utilizando para isso diferentes materiais didáticos – de

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modo que este perceba as relações entre Ciência, Tecnologia e Sociedade

relevantes para seu posicionamento crítico em diferentes situações de sua vida

cotidiana.

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104

O QUE FOGE DO OLHAR DAS REFORMAS CURRICULARES: nas aulas de Biologia, o professor como escritor das relações entre

ciência, tecnologia e sociedade

Antonio Carlos Rodrigues de Amorim*

Resumo:

O artigo analisa os processos de produção de conhecimento escolar em aulas de

Biologia nas quais um professor trabalha temáticas dentro do contexto das relações

entre ciência, tecnologia e sociedade (CTS). Traz contribuições para a compreensão

de aspectos dos fenômenos das reformas educacionais para os quais se faz cada

vez mais necessária a incorporação de outros tipos de conhecimentos culturais, tais

como os produzidos nas práticas em aula.

Unitermos: currículo; ensino de biologia; produção de conhecimento escolar

Abstract:

This article analyses the process of school knowledge production in Biology classes

by teachers who work themes in a science, technology and society context. It

contributes to understand aspects of educational reforms and indicates the necessity

of incorporation the diversity of cultural knowledges like those produced in classroom

practies.

Keywords: curriculum; biology teaching; school knowledge production

O ensino de Biologia é uma rede tecida nas relações entre formas e conteúdos

Os resultados de pesquisas a respeito da educação científica no ensino

fundamental e médio vêm apontando, nestas últimas três décadas, para a

necessidade de significativas alterações nas já tradicionais interações entre forma e

conteúdo que perduram sob matizes variadas no âmbito da prática docente. As vias

para essas alterações são múltiplas, como pode ser percebido no quadro abaixo,

organizado como síntese geral das temáticas privilegiadas por pesquisadores do

ensino de Biologia nos trabalhos apresentados em três congressos nacionais – VI

Encontro Perspectivas do Ensino de Biologia (EPEB); I e II Encontro Nacional de

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Pesquisa em Educação em Ciências (ENPEC) – e em teses e dissertações reunidas

na obra O ensino de Ciências no Brasil: catálogo analítico de teses e dissertações –

1972-1995.

As temáticas privilegiadas nos trabalhos sobre ensino de Biologia de um recente

congresso, o VII EPEB, colaboram para evidenciar movimentos que vêm sendo

realizados dentro desta área de pesquisa e nas ações educativas. Notam-se as

discussões sobre temáticas ambientais associadas ao ensino de temas biológicos

de ensino e/ou pesquisa e um crescente aumento do número de trabalhos sobre

formação inicial e continuada de professores. No que se refere às questões de

aprendizagem, os focos são a construção de representações ou as concepções

alternativas aos conceitos científicos por alunos. Mas percebe-se também uma

ampliação de temas que em encontros anteriores sobre pesquisa em ensino das

Ciências apareciam pouco destacadamente, tais como as relações entre História e

Filosofia da Ciência e ensino de Biologia, as discussões sobre linguagens e ensino

da Biologia e a produção de conhecimento escolar em espaços educacionais

formais e não-formais (Marandino, Amorim, Kawasaki, 2000).

Aos traçados dos caminhos seguidos nessas pesquisas, gostaria de somar algumas

conclusões que Ivan Amaral (1998) tira no artigo em que analisa o currículo das

Ciências, nas últimas quatro décadas, em relação àquilo que vem sendo proposto e

efetivado em termos de renovação desta área de conhecimento escolar do ensino

fundamental. O autor focaliza mais os aspectos epistemológicos, uma vez que

escolhe as concepções de educação, ambiente e ciência como possíveis

estruturantes da metodologia do ensino de Ciências. A dimensão epistemológica é

muito privilegiada nas pesquisas em ensino de Biologia, como pode ser percebido

no Quadro 1.

- educação ambiental - sua relação com a ecologia - zoologia - filosofia da ciência - representações de natureza - materiais técnico-instrucionais - materiais didáticos - construção de conceitos pelos alunos e professores: saúde, microrganismos, célula, ser vivo, animal, genes - avaliação de cursos superiores, bacharelado e licenciatura em biologia - o papel de disciplinas, como a prática de ensino e a biologia educacional, na formação de professores - papel das fontes de educação não-formal - jornalismo científico e os espaços de museus de ciências

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- as dimensões sociais e políticas da prática pedagógica - planejamento de ensino de biologia – inovador ou tradicional - materiais didáticos - concepções sobre ciência, cientistas e conceitos de ciência (evolução, genética, citologia, botânica) - análises de cursos de formação continuada e inicial de professores - linguagem e ensino de biologia - a biologia no trabalho pedagógico escolar - novos paradigmas para o ensino da biologia - sexualidade e saúde - modelos de ensino de ciências - papel da experimentação, das relações da biologia com o cotidiano, das interações CTS - educação sexual - construção de conhecimento - concepções/conceitos científicos presentes no livro didático (saúde, evolução, nutrição vegetal e genética) - concepções espontâneas dos alunos e a sua centralidade no ensino das ciências - formação de professores (inicial, prática de ensino e continuada; cursos) - imagens e ensino de biologia - linguagens e ensino de biologia - condições para o ensino de biologia - vestibular - mercado de trabalho - produção do conhecimento biológico em espaços de educação formal e não-formal - ambiente - natureza e educação ambiental - educação ambiental Quadro 1 – Principais temáticas de investigação sobre o ensino de biologia

Utilizo seus dados neste texto para extrair os elementos que vêm configurando a

metodologia de ensino na área de Ciências. Escolho um trecho de seu trabalho

para situar como ocorreram mudanças na compreensão do ensino de Ciências, uma

vez que foram captadas tendências reformuladoras das concepções de educação,

ambiente e ciência. O autor cita como características derivadas desse processo

flexibilidade curricular; interdisciplinaridade; desenvolvimento de uma visão sistêmica

de ambiente; conscientização da necessidade de preservação da natureza e do uso

racional dos recursos naturais; formação de uma imagem de ciência como atividade

humana historicamente determinada; articulação entre o senso comum e o

conhecimento científico; respeito ao conhecimento prévio e às estruturas cognitivas

do estudante; correlação entre psicogênese e história da ciência; incorporação do

cotidiano ao processo de ensino-aprendizagem; construção do conhecimento pelo

aluno. (Amaral, 1998, p.220)

As características descritas por Ivan Amaral são derivadas de diferentes discursos

construídos pela Academia em seus trabalhos de pesquisa e ensino. Tais

características são transformadas, por exemplo, na elaboração de diretrizes e

propostas curriculares, como é o caso dos Parâmetros Curriculares Nacionais

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(PCN), foco de análise no artigo de Amaral. Os PCN foram produzidos a partir da

análise de vários elementos, dentre eles, as propostas curriculares elaboradas pelos

diferentes estados do Brasil. No caso do ensino de Ciências, das 21 propostas

analisadas pela Fundação Carlos Chagas, Ivan Amaral destaca algumas

características evidenciadas e que nortearam a proposição final quanto à

organização das temáticas (conteúdos) – Educação Ambiental, Educação em Saúde

e Educação Tecnológica – assim como de princípios metodológicos (formas) –

cotidiano como ponto de partida; usar do conhecimento prévio do aluno; levar em

conta o contexto histórico-social; tomar a natureza como laboratório; servir-se de

uma metodologia ativa; interdisciplinaridade; visão globalizante da Ciência; relação

entre ciência, tecnologia e sociedade.

Já em seu trabalho, Maria Lúcia Wortmann (1998) focaliza a história do ensino das

Ciências, já contada e recontada por vários autores. Coloca, entretanto, no centro

das atenções as práticas consideradas e configuradas como tradicionais dentro do

ensino das Ciências.

Escolhendo os documentos oficiais produzidos para a reforma do ensino de

Ciências das décadas de 60 e 70 no Brasil, e inspirando-se na obra de Thomas

Popkewitz (1994), examina “contingências e relações estruturais que têm conduzido

a construção de discursos hegemônicos para esta disciplina escolar, sem pretender

levar à organização de outras ‘regras’ e ‘padrões de verdade’ para substituí-los”

(p.131). Em uma das conclusões de seu trabalho, a autora argumenta que tanto a

escola como os textos escolares vêm promovendo seleções e organizações na

forma como adotam as “especificidades pedagógicas” ... em função e a partir de

sistemas particulares de idéias e regras de raciocínio que estão entranhados nas

práticas escolares.

Neste sentido as “especificidades pedagógicas” adquiriram funções e

dimensionamentos até diferentes daqueles que os seus/suas idealizadores lhes

tinham conferido: elas foram alteradas no processo de escolarização, embora

continuem a caracterizar uma época e um estilo de pensamento. (p.154)

Parece-me que, na escolha das relações entre conteúdo e forma como uma

categoria importante e interessante para analisar o ensino das Ciências, o

dimensionamento de conteúdo e de forma que se faz conceitualmente circunscreve-

os como conteúdo científico e como formas de sua abordagem, muitas vezes

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atreladas a metodologias específicas de produção de conhecimento em cada área

científica. Dessa forma, as aulas de laboratório, o método de ensino por projetos, a

investigação da prática científica a partir do método científico discutido em suas

dimensões epistemológicas, históricas e sociológicas, são objetos de interesse tanto

nas escolas de educação básica e em órgãos políticos e pedagógicos que os têm

como parâmetro para melhoria ou inovação, quanto nas universidades, que sobre

eles se debruçam na produção de suas pesquisas. Gostaria de destacar que as

pesquisas acadêmicas sobre o ensino de Ciências têm privilegiado como focos

temáticos para investigação problemas associados intensamente a essa “tradição do

ensino de Ciências”, como se percebe a partir dos resultados do trabalho de Jorge

Megid Neto (1999), assim como no Quadro 1, excetuando-se abordagens mais

recentes como alguns trabalhos sobre linguagem e imagem no ensino de Biologia

e sobre a produção do conhecimento escolar.

Formas e conteúdos se organizam nas matrizes do contexto CTS

Quando realizei a pesquisa de mestrado (Amorim, 1995), e analisei as relações

entre ciência, tecnologia e sociedade (CTS) que se encontram presentes no

currículo de Biologia do ensino médio, mais especificamente, nas práticas e

discursos de oito professoras. Ficou-me muito presente a reflexão sobre as relações

entre conteúdo e forma no ensino da Biologia. Inquietaram-me as questões que

circunscrevem a metodologia do ensino das Ciências, tanto as que fazem parte de

uma certa tradição neste ensino quanto as que rompem e propõem algo “novo”,

como é o caso do movimento CTS.

Constatei que existem abordagens diversificadas sobre as relações CTS no espaço

curricular da escola de nível médio, acontecendo na maioria das vezes entremeadas

por uma dicotomização da relação entre teoria e prática, que pode ser analisada

como agente de quebra da unidade entre forma e conteúdo, assim como derivada,

necessariamente, das diferentes associações entre forma e conteúdo que as

professoras constroem no seu trabalho pedagógico.

Por exemplo, reconheci, com os resultados da pesquisa de mestrado, que os

elementos ciência e tecnologia (C&T) não são contextualizados em uma específica

sociedade, o que geralmente não leva a um desenvolvimento da capacidade crítica

dos alunos frente aos diferentes papéis da C&T, a fim de lhes garantir tomadas de

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decisão mais conscientes. Um outro aspecto diz respeito às estratégias utilizadas

pelas professoras, no trabalho com os alunos, que oferecem pouca possibilidade

para que eles venham a modificar concretamente a sua realidade, a partir de uma

resignação das relações CTS.

Analisando hoje a escolha, na referida pesquisa de mestrado, da relação entre

pesquisa e ensino e da relação entre aulas teóricas e aulas práticas como

instâncias para organização dos dados coletados, penso que uma discussão mais

abrangente sobre as interações CTS poderia ser desenvolvida, tanto por privilegiar

quanto por redimensionar as formas já presentes na prática docente, a partir das

quais se consegue construir novos conteúdos.

Posso supor, pela análise realizada na pesquisa de mestrado, que é na prática

social do trabalho pedagógico que se modelam as formas: a relação entre pesquisa

e ensino e a relação entre aulas teóricas e aulas práticas. Estas se interligam a

diferentes conteúdos e formas oriundos de outros espaços sociais e culturais, com

os quais estabelecem diálogos e travam movimentos de resistência às ideologias

subjacentes ou de reprodução das mesmas. Ou, fazendo-me mais claro, pela

análise das práticas e dos discursos das professoras de disciplinas biológicas, é

possível identificar que as interações entre forma e conteúdo presentes em aula

constroem perspectivas para a metodologia do ensino das Ciências que fogem

daquelas que mais tradicionalmente têm sido exploradas nas propostas de inovação

curricular que, por exemplo, geralmente argumentam que as formas são expressões

externas da lógica dos conteúdos. Metodologicamente procurei na pesquisa

conhecer o que já existia nas práticas escolares sobre CTS e encontrei

distanciamentos daquilo que é proposto/enunciado como inovador pelas correntes

reformistas.

O contexto CTS para o ensino das Ciências exige a incorporação de dimensões

múltiplas dos conhecimentos científicos, uma vez que é nas práticas sociais que são

trabalhados os aspectos teórico-práticos de C&T. Especificamente às questões

relativas às relações entre teoria e prática que mapeiam o contexto CTS, um

conjunto de elementos são apresentados, em números monográficos de duas

revistas de circulação internacional: Therory into Practice (v.30, n.4, 1991; v.31, n.1,

1992) e revista Iberoamericana de Educación (n.18, 1998). Dos diferentes artigos

em que se discutem as relações CTS no ensino de Ciências, identifiquei três

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agrupamentos que trabalham os seguintes enfoques: reforma educacional e

currículo oficial (Aikenhead, 1992; Beagaw, 1992; Hurd, 1991), aspectos

epistemológicos da ciência e do ensino das Ciências (Carter, 1991; Brunic, 1992;

Becerra, 1998), formação de professores para as práticas de ensino no contexto

CTS (Bybee, 1991; Fullick, 1992).

Gostaria de situar o presente trabalho em um território no qual imbricam elementos

desses três agrupamentos, mas que são remodelados por um olhar de fora, de

exterioridade, que busca os conhecimentos produzidos por professores ao ensinar

Biologia num contexto CTS, nas práticas cotidianas das aulas. Neste artigo,

investigo as maneiras como se configuram as dinâmicas de estabelecimento dos

conhecimentos escolares em uma arena de interrelações na qual se apresentam ou

disputam conteúdos de vários campos culturais.

Pareceu-me instigante analisar o conhecimento escolar a partir das relações entre

forma e conteúdo, para conhecer melhor seus múltiplos aspectos. Debrucei-me

sobre os dados coletados em um curso de formação de professores de Ciências,

rica fonte de inspiração. Decidi experimentar, no ano de 1997, um tipo diferente de

curso, pelo menos para mim, no qual seria tratado especificamente um tema do

currículo tradicional do ensino de Ciências, o corpo humano. O curso se propunha a

abordá-lo em dimensões que geralmente são ausentes da cultura escolar, tais como

o seu contexto social mais amplo e não atrelado exclusivamente às temáticas da

saúde, bem como as fundamentadas na História e Filosofia da Ciência.1 As

interações entre forma e conteúdo que se configuraram durante o desenvolvimento

do curso sobre corpo humano abriram perspectivas para discussões, por exemplo,

sobre as representações culturais do corpo, a relação homem/máquina, o

conhecimento científico na área de fisiologia humana e a construção hegemônica da

representação de corpo fragmentado. Percebi que a dimensão cultural do corpo

rompe com a perspectiva criada pela estética científica, por vezes positivista, que

ordena e lineariza. Já a tecnologia reconta e reinventa a história de nosso corpo:

corpos vestidos, corpos-mercadorias, corpos prevenidos contra contatos externos.

Tinha, também, a intenção de possibilitar aos professores o acesso a uma forma

diferenciada do conteúdo científico sobre o corpo humano que, dentro da trajetória

que construí, apresentava certas características de inovação. Esse curso fez parte

das orientações técnicas de uma das Delegacias de Ensino da cidade de

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Campinas. Havia um forte interesse do corpo técnico de apoio pedagógico em saber

o que as/os professoras/es estavam levando do curso para as salas de aula.

Considerei também necessário recolher indícios a respeito de vários itens: a forma

como os professores trabalham em aula; o conteúdo de que se apropriaram no

curso; de que maneiras vinham construindo a sua própria metodologia; quais eram

as preocupações relativas ao conteúdo de corpo humano para as quais vinham

tentando encontrar respostas na prática pedagógica; que seleções faziam do

conteúdo apresentado no curso.

Essa necessidade nasceu de outra: a avaliação ensejada pela Delegacia de Ensino

e de algumas situações de trabalho no curso, nas quais os professores sinalizavam

a importância, na organização de atividades em ensino de Ciências, de

características de seus saberes profissionais (ou da experiência), tais como o

estímulo aos alunos, as condições materiais da escola, o tempo escolar para o

desenvolvimento das atividades, o número de alunos por sala etc.

Consegui mais detalhes da trajetória metodológica de um dos 23 professores que

vinham acompanhando o curso. Chamo-o, neste texto, de professor Edson. As

atividades que utilizou em aula foram objeto de minhas leituras atentas em busca

das relações entre forma e conteúdo que foram construídas. Após a leitura e a

análise das atividades, entrevistei-o, buscando esclarecimentos e pistas para

maiores aprofundamentos.2

No dia em que solicitei que fossem elaborados os relatos, o professor Edson

escreveu: “Os textos foram utilizados na íntegra. Houve também da minha parte uma

adaptação de acordo com os alunos que trabalho. Os textos na minha opinião são

ótimos”. Chamou-me a atenção como o professor indica que fez uma transformação

do material com que teve contato no curso, adaptando-o. Que tipos de adaptação

foram essas? Quais as relações que teceu entre conteúdo e forma? Que relações

foram estabelecidas com a metodologia apresentada no curso? Fui em busca de

respostas para estas questões.

O contexto das práticas: escola, professor, alunos e aula pelo olhar do

professor

Convido o leitor a entrar no universo escolar desenhado pelo professor Edson em

sua entrevista. Seus anseios, sua relação com os alunos e com os novos

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conhecimentos, a caracterização dos alunos são personagens e cenários no qual

movimentou-se, teve vida, o roteiro com as suas atividades.

Os alunos com quem trabalha são de curso noturno, trabalhadores que residem em

bairro periférico de Campinas e estudam em escola pública sediada nesse mesmo

bairro. De acordo com o professor, os alunos estavam, em sua maioria, na faixa

etária que geralmente é considerada a adequada para a 1ª e 3ª série do ensino

médio, fato que lhe causou espanto, pois pressupunha que alunos do noturno

seriam mais velhos.

A escola onde lecionou nos anos de 1996 e 1997 é, nas considerações do professor

Edson, muito boa, porque tem estrutura. Você tem apoio para quem faz oficina,

desenvolve projeto na escola. A diretora dá todas as condições para isso ... Tem

estrutura física, material, dentro do possível. Tem material para a gente trabalhar.

Isso era bom na escola. É uma direção que acompanha o que você está fazendo,

incentiva, e isso é bom para o professor.3

O olhar do professor Edson sobre a escola capta também as regras disciplinares e

de comportamento tanto dos professores quanto dos alunos como sendo marcas

que a qualificam como boa. “A escola é uma escola que tem muita regra, vamos

dizer assim, regrinhas. E essas regrinhas vão condicionando os alunos a se

comportarem bem em aula. Então tem muita regra mesmo”, diz enfaticamente.

Existem, por exemplo, vários sinais que indicam a hora de cada personagem da

escola entrar na aula. Isso o professor julga como sendo bom, pois disciplina, e “sem

disciplina não dá, ainda mais na idade dos alunos, não é?” Agora, quando a

disciplina relaciona-se com o estabelecimento de regras que governam as ações do

professor, “tem que ter expressão, tem que ter postura, isso às vezes me irrita, ter

postura. ... E você não pode fazer isso, fazer aquilo, não pode fumar na frente do

aluno, isso aí me irrita”. Porém, essa sua reação de irritar-se convive, aparentemente

de forma pacífica, com a necessidade de a profissão do professor ser disciplinada,

com hábitos e regras esperados para o professor, pois “já existia um mito de o

professor ser o exemplo para o aluno. Nem sempre é, mas deveria ser ... Às vezes

eu fico pensando nisso: professor deveria ter que ir de gravata, de social, para dar

aula: é um profissional”. E ser o exemplo passa pelos campos do vestuário, da

postura e da cultura, necessariamente diferenciados e melhores do que os dos

alunos. E, claro, não posso me esquecer, do campo do conhecimento:

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O professor precisa saber mais do que o aluno, primeiro porque ele é mais velho.

Não digo apenas nas partes específicas, digo no âmbito geral, das coisas da vida.

Tem que saber mais. Como é o primeiro dia de um serviço, como é que acontece

aquilo. Isso existe: pela idade, tem que saber mais.

Essas idéias representam uma interlocução que faz com a sua experiência na

família, na qual se tem a “expectativa com relação a outras pessoas. Por exemplo,

dentro de casa, com relação a seus pais ou irmãos mais velhos, você tem essa

expectativa de que eles saibam mais do que você”. Esta visão hierárquica,

respaldada pela idade, confere ao professor Edson uma aposta muito grande de que

a experiência de vida dará respostas mais rápidas para a resolução de problemas.

O magistério representa para o professor Edson, nesse momento, uma condição

privilegiada de trabalho, pois o horário é bastante flexível e o salário, na média do

mercado, não está desprezível. A isso se associa o fato de não querer retornar ao

trabalho como marceneiro (sua primeira experiência profissional) e nem ao trabalho

burocrático em escritórios.

Porém, não quer mais trabalhar na rede estadual, pois, de acordo com o ele, não há

incentivo para aqueles que trabalham diferenciadamente e, pior, “o Estado vai

deixando as pessoas medíocres. Privilegia quem sabe menos e quem faz menos”.

Com as diretrizes administrativas e pedagógicas implementadas na rede estadual de

educação básica, não foram atribuídas classes no ano de 1998 ao professor Edson.

Essa conjuntura política, que excluiu o professor do campo de trabalho, o desanima

e reforça sua interpretação de que o trabalho diferenciado qualitativamente não tem

valor na rede estadual de educação.

O investimento que fez ao cursar a licenciatura em Ciências Biológicas – “o curso de

Biologia dá a impressão de ser um colegial mais forte”4 – não pode esperar mais

tempo para ter o retorno. Esta forma de pensar é qualificada pelo professor Edson

como sendo “prática” e é uma das marcas fundamentais na organização de seu

trabalho em aula.

Um dos aspectos de “ser prático”, na vivência do professor, é levar rapidamente

para a aula aspectos aprendidos nos cursos da Universidade e em outras instâncias,

como a Oficina Pedagógica. Sua atenção nos cursos está voltada para a elaboração

de formas de associar os conhecimentos adquiridos com atividades e reelaborações

necessárias para sua adequação na aula. Essa relação entre teoria e prática foi um

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aprendizado que teceu durante a sua vivência simultânea como professor de

Biologia e Ciências e aluno do curso de licenciatura. Sentiu falta desse movimento,

após a graduação, buscando, então, projetos e cursos nos quais poderia continuá-lo.

Esse fato é muito importante para compreender as atitudes de inovação em alguém

que tem tão cristalizadas variadas visões da escola, se aproximando de aspectos

fortes da tradição escolar, como a disciplina, a autoridade do professor como

detentor de maior conhecimento, as expectativas quanto a tipos de aprendizagem

dos alunos etc. Também julgo ser relevante destacar a importância da formação

continuada dos profissionais de educação, que pode representar o espaço para

discussões, reflexões e criações metodológicas ou de quaisquer outras naturezas,

além do estímulo à inovação curricular.

O professor Edson guarda-se ao direito de se assustar com atitudes, principalmente

dos alunos, que podem desmontar seus preconceitos a respeito de interesses e

envolvimento deles. Em alguns momentos, alunos o surpreendem, pois jugnado-os

apáticos e desinteressados, acha impressionante o fato de terem trabalhado. “Como

é que pode? 3º ano! Eu até pensei que eles fossem ignorar este tipo de serviço.”5

As experiências que considera como de sucesso na sua relação com os alunos e a

disposição de levar de imediato para aula informações e vivências, que teve

principalmente em cursos, estimulam o professor a se aventurar metodologicamente,

tecendo caminhos muito interessantes, como as adaptações que fez a partir das

atividades originais desenvolvidas no curso na Delegacia de Ensino.

A aula é invadida pelas relações entre biologia, tecnologia e cultura6

Eu passo muita matéria na aula. Eles escrevem bastante, mas na explicação eu não

[me] alongo. Eu acho que não vale a pena! Chegava na aula, batia o sinal, 4 Sobre

como avalia a sua formação universitária, o professor Edson diz o seguinte: “Eu

acho que a formação dentro da faculdade deveria ser diferente. Porque quem não

sabe mexer em computador, quem não sabe – eu não sei – falar inglês... Tem que

saber falar inglês, tem que ler jornal todo dia, tem que ver jornal todo dia, tem que

ouvir rádio todo dia, porque, ao chegar na aula, o aluno que fez isso, vai saber mais

do que você. Não é só saber aquele específico só da Biologia, tem que saber o que

aconteceu fora da Biologia, para fazer comparações. A formação de professores

nesta área está fora de foco, porque normalmente o que é dado é só aquilo, só a

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matéria. E não dá para ser um bom professor sabendo só aquilo. Igual no caso da

sua oficina, você falava de filosofia, filosofava sobre um assunto relacionado à

Biologia, uma coisa que eu nunca tinha pensado, você falava de história da

biologia... eu passava coisas na lousa, os alunos entravam, copiavam, eu explicava

o que estava na lousa. No máximo dez minutos, o assunto é esse, é isso. Passava

de dez, estava falando outras coisas, que não tinham nada a ver. ... Essa era a

minha característica: coisas bem práticas, resumidas, sem muita teoria, porque não

adianta nada, o aluno não vai aprender nada. Um coisa bem simples, eu resumia

tudo.

Essa foi a maneira como o professor Edson narrou a sua aula, iniciante no

magistério, com a experiência de três anos. Buscando o significado da praticidade

que atribui ao seu trabalho, encontrei em suas falas o ser prático como um ser capaz

de discernir o que serve ou não para o espaço e o tempo da aula, particularmente o

que possa ser utilizado ou aprendido de imediato. Caracteriza o espaço da aula

como um espaço que exige respostas rápidas para manter o interesse dos alunos e

para a manutenção da disciplina – especialmente numa época em que se ameaça a

avaliação como um instrumento disciplinador, de manutenção da atenção e de

interesse dos alunos nos conhecimentos que compõem o currículo oficial das

escolas cujo transmissor, pela autoridade que já lhe é conferida socialmente, é o

professor. Isso porque não tem outros atrativos para os alunos, como o laboratório

de Ciências, característica que atribui como sendo específica no trabalho do

professor de Biologia/Ciências. Pois bem, é nesse contexto que o professor Edson

desenvolveu várias atividades em aula e que, de alguma maneira, relacionam com o

curso que fez nas orientações técnicas. Deu-lhes um caráter prático, seguindo as

características que marcam as suas aulas tanto na disciplina de Biologia quanto na

de Saúde Pública.

Uma primeira atividade – sobre “o corpo humano no contexto social” – baseou-se

em outra homônima apresentada no curso. As tabelas e as questões foram as

formas que o professor escolheu para que os alunos trabalhassem com

necessidades do corpo humano, relacionando-as à biologia e à cultura. A

separação entre biologia e cultura é proposital na organização da atividade e tem

como intenção problematizar as aproximações entre as culturas científicas

(biologia) e outras culturas nas representações sobre o nosso corpo.

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“Nosso corpo é a fusão do biológico com o cultural”

Atividade: Utilizando você como exemplo e comparando com as demais pessoas

que estão na aula, complete a seguinte tabela.

Necessidades do corpo humano

Elemento biológico

13. Aprender

12. Descansar

11. Limpar

10. Defecar

9. Adaptação às condições ambientais

8. Reprodução

7. Proteção

6. Locomoção

5. Alimentação

4. Sentir

3. Respirar

2. Comunicar

1. Ver

Elemento cultural

a) Para que ou por que foram criados os elementos culturais?

b) Quais os pontos positivos e negativos que o elemento cultural traz para o nosso

corpo?

c) Quais as possíveis doenças que surgiram em decorrência do aperfeiçoamento do

elemento cultural?

Realizando uma das possíveis leituras do trabalho do professor, vislumbra-se que

ele transformou a tabela original, ampliando a quantidade de necessidades do corpo

humano para as quais os alunos deveriam encontrar elementos biológicos e

culturais. Acrescentou necessidades como a de aprender, muito ligada a uma

tentativa de destacar a função social da escola, e as de limpar e defecar, associadas

a práticas de higiene e saúde, o que se justificaria, em princípio, pelo fato de ter

produzido esta atividade para desenvolvê-las em aulas de Saúde Pública.

Pelas questões elaboradas, o professor – dando uma forma de abordar o conteúdo

“corpo humano como fusão do biológico com o cultural” – propõe para os alunos

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que, em grupo, reconheçam algumas relações conflituosas entre o elemento cultural

e o elemento biológico no atendimento a necessidades do nosso corpo. Cria uma

situação em que o elemento cultural distorceria as funções naturais do corpo e

conduz à necessidade de discussão ou levantamento da problemática relacionada

ao seu impacto em nossas vidas, por exemplo ao propiciar o aparecimento de

doenças. Nas questões que formulou, é perceptível que o professor as organizou de

modo que os alunos pudessem discutir e avaliar o poder dos elementos culturais em

nossa sociedade. Tal avaliação não coube explicitamente ao conhecimento

científico, uma vez que privilegia a análise de outros fatores culturais (mas não-

científicos) que delineiam a representação de corpo humano. A percepção biológica

“naturalizada” do nosso corpo parece estar isenta de avaliação quanto aos aspectos

positivos e negativos que dela se derivam.

Em outra atividade o professor retoma a discussão dessa relação entre biologia e

cultura, ao tratar de doenças que tenham causas sociais diversas. Assim o professor

organizou a atividade que denominou “População e meio ambiente”, na qual atenta

para a problemática dos seguintes aspectos e conflitos causados pela

superpopulação: doenças, fome, guerras e sobrevivência do mais forte.

Criada de forma original pelo professor Edson, esta atividade não representa uma

seleção, um recorte similar, de formas e conteúdos abordados que já tivessem sido

apresentados no curso. Relacionam-se, entretanto, a perspectivas metodológicas

mais amplas do curso, como as interações CTS.

“População e meio ambiente”

a) Quais as principais doenças que surgiram em decorrência do aumento da

população mundial?

b) Quais são as maneiras de evitar uma explosão demográfica?

c) Através desses fatores, podemos dizer que nosso corpo depende da nossa

relação com a sociedade?

d) Quais as doenças que talvez não tivéssemos, se vivêssemos em uma sociedade

sem conflitos?

e) De que maneira a sociedade conseguiu erradicar ou amenizar certas doenças

que ela mesma causou?

Doença

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Órgão(s) afetado(s)

Causa cultural

Compartilhando a opinião de ser necessário tratar das relações do corpo humano

com a sociedade, o professor Edson estrutura a atividade de tal forma que a partir

de um problema social – a superpopulação – estimula os alunos a discutirem as

causas desse problema e suas conseqüências (por exemplo, doenças), associando-

o a uma sociedade em conflitos (com diferenças de classe, de renda, com guerras e

disputas de poder). Percebe-se facilmente que define a sociedade com a qual o

corpo humano tem dependência: a sociedade capitalista.

Se, dentro do espaço da aula os professores e os alunos são autores de um

conhecimento, considero pertinente abordar o papel do professor Edson nesse

processo, dentro da metáfora do escritor progressista, definida por Walter Benjamin

(1985), como sendo aquele cuja decisão se dá no campo da luta de classes, na qual

se coloca ao lado do proletariado; daí sua autonomia de autor, sua produção estar

ligada a interesses de classe. A produção de que é autor situa-se, pois, dentro das

relações de produção de uma determinada época. Parece-me importante resgatar o

papel do professor como autor e produtor de conhecimento, principalmente em um

contexto que o tem alienado de se reconhecer como tal, situação que, quando

descoberta, causa-lhe estranhamento, mas ao mesmo tempo traz-lhe lembranças de

ações críticas.

Pesquisador: Essa outra atividade [“População e meio ambiente”] foi originalmente

criada por você?

Edson: [espanto] Essa daí não tem nada a ver com a sua oficina? [curso oferecido

na Delegacia de Ensino]

Pesquisador: Essa daqui você montou a partir de coisas que lhe chamaram a

atenção.

Não foi oferecida no curso com esse formato.

Edson: Mas isso não tem em livros didáticos. Eu nunca vi em livros didáticos uma

abordagem que compare o lado específico – corpo – com a sociedade. Que eu saiba

não tem.

Só se tem e... Eu lembro bem. Vi num livro o item “Sociedade e meio ambiente”, e

tinha 3 parágrafos, [risos] só isso! [risos] Pensei nisso daí, nesses temas que tinham

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no livro: meio ambiente, fome, doenças e guerras, que são as três mais evidentes

para a gente. Aí olhando o quadro, eu criei este aí, sempre relacionando com

sociedade também. Relacionei com a sociedade o que causava doença, fome e

guerra. Só que eu falei – aqui eles fizeram muita coisa – no biológico, na causa

cultural... Foi muito difícil. Vai num crescente: encontrar a doença é fácil, o elemento

biológico é mediano, a causa cultural é difícil.7

Percebo que o professor Edson apresenta uma iniciativa de aproximação do homem

com a sociedade pela vertente do equilíbrio populacional – conceito clássico dentro

da Ecologia. Concebe uma separação do homem com a sociedade, separação

extrapolada para o corpo humano e a cultura. Também nessa atividade, ressalta a

residência do problema nas causas culturais, apesar de oportunizar a discussão da

contradição existente nas práticas culturais que, ao mesmo tempo que geram

doenças, podem erradicá-las ou amenizá-las.

Ao transpor abordagens que vinculam o corpo humano com a sociedade para o

currículo formal das escolas – por exemplo, articulando-as com os temas de

Ecologia – o professor Edson inova no sentido de levar para aulas de Biologia

contextualizações específicas para a sociedade capitalista. Articula referenciais

metodológicos marcadamente biológicos e outros culturais para análise do

ambiente, a partir dos quais propõe uma explicação da sociedade. Por exemplo, cita

que os conflitos causados pela superpopulação levam à sobrevivência do mais forte,

aplicando interpretação do princípio da luta pela sobrevivência e de seleção natural

na compreensão de aspectos sociais. Reforça, por outro lado, que todo e qualquer

elemento cultural é causa de desequilíbrios, como doenças, guerras, possivelmente

porque tal elemento não caiba na interpretação biológica, “natural” das relações de

vida entre os seres.

Uma última atividade a ser apresentada representa um exemplo claro do processo

de seleção realizado pelo professor na sua metodologia , resultando em ações em

aula, que têm o aluno como elemento chave de acordo com o próprio professor.

Como os alunos (ou a representação que o professor tem deles) condicionariam

essas adaptações? Aproximar da sua realidade, poderia ser uma suposição – eis,

novamente, os tópicos ligados à saúde utilizados para resolver essa necessidade.

Outra solução seria diminuir o tamanho do texto para poder trabalhá-lo dentro do

tempo escolar, do ritmo de leitura dos alunos, das condições de trabalho que não

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permitem a reprodução, via xerox, dos textos, tendo que copiá-los no quadro ou ditá-

los.

Mas o que ficou da seleção feita ao reduzir o texto original? Por que alguns

elementos foram suprimidos e outros permaneceram? Que relações têm essas

ações do professor com sua representação do papel do aluno dentro do processo de

construção do conhecimento escolar?

Podemos encontrar respostas para essas perguntas analisando como o professor

organizou as atividades abaixo para trabalhar com seus alunos.

Texto original: “O corpo humano e a sociedade”

O nosso corpo pode ser visto, para fins de estudo, sob diversos pontos de vista. Um

desses pontos de vista é o da ciência, que descobriu uma série de coisas que hoje

são de conhecimento de várias pessoas, por exemplo: médicos. O estudo do nosso

corpo, no campo das Ciências, é realizado por cientistas na área de Anatomia

Humana (estuda os órgãos do corpo humano), na área de Fisiologia Humana

(estuda o funcionamento dos órgãos do corpo humano), na área de Citologia e

Bioquímica (estudam a parte microscópica do corpo humano), na área de Histologia

(estuda os tecidos que formam o corpo humano), na área de Genética (estuda as

informações hereditárias que passam de pais para filhos), na área de Paleontologia

e Evolução (estuda corpos de seres humanos que viveram em outras épocas), na

área de Fisioterapia, na área de Antropologia (estuda as relações sociais dos seres

humanos), na área de Dança, na área de Teatro, na área de Educação, dentre

tantas outras. Então, o corpo humano não se restringe apenas ao estudo dentro da

Biologia; existem informações de outras áreas.

O corpo humano aparece, por exemplo, como inspiração para artistas plásticos e

escultores, para fotógrafos, para músicos, para poetas etc. Além desse lado mais

romântico, o corpo humano é, também, produto que pode ser vendido, como no

caso de prostituição, tanto masculina quanto feminina.

O corpo humano apresenta também o seu caráter político, quando é objeto de

discussões em nossa sociedade que tratam de questões de saúde pública

(tratamento de saúde, funcionamento dos hospitais, saneamento básico, infecção

hospitalar, vacinas e proteção contra doenças, medicamentos etc).

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Mesmo que não concordemos com uma visão reducionista que é passada quando

comparamos o corpo humano a uma máquina, na atualidade é cada vez mais

crescente a possibilidade de se fazerem substituições de órgãos do nosso corpo por

outros artificiais ou a utilização de aparelhos que podem auxiliar ou desempenhar

uma série de funções fisiológicas. Tais situações mostram bem a interface da

tecnologia com temáticas relativas ao corpo humano.

Como em qualquer situação que envolve tecnologia, há de se dimensionar tanto os

aspectos positivos quanto os negativos de sua utilização, como os que podem ser

vistos na sua aplicação na área da Saúde que, se por um lado, podem representar

possibilidades de melhorias nas condições de vida, há questões como intoxicação

ou contaminação por substâncias utilizadas nas máquinas ou falhas na sua

manutenção, rejeição dos órgãos artificiais, dentre outros.

Então, apesar de a gente estudar apenas alguns aspectos do corpo humano, é

importante que lembremos sempre que ele não se restringe a cabeça, tórax,

abdome, membros e os órgãos internos.

Reúnam-se em grupos e levantem exemplos que ilustrem:

a) Como os corpos humanos se comportam em sociedade?

b) Como tentamos em sociedade esconder alguns aspectos do nosso corpo (formas,

odores, beleza/feiura etc.)?

c) O que é valorizado pela nossa sociedade em termos de qualidades do corpo

humano?

Produção do professor Edson: “Abordagens do corpo humano na sociedade”

O nosso corpo pode ser visto, para fins de estudo, sob diversos pontos de vista. Um

desses pontos de vista é o da ciência, que descobriu uma série de coisas que hoje

são de conhecimento de várias pessoas, por exemplo: médicos. O estudo do nosso

corpo, é realizado por cientistas nas áreas de Anatomia Humana, Fisiologia etc.

O corpo humano aparece, por exemplo, como inspiração para artistas plásticos e

escultores, para fotógrafos, para músicos etc.

Além desse lado mais romântico, o corpo pode ser vendido, como no caso de

prostituição, tanto masculina quanto feminina.

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O corpo humano apresenta também o seu caráter político, quando é objeto de

discussões em nossa sociedade que tratam de questões de saúde pública (vacinas,

medicamentos etc).

Devido a determinadas doenças, é cada vez mais crescente a possibilidade de se

fazerem substituições de órgãos do nosso corpo por outros artificiais ou a utilização

de aparelhos que podem auxiliar ou desempenhar uma série de funções fisiológicas.

Perguntas:

a) De que maneira o texto aborda nosso corpo?

c) É realmente nosso corpo comparado a uma máquina?

Atividade:

a) Como os corpos humanos se comportam em sociedade?

b) Como tentamos, em sociedade, esconder alguns aspectos do nosso corpo

(formas, odores, beleza/feiura)?

c) O que é valorizado pela nossa sociedade em termos de qualidades do corpo

humano?

Fica evidente que o professor, ao suprimir algumas partes do texto original,

selecionou ítens que julgou mais importantes. Mudando também o título do texto de

“O corpo humano e a sociedade” para “Abordagens do corpo humano na

sociedade”, o professor reorganiza três parágrafos que apresentam idéias ligadas à

abordagem científica, à abordagem social e à abordagem tecnológica do corpo

humano. A partir da seleção de trechos específicos do texto original, dá ao novo

texto uma forma que possibilite perceber o enfoque CTS nesse conteúdo.

É interessante ressaltar que o professor Edson leva para discussão em aula três

pontos-chaves dentro da metodologia que apresentei no curso, que são as

diferentes representações do corpo humano, a questão da fragmentação do nosso

corpo, a comparação do corpo com a máquina. Inclui tais aspectos na forma de

questões, que não estavam presentes na atividade original.

Ao fazer a seleção a partir do texto originalmente apresentado e discutido no curso,

o professor escolhe a concepção de ciência como sendo equivalente apenas à área

de conhecimento biológico, especificamente a fisiologia e anatomia humanas.

Vincula, pela saúde, a relação entre corpo humano e sociedade, selecionando,

dentre os diferentes aspectos que conferem a dimensão política do corpo humano8 ,

aqueles que ressaltam a existência de tecnologias para beneficiamento da

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população, excluindo as percepções mais claras da saúde como um bem coletivo

(saneamento básico, por exemplo). Por sinal, ao escolher vacinas e medicamentos

como exemplos da interface tecnológica da ciência com a sociedade, aproxima-se

da hegemonia presente nos materiais didáticos, conforme pude identificar em minha

pesquisa de mestrado. Aspectos mais polêmicos e que suscitariam, teoricamente,

uma discussão a respeito da transformação da realidade foram excluídos. Aos

alunos, ao que parece, coube o acesso à informação, de uma forma mais crítica,

certamente.

Percebi que o professor Edson rompeu os “enquadramentos das telas e janelas”9

que conferi à metodologia que construí. Isso pode indicar o “remoto controle”10 que

existe nas interações entre forma e conteúdos características de uma proposta de

ensino quando esta é aplicada, desenvolvida em outro campo, como as diferentes

salas de aula de nossas escolas.

O professor Edson construiu em aula movimentos a partir de processos de seleção,

reorganização, reprodução das atividades originais. Aproximou as atividades

originais da realidade dos alunos possibilitando, no trabalho em aula, o diálogo entre

a ciência e a cultura, de modo a diminuir certa estranheza ou um assombro.

Elaborou contextualizações específicas dos temas trabalhados dentro da sociedade

capitalista, destacando a individualidade, a competição, a luta pela sobrevivência e

os conflitos sociais.

8 Chamo de dimensão política do corpo o conjunto de práticas sociais,

particularmente as de gerência pública, que para serem instituídas lançam mão de

representações do corpo humano configurando-o, por exemplo, como algo que

necessita de higienização, de atendimento hospitalar, de horas de trabalho e de

lazer etc.

9 Parafraseando Adriana Calcanhoto na música Esquadros.

10 Idem.

Buscando compreender os processos da construção metodológica que o professor

Edson fez nas suas aulas aproximei-me de algumas discussões dentro do campo do

currículo que, particularmente, vêm tratando da relação entre saber, poder e

conhecimento escolar. Especialmente foi importante o contato com o trabalho de

Thomas Popkewitz (1994). Considerando as ações do professor como se

constituindo em formas de regulação social,11 percebo que nas relações entre

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forma e conteúdo, prioriza-se a produção de um conhecimento particular sobre o

modo como os alunos tornarão o mundo inteligível. Segundo Popkewitz, essa

organização do conhecimento corporifica formas particulares de agir, sentir, falar e

ver o mundo. Trata-se, também, de um novo conhecimento nascido ou evidenciado

nas relações que se estabelecem na aula.

Com esse referencial, aprendo que a seleção de conhecimento implica não apenas

informação, mas regras e padrões que guiam os indivíduos ao produzir o seu

conhecimento sobre o mundo. Na forma como o professor Edson organizou as

atividades para seus alunos, as regras e os padrões da ciência é que regularão, sem

contestação, os seus caminhos de reflexão e ação prática, além de disposições e

consciência do mundo social. Pois ele privilegiou a análise avaliativa dos fatores

culturais (mas não-científicos) que delineiam a representação de corpo humano.

Fica também a impressão de que um olhar crítico que os alunos teriam sobre as

ações culturais do homem reconfiguraria a percepção do que é o nosso corpo e o

quanto ele está impregnado e submisso a aspectos culturais. A cultura poderia

também ser compreendida como um conjunto de ações que dão uma nova

dimensão social aos aspectos biológicos, “naturais” do nosso corpo.12

Os dados derivados do trabalho do professor Edson sensibilizam-me a reconhecer

que um conhecimento particular foi sendo tecido em interações dentro do contexto

escolar.

Por exemplo, parece-me que a contextualização das atividades originais foram

baseadas em princípios relativos à relação espaço/tempo escolar, às normas, aos

valores e às crenças que poderiam/deveriam ser questionados, à flexibilidade ou à

rigidez da grade curricular, ao pensar e ser diferente, às práticas interativas em aula.

Posso também ampliar a compreensão sobre conteúdo e forma assumidos por uma

disciplina na prática pedagógica quando considero as forças e os interesses sociais

que criaram condições para a vitória. É novamente com Lucíola Santos (1994) que

aprendo que quando se discutem os estudos da história de uma disciplina não se

pode considerar apenas o que ocorre em aula, o que levaria a uma visão muito

restrita e mesmo deformada. Uma das condições, nessa história, seria a autonomia

relativa do professor quando trabalha com disciplinas sem muito controle curricular,

como é o caso de Saúde Pública que compõe a parte diversificada do currículo.

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A constituição de territórios conectando produção de conhecimento escolar e

contexto CTS

Ao pensar em questões como os processos de inovação curricular, identifiquei como

insatisfatórias as análises que privilegiam a conversão do saber científico em saber

escolar, centradas nas características epistemológicas e de correção conceitual

científicas que deveriam estar presentes no conhecimento escolar, marca da maioria

de trabalhos que versam sobre contextos inovadores para o ensino, incluindo o

CTS, como apontei no início deste artigo.

11 “Podemos pensar sobre o currículo como criando regulação em dois diferentes

níveis. Primeiramente a escolarização impõe certas definições sobre o que deve ser

conhecido. Trata-se da questão spenceriana: qual conhecimento é mais válido?

Certas informações são selecionadas dentre uma vasta gama de possibilidades.

Essa seleção molda e modela a forma como os eventos sociais e pessoais são

organizados para a reflexão e a prática. ... Um diferente nível de regulação, um

nível, para mim, fundamental para compreender as escolas, é o de que a seleção de

conhecimentos implica não apenas informação, mas regras e padrões que guiam os

indivíduos ao produzirem seu conhecimento sobre o mundo” (Popkewitz, 1994,

p.192).

12 Para mais detalhes ver Santos (1997, 1999).

Buscando uma nova possibilidade de compreensão para o que ocorria em aula,

encontrei idéias que concebem o currículo escolar como uma seleção cultural dos

conteúdos julgados como válidos e verdadeiros em determinado contexto histórico

por um grupo interessado.

Posso, então, considerar que as representações de tecnologia, cultura e ciência e

sua interface com a sociedade encontradas na prática do professor Edson estão

também destacadas em outros campos sociais, além da escola. Por exemplo, a

concepção de tecnologia do professor Edson atrela-se à noção de que seja uma

conseqüência diante das necessidades para cura de doenças, prolongamento da

vida, melhoria das condições de vida da população, representações também

preponderantes nos materiais didáticos de uso no cotidiano escolar, que por sua vez

são produto de uma cultura diferente, que é a do campo editorial.

Caminhando em outra direção, na tentativa de traçar o mapa das relações que

podem ser estabelecidas na explicação do trabalho do professor, considero que os

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conhecimentos mais facilmente integráveis ao currículo, sobretudo no nível da sala

de aula, são aqueles que mais plenamente se adaptam ou mais facilmente se

submetem a processos do tipo da transposição didática. Assim, esta seria uma outra

interpretação para o fato de o professor ter trabalhado com determinadas

concepções de tecnologia, de ciência e de cultura.

Imagino que ocorra uma produção de conhecimentos escolares e que isso se dê

dentro de um contexto que propicia a participação de um conjunto variado de

conteúdos que constroem percepções diferentes da realidade social, significando

formatos diferentes de enquadramento dessa realidade, mutáveis, transitórios e

passíveis de serem questionados.

As atividades que o professor desenvolveu em suas aulas de Biologia e de Saúde

Pública constituíram, na dinâmica das relações entre formas e conteúdos, o que

posso chamar de conhecimento escolar. Esse conhecimento pode ser visto como

resultado da apropriação pedagógica de conhecimentos produzidos por diferentes

campos do saber. Baseando-me em Lucíola Santos (1993), compreendo que, no

movimento de produção, o conhecimento escolar teve como conteúdo os

conhecimentos derivados dos diferentes campos do saber e sua forma foi dada

pelas diferentes teorias e princípios metodológicos no campo do ensino e da

aprendizagem. Posso entender que as disciplinas pedagógicas estão diretamente

relacionadas à forma do discurso pedagógico, ou seja, é através do conteúdo

abordado por essas disciplinas que o conhecimento dos diferentes campos ganha o

“status” do conhecimento escolar.

Uma outra explicação, também para essa situação das aulas do professor Edson, é

possível ser realizada segundo Basil Bernstein (1996). Para este autor, o

conhecimento escolar é entendido como o resultado de recontextualizações

sucessivas do discurso de um campo intelectual ou de uma área de conhecimento.

O discurso de um campo de conhecimento é deslocado de seu campo original e

realocado na escola, onde é recontextualizado de acordo com a gramática do

aparelho escolar. Nesse contexto, o campo pedagógico forneceria o conjunto de

regras (discurso pedagógico) através das quais os discursos de outros campos se

transformam em conhecimento escolar.

A proposição e análise dos processos de organização curricular a partir de novos

paradigmas da educação científica – como é o caso do movimento CTS – ganham

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outras dimensões quando consideram a instância da aula como produtora de

conhecimentos que necessariamente dialogam e (se) modelam na interação com os

demais conhecimentos culturais propostos como necessários e pertinentes para a

inovação do ensino das Ciências. Criam emolduramentos nas relações, sempre

tensas, entre tradição e novo, formas e conteúdos, no processo de produção do

conhecimento escolar. Deste ponto, puxo fios produzidos em trabalho anterior

debatido na IV Escola de Verão (Amorim, 1999) e que gerou alguns

questionamentos, relativos particularmente à qualidade e à quantidade da mudança

dos professores que participam de cursos de formação inicial ou continuada sobre

ensino de Ciências em contextos não-tradicionais, como o das relações CTS. Tracei

neste artigo um território em que respostas a esses tipos de inquietação podem ser

vislumbradas. Brotam em superfícies heterogêneas nas quais as ações curriculares

são visualizadas em metamorfoses.

Busco conexões para dar visibilidades a essa analogia, inspirando-me humildemente

no propósito do “Marco Polo”, de Ítalo Calvino (1997), no esplêndido As cidades

invisíveis. Uma dessas cidades, a oculta Olinda, transforma-se, aumenta o tamanho

a cada momento que a olhamos pelo intermédio de lentes. Olhares atentos e

instrumentalizados percebem que a Olinda inicial, original, não permanece imóvel e

torna-se, após um tempo, uma “cidade de tamanho natural, contida na primeira

cidade: uma nova cidade que abre espaço em meio à primeira e impele-a para fora”

(p.119). Na metamorfose de Olinda, as velhas muralhas se dilatam levando consigo

os bairros antigos, ampliados. A nova Olinda, “em suas dimensões reduzidas

conserva os traços e o fluxo da linfa da primeira Olinda e de todas as Olindas que

despontaram uma de dentro da outra” (p.120). Esse processo, a metamorfose de

Olinda, aproximo-o das definições de texto que Antonio Batista (1996) tece em seu

trabalho: o texto é igual a uma cidade antiga que, ao longo de sua história, foi

invadida, destruída e reconstruída por diferentes conquistadores; é manuscrito

medieval, em que se misturam, sem distinção, as vozes de seus autores, de seus

comentadores, dos que o copiam, dos censores que o modificam e refazem...

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HISTÓRIA E FILOSOFIA DAS CIÊNCIAS NO ENSINO DE BIOLOGIA

Maria Helena da Silva Carneiro1

Maria Luiza Gastal2

Resumo:

Neste trabalho, buscamos evidenciar a concepção de História da Biologia que é

veiculada nos livros didáticos. Para tanto, analisamos três coleções de livros de

Biologia destinados ao Ensino Médio, e alguns livros universitários usados em

cursos de formação de professores. Ao analisar este material curricular foi possível

observar que a história apresentada é desvinculada do contexto cultural de cada

período histórico, o que pode levar o aluno a construir uma falsa representação da

ciência e do fazer científico.

Unitermos: ensino de Biologia, História e Filosofia das Ciências, livro didático.

Abstract:

In this work, we search forto evidences the conception of the History of Biology being

is propagated in textbooks. We analyze three Biology book collections designed

estined forto middle schooledium education, and some university books used in

teacher education courses. When analyzing this curricular material it was possible to

observe that the history of biology presented is disengaged from entailedofthe

cultural context of each historical period, and this what can lead the student to

construct a false representation of science and of scientific meaning making.

Keywords: Biology teaching, History and Philosophy of Sciences, textbook.

Introdução

A inclusão da perspectiva histórica no ensino de ciências é constantemente

defendida por muitos pesquisadores da área de ensino de ciências (Matthews,

19953; Gagné, 1994; Pretto, 1985). O projeto 20061, 1985, já recomendava a

inserção/inclusão de elementos de História e de Filosofia das Ciências nos

currículos do Ensino Fundamental e Médio. Carvalho e Vannucchi,1996, ao discutir

as inovações e tendências do ensino de Física destaca que, “no V RELAEF –

Reunião Latino Americana sobre Educação em Física – o grupo de trabalho sobre

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História e Filosofia das Ciências mostrou a importância destes estudos para a

formação de professores, tendo em vista proporcionar: uma maior compreensão da

natureza do conhecimento científico; um melhor entendimento dos conceitos e

teorias da física; uma compreensão dos obstáculos e possíveis dificuldades dos

alunos; e uma concepção das ciências como empresa coletiva e histórica e o

entendimento das relações com a tecnologia, a cultura e a sociedade.”

Acredita-se que a História e a Filosofia das Ciências podem apresentar algumas

respostas à crise mundial da educação científica:

Podem humanizar as ciências e aproximá-las dos interesses pessoais, éticos,

culturais e políticos da comunidade; podem tornar as aulas de ciências mais

desafiadoras e reflexivas, permitindo, desse modo, o desenvolvimento do

pensamento crítico; podem contribuir para um entendimento mais integral de matéria

científica, isto é, podem contribuir para a superação do “mar de falta de significação”

que se diz ter inundado as salas de aula de ciências, onde fórmulas e equações são

recitadas sem que muitos cheguem a saber o que significam; podem melhorar a

formação de professores auxiliando o desenvolvimento de uma epistemologia da

ciência mais rica e mais autêntica, ou seja, de uma maior compreensão da estrutura

das ciências bem como do espaço que ocupam no sistema intelectual das coisas.

(Matthews, 1995)

1 Faculdade de Educação (UnB). E-mail [email protected]

2 Instituto de Ciências Biológicas (UnB). E-mail: [email protected]

3 Este trabalho foi originalmente publicado, em inglês, em 1992, na revista Science

& Education, 1(1): 11-47.

Nessa mesma direção, os parâmetros curriculares brasileiros, tanto do Ensino

Fundamental como do Ensino Médio incorporaram esta recomendação/orientação:

A dimensão histórica pode ser introduzida nas séries iniciais na forma de história dos

ambientes e invenções. Também é possível o professor versar sobre a história das

idéias científicas, que passa a ser abordada mais profundamente nas séries finais do

Ensino Fundamental (p. 32). Já nos PCN do Ensino Médio, os autores destacam

que “Elementos da história e da filosofia da Biologia tornam possível aos alunos a

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compreensão de que há uma ampla rede de relações entre a produção científica e o

contexto social, econômico e político (p. 32)”.

Este aparente consenso entre os pesquisadores de didática das ciências quanto à

incorporação de componentes da História e Filosofia das Ciências nos currículos

escolares e em cursos de formação de professores vem encontrando eco nos livros

didáticos de Biologia desde os anos 60, quando essa área do conhecimento se

constituiu enquanto disciplina escolar desvinculando-se da História Natural. Há uma

preocupação em apresentar aspectos históricos na introdução de conceitos

científicos. Entretanto, ainda falta uma análise crítica do tipo de história veiculada

nesses livros e de como a concepção de História e Filosofia das Ciências deve ser

trabalhada nos diferentes níveis de escolaridade. Assim, o que se deveria questionar

é a concepção de história veiculada nesses materiais e não a sua ausência.

Um dos poucos trabalhos já realizados neste sentido ressalta a predominância de

um modelo de História da Ciência onde, paradoxalmente, a ciência aparece como

um processo a-histórico.

A apresentação da ciência é absolutamente a-histórica. Sem referência a seu

processo de criação e muito menos ao contexto em que foi criada. E, o que é pior,

na tentativa de suprir esta lacuna passa uma visão da História da Ciência como se

fosse, como já dizíamos, um armazém, um depósito onde se guardam as vidas dos

cientistas, seus feitos e suas obras. (Pretto, 1985; p. 77)

Embora muito criticado nos últimos anos por dar muita ênfase ao chamado método

científico, o livro Biological Sciences Curriculum Study – BSCS (1983) – foi um dos

materiais curriculares produzidos nos anos 60 que já apresentava preocupação com

a contextualização histórica. O manual do professor deste projeto destaca que:

A apresentação destes aspectos pode ser útil por contribuir para dar ao aluno uma

visão mais realista e inteligível da ciência. Poderá ajudar a modificar as idéias

extraordinariamente irreais, fantásticas e antagônicas que, segundo vários estudos

demonstram, muitas pessoas fazem da ciência e dos cientistas. Por isso, sempre

que possível, a narrativa do inquérito, os exercícios e outros materiais descrevem a

investigação em termos de pessoas, lugares e incidentes que nela estão envolvidos

(p. 27).

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Como se pode observar, já se acreditava que a inserção desses componentes

pudesse modificar as idéias extraordinariamente irreais (grifo nosso) que se fazia (e

que se faz ainda hoje) da ciência e do fazer científico.

Maria Helena da Silva Carneiro e Maria Luiza Gastal

Quanto aos livros universitários, aqueles usados nos cursos de formação de

professores de Biologia, muitos deles apresentam uma contextualização histórica

dos temas abordados. A título de exemplo citamos o livro “Ecologia” de E. O. Odum,

ainda hoje usado em cursos de licenciatura:

O termo “ecossistema” foi proposto primeiramente em 1935 pelo ecologista britânico

A. G. Tansley, mas, naturalmente, o conceito é bem mais antigo. Mesmo na mais

remota história escrita, encontram-se alusões à idéia da unidade dos organismos

com o ambiente (e, também, da unidade dos seres humanos com a natureza).

Enunciados formais da idéia começaram a aparecer somente no fim do séc. XIX e –

fato curioso – paralelamente nas publicações sobre ecologia americanas, européias

e russas. Assim, em 1877, Karl Mobius escreveu (em alemão) sobre a comunidade

de organismos num recife de ostras como uma “biocenose”, e, em 1887, o

americano S. A. Forbes escreveu seu ensaio clássico sobre o lago como um

microcosmos. O pioneiro russo V. V. Dokuchaev (1846-1903) e seu discípulo

principal, G. F. Morozov (que se especializava em ecologia florestal), enfatizaram o

conceito de “biocenose”, vocábulo posteriormente expandido por ecologistas russos

para “geobiocenose”(...). (Odum, 1983; p. 9)

Neste artigo, pretendemos indicar algumas concepções de História da Ciência

presentes em Livros Didáticos de Biologia (LDB), desde os anos 60, e discutir

algumas implicações deste modelo de história no ensino.

A história veiculada nos livros didáticos e suas implicações pedagógicas

Apesar dessa crítica, a concepção de História da Biologia veiculada pelos livros

didáticos do Ensino Médio e Universitário caracteriza-se por reforçar uma imagem

de ciência e de sua história que já se vem tentando combater nas três últimas

décadas. Citaremos a seguir algumas características de tal concepção que

aparecem nos LDB.

Histórias anedóticas – Os episódios históricos, geralmente centrados na biografia

de um cientista, evidentemente podem ter seu lugar no processo educativo, mas

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desde que caracterizados como tal (como biografia), e inseridos num contexto mais

amplo de análise histórica. Caso contrário, esta forma de apresentar os aspectos

históricos pode reforçar ou induzir os alunos à construção de uma imagem na qual a

produção do conhecimento científico se limita a eventos fortuitos, dependentes da

genialidade de cientistas isolados.

Primeiro exemplo:

Mendel foi criado num distrito agrícola que hoje faz parte da Tcheco-Eslováquia.

Muito cedo foi atraído pela vida monástica e ordenou-se com vinte e cinco anos de

idade. Mais tarde estudou Matemática e História Natural na Universidade de Viena e

lecionou no colégio da cidade de Brünn durante alguns anos. Foi nessa época que

organizou um pequeno canteiro no convento, onde realizou as famosas experiências

com ervilhas de cheiro, que deram origem a um novo ramo da ciência, a Genética.

(BSCS, Versão Azul, Vol. 2, p. 72) História e Filosofia das Ciências

Segundo exemplo:

Figura 1. Imagem utilizada no livro de Amabis e Martho (1997, p. 11) para ilustrar o

trabalho de Mendel.

Linearidade – A sucessão de episódios históricos apresentados nos LDB é uma

genealogia, das origens até os dias atuais, que conduz a uma idéia de linearidade. É

como se o conhecimento científico atual fosse sempre o resultado linear de

conhecimentos preexistentes. Além disso, privilegia certos eventos da História da

Ciência, em detrimento de outros de menor apelo.

Implícita na idéia de linearidade está, também, a de que todo o desenvolvimento do

conhecimento científico desembocou no único conjunto “correto” de explicações

para os fenômenos do mundo, o que hoje é compartilhado pela comunidade

científica. Isso produz no aluno o efeito de pensar neste conhecimento como pronto,

acabado e definitivo.

No capítulo 14 da parte dois do livro “Versão Azul do BSCS”4, ao apresentarem os

conhecimentos sobre desenvolvimento dos seres vivos, logo no início do capítulo, os

autores apresentam alguns dados históricos: A hipótese de que tanto o óvulo como

o espermatozóide contribuem para a formação de um novo indivíduo só foi

demonstrada em 1827 (...) (p. 33), mais adiante, um longo texto, de pelo menos três

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páginas, apresenta as diferentes concepções de desenvolvimento – pré-formação e

epigênese –, explicando o significado de cada uma delas, ainda que sem discutir

suas variações – ovismo e animalculismo –, ou apresentar os argumentos que

levaram os cientistas das diferentes épocas a defenderem as suas hipóteses:

A primeira idéia chamou-se pré-formação. De acordo com ela, o novo organismo,

animal ou planta, estaria completamente formado na célula reprodutiva. O

desenvolvimento seria apenas um aumento de tamanho, até que o novo animal

saísse do ovo ou nascesse e a nova planta saísse da semente. Pensava-se que o

desenvolvimento seria automático, se a célula estivesse em ambiente favorável (...)

Ainda no século XVIII, os cientistas acreditavam que os organismos estivessem pré-

formados nas células reprodutivas e se preocupavam em descobrir se estariam no

óvulo ou no espermatozóide (...) (p. 36).

Maria Helena da Silva Carneiro e Maria Luiza Gastal

Os autores apresentam ainda, em ordem cronológica, algumas idéias a respeito dos

trabalhos desenvolvidos por William Harvey, C. F. Wolff, Karl von Baer e Louis

Agassiz. Esse mesmo modelo de apresentação das idéias científicas se repete em

praticamente toda a coleção.

Amabis & Martho (1997), antes de apresentar os conceitos que envolvem o

processo fotossintético, fazem um apanhado cronológico das descobertas realizadas

por cada cientista, até os dias atuais.

Descobertas de Priestley: A descoberta da fotossíntese é relativamente recente.

Este processo foi mencionado pela primeira vez em 1772, em um artigo escrito pelo

químico inglês Joseph Priestley (1733-1804). (...) Descoberta de Ingen-Housz: Um

outro passo importante na elucidação do processo de “recuperação” do ar pelas

plantas foi dado em 1779, quando o médico holandês Jean Ingen-Housz (1730-

1799) descobriu que, para realizar a recuperação do ar, as plantas precisavam ser

iluminadas. Descoberta de Saussure: Em 1804, o cientista suíço Nicolas Teódore de

Saussure (1767-1845) mostrou que a água era um dos reagentes no processo de

fotossíntese, juntamente com o gás carbônico (p. 260-1).

Em livros universitários de Biologia mais modernos, como é o caso de Biologia

Evolutiva, D. J. Futuyma (1995) essa preocupação também aparece. O livro dedica

um capítulo inteiro – o primeiro, intitulado “A Origem e Impacto do Pensamento

Evolutivo” – a um apanhado histórico das idéias evolutivas, enumerando diversos

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filósofos e cientistas que contribuíram para a construção do conceito tal como o

conhecemos hoje:

O papel das ciências naturais (...) foi o de catalogar os elos da Grande Escala dos

Seres e descobrir sua ordenação, de tal modo que a sapiência de Deus pudesse ser

revelada e reconhecida. A “Teologia Natural”, tal como reconhecida por John Ray

em “The Wisdom of God Manifested in the Works of Creation” (1961) considerava as

adaptações dos organismos como evidência da benevolência do Criador. A obra de

Lineu (...), profundamente influente sobre a classificação, foi igualmente concebida

“ad majorem Dei gloriam”, “para a maior glória de Deus”. (...) Esses pontos de vista

tradicionais cederam lugar ante o desenvolvimento da ciência empírica. Conceitos

consagrados, tais como a posição central da Terra no universo, foram desafiados.

Newton, Descartes e outros desenvolveram teorias estritamente mecanicistas dos

fenômenos físicos. Ao final do século XVII, o conceito de um mundo mutável foi

aplicado à astronomia por Kant e Laplace (...). Os geólogos reconheceram que as

rochas sedimentares tinham sido depositadas em épocas diferentes e começaram a

perceber que a Terra poderia ser muito mais velha. Buffon, o grande naturalista

francês, sugeriu em 1779 que ela poderia ter até 168.000 anos. (...) Por volta de

1788 (...) James Hutton desenvolveu o princípio do UNIFORMITARISMO, o qual

sustentava que os mesmos processos são responsáveis por eventos passados e

atuais (p. 4-5).

Consensualidade – Mostram-se apenas as concordâncias, os consensos na

construção do conhecimento científico. Quando os pontos de vista conflitantes são

apresentados, em geral, é para reforçar a idéia de que trata-se de um conflito entre

visões “corretas” e “equivocadas”.

No capítulo 18 do BSCS, ao discutir a biologia do desenvolvimento, os aspectos

históricos do tema são assim apresentados:

Há duas formas gerais em que o desenvolvimento embriológico tem sido

interpretado historicamente. Primeira, o ovo poderia conter uma miniatura diminuta

do adulto. Em condições adequadas, essa miniatura se desenvolveria, simplesmente

tornando-se maior. Como História e Filosofia das Ciências essa idéia envolve a

presença de um indivíduo já formado no interior do ovo, é denominada teoria da pré-

formação. Segunda, o novo organismo poderia desenvolver-se a partir de uma

massa amorfa de substância viva. Desenvolver-se-ia pela diferenciação desse

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material amorfo nas várias partes do corpo. Esse tipo de desenvolvimento é

chamado epigênese.

Qual das explicações é a correta? O filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.),

freqüentemente referido como “o pai da embriologia”, acompanhava com fascinação

o desenvolvimento dos ovos embrionados de galinha. Baseado em suas

observações, decidiu-se a favor da epigênese, e o assunto ficou nisso durante

quase dois mil anos (p. 457).

Amabis e Martho (1997), ao apresentar o histórico da teoria celular, destaca os con-

sensos, como podemos ver a seguir:

A idéia de Virchow a respeito da origem das células foi apoiada, em 1878, pelo

biólogo Walther Flemming (1843-1905), que descreveu detalhadamente o processo

de reprodução celular (p. 47).

Ausência do contexto histórico mais amplo – Passa a idéia de que a ciência é

hermética, que não sofre influência dos aspectos socioculturais de sua época. Em

todos os exemplos mencionados não se encontram referências ao contexto

histórico-social em que trabalhavam os cientistas, à influência das idéias vigentes à

época em outros campos do conhecimento nem às influências e implicações

políticas das idéias que estavam sendo geradas pela ciência.

A necessidade de uma nova abordagem da história das ciências nos LDB

Apesar do reconhecimento quase consensual sobre a necessidade da abordagem

histórica dos conteúdos da Biologia, falta ainda um maior número de estudos que

possibilitem uma avaliação sobre se e como essa perspectiva histórica tem sido

efetivamente trabalhada em sala de aula, e em que contextos.

Um dos aspectos identificados ao examinarmos os livros didáticos foi o fato de que

há uma tendência dos livros do Ensino Médio em acompanhar o modelo de História

da Biologia apresentado nos livros universitários. Uma vez que os livros

universitários são utilizados na formação de professores de Ensino Médio, há um

duplo reforço sobre o professor de uma imagem de História da Biologia como a

acima revelada. De um lado, os livros usados em sua formação privilegiam esta

visão da História da Biologia. De outro, os livros didáticos utilizados pelo professor

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em sua prática docente apresentam exemplos que seguem o mesmo modelo dos

livros universitários.

Não basta afirmar a necessidade de adotar uma perspectiva histórica no ensino de

Biologia sem que os instrumentos para que esta proposta seja levada a cabo de

maneira satisfatória sejam desenvolvidos. Se pretendemos que a História da

Biologia seja apresentada numa perspectiva distinta daquela que vem prevalecendo

nos livros didáticos, é necessário repensar os cursos de formação inicial e

continuada de professores. Tal necessidade também implica um esforço

concentrado na produção de materiais curriculares que possam fornecer aos

professores indicadores a respeito de como trabalhar esta abordagem em suas

aulas.

Entendemos que trabalhar com esta abordagem histórica no ensino de Biologia

não significa demonstrar uma filiação contínua na construção do conhecimento, pois

as teorias atuais não são necessariamente decorrentes das anteriores. Acreditamos

que uma abordagem histórica deveria centrar-se nas rupturas epistemológicas.

Como nos afirma Casonato, 1992, apesar da epistemologia e da concepção de

história contemporânea já terem demonstrado que a produção do conhecimento

científico não é linear, os livros didáticos e os livros universitários conservam até

hoje este tipo de abordagem Histórica. Para este autor, ao eliminarmos da história

os problemas que levaram os pesquisadores da época, os obstáculos encontrados,

as falsas pistas seguidas e as controvérsias que existiram, os manuais seguimos o

programa positivista de educação científica.

Livros didáticos analisados:

AMABIS, J. M.; MARTHO, G. R. Biologia das Células: origem da vida, histologia e embriologia. São Paulo: Moderna, 1997.

BIOLOGICAL SCIENCES CURRICULUM STUDY. Biología: parte II. São Paulo: Edart, 1971.

ODUM, E. P. Ecologia. Rio de Janeiro: Guanabara, 1983.

SCHWAB, J. J.; KLINCKMANN, E. Manual do professor de biologia. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1970.

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REFERÊNCIAS

AUDIER, F.; FILLON, P. Enseigner histoire de sciences et des techniques. Paris: INRP, 1991.

CARVALHO, A. M. P.; VANNUCCHI, A. O currículo de física: inovações e tendências nos anos noventa. Investigações em Ensino de Ciências, Porto Alegre, v. 1, p. 3-19, 1996.

CASONATO, M. O. Les obstacles dans la recherche et dans lenseignement a la connaissance Du support moleculaire de l’Information genetique: proposition d’une nouvelle métode d’enseignement des science de la Vie. 1992. 2 v. Tese (Doutorado) – Universite Paris VII, Paris, 1992.

EICHMAN, P. Using history to teach biology. The American Biology Teacher, Reston, v. 58, n. 4, p. 200-203, 1996.

GAGNÉ, B. Autour de l’idée d’histoire dês sciences: représentations discursives d’apprenti(e)s enseignant(e)s de sciences. Didaskalia, Lisboa, n. 3, p. 61-67, 1994.

MATTEWS, M. R. História, filosofia e ensino de ciências: a tendência atual de reaproximação. Caderno Catarinense de Ensino de Física, Florianópolis, v. 12, n. 3, p. 164-214, 1995.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnologia. Parâmetros curriculares nacionais. Brasília: MEC/SEMT, 1999.

BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros curriculares nacionais: ciências naturais. Brasília: MEC/SEF, 1997.

PRETTO, N. D. L. A Ciência nos livros didáticos. Campinas: Editora da Unicamp, 1985.

SOLBES, J.; TRVER, M. J. La utilización de la historia de las ciencias en la enseñaza de la física y La química. Enseñanza de las Ciencias, Barcelona, v. 14, n. 1, p. 103-112, 1996.

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ANALOGIAS COMO FERRAMENTA DIDÁTICA NO ENSINO DE BIOLOGIA

Marilisa Bialvo Hoffmann

Neusa Maria John Scheid

RESUMO

São muitas as reflexões em torno do papel das analogias como ferramenta didática

na construção do conhecimento, tendo vários autores se dedicado ao estudo desse

tema, como forma de aprimorar e enriquecer as informações já pesquisadas. Este

trabalho evidenciou as analogias presentes em livros didáticos de Biologia do Ensino

Médio, investigando quais são essas analogias e em quais categorias se encontram.

Por fim, por meio dos resultados desta pesquisa, analisou-se o valor das analogias

presente nos livros didáticos como ferramenta no Ensino de Biologia.

Palavras-chave: Analogias, livros didáticos, ensino de Biologia.

ABSTRACT

There are many reflections around the character of the analogies as a didactic

instrument in the construction of the knowledge, having many authors dedicated to

study this subject, as a form to improve and develop the information that have

already been researched. This work has evidenced the analogies presented in

didactics books of high school’s biology, searching what are the analogies and also

in what category they are encountered. Inconclusion, through the results of this

research, was analyzed the worth of the analogies presented in didactic books as an

instrument in biology education.

Key-words: Analogies, didactic books, high school’s biology.

INTRODUÇÃO

As questões lingüísticas estão intrinsecamente ligadas ao processo de construção

da ciência e do conhecimento individual do ser humano. Pesquisadores do mundo

todo estudam, em especial, a linguagem metafórica e analógica, preocupados com

suas possíveis utilizações e com seus efeitos na educação. Atualmente, metáforas e

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analogias são amplamente empregadas no ensino, de maneira geral e, mais

especificamente, no ensino de Biologia.

Segundo Ferraz & Terrazzan (2003), a maioria dos professores e autores de textos

didáticos usam analogias de modo inconsciente ou automático. O uso não planejado

desses recursos didáticos pode causar confusões e favorecer o surgimento ou a

manutenção de concepções alternativas inadequadas nos alunos. Embora alguns

autores defendam que a solução é não usar analogias, esse fato se mostra irreal,

uma vez que professores e autores de livros didáticos, assim como todos os seres

humanos, são predispostos a pensar analogicamente e, conseqüentemente, utilizam

analogias em suas explicações.

Analogias são utilizadas tanto por professores quanto por autores e alunos. Porém,

os contextos em que cada um as utiliza são completamente distintos. O professor,

quando lança mão de uma analogia em suas explicações, consegue perceber até

que ponto os alunos a compreenderam, podendo assim, complementá-la de forma

mais abrangente. É comum, inclusive, que o professor utilize mais de uma analogia,

a fim de facilitar a aprendizagem de um conceito ainda não assimilado pelos alunos.

Se o professor não explica corretamente as analogias do livro-texto ou se o aluno

tem o livro como único material de estudo, a única referência é aquela feita pelo

autor. Ao contrário do professor, os autores não possuem mecanismos para

saberem se os alunos estão realmente compreendendo a analogia utilizada. Decorre

daí a importância dos autores de livros didáticos utilizarem bons exemplos como

analogias, antecipando qualquer dificuldade que os alunos possam apresentar em

relação a estas, acrescentando, assim, as informações necessárias para uma boa

compreensão.

O presente trabalho insere-se na perspectiva já existente sobre o uso da linguagem

metafórica e analógica como recurso para o ensino e a aprendizagem. Parte do

pressuposto de que o recurso ao raciocínio analógico auxilia na compreensão do

conhecimento científico, desde que este não pressuponha a existência de uma

igualdade simétrica, mas uma relação que é assimilada a outra relação, com a

finalidade de esclarecer, estruturar e avaliar o desconhecido a partir do que se

conhece. Com a intenção de investigar as analogias presentes em livros didáticos de

Biologia do Ensino Médio, categorizando-as e estabelecendo relações entre as

mesmas e o modelo TWA (Teaching With Analogies), objetivou-se, com esta

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pesquisa, analisar o valor das analogias estudadas como ferramenta didática no

ensino de Biologia.

IMPORTÂNCIA DAS ANALOGIAS E METÁFORAS

Analogias e metáforas fazem parte de nosso cotidiano na medida em que

comparamos algo que é similar. A linguagem apresenta-se como forma de

expressão individual de cada ser e é através dela que deciframos os códigos

naturais de sobrevivência.Vygotsky (1987) já dizia que o significado das palavras

encontra-se em uma estreita linha entre pensamento e linguagem, ficando difícil

dizer se é um fenômeno da fala ou do pensamento. Mas, há de se ter claro a

diferença entre pensamento e fala exterior. Os dois processos não são idênticos,

sendo que cada um apresenta uma estrutura, e a transposição do pensamento para

a fala não é tão simples. Ao contrário da fala, o pensamento não consiste em

unidades separadas. Por isso:“Quando desejo comunicar o pensamento de que hoje

vi um menino descalço, de camisa azul, correndo rua abaixo, não vejo cada aspecto

isoladamente: o menino, a camisa, a cor azul, a sua corrida, a ausência de sapatos.

Concebo tudo isso em um só pensamento, mas expresso-o em palavra separadas.

Um interlocutor em geral leva vários minutos para manifestar um pensamento. Em

sua mente, o pensamento está presente em sua totalidade e num só momento, mas

na fala tem que ser desenvolvido em uma seqüência. Um pensamento pode ser

comparado a uma nuvem descarregando uma chuva de palavras. Exatamente

porque um pensamento não tem um equivalente imediato em palavras, a transição

do pensamento para a palavra passa pelo significado. Na nossa fala há sempre o

pensamento oculto, o subtexto” (VYGOTSKY, 1987 p.128).

Originariamente, a analogia era um conceito matemático que significava"proporção"

(HAAPARANTA, 1992). Contudo, posteriormente ela desvia-se dessa visão

tecnicista na medida em que se considera que não corresponde a uma identidade de

duas relações, mas antes assegura uma similitude de correlações (PERELMAN,

1970). Nesse sentido, a analogia não pressupõe igualdade simétrica, mas uma

relação usada com a finalidade de esclarecer, estruturar e avaliar o desconhecido a

partir do que se conhece.

Considerando a importância da linguagem metafórica e analógica no

desenvolvimento de idéias pelo indivíduo, vários autores têm se dedicado ao tema.

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Entre eles, são muitas as definições para analogia. Para Newby (1987), a analogia é

entendida como um processo cognitivo que envolve uma comparação explícita de

duas "coisas", uma definição de informação nova em termos já familiares ou um

processo através do qual se identificam semelhanças entre diferentes conceitos,

sendo um deles conhecido, familiar, e o outro desconhecido. Outros ainda, como

Duit (1991) e Treagust et al. (1992), definem a analogia como uma comparação

baseada em similaridades entre estruturas de dois domínios diferentes, um

conhecido e outro desconhecido. Demarca-se, desse modo, a consideração da

analogia como uma mera comparação entre semelhanças superficiais, entre

atributos presentes nos domínios considerados. Apesar das diferenças, em todas as

definições se reconhece que a analogia envolve o estabelecimento de comparações

ou relações entre o conhecido e o pouco conhecido ou desconhecido. Com isso: “Os

conceitos metafóricos estão de tal modo arraigados anossa cultura, que estruturam

nossas atividades diárias e científicas deforma imperceptível e inconsciente; são,

aliás, constitutivos da forma de pensar e agir de uma época” (CORACINI, 1991,

p.138).

Analogias e metáforas implicam uma comparação entre X e Y e o reconhecimento

de semelhanças relevantes. Freqüentemente, ambas as palavras são consideradas

sinônimos (UTGES, 1999), portanto, não se insiste em separá-las. Embora a

metáfora se imponha mais pelo que sugere do que pelo que expressa, é mais

sintética enquanto a analogia é mais sistemática, ou seja, na analogia a estrutura de

dois domínios é comparada de maneira explícita e as relações entre os dois

domínios são evidenciadas. Para Nagem et al. (2002) as analogias e metáforas

podem ser vistas como pólos e, em princípio, serem transformadas uma na outra,

isto é, as analogias podem ser vistas como metáforas e as metáforas podem ser

vistas como analogias.

Segundo Ogborn & Martins (1996), para que uma metáfora seja efetiva é necessário

existir um contraste, como em “ignorância é uma doença”, já que, se “alvo” e

“análogo” forem muito diferentes, não há qualquer modo de se fazer uma relação

entre “alvo” e “análogo”, por exemplo, “uma fotografia é uma doença”. Já se “alvo” e

“análogo” forem idênticos em natureza também não existirá uma metáfora, mas

relações do tipo X é um tipo de Y, como por exemplo, “malária é uma doença”.

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Cachapuz (1989) acredita que as analogias são geralmente mais exploradas que as

metáforas nos manuais escolares de ciências, talvez por seu caráter mais

estruturante. Nas analogias, a transferência de significados de um domínio para

outro diz, sobretudo, respeito a relações, enquanto nas metáforas incide sobre

atributos. O autor acrescenta, ainda, a idéia de que metáforas e analogias são

permeáveis a uma dada cultura, embora provavelmente as primeiras mais do que as

segundas, e que o uso da linguagem metafórica é uma das maneiras de fomentar

um estilo menos rígido e mais expressivo no ensino de ciências. Esse tipo de ensino

tem suas próprias características, predominando termos técnicos e a dominância de

um estilo impessoal, no qual o mais importante é a avaliação da transmissão da

informação de uma maneira correta. A importância da linguagem metafórica e

analógica reside no fato de facilitar a transferência do conhecimento de um domínio

conceitual não familiar para outro mais familiar.

Apesar de reconhecer a importância e as potencialidades do uso de analogias como

ferramenta didática, Duarte (2003) aponta algumas dificuldades que se colocam à

utilização das analogias no ensino das ciências, como:- A analogia pode ser

interpretada como o conceito em estudo, ou dela serem apenas retidos os detalhes

mais evidentes e apelativos, sem se chegar a atingir o que se pretendia; - Pode não

ocorrer um raciocínio analógico que leve à compreensão da analogia;

- A analogia pode não ser reconhecida como tal, não ficando explícita a sua

utilidade;

- Os alunos podem centrar-se nos aspectos positivos da analogia e desvalorizar as

suas limitações.

O MODELO TWA

Uma das possibilidades para evitar o uso inadequado de analogias no ensino de

ciências é a adoção do modelo TWA (Teaching With Analogies). O modelo TWA foi

proposto por Glynn (1991), inicialmente baseado em análises de livros didáticos de

vários níveis escolares. Esse autor também realizou observações de aulas de

professores de ciências tidos como exemplares. A partir das análises das aulas

desses professores exemplares e das análises dos livros didáticos, estabeleceu seis

passos que, idealmente, poderiam ser levados em consideração quando se ensina

com analogias:- Introduzir o assunto-alvo; - Sugerir o análogo;- Identificar as

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características relevantes do alvo e análogo;- Mapear similaridades;- Indicar onde a

analogia falha;- Esboçar conclusões.

Em 1993, Harrison & Treagust modificaram o modelo “Teaching WithAnalogies”

(TWA), com o intuito de produzir um modelo sistematizado para o ensino com

analogias que reduzissem a formação de concepções alternativas e intensificassem

a compreensão de conceitos científicos por parte dos estudantes. O modelo TWA

modificado é apresentado pelos autores da seguinte forma:

Passo 1- Introduzir o assunto-alvo a ser aprendido. Fazer uma breve ou completa

explicação dependendo de como a analogia será empregada.

Passo 2 - Sugerir aos estudantes a situação análoga. Mediante discussões estimar a

familiaridade dos estudantes com o análogo.

Passo 3 - Identificar as características relevantes do análogo. Explicar o análogo e

identificar suas características relevantes em uma profundidade apropriada com a

familiaridade dos estudantes com o análogo.

Passo 4 - Mapear as similaridades entre alvo e análogo. Os alunos auxiliados pelo

professor identificam as características relevantes do conceito-alvo e estabelecem

as correspondências com as características relevantes do análogo.

Passo 5 - Identificar onde a analogia falha. Buscar concepções alternativas que os

alunos possam ter desenvolvido. Indicar onde o análogo e o alvo não têm

correspondência, apontando aos estudantes para desencorajar conclusões

incorretas sobre o alvo.

Passo 6 - Esboçar conclusões sobre o alvo. Organizar um relato resumido sobre os

aspectos importantes do assunto-alvo.

Wilbers & Duit (2001) acreditam que o uso de analogias deve abarcar os passos

citados, mas propõem uma compreensão mais elaborada do raciocínio analógico.

Segundo os autores, esse estudo ainda é preliminar e recomenda-se que outros

trabalhos sejam realizados para investigar o quanto o modelo por eles proposto é

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“viável em geral”. O contexto em que se estabelece a relação analógica entre o

domínio-alvo e o domínio análogo é essencial. Para a aprendizagem com analogias,

dois aspectos devem ser considerados: o lugar de onde a analogia provém

(professor ou livro didático) e o estudante. Seja por meio de falas dos professores ou

por meio de textos didáticos, as relações analógicas entre alvo e análogo se definem

dentro do contexto particular estabelecido pelo apresentador. O modelo de raciocínio

analógico proposto por Wilbers & Duit (2001) sustenta que os esquemas intuitivos e

os modelos mentais gerados espontaneamente pelos estudantes quando são

confrontados pela primeira vez com o fenômeno-alvo são essenciais no processo de

ensino com o uso de analogias. Eles favorecem uma associação preliminar entre

alvo e análogo; assim o processo subseqüente da “construção analógica” é guiado

por essas associações espontaneamente geradas. Na visão desses autores, pode-

se dizer que a analogia é um mecanismo de construção de hipóteses baseado nos

modelos mentais e esquemas intuitivos “disparados” pelo fenômeno-alvo. Vale

lembrar que analogia não deve ser confundida com exemplo, porque este não

estabelece comparações entre traços semelhantes de dois conceitos.

TIPOS DE ANALOGIAS

Partindo da definição de analogias como ferramentas no processo de construção de

noções científicas por aproximarem dois conceitos heterogêneos, Ferraz &

Terrazzan (2001) construíram, a partir de seus estudos, um conjunto de nove

categorias que dizem respeito ao nível de organização das analogias utilizadas

pelos professores:

1) ANALOGIAS SIMPLES: São quase metáforas. Não fazem o mapeamento de

qualquer atributo do domínio alvo ou análogo. Simplesmente comparam uma

estrutura do domínio alvo com outra estrutura do domínio análogo de forma breve.

2) ANALOGIAS DO TIPO SIMPLES REFERINDO-SE À FUNÇÃO: Propõe uma

característica funcional do domínio alvo e logo propõe uma característica funcional

do domínio análogo ou vice-versa. Pode ocorrer que a característica funcional não

seja explícita, podendo simplesmente ser imaginada.

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3) ANALOGIAS DO TIPO SIMPLES REFERINDO-SE À FORMA: Propõe o domínio

alvo em referência à forma do domínio análogo. Apresentam a mesma aparência

física geral.

4) ANALOGIAS DO TIPO SIMPLES REFERINDO-SE À FUNÇÃO E ÀFORMA: São

analogias que apresentam características dos dois últimos tipos anteriores,tanto

referentes à forma como à função.

5) ANALOGIAS DO TIPO SIMPLES REFERINDO-SE AOS LIMITES DOANÁLOGO:

Introduz o domínio alvo e logo indica aonde o análogo falha.

6) ANALOGIAS ENRIQUECIDAS: Fazem o mapeamento explícito de algum atributo

do domínio alvo ou análogo, ou seja, especificam correspondência (s) para as

relações analógicas entre o alvo e análogo. Podem ainda conter os limites de

validade entre alvo e análogo.

7) ANALOGIAS DUPLAS OU TRIPLAS: Dois ou três conceitos-alvo diferentes e

complementares são explicados por dois ou três análogos, cada um correspondente

a um domínio alvo.

8) ANALOGIAS MÚLTIPLAS: Apresentam o conceito-alvo e colocam mais de um

análogo para explicar o mesmo alvo. Ou seja, vários análogos são usados para

explicar um único tópico.

9) ANALOGIAS ESTENDIDAS: São mais sistemáticas. Vários atributos do conceito

alvo são explicados e fazem correspondências ao análogo. Também, uma analogia

estendida pode incluir as limitações da relação analógica. Além disso, uma analogia

estendida pode conter ainda mais de um análogo, complementar ao primeiro.

ASPECTOS METODOLÓGICOS

Esta pesquisa teve cunho qualitativo e foi realizada em duas etapas:

I)Uma revisão bibliográfica sobre o tema;

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II)Um levantamento das analogias presentes nos livros didáticos de Biologia mais

utilizados nas escolas públicas de Ensino Médio no Município de São Luiz

Gonzaga/RS. Após serem constatadas as analogias nos livros, foram efetuados os

seguintes procedimentos:

a) Identificação de uma possível aplicação do modelo TWA (Teaching With

Analogies);

b) Classificação das analogias em suas diversas categorias, conforme Ferraz

&Terrazzan (2001).

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os livros didáticos utilizados neste trabalho foram fornecidos pelas cinco escolas

públicas de Ensino Médio do município. Pretendia-se analisar, em cada escola, os

três livros mais utilizados, isto é, um livro por série. Porém, todas as escolas

envolvidas na pesquisa contavam com livros de Biologia em volume único para as

três séries. Das cinco escolas, duas utilizavam a mesma obra. Dessa forma, a

amostra resumiu-se a quatro obras, que foram denominadas como A, B, C e D,

sendo:

A- LOPES, Sônia Godoy Bueno Carvalho. Bio- vol. Único. 5 ed. São Paulo: Saraiva,

1996.

B- SOARES, José Luis. Biologia- vol. Único. 6 ed. São Paulo: Scipione, 1994.

C- AMABIS, José Mariano. MARTHO, Gilberto Rodrigues. Fundamentos da Biologia

Moderna. 3 ed. São Paulo: Moderna, 2002.

D- PAULINO, Wilson Roberto. Biologia- Vol. Único. 2 ed. São Paulo: Ática, 2000.

Os resultados demonstraram que, no intuito de abordar de forma mais clara um

conceito para o leitor, os autores de livros didáticos fazem uso de analogias com

assuntos que são mais familiares que o conhecimento científico. Muitas vezes,

essas analogias auxiliam na aprendizagem, pois utilizam referências do cotidiano do

aluno e com uma linguagem mais acessível. No momento em que o leitor aprecia

um texto, ele interage como mesmo, não sendo, portanto, uma relação estática.

Conforme Giraldi (2005), quando se trata do uso de analogias, não são raras as

vezes em que os sentidos construídos pelos leitores (alunos e professores) se

apresentam um tanto diferenciado daquele suposto pelo autor do texto.

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Analogias Explícitas e Não-explícitas

Por meio da análise realizada, pode-se observar que os livros investigados

apresentam analogias, embora essas apareçam de forma diferenciada ao longo dos

textos.

Segundo Giraldi (2005) o uso de palavras com intento de mostrar ao leitor a intenção

da analogia, como por exemplo, “semelhante”, “lembram”, “como”, “assemelham”

etc, apresentam a analogia de forma explícita. Entre elas:

“Numa glândula acinosa, há um pequeno canal e, na parte mais profunda, as células

secretoras se dispõe em torno de um eixo, à semelhança dos gomos de uma

tangerina” (Livro B,p. 103, grifos nossos).

“Nas espécies tubículas, as brânquias se concentram na região anterior do corpo,

projetando-se como um ‘espanador’para fora do tubo”( Livro C, p. 261, grifos

nossos).

Nesses exemplos, fica clara a intenção de comparação feita pelos

autores.Entretanto, apesar dessa tentativa de proximidade por meio de uma

linguagem mais comum, pode-se garantir que os sentidos produzidos pelos leitores

sejam os mesmos intencionados pelo autor?Ao comparar a glândula acinosa com os

gomos de uma tangerina, o autor não especifica se a semelhança está apenas na

forma ou também no tamanho. Considerando que quem lê estabelece relações com

aquilo que já conhece, essa analogia falha no momento em que o leitor pode

imaginar a glândula do tamanho e da forma da tangerina que vê em seu cotidiano.

“Todo sujeito tem a capacidade de experimentar, ou melhor, de colocar-se no lugar

em que seu interlocutor “ouve” suas palavras. Ele antecipa-se assim a seu

interlocutor quanto ao sentido que suas palavras produzem” (ORLANDI, 2003, p.

39).

Na segunda analogia, as brânquias projetadas lembram um espanador. O autor se

refere à forma, porém a questão que se põe é: o leitor (aluno) construirá esse

mesmo sentido? No senso comum, o espanador é utilizado para limpar, tirar o pó,

espanar. Enquanto para o autor do texto didático a analogia “semelhante a um

espanador” pode significar apenas “forma parecida com a de um espanador”, para

um leitor (aluno), o espanador serve apenas para limpar e, por conseguinte, não

apresenta qualquer caráter estrutural. A propósito, quantos de nossos alunos têm

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em suas casas um espanador (com penas)? Quem realmente conhece um

espanador como o citado no livro?

Em outros momentos, porém, verificamos a presença de analogias não-explícitas.

Essas, conforme Giraldi (2005), encontram-se mascaradas por uma sensação de

linguagem científica, como podemos ver no exemplo que segue:

“Além do papel de ‘portões’ exercido por algumas proteínas, as moléculas presentes

na membrana estariam em constante deslocamento, conferindo à estrutura intenso

dinamismo” ( Livro D, p. 59, grifo nosso).Ao comparar proteínas da membrana a

portões, o autor referiu-se ao papel seletivo destas quanto à entrada e saída das

substâncias da célula. Porém, sabemos que esse processo não é tão simples como

a abertura e o fechamento de um portão, sendo necessário, assim, especificar os

limites do análogo: até que ponto a analogia é válida e em qual ponto ela falha.

As Analogias referentes a bombas e o sentido para o leitor

As analogias apresentadas a seguir exemplificam o modo como os autores de texto

didático fazem uso da analogia em relação a bombas e às possíveis conseqüências

que esse fato pode trazer:

“Certas proteínas da membrana plasmática, chamadas proteínas transportadoras,

atuam como se fossem ‘bombas iônicas’, capturando continuamente íons sódio no

citoplasma e bombeando-os para fora da célula” (Livro C, p.109, grifos nossos).“... o

coração atua como uma bomba premente propulsora do sangue para todo o corpo”

(Livro B, p. 133, grifos nossos).

Apesar da possibilidade de reconhecimento por parte do leitor que toma contato com

esses textos de que se trata de uma analogia, devemos apontar para os sentidos

que podem ser produzidos: ao afirmar que se trata de uma bomba iônica, o autor se

refere à bomba no sentido de bombeamento e a palavra iônica diz respeito ao

material bombeado, no caso, íons de sódio e de potássio. Entretanto, essa falta de

maiores explicações sobre o contexto em que a palavra bomba está sendo usada

pode ter resultados não esperados no ensino. Tanto nessa analogia quanto na

analogia coração/bomba, acreditamos que o leitor (aluno) tomando contato com

esse texto, pode imaginar que se trata de uma bomba prestes a explodir. Isso se

deve ao simples fato de que provavelmente os alunos de hoje desconheçam uma

bomba hidráulica. O próprio barulho de uma bomba imaginada (tic-tac) pode ser

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relacionado com o barulho do coração (tum-tum). O que dizer a alunos em que

algum familiar sofre de hipertensão arterial? Nesse sentido, Delizoicov (2002)

acredita que os alunos podem ser levados a concluir que a bomba atua realmente

da mesma forma que um coração e não o contrário, na medida em que a analogia

não for estabelecida de forma adequada.Voltando à primeira analogia, a palavra

“iônica” denota certa periculosidade em relação a “bomba”, sendo essa uma palavra

certamente nova aos alunos e que no contexto em que está inserida fica implícita

sua relação com íons. Nesse sentido, autores de textos didáticos devem tomar

cuidado ao abordar esse tipo de analogia, de forma que a mesma contribua para a

aprendizagem ao invés de confundir os leitores e ainda conduzir a possíveis erros

conceituais.

BACHELARD (1996) coloca em contraste a observação: “...no pensamento pré-

científico a analogia hidráulica entra antes da teoria” enquanto que (sic) “no

pensamento científico a analogia entra depois da teoria” (p.100).E alerta que : “...o

perigo das metáforas imediatas para a formação do espírito científico é que nem

sempre são imagens passageiras;levam a um pensamento autônomo, tendem a

completar-se, a concluir-se no reino da imagem” (p.101).

Em seus estudos sobre o movimento do sangue no corpo humano, Delizoicov (2002)

identificou, em livros didáticos de Biologia do Ensino Médio, analogias referentes à

comparação do tamanho do coração com o tamanho de uma mão fechada de uma

pessoa adulta. Para a autora, essa analogia parece válida na medida em que é

estabelecida uma comparação entre elementos que são conhecidos pelos alunos,

isto é, de elementos de seu próprio corpo. As citações que seguem referem-se a

essa analogia: “O coração humano, localizado no centro do peito, um pouco

deslocado para a esquerda, tem mais ou menos o tamanho de uma mão fechada....”

( Livro C, p.307, grifos nossos).“O coração é um órgão de paredes musculosas

grossas, pouco maior, no adulto, que um punho fechado...” (Livro B, p.133, grifos

nossos).

Classificação das Analogias quanto ao nível de organização

As analogias encontradas nos livros didáticos foram ordenadas conforme Ferraz e

Terrazzan (2001) em nove categorias que são apresentadas no Quadro I:

Categoria

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Relação analógica

Analogia

Alimento / Combustível

“O alimento é uma espécie de combustível com que os sistemas vivos se

reabastecem” (Livro B, p. 09)

*Tipo Simples

Célula/ Bloco de construção

“A célula é a unidade que compõe os seres vivos.

Em outras palavras, é o bloco de construção de qualquer organismo” (Livro C, p. 78)

*Moléculas Protéicas/ Roda d’água“... as demais são transportadas por moléculas

protéicas, que se movimentam como roda d’água, recolhendo-as de um lado e

largando-a do outro” ( Livro B, p. 40)

*Tipo Simples referindo-se à função

Enzimas de restrição/tesouras

“A segunda etapa do processo consiste na quebra do DNA em fragmentos. Para

isso, são usadas enzimas de restrição, que agem como tesouras químicas” ( Livro D,

p. 42)

*Interdigitações/ Dedos das Mãos em prece

“As interdigitações lembram a interposição dos dedos em prece, daí o nome

empregado”

(Livro B, p. 42)

*Tipo Simples referindo-se à forma

Tilacóides/ Pilhas de moedas

“Os pigmentos relacionados com a fotossíntese acham-se depositados sobre os

tilacóides, que se apresentam em uma disposição que lembra ‘pilhas de moedas”(

Livro D, p. 75)

*Tipo Enriquecida

Estrutura do DNA/ Escada

“A estrutura do DNA poderá ser compreendida se imaginarmos uma escada reta, de

corrimãos paralelos. Cada corrimão é formado por uma seqüência de nucleotídeos,

que corresponde à estrutura primária do DNA. No outro corrimão, os nucleotídeos

dispõem-se de modo paralelo e invertido em relação ao anterior” (Livro A, p. 115)

*Tipo Dupla ou Tripla

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Núcleo dos Granulócitos/Fileira de salsichas/ U/Ferradura

“Os granulócitos possuem um núcleo com estrangulamentos mais ou menos

acentuados, dando-lhe uma configuração de segmentos ligados em cadeia, como

uma fileira de salsichas. Outras vezes, há um estrangulamento central e o núcleo

fica com aspecto curvado, como um U ou ferradura.”

( Livro B, p. 108)

*Quadro I: Classificação das analogias pesquisadas.

* Grifos nossos

A aplicação do modelo TWA

As analogias encontradas nos livros analisados não contemplam, em sua maioria,

todos os passos sugeridos pelo modelo, restringindo-se aos passos 1, 2, 3, 4 e, por

vezes, ao passo 6.

O quinto passo, em que se apontam os limites do análogo, onde este falha e onde

não apresenta correspondência com o alvo, não foi observado em nenhuma das

analogias. Isso, provavelmente, pode ser um fato de relevância frente às

concepções diversas e, possivelmente, incorretas elaboradas pelos leitores (alunos),

pois, não raras vezes, o livro didático é utilizado pelo professor entendendo-o como

auto-explicativo para o aluno.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na análise das analogias presentes nos livros didáticos utilizados por cinco escolas

públicas de um município do noroeste do estado do Rio Grande do Sul, constatou-se

que são encontradas nove categorias conforme a classificação quanto ao nível de

organização. As mesmas estão presentes em número significativo e se constituem

em ferramentas didáticas importantes na construção do conhecimento científico na

área biológica. Quando aparecem de forma diferenciada, na tentativa do autor

aproximar o leitor (aluno) do conhecimento científico utilizando-se de fatores comuns

ao seu cotidiano, são elementos facilitadores da aprendizagem. No entanto, quando

não são adequadamente explicitadas podem tornar-se fatores complicadores no

processo de aprendizagem de conceitos científicos, levando, inclusive, o aluno a

produzir/reforçar erros conceituais.

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No presente trabalho, não se objetivou, de forma alguma, apontar somente falhas no

uso das analogias, pois se tem ciência de que as representações analógicas

contribuem para a aprendizagem no momento em que obedecem a critérios na sua

utilização, fazendo uso de elementos significativos para o leitor e estabelecendo

limites para o análogo. Em relação à aplicação do modelo TWA, que pode

proporcionar mais segurança para a utilização de analogias no ensino, é importante

destacar que ainda será preciso aprofundar mais o assunto, considerando que não

foi analisado o seu uso em sala de aula. Esse deverá ser o escopo de um trabalho

futuro.

REFERÊNCIAS

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IMPORTÂNCIA DA ABORDAGEM PRÁTICA NO ENSINO DE BIOLOGIA PARA A FORMAÇÃO DE PROFESSORES

Ana Lúcia da Silva Vasconcelos Carlos Helaidio Chaves da Costa

José Rogério Santana Vânia Marilande Ceccatto

INTRODUÇÃO

Vivemos neste país uma situação paradoxal quanto ao ensino de Ciências e

Biologia. Enquanto nos discursos pedagógicos e políticos ninguém seja capaz de

negar a importância social de abordar, em todos os níveis pedagógicos, o

conhecimento científico e biotecnológico, na prática cotidiana das escolas, este tem

sido o maior ausente. É um fato público e notório que o conhecimento científico e

tecnológico, em nossas escolas, ocupa um lugar secundário, por uma série de

razões.

Um consenso entre a comunidade científica e educacional é que o docente carrega

a maior parte da responsabilidade em garantir a aprendizagem de ciências pelos

alunos. Porém, a formação científica de nossos futuros professores tem deixado

muito a desejar. Seja por falta de conteúdo teórico ou absoluta falta de preparo

científico prático, o resultado é que esse professor carregará consigo em sua prática

diária docente a concepção errônea de ciência como conjunto acabado e estático de

verdades definitivas.

Dois dos conceitos mais difundidos entre os educadores de ciências de hoje são: a

valorização do uso de uma abordagem prática para o ensino de conteúdos de

ciências e biologia e a busca de uma prática de observação fora da sala de aula,

considerada um ambiente e um universo absolutamente distanciado do mundo físico

real do aluno.

Sendo assim, a abordagem prática poderia ser considerada não só como ferramenta

do ensino de ciências na problematização dos conteúdos como também ser utilizada

como um fim em si só, enfatizando a necessidade de mudança de atitude para com

a natureza e seus recursos, pois, além de sua relevância disciplinar, possui profunda

significância no âmbito social.

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Neste contexto, buscou-se caracterizar um estilo de trabalho através dos quais os

alunos de ciências possam se apropriar de conteúdos, procedimentos e atitudes

científicas. Este processo é a ação científica em si, como possibilidade de

aprendizagem e estimuladora de busca individual ao saber científico e tecnológico.

O Estado do Ceará possui universidades, institutos e escolas de alto nível e mérito

científico reconhecido. Entretanto, existe um extenso vácuo didático científico e

tecnológico tanto na parte teórica e prática, que só pode ser diminuído com a

produção de bibliografia atualizada para uso contínuo de alunos e professores em

sala de aula e laboratório de ciências e biologia.

OBJETIVOS DO TRABALHO

Produção de bibliografia especializada para o uso de laboratório e em sala de aula,

integrando a formação teórica e prática de nossos alunos e professores de ciências.

Estimular e incentivar alunos e professores de ciências e biologia à inclusão e

melhoria de aulas práticas em seus programas.

Estimular o uso de novas tecnologias de ensino através do uso de sites pedagógicos

Capacitar e divulgar o projeto entre os professores de ciências e biologia da região.

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE NOVAS TECNOLOGIAS EM EDUCAÇÃO

No Brasil, diversas manifestações tanto sociais quanto econômicas têm

praticamente obrigado a sociedade a se opor à escola tradicional e disciplinar. Esta

escola caracteriza-se pelo seu alicerce material: o papel e a caneta, o giz e o

quadro-negro. As autoridades políticas, professores e pesquisadores têm

considerado o uso de novas tecnologias na educação um movimento necessário na

formação dos alunos, já que a tendência do mercado de trabalho é a máxima

exigência do indivíduo quanto às suas qualificações científicas e tecnológicas.

Nesse pressuposto, reportou D’Ambrósio: Estamos entrando na era do que se

costuma chamar a “sociedade do conhecimento”. A escola não se justifica pela

apresentação do conhecimento obsoleto e ultrapassado e muitas vezes morto.

Sobretudo ao se falar em ciências e tecnologia. Será essencial para a escola

estimular a aquisição, a organização, a geração e a difusão do conhecimento vivo,

integrado nos valores e expectativas da sociedade. Isso será impossível de se

atingir sem ampla utilização da tecnologia na educação. (D’Ambrósio , 1986, pg. 80).

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Ao considerarmos a problematização do ensino de ciências e biologia no nosso país,

notamos que são poucos os programas que buscam auxiliar no aprimoramento dos

mesmos. Não contamos, portanto, com um corpo de conhecimentos que tenha

surgido como resultado de implementação e avaliação de projetos próprios para a

renovação do ensino de ciências e biologia em qualquer nível.

A tradição brasileira sobre o assunto é quase inexistente e refere-se

específicamente a algumas experiências isoladas e surgidas mais da preocupação

de alguns grupos de educadores do que de políticas públicas que se ocupem de

estimular a renovação do ensino de ciências e biologia.

Buscaremos nesta pequena revisão, caracterizar o objeto de nosso estudo, o saber

científico prático e sua importância, para que possamos enquadrá-lo no amplo

espectro das possibilidades para o ensino de ciências e biologia, tanto no sentido

cognoscível quanto metodológico.

A CONCEPÇÃO DE CIÊNCIA E O APRENDIZADO

A forma como se dá o aprendizado é característica da concepção de ciência a ser

adotada. Nestas concepções podemos incluir: A ciência é um corpo conceitual de

conhecimentos, sistematizada e organizada de forma lógica. A ciência é a forma de

produção de conhecimentos. A ciência é a modalidade de vínculo com o saber e sua

produção. Estas três concepções apresentam a ciência como corpo de

conhecimentos que contêm conceitos, procedimentos e atitudes. Esse corpo de

acepções advém no momento de elaborar o objeto a ensinar, ou melhor, no

momento de selecionar os conteúdos da ciência escolar. No momento da

estruturação das estratégias de ensino, os professores de ciências deixam

transparecer toda a fragilidade e deficiência dos conhecimentos e

habilidades que supostamente deveriam ser apreendidos em sua formação

científica. E tais deficiências, aliadas a uma abordagem tradicional há muito

praticada na disseminação da ciência em sala de aula, vem provocando conflitos no

processo ensino-aprendizagem, principalmente na exposição de idéias científicas

fundamentais e de teorias.

Nessa perspectiva, cabe aqui concordar com Hilda Weissmann (1993) quando

afirma que a formação científica das crianças e dos jovens deve contribuir para a

formação de futuros cidadãos que sejam responsáveis pelos seus atos, tanto

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individuais como coletivos, conscientes e conhecedores dos riscos, mas ativos e

solidários para conquistar o bem-estar da sociedade e críticos e exigentes diante

daqueles que tomam as decisões.

Dessa forma, a formação de uma atitude científica está intimamente vinculada ao

modo como se constrói o conhecimento (FUMAGALLI, L. 1993). Na aula prática, o

aluno desenvolve habilidades processuais ligadas ao processo científico, tais como

capacidade de observação (todos os sentidos atuando visando à coleta de

informações), inferência (a partir da posse das informações sobre o objeto ou

evento, passa-se ao campo das suposições), medição (descrição através da

manipulação física ou mental do objeto de estudo), comunicação (uso de palavras

ou símbolos gráficos para descrever uma ação, um objeto, um fato, um fenômeno ou

um evento), classificação (agrupar ou ordenar fatos ou eventos em categorias com

base em propriedades ou critérios), predição (previsão do resultado de um evento

diante de um padrão de evidências. A partir delas, ou concomitantemente, ocorre o

desenvolvimento de habilidades integradas: controle de variáveis (identificação e

controle das variáveis do experimento), definição operacional (operacionalização do

experimento),formulação de hipóteses (soluções ou explicações provisórias para um

fato),interpretação de dados (definir tendências a partir dos resultados), conclusão

(finalizar o experimento, através de conclusões e generalizações).As habilidades

processuais e integradas estão intimamente associadas aos objetivos do ensino de

ciências, pois elas despertam a curiosidade e o interesse pela natureza, estimula o

hábito de estudo e a observação, condições necessárias para o aprimoramento do

espírito lógico e desenvolvimento do raciocínio indutivo e dedutivo. Nas aulas de

ciências portanto, os alunos devem manipular materiais de laboratório, observar,

misturar, medir temperaturas, completar quadros, calcular médias. A prática

científica moderna e criativa deve portanto, contemplar um conjunto de

procedimentos que aproximem os alunos a forma de trabalho mais rigorosas e

criativas, mais coerentes com o modo de produção do conhecimento científico.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

ESTUDO PRELIMINAR SOBRE A MELHORIA DO ENSINO TEÓRICO EPRÁTICO

NAS TURMAS DE LICENCIATURA PLENA EM CIÊNCIAS DA FAFIDAM.

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A obtenção de alguns dados preliminares sobre o grau de conhecimento

biotecnológico pelos alunos do Curso de Licenciatura em Ciências da Faculdade de

Filosofia Dom Aureliano Matos em Limoeiro do Norte - CE poderiam nos fornecer

uma idéia a respeito da necessidade real de novos materiais para o ensino de

ciências e biologia. Para buscar algumas percepções novas que nos auxiliem nessa

questão, buscou-se caracterizar as necessidades dos alunos frente aos

conhecimentos biotecnológicos recentes, e também caracterizar como os alunos têm

resolvido (ou não) o problema do acesso a vias de comunicação capazes de prover

algum nível de conteúdo sobre assuntos recentes de biotecnologia, comentados na

mídia e fora dela Este estudo preliminar objetivou conhecer algumas necessidades,

incluindo aí a expectativa dos alunos frente à estas novidades biotecnológicas e

também qual o papel da mídia na difusão deste conhecimento. Questionários foram

propostos e respondidos pelos alunos, respeitando-se o anonimato dos mesmos.

Nesta pesquisa, foram entrevistados 51 alunos (de um total de 125) do curso de

Licenciatura em Ciências da FAFIDAM, nas turmas das disciplinas de Bioquímica,

Biologia e Higiene e Saúde, a maioria no sexto e sétimo semestres do curso. A

idade média apresentada pelos alunos foi de 25,8 anos.

A Figura 1 apresenta um gráfico de colunas com dados sobre a perspectiva de

aprendizado dos alunos de alguns temas de biotecnologia muito comentados

atualmente na sociedade como um todo. Os alunos foram instados a dar uma nota

sobre o quanto os mesmos acreditavam conhecer sobre cada um dos temas, ou

quanto se sentiam seguros sobre determinado assunto.

Verificamos através deste gráfico que claramente, os dois temas que obtiveram uma

nota mais expressiva foram clonagem e fertilização in vitro, que entretanto, não

apresentaram média acima de 1,5.

Instados a escrever algumas poucas linhas sobre um dos assuntos (ou outro de sua

preferência), o assunto clonagem revelou-se de longe o preferido, no entanto as

respostas demonstraram um conhecimento superficial, baseados preferencialmente

em sentimentos de repulsa ou espanto do que justamente o conhecimento da

técnica. Estes resultados revelam que a angústia das novidades biotecnológicas

traduzem um mascaramento sobre a falta de conhecimento das mesmas. A

caracterização da via de acesso tanto preferível quanto mais utilizada pelos alunos

foi obtida da mesma maneira, pela atribuição de notas, discriminando-se 12 vias de

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acesso possíveis para o conhecimento e esclarecimento de assuntos relacionados à

biotecnologia (Ver Figura 2).

A resposta fornecida pelos alunos mostra que a via mais preferida e utilizada é a

aula, seguida de perto pela revistas de divulgação científica (revistas não científicas,

que tratam de ciências de uma forma leiga). Os colegas da faculdade são a terceira

fonte mais procurada, juntamente com revistas especializadas (revistas de física, ou

médicas, etc) e a televisão.

A pesquisa aponta que os alunos necessitam e utilizam a aula como um dos

principais veículos do saber científico e tecnológico. Já as revistas de divulgação

científica vem ocupando um (perigoso?) papel de destaque na preferência dos

alunos. Este é um fato compreensível, já que a FAFIDAM não dispõe de uma

biblioteca adequada (para não dizer que é inexistente nas áreas de ciências e

biologia) para as necessidades do curso, o que mostra que os alunos se ressentem

de uma atualização suficiente para as necessidades de sala-de-aula.

Outros fatores relacionados à pesquisa demostram que outros tipos de acesso têm

importância nesta abordagem: internet, amigos, jornais, seus próprios alunos (já que

uma grande parte dos alunos trabalha como professor na rede pública e privada).

Outras possibilidades menos votadas foram: rádio, revistas comuns e familiares.

Este quadro revela uma profunda defasagem do saber científico no momento mais

crítico: o momento da formação do futuro professor de ciências e biologia. A ciência

tornou-se um objeto que não permanece estático. A revolução biotecnológica tornou-

se tão dinâmica que transcendeu de uma determinada forma, do universo restrito do

acadêmico, para o nível do cidadão comum. Este é bombardeado incessantemente

pela mídia escrita, falada e televisada com as notícias de ciência e biotecnologia.

Temos agora um olhar obrigatório e fixo em direção à ciência,especificamente não à

ciência do cientista, mas para suas “maravilhas”. Este olhar, na maioria das vezes

perplexo, atônito, deveria ser lembrado ao contemplarmos a renovação do ensino de

ciências e tecnologia de nossas escolas, em todos os níveis.

A educação escolar possui um papel insubstituível como provedora de

conhecimentos básicos e habilidades cognitivas e operativas necessárias para a

participação na vida social e no que significa o acesso à cultura, ao trabalho, ao

progresso e à cidadania (Libaneo, 1984).

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Sabemos então que 99% dos estudantes que emerge do ensino fundamental não

sabe o que é ciência e o que é um cientista. A escola não chega sequer a tomar

conhecimento do problema. O espaço aberto, esquecido pela escola é preenchido

pela mídia, falada, escrita e principalmente, televisada. A mídia toma conta do

espaço científico disponível para o cidadão.

A mídia não têm interesse pela realidade dura e dificultosa do cientista brasileiro.

Busca sim, formar o mercado consumidor de “novidades” científicas,

avassaladoramente despejando notícias de descobertas, a maioria ainda em fase de

teste ou mesmo em projeto.

Esse mercado de notícias “superinteressantes” têm conquistado uma extensa fatia

nos últimos anos, fruto óbvio do progresso das ciências como um todo e em certas

áreas como a genética e a biologia molecular.

Figura 1 – Gráfico relativo ao grau de conhecimento reconhecido pelos alunos do

Curso de Licenciatura em Ciências da Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos

–Limoeiro do Norte - CE em alguns assuntos biotecnológicos recentes. Média das

notas em colunas. Amostragem de 51 alunos.

Figura 2 – Gráfico referente à possibilidade e utilização de vias de acesso para o

conhecimento de assuntos biotecnológicos pelos alunos do Curso de Licenciatura

em Ciências da Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos – Limoeiro do Norte -

CE em alguns assuntos biotecnológicos recentes. Média das notas em colunas e

desvio médio indicado nas barras. Amostragem de 51 alunos.

AULAS PRÁTICAS, SITE PEDAGÓGICO E UTILIZAÇÃO DE

MODELOSMOLECULARES

As aulas práticas tiveram lugar nos laboratórios da FAFIDAM.

Foram produzidas pelos próprios alunos, com preferência à protocolos simples, de

fácil utilização e baratos. O protocolo utilizado pelos alunos para extração de DNA

de cebola e fígado bovino (Figura 3) foi apresentado como pôster na Semana

Universitária da UECE em Fortaleza – CE, de 18 a 22 de novembro de 2002, pelos

próprios alunos da disciplina (ver abaixo, o resumo do trabalho).

Outros protocolos estão sendo pesquisados e desenvolvidos. Outro que será

apresentado oportunamente é o de extração de antocianinas em materiais

biológicos.

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Um site pedagógico, utilizando fotos e informações colhidas pelos alunos e seus

familiares sobre a caatinga e o semi-árido do sistema do Vale do Jaguaribe foi

colocado em teste em provedor gratuito e utilizado nas disciplinas relacionadas a

botânica e ecologia. Este trabalho foi apresentado e discutido no último Epenn

(Ceccatto & Santana, 2001) – disponível em http://www.geocities.com/vania_uece.

Utilizando recursos limitados e descartáveis, os alunos foram estimulados a produzir

modelos concretos de biomoléculas, como do DNA, glicogênio, amido,proteínas,

junto às disciplinas de Bioquímica, Fisiologia e Química Orgânica. (Figura 4). Os

alunos apresentaram os modelos moleculares aos colegas, repassando o conteúdo

relativo à elas, a estrutura molecular, as ligações químicas, os elementos químicos

formadores e suas respectivas cores. Outras informações foram acrescentadas tais

como, os tipos de materiais utilizados, a manufatura e o preço total do modelo.

Figura 3 – Experimento em andamento para o desenvolvimento de um protocolo de

extração de DNA em células animais e vegetais, utilizando reagentes simples.

Alunos da Disciplina Laboratório de Biologia. Dependências do laboratório de

química da Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos – Limoeiro do Norte – CE

em Agosto de 2001. Figura 4 – Construção de modelos didáticos para

macromoléculas (no caso, de glicogênio) com materiais recicláveis, em sala-de-aula

pelos alunos da Disciplina de Bioquímica.

Dependências da Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos, setembro de 2000.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A mistificação da ciência como um procedimento infalível, extemporâneo, absoluto e

padronizado, é considerado em sala-de-aula como o único caminho possível e eficaz

para a produção de conhecimento científico. Para o cidadão, o simples fato de

estudar ciência numa abordagem escolar tradicional não o ajuda a constituir o

conjunto de competências e habilidades para elaborar conhecimentos novos. Na

tentativa de desmistificar a ciência e o método científico podemos (e devemos)

lançar mão de todos os recursos possíveis. A renovação dos conteúdos e a busca

de novas práticas de laboratório que possam auxiliar alunos e professores a compor

massa crítica voltada à ciência torna-se um dos pontos de fundamental importância

na tentativa de atualizar e alfabetizar cientificamente nossos alunos e professores.

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Na busca por soluções e alternativas para o ensino de ciências, o enfoque prático é

uma das alternativas válidas entre os muitos modelos possíveis. O uso de multimídia

mostra-se como uma das mais poderosas ferramentas para a motivação e focalizar

as atenções de um grupo para objetivos de aprendizado, tanto de conteúdo como

para atitudes sociais desejáveis, como o respeito ao meio ambiente. Para o trabalho

aqui descrito, apesar das dificuldades discutidas, inerentes à todo o interior do

Ceará, a multimídia utilizada demonstrou ser um meio participativo de integrar os

objetivos firmados com a análise de conteúdo da disciplina, às discussões de cunho

social e ambiental, como também à tecnologia. Além de tudo, foi uma experiência

lúdica e agradável, tanto para os alunos como para o facilitador.

Um consenso entre a comunidade científica e educacional é que o docente carrega

a maior parte da responsabilidade em garantir a aprendizagem de ciências pelos

alunos. Porém, a formação científica de nossos futuros professores tem deixado

muito a desejar. Seja por falta de conteúdo teórico ou absoluta falta de preparo

científico prático, o resultado é que esse professor carregará consigo em sua prática

diária docente a concepção errônea de ciência como conjunto acabado e estático de

verdades definitivas.

Neste contexto, buscou-se contribuir com a otimização de um protocolo para prática

de laboratório destinado ao ensino de ciências e biologia. Este experimento consistiu

na extração de DNA de células animais e vegetais utilizando materiais simples,

corriqueiros e de fácil execução em qualquer escola de ensino fundamental ou

médio. Os materiais utilizados foram: cebola, fígado bovino, sal de cozinha,

detergente comum e álcool comercial.

A metodologia consistiu na mistura de reagentes com as amostras seguidas de

banho-maria, choque térmico (com gelo) e filtração. O resultado final foi a

visualização de fios brilhantes e transparentes formados pela aglutinação dos

nucleotídeos que se re-polimerizam na solução alcoólica. Este resultado,

visualmente, mostrou-se bastante semelhante com os obtidos com as metodologias

clássicas de extração, utilizando reagentes analíticos. As observações principais

durante a execução são a ocorrência de precipitação (floculação) de proteínas

extraídas através do rompimento das células em meio salino. Buscou-se fazer uma

otimização do protocolo, testando-se diferentes tipos de tratamento das amostras

vegetal e animal.

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Os resultados mostraram que a extração de DNA da célula vegetal foi a mais

satisfatória, com a trituração da amostra em almofariz.

No caso da célula animal, o nível de impurezas (proteínas, restos celulares, etc) não

permitiram uma boa visualização dos polímeros de DNA. Após um período de cerca

de uma hora, em todas as amostras testadas, os polímeros não se tornam mais

visíveis, provavelmente devido à ação de enzimas degradativas liberadas com a

extração.

Concluiu-se que a utilização desta prática foi satisfatória para os fins didáticos a que

se destina e pode ser de utilidade no ensino de conteúdos ligados à biologia celular

e áreas afins.

REFERÊNCIAS

CECCATTO, V. M.; SANTANA, J. R. Imagens do Semi-árido: A identidadeEcológica do Vale do Rio Jaguaribe – CE pelos alunos do Curso de Licenciatura em Ciências - FAFIDAM/UECE – Limoeiro do Norte – CE. EPPEN 2001. XV Encontro de Pesquisa Educacional do Norte e Nordeste – 19 a 22 de junho de 2001. São Luis – MA. Anais. D’AMBROSIO, U. Educação Matemática: Da teoria a prática. Campinas, SP:Papirus,. p.80. 1996. FUMAGALLI, L. El desafio de enseñar ciencias naturales. Una propuestadidáctica para la escuela media. Buenos Aires. Troquel. 1993 LIBANEO, J. C. Didactica y prática histórico-social. Ande, ano 4, n. 8, 1984. MENDES, F. J. G.; MENDES JR., M. F.; OLIVEIRA, M. E. A. S.; SOUSA, M. V.; AMORIM, P. E.; SILVA, S. C. C. CECCATTO, V. M.; Vasconcelos, A. L. S. Otimização de protocolo de extração de DNA em células animais e vegetais para utilização em práticas de laboratório de ciências e biologia. VI Semana Universitária da UECE – 18 a 22 de novembro de 2002. Resumos. WEISSMANN, H. Didácticas especiales, Buenos Aires, Aiqué. 1993.

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SITES E LIVROS PARA CONSULTAS

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Ensino de Biologia

Formato do arquivo: PDF/Adobe Acrobat - Ver em HTML Palavras-chave: Ensino de Biologia; Aprendizagem significativa; metodologia. INTRODUÇÃO ... tornar o ensino de Ciências e Biologia mais significativo ...

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InForum - Prática de Ensino em Biologia - 56490 10 postagens - Última postagem: 5 out. 2007 Este fórum e destinado aos mestres, alunos e pessoas interessadas no tema "Prática de Ensino em Biologia" e servirá praticamente para a ... inforum.insite.com.br/56490/ - 26k - Em cache - Páginas Semelhantes

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CURSO DE APERFEIÇOAMENTO NO ENSINO DE BIOLOGIA I – Apresentação ... Formato do arquivo: PDF/Adobe Acrobat - Ver em HTML suprir esta lacuna de capacitação na área de Ensino de Biologia no que se refere tanto à .... Professores de Ensino Médio que lecionam Biologia para apoiar, ... portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/formcont_ufap_bio.pdf - Páginas Semelhantes

E D U C A B R A S I L .com.br Contemplar a pluralidade e a multiplicidade de significados com que o ensino de Biologia vem se configurando nas esferas da pesquisa acadêmica, ... www.midiamix.com.br/eb/exe/texto.asp?id=448 - 23k - Em cache - Páginas Semelhantes

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Biologia: Ensino médio (Coleção explorando o ensino, volume VI) Autor: Ministério da Educação. Fonte: [me] Ministério da Educação - Dominio Publico. - Site Biologia: Ensino médio (Coleção explorando o ensino, ... www.ebah.com.br/biologia-ensino-medio-colecao-explorando-o-ensino-volume-vi-l173700.html - 15k - Em cache - Páginas Semelhantes

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Prática de Ensino em Biologia I

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Conhecer as condições em que se realiza o ensino de Biologia, ... História do Ensino de Biologia na escola brasileira: o discurso oficial e a prática ... www.ffclrp.usp.br/disciplinas/licenciaturaemcienciasbiologicas/5940124-129.html - 14k

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LILACS-O tema comportamento no ensino de biologia; The subject ... Em conseqüência, repassa-se aos alunos do ensino médio uma visão fragmentada da natureza humana. Por outro lado, a Biologia Evolutiva vem há mais de ... bases.bireme.br/cgi-bin/wxislind.exe/iah/online/?IsisScript=iah/iah.xis&src=google&base... - 33k

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ORIENTAÇÕES PARA BUSCA DE ARTIGOS CIENTÍFICOS NO SCIELO

Após a escolha do tema do TCC, pertinente ao seu curso de Pós-graduação,

você deverá fazer a busca por artigos científicos da área, em sites especializados,

para a redação do seu próprio artigo científico. O suporte bibliográfico se faz

necessário porque toda informação fornecida no seu artigo deverá ser retirada de

outras obras já publicadas anteriormente. Para isso, deve-se observar os tipos de

citações (indiretas e diretas) descritas nesta apostila e a maneira como elas devem

ser indicadas no seu texto.

Lembre-se que os artigos que devem ser consultados são artigos científicos,

publicados em revistas científicas. Sendo assim, as consultas em revistas de ampla

circulação (compradas em bancas) não são permitidas, mesmo se ela estiver

relatando resultados de estudos publicados como artigos científicos sobre aquele

assunto. Revistas como: Veja, Isto é, Época, etc., são meios de comunicação

jornalísticos e não científicos.

Os artigos científicos são publicados em revistas que circulam apenas no

meio acadêmico (Instituições de Ensino Superior). Essas revistas são denominadas

periódicos. Cada periódico têm sua circulação própria, isto é, alguns são publicados

impressos mensalmente, outros trimestralmente e assim por diante. Alguns

periódicos também podem ser encontrados facilmente na internet e os artigos neles

contidos estão disponíveis para consulta e/ou download.

Os principais sites de buscas por artigos são, entre outros:

SciELO: www.scielo.org

Periódicos Capes: www.periodicos.capes.gov.br

Bireme: www.bireme.br

PubMed: www.pubmed.com.br

A seguir, temos um exemplo de busca por artigos no site do SciELO.

Lembrando que em todos os sites, embora eles sejam diferentes, o método de

busca não difere muito. Deve-se ter em mente o assunto e as palavras-chave que o

levarão à procura pelos artigos. Bons estudos!

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Siga os passos indicados:

Para iniciar sua pesquisa, digite o site do SciELO no campo endereço da

internet e, depois de aberta a página, observe os principais pontos de pesquisa: por

artigos; por periódicos e periódicos por assunto (marcações em círculo).

Ao optar pela pesquisa por artigos, no campo método (indicado abaixo),

escolha se a busca será feita por palavra-chave, por palavras próximas à forma que

você escreveu, pelo site Google Acadêmico ou por relevância das palavras.

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Em seguida, deve-se escolher onde será feita a procura e quais as palavras-

chave deverão ser procuradas, de acordo com assunto do seu TCC (não utilizar “e”,

“ou”, “de”, “a”, pois ele procurará por estas palavras também). Clicar em pesquisar.

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Lembre-se de que as palavras-chave dirigirão a pesquisa, portanto, escolha-

as com atenção. Várias podem ser testadas. Quanto mais próximas ao tema

escolhido, mais refinada será sua busca. Por exemplo, se o tema escolhido for

relacionado à degradação ambiental na cidade de Ipatinga, as palavras-chave

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poderiam ser: degradação; ambiental; Ipatinga. Ou algo mais detalhado. Se nada

aparecer, tente outras palavras.

Isso feito, uma nova página aparecerá, com os resultados da pesquisa para

aquelas palavras que você forneceu. Observe o número de referências às palavras

fornecidas e o número de páginas em que elas se encontram (indicado abaixo).

A seguir, estará a lista com os títulos dos artigos encontrados, onde constam:

nome dos autores (Sobrenome, nome), título, nome do periódico, ano de publicação,

volume, número, páginas e número de indexação. Logo abaixo, têm-se as opções

de visualização do resumo do artigo em português/inglês e do artigo na íntegra, em

português. Avalie os títulos e leia o resumo primeiro, para ver se vale à pena ler todo

o artigo.

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Ao abrir o resumo, tem-se o nome dos autores bem evidente, no início da

página (indicado abaixo). No final, tem-se, ainda, a opção de obter o arquivo do

artigo em PDF, que é um tipo de arquivo compactado e, por isso, mais leve, Caso

queria, você pode fazer download e salvá-lo em seu computador.

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Busca por periódicos

Caso você já possua a referência de um artigo e quer achá-lo em um

periódico, deve-se procurar na lista de periódicos, digitando-se o nome ou

procurando na lista, por ordem alfabética ou assunto. Em seguida, é só procurar

pelo autor, ano de publicação, volume e/ou número.

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É preciso ressaltar que você deve apenas consultar as bases de dados e os

artigos, sendo proibida a cópia de trechos, sem a devida indicação do nome do

autor do texto original (ver na apostila tipos de citação) e/ou o texto na íntegra.

Tais atitudes podem ser facilmente verificadas por nossos professores, que

farão a correção do artigo.