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16 Bahia Agríc., v.8, n. 1, nov. 2007 COMUNICAÇÃO Biologia, danos e táticas de controle da broca-da-polpa das anonáceas Maria A. L. Bittencourt* Catarina C. de Mattos Sobrinho** Mônica J. B. Pereira*** *Departamento de Ciências Agrárias e Ambientais – DCAA, Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC, Ilhéus – BA; e-mail: [email protected] **Agência Estadual de Defesa Agropecuária da Bahia – ADAB/Regional de Itabuna – BA; e-mail: [email protected] ***Departamento de Agronomia, Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT, Cuiabá – MT; e-mail: [email protected] Foto: Acervo Biblioteca SEAGRI-BA A família Annonaceae tem mais de 40 gêneros, sendo que somente Annona apresenta mais de 118 espécies (108 da América Tropical e 10 da África Tropical), das quais 13 são comestíveis. As mais importantes e exploradas comercialmente são: A. muricata (graviola), A. squamosa (pinha ou fruta-do-conde), A. cherimola (cherimóia), A. reticulata (condessa) e o híbrido atemóia (A. cherimola x A. squamosa). No Brasil, as anonáceas, principalmente a graviola e a pinha, apresentam alto valor comercial, com grandes perspectivas econômicas para comercialização, industrialização e exportação, seja através do consumo in natura ou de polpa. O Brasil apresenta condições ecológi- cas favoráveis para o cultivo dessas ano- náceas, mas os problemas fitossanitários, especialmente relacionados aos insetos, vêm desestimulando o estabelecimento de plantios comerciais. Há relatos de al- gumas espécies de insetos que atacam diferentes partes da planta, e que podem ocorrer de forma generalizada e causar grandes perdas, ou aparecerem espora- dicamente na cultura. Na Bahia, o município de Presidente Dutra, região de Irecê, é o principal pro- dutor de pinha do Estado com aproxima- damente 650 hectares irrigados e 1000 hectares em sequeiro, onde são cultiva- dos 1 milhão e 50 mil pés dessa fruteira, com estimativa de produção de 18 mil toneladas na safra de 2005. A broca-dos-frutos Cerconotaanonella (Sepp., 1830) (lepidóptera, Oecophoridae), a broca-da-semente Bephratelloides pomorum (Fabr.., 1808) (Hymenoptera, Eurytomidae) e a broca-do-tronco Cratosomus bombina (Fabr., 1787) (Coleoptera, Curculionidae) são consi-deradas pragas primárias em algumas regiões produtoras do país, devido aos danos econômicos que causam às anonáceas. Os adultos da broca-dos-frutos, C. anonella, são mariposas de coloração branco-acinzentada com reflexos pra- teados, a fêmea tem aproximadamen- te 25 mm de envergadura e 10 mm de comprimento, e o macho é menor, com cerca de 20 mm de envergadura e 8 mm de comprimento. Apresentam nas asas três listas cinzentas, irregulares, que são características (Figura 1). As antenas são

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16 Bahia Agríc., v.8, n. 1, nov. 2007

C O M U N I C A Ç Ã O

Biologia, danos e táticas de controle da broca-da-polpa das anonáceas

Maria A. L. Bittencourt*Catarina C. de Mattos Sobrinho**

Mônica J. B. Pereira***

*Departamento de Ciências Agrárias e Ambientais – DCAA, Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC, Ilhéus – BA; e-mail: [email protected] **Agência Estadual de Defesa Agropecuária da Bahia – ADAB/Regional de Itabuna – BA; e-mail: [email protected] ***Departamento de Agronomia, Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT, Cuiabá – MT; e-mail: [email protected]

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A família Annonaceae tem mais de 40 gêneros, sendo que somente Annona apresenta mais de 118 espécies (108 da América Tropical e 10 da África Tropical), das quais 13 são comestíveis. As mais importantes e exploradas comercialmente são: A. muricata (graviola), A. squamosa (pinha ou fruta-do-conde), A. cherimola (cherimóia), A. reticulata (condessa) e o híbrido atemóia (A. cherimola x A. squamosa). No Brasil, as anonáceas, principalmente a graviola e a pinha, apresentam alto valor comercial, com grandes perspectivas econômicas para comercialização, industrialização e exportação, seja através do consumo in natura ou de polpa.

O Brasil apresenta condições ecológi-cas favoráveis para o cultivo dessas ano-

náceas, mas os problemas fi tossanitários, especialmente relacionados aos insetos, vêm desestimulando o estabelecimento de plantios comerciais. Há relatos de al-gumas espécies de insetos que atacam diferentes partes da planta, e que podem ocorrer de forma generalizada e causar grandes perdas, ou aparecerem espora-dicamente na cultura.

Na Bahia, o município de Presidente Dutra, região de Irecê, é o principal pro-dutor de pinha do Estado com aproxima-damente 650 hectares irrigados e 1000 hectares em sequeiro, onde são cultiva-dos 1 milhão e 50 mil pés dessa fruteira, com estimativa de produção de 18 mil toneladas na safra de 2005.

A broca-dos-frutos Cerconotaanonella

(Sepp., 1830) (lepidóptera, Oecophoridae), a broca-da-semente Bephratelloides pomorum (Fabr.., 1808) (Hymenoptera, Eurytomidae) e a broca-do-tronco Cratosomus bombina (Fabr., 1787) (Coleoptera, Curculionidae) são consi-deradas pragas primárias em algumas regiões produtoras do país, devido aos danos econômicos que causam às anonáceas.

Os adultos da broca-dos-frutos, C. anonella, são mariposas de coloração branco-acinzentada com refl exos pra-teados, a fêmea tem aproximadamen-te 25 mm de envergadura e 10 mm de comprimento, e o macho é menor, com cerca de 20 mm de envergadura e 8 mm de comprimento. Apresentam nas asas três listas cinzentas, irregulares, que são características (Figura 1). As antenas são

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fi liformes e bastante ciliadas nos machos. Possuem hábito noturno e durante o dia fi cam abrigadas. O período de pré-ovipo-sição é de dois a três dias. A longevidade dos adultos é de 20 dias, em média.

Os ovos são esverdeados, e coloca-dos sobre os frutos em diferentes está-gios de desenvolvimento, e em condi-ções de alta infestação ou ausência de frutos a oviposição pode ocorrer sobre as brotações e fl ores. O período de incuba-ção varia de 4 a 6 dias e cada fêmea pode pôr até 310 ovos, sendo a viabilidade de aproximadamente 90%.

As lagartas, logo após a eclosão, abrigam-se entre as fendas naturais dos frutos, protegendo-se com fi os de seda e após 3 a 4 dias penetram no fruto. Com-pletamente desenvolvidas podem atin-gir até 22 mm de comprimento, e a co-loração é variável, de rosadas a marrom (Figura 2). A duração do período larval é de 14 dias, em média. Antes de passa-rem para a fase de pupa, constróem com fragmentos do fruto e fi os de seda, uma câmara (“lingüeta”) que se projeta para fora do fruto para facilitar a emergência do adulto. As pupas têm 8 a 10 mm de comprimento e são de coloração casta-nho-escuro brilhante. O período pupal dura aproximadamente dez dias.

Para a Região Nordeste, baseando-se na duração total do ciclo de C. anonella, o número de gerações pode chegar a dez anuais, indicando o alto potencial dessa praga no campo. Após a emergência, a fêmea efetua a postura sobre frutos de qualquer tamanho, e a lagarta ao eclodir, raspa a superfície para penetrar no inte-rior do fruto. Os sintomas de ataque são facilmente reconhecidos devido aos re-síduos de digestão que são depositados sobre a superfície do fruto à medida que a lagarta penetra no seu interior; os frutos fi cam retorcidos ou com partes enegreci-das, quase sempre perfuradas (Figura 3).

Os prejuízos podem variar de 60 a 100%, pois as lagartas no seu interior se alimentam da polpa e da semente; as galerias construídas facilitam a penetra-ção de vários patógenos, tais como o Rhizopus stolonifer, causador da podri-dão-parda-dos-frutos e Colletotrichum gloeosporioides, agente causal da an-tracnose ou podridão-negra-dos-frutos. Além da podridão da polpa, os frutos fi cam deformados e com manchas escu-

Figura 3 - Sintoma de ataque de C. anonella

Figura 4 - Danos de C. anonella

Figura 6 - Frutos ensacados

Figura 2 - Lagarta de C. anonella

Figura 1 - Adulto de Cerconota anonella

Figura 5 - Danos de C. anonella

ras, tornando-se impróprios para comer-cialização ou extração da polpa (Figura 4). Os frutos pequenos e médios secam totalmente como é mostrado na Figura 5. Pode ocorrer o secamento de fl ores e botões fl orais.

Através de armadilhas luminosas (uma armadilha/ha) é realizado o moni-toramento de adultos de C. anonella. São feitas inspeções semanais, a partir da fl o-ração, com objetivo de detectar as infes-tações logo no início. Para facilitar a cap-tura, recomenda-se colocar tiras adesivas sobre as alertas para reter as mariposas que ali pousarem.

A manutenção da cobertura do solo nas entre linhas, além de servir de abrigo aos inimigos naturais, também irá man-ter a umidade do solo e evitar a erosão. Outras práticas, como consorciação ou diversifi cação de culturas irão contribuir na manutenção do equilíbrio da ento-mofauna, principalmente dos parasitói-des. A coleta e o enterrio de frutos ata-cados, que estão na planta ou caídos no solo, a 50 cm de profundidade, possibilita a quebra do ciclo biológico da praga e a redução da população. Os frutos secos, de qualquer tamanho, que estiverem nas plantas ou caídos ao solo devem ser reti-rados e queimados. O ensacamento dos frutos ainda pequenos (tamanho de azei-tona) com sacos de TNT (Figura 6) é outra prática de manejo que deverá ser adota-da pelos produtores de anonáceas com o objetivo de controle da broca-do-fruto.

REFERÊNCIAS

BRAGA SOBRINHO, R. et al. Pragas da gravioleira. In:

BRAGA SOBRINHO, R.; CARDOSO, J. E.; FREIRE, F. C. O.

(Eds.) Pragas de fruteiras tropicais de importância in-

dustrial. Brasília: EMBRAPA, 1998. cap. 7. p.131-141.

JUNQUEIRA, N. T. V. et. al. Graviola para exportação:

aspectos fi tossanitários. Brasília: EMBRAPA, 1996. 67 p.

(Série Publicações Técnicas FRUPEX: 22).

MOURA, J. I. L.; LIMA, E. R.; SGRILLO, R. B. Manejo inte-

grado das pragas da gravioleira no sudeste do Estado

da Bahia. [ca.2001]. 17p. Impresso.

PEREIRA, M. J. B. Biologia, exigências térmicas e inimi-

gos naturais da broca-da-polpa das anonáceas Cerco-

nota anonella (Sepp, 1830) (Lepidoptera: Oecophori-

dae). 2001. 70 p. Tese (Doutorado) - Escola Superior

de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São

Paulo, Piracicaba, 2001.