56
Av. Getúlio Vargas, 1200 – Vila Nova Santana – Assis – SP – 19807-634 Fone/Fax: (0XX18) 3302 1055 homepage: www.fema.edu.br HELTON RODRIGO CITÁ BRESSANIN BIOPLÁSTICOS A PARTIR DE AMIDO Assis 2010

BIOPLÁSTICOS A PARTIR DE AMIDO - cepein.femanet.com.br · massa molar, formadas por unidades de moléculas menores, chamadas monômeros”. Dentre os polímeros, os plásticos tornaram-se

  • Upload
    hoangtu

  • View
    218

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Av. Getúlio Vargas, 1200 – Vila Nova Santana – Assis – SP – 19807-634 Fone/Fax: (0XX18) 3302 1055 homepage: www.fema.edu.br

HELTON RODRIGO CITÁ BRESSANIN

BIOPLÁSTICOS A PARTIR DE AMIDO

Assis 2010

HELTON RODRIGO CITÁ BRESSANIN

BIOPLÁSTICOS A PARTIR DE AMIDO

Trabalho de conclusão de curso de Curso apresentado ao Instituto Municipal de Ensino Superior de Assis, como requisito do Curso de Graduação

Orientador: Profª Drª Mary Leiva de Faria

Área de Concentração: Química Industrial

Assis 2010

FICHA CATALOGRÁFICA

BRESSANIN, Helton Rodrigo Citá Bioplásticos a partir de amido / Helton Rodrigo Citá Bressanin. Fundação Educacional do Município de Assis - FEMA -- Assis, 2010. 56p. Orientador: Profª Drª Mary Leiva de Faria. Trabalho de Conclusão de Curso – Instituto Municipal de Ensino Superior de Assis – IMESA. 1.Bioplásticos. 2.Amido. 3.Polímeros

CDD:660

Biblioteca da FEMA

BIOPLÁSTICOS A PARTIR DE AMIDO

HELTON RODRIGO CITÁ BRESSANIN

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Instituto Municipal de Ensino Superior de Assis, como requisito do Curso de Graduação, analisado pela seguinte comissão examinadora:

Orientador: Profª Drª Mary Leiva de Faria

Analisador: Profª Drª Silvia Maria Batista de Souza

Assis 2010

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho à minha família, em

especial aos meus pais pelo apoio e incentivo

em todos os momentos.

AGRADECIMENTOS

À Deus, pela vida, pelas grandes oportunidades, por estar sempre me iluminando e

me dando força nos momentos de dificuldade.

À minha orientadora, Profª Drª Mary Leiva de Faria, pela orientação, por compartilhar

sua experiência e pelo constante estímulo transmitido durante a realização do

trabalho.

Aos meus pais, Antonio e Regina, à minha irmã, Giovana e à minha namorada,

Nathalia, pelo grande apoio e incentivo em todos os momentos.

E a todos que colaboraram, direta ou indiretamente, na execução deste trabalho.

“Minhas invenções são fruto

de 1% de inspiração e 99%

de transpiração.”

Thomas Edison

(1847-1931)

RESUMO

O emprego de polímeros sintéticos tem sido cada vez mais freqüente na sociedade.

Nota-se sua importância com a infinidade de objetos pertencentes ao cotidiano.

Contudo, estes polímeros apresentam a desvantagem de não serem

biodegradáveis. Nos últimos anos, a crescente preocupação com as condições

ambientais e ecológicas levou vários países a reconhecerem a necessidade

imperiosa de buscar novas alternativas ecologicamente corretas para solucionar os

problemas do impacto ambiental ocasionado pelo descarte indevido de plásticos

sintéticos. Uma das alternativas para substituir estes polímeros convencionais que

vem sendo intensamente pesquisada é o desenvolvimento de polímeros

biodegradáveis. Um dos materiais que tem recebido uma atenção especial nos

últimos anos para a produção de bioplásticos é o amido. Nesta óptica, o objetivo

deste trabalho é a obtenção de bioplástico a partir do amido, bem como descrever

os polímeros biodegradáveis naturais, pertencentes à classe dos polissacarídeos. O

amido foi extraído da batata e submetido à secagem em estufa por 6 horas à

temperatura de 75°C, alcançando rendimento de 5,51%. Com o aquecimento da

mistura de amido, água, solução de HCl 0,1 M e glicerina, seguida de secagem em

estufa por 24 horas à temperatura de 60°C, foi obtido o bioplástico. A metodologia

empregada para a extração do amido da batata e posterior utilização do mesmo na

obtenção bioplástico foi eficiente, obtendo-se um bioplástico transparente, maleável

e resistente. Os bioplásticos, além de gerarem resíduos de curta duração, serem

degradados facilmente pelo solo em poucos meses e integrarem-se totalmente à

natureza, substituem e apresentam propriedades similares aos plásticos

convencionais, possuindo ainda muitas aplicações em diversas áreas. Este trabalho

relata também como a obtenção de bioplástico a partir de amido pode ser utilizada

no ensino médio para o estudo das propriedades, estruturas e aplicações de

polímeros sintéticos e biodegradáveis.

Palavras-chave: Bioplásticos; Amido; Polímeros.

ABSTRACT

The use of synthetic polymers has been increasingly prevalent in society. It is noted

its importance to the multitude of objects belonging to everyday life. However, these

polymers have the disadvantage of not being biodegradable. In recent years,

increasing concerns about the environmental and ecological conditions has led

several countries to recognize the urgent need to seek environmentally friendly new

alternatives to solve the problems of environmental impact caused by the improper

disposal of synthetic plastics. An alternative to replace these conventional polymers

that are being actively researched is the development of biodegradable polymers. A

material that has received particular attention in recent years for the production of

bioplastics is starch. In this perspective, the objective of this work is to obtain

bioplastics from starch, as well as describing the natural biodegradable polymers,

belonging to the class of polysaccharides. The potato starch was extracted and

subjected to drying in an oven for 6 hours at a temperature of 75 ° C, reaching yields

of 5.51%. With heating the mixture of starch, water, 0.1 M HCl solution and glycerine,

followed by drying in oven for 24 hours at 60 ° C, was obtained bioplastic. The

methodology used for the extraction of potato starch and subsequent use of it in

obtaining bioplastic was efficient, obtaining a transparent, flexible and resilient

bioplastics. Bioplastics, in addition to generating short-lived waste, are easily

degraded by soil in a few months to fully integrate into the nature, replace and have

similar properties to conventional plastics, having also many applications in several

areas. This work reports also like getting bioplastics from starch can be used in high

school to study the properties, structures and applications of synthetic polymers and

biodegradable.

Keywords: Bioplastics; Starch; Polymers.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Forma de diversos tipos de grânulos de amidos.......................... 20

Figura 2 – Estrutura molecular da amilose.................................................... 21

Figura 3 – Estrutura molecular da amilopectina............................................ 22

Figura 4 – Estrutura supramolecular da amilopectina................................... 23

Figura 5 – Estrutura da celulose.................................................................... 26

Figura 6 – Estrutura da quitina....................................................................... 27

Figura 7 – Estrutura da quitosana................................................................. 28

Figura 8 – Estrutura da xantana.................................................................... 29

Figura 9 – Estrutura da dextrana................................................................... 30

Figura 10 – Estrutura da pululana................................................................... 32

Figura 11 – Estrutura da gelana...................................................................... 34

Figura 12 – Resumo das reações de biodegradação de biopolímeros .......... 35

Figura 13 – Estrutura: A) de cadeias polipeptídicas e B) do poli(ε-

caprolactona) - um polímero contendo ligações éster....................

36

Figura 14 – Estrutura da: A) amilose; B) celulose e C) poli(hidroxibutirato) -

um poliéster alifático.......................................................................

37

Figura 15 – Amido decantado......................................................................... 41

Figura 16 – Aquecimento da mistura para obtenção do bioplástico............... 42

Figura 17 – Mistura polimérica antes da secagem......................................... 43

Figura 18 – Amido seco obtido após extração................................................ 45

Figura 19 – Bioplástico obtido após secagem................................................. 46

Figura 20 – Ilustração de uma reação de polimerização................................. 48

Figura 21 – Estrutura de alguns plásticos....................................................... 49

Figura 22 – Estrutura do polietileno................................................................. 50

Figura 23 – Estrutura da celulose.................................................................... 50

Figura 24 – Estrutura do poliacrilato de sódio................................................. 51

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Características de amidos de diversas fontes vegetais................ 21

Tabela 2 - Temperatura de gelatinização de diferentes fontes vegetais....... 24

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO..................................................................... 14

2. HISTÓRICO DOS POLÍMEROS BIODEGRADÁVEIS........ 17

3. POLÍMEROS BIODEGRADÁVEIS NATURAIS.................. 19

3.1 POLISSACARÍDEOS................................................................. 19

3.1.1 Amido................................................................................................. 19

3.1.1.1 Amido Termoplástico.................................................................................... 24

3.1.1.2 Amido utilizado como componente em blendas........................................... 25

3.1.2 Celulose............................................................................................. 26

3.1.3 Quitina e Quitosana.......................................................................... 27

3.1.4 Xantana.............................................................................................. 28

3.1.5 Dextrana............................................................................................. 30

3.1.6 Pululana............................................................................................. 31

3.1.7 Gelana................................................................................................ 33

4 MECANISMOS DE BIODEGRADAÇÃO............................ 35

5 MATERIAIS E MÉTODOS.................................................. 39

5.1 MATERIAIS E REAGENTES..................................................... 39

5.2 PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL......................................... 40

5.2.1 Extração e obtenção do amido de batata....................................... 40

5.2.2 Obtenção do bioplástico a partir do amido de batata................... 41

6. RESULTADOS E DISCUSSÃO........................................... 44

7. OBTENÇÃO DE BIOPLÁSTICO A PARTIR DE AMIDO COMO TEMÁTICA PARA O ENSINO DA ESTRUTURA, PROPRIEDADES E APLICAÇÕES DOS POLÍMEROS NATURAIS E SINTÉTICOS.................................................

47

8. CONCLUSÃO...................................................................... 52

REFERÊNCIAS :............................................................................... 53

14

1. INTRODUÇÃO

Desde a metade do século XX até os dias atuais, o emprego de polímeros tem sido

cada vez mais freqüente na sociedade. É grande a quantidade de artefatos que

utilizam polímeros como matéria-prima, estando presente em quase a totalidade dos

utensílios de uso cotidiano (ROSA et al., 2002).

Segundo Marconato e Franchetti (2002), “polímeros são macromoléculas de alta

massa molar, formadas por unidades de moléculas menores, chamadas

monômeros”.

Dentre os polímeros, os plásticos tornaram-se um dos materiais mais conhecidos do

mundo, em decorrência do fato de possuírem certa facilidade no processamento,

serem impermeáveis, poderem ser obtidos em várias cores, possuírem boa

resistência química e mecânica, juntamente com seu relativo baixo custo de

produção. Sua grande importância também é mensurada quando nota-se a

infinidade de utensílios pertencentes ao cotidiano e a capacidade de substituir outros

materiais como vidro, madeira, metais e cerâmica. As embalagens de produtos

alimentícios, as canetas, os tubos de encanamento a até pára-choques de veículos,

são alguns exemplos da vasta utilização dos plásticos em inúmeros setores, o que

evidencia a versatilidade dos mesmos (RODRIGUES, 2005; CÉSAR, 2007).

Segundo Spínacé e De Paoli (2005) “os plásticos são materiais que, embora sólidos

a temperatura ambiente em seu estado final, quando aquecido acima da

temperatura de amolecimento tornam-se fluídos e passíveis de serem moldados por

ação isolada ou em conjunto de calor e pressão”. Sua origem vem do grego,

plastikus, que significa de fácil moldagem. Embora existam muitos tipos destes

plásticos, somente cinco deles já alcançam aproximadamente 90% do consumo

nacional, sendo eles: polietileno, polipropileno, poliestireno, policloreto de vinila e

polietileno tereftalato (SPINACÉ; DE PAOLI, 2005).

Embora ofereçam a proteção desejada em diversas aplicações, baixo custo para a

sua produção, praticidade e conveniência, os plásticos sintéticos são geralmente

15

obtidos a partir do petróleo, uma fonte não renovável. Além dessa desvantagem,

existe também outro empecilho, que é a falta de biodegradabilidade. Esta

propriedade foi anteriormente comemorada, pois a busca inicial por este material

visava a hidrofobicidade, a resistência e prevenção a biodegradação para dificultar a

ação dos microorganismos e enzimas na superfície do polímero. O que eram suas

maiores virtudes, atualmente, transformou-se em um sério problema para o mundo,

já que os plásticos sintéticos levam mais de um século para degradarem-se no meio

ambiente (SEBIO; CHANG, 2010; ROSA et al., 2002).

Cerca de 100 milhões de toneladas de plásticos são produzidas anualmente pelo

mundo. Somente no Brasil, a quantidade produzida foi de mais de quatro milhões de

toneladas em 2004. No lixo urbano brasileiro, a sua participação, em média, é de 7 a

8%. Este alto nível de produção e consumo, associada com sua falta de

biodegradabilidade, permite que cada vez mais aumente o impacto ambiental que

esse lixo causa no mundo. Dependendo do destino de descarte os plásticos podem

causar muitos problemas aos seres vivos que nele habitam. Um exemplo é a morte

de milhões de seres marinhos anualmente, em decorrência de acúmulo de plásticos

nos mares. Algumas alternativas para minimizar o problema gerado já foram

tentadas como incineração, reciclagem, aumento no rigor das leis ambientais, porém

não obtiveram o êxito esperado (RODRIGUES, 2005).

Nos últimos anos, a crescente preocupação com as condições ambientais e

ecológicas, além da necessidade de reduzir a dependência em relação à utilização

de petróleo levou vários países a reconhecerem a necessidade imperiosa de buscar

novas alternativas ecologicamente corretas para solucionar os problemas do

impacto ambiental ocasionado pelo exagerado descarte de plásticos. Assim, grupos

de pesquisa vêm desempenhando esforços para o desenvolvimento de um novo

material que possa ser viável e com características semelhantes ao já existente

(FAKHOURI, 2009).

Uma das alternativas para a substituição dos polímeros convencionais, que vem

sendo intensamente pesquisadas, é o desenvolvimento de polímeros

biodegradáveis. Estes sofrem degradação com maior facilidade, integrando-se

totalmente à natureza. Biodegradação é um processo que ocorre devido à ação de

16

microrganismos vivos presentes no meio ambiente, convertendo o material em

substâncias mais simples, que naturalmente já existem no meio ambiente

(CANGEMI; SANTOS; NETO, 2005).

Os polímeros biodegradáveis ou biopolímeros são materiais produzidos de fontes

renováveis, com propriedades físicas e químicas semelhantes às do polímero

comum, cuja degradação gera fragmentos com baixa massa molecular, através da

ação de microorganismos tais como bactérias, fungos e até enzimas, com a grande

vantagem de este processo ser muito mais rápido que nos plásticos comuns. Este

novo ramo dos polímeros é classificado em duas classes, os polímeros

biodegradáveis sintéticos, onde os mais utilizados são o poli (ácido lático) (PLA), poli

(ácido glicólico) (PGA), poli (ácido glicólico-ácido lático) (PGLA) e poli (ε-

caprolactona) (PCL) e os polímeros biodegradáveis naturais, onde os mais utilizados

são os polissacarídeos, com destaque para o amido, celulose, quitina, quitosana,

xantana e alguns polipeptídeos naturais (FRANCHETTI; MARCONATO, 2006).

Desta forma, estes novos polímeros vêm despertando grande interesse graças ao

fato de poderem minimizar o impacto ambiental, sendo degradado pelo solo em

poucos meses, entrar no mercado para substituir um produto obtido de fonte não

renovável e, além disso, possuir uma ampla faixa de aplicações, sendo utilizados

nas áreas médicas, de embalagens, sacos plásticos, assim como muitos utensílios

normalmente fabricados a partir dos plásticos convencionais. Tais fatores justificam

a enorme importância dos polímeros biodegradáveis.

Um dos materiais que tem recebido uma atenção especial nos últimos anos para a

produção de bioplásticos é o amido. Pesquisas com este biopolímero têm se

intensificado, pois o amido apresenta baixo custo, é extraído de fonte renovável e

vegetal, com disponibilidade na natureza em várias plantas e ainda apresenta alta

aplicabilidade. Assim, o objetivo deste trabalho é a obtenção de bioplásticos a partir

do amido, bem como descrever os polímeros biodegradáveis naturais, pertencentes

à classe dos polissacarídeos.

17

2. HISTÓRICO DOS POLÍMEROS BIODEGRADÁVEIS

O termo polímero biodegradável surgiu pela primeira vez na história em 1923 no

Instituto Pasteur, quando o microbiologista Maurice Lemoigne obteve, através da

bactéria bacillus megaterium, a determinação de composição de

polihidroxialcanoatos (PHAs), sendo o ácido 3-hidroxibutírico (P(3HB)) o primeiro

composto da classe dos biopolímeros (ZANATTA et al., 2008).

Em meados de 1960, foram descobertas propriedades termoplásticas, aumentando

o interesse sobre o polímero. Assim, logo em seguida passou a ser produzido e

comercializado pela empresa W.R.Grace Co. (ZANATTA et al., 2008; CARMINATTI

et al., 2006).

Durante os anos de 1970 e 1980, começaram a desenvolver pesquisas sobre a

produção e aplicação do P(3HB), assim como também alguns outros

hidroxialcanoatos foram descobertos (CARMINATTI et al., 2006).

Em 1991, no Brasil, foram iniciadas pesquisas para a produção do P(3HB) através

de processos fermentativos (ZANATTA et al., 2008; CARMINATTI et al., 2006).

Em 1992, a cooperativa dos produtores de cana-de-açúcar e álcool do Estado de

São Paulo (COPERSUCAR) estabeleceu um projeto de cooperação técnica com o

Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) e o Instituto de Ciências Biomédicas (ICB),

almejando o desenvolvimento de pesquisas para aprimorar a qualidade e produzir o

P(3HB) (ZANATTA et al., 2008; CARMINATTI et al., 2006; PORTAL SÃO

FRANCISCO, 2010).

Em 1994, o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), ligado ao governo do Estado

de São Paulo, identificou uma nova bactéria, a Burkholderia sacchari, capaz de

transformar açúcar no plástico biodegradável (PORTAL SÃO FRANCISCO, 2010).

Em 1996, foi instalada uma planta piloto na Usina da Pedra, no interior de São

Paulo, que possibilitou a produção do polihidroxibutirato (PHB) e do seu copolímero

poli-3-hidroxibutirato-co-3-hidroxivalerato (P(3HB-co-3HV)), utilizando a tecnologia

desenvolvida no país (PORTAL SÃO FRANCISCO, 2010).

18

Ainda em 1996, a empresa Monsanto adquiriu a patente do processo de produção

do copolímero (P(3HB-co-3HV)) vendido sob o nome Biopol® (CARMINATTI et al.,

2006).

Em 2000, com o nascimento da empresa PHB Industrial S.A., inicia-se a produção

do P(3HB), o mesmo polímero descoberto ainda em 1923 (ZANATTA et al., 2008).

19

3. POLÍMEROS BIODEGRADÁVEIS NATURAIS

Os polímeros naturais são formados durante o ciclo de crescimento de organismos

vivos. Geralmente, sua síntese envolve reações catalisadas por enzimas e reações

de crescimento de cadeia a partir de monômeros ativados, que são formados dentro

das células por processos metabólicos complexos. Os polissacarídeos encontram-se

dentre os principais polímeros naturais, tendo bastante participação e importância

(FRANCHETTI; MARCONATO, 2006).

3.1. POLISSACARÍDEOS

Os polissacarídeos consistem em polímeros de condensação de elevado peso

molecular, os quais são formados por dezenas ou até centenas de unidades básicas

de glicose por cadeia, ligadas como anéis de grupos acetais (aldeído e álcool) e,

portanto, com grande quantidade de grupos hidroxilas, o que lhe garante alta

hidrofilicidade. Os polissacarídeos são uma classe muito diversa e altamente versátil

de materiais que apresentam aplicações variadas na área dos biomateriais, sendo

alguns exemplos: o amido, a celulose, a quitina, a quitosana, a xantana, a dextrana,

a pululana, a gelana e o poliuretano (FRANCHETTI; MARCONATO, 2006; GIL;

FERREIRA, 2006).

3.1.1. Amido

O amido é a principal fonte de reserva de energia nas plantas fotossintetizantes.

Juntamente com a celulose, constitui uma das mais abundantes fontes de

carboidratos. Inúmeras plantas possuem amido, entretanto, os mais empregados

industrialmente são aqueles provenientes de sementes, tubérculos e raízes, como a

mandioca, batata e o milho (DA RÓZ, 2004).

20

O amido ocorre nas plantas sob a forma de grânulos, com tamanho e forma

característicos segundo sua fonte de procedência. O tamanho dos grânulos varia

desde poucos a até 100µm de diâmetro. Na figura 1 estão representadas as

diversas formas e diferenças entre alguns tipos de grânulos de amido de diferentes

origens (DA RÓZ, 2004).

Figura 1 – Forma de diversos tipos de grânulos de amidos (In: JACOB, 2006, p. 16)

Os grânulos são constituídos por uma mistura de dois compostos: a amilose e a

amilopectina, cujas proporções entre eles também são definidas de acordo com sua

origem vegetal. A tabela 1 ilustra características de diferentes fontes de amido

(TEIXEIRA, 2007).

21

Fonte Tipo de amido

Forma do grânulo

Diâmetro (µm)

Amilose (%)

Amilopectina (%)

milho cereal redondo, poligonal

5-26 28 72

trigo cereal redondo 2-10; 20-35 28 72

arroz cereal poligonal, angular

3-8 30 70

mandioca tubérculo redondo, oval

5-30 14-18 86-82

batata tubérculo redondo, oval

15-100 18-20 82-80

Tabela 1 - Características de amidos de diversas fontes vegetais (In: TEIXEIRA, 2007, p. 30)

A amilose é um polissacarídeo constituído de unidades de D-glicose, ligadas entre si

por ligações glicosídicas α-1-4, resultando num polímero linear configurado na forma

de hélice, com massa molar variando de 10 5 a 10 6 g/mol. A estrutura molecular da

amilose está representada conforme a figura 2 (DA RÓZ, 2004; BLÁCIDO, 2006).

OCH2OH

HOHO

OCH2OH

HOHO

HO

O

O

HOHO

CH2OHO

O

HOHO

CH2OHO

OH

n

12

3

4

5

6

Ligação α (1,4)

Figura 2 – Estrutura molecular da amilose (In: JACOB, 2006, p. 14)

22

A amilopectina é uma macromolécula menos hidrossolúvel que a amilose e

composta por unidades de D-glicose ligadas por ligações glicosídicas α-1-4.

Distingue-se da amilose pelo fato de 4 a 5% dessas unidades de D-glicose

apresentarem também ligações glicosídicas α-1-6 com outras unidades de D-glicose,

formando então um polímero ramificado de elevada massa molar, podendo

compreender aproximadamente 10 8 g/mol. Sua estrutura é representada conforme a

figura 3 (DA RÓZ, 2004; BLÁCIDO, 2006).

12

3

4

5

6

HOHO

CH2OHO

OH

HOHO

CH2OHO

O

O

OCH2

HOHO

O

O

HO

HOHO

CH2OHO

HOHO

CH2OHO

O

OCH2OH

OHOH

O

OH

O

OH

CH2OHO

n

Ligação α (1,6)

Ligação α (1,4)

Figura 3 – Estrutura molecular da amilopectina (In: JACOB, 2006, p. 14)

O amido é parcialmente cristalino com valores entre 20 e 45%. Esta cristalinidade do

grânulo do amido deve-se basicamente à molécula de amilopectina, sendo que

estas regiões consistem de duplas hélices. Acredita-se que a amilopectina está

disposta em um arranjo constituído por um esqueleto de cadeias ramificadas ao qual

estão ligados aglomerados de cadeias lineares. Esta estrutura é representada pela

figura 4. As regiões amorfas presentes no grânulo do amido são garantidas pela

amilose e pelos pontos de ramificações da amilopectina (JACOB, 2006).

23

Figura 4 – Estrutura supramolecular da amilopectina (In: JACOB, 2006, p. 16)

O amido é praticamente insolúvel em água fria, porém os grânulos aumentam de

volume devido ao processo de intumescimento, absorvendo aproximadamente de

uma vez o seu próprio peso em água. Os sítios de ligação da água são os grupos

hidroxilas e os átomos de oxigênio no interior da D-glicose. A presença dos grupos

hidroxilas garante ao amido uma natureza altamente hidrofílica. Já a insolubilidade

do grânulo deve-se às fortes ligações de hidrogênio que mantêm as cadeias de

amido unidas. Entretanto, quando esta mistura é submetida ao aumento de

temperatura, há um aumento drástico na absorção de água, o que leva o grânulo do

amido a expandir de 10 a 100 vezes em volume, dependendo de sua origem vegetal

(TEIXEIRA, 2007; DA RÓZ, 2004).

Com o intumescimento dos grânulos, em certa temperatura, a energia do sistema

torna-se suficiente para vencer as ligações de hidrogênio presentes no grânulo do

amido, com perda da cristalinidade, enquanto que as regiões amorfas são

solvatadas e os grânulos incham rapidamente, acarretando no seu rompimento e

assim passando a ser completamente solúveis, transformando o sistema em um gel.

Este processo de intumescimento granular e solubilização do amido são

denominados de gelatinização. A temperatura em que ocorre a gelatinização

também varia de acordo com a origem vegetal do amido. As temperaturas de

gelatinização de algumas fontes de amidos encontram-se na tabela 2, onde a

temperatura mais baixa refere-se à temperatura que o grânulo inicia o

24

intumescimento e a mais alta indica quando os grânulos foram completamente

gelatinizados (DA RÓZ, 2004).

Amido Milho Trigo Arroz Mandioca Batata

Temp. gelatinização (ºC) 62-72 58-64 68-78 49-70 59-68

Tabela 2 - Temperatura de gelatinização de diferentes fontes vegetais (In: JACOB, 2006, p. 18)

A gelatinização do amido também pode ser obtida em baixas temperaturas por

tratamento principalmente com álcali e alguns outros reagentes que possam

ocasionar o rompimento das ligações de hidrogênio referentes à cristalinidade

(JACOB, 2006).

Com o resfriamento e repouso, as moléculas de amilose do amido gelatinizado

começam a realinhar-se de forma organizada devido à interação entre cadeias por

meio das ligações de hidrogênio, cristalizando a amilose e resultando no

endurecimento do gel. Este processo é conhecido por retrogradação. Os amidos de

batata e mandioca possuem menor quantidade de amilose em suas composições, o

que consequentemente culmina em uma menor taxa de retrogradação (JACOB,

2006; DA RÓZ, 2004).

3.1.1.1 Amido Termoplástico

Estudos com amido termoplástico ou TPS (thermoplastic starch) são relativamente

recentes e atualmente é uma das principais pistas de pesquisa para a produção de

materiais biodegradáveis. O amido na forma granular não é um verdadeiro

termoplástico, porém, para que ele adquira esta característica, é necessário que

ocorra a desestruturação granular com a conseqüente formação de uma fase

contínua. Isso é conseguido junto à presença de energia mecânica, térmica e adição

de plastificante. Desta forma, o material derrete e flui, permitindo o seu uso em

25

equipamentos de injeção, extrusão e sopro, assim como para plásticos sintéticos. A

partir de então o amido torna-se um amido termoplástico (TEIXEIRA, 2007;

CEREDA; VILPOUX, 2004).

A água deve ser adicionada para a preparação, pois atua como um agente

desestruturante do grânulo, com o rompimento das ligações de hidrogênio entre as

cadeias e também age como plastificante. Entretanto, além da água, há necessidade

da utilização de um plastificante adicional, cuja função é tornar os filmes mais

flexíveis e facilitar a processabilidade. Os mais empregados são os açúcares e os

polióis, tal como a glicerina (TEIXEIRA, 2007; CEREDA; VILPOUX, 2004).

Os plastificantes modificam as propriedades mecânicas de um polímero, assim como

as temperaturas de transição vítrea e fusão, pois atuam neutralizando ou reduzindo

as forças de interação intermolecular, porém não modificam a natureza química do

polímero. Estes devem ser compatíveis com o polímero para permanecer no

sistema. A massa molar do plastificante tem que ser grande o suficiente para que

não seja vaporizado durante o processamento e características como baixa ou nula

toxicidade e garantir adequadas propriedades ao polímero, como diminuição da

temperatura de transição vítrea (DA RÓZ, 2004).

O plastificante causa a diminuição da energia necessária para possibilitar a

movimentação molecular, aumentando a flexibilidade. Quando é adicionado ao

polímero, as moléculas do plastificante entram na fase polimérica da matriz,

alterando seu arranjo, difundindo-se entre as macromoléculas do polímero,

aumentando a mobilidade entre as cadeias (DA RÓZ, 2004).

3.1.1.2 Amido utilizado como componente em blendas

O custo ainda é um grande fator limitante para o desenvolvimento de materiais

biodegradáveis. O amido é uma matéria-prima de baixo custo, extraído de fonte

renovável e vegetal, com alta disponibilidade na natureza e em várias plantas,

portanto, sendo um material importante e promissor para a obtenção de polímeros

biodegradáveis e na utilização do mesmo como componente em blendas com

polímeros sintéticos, como polietileno, polipropileno e também com polímeros

26

sintéticos biodegradáveis, como PVA (álcool polivinílico) e alguns poliésteres {PLA

[poli (ácido lático)], PCL [poli (ε-caprolactona)] e PHB [polihidroxibutirato]}, os quais

apresentam preços mais elevados (TEIXEIRA, 2007).

Desta forma, a associação do amido com um polímero sintético, seja biodegradável

ou não, reduzirá o custo do produto final e aumentará a taxa de biodegradação do

polímero sintético puro, enquanto que o amido também será beneficiado, pois irá

adquirir características de amido termoplástico, melhorando a qualidade final do

produto (TEIXEIRA, 2007).

3.1.2. Celulose

A celulose é o polímero natural e biodegradável mais abundante da Terra. Trata-se

de um polissacarídeo linear constituído de unidades monoméricas de β(1-4)-D-

glucopiranose. Sua estrutura está representada na figura 5. Não é solúvel em água e

é caracterizada por regiões cristalinas na maior parte de sua estrutura, entrecortada

por zonas amorfas (GIL; FERREIRA, 2006).

OO

OO

O

OHO

OH

HO OHOHHO H2C

H2C

OH

OH2C

OHOH

n

Celulose

Figura 5 – Estrutura da celulose (In: CURI, 2006, p. 20)

Industrialmente a celulose é muito utilizada, estando presente na produção de papel,

no ramo alimentício, como agentes emulsificante e dispersante e até no setor

eletrônico, com a produção de telas de cristais líquido (FONSECA, 1998; GIL;

FERREIRA, 2006).

27

Devido a características como a biocompatibilidade, apresentar certa estabilidade à

variação de temperatura e pH, não ser tóxica e alérgica, a celulose tem despertado

grande interesse quanto a seu uso para a obtenção de materiais biomédicos, sendo

exemplos, a fabricação de componentes de matrizes para regeneração óssea, vasos

sanguíneos artificiais e substitutos temporários de pele (GIL; FERREIRA, 2006).

3.1.3. Quitina e Quitosana

A quitina é um dos polissacarídeos mais abundantes na natureza. Ela é encontrada

no exoesqueleto de crustáceos, moluscos, insetos e nas paredes celulares dos

fungos (GIL; FERREIRA, 2006).

A quitina é um polímero linear constituído por unidades de 2-acetamida-2-deoxi-D-

glicopiranose unidas por ligações glicosídicas do tipo β-(1-4) (HORN, 2008). Sua

estrutura está representada pela figura 6.

OO

OH

HONH

O

O

n

Figura 6 – Estrutura da quitina (In: SILVA, 2006, p. 776)

As estruturas da quitina e da celulose são muito parecidas, possivelmente por

desempenhar as mesmas funções de sustentação nos organismos em que são

presentes. Verifica-se a diferença no carbono C-2 de cada unidade monomérica,

onde o grupo hidroxila da celulose é substituído pelo grupo acetamida da quitina

(HORN, 2008).

A desacetilação parcial da quitina em meio alcalino gera a quitosana (figura 7), um

heteropolissacarídeo composto por unidades monoméricas de β-(1-4)-2-acetamida-

28

2-deoxi-D-glicopiranose e β-(1-4)-2-amino-2-deoxi-D-glicopiranose (LARANJEIRA,

2009).

OO

ONH

HO

OH

OO HO

OH

NH2O

n m

Figura 7 – Estrutura da quitosana (In: SILVA, 2006, p. 776)

A quitosana apresenta aplicações em diversas áreas. Na agricultura é usado como

componente em fertilizantes, no recobrimento de sementes e na liberação

controlada de agrotóxicos. No tratamento de água, atua como agente floculante e na

remoção de íons metálicos. Na indústria alimentícia é utlizada em conservantes e no

recobrimento de frutas. Na indústria de cosméticos procede em esfoliantes de pele e

cremes hidratantes (HORN, 2008).

Devido às inúmeras propriedades como biocompatibilidade, atoxicidade,

biodegradabilidade, capacidade de formar membranas e apresentar atividade contra

fungos, bactérias e vírus, a quitosana tem sido muito aplicada nas áreas

farmacêutica e biomédica. Desta forma, é utilizada em suturas cirúrgicas, implantes

ósseos e na liberação controlada de drogas em animais e humanos (GIL;

FERREIRA, 2006).

3.1.4. Xantana

A xantana ou goma xantana é um heteropolissacarídeo produzido eficientemente

pela bactéria Xanthomonas campestris, uma bactéria gram-negativa e aeróbia. Sua

estrutura (figura 8) consiste em unidades de β-(1-4)-D-glico-piranose,

assemelhando-se à celulose, mas com ramificações alternadas no carbono C-3 de

cada unidade (CANILHA et al., 2006).

29

Figura 8 – Estrutura da xantana (In: PRADELLA, 2006, p. 36)

A xantana recebeu a permissão de ser utilizada na indústria alimentícia pelo FDA

(Food and Drug Administration) em 1969. No Brasil, a adição de xantana em

alimentos é permitida desde 1965 pela Legislação Brasileira de Alimentos (HORN,

2008).

A goma xantana é completamente solúvel em água gelada ou quente, produz altas

viscosidades a baixas concentrações e apresenta excelente estabilidade ao calor e

variações de pH (PRADELLA, 2006).

As utilidades da xantana na indústria de alimentos são muito amplas. É aplicada

para controlar viscosidade, textura, retenção de aromas, suspensão de sólidos e

estabilização de emulsões. É utilizada, por exemplo, em molhos prontos, alimentos

congelados, suco de frutas e coquetéis, sobremesas instantâneas e produtos

cárneos. Além da indústria alimentícia, a xantana também é empregada em produtos

cosméticos e farmacêuticos, como agente de suspensão de emulsão e espessante

(CANILHA et al., 2006).

30

3.1.5. Dextrana

A dextrana é uma grande classe de homopolissacarídeos bacterianos extracelulares,

compostos de unidades de α-D-glucopiranosil polimerizadas predominantemente por

ligações do tipo α(1-6) com possíveis ramificações encontradas em α(1-2), α(1-3) e α

(1-4) (PRADELLA, 2006). Sua estrutura é representada pela figura 9.

OOH

OH

OHO

CH2

OOHOH

O

CH2

OOHOH

OHO

OOH

OHOH

CH2

O

O

CH2

O

CH2OH

OH

OH

OHOH

OH

CH2

O

OOH

n

Figura 9 – Estrutura da dextrana (In: PRADELLA, 2006, p. 40)

Sua estrutura primária é constituída de resíduos de D-glicose, unidos por ligações

glicosídicas, que proporcionam as cadeias certa flexibilidade. Segundo Pradella

(2006), “a síntese da dextrana ocorre extracelularmente, sendo o substrato

transformado em polissacarídeo sem penetrar no interior da célula”. Isto se torna

31

possível devido a uma enzima, chamada dextrana-sacarose (α-1,6-glucana 6-α-D-

glucosiltransferase), que é excretada pelo microrganismo no meio de cultura, na

presença de sacarose. A enzima age na molécula de sacarose, liberando frutose e

transferindo a molécula de glicose até as moléculas de dextrana em expansão.

Muitos microrganismos sintetizam dextrana a partir de sacarose. Especialmente as

bactérias, como a Leuconostoc mesenteroides, são comercialmente importantes

(CANILHA et al., 2006).

A ampla aplicabilidade apresentada pela dextrana deve-se principalmente a suas

características, tais como a vantagem de ser metabolizada naturalmente,

capacidade de formar soluções claras e estáveis, estabilidade, não ser tóxica e nem

provocar reações no organismo, além de ser derivado de fontes renováveis

(PRADELLA, 2006).

Dentre os campos com as mais bem sucedidas aplicações encontram-se a indústria

farmacêutica, que utiliza a dextrana como expansor volumétrico do plasma

sanguíneo e em matrizes para a imobilização de enzimas e drogas; a indústria de

petróleo, para compor a lama de perfuração e também na recuperação secundária

de petróleo; a indústria alimentícia, como espessante, gelificante, inibidor de

cristalização, entre outros; a indústria fotográfica, que a emprega incorporando-a em

emulsões e reduzindo o consumo de prata e ainda a indústria química, na fabricação

de suportes utilizados na cromatografia (CANILHA et al., 2006; PRADELLA, 2006).

3.1.6. Pululana

Pululana é o nome genérico dado ao homopolissacarídeo produzido

extracelularmente por diversos fungos na natureza, não tóxicos e não patogênicos

principalmente pelo Aureobasidium pullulans. Sua estrutura (figura 10) consiste em

uma α-D-glucana linear, composta predominantemente por unidades repetidas de

maltotrioses unidas por ligações do tipo α-1,6-glicosídicas (CANILHA et al., 2006).

32

OOH

OHOH

CH2

O

CH2OH

OOH

OHO

OH

OH

CH2OH

O

O

CH2OH

OH

OH

O

OH

OHO

CH2OH

O

CH2

OH OH

OHO

H

H

n

Figura 10 – Estrutura da pululana (In: PRADELLA, 2006, p. 42)

A presença de ligações α-1,4 e α-1,6 alternadas resulta em duas propriedades, au-

mento de solubilidade e flexibilidade estrutural. Além dessas propriedades, a

pululana é um polissacarídeo não higroscópico sem odor, sem sabor, solúvel em

água e geralmente insolúvel em outros solventes. Quando modificadas

quimicamente, suas propriedades térmicas e a solubilidade são alteradas,

originando soluções aquosas estáveis, viscosas e sem formação de géis. Sua

viscosidade oscila em função do seu peso molecular, que varia entre 8.000 a

2.000.000 g/mol (PRADELLA, 2006).

O filme de pululana é termicamente estável, anti-estático e elástico. Tem

propriedades adesivas e sob ação de umidade e calor é diretamente compressível e

moldável, originando filmes biodegradáveis não poluentes, comestíveis e

impermeáveis à passagem de oxigênio (PRADELLA, 2006).

A pululana em pó ou em filme é utilizada na indústria farmacêutica como excipiente

em comprimidos e nas suas embalagens. Na indústria alimentícia, promove maior

aderência e brilho quando empregado como revestimento de chocolates, gomas de

mascar e balas, sem nenhum poder calórico, melhorando e mantendo a aparência

do produto e aumentando o tempo de armazenamento. Na indústria do plástico, a

pululana pode substituir o poliestireno ou o cloreto de polivinila em transparência,

dureza, rugosidade e brilho (PRADELLA, 2006).

33

3.1.7. Gelana

A gelana é um exopolissacarídeo também conhecido comercialmente como

heteropolissacarídeo-60 (PS-60), produzido por Sphingomonas paucimobilis, uma

bactéria Gram-negativa, aeróbia, de pigmentação amarela apresentando um único

flagelo polar. Sua estrutura molecular consiste em unidades repetidas de (β-1,3-D-

glicose, β-1,4-D-ácido glucurônico, β-1,3-D-glicose e α-1,4-L-ramnose) e dois grupos

acetil, acetato e glicerato ligados ao resíduo de glicose adjacente ao ácido

glucurônico (CANILHA et al., 2006).

A gelana tem a propriedade de formar géis mesmo em concentrações muito baixas,

menores que 0,1%. Isso se torna possível devido à adição de um eletrólito (sal,

ácido ou surfactante aniônico) a uma solução quente de gelana e posterior

resfriamento. Duas formas de gelana são comercializadas, a forma nativa e a forma

desacetilada (figura 11), onde são retirados os grupos acetil. A presença do grupo

acetil implica em géis macios, elásticos e sem brilho, enquanto que a forma

desacetilada implica em géis firmes, duros, não elásticos e com alto brilho. A

utilização em conjunto das duas formas de gelana, em variáveis proporções,

possibilita uma larga variedade de viscosidade e texturas (PRADELLA, 2006).

34

O

O

OHOH

CH2OH

OO

COO-M+

OH

OH

O O

OH

OH

CH2OH

O

OH

O

CH3

OHn

CH2OH

OH

OH

OO

OH

OH

COO-M+

OO

CH2

OOH

O

O

C

O

CH2OH

OH

O

OH

CH3

O

OH

O

OH3CC

0.5

n

Figura 11 – Estruturas da gelana (In: PRADELLA, 2006, p. 46)

A goma gelana tem sido muito utilizada para substituir o ágar, pois tem propriedade

de produzir um gel termoreversível, porém mais versátil nas suas aplicações. Devido

à diversidade de suas estruturas e propriedades, a gelana possui ampla aplicação

na indústria farmacêutica e principalmente na indústria alimentícia, como agente

texturizante, estabilizante, espessante, emulsificante, gelificante, atuar na retenção

da umidade, na estabilidade ao calor em sorvetes de máquina e dar resistência em

geléias, gelatinas, doces de frutas, iogurtes e sucos de frutas (CANILHA et al., 2006;

PRADELLA, 2006).

35

4. MECANISMOS DE BIODEGRADAÇÃO

Biodegradação é a degradação catalisada por microrganismos vivos presentes no

meio ambiente, convertendo o material polimérico em substâncias mais simples

como dióxido de carbono e água. Pode ocorrer em ambientes aeróbios (na presença

de oxigênio) ou ambientes anaeróbios (na ausência de oxigênio) (SANTOS, 2007;

CANGEMI; DOS SANTOS; NETO, 2005). O processo químico da biodegradação

pode ser resumido conforme as reações da figura 12:

Cpolímero + O2 CO2 + H2O + Cresidual + C biomassa + sais (condições aeróbicas)

Cpolímero CO2 + CH4 H2O+ + Cresidual + C biomassa + sais (condições anaeróbicas)

Figura 12 – Resumo das reações de biodegradação de biopolímeros (In: SANTOS, 2007, p. 16-17)

Existem três fatores que são indispensáveis para a biodegradação: 1) a existência

de microrganismos capazes de sintetizar enzimas específicas para iniciar o processo

de fragmentação; 2) as condições ambientais, principalmente a umidade e 3) a

estrutura do polímero, onde se incluem ligações químicas, grau e tipo de

ramificação, grau de polimerização, hidrofobicidade, estereoquímica, cristalinidade,

entre outros (SANTOS, 2007).

A biodegradação ocorre em duas etapas: fragmentação e mineralização. A primeira

consiste na decomposição da macromolécula em cadeias menores pelas enzimas

extracelulares. Na segunda, ocorre o deslocamento dos fragmentos oligoméricos

gerados para o interior das células dos microrganismos, onde serão bioassimilados

e mineralizados, ou seja, processo em que serão produzidos gases, água, sais,

minerais e nova biomassa. O ataque enzimático e a formação dos produtos de

decomposição são específicos em relação ao biopolímero, conjunto de enzimas

utilizadas e ao sítio de ataque. Dependendo destes fatores, a biodegradação de

36

polímeros pode ocorrer, basicamente, por dois mecanismos distintos: hidrólise

biológica e oxidação biológica (SANTOS, 2007).

A hidrólise biológica é catalisada por enzimas hidrolases. Algumas enzimas

proteolíticas (proteases) catalisam a hidrólise de ligações peptídicas e outras as de

ligações éster (figura 13). A velocidade de hidrólise dos polímeros é controlada por

várias propriedades, como estrutura, morfologia e área superficial (FRANCHETTI;

MARCONATO, 2006).

N CN C

N CN C

N C

O

O

O

O

OH

H

H

H

H

C NC N

C NC N

C N

O

O

O

O

O H

H

H

H

A

O

O

n

B

Figura 13 – Estrutura: A) de cadeias polipeptídicas e B) do poli(εεεε-caprolactona) - um polímero contendo ligações éster (In: FRANCHETTI; MARCONATO, 2006, p. 813)

Este mecanismo é seguido pela oxidação biológica das cadeias poliméricas

(catalisada pelas oxigenases), quebra das mesmas, formando cadeias menores e

bioassimilação destas pelos microrganismos. Este processo ocorre em polímeros

contendo hetero-cadeias, tais como amido, celulose e poliésteres alifáticos (figura

14), dos quais os PHAs são exemplos típicos. Nestes últimos, os grupos ésteres são

facilmente hidrolisáveis por esterases de fungos (FRANCHETTI; MARCONATO,

2006).

37

OCH2OH

HOHO

OCH2OH

HOHO

HO

O

O

HOHO

CH2OHO

O

HOHO

CH2OHO

OH

n

12

3

4

5

6

Ligação α (1,4)

A

O

HOO

HO

OO

HO

HO

OH

O O

OH

HO

HO

OO

HO

HO

OO

OH

HO

HO

OO

HO

HO

O

OH OH OHβ-1,4

B

O

OCH3

n

C

Figura 14 – Estrutura da: A) amilose; B) celulose e C) poli(hidroxibutirato) - um poliéster alifático (In: JACOB, 2006, p. 14; FRANCHETTI; MARCONATO, 2006, p. 812 e 813)

A oxidação biológica é a reação de oxidação, na presença de oxigênio, com

introdução grupos peróxidos nas cadeias carbônicas, por ação das monooxigenases

e dioxigenases, seguida por quebra das cadeias e posterior bioassimilação de

produtos de baixa massa molar, como ácidos carboxílicos, aldeídos e cetonas. A

bioassimilação se inicia tão logo estes produtos de baixa massa molar forem

formados no processo de peroxidação. É um mecanismo que se aplica

38

essencialmente a polímeros apenas de cadeia carbônica (FRANCHETTI;

MARCONATO, 2006).

39

5. MATERIAIS E MÉTODOS

5.1. MATERIAIS E REAGENTES

• Batata

• Ralador

• Cadinho de porcelana

• Pistilo

• Peneira

• Bécker 250 mL

• Proveta 100 mL

• Balança digital (Tecnal, B-Tec-1300)

• Pipeta graduada 10 mL

• Pipeta volumétrica 1 mL

• Bastão de vidro

• Vidro de Relógio

• Bico de Bunsen

• Tripé

• Tela de amianto

• Indicador de pH (Merck)

• Placa de petri de plástico

• Estufa (Tecnal - 397/4)

• Água destilada

• Ácido clorídrico (Synth)

40

• Hidróxido de sódio (Synth)

• Glicerina (Cromoline)

5.2. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL

5.2.1. Extração e obtenção do amido de batata

Com o auxílio de um ralador, oito batatas de tamanho médio, pesando juntas 762

gramas, foram raladas para apresentar-se na forma de pequenos filetes. Estes

foram divididos em quantidades aproximadamente semelhantes para seguir

separadamente ao processamento de extração.

Cada uma dessas quantidades foram adicionadas a um cadinho de porcelana,

juntamente com 100 mL de água destilada e amassadas com um pistilo para efetuar

a extração do amido contido na batata.

O conteúdo obtido foi peneirado em um béquer de 250 mL. Adicionou-se mais água

destilada ao cadinho com a batata, repetindo-se o processo, e novamente

peneirando o conteúdo no mesmo béquer.

Esperou-se 5 minutos, com o béquer em repouso, para que o amido presente

sofresse decantação (figura 15). Logo em seguida, o sobrenadante foi descartado.

Adicionou-se 100 mL de água destilada ao amido e agitou-se a solução com um

bastão de vidro. Novamente esperou-se por 5 minutos para a decantação do amido

e descartou-se o sobrenadante. O amido ainda úmido foi passado para uma placa

de petri e levado para a estufa, onde foi submetido à secagem por 6 horas à

temperatura de 75°C.

41

Figura 15 - Amido decantado

5.2.2. Obtenção do bioplástico a partir do amido de batata

Em um béquer, foi pesado 2,5g do amido seco e adicionado 25 mL de água

destilada, 3 mL de ácido clorídrico 0,1M e 2 mL de glicerina, agitando-o bem a cada

adição.

Em seguida, colocou-se um vidro de relógio sobre o béquer com a mistura e levou-

se ao bico de bunsen para aquecimento em uma chama branda por 15 minutos

(figura 16). Logo após, aguardou-se o resfriamento da mistura e então neutralizou-se

com hidróxido de sódio 0,1M. Foi utilizado indicador universal de pH para verificar a

neutralização da mistura.

42

Figura 16 – Aquecimento da mistura para obtenção do bioplástico

A mistura polimérica foi colocada em uma placa de petri de plástico (figura 17) e

levada para a estufa, onde ficou submetida à temperatura de 60°C por 24 horas para

a secagem, obtendo-se assim, o bioplástico.

43

Figura 17 – Mistura polimérica antes da secagem

44

6. RESULTADOS E DISCUSSÃO

O trabalho foi dividido em duas etapas: a extração do amido da batata e a obtenção

do bioplástico, sendo utilizada para isto a metodologia exibida em vídeo presente no

site: http://bioplasticnews.blogspot.com/search/label/Videos.

Para o processo de extração do amido, o rendimento é variável a cada procedimento

executado. O rendimento é influenciado pela concentração de amido presente, como

e por quanto tempo a batata foi amassada. Desta forma, é possível utilizar menos

quantidade de batatas e obter maior quantidade de amido, bem como utilizar mais

batatas e obter menos amido.

Foram utilizados 762 gramas de batata (oito batatas de tamanho médio), que foram

amassadas para que fosse extraído o amido presente. Posteriormente, este foi

lavado, purificado e levado para a estufa, gerando aproximadamente 42 gramas do

amido seco (figura 18), garantindo rendimento de 5,51%.

A adição de água ao amido após a decantação, no processo de extração, tem a

finalidade de lavar e purificar o amido, removendo possíveis partículas presentes na

solução.

45

Figura 18 – Amido seco obtido após extração

Na segunda etapa, ou seja, na obtenção do bioplástico, água tem a função de atuar

como um agente desestruturante do grânulo, com o rompimento das ligações de

hidrogênio entre as cadeias e também age como plastificante. O ácido clorídrico

atua quebrando as ligações glicosídicas, diminuindo a cadeia polimérica, facilitando

a mobilidade entre das moléculas. Já a glicerina, utilizada como plastificante, tem a

função é tornar os filmes mais flexíveis e facilitar a processabilidade (TEIXEIRA,

2007; CEREDA; VILPOUX, 2004).

Com o aquecimento da mistura, os grânulos do amido começam a intumescer, até

que em certa temperatura, a energia do sistema torna-se suficiente para vencer as

ligações de hidrogênio presentes no grânulo do amido, com perda da cristalinidade,

enquanto que as regiões amorfas são solvatadas e os grânulos incham rapidamente,

acarretando no seu rompimento e assim passando a ser completamente solúveis,

transformando o sistema em um gel (DA RÓZ, 2004).

Após a neutralização e secagem da mistura em estufa, a fim de evaporar água,

ocorre um rearranjo das moléculas de amido devido à forte tendência de formação

46

pontes de hidrogênio entre moléculas adjacentes, favorecendo a recristalização e a

formação do filme bioplástico (figura 19).

Figura 19 – Bioplástico obtido após secagem

47

7. OBTENÇÃO DE BIOPLÁSTICO A PARTIR DE AMIDO COMO TEMÁTICA PARA O ENSINO DA ESTRUTURA, PROPRIEDADES E APLICAÇÕES DOS POLÍMEROS NATURAIS E SINTÉTICOS

É muito fácil perceber que a química ainda é vista pela maioria dos alunos do ensino

médio como uma disciplina difícil e complexa. Observa-se também que o conteúdo

programático no ensino de química baseia-se em métodos mecanicistas de

definições, regras, fórmulas, nomenclaturas, classificações, restando aos alunos a

memorização e o estudo de conteúdos não relacionados com seu cotidiano.

Pensando desta forma, o aluno perde o interesse nas aulas e torna ainda mais

problemática a intensa necessidade de assimilação dos conteúdos ensinados pelo

professor, o que dificulta ou até impossibilita que os alunos e por conseqüência a

sociedade de modo geral, compreendam que muitos eventos e objetos cotidianos

são oriundos de fenômenos que envolvem reações químicas (SOUZA, 2007).

Um dos grandes desafios atuais nas escolas de ensino médio é construir uma ponte

entre o conteúdo a ser ensinado e o mundo cotidiano dos alunos. Este vínculo

beneficia muito o aluno, fazendo-o perceber a importância dessa ciência para o

avanço científico e tecnológico e sua presença na vida desde os eventos mais

simples, como respirar e coar o café. A química é uma disciplina na qual pode

abusar-se de exemplos do cotidiano, possibilitando a abertura de um leque muito

grande de conteúdos para abordagem em sala de aula (VALADARES, 2001).

Outro aspecto muito importante para melhorar o ensino de química é a

experimentação, quase sempre ausente e esquecida nas escolas de ensino médio,

mesmo a química sendo uma ciência experimental por definição. Porém, a falta de

infra-estrutura como laboratórios, equipamentos, reagentes ou a própria manutenção

dos mesmos, são obstáculos bem conhecidos à viabilização de aulas práticas. Neste

contexto, as escolas poderiam adotar aulas experimentais com materiais de uso

cotidiano, próximo ao aluno, de fácil obtenção e de baixo custo (SILVA et al., 2001).

A implementação de freqüentes aulas práticas seria ideal, pois contribuiria no

desenvolvimento dos conceitos a partir da observação e também aumentaria a

48

participação dos alunos nas aulas, tornando o aprendizado mais significativo (DIAS;

GUIMARÃES; MERÇON, 2003).

O experimento realizado neste trabalho, ou seja, obtenção de bioplástico a partir do

amido de batata engloba tanto a experimentação com materiais de fácil acesso

quanto à relação com o cotidiano.

Sendo aplicado aos alunos, este único experimento serve de base para abordar

diversos conteúdos, principalmente os referentes a polímeros. Para iniciar o ensino

deste tema, podem-se definir polímeros como “macromoléculas de alta massa molar,

formadas por unidades de moléculas menores chamadas monômeros”

(MARCONATO E FRANCHETTI, 2002) e abordar que as reações pelas quais os

monômeros são ligados são chamadas reações de polimerização (figura 20).

CH2 CH

CH3

m polímeroCH2 CH

CH3

CH2 CH

CH3

CH2 CH

CH3npropilenomonômero Polímero polipropileno

(m e n são números grandes)

unidades monoméricas

Figura 20 – Ilustração de uma reação de polimerização (In: adaptado de SOLOMONS, 1996, p. 418)

É possível ensinar que o plástico é um tipo de polímero e que “embora sólidos a

temperatura ambiente em seu estado final, quando aquecido acima da temperatura

de amolecimento tornam-se fluidos e passíveis de serem moldados, por ação

isolada ou em conjunto de calor e pressão” (SPÍNACÉ; DE PAOLI, 2005). Existem

muitos tipos de plásticos, sendo os principais os polihidrocarbonetos, os poliésteres

e as poliamidas (figura 21).

49

CH2 CH

Cl ncloreto de polivinila

Polihidrocarboneto

NH C (CH2)5 NH C (CH2)5 NH C

O O O

n

náilon 6

Poliamida

C C O

OO

CH2CH2 On

polietilenotereftalato-PET

Poliéster

Figura 21 – Estrutura de alguns plásticos (In: SOLOMONS, ano, p. 470, 869 e 871)

Ao abordar as estruturas dos plásticos, também podem ser exploradas as funções

orgânicas, fazendo uma revisão sobre este tema. Além disso, as estruturas dos

polímeros refletem nas suas propriedades físicas [viscosidade, densidade,

resistência mecânica e química, estado de transição vítrea (Tg) e temperatura de

fusão cristalina], as quais dependem do tipo de interação intermolecular presente na

molécula (MANO; MENDES, 2004). Estas interações são “forças de atração, de

natureza eletrostática, que mantêm as moléculas unidas nos estados sólido e

líquido”. Dispersão de London, interações dipolo-dipolo, ligações de hidrogênio e

interação íon-dipolo são exemplos de interações intermoleculares. As primeiras são

as mais fracas, pois ocorrem em moléculas apolares onde não existe um dipolo

permanente (CURI, 2006). O polietileno é um representante deste tipo de interação

(figura 22).

50

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

H

n

Polietileno

Figura 22 – Estrutura do polietileno (In: CURI, 2006, p. 20)

Em moléculas polares as interações são um pouco mais fortes, pois nestas os

dipolos são permanentes. Já as ligações de hidrogênio são ainda mais fortes, devido

à diferença de eletronegatividade existente entre o hidrogênio e os átomos de

oxigênio, nitrogênio ou flúor (CURI, 2006). A celulose representa esta interação

(figura 23).

OO

OO

O

OHO

OH

HO OHOHHO H2C

H2C

OH

OH2C

OHOH

n

Celulose

Figura 23 – Estrutura da celulose (In: CURI, 2006, p. 20)

As interações íon-dipolo são muito mais fortes do que as ligações de hidrogênio

presentes entre os grupos OH da celulose e as moléculas de água. A interação íon-

dipolo é a responsável pela solvatação dos íons quando uma substância iônica se

dissolve em água. É também esta interação que permite ao poliacrilato de sódio

(figura 24), um polímero superabsorvente, possuir grande afinidade com água, uma

vez que este contém os íons sódio e carboxilato formando a interação íon-dipolo

(CURI, 2006).

51

O-Na+O

n

Poliacrilato de sódio

Figura 24 – Estrutura do poliacrilato de sódio (In: CURI, 2006, p. 20)

São estas diferenças entre as interações intermoleculares que explicam, por

exemplo, porque o papel e as fraldas descartáveis, compostos respectivamente por

celulose e poliacrilato de sódio, interagem com a água, absorvendo-a, enquanto que

os plásticos constituídos de moléculas de polietileno, não interagem.

O tema ainda possibilita abordar o impacto ambiental gerado pelos plásticos, o seu

tempo de degradação no meio ambiente e ainda medidas para minimizar o acúmulo

por descarte indevido, como a reciclagem, no caso dos polímeros sintéticos e a

ampliação do uso de plásticos biodegradáveis.

52

8. CONCLUSÃO

A metodologia empregada para a extração do amido da batata e posterior utilização

do mesmo na obtenção do bioplástico foi eficiente, resultando em um bioplástico

transparente, maleável e resistente.

Os bioplásticos têm se mostrado cada vez mais como uma alternativa eficaz para

minimizar o impacto ambiental gerado pelo descarte indevido de plásticos sintéticos.

Eles geram resíduos de curta duração, sendo degradados facilmente pelo solo em

poucos meses, integrando-se totalmente a natureza. Além disso, os bioplásticos

substituem e apresentam propriedades similares aos plásticos convencionais,

possuindo ainda muitas aplicações em diversas áreas.

53

REFERÊNCIAS

BLÁCIDO, Delia Rita Tapia. Filmes a base de derivados do amaranto para uso em alimentos, 2006. 351p. Tese (Doutorado) – Faculdade de Engenharia de Alimentos – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2006. CANGEMI, José Marcelo; SANTOS, Antonia Marli dos; NETO, Salvado Claro. Biodegradação: Uma Alternativa para Minimizar os Impactos Decorrentes dos Resíduos Plásticos. Química Nova na Escola, n° 22, novembro, 2005, p. 17-21. CANILHA, Larissa; SILVA, Débora D V; CARVALHO, Walter; MANCILHA, Ismael M. Aditivos alimentares produzidos por via fermentativa. Revista Analytica, n° 20, dezembro, 2005/janeiro, 2006, p. 32-41. CARMINATTI, Cristiane; MESSANE, Filipe El; BRANDÃO, Maria Cecília Zanchet; PINHEIRO, Viviane Rodrigues. Produção de Polihidroxialcanoatos (PHAs). Departamento de Engenharia Química e Engenharia de Alimentos – Universidade Federal de Santa Catarina. Disponível em: < http://www.enq.ufsc.br/labs/probio/disc_eng_bioq/trabalhos_grad/trabalhos_grad_2006-1/pha.pdf>. Acesso em: 01 jun. 2010. CEREDA, Marney Pascoli; VILPOUX, Olivier François. Tecnologia, usos e potencialidades de tuberosas amiláceas latino americanas. São Paulo: Fundação Cargill, 2004. CESAR, Maria Elda Ferreira. Biodegradação da Blenda Poli (ε-caprolactona) e Amido Adipatado, em Diferentes Granulometrias, Incubada em dois Solos. 2007. 53p. Dissertação (Mestrado) - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz – Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2007. CURI, Denise. Polímeros e interações intermoleculares. Química Nova na Escola, n° 23, maio, 2006, p. 19-22. DA RÓZ, Alessandra Luzia. Preparação e caracterização de amidos termoplásticos. 2004. 171p. Tese (Doutorado) - Instituto de Química de São Carlos – Universidade de São Paulo, São Carlos, 2004.

54

DIAS, Marcelo Vizeu; GUIMARÃES, Pedro Ivo C.; MERÇON, Fábio. Corantes naturais: extração e emprego como indicadores de pH. Química Nova na Escola, n° 17, maio, 2003, p. 27-31. FAKHOURI, Farayde Matta. Bioplásticos Flexíveis e Biodegradáveis à base de Amido e Gelatina. 2009. 249p. Tese (Doutorado) - Faculdade de Engenharia de Alimentos – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2009. FONSECA, António Pedro L O Freitas da. Adesão de Staphylococus epidermidis a biomateriais. 1998. 130p. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Engenharia – Universidade do Porto, 1998. FRANCHETTI, Sandra Mara Martins; MARCONATO, José Carlos. Polímeros Biodegradáveis – Uma Solução Parcial para Diminuir a Quantidade dos Resíduos Plásticos. Química Nova, v. 29, n°. 4, 2006, p. 811-816. GIL, M. Helena; FERREIRA, P. Polissacarídeos como Biomateriais. Química, n° 100, março, 2006, p. 72-74. HORN, Marilia Marta. Obtenção e caracterização de hidrogéis de quitosana, xantana e colágeno aniônico. 2008. 73p. Dissertação (Mestrado) – Instituto de Química de São Carlos – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008. JACOB, Ricardo Francischetti. Estudo das propriedades das blendas de amido termoplástico e látex natural, 2006. 118p. Tese (Doutorado) - Instituto de Química de São Carlos – Universidade de São Paulo, São Carlos, 2006. LARANJEIRA, Mauro C. M.; FÁVERE, Valfredo T. de. Quitosana: biopolímero funcional com potencial industrial biomédico. Química Nova, v. 32, n°. 3, 2009, p. 672-678. MARCONATO, José Carlos; FRANCHETTI, Sandra Mara Martins. Polímeros superabsorventes e as fraldas descartáveis: um material alternativo para o ensino de polímeros. Química Nova na Escola, n° 15, maio, 2002, p. 42-44. MANO, Eloísa Biasotto; MENDES, Luís Cláudio. Introdução a polímeros. 2. ed. São Paulo: Edgard Blücher, 2004.

55

PORTAL SÃO FRANCISCO. Plásticos Biodegradáveis. Disponível em: <http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/plasticos/plasticos-biodegradaveis-3.php>. Acesso em: 23 jun. 2010. PRADELLA, José Geraldo da Cruz. Biopolímeros e intermediários químicos. Centro de gestão e estudos estratégicos. Disponível em: <http://www.anbio.org.br/pdf/2/tr06_biopolimeros.pdf >. Acesso em: 10 set. 2010. RODRIGUES, Alexandre Dantas. Estudo da produção de polihidroxibutirato por Cupriavidus necator em fermentação no estado sólido. 2005. 86p. Dissertação (Mestrado) - Engenharia Química da COPPE/UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2005. ROSA, Derval S; CHUI, Queenie Siu Hang; FILHO, Rubens Pantano; AGNELLI, José Augusto M. Avaliação da Biodegradação de Poli-β-(Hidroxibutirato), Poli-β-(Hidroxibutirato-co-valerato) e Poli-ε-(caprolactona) em Solo Compostado. Polímeros: Ciência e Tecnologia, v. 12, n°. 4, 2002, p. 311-317. SANTOS, Renata Francisca da Silva. Estabilização radiolítica do polímero biodegradável poli (hidroxibutirato) (PHB). 2007. 89p. Dissertação (Mestrado) – Departamento de Energia Nuclear – Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2007. SEBIO, Leonard; CHANG, Yoon Kil. Desenvolvimento de plástico biodegradável a base de amido, gelatina, glicerol e água pelo processo de extrusão. Avaliação das Propriedades Mecânicas e de Barreira. Disponível em:<http://www.cori.rei.unicamp.br/brasiljapao3/trabalhos2005/trabalhos%20completos/desenvolvimento%20de%20plastico%20biodegradavel%20a%20base%20de%20amido.doc>. Acesso em: 06 mai. 2010. SILVA, Adalberto Manoel da; DE FÁTIMA, Ângelo de; JÚNIOR, Sérgio Souza Moreira; BRAATHEN, Per Christian. Plásticos: molde você mesmo!. Química Nova na Escola, nº 13, maio, 2001, p. 47-48. SILVA, Hélio S. R. Costa; SANTOS, Kátia, S. C. R. dos; FERREIRA, Elizabeth I. Quitosana: derivados hidrossolúveis, aplicações farmacêuticas e avanços. Química Nova, v. 29, n°. 4, 2006, p. 776-785. SOLOMONS, Graham T. W. Química Orgânica. 6. ed., Rio de Janeiro: Editora LTC – Livros técnicos e científicos S.A, 1996.

56

SOLOMONS, Graham T. W.; FRYHLE, Craig B. Organic Chemistry, 7th ed. New York: John Wiley & Sons, Inc, 2000. SOUZA, Kelley Cristina Fernandes de. O plástico como uma unidade temática de ensino: estrutura, propriedades e aplicações. 2007. 74p. Monografia – Faculdade de Educação – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2007. SPINACÉ, Márcia A. S; PAOLI, Marco Aurélio de. A Tecnologia da Reciclagem de Polímeros. Química Nova, v. 28, n° 1, 2005, p. 65-72. TEIXEIRA, Eliangela de Morais. Utilização de amido de mandioca na preparação de novos materiais termoplásticos, 2007. 201p. Tese (Doutorado) - Instituto de Química de São Carlos – Universidade de São Paulo, São Carlos, 2007. VALADARES, Eduardo de Campos. Propostas de experimentos de baixo custo centradas no aluno e na comunidade. Química Nova na Escola, nº 13, maio, 2001, p. 38-40. ZANATTA, Davi; MELLER, Gustavo T; GALVAN, Jorge M; RAQUEL, Vitor. Polímeros Biodegradáveis. Departamento de Engenharia Química e Engenharia de Alimentos – Universidade Federal de Santa Catarina. Disponível em: < http://www.enq.ufsc.br/labs/probio/disc_eng_bioq/trabalhos_grad/trabalhos_grad_2008_2/biopolimeros/biopolimeros.doc>. Acesso em: 01 jun. 2010.