Biooclimatologia Animal

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    MINISTRIO DA EDUCAO E CULTURA

    UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIROINSTITUTO DE ZOOTECNIA

    DEPARTAMENTO DE REPRODUO E AVALIAO ANIMAL

    BIOCLIMATOLOGIA ANIMAL

    Prof. Lus Fernando Dias Medeiros

    Profa. Debora Helena Vieira

    1997

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    SUMRIO

    pgs.

    INTRODUO ............................................................................................................. 6

    PRINCPIOS DE ECOLOGIA ANIMAL ......................................................................... 7

    CARACTERIZAO DO CLIMA TROPICAL .............................................................. 14

    Caracterizao regional dos climas do Brasil ......................................... 14

    AO DA TEMPERATURA SOBRE OS ANIMAIS DOMSTICOS ........................... 16

    PRODUO DE CALOR (Termognese) .................................................................. 23

    PERDA DE CALOR (Termlise) .................................................................................. 24Eliminao de calor corporal com temperatura ambiente menorque a da superfcie do corpo ................................................................. 24

    Eliminao de calor com temperatura ambiente maior que ada superfcie do corpo ............................................................................ 25

    Eliminao do calor por evaporao ......................................... 25

    Evaporao no aparelho respiratrio......................................... 26

    Eliminao de calor corporal por conveco e conduo......... 26

    Reteno de calor corporal ................................................................... 27

    Faixa de conforto ................................................................................... 28

    Temperatura crtica superior - Hipertermia ........................................... 28

    Temperatura e respostas fisiolgicas ................................................... 34

    Efeito da temperatura na ingesto de alimentos, de gua e noshbitos de pastejo ................................................................................. 39

    Efeito da temperatura na reproduo .................................................... 43

    Efeito da temperatura no crescimento .................................................... 44

    Efeito da temperatura sobre a produo de carne e carcaa .................. 46

    Efeito da temperatura sobre a produo de leite .................................... 46

    Efeito da temperatura sobre a produo de ovos e l ............................. 51

    AO DE OUTROS AGENTES DO CLIMA ............................................................... 51

    Radiao solar ...................................................................................... 51

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    Umidade Atmosfrica ........................................................................... 57

    Ventos e presso atmosfrica ............................................................. 61

    CONSIDERAES FINAIS SOBRE A TERMORREGULAO NOS ANIMAIS ...... 61

    EFEITO DO CLIMA TROPICAL NA SADE DOS ANIMAIS ...................................... 62

    NDICES DE CONFORTO OU AMBINCIA ............................................................... 65

    A Temperatura do Ar ............................................................................. 66

    Vento e Altitude ..................................................................................... 66

    Precipitao ........................................................................................... 66

    Estudo da Ambincia: ndices e sua Determinao ............................. 66

    MTODOS E TCNICAS DE AVALIAO DA ADAPTABILIDADE DOS

    ANIMAIS DOMSTICOS NOS TRPICOS (Desenvolvido em campo) ....................... 68

    Avaliao da Adaptabilidade ................................................................. 69

    Teste e Mtodos de Adaptabilidade ...................................................... 70

    Teste de RHOAD (Prova de Ibria) ............................................ 70

    Mtodo de Bonsma ................................................................... 75

    Teste de Dowling ....................................................................... 75

    Teste de RAUSCHENBACH & YEROKHIN ............................... 76

    O modelo de FRISCH & VERCOE ............................................. 77

    Outros testes e mtodos ............................................................ 81

    AS FORMAS DE ACLIMAMENTO .............................................................................. 82

    Aclimamento Hereditrio e Naturalizao ............................................. 83

    Aclimamento Degenerativo ................................................................... 83

    Acomodao ou Aclimamento do Indivduo ......................................... 84

    Falncia da Raa ................................................................................... 85

    Aclimao Indireta .................................................................................. 85

    Fatores de xito na Aclimao ............................................................. 86

    INFLUNCIA CLIMTICA NA REPRODUO DE RUMINANTES ............................. 86

    Produo de smen .............................................................................. 86

    Reproduo nas fmeas ....................................................................... 88

    Puberdade ................................................................................. 88

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    Ciclo estral e ovulao ................................................................ 89

    Fertilizao, gestao, desenvolvimento e sobrevivncia dofeto ........................................................................................... 91

    Comportamento sexual .............................................................. 93

    ASPECTOS DE UMA ABORDAGEM PARA O ZONEAMENTO ECOLGICODA BOVINOCULTURA NO ESTADO DE SO PAULO ............................................. 94

    Isotermas que caracterizam as regies dos bovinos europeus (climax explorao bovina) .............................................................................. 95

    Isotermas que caracterizam as regies de zebunos (para o zebuBrahma) ................................................................................................ 96

    Isotermas que caracterizam as regies dos mestios (cruzaseuropeu x zebuno) ............................................................................... 96

    A EFICINCIA DOS RUMINANTES PARA UTILIZAR ALIMENTOS NOSTRPICOS ................................................................................................................. 97

    MANEJO AMBIENTAL (BANHOS E SOMBREAMENTO) PARA A PRODUODE LEITE NOS TRPICOS ....................................................................................... 98

    ALGUMAS INFORMAES SOBRE A PERFORMANCE DE BOVINOSLEITEIROS NOS TRPICOS .................................................................................... 100

    MTODOS PARA MELHORAR A PRODUO DOS ANIMAIS DOMSTICOSNOS TRPICOS ....................................................................................................... 101

    CONSIDERAO SOBRE O DESENVOLVIMENTO DE RAAS OU TIPOSDE BOVINOS DE LEITE PARA OS TRPICOS ...................................................... 104

    SELEO PARA ADAPTAO DE BOVINOS AOS TRPICOS ............................. 105

    Importncia da Sudao .................................................................... 108

    CONSIDERAES SOBRE O EFEITO DO CLIMA NA PERFORMANCEDOS BUBALINOS .................................................................................................... 110

    ALGUMAS CONSIDERAES SOBRE O DESEMPENHO DE CAPRINOSNOS TRPICOS ....................................................................................................... 112

    Stress calrico e consumo de alimento ............................................... 112

    Caractersticas fisiolgicas e anatmicas ............................................ 113

    Aspectos genticos ............................................................................ 114

    ALGUMAS CONSIDERAES SOBRE A INFLUNCIA CLIMTICANA CUNICULTURA .................................................................................................. 117

    CONSIDERAES GERAIS SOBRE A INFLUNCIA CLIMTICA NAAVICULTURA ............................................................................................................ 119

    PROGRAMA NUTRICIONAL PARA AVES EM CLIMAS QUENTES ....................... 120

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    SISTEMAS DE RESFRIAMENTO PARA O CONTROLE TRMICO DEGALPES AVCOLAS ............................................................................................... 122

    EFEITOS AMBIENTAIS NO COMPORTAMENTO TERMORREGULADOR DESUNOS ..................................................................................................................... 126

    CONSIDERAES FINAIS ....................................................................................... 130

    INTRODUO

    O animal domstico, como todo ser vivo, vive em um ambienteconstitudo pelo conjunto de condies exteriores naturais e artificiais oupreparadas, que sobre ele exerce a sua atuao.

    A aptido ecolgica est condicionada por dois fatores bsicos:climtico e edfico.

    O clima, como a sucesso habitual das condies do tempo naregio, o mais importante dos fatores que atuam sobre os animais. Suainfluncia apresenta-se de ordem direta e indireta. A influncia direta, processa-seatravs da temperatura do ar, e da radiao solar, e em menor grau da umidade,por sua estreita relao com o calor atmosfrico. Os componentes climticoscondicionam as funes orgnicas envolvidas na manuteno da temperaturanormal do corpo. A influncia indireta, atravs da qualidade e quantidade devegetais indispensveis criao animal, e do favorecimento ou no de doenasinfecto-contagiosas e parasitrias.

    Os fatores climticos e edficos compem o fator ecolgico geral que

    indica a potencialidade do meio fsico para a atividade pastoril.O rendimento de um rebanho a resultante da mdia das heranasindividuais e do ambiente mais ou menos favorvel expresso das mesmas.

    A maioria dos atributos econmicos so de baixa herdabilidade,significando que o ambiente tem preponderncia em sua exteriorizao. Os animaisde raas europias importados, apresentam nos trpicos produes que soapenas uma frao das performances em seus pases de origem. Suas progniespuras sofrem a influncia depressiva do meio, que os modifica igualmente em seusfentipos. Elas so afastadas do seu standard racial e do seu standard produtivo epassam a refletir um processo degenerativo que apenas recursos zootcnicosconseguem minorar.

    Em clima tropical, que se caracteriza por temperaturas elevadas eforragens de valor nutritivo insatisfatrio, o animal deve apresentar requisitos detolerncia ao calor, capacidade de pastejamento e converso de alimentosgrosseiros e adequada resistncia a enfermidades e parasitos.

    Torna-se muito importante averiguar se na instalao de determinadaraa, se o tipo de clima que lhe oferecido apresenta alguma semelhana com ode sua origem. Caso os contrastes sejam acentuados, a atividade, se em carterextensivo, estar certamente destinada ao fracasso.

    Em resumo, a grande importncia do ambiente para a explorao dosanimais domsticos decorre unicamente de sua influncia sobre o fentipo, isto ,sobre a exteriorizao da herana, do gentipo dos indivduos; permitindo a sua

    plena exteriorizao ou limitando-a, impedindo, por no lhe ser plenamentesatisfatrio, que ele se manifeste no seu fentipo com todo o seu potencial, ou

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    mesmo impedindo totalmente essa manifestao, principalmente no que se referes atividades produtivas.

    PRINCPIOS DE ECOLOGIA ANIMAL

    A Ecologia Animal a cincia que explica a interao entre o animal eseu ambiente total. Na produo animal essencial um conceito claro da influnciade cada fator ambiental sobre o animal e de como se pode criar animais melhoradaptados a qualquer ambiente. O ambiente afeta a manifestao do gentipo, dosindivduos. Em zootecnia se diz que o ambiente, notadamente o clima umsobremodo regulador da produo animal.

    Exemplificando com animais domsticos, podemos considerar osanimais com gentipos A, B e C, os ambientes X e Y e os resultados, ouprodutividade A1 e A2, B1 e B2, C1 e C2 (Figura 1), estas conseqncias do maiorou menor entrosamento entre os gentipos dos animais e os ambientes de que

    dispem. Entre as condies naturais do ambiente, esto includos o clima, osolo, a vegetao (pastagens), os parasitos e as doenas.

    O clima a principal condio do ambiente espontneo, no s pelasua atuao direta e indireta sobre os animais domsticos, como pela grandedificuldade, ou impossibilidade de os criadores o modificarem, ou atenuaremeconomicamente os seus efeitos, quando desejveis.

    Em face dessa grande importncia do clima, particularmente na zonatropical, equatorial e subtropical, uma vez que as principais espcies e raas deanimais domsticos so originrias de ambientes temperados, os estudos nessesentido tomaram grande importncia nas ltimas dcadas.

    A Climatologia Zootcnica assim, um importante ramo da EcologiaAnimal, estudando a relao entre os animais domsticos e o clima e ainda com asoutras condies naturais do ambiente que sofrem a influncia do clima, suaprincipal condio.

    O clima o resultado da ao conjunta dos fatores ou agentesclimticos, cujos efeitos no podem ser rigorosamente individualizados,constituindo o complexo climtico que funciona como um todo.

    Os principais agentes do clima, como ao direta sobre os animaisdomsticos so: temperatura, radiao solar, umidade, presso atmosfrica, ventoe chuva; e com ao indireta so: pastagens e outros alimentos, parasitos edoenas.

    Para avaliar a interao entre o animal e seu ambiente, o tcnico deveter um conceito claro sobre os fatores que compem o meio ambiente. necessrio tambm indicar como se subdivide o mundo com respeito ao clima.

    Baseado no planisfrio climtico, os principais climas so: equatorial,sub-equatorial, tropical, tropical de altitude, subtropical, mediterrneo, temperado,semi-rido, desrtico, frio e polar.

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    Gentipos Ambientes Resultados

    A1

    A XB2

    C2

    B

    A2

    Y B2C

    1 > 2 C1

    FIGURA 1. Resultados apresentados por trs gentipos submetidos a doisambientes.O diagrama mostra que o gentipo A apresenta melhor resultado noambiente X, enquanto para o gentipo B no h diferena entre osambientes X e Y e para o gentipo C o melhor ambiente Y.

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    Em sntese, o mundo est dividido em quatro zonas climticasbsicas, importantes. A primeira se denomina fria, onde a temperatura atmosfricanunca superior a 18C e a umidade relativa e geralmente inferior a 65%. Estascaractersticas so condies hostis para promover a vida vegetal e animal,portanto, h pouca vegetao para nutrir os animais. Os ruminantes domsticos degrande produtividade no podem se manter num clima como este.

    A segunda, uma grande zona se denomina trrida, cuja temperaturamensal mdia varia de 18C a 32C ou mais e a percentagem de umidade do ar muito baixa. Estas regies so semi-ridas ou ridas, conseqncia da escassezde chuvas e a temperatura extremamente alta. A vegetao muito pobre,notadamente constituda por espcies de cactos espinhosos de baixo valornutritivo.

    A prxima zona climtica a temperada, onde a temperatura mensalmdia rara vez ultrapassa os 18C e a umidade relativa do ar varia entre 65 e 90%. a mais adequada para os cultivos e a produo de pastagens e ademais o stressclimtico sobre os animais no grande. Todas as raas melhoradas dos animaisdomsticos foram desenvolvidas em pases com este clima.

    Finalmente, temos a zona climtica quente e mida (caractersticos declima equatorial, tropical e subtropical). Nesta zona a temperatura do ar fica acimade 18C e a umidade relativa fica acima de 65%.

    Para entender melhor a interao entre o animal e o meio ambiente, necessrio observar vrios ambientes naturais e apreciar as condies climticasque prevalecem ali. fundamental o papel que desempenha a relao ecolgicaentre as plantas e os animais para mostrar o xito ou fracasso econmico daproduo animal.

    Para entender e apreciar a influncia das regies climticas do mundoe sua interao sobre o animal, essencial estudar o animal em seu habitatnatural. Se deve observar, definir e interpretar seu comportamento e reao

    fisiolgica. necessrio tambm avaliar os fenmenos de adaptabilidade dosanimais de reas determinadas, para us-los nos programas de produo dosanimais domsticos, que tem que vencer riscos climticos em ambientes diferentes.

    O conceito de adaptao animal refere-se a mudanas genticas efisiolgicas que ocorrem em animais, em resposta a um estmulo interno e/ouexterno.

    A adaptao gentica refere-se a uma seleo natural ou pelohomem, ao passo que a adaptao fisiolgica ocorre em um indivduo dentro de umcurto ou longo prazo (adaptao somtica). O conceito de adaptao fisiolgicaimplica na capacidade e processo de ajustamento do animal a si mesmo e ao seumeio ambiente total. Quanto maior a extenso da adaptao, melhor o animal

    sobrevive e se reproduz, de tal sorte que suas caractersticas biolgicas sopersistidas. Entretanto, segundo a literatura, a adaptao fisiolgica do animalobjetivando reduzir os efeitos adversos do clima, resulta em alteraes nometabolismo, particularmente, energia, gua, eletrlitos e hormonal.

    Os animais bem adaptados a um determinado meio ambienteapresentam algumas caractersticas que os diferenciam dos animais menosadaptados: manuteno ou pequena perda de peso durante stress geral,principalmente o calrico, alta taxa reprodutiva, alta resistncia a doenas eparasitos, baixa taxa de mortalidade e longevidade.

    A produtividade animal depende, alm de gua e alimento, tambmde seu grau de adaptao ao meio ambiente e suas interaes.

    Os ambientes tropicais podem afetar adversamente a produoanimal, atravs do efeito das altas temperaturas, sobre a habilidade do animal desobreviver e funcionar nas condies reinantes; e atravs de restries, tais como

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    ingesto de alimentos, qualidade do alimento, gentipo disponvel e cargas dedoenas e parasitos.

    Segundo alguns pesquisadores, o tipo de animal adequado para ostrpicos deveria possuir, entre outras caractersticas, habilidade para conservar aproduo de calor permitindo que os processos produtivos ocorram em um nvelnormal, mesmo quando a temperatura do ar alta. A adaptabilidade , em parte,um fator geneticamente controlado atravs da herana de vrios atributosanatomorfofisiolgicos que afetam a termognese ou a termlise.

    Atravs de estudos sobre a adaptao dos animais domsticos,quatro regras ecolgicas podem ser observadas:

    a) Animais que habitam regies quentes e midas possuem mais melanina doque as espcies que habitam regies frias.

    b) As partes protuberantes do corpo (cauda, orelhas, extremidades, etc.) somenores em raas que habitam regies frias.

    c) As raas menores de uma certa espcie habitam regies mais quentes e asraas maiores, as regies mais frias.

    d) A insulao do corpo, baseada no comprimento dos plos e espessura do tecidoadiposo, esto altamente relacionados com o clima.

    As adaptaes morfolgicas e anatmicas so bastante aparente naconformao dos animais. Os animais que habitam regies de clima quente e ridopossuem pernas compridas e com isso os efeitos do reflexo dos raios solares nocorpo so menores e tambm facilitam a locomoo por grandes distncias. Oszebuinos possuem a pele preta sob plos claros, condio ideal para se evitar a

    ao dos raios solares sobre o organismo; alm disso, os zebuinos comparadoscom os taurinos possuem maior nmero de glndulas sudorparas e mais prximasda superfcie corporal, o que facilita a perda de calor por transpirao. Os animaisque habitam regies de clima frio possuem extremidades menores e ploscompridos para facilitar a conservao de calor corporal. Pode-se citar a existnciado tecido adiposo localizado (ovinos africanos e asiticos) que serve de fonte deenergia em condies de alimentao escassa, ao passo que animais de clima friopossuem uma espessa camada de tecido adiposo subcutneo para evitar perda decalor.

    A temperatura o fator mais importante para determinar o tipo deanimal que se pode criar em uma determinada regio. Poucas raas de bovinos e

    climas temperados podem prosperar em regies onde a mdia anual detemperatura superior a 18C. Se esta temperatura excede aos 21C todos osanimais de clima temperado iro sofrer degenerao tropical, que no secaracteriza unicamente por uma deteno da produo, mas tambm por umaefetiva reduo da fertilidade.

    Os animais no adaptados tropicalmente e que no podem suportaraltas temperaturas, vivem hipertrmicos e a princpio mostram um aumento natemperatura corporal que chega em bovinos a 41C. Os animais jovens, desde onascimento at um ano de idade, sofrem muito mais que os adultos. O mecanismotermorregulador do animal jovem no funciona adequadamente. Os animaisadaptados aos trpicos mostram pouco ou nenhum aumento da temperaturacorporal temperatura atmosfrica de 29C. retardado desenvolvimento dosanimais que mostram sinais de hipertermia nos trpicos.

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    O animal adaptado ao trpico tem a pelagem suave e pele grossa,solta e muito vascularizada. Os bovinos europeus, tem a pelagem formada por umacapa exterior protetora e uma interna que retm o calor. Nos trpicos essesbovinos, podem apresentar uma subfertilidade ou esterilidade, em funo de umadisfuno da glndula pituitria, em conseqncia da hipertermia.

    O plo e pele fazem um papel importantssimo na adaptao dosanimais. Em um trabalho de investigao tropical, se obteve um touro mutante puroda raa Afrikander de pelagem lanosa. Este touro foi trazido Estao deInvestigao de Messina, frica do Sul, e seu primeiro apareamento foi com vacasda raa Afrikander de pelagem lisa. Aproximadamente a metade de sua progniefoi de pelagem lanosa e a outra metade de pelagem lisa. Em todos os casos, osanimais de pelagem lisa pesaram mais que os de pelagem lanosa. As bezerras depelagem lisa, filhas deste touro, pesaram em mdia 180kg de peso vivo aos 8meses de idade e as de pelagem lanosa 135kg. O mesmo touro foi apareado comvacas Hereford, Shorthorn e Aberdeen Angus. Uma vaca Aberdeen pariu doisbezerros, um de pelagem lanosa e o outro de pelagem lisa. Na idade de 7 anos onovilho de pelagem lanosa pesava 385kg e o de pelagem lisa 612kg. Em suma, os

    bovinos nascidos com pelagem lisa, puderam suportar os riscos dos climassubtropicais e no sofreram aumento na temperatura corporal ou hipertermia, nemmesmo quando eram jovens. A pelagem da prognie lanosa atua como uma capaisolante, que no permitem a irradiao do calor do corpo.

    Os animais com pele grossa, lisa e muito vascularizada sangramprofusamente, contudo a leso cicatrizar rapidamente. Estes animais se adaptambem as altas temperatura do ar. As feridas sofridas por um animal com pelevascularizada, solta e grossa, demoram 7 ou 10 dias para cicatrizar; j os animaisde pelagem fina, lanosa e com pouca vascularidade tardam a princpio trssemanas ou mais.

    Tem sido observado em vacas que toleram pouco o calor, o

    nascimento de bezerros minsculos, em consequncia freqentemente da falta deadaptabilidade das mes. Estes bezerros so to pequenos que dificilmente podemalcanar o bere da me. Esta situao tem sido observada com vacas em climatropical, quando so cobertas na primavera e a boa parte da gestao ocorre noperodo do vero. Este fenmeno tem sido observado em ovinos lanados nostrpicos, quando as fmeas so cobertas no final da primavera e a gestao ocorreno vero. Na Austrlia, as ovelhas colocadas em ambiente de 29C produzemcordeiros de 1,800kg, j os que so mantidos com temperatura mdia de 18C,parem cordeiros com peso mdio de 3,600kg.

    A luz um importante fator ambiental que influi significativamente nometabolismo e no comportamento dos animais. Ademais, o mais constante dos

    fenmenos naturais. A luz tem uma marcada influncia sobre o processometablico, a atividade sexual e a muda do plo do animal.

    Os animais brancos ou de cores claras quando comem certas plantas,podem apresentar fotossensibilizao, cai o plo nas partes brancas ou claras deseu corpo e a pele forma feridas ulceradas que se observa nas reas nopigmentadas do corpo do animal.

    A radiao solar influi tambm efetivamente sobre o animal, pois osque no tem pigmentao nos olhos sofrem seriamente; os raios mais importantesque afetam os animais so os ultravioletas. Quando esta incide sobre um animalcuja pele no tem cor ou est seca por falta de secreo sebcea, esse animalsofrer seriamente. Os animais com a pele rosa, clara, despigmentadadesenvolvem cncer ou hiperqueratose da pele e esta se endurece e se torna muitosensvel. Os animais de cara branca, como o bovino da raa Hereford tendem aapresentar cncer sobre as plpebras ou sobre os olhos. Os animais de cara

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    branca que carecem de pigmentao na esclertica desenvolvem cncer nos olhos.Todavia, mediante seleo pode-se criar bovinos Hereford com pigmentao aoredor dos olhos, pois a incidncia de cncer ocular em animais com plpebraspigmentadas praticamente nula. Mediante estreita seleo das crias com base napigmentao ao redor dos olhos, se pode aumentar a quantidade dos mesmos etais olhos nunca sofrero de cncer.

    Os animais podem superar os riscos da radiao ultravioleta se tem apele pigmentada. Os bovinos tropicais tem pele escura. Estes animais com pelesescuras podem superar os perigos da radiao ultravioleta pois tem geralmenteuma abundante secreo sebcea na pele, que se estende sobre o plo e atuacomo um filtro ultravioleta.

    Outro fator ambiental que requer certos fenmenos de adaptabilidadeno animal o vento. O melhor fenmeno de adaptabilidade dos animais expostosaos ventos frios e midos sua pelagem composta por dois tipos de plo, uminterno que retm o calor e outro externo protetor. Ambos tem cargas eltricasopostas: o interno positiva e o externo negativa. Quando o vento sopra sobre osanimais, as cargas aumentam e os plos se juntam estritamente formando uma

    capa isoladora a prova de chuva e frio.Uma fator pouco mencionado ainda, na bibliografia sobre ecologiaanimal o pH do solo. Quando o pH do solo elevado, as bactrias podem realizara nitrificao nas razes das leguminosas e se dispem de mais nitrognio, aspastagens so de maior valor protico. Um pH de aproximadamente 6,5 produzirpastagens relativamente ricas em protenas. Nestas pastagens de maneira geral, obovino dispe de abundante clcio e mostra um bom desenvolvimento sseo.

    A planta que cresce em uma regio pode indicar o pH do solo e odesenvolvimento esqueltico dos animais.

    A literatura tem mostrado que em zona em que o pH do solo alto, osbovinos tem um porte maior (tamanho e peso) do que os bovinos criados em zona

    em que o pH do solo baixo.Os parasitos so uma ameaa para muitos animais em seu ambientenatural. As enfermidades transmitidas pelos parasitos so um grande problemapara os animais na maioria das regies tropicais. Se pode vencer este problemamediante manejo e seleo adequada.

    Os animais que tem a pele solta e grossa, panculos musculares bemdesenvolvidos e um sistema nervoso pilomotor sensitivo, movem a pelerapidamente a mais leve irritao e repelem os carrapatos e outros insetos commais facilidade do que os de pele fina e pelagem lanosa. Ademais, estes ltimostem panculos musculares pouco desenvolvidos. Nas regies onde as enfermidadespor carrapatos so um problema, a pele dos animais um dos melhores orgos

    imunizantes. Os que tem pele grossa so mais imunes e sofrem muito menos aestas enfermidades que os de pele fina e plo lanoso.

    A literatura reporta que os animais cujo plo se eria quando pareceque vai chover, repelem os carrapatos e as moscas. Os msculos eretores dosplos fazem que estes se eriam e, provavelmente, estimule a secreo sebcea.

    Os parasitos internos constituem a priori um problema para animais,tanto em criao extensiva como intensiva.

    Nas regies tropicais, no vero, quando as chuvas so peridicas eintensas, os animais bebem freqentemente gua estancada dos charcos e sofremde parasitos internos e vrios tipos de doenas. Os animais que se criam empastagens artificiais com uma carga animal muito elevada, tambm se infectamcom parasitos internos. Vrios trabalhos citam que os animais susceptveis aparasitos externos tambm so susceptveis a parasitos internos. O bovino menosadaptado a um determinado clima e com um baixo nvel nutricional, geralmente tem

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    uma grande incidncia de parasitos externos e est infectado a princpio comparasitos internos de uma ou outra espcie.

    As enfermidades desempenham um importante papel na produoanimal e a falta de adaptabilidade determina que os animais se tornem maissusceptveis a vrias enfermidades.

    As raas de bovinos europias, com falta de habilidade paratolerncia ao calor tropical, so muito susceptveis as enfermidades transmitidaspor parasitos, como o carrapato, e geralmente morrem mais rpido do que aquelesque se adaptam as altas temperaturas.

    A reproduo o indcio mais positivo de adaptao de todos osanimais a um determinado ambiente. O balano endcrino o barmetro maissensvel que indica a habilidade dos animais para adaptarem-se a um determinadoclima. A bolsa escrotal dos animais um mecanismo termorregulador; por exemplo,algumas raas de caprinos chegam a ter os testculos em uma bolsa escrotalseparada, aumentando a superfcie corporal, de modo que a termorregulao mais eficiente. A bolsa escrotal dos animas adaptados tem uma pele mais grossaque nos animais no adaptados nos trpicos. Nas raas adaptados aos trpicos e

    subtrpicos a veia espermtica muito mais tortuosa do que nos animais dosambientes temperados. A capacidade para manter uma temperatura testicularmenor que a do corpo, mais importante para que se chegue a cabo umaespermatognese normal.

    Em suma, parece no haver adaptao vitoriosa quando setransplanta raas de animais domsticos entre regies heteroclimticas.

    Um animal adaptado a um determinado clima e, comumente maisprodutivo do que um no adaptado.

    Existem diferenas genticas com relao a adaptabilidade dosanimais. Esta, pelo menos em parte, como j foi dita devida as caractersticasmorfolgicas e anatmicas, que afetam a termorregulao. importante a seleo

    de animais que tenham eficientes mecanismos de dissipao de calor, para odesenvolvimento de tipos mais adaptados aos trpicos, por conseguinte maisprodutivos.

    Se deseja trabalhar com animais oriundos de climas temperados nostrpicos tanto em ensaio direto ou indireto, atravs de cruzamento desses comanimais tropicais essencial ter um completo conhecimento da ecologia animal. fundamental o conhecimento das isotermas que caracterizam as regies dosanimais de climas temperados.

    certo que nos programas de produo animal se deve considerar aaltitude, o ndice pluviomtrico, pH do solo, temperatura, radiao, luz, umidade,vento, etc. e a interao destes fatores sobre a vegetao natural e a forma em que

    o animal relaciona-se com o ambiente total. S aqueles animais que podemsobreviver e procriar regulamente nas regies donde so colocados, sero deverdadeira importncia econmica.

    CARACTERIZAO DO CLIMA TROPICAL

    A zona equatorial, tropical e a subtropical incluem larga variao declimas: midos, semi-midos, semi-rido e rido, variando com a precipitaopluviomtrica e topografia (variantes climticas/sub-climas), conforme Quadro 1.

    Variantes climticas e microclimas so identificadas entre os trpicosde Cncer e Capricrnio e esto associadas a complexos de vegetao, desdeflorestas midas at desertos com arbustos.

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    A terminologia clima tropical no uma unidade que poder serisolada e estudada. Regies diferentes no so uniformes, e por isso no possvel falar de clima tropical tpico. O clima varia com fatores no alterveiscomo: latitude, altitude, distribuio de terra e gua, e por fatores variveis como:correntes de oceanos, ventos precipitao e vegetao. A interao de todos essesfatores resulta em microclimas especficos em localidade especficas. Porm,climas tropicais exibem algumas caractersticas comuns, e com exceo de reasmuito secas, a variabilidade de temperatura sazonal diariamente pequena, sendomenor no equador. As temperatura extremas variam de 10 a 45C, amplitudesdirias relativamente altas, na faixa dos 20 a 25C. Geralmente o nmero de horasdo sol e radiao solar total dependente da quantidade de nuvens, o comprimentodo dia quase sempre constante, a variabilidade tem sido 30 minutos no Equador a60 minutos ou mais nos trpicos. considervel a influncia do vento no aumentoda variabilidade climtica.

    Todavia, o mais importante fator determinante das diferenas noclima, com exceo da altitude, a quantidade total e distribuio das chuvas,constante e regular do Equador, aproximadamente, 7 de latitude N-S, diminuindo

    progressivamente, at a faixa dos 305 a 2500mm.A altitude influencia o clima de quatro maneiras:

    a) A temperatura mdia anual diminui de 1,7C para cada 305 metros que se elevaacima do nvel do mar;

    b) Quanto maior a altitude maior a variao diurna na temperatura;c) A precipitao mais intensa na maior altitude e os dias so mais nublados;d) Em altitudes mais elevadas a presso atmosfrica mais baixa.

    Caracterizao regional dos climas do Brasil

    1) Regio Sudeste: tipo tropical quente e mido, com temperatura mdia anual de20C, umidade relativa de 60-80% e amplitude trmica diria de 5-9C.

    Variante climtica: tropical midotropical de altitudetropical propriamente dito (savana)subtropicaltropical semi-rido

    2) Regio Sul: tipo mido com veres quentes mais invernos relativamente frios, acaracterstica geral o contraste da temperatura atingindo 15C no mesmo dia;alguns lugares no vero chegam a 40C, esses mesmos lugares no invernochegam a 0C; sendo a mdia anual de 17 a 20C e a mdia no inverno menorque 10C.

    Variante climtica: tropical de altitudesubtropical com veres quentessubtropical com veres suaves

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    3) Regio Norte: clima equatorial predominante (mais de 9/10) da regio norte(bastante quente e mido), com temperatura mdia anual de 25 a 27C, umidaderelativa de 80-90% e amplitude trmica de 8C.

    Variante climtica: equatorialtropical propriamente dito

    4) Regio Centro-Oeste: caracterizada por inverno seco e vero mido, comtemperatura mdia anual que varia de 19 a 26C (com valores menores no sul emaiores no norte).

    Variante climtica: tropical propriamente ditotropical de altitudeequatorial

    5) Regio Nordeste: temperatura mdia anual de 22 a 27C e amplitude trmicade 3-4C.

    Variante climtica: equatorial (1/4 do Maranho)tropical propriamente dito (1/4 do Nordeste)tropical mido (regio litornea - RN, PE, AL, PB, SE, BA)tropical semi-rido (mais ou menos 2/5 do Nordeste)

    QUADRO 1. Dados climatolgicos sumarizados das regies do Brasil.

    TIPO DE CLIMA MDIA ANUAL (C) PRECIPITAOPLUVIOMTRICA

    (mm)Equatorial 25,0 - 27,0 + 2000Tropical 18,5 - 26,0 < 2000Tropical mido 19,0 - 24,5 1250 - 1750Tropical de altitude 17,0 - 22,0 1500 - 2500Tropical semi-rido 22,5 - 27,0 < 500Subtropical 16,5 - 19,0 1000 - 2000

    Alm da ao direta do clima os animais recebem ainda os efeitosindireto. A alimentao quase exclusiva de pastos produzidos em solos infrteispor causa da intensa lixiviao, e apresentam estacionalidade de produo deforragem.

    As gramneas tropicais podem ter taxa mxima de crescimento 1,5vez maior que as temperadas. Contudo, a estacionalidade das chuvas e outrascondies climticas no permitem produo uniforme ao longo do ano, comexcesso no perodo das guas (80%) e escassez na seca, alm da baixadigestibilidade (45 a 60%), devido ao baixo teor de protena e alto teor de fibra,consumidas em quantidades suficientes.

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    Essa qualidade das forragens recebe influncia de altas temperaturas,cuja incidncia durante o crescimento, acelera o alongamento do caule e osprocessos de amadurecimento, ocasionando aumento nos tecidos celulares e nalignificao.

    Os animais melhorados e selecionados para alta produo em climastemperados encontram dificuldades de aclimao nos trpicos, com alteraes dopadro de comportamento; das reaes cardiovasculares, da troca de energia, dobalano de gua e dos parmetros bioqumicos, o que resulta na reduo da suaperformance.

    Na regio tropical se o animal recebe alimentao e manejoadequado, mas no consegue estabelecer suficiente equilbrio trmico com oambiente, haver desperdcio de energia, porque esse equilbrio ocorre em funo,principalmente, do aumento da freqncia respiratria, energia esta que seriausada para as funes produtivas.

    Assim, a adoo de tcnicas gerais de manejo, considerando asinstalaes ou abrigos, objetivando o conforto trmico, prticas gerais de nutrioquantitativa e qualitativa, controle de doenas infecto-contagiosas e parasitrias,

    estratgias de melhoramento e seleo dos animais devem estar disponveis, nosentido de tornar o ambiente natural, propiciando boas condies e permitindo boasrespostas produtivas dos animais.

    AO DA TEMPERATURA SOBRE OS ANIMAIS DOMSTICOS

    O clima atua diretamente sobre os animais domsticos, principalmenteatravs de seus agentes.

    A temperatura neste aspecto, o componente do clima de maiorimportncia porque exerce ao acentuada sobre as duas classes que encerrammaior nmero de espcies domsticas, mamferos e aves. Os animais dessasclasses so homeotrmicos, isto , so animais que tem a habilidade de controlarsua temperatura corporal dentro de uma faixa estreita, quando expostos a grandesvariaes de temperatura. A temperatura interna constante, independente datemperatura ambiente; graas ao fato desses animais serem dotados de aparelhofisiolgico termorregulador. Este aparelho termorregulador comandado pelohipotlamo, pequeno agrupamento de clulas, parte do diencfalo, na base docrebro que funciona da seguinte maneira; as terminaes nervosas da pelerecebem as sensaes de calor ou frio e as transmitem ao hipotlamo que atua

    sobre outras partes do crebro, sistema nervoso, sistema circulatrio, hipfise,tireide, determinando vasodilataes ou vasoconstries, sudao, acelerao doritmo respiratrio, provavelmente queda ou aumento do apetite (sensao de fome),maior ou menor ingesto de gua (sensao de sede), maior ou menor intensidadedo metabolismo, acamamento ou eriamento dos plos, resultando dessesfenmenos conforme sua ao num ou em outro sentido, maior ou menortermognese (produo de calor) ou maior ou menor termlise (eliminao decalor).

    A Figura 2 apresenta um esquema desse processo.As vrias espcies de interesse zootcnico dispem de dois

    mecanismos essenciais para manter sua condio de homeotermia, tanto nasregies frias, como nas quentes, consubstanciados na produo de calor e suaevaporao. O adequado balano entre produo de calor corporal e eliminao do

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    calor corporal resulta na adaptao da mquina-animal, tanto no sentidotermorregulador, como nas suas possibilidades pecurias.

    De posse desses dois recursos fisiolgicos - produo e eliminaode calor, as vrias espcies de animais contam, como j foi dito, com dispositivosanatomorfofisiolgicos peculiares, que lhes do posicionamento na classificao daadaptabilidade bioclimtica de LEE , em que o suno revelou-se o menos adaptadoe o ovino exibiu-se como um dos mais eficientes termorreguladores para as altastemperaturas externas. Nesta ordem de idias, os animais monogstricos epoligstricos teriam diferentes comportamentos adaptativos, desde a faixa determoneutralidade at as zonas extremas de termognese e termlise.

    De acordo com o diagrama de KLEIBER (Figura 3), a temperaturatima para a vida dos homeotrmicos seria a de 20C, que corresponde atemperatura crtica abaixo ou acima do qual o animal requer aumentar ou diminuir aproduo de calor, equivalente ao conforto fisiolgico. BRODY props que oreferido termo zero de 20C fosse transformado numa faixa de temperatura tima,delimitada pelas temperaturas crticas superior e inferior, em torno de 20C edenominada zona de neutralidade trmica, conforme o diagrama de BRODY

    (Figura3). McDOWELL admitiu que a zona de conforto climtico, onde umapequena mudana na temperatura externa tornaria-se imperceptvel nas funesfisiolgicas, situando-se entre 13 e 18C.

    Os animais monogstricos, que evoluram em climas temperados,como aves, sunos e outros, procuram manter constante a temperatura corporal, namaioria das vezes, as custas, sobretudo, da regulao da produo de calor compouco embarao metablico, mas com algum prejuzo para a eficincia do processoprodutivo. Assim, logo aps a ecloso da casca, os pintos regulam a temperaturado corpo, via produo de calor, uma vez que tem limitada a habilidade de controlara evaporao. Semelhante conhecimento induziu a moderna avicultura e, poranalogia, tambm a suinocultura, ao sistema de explorao intensiva nos trpicos,

    que inclui a proteo da mquina-animal contra o calor ambiente.Os animais poligstricos mantm em ambiente temperado, mais ascustas (gastos) da evaporao do calor, do que da produo, com pequenos custosmetablicos. Nas regies tropicais, esses ruminantes acionam tanto os dispositivosde controle da produo de calor, como os de sua dissipao corporal. A habilidadede poder combinar a regulao e a evaporao, ao mesmo tempo, acaba porconferir aos ruminantes uma ampla faixa de termoneutralidade ao redor de 20C. Oque no sucede igualmente aos monogstricos, de acordo com o esquema deWEBSTER (Figura 4). No esquema do referido autor, observa-se que osmonogstricos ficam restritos estreita faixa de neutralidade em torno de 20C,enquanto que os poligstricos dispem de amplos espaos de termoneutralidade,

    desde de 10 at 28C, de acordo com seus recursos fisiolgicos. Ento, entende-secomo bovinos, ovinos, caprinos e outros disseminam-se pelos quatro cantos daterra, em pleno ecossistema de explorao pastoril, sem proteo especial.

    Um dos recursos mais efetivos para controlar a produo de calorpelos homeotrmicos nas zonas quentes o consumo quantitativo e qualitativo dealimentos, por dia e em relao ao peso vivo. Tanto os animais monogstricos,como os poligstricos utilizam o mecanismo de apetite voluntrio para regular aconsumao de alimentos, como fonte energtica. Assim, as aves reduzem aingesto de alimentos na razo de 1,5% para cada aumento de 1C na temperaturaambiente acima de 25C, segundo JOHNSON, como valor quantitativo. Paraganhar o mesmo peso, os cordeiros usaram raes com 60% de alimentosconcentrados e 40% de volumosos a 27C, enquanto que a 4C necessitam de 40%de concentrados e 60% de volumosos, como valor qualitativo, conformeMcDOWELL.

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    bem possvel que os zebuinos disponham de recursos maiseficazes do que os bovinos, para controlar a produo e tambm a evaporao decalor, recorrendo ao consumo de alimentos, com maior presteza e alta escala, paraassegurar a homeotermia. Assim, dentro da prpria zona de neutralidade trmica,ao redor de 20C, o consumo de alimentos, vontade, foi trs vezes mais elevadopelos bovinos do que por zebuinos, segundo REGSDALE, indicando queprecocemente o zebu j fazia o controle da produo de calor. Em plena zona determognese, os bovinos Jersey consumiram 50% mais de alimentos do que oszebuinos nas temperaturas frias, conforme ALLEN. Tais resultados experimentaispoderiam sugerir que os zebuinos, na sua forma original, no estariamsuficientemente adaptados s regies frias, nem ao calor ameno, porque fizeramsua evoluo em ambiente de altas temperaturas.

    De outro lado, no incio da zona de termlise, a 27-28C, os bovinoseuropeus comeam a diminuir a ingesto de alimentos comparativamente a 20C,porm os zebuinos s fazem semelhante reduo a 38C, porque j haviam usadoo referido recurso termorregulador desde 20C. Em temperaturas de 41C porexemplo, os bovinos de raas europias sofreram depresso no consumo de

    alimentos, mais ainda ingeriram 43% mais do que os zebuinos, VILLARES.Afinal, ROGERSON registrou queda de 10% no metabolismo basal dezebuinos, em confronto com bovinos. A reduo do consumo de alimentos j nafaixa de 20C, a falta de habilidade para aumentar adequadamente a ingesto dealimentos sob temperaturas frias e a drstica diminuio do apetite emtemperaturas elevadas pelos zebuinos no poderiam deixar de afetar a eficinciade utilizao dos alimentos com prejuzos para a produo de seus.

    O efeito do calor na temperatura corporal determinada no somentepelo clima (temperatura do ar, umidade e radiao solar), como tambm, peladisponibilidade de gua e alimento. As fontes disponveis de alimento e gua emambientes quentes exercem influncia na temperatura do corpo atravs das

    interaes fisiolgicas entre o metabolismo energtico que libera calor paramantena e atividade produtivas e a gua que entra no sistema via metabolismointermedirio e resfriamento evaporativo (Figura 5).

    Em resumo, sob condies de stress pelo frio ou calor, os animaisdomsticos, lanam mo de mecanismos fisiolgicos de produo ou perda decalor para manter a homeotermia. Todavia, na dependncia da intensidade dostress pelo frio ou calor, podem apresentar uma hipotermia ou hipertermia, ou sejauma temperatura corporal baixa ou elevada, respectivamente.

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    Superfcie da pele

    Receptores da sensao de frio ou calor

    Receptores de frio Receptores deposterior calor anterior

    CrebroSist. NervosoHipfiseTireideSist. CirculatrioSist. RespiratrioGlnd. Sudorpara

    Vasoconstrio Vasodilatao

    Aumento do apetite SudaoEriamento dos plos Acelerao do ritmo resp.Calafrios Diminuio do apetiteAumento do metabolismo Acamamento dos plos

    Reduo do metabolismo

    Maior termognese e Menor termognese emenor termlise maior termlise

    FIGURA 2. Funcionamento do hipotlamo na regulao do calor corporal.

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    Esquema de Kleiber

    Termo 0 Termlise extra

    Termognese extra

    5C 20C 35C

    Esquema de Brody

    Temp. Crt.

    Zona de Termognese Zona de Termlise

    Zona de Termoneutralidade

    Baixa Temperatura ambiente Alta

    FIGURA 3. Esquemas de termorregulao de animais homeotrmicos.

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    Energia(W/m2/d)Zona de Termoneutralidade:

    200Monogstricos

    150

    100

    Prod. de calor :Ruminantes

    50Prod. de calor:Monogstricos

    Ruminantes

    Temp.0 5 10 15 20 25 30 35 40 Ambiente(C)

    FIGURA 4. Faixas de neutralidade para monogstricos e poligstricos.

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    Ambiente

    Resistncia a resistnciamudana de calor

    arpeletecido

    calor de

    (re)produo

    calor de resistncia Temperatura Evaporaomanuteno ao calor do corpo

    guapool

    energia calor demetabolizvel fermentao,

    digesto

    Alimento guaDisponvel Disponvel

    FIGURA 5. Interrelao do calor, metabolismo energtico e de gua em herbvoros.

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    PRODUO DE CALOR

    O calor corporal origina-se de :

    a) produo de calor no interior do organismo (termognese), pela oxidao doselementos nutritivos dos alimentos e energia dispendida no metabolismo basal,para o crescimento e toda atividade fisiolgica produtiva;

    b) aquisio de calor: quando a temperatura ambiente ( sombra ou ao sol) superior da superfcie do corpo do animal, o corpo adquire calor que se propagado ambiente para o animal, por radiao e conduo, da radiao solar (direta ourefletida) e da temperatura do ar.

    Em sntese, o animal produz calor quando transforma energia qumicacontida nos alimentos em trabalho. No campo, o animal pode absorver calor diretaou indiretamente da radiao solar. Este calor adicionado ao calor produzido

    metabolicamente e ambos formam o ganho de calor do animal, que deve serperdido, em contrapartida, para que o animal permanea em estado de homeostase(capacidade do corpo para manter um equilbrio estvel a despeito das alteraesexteriores; estabilidade fisiolgica).

    TERMOGNESE

    A) Produo de 1. Metabolismo celularcalor corpreo 2. Fermentao do alimento no rmen

    3. Funes associadas Pulsaes do coraoAtividade endcrina (tireide,adrenais, hipfise)Consumo de alimentoMovimento muscularProduo de leiteQualidade da forragem

    B) Aquisio de 1. Temperatura ambiente Temperatura da pelecalor 2. Radiao solar direta

    3. Radiaes indiretas e refletidas4. Luz

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    PERDA DE CALOR

    Eliminao de calor corporal com temperatura ambiente menor que ada superfcie do corpo.

    O calor produzido no interior do organismo propaga-se para asuperfcie do corpo pela condutibilidade dos tecidos e pela circulao perifrica.Esta superfcie do corpo, tendo temperatura mais elevada que a do ambiente, ocalor passa para o ambiente pelos processos fsicos de radiao, principalmente deconduo, este s nos casos de contato direto com superfcie menos quente que ado corpo (gua, principalmente), ou de conveco (por efeito do vento).

    Quando h aquecimento da pele, pela quantidade de calor at elaconduzida atravs dos tecidos, a sensao de calor chegando ao hipotlamo, estecomanda uma dilatao dos vasos sangneos superficiais, o que acarreta maiorquantidade do sangue junto superfcie do corpo para ser resfriado, passando porconduo para a pele e da para o ambiente, por radiao. Quando a temperatura

    da pele diminui, a sensao de frio determina uma vasoconstrio superficial,diminuindo o resfriamento do sangue. Quando, em vez de eliminar calor, hnecessidade de reter o calor produzido, com temperatura ambiente bastante baixa,a vasoconstrio permanente.

    O eriamento dos plos, tambm comandado pelo hipotlamo,mantendo uma camada de ar isolante entre a superfcie da pele e o ambiente,diminui a perda de calor por radiao e conveco.

    Essa eliminao de calor por radiao, conduo e conveco influenciada por diversos fatores, que podem ser do prprio animal ou do ambiente.

    So fatores que ocorrem no animal:

    a) a relao entre tamanho (peso) do indivduo e sua superfcie corporal; tende adiminuir medida que aumenta o tamanho do animal; assim, um animal pequenotem mais superfcie corporal por unidade de peso do que um grande. Em ouraspalavras, a medida que h um decrscimo do tamanho do corpo, a relaosuperfcie/volume do corpo, e portanto, a superfcie relativa atravs do qual o calor dissipado aumenta. Como conseqncia, animais menores requerem uma maiorproduo de calor por unidade de peso do que grandes animais, a fim de manter oequilbrio energtico ou homeostase.

    Assim, existe uma correlao negativa entre a taxa metablica e peso

    corporal e uma correlao positiva entre taxa metablica e unidade de pesocorporal. A superfcie do corpo de uma vaca Holandesa grande, de 600Kg de pesovivo, no ser o dobro da superfcie do corpo de uma Jersey pequena, de 300Kg.

    Como difcil de precisar a superfcie de um animal, medida quemais se aproxima da superfcie relativa o peso vivo elevado potncia que conhecida como peso metablico (PV3/4).

    b) o desenvolvimento da pele em dobras, pregas, barbelas, etc. que aumentam asuperfcie do corpo;

    c) pelagem e sua conformao;

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    d) a existncia de panculo muito desenvolvido, formando, como no suno, espessacamada de cobertura (toucinho) que, por ser m condutora de calor, dificulta apropagao do calor interior do organismo para a pele e conseqente dissipao.

    So fatores do ambiente, que diminuindo a temperatura favorecem aeliminao do calor corporal: sombras, abrigos frescos e bem ventilados,possibilidade de contato com a gua, etc. Condies que concorram para elevar atemperatura ambiente dificultam a perda de calor corporal: abrigos fechados,aglomerado, permanncia no sol, etc.

    Eliminao do calor com temperatura ambiente maior que a dasuperfcie do corpo.

    Nessa condio no pode ocorrer termlise por radiao ouconduo, na superfcie do corpo, sendo praticamente todo o excesso de calorcorporal eliminado por evaporao e, em pequena proporo, por conduo no

    interior do organismo e por conveco.Com temperatura acima de 21 - 23C verifica-se que a radiao j setorna reduzida, devendo a maior parte do excesso de calor ser eliminada porevaporao.

    Eliminao do calor por evaporao

    Nos climas quentes, a evaporao o principal processo deeliminao do excesso do calor corporal. Ela prejudicada pela umidade do ar

    elevada e favorecida pelos ventos. A evaporao processa-se principalmente nasuperfcie do corpo, mas ocorre tambm no seu interior, na intimidade do aparelhorespiratrio.

    A umidade que se evapora na superfcie do corpo pode ser:

    a) o produto das glndulas sudorparas, o suor. A produo de suor decorre daexcitao, pelo hipotlamo, dos centros sudorferos de medula que, por intermdiodo nervos correspondentes, chega at as glndulas sudorparas; a produo desuor muito influenciada pelo tamanho e atividade destas glndulas e tambm pelarea da superfcie do corpo e seu revestimento. O zebu e o cavalo suam bastante,j o bovino europeu, o porco e o carneiro lanado suam muito pouco.

    b) proveniente da difuso, atravs da pele dos fluidos orgnicos. Nos animais queno suam de onde provm a maior parte da umidade que se evapora nasuperfcie do corpo; a dilatao dos vasos sangneos da pele, na temperaturaambiente elevada, aumentando o volume de sangue nesses vasos, favoreceessa difuso. Nos animais que suam muito, a grande sudao agindo juntamentecom a difuso, determina a diminuio dos fludos do organismo, desidratao,hemoconcentrao, aumento do consumo de gua e diminuio da mico; nosanimais que no suam, ou suam pouco, a maior ingesto de gua acarretahemoidratao e maior produo de urina; por isto os animai que suam (zebu)

    urinam mais no inverno, enquanto os que suam pouco (taurinos) urinam mais novero; a grande atividade das glndulas salivares com grande produo desaliva, nos taurinos, em temperatura ambiente elevada, parece estar associada deficincia de suar; ela ocorre quando a evaporao de umidade na superfcie

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    do corpo no suficiente para eliminar o excesso de calor corporal, acarretagrande perda de minerais, principalmente fsforo, clcio, sdio e potssio.

    c) de origem externa. Como imerso em lagos, rios, etc. ou banhos de qualquernatureza.

    Evaporao no aparelho respiratrio

    O ar inspirado, em contato com a umidade dos alvolos pulmonares edas paredes dos condutos respiratrios, acarreta a sua evaporao, pois o arexpelido quase saturado de vapor d gua, o que contribui para a perda de calor.

    Para aumentar essa evaporao, quando os demais aspectos doaparelho termorregulador no so suficientes para evitar a elevao da temperaturacorporal, o animal acelera o ritmo respiratrio. A acelerao do ritmo respiratrioacarreta vrios efeitos indesejveis, como a diminuio da reserva alcalina do

    sangue, uma vez que a grande quantidade de ar expirado determina uma perdaexcessiva de dixido de carbono do sangue, provocando a alcalemia e perturbandoo sistema compensador que evita alteraes na acidez do sangue. A taxa elevadade movimento respiratrio implica em grande atividade muscular do animal, a qual,aumentando consequentemente a sua produo de calor, anula em parte o seuobjetivo, acarretando um verdadeiro crculo vicioso como tambm excessivotrabalho dos pulmes e corao.

    Eliminao de calor corporal por conveco e conduo

    Com temperatura ambiente maior que a da superfcie do corpotambm pode ocorrer dissipao de calor orgnico por conveco e por conduo,mas no interior do organismo.

    Por conveco: o aquecimento do ar inspirado, no interior doaparelho respiratrio, rouba calor do organismo. Esta perda de calor, claro, ocorretambm em maior proporo, com temperatura ambiente baixa. Ela aumenta comaacelerao do ritmo respiratrio.

    Por conduo: o aquecimento da gua fria ingerida, principalmenteou de outros alimentos ingeridos frios, no interior do aparelho digestivo, rouba calorao corpo. A eliminao do calor por conduo tambm ocorre com temperaturaambiente baixa, porm com temperatura ambiente elevada a ingesto de gua muito aumentada, chegando este aumento atingir nos bovinos, cerca de 400%.

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    TERMLISE

    1. Superficial - glnd. sudorpara2. Respiratria3. Funes associadas = urina,

    A)Evaporativa gua, fezes4. Perda metablica do peso

    Dissipao

    de calor VasodilataoVasoconstrio

    B) No Conduo PelagemEvaporativa Conveco Pele - plos

    Radiao Superfcies relativas:apndices, orelhas, pregas

    Em sntese, o calor produzido pelo animal tem que ser dissipado ou

    perdido para a manuteno da homeostase.Resumindo, o que foi reportado acima, atravs da regulao fsica

    do calor que o organismo homeotrmico ajusta a temperatura interna suanormalidade em face das oscilaes dos elementos de meio que sobre ela atuam.A regulao fsica do calor corporal efetuada por radiao, conduo e convecodo calor da pele e sua eliminao em forma latente pelo vapor de gua aflorado superfcie cutnea (evaporao na superfcie da pele) ou adicionada ao ar expirado(evaporao de gua no aparelho respiratrio).

    As primeiras formas de perda de calor so chamadas perdassensveis e so pouco controladas pelo animal, ao passo que as perdas porevaporao de gua so bem controladas pelo animal. A perda de calor por

    sudorese mais eficiente que a perda pela evapotranspirao pelas viasrespiratrias, e requer um menor gasto de energia.

    Nos ruminantes, os mecanismos de conduo e evaporaofuncionam simultaneamente em todas as temperaturas do ar, mas to logo atemperatura ambiente sofre grande elevao, a maior parcela de controle datemperatura interna passa da radiao e conduo eliminao de calor pelospulmes sob forma latente de evaporao.

    As raas zebuinas, apresentam um grande nmero de glndulassudorparas, elas perdem calor mais facilmente pela sudorese que as raastaurinas, e por isso so mais tolerantes a temperaturas elevadas que as raastaurinas, ou seja, elas possuem uma temperatura crtica superior mais elevada queos taurinos.

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    Reteno de calor corporal

    Nos climas frios, com temperatura ambiente muito baixa no inverno,h necessidade de conservar e no eliminar o calor corporal. O aparelhotermorregulador age ento em sentido inverso ao da eliminao, evitando oudiminuindo a perda de calor corporal por radiao (eriamento dos plos,vasoconstrio superficial), por evaporao (no sudao), por conduo econveco, etc.

    A manuteno do equilbrio trmico dos animais domsticos nosclimas frios no apresenta dificuldades, uma vez que as principais espciesdomsticas so originrias de ambiente nessas condies.

    Os elementos fsicos e biolgicos que interferem no equilbrio entre oganho e a perda de calor corporal para manter a temperatura do corpo uniforme econstante podem ser expressos pela equao do equilbrio trmico:

    M - E + F + Cd + Cv + R = XOnde:

    M = calor metablicoE = calor perdido por evaporaoF = calor perdido ou ganho pela ingesto de alimento ou guaCd = calor perdido ou ganho por conduoCv = calor perdido ou ganho por convecoR = calor perdido ou ganho por radiaoX = temperatura do corpo (temperatura retal)

    Faixa de conforto

    chamada faixa de conforto a faixa de temperatura ambiente dentroda qual o animal mantm a sua temperatura do corpo sem necessidade domecanismo termorregulador. O equilbrio trmico processa-se naturalmente. Osvalores mnimos e mximos dessa faixa, influenciados por outros fatores do clima,variam nas diversas espcies domsticas.

    Temperatura crtica superior - Hipertermia

    H um limite da temperatura ambiente, chamada temperatura crtica,do qual o mecanismo termorregulador comea a no ter capacidade de assegurar oequilbrio trmico, ocorrendo em consequncia a hipertermia, a elevao acima donvel normal da temperatura do corpo, provocada pela elevada temperaturaambiente.

    O stress calrico ocorre quando os animais so expostos atemperatura ambiente acima da sua temperatura crtica superior.

    A temperatura crtica tambm influenciada pelos outros agentes doclima como a umidade, radiao e vento, e tambm varia nas diversas espciesdomsticas, e mesmo nas raas e at nos indivduos conforme Quadro 2.

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    QUADRO 2. Valores normais mdios de temperatura retal, ritmo respiratrioe pulsao nas principais espcies domsticas (animais adultos).

    ESPCIES TEMP. RETAL( C )

    RITMO RESP.(MOV./ MIN.)

    PULSO(PULS./ MIN.)

    Bovino de corte 38,4 18 - 25 65 - 80Bovino de leite 38,5 18 - 25 70 - 80

    Bubalino 38,0Equino 37,7 10 - 15 25 - 40Ovino 39,0 12 - 30 70 - 85

    Caprino 39,0 12 - 25 70 - 80Suno 39,2 12 - 18 60 - 80Coelho 39,5

    Ave 41,0

    Em sntese, define-se zona de conforto ou de termoneutralidade,como a faixa de temperatura ambiente na qual o calor dissipado pelo animal

    corresponde ao calor mnimo produzido metabolicamente. A mquina viva teria ao seu mximo conforto e em consequncia um menor desgaste, mais sade,melhor produo (sem alterar a taxa de metabolismo basal).

    Dentro da zona de termoneutralidade, o gasto de energia paramantena do animal constante e num nvel mnimo, e a reteno de energia dadieta mxima. Desse modo, a energia do organismo pode ser dirigida para osprocessos produtivos, alm dos de mantena, no havendo desvio de energia paramanter o equilbrio fisiolgico. Dentro dessa zona, o animal mantm uma variaonormal de temperatura corporal, o apetite normal e a produo tima.

    A zona de termoneutralidade definida baseando-se na temperaturaambiente efetiva. Segundo AMES, este um indcio do poder do aquecimento e

    resfriamento do ambiente em termos de temperatura de bulbo seco e inclui, almda temperatura do ar, elementos climticos que alteram a demanda de calorambiente como a radiao solar, vento, umidade e precipitao. Contudo,freqentemente a zona de termoneutralidade referida apenas em termos detemperatura do ar.

    Em temperaturas inferiores o animal compelido a produzir caloriaspara manter sua temperatura e no caso oposto condiciona-se para eliminar oexcesso.

    BONSMA diz que a adaptao a harmonia entre o animal e o meio.Isto ocorre na zona de termoneutralidade. Afastando-se desta e na dependncia dadistncia ecolgica do meio ideal a tolerncia deve ser maior ou menor.

    Dentro da zona de termoneutralidade, a temperatura corporalmantm-se constante com mnimo esforo dos mecanismos termorreguladores.Existe tambm temperaturas crticas altas e baixas. Quando ultrapassadas, o

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    animal sofre em seu rendimento. Um esquema da zona de termoneutralidadeestabelecida pelos limites das temperaturas crticas pode ser visto na Figura 6.

    Para gado leiteiro, esses limites so variveis de acordo com a idadee o status fisiolgico do animal (Quadro 3, segundo COLLIER e colaboradores).

    QUADRO 3. Limites da temperatura para gado leiteiro de acordo com a idade estatus fisiolgicos.

    Classe Limites de Temperatura CBaixa Alta

    Bezerros (as) 13 26Tourinhos e Novilhas -5 26Vacas Secas e Prenhas -14 25Vacas em Lactao -25 25

    A maior sensibilidade ao frio dos bezerros, decorrente da maiorsuperfcie corporal da ausncia de calor de fermentao produzido pelo rmen,bem como, da inadequao do aparelho termorregulador.

    Vrios autores afirmam que uniforme a extenso determoneutralidade para as raas de bovinos Holands, Jersey, Parda Sua eBrahma. H contudo diferenas nas temperaturas crticas altas para as mesmas,sendo respectivamente na ordem citada de 27, 30, 28, e 35C. A Figura 7apresenta as zonas de termoneutralidade das raas referidas, com os animais

    alimentados ad libitum. A temperatura de 18C foi usada como referncia para aavaliao do ndice de termoneutralidade.

    BRODY, afirma que a zona de conforto varia de 1 a 16C para o gadobovino europeu e de 10 a 27C para o gado zebuino.

    Segundo a literatura, acima de 16C em gado bovino europeu e 27Cem gado indiano, h ativao dos mecanismos termorreguladores verificada peloaumento do ritmo respiratrio e evaporativo; acima de 26,5C em gado europeu e35,0C em gado indiano os mecanismos de compensao comeam a falhar,acarretando rpido aumento da temperatura retal, declnio na ingesto dealimentos, na produo de leite e no peso corporal. Autores comentam que quantomenor a temperatura noturna, maior a tolerncia temperatura diria, em bovinos.

    As raas Holandesa, Jersey, Parda Sua e Brahma apresentamdiferentes graus de tolerncia ao calor, sendo a Holandesa a de menor tolerncia ea Brahma a de maior tolerncia. Todavia, a Holandesa tem sido bastante difundida,graa a sua elevada produtividade, ainda que sejam maiores suas exignciasalimentares, sanitrias e de manejo.

    Alguns autores, afirmam que os bovinos das raas europias cessama ruminao temperatura de 32 e 33C.

    A literatura cita que se torna muito difcil a criao de raas bovinaseuropias onde a temperatura mdia anual superior a 18,3C.

    Baseado em vrios trabalhos experimentais, se conclui que as

    condies mais adequadas para o gado bovino europeu correspondem mdiamensal inferior a 20C em todos os meses e umidade relativa do ar de 50 a 80%.Nas aves, a zona de termoneutralidade varia com a idade, consumo

    de rao, atividade e empenamento. As aves so animais capazes de tolerara

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    temperaturas muito baixas, porm no muito acima da termoneutralidade. A zonade termoneutralidade das aves de 32 e 34C, na 1 fase de criao (pintos) e 14 e25; na 2 fase de criao (adultas), sendo ideal, manter a temperatura ambiente de20-21C.

    ZONA DE SOBREVIVNCIAZONA HOMEOTRMICA

    ZONA TERMONEUTRAL

    TEMP. INTERNA

    ZONA DE

    CONFORTO HIPER-TRMICO TERMIA

    HIPO-TERMIA

    D C B A A BC D

    STRESS POR FRIO STRESS CALRICO

    TEMPERATURA AMBIENTE

    FIGURA 6. Representao esquemtica das temperaturas crticas do meio ambientee as zonas abrangidas por elas.

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    Zona de Termoneutralidade

    TemperaturaAmbienteC

    -10

    0

    10

    20

    30

    40

    Holandesa

    Jersey (2)

    -10

    0

    10

    20

    30

    40

    P. Suia

    Brahma

    A = Fatores de produode calor

    B = Fatores de dissipaode calor

    A B A B A B A B

    18

    ndicedecalor

    nd

    icedefrio

    1

    1

    2

    2

    3

    3

    4

    4

    (1)

    (3)

    (4)

    FIGURA 7. Zona de termoneutralidade de bovinos das raas Holandesas, Jersey,Parda Sua e Brahma.

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    Temperatura e respostas fisiolgicas

    A alta temperatura ambiente associada alta umidade do ar e radiao solar so agentes causadores de stress trmico nos animais.

    Vrios estudos mostram a influncia trmica do ambiente sobrerespostas fisiolgicas dos animais domsticos, representadas pela temperaturaretal, temperatura da pele, freqncia respiratria, frequncia cardaca, produo edissipao do calor. A medida que aumenta a temperatura ambiente, notadamentea partir da zona crtica superior, aumenta a temperatura retal, a temperatura da pelee a freqncia respiratria dos animais domsticos. A acelerao do pulso, embora,a priori, sendo um aspecto de menor importncia que o ritmo respiratrio etemperatura retal, a freqncia da pulsao tende aumentar com a temperaturaambiente; entretanto este aumento, as vezes, de pouca intensidade semcorrespondncia efetiva com os aumentos da temperatura corporal e do ritmorespiratrio.

    A literatura cita, que a partir de 26,5C ocorre aumento na

    temperatura retal, da pele e do plo do gado bovino europeu e no zebu, porm oaumento no segundo menor. A freqncia respiratria no europeu a 26,5C j acentuada e no zebu apenas a 33-35C.

    O gado bovino europeu tolera bem o frio e mal o calor, e o gadoindiano bem o calor e relativamente mal o frio. BRODY demonstrou-o em ensaio noqual a -14C, o aumento na produo de calor em relao produo a 10C foi,em vacas Holandesas, de apenas 2% e no zebu de 60%.

    Vrios trabalhos, citam dados de produo de calor e resfriamentoevaporativo para gado europeu e zebuino sob temperatura de 10 a 40,5C.Observa-se que a produo de calor do gado bovino indiano menor que doeuropeu em todas as temperaturas desta faixa, e a partir de 26,6C h queda na

    produo para ambas as espcies. A produo de umidade tambm menor nogado zebuino que no europeu em todas as temperaturas, sendo consequentementemenor o resfriamento evaporativo no zebuino, por sua menor produo de calor,tem menos necessidade de resfriar-se pelos processos de resfriamentoevaporativo.

    Alguns trabalhos mostram, medida que aumenta a temperatura,aumentam tambm as propores de dissipao por evaporao cutnea epulmonar, e que a partir de 34 e 35C o resfriamento por evaporao pulmonaralcana mais de 26% do total, exigindo grande esforo da dinmica pulmonar, embovinos. Na Figura 8 apresentada as propores de dissipao trmica porevaporao pulmonar, cutnea e no evaporativa, sob diferentes temperaturas.

    Em condies de stress calrico, as aves sofrem alteraesfisiolgicas como respirao ofegante, e consequentemente, alcalose respiratria.

    Baseando-se na literatura, podemos afirmar, que a mdia datemperatura corporal dos animais domsticos variam entre dias, talvez, decorrentesde variaes na temperatura ambiente.

    Em sntese, sob condies de stress calrico, os animais (mamferose aves) lanam mo de mecanismos fisiolgicos de perda de calor para manter ahomeotermia. Todavia na dependncia da intensidade do stress calrico, podemapresentar uma temperatura corporal elevada, ou seja uma hipertermia. Animaissubmetidos a stress calrico, apresentam aumento da frequncia respiratria comoum dos mecanismos fisiolgicos de perda de calor por evaporao. Contudo, esseaumento na frequncia respiratria tende a interferir na ventilao alveolar a qualsubseqentemente altera o pH, e s concentraes de CO2 e O2 no sangue.

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    Entretanto com o aumento contnuo da temperatura do corpo, afreqncia respiratria tende a diminuir, ocorrendo um decrscimo na presso deCO2 e reduo na secreo cida tubular renal em razo da perda conforme oesquema abaixo (BEEDE & COLLIER).

    ESQUEMA DO EFEITO DA TEMPERATURA NO EQUILBRIO CIDO-BASE

    Temperatura Frequncia VentilaoElevada altera Respiratria altera Alveolar

    provoca

    no sangue _ Decrscimo na presso de CO2

    _ Aumento de pH

    resultando

    _ Reduo de secreo cida tubular renal

    _ Aumento da taxa de eliminao de bicarbonato de sdiovia urina e sudorese

    O aumento na taxa de eliminao de bicarbonato de sdio atravs da

    urina e sudorese pode ser uma resposta compensatria ao aumento de pH nosangue. Assim, essas alteraes no equilbrio cido-base pode induzir alcaloserespiratria (SCHNEIDER e colaboradores) e interferir no fluxo de substratostamponantes para as glndulas salivares (BEEDE & COLLIER).

    A ampliao das perdas evaporativas com a elevao da temperaturaambiente, tendem a aumentar a eliminao de substncias inicas como sdio(Na), potssio (K), magnsio (Mg), clcio (Ca) e cloro (Cl), isto porque o aumentona reciclagem de gua requer um incremento associado da reciclagem eletrolticapara mover a gua atravs de vrios fluidos para a superfcie evaporativa(MATOS).

    Segunda a literatura, dentre os macrominerais que tem seus requisitosalterados na hipertermia, destacam-se o K e Na, em decorrncia da elevadaeliminao de cloreto de potssio (KCl), bicarbonato de potssio (KHCO3) ebicarbonato de sdio (NaHCO3) pelo suor e urina, respectivamente.

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    A adaptao metablica necessria, objetivando acomodar asalteraes na utilizao de nutrientes na hipertermia resulta na alterao daconcentrao de vrios hormnios no sangue, principalmente os diretamenteenvolvidos com o mecanismo homeosttico e com a partio de nutrientes(BAUMAN & CURRIER; BEEDE & COLLIER).

    Dentre os hormnios associados com a adaptao ao stress trmicoesto a prolactina, hormnio do crescimento (GH), glicocorticides, hormnio anti-diurtico (ADH), aldoesterona, epinefrina, nor-epinefrina e tiroxina (TH) (BEEDE &COLLIER).

    A maioria das respostas hormonais a hipertermia esto associadas aalterao na reciclagem de gua e eletroltica. Assim o aumento na concentraode ADH est claramente associado necessidade de conservar e aumentar aingesto de gua. Do mesmo modo, a baixa concentrao de aldosterona, umreflexo da necessidade de conservar potssio (K), em razo da elevao daconcentrao deste mineral no suor dos ruminantes e aumentar a perda de sdio(Na) atravs da urina (BEEDE & COLLIER).

    Segundo COLLIER e colaboradores, a funo fisiolgica da prolactina

    na adaptao ao stress trmico ainda no conhecida, possivelmente, o aumentoobservado na concentrao pode estar diretamente relacionado com o metabolismode potssio (K), tendo em vista que o aumento de potssio (K) na dieta, reduzmarcadamente a taxa deste hormnio no plasma de bovinos.

    A literatura reporta, que a alterao nas concentraes de epinefrina enor-epinefrina, esto provavelmente relacionadas ao aumento na atividade dasglndulas sudorparas, j que os mesmos so estimulados atravs da regulaoadrenrgica.

    Vrios trabalhos citam, que as baixas concentraes dos hormniosmetablicos tais como tiroxina, corticosterides e hormnio do crescimento, sodecorrentes da reduo no metabolismo, como forma de adaptao ao stress

    trmico. E a primeira reao dos animais a um ambiente quente e vasodilatao perifrica, resultante da queda da presso sangnea comconseqente diminuio da freqncia cardaca. Por outro lado, uma elevao datemperatura ao nvel do ndulo sino-atrial causando um aumento na frequnciacardaca. O aumento ou diminuio da frequncia cardaca est na dependncia daintensidade de stress a que esto submetidos os animais (GAYO).

    A temperatura da pele pode variar independentemente datemperatura retal, pois alm de estar relacionada a condies fisiolgicas comovascularizao da pele e taxa de sudorese, por ser uma temperatura de superfcie;depende principalmente de fatores externos de ambiente como temperatura e

    umidade do ar, radiao solar e vento. Em geral, em ambiente quente, atemperatura da pele se eleva.

    Em ambiente quente de modo geral, os animais reduzem a taxametablica como um dos mecanismos de adaptao fisiolgica para evitar asobrecarga de calor no organismo (GAYO).

    SEIF e colaboradores observaram, em vacas secas vazias da raaHolandesa, que a taxa metablica reduziu-se em 15,9% com animais temperaturae umidade relativa do ar de 32C e 50% por cinco semanas, que quando mantidasa 18C e 50%, pelo mesmo perodo.

    Segundo GAYO, alguns estudos tem sido realizados na tentativa dese determinar a relao entre a freqncia cardaca e a produo de calor nosanimais, a fim de se verificar a possibilidade de se usar essa relao para estimar ataxa metablica em algumas espcies. Entre eles, o de HOLMES e colaboradores,

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    no qual a freqncia cardaca esteve altamente (estatisticamente) relacionada coma produo de calor de bezerros Jersey entre 6 e 30 semanas de idade.

    Submetidas a um stress trmico agudo (45C por 24 horas), bodesJamnapari aumentaram a produo de calor metablico em 52,6 kcal/kg/dia, apsserem mantidos a 18,5C por 24 horas (JOSHI e colaboradores).

    Trabalhando com cabras bedunas expostas ao sol e sombra,DMIEL e colaboradores verificaram uma reduo de 10,7% no consumo deoxignio das cabras ao sol, quando comparada sombra.

    Entretanto GAYO, trabalhando com cabritos Saanen, em So Paulo,no encontrou relao entre a taxa metablica e frequncia cardaca. Semelhanteresultado foi obtido por BROCKWAY & McEWAN os quais no encontraram relaoentre a frequncia cardaca e o consumo de oxignio em respostas ao frio emovelhas.

    Modalidades de dissipao trmica nosbovinos

    Temperatura ambiente C

    DissipaoTrmicaTotal%

    10 15 20 25 30 350

    25

    50

    75

    100

    DISSIPAO TRMICANO EVAPORATIVA

    DISSIPAO TRMICAPOR EVAPORAOCUTNEA

    DISSIPAO TRMICA POREVAPORAO PULMONAR

    FIGURA 8. Modalidades de dissipao trmica nos bovinos, por evaporao e noevaporao.

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    Efeito da temperatura na ingesto de alimentos, de gua e nos hbitosde pastejo

    Em regies tropicais, onde a temperatura ambiente excede por longoperodo de tempo, o limite de tolerncia ao calor, a reduo na ingesto dealimentos funciona como uma estratgia fisiolgica do organismo para ahomeotermia.

    Alguns autores reportam, que possivelmente, o excesso de calorambiental atue de forma direta no hipotlamo, com inibio da atividades no centrodo apetite, reduzindo assim a ingesto de matria seca.

    O consumo de alimento ainda influenciado pela composio dadieta e sistema de criao utilizado, em manejo extensivo essa inibio resultanteda reduo na atividade de pastejo (BEEDE & COLLIER).

    Vrios estudos tem mostrado a reduo expressiva na ingestovoluntria de alimentos pelas vacas leiteiras em ambiente acima de 30C, conforme

    Quadro 4 (MATOS).

    QUADRO 4. Efeito do stress trmico no consumo de alimentos.

    Temperatura(C)

    Umidade Relativa(%)

    Reduo deConsumo (%)

    Referncias

    32 20 - 50 20 DAVIS & MERILAN32 - 20 VANSOEST e col.32 20 - 45 15 JOHNSON &

    VANJONACK37 80 15 SCHNEIDER e col.37 - 13 MALLONE e col.41 - 10 SCHNEIDER e col.

    A reduo no consumo de alimentos, principalmente forragens,apresentam severos problemas metablicos que afetam a dinmica defuncionamento do rmem, tais como: reduo na ruminao, pH, taxa deacetato:propionato, que associados a fatores neuro-endcrinos influenciam nadigesto.

    A literatura cita, que a queda do pH do rmen de vacas submetidas astress trmico, poder estar associado a reduo da ruminao, o que implica nalimitao do crescimento microbiano, acarretando um maior tempo de reteno dobolo alimentar na rmen.

    Os estudos relatam, que em geral, em temperaturas elevadas adigestibilidade das forragens aumenta em bovinos, em funo do maior tempo dereteno da digesta no rmen, o que permite um maior aproveitamento da fraoalimentar potencialmente digestvel, entretanto a reduo no consumo de

    forragens, resulta na perda de nutrientes totais disponveis para o animal. Almdisso, a eficincia da utilizao da energia reduzida, sendo isto devido aoselevados requerimentos para mantena, resultante da elevada atividade metablica

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    do corpo para aliviar o excesso de calor, assim a respirao acelerada podeaumentar as necessidades para a mantena de 7 a 25% dependendo daintensidade.

    Em vacas lactantes, particularmente no incio da lactao, a reduono consumo de energia associado ao aumento nos requerimentos, podem aceleraro catabolismo de gordura, de tal modo que, uma oxidao incompleta de cidosgraxos leva a produo de corpos cetnicos (aceto-actico, beta-hidroxi-butirato eacetona) que quando produzidos a uma taxa maior do que eliminados, acumulamno sangue, reduzindo a sua reserva alcalina o que pode provocar acidosemetablica (COOLIER e colaboradores).

    Embora a hipertermia reduza quantitativamente os cidos graxosvolteis (AGV) produzidos pelo rmen, este decrscimo no inteiramenteresultante da baixa ingesto de alimentos, isto porque a produo aparente deAGVs foi restaurada somente parcialmente, quando bovinos em tenso trmicareceberam atravs de fstula ruminal nveis de ingesto igual animais natermoneutralidade (KELLEY e colaboradores).

    Ensaios realizados com vacas leiteiras submetidas a altas

    temperaturas tem evidenciado balano negativo de nitrognio. A literatura reporta,que tal observao decorrente do catabolismo de protena, objetivando aproduo de energia, cujo consumo nesta circunstncia encontra-se reduzido e aexigncia para mantena elevada.

    Um aumento na taxa de eficincia de utilizao do nitrognio de 5 a15% tem sido observado, todavia, a hiptese mais provvel que tal aumento resultante da reduo no consumo de alimento, bem como, das taxas de atividadesprodutivas (BEEDE & COLLIER).

    A absoro de nutrientes ao longo do trato gastrointestinal, ainda notem sido bem quantificado durante o stress trmico, face s dificuldades de sermedido o fluxo sangneo no rmen e intestino (MATOS). Contudo, h evidncias

    que o fluxo sangneo no trato gastrointestinal inferior pode ser influenciado pelacombinao entre o nvel de consumo e efeito direto da temperatura, j que nahipertermia alm da reduo no consumo de alimento, h um aumento navasodilatao perifrica objetivando uma maior perda de calor por via evaporativa econvectiva. Assim, tal ocorrncia pode provocar um decrscimo no fluxo sangneono lmen do trato alimentar e consequentemente uma reduo na absoro denutrientes (MATOS).

    A eficincia na utilizao dos alimentos est, entre outras causas,condicionada ao problema da temperatura.

    Entre as altas temperaturas externas, nas quais o animalhomeotrmico reduz o consumo alimentar aqum do que realmente necessita para

    a elaborao de utilidades; e entre as baixas temperaturas do ambiente, nas quaisos animais consomem alimentos no limite da sua capacidade anatmica paramanter constante a temperatura corporal, mas sem excedentes para os processosde produo, situa-se a temperatura tima do meio para a mxima utilizao dosalimentos. Tanto em temperaturas elevadas como baixas ocorre queda naproduo de origem animal, seja por insuficincia de energia alimentar, seja porindisponibilidade de energia para o processo produtivo. ento fcil conceber aexistncia de temperatura tima para maximizar a utilizao da matria-prima pelamquina animal.

    A literatura cita que a temperatura crtica para o consumo dealimentos por bovinos Holandeses situa-se entre 24 e 26C, por Jerseys entre 26 e29C por Pardas Suas acima de 29C e por zebus Brahmas entre 32 e 35C. AsHolandesas diminuem o consumo em aproximadamente 20% temperaturaambiente de 32C, e cessam-no a 40C; nesta temperatura a ruminao decresce.

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    Alguns trabalhos mencionam que temperaturas altas durante o dia e relativamentebaixas durante a noite no deprimem a ingesto total de alimentos por parte dosbovinos, na mesma proporo que uma temperatura constante elevada durante as24 horas.

    A literatura reporta que uma variao diurna de temperatura de 21,5 a38,5C reduz de 20 a 35% a ingesto de alimentos em bovinos Holandeses,havendo pouco efeito, menos de 10% em bovinos Jerseys.

    O aumento no consumo de gua a maior resposta ao desconfortotrmico, onde, a gua consumida utilizada primariamente como veculo dedissipao de calor. Sob condies a campo, a ingesto aumenta rapidamente emtemperatura ambiente acima de 27C, podendo as necessidades alcanaremvalores de 1,2 a 2 vezes mais do que os requerimentos da termoneutralidade(BEEDE & COLLIER).

    A gua o nutriente mais importante para as vacas em stresscalrico, sendo suas exigncias preenchidas atravs da gua metablica derivadada oxidao de substratos orgnicos nos tecidos, contida nos alimentos e ingerida.A temperatura ambiente e a umidade relativa afetam os requerimentos de gua,

    assim, a temperatura elevada aumenta a demanda por gua, enquanto queumidade relativa baixa aumenta a perda de gua atravs da respirao etranspirao (MATOS).

    O nvel de ingesto de alimentos, a forma fsica da dieta , qualidade etemperatura da gua e status fisiolgico do animal, influenciam na ingesto duranteo stress trmico(Quadro 5 e 6) (MATOS).

    QUADRO 5. Efeito da temperatura da gua no consumo em vacas sob stresstrmico.

    TEMPERATURA DA GUA INGERIDA C

    10 16 22 28Consumo Mdio 24,8 27,4 29,2 31

    Segundo a literatura, a ingesto de alimentos de boa qualidade,resulta em aumento da taxa metablica e elevao no requerimento de gua para o

    metabolismo intermedirio e termorregulao. Por outro lado, alimentos fibrososreduzem a taxa de energia e o metabolismo de gua, todavia, o incrementocalrico poder aumentar a temperatura e a demanda termorregulatria por gua(FINCH).

    Pelo Quadro 6, constata-se que o aumento da temperatura ambiente,alm de alterar o consumo, provoca uma sensvel mudana na reciclagem de guapelas diferentes rotas de eliminao (urina, fezes, superfcie corporal e respirao).A variao no balano da gua apresenta como consequncia uma significativaalterao no balano eletroltico.

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    QUADRO 6. Balano de gua em vacas leiteiras lactantes e secas submetidas adiferentes temperaturas ambientes.

    Parmetros Temperatura C Diferena em18 20 30 ambientes quentes

    Vacas em lactao

    gua consumida:

    Bebida (kg/dia) 57,9 74,7 29,0Alimento (kg/dia) 1,6 1,4 -14,3

    Fontes de eliminao degua:

    Urina (kg/dia) 11,1 12,8 15,0

    Fezes (kg/dia) 17,9 12,0 -33,0Superfcie corporal (g/m2/h) 94,6 150,6 59,3Respirao (g/m2/h) 60,6 90,7 50,0

    Vacas secas

    Fontes de eliminao degua:

    Fezes (kg/dia) 13,0 9,8 -24,6Urina (kg/dia) 11,7 14,7 25,6Superfcie corporal (kg/dia) 10,6 29,3 176,4

    Respirao (kg/dia) 7,6 11,7 53,9

    O aumento no consumo de gua observado com a elevao datemperatura decorrente da necessidade de aumentar o efeito da gua. Assim,para estimar este efeito, basta que se efetue a seguinte operao (LANHAN ecolaboradores; MILLAN e colaboradores):

    TC - TA = Vr x Q = CA

    Onde:

    TC = temperatura do corpo em CTA = temperatura da gua em CVr = valor respiratrio em Kcal / litroQ = quantidade de gua ingerida em litrosCA = calor absorvido em Kcal

    Os estudos mostram que bovinos do mesmo peso requerem maiorquantidade de gua com o aumento da temperatura. Importante que o animal

    possa beber repetidamente, provocando abaixamento da temperatura corporal.Alguns estudos, mostram que vacas europias em lactaoconsomem menos gua a temperaturas de 32C ou superiores. O fato prende-se aum menor rendimento em leite e consumo de alimentos, em condies de

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    afrontamento trmico. As vacas indianas em contraste aumentam o consumo degua quando aumenta a temperatura ambiente. Todavia, o gado indiano consomemenos gua que o europeu em valor absoluto e tambm por unidade de matriaseca ingerida. Diferenas em consumo de gua encontram-se nas diversas raasde gado bovino europeu. A concluso das observaes que a tolerncia ao caloresta associada a um baixo consumo lquido e a sensibilidade a um maior consumo.

    A temperatura influi ainda nos hbitos de pastejo dos ruminantes.Verifica que o bovino tem tendncia a aumentar suas horas de pastejo noturno,quando ocorrem altas temperaturas diurnas.

    A literatura cita, que vacas europias pastam menos de 3 horasdurante o dia, porm 3 vezes mais durante a noite, sob temperatura mdia diriaoscilando de 29 a 32C e noturna de 21,5 a 27C, com temperatura mdia diriaoscilando de 20 a 24C, e noturna de 14 a 18C o pastejo durante o dia e de 2 a 3vezes o tempo despendido nos dias quentes. Estes resultados sugerem anecessidade de se adequar o manejo dos animais, para que o pastejo possa serfeito no maior nmero possvel de horas e para que os animais desfrutem desombras no perodo mais quente do dia.

    Em sntese, a mquina-animal homeotrmica experimentadificuldades para fazer a converso de alimentos em utilidades no ecossistema depasto nos trpicos, porque, ou no se adaptam ao calor, ou porque reduzem oconsumo de matria-prima alimentar ou ainda desviam a energia dos alimentospara outras funes prioritrias que no as de processo produtivo, mais ou menosacentuadamente de acordo com seus recursos anatomorfofisiolgicos especficos,