Upload
lice
View
223
Download
3
Embed Size (px)
DESCRIPTION
Â
Citation preview
Depois de um evento que mudou a vida de Syndey e Adrian para sempre, Sydney luta para traçar a linha entre os ensinamentos Alquimistas e os desejos de seu coração. Então ela conhece o sedutor Marcus Finch, um ex-Alquimista que a empurra para se rebelar contra o povo que a criou. E quando Sydney fica cara a cara com um usuário de magia negra, ela finalmente começa a abraçar a misteriosa magia que tem dentro de si…
1
Eunãoconseguiarespirar.
Umamãocobriaminhabocaeoutrasacudiameuombroparamedespertardosonopesado.Milpensamentosfrenéticosforamdisparadospelaminhamenteemumpiscardeolhos.Estavaacontecendo.Meupiorpesadeloestavasetornandorealidade.Estãoaqui!Vierammepegar!Meus olhos piscaram, enlouquecidos, examinando o quarto escuro até focarem o
rostodomeupai.Pareidemedebater,totalmenteconfusa.Elemesoltouerecuouumpasso para me olhar com frieza. Eu me sentei ereta na cama, com o coração aindabatendoacelerado.—Pai?—Sydney.Vocênãoacordava.Claroqueessafoiaúnicadesculpaqueeledeuporquasemematardesusto.— Precisa se vestir e ficar mais apresentável— ele prosseguiu.— Rápido e em
silêncio.Meencontreláembaixo,noescritório.Arregaleiosolhos,masnãohesiteiemresponder.Sóhaviaumarespostaaceitável.—Sim,senhor.Claroquesim.—Vou acordar sua irmã—ele se virouemdireção àporta, e eudeiumpuloda
cama.—Zoe?—exclamei.—Paraqueprecisadela?— Shh— eleme repreendeu.—Ande logo e se apronte. E lembre-se: não faça
barulho.Nãoacordeasuamãe.Ele fechou a porta sem dizermais nenhuma palavra eme deixou lá, sem entender
nada.Opânicoquetinhacomeçadoaseacalmarvoltouacrescerdentrodemim.Paraque ele precisava de Zoe? Se estava me acordando no meio da noite, era assunto dealquimista—eelanãotinhanadaavercomisso.Tecnicamente,eutambémnãoestavamais envolvida, já que havia sido suspensa por tempo indeterminado por mau
comportamentoduranteoverão.Eseaquestão fosseessa?Ese finalmenteeuestivessesendomandadaparaumcentrodereeducaçãoeZoeiriamesubstituir?Por um momento senti o mundo girar, e me segurei na cama para manter o
equilíbrio.Centrosdereeducação.Eleseramopesadelodejovensalquimistascomoeu,lugares misteriosos para onde levavam aqueles que se aproximavam muito dosvampiros,paraqueaprendessemsobreseuserrosdeconduta.Oquerealmenteacontecialáeraummistérioqueeununcaquisdescobrir.Tinhaquasecertezadeque“reeducação”eraumjeitobonitodedizer“lavagemcerebral”.Eusótinhavistoumapessoavoltardeum lugar desses e, sinceramente, ela parecia ser apenasmetadedoque fora antes.Eracomosefossequaseumzumbi,eeunemquispensarnoquepoderiamterfeitoparaqueficassedaquelejeito.Opedidodomeupaiparaquemeapressasseecooupelaminhamenteetenteideixar
os medos de lado.Ao me lembrar de seu outro aviso, também tratei de não fazerbarulho.Minhamãetinhasonoleve.Normalmenteelanãoiriaseimportarsenosvissesaindo para atender ao chamado dos alquimistas, mas ultimamente ela não andavademonstrandomuita boa vontade comos empregadores domarido (e da filha).Desdequealquimistasirritadosmedeixaramnaportadacasadosmeuspaisnomêspassado,olugarestevetãoacolhedorquantoumpresídio.Meuspaistiveramdiscussõesterríveis,enãoraroeueaminhairmã,Zoe,acabávamossaindodefininho.Zoe.ParaqueeleprecisadaZoe?A pergunta ardia dentro demim enquanto eume apressava parame arrumar. Eu
sabia o que ele queria dizer com “apresentável”. Vestir um jeans e uma camisetaqualquer estava fora de questão. Em vez disso, coloquei uma calça social cinza e umacamisa branca bempassada.Vesti um casaquinhomais escuro, cinza carvão, por cimadelaecoloqueiumcintopretobemajustadonacintura.Umacruzdeouropequena(queeusempreusavanopescoço)foioúnicoenfeitequemedeiaotrabalhodecolocar.Já omeu cabelo era umproblema umpoucomaior.Mesmo depois de apenas duas
horas de sono, estava espetadopara todos os lados.Abaixei os fios damelhormaneiraqueconseguiepasseiumacamadagrossadespray,torcendoparaqueficassemnolugarduranteoqueestavaporvir.Aúnicamaquiagemqueusei foiumacamadadepó.Nãotivetempoparamaisnada.Oprocessotododemorouseisminutosnototal,etalvezfosseomeunovorecorde.
Dispareiescadaabaixoemsilênciocompleto,novamentecomcuidadoparanãoacordaraminhamãe.A sala estava escura,mas saía luz da porta entreaberta do escritório domeupai.Tomeiaquilocomoumconvite,empurreiaportaemeesgueireiparadentro.Umaconversaabafadacessoucomaminhachegada.Meupaimeexaminoudacabeçaaospés e demonstrou sua aprovação àminha aparência em seumelhor estilo: apenas semfazernenhumacrítica.
— Sydney — ele disse de um jeito brusco. —Acredito que já conheça DonnaStanton.A extraordinária alquimista estava parada à janela, de braços cruzados, com a
aparência tão rígida e esbelta quanto eume lembrava. Eu tinha passadomuito tempocomStantonrecentemente,apesardenãopoderdizerqueéramosexatamenteamigas—principalmentedepoisquecertasaçõesminhasacabaramnoscolocandoemumaespéciede“prisãodomiciliarvampiresca”.Mas,seelanutriaalgumressentimentoemrelaçãoamim,nãodeixoutransparecer.Elamecumprimentoucomumacenoeducadodacabeça,comumaexpressãodequemveiotratardenegócios.Havia mais três outros alquimistas ali, todos homens. Foram apresentados como
Barnes,Michaelson eHorowitz. Barnes eMichaelson tinham a idade domeu pai e deStanton.Horowitzeramaisnovo,deviaterunsvinteepoucosanos,eestavaarrumandoinstrumentos de tatuador.Todos estavam vestidos como eu, com roupas de trabalhocomuns, de cores discretas. Nosso objetivo era sempre ter boa aparência, mas semchamaratenção.HaviaséculosqueosalquimistasfaziamopapeldosHomensdePreto,muitoantesdeossereshumanossonharemcomaexistênciadevidaemoutrosmundos.Quando a luz batia no rosto deles da maneira correta, cada alquimista exibia umatatuagemdelírioidênticaàminha.Eu me senti ainda mais desconfortável. Será que aquilo era algum tipo de
interrogatório?Umaavaliaçãoparaverseaminhadecisãodeajudarumameio-vampirarenegada significavaqueasminhas lealdadeshaviammudado?Cruzeiosbraços sobreopeitoeassumiumaexpressãoneutra,torcendoparaparecertranquilaeconfiante.Seeuainda tivesse oportunidade de me defender, minha intenção era apresentar umargumentosólido.Antesquealguémpudesseproferirqualquerpalavra,Zoechegou.Elafechouaporta
atrás de si e olhou ao redor, aterrorizada, com os olhos arregalados.O escritório donosso pai era enorme (ele tinha construído um anexo à casa para ele), e abrigava osocupantescomfolga.Mas,observandoaminhairmãabsorveracena,percebiqueelasesentia sufocada e encurralada. Olhei nos olhos dela e tentei enviar uma mensagemsilenciosadesolidariedade.Deveterfuncionado,porqueelaseapressouparairatéondeeuestava,comaaparênciaumpouquinhomenosamedrontada.— Zoe — meu pai disse. Deixou o nome dela pairar no ar daquele jeito dele,
mostrando com muita clareza para nós duas que estava decepcionado. Eu adivinheiimediatamenteporquê.Elaestavausandojeanseumcasacodemoletomvelho,comocabelopresoemduas tranças fofas,masmalfeitas.Ela estaria“apresentável”de acordocomos padrões de qualquer pessoa...mas não os dele.Eu senti ela se encolher contramim e tentei parecer mais alta e mais protetora. Depois de se assegurar de que suareprovaçãotinhasidoentendida,nossopaiapresentouZoeaosoutros.Stantondirigiuaelaomesmoacenoeducadoquetinhadadoparamimesevoltouparaomeupai.
—Nãoestouentendendo,Jared—Stantondisse.—Qualdasduasvocêvaiusar?—Bom,esteéoproblema—elerespondeu.—Zoefoisolicitada...masnãotenho
certeza se ela está pronta.Aliás, sei que não está. Ela só recebeu o treinamentomaisbásico.Mas,àluzdas...experiências...recentesdeSydney...Imediatamente,aminhacabeçacomeçoua juntaraspeças.Emprimeiro lugar,eo
mais importante, aparentemente eunão seriamandada para um centrode reeducação.Não por enquanto, pelo menos.A reunião era para tratar de outro assunto. Minhadesconfiança anterior estava correta.Havia algumamissão ou tarefa em andamento, equeriam convocar Zoe porque ela, diferentemente de uma outra integrante daquelafamília,nãotinhahistóricodetraiçãoaosalquimistas.Omeupaiestavacertoemdizerque ela só tinha recebido o treinamento básico. Nosso trabalho era hereditário, e eutinha sido escolhida, anos antes, para ser a próxima alquimista da família Sage.Minhairmãmais velha,Carly, tinha sido preterida; agora já estava na faculdade e era velhademais.Emvezdela,meupaitreinouZoecomoreserva,paraocasodealgoacontecercomigo,comoumacidentedecarroouummassacredevampiros.Deiumpassoàfrente,semsaberoqueiadizeratéabriraboca.Aúnicacoisaqueeu
sabia com certeza era que não podia deixar Zoe ser sugada pelas tramoias dosalquimistas. Eu tinha mais medo de colocar a segurança dela em risco do que de sermandadaaumcentrodereeducação—eeutinhabastantemedodisso.—Converseicomumcomitêsobreasminhasaçõesdepoisdoqueaconteceu—eu
disse.— Fiquei com a impressão de que entenderam por que eu fiz as coisas que fiz.Estou totalmentequalificadapara servir damaneira que for necessária... bemmais doqueaminha irmã.Eu tenhoexperiêncianomundoreal.Conheçoeste trabalhode trásparaafrente.—Umpoucodeexperiênciademaisnomundoreal,semelembrobem—Stanton
disse,seca.—Eu,pelomenos,gostariadeescutaressas“razões”maisumavez—Barnesdisse,
traçando aspas no ar com os dedos.— Não acho nada bom atirar uma menina semtreinamentocompletoemação,mastambémachodifícilacreditarqueumapessoaqueajudouuma vampira criminosa está“totalmente qualificada para servir”—mais aspaspretensiosasnoar.Respondicomumsorrisoagradávelparamascararminhairritação.Seeumostrasse
minhasverdadeirasemoções,nãoiriameajudaremnada.—Compreendo,senhor.MasRoseHathawayacabousendoinocentadadocrimede
quefoiacusada.Portanto,tecnicamente,eunãoajudeiumacriminosa.Asminhasações,nofinal,ajudaramaencontraroverdadeiroassassino.—Podeser,masnós, incluindovocê,nãosabíamosqueelaera“inocente”naépoca
—eledisse.—Eusei—respondi.—Maseuacreditavaqueelafosse.
Barnessoltouumagargalhadadedesdém.— E este é o problema.Você deveria ter acreditado no que os alquimistas lhe
disseram,enãosairporaíaplicandoassuasprópriasteoriasmirabolantes.Nomínimo,deveriaterapresentadoasprovasquereuniuaseussuperiores.Provas?Como eu poderia explicar que não foramprovas queme levaram a ajudar
Rose,massimumasensaçãoprofundadequeeladiziaaverdade?Masissoeusabiaqueelesnuncairiamentender.Todosnósfomostreinadosparaacreditarnopioremrelaçãoa criaturas como ela. Dizer a eles que eu tinha visto verdade e honestidade nela nãoajudariaemnadaaminhacausaali.Dizeraelesqueeutinhasidochantageadaporoutrovampiropara ajudá-la seriaumaexplicaçãoaindapior.Sóhaviaumargumentoqueosalquimistastalvezfossemcapazesdecompreender.—Eu... eu não contei para ninguém porque queria ficar com todo o crédito para
mim.Eutinhaesperançasdeque,sedescobrissetudo,poderiaconseguirumapromoçãoeumatarefamelhor.Precisei usar todo o meu autocontrole para contar essa mentira com o rosto
impassível. Eu me sentia humilhada fazendo tal confissão.Até parece que a ambiçãorealmente iriame levar a comportamentos tãoextremos!Aquilo fazia comqueeumesentissedesprezívelesuperficial.Mas,comoeudesconfiava,eraalgoqueosalquimistasentenderiam.Michaelsonsoltouumagargalhadadedesdém.—Elaémalorientada,masissonãoétotalmenteinesperadoparasuaidade.Os outros homens trocaram olhares igualmente condescendentes, até o meu pai.
ApenasStantonpareceuemdúvida,mas ela tinhapresenciadomaisdodesastredoqueeles.Meupaideuumaolhadanosoutros,àesperademaiscomentários.Comoninguém
dissenada,eledeudeombros.— Se ninguém tiver objeções, então eu prefiro usar Sydney. Não que eu entenda
completamenteporqueprecisamdela.—Haviaumlevetomdeacusaçãoemsuavoz,poraindanãotersidocolocadoapardasituação.JaredSagenãogostavadeserdeixadodefora.— Eu não vejo problema em usar a garota mais velha— Barnes disse.— Mas
mantenha amais nova por perto até os outros chegarem,para o caso de alguém fazerobjeção.Fiquei imaginandoquantos“outros” iriam se juntar a nós.Oescritóriodomeupai
nãoeranenhumestádio.Alémdomais,quantomaisgentechegasse,maisprováveleraqueocasofosseimportante.Comeceiasentirarrepiosenquantopensavaemquemissãodeveria ser aquela. Eu já tinha visto os alquimistas darem conta de desastres enormescom apenas uma ou duas pessoas. Que tamanho o problema deveria ter para exigirtantaspessoasassim?
Horowitzfaloupelaprimeiravez.—Oquevocêsqueremqueeufaça?—ReforceatatuagemdeSydney—Stantondisseemtomdecisivo.—Mesmoque
elanãová,nãovai fazermalreforçaros feitiços.Nãovaiadiantarnada tatuarZoeatésabermosoquevamosfazercomela.Meus olhos se voltaram para as bochechas visivelmente nuas — e pálidas — da
minha irmã.Sim.Desdequenãohouvessenenhumlírioali,elaestaria livre.Umavezgravada a tatuagem na sua pele, não havia como voltar atrás. Você pertencia aosalquimistas.Arealidadedissosótinhameatingidomaisoumenosumanoantes.Eraalgoqueeu
não havia percebido quando criança. Desde muito pequena, meu pai me levara aacreditar piamente no caráter correto da nossa obrigação.Eu ainda acreditava que eraalgo correto,mas gostaria que ele também tivessemencionado quanto daminha vidaissoiriaconsumir.Horowitztinhaarmadoumamesadobrávelnaoutrapontadoescritório.Eledeuum
tapinhanelaelançouumsorrisosimpáticoparamim.—Subaaqui—eledisse.—Venhavalidarasuapassagemparaamissão.Barneslançouumolhardedesaprovaçãoparaele.—Porfavor.Vocêpodiamostrarumpoucoderespeitoporesteritual,David.Horowitz só deu de ombros. Eleme ajudou a deitar e, apesar de estar commedo
demais dos outros para sorrir abertamente, fiquei torcendopara que aminha gratidãoaparecessenosmeusolhos.Elesorriudenovo,comunicandoquetinhaentendido.VireiacabeçaeviquandoBarnescolocoureverentementeumapastapretaemumamesadecanto. Os outros alquimistas se reuniram ao redor e deram as mãos na frente dele.Percebi que ele devia ser o hierofante.Amaior parte do que os alquimistas faziam sebaseava na ciência,mas algumas tarefas exigiam assistência divina.Afinal de contas, anossamissão principal de proteger a humanidade partia da crença de que os vampiroseram antinaturais e contrários ao plano deDeus. É por isso que os hierofantes— osnossossacerdotes—trabalhavamladoaladocomnossoscientistas.—ÓSenhor—eleentooudeolhosfechados.—Abençoeesteselixires.Removaa
mácula domal que carregam, para que seu poder doador de vida brilhe através delescompurezaparanós,osseusservos.Ele abriu a pasta e tirouquatro ampolas pequenas, cheias deum líquido vermelho-
escuro.Rótulosqueeunãoconseguilermarcavamcadarecipiente.Comamãofirmeeolhoclínico,Barnesderramouquantidadesprecisasdecadaampolaemumfrascomaior.Depoisdeusar asquatro,pegouumpacotinhodepóeesvaziou sobreamistura.Sentium formigamentonoareoconteúdodo frasco ficoudourado.Eleentregouo frascoaHorowitz,quejáestavacomumaagulhaempunho.Quandoapartecerimonialacabou,todosrelaxaram.
Obediente,vireiparao lado,deixandoabochechaexposta.Ummomentodepois,asombradeHorowitzcaiusobremim.—Vai arder um pouco, mas não vai ser nada em comparação com a tatuagem
original.Ésóumretoque—eleexplicoucomdelicadeza.—Eusei—respondi.Játinhasidoretatuadaantes.—Obrigada.A agulha perfurouminha pele e eu tentei não me contorcer.Ardeu mesmo,mas,
como Horowitz tinha dito, não estava criando uma nova tatuagem. Simplesmenteinjetavaquantidadespequenasdetintanaminhatatuagemexistente,pararecarregarseupoder. Considerei aquilo como um bom sinal. Zoe talvez ainda não estivesse fora deperigo,mas eles certamente não se dariam ao trabalho de retocarminha tatuagem sefossemmeenviarapenasparaumcentrodereeducação.—Enquantoesperamos,seráquepodemnosdizeroqueestáacontecendo?—meu
paipediu.—Sómedisseramquevocêsprecisavamdeumaadolescente.Pelamaneiracomoelefalou,pareciaumpapeldispensável.Eusegureiumaondade
raiva.Paraele,nósnãopassávamosdisso.—Estamoscomumproblema—ouviStantondizer.Finalmente,euteriaalgumas
respostas.—ComosMoroi.Soltei um pequeno suspiro de alívio. Melhor eles do que os Strigoi. Qualquer
“problema”queosalquimistasenfrentavamsempreenvolviaumadasraçasdevampiro,eeusemprepreferiaosvivos,quenãomatam.Àsvezes,elesquasepareciamhumanos(mas eu nunca diria isso a ninguém presente ali), e viviam emorriam como nós.OsStrigoi, no entanto, eram aberrações da natureza. Vampiros assassinos, que nuncamorrem, criados ou quando um Strigoi forçava uma vítima a beber seu sangue ouquandoumMoroi tiravaavidadeoutrodepropósito,aobeberseusangue.ProblemascomosStrigoicostumavamterminarcomalguémmorto.Todosos tiposdesituaçõespossíveis sedesenrolavamemminhamenteenquantoeu
imaginavaqualproblematinhaexigidoaçãodosalquimistasnaquelanoite:umhumanoque tinha reparado em alguém com caninos compridos, um fornecedor que fugiu etornoupública suacondição,umMoroi tratadopormédicoshumanos...Esseseramostiposdeproblemasquenós,osalquimistas,maisenfrentávamos,eeutinhasidotreinadapara dar conta deles e encobri-los com facilidade.No entanto, por que precisariamde“umaadolescente”paraqualquerumadessascoisaseraummistérioparamim.—Vocêssabemqueeleselegeramsuajovemrainhanomêspassado—Barnesdisse.
Praticamente dava para vê-lo revirando os olhos. Todos os presentes soltarammurmúrios de afirmação.Claro que sabiam.Os alquimistas prestavammuita atençãoaos trâmites políticos dos Moroi. Saber o que os vampiros estavam fazendo erafundamental para mantê-los em segredo do resto da humanidade — e o resto dahumanidade a salvo deles. Essa era a nossa razão de ser: proteger nossos semelhantes.Conheçabemseuinimigoeraumditadoquenóslevávamosmuitoasério.Agarotaque
osMoroi tinhamescolhido como rainha,VasilisaDragomir, tinhadezoito anos, assimcomoeu.—Nãofiquetensa—Horowitzdissecomgentileza.Eu não tinha percebido a minha tensão.Tentei relaxar, mas pensar emVasilisa
Dragomirme fez lembrardeRoseHathaway.Pouco à vontade, pensei que talveznãodevesse ter me apressado tanto em concluir que estava fora de perigo. Felizmente,Barnes só continuou com a história, semmencionar a minha conexão indireta com ajovemrainhaeseusassociados.— Por mais chocante que isso seja para nós, é chocante na mesma medida para
algunsmembros do povo deles.Houvemuitasmanifestações contrárias e dissidências.NinguémtentouatacarameninaDragomir,masissoprovavelmentesedeveaofatodeela ser muito bem protegida. Parece que os inimigos dela encontraram um jeito deatingi-la:porintermédiodesuairmã.—Jill—deixeiescapar.Horowitzmerepreendeuportermemexido,enomesmo
instanteme arrependi de ter chamado a atenção paramim e omeu conhecimento dosMoroi.Ainda assim, uma imagem de JillianMastrano surgiu naminhamente, alta eirritantemente magra, como todos os Moroi, com grandes olhos verdes que semprepareciamnervosos.E ela tinha bonsmotivos para isso.Quando tinha quinze anos, JillhaviadescobertoserirmãilegítimadeVasilisa,oquefaziadelaaúnicaoutraintegranteda linhagem real de sua família. Ela tambémestava envolvida na confusão emquememetinoverão.—Vocês conhecem as leis deles — Stanton prosseguiu, após um momento de
silêncio constrangedor. O tom dela transmitia tudo que nós pensávamos das leis dosMoroi. Uma monarquia eletiva? Não fazia sentido, mas que outra coisa podia seresperada de seres tão antinaturais quanto os vampiros?— EVasilisa precisa ter umfamiliar para poder manter o trono. Portanto, seus inimigos resolveram que, se nãopodemremovê-ladiretamente,vãoremoversuafamília.Um calafrio percorreu minha espinha devido ao significado subentendido daquela
afirmação,emaisumavezfizumcomentáriosempensar.— Aconteceu alguma coisa com Jill? — Dessa vez, pelo menos, escolhi um
momento em que Horowitz estava recarregando a agulha, sem perigo de estragar atatuagem.Mordiolábioparameimpedirdefalarmais,imaginandoabroncanosolhosdomeu
pai.MostrarpreocupaçãoporumMoroieraaúltimacoisaqueeudevia fazer, levandoem contaminha situação incerta. Eu não era apegada a Jill,mas a ideia de que haviaalguém tentandomatar uma garota de quinze anos— amesma idade de Zoe— eraapavorante,independentementedaraçaàqualelapertencesse.—É issoquenãoestá claro—Stanton refletiu.—Ela foi atacada,disso sabemos
comcerteza,masnãotemosinformaçãosefoirealmenteferida.Detodomodo,elaestá
bemagora,masa tentativaocorreunaprópriacortedeles, indíciodequehá traidoresnoaltoescalão.Barnessoltouumagargalhadadedesdém:—Masoque sepodeesperar?Não sei comoa raçadeles conseguiu sobreviverpor
tantotemposemquesevoltassemunscontraosoutros.Ouviram-semurmúriosdeconcordância.—Sejaridículoounão,nãopodemospermitirdejeitonenhumqueentrememuma
guerracivil—Stantondisse.—AlgunsMoroifizeramprotestos,tantoquechamaramaatençãodamídiahumana.Nãopodemospermitirisso.Precisamosqueogovernodelestenhaestabilidade,eissosignificagarantirasegurançadessamenina.Talveznãopossamconfiaremsimesmos,maspodemconfiaremnós.Não adiantaria nada eu observar que os Moroi, na verdade, não confiavam nos
alquimistas.Mas,comonósnãotínhamos interesseemmataramonarcadosMoroiousuafamília,suponhoqueissonostornavamaisconfiáveisdoquemuitagente.—Precisamos fazer ameninadesaparecer—Michaelsondisse.—Pelomenos até
que os Moroi desfaçam a lei que deixa o trono deVasilisa tão vulnerável. EsconderMastrano no meio de seu próprio povo não é seguro no momento, então precisamosescondê-la entre os humanos. — Pingava desprezo das palavras dele. — Mas éimperativo que ela tambémpermaneça escondidadoshumanos.Anossa raçanãopodesaberdaexistênciadeles.—Depoisdenosconsultarmoscomosguardiões,encontramosum localque todos
acreditamosserseguroparaela,protegidotantodosMoroiquantodosStrigoi—disseStanton. — No entanto, para garantir que ela e seus acompanhantes permaneçamdespercebidos, vamos precisar ter alquimistas a postos, dedicados exclusivamente àsnecessidadesdela,paraocasodequalquercomplicaçãosurgir.Meupaidesdenhou.— Isso é um desperdício dos nossos recursos. Além disso, vai ser uma tarefa
insuportávelparaquemprecisarficarcomela.Tiveummaupressentimentoarespeitodoqueestavaporvir.—É aí que Sydney entra— Stanton falou.—Gostaríamos que ela fosse um dos
alquimistasaacompanharJilliannoesconderijo.—Oquê?—meupaiexclamou.—Nãopodeestarfalandosério.— Por que não? — O tom de Stanton era calmo e firme. — Elas têm idade
próxima;porisso,seestiveremjuntas,nãovãodespertarsuspeitas.ESydneyjáconheceamenina.Ecertamenteconvivercomelanãoserátão“insuportável”quantoseriaparaoutrosalquimistas.Amensagemsubentendidaeraaltaeclara.Eunãoestavalivredomeupassado,pelo
menosporenquanto.Horowitzfezumapausaeergueuaagulha,paramedarchancedefalar.A minha mente estava em disparada. Eu precisava dar alguma resposta. Não
queriaparecermuitoincomodadacomoplano.Euprecisavarestaurarminhareputaçãoentre os alquimistas e demonstrar a minha disposição de seguir ordens. Dito isso, eutambémnãoqueriapassaraimpressãodequemesentiaàvontadedemaisnacompanhiadevampiros,nemdeseuscorrespondentesmeio-humanos,osdampiros.— Passar tempo com um deles nunca é divertido — eu disse com cuidado,
mantendoavozdespreocupadaeinsolente.—Pormaisquevocêfaçaissováriasvezes.Masfareioquefornecessárioparamanteranós...eatodososdemais...emsegurança—nãoprecisavaexplicarque“osdemais”eramoshumanos.—Pronto,estávendosó, Jared?—Barnesparecia satisfeitocomaresposta.—A
menina sabequalé suaobrigação. Já tomamosváriasprovidênciasparaque tudocorrabem, e certamente não vamos mandá-la para lá sozinha... principalmente porque ameninaMoroitambémnãoestarásozinha.—Comoassim?—Omeupai aindanãoparecia contente comnadadaquilo, e eu
fiquei imaginandooqueestaria incomodando-omais.Eleachavamesmoque eu estariaemperigo?Ouasuapreocupaçãoeraapenascomapossibilidadedeque,seeupassassemais tempo com osMoroi, minha lealdademudaria ainda mais de lado?—Quantosdelesvirão?—Vãomandarumdampiro—Michaelsondisse.—Umdosguardiõesdeles,eeu
realmentenãovejoproblemanisso.OlocalqueescolhemosdeveestarlivredeStrigoi,mas,senãoestiver,émelhorqueeleslutemcontraaquelesmonstrosnonossolugar.Os guardiões eram dampiros com treinamento especial, que serviam de guarda-
costas.—Pronto—Horowitzdisseparamimeseafastou.—Podesesentar.Obedecieresistiàvontadedetocarnabochecha.Aúnicacoisaquesentidotrabalho
dele foi a picadada agulha,mas eu sabia queumamagia poderosa estava agindo sobremim,umamagiaquemedariaumsistemaimunológicosobre-humanoemeimpediriadefalarsobreassuntosdosvampiroscomhumanoscomuns.Tenteinãopensarnaoutraparte,arespeitodaorigemdamagia.Astatuagenseramummalnecessário.Osoutroscontinuavamempé,semprestaratençãoemmim—bom,àexceçãode
Zoe. Ela continuava com uma expressão de confusão emedo, e olhava ansiosa para aminhadireção.—Talvez haja mais um Moroi como acompanhante — Stanton prosseguiu. —
Sinceramente, não sei bem por que, mas insistiram muito para que ele ficasse comMastrano. Dissemos que, quanto menosMoroi precisássemos esconder, melhor seria,mas... bom. Eles pareceram considerar necessário, e disseram que tomariam asprovidênciasparaacomodá-lolá.AchoqueéalgumIvashkov.Irrelevante.—Ondeé“lá”?—meupaiperguntou.—Paraondequeremmandá-la?Excelentequestão.Euestavamefazendoamesmapergunta.Meuprimeirotrabalho
emtempointegralcomosalquimistashaviamemandadoparaooutroladodomundo,
até a Rússia. Se os alquimistas estavam determinados a esconder Jill, não havia comosaberqualseriaolocalremotoqueescolheriamparacolocá-la.Porummomento,ouseisonhar que poderíamos ir parar na cidade dos meus sonhos: Roma. Obras de artelendárias e comida italiana pareciam uma boa maneira de recompensar o trabalhoburocráticoeosvampiros.—PalmSprings—Barnesrespondeu.— Palm Springs? — repeti. Não era isso que eu estava esperando. Quando eu
pensava em Palm Springs, enxergava astros de cinema e campos de golfe. Não eramexatamentefériasemRoma,mastambémnãoeraoÁrtico.UmsorrisinhotortorepuxouoslábiosdeStanton.—Ficanodesertoerecebemuitosol.TotalmenteindesejávelparaosStrigoi.— Não seria indesejável para os Moroi também?— perguntei, pensando mais à
frente.OsMoroinãoeramincineradosdebaixodosolcomoosStrigoi,masaexposiçãoexcessivaaele,aindaassim,deixavaosMoroifracosedoentes.— Bom, seria — Stanton reconheceu. — Mas um pouco de desconforto vale a
segurança que o local nos proporciona.Desde que osMoroi passem amaior parte dotempo em ambientes fechados, não será um problema.Além disso, vai desestimularoutrosMoroiairematéláe...Osomdaportadeumcarroseabrindoebatendodoladodeforachamouaatenção
detodos.—Ah—disseMichaelson.—Osoutroschegaram.Vouabriraporta.Ele saiu do escritório e provavelmente se dirigiu à porta de entrada, para receber
quem havia chegado. Momentos depois, ouvi uma voz nova falando, enquantoMichaelsonvoltavaatéondenósestávamos.—Bom,meupainãopôdevir,porissomandouqueeuviessesozinho—orecém-
chegadovinhadizendo.Aportadoescritórioseabriueomeucoraçãoparou.Não,eupensei.Qualquerummenosele.—Jared—orecém-chegadodisseaoavistaromeupai.—Ébomvê-lodenovo.Meupai,quemaltinhaolhadoparamimanoitetoda,chegouasorrir.—Keith!Estivemeperguntandocomovocêestava.Osdoisseapertaramasmãoseumaondadedesgostotomoucontademim.—EsteaquiéKeithDarnell—Michaelsondisseaoapresentá-loaosoutros.— Filho deTomDarnell?—Barnes perguntou, impressionado.TomDarnell era
umlíderfamosoentreosalquimistas.—Opróprio—Keithrespondeu,alegre.Eleeraunscincoanosmaisvelho,eseu
cabelotinhaumtomdeloiromaisclarodoqueomeu.Euconheciamuitasgarotasqueo achavam bonito. Mas, eu?Achava que ele era péssimo. Era praticamente a últimapessoaqueeuesperavaverali.
—EacreditoquevocêconheçaasirmãsSage—Michaelsoncompletou.KeithvoltouseusolhosazuisprimeiroparaZoe.Haviaumadiferençamínimadeum
para o outro na cor: um olho, feito de vidro, olhava para o nada adiante e nunca semovia;ooutropiscavaparaela,enquantoseusorrisosealargava.Ele ainda consegue piscar, eu pensei, furiosa. Aquela piscadela irritante, idiota e
arrogante!Mas,bom,porquenãoconseguiria?Nós todos ficamossabendodoacidenteque ele sofrera naquele ano, acidente que tinha lhe custado um olho. Ele haviasobrevividocomumolhointacto,mas,dealgummodo,naminhacabeça,achavaqueaperdadooutroacabariacomaquelapiscadelainsuportável.—PequenaZoe!Olhesóparavocê,tãocrescida—eledisse,cheiodecarinho.Eu
nãosouumapessoaviolenta,dejeitonenhum,massentiumavontaderepentinadebaterneleporolharparaaminhairmãdaquelamaneira.Elaconseguiudarumsorriso,obviamentealiviadaporverumrostoconhecido.Mas,
quando Keith se voltou para mim, todo o charme e a simpatia desapareceram. Osentimentoeramútuo.A fúria cegae ardenteque ia crescendodentrodemimera tão avassaladoraqueeu
demoreiparaformularqualquertipodereação.—Olá,Keith—eudisse,rígida.Keith nem tentou se equiparar à minha civilidade forçada. Ele se virou
imediatamenteparaosalquimistas.—Oqueelaestáfazendoaqui?— Sabemos que você requisitou Zoe— Stanton disse com a voz firme—,mas,
depois de considerarmos, resolvemos que é melhor Sydney fazer esse papel. Aexperiênciaqueelatemsesobrepõeaqualquerpreocupaçãoquetenhamosemrelaçãoasuasações.—Não—Keith logorespondeuevoltouseuolharazuldeaçomaisumavezpara
mim. — Ela não vai me acompanhar de jeito nenhum. Não posso deixar que umaadoradoradevampirosdegeneradaestragueamissãoparatodosnós.Vamosficarcomairmãdela.
2
Algumaspessoasengoliramemseco,semdúvidaporcausadaexpressão“adoradoradevampiros”que Keith usou. Nenhuma das palavras era tão terrível assim sozinha, mas juntas...bom, elas representavam uma ideia que era praticamente um anátema a tudo que osalquimistas defendiam.Nós lutávamos para proteger os humanos dos vampiros. Estaremconluiocomessascriaturaserabasicamenteapiorcoisadequequalquerumdenóspodia ser acusado. Mesmo quando me questionaram anteriormente, os outrosalquimistastinhamsidomuitocuidadososnaescolhadaspalavras.OpalavreadodeKeithfoiquaseobsceno.Horowitzpareciairritadoemmeunomee
abriuabocaparafalar,comosepudesseretrucarcomtantaacidezquantoele.Depoisdedar umaolhada rápida emZoe e emmim, ele pareceu reconsiderar e permaneceu emsilêncio.Michaelson,noentanto,nãoconseguiusegurarummurmúrio:—Protejatodosnós—efezosinalcontraomal.Noentanto,não foramaspalavrasdeKeithquemedeixaramloucadavida (apesar
deaquilocertamentemefazersentirumcalafrio).FoiaobservaçãoqueStantondeixouescapar.NóssabemosquevocêrequisitouZoe.Keith tinha requisitadoZoeparaaquela tarefa?Aminha resoluçãodemantê-la fora
daquiloaumentouaindamais.CerreiospunhossódepensaremZoeoacompanhando.TodomundoalipodiaacharqueKeithDarnelleraalgumtipodegarotoexemplar,masele nãome enganava.Nenhumamenina—muitomenos aminha irmã—devia ficarsozinhacomele.—Keith—Stantondisse,comumleveardeadvertêncianavoz.—Possorespeitar
asuaopinião,masvocênãoestáemposiçãodefazeressaescolha.Elecorou.—PalmSpringséomeuposto!Tenhotodoodireitodedeterminarquementrano
meuterritório.—Consigoentenderporquevocêsesenteassim—meupaidisse.
Inacreditável.SeZoeoueuquestionássemosaautoridadecomoKeithtinhafeito,elenãoteriahesitadoemdizerquaiseramosnossos“direitos”—oumelhor,diriaquenãotínhamosnenhum. Keith tinha passado um verão com a minha família — jovensalquimistasàsvezesfaziamissoduranteotreinamento—,eomeupaicomeçouatratá-locomoo filhoquenuncateve.JánaquelaépocahaviadoispesoseduasmedidasentreKeithenós.Parecequeotempoeadistâncianãotinhamacabadocomisso.— Palm Springs pode ser o seu posto — Stanton disse —, mas esta missão se
originade lugaresnaorganizaçãoqueestãomuito foradeseualcance.Vocêéessencialpara a coordenação, sim;masnãoé,demaneiranenhuma, a autoridademáximanestecaso.Ao contrário demim, desconfio que Stanton devia ter batido em algumas pessoas
quando eramais nova— e acho que era exatamente isso que queria fazer comKeithnaquelemomento.Eraengraçadoelasetornarminhadefensora,jáqueeutinhacertezadequeelanãohaviaengolidoahistóriadeeuterusadoRoseparafazeraminhacarreiraavançar.Keith visivelmente se acalmou; ele teve a prudência de admitir que uma explosão
infantilnãolevariaalugarnenhum.—Eu compreendo. Só estou preocupado com o sucesso destamissão. Conheço as
duas garotas Sage.Mesmoantesdo“incidente”deSydney, já tinha sériaspreocupaçõesemrelação a ela.Mas acheiqueela tinha superado aquela fase,por issonãomedei aotrabalhodedizernadana época.Agora vejoque estava errado.Naocasião, realmenteachavaqueZoe teria sidoumaescolhamuitomelhorparaocuparaposiçãoda família.Semofensas, Jared—ele lançouparaomeupaiumsorrisoque supostamentedeveriaserencantador.Nesseínterim,iaficandocadavezmaisdifícilesconderaminhaincredulidade.—Zoetinhaonzeanosquandovocêesteveaqui—eudisse.—Comopoderiatirar
essasconclusões?—Eunãoacreditei,nemporuminstante,queeletinha“preocupações”em relação a mim naquela época. Não, apague isso. Ele provavelmente tinhapreocupaçõesnoúltimodiaquepassouconosco,quandoeuoconfronteiarespeitodeumsegredosujoqueeleguardava.Eutinhaquasecertezadequeeraesseomotivoparatudoaquilo. Ele queria me silenciar. As minhas aventuras com Rose eram apenas umadesculpaparametirardocaminho.—Zoesemprefoimaduraparaaidade—Keithdisse.—Àsvezes,agentevêlogo.— Zoe nunca viu um Strigoi, muito menos um Moroi! E provavelmente ficaria
paralisadasevisse.Issotambémvaleparaamaiorpartedosalquimistas—observei.—Qualquer pessoa que for enviada terá que aguentar ficar perto deles, eindependentementedoquevocêpensesobreasminhasmotivações,euestouacostumadaa isso. Não gosto deles, mas sei como tolerá-los. Zoe só recebeu a mais básica dasinstruções...eapenasdentrodecasa.Todomundoficarepetindoqueestaéumamissão
séria. Você quer mesmo arriscar o desfecho dela por inexperiência e receios semfundamento? — terminei, orgulhosa de mim mesma por ter permanecido calma eapresentadoumargumentotãorazoável.Barnessemexeu,mudandodeposição,poucoàvontade.—MasseKeithtinhadúvidasanosatrás...—OtreinamentodeZoeprovavelmentebastaparaqueelasevire—meupaidisse.Havia cinco minutos, ele tinha concordado que eu fosse no lugar dela! Será que
alguém tinha escutado o que eu disse? Parecia que eu tinha ficado invisível depois dachegadadeKeith.Horowitzestavaocupadolimpandoearrumandoseusinstrumentosdetatuagem,masergueuosolhosparadesdenhardaobservaçãodeBarnes.—Vocêdisseaspalavrasmágicas:“anosatrás”.Naépoca,Keithnãodeviasermuito
mais velho do que estas meninas são agora. — Horowitz fechou seu estojo deinstrumentos e se apoiou despreocupadamente na parede, com os braços cruzados.—Nãoduvidodevocê,Keith.Nãoexatamente.Masnãotenhomuitacertezasevocêpodebasearasuaopiniãoemlembrançasdequandotodosvocêseramcrianças.Pela lógica deHorowitz, ele estava dizendo que eu ainda era criança,mas nãome
incomodei. Ele havia feito seus comentários de umamaneira simples e sem esforço, eainda assim deixou Keith parecendo um idiota. Keith também percebeu isso, e ficoutodovermelho.—Concordo—disseStanton,queestavaclaramenteficandoimpaciente.—Sydney
quermuito fazer isso,epoucaspessoaspensariamassim, levandoemcontaqueelavaiterquemorarcomumavampira.Queromuito?Nãoexatamente.MaseurealmentequeriaprotegerZoeatodocusto,
erestauraraminhacredibilidade.SeissosignificavafrustrarKeithDarnellnocaminho,melhorainda...—Espere—eudisse,repassandoaspalavrasdeStanton.—Vocêdisse morarcom
umavampira?—Disse—Stanton respondeu.—Mesmoque esteja escondida, a vidadamenina
Moroi precisa ter certa semelhança com uma vida normal. Decidimos matar doiscoelhoscomumacajadadasóematriculá-laemuminternatoparticular.Issodácontadaeducaçãoe da hospedagem dela.Vamos tomar providências para que vocês dividam omesmoquarto.—Masissonãosignifica...issonãosignificaqueeuteriadefrequentaraescola?—
perguntei,sentindo-meumtantoconfusa.—Eujámeformei.Noensinomédio,pelomenos.Tinhadeixadoclaroparaomeupai,váriasvezes,que
adoraria fazer faculdade. Ele tinha deixado igualmente claro que não via necessidadedisso.—Estávendo?—Keithdisse,agarrando-seàoportunidade.—Elaévelhademais.
Zoecombinamelhoremrelaçãoàidade.
—Sydneypodepassarporalunadoúltimoano.Ela tema idadecerta.—Stantonmemediucomosolhos.—Alémdomais,vocêrecebeueducaçãoemcasa,certo?Estaseráumaexperiêncianovaparavocê.Vaipoderveroqueperdeu.—Provavelmentevocêvaiacharfácil—meupaidisse,commávontade.—Asua
educaçãofoisuperioraqualquercoisaqueelespossamoferecer.Beloautoelogiodisfarçado,pai.Eu estava com medo de demonstrar como esse acordo estava me deixando
desconfortável. A minha resolução de cuidar de Zoe e de mim mesma não tinhamudado,masascomplicaçõessóaumentavam.Repetiroensinomédio.Morarcomumavampira.Mantê-la sobumprogramadeproteçãoà testemunha.Eapesardeeu termegabadoarespeitodeficaràvontadepertodevampiros,aideiadedividiroquartocomuma—mesmoquefosseaparentementebenignacomoJill—eraenervante.Umoutrodesgostopossívelmeocorreu.—Você também seria um aluno disfarçado? — perguntei a Keith.A ideia de
emprestaranotaçõesdeaulaparaelemedeixouenjoadamaisumavez.—Claroquenão—ele respondeu,parecendo insultado.—Eu sou velhodemais.
EusereioFacilitadordeMissãodeÁreaLocal—eupodiaapostarqueeletinhaacabadodeinventaraqueletítuloalimesmo.—Aminhafunçãoéajudaracoordenaramissãoefazerrelatóriosaosnossossuperiores.Enãovoufazerissosefor elaquemestiverlá—eleolhouderostoemrostoaoproferiraúltimafrase,masnãohaviadúvidasdequemeraela.Eu.— Então, não faça— Stanton disse sem rodeios.— Sydney vai. Esta é a minha
decisão,evoudefendê-laperantequalquerautoridadesuperior, se forpreciso.Seé tãocontrário à colocação dela, sr. Darnell, providenciarei pessoalmente para que sejatransferidodePalmSpringsenãopreciselidarcomela.TodososolhossevoltaramparaKeith,eelehesitou.Percebiqueelaotinhapegado
emumaarmadilha.Euimaginavaque,comoclimaquefazialá,PalmSpringsnãodeviatermuita açãode vampiros.O trabalhodeKeith provavelmente era bem fácil; já eu,quando trabalhei em São Petersburgo, tive que remediar danos várias vezes.Aquelelugar era um porto seguro para os vampiros, assim como alguns outros lugares naEuropa e naÁsia que omeu pai tinhame levado para visitar. Sem falar de Praga. SeKeith fosse transferido, ele correria o risco de ter muito mais trabalho, além de sermandado para um localmuito pior.Afinal, apesar de Palm Springs não ser agradávelparaosvampiros,pareciaumlugarfantásticoparaoshumanos.OrostodeKeithconfirmoutudoisso.ElenãoqueriasairdePalmSprings.—Eseelaforparaláeeutivermotivosparasuspeitardetraiçãomaisumavez?— Então você a delata — Horowitz respondeu, segurando um bocejo. Ele
obviamentenãoestavanadaimpressionadocomKeith.—Damesmamaneiraquefariacomqualqueroutrapessoa.
—Enquantoisso,possoaprimorarotreinamentodeZoe—meupaidisse,quaseemtomdedesculpaparaKeith.Ficou clarodeque ladoele estava.Nãoeradomeu.NãoeratambémdodeZoe,parafalaraverdade.—Então,seencontrarfalhasemSydney,poderemossubstituí-la.EumearrepieiaopensarqueKeithiriadecidirseeutinhafalhasounão,masnemde
longeissomeincomodoutantoquantoopensamentodequeZoeaindaestariaenvolvidanaquilo.Seomeupaiiriamantê-lanareserva,entãoelaaindanãoestavaforadeperigo.Os alquimistas ainda poderiam ficar de olho nela — assim como Keith. Naquelemomentoeujureiparamimmesmaquefariatudoquefossenecessário,atédaruvasnabocadeKeith,masiriagarantirqueelenãoteriarazãonenhumaparaduvidardaminhalealdade.—Tudobem—eledisse,easpalavraspareciamcausar-lhemuitador.—Sydney
pode ir...porenquanto.Masvouficardeolhoemvocê—ele fixouoolharemmim.—Enão vou cobrir as suas falhas.Vai ser responsável pormanter aquela vampira nalinhaelevá-laparasealimentar.— Levá-la para se alimentar? — perguntei com surpresa. Claro que sim. Jill
precisariadesangue.Porummomento, todaaminhaconfiançavacilou.Era fácil falarem andar com vampiros quando não havia nenhum deles por perto. Mais fácil aindaquandonãosepensavanaquiloque faziadosvampirosoqueeleseram.Sangue.Aquelanecessidadeterríveleantinaturalquepreenchiasuaexistência.Umaideiahorrívelsurgiunaminha cabeçae sumiucomamesma rapidezque apareceu. Seráqueeuvou terquedaromeusangueparaela?Não.Issoeraridículo.Esseeraumlimitequeosalquimistasjamaisultrapassariam.Engoliemsecoetenteiescondermeubrevemomentodepânico.—Comoplanejamalimentá-la?StantonfezumsinalcomacabeçaparaKeith.— Pode explicar a ela?—Acho que estava dando a ele uma chance de se sentir
importante,umamaneiradecompensarsuaderrotaanterior.Eleentrounadela.—SóháumMoroimorandoemPalmSpringsdequetemosnotícia—Keithdisse.
Enquantofalava,repareiqueocabeloloirodesgrenhadodeleestavatodocobertodegel.Por causa disso, os fios tinham um brilho pegajoso que eu não achava nem um poucoatraente.Alémdomais,eunãoconfiavaemnenhumhomemqueusassemaisprodutosdebelezadoqueeu.—Esequer saberaminhaopinião,eleé louco.Maséum loucoinofensivo... na medida em que qualquer um deles pode ser inofensivo. É um velhorecluso que mora nos arredores da cidade.Tem alguma birra contra o governo dosMoroienão se associa anenhumdeles,demodoquenãovai contarparaninguémquevocês estão lá. E omais importante é que ele tem uma fornecedora e está disposto acompartilhá-la.Franziatesta.— Nós queremos mesmo que Jill ande com um Moroi contrário ao governo? O
motivo disso tudo émanter a estabilidade deles. Se a apresentarmos a algum rebelde,comopoderemossaberqueelenãovaitentarusá-la?—Estaéumaobservaçãoexcelente—Michaelsondisse,aparentementesurpresoao
admitirisso.Aminha intençãonãoera acabar comKeith.Meu raciocínio apenas tinha avançado
pelo caminho, localizando um problema em potencial e apontando-o.Mas, pelo olharque ele lançou na minha direção, foi como se eu estivesse tentando desacreditar ainformaçãodeledepropósitoedeixá-lomal.—Obviamente,nãovamoscontarparaelequemelaé—eledissecomumbrilho
de raivanoolhobom.— Isso seria estupidez.E elenão fazpartedenenhuma facção.Não faz parte de nada. Está convencido de que os Moroi e seus guardiões odecepcionaram,porissonãoquerterenvolvimentocomnenhumdeles.ConteiparaeleumahistóriasobrecomoafamíliadeJilltemosmesmossentimentosantissociaisqueeletem,porissoelesemostrousolidário.—Vocêestácertadetercautela,Sydney—Stantondisse.Haviaumaexpressãode
aprovação em seus olhos, como se estivesse contente por ter me defendido. Essaaprovação significava muito para mim, levando em conta que ela sempre parecia sermuitorígida.—Nãopodemosnosdeixar levarpornenhumaideiapreconcebidadeles.ApesardetambémtermospedidoinformaçõesarespeitodesteMoroiaAbeMazur,queconcordaqueeleébeminofensivo.—AbeMazur?—Michaelson desdenhou. Ele passou amão na barba grisalha.—
Sei.Tenhocertezadequeeleéespecialistaemsaberqueméinofensivoounão.Omeucoraçãodeuumsaltoaoouviraquelenome,mastenteinãodemonstrar. Não
demonstre reação, não demonstre reação, ordenei ao meu rosto. Depois de respirarfundo,pergunteicommuito,muitocuidado:—AbeMazur é oMoroi que vai acompanhar Jill? Eu o conheço...mas achei que
tinhamditoqueumIvashkovseriaseuacompanhante.SeAbeMazurfixasseresidênciaemPalmSprings,issoalterariaascoisas,emuito.Michaelsondesdenhou.—Não, nós jamais enviaríamos você para trabalhar comAbeMazur. Ele só está
ajudandocomaorganizaçãodamissão.—OquehádetãoruimarespeitodeAbeMazur?—Keithperguntou.—Nãosei
quemeleé.EuobservavaKeithcommuitaatençãoenquantofalava,embuscadealgumvestígio
dequeelequerianosenganar.Masnão.Seu rostoera só inocência,estavaobviamentecurioso. Seus olhos azuis, ou melhor, seu olho azul exibia uma rara expressão deconfusão, em contraste com sua constante arrogância de quem sabe tudo.O nome deAbe não significava nada para ele. Soltei a respiração que eu nem percebi estarsegurando.
— É um canalha— Stanton disse sem rodeios.— Ele tem informações demaissobrecoisasquenãodeviasaber.Éútil,maseunãoconfionele.Um canalha? Isso era elogio.AbeMazur era umMoroi cujo apelido na Rússia—
zmey,aserpente—resumiatudo.Abetinha feitovários favoresparamim,epreciseiretribuirdemaneirasquemecolocaramemgranderisco.UmadascoisasquepreciseifazerfoiajudarRoseafugir.Bom,elechamouderetribuição;paramimfoichantagem.Eu não tinha omenor desejo de voltar a cruzar com ele, principalmente porque tinhamedodoquemaiselepoderiapedir.Apartemaisfrustranteeraquenãohavianinguémaquemeupudesserecorrerparapedirajuda.Osmeussuperioresnãoiriamreagirbemsesoubessemque,alémdetodasasminhasoutrasatividadescomosvampiros,euaindafaziaacordosparaleloscomeles.— Nenhum deles merece confiança — meu pai observou. Ele fez o sinal dos
alquimistascontraomal,umacruznoombroesquerdotraçadacomamãodireita.— É,masMazur é pior do que amaioria—Michaelson disse. Ele disfarçou um
bocejoque serviupara lembrar a todosnósque estávamosnomeiodamadrugada.—Estamoscombinados,então?Murmúrios de concordância se fizeram ouvir. A expressão anuviada de Keith
demonstrava comoestava insatisfeitopor as coisasnão seremdo jeitoquequeria,masnãoesboçoumaisnenhumatentativadeimpedirqueeufosse.—Achoqueagoranósjápodemosirembora—eledisse.Demoreiumsegundoparaperceberque“nós”éramoseleeeu.—Agora?—perguntei,incrédula.Eledeudeombros.— Os vampiros vão chegar logo. Precisamos nos assegurar de que tudo estará
pronto para eles. Se nos revezarmos no volante, conseguiremos chegar lá amanhã àtarde.—Ótimo—eu disse, emburrada.Uma viagemde carro comKeith. Eca.Mas o
quemaiseupodiadizer?Nãotinhaescolhaemrelaçãoaissoe,mesmoquetivesse,nãoestava emposiçãode recusarnadaqueos alquimistas exigissemdemimnomomento.Naquelanoite,eutinhaavaliadotodasasminhaspossibilidades,eprecisavaacreditarqueestarcomKeitheramelhordoqueirparaumcentrodereeducação.Alémdomais,eutinha acabado de travar uma batalha árdua para provar o meu valor e poupar Zoe.Precisavacontinuardemonstrandoqueeuencarariaqualquercoisa.Omeupaimedispensoupara fazer asmalas comamesma rispidez comque tinha
meordenadoaparecerapresentávelantes.Deixeiosoutrosnoescritórioemeapresseiem silêncio até o quarto, sem deixar de pensar na minha mãe que dormia. Eu eraespecialista em fazer asmalas com rapidez e eficiência, graças às viagens-surpresa emqueomeupaihaviamelevadoduranteainfância.Aliás,euatémantinhaumanécessairecomprodutosdetoaleteprontaparapartir.Oproblemanãoestavatantonavelocidade,
esimemsaberquantacoisalevar.Aduraçãodamissãonãotinhasidoespecificada,eeufiquei com a sensação desagradável de que, na verdade, ninguém sabia. Será queestávamos falando de algumas semanas? De um ano letivo inteiro? Eu tinha ouvidoalguémmencionarqueosMoroiqueriamacabarcomaleiquecolocavaJillemperigo,masessepareciaserotipodeprocessolegalquepoderiademorarumpouco.Parapiorarascoisas,eunemsabiaoquevestirparairàescola.Aúnicacoisadequeeutinhacertezaeraqueoclimaseriaquente.Acabeicolocandonamaladezdasminhasroupasmaislevesetorciparateracessoaumalavanderia.—Sydney?EuestavacolocandoolaptopemumabolsaatiracoloquandoZoeapareceuàminha
porta.Elatinharefeitoastranças,queestavammaisbempresas,efiqueiimaginandoseaquiloeraumatentativadeimpressionaronossopai.—Oi—eudisse,dandoumsorriso.Elaentrounoquartoefechouaportaatrásde
si.Fiqueicontenteporelatervindosedespedirdemim.Eusentiriaafaltadelaequeriaqueelasoubesse...—Porque fez issocomigo?—elaperguntouantesqueeupudesse falarumaúnica
palavra.—Vocêimaginacomomesintohumilhada?Fuipegadesurpresa,efiqueimudaporalgunsmomentos.—Eu...doqueestáfalando?Euestavatentando...—Do jeito que você falou, parece que eu sou incompetente!— ela disse. Fiquei
surpresa de ver lágrimas brilhando em seus olhos.—Ficou falando sem parar que eunãotinhaexperiência,equenãopoderiadarcontadefazeroquevocêeopapaifazem!Fiqueiparecendoumaidiotanafrentedetodosaquelesalquimistas.EdoKeith.—KeithDarnellnãoéalguémquevocêprecisasepreocuparemimpressionar—eu
meapresseiemdizer,tentandocontrolararaiva.Aoverseurostoanuviado,suspireierepasseinacabeçaaconversanoescritório.AminhaintençãonãoerafazercomqueZoeparecesseruim,massimfazertodoopossívelparagarantirqueeufosseenviada,enãoela. Não fazia ideia de que ela iria se sentir assim.—Olhe, eu não estava tentandodeixarvocêenvergonhada.Estavatentandoprotegervocê.Elasoltouumarisadasecaearaivapareceuestranhavindadeumapessoatãogentil
quantoZoe.—É issomesmoquevocêpensa?Atéchegouadizerqueestavatentandoconseguir
umapromoção!Fiz uma careta. Era verdade. Eu tinha dito aquilo. Mas eu não podia exatamente
contar a verdade a ela. Nenhum humano sabia por que, de verdade, eu tinha ajudadoRose.Mentirparaaminhaprópriaespécie—eprincipalmenteparaaminha irmã—me fazia sofrer, mas eu não podia fazer nada. Como sempre, eu me senti em umaarmadilha.Porisso,desvieidoassunto.—Nunca houve a intenção de que você se tornasse alquimista—eu disse.—Há
coisasmelhoresparavocêfazer.—Porqueeunãosoutão inteligentequantovocê?—elaperguntou.—Porqueeu
nãofalocincolínguas?— Não tem nada a ver com isso — eu soltei. — Zoe, você é incrível e
provavelmentedariaumaótimaalquimista!Mas,podeacreditar,avidadealquimista...vocênãovaiquererfazerpartedisso.Aminhavontadeeradizerqueelairiaodiar.Queriadizeraelaquenuncamaisseria
responsável pelo próprio futuro, nem poderia tomar qualquer decisão sozinha. Masminhanoçãodedevermeimpediudefazerissoeeupermaneciemsilêncio.—Eu faria isso—ela disse.—Eu gostaria de nos proteger dos vampiros... se o
papaiquisesse.A voz dela vacilou um pouco, e de repente imaginei o que realmente estava
alimentandoseudesejodeseralquimista.— Se você quer ficar mais próxima do papai, encontre outro jeito.A causa dos
alquimistaspodeserboa,masdepoisquevocêsejuntaaeles,elessetornamseusdonos—eugostariadepoderexplicaraelaqualeraasensação.—Vocênãovaiquererlevarestavida.—Porquevocêquerelasóparavocê?—elaquestionou.Zoeeraalgunscentímetros
maisbaixadoqueeu,masestavatãocheiadefúriaedeterminaçãoquepareciaocuparoquartotodo.—Não!Eunão...vocênãoentende—termineipordizer.Euqueriajogarasmãos
paraoalto,exasperada,masmesegurei,comosempre.Oolharqueelalançouparamimquasemetransformouemgelo.—Ah,achoqueentendoperfeitamente—eladeumeia-voltadeumjeitoabruptoe
disparouportaafora,masconseguiusemoversemfazerbarulho.Omedoqueelatinhadonossopaisuperavaaraivaqueestavasentindopormim.Fiqueiolhandoparaolugaremqueelatinhaestadoemesentipéssima.Comopodia
pensarqueeunaverdadeestavatentandoroubartodaaglóriaeadeixarmal? Porquefoiisso exatamente que você disse, uma voz dentro de mim observou. Acho que eraverdade, mas eu nunca pensei que ela ficaria ofendida. Eu não sabia que ela tinhainteresseemseralquimista.Mesmoagora,ficavameperguntandoseoqueeladesejava,na verdade, era fazer parte de algo e provar o seu valor para o nosso pai, e nãorealmenteserescolhidaparaatarefa.Quaisquer que fossem suas razões, não era possível fazermais nada a respeito. Eu
talvez não gostasse damaneira impositiva comoos alquimistas tinham lidado comigo,mas ainda acreditava veementemente no que faziam para proteger os humanos dosvampiros.EeucomtodaacertezaacreditavaemmanterJillasalvodeseuprópriopovose isso significasse evitar uma extensa guerra civil. Era capaz de fazer esse trabalho, efariabem.EZoe...elaestarialivreparafazeroquequisessedavida.
—Porquedemoroutanto?—meupaiperguntouquandoeuvolteiaoescritório.Aminha conversa com Zoe tinha me atrasado uns minutinhos, e isso significava tempodemaisparaele.Nemtenteiresponder.—Podemosirquandovocêquiser—Keithmedisse.Ohumordeletinhamudado
enquantoeuestavanoandardecima.Eleexalavauma simpatia tão fortequeeu fiqueimaravilhadadeverqueninguémtinhapercebidoqueera falsidadepura.Parecequeeletinharesolvidoadotarumaatitudemaisagradávelemrelaçãoamim—ouparatentarimpressionarosoutros,ouparapuxaromeusacoeeunãorevelaroquesabiaarespeitodele.Noentanto,mesmocomaquelesorrisodeplásticoestampadonorosto,aposturadelecontinuavarígidaeojeitocomoelecruzavaosbraçosrevelavaparamim—apesardenãorevelaramaisninguém—queelenãoestavamais felizdoqueeupornósdoistermossidocolocadosjuntos.—Possoatédirigiramaiorpartedocaminho.— Não me importo de fazer a minha parte — eu disse, tentando não olhar
diretamenteparaseuolhodevidro.Tambémnãomesentiaconfortávelemviajarcomummotoristaquetinhaapercepçãodeprofundidadefalha.—EugostariadeconversarcomSydneyemparticularantesdesuapartida, senão
houverobjeção—meupaidisse.Ninguémapresentouobjeção;elemeconduziuatéacozinhaefechouaportaatrásde
nós. Ficamos lá em silêncio durante alguns minutos, apenas nos encarando de braçoscruzados.De repente, ousei ter esperanças de que talvez ele fosseme dizer que sentiamuitopelamaneiracomoascoisasestavamentrenósnoúltimomês,quemeperdoavaequemeamava.Sinceramente,eu ficaria feliz seodesejodele fossemedarapenasumadespedidadepaiemparticular.Ele me olhou com muita atenção, com aqueles olhos castanhos tão idênticos aos
meus.Fiqueitorcendoparaqueosmeusnuncaviessematerumaexpressãotãofria.—Nãoprecisolhedizercomoistoéimportanteparavocê,paratodosnós.Eeuquequeriaumpoucodeafeiçãopaterna.—Não,senhor—respondi.—Nãoprecisa.—Não sei sevocêpodedesfazer adesgraçaque fez se abater sobrenós ao ficardo
ladodeles,mas este éumpassonadireção certa.Nãoestrague aoportunidade.Este éum teste para você. Siga as ordens que receber. Mantenha a menina Moroi longe deproblemas—elesuspirouepassouamãonocabeloloiroescuro,queeutambémtinhaherdado.Estranho,pensei,nóstermostantascoisasemcomum...e,noentanto,sermoscompletamentediferentes.—Graças aDeusKeith está comvocê. Siga as orientaçõesdele.Elesabeoquefaz.Meucorpoficoutenso.Láestavaaqueletomdeorgulhonavozdelemaisumavez,
como se Keith fosse a melhor criatura a caminhar pela terra. Meu pai tinha seasseguradodemefornecertreinamentocompleto;masquandoKeithficouconosco,eleo levou em viagens e lhe deu lições das quais eu nunca fiz parte. Minhas irmãs e eu
ficamos furiosas. Sempre havíamos desconfiado de que o nosso pai se ressentia de terapenas filhas, e aquilo tinha servido de prova. Mas não era o ciúme que fazia o meusanguefervereosmeusdentessecerrarem.Poruminstante,eupensei: Eseeucontaraeletudoquesei?Aí,oquevaipensarde
seugarotodeouro? Masrespondiàminhaprópriaperguntaaoverosolhosendurecidosdomeupai.Ninguémiriaacreditaremmim.Emseguida, imediatamenteme lembreideoutravozedorostoamedrontadoesuplicantedeumameninaqueolhavaparamimcomolhoscastanhosarregalados. Nãoconte,Sydney.Façaoquefizer,nãoconteoqueKeithfez.Nãoconteparaninguém.Eujamaispoderiatraí-ladessamaneira.Meupaicontinuavaesperandoumaresposta.Euengoliemsecoeassenti.—Sim,senhor.Ele ergueu as sobrancelhas, claramente satisfeito, e me deu um tapinha brusco no
ombro.Issoeraomaispróximodecarinhoverdadeiroqueeleconseguiachegar,jáhaviaalgum tempo. Eu me encolhi de surpresa, e também por estar tensa com tantafrustração.—Muitobem—elesedirigiuàportadacozinhaeentãofezumapausaparavoltar
osolhosparamim.—Talvezaindahajaesperançaparavocê.
3
AviagematéPalmSpringsfoiumaagonia.
Euestavaexaustaportersidoarrancadadacamamasnãoconseguicairnosononemquando Keith tomou a direção. Havia coisas demais na minha cabeça— Zoe, minhareputação,amissãoqueseaproximava...Ospensamentosrodavamnaminhacabeça.Eusóqueriaconsertar todososproblemasdaminhavida.O fatodeKeithestardirigindonãodiminuíaemnadaaminhaansiedade.Também estava incomodada porque meu pai não tinha permitido que eu me
despedissedaminhamãe.Eleficoufalandosempararquenósdeveríamosdeixarqueeladormisse, mas eu sabia a verdade. Ele tinha medo de que ela tentasse nos deter sesoubesse que eu estava de partida. Ela tinha ficado furiosa depois da minha últimamissão:eu tinhaviajadoatéooutro ladodomundosozinha,e fui trazidadevolta semfazer a menor ideia do que ia acontecer comigo no futuro. Minha mãe achou que osalquimistastinhamfeitomauusodemim,edisseaomeupaiqueachariaótimoseelesnão quisessemmais nada comigo.Não sei se ela realmente poderia ter atrapalhado osplanosdaquelanoite,maseunãoqueriaarriscarefazerZoesermandadanomeulugar.Eu certamentenãoesperavaumadespedida calorosa e carinhosadele,mas foi estranhopartirdeixandoascoisastãomalresolvidascomaminhairmãeaminhamãe.Quando amanheceu e a paisagem do deserto de Nevada se transformou por um
instante emummar ardentevermelhoe cobre,desisti totalmentededormir e resolviapenasseguiremfrenteatodovapor.CompreiumcopãoenormedecaféemumpostodegasolinaegarantiaKeithquedirigiriaorestodocaminho.Eleabriumãodadireçãodebomgrado,mas,emvezdedormir,tambémcomprouumcaféeficouconversandocomigonas horas restantes.Ele ainda estava investindopesado em sua nova atitude deamizade, quaseme fazendo desejar nossa antipatia anterior. Estava determinada a nãolhe darmotivo para duvidar demim, por issome esforcei para sorrir e concordar damaneiraapropriada.Foiumtantodifícilfazerissoenquantocerravaosdentes.
Parte da conversa não foi assim tão ruim. Eu conseguia lidar com assuntos detrabalho,enós ainda tínhamosmuitosdetalhes a resolver.Elemedisse tudoque sabiasobre a escola, e absorvi com avidez a descrição que fez domeu futuro lar.A EscolaPreparatória Amberwood parecia ser um lugar de prestígio, e fiquei imaginando,descompromissada,que talvezpudesse tratá-la comouma faculdadedementirinha.Deacordo com os padrões dos alquimistas, eu já sabia tudo de que precisava para omeutrabalho,mas algoemmim sempre clamavapormais emais conhecimento.Tivequeaprenderamecontentarcomasminhasprópriasleiturasepesquisas,mas,aindaassim,afaculdade—ousimplesmenteestarpertodequemsabiamaisdoqueeuetinhaalgoaensinar—eraumafantasiaminhahaviamuitotempo.Comoalunadoúltimoano,euteriaoprivilégiodesairdocampus,eumadasnossas
primeirasprovidências—depoisdeobteridentidadesfalsas—seriaarrumarumcarroparamim.Saberqueeunão ficariapresaemuminternato fezascoisaspareceremumpoucomais suportáveis.Mas era óbvio que grande parte do entusiasmo deKeith paraprovidenciarmeuprópriomeiode transporte sedeviaànecessidadedegarantirqueeupoderiadarcontadequalquertarefaqueamissãoexigisse.Keithtambémesclareceuumacoisadequeeunãotinhamedadoconta—masque
deviaterpercebido.—VocêeessataldeJillvãosermatriculadascomoirmãs—eledisse.—Oquê?—Ofatodeeuteraguentadofirmeenãoterperdidoodomíniosobrea
direção serviu comomedida domeu autocontrole.Morar com uma vampira era umacoisa...masserdafamíliadela?—Porquê?—quissaber.Comminhavisãoperiférica,viquandoeledeudeombros.—Porquenão?Explicaporquevocêvaipassartantotempopertodela,eéumaboa
desculpaparavocêsduas ficaremnomesmoquarto.Normalmente,aescolanãocolocaalunos de idades diferentes no mesmo quarto, mas... bom... os “pais” de vocêsprometeramumadoaçãogenerosaqueoslevouaabrirumaexceção.Fiquei tão atordoada que nem reagi com o reflexo natural de dar um tapa nele
quando concluiu a fala com uma risadinha cheia de satisfação. Eu sabia que nós íamosmorarjuntas...mas,irmãs?Era...estranho.Não,nãoapenasisso.Erabizarro.— Isso é loucura— eu disse finalmente, ainda chocada demais para elaborar uma
respostamaiseloquente.—Ésónopapel—eledisse.Eraverdade.Mashaviaalgoemserescaladaparaopapelde parentedevampiro que
me tirava do eixo.Tinha orgulho da maneira como aprendi a me portar perto devampiros,maspartedissoderivavadacrençasólidadequeeueraumaforasteira,umaparceira de negócios diferente e afastada. Representar a irmã de Jill destruía esseraciocínio.Traziaàtonaumafamiliaridadeparaaqualeunãoestavabemcertadeestarpreparada.
—Morarcomumadelasnãodeveserassimtãoruimparavocê—Keithcomentou,batucando comos dedos na janela de um jeito que deixoumeus nervos à flor da pele.Algoem seu tomdespreocupadodemaisme fezpensarqueele estavame levandoparaumaarmadilha.—Vocêestáacostumadaaisso.—Nãodiriaqueestou—respondi,escolhendoaspalavrascomcuidado.—Passei
umasemanacomeles,nomáximo.E,naverdade,amaiorpartedotempoestivecomdampiros.— É tudo igual — ele respondeu, vago. — Se é para diferenciar, acho que os
dampiros são piores. São abominações. Não são humanos, mas também não sãototalmentevampiros.Sãoprodutosdeuniõesantinaturais.Nãorespondi imediatamentee,emvezdisso, fingiestarprofundamente interessada
na estrada à minha frente. O que ele dissera era verdade, de acordo com osensinamentos dos alquimistas. Eu tinha sido criada acreditando que ambas as raças devampiros,Moroi e Strigoi, eram obscuras e erradas. Eles precisavam de sangue parasobreviver.Quetipodepessoabebiaosanguedeoutra?Eranojento,esódepensarqueembreveeuteriaquelevarumaMoroiparasealimentarmedeixavaenjoada.Masosdampiros...aquelaeraumaquestãomaisdelicada.Ou,pelomenos,naquele
momento era paramim.Os dampiros erammeio humanos emeio vampiros, criadosemumaépocaemqueasduasraçasconviviamlivremente.Comopassardosséculos,osvampiros tinham se afastado dos humanos, e as duas raças passaram a concordar queaquelasuniõeseramtabus.Masaraçadosdampiroshaviapersistido,apesardetodasasprobabilidadescontrárias,edofatodequeosdampirosnãopodiamsereproduzirentresi.PodiamprocriarcomosMoroioucomhumanos,emuitosMoroiseapresentavamàtarefa.—Certo?—Keithperguntou.Percebiqueeleolhavafixamenteparamim,esperandoqueeuconcordassecomelena
questãodequeosdampiroseramabominações—ou talvezestivesse torcendoparaeudiscordar.Dequalquermodo,tinhaficadoemsilênciodurantetempodemais.— Certo — eu disse. Soltei a retórica padrão dos alquimistas. — Em certos
aspectos,elessãopioresdoqueosMoroi.Araçadelesnuncadeviatersurgido.—Vocêmeassustouporumsegundo—Keithdisse.Euestavadeolhonaestrada,
mas fiquei comadesconfiança chata deque ele tinhapiscadoparamim.—Achei quevocê fosse defendê-los. Eu não devia acreditar nas histórias a seu respeito. Entendototalmenteporquevocêquisjogarcomaglória...mas,cara,devetersidodifíciltentartrabalharcomumdeles.Não dava para explicar como era fácil esquecer que Rose Hathaway era dampira
depoisdepassarcertotempocomela.Atédopontodevistafísico,dampirosehumanoserampraticamenteidênticos.Roseeratãocheiadevidaedepaixãoqueàsvezespareciamaishumanadoqueeu.Rosecertamentenãoteriaaceitadoaqueletrabalhodemaneira
tãodócil,comum“sim,senhor”cheiodeafetação.Nãocomoeufiz.Rosenão tinhaaceitadonemser trancadanacadeia, comopesodogovernoMoroi
sobreela.AchantagemdeAbeMazurtinhasidoocatalisadorquemelevouaajudá-la,mas eu nunca cheguei a acreditar que Rose tinha cometido o assassinato do qual foraacusada.Essacerteza, juntocomanossaamizadefrágil, tinhamelevadoadesrespeitarasregrasdosalquimistaseajudarRoseeseunamoradodampiro,oformidávelDimitriBelikov, a enganar as autoridades. Enquanto tudo aquilo acontecia, eu observavaRosecomumaespéciedeencantamentopelasuabatalhacontraomundo.Nãotinhacomoterinvejade alguémquenãoerahumana,mas certamentepodia invejar a forçadela—esuarecusaemdesistir,independentedequalquercoisa.Mas, de novo, não dava para dizer isso a Keith. E, apesar de sua atitude bem-
humorada,eucontinuava semacreditarquederepenteelecomeçouaacharótimoqueeuparticipassedamissão.Deideombrosdeleve.—Acheiqueoriscovaliaapena.—Bom—eledisseaoperceberqueeunãoiadizermaisnada.—Dapróximavez
que você resolver se rebelar e ficar do lado de vampiros e dampiros, providencie umpoucoderetaguardaparanãosemeteremtantaconfusão.Eudesdenhei.—Nãotenhointençãodevoltaramerebelar—pelomenosissoeraverdade.ChegamosaPalmSpringsno fimda tardeecomeçamosa trabalhar imediatamente
nasnossastarefas.Àquelaaltura,eujáestavaloucaparadormir,eatéKeith—apesardesuatagarelice—pareciaumpoucoacabado.MasnósrecebemosainformaçãodequeJill e sua comitiva chegariam no dia seguinte, por isso tínhamos muito pouco tempoparadarcontadosúltimosdetalhes.Umavisita àEscolaPreparatóriaAmberwoodrevelouqueaminha“família”estava
crescendo. Parecia que o dampiro que acompanhava Jill também iria se matricular efazeropapeldenossoirmão.Keithtambémserianossoirmão.Quandoquestioneiisso,eleexplicouqueprecisávamosdealguémporpertoparafazeropapeldeguardiãolegal,para o caso de Jill ou algum de nós precisar ser tirado da escola ou receber algumprivilégio. Como os nossos pais fictícios moravam em outro estado, conseguirautorizaçõescomeleseriamais fácil.Eunãopodiaquestionara lógica,apesardeacharque ser parente dele era ainda mais repulsivo do que ter dampiros ou vampiros nafamília.Eissosignificavabastante.Mais tarde, uma carteira de motorista feita por um falsificador de boa reputação
declarava que eu agora era SydneyKatherineMelrose, daDakota do Sul. EscolhemosDakotadoSulporque achamosqueopessoal local não estavamuito acostumado a vercarteirasdemotoristadelá,eentãonãoseriacapazdenotarqualquerfalhanasnossas.Nãoqueeuachassequehaveriaalguma.Osalquimistasnãoseassociavamapessoasque
faziam trabalho de segunda linha.Também gostei da imagemdomonteRushmore nodocumento.EraumdospoucoslugaresdosEstadosUnidosqueeununcatinhavisitado.O dia terminou com a parte pela qual eu mais esperava: uma visita a uma
concessionáriadecarros.Keitheeunegociamostantoentrenósquantocomovendedor.Eu tinha sido criada para ser prática e manter minhas emoções sob controle, masadorava carros. Essa era uma das poucas coisas que eu puxara da minha mãe. Elatrabalhava como mecânica, e algumas das minhas melhores lembranças de infânciahaviamacontecidoenquantoaajudavanaoficina.Eu tinhaumaquedaespecíficapor carrosesportivose carros antigos,daqueles com
motor potente que eu sabia que prejudicavam omeio ambiente—mas,mesmo comculpa, eu os adorava. Mas eles estavam fora de questão para este trabalho. Keithargumentouqueeuprecisavadealgoemquecoubessemtodosnósemaisalgumacarga— e que não chamassemuita atenção.Mais uma vez, eu concordei com o raciocíniodele,comoumaalquimistaboazinha.—Masnãoseiporqueprecisaserumaperua—eudisseaele.Nossanegociaçãotinhanos levadoaumSubaruOutbacknovo,queatendiaàmaior
parte das exigências dele.Osmeus instintos automobilísticosmediziamque o Subaruserviria para asminhas necessidades. Seria bomde dirigir e omotor era decente parasuacategoria.Noentanto...—Estoume sentindocomo se fosseumamãe suburbana—eudisse.—Sounova
demaisparaisso.—Mãessuburbanasandamdeminivans—Keithfalou.—Enãohánadadeerrado
comosubúrbio.Desdenhei.—Masprecisamesmosermarrom?Precisava,anãoserquenósquiséssemosumcarrousado.Pormaisqueeupreferisse
algo azulouvermelho,o fatode sernovo se sobrepunha.Aminhanatureza rabugentanão gostava da ideia de dirigir o carro“de outra pessoa”. Eu queria que fosse meu—novo,limpoereluzente.Porisso,fechamosnegócio,eeu,SydneyMelrose,tornei-meaorgulhosa proprietária de uma perua marrom. Dei a ela o nome de Pingado, naesperançadequeomeuamorporcafélogosetransferisseparaocarro.Quandoterminamosnossosafazeres,Keithmedeixouefoiparaseuapartamentoem
Palm Springs. Ele ofereceu que eu passasse a noite lá, mas recusei com educação epreferiumquartodehotel,agradecidapelo fatodeosalquimistas terembonsrecursosfinanceiros.Sinceramente,euteriapagadodomeubolsoparanãoterquedormirsobomesmotetoqueKeithDarnell.Pedium jantar levenoquartoe aproveiteio tempoa sósdepoisde tantashorasno
carro comKeith. Então vesti umpijama e resolvi ligar para aminhamãe.Apesar deestar contentedeme livrarda reprovaçãodomeupaiporum tempo, sentiria faltade
estarpertodela.—Sãobonscarros—elamedissedepoisqueeucomeceianossaconversacontando
sobre a visita à concessionária.Aminhamãe sempre teveespírito livre, coisaquenãocombinava emnada comalguémcomoomeupai.Enquanto eleme ensinava equaçõesquímicas, ela me mostrava como trocar o óleo do carro. Os alquimistas não eramobrigados a se casar com outros alquimistas, mas não conseguia entender que forçasteriamatraídoosmeuspais.Talvezmeupaifossemenostensoquandoeramaisjovem.—Achoque sim—eudisse, cientedequepareciadesanimada.Aminhamãeera
umadaspoucaspessoascomquempodiaficaràvontademesmoquenãofosseperfeitaoucontenteotempointeiro.Elaeraumagrandedefensoradedeixarossentimentoslivres.—Achoqueestouincomodadaporquenãotivemuitaescolhanessamissão.—Incomodada?Euestoufuriosaporelenãotersequerfaladocomigosobreisso—
elabufou.—Nãoacreditoqueelecontrabandeouvocêparalongesemmaisnemmenos!Vocêéminhafilha,nãoumobjetoqueelepodesimplesmentemandarparaláeparacá.Por um instante, de um jeito estranho, minha mãe me lembrou Rose— as duas
possuíam uma tendência inabalável de dizer tudo que lhes passava pela cabeça. Essacapacidademepareciaestranhaeexótica,masàsvezes—quandoeupensavaarespeitoda minha própria natureza tão controlada e cuidadosamente reservada — ficavaimaginandoseaesquisitanãoeraeu.— Ele não sabia de todos os detalhes — eu disse, defendendo-o de maneira
automática.Comotemperamentodomeupai,seosdoisficassembrigados,avidaemcasaseriapéssimaparaZoe...issosemfalarnaminhamãe.Eramelhorgarantirapaz.—Nãotinhamditotudoparaele.—Às vezes euodeio essa gente—havia um rugidona vozdaminhamãe.—Às
vezesodeioeletambém.Eu não sabiamuito bem o que dizer diante disso. Eu tinha ressentimentos domeu
pai,claro,maselecontinuavasendoomeupai.Muitasescolhasdifíceisqueelefezforamporcausadosalquimistas,eeusabiaque,pormaisquemesentissesufocadadevezemquando, o trabalho dos alquimistas era importante. Os humanos tinham que serprotegidos da existência dos vampiros. Saber queos vampiros existiam criaria pânico.Piorainda:poderia levaralgunsdoshumanos fracosdeespíritoa se tornaremescravosdosStrigoiemtrocadaimortalidade,culminandonacorrupçãodasalmas.Issoaconteciacommaisfrequênciadoquegostaríamosdereconhecer.—Nãofazmal,mãe—eudisseparaacalmá-la.—Euestoubem.Nãoestoumais
metidaemconfusão,eatéestounosEstadosUnidos.Naverdade,eunãosabiaseapartedaconfusãoeraverdade,masacheiqueasegunda
informação iria acalmá-la. Stanton tinha me dito para manter a nossa localização emPalmSpringsemsegredo,masinformarquenãotínhamossaídodopaísnãofariaassimtãomal, eminhamãepensaria que eu tinhapela frenteum trabalhomais fácil doque
provavelmente era. Eu e ela conversamosmais um pouco antes de desligar, e elamedisse que tinha recebido notícias da minha irmã Carly.Tudo estava bem com ela nafaculdade, e fiquei aliviada em saber. Estava desesperada para ter notícias de Zoetambém, mas resisti e não pedi para falar com ela. Estava commedo de que, se elapegasseo telefone,eudescobrissequecontinuava irritadacomigo.Ou,piorainda,quenemqueriafalarcomigo.Fuiparaacamamesentindomelancólica;queriatersidocapazdecolocarparafora
todososmeusmedose insegurançaspara aminhamãe.Nãoera issoquemãese filhasnormais faziam? Eu sabia que ela teria gostado. Era eu que tinha dificuldades emmeabrir. Estava envolvida demais nos segredos dos alquimistas para ser uma adolescentenormal.Depoisdedormirbastante,ecomosoldamanhãentrandopela janela,eumesenti
umpoucomelhor.Tinhaumtrabalhoafazer,eterumobjetivomefezparardesentirpenademimmesma.EumelembreidequeestavafazendoaquiloporZoe,pelosMoroiepeloshumanosaomesmotempo.Assim fuicapazdeencontraromeueixoecolocarminhasinsegurançasdelado—pelomenosporora.Busquei Keith por volta do meio-dia e fomos até os arredores da cidade para
encontrarJilleoMoroireclusoquenosajudaria.Keithtinhamuitoadizerarespeitodohomem, que se chamavaClarenceDonahue. Fazia três anos que elemorava emPalmSprings,desdequeasobrinhadelehaviamorridoemLosAngeles—acontecimentoqueaparentemente tinha surtido efeito traumático sobre o homem. Keith tinha seencontrado com ele um par de vezes em trabalhos anteriores e ficava fazendo piadassobreocontatofrágilqueClarencetinhacomasanidademental.—Eletemalgunslitrosdesangueamenos,sabecomoé?—Keithdisseedeurisada
parasimesmo.Apostoqueestavahaviadiasquerendousaressapiada.Asbrincadeirasdeleeramdemaugosto—eidiotasaténãopodermais—mas,na
medidaemquenosaproximávamosdacasadeClarence,Keithiaficandomuitoquietoenervoso.Algomeocorreu.—QuantosMoroivocêjáconheceu?—pergunteiquandosaímosdaruaprincipale
entramos em uma alameda comprida e cheia de curvas. A casa parecia ter saídodiretamente de um filme gótico, quadradona e feita de tijolos cinzentos que nãocombinavamemnadacomamaiorpartedaarquiteturadePalmSpringsquetínhamosvisto.AúnicacoisaquelembravaosuldaCalifórniaeramaspalmeirasonipresentesquerodeavamacasa.Eraumacombinaçãoestranha.— O suficiente— Keith disse vagamente.— Sou capaz de suportar a presença
deles.O tom de confiança em sua voz parecia forçado. Percebi que, apesar de sua
arrogânciaemrelaçãoàqueletrabalho,seuscomentáriosarespeitodaraçadosMoroiedos dampiros, e a avaliação que fez dasminhas ações, Keith na verdade não se sentia
nada, nadinha confortável com a ideia de ficar perto de não humanos. Eracompreensível.A maior parte dos alquimistas se sentia assim. Uma grande parte donosso trabalho nem incluía interagir comomundodos vampiros—era omundodoshumanos que necessitava dos nossos cuidados. Registros tinham que ser acobertados;testemunhas,subornadas.Amaiorpartedosalquimistastinhamuitopoucocontatocomosserescentraisdonossotrabalho,eissosignificavaqueoconhecimentodamaiorpartedosalquimistassobreosvampirosvinhadehistóriaseensinamentospassadosdegeraçãoem geração nas famílias. Keith disse que conhecia Clarence, mas não mencionou terconvivido com mais nenhum outro Moroi ou dampiro — certamente nunca tinhaencaradoumgrupocomooqueestávamosprestesaconhecer.Eunãoestavamaisanimadadoqueeleparaficarpertodevampiros,maspercebique
a ideia já não me amedrontava tanto quanto no passado. Rose e seus companheirostinham feito comqueeu criasseumacouraça.Eu já tinha até visitado a corte realdosMoroi, um lugar aondepoucos alquimistas tinham ido. Se consegui sair do coraçãodacivilizaçãodeles intacta,tinhacertezadequeseriacapazdedarcontadequalquercoisaqueseencontrassenointeriordaquelacasa.Reconheçoqueseriaumpoucomaisfácilsea casa de Clarence não se parecesse tanto com uma mansão assombrada de filme deterror.Caminhamos até a porta em uma demonstração de equipe unida, vestindo trajes
formaiseelegantes.PormaisqueKeithtivessedefeitos,suaaparênciaeraboa.Eleusavacalçadesarjacomcamisabrancaegravatadesedaazul-marinho.Acamisatinhamangacurta, mas duvido que aliviasse muito o calor. Estávamos no início de setembro e atemperatura passava dos trinta graus quando saí do hotel. Estava igualmente bem-vestida, com uma saiamarrom,meia-calça e uma blusa bege commanguinha solta eestampadeflores.Quandojáeratardedemais,percebiqueestávamosmeioquecombinando.Keith ergueu a mão para bater na porta, mas ela se abriu antes que ele fizesse
qualquercoisa.Eumeencolhi,umpouconervosaapesardasgarantiasquetinhaacabadodedaramimmesma.Osujeitoqueabriuaportapareceutãosurpresoquantonós.Eleseguravaummaço
de cigarros e devia estar saindopara fumar. Fez umapausa e nos examinoude cima abaixo.—Então.Vieramaquiparameconverterouparavenderrevestimentodeparede?O comentário para nos desarmar foi suficiente para espantar minha ansiedade. O
homem que falava era um Moroi, um pouco mais velho do que eu, com cabeloscastanhos-escuros que sem dúvida haviam sido penteados com muito cuidado parapareceremdesgrenhados.DiferentedastentativasdeKeithcomumaquantidadeenormee ridícula de gel, o sujeito tinha feito de um jeito que realmente ficava bom.Assimcomo todos osMoroi, ele era pálido e alto, com um tipo físico esguio.Olhos verde-
esmeraldanosexaminavamapartirdeumrostoquepodiatersidoesculpidoporumdosartistas clássicos que eu tanto admirava. Chocada, recusei a comparação assim quesurgiunaminhamente.Afinaldecontas,eleeraumvampiro.Eraridículoadmirá-lodamesmaformaqueeufariacomumhumano.—Sr.Ivashkov—eudissecomeducação.—Ébomencontrá-lonovamente.Elefranziuatestaemeexaminoudoaltodesuaestatura.—Euconheçovocê.Deondeteconheço?—Nós...—eucomeceiadizer“nosconhecemos”,maspercebiquenãoseriabem
exato, jáquenão tínhamos sido formalmente apresentadosnaúltimavezqueovi.Eleapenas estava presente quando Stanton e eu fomos levadas à corte Moroi parainterrogatório.—Nósnoscruzamosnomêspassado.Nasuacorte.Alembrançaacendeuseusolhos.—Certo.Aalquimista—elepensouporummomento,eentãomesurpreendeuao
resgatarmeunomepelamemória.ComtudomaisqueestavaacontecendoquandoestivenacorteMoroi,nãoachavaqueminhapresençateriasidonotada.—SydneySage.Assenti, tentando não parecer aturdida por ele ter me reconhecido. Então percebi
queKeithestavaparalisadoaomeulado.Eletinhaafirmadoqueeracapazde“suportar”aproximidadecomosMoroi,masparecequeissosignificavaficarencarando,dequeixocaídoesemproferirnenhumapalavra.Comumsorrisoamávelnorosto,eudisse:—Keith,esteéAdrianIvashkov.Adrian,esteémeucolegaKeithDarnell.Adrianestendeuamão,masKeithnãoocumprimentou.Seeraporqueaindaestava
chocado ou porque simplesmente não queria tocar em um vampiro, não soube dizer.Adrianpareceunãoseincomodar.Baixouamão,pegouumisqueiroesaiuandandoparalongedacasa.Fezumsinalcomacabeçanadireçãodaporta.— Estão à espera de vocês. Podem entrar —Adrian se inclinou para perto do
ouvido de Keith e falou com voz cavernosa.— Se.Tiver. Coragem.— Cutucou oombrodeKeithesoltouumarisadamonstruosa,dotipo“muahahahaha”.Keithquasedeuumsaltoolímpico.Adriandeurisadae seguiuporumcaminhono
jardim, acendendo o cigarro enquanto caminhava. Olhei feio para ele — apesar deaquilotersidomeioengraçado—eempurreiKeithemdireçãoàporta.—Vamos—eudisse.Sentiofriodoar-condicionadonaminhapele.Paranãodizeroutracoisa,Keithpareceutervoltadoàvida.—Oque foi aquilo?—elequestionouquandoentramosna casa.—Elequaseme
atacou!Fecheiaporta.—Aquilofoivocêfazendopapeldeidiota.Eelenãofeznadacontravocê.Nãotinha
comovocêparecermaisapavorado.Elessabemquenãogostamosdeles,epelasuacaravocêestavaprestesasaircorrendo.Reconheço que até que gostei de ver Keith sendo pego de surpresa, mas a
solidariedadehumananãodeixavadúvidasquantoaoladodequemeuestava.—Não estava nada—Keith retrucou, apesar de obviamente estar envergonhado.
Caminhamosporumcorredorcompridocompisodemadeiraeacabamentotãoescuroquepareciaabsorvertodaaluz.—MeuDeus,masqualéoproblemadessagente?Ah,jásei.Elesnãosãogente.—Quieto— eu disse, um pouco chocada com a veemência da voz dele.— Eles
estãologoali.Nãoestáescutando?Encontramos portas envidraçadas pesadas no fim do corredor.O vidro era fosco e
manchado,escondendooquehaviadooutro lado,masmesmoassimdavaparaescutarummurmúriobaixodevozes.Batinaportaeespereiatéumavozmedizerparaentrar.A raiva no rosto de Keith desapareceu quando nós dois trocamos um breve olhar desolidariedade.Eraisto.Oinício.Atravessamosaporta.Quandoviquemestavapresente,tivequesegurarmeuqueixoparanãocair,comoo
deKeithtinhacaídoantes.Porummomento,nãoconseguirespirar.TinhacaçoadoKeithpor ficarcommedo
pertodevampirosedampiros;masagora,caraacaracomumgrupodeles,derepentemesentiencurralada.Asparedesameaçavamsefecharàminhavolta,eaúnicacoisaemqueconseguiapensareramcaninosesangue.Omeumundodesmoronou—enãosóporcausadotamanhodogrupo.AbeMazurestavaali.Respire,Sydney,respire ,disse amimmesma.Masnãoera fácil.Abe representava
milmedosparamim,milproblemasemquehaviamemetido.Lentamente,tudoàminhavoltasecristalizoueeuretomeiocontrole.Abenãoerao
únicopresente,afinaldecontas,emeforceiameconcentrarnosoutroseignorá-lo.Trêsoutraspessoasoacompanhavam,sendoqueduasdelaseureconhecia.Ooutro,
umMoroimaisvelhodecabelo raloegrossobigodebranco,devia sernossoanfitrião,Clarence.—Sydney!—Foi JillMastrano que falou, com os olhos brilhantes de alegria. Eu
gostava de Jill,mas não achava que tinha causado tamanha impressão namenina paraprovocartalrecepção.Jilldavaaimpressãodeestarprontaparaselevantaremumpuloemedarumabraço,erezeiparaquenãofizesseisso.EunãoprecisavaqueKeithvisseuma cena dessas. E, mais importante, não precisava que Keith fizesse um relatório arespeitodisso.Ao ladode Jill haviaumdampiroqueeuconheciadamesmamaneiraque conhecia
Adrian— quer dizer, só de vista. Eddie Castile também estava presente quando fuiinterrogadanacortereale,semelembrobem,elemesmotinhasemetidoemalgumaconfusão.Paratodososefeitos,elepareciahumano,comcorpoatléticoerostodequempassavamuitotemposobosol.Ocabelodeleeracastanhocordeareia,eseusolhosde
avelãolhavamparamimeKeithdemaneirasimpática—aindaquecautelosa.Eraassimque funcionavacomosguardiões.Estavamsemprealertas, sempredeolhonapróximaameaça.Emcertosaspectos,euconsideravaissoreconfortante.Minha inspeçãoda sala logome fez retornar aAbe, quemeobservava e parecia se
divertircomaminhatentativadescaradadeevitá-lo.Umsorrisosorrateiroseespalhouporseurosto.—Ora,srta.Sage—eledissedevagar.—Nãovaimecumprimentar?
4
Abe tinha o tipo de aparência capaz dedeixarmuita gente sem fala,mesmoquenão soubessemnadaaseurespeito.Alheio ao calor que fazia lá fora, oMoroi estava vestido de terno e gravata. Pelo
menosoternoerabranco,masaindaassimpareciaquente.Acamisaeagravataeramroxas,mesma cor da rosa enfiada no bolso.Ouro brilhava em suas orelhas e pescoço.Era de origem turca e tinhamais cor do que amaior parte dosMoroi,mas,mesmoassim,eramaispálidodoquehumanoscomoeueKeith.Naverdade,apeledeAbemefaziapensaremumapessoabronzeadaqueestivessedoentehaviabastantetempo.—Olá—eudisse,rígida.Osorrisodeleseespalhoumaispelorosto.—Comoébomvê-ladenovo.—Ésempreumprazer—minhamentirasooumecânica,maseuesperavaquefosse
melhordoquedemonstrarmedo.—Não,não—eledisse.—Oprazerétodomeu.—Seestádizendo...—eufalei.Issoodivertiuaindamais.Keith tinha ficado paralisado de novo, por isso me aproximei do velho Moroi e
estendiamão,paraquepelomenosumdenósparecessetereducação.—Vocêéosr.Donahue?SouSydneySage.Clarencesorriueapertouaminhamãocomsuamãoenrugada.Eunãomeencolhi,
apesarde sentirvontade.DiferentedamaiorpartedosMoroiqueeuconhecia,elenãoescondia os caninos ao sorrir, e isso quase fez aminha fachada desmoronar. Era outrolembretedeque,pormaishumanosqueàsvezespudessemparecer,continuavamsendovampiros.—Éumprazerconhecê-la—eledisse.—Ouvicoisasmaravilhosasaseurespeito.—Émesmo?—eupergunteicomasobrancelhaarqueada, imaginandoquemtinha
faladodemim.
Clarenceassentiucomênfase.—Sejabem-vindaàminhacasa.Éótimorecebertantasvisitas.As apresentações foram feitas para todos os outros. Eddie e Jill eram um pouco
reservados,masambossimpáticos.Keithnãotrocounenhumapertodemão,maspelomenos parou de agir como um idiota babão. Sentou-se quando lhe ofereceram umacadeira e estampou uma expressão de arrogância no rosto, que supostamente deviademonstrarsegurança.Fiqueitorcendoparaelenãonosenvergonhar.— Desculpe-me — Abe disse e se inclinou para a frente. Seus olhos escuros
brilharam.—VocêdissequeseunomeeraKeithDarnell?—Disse, sim—Keith respondeu.EleobservouAbecomcuriosidade, semdúvida
lembrando-se da conversa com os alquimistas em Salt Lake City.Apesar da fachadacorajosa queKeith tentavamostrar, eu percebia que não estava à vontade.Abe surtiaesseefeitonaspessoas.—Porquê?—Pornada—Abefalou.SeusolhossevoltaramparamimedepoisparaKeith.—
Sómepareceufamiliar,nadamais.—Omeupaifoiumhomemmuitoimportanteentreosalquimistas—Keithdisse,
cheiodesi.Eletinharelaxadoumpouco,provavelmentepensandoqueashistóriassobreAbeeramexageradas.Tolo.—Semdúvidajáouviufalardele.—Semdúvida—Abedisse.—Tenhocertezadequedeveserisso.Elefalavadeumjeitotãodescontraídoqueninguémiriadesconfiardequenãoestava
dizendo a verdade. Só eu sabia a verdadeira razão por queAbe sabia quemKeith era,mas certamentenãoqueriaque isso fosse revelado.TambémnãoqueriaqueAbedessemaisindiretas,edesconfiavaqueestavafazendoissosóparameirritar.Tenteidesviaroassunto—eobteralgumasrespostasporminhaconta.— Eu não sabia que se juntaria a nós, sr. Mazur — a doçura na minha voz se
equiparavaàdele.—Porfavor—eledisse.—SabequepodemechamardeAbe.E,infelizmente,não
vou ficar. Só vim até aqui para garantir a chegada do grupo em segurança, e paraconhecerClarencepessoalmente.— Foi muita gentileza da sua parte — eu disse em tom seco, sinceramente
duvidando que asmotivações deAbe fossem tão simples assim. Se eu tinha aprendidoalgumacoisa,eraquenadaerasimplesquandoAbeMazurestavaenvolvido.Eleeraumaespécie de manipulador de marionetes. Não queria apenas observar as coisas, mastambémcontrolá-las.Eledeuumsorrisovitorioso.—Bom,meuobjetivoésempreajudaraquelesqueprecisam.—Sei—umavoznovaderepentedisse.—Éexatamenteoquemevemàcabeça
quandopensoemvocê,meuvelho.Não achei que ninguém fosse capaz de me chocar mais do queAbe, mas estava
errada.—Rose?—Onome saiu comouma interrogação dosmeus lábios, apesar de não
haver dúvidas sobre a identidade da recém-chegada.Afinal de contas, só existia umaRoseHathaway.—Oi,Sydney—eladisse,emelançouumsorrisinhotortoaoentrarnasala.Seus
olhosescurosebrilhanteseramsimpáticos,mastambémavaliavamtudoporali,comoo olhar de Eddie. Era uma característica dos guardiões. Rose tinha mais ou menos aminhaalturaeestavavestidademaneirabemcasual,comjeanseumacamisetaregatavermelha. Mas, como sempre, havia algo de exótico e perigoso na beleza dela que adestacavadetodososoutros.Elapareciaumaflortropicalnaquelasalaescuraeabafada.Umaflorcapazdematar.Eununcatinhavistosuamãe,maserafácilperceberquepartede sua aparência vinha da ascendência turca deAbe, como o cabelo castanho-escurocomprido.Naquela luz fraca, seu cabelo parecia quase preto. Seus olhos pousaram emKeitheelaacenoucomacabeça,emumgestoeducado.—Oi,outroalquimista.Keith ficou olhando para ela com os olhos arregalados,mas se isso foi uma reação
por estarmos cada vez mais em minoria ou simplesmente uma resposta à naturezaextraordináriadeRose,eunãosaberiadizer.—E-eusouKeith—elefinalmentegaguejou.— Rose Hathaway — ela disse a ele. Os olhos dele saltaram ainda mais ao
reconhecer o nome. Ela atravessou a sala, caminhando em direção a Clarence, e eurepareiquemetadedeseuencantoerasimplesmenteamaneiracomodominavaolugaraoseuredor.Aexpressãodelasesuavizouquandoolhouparaosenhordeidade.—Deiuma olhada no perímetro da casa, como pediu. É tão segura quanto poderia ser,masachoqueafechaduradaportadosfundosprovavelmenteprecisasertrocada.—Temcerteza?—Clarenceperguntou,descrente.—Énovinhaemfolha.—Talvez fossequando a casa foi construída—umaoutra voz falou.Olheipara a
porta e percebi que havia mais alguém com Rose quando ela chegara, mas eu tinhaficadosurpresademaisparaperceber.Denovo,essaeraumacaracterísticadeRose.Elasempreconcentravatodaaatenção.—Estáenferrujadadesdequenosmudamosparacá.Orecém-chegadoeraumMoroi,oquemedeixousobressaltadamaisumavez.Isso
elevava a conta para quatroMoroi e dois dampiros. Estavame esforçandomuito paranão adotar a atitude de Keith — principalmente porque eu já conhecia alguns dospresentes—,mas era difícil me livrar da sensação de que éramos “nós” e “eles”. OsMoroienvelheciamcomooshumanos,ecalculeiqueaquelesujeitotinhamaisoumenosa minha idade, no máximo a mesma de Keith. Ele tinha traços bonitos, acho, comcabelopretoencaracoladoeolhoscinzentos.Osorrisoqueeleofereceupareciasincero,apesardehaverumalevesensaçãodedesconfortoemsuapostura.SeuolharintrigadosefixouemKeitheemmim,efiqueiimaginandoquetalvezelenãopassassemuitotempo
na companhia de humanos. A maior parte dos Moroi não passava, apesar de nãocompartilharemdosmesmosmedosquetínhamosdeles.Masatéaíanossaraçanãoosusavaparasealimentar.— Sou Lee Donahue — ele disse e estendeu a mão. Mais uma vez, Keith não
retribuiuogesto,maseuretribuíenosapresentei.LeeficouolhandodemimparaKeith,comumaexpressãomaravilhada.—Alquimistas, certo? Nunca conheci um de vocês.A tatuagem que vocês têm é
linda— ele disse ao observar o lírio dourado naminha bochecha; amesma tatuagemquetodososalquimistastinham.—Jáouvifalardoqueelaécapazdefazer.—Donahue?—Keithperguntou.EleolhoudeLeeparaClarence.—Sãoparentes?LeelançouumolhartoleranteparaClarence.—Paiefilho.Keithfranziuatesta.— Mas você não mora aqui, mora? — Fiquei surpresa por ele se ater
especificamente a isso.Talvez se incomodassecoma ideiadeque suas informaçõesnãoeramprecisas.Afinaldecontas,eleeraoalquimistadePalmSprings,eacreditavaqueClarencefosseoúnicoMoroidaregião.—Regularmente, não—Lee respondeu.—Faço faculdade emLosAngeles,mas
nestesemestresóestoucumprindomeioperíodo.Entãoquerotentarpassarmaistempocomomeupai.AbedeuumaolhadaemRose.—Estávendo?—disse.—Issoqueédedicação.Elarevirouosolhosparaele.Keith parecia ter mais perguntas a esse respeito, mas a mente de Clarence ainda
estavanaconversaanterior.—Eupodiajurarquetinhamandadotrocaraquelafechadura.—Bom,euposso trocarembreveparavocê, sequiser—Leedisse.—Nãodeve
serassimtãodifícil.—Acho que está boa.— Clarence se levantou desequilibrado.—Vou dar uma
olhada.Leeseapressouatéoladodeleelançouparanósumolhardedesculpa.—Precisaseragora?—Comopareciaquesim,eledisse:—Voucomvocê.FiqueicomaimpressãodequeClarencecostumavafazeroquelhedessenatelha,e
queLeejáestavaacostumadocomisso.AproveiteiaausênciadosDonahueparaconseguiralgumasrespostasqueestavalouca
paraobter.EumevireiparaJill.—Vocês não tiveram problemas para chegar até aqui, certo? Não houve mais
nenhum...incidente?—Nósesbarramoscomalgunsdissidentesantesdedeixaracorte—Rosedissecom
um tom perigoso na voz. — Nada que não pudéssemos controlar. De resto, nãoaconteceumaisnada.—Evaicontinuarassim—Eddiedissecomoquemfazumaconstatação.Elecruzou
osbraçossobreopeito.—Pelomenosnoquedependerdemim.Deiumaolhadanosdois,sementendernada.—Fuiinformadadequeumdampiroiriaacompanhá-la...resolverammandardois?—Rose se convidou para vir junto—Abe respondeu.— Só para garantir que o
restante de nós não deixaria passar nada. É Eddie que vai se juntar a vocês emAmberwood.Rosedesdenhou.—Eu é quedevia ficar.Devia ser a colega de quartode Jill. Semofensa, Sydney.
Precisamosdevocêporcausadadocumentação,massoueuquevouterquedarumpauemqualquerumquecausarproblemasaela.Euéquenãoiaargumentarcontraisso.—Não—Jilldissecomumaintensidadesurpreendente.Daúltimavezemqueeua
tinhavisto, ela ficaraquieta e agira comhesitação,mas seusolhos se aguçaramcomaideia de ser um fardo para Rose. —Você precisa ficar com Lissa e mantê-la emsegurança. Eu tenho Eddie e, além do mais, ninguém sabe que estou aqui. Não vaiacontecermaisnada.A expressão nos olhos de Rose era cética. Eu também desconfiava que ela não
acreditavadeverdadequealguémfossecapazdeprotegerVasilisaouJilltãobemquantoela mesma. E isso era algo importante, levando em conta que a jovem rainha estavarodeada de guarda-costas. Mas nem Rose era capaz de estar em todos os lugares aomesmo tempo, e ela deve ter precisado fazer uma escolha. Suas palavras fizeram comqueeuvoltasseaatençãomaisumavezparaJill.—O querealmente aconteceu?—perguntei.—Você se feriu?Ouvimos falar de
umataque,masnãotivemosconfirmação.Umsilênciopesadoseinstalounasala.TodosmenosKeitheeupareciamclaramente
semjeito.Bom,nóstambémestávamossemjeito—masporoutrosmotivos.— Está tudo bem comigo— Jill finalmente disse, depois de um olhar afiado de
Rose.—Houveumataque,sim,masnenhumdenósseferiu.Querdizer,nadasério.NósestávamosnomeiodeumjantardarealezaquandofomosatacadosporunsMoroi,tipo, assassinosMoroi. Eles fizeram parecer que estavam lá para atacar Lis, a rainha,masemvezdissoforamparacimademim—elahesitouebaixouosolhos,deixandoocabelo comprido e encaracolado cair para a frente.—Mas fui salva e os guardiões osencurralaram.HaviaumaenergianervosaemJilldaqualeu lembrava.Erabonitinho,e faziacom
queelaseparecessemuitocomaadolescentetímidaqueera.—Masnãoachamosquetodostenhamsidoeliminados,eéporissoqueprecisamos
ficar longeda corte—Eddie explicou.Enquantodirigia suaspalavras amimeKeith,ele irradiavaumsensodeproteçãoemrelaçãoaJill,desafiandoqualquerumaatacarameninaquetinhaaobrigaçãodemanteremsegurança.—Enãosabemosondeestãoostraidoresnasnossasprópriasfileiras.Então,atélá,vamostodosficaraqui.—Esperoquenão seja pormuito tempo—Keithdisse.Lancei a eleumolharde
advertência,eelepareceuperceberqueocomentáriopodiasertomadocomogrosseria.—Querdizer,estelugarnãodevesermuitodivertidoparavocês,comosoletudoomais.—Éseguro—Eddiedisse.—Éissoqueimporta.ClarenceeLeevoltarameninguémmaismencionouohistóricodeJillouoataque.
Até onde pai e filho sabiam, Jill, Eddie eAdrian simplesmente tinham entrado emconflitocomumMoroiimportantedarealezaeestavamexiladosali.OsdoisMoroinãosabiamquem Jill era de verdade e acreditavamque os alquimistas a estavam ajudandodevido à influênciadeAbe.Erauma teia dementiras necessária.MesmoqueClarenceestivesseemexílioautoimposto,nãopodíamosarriscarqueele(ouagoraLee,também)deixasseescaparparaalgumdesconhecidoqueairmãdarainhaestavaescondidaali.EddiedeuumaolhadanoMoroimaisvelho.—Você disse que nunca ouviu falar de nenhumStrigoi que tivesse vindo até aqui,
certo?OsolhosdeClarenceficaramsemfocoporuminstantequandoseuspensamentosse
voltaramparadentro.—Não...masexistemcoisaspioresdoqueosStrigoi...Leesoltouumgemido.—Pai,porfavor.Nãomevenhacomisso.RoseeEddieselevantaramemuminstante,efoiumasurpresanãoteremsacadoas
armas.—Doqueestáfalando?—Rosequissaber.—Queoutrosperigosexistemporaí?—Eddieperguntoucomumtomdeaçona
voz.Leeestavarealmentecorado.—Nãoénada...porfavor.Éumdelíriodele,maisnada.—Delírio?—Clarencequestionoueapertouosolhosparaofilho.—Amorteda
sua prima foi delírio? O fato de as pessoas no alto escalão na corte permitirem queTamaranãofossevingadaéumdelírio?MinhamenteretrocedeuaumaconversaquetinhatidocomKeithnocarro.Lancei
paraClarenceumolharcomaintençãodeserreconfortante.—Tamaraerasuasobrinha,certo?Oqueaconteceucomela?—Elafoiassassinada—elerespondeu.Fezumapausadramática.—Porcaçadores
devampiros.
—Desculpe,porquem?—perguntei,certadequetinhaescutadomal.— Caçadores de vampiros— Clarence repetiu.Todos os presentes pareciam tão
surpresosquantoeu,oquefoiumpequenoalívio.AtéumpoucodaferocidadedeRoseedeEddieseaplacou.—Ah,nãovãoencontrarissoemlugarnenhum;nemmesmonosseusrelatórios.EstávamosmorandoemLosAngelesquandoelafoipega.Euinformeiosguardiões,exigiqueosresponsáveisfossemcaçados.Sabeoquedisseram?—Eleolhouemvolta,umporum.—Sabem?—Não— Jill respondeu acanhada.—O que disseram?—Lee suspirou; parecia
arrasado.Clarencesoltouumagargalhadadedesdém.—Disseramqueissonãoexistia.Quenãohaviaevidênciaparafundamentaraminha
alegação. Determinaram que os Strigoi a tinham matado e que ninguém podia fazernada,queeudeviaficaragradecidoporelanãotersidotransformada.Olhei para Keith, que mais uma vez pareceu surpreso com a história.
Aparentemente,elenãoconheciaClarencetãobemquantoalegavaconhecer.Keithsabiaqueosenhordeidadehaviatidoumproblemaenvolvendoasobrinha,masnãoconheciaa extensão da questão. Keith deu de ombros levemente na minha direção, parecendodizer:Estávendo?Oqueeudisse?Élouco.— Os guardiões são muito detalhistas — Eddie disse. Seu tom e suas palavras
claramente tinhamsidoescolhidoscomcuidado,esforçando-separanãoofender.Ele sesentouaoladodeJill.—Tenhocertezadequetiveramseusmotivosparachegaraessaconclusão.—Motivos?—Clarenceindagou.—Seconsiderar“negação”e“viverumamentira”
comomotivos,entãoachoquepodeser.Simplesmentenãoqueremaceitarofatodequeexistemcaçadoresdevampirosporaí.Masmedigaumacoisa.SeaminhaTamara foimortapelosStrigoi,porquecortaramagargantadela?Foicortadacomumúnicogolpedelâmina—elefezumgestoparaimitarogolpeembaixodoqueixo.Jillestremeceueseencolheunacadeira.Rose,EddieeAbetambémpareceramatordoados,coisaquemedeixousurpresa,porquenãoacheiqueexistianadacapazdeimpressionaraquelegrupo.—Porquenãousaramoscaninos?Assimémaisfácilparabeber.—Eufizessaobservaçãoaosguardiões,eelesdisseramque,comometadedosangue
tinha sido bebido, obviamente tinha sido um Strigoi.Mas eu disse que tinha sido umcaçadordevampirosequeeletinhafeito parecerquebeberamosanguedela.OsStrigoinãoteriammotivoparausarumafaca.Rosecomeçouafalar,fezumapausaerecomeçou.—Éestranho—eladissecomcalma.Fiqueicomasensaçãodequeprovavelmente
ela estava pronta para dizer como essa teoria da conspiração era ridícula,mas pensoumelhor.—Mastenhocertezadequeháoutraexplicação,sr.Donahue.Fiquei imaginando semencionarqueos alquimistasnão tinhamnenhumregistrode
caçadores de vampiros— pelo menos não emmuitos séculos— iria ajudar ou não.Keithderepentelevouaconversaparaumadireçãoinesperada.EleolhoubemnosolhosdeClarence.—PodeparecerestranhoparaumStrigoi,maselesfazemváriascoisasterríveissem
motivo.Seidissoporexperiênciaprópria.Meuestômagosecontraiu.Ai,não.TodososolhossevoltaramparaKeith.— Hein?—Abe perguntou e passou os dedos pelo cavanhaque preto.—O que
aconteceu?Keithapontouparaseuolhodevidro.—FuiatacadoporumStrigoinocomeçodoano.Elesmeespancaramearrancaram
meuolho.Entãomelargaram.Eddiefranziuatesta.— Sem beber sangue nem matar? Isso émesmo estranho. Não parece ser o
comportamentonormaldeumStrigoi.—NãoseiseépossívelesperarqueumStrigoifaçaalgo“normal”—Abeobservou.
Eucerreiosdentes,desejandoqueelenãoenvolvesseKeithnaquilo. Porfavor,nãofaçaperguntassobreoolho,eupensei. Deixeparalá.Claroqueerapedirdemais,porqueaperguntaseguintedeAbefoi:—Sóarrancaramumolho?Nãotentarampegarosdois?— Com licença—me levantei antes que Keith pudesse responder. Eu não podia
ficarsentadanomeiodaquelaconversa,escutandoenquantoAbetentavafisgarKeith,sópela diversão de me atormentar. Eu precisava fugir dali. — Eu... eu não estou mesentindomuitobem.Voutomarumpoucodear.—Claro,claro—Clarencedisse,comcaradequemtambémqueriaselevantar.—
Devopediràcriadaquetragaumaáguaparavocê?Possotocaracampainha...—Não,não—respondiemedesloqueiemdireçãoàporta.—Eusó...sópreciso
deumminuto.SaíapressadaeouviAbedizer:—Masquesensibilidadetãodelicada.Elanãodeviaserassimtãofrágil,levandoem
conta a profissão que tem. Mas você, rapaz, parece capaz de suportar uma conversasobresangue...A massagem no ego aplicada por Abe funcionou, e Keith começou a contar
exatamenteahistóriaqueeu,comtodaacerteza,nãoqueriaouvir.Volteipelocorredorescuro e saí da casa.O ar fresco foi bem-vindo, apesar de estar uns cinco grausmaisquente de onde eu tinha saído. Respirei fundo parame recompor e fiz força parameacalmar.Tudo iria ficar bem.Abe iria embora logo. Keith voltaria para seu próprioapartamento.Eu iria aAmberwood com Jill eEddie, que realmentenãopareciam sermáscompanhias,levandoemcontaasoutrasopçõesquepodiamtersidomandadasparaseremmeuscolegas.Semnenhumdestinoespecíficoemmente, resolvidarumavoltaporalie avaliar a
casadeClarence—que,naverdade,estavamaisparaumaamplapropriedade.Escolhiumdosladosdaconstruçãoefuidandoavoltadeumjeitomeioaleatório,admirandootrabalhorebuscadonoexteriordacasa.ApesardeestartotalmentedeslocadanomeiodapaisagemdosuldaCalifórnia,eraimpressionante.Eusempreadoreiestudararquitetura—umassuntoquemeupaiconsideravainútil—eestavaimpressionadacomoentorno.Dei uma olhada ao redor e percebi que o terreno não era igual às áreas por ondetínhamospassadoatéchegarali.Umaboapartedasterrasdaregiãohaviaganhadoumatonalidademarrom,por causado verão eda falta de chuva;masClarenceobviamentetinhagastadoumafortunaparamantertodaaquelaextensaáreaverdejante.Árvoresquenãoeramnativas—lindasecheiasdeflores—tinhamsidoarranjadascomesmeroparaformarcaminhosepátios.Depoisdeváriosminutosdepasseiopelanatureza,deimeia-voltae retorneiparaa
partedafrentedacasa.Pareiquandoouvialguém.—Onde você está?— uma voz perguntou.Abe.Que ótimo. Ele estava àminha
procura.—Aqui— mal ouviAdrian responder.A voz dele veio do outro lado da casa,
oposto ao que eu estava. Ouvi alguém atravessar a entrada de cascalho e os passospararemaoalcançaraportadetrás,ondeAbeestava,segundoosmeuscálculos.Mordio lábio e fiquei onde estava, escondidapela casa.Estavaquase commedode
respirar. Com a audição que tinham, os Moroi eram capazes de captar o menor dosruídos.—Vocênãoiavoltarláparadentronunca?—Abeperguntouemtomdesurpresa.—Nãoseiparaquê—foiarespostalacônicadeAdrian.—Poreducação.Vocêpodiaterfeitooesforçodeseapresentaraosalquimistas.—Elesnãoqueremserapresentadosamim.Principalmenteorapaz—haviauma
risada oculta na voz deAdrian.—Você tinha que ter visto a cara dele quando noscruzamosàporta.Queriaestarusandoumacapa.Agarotapelomenos temumpoucodecoragem.—Ainda assim,eles têmpapel fundamentalna suaestadia aqui.Enade Jill.Você
sabecomoéimportantequeelafiqueemsegurança.—É,euentendo.Eentendoporqueelaestáaqui.Oquenãoentendoéporque eu
estouaqui.—Nãoentende?—Abeperguntou.—AcheiquetinhaficadoóbviotantoparaJill
quantoparavocê.Precisaficarpertodela.Elesfizeramumapausa.—Éissoquetodomundodiz...maseuaindanãoseibemseénecessário.Nãoacho
queelaprecisedemimporperto,independentementedoqueRoseeLissadigam.—Vocêtemalgumacoisamelhorparafazer?—Essanãoéaquestão.—Adrianpareciaaborrecido,eeufiqueifelizporAbenão
teresseefeitosósobremim.—Essaéexatamenteaquestão—Abedisse.—Vocêestavaseacabandonacorte,
afogando-seempenadesimesmo,entreoutrascoisas.Aqui,temaoportunidadedeserútil.—Avocê.—Asimesmotambém.Estaéumaoportunidadeparavocê fazeralgumacoisada
vida.—Mas você nãome diz o que eu devo fazer!—Adrian respondeu, irritado.—
TirandoJill,qualéestagrandetarefaquevocêtemparamim?—Ouça.Ouçaeobserve.—EueracapazdeenxergarclaramenteAbepassandoa
mão no queixo enquanto falava, como se fosse o idealizador da missão.— Observetodos:Clarence,Lee,osalquimistas,JilleEddie.Presteatençãoacadapalavra,acadadetalhe,emeinformedepois.Tudopodeserútil.—Nãoseiseissoesclareceascoisas.—Vocêtempotencial,Adrian.Potencialdemaisparaserdesperdiçado.Sintomuito
peloque aconteceucomRose,masvocêprecisa seguir em frente.Talvez as coisasnãofaçamsentidoagora,masfarãomaistarde.Confieemmim.Eu quase me senti mal porAdrian.Abe também tinha me dito para confiar nele
certavez,evejasócomoascoisasterminaram.EspereiosdoisMoroivoltaremparadentrodacasaedepoisdeumminutotambém
entrei.Nasala,Keithaindamantinhasuaposturaarrogante,maspareceualiviadoaomever de volta. Discutimos mais detalhes e elaboramos uma programação para ofornecimentodesangue,queeraminharesponsabilidade,jáseriaminharesponsabilidadelevar Jill (e Eddie, porque ele não queria tirar os olhos dela) de carro para a casa deClarence,edepoisdevoltaparaaescola.—Comovocêvaisealimentar?—pergunteiaAdrian.Depoisdeouviraconversa
delecomAbe,estavamaiscuriosadoquenuncaparasaberqualseriaopapeldeleaqui.Adrian estava encostado na parede, do outro lado da sala.Os braços dele estavam
cruzadosemumaposiçãodefensivaehaviaumarigidezemsuaposturaquecontrastavacomosorrisopreguiçosoqueeletinhanoslábios.Eunãotinhacerteza,maselepareciasedistanciaromáximopossíveldeRosedepropósito.—Vouapenascaminharatéofimdocorredor.Aoverminhaexpressãoconfusa,Clarenceexplicou:—Adrian vai ficar aqui comigo.Vai ser bom termais alguém entre estas velhas
paredes.—Ah—eu disse. Paramimmesma, balbuciei:— Isso está parecendo O jardim
secreto.—Hã?—Adrianperguntoueinclinouacabeçanaminhadireção.Estremeci.Aaudiçãodeleseraboamesmo.
—Nada.Sóestavapensandoemumlivroqueeuli.—Ah—Adriandissecomdesdém,edesviouoolhar.Otomemsuavozparecia
condenartodososlivrosexistentes.—Não se esqueça demim—Lee disse e sorriu para o pai.—Eu disse que vou
passarmaistempoporaqui.—TalvezojovemAdrianaquiomantenhalongedosproblemas,então—Clarence
declarou.Ninguémfeznenhumcomentário,masviosamigosdeAdriantrocaremolharesde
surpresa.Keithnãoparecianemdelongetãoapavoradoquantoestavaquandochegamos,mas
havia umnovo ar de impaciência e irritação nele que eu não estava entendendomuitobem.—Bom—eledissedepoisdelimparagarganta.—Precisoirparacasaecuidarde
algunsassuntosdetrabalho.Ecomovocêvaimedarumacarona,Sydney...Eledeixouaspalavraspairandonoareolhouparamimcheiodeintenções.Peloque
eutinhadescoberto,estavamaisconvencidadoquenuncadequePalmSpringseraaáreacom menos atividade de vampiros da história. Sinceramente, não consegui entenderquais“assuntos de trabalho” Keith teria para cuidar,mas nós teríamos que ir emboracedooutarde.EddieeJillforampegarsuasbagagenseRoseaproveitouaoportunidadeparamepuxardelado.—Como você está?— ela perguntou em voz baixa. Seu sorriso era sincero.—
Andei preocupada com você desde... bom, você sabe. Ninguém quis me dizer o quetinhaacontecidocomvocê.Na última vez em que a vira, eu estava sendo mantida como prisioneira por
guardiões em um hotel, enquanto os Moroi tentavam descobrir a extensão da minhaparticipaçãonafugadeRose.—Nocomeço,enfrenteialgumasdificuldades—respondi.—Masjápassou.O que era uma pequena mentira entre amigas? Rose era tão forte que eu não
suportavaa ideiadeparecerfracanafrentedela.Nãoqueriaqueelasoubessequeaindavivia com medo dos alquimistas, forçada a fazer o que fosse necessário para cairnovamentenasgraçasdeles.—Quebom—eladisse.—Tinhammeditoqueeraparaasuairmãestaraqui.Essas palavras me lembraram mais uma vez que Zoe poderia me substituir a
qualquermomento.—Foiummal-entendido.Roseassentiu.—Eume sinto um poucomelhor com você aqui,mas,mesmo assim, é difícil...
ainda sinto que deveria proteger Jill,mas também preciso proteger Lissa. Eles achamqueJilléoalvomaisfácil,mas,mesmoassim,vãotentaratacarLissa.—Seuturbilhão
interior transpareceu em seus olhos escuros e senti uma pontada de pena. Eraexatamenteissoqueeutinhadificuldadeemexplicarparaosoutrosalquimistas:comoosdampirosevampirosàsvezeseramcapazesdeparecertãohumanos.—Temsidoumaloucura, sabe?DesdequeLissa assumiuo trono.Acheique finalmente iapoder relaxarcomDimitri—o sorriso dela se ampliou.—Eu devia saber que nunca as coisas sãosimplesconosco.PassamosotempotodocuidandodeLissaeJill.—Jill vai ficarbem.Enquantoosdissidentesnão souberemqueelaestá aqui, tudo
vaiserfácil.Atémesmoentediante.Elacontinuavasorrindo,masumpoucomenos.—Esperoquesim.Ah,sevocêsoubesseoqueaconteceu...—Aexpressãodelase
modificouquandofoiacometidaporalgumalembrança.Iapedirparaquemecontasseoque tinha ocorrido, mas ela mudou de assunto antes que eu pudesse fazer isso. —EstamostrabalhandoparamodificaraleiquedizqueLissaprecisaterumfamiliarparacontinuar sendo rainha.Quando isso estiver feito, tanto ela quanto Jill estarão fora deperigo. Mas isso também significa que aqueles querendo acabar com Jill estão maisenlouquecidosdoquenunca,porquesabemquetêmpoucotempo.—Quanto tempo?—perguntei.—Quanto tempo vai demorar paramodificar a
lei?— Não sei. Alguns meses, talvez? Assuntos legais... bom, não são a minha
especialidade. Não os detalhes, pelomenos— ela fez uma leve careta e voltou à suarigidez de batalha de sempre. Jogou o cabelo por cima de um ombro.—Mas genteloucaquerendoprejudicarmeusamigos?Essa éaminhaespecialidadee,podeacreditar,seidarcontadisso.—Eumelembro—respondi.Foiestranho.ConsideravaRoseumadaspessoasmais
fortesqueeuconhecia,maspareciaprecisardomeuapoio.—Olhe,váfazeroquevocêfazmelhor,eeufareiomeutrabalho.VoumeassegurardequeJillpassedespercebida.Vocêsatiraramdelásemqueninguémsoubesse.Agoraelaestáforadoradar.—Esperoquesim—Roserepetiucomavozsombria.—Porque,casocontrário,
esteseugrupinhoaquinãovaiteramenorchancecontraaquelesrebeldesenlouquecidos.
5
E,comisso,Rosemedeixouparasedespedirdosoutros.Suas palavrasme deixaram gelada. Pormeio segundo, tive vontade de exigir uma
reavaliação da missão. Queria insistir para que enviassem pelo menos meia dúzia deguardiões para ficarem ao lado de Jill, para o caso de osMoroi que a tinham atacadovoltarem. Logo descartei a ideia. Um dos elementos principais para aquele plano darcerto era não atrair atenção. Desde que seu paradeiro ficasse em segredo, Jill estariamais segura se conseguisse se misturar ao ambiente. Um esquadrão de guardiõesdificilmente passaria despercebido, e poderia chamar a atenção da comunidade Moroimaisampla.Estávamosfazendoacoisacerta.Enquantoninguémsoubessequeestávamosali,tudoficariabem.Claroque,seeurepetisseissoparamimmesmamuitasvezes,setornariarealidade.Mas...porqueRosehavia feito aquela afirmação agourenta?Porque apresençade
Eddie era necessária? Será que a missão realmente tinha sido promovida de“inconveniente”a“comriscodevida”?SabendocomoJilleRoseerampróximas,eumeioqueesperavaqueadespedidadelas
fossemais lacrimosa.Emvezdisso, Jill tevemaisdificuldadededizer adeus aAdrian.Elasejogouemcimadeleemumabraçogigante,agarrandosuacamisacomosdedos.AmeninaMoroi tinha permanecido em silêncio durante a maior parte da visita, apenasobservandoorestodenóscomaqueleseujeitocuriosoenervoso.OmáximoquetinhafaladofoiquandoLeetentarafazê-laabrirabocaantes.Suademonstraçãodedespedidatambémpareceu surpreenderAdrian,masaexpressão irritadaqueestampavanorostodeulugaraalgoparecidocomafeto,enquantodavatapinhassemjeitonoombrodela.—Estátudobem,minhapequenaChavedeCadeia.Agentevaiseverdenovologo.—Euqueriaquevocêviesseconosco—eladissecomavozbemfraca.Eledeuumsorrisotortoparaela.— Não queria, não.Talvez o restante deles possa passar despercebido por essa
brincadeiradevoltaàsaulas,maseuseriaexpulsonoprimeirodia.Pelomenosaquinãovoupodercorromperninguém...amenosqueessealguémsejaClarenceeseuarmáriodebebidas.—Euvoumantercontato—Jillprometeu.Osorrisodeleestremeceueele lançouparaelaumolharcompreensivo,aomesmo
temposurpresoedesconsolado.—Eutambém.Aquelepequenomomentoentreosdoisme surpreendeu.Comanatureza leviana e
arrogante dele e a timidez tão doce dela, eram uma dupla de amigos improvável.Noentanto,haviaóbviaafeiçãoentreosdois.Nãoparecia serdenaturezaromântica,masguardavauma intensidadedefinitivaqueeunão conseguia entendermuitobem.EumelembreidaconversaquetinhaescutadoentreAbeeAdrian,emqueAbehaviaditoqueera imperativoAdrianpermanecerpertodeJill.Algomediziaquehaviaumaconexãoentre isso e o que eu testemunhava naquele momento, mas não tinha informaçõessuficientesparajuntarospontos.Arquiveiaquelemistérioparamaistarde.Foi triste me despedir de Rose, mas fiquei contente pela nossa separação também
significarqueeuiriameseparardeAbeeKeith.Abefoiemboracomsuasobservaçõestipicamente enigmáticas, e um olhar de sabichão para cima de mim, que não gosteinada.Deixei Keith na casa dele antes de seguir paraAmberwood, e ele disse quememanteria a par dos acontecimentos. Sinceramente, fiquei imaginando que informaçõesexatamente ele iriamepassar, já que eu faria amaior parte do trabalho.Até onde eusabia, ele realmente não tinha nada para fazer além de matar o tempo em seuapartamento no centro. Mesmo assim, valeu a pena me livrar dele. Nunca achei queficariatãocontenteemsairdecarrocomumavampiraeumdampiro.Jill parecia perturbada no trajeto até a escola. Eddie, ao pressentir isso, tentou
acalmá-la.Olhouparaeladobancodafrente.—VamosvoltaraverAdrianlogo.—Eusei—elarespondeucomumsuspiro.—Enãovaiacontecermaisnadaderuim.Vocêestáasalvo.Elesnãovãoconseguir
encontrarvocêaqui.—Tambémseidisso—elafalou.— Foi ruim mesmo?— perguntei.— O ataque, quero dizer. Ninguém precisa
entraremdetalhes.Decantodeolho,viEddiedarumaolhadaemJill.—Foibemruim—elerespondeu,sombrio.—Masagoratodomundoestábem,e
éissoqueimporta.Nenhum deles disse mais nada, e eu logo entendi que não dariam mais nenhum
detalhe. Eles agiam como se o ataque não tivesse sido grave, que já tinha ficado nopassado,mas agiamdemaneira evasiva demais.Algo que eu não sabia o que era—e
que provavelmente os alquimistas desconheciam — tinha acontecido; algo que elesestavamseesforçandoparamanteremsegredo.Aminha intuiçãodiziaque issoestavarelacionadoàpresençadeAdrianali.Ele tinhamencionadouma“razãoóbvia”para tervindo a Palm Springs, e entãoAbe deu a entender que havia algum outro motivocamuflado, que o próprioAdrian não sabia qual era.Aquilo erameio irritante, tendoemvistaqueeuestavaarriscandoaminhavidaali.Comoelesachavamqueeupoderiafazeromeutrabalhodemaneiraadequadaseinsistiamnaqueleemaranhadodesegredos?Osalquimistas lidavamcomsegredosotempotodo,eapesardomeupassadocheio
depercalços eu ainda era alquimista o bastante parame ressentir quandomenegavamrespostas.Felizmente,eutambémeraalquimistaosuficienteparacaçarasrespostasporcontaprópria.Claro que eu sabia que interrogar Jill e Eddie naquelemomento não iame levar a
lugarnenhum.Euprecisavasersimpáticaepermitirquesesentissemàvontadecomigo.Elespodiamnãoalimentaracrençasecretadequeoshumanossãocriaturasdastrevas,masissonãosignificavaquejáconfiavamemmim.Eunãoosculpava.Afinaldecontas,semdúvidaeutambémnãoconfiavaneles.A noite já estava bem avançada quando chegamos a Amberwood. Keith e eu
tínhamos dado uma olhada na escola antes, mas Eddie e Jill a absorveram com olhosarregalados.Namesmamedidaemque a casadeClarence tinhaparecido antiquada, aescolaerareluzenteemoderna,formadaporconstruçõesdeestuquetípicasdaCalifórniaedaarquiteturadosudoestedosEstadosUnidos.Palmeirasseespalhavamaolongodosgramados verdejantes. Com a luz que ia desaparecendo no céu, ainda havia alunosandando em duplas e em grupinhos pelos diversos caminhos que serpenteavam peloterreno.Tínhamospassadoemumfast-foodnocaminhoparacomprarcomida,mascomojá
eratarde,JilleeuteríamosdenosseparardeEddie.Comdezoitoanos,portercarroe“permissão dos pais”, eu tinha muita liberdade de ir e vir, mas precisava respeitar ohorário de recolher como todos os outros alunos quando anoitecia. Eddie ficouincomodado em abandonar Jill, principalmente quando se deu conta de como estarialongedela.OterrenoextensodaescolaAmberwooderadivididoemtrêscampi: leste,oestee
central.Ocampuslesteabrigavaoalojamentodasmeninas;ooeste,odosmeninos.Ocentral,queeraomaiordostrês,eraondeselocalizavamasinstalaçõesadministrativas,acadêmicas e de recreação. Eles ficavam a mais ou menos um quilômetro e meio dedistânciaumdooutro,ehaviaumônibusquecirculavaduranteodiaparainterligarostrês, apesar de ir caminhando ser sempre uma opção para quem conseguia aguentar ocalor.Eddiejádeviasaberquenãopoderiaficarnoalojamentofeminino,masachoque,se
as coisas fossem do jeito que ele queria, dormiria ao pé da cama de Jill, como um
cachorrofiel.Observarosdoiseraumacoisafantástica.EununcatinhavistoumpardeguardiãoeMoroiantes.QuandoestivecomRoseeDimitri,elesestavamsimplesmentetentandosobreviver—alémdomais,osdoiseramdampiros.Agoraeufinalmenteeracapazdeverosistemaemaçãoecompreendiaporqueotreinamentodosdampiroseratão severo. Para cumprir esse papel tão vigilante, tinha que ser assim. Até nosmomentosmais rotineiros, Eddie sempre estava de olho no entorno.Nada escapava àsuaatenção.— O sistema de segurança aqui é bom? — ele questionou ao entrarmos no
alojamentodasmeninas.Elehavia feitoquestãode checá-lo antesde ir paraodele.Osaguão estava tranquilo àquela hora, e só havia um par de alunas por lá, carregandocaixas emalas em umamudança de última hora. Lançaram olhares curiosos para nósquando passamos, e eu tive que aplacar o nó de ansiedade que ia crescendo dentro demim.Levandoemcontatodasasoutrascoisasqueestavamacontecendonaminhavida,o lado social do ensinomédionãodeviame assustar—mas assustava.Os alquimistasnãotratavamdesseassuntoemsuaslições.—Asegurançaéboaobastante—eudisseemvozbaixaaomevoltarparaEddie.
— O pessoal aqui não está preocupado com assassinos vampiros, mas com certezadesejammanter seus alunos em segurança. Eu sei que há seguranças que patrulham oterrenoànoite.Eddie olhou feio para a responsável pelo alojamento, uma mulher corpulenta de
cabelogrisalhoquedesuamesasupervisionavaosaguão.—Você achaque ela temalgum tipode treinamento emcombate?Achaque seria
capazdedominarumintruso?—Apostoqueela seriacapazdedominarumsujeitoque tentasseentrarnoquarto
deumamenina—Jill brincou.Ela apoiou amãonobraçodele,oque lhe causouumsobressalto.—Relaxe.Estelugaréseguro.Em alguns aspectos, a preocupação de Eddie era reconfortante e me fazia sentir
segura.Aomesmotempo,eunãopodiadeixardemeperguntarmaisumavez porqueele se mostrava tão cauteloso. Ele estava presente no ataque que ninguém queriacomentar. Ele conhecia as ameaças porque as tinha visto com seus próprios olhos. Seestavaassimtãopreocupado,mesmoagora,entãoqualeraotamanhodoperigoquenósainda corríamos? Os alquimistas tinham me levado a acreditar que, uma vez queestivéssemos escondidos emAmberwood, tudo ficaria beme seria apenas umaquestãodeesperar.EutinhatidoamesmaconversacomRoseetentaraconvencê-ladamesmacoisa.AatitudedeEddiediziaocontrário.OdormitórioqueeuiadividircomJillerapequenoparaosmeuspadrões.Quando
criança, sempre tive um quarto sómeu, e nunca preciseime preocupar em dividir oespaço ou o armário. Durante o tempo que passei em São Petersburgo, tive até umapartamento só paramim. Pelomenos a nossa única janela tinha uma vista completa
paraopátiodos fundosdoalojamento.Tudodentrodoquartoerareluzenteearejado,com móveis com acabamento de bordo que pareciam novos: camas, escrivaninhas epenteadeiras.Eunãotinhaexperiênciacomquartosdedormitório—maspudededuzir,pela reação de Jill, que tínhamos conseguido um ótimo. Ela jurou que o quarto eramaiordoqueoqueelatinhanaescoladosMoroi,aEscolaSãoVladimir,eestavabemfeliz.Fiquei imaginandoseelanãohaviaachadooquartoassimtãogrande sóporquenós
tínhamostãopoucacoisaparacolocarnele.Nenhumadenóstinhapodidotrazermuitacoisa com a partida tão apressada.Amobília conferia a tudo uma sensação calorosa edourada,massemdecoraçãopessoalououtrostoquesoquartopoderiatersaídodiretodeumcatálogo.Aresponsávelpeloalojamento,a sra.Weathers, tinha ficadosurpresaaonosvercomtãopoucabagagem.Asmeninasqueeu tinhavistochegandovinhamabordo de carros estourando de tão cheios. Fiquei torcendo para que não parecêssemossuspeitas.Jill fez umapausa para olhar pela janela enquanto nos preparávamos para ir para a
cama.—Aquiétãoseco—elamurmurou,maisparasimesmadoqueparamim.—O
gramadoébemverde,masémuitoestranhonãosentiraumidadenoar—eladeuumaolhadaacanhadaparamim.—Soudotipoquetemdomíniosobreaágua.—Eusei—respondi,semsabermuitobemoquedizer.Elaestavasereferindoaos
dons mágicos que todos os Moroi possuíam. Cada Moroi era especializado em umelemento,quepodiaserumdosquatroelementosfísicos—terra,ar,águaefogo—ouoelementomais intangívelepsíquicodoespírito.Quaseninguémtrabalhavacomesteúltimo, mas eu tinha ouvido dizer que Adrian era um dos poucos. Se Jill tivessedificuldade para acessar sua magia, eu não ficaria desapontada. Assim como bebersangue,amagiaeraumadasatividadesdosvampirosqueserviamcomoumlembreteejogavamnaminha cara que essas pessoas comquemeudava risada e fazia as refeiçõesnãoeramhumanas.SeeuaindanãoestivesseexaustapelaviagemcomKeith,provavelmenteteriaficado
acordada,agoniadaporestardormindonomesmoquartoqueumavampira.Quandoeuconheci Rose, nem conseguia ficar no mesmo recinto que ela. Nossa fuga conjuntacaótica haviamudado isso um pouco e, no fim, eu consegui baixar a guarda.Naqueleinstante,umpoucodesseantigomedoretornounaescuridão. Vampira,vampira .Comfirmeza, disse a mim mesma que era apenas Jill. Eu não tinha nada com que mepreocupar.Nofinal,ocansaçovenceuomedoeeudormi.Quando amanhã chegou, nãopude evitarme examinar no espelhopara ver se não
havianenhumamarcademordidaououtrosinaldedanocausadoporvampiro.Quandoterminei, imediatamenteme senti uma boba. Com a dificuldade que Jill estava tendopara acordar naquele momento, não fazia sentido imaginar que ela me atacaria
sorrateiranomeiodanoite.Do jeitoque as coisas estavam, tivedificuldadede fazê-lasairpelaportaatempodaorientação.Elaestavatontadesono,comosolhosvermelhos,e ficava reclamando de dor de cabeça. Imaginei que não precisariame preocupar comataquesnoturnosdaminhacolegadequarto.Aindaassim,elaconseguiuselevantaresearrumar.Deixamosoalojamentoefomos
ao encontro de Eddie, que estava reunido commais dois alunos novos, perto de umafontenocampuscentral.Amaiorpartedos alunosparecia serdoprimeiroano,comoJill.SóunspoucostinhamamesmaidadequeeueEddie,efiqueisurpresadevercomoele conversava com facilidade com quem estava ao seu redor. Por causa docomportamentovigilantequetinhademonstradonodiaanterior,acheiqueestariacomaguardamaisarmada,queseriamenoscapazdeestabelecerrelaçõessociaisnormais—mas ele se encaixou na turma direitinho. Porém, enquanto caminhávamos, eu o viobservandooentornodisfarçadamente.Elepodiaestarfazendopapeldealuno—comoeu—,mascontinuavasendoumdampiro.Elenosdiziaqueaindanão tinhaconhecido seucolegadequartoquandoumsujeito
sorridentecomolhosbemazuisecabelomeioruivoveionanossadireção.—Oi—eledisse.Deperto,davaparaverummontedesardas.—VocêéEddie
Melrose?—Sousim...—Eddietinhaseviradoparatráscomeficiênciadeguardião,pronto
para dar conta de uma ameaça em potencial. Quando viu o recém-chegado, ficoutotalmente imóvel. Seus olhos se arregalaramumpouco e o que quer que pretendessedizerseesvaiu.— Eu sou Micah Vallence. Sou seu colega de quarto. E também seu líder de
orientação—eleapontoucomacabeçaparaosoutrosalunosqueconversavamesorriu.—Mas eu queria vir aqui primeiro dar um oi, já que só cheguei hoje de manhã.Aminhamãeesticounossasfériasomáximopossível.Eddie ainda estava olhando fixamente para Micah, como se tivesse visto um
fantasma.Também avaliei o garoto, imaginando o que eu estava deixando passar. Elemeparecianormal. Seja lá oque estivesse acontecendo, Jill tambémnão estava apar,porque olhava paraMicah com uma expressão absolutamente normal, sem alarme ousurpresa.— Prazer em conhecer — Eddie finalmente disse. — Estas são as minhas, hã,
irmãs...JilleSydney.Micah deu um sorriso para cada uma de nós. Ele tinha um jeito queme deixava à
vontade, e deu para perceber por que tinha sido escalado como líder de orientação.FiqueimeperguntandoporqueEddieestavaagindodeummodotãoestranho.—Emquesérievocêsestão?—elenosperguntou.—Últimoano—eudisse.Aomelembrardahistóriadonossodisfarce,completei:
—Eddieeeusomosgêmeos.
—Euestounoprimeiroano—Jillfalou.Ao olhar para a nossa “família”, percebi que Eddie e eu provavelmente podíamos
passar por irmãos combastante facilidade.Nossos tons de pele eram semelhantes e, éclaro, havia o fato de nós dois parecermos humanos.Ainda que umhumano não fosseolhar para Jill e necessariamente dizer “vampira!”, ela possuía certos traços que adestacavam como fora do comum. Seu tipo físico e sua palidez criavam um contrastemarcanteemrelaçãoamimeEddie.SeMicahreparounaausênciadesemelhançafamiliar,nãodeixoutransparecer.—Estánervosaparacomeçaroensinomédio?—eleperguntouaJill.Elasacudiuacabeçaeretribuiuosorriso.—Estouprontaparaodesafio.—Bom,seprecisardealgumacoisa,ésófalar—eledisse.—Agoraeuprecisodar
inícioaessafesta.Falocomvocêsmaistarde.Pelamaneiracomoaatençãodeleseconcentrouunicamentenela, ficouóbvioqueo
“se precisar de alguma coisa” era dirigido a Jill, e as bochechas vermelhas delamostravamqueela tambémtinhapercebido.Ela sorriueolhounosolhosdeleporummomento, então desviou o olhar, acanhada. Eu teria achado aquilo fofo, se nãorepresentasseumaperspectivapreocupante.Jillestavaemumaescolacheiadehumanos.Namorar um deles estava completamente fora de questão, e garotos comoMicah nãopodiamser incentivados.Eddiepareceunão se incomodarcomocomentário,mas issoporqueaindapareciaincomodadocomMicahdemaneirageral.Micah pediu ao nosso grupo que prestasse atenção e deu início à orientação.A
primeira parte era simplesmente uma volta pelo terreno. Fomos andando atrás dele,entrando e saindo de ambientes com ar-condicionado, enquanto ele nos mostrava osprédios importantes.Ele explicouo sistemadeônibus enós embarcamosemumdelespara ir ao campus oeste, que era quase uma imagem espelhada do leste. Meninos emeninas tinham permissão de entrar no alojamento uns dos outros, com certaslimitações, e ele explicou essas regras também, causando alguns resmungos.Ao melembrar da temível sra.Weathers, fiquei com pena de qualquer garoto que tentassedesrespeitarasregrasdoalojamento.Ambosalojamentostinhamseuprópriorefeitório,quequalqueralunopodiausar,e
nossogrupodeorientaçãoalmoçouenquantoaindaestávamosnocampusoeste.Micahsejuntouaosmeus“irmãos”eamim,dando-seaotrabalhodeconversarcomcadaumdenós. Eddie respondeu com educação, assentindo e fazendo perguntas, mas seus olhosaindapareciamvagamente assombrados. Jill nocomeço ficou acanhada,mas assimqueMicahcomeçouabrincarcomela,acabousesoltando.Queengraçado,pensei.AfacilidadedeadaptaçãodeEddieeJilleramaiordoquea
minha. Eles estavam em um ambiente estranho, com uma raça diferente, mas aindaentre coisas familiares, como refeitórios e vestiários. Eles logo entraram nos papéis e
nos procedimentos sem dificuldade. Enquanto isso, apesar de ter viajado e vivido nomundo todo,eumesentiadeslocadanaqueleambientequepara todasasoutraspessoaseramuitocomum.Independentedisso,nãodemoroumuitoparaeuentendercomoaescola funcionava.
Osalquimistaseramtreinadosparaobservareseadaptare,apesardeaescolaserumacoisaestranhaparamim,logoentreinarotina.Eutambémnãotinhamedodefalarcomaspessoas—estavaacostumadaapuxarpapocomdesconhecidoseencontrarexplicaçõespara escapar de alguma situação complicada. Mas tinha uma coisa que eu sabia queprecisavadesenvolver.—OuvidizerqueafamíliadelatalvezsemudeparaAnchorage.Estávamosno almoçodeorientação, eduas garotasdoprimeiro anopertodemim
conversavamsobreumaamigadelasquenãotinhaaparecidonaqueledia.Osolhosdaoutrameninasearregalaram.—Sério?Euiriamorrersetivessequememudarparalá.—Nãosei—refleti, remexendoacomidanoprato.—Comtantosraios uvaqui,
Anchorage na verdade poderia fornecermaior expectativa de vida.Não é preciso usartantoprotetorsolar,entãopareceserumasoluçãomaiseconômicatambém.Penseiqueomeucomentário tinhasidoútil,mas,quandoerguiosolhos,viqueas
duas olhavam fixamente para mim, boquiabertas. Era óbvio, pelo jeito que elas meolhavam,queeunãopodiaterfeitoumcomentáriomaisbizarro.—Achoqueeunãodeviadizertudoquemevemàcabeça—murmureiparaEddie.
Estavaacostumadaaserdiretaemsituaçõessociais,masmeocorreuquesimplesmentedizer“é,total!”provavelmenteteriasidoarespostacorreta.Eutinhapoucosamigosdaminhaidadeeestavasemprática.Eddiesorriuparamim.—Nãoseinão,irmãzinha.Vocêébemdivertidadojeitoqueé.Continueassim.Depois do almoço, nosso grupo voltou para o campus central, onde nos separamos
para ter reuniões com conselheiros acadêmicos e elaborar o horário de aulas.Quandome sentei com aminha conselheira, umamulher toda animada chamadaMolly, fiqueisurpresadeverqueosalquimistastinhamenviadohistóricosescolaresdeumainstituiçãofictícianaDakotadoSul.Eramatébemconsistentes comoque eu tinha estudadoemcasa.— As suas notas e provas a colocaram nas nossas classes mais adiantadas de
matemáticaedeinglês—Mollydisse.—Sevocêsesairbem,poderárecebercréditospara a faculdade—penaquenão vai ter comoeu ir para a faculdade, pensei com umsuspiro. Ela folheou algumas páginas no meu arquivo. —Agora, não estou vendonenhum registro de línguas estrangeiras aqui. É exigência deAmberwood que todosaprendampelomenosumalíngua.Ops.Os alquimistas tinham pisado na bola com omeu histórico escolar falso.Na
verdade,euhaviaestudadováriaslínguas.Omeupaiseasseguroudequeeutivesseaulasdesdemuitopequena, já queumalquimistanunca sabeondevai parar.Aoexaminar alista de línguas oferecidas emAmberwood, hesitei e fiquei me perguntando se deviamentir. Então decidi que realmente não queria aturar aulas de conjugações e temposverbaisquejátinhaaprendido.—Eujáseifalartodasestas—disseaMolly.Elaficoumeolhandosemacreditar.—Todasestas?Hácincolínguasaqui.Euassentiecompletei,paratentarajudar:—Maseusóestudeijaponêsdurantedoisanos.Entãoachoquepossoaprendermais.Mollycontinuoucomcaradequemnãoestavaacreditando.—Estádispostaafazertestesdeproficiência?E, assim, acabei passando o resto da tarde fazendo provas de línguas estrangeiras.
Nãoeradaquele jeitoqueeuqueriapassaromeu tempo,masacheiquevaleria apenadepois—ostesteseramfacílimos.Quandoeu finalmente terminei todas as cinco línguas, trêshorasdepois,Mollyme
fezsairapressadaparatirarasmedidasparaomeuuniforme.Amaiorpartedosalunosnovos já tinha passado por lá, então ela estava preocupada que amulher que tirava asmedidasjátivesseidoembora.Eumeapresseiomáximopossívelpeloscorredoressemchegar a correr, e quase dei um encontrão com duas meninas que dobravam umaesquina.—Ah!—exclamei,sentindo-meumaidiota.—Sintomuito...estouatrasadapara
tirarasmedidasparaouniforme...Umadelas deu uma risada gostosa. Ela tinha a pele escura, corpo atlético e cabelo
ondulado.—Não se preocupe com isso— ela falou.—Acabamos de passar pela sala. Ela
aindaestálá.Aoutrameninatinhacabeloloiroumtommaisclaroqueomeu,presoemumrabo
decavalo.Asduastinhamasegurançatranquiladaspessoasquesabiamsevirarnaquelemundo.Elasnãoeramalunasnovas.—A sra. Delaney sempre demoramais do que pensa com asmedidas— a loira
disseemtomdequemsabedascoisas.—Todoano,éa...—oqueixodelacaiu,suaspalavrassecongelaramporalgunsmomentos.—Onde...ondevocêconseguiuisso?Eu não fazia ideia do que ela estava falando, mas a outra menina logo notou e se
inclinoumaispertodemim.—Quedemais!Éissoqueestãofazendoesteano?—Asuatatuagem—aloiraexplicou.Devotercontinuadocomcaradequemnão
estavaentendendonada.—Ondevocêfezisso?—Ah. Isso—meusdedostocaramabochechasemprestaratenção.—Foi,hum,
naDakotadoSul.Deondeeuvim.Asduasmeninaspareceramdecepcionadas.—Acho que é por isso que nós nunca vimos— disse a morena.—Achei que a
Nevermoreestivessefazendoalgonovo.—Nevermore?—perguntei.Asmeninas trocaram olhares silenciosos e algumamensagem foi transmitida entre
elas.—Vocêénova,certo?Comosechama?—aloiraperguntou.—EusouJulia.Esta
éKristin.—Sydney—eudisse,aindacuriosa.Juliatinhavoltadoasorrir.—Almocecomagentenaalalesteamanhã,certo?Vamosexplicartudo.—Tudosobreoquê?—perguntei.—Éumalongahistória.Porenquanto,sóváveraDelaney—Kristincompletoue
começouaseafastar.—Elaficaatémaistarde,masnãovaificaraliparasempre.Quando elas se foram, eu continuei o meu caminho — bem mais devagar —,
imaginando que história era aquela. Será que eu tinha acabado de fazer amigas? Eurealmentenãotinhacertezadecomodeviamecomportaremumaescolaassim,masaconversatodatinhaparecidobemesquisita.Asra.Delaneyestavacomeçandoaguardarsuascoisasquandoeucheguei.—Quetamanhovocêusa,querida?—elaperguntouaomeveràporta.—pp.Ela me mostrou diversas peças: saias, calças, blusas e suéteres. Duvidei que os
suéteres tivessemmuitautilidade, amenosqueuma tempestadedeneve apocalíptica esobrenaturalseabatessesobrePalmSprings.Amberwoodnãoseimportavamuitocoma combinação que os alunos usassem, desde que as peças viessem da linha de roupasaprovada.Ascoreseramvinho,cinza-escuroebranco,eeuatéacheique ficavambemjuntas.Aomeverabotoarumablusabranca,asra.Delaneyestaloualíngua:—AchoquevocêprecisadeP.Eufiqueiparalisadacomumbotãomeioabotoadonamão.—Euusopp.—Ah, sim,vocêcabeneste tamanho,masolhe sóasmangaseocomprimentoda
saia.VaificarmaisconfortávelcomP.Experimenteestaspeças—elameentregouumapilhanovaeentãodeurisada.—Nãofiquecomestacarahorrorizada,menina!UsarPnão é nada de mais, você continua sendo um palito— ela deu palmadinhas em suabarrigagrande.—Cabemtrêsdevocênasminhasroupas!Apesardosmeusprotestos,fuimandadaemboracomasroupastamanhoP.Volteide
ônibus para o dormitório, arrasada, e encontrei Jill deitada na cama, lendo. Ela se
sentoueretaquandocheguei.—Oi,estavamesmoimaginandooquetinhaacontecidocomvocê.—Eumeatrasei—dissecomumsuspiro.—Estásesentindomelhor?—Estou,sim.Muitomelhor—Jillobservavaenquantoeuguardavaosuniformes.—Eles sãobemhorrorosos,não são?NósnãousamosuniformesnaSãoVladimir.
Vaiseramaiorchaticeusaramesmacoisatodososdias.Eunãoqueriadizer a ela que,por ser alquimista, euprovavelmente ia usar roupas
parecidascomaquelasdetodomodo.—Que tamanhoderampara você?—pergunteiparamudarde assunto.Eu sentia
umaespéciedeavidezporpunição.—pp.Umapontadade irritaçãopercorreuomeucorpoquandopendureimeusuniformes
no armário, ao ladodosdela.Eume senti enormeemcomparação.Comoéque essesMoroi eram tãomagros? Genética? Dieta de sangue com poucos carboidratos?Talvezfosseporque todoseleserammuitoaltos.Só sabiaque, semprequepassavaumtempopertodeles,mesentiainchadaedesajeitada,eficavacomvontadedecomermenos.Quandotermineidedesfazerasmalas,Jilleeucomparamosnossoshorários.Nãofoi
surpresaverque, levandoemconta adiferençade séries,nósnão tínhamosquasenadaem comum.A única coisa que compartilhávamos era a aula de educação física, quejuntavatodososanos.Osalunostinhamquefrequentaraquelaaulatodosossemestres,jáqueestaremformaeraconsideradopartedaexperiênciaescolarcompleta.Talvezeupudesseperderalgunsquilosevoltarparaomeutamanhonormal.Jillsorriuedevolveuomeuhorário.—Eddie foi lá e exigiu ficarnamesma classede educação física quenós, porque é
basicamenteaúnicaquepodemosfazerjuntos.Maselaentraemconflitocomaauladeespanhol dele, e não permitiram.Acho que ele não vai conseguir passar umdia letivointeirosemchecarseeuestouviva.Ah,eMicahestáconosconaeducaçãofísica.Fui para a minha cama pisando firme, ainda irritada por causa dos uniformes.As
palavrasdeJillchamaramaminhaatenção.—Ei,vocêsabeporqueEddiepareceuficarincomodadocomMicah?Jillsacudiuacabeça.— Não, e não tive oportunidade de perguntar, mas também reparei...
principalmente no começo. Depois, quando você estava fazendo as suas provas e nósesperávamos os uniformes, Eddie pareceu se acalmar. Um pouco. Mas, de vez emquando,euviaqueeleestavaolhandodeumjeitoestranhoparaMicah.—VocênãoachaqueelepodeconsiderarMicahperigoso,acha?Jilldeudeombros.—Elenãopareceuperigosoparamim,masnão souguardiã. SeEddie achasseque
elerepresentaalgumtipodeameaça,acreditoqueiriaagirdeoutramaneira.Commais
agressividade. Ele parecia mais estar nervoso perto de Micah. Quase, mas nãoexatamente, commedo. E isso é omais estranho de tudo, porque os guardiões nuncaparecemamedrontados.NãoqueEddiesejatecnicamenteumguardião.Masvocêsabeoqueeuquerodizer.— Sei, sim — respondi sorrindo, apesar das minhas intenções mal-humoradas.
Aqueladivagaçãonaturalemeigameanimouumpouco.—Comoassim,Eddienãoétecnicamenteguardião?Elenãofoidesignadoparaprotegervocêaqui?—Foi, sim— Jill respondeu enquanto brincava comumde seus cachos castanho-
claros.—Mas...bom,émeioesquisito.ElesemeteuemalgumtipodeconfusãocomosguardiõesporajudarRoseepor,hum,matarumcara.—ElematouaqueleMoroiqueatacouVasilisa,certo?—Issotinhasidomencionado
nomeuinterrogatório.—É— Jill respondeu, perdida em suas próprias lembranças.—Foi em legítima
defesa, e em defesa de Lissa, mas todo mundo ficou chocado por ele ter matado umMoroi.Os guardiões não podem fazer isso,mas até aí, osMoroi tambémnão podematacarunsaosoutros.Mas,bom,elerecebeususpensão.Ninguémsabiaoquefazercomele.Quandoeu fui...atacada,Eddieajudouameproteger.Depois,Lissadissequeerauma estupidez deixá-lo sem trabalhar se ele podia ser útil, e levando em conta quetambém havia umMoroi por trás do ataque, ela disse que todomundo ia ter que seacostumar com a ideia de ter alguns Moroi como inimigos. Hans, o guardiãoencarregadona corte, finalmente concordou emandouEddie vir comigo,mas eu achoque, oficialmente, o cargo de Eddie ainda não foi restituído. É estranho— Jill tinhafeitotodoodiscursosempausaeentãoparoupararetomarofôlego.— Bom, tenho certeza de que tudo vai ser resolvido — eu disse, tentando
tranquilizá-la.—Eparecequeelevaiganharpontospormanterumaprincesaviva.Jillmelançouumolharafiado.—Nãosouprincesacoisanenhuma.EufranziatestaetenteimelembrardascomplexidadesdaleidosMoroi.—Opríncipeouaprincesaéointegrantemaisvelhodafamíliareal.ComoVasilisa
éarainha,otítulopassaparavocê,certo?—Nopapel—Jillrespondeuedesviouoolhar.Otomdelaeradifícildedecifrar,
umamisturaestranhaquepareciaseramargorepesar.—Eunãosouprincesa,nãodeverdade.Souapenasalguémqueporacasotemparentescocomarainha.Amãe de Jill tinha sido amante de EricDragomir, pai deVasilisa, por um curto
período, e mantivera a existência de Jill em segredo durante anos. O fato tinha sidotrazidoàsclarasrecentemente,eeudesempenheiumpapelimportanteparaajudarRosea localizar Jill. Com toda a confusão na minha própria vida, além da ênfase sobre asegurança de Jill, eu não tinha passado muito tempo imaginando como ela tinha seadaptadoaoseunovostatus.Deviaserumatremendamudançadeestilodevida.
—Tenho certeza de que é mais do que isso — eu disse com gentileza. FiqueiimaginandoseiaterquepassarmuitotempofazendopapeldeterapeutaparaJillduranteamissão.Aperspectivaderealmente reconfortarumavampiraaindamepareciamuitoestranha.—Querodizerquevocêéobviamente importante.Todomundoseesforçoumuitoparaquevocêficasseaquiemsegurança.—Masémesmopormim?—Jillperguntou.—OuéparaajudarLissaamantero
trono?Elamalfaloucomigodesdequedescobriuqueéramosirmãs.Aquela conversa estava se desviando para águas nada confortáveis, para questões
pessoaiscomasquaiseunemsabialidar.NãopodiaimaginarcomoseriaestarnolugardeVasilisa ou de Jill.A única coisa que parecia certa era que não devia ser fácil paranenhumadelas.—Tenho certeza de que ela gosta de você— eu disse, apesar de não ter certeza
nenhuma. — Mas deve ser estranho para ela... principalmente com todas as outrasmudançasnavidadelatambém.Dêumtempoaela.Concentre-senoqueéimportanteprimeiro:ficaraquiecontinuarviva.—Vocêtemrazão—Jilldisse.Elavoltouasedeitarnacamaeficouolhandopara
o teto.— Estou nervosa com amanhã; ficar perto de tanta gente, tendo aula o diainteiro.Eserepararem?Esealguémdescobriraverdadeameurespeito?—Vocêfoiótimanaorientação—garantiaela.—Sónãomostreosseuscaninos.
E,alémdomais,eusouboaemconvenceraspessoasdequeelasnãoviramoqueachamqueviram.A expressão agradecida no rosto delame lembrou, de um jeito desconfortável, de
Zoe.Elaseramtãoparecidasemtantosaspectos,tímidasecheiasdeincertezas—e,noentanto, extremamente impetuosas e desesperadas para provar o seu valor. Eu tinhatentadoprotegerZoe—e,aosolhosdela, só falhei.Naquelemomento,estarcomJillfaziame sentir em conflito. Em certos aspectos, eu podia compensar o que não tinhasido capaz de fazer por Zoe. No entanto, quando eu pensava nisso, uma voz baixinhainteriorficavadizendo:Jillnãoésuairmã.Elaéumavampira.Istoaquiétrabalho.—Obrigada,Sydney.Ficocontentequevocêestejaaqui—elasorriu,eaculpasó
secontorceumaisfundodentrodemim.—Sabe,eumeioquetenhoinvejadeAdrian.EleachatãochatoficarnacasadoClarence,masnãoprecisasepreocuparemconhecergentenovanemseacostumarcomumanovaescola.Elesóficaláassistindo tv, jogandosinucacomoLee,dormindoatétarde...parecefantástico—elasuspirou.—Suponhoquesim—eudisse,umpoucosurpresacomtantosdetalhes.—Como
é que você sabe tudo isso?Você... falou com ele depois da nossa partida?—A ideiapareciaimprovávelenquantoeufalava.Eutinhapassadoamaiorpartedodiacomela.Osorrisodesapareceudorostodela.—Ah, não.Quer dizer, só supus que é isso que está acontecendo. Elemencionou
algumascoisasantes,sóisso.Desculpe.Estousendomelodramáticaefalandobobagem.
Obrigadapormeescutar...realmentefazcomqueeumesintamelhor.Deiumsorrisocontidoenãodissemaisnada.Nãoconseguia superaro fatodeque
estava começando a simpatizar tanto com uma vampira. Primeiro Rose, e agora Jill?Não importava o quão adorável ela fosse. Eu precisava manter a nossa relaçãoestritamenteprofissionalparaquenenhumalquimistapudessemeacusardemeapegaraela.AspalavrasdeKeithecoaramnaminhacabeça:adoradoradevampiros...Issoéridículo,eupensei.Nãohavianadadeerradoemserlegalcomumapessoaque
estavasobosmeuscuidados.Eranormal,estavamuitolongedeficar“próximademais”deles. Certo? Coloqueiminhas preocupações de lado eme concentrei em terminar dedesfazerasmalasepensarsobreanossanovavidaali.EusinceramentetorciaparaqueodiaseguintefossecorrertãobemquantoeuhaviagarantidoaJillquecorreria.Infelizmente,nãofoiassim.
6
Paraserjusta,odiacomeçouótimo.
Osolentravapelasjanelasquandoacordamos,eeujápodiasentirocalor,apesardeserbemcedopelamanhã.Escolhiacombinaçãomaisleveentreasopçõesdouniforme:umasaiacinzaeumablusabrancademangacurta.Joiassimpleserampermitidas,porissocontinueicomacruzdeouro.Omeucabeloestavaemumdaquelesdiasdifíceis—quepareciamsermais frequentesnaquelenovoclima.Minhavontadeeraprendê-loemumrabodecavalo,comoJillfezcomodela,maseletinhacamadasdemaisparaqueeuconseguisse fazer direito. Fiquei olhando para o jeito como os fios batiam nos meusombrosemcomprimentosdiferentesepenseisenãoestavanahoradedeixarcrescer.Depois de um café da manhã que nenhuma de nós realmente comeu, pegamos o
ônibusatéocampuscentral,quederepenteficoutodolotadodegente.Apenascercadeum terço dos alunos ficava na escola em regime de internato. O resto morava nasproximidades, e agora todos tinham chegado. Jill mal falou durante todo o trajeto eparecia passarmalmais uma vez. Era difícil dizer,mas a acheimais pálida do que onormal. Seus olhos estavam vermelhos de novo, pesados e com olheiras escuras. Eutinhaacordadoumaveznomeiodanoiteeavidormindoprofundamente,porissonãosabiamuitobemqualeraoproblema.Aquelasolheirasescuras,aliás,eramaprimeirafalhaqueeuvianapeledeumMoroi—apeledeleserasempreperfeita,deporcelana.Nãoeraparamenosquepodiadormiratémaistarde.Nãoprecisavasepreocuparcomocorretivoeopóqueeuusava.Àmedidaque amanhã foi avançando, Jillnãoparavademordero lábioeolhar ao
redor, preocupada.Talvez só estivesse nervosa por mergulhar em um mundo todopovoado por humanos. Ela não parecia nem um pouco preocupada com a logística dechegar às salas certas e fazer as lições. Isso era o que continuava me assustando umpouco.Apenas vá de uma aula para a outra, disse a mimmesma. É a única coisa quevocêprecisafazer.
A minha primeira aula era História Antiga. Eddie também estava nela, e elepraticamentemeatacouquandomeviu.—Estátudobemcomela?Estevecomela?—Bom,nósdividimosomesmoquarto,então,estive—nossentamosemcarteiras
vizinhas.SorriparaEddie.—Relaxe.Estátudobemcomela.Parecianervosa,masnãodáparaculpá-laporisso.Eleassentiu,masaindaparecia inseguro.Eleconcentroutodaaatençãonafrenteda
salaquandoaprofessoraentrou,masestava inquieto,ali sentado,comosemalpudessesesegurarparanãolevantaremumsaltoeirverseJillestavabem.— Bem-vindos, bem-vindos — nossa professora era uma mulher de quarenta e
poucos anos, com cabelo eriçado preto, rajado de fios brancos, e energia nervosasuficiente para rivalizar com Eddie. E se a xícara de café gigante dela servisse comopista, não era difícil descobrir por quê. Fiquei com um pouco de inveja e desejei quetodosnóstivéssemospermissãoparatrazerbebidasàsaladeaula,principalmenteporqueorefeitóriodoalojamentonãoserviacafé.Eunãosabiacomoiriasobreviveraosmesesseguintes sem cafeína. O guarda-roupa dela dava preferência ao padrão xadrez delosangos.— Eu sou a sra.Terwilliger, sua ilustre guia à jornada fantástica que é ahistóriaantiga—elafalavaemumtomdramáticoegrandiosoquefezalgunsdosalunosdarem risadinhas. Ela fez um gesto indicando um rapaz que estava sentado atrás dela,perto da mesa grande. Ele estava olhando para a classe com expressão de tédio, masquando ela se virou ele se animou todo. — E este é o meu assistente,Trey, que,acredito, alguns de vocês devem conhecer.Trey é omeumonitor estudantil para esteperíodo,então,oqueelevaifazeréficarcabisbaixopeloscantospreenchendopapelada.Masvocêsdevemser legaiscomele,porqueébemprovávelqueele sejao responsávelporpassarassuasnotasparaomeucomputador.Trey deu um leve aceno e sorriu para alguns de seus amigos. Ele tinha a pele bem
bronzeada e cabelo preto cujo comprimento flertava com as normas de aparência daescola.O uniforme bem passado deAmberwood dava a ele a impressão de sermuitocompetente,mashaviaumbrilhomarotoemseusolhosescurosquemefezpensarque,naverdade,elenãolevavamuitoasérioessenegóciodesermonitor.— Bom— a sra.Terwilliger continuou.—A história é importante porque nos
ensinaarespeitodopassado.E,aoaprendersobreopassado,nósentendemosopresente,parapodermostomardecisõesembasadasarespeitodofuturo.Ela fez uma pausa dramática para permitir que as palavras fossem absorvidas.
Quando se convenceu de que todos estavam maravilhados, foi até o seu laptop, queestava conectado a um projetor. Ela apertou algumas teclas e a imagem de umaconstruçãocompilastrasbrancasapareceunatelanafrentedasala.—Eentão?Alguémsabemedizeroqueéisto?—Umtemplo?—alguémarriscou.
—Muitobem,senhor...?—Robinson—ogarotoinformou.Asra.Terwilligerpegouumapranchetaeexaminouumalista.—Ah,aquiestávocê.Robinson.Stephanie.—Stephan—ogarotocorrigiueficoutodovermelhoenquantoalgunsamigosdele
davamrisada.Asra.Terwilligerajeitouosóculosnonarizeapertouosolhos.—Émesmo.Aindabem.Estavaaquipensandocomoasuavidadeviaserdifícilcom
umnomedesses.Peçodesculpas.Quebreimeusóculosemumacidentemalucojogandocroquetnofimdesemanapassado,porissofuiobrigadaatrazerosvelhoshoje.Então,Stephan--não-Stephanie,éissomesmo.Éumtemplo.Podesermaisespecífico?Stephansacudiuacabeça.—Alguémpodedaralgumaideia?Comoapenaso silênciorespondeuà sra.Terwilliger,respirei fundoeerguiamão.
Estava na hora de ver como era ser uma aluna de verdade. Ela fez um gesto com acabeçanaminhadireção.—ÉoParthenon.—Émesmo—elafalou.—Equaléoseunome?—Sydney.— Sydney...— ela conferiu a prancheta e ergueu os olhos, surpresa.— Sydney
Melbourne?Nossa.Vocênãofalacomoaustraliana.—Hum,éSydneyMelrose,senhora—corrigi.Asra.TerwilligerdeuumarisadinhaeentregouapranchetaparaTrey,queparecia
acharomeunomeacoisamaisengraçadadomundo.—Assuma, sr. Juarez. Seus olhos juvenis são melhores do que os meus. Se eu
continuar assim, vou ficar transformando os meninos em meninas e mocinhasperfeitamente adoráveis em descendentes de criminosos. Então— a sra.Terwilligervoltouaseconcentraremmim—,oParthenon.Sabealgumacoisaarespeitodele?Os outrosme observavam, amaior parte com curiosidade simpática,masmesmo
assim senti a pressão de estar no centro das atenções. Concentrei-me apenas na sra.Terwilligeredisse:—FazpartedaAcrópole,senhora.EmAtenas.Foiconstruídonoséculova.C.— Não precisa me chamar de “senhora” — a sra.Terwilliger disse. — Mas é
agradávelreceberumpoucoderespeito,paravariar.Earespostafoibrilhante.Eladeuumaolhadanorestodasala.—Agora,digam-meoseguinte:porquediabosdevemosnospreocuparcomAtenas
oucomqualquercoisaqueaconteceuhámaisdemilequinhentosanos?Querelevânciaissopodeterparanóshoje?Mais silêncio e olhos agitados.Quando aquele silêncio insuportável se arrastou por
um momento que pareceu durar horas, comecei a levantar a mão de novo.A sra.TerwilligernãoviueolhoudenovoparaTrey,queestavacomospésapoiadosnamesadaprofessora.Ogarotonomesmoinstantebaixouaspernaseaprumouascostas.— Sr. Juarez— a sra.Terwilliger declarou.— Está na hora de ganhar os seus
créditos.Vocêfezestamatérianoanopassado.PodedizeraelesporqueoseventosdeAtenasantigasãorelevantesparanóshoje?Senãoforcapaz,vouterquevoltarachamara srta.Melbourne.Parecequeela sabea resposta,e imagine sócomo issovai serumavergonhaparavocê.OsolhosdeTreypassaramparamimedepoisretornaramàprofessora.—O sobrenome dela é Melrose, nãoMelbourne. E a democracia foi fundada em
Atenas no séculovi. Muitos dos procedimentos que foram estabelecidos lá ainda sãoseguidospelonossogovernohoje.Asra.Terwilligerapertouopeitocomamãoemumgestodramático.— Você estava prestando atenção no ano passado! Bom, quase.A data não está
correta— o olhar dela recaiu em mim.—Aposto que você sabe a data em que ademocraciafoicriadaemAtenas.—Séculov—eurespondiimediatamente.IssomevaleuumsorrisodaprofessoraeumaolhadafeiadeTrey.Orestodaclasse
fez mais ou menos a mesma coisa. A sra. Terwilliger prosseguiu com seu estiloespalhafatoso e destacou diversos períodos e locais que iríamos estudar com maisdetalhes. Descobri que eu era capaz de responder a qualquer pergunta que ela fazia.Algumaparteemmimdiziaparaeumeconter,maseunãofuicapazdemesegurar.Seninguémsabiaaresposta,eumesentiaforçadaafornecê-la.Ecadavezqueeufaziaisso,asra.Terwilligerdizia:“Trey,vocêsabiadisso?”.Eusentiumcalafrio.Realmentenãoqueria fazer inimigos logo no primeiro dia. Os outros alunos me observavam comcuriosidadeenquantoeufalava,coisaquemedeixouumpoucoenvergonhada.Tambémvi alguns deles se entreolharem cada vez que eu falava, como se soubessem de algumsegredoqueeunãosabia.IssomepreocupoumaisdoqueofatodeirritarTrey.Seráqueparecia que eu estavame exibindo?Eunão entendia nada das políticas sociais dali parasaber o que era normal e o que não era. Aquela era uma escola em que existiaconcorrência acadêmica.Certamente não devia ser algo ruim ter bons conhecimentos,nãoé?A sra.Terwilliger nos deu como tarefa ler os dois primeiros capítulos do livro
didático. Os outros reclamaram, mas eu fiquei animada. Eu adorava história,principalmentehistóriadaarteearquitetura.Minhaeducaçãoemcasatinhasidorígidaeabrangente,mas essamatéria específicanão era algoqueomeupai consideravamuitoimportante para nós. Eu tive que estudar sozinha, então era ao mesmo temposurpreendenteemagníficopensarqueagoraeutinhaumaaulacujoúnicopropósitoeraaprenderaquilo,e, alémdisso,saberqueomeuconhecimentoseriavalorizado—ainda
quesópelaprofessora.EumesepareideEddiequandoaaulaterminouefuiparaaauladequímicaaplicada.
Enquantoesperavaaaulacomeçar,Treyseacomodouemumacarteiraaomeulado.— Então, srta. Melbourne— ele disse, imitando a voz da sra.Terwilliger. —
Quandovaicomeçaradarsuasprópriasaulasdehistória?Euacheichatoasra.Terwilligerterimplicadocomele,masnãogosteinadadaquele
tom.—Agoravocêveiomesmoparaaprender?Ouvai ficaraísemfazernada, fingindo
queestáajudandoaprofessoradenovo?Issofezumsorrisoseabriremseurosto.—Ah,eu, infelizmente,soualunonestaaulaaqui.Efuiomelhordaclassenaaula
dasra.Tnoanopassado.Sevocêfortãoboaemquímicaquantoéemhistória,querotepegarparaserminhaparceirade laboratório.Assim,voupodertirar fériasosemestretodo.Aquímicaeraumaparte fundamentaldas funçõesdeumalquimista, eeuduvidava
quehouvessealgonaquelaaulaqueeuaindanãosoubesse.OsalquimistastinhamsurgidonaIdadeMédiacomo“cientistasmágicos”,quetentavamtransformarchumboemouro.A partir dessas primeiras experiências, eles descobriram as propriedades especiais dosanguedosvampiros,ecomoelereagiacomoutrassubstâncias—oqueacaboulevandoà cruzada paramanter vampiros e humanos separados.Essa bagagemcientífica inicial,assim como nosso trabalho atual com sangue de vampiro, tornou a química uma dasmatériasprincipaisdaminhaeducaçãona infância.Ganheiomeuprimeiroconjuntodequímicaaosseisanos.Enquantooutrascriançastreinavamoalfabeto,meupaimefaziaperguntassobreácidosebases.IncapazdeconfessartudoissoaTrey,desvieiosolhosetireiumamechadecabelodo
rostoemumgestocasual.—Nãosouruim.Oolhardelepassouparaaminhabochechaeumaexpressãodecompreensãotomou
contadele.—Ah.Entãoéisso.—Oqueéoquê?—perguntei.Eleapontouparaomeurosto.—Asuatatuagem.Éissoqueelafaz,hein?Aomexernocabelo,haviareveladoomeulíriodourado.—Oquevocêquerdizer?—perguntei.— Não precisa se fazer de desentendida comigo— ele disse, e revirou os olhos
escuros.—Jáentendi.Querdizer,paramimparece trapaça,masachoquenemtodomundo se importa com a honra.Mas émuita coragem ter uma no rosto. É contra ocódigodecondutadaescola,sabecomoé...nãoqueissoimpeçaalguém.
Eumemexiedeixeiocabelocairdenovoondeestava.—Eusei.Iadisfarçarcommaquiagem,masesqueci.Mascomoassim,trapaça?Elesósacudiuacabeçamostrandoclaramentequenãoqueriamaisconversar.Fiquei
lá me sentindo impotente, imaginando o que tinha feito de errado. Logo a minhaconfusãofoisubstituídapordesalentoquandoonossoinstrutorfezumaapresentaçãodocursoede suaorganização.Eu tinhaumconjuntodequímicanoquartomais vastodoque todo o material disponibilizado porAmberwood. Paciência. No final das contas,acheiqueumarevisãoelementarnãoiriafazermal.As minhas outras aulas se passaram de maneira semelhante. Eu já estava mais
adiantadaquetodasasminhasaulaseviqueeracapazderesponderatodasasperguntas.Isso me fez ficar bem com os professores, mas não sabia avaliar a reação dos meuscolegas.Continuei vendomuitas cabeças balançando demaneira tristonha e expressõesintrigadas—masapenasTreyde fatomecondenava.Nãosabiasedeviameconterounão.CruzeicomKristineJuliaalgumasvezes,eelasmelembraramdeencontrá-laspara
oalmoço.Foioquefiz,easencontreiemumamesadecantonorefeitóriodocampusleste.Elasacenaramparaqueeumeaproximassee,enquantoeuziguezagueavaentreasfileiras demesas, dei umaolhada rápida no lugar, na esperança de encontrar Jill.Nãotinha cruzado com ela o dia todo, mas isso não era nada surpreendente, levando emcontanossoshoráriosdeaulas.Eladeviaestarcomendonooutrorefeitório,talvezcomEddieouMicah.Kristin e Julia foram simpáticas, ficaram perguntando como tinha sido o meu
primeirodiaemederaminformaçõessobrealgunsprofessorescomquemelasjátinhamcaído.Eramalunasdoúltimoano,comoeu,eestávamosjuntasemduasaulas.Passamosamaior parte do almoço trocando informações básicas, como, por exemplo, de ondetínhamos vindo. Só quando o almoço foi chegando ao fim é que eu comecei a obterrespostasparaalgumasdasperguntasqueestavammeincomodandoodiatodo.Masissoexigiuqueeuprimeiroultrapassasseaindamaisperguntas.—Então—Kristindisseesedebruçouporcimadamesa.—Serveparadaravocê
uma supermemória?Ou, tipo,não sei, chegamesmoamudar seucérebroparadeixarvocêmaisinteligente?Juliarevirouosolhos.—Nãotemcomodeixaralguémmais inteligente.Temqueseramemória.Oque
euqueromesmoésaberoseguinte:quantotempodura?Olheideumaparaaoutra,maisconfusadoquenunca.—Nãoseidoquevocêsestão falando,masoquequerqueseja,nãopodeestarme
deixandomaisinteligente,porquenestemomentoestoubemperdida.Kristindeurisada.—Asuatatuagem.Ouviquandovocêrespondeuatodasasquestõesmaisdifíceisde
matemática.Eumaamigaminhaestánasuaauladehistóriaedissequevocêdominoulátambém.Estamostentandodescobrircomoatatuagemajuda.—Semeajuda...aresponderasperguntas?—perguntei.Orostodelasconfirmou.
—Não.Aquilotudo...bom,sousóeu.Simplesmenteseiasrespostas.—Ninguémétãointeligente—Juliaargumentou.—Nãoétãoestranhoassim.Eunãosougêniocoisanenhuma.Achoquesóaprendi
muitacoisa.Eufuieducadaemcasaporumtempo,eomeupaieramuito...rígido—completei,achandoquepodiaajudar.—Ah — Kristin disse enquanto brincava com sua trança comprida. Eu tinha
reparadoque ela prendia o cabelo escurodemaneira bemprática; já o de Julia, loiro,estavasemprejogadoebagunçado.—Achoqueatépodeser...mas,então,oqueasuatatuagemfaz?—Nãofaznada—respondi.Masantesmesmoqueeuterminassedeproferiressas
palavras, senti um leve formigamento na pele.A tatuagem possuía um tipo demagiaquemeimpediadefalarqualquercoisarelacionadaaosalquimistascompessoasquenãofaziampartedonossocírculorestrito.Aquelasensaçãoeraatatuagemmeimpedindodefalardemais,nãoquehouvessenecessidadeparaisso.—Eusóacheiqueerabacana.—Ah—Juliadisse.Asduasmeninaspareciaminexplicavelmentedecepcionadas.— Por que diabos vocês iam achar que a tatuagem estava me deixando mais
inteligente?—perguntei.O sinal interrompeu a conversa ao nos lembrar de que estava na hora de ir para a
próxima aula. Uma pausa se instalou enquanto Kristin e Julia refletiam sobre algumacoisa.Kristinparecia sera líderentreasduas,porque foielaqueacenoucomacabeçaem um gesto decisivo. Fiquei com a sensação inconfundível de que eu estava sendoavaliada.—Certo—elafinalmentedisseemelançouumgrandesorriso.—Maistardenós
vamosdarmaisinformaçõesavocê.Marcamos um horário para nos encontrar e estudar mais tarde, e então nos
separamos.Aminha impressão era de que o tempo seriamais gasto para socializar emenosparaestudar,oqueparamimnãotinhaproblema,masfizumaanotaçãomentaldefazerosdeveresdecasaantesdoencontro.Orestododiapassourápido,eeurecebium recado de Molly, a conselheira, durante uma das aulas. Como eu esperava, fuiaprovada em todas as provas de línguas e ela queria que eu fosse falar com ela paraconversar sobreoassuntoduranteoúltimoperíodo,quandoeu tecnicamentenão tinhaaula. Isso significava que o meu dia letivo iria terminar oficialmente com educaçãofísica.Vestimeuuniformedeginástica, shorte camisetadeAmberwood,e saíparao sol
escaldantejuntocomosoutros.Tinhasentidoumpoucodocaloraoirdeumaaulaparaoutra,masfoisóquandopreciseificaraoarlivreporumtempoquerealmentemedei
contadequeestávamosnomeiododeserto.Deiumaolhadanosmeuscolegas,garotosegarotasde todososanos,eviquenãoeraaúnicaquesuava.Erararoeumequeimar,masfizumaanotaçãomentalparamelembrardecomprarprotetorsolarparagarantir.Jilltambémiriaprecisar.Jill!Deiumaolhadaaoredor.QuasetinhaesquecidoqueJilldeviaestarnamesmaaula.
Masondeelaestava?Nãohaviasinaldela.Quandoanossainstrutora,srta.Carson,fezachamada,nemdisseonomedeJill.Fiqueiimaginandosetinhahavidoalgumamudançadeúltimahora.Asrta.Carsoneradotipoqueachavamelhorentrarlogoemação.Fomosdivididos
emtimesdevôlei,eeumeviparadaaoladodeMicah.Apeleclaraecobertadesardasdele estava ficando cor-de-rosa, e eu fiquei com vontade de sugerir que ele tambémusasseprotetorsolar.Elemelançouumdeseussorrisossimpáticos.—Oi—eudisse.—Poracasovocêviuaminhairmãmenorhoje?Jill?—Não—elerespondeu.Suatestasefranziudeleve.—Eddieestavaatrásdelano
almoço.Eleachouqueelaestavacomendocomvocênoseualojamento.Sacudiacabeçaeumasensaçãodesagradávelfoicrescendonomeuestômago.Oque
estava acontecendo? Cenas de pesadelo passaram pela minha mente. Pensei que Eddieestava exagerando com tanta vigilância,mas e se tivesse acontecido alguma coisa comJill? Será que era possível que, apesar de todo o nosso planejamento, um dos nossosinimigos havia se esgueirado para dentro da escola e levado Jill bem debaixo do nossonariz?Seráqueeuiaterquedizeraosalquimistas—eaomeupai—quenóstínhamosperdidoJillnoprimeirodia?Opânicocresceudentrodemim.Senão iammemandarparaumcentrodereeducaçãoantes,eracertezaqueagoraeuestariaacaminhodeumdeles.—Estátudobemcomvocê?—Micahperguntou,olhandoparamimcomatenção.
—EstátudobemcomJill?—Nãosei—respondi.—Comlicença.Saí da minha formação de time e corri até onde a srta. Carson estava
supervisionandoosalunos.—Poisnão?—elaperguntouparamim.— Sinto incomodar, senhora, mas estou preocupada com a minha irmã. Jill
Melrose.MeunomeéSydney.Eladeviaestaraqui.Sabeseelatrocoudeclasse?—Ah, sim. Melrose. Recebi um recado da secretaria, logo antes da aula, para
informarqueelanãoestariapresente.—Disseramporquê?A srta.Carson sacudiua cabeçaemumpedidodedesculpaevociferouumaordem
paraumsujeitoqueestavafazendocorpomole.Volteiamejuntaraomeutimecomacabeça a mil. Bom, pelo menos alguém tinha visto Jill, mas por que diabos ela não
compareceuàaula?—Estátudobemcomela?—Micahperguntouparamim.—Acho...achoquesim.Asrta.Carsonsabiaqueelanãoviriaàaulahoje,masnão
soubedizerporquê.—Possofazeralgumacoisa?—eleperguntou.—ParaajudarJill?Hum,vocês?— Não, obrigada. É legal da sua parte oferecer.— Eu queria que houvesse um
relógioporali.—Vouverseelaestábemassimqueaaulaterminar—entãoalgomeocorreu.—Maspossopedirumacoisa,Micah?NãodiganadaaEddie.Micahmelançouumolharcurioso.—Porquenão?—Eleéprotetordemais.Vaificarpreocupado,eprovavelmentenãoénada.Alémdomais,elevaicolocaraescolaabaixoàprocuradela.Quandoaaulaterminou,tomeiumachuveiradarápidaetroqueideroupaantesdeir
atéoprédiodaadministração.Estavadesesperadaparacorreratéodormitórioantesever se Jill estava lá, mas não podia me atrasar para a reunião.Ao caminhar pelocorredornadireçãoda saladeMolly,passei pela secretaria—e tiveuma ideia.Pareiparafalarcomarecepcionistaantesdeirparaaminhareunião.—JillMelrose—arecepcionistadisse,assentindo.—Elafoimandadadevoltapara
oalojamento.—Mandadadevolta?—exclamei.—Oqueissosignifica?—Nãotenhopermissãoparadizer.Masquemelodrama,hein?Aborrecidaemaisconfusadoquenunca,fuiparaasaladeMolly,reconfortadacoma
ideiadeque,mesmoquea ausênciade Jill fossemisteriosa,pelomenosera sancionadapelaescola.Mollymedissequeeupodiafazermaisumaaulaoptativaoualgumtipodeestudoindependentenolugardeumalíngua,seumprofessormesupervisionasse.Umaideiameveioàcabeça.— Posso falar com você amanhã? — perguntei. — Preciso conversar com uma
pessoaprimeiro.—Claro—Mollyrespondeu.—Sódecidalogo.Podevoltarparaoseudormitório
agora,masnãopodeficarcirculandoporaítodososdiasnestehorário.Garanti aelaque lhedariaumaresposta logoevolteiparaoalojamento.Oônibus
não circulava commuita frequência durante as aulas, por isso fui caminhando até lá.Demorou apenas quinze minutos, mas parecia o dobro do tempo por causa do calor.Quando finalmente cheguei ao nosso dormitório, o alívio me invadiu. Jill estava lá,despreocupada,comosenadaestranhotivesseacontecido.—Estátudobemcomvocê!Jill estava deitada na cama, novamente lendo seu livro. Ela ergueu os olhos,
desanimada.
—Está,sim.Maisoumenos.Senteinaminhacamaechuteiossapatosparalonge.—O que aconteceu?Tive um ataque de pânico quando vi que você não estava na
aula.SeEddiesoubesse...Jillsesentoueretadesupetão.—Não,nãoconteparaEddie.Elevaiterumchilique.—Certo,certo.Masmeconteoqueaconteceu.Disseramnasecretariaquevocêfoi
mandadaparacá?—Fui—Jillfezumacareta.—Porquefuisuspensadaminhaprimeiraaula.Fiqueisempalavras.NãopodiaimaginaroqueJill,tãodoceetímida,podiaterfeito
para merecer isso. Ai meu Deus. Espero que ela não tenha mordido ninguém .Todomundoachavaqueeuéqueteriadificuldadesparameencaixarnosesquemasdaescola.Jilldeviaserespecialistanisso.—Porquevocêfoisuspensa?Jillsuspirou.—Porestarderessaca.Fiqueimaissempalavrasainda.—Oquê?—Euestavapassandomal.Asra.Chang...minhaprofessora...deuumaolhadaem
mimedissequeeracapazdedetectarumaressacaaumquilômetrodedistância.Elamemandou para a secretaria por desrespeitar as regras da escola. Eu disse que só estavapassando mal, mas ela ficava repetindo que sabia. O diretor acabou dizendo que nãotinha comoprovar que era por isso que eu estava passandomal, então não fui punida,masfuiimpedidadeiràsoutrasaulas.Tivequeficaraquiodiainteiro.— Isso... isso é amaior idiotice!—saltei da camae comecei a andardeum lado
paraooutro.Agoraquetinhamerecuperadodadescrençainicial,estavasimplesmenteultrajada.—Eu estava com você durante a noite passada.Você dormiu aqui. Eu iriasaber.Acordei uma vez, e você estava apagada.Como é que a sra. Chang pode fazerumaacusaçãodessas?Elanãotinhaprovas!Aescolatambémnão.Nãotinhamodireitodetirarvocêdasaulas.Eudeviairàsecretariaagoramesmo!Não,voufalarcomKeithecomosalquimistasparaqueosnossospaisentremcomumareclamação.—Não, espere, Sydney— Jill se levantou de um pulo eme agarrou pelo braço,
comoseestivessecommedoqueeusaísseparafazeraquilonaqueleminutomesmo.—Por favor.Não faça isso.Deixe para lá.Não quero causarmais confusão.Não recebinenhumanotaruim.Nãorecebinenhumcastigo.—Vocêvaificarparatrásnassuasaulas—eudisse.—Issojáécastigosuficiente.Jillsacudiuacabeça,comolhosarregalados.Percebiqueelaestavacommedo,mas
nãofaziaideiadeporquenãoqueriaqueeudissessenada.Elaqueeraavítima.— Não, tudo bem. Eu recupero. Não vai haver nenhuma consequência a longo
prazo.Porfavor,nãofaçacasodisso.Osoutrosprofessoressódevemterachadoqueeuestavapassandomal.Nemdevemestarsabendodaacusação.—Masnãoestácerto—resmunguei.—Eupossofazeralgoarespeito.Éporisso
queestouaqui,paraajudarvocê.—Não—Jilldisse,inabalável.—Porfavor.Deixeparalá.Sevocêquisermesmo
meajudar...—eladesviouoolhar.—Oquê?—perguntei,aindacheiadefúriaporcausadainjustiça.—Doquevocê
precisa?Podedizer.Jillvoltouaerguerosolhos.—Preciso...precisoquevocêmeleveatéAdrian.
7
—Adrian?—euperguntei,surpresa.—Oqueeletemavercomtudoisso?Jillsimplesmentesacudiuacabeçaeolhouparamimcomardesúplica.—Porfavor.Sómeleveatéele.—Masnósvamosvoltarládaquiadoisdiasparaoseufornecimento.—Eusei—Jill respondeu.—Maspreciso falarcomele agora.Eleéoúnicoque
vaientender.Acheidifícildeacreditarnaquilo.—Estádizendoqueeunãoiriaentender?OuqueEddietambémnão?Elagemeu.—Não.VocênãopodecontarparaEddie.Elevaificarloucodavida.Tenteinãofranziratestaenquantodigeriatudoaquilo.PorqueJilliriaprecisarfalar
comAdriandepoisdaquelepercalçonaescola?Adriannãopoderiafazernadaparaajudarqueeu não pudesse. Como alquimista, eu estava namelhor posição para prestar umaqueixa.SeráqueJillsóqueriaapoiomoral?EumelembreidecomoJilltinhaabraçadoAdrianaosedespedir,ederepentefiqueiimaginandoseelaestariaafimdele.Afinal,seJillprecisavasesentirprotegidaporalguém,Eddiecertamenteseriaumafontemelhoraquerecorrer.Seriamesmo?EddieprovavelmentecomeçariaajogarcarteirasparatodososladospeloultrajesofridoporJill.Nãodizerissoparaeletalveznãofossemáideia.—Certo—eufinalmentedisse.—Vamos.Eu peguei permissão para que saíssemos do campus, coisa que exigiu certa
negociação.A sra.Weathers foi rápida ao afirmar que Jill tinha sidomandada para odormitório pelo resto do dia. Eu prontamente observei que as aulas já tinham quaseacabado,eissosignificavaqueodiaestavaquaseterminando.Asra.Weathersnãopôdenegaralógica,masnosfezesperarosdezminutosatéosinaltocar.Jillficoulásentada,batendoopénacadeira,nervosa.Fizemos o trajeto de meia hora de carro até a propriedade de Clarence nas
montanhas sem conversar muito. Na verdade, eu não sabia que tipo de papo puxar.“Comofoioseuprimeirodiadeaula?”nãoeraexatamenteumtemaapropriado.E,detodomodo,cadavezqueeupensavanoassunto só ficavamais irritada.Nãodavaparaacreditar que qualquer professora teria a audácia de acusar Jill de beber e estar deressaca. Realmente, não havia como comprovar aquilo e, além do mais, dava paraperceberqueeraalgoimpossíveldepoisdepassarcincominutoscomela.Umahumanademeia-idadenosrecebeuàporta.OnomedelaeraDorothy,eelaera
a empregada e fornecedora de Clarence. Dorothy era bem agradável, apesar de umpouco distraída, e usava um vestido cinza de tecido encorpado, com gola alta paraesconderasmarcasdemordidanopescoço.Euretribuíosorrisodelaemantiveminhaposeprofissional,masnãopudedeixardeestremeceraopensaroqueelaera.Comoéque alguémpodia fazer uma coisa dessas?Comoé que alguémera capaz de oferecer opróprio sangue de bom grado desse jeito? Meu estômago se revirou e eu percebi quemantinhacertadistânciadela.Nãoquerianemroçarmeubraçonelasemquererquandopassasse.Dorothynosacompanhouatéasalaondetodostínhamosestadonodiaanterior.Não
haviasinaldeClarence,masAdrianestavadeitadoemumsofáverdedetecidofelpudo,assistindotv em um aparelho que tinha ficado habilmente escondido dentro de umarmário demadeira da última vez.Quando ele nos viu, desligou a tv com o controleremotoesesentouereto.Dorothypediulicençaefechouasportasenvidraçadasatrásdesi.—Ora,masquebelasurpresa—eledisse,enosmediudecimaabaixo.Jilltinha
vestidosuasroupasnormaisduranteotempoqueficouisoladanoquarto,maseuaindaestava usando a blusa e a saia deAmberwood.— Sage, vocês não tinham que usaruniforme?Essaroupapareceoquevocêsempreusa.—Queengraçado—eudisse,emesegureiparanãorevirarosolhos.Adrianfezumareverênciairônicaparamim.—Cuidado.Vocêquase sorriu.—Ele estendeu amãopara pegar uma garrafa de
conhaque em uma mesa próxima. Havia copinhos arranjados ao redor dela, e ele seserviudeumaquantidadegenerosa.—Queremumpouco?—Estamosnomeioda tarde—eudisse, incrédula.Nãoqueahoradodia fizesse
algumadiferença.—Estoucomumadordecabeçaterrível—eledeclarou,efezumgestodebrindar.
—Issoaquiéperfeitoparaacabarcomela.—Adrian,precisoconversarcomvocê—Jilldissetodaséria.Eleolhouparaelaeosorrisinhodedesdémdesapareceudeseurosto.—Oquefoi,ChavedeCadeia?Jillolhouparamim,poucoàvontade.—Seráquevocêseimportade...
Entendiadicaetenteinãodemonstrarcomoestavairritadacomtantossegredos.— Claro, eu vou... só vou voltar lá para fora. — Não gostava da ideia de ser
exilada,masnãotinhacomoficarandandopeloscorredoresdaquelacasavelha.Eutinhaqueencararocalor.Eunão tinhaavançadomuitopelocorredorquandoalguémsurgiunaminha frente.
Soltei umgritinho e quase dei um salto olímpico.Umpiscar de olhos depois, percebiqueeraLee—nãoque isso fossemuito tranquilizador.Pormaisqueeumeesforçassepara parecer simpática com aquele grupo, antigas defesas dentro demim se agitaramporestarsozinhacomumvampironovo.Deparar-mecomelederepentetambémnãoajudouemnada,porqueomeucérebroprocessouaquilocomo umataque!Leesó ficouláparado,olhandoparamim.Pela expressãono rostodele, estava tão surpresodemevernacasadelequantoeu—mastalveznãotenhaseassustadotanto.—Sydney?—Leeperguntou.—Oqueestáfazendoaqui?Empoucosmomentos,meumedosetransformouemvergonha,comosetivessesido
pegabisbilhotando.—Ah... vim aqui com Jill. Ela teve um dia meio difícil e precisava falar com
Adrian.Quisdeixarosdoisàvontadeeestavasóindo...hum,láparafora.AconfusãodeLeesetransformouemumsorriso.—Não precisa fazer isso.Não há necessidade de se isolar.Venha, eu ia fazer um
lanche na cozinha.—Meu rosto deve termostrado um pavor abjeto, porque ele deurisada.—Nãodotipohumano.Coreiefuiatrásdele.—Desculpe—eudisse.—Éinstinto.—Semproblema.Vocêsalquimistasseassustamfácil,sabe?—É—deiumarisadapoucoàvontade.—Eusei.—Semprequisconhecerumalquimista,masvocêscomtodaacertezanãosãooque
euesperava.—Eleabriuaportaparaumacozinhaespaçosa.Orestodacasapodiaserantiga e escura,mas ali dentro tudo era brilhante emoderno.— Se isso a ajuda a sesentir melhor, você não é tão ruim quanto Keith. Ele passou aqui hoje e estava tãonervoso que ficava literalmente olhando por cima do ombro— Lee fez uma pausa,pensativo.—Talvez tenha sido porqueAdrian ficava dando risada feito um cientistaloucoenquantoassistiaaunsfilmesvelhosempretoebranco.Eupareidemaneiraabrupta.—Keithesteveaqui...hoje?Paraquê?—Vocêteriaqueperguntaraomeupai.FoicomelequeKeithmaisconversou.LeeabriuageladeiraepegouumalatadeCoca.—Queruma?—Eu...hum,não.Açúcardemais.Elepegououtralata.
—Zero?Hesiteiapenasporummomentoantesdeaceitar.—Claro.Obrigada.Eunãotinhaintençãodecomernembebernadanaquelacasa,masalatapareciabem
segura.Estavaseladaepareciatersaídodiretamentedeumsupermercadohumano,nãode algum caldeirão vampiresco.Abri a lata e dei um gole enquanto a minha mentegirava.—Vocênãofazideiadoqueelesconversaram?—Hã?—Leetinhaadicionadoumamaçãaoseucardápioe sentadonobalcão.—
Ah, Keith? Não. Mas, se eu fosse adivinhar, diria que foi sobre mim. Como se eleestivessetentandoentenderseeuiaficaraquiounão.Ele deu uma mordida gigantesca na maçã e eu fiquei imaginando se ter caninos
tornavaaquilomaisfácil.—Elesógostadeesclarecerascoisas—eudisseemtomneutro.Pormaisquenão
gostasse deKeith, continuava querendo ter uma equipe humana unida.Mas eu não fuitotalmenteinexata.TinhaquasecertezadequeKeithsesentiraprejudicadoaosaberquehaviaumMoroiextrano“territóriodele”,eagoraqueriatercertezadequeestavaaparde tudo. Em parte isso representava o bom trabalho dos alquimistas, claro, maspossivelmenteeramaisdevidoaoorgulhoferidodeKeith.Leeparecianão se incomodarmuito comaquilo e continuoumastigando suamaçã,
apesardeeusercapazdesentirseusolhosmeexaminando.—VocêdissequeJillteveumdiadifícil?Estátudobem?— Está, acho que sim. Quer dizer, não sei. Nem sei bem como as coisas se
complicaram.ElaqueriafalarcomAdrianporalgummotivo.Talvezelepossaajudar.—EleéumMoroi—Leedissecompragmatismo.—Talvez seja algoque sóele
possaentender...algoquevocêeEddienãopodem.Semquererofender.— Não me ofendi — eu disse. Era natural que Jill e eu tivéssemos diferenças
marcantes:euerahumana,eelaeravampira,afinaldecontas.Nãoconseguiríamosserainda mais diferentes nem se tentássemos e, de fato, eu meio que preferia que fosseassim.—Vocêfrequentaa faculdade...emLosAngeles?Umaescolahumana?—Essenão era um comportamento assim tão estranho para um Moroi. Às vezes eles seagrupavam em suas próprias comunidades; outras vezes tentavam se misturar àmultidãoemgrandescidadeshumanas.Leeassentiu.—Sim.Eparamimtambémfoidifícilnocomeço.Querdizer,mesmosemqueos
outros obviamente saibam que você é um vampiro... bom, há uma sensação deestranhezaquesempreestápresente.Euacabeimeacostumando...masseioqueelaestápassando.—CoitadadaJill—eudisse,ederepentepercebiqueestavaencarandoasituação
toda damaneira errada.Amaior parte daminha energia tinha se fixado no fato de aescolaacharqueadoençadeJilleraressaca.Emvezdisso,eudeviatermeconcentradoemsaberporqueelaestavapassandomal,emprimeiro lugar.Aansiedadeemrelaçãoàquelanovamudançadevidadeviaestarproduzindoseusefeitos.Eutinhalutadocontraomeuprópriomal-estar, tentandoentenderasamizadeseos indíciossociais,maspelomenoseulidavacomminhaprópriaraça.—Eurealmentenãopareiparapensarsobreoqueelaestavapassando.—Querqueeuconversecomela?—Leeperguntou.Elecolocouotalodamaçãde
lado.—Nãoqueeuachequetenhomuitasabedoriaparacompartilhar.—Qualquercoisapodeajudar—eudissecomsinceridade.Um silêncio caiu entre nós e eu comecei a me sentir desconfortável. Lee parecia
muitosimpático,masosmeusantigosmedosestavamarraigadosdemais.Partedemimsentia que ele não queria tanto me conhecer, mas sim me estudar. Os alquimistasobviamenteeramnovidadeparaele.— Será que você se incomoda se eu perguntar... a tatuagem. Ela lhe dá poderes
especiais,certo?Era quase uma repetição da conversa na escola, só que Lee realmente conhecia a
verdadeportrásdela.—Não são exatamente poderes. Há uma coerção nela que nos impede de falar a
respeito do que nós fazemos. E o meu sistema imunológico fica fortalecido. Mas, deresto,nãotenhonadadeespecial.—Fascinante—elemurmurou.Desvieioolhar,semjeito,etenteicolocarocabelo
emcimadorostocomoquemnãoquernada.FoinessemomentoqueAdrianenfiouacabeçapelafrestadaportadacozinha.Todo
seubomhumoranteriortinhadesaparecido.—Ah,vocêestáaqui.Podemosconversaremparticularumsegundo?Aperguntaeradirigidaamim,eLeepuloudecimadobalcão.—Captei adeixa. Jillestánoescritório?—AdrianassentiueLeedeuumaolhada
comarquestionadorparamim.—Vocêquerqueeu...?Concordei.—Seriaótimo.Obrigada.LeesaiueAdrianolhouparamimcomcuriosidade.—Oquefoiisso?—Ah, nós achamos queLee talvez possa ajudar Jill comos problemas dela—eu
expliquei.—Porqueeleseidentifica.—Problemas?—É,sabecomoé.Seacostumaraconviverentrehumanos.—Ah—Adrian disse. Ele pegou ummaço de cigarros e, para aminha surpresa
completa,acendeubemalinaminhafrente.—Isso.É,achoquevaiserbom.Masnão
erasobreissoqueeuqueriafalarcomvocê.Precisoquevocêmetiredaqui.Eumesobressaltei.ElenãoqueriafalarsobreJill?—DePalmSprings?—perguntei.—Não!Deste lugar—ele fezumgestoapontandoo lugarà suavolta.—Parece
queestoumorandoemumasilo!Clarenceestátirandoumasonecaagora,eelejantaàscinco.Éamaiorchatice.—Vocêsóestáaquihádoisdias.—Eissojáfoimaisdoqueosuficiente.Aúnicacoisaquememantémvivoéobelo
estoquedeálcoolquetenhoàmão.Mas,navelocidadeemqueeuestouindo,vaiacabartudo até o fim de semana. Jesus Cristo, estou subindo pelas paredes— os olhos delecaíramsobreacruznomeupescoço.—Ah.Desculpe.SemofensaaJesus.Euaindaestavachocadademaiscomoassuntoinesperadoparamesentirofendida.—MaseLee?Eletambémestáaqui,nãoestá?—Está—Adrianconcordou.—Àsvezes.Masele ficaocupadocom... saco,não
sei comoquê.Coisas da faculdade.Ele vai voltarparaLosAngeles amanhã, e vai sermaisumanoitedetédioparamim.Alémdomais...—eleolhouaoredorematitudeconspiratória.—Leeébemsimpático,mas...bom,elenãogostamuitodesedivertir.Nãocomoeumedivirto.—Issodeveseralgopositivo—observei.—Nãomevenhacomsermõesmorais,Sage.E,vejabem,comoeudisse,atéque
gostodele,maselenãopassa tempo suficientepor aqui.Quandoestápresente, ficanadele.Está sempreseolhandonoespelho,atémaisdoqueeu.Ouviquandoestava todopreocupadocomcabelosbrancosoutrodia.EunãoligavaparaasexcentricidadesdeLee.—Masparaondevocêquerir?Nãovaiquerer...—umaideiamuitodesagradável
meocorreu.—VocênãovaiquerersematricularemAmberwood,vai?—Oquevocêacha?VoubrincardeAnjosdaleicomvocês?Não,obrigado.—Anjosdoquê?— Esquece. Olhe — ele apagou o cigarro, no balcão, gesto que eu achei meio
ridículo, porque ele mal tinha fumado. Por que se incomodar com um hábito tãoimundosevocênemfosseaproveitar?—Preciso terumacasa sóminha,certo?Vocêsfazem as coisas acontecerem. Será que você não consegue me arrumar um flat legalcomoo doKeith no centro para eu podermedivertir com todos os ricos que passamférias aqui?Beber sozinhoé triste epatético.Euprecisodepessoas.Mesmoque sejampessoashumanas.—Não—respondi.—Nãotenhoautorizaçãoparafazerisso.Vocênãoé...bom,
vocênãoéresponsabilidademinha,naverdade.NóssóestamostomandocontadeJill...edeEddie,jáqueeleéoguarda-costasdela.
Adriandesdenhou.—Eumcarro?Vocêconsegueisso?Sacudiacabeça.—Eoseucarro?Eseeudeixarvocêsnaescolaepegaremprestadoporumtempo?—Não— eu disse logo. Essa foi provavelmente a sugestão mais maluca que ele
podia ter feito. O Pingado era o meu bebê. Claro que eu não ia emprestar para umsujeitoquebebiatanto,principalmenteparaalguémqueporacasotambémeravampiro.Se já existiu um vampiro que parecesse especialmente irresponsável, era AdrianIvashkov.—Vocêestáacabandocomigo,Sage!—Nãoestoufazendonada.—Exatamente.— Olhe— eu falei, cada vez mais irritada. — Eu já disse.Você não é minha
responsabilidade.FalecomAbesequisermudarascoisas.Nãoéporcausadelequevocêestáaqui?OaborrecimentodeAdrianeapenadesimesmosetransformaramemcautela.—Oquevocêsabesobreisso?Certo.Elenãosabiaqueeutinhaouvidoaconversadeles.—Querodizer,foielequetrouxevocêsparacáefezoacordocomClarence,nãoé?
—fiquei torcendoparaque fosseconvincenteobastante,equemerendesseumpoucodeinformaçãoarespeitodograndeplanodeAbe.—É—Adriandissedepoisdeváriossegundosdeexameintenso.—MasAbequer
queeufiquenestatumba.Seeutivesseumacasasóminha,nãopoderíamoscontarparaele.Desdenhei.—Entãoeucomtodaacertezanãovouajudar,mesmoquepudesse.Nemportodo
dinheirodomundoeuiriacontrariarAbe.Percebi queAdrian estava se preparandopara outra discussão e resolvime retirar.
Dei as costaspara ele e suasnovas reclamações, saí da cozinha e voltei para a sala.Láencontrei Jill eLeeconversando,e seu rostoestampavaoprimeiro sorriso sinceroqueeu tinha visto em um bom tempo. Ela deu risada de algum comentário que ele fez eentãoergueuosolhosquandoeuentrei.—Oi,Sydney—eladisse.—Oi—respondi.—Estáprontaparairembora?— Já está na hora?— ela perguntou. Ela e Lee pareciam decepcionados, mas ela
respondeu sua própria questão.—Acho que está.Você provavelmente tem lição decasa,eEddiejádeveestarpreocupado.Adrianentrounasalaatrásdemim,fazendobico.Jilldeuumaolhadanelee,porum
momento, seu olhar se voltou para dentro, como se sua mente tivesse ido parar em
outrolugar.Entãoelaseviroumaisumavezparamim.—É—eladisse.—Nósprecisamosirandando.Esperoqueagentepossaconversar
depois,Lee.—Eutambém—eledisseeselevantou.—Estareiaquidevezemquando.JilldeuumabraçodedespedidaemAdrian,claramenterelutandopordeixá-lopara
trástambém.ComLee,pareciamaisqueelaestavatristeporabandonaralgoquetinhaacabadodecomeçaraficarinteressante.ComAdrian,eramaiscomoseelanãosoubessecomo conseguiria suportar ficar longe dele. O próximo fornecimento dela estavamarcado para dali a dois dias, e Adrian a incentivou, dizendo que ela tinha forçasuficiente para sobreviver ao próximo dia de aula.Apesar de ter ficadome irritando,fiquei comovida com a sua compaixão pela jovem garota. Qualquer pessoa que fosselegalcomJillnãopodiaserassimtãoruim.Eleestavacomeçandoamesurpreender.—Vocêparecemelhor—disseaelaenquantoseguíamosparaVistaAzul.—ConversarcomAdrian...comosdois...ajudou.—Vocêachaquevaiestarbemamanhã?—Vou,sim—Jillsuspiroueserecostounoassento.—Foisónervosismo.Enão
tertomadomuitocafédamanhã.—Jill...—mordiolábio,hesitanteemseguiremfrente.Confrontonãoeraomeu
forte, principalmente em relação a assuntos pessoais constrangedores. — Você eAdrian...Jillmelançouumolhardecautela.—Oquetemnósdois?—Temalgumacoisa...querdizer,vocêsdois...?—Não!—decantodeolho,viquandoJill ficouemumtomderosa forte.Erao
máximodecorqueeujátinhavistonorostodeumvampiro.—Porqueestádizendoumacoisadessas?—Bom.Você estava passandomal hoje demanhã. E depois fezmuita questão de
falarcomAdrian.Vocêtambémsempreficatristequandosedespededele...Jillficouboquiaberta.—Vocêachaqueeuestougrávida?—Nãoexatamente—eudisseaoperceberqueaquelaeraumarespostameio sem
sentido.—Querdizer,talvez.Nãosei.Sóestoupensandoemtodasaspossibilidades...— Bom, não leve essa em conta! Não existe nada entre nós. Nada. Nós somos
amigos.Elenunca se interessariapormim—eladisse isso comcertezadesoladora, etalvezatéumpoucomelancólica.— Isso não é verdade— eu disse, esforçando-me para desfazer o dano.—Quer
dizer,vocêémaisnova,éverdade,masétãofofa...Nossa,masqueconversahorrível.Eusóestavafalandobobagem.—Não faça isso— Jill falou.—Nãome diga que eu sou legal e bonita e tenho
muitoaoferecer.Ouseiláoquê.Nadadissoimporta.Nãoseelecontinuaafimdela.—Ela?Ah.Rose.Eu tinhaquaseesquecido.Aprimeira vezqueviAdrianpessoalmente foinaminha
visita à corte, mas na verdade já o tinha visto antes uma vez, nas imagens de umacâmeradesegurançaemumcassino,comRose.Osdoistinhamnamorado,maseunãosabiabemsearelaçãotinhasidosériaounão.QuandoeuajudeiRoseeDimitriafugir,aquímicaentreosdoiseraincrível,apesardeambosnegaremofato.Atéeuteriasidocapaz de perceber a um quilômetro de distância, e eu não sabia quase nada sobrerelacionamentos.TendoemvistaqueRoseeDimitriformavamumcasaloficialagora,eusupunhaqueascoisascomAdriannãotinhamacabadobem.—É.Rose—Jillsuspiroueficoufitandoonadaàsuafrente.—Aúnicacoisaque
elevêquandofechaosolhoséela.Olhosescurosbrilhanteseumcorpocheiodefogoeenergia.Pormaisqueeletenteesquecer,pormaisqueelebeba...elasempreestálá.Elenãoconseguefugirdela.Pingava um amargor surpreendente da voz de Jill. Eu poderia ter atribuído esse
amargor ao ciúme, mas ela falava como se também tivesse sido pessoalmenteprejudicadaporRose.—Jill?Estátudobemcomvocê?—Hã?Ah—Jillsacudiuacabeça,comosetentasseselivrardasteiasdearanhade
umsonho.—Estátudobem,desculpe.Foiumdiaestranho.Estoumeioforademim.Vocênãotinhaditoquenóspoderíamoscompraralgumascoisas?Umaplacaparaapróximasaídaanunciavaumshopping.Entreinaondadamudançadeassunto,contentepormeafastardequestõespessoais,
mascontinuavabemconfusa.—Hum, é. Precisamos de protetor solar. E quem sabe podemos comprar uma tv
pequenaparaoquarto.—Seriaótimo—Jilldisse.Deixei as coisas assim e segui pela próxima saída. Nenhuma de nós voltou a
mencionarAdrianpelorestodanoite.
8
—Vocêvaicomerisso?—Eddieperguntou.ApesardenãosaberdetodaaconfusãoquetinhaacontecidocomJillnoprimeirodia
deaula,nãovê-laduranteodia inteiroohaviadeixadonervoso.Por isso,quandoeueela descemos para o segundo dia de aula, ele estava esperando no saguão do nossoalojamento,prontoparatomarcafédamanhãcomagente.Empurrei o meu prato com meiobagel para o outro lado da mesa. Ele já tinha
acabado com obagel dele, além de panquecas e bacon,mas aceitouminha oferta comrapidez.Ele atéquepodia serumacriaturahíbrida antinatural,mas,peloqueeupudenotar,seuapetiteeraigualaodequalqueradolescentehumano.—Comovocêestásesentindo?—eleperguntouaJilldepoisdeengolirumabocada
debagel.Comoelehaviaouvidofalarqueelanãotinha idoàsaulas,nóssimplesmenteinformamosaEddiequeJilltinhapassadomaldetantaansiedadeontem.Asacusaçõesderessacacontinuavammeirritando,masJillinsistiuparadeixarmosparalá.—Estoubem—elarespondeu.—Muitomelhor.Não fiznenhumcomentário sobre issomas,no fundo, tinha láminhasdúvidas. Jill
realmente pareciamelhor naquelamanhã,mas ela não tinha conseguidodormirmuitobemànoite.Aliás,tinhaacordadonomeiodamadrugada,gritando.Eupuleidacama,esperandoencontrarnadamenosdoquecemassassinosStrigoiou
Moroi irrompendo pela janela. Mas, quando olhei, só havia Jill ali, se debatendo egritando durante o sono. Corri até ela e finalmente consegui acordá-la com certadificuldade. Ela se sentou ereta, sem fôlego, agarrando o próprio peito. Quando seacalmou, disse que tinha sido apenas um pesadelo,mas havia algo em seus olhos... oresquício de algoreal. Isso me lembrou das várias vezes em que eu havia acordadoachando que os alquimistas tinham chegado para me levar para um centro dereeducação.
Ela insistiu que estava bem e, quando amanhã chegou, a únicamenção que fez aopesadelofoiparareforçarquenãocontássemosaEddie.—Sóvaiservirparadeixá-lopreocupado—eladisse.—E,alémdisso,nãoénada
demais.Euatéconcordei,masquandotenteiperguntaroquetinhaacontecido,elamudoude
assuntoeserecusouadiscutiraquestão.Depois,nocafédamanhã,elasemdúvidademonstravaumcertonervosismo,mas,
até onde eu sabia, isso estava mais relacionado a finalmente ter que enfrentar seuprimeirodiaemumaescoladoshumanos.—Aindanãoconseguisuperarofatodequesoutãodiferentedetodomundo—ela
disseemtombaixo.—Querdizer,paracomeçodeconversa,eusoumaisaltadoquequase todas as outras meninas aqui! — Era verdade. Não era incomum as Moroichegaremaummetroeoitentadealtura.AalturadeJillnãochegavaatanto,massuasilhuetaalongadaedelgadafaziacomqueparecessemaisaltadoqueeradeverdade.—Eeusoumuitoossuda.—Nãoé,não—eudisse.—Soumagrademais...comparadaaelas—Jillargumentou.—Todomundo tem alguma coisa— Eddie retrucou.—Aquelamenina ali tem
umatoneladadesardas.Aquelecararaspouacabeça.Nãoexisteessacoisade“normal”.Jill aindapareciaemdúvida,mas foipara a aulaobedientequandooprimeiro sinal
tocoueprometeuseencontrarcomEddieparaalmoçarecomigonaeducaçãofísica.Chegueiàauladehistóriaalgunsminutosadiantada.Asra.Terwilligerestavaempé
aoladodamesa,mexendoemalgunspapéis,emeaproximeicomhesitação.—Professora?Elaergueuosolhosparamimeempurrouosóculosparacimadonariz.—Humm?Ah,eumelembrodevocê.Srta.Melbourne.—Melrose—corrigi.—Tem certeza? Eu podia jurar que o seu nome era omesmo de algum lugar na
Austrália.—Bom,omeuprimeironomeéSydney—eudisse,semsabermuitobemsedevia
incentivá-la.—Ah.Entãonãoestoulouca.Nãoporenquanto,pelomenos.Emquepossoajudar,
srta.Melrose?—Euqueriaperguntar...bom,vejabem,eutenhoumalacunanohoráriodeaulas
porque jáatendia todososrequisitosde línguas.Queriasaberseasenhoranãoprecisadeoutromonitor...igualaoTrey—osupracitadoTreyjáestavapresente,sentadoemumacarteiraalocadaparaeleeorganizandopapéis.Eleergueuosolhosquandoouviuseunome e me olhou com desconfiança. — É o último período, professora. Então, sehouveralgumtrabalhoextradequeprecisa...
Os olhos dela me avaliaram durante vários momentos antes que respondesse. Eutinhame assegurado de cobrir aminha tatuagem,mas parecia que ela estava olhandodiretamenteparaela.—Nãoprecisodeoutromonitor—eladissedemododireto.Treydeuumsorriso
sacana.—Osr. Juarez, apesarde suasmuitas limitações, émaisdoquecapazdedarconta de todas asminhas pilhas de papel—o sorrisinho dele desapareceu com aqueleelogiomalsucedido.Assentiecomeceiameafastar,decepcionada.—Tudobem.Eucompreendo.—Não, não.Acho que não. Sabe, eu estou escrevendo um livro— ela fez uma
pausa,epercebiqueestavaesperandoqueeuparecesseimpressionada.—Sobrereligiãoheregeemagianomundogreco-romano.JádeiaulassobreissonaFaculdadeCarlton.Éumassuntofascinante.Treysegurouumatosse.— Então, eu realmente estava precisando de um assistente de pesquisa para me
ajudar a encontrar certas informações, executar pequenas tarefas, esse tipo de coisa.Estariainteressada?Fiqueiboquiaberta.—Claro,professora.Muito.— Para que você conseguisse crédito como estudo independente, teria que fazer
algumprojetoparalelo...pesquisaetrabalhopróprios.Nãoprecisanemchegarpertodotamanhodomeulivro,éclaro.Háalgodessaépocaqueainteressa?—Hum, sim— eumal conseguia acreditar.—Arte e arquitetura clássicas. Eu
adorariapoderestudarmaissobreisso.Agoraelapareciaimpressionada.— É mesmo? Então parece que nós formamos uma combinação perfeita. Bom,
quase.Éumapenavocênãosaberlatim.— Bom... — desviei o olhar. — Eu, hum, na verdade... eu sei ler latim —
arrisquei dar mais uma olhada nela. Em vez de impressionada, ela estava mais paraestupefata.—Nossa.Masquecoisa—elasacudiuacabeça,inconformada.—Tenhoatémedo
deperguntarsobregrego.—Osinaltocou.—Váparaoseulugar,depoisvenhafalarcomigonofimdodia.Oúltimoperíodoéomeuhoráriodeplanejamento,entãovamostertempodesobraparaconversarepreencherapapeladanecessária.VolteiparaaminhacarteiraeEddietocouseupunhofechadonomeu,emaprovação.—Belotrabalho.Agoravocênãovaiprecisarfazerumaauladeverdade.Claroque,
seelafizervocêleremlatim,vaiserpiordoqueumaauladeverdade.—Eugostodelatim—respondicomabsolutaseriedade.—Édivertido.Eddiesacudiuacabeçaedissebembaixinho:
—Nãoacreditoquevocêachaquenóssomososestranhos.OscomentáriosdeTreynaaulaseguinteforammenoselogiosos.—Uau,masvocêrealmentetemTerwilligernapalmadamão.—Eleapontoucom
acabeçanadireçãodaprofessoradequímica.—Vaidizeraelaquedesmembraátomosnashoraslivres?Temumreatornoquarto?—Nãohánadadeerradoem...—interrompiamimmesma, semtercertezado
quedizer.Quasefalei“serinteligente”,masiaparecermuitoarrogante.—Nãohánadadeerradoemsaberascoisas—eufinalmentedisse.—Claro—eleconcordou.—Quandooconhecimentoélegítimo.Eume lembreida conversamaluca comKristin e Julianodia anterior.Como tive
quelevarJillatéAdrian,tinhaperdidoasessãodeestudosenãopudedarcontinuidadeàsperguntassobreaminhatatuagem.Mesmoassim,pelomenossabiadeondevinhaodesdém de Trey — apesar de parecer absurdo. Ninguém mais na escola tinhamencionadoespecificamenteofatodeaminhatatuagemserespecial,masváriaspessoasjá tinham se aproximado para perguntar onde eu a tinha feito. FicavamdecepcionadosquandoeurespondiaquetinhasidonaDakotadoSul.— Olhe, não sei de onde veio esta ideia de que a minha tatuagem me deixa
inteligente,masseéoquevocêpensa,bom...nãopense.Ésóumatatuagem.—Elaédourada—eleargumentou.—Edaí?—perguntei.—Ésóumatintaespecial.Nãoentendoporqueaspessoas
acreditamquetenhaalgumapropriedademística.Quemacreditanessascoisas?Eledeuumagargalhadadedesdém.—Metadedestaescolaacredita.Então,comoéquevocêétãointeligente?Seráqueeueraumaaberraçãoassimtãograndenoquesitoacadêmicoqueaspessoas
tinhamquerecorreraexplicaçõessobrenaturais?Deiaminharespostadesempre.—Fuieducadaemcasa.—Ah—Treydisse,pensativo.—Issoexplicatudo.Suspirei.—Mas apostoque a suaeducaçãoemcasanão ajudoumuito comaeducação física
—elecompletou.—Oquevaifazerarespeitodaexigênciadepráticaesportiva?—Nãosei,nãotinhapensadosobreesseassunto—respondi,mesentindoumpouco
desconfortável. Eu era capaz de dar conta do conteúdo acadêmico de Amberwoodenquantodormia.Masaparteatlética?Nãosabiadizer.— Bom, émelhor decidir logo, o prazo final está chegando. Não fique com uma
cara tãopreocupada—elecompletou.—Quemsabedeixamquevocêabraumclubedelatimemvezdisso.—Oquevocêquerdizercomisso?—pergunteisemgostarnadadotomdele.—
Eujápratiqueiesportes.Eledeudeombros.
— Você é que sabe. Não parece ser do tipo atlético. Você parece muito...arrumadinha.Nãosabiadizerseissoeraumelogioounão.—Qualéoseuesporte?Treylevantouoqueixo,parecendomuitoorgulhosodesimesmo.—Futebolamericano.Umesporteparahomensdeverdade.Umsujeitoqueestavasentadoporpertoouviuoqueeledisseeolhouparatrás.—Penaquevocênãovaificarcomavagadelançador,Juarez.Chegoutãopertono
anopassado...Parecequevaiseformarsemrealizarmaisessesonho.EuachavaqueTreynãogostavade mim—masquandoelevoltouaatençãoparao
outrosujeitofoicomoseatemperaturacaíssedezgraus.PercebinaquelemomentoqueTrey só gostava de pegar nomeu pé.Mas, com esse outro cara...Trey o desprezavacompletamente.—Nãomelembrodevocêestarnopáreo,Slade—Treyretrucoucomolhosduros.
—Porquevocêachaquevaificarcomaposiçãoesteano?Slade — não ficou claro se esse era seu nome ou sobrenome — trocou olhares
significativoscomdoisamigos.—Ésóumasensação—elesseviraramparaooutrolado,eTreydesdenhou.—Maravilha— resmungou.— Slade finalmente conseguiu juntar dinheiro para
fazeruma.Quersabersobretatuagens?Váfalarcomele.Minha primeira impressão me dizia que Slade não era alguém com quem eu iria
gostar de conversar, masTrey não deu mais explicações.A aula logo começou, masenquanto eu tentava me concentrar na lição, só conseguia pensar na obsessão queAmberwoodpareciatercomtatuagens.Oqueaquilosignificava?Quando chegou a horada educação física, fiquei aliviada ao ver Jill no vestiário.A
meninaMoroimelançouumsorrisocansadoenquantosaímosparaaquadra.—Comofoioseudia?—perguntei.—Tudobem—Jill respondeu.—Não foi ótimo.Não foi péssimo.Na verdade,
nãoconhecimuitagente.—Elanãofalounada,masseutomimplicavaoseguinte:“Estávendo?Eudissequeiapareceresquisita”.Mas,quandoaaulacomeçou,noteiqueoproblemaeraqueJillpassavadespercebida
demais. Ela evitava olhar nos olhos das pessoas, deixando-se levar pelo nervosismo, enão fazia nenhum esforço para conversar. Ninguém a deixava de lado de maneiraexplícita,mas com as vibrações que ela passava, ninguém se dava ao trabalho de falarcomela.Eucomcertezanãoeraapessoamaissociáveldomundo,mas,mesmoassim,sorriaetentavaconversarcomosmeuscolegasenquantotreinávamosjogadasdevôlei.Eraosuficienteparaalimentarfaíscasdeamizade.Também reparei logo emoutro problema.A turma tinha sido dividida em quatro
times,quedisputavamdoisjogossimultâneos.Jillestavanooutrojogo,masdevezem
quandoeudavaumaolhadanela.Elapareciaarrasadaeesgotadadepoisdedezminutos,mesmo sem participar muito do jogo. Os reflexos dela também eram ruins.Váriasbolaspassaramporela, e asquepercebeu foramrecebidas commanobrasdesajeitadas.Algunsdeseuscolegasdetimetrocavamolharesdefrustraçãoportrásdascostasdela.Voltei a atenção ao meu próprio jogo, ainda preocupada com ela, bem quando o
outro time lançou uma bola para uma zona que não estava bem defendida pelo meutime.Eunãotinhaosreflexosque,digamos,umdampirotinha,mas,naquelafraçãodesegundo,omeucérebropercebeuqueeuseriacapazdebloquearabola sememovessecomrapidezsuficiente.Fazerissoeracontraosmeusinstintosnaturais,aquelesquemediziam:Nãofaçanadaquepossamachucaroutesujar.Eusempretinharaciocinadocomcuidadoantesdetomarqualqueratitude;nuncaagiporimpulso.Masnãodessavez.Eutinha que deter aquela bola.Mergulhei na direção dela e a passei para outro colega detime,queentãopôdemandá-laparaooutroladodaredeeforadeperigo.Ajogadamefez cair de joelhos com tudo, não foi nada graciosa e fez osmeus dentes se chocarem,mas eu tinha conseguido impedir que o time adversário marcasse ponto. Os meuscolegasdetimecomemorarameeufiqueisurpresaaomepegardandorisada.Eusemprehavia sido treinada só para fazer coisas que tivessem algummotivomaior e concreto.Esportes eram uma coisa meio contrária ao modo de vida dos alquimistas, porqueserviamapenasparadiversão.Talvezumpoucodediversãonãofosseassimtãoruimdevezemquando.—Ótimo,Melrose—asrta.Carsondisseaoseaproximar.—Sevocêquiseradiar
oseuesporteatéoinvernoeficarnotimedevôlei,venhafalarcomigomaistarde.—Muitobem—Micahdisseemeofereceuamão.Sacudi a cabeçaeme levantei
sozinha. Fiquei desanimada ao ver um arranhão na minha perna, mas continuavasorrindodeorelhaaorelha.Sealguémtivessemeditoduassemanasantesqueeuficariaassim tão feliz de rolar no chão, eu não teria acreditado.— Ela não costuma fazermuitoselogios.Eraverdade.Asrta.CarsonjátinhapegadonopédeJillváriasvezes,eagoraparava
o nosso jogo para corrigir a postura relaxada de um dos nossos colegas de time. Euaproveitei o intervalo para observar Jill, cujo jogo prosseguia. Micah seguiu o meuolhar.—Nãoécoisadefamília,certo?—eleperguntou,solidário.—Não—murmurei.Meusorrisodesapareceu.Sentiumapontadadedornopeito
pormeexaltartantocommeuprópriotriunfoquandoelaobviamenteestavatendotantadificuldade.Nãopareciajusto.Jillaindapareciaexausta,eseucabeloencaracoladoestavaempapadodesuor.Pontos
cor-de-rosatinhamaparecidoemsuabochecha,dandoaelaumarfebril,eelapareciaseesforçar ao máximo para continuar de pé. Era estranho Jill ter tanta dificuldade. Eutinha ouvido uma breve conversa em que ela e Eddie discutiam golpes de defesa e
combate,oquemederaaimpressãodequeJillerabematlética.ElaeEddietinhamatéfaladoemtreinarmaistardenaquelamesmanoitee...—Osol—resmunguei.—Hã?—Micahperguntou.EutinhamencionadoasminhaspreocupaçõesarespeitodosolaStanton,maselaas
tinha desprezado. Ela apenas aconselhou Jill a tomar cuidado e ficar em ambientesfechados—oqueJillfez.Excetoquandoasexigênciasdaescolaaforçavamafazerumaaulaaoar livre,claro.ObrigaremJill apraticaresportes sobosolescaldantedePalmSpringseraumacrueldade.Eraimpressionanteofatodeelaaindaestarempé.Suspireiefizumaanotaçãomentalparafalarcomosalquimistasmaistarde.—Vamosterquepedirumadispensamédicaparaela.—Doquevocêestáfalando?—Micahperguntou.Ojogohaviarecomeçadoeelese
colocounaposiçãoaomeulado.—Ah.Jill.Ela...elaésensívelaosol.Émaisoumenosumaalergia.Comoseestivesse aproveitandoadeixa,ouvimos a srta.Carsonexclamardaoutra
quadra:—MelroseJúnior!Estácega?Nãoviuabolavindobemparacimadevocê?Jillbalançouocorpo,masaceitouacrítica,cabisbaixa.Micahficouobservandoasduascomatestafranzidae,assimqueasrta.Carsonsaiu
parareclamarcomoutrapessoa,elesaiucorrendodaformaçãodonossotimeefoiatéojogodeJill.Apressada,tenteicobriraposiçãodeleeaminha.Micahfoiatéumsujeitoao lado de Jill, cochichou alguma coisa e apontou paramim.Ummomento depois, osujeitocorreuparaomeutimeeMicahficoucomaposiçãoaoladodeJill.Conforme a aula seguia, eu percebi o que estava acontecendo. Micah era bom no
vôlei—muitobom.Tantoquefoicapazdedefenderaposiçãodele etambémadeJill.Semvermaisnenhumerrocrasso,asrta.Carsonvoltouaatençãoparaoutrolugareotime de Jill ficou um poucomenos hostil em relação a ela.Quando o jogo terminou,Micahpegouobraçode Jill e a levoucomrapidez até a sombra.Pelomodocomoelacambaleava,pareciaqueeleeraaúnicacoisaqueamantinhadepé.Euestavaparamejuntaraelesquandoouvivozeselevadasaomeulado.—Vou fazerhojeànoite.Ocaracomquemeu falei juraquevai ficar incrível—
eraSlade,osujeitoquetinhadiscutidocomTreyantes.Eunãotinhapercebidonosolnomeio do jogo, mas ele era o garoto com quem Micah tinha trocado de lugar.— Émelhorquefiquemesmo—Sladeprosseguiu—pelovalorqueeleestámecobrando.DoisamigosdeSladesejuntaramaelequandotomouorumodovestiário.— Quando vão ser os testes, Slade? — um dos amigos perguntou. Na aula de
química, eu havia descoberto queo nomede Slade eraGreg,mas aparentemente todomundosereferiaaelepelosobrenome,atéosprofessores.— Sexta-feira — Slade disse. — Eu voumatar. Tipo, destruir todo mundo
completamente.VouarrancarocourodoJuarezefazerelecomer.Que amor, eu pensei enquanto observava o grupinho se afastar. Minha avaliação
inicialdeSladetinhasidocorreta.EumevireiparaJilleMicaheviqueeletinhapegadoumagarrafadeáguaparaela.Elespareciambemporora,porissochameiaatençãodasrta.Carsonquandoelapassou.—Aminhairmãpassamalnosol—eudisse.—Ficamuitodifícilparaela.—Muitosalunostêmproblemascomosolnocomeço—asrta.Carsondissecom
ardequemsabedoqueestáfalando.—Sóprecisamsefortalecer.Vocêseviroubem.—É,bom,nóssomosbemdiferentes—eudisse,seca. Ah,seelasoubesse.—Não
achoqueelaváseacostumar.—Não posso fazer nada— a srta. Carson disse.— Se eu permitir que ela não
jogue,vocêtemideiadequantosoutrosalunosderepentevãosesentir“cansados”pelosol?Amenosqueelatenhaumadispensamédica,vaiterqueaguentar.AgradeciefuimejuntaraJilleMicah.Aomeaproximar,ouviMicahdizer:—Vátomarumbanho.Euacompanhovocêatéapróximaaula.Nãoqueroquevocê
saiadesmaiandopeloscorredores—ele fezumapausaerefletiu.—Claroqueeuvouficarmuitofelizemsegurarvocêcasorealmentedesmaie.Jillestavacompreensivelmentetonta,masbemosuficienteparaagradecê-lo.Elalhe
dissequeseencontrariacomeleembreveefoiparaovestiáriofemininocomigo.Viosorriso estampado no rosto deMicah e um pensamento preocupante me ocorreu. Jillparecia bem estressada, por isso resolvi não dizer nada, mas a minha preocupaçãocresceu quando saímos para o último período. Micah acompanhou Jill, como tinhaprometido,edisseaelamaistarde,quandoanoiteceu,quepodiaensiná-laajogarvôleiseelaquisesse.Enquanto estávamosparadasna frenteda sala de aula, umameninade cabelo ruivo
comprido e atitude arrogante passou por nós, seguida por um grupinho de outrasgarotas. Ela fez uma pausa quando viu Micah e jogou o cabelo por cima do ombro,lançandoumenormesorrisoparaele.—Oi,Micah.MicahestavatãoconcentradoemJillquemalolhounadireçãodaoutragarota.—Ah,oi,Laurel.ElesaiuandandoeLaurelficouobservandocomumaexpressãosombriaenquantoele
seafastava.ElalançouumolharperigosoparaJill,jogouocabelocompridoporcimadooutroombroesaiupisandofirme.Opa,eupenseiaovê-laandandocompassospesadospelocorredor. Seráqueissovai
voltarparanosassombrar?Foiumdaquelesmomentosemqueeudesejavatertidoumaaulasobrecomportamentosocial.Fuiparaasaladasra.Terwilligeremseguida,epasseiamaiorpartedesseencontro
inicialestabelecendoosobjetivosdosemestreeesboçandooqueeufariaparaela.Teria
que ler e traduzirmuito,oqueparamimeraótimo.Tambémpareciaquemetadedomeu trabalho consistiria em organizar tudo para ela— e eu era excelente nisso. Otempovooue,assimquefui liberada,corriaoencontrodeEddie.Eleestavaesperandocomumgrupodegarotosnaparadadeônibusparavoltaraoalojamento.Quandomeviu,suareaçãofoiadesempre:—EstátudobemcomJill?—Tudocerto...bom,maisoumenos.Podemosconversaremalgumlugar?OrostodeEddiesefechou,semdúvidaimaginandoquehaviaumalegiãodeStrigoi
acaminhodaliparacaçá-la.Nósvoltamosparadentrodeumdosprédiosacadêmicoseencontramos cadeiras em um canto isolado que recebia a potência total do ar-condicionado. Fiz um relatório rápido sobre Jill e suas desventuras debaixo do sol naeducaçãofísica.—Nãoacheiquefosseserassimtãoruim—Eddiedisse,sombrio,ecoandoosmeus
pensamentos.—GraçasaDeusMicahestavalá.Vocêpodefazeralgumacoisa?—Posso,achoquepodemosconseguiralgocomosnossos“pais”oucomummédico.
— Por mais que odiasse a ideia, completei: — Keith pode nos ajudar a acelerar oprocesso.—Quebom—Eddiedisse,firme.—Nãopodemospermitirqueelasejajudiada.
Falareicomaprofessorapessoalmente,sefornecessário.Escondiumsorriso.—Bom,esperoquenãochegue a tanto.Mas temmaisumacoisa...nadaperigoso
— completei com rapidez, ao ver aquela expressão combatente passar por seu rostomais uma vez. — É só uma coisa... — tentei não dizer as palavras que estavampipocandonaminhacabeça.Terrível.Errada.—Preocupante.Acho...achoqueMicahgostadeJill.OrostodeEddieficouparalisado.—Claroqueelegostadela.Elaélegal.Eleélegal.Elegostadetodomundo.—Nãoé issoqueeuestoudizendo,evocê sabemuitobemoquequerodizer.Ele
gostadela.Dojeitoqueémaisdoqueamizade.Oquenósvamosfazerarespeitodisso?Eddie fitouooutro ladodo corredorpor algunsmomentos antes de se voltarmais
umavezparamim.—Porquenósprecisamosfazeralgumacoisa?—Comoéquevocêpodeperguntarumacoisadessas?—exclamei,chocadacoma
resposta. —Você sabe por quê. Humanos e vampiros não podem ficar juntos! Érepugnanteeerrado—aspalavrassaltaramdaminhabocaantesqueeupudessesegurá-las.—Atéumdampirocomovocêdeviasaberdisso.Eledeuumsorrisodesolado.—“Atéumdampirocomoeu”?Suponho que tenha sido um pouco insultante, mas não tinha como evitar. Os
alquimistas — eu incluída — nunca acreditavam que os dampiros e os Moroi sepreocupavam o suficiente com problemas que eram importantes para nós. Eles atépodiamreconhecerumtabucomoaquele,masanosdetreinamentodiziamquesónós,oshumanos, realmente levávamos isso a sério.Esse eraomotivopeloqual o trabalhodos alquimistas era tão importante. Se nós não cuidássemos daquelas questões, quemcuidaria?—Estoufalandosério—disseaele.—Issoéalgocomquetodosnósconcordamos.Osorrisodelesumiu.—Émesmo.AtéRoseeDimitri,quetinhamaltatolerânciaparaloucura,tinhamficadochocados
quando conheceram os conservadores,Moroi rebeldes que se relacionavam livrementecomdampirosehumanos.Eraumtabuquenóstrêscompartilhávamos,etínhamosnosesforçado muito para tolerar o costume durante o tempo que passamos com osconservadores.ElesviviamescondidosnasmontanhasApalacheehaviam fornecidoumrefúgio excelente para Rose quando ela estava foragida. Ignorar seus modos selvagenstinhasidoumpreçoaceitávelpelasegurançaqueelesnosofereciam.— Você pode falar com ele? — pedi. — Não acho que Jill tenha qualquer
sentimento forte por ele. Ela temmuitomais coisas com que se preocupar. De todomodo,devesaberqueémelhornãoseaproximar...mas,mesmoassim,seriamelhorsevocêpudessedesencorajá-lo.Podemosacabarcomissoantesqueelaseenvolva.—Oquevocêquerqueeudiga?—Eddieperguntou.Elepareciaperdido,e achei
issoengraçado,levandoemcontaqueestavaprontoparafazerqualquertipodeexigênciaàsrta.CarsonemnomedeJill.—Sei lá.Dêumade irmãomaisvelho.Ajacomosequisesseprotegê-la.Digaque
elaénovademais.EuachavaqueEddieiriaconcordar,maselemaisumavezdesviouoolhar.—Nãoseisedevemosdizeralgumacoisa.—Oquê?Estálouco?Vocêachaquetudobemse...—Não,não—elesuspirou.—Nãoestoudefendendoisso.Masolheparaasituação
da seguintemaneira. Jill está emuma escola cheia de humanos.Não é justo se ela forproibidadeconversarcomtodososcaras.—AchoqueMicahquermaisdoqueconversar.—Bom, e por que ela não pode sair com alguémde vez emquando?Ou ir a um
baile?Eladeviafazertodasascoisasnormaisqueasmeninasdaidadedelafazem.Avidadelajásofreumudançasradicais.Nãodevemostorná-laaindamaisdifícil.Olheidescrenteparaele,tentandoentenderporqueestavatãotranquiloemrelação
a isso. Claro que ele não iria encarar as mesmas consequências que eu. Se os meussuperiores descobrissem que eu estava“incentivando” um namoro entre um humano eumavampira,seriamaisumaprovacontramimeaminhasupostatendênciaaproteger
vampiros.Lánofundo,eusempresoubequehaviaapossibilidadedehaverumcentrodereeducação àminha espera.Ainda assim, eu sabia que o pessoal deEddie tambémnãogostaria da ideia. Então, qual era o problema? Uma hipótese estranha de repente meocorreu.—AchoquevocêsimplesmentenãoquerconfrontarMicah.Eddieolhoubemparamim.—Écomplicado—disse.Algoemseurostomediziaqueeutinhaacertadooalvo.
—PorquevocênãofalacomaJill?Elaconheceasregras.Vaientenderquepodeficarcomele,massósenãofornadasério.—Achoqueéumamá ideia—eudisse, ainda incapazde acreditarqueeleestava
tendoaquelaatitude.—Nósestamoscriandoumaáreacinzentaaquiquevaiacabarnostrazendoconfusão.Nóspodemosmantertudopretonobrancoeproibirqueelasaiacomalguémenquantoestiveraqui.Aquelesorrisosecovoltou.—Tudoétãopretonobrancocomvocês,alquimistas,nãoémesmo?Vocêsacham
querealmentepodemimpedirqueelafaçaqualquercoisa?Deviasaberqueascoisasnãofuncionamassim.Atéasuainfâncianãodevetersidotãoanormal.Com esse tapa na cara, Eddie saiu pisando firme e me deixou em choque. O que
tinhaacabadodeacontecer?ComoEddiepodiaacharquetudobemJillsaircomMicah?Logoele,que fazia tantaquestãode fazer sempreoqueera certopara Jill?Havia algoestranho acontecendo ali, algo ligado aMicah, apesar de eu não conseguir entender oquê. Bom, eu me recusei a deixar o assunto para lá. Era importante demais. Euconversaria com Jill para ter certeza de que ela sabia distinguir o certo do errado. Sefossenecessário,tambémiriaconversarcomMicah—apesardeaindaacharmelhorqueaconversapartissedeEddie.E,aolembrarqueeutinhaqueiratrásdeumadispensamédica,penseiemmaisuma
fontequetinhamuitainfluênciasobreJillàqualeupoderiaapelar.Adrian.Euteriaquefazermaisumavisitanofuturo.
9
Levando em conta que eu só deveria visitar a casa de Clarence duas vezes por semana para osfornecimentos, fiquei surpresa ao perceber que eu estava indo lá quase todos os dias.Além disso, essa era a primeira vez que eu ia à propriedade sozinha.Antes, eu tinhaestado lá com Keith ou com Jill, sempre com um objetivo bem definido.Agora, euestavasozinha.Nãotinhamedadocontadecomoissomeapavoravaatémeaproximardacasa,quepareceuaindamaisimponenteesombriaqueonormal.Não há nada a temer, disse a mim mesma. Você passou a semana toda com uma
vampiraeumdampiro.Jádeviaestaracostumada .Alémdomais,narealidade,acoisamaisassustadoradolugareraacasaemsi.ClarenceeLeenãoeramdeintimidartantoassim,eAdrian...bom,Adrianerabasicamenteovampiromenosassustadorqueeujátinhaconhecido.Eleagiademaiscomoumpirralhoparasuscitarqualquermedoreale,naverdade...pormaisqueeudetestassereconhecer,eumeioqueestavaansiosaparavê-lo. Não fazia sentido, mas algo em sua natureza enfurecedora fazia com que eu meesquecessedasminhasoutraspreocupações.Estranhamente,eu sentiaquepodiarelaxarpertodele.Dorothymeacompanhoupelocorredoreacheiqueseria levadaparaasaladeestar
maisumavez.Emvezdisso,aempregadameconduziuporcurvasecorredoresescurosdacasaefinalmentechegamosaumsalãodebilharquepoderiatersaídodiretamentedeum tabuleiro deDetetive.Maismadeira escura forrava o aposento e janelas de vitraiscoloridosfiltravamaluzdosolqueentrava.Amaiorpartedailuminaçãovinhadeumalumináriaquependiasobreumamesadesinucaverde,todarebuscada.Adrianestavasepreparandoparaumatacadaquandofecheiaportaatrásdemim.—Ah—eledisse,aojogarabolavermelhadentrodeumacaçapa.—Évocê.—Estavaesperandooutrapessoa?—perguntei.—Estouinterrompendosuaagenda
social?—Fizumaencenaçãoolhandoaoredordasalavazia.—Nãoquerofazervocêseafastardamultidãodefãsbatendoàsuaporta.
—Ei,agentepodeteresperança.Querdizer,nãoéimpossívelqueumcarrocheiodegarotasda faculdadecomroupas ínfimasquebrealinaruaeelasprecisemdaminhaajuda.—Éverdade—eudisse.—Talvezeupossacolocarumaplacanafrentedacasaque
diga:“Atenção,garotas:ajudagrátisaqui”.—“Atenção,garotasgostosas”—elecorrigiueaprumouocorpo.— Certo — eu disse, tentando não revirar os olhos. — Essa é uma distinção
importante.Eleapontouparamimcomotacodesinuca.—Falandoemgostosa,gosteidouniforme.Dessa vez, realmente revirei os olhos.Depois da última vez, quandoAdrian tinha
brincadoqueomeuuniformesepareciacomasminhasroupasnormais,trateidetirá-loantesdeirparalánaqueledia.Euestavausandojeansescuroeumablusaestampadadepreto e branco com gola de babados.Devia ter previsto que a troca de roupa nãomepoupariadosseuscomentáriosengraçadinhos.—Sóvocêestáaqui?—pergunteiaonotarseujogosolitário.—Quenada.Clarenceestáporaífazendo...nãoseioquê.Algumacoisadevelho.E
achoqueLeeestáconsertandoaquelafechaduraantesdevoltarparaLosAngeles.Émeioengraçado. Parece que ele está aborrecido por precisar usar ferramentas. Ele ficaachandoqueaforçadasprópriasmãosdeviasersuficiente.Nãopudedeixardesorrir.—Acreditoquevocênãotenhaseoferecidoparaajudar,certo?—Sage—Adriandeclarou.—Estasmãosnãoexecutam trabalhopesado.—Ele
jogououtrabolaemumacaçapa.—Querjogar?—Oquê?Comvocê?—Não,Sage,comClarence—elesuspirouaoveraminhacaradequemnãoestava
entendendonada.—Éclaroqueécomigo.—Não.PrecisoconversarcomvocêsobreaJill.Ele ficou em silêncio por algunsmomentos e então retomou o jogo como se nada
tivesseacontecido.— Ela não passoumal hoje— ele disse com segurança, apesar de haver um tom
amargoestranhoemsuaspalavras.—Não. Bom, não damesmamaneira. Ela passoumal no sol durante a educação
física.VoufalarcomKeithdepoisquesairdaquiparaverseconseguimosumadispensamédica.—Naverdade,eutinhatentadoligarparaeleantes,semsorte.—Masnãofoiporissoqueeuvimaqui.TemumcaraquegostadeJill...umhumano.—PeçaaCastileparadarumaduranele.Eumerecosteiesuspirei.—Essaéaquestão.Eupedi.Bom,nãoexatamenteparadarumadura.Éocolegade
quarto dele. Eu pedi a Eddie para dizer a ele que se afastasse, e para inventar algumadesculpa... tipo dizer que ela é muito nova.— Com medo de queAdrian fosse tãorelapso a esse respeito quanto Eddie, eu perguntei: —Você compreende por que éimportante,nãoé?Moroiehumanosnãopodemnamorar,certo?Eleobservavaamesa,enãoamim.—É,concordocomvocê,Sage.Mas,mesmoassim,nãoentendiqualéoproblema.—Eddie se nega a falar com ele. Diz que não acha que Jill deva ser impedida de
aproveitarachancedenamorareirabailes.QuetudobemseelaeMicahsaírem,desdequenãofiquesério.Adrianerabomemesconderseussentimentos,masaparentementeeuotinhapegado
desurpresa.Eleendireitouocorpoecomeçouagirarabasedotaconochãoenquantopensava.—Issoéestranho.Querdizer,euentendoa lógica,eele temcerta razão.Elanão
deveserforçadaaseisolarenquantoestiveraqui.SóestousurpresoporCastileterditoisso.—Poisé,maséumconceitodifícildeseguir.Qualéolimiteentreoqueé“sério”e
o que não é? Sinceramente, tenho a sensação de que Eddie simplesmente não quisconfrontarMicah...ocolegadequartodele.E issoé loucura,porqueEddienãopareceser do tipo que tem medo de nada. O que Micah tem para deixar Eddie tãodesconfortável?—EsseMicahéalgumtipodesujeitograndalhão?—Não—respondi.—Ele temumbomfísico,acho.Ébomnosesportes.Muito
simpáticoebomdeconversa...nãoédotipoqueiriasevoltarcontravocêsedissesseaelequenãoéparasaircomasuairmã.— Então você pode conversar com ele. Ou pode só conversar com a Chave de
Cadeia e explicar as coisas para ela—Adrian parecia satisfeito por ter solucionado oproblemaeencaçapadoaúltimabola.—Esseeraomeuplano.Sóqueriatercertezadequevocêmeapoiaria.Jillescutao
quevocêdiz,eacheiqueseriamaisfácilseelasoubessequevocêconcordacomigo.Nãoqueeusaibacomoelasesente.Atéondeeusei,issotudoéexagero.—Não fazmal nenhum sermos cuidadosos em relação a ela—Adrian disse. Ele
ficoufitandoonada,perdidoemseusprópriospensamentos.—Evoudizeraelaoqueeuachodisso.—Obrigada—eudisse,umpoucosurpresacomafacilidadedaquilo.Osolhosdelesdançavam,marotos.—Agora,seráquevocêjogariaumapartidacomigo?—Eu,naverdade,não...AportaseabriueLeeentrouvestidocasualmente,comjeansecamiseta.Eletrazia
namãoumachavedefenda.
—Oi, Sydney.Acheimesmo que tinha visto o seu carro lá fora— ele deu umaolhadaaoredor.—Hum,Jillveiocomvocê?—Hoje,não—respondi.Tiveuma ideiaquandome lembreidequeLeeestudava
emLosAngeles.—Lee,vocêjánamoroualgumagarotahumananasuafaculdade?Adrianarqueouasobrancelha.—EstáconvidandoLeeparasair,Sage?Eumeirritei.—Não!Leeficoupensativo.—Não,naverdade,não.Tenhoalgunsamigoshumanos,enós saímosemgrupoe
passamosumtempojuntos...masnuncafizmaisdoqueisso.SóqueLosAngeleséumacidadegrande.HágarotasMoroiporlá,sevocêsouberondeprocurar.Adrianseanimou.—Émesmo?A minha esperança de que Lee pudesse dizer a Jill que ele também tinha evitado
namorar.—EntãoasuafacilidadeemarranjarencontrosdeveserbemmaiordoqueadeJill.—Comoassim?—Leeperguntou.Contei a ele tudo sobre Micah e Eddie. Lee foi assentindo enquanto escutava,
pensativo.—Issoécomplicado—elereconheceu.— Será que podemos voltar à parte das garotas Moroi que circulam por Los
Angeles? — Adrian perguntou, todo esperançoso. — Será que você poderia meapresentaraalgumasdas...ah,digamos,dasquetêmamentemaisaberta?MasaatençãodeLeeestavaemmim.Osorrisofácildelesetransformouemarde
preocupaçãoeeleolhouparaospés.—Istopodeparecermeioestranho...mas,querdizer,eunãoachariaruimconvidar
aJillparasair.Adrian já estava dando a sua opinião antesmesmo de eu conseguir pensar emuma
resposta.—Comoassim?Tipo,emum encontro?Seufilhodamãe!Elasótemquinzeanos.
— Nem dava para imaginar que, um momento antes, ele estava falando de garotasMoroifáceis.—Adrian—eudisse.—EstouachandoqueadefiniçãodeLeeparaencontroéum
poucodiferentedasua.—Desculpe,Sage,masvocêtemqueconfiaremmimquandoaquestãoédefinirum
encontro. Pelo que eu saiba, você não é especialista em questões sociais. Quer dizer,qual foiaúltimavezemquevocêesteveemumencontro?—esseerasómaisumdoscomentários espertinhos que ele lançava para todos os lados com tanta facilidade,mas
doeuumpouco.Seráqueaminhafaltadeexperiênciasocialeraassimtãoóbvia?—Mas—completei, ignorandoaperguntadeAdrian—háumagrandediferença
deidade.EusinceramentenãofaziaamenorideiadequantosanosLeetinha.Comoeleestava
na faculdade, era uma pista, mas Clarence parecia ser incrivelmente velho. Mas terfilhosnofimdavidanãopareciaassimtãoestranho,tantoparahumanosquantoparaosMoroi.—Pronto—Leedisse.—Eutenhodezenoveanos.Nãoéumadiferençaassimtão
grande...maséosuficiente.Eunãodeviaterditonada—elepareciaconstrangidoeeufiqueicompenadeleeconfusacomigomesma.Formarcasaiseraalgoquenãoestavanomanualdosalquimistas.—PorquevocêiriaquererconvidarJillparasair?—perguntei.—Querdizer,ela
é ótima. Mas você quer fazer isso só para que ela se distraia de Micah e tenha umaalternativadeencontrosegura?Ouvocê,hum,gostadela?—Claroqueelegostadela—Adriandisse, apressando-seemdefenderahonrade
Jill.FiqueicomasensaçãodequerealmentenãohaviaumarespostaboaqueLeepudesse
daràquelaaltura.Seeleexpressasseinteressenela,osinstintoscavalheirescosbizarrosdeAdrian entrariam em ação. Se Lee não estivesse interessado,Adrian sem dúvida iriaexigirsaberporqueLeenãoqueriasecasarcomelaalimesmo,naquelemomento.Eraumadasexcentricidadesfascinantes—eesquisitíssimas—deAdrian.— Eu gosto dela— Lee disse sem rodeios.— Só conversei com ela umas duas
vezes,mas...bom,eurealmentegostariadequeagentepudesseseconhecermelhor.Adriandesdenhou,eeuolheifeioparaele.—Maisumavez—eudisse.—Achoquevocêsdoistêmdefiniçõesdiferentespara
asmesmaspalavras.—Nãoéverdade—Adrianfalou.—Todososhomensqueremdizeramesmacoisa
quando falamquequerem“conhecerumagarotamelhor”.Você éumamocinhamuitobem-educada,porissocompreendoporqueéinocentedemaisparaentender.Aindabemqueeuestouaquiparainterpretar.EumevireidenovoparaLee,semnemmeincomodaremresponderaAdrian.—Achoquetudobemsevocêsaircomela.—Issoseelaestiverinteressada—Leedissecomardeincerteza.Eu me lembrei do sorriso dela quando eles haviam conversado no dia anterior.
Aquilotinhaparecidobempromissor.Mas,bem,omesmopodiaserditoarespeitodoentusiasmodelaporMicah.—Apostoquedeveestar.—Entãovocêsimplesmentevaipermitirqueelasaiasozinha?—Adrianperguntou
emelançouumolharquediziaparanãoquestioná-lo.Dessavez,apreocupaçãodeleera
legítima.Eucompartilhavadela.JillestavaemPalmSpringsparatersegurança.Estavamatriculada emAmberwood porque era segura também. Começar de repente a saircomumcaraquenósmalconhecíamosnãoatendiaaosprotocolosdesegurançanemdosalquimistas,nemdosguardiões.—Bom,elanempodesairdoterrenodaescola—eudisse,pensandoemvozalta.
—Nãoseeunãoforjunto.—Opa—Adriandisse.—Sevocêfordevela,euvoutambém.—Senósdoisformos,Eddietambémvaiquererir—observei.— E daí? — O breve momento de seriedade e preocupação de Adrian tinha
desaparecidodiantedaquiloqueeleconsideravadiversãosocial.Comoéqueohumordealguémpodiamudarcomtanta rapidez?—Pensecomose fossemenosumencontroemaisumpasseiodafalsafamília.Quevaimedivertireaomesmotempovaiprotegeravirtudedela.Coloqueiasmãosnacinturaemevireiparaele.Issopareceudiverti-loaindamais.—Adrian,anossapreocupaçãoaquiéaJill.Nãoasuaprópriadiversão.—Nãoéverdade—eledissecomosolhosverdesbrilhando.—Tudocondizcoma
minha própria diversão. O mundo é o meu palco. Continue assim... você está setransformandoemumadasestrelasdoshow.Leeolhouparanóscomumaexpressãocômicadequemnãosabiaoquefazer.—Vocêsqueremficarasós?Eufiqueivermelha.—Desculpe.Adriannãosedesculpou,claro.—Olhe—Leedisse.Elepareciaestarcomeçandoasearrependerdetertocadono
assunto.— Eu gosto dela. Se isso significa andar com o grupo inteiro de vocês parapoderficarcomela,tudobem.—Talvezsejamelhorassim—eurefleti.—Talvez,senósfizermosmaiscoisasem
grupo... tirandoos fornecimentos dela... não vai haver o risco de ela querer namorarum humano.— E nós nem sabíamos com certeza se ela estava interessada nele. Nóstambém não sabíamos se ela estava interessada em Lee. Percebi que estávamosrealmentepegandopesadocomavidaamorosadela.—Issoémaisoumenosoqueeuqueriaantes—Adrianmedisse.—Sóumpouco
maisdevidasocial.Fiquei pensando na conversa do dia anterior, em que ele exigiu que eu achasse um
lugarparaelemorar.—Nãofoibemissoquevocêpediu.—Se vocêquiser sairmais—Leedisse—,pode ir comigo aLosAngeles hoje à
noite. Eu ia voltar para cá depois da aula amanhã de qualquer forma, então vai ser sóumaviagemrápida.
Adrian se alegrou tanto que fiquei imaginando se Lee não tinha feito essa sugestãoparatentaraplacarqualquerresquíciodetensãoporcausadeseuinteresseporJill.—Vocêmeapresentaparaaquelasgarotas?—Adrianperguntou.— Inacreditável — eu disse. Os dois pesos e as duas medidas deAdrian eram
ridículos.EusórepareiqueaportatinhasidoabertaquandoKeithjáhaviaentradonasala.Eu
nunca ficavaexatamentecontenteemvê-lo,mas foi sorteelederepenteestarali,bemquandoeuprecisavafalarcomelesobreJilleseusproblemasnaeducaçãofísica.Omeumelhorplanoerapassarnoapartamentodelee torcerparaqueeleestivesse lá.Elemepoupouotrabalho.Keith olhou para nós três—mas não compartilhou dos nossos sorrisos. Nada de
piscadelasoucharmevindodelehoje.—Vioseucarroláfora,Sydney—eledisse,ríspido,esevoltouparamim.—O
quevocêestáfazendoaqui?— Eu precisava conversar comAdrian — eu disse. —Você recebeu a minha
mensagem?Eutenteiligarantes.—Andeiocupado—eledissecomfrieza.Suaexpressãoeradura,seutomgeloua
sala.AdrianeLeetinhamperdidoosorrisoeosdoisagorapareciamconfusos,tentandoentenderporqueKeithestava tão incomodado.Eucompartilhavadacuriosidadedeles.—Vamosconversar.Emparticular.Derepente,mesenticomoumacriançalevada,semsaberporquê.—Claro—eudisse.—Eu...jáestavamesmoindoembora.AvanceiparamejuntaraKeithàporta.—Espere—Leedisse.—Eaquela...—Adriandeuumacotoveladanele,sacudiua
cabeçaemurmuroualgoqueeunãoconseguientender.Leeficouquieto.—Agentesevêporaí—Adriandisse,todoanimado.—Nãosepreocupe...vou
melembrardanossaconversa.—Obrigada—eudisse.—Agentesevêdepois.Keithsaiusemdizerumapalavraeeuoseguiparaforadacasaeparaocalordofim
da tarde.A temperatura tinha baixado desde amalfadada aula de educação física,masnão muito. Keith saiu pisando firme pela entrada de cascalho e parou ao lado doPingado.Ocarrodeleestavaestacionadoaliperto.—Vocêfoimuitogrosseiro—eudisseaele.—Nemsedespediudeles.— Desculpe se eu não exibo a minha melhor educação com vampiros — Keith
soltou.—Eunãosoutãopróximodelesquantovocê.—Oquequerdizercomisso?—exigisaberecruzeiosbraços.Examinei-odecima
a baixo e senti minha velha antipatia borbulhar. Era difícil acreditar que apenas umminutoanteseuestavadandorisada.Keithdesdenhou.
—É só que você parecia tremendamente à vontade com eles lá dentro... batendopapo,sedivertindo.Eunãosabiaqueeraaquiquevocêpassava seu tempo livredepoisdaescola.—Comovocêpodedizerumacoisadessas?Euvimaquitratardetrabalho—urrei.—É,deuparaver.—Efoimesmo.EuprecisavaconversarcomAdriansobreaJill.—Eunãomerecordodeeleseroguardiãodela.—Elesósepreocupacomela—argumentei.—Domesmojeitoqueagenteiriase
preocuparcomqualqueramigo.—Amigo?Eles não são nemumpouco parecidos conosco—Keith disse.—Eles
sãoprofanoseantinaturais,evocênãotemnadaqueficaramigadenenhumdeles.Aminha vontade era berrar que, pelo que eu tinha observado,Lee era umapessoa
cem vezesmais decente do que Keith jamais seria.AtéAdrian era. Foi só no últimosegundoqueme lembreidomeu treinamento. Não crie confusão.Não contradiga seussuperiores. Por mais que eu detestasse a ideia, Keith era o responsável ali. Respireifundo.—Não foi exatamente uma confraternização. Eu só vim aqui para conversar com
Adrian, e Lee por acaso estava em casa.Até parece que nós todos tínhamos planejadoalgumagrandefesta.Eramelhornãomencionaroplanodoencontroemgrupo.—Porquevocê simplesmentenão ligouparaAdrian se tinhaumapergunta?Você
ligouparamim.Porqueficarcaraacaracomeleémenosenjoativodoqueficarpertodevocê.— Era importante. E como eu não consegui falar com você, achei que teria que
passarnasuacasadequalquerjeito.Na esperança de desviar a atenção domeu“mau comportamento”,me apressei em
recapitular tudo que tinha acontecido naquele dia, incluindo a insolação de Jill e asatençõesdeMicah.— Claro que ela não pode namorar um humano — ele exclamou depois que
expliqueisobreMicah.—Vocêprecisaacabarcomisso.—Estoutentando.EAdrianeLeedisseramquevãoajudar.—Ah, que bom, agora eume sintomuitomelhor—Keith sacudiu a cabeça.—
Não seja ingênua, Sydney. Eu disse para você. Eles não se importam tanto com essascoisasquantonós.—Achoque se importam, sim—argumentei.—Adrianpareceuentender, e ele
temmuitainfluênciasobreJill.— Bom, não éele que os alquimistas irãomandar a um centro de reeducação por
ficarbrincandocomvampirosemvezdediscipliná-los.Eusófiqueiolhando.Nãosabiabemqualpartedoqueeletinhaacabadodedizerera
mais ofensiva: a insinuação batida de que eu era uma“adoradora de vampiros” ou queseria capazde“disciplinar”qualquerumdeles.Eudevia saberque a simpatia falsadelenãoiadurar.—Estoufazendoomeutrabalhoaqui—eudisse,aindacomavozfirme.—E,pelo
quepossover,estoutrabalhandomaisdoque você,jáquefuieuquempassouasemanatodaapagandoincêndios.Eu sabiaqueera ilusão, jáqueoolhodevidronãopodia realmenteolhar fixopara
mim,maseusentiqueelemefitavacomambososolhos.—Estoufazendomuitacoisa.Nempenseemmecriticar.— O que veio fazer aqui? — perguntei, ao me dar conta de como aquilo era
estranho.Eletinhameacusadode“socializar”,masnuncatinhaexplicadoseusmotivos.—PrecisavafalarcomClarence,nãoquesejadasuaconta.Eu queria mais detalhes, mas me recusei a demonstrar como estava curiosa. De
acordocomLee,eletambémtinhaestadoalinodiaanterior.—VocêpodeligarparaaescolaamanhãefazerJillserdispensadadaeducaçãofísica?Keithmelançouumolharlongoepesado.—Não.—Oquê?Porquenão?—Porqueficarnosolnãovaimatá-la.Maisumavez,engoliaraivaetenteiaplicaradiplomaciaquetinhammeensinado.—Keith,vocênãoviucomoelaestava.Talveznãomate,masfoiterrívelparaela.
Estavaemagonia.—Eurealmentenãomeimportoseelespassamporcoisasterríveisounão—Keith
disse.—Evocêtambémnãodeviaseimportar.Onossotrabalhoémantê-laviva.Nãohavianenhumamençãosobregarantirqueelaficassefelizeconfortável.—Acheiqueninguém precisassenosdizer isso—eufalei,estarrecida.Porqueele
estava tão incomodado? — Eu achei que, por sermos seres humanos sensíveis, nóspoderíamossimplesmenteajudar.—Bom,agoravocêpodeajudar.Oupodepedirparaalguémacimadenósmandar
umbilhete para a escola, ou pode dar banhos gelados nela depois da aula de ginástica.Pormim, realmente não importa o que você faça,mas talvez assim você vá ficar tãoocupadaapontodeparardeviraquisemavisareficarsejogandoemcimadascriaturasdaescuridão.Nãoqueromaisficarsabendoqueissoaconteceu.—Você é inacreditável— eu disse. Estava aborrecida demais e totalmente sem
palavrasparaconseguirelaboraralgomaiseloquente.—Estoucuidandodasuaalma—eledisse,cheiodesoberba.—Éomínimoqueeu
possofazerpeloseupai.Penaquevocênãoémaisparecidacomassuasirmãs.Keithdeuascostasparamimeabriuaportadocarrosemdizermaisumapalavra.
Eleentrouedeuapartida;eufiqueiláparada.Lágrimasameaçaramosmeusolhos,eeu
as engoli. Eume sentia uma idiota—mas não por causa das acusações dele. Eu nãoacrediteinemporuminstantequetinhafeitoalgodeerradoaoiratélá.Não,euestavaloucadavida—loucacomigomesma—porque tinhadeixadoqueelepartissecomaúltima palavra e porque eu não tinha tido coragem de retrucar. Eu tinha ficado emsilêncio,comotodomundosempremediziaparafazer.Chutei o cascalho de tanta raiva, espalhando-o por todo lado.Algumas pedrinhas
bateramnomeucarroeeufizumacareta.—Desculpe.—Seráqueeleiriaacusarvocêdeserdomalporfalarcomumobjetoinanimado?Eu me virei para trás, com o coração acelerado.Adrian estava apoiado na casa,
fumando.—Deondevocêsurgiu?—perguntei.Apesardesabertudoquehaviaparasabera
respeito dos vampiros, era difícil me livrar dos medos supersticiosos de que elesapareciamdonada.—Vimpelaoutraporta—eleexplicou.—Eusaíparafumareescuteiaagitação.—É falta de educação escutar a conversa dos outros—eu disse, ciente de que eu
pareciainsuportavelmentepudica,masfuiincapazdeevitar.—É faltadeeducação serum imbecil igual aele—Adrianapontoucomacabeça
paraolugarondeocarrodeKeithtinhaestado.—VocêvaiconseguirtirarJilldaquelaaula?Eususpirei,derepentesentindoumenormecansaço.—É,euachoqueconsigo.Sóvaidemorarumpoucomais,atéeuconseguiroutros
alquimistas para seremnossos pais falsos.Teria sido bemmais rápido seKeith tivesseajudado.—Obrigadoporcuidardela,Sage.Vocêatéqueélegalparaumahumana.Quasedeirisada.—Obrigada.—Vocêtambémpodedizeramesmacoisademim,sabe?CaminheiatéoPingadoefizumapausa.—Dizeroquê?—Queeuatéquesoulegal...paraumvampiro—eleexplicou.Eusacudiacabeça,semparardesorrir.—Vai ser difícil fazer com que um alquimista confesse isso.Mas posso dizer que
você até que é legal para um baladeiro irreverente com momentos ocasionais debrilhantismo.—Brilhantismo?Vocêachaqueeusoubrilhante?—elelançouasmãosparaoalto.
—Vocêouviuisso,universo?Sagedissequeeusoubrilhante.—Ei!Nãofoiissoqueeudisse!Elelargouocigarro,apagoucomopéemelançouumsorrisodesinteressado.
—Valeupelamassagemnoego.VoucontaraClarenceeaLeeaopiniãoelevadaquevocêtemdemim.—Ei,eunão...Masele já tinhadesaparecido.Aomeafastardacasa,chegueiàconclusãodequeos
alquimistas precisavam de um departamento inteiro dedicado a cuidar de AdrianIvashkov.Quandovolteiaomeudormitório,encontreiJillsentada,rodeadadelivrosdidáticos
epapéis,semdúvidatentandorecuperarasaulasperdidasdodiaanterior.—Uau—eudisse,pensandonaliçãodecasaquetambémestavaàminhaespera.—
Vocêorganizoutodoumcentrodecomando.Emvezdesorrircomaminhapiada,Jillergueuolhosgélidos.—Seráque,dapróximavezquevocêresolverestragaraminhavidaafetiva,pode
falarprimeirocomigo?—elaindagou.Eufiqueisempalavras.AdriantinhaditoqueiafalarcomJill.Sónãoacheiquefosse
sertãorápido.—Não precisa agir pelasminhas costas paramemanter afastada deMicah— ela
completou.—Eunãosouidiota.Seiquenãopossonamorarumhumano.Então,aparentementeAdriantinhacontadoissoparaela.—Alémdisso—Jillprosseguiu,semprecomaqueletomfrio—,vocênãoprecisa
me arranjar o únicoMoroi solteiro em um raio de cem quilômetros paramemanterlongedeconfusão.Certo...pareciaqueAdriantinhacontadotudoparaela.Euachavaqueeleseriamais
discreto,principalmentenapartesobreLee.—Nós...nósnãoestávamosarranjandonadaparavocê—eudissedeumjeitomeio
ridículo.—Leequeriamesmoconvidarvocêparasair.— Mas, em vez de falar comigo, ele foi pedir permissão para vocês!Vocês não
mandamnaminhavida.—Eusei—respondi.—Nãoestávamostentandofazerisso!—Comoéquetudo
tinhaestouradobemnaminhacara?—Leetomouainiciativasozinho.— Igual a você quando foi falar comAdrian pelasminhas costas— os olhos dela
brilhavamcom lágrimasde raiva,medesafiando anegar.Eunão consegui, e só agoraestavapercebendocomoeraerradooqueeutinhafeito.Desdequeeladescobriuqueerada realeza, Jill passou a ver outras pessoasmandarem em sua vida.Talvez as minhasintenções de fazerAdrian conversar com ela sobre Micah fossem boas, mas eu tinhausadoaabordagemerrada.—Vocêtemrazão—eudisse.—Sintomuitopor...—Esqueça—eladisse,ecolocouumpardefonesnosouvidos.—Nãoquerosaber
demais nada.Vocême fez pareceruma idiota na frentedeAdrian e deLee.NãoqueelesvãochegarapensarduasvezesemmimemLosAngeleshojeànoite—elafezum
gesto para eume afastar e olhou para o livro que tinha à frente.—Não queromaissaberdevocê.Seelanãopodiameouvirporcausadamúsicaousimplesmenteporquepreferiame
ignorar,eunãosabiadizer.Aúnicacoisaqueeusabiaeraquemaisumavezmepegueicomparando-aaZoe.AssimcomoaconteceucomZoe,eutinhatentadofazerumacoisaboa para Jill e o tiro saiu pela culatra.Assim como acontecera com Zoe, eu acabeimagoandoehumilhandoapessoaquetentavaproteger.Desculpe,Sage.Peloqueeusaiba,vocênãoéespecialistaemquestõessociais.Pensei com amargor que essa era a partemais triste de todas—o fato deAdrian
Ivashkovterrazão.
10
FoibemaíqueomeutelefonetocouemesalvoudoincômododenãosaberoquefazercomJill.Euatendisemnemconferiroidentificadordechamadas.—Srta.Melbourne?Precisodosseusserviçosimediatamente.—Professora?—perguntei,surpresa.Avozfrenéticadasra.Terwilligernãoerao
queeuesperava.—Qualéoproblema?—Precisoque você vábuscarumcappuccino comcaldade caramelodo Spencer’s
paramim.Nãotemcomoeuacabardetraduzirestedocumentosevocênãofor.Haviaummilhãoderespostasqueeupodiadaraisso,sendoquenenhumadelasera
muitoeducada,porissoeuuseialógicamaisóbvia.—Achoquenãoposso—eudisse.—Masvocêtempermissãoparasairdocampus,nãotem?—Bom, tenho, professora,mas está quase na hora do toque de recolher.Não sei
ondeficaoSpencer’s,masachoquenãoconsigovoltaratempo.—Bobagem.Quemé a responsável pelo seu dormitório?A tal daWeathers?Vou
ligar para ela e pedir uma exceção para você. Estou trabalhando em uma das salas dabiblioteca.Venhameencontraraqui.Apesardaminhadevoçãopessoalaocafé,pediruma“exceção”aotoquederecolher
da escola me parecia um tanto excessivo para uma coisa dessas. Eu não gostava dedesrespeitarasregras.Poroutrolado,eueraaassistentedasra.Terwilliger.Poracasoissonãofaziapartedasminhasfunções?Osvelhosinstintosdealquimistadeobedeceràsordensseinstalaram.—Bom,achoquesim,professora...Eladesligoueeufiqueiolhandoparaotelefone,chocada.—Precisosair—disseaJill.—Esperovoltarlogo.Talvezvoltebemlogomesmo,
porqueeuficariasurpresaseelaselembrassedeligarparaasra.Weathers.Elanemergueuosolhos.Deideombros,pegueimeulaptopeumpoucodeliçãode
casa,paraocasodeasra.Terwilligerselembrardemaisalgumacoisaqueeuprecisassefazer.Comcaféemjogo,amemóriadaminhaprofessorafuncionou,edescobriquedefato
tinhapermissãopara sairquandodesci.A sra.Weathersatémeexplicoucomochegarao Spencer’s, um café a alguns quilômetros de distância. Eu comprei o cappuccino,imaginandoseelaiamereembolsar,etambémcompreialgoparamim.Osatendentesda biblioteca deAmberwood pegaram nomeu pé quando eu entrei com bebidas,masquando expliqueiminha tarefa, elesme deixaram entrar e ir para as salas dos fundos.Parecequeovíciodasra.Terwilligererafamoso.A biblioteca estava surpreendentemente agitada, e logo deduzi por quê. Depois de
uma certa hora, todas as noites,meninos emeninas eram expulsos do dormitório unsdos outros.A biblioteca ficava aberta atémais tarde, por isso era o lugar certo parainteragir com o sexo oposto.Também havia muita gente que estava lá para estudar,incluindoJuliaeKristin.—Sydney!Aqui!—Kristinchamouemumsussurro.—Livre-sedaprofessoraTerwilliger—Juliacompletou.—Vocêconsegue.Ergui
ocaféquandopasseiporelas.— Estão de brincadeira? Se ela não consumir sua cafeína logo, não vou ter como
escapardela.Euvolto,sepuder.Aoseguiromeucaminho,viumgrupinhodealunosqueseaglomeravaaoredorde
alguém—eouviumavozconhecidaeirritante.AdeGregSlade.Curiosa a contragosto, caminhei até a beirada do grupo. Slade exibia algo no
antebraço:umatatuagem.Odesenho em si não era nada demais. Era uma águia voando, o tipo de arte que
qualquer estúdio de tatuagem tinha em estoque e copiava emmassa.O que chamou aminhaatençãofoiacor.Eratodafeitaemumtompratametálicochamativo.Umtommetálicodaquelesnãoerafácildeconseguir,nãocomaquelebrilhoeaquelaintensidade.Eu conhecia as substâncias químicas que faziamparte daminha tatuagemdourada, e afórmulaeracomplexaecompostadeváriosingredientesraros.Sladefaziaumatentativanadaconvincentedemanteravozbaixa—afinaldecontas,
tatuagenseramproibidaspor lá—,maseraóbvioqueeleestavaadorandotodaaquelaatenção.Euobservei em silêncio, feliz poroutras pessoas fazerem algumasdasminhasperguntasnomeulugar.Claroqueessasperguntassómedeixaramcommaisdúvidas.—Estaémaisbrilhantedoqueasqueelescostumavamfazer—umdosamigosdele
observou.Sladevirouobraçoparafazeraluzrefletir.—Éumacoisanova.Dizemqueestassãomelhoresdoqueasdoanopassado.Não
seibemseéverdade,masnãofoibarata,issoeupossodizer.Oamigoquetinhacomentadosorriu.
—Vocêvaidescobrirnostestes.Laurel— a garota ruiva que tinha demonstrado interesse porMicah— esticou a
perna ao lado de Slade e revelou um tornozelo fino enfeitado com uma borboletadesbotada.Nãohavianadametálicoali.—Talvezeuretoqueaminha,quemsabeparaobailedevoltaàsaulas,seconseguir
odinheirocomosmeuspais.Você sabe se as celestiais tambémmelhorarameste ano?— Ela jogava o cabelo de um lado para o outro enquanto falava. Pelo que eu tinhaobservadonopoucotempoquetinhapassadoemAmberwood,Laureleramuitovaidosacom o cabelo e se assegurava de jogá-lo por cima do ombro no mínimo a cada dezminutos.Sladedeudeombros.—Nãoperguntei.Laurelreparouqueeuestavaolhando.—Ah,oi.VocênãoéairmãdaGarotaVampira?Meucoraçãoparou.—Vampira?—Vampira?—Sladerepetiu.Comoéqueeladescobriu?Oqueeuiriafazer?Eutinhaacabadodecomeçarafazer
umalistamentaldetodosalquimistasparaquemprecisavaligarquandoumadasamigasdeLaurelsoltouumarisada.Laurelolhounadireçãodelase soltouumagargalhada,entãoseviroudenovopara
mim:—Éoapelidoquenósdemosparaela.Nenhumserhumanopoderia ter apele tão
pálidaassim.Euquasedesabeidetantoalívio.Eraumapiada—queseaproximavadolorosamente
daverdade,masaindaassimumapiada.Noentanto,Laurelnãopareciaseralguémqueeu devia confrontar, e seria melhor para todos nós se a piada logo fosse esquecida.Reconheçoquesolteioprimeirocomentáriodistraídoquemeveioàmente.—Olhe,temcoisapior.Quandoeuvivocêpelaprimeiravez,nãoacheiquealguém
pudesseterocabelotãocompridooutãoruivo.Masnãoépor issoqueeu fico falandosobreapliquesoutintura.Sladequasesedobrouaomeiodetantorir.—Eusabia!Sabiaqueerafalso!Laurelficouquasetãovermelhaquantoseucabelo.—Nãoé!Édeverdade!—Srta.Melbourne?Eumesobressalteicomavozatrásdemimeviasra.Terwilligerali,olhandopara
mim,surpresa.—Vocênãoganhacréditoparabaterpapo,principalmentequandoomeucaféestá
emjogo.Venha.Eumeafastei,cabisbaixa,apesardequaseninguémternotado.OsamigosdeLaurel
estavamsedivertindodemaistirandosarrodela.Euesperavateracabadocomaspiadasde vampiro. Mesmo assim, não conseguia tirar a imagem da tatuagem de Greg dacabeça.Deixeimeuspensamentosvoaremparaomistériodequaiscomponentesseriamnecessários para aquela cor prateada. Eu achava que tinha descoberto— pelomenos,tinha pensado em uma possibilidade —, e queria ter acesso aos ingredientes dosalquimistas para fazer algumas experiências. A sra. Terwilliger pegou o café,agradecida,quandochegamosaumapequenasaladetrabalho.—GraçasaDeus—eladissedepoisdetomarumgolecomprido.Elaapontoucom
acabeçaparaomeu.—Esseaíédereserva?Excelenteideia.—Não,professora—eudisse.—Émeu.Querqueeucomecea trabalharnisto?
—Umapilhade livrosconhecidosestavanamesa;eu jáos tinhavistonasaladeaula.Eram partes centrais da pesquisa dela, e ela tinhame dito que uma hora eu teria quefazerresumosedocumentá-losparaela.Pegueioqueestavanoaltodapilha,maselamedeteve.— Não — ela disse, e se dirigiu para uma pasta grande. Ela folheou papéis e
remexeumateriaisdeescritóriovariadosatépegarumlivrocomacapavelhadecouro.—Façaesteaqui.Pegueiolivro.—Possotrabalharláfora?MinhaesperançaeravoltarparaaáreaprincipaldeestudoepoderfalarcomKristin
eJulia.Asra.Terwilligerrefletiu.—Nãovãodeixarvocêtomarcaféláfora.Émelhordeixareleaqui.Vacilei,pensandoseomeudesejodeconversarcomKristineJuliasesobrepunhaao
fatodequeasra.Terwilligeririatomaromeucaféantesdeeuvoltar.Resolvicorreroriscoemedespedidomeucafé compesar ao levarosmeus livros e apetrechospara abiblioteca.Juliaolhouparaolivrosurradodasra.Terwilligercomdesdém.—Issoaquinãoestáemalgumlugarnainternet?— Provavelmente não.Acho que ninguém nem sequer olha para este aqui desde
antesdeainternettersidoinventada.—Abriacapa.Ummontedepoeiraseespalhoupeloar.—Muitoantes.Kristin tinha uma lição dematemática aberta a sua frente,mas não pareciamuito
interessada nela. Ela batucou com uma caneta na capa do livro, sem prestar muitaatenção.—Então,vocêviuatatuagemdoSlade?—Édifícilnãover—disseepegueimeu laptop.Olheiporcimadocomputador.
—Eleaindaestáláseexibindo.— Fazia um tempão que ele queria fazer uma, mas nunca teve dinheiro— Julia
explicou.—Noanopassado, todososgrandesatletas se tatuaram.Bom, todosmenosTreyJuarez.—Treyquasenãoprecisadeuma—Kristinobservou.—Eleébomdeverdade.—Agoraelevaiprecisar...sequiserseequipararaSlade—Juliadisse.Kristinsacudiuacabeça.—Mesmoassim,elenãovaifazer.Eleécontra.Tentoudedurarquemfezparaosr.
Greennoanopassado,masninguémacreditounele.Euolheideumaparaaoutra,maisperdidadoquenunca.—Aindaestamosfalandodetatuagens?SobreTrey“precisar”deumaounão?—Vocêrealmenteaindanãodescobriu?—Juliaperguntou.— É o meu segundo dia — observei, frustrada. Lembrei que estava em uma
biblioteca e faleimaisbaixo.—Asúnicaspessoasque realmente conversaramcomigoforamTreyevocêsduas...evocêsnãofalarammuitacoisa.Pelo menos elas foram graciosas o bastante para parecerem acanhadas com isso.
Kristinabriuaboca,fezumapausaeentãopareceumudaroqueiadizer.—Temcertezaqueasuanãofaznada?—Positivo—menti.—Comoéqueumacoisadessasépossível?Juliadeuumaolhadanabibliotecaesecontorceunacadeira.Elaergueuacamisaum
pouco para mostrar a parte de baixo das costas — e a tatuagem desbotada de umaandorinhavoando.Satisfeitaporeutervistoaquilo,elasevirouparaafrentemaisumavez.—Eufizessanasemanadefériasdeprimavera...e foiamelhorsemanasemaulas
daminhavida.—Porcausadatatuagem?—perguntei,descrente.—Quandoeu fiz,nãoeraassim.Erametálica...não igual à sua.NemàdeSlade.
Eramaisparecidacom...—Cobre—Kristinajudou.Juliapensouarespeitoeassentiu.—É,tipodourado-avermelhado.Acorsódurouumasemanae,enquantodurou,foi
fantástico.Tipo,eununcamesentitãobem.Foiamelhorcoisadaminhavida.— Juro, tem algum tipo de droga naqueles celestiais—Kristin disse. Ela tentava
falarcomosenãoaprovasse,masdetecteiumtomdeinveja.—Sevocêfizesseuma,iriaentender—Juliadisseaela.—Celestiais...euouviaquelameninaalifalardisso—eudisse.—Laurel?—Juliaperguntou.—É,écomoascordecobresãochamadas.Porque
elas fazem com que você se sinta do outromundo— ela parecia quase envergonhadapelopróprioentusiasmo.—Quenomeidiota,hein?
—ÉessaqueSladefez?—perguntei,atordoadacomoquesedesenrolavaàminhafrente.—Não,adeleédeaço—Kristinrespondeu.—Essasdãotipoumaforçaatlética.
Tipo, você fica mais forte, mais rápido. Coisas assim. Elas duram mais do que ascelestiais... tipo duas semanas. Às vezes, três,mas o efeito diminui. Chamam de açoporquesãofortes,acho.Etalvezporqueelascontenhamaço.Não é aço, eu pensei. É um composto de prata.A arte de usarmetal para inserir
certaspropriedadesnapeleeraalgoqueosalquimistashaviamaperfeiçoadohaviamuitotempo.Oouroeraabsolutamenteomelhor,eporissonósousávamos.Outrosmetais— quando formulados da maneira adequada— atingiam efeitos parecidos, mas nempratanemcobreeramtãoeficientesnainserçãoquantooouro.Atatuagemdecobreerafácil de entender. Um grande número de substâncias para elevar o humor ou drogaspodiam ser combinadas com esse metal para efeito de curto prazo.A prata era maisdifícildeentender—ou,melhor,osefeitosdaprata.Oqueelasdescreviampareciaumtipodeesteroideatlético.Seráqueprataeracapazdefazerisso?Euprecisavaconferir.—Quantaspessoastêmessastatuagens?—pergunteiaelas,maravilhada.Nãodava
paraacreditarquetatuagenstãocomplicadasfaziamtantosucessoali.Eutambémestavacomeçando a entender como os alunos daquela escola realmente eram ricos. Só osmateriaisdeviamcustarumafortuna,issosemmencionarossupostosefeitoscolaterais.—Todomundo—Juliarespondeu.Kristincorrigiu.—Nemtodomundo.Maseujáeconomizeiquasetodoodinheiro.— Eu diria que pelo menos metade da escola já experimentou pelo menos uma
celestial—Juliadisse,e lançouumolhardeconsoloparaaamiga.—Depoisdáparamandarretocar...mas,mesmoassim,custacaro.— Metade da escola? — repeti, incrédula. Olhei ao redor, imaginando quantas
camisas e calças escondiam tatuagens.— Isso é uma loucura. Não acredito que umatatuagempossafazercoisasassim—euesperavaestarsendoconvincenteemesconderoquantodefatoeusabia.—Façaumacelestial—Juliadissecomumsorriso.—Daívocêvaiacreditar.—Ondevocêsfazem?—ÉumestúdiochamadoNevermore—Kristindisse.—Maselessãoseletivos,e
não é fácil fazer uma.—Nãotãoseletivosassim,pensei, semetadeda escola já tinhafeito.—FicarambemmaiscautelososdepoisqueTreytentoudenunciar.LáestavaonomedeTreymaisumavez.Agorafaziasentidoeledesdenhartantoda
minhatatuagemquandonósnosconhecemos.Masfiqueimeperguntandoporqueeleseimportava tanto — o suficiente para tentar fechar a loja. Essa não era apenas umadiscordânciacasual.—Seráqueeleachainjusto?—levanteiahipótese,diplomática.
—Acho que ele só tem inveja porque não tem dinheiro para fazer uma— Juliadisse.—Ele tem uma tatuagem, sabe? É um sol nas costas.Mas é só uma tatuagempreta,normal...nãoédouradacomoasua.Eununcavinadaparecidocomasua.—Então foipor issoquevocêsacharamqueaminhamedeixava inteligente—eu
disse.—Issopoderia ter sidomuitoútilnasprovas finais—Juliadisse,esperançosa.—
Temcertezadequenãoéporissoquevocêsabetantacoisa?Eusorri,apesardeestarpasmacomoquetinhaacabadodedescobrir.—Bemqueeuqueria.Podiafazercomquefossemaisfácillerestelivro.Coisaque
eu,aliás,deviaestarfazendo—completeieolheiparaorelógio.Erasobresacerdotesemagos greco-romanos, uma espécie de apanhado detalhando vários tipos de encantos erituaiscomosquaiselestrabalhavam.Nãoeraummaterialdeleituraterrível,maseralongo.Euachavaqueapesquisadasra.Terwilligereramaisconcentradaemreligiõesdemassa daquela época, por isso o livro parecia ser uma escolha estranha.Talvez elaestivessequerendoincluirumaseçãosobrepráticasdemagiaalternativas. Independentedisso,quemeraeuparaquestionar?Seelapedisse,eufaria.PermanecimaistempodoqueKristineJulianabiblioteca,porquetinhaqueficaraté
asra.Terwilligerdecidirirembora,oqueaconteceusóquandoabibliotecafechou.Elapareceucontenteporeuteravançadotantonasanotaçõesedissequequeriaolivrotodoprontoemtrêsdias.— Sim, professora — disse de modo automático, como se eu não tivesse mais
nenhumaoutraaulanaquelaescola.Porqueeusempreconcordavasempensar?Volteiparaocampuslestecomosolhosvermelhosdetantotrabalhareexaustacom
a ideia da lição de casa que ainda faltava fazer. Jill estava dormindo pesado, coisa quetomei como uma pequena bênção. Eu não ia precisar enfrentar seu olhar de acusaçãonemdescobrircomolidarcomosilêncioconstrangedor.Eumeprepareipara irparaacamarápidoesemfazerbarulho,ecaínosonoquaseassimqueencosteinotravesseiro.Acordei por volta das três com um som de choro. Eu me sacudi para afastar a
sonolênciaeconseguidistinguir Jill sentadanacama,comorostoenterradonasmãos.Enormessoluçostrêmulosacometiamseucorpo.—Jill?—euperguntei,incerta.—Qualéoproblema?Comaluzfracaquevinhadefora,viJillergueracabeçaeolharparamim.Incapaz
deresponder,elasósacudiuacabeçaevoltouachorarmaisumavez,agoramaisalto.Eume levanteie fuimesentarnabeiradadacamadela.Eunãoconseguiaabraçá-laoutocá-lapara reconfortar.Ainda assim,me sentipéssima.Eu sabiaque aquilodevia serculpaminha.— Jill, eu sinto muito. Jamais devia ter ido falar com Adrian. Quando Lee
mencionouvocê, eudevia ter feito comque eleparasse editoque falasse comvocê seestivesse interessado, em primeiro lugar... — as palavras saíram todas confusas.
Quandoolheiparaela,sópudepensaremZoeeemsuasacusaçõesterríveisnanoiteemqueeuparti.Dealgumjeito,minhaajudasempresurtiaoefeitocontrário.Jill fungoueconseguiusoltaralgumaspalavrasantesdedesabarnochoromaisuma
vez.—Não...nãoéisso...Fiqueiolhandoparaas lágrimasdela impotente, frustradacomigomesma.Kristine
Juliame consideravam inteligente demaneira sobre-humana.No entanto, garanto quequalquer uma delas teria sido capaz de reconfortar Jill cem vezes melhor do que eu.Estendi amão e quase dei tapinhas no braço dela—mas recuei no últimomomento.Não,eunãopodiafazerisso.Avozdealquimistadentrodemim,aquelaquesempremealertava para manter distância dos vampiros, não permitia que eu tocasse em umavampirademaneiratãopessoal.—Então,oquefoi?—eufinalmenteperguntei.Elasacudiuacabeça.—Nãoé...Nãopossocontar...Vocênãoiriaentender.Com Jill, eu pensei, várias coisas podiamestar erradas.A incerteza de sua posição
real.As ameaças contra ela. Ser mandada para longe da família e dos amigos, presaentrehumanossobosolperpétuo.Eurealmentenãosabiaporondecomeçar.Nanoitepassada, havia um terror congelante e desesperado em seu olhar quando ela acordara.Masaquiloeradiferente.Erapesar.Vinhadocoração.—Oquepossofazerparaajudar?—perguntei,finalmente.Elademoroualgunsmomentosparaserecompor.—Vocêjáestáfazendodemais—elaconseguiudizer.—Nóstodosapreciamos...
deverdade.PrincipalmentedepoisdoqueKeithdisseparavocê.—SeráquenãohavianadaqueAdriannãotinhacontadoparaela?—Esintomuito...sintomuitoportersidotãomaldosacomvocêantes.Vocênãomereciaaquilo.Sóestavatentandoajudar.—Não...nãopeçadesculpas.Eucauseiamaiorconfusão.— Não precisa se preocupar, sabe? — ela completou. — Com Micah. Eu
compreendo.Sóqueroseramigadele.Eusabiaqueaindanãoestavaconseguindoajudá-laasesentirmelhor.Maseutinha
que reconhecer que me pedir desculpas pelo menos parecia distraí-la daquilo que ativessefeitoacordarcomtantador.—Eusei—respondi.—Nãodeviatermepreocupadocomvocê.Elamegarantiumais umavezque estavabem, semmais explicações a respeitodo
motivo pelo qual tinha acordado chorando.Eu sentia que devia terme esforçadomaispara ajudar, mas, em vez disso, voltei para a minha própria cama. Não ouvi maissoluços pelo resto da noite, mas, quando acordei algumas horas depois, dei umaolhadinha nela.Mal dava para enxergar suas feições à luz do amanhecer. Ela estava lá
11
Antesdasaulasnodia seguinte,deixeiumrecadocomalguémnasededosalquimistas,dizendoque precisava que “o sr. e a sra. Melrose” mandassem um recado para que Jill nãoprecisassefazereducaçãofísica—ou,pelomenos,asatividadesaoarlivre.Euesperavaqueelesfossemfazerissorápido.Osalquimistaseramrápidosquandoqueriam,masàsvezestinhamideiasestranhasarespeitodoqueeraprioridade.EuesperavaqueelesnãotivessemamesmaatitudedeKeithemrelaçãoàsdificuldadesdeJill.Maseusabiaquenadairiaacontecernaquelemesmodia,porissoJilltevequesofrer
emmaisumaauladeeducaçãofísica—eeutivequesofrerassistindoaoseusofrimento.O mais terrível foi que Jill não choramingou nem tentou escapar de nada. Ela nemdemonstrou qualquer sinal do episódio da noite anterior. Chegou com otimismo edeterminação, como se talvez naquele dia o sol não fosse afetá-la. Mas não demoroumuito para ela começar a ficarmole. Ela parecia enjoada e cansada, e omeu própriodesempenho foi um pouco falho porque ficava sempre de olho nela, com medo quedesmaiasse.Micah foi a salvação.Mais uma vez, ele trocou de time, destemido— desta vez,
desde o começo da aula. Ele cobriu a posição dela como tinha feito da outra vez,permitindo que nem a professora nem os colegas reparassem nela — bom, tirandoLaurel,quepareceunotareficarirritadacomtudoqueelefez.Osolhosdelapassavambravos dele para Jill, e ela ficava jogando o cabelo por cima do ombro para chamar aatenção dele. Eu me diverti um pouco ao ver que a atenção de Micah permaneceuunicamenteemmanterabolalongedeJill.Micahtambémfoi imediatamenteparao ladodelaquandoaaulaterminou, levando
uma garrafa d’água, que ela aceitou com gratidão. Eu também fiquei agradecida,masver como ele cuidava dela trouxe todas asminhas preocupações de volta. Ela cumpriusuapalavra,noentanto.Retribuiuaatençãodelecomsimpatia,masdefinitivamentenãodava para chamar aquilo de paquera.Mas ele não fez segredo de suas intenções, e eu
fiqueipreocupada, achandoque seriamelhor seelanãoprecisasse lidar comaquilo.Eufalei sério quando disse que confiava nela, mas não podia deixar de pensar que seriamuitomais fácil para todomundo se ele parasse de dar em cima dela. Isso exigiria“aconversa”.Nadafelizcomoqueeutinhaquefazer,alcanceiMicahnafrentedosvestiários.Nós
doisestávamosesperandoJill terminar,eeuaproveiteiotempoquetinhasozinhacomele.—Oi,Micah—eudisse.—Precisofalarcomvocê...— Oi — ele respondeu todo alegre. Seus olhos azuis estavam arregalados e
animados.—Eutiveumaideiaequeriafalarcomvocê.Sevocêsnãoconseguiremumadispensa para ela, quem sabe conseguemmudaro horário das aulas dela? Se ela fizesseeducação físicanoprimeirohoráriododia,nãoseriaassimtãoquente.Talveznãosejatão difícil para ela.Quer dizer, acho que ela gostaria de participar de algumas dessasatividades.—Elairiagostar,sim—eudissedevagar.—Eessaéumaótimaideia.—Eu conheço algumas pessoas que trabalhamna secretaria e vou pedir a elas que
encontremalgumasopçõesparaverseépossívelreencaixarasoutrasaulasdela.—Elefezumbico fingido.—Vou ficar tristepornãoestarnamesmaaulaqueela,masvaivalerapenaporsaberqueelanãoestásofrendotanto.— É — concordei sem muito entusiasmo, de repente me sentindo perdida. Ele
realmentetinhadadoumaboaideia.Eleeraatéaltruístaosuficienteparaabrirmãodaoportunidadedeficarpertodelaemnomedeumbemmaior.Comoéquepodiater“aconversa”comeleagora?Comoéqueeuderepente iadizer:“Deixeaminha irmãempaz”,seeleestavatendotantotrabalhoparaserlegal?EueratãoruimquantoEddie,aoevitar o confronto com Micah.Aquele sujeito era adorável demais para seu própriobem.Antesqueconseguissedarumaresposta,Micahtomouumadireçãoinesperada.—Masvocê realmentedevia levá-la aomédico.Não achoque ela tenha alergia ao
sol.—Ah,é?—perguntei,surpresa.—Masvocênãoviucomoelasofreduranteaaula
todososdias?—Não,não,podeacreditar,elacomtodaacertezatemumproblemacomosol—
eleseapressouemmegarantir.—Maspodeserqueodiagnósticoestejaerrado.Eufizuma pesquisa sobre alergia ao sol, e as pessoas costumam ter urticária junto. Essafraquezageneralizadaqueelatem...nãosei.Achoquepodeseroutracoisa.Ainão.—Tipooquê?—Nãosei—elerefletiu.—Masvoucontinuarpesquisandoteoriasedepoistedigo
oquedescobri.
Quemaravilha.A educação física também me deixou ver pela primeira vez uma das tatuagens
metálicas deAmberwood em ação. Era impossível não observarGreg Slade durante aaula, e eu não fui a única queme distraí com ele.Assim comoKristin e Julia tinhamdito, ele realmente estava mais rápido e mais forte. Ele deumergulhos que ninguémmais tinha reflexos rápidoso suficienteparadar.Quandoele acertava abola, eraumasurpresa não escutarmos um estrondo sônico logo depois. Isso lhe valeu elogios nocomeço, mas logo reparei uma coisa. Havia algo de descontrolado no jogo dele. Eleestava cheiodehabilidade, sim,mas às vezesnão se concentrava.Osgolpespoderososnemsempreajudavamporqueelemandavaabolaparafora.Equandocorriaparafazeruma jogada,erararo levaremcontaquemestavaaoseuredor.Quandoumgarotodaminhasalade inglês foiderrubadoecaiudecostasnochão, simplesmenteporestarnocaminho entre Slade e a bola, a srta.Carson parou o jogo e vociferou sua insatisfaçãocomaagressãodeSlade.Eleengoliutudocomumsorrisosacanameiodesanimado.—PenaqueEddienãoestánessaaula—Jilldissedepois.—Eleiriafazerfrenteao
Slade.—Talvez seja melhor se ninguém reparar— observei. Eddie, pelo que eu tinha
ouvidodizer, jáeraoastrodesuaauladeeducaçãofísica.Issofaziapartedotipofísiconaturalmente atléticodosdampiros, e eu sabiaquenaverdadeele estava se esforçandoparanãoserbomdemaisemtudo.Fui falar com a sra.Terwilliger depois da educação física, feliz por ver que ela já
estavabemprovidacomseuprópriocafé.Passeiamaiorpartedoperíodolendoolivroefazendoanotaçõesnomeulaptop.Depoisquetinhafeitoumaparte,elaveioconferiromeutrabalho.—Você é muito organizada— ela disse, olhando por cima do meu ombro.—
Títuloseintertítulosemaisintertítulos.— Obrigada — eu disse. Jared Sage tinha sido muito específico ao ensinar
habilidadesdepesquisaasuasfilhas.Asra.Terwilligerdeuumgolenocaféecontinuoualeratela.—Você não listou os passos dos rituais e dos encantos — ela observou alguns
momentosdepois.—Sófezumresumoempoucaslinhas.Bom,eraverdade,aqueleeraoobjetivodefazeranotações.— Eu citei todos os números das páginas — eu disse. — Se precisar checar os
componentesespecíficos,temumareferênciafácil.—Não...retorneecoloquetodosospassoseos ingredientesnasanotações.Quero
tertudonomesmolugar.Aminhavontadeeradizer: estátudonomesmolugar.Nolivro.Asanotaçõeseram
uma condensação domaterial, não a repetição do texto original, palavra por palavra.Masasra.Terwilligerjátinhaseafastadoeolhavaparaoseuarquivosemprestarmuita
atençãoenquantobalbuciavaasimesmaqueumapastaestavanolugarerrado.Comumsuspiro, voltei para o começo do livro, tentando não pensar em como aquilo iriameatrasar.Pelomenoseusóestavafazendoaquiloparaganharcrédito,nãonota.Fiqueiláatédepoisdotoquedoúltimosinal,tentandorecuperarumpoucodotempo
perdido.Quandovolteiaoquarto,preciseiacordarJill,quedormiapesadodepoisdeumdiaexaustivo.—Boanotícia—disseaelaquandopiscouparamimcomolhossonolentos.—Hoje
édiadefornecimento.Definitivamente,aquelaserampalavrasqueeununcaacheiquefossedizer.Tambémnãoacheiqueficariaanimadacomaquilo.E,comcerteza,nãoestavanada
animadacoma ideiade JillmorderopescoçodeDorothy.Maseuestavame sentindomalpor Jill, eentão ficavacontenteemsaberqueela iria se alimentar.Estar sujeita aumfornecimentodesanguetãolimitadodeviatornarascoisasduplamentedifíceisparaela.NósnosencontramoscomEddienoandardebaixoquandochegouahoradepartir.
EleolhouparaJillcompreocupação.—Estátudobemcomvocê?—Estoubem—eladisse comum sorriso.Elanãoparecia nemde longe tãomal
quanto antes. Estremeci de pensar o queEddie teria feito se estivessemesmona nossaaulaeativessevistoemsuapiorforma.—Porque isso ainda está acontecendo?—elemeperguntou.—Vocênão ia falar
comKeith?—Vaidemorarumpouco—eudisse,semdarmaioresdetalhes,eosleveiatéonde
oPingadoestavanoestacionamentodosalunos.—Vamosprovidenciar.Se os alquimistas não mandassem o bilhete, eu iria tentar a sugestão de Micah e
transferi-laparaaauladeeducaçãofísicamaiscedopelamanhã.— Sabemos que sim — Jill disse. Eu só senti a simpatia na voz dela de leve,
lembrando amimmesma que ela sabia sobre aminha briga de ontem comKeith. Eutorcia para que ela não amencionasse na frente deEddie e fui salva quando ela passouparaumtemamaisaleatório,atésurpreendente.—Achaquepodemospegarumapizzanocaminho?AdriannãoquermaiscomeracomidadeDorothy.—Quepéssimoparaele—Eddieobservouaoentrarnobancodetrás,deixandoo
assento da frente para Jill.—Ter uma chef particular àmão para preparar qualquercoisaqueeleprecisar.Nãoseicomoelesobrevive.Eudeirisada,masJillpareceuultrajadaemnomedeAdrian.—Nãoéamesmacoisa!Elasópreparacoisassuper-refinadas.—Aindaestouesperandoparasaberqualéoproblema—Eddiedisse.— Ela também tenta fazer tudo bem saudável. Diz que é melhor para Clarence.
Então,nuncatemsalnempimentanemmanteiga.—Caramba,comquefrequênciaJill
eAdriansefalam?—Nãotemnenhumsabornemnada.Eleestáficandolouco.—Tudopareceestardeixandoele louco—observei,me lembrandode sua súplica
pornovasacomodações.—Enãopodeestartãoruimassim.PoracasoelenãofoiparaLosAngelesontemànoite?—AúnicarespostadeJillfoifranziratesta.Ainda assim, eu tinha a sensação de que iríamos passar um bom tempo na casa de
Clarence, e eu particularmente não queria comer nada preparado ali. Então, foimaispormotivos egoístas que eu concordei empassar emum lugar que tinha comida paraviagemecompraralgumaspizzas.OrostodeAdrianficouradiantequandoentramosnasala de estar, onde— tirando as partidas de sinuca—parecia ser o lugar emque elemaispassavatemponacasadeClarence.— Chave de Cadeia— ele declarou e se levantou em um salto.—Você é uma
santa.Talvezatéumadeusa.—Opa—eudisse.—Quempagoufuieu.Adrianlevouumadascaixasatéosofá,paratristezadeDorothy.Elasaiuapressada,
falandoalgumacoisasobrepratoseguardanapos.Adrianmelançouumacenodecabeçaconciliador.—Vocêtambémnãoénadamau,Sage—eledisse.—Ora, ora, o que temos aqui?—Clarence entrou cambaleante na sala. Eu não
tinhareparado,maseleusavabengalaparaselocomover.Tinhaumacobradecristalnoalto, que era aomesmo tempo impressionante e assustadora. Era bem o tipo de coisaqueseriadeseesperardeumvampiroidoso.—Parecequetemosumafesta.Leeestavacomeleenoscumprimentoucomsorrisose acenosdecabeça.Osolhos
delesedemorarambrevementeemJilleelefezquestãodesesentarpertodela—masnãopertodemais. Jill se animoucomonão se animavahaviadias.TodomundoestavacomeçandoaatacaraspizzasquandoDorothyapareceuàportacomumnovovisitante.Sentimeusolhossearregalarem.EraKeith.—Oquevocêestáfazendoaqui?—perguntei,mantendoumtomdevozneutro.Eledeuumapiscadela.—Vimconferirsetodomundoestavabem.Essaéaminhafunção...tomarcontade
todomundo.Keith estava mais animado e mais simpático quando se serviu de pizza, sem
indicaçõesdabrigaquehaviaocorridodaúltimavez.Ele sorriu e conversou com todos como se fossem seusmelhores amigos, coisa que
medeixoutotalmentechocada.Ninguémmaispareciaacharquehaviaalgodeestranhonocomportamentodele—mas,bom,porqueachariam?NenhumdelestinhaomesmohistóricoqueeutinhacomKeith.Não — isso não era bem verdade.Apesar de estar envolvido em uma conversa
profunda com Eddie, Adrian fez uma pausa para me lançar um olhar curioso,perguntandoemsilênciosobreabrigadodiaanterior.EledeuumaolhadaemKeithe
depois voltou a olhar paramim.Dei de ombros,mostrando a ele que também estavaconfusaemrelaçãoàmudançadehumor.TalvezKeithestivessearrependidodaexplosãododiaanterior.Claroqueseriabemmaisfácildeaceitarsetivessevindoacompanhadodeumadesculpa.Mordisquei um pedaço de pizza de queijo, mas a maior parte do tempo fiquei
observando os outros. Jill contava paraAdrian, toda animada, como tinham sido seusprimeiro dias, e reparei que ela tinha deixado de fora todas as partes negativas. Ele aescutoucomindulgência,assentindoefazendointerjeiçõescomcomentáriosespirituososocasionalmente.Algumas das coisas que ela disse a ele eram bem básicas, e fiqueiimpressionadapornãoteremsidomencionadasemsuasconversastelefônicas.Talvezelesimplesmente tivesse tanta coisa a dizer nessas ocasiões que não sobrava oportunidadeparaela.Assim,elenãomencionouseutédionemsuasoutrasreclamações.ClarenceconversavadevezemquandocomEddieeLee,mas seusolhos sempre se
desviavamparaJill.Haviaumaexpressãodemelancoliaemseuolhar,eeumelembreide que a sobrinha dele só era um poucomais velha do que Jill. Fiquei imaginando setalvez parte da razão pela qual ele se mostrou tão disposto a nos acolher foi algumaespéciedetentativaderecuperarumapartedavidaemfamíliaquetinhaseperdido.Keith tinha se sentado perto de mim, coisa que no começo me deixou pouco à
vontade,masquedepoismedeuoportunidadede entenderopensamentodele.Aoverqueosoutrosestavamenvolvidosemconversas,perguntei,baixinho:—Você já ouviu falar em imitações de tatuagens dos alquimistas que chegaram à
populaçãoemgeral?Elemeolhouassustadoemresposta.—Nemseioqueissosignifica.— EmAmberwood está na moda. Parece que existe um lugar na cidade que faz
tatuagensmetálicas,eelastêmpropriedadesespeciais...maisoumenoscomoasnossas.Algumassódeixamapessoaalegre.Outrasmeioquetêmefeitodeesteroide.Elefranziuatesta.—Elasnãosãofeitascomouro,são?—Não.Prataecobre.Por issonãoduram.Provavelmenteparaqueos tatuadores
possamganharmaisdinheiro.—Masentãonãopodemsernossas—eleargumentou.—Háséculosnãousamos
essesmetaisemtatuagens.— É,mas alguém pode estar usando a tecnologia dos alquimistas para criar essas
tatuagens.—Sóparadeixar aspessoas chapadas?—eleperguntou.—Eunemsaberia como
chegaraissocomagentesmetálicos.—Eutenhoalgumasideias—respondi.— Deixe-me adivinhar. Elas incluem misturas com narcóticos. — Quando eu
assenti,elesuspirouemeolhoucomoseeutivessedezanosdeidade.—Sydney,omaisprovável é que alguém tenha descoberto algum método grosseiro de tatuar que éparecidocomonosso,masquenãotemnenhumarelaçãocomagente.Seforisso,nãopodemos fazer nada a respeito.Drogas existem.Coisas ruins acontecem. Se não tiverrelaçãocomosassuntosdosalquimistas,nãoédanossaconta.—Masesetiverconexãocomosassuntosdosalquimistas?—perguntei.Eleresmungou.—Está vendo?Épor issoque eu estavapreocupado coma sua vindapara cá, com
essasuatendênciadeaparecercomteoriasparalelasmalucas.—Eunão...—Por favor,nãomeenvergonhe—ele sibiloue lançouumolharparaosoutros.
—Nemcomeles,nemcomnossossuperiores.Abroncadelemesilenciou,principalmentepelasurpresa.Oqueelequisdizercom
essaminha“tendência”? Será que ele realmente estava sugerindo que tinha feito algumtipo de análise psicológica profunda de mim anos antes? A ideia de que eu iriaenvergonhá-lo era ridícula... e, no entanto, suas palavras plantaram uma dúvida naminha cabeça.Talvez as tatuagens emAmberwood fossem apenas uma modinha semrelaçãocomnada.—Comoestáaeducaçãofísica?—AspalavrasdeAdrianmearrastaramparalonge
dosmeusprópriospensamentos.EleaindaestavaouvindooresumodaescoladeJill.Elafezumacaretafrenteàpergunta.—Nãomuitobem—ela reconheceue fezumaretrospectivade algunsdospiores
momentos.Eddiemelançouumolharsignificativo,parecidocomodeantes.—Vocênãopodecontinuardessejeito—Leeexclamou.—Osolaquiébrutal.—Concordo—disseKeith,ninguémmenos.—Sydney,porquevocênãomedisse
comoestavadifícil?Achoqueomeuqueixobateunochão.—Eudisse!Foiporissoquetenteifazervocêentraremcontatocomaescola.— Na verdade, você não me contou a história toda. — Ele lançou um de seus
sorrisosmelososparaJill.—Nãosepreocupe,vouresolverissoparavocê.Vouentraremcontatocomosresponsáveisdaescola...ecomosalquimistas.—Eujáfaleicomeles—argumentei.Maseunãoprecisava terditonada.Keith já tinhamudadode assuntoe conversava
comClarencearespeitodealgo irrelevante.Deondetinhavindoessamudançaradicaldeatitude?Ontem,odesconfortodeJilltinhasidodebaixaprioridade.Hoje,Keitheraocavaleirodearmadurabrilhanteque saíaemsuadefesa.E,com isso,ele sugeriaquequemestavapisandonabolaeraeu. Esseéoplanodele,percebi. Elenãomequeraqui.Nuncaquis.Eentão,umacoisaaindapiormeocorreu.Elevaiusarissoparacomeçaramontarumcasocontramim.
Dooutroladodasala,Adrianchamouaminhaatenção.Elesabia.EletinhaescutadoquandoeudiscuticomKeithnaentradadacasa.Adriancomeçouafalar,eeusabiaqueele iapegarKeithemsuamentira.Foiumgestogalante,masnãoeraoqueeuqueria.EudariacontadeKeithsozinha.— Como estava Los Angeles? — perguntei logo, antes que Adrian tivesse a
oportunidade de dizer alguma coisa. Ele olhou para mim com um ar curioso, semdúvida imaginandoporqueeunãoqueriapermitirqueele testemunhasseameu favor.—VocêfoiparaláontemànoitecomLee,nãofoi?Adrianpareciaconfuso,masumsorrisoseabriuemseurosto.— Fui— ele finalmente disse.— Foi ótimo. Leememostrou como é a vida na
faculdade.Leedeurisada.—Eunãoiriaassimtãolonge.Nãoseiondevocêsemeteumetadedanoite.Adrianficoucomumaexpressãonorostoquedealgummodoeraencantadora,mas
quemedeuvontadededarumtapaneleaomesmotempo.—Nósnosseparamos.EuquisconheceralgunsdosoutrosMoroidaárea.NemEddieconseguiuficaremsilênciocomisso.—Ah,éassimquevocêdescreve?Jillselevantoudemaneiraabrupta.—Voutomaromeusangueagora.Tudobem?Houve um momento de silêncio constrangedor, principalmente porque acho que
ninguémrealmentesabiaaquemelaestavapedindolicença.—Claro que sim, querida—Clarence disse e assumiu seu papel de anfitrião.—
AcreditoqueDorothyestejanacozinha.Jill assentiu de leve e saiu apressada da sala.Nós, que sobramos, trocamos olhares
confusos.—Háalgumproblema?—Leeperguntou,parecendopreocupado.—Seráqueeu...
seráquedevoirfalarcomela?— Ela só está estressada— eu disse, sem coragem demencionar os episódios de
gritoedechoro.—Penseiemumacoisaquepode serdivertidaparaela...para todosnós fazermos
—eledisse,eficouesperandopelasreações.Eleolhouaoredoreentãovoltouosolhosparamim.Achoqueeutinhasidoescolhidaparafazeropapeldemãe.—Sevocêacharque tudobem.Querdizer... émeiobobo,mas acheiquepodíamos ir jogarminigolfequalquernoitedessas.Temummontedefonteselaguinhosnocampo.Elatemdomíniosobreaágua,certo?Deveestarsentindofaltadissoaqui.— Está mesmo— Eddie respondeu com a testa franzida.— Ela mencionou isso
ontem.Euestremeci.Keithestavamandandoumamensagemde textopelo telefonee ficou
paralisado.Pormaisque tivéssemosnossasdiferenças, continuávamoscompartilhandoogrosso
dotreinamentoquetínhamosrecebido,enósdoisficamospoucoàvontadedepensarnamagiadosMoroi.—Achoqueelavaigostarmuito—Adrianfalou.Elepareciarelutanteemadmitir.
AchoqueaindaestavapoucoàvontadecomaideiadeLeeestarinteressadoporJill,pormais que os dois se dessem bem.A sugestão de Lee era aomesmo tempo inocente edemonstravapreocupação.Eradifícilencontraralgumproblemanela.Leedeixouacabeçapenderparaolado,pensativo.—O toquede recolher émais tardenos fins de semana, não é?Querem ir hoje à
noite?Era sexta-feira, e isso nos garantia uma hora extra no toque de recolher do
alojamento.—Euestoudentro—Adriandisse.—Literalefigurativamente.—SeJillfor,euvou—Eddiefalou.Eles olharam para mim. Eu estava encurralada. Queria voltar e tirar o atraso da
lição de casa. Mas se eu dissesse isso ia parecer ridículo, e achava que tinha de estarpresente como a única acompanhante mulher de Jill.Além do mais, lembrei a mimmesma,aquelamissãonãoeraarespeitodemimedaminhavidaacadêmica,pormaisqueeufingissequefosse.OmaisimportanteeraJill.— Eu posso ir— disse devagar. Pensei que isso talvez se parecesse demais com
confraternizaçãocomvampiros,porissoeuolheisemjeitoparaKeith.Eletinhavoltadoamandar amensagemde texto, agora que amagia não estavamais em discussão.—Keith?—perguntei,comoseestivessepedindopermissão.Eleergueuosolhos.—Hã?Ah,eunãopossoir.Tenhoumcompromisso.Tenteinãofazercareta.Eletinhameentendidomal,eachavaqueeuestavafazendo
um convite. Por outro lado, ele tambémnãomostrou objeção em relação ao resto denósirmos.—Ah,quebacana—disseClarence.—Umpasseioparaosjovens.Quemsabenão
dividemumataçadevinhocomigoantes?—Dorothyiaentrandocomumagarrafadevinho tinto, com Jill atrás dela. Clarence sorriu paraAdrian. — Eu sei que vocêapreciariaumataça.AexpressãodeAdriandiziaquesim,comtodaacerteza.Emvezdisso,elerespirou
fundoesacudiuacabeça.—Émelhornão.—Vocêdeviabeber—Jilldissecomgentileza.Mesmodepoisdebeberapenasum
poucodesangue,elapareciacheiadevidaedeenergia.—Nãoposso—eledisse.
— É fim de semana — ela disse a ele. — Não tem assim tanto problema.Principalmentesevocêtomarcuidado.Osdoisficaramseencarandoeentão,finalmente,eledisse:—Tudobem.Podeservirumataçaparamim.—Sirvaumaparamimtambém—Keithdisse.—Émesmo?—pergunteiaele.—Nãosabiaquevocêbebia.—Tenhovinteeumanos—elecontra-atacou.AdrianaceitouataçaqueDorothylheofereceu.— Por algum motivo, acho que a preocupação de Sage não é essa.Achei que os
alquimistasevitassemoálcooldamesmamaneiraqueevitamcoresprimárias.Euolheiparabaixo.Estavavestidadecinza.Keithusavamarrom.—Umataçanãovaifazermal—Keithdisse.Nãodiscuticomele.NãoeraminhafunçãoserbabádeKeith.Eosalquimistasnão
tinham nenhuma regra específica contra beber.Nós tínhamos crenças religiosas fortesem relação ao que significava levar uma vida boa e pura, e a bebida costumava serdesprezada.Masseeraproibida?Não.Eraumhábitoqueeuconsideravasignificante.Seelenãoconsiderava,aescolhaeradele.KeithestavalevandoataçaaoslábiosquandoAdriandisse:—Humm.O+,omeupreferido.Keithcuspiuovinhoquetinhaacabadodebeberecomeçoua tossir.Fiqueialiviada
pornãoterrespingadoemmim.JillcomeçouadarrisadaeClarenceficouolhandoparaataça,cheiodedúvidas.—Émesmo?Euacheiquefosseumcabernetsauvignon.—Eémesmo—Adriandisse,comorostoimpassível.—Meenganei.Keith lançouumsorrisocontidoparaAdrian,comose tambémachassequeapiada
era engraçada, mas eu não me deixei enganar. Keith estava louco da vida por teremtirado sarro dele, e por mais que ele fingisse ser simpático com todo mundo, suasopiniõescontravampirosedampiroscontinuavammaisdurasdoquenunca.ClaroqueAdrian provavelmente não estava ajudando em nada. Eu achei bem engraçado,sinceramente, eme esforceimuito para esconder omeu sorriso, para Keith não ficarbravocomigodenovo.Foidifícil fazer issoporque,logodepois,Adrianmelançouumsorrisosecreto,cheiodesegundasintenções,quepareciadizer: Issofoiotrocopeloqueelefezantes.EddiedeuumaolhadaemJill.—Ainda bem que você tomou seu sangue hoje. Sei que queria aprender alguns
golpesdedefesa,masqueriaesperaratévocêrecuperarsuaforça.Jillsealegrou.—Podemosfazerissoamanhã?—Claroquesim—elerespondeu,parecendoquasetãofelizquantoela.
Keithfranziuatesta.—Porqueelaprecisaaprenderalutarsetemvocêporperto?Eddiedeudeombros.—Porqueelaquer,edevetertodavantagemsemprequepossível.Elenãomencionouespecificamenteosatentadoscontraavidadela—nãona frente
deLeeeClarence—,masorestodenósentendeu.—MaseuacheiqueosMoroinãofossembonsdebriga—Keithdisse.— Isso ocorre mais porque nunca são ensinados. Não são tão fortes quanto nós,
claro,masosreflexosdelessãomelhoresdoqueosseus—Eddieexplicou.—Éapenasumaquestãodeaprenderashabilidadeseterumbomprofessor.—Comovocê?—caçoei.—Eunãosouruim—eledissecommodéstia.—Soucapazdeensinaraqualquer
umquequeiraaprender.—EledeuumacotoveladaemAdrian,queesticavaamãoparapegarovinhoeencherocopomaisumavez.—Atéestesujeitoaqui.—Não,obrigado—Adriandisse.—Estasmãosnãosesujamcombrigas.—Nemcomtrabalhopesado—observei,aolembrarseuscomentáriosanteriores.— Exatamente— ele disse.— Mas talvez você devesse pedir a Castile que lhe
mostre como dar uns socos, Sage. Pode ser útil. Parece ser uma habilidade que umamoçaassimtãocorajosacomovocêdevepossuir.—Bom,agradeçoovotodeconfiança,masnãoseiquandoiriaprecisardisso—eu
falei.—Claroqueelaprecisaaprender!A exclamação de Clarence nos pegou de surpresa. Eu na verdade achava que ele
estava tirando um cochilo, já que seus olhos tinham se fechadomomentos antes.Masagora ele se inclinava para a frente com uma expressão zelosa. Eu me encolhi sob aintensidadedeseuolhar.—Você precisa aprender a se proteger!— ele apontou paramim, depois passou
paraJill.—Evocêtambém.Jurequevocêvaiaprenderasedefender.Jureparamim.Osolhosverde-clarosdeJillsearregalaramdechoque.Elatentoulançarumsorriso
reconfortanteparaele,masogestosaiudemaujeito.—Claro,sr.Donahue.Estoutentando.E,atélá,tenhoEddieparameprotegerdos
Strigoi.—Nãodos Strigoi!—Avozdele passoupara um sussurro.—Dos caçadores de
vampiros.Nenhumdenósdissenada.Leepareciaestarmorrendodevergonha.Clarenceapertouataçadevinhocomtantaforçaqueeufiqueipreocupadaquefosse
quebrar.—Ninguémfalavadissonaquelaépoca...desedefender.Talvez,seTamarativesse
aprendidoalgo,nãoteriasidomorta.Nãoétardedemaisparavocê...paranenhumade
vocêsduas.—Pai,nósjáconversamossobreisso—Leedisse.Clarenceoignorou.OolhardaquelesenhordeidadepassavademimparaJill,eeu
fiquei imaginando se ele por acaso sabia que eu era humana. Ou talvez não fizessediferença.Talvezele só tivesseum instintodeproteçãodistorcidopor todasasgarotascom a idade próxima à deTamara. Eumeio que esperava que Keith observasse, semnenhumtato,quenãoexistiamcoisascomocaçadoresdevampiros,maseleficouquieto,algoincomumparaele.FoiEddiequemfinalmentefalou,compalavrasreconfortantesegentis.Ele semprepassavaa impressãode serumguerreirodo tipomataroumorrer;foisurpreendenteperceberque,naverdade,eleeracheiodecompaixão.—Não se preocupe—Eddie disse.—Eu vou ajudar as duas.Voumantê-las em
segurançaegarantirquenadaaconteçaaelas,certo?Clarenceaindapareciaagitado,masfocadoemEddiecomesperanças.—Vocêjura?NãovaipermitirquevoltemamatarTamara?— Juro— Eddie disse, sem deixar transparecer, de jeito nenhum, como aquele
pedidoerabizarro.ClarenceobservouEddiecomatençãoporalgunssegundoseentãoassentiu.—Vocêéumbomgaroto—elepegouagarrafadevinhoeencheuataça.—Mais?
—perguntouaAdrian,comosenadativesseacontecido.—Sim,porfavor—Adriandisseepegouagarrafa.Nós demos prosseguimento à conversa como se nada tivesse acontecido, mas a
sombradaspalavrasdeClarencecontinuoupairandosobremim.
12
Quandosaímosparaoencontroemgrupooupasseioemfamíliaouseja láoque fosse,Leenãoparavadepedirdesculpaspelopai.—Sintomuito—eledisse, e se largouarrasadonobancode trásdoPingado.—
Nãodámaisparafazercomqueelerecuperearazão.TentamosdizeraelequeTamarafoimortapelosStrigoi,maseleserecusaaacreditar.Elenãoquersaber.Nãopodesevingar de um Strigoi. Eles são imortais. Invencíveis. Já um caçador de vampiroshumano...Dealgummodo,nacabeçadele,éalgoqueelepoderiaperseguir.E,seissonão for possível, ele pode se concentrar em como os guardiões se recusam a ir atrásdessescaçadoresdevampirosinexistentes.EumalouviEddiebalbuciar:—OsStrigoinãosãoassimtãoinvencíveis.Pelo espelho retrovisor, vi o rosto de Jill cheio de compaixão. Ela estava sentada
entreLeeeEddie.—Mesmoquesejaumafantasia,talvezsejamelhorassim—elasugeriu.—Issolhe
dá conforto. Quer dizer, mais ou menos.Ter algo concreto para detestar é o quepermitequeeleaguente.Senão,simplesmenteiriaseentregaraodesespero.Elenãofazmalaninguémcomsuasteorias.Achoqueeleéumamor—elatomoufôlegodaquelejeitoquefaziaquandofalavamuitodeumavezsó.Osmeusolhosestavamnaestrada,maspudejurarqueviLeesorrindo.—Isso foi legaldasuaparte—eledisseaela.—Euseiqueelegostade tervocê
porperto.Vireaqui.Essaúltimafraseeledisseparamim.Leeestavamedandoasinstruçõesdocaminho
desde que havíamos saído da casa de Clarence.Tínhamos acabado de sair de PalmSprings propriamentedita, e nos aproximávamosdoResort eCampodeGolfeDesertGods, cuja aparência era muito impressionante. Mais instruções nos levaram até oCentrodeMinigolfeMega-Fun,ao ladodoresort.Procureiumlugarparaestacionare
ouviJillengoliremsecoquandoavistouaglóriaquecoroavaocampodegolfe.Ali,nocentro de um aglomerado de gramados com decoração cafona, havia uma grandemontanhafalsacomumacachoeiraartificialcaindodoalto.—Umacachoeira!—elaexclamou.—Éfantástico.—Bom—Leedisse—,eunãoiriaassimtãolonge.Éfeitadeáguaqueébombeada
semparar, e tem sóDeus sabeoquenessa água.Querdizer, eu équenão iria tentarbeberounadarnela.Antesmesmoqueocarroparasse,Adrian já tinhasaídoeacendiaumcigarro.Nós
tínhamos discutido no caminho, apesar de eu dizer três vezes que o Pingado era umcarro estritamente para não fumantes. Logo todos nós também saímos, e eu fiqueiimaginandonoqueeutinhamemetidoenquantonosdirigíamosàentrada.—Naverdade,eununcajogueiminigolfe—comentei.Leeparoueficouolhandofixamenteparamim.—Nunca?—Nunca.—Como isso pode ser possível?—Adrian perguntou.—Como é possível você
nuncaterjogadominigolfe?—Aminhainfânciafoimeioforadocomum—eudissefinalmente.AtéEddiepareciaincrédulo.—A sua?Eu fui praticamente criado emuma escola isolada nomeio donada, em
Montana,eatéeujájogueiminigolfe.Dizerqueeutinhasidoeducadaemcasanãoserviadedesculpadessavez,porissosó
deixei para lá.Na verdade, o negócio é que aminha infância foimais concentrada emequaçõesquímicasdoqueemdiversãoerecreação.Quando começamos a jogar, eu logo peguei o jeito. Minhas primeiras tentativas
forambemruins,maseulogocompreendiopesodotacoecomomanobrarosângulosdecadacampo.Apartirdaí,foibemfácilcalcularadistânciaeaforçaparadartacadascerteiras.— Inacreditável. Se você tivesse jogado desde criança, provavelmente ia ser
profissional agora — Eddie me disse quando eu enfiei a bola na boca aberta de umdragão.Abolasaiurolandopelapartedetrás,desceuporumtubo,bateuemummuroecaiunoburaco.—Comovocêfazisso?Deideombros.— É pura geometria.Você também não é assim tão ruim— observei ao ver a
tacadadele.—Comovocêfaz?—Eusóalinhoebatonabola.—Muitocientífico.— Eu só confio no meu talento natural —Adrian disse ao chegar com passos
gingadosàTocadoDragão.—Quandosetemtantoassimàdisposição,operigoéter
demais.—Issonãofazabsolutamentenenhumsentido—Eddiefalou.A resposta deAdrian foi fazer uma pausa e pegar um cantil prateado do bolso de
dentrodocasaco.Eledesenroscouatampaedeuumgolerápidoantesdeseinclinarparadarsuatacada.—Oquefoiisso?—exclamei.—Nãopodebeberálcoolaqui.—Você ouviu o que aChave deCadeia disse antes— ele retrucou.—É fim de
semana.Eleajeitouabolaedeuatacada.Elafoidiretoparaoolhododragão,ricocheteoue
voltounadireçãodeAdrian.Depoisroloueparouaospésdele,quasenomesmolugardeondetinhasaído.—Talentonatural,hein?—Eddieperguntou.Eumeinclineiparaafrente.—Achoquevocêquebrouoolhododragão.—FicouigualzinhoaoKeith—Adriandisse.—Acheiquevocêiriagostar,Sage.Olhei feio para ele, imaginando se havia mais algum significado oculto por trás
daquilo. De maneira geral,Adrian pareceu surpreso com a própria gracinha. Eddieentendeumalaminhaexpressão.—Issofoiinapropriado—eledisseaAdrian.—Desculpe, pai—Adrian deumais uma tacada e conseguiu não aleijar nenhuma
estátuadessavez.Commaisduastacadas,eleacertouabolanamira.—Pronto.Três.—Quatro—Eddieeeudissemosemuníssono.Adrianolhouparanós,incrédulo.—Foramtrês.—Estáseesquecendodaprimeira—eudisse.—Aquecegouodragão.—Aquilo foi só aquecimento—Adrian argumentou.Eleestampouumsorrisono
rosto que, acredito, tinha a esperança de me encantar. —Vamos lá, Sage. Vocêcompreendeamaneiracomoaminhamente funciona.Vocêdissequeeuerabrilhante,lembra?Eddieolhouparamim,surpreso.—Dissemesmo?—Não!Eununcadisse isso.—OsorrisodeAdrianeradeenfurecer.—Parede
dizerissoparatodomundo.Comoeueraresponsávelpelafichadepontos,marqueiajogadadelecomosendode
quatro tacadas, apesar das reclamações subsequentes. Comecei a avançar, mas Eddieergueu a mão para me deter, com os olhos cor de avelã olhando por cima do meuombro.—Nãováainda—eledisse.—PrecisamosesperarJilleLee.Segui o olhar dele. Os dois tinham mergulhado numa conversa profunda desde a
nossachegada,tantoquetinhamseatrasadoeestavambematrásdetodosnós.Mesmoenquantodiscutia comigoecomAdrian,Eddie sempreconferiaondeelaestava—eonosso entorno. A maneira como ele fazia várias coisas ao mesmo tempo eraimpressionante.Até então, Jill eLee só tinhamestadoumburaco atrásdenós.Agoraeramquasedois,eissoeralongedemaisparaEddiepermitirqueelaficasseforadesuavista.Porisso,nósesperamosatéqueocasaldistraídochegasseàTocadoDragão.Adriandeumaisumgoleemseucantilesacudiuacabeça,maravilhado.—Vocênãotinhacomoquesepreocupar,Sage.Elafoidiretoparacimadele.—Nãograçasavocê—meirritei.—Nãoacreditoquevocêcontouparaelatodos
os detalhes da minha visita naquela noite. Ela ficou tão brava comigo por eu terinterferidocomvocê,LeeeMicahpelascostasdela.—Eunãofaleiquasenadaparaela—Adrianargumentou.—Sódisseparaelaficar
longedaquelehumano.Eddiedeuumaolhadaemnósdois.—Micah?Eutroqueiopesodocorpodeumpéparaooutro,semjeito.Eddienãosabiaqueeu
tinhatomadoiniciativas.—Lembraquandoeupediparavocêdizeralgoaele?Evocê serecusou?—Então
conteiaelecomotinhabuscadoajudacomAdrianeacabeidescobrindoo interessequeLeetinhaporJill.Eddieficouboquiaberto.—Comoéquevocênãomecontounadadisso?—elequestionou.—Bom—eudisse, imaginando se tudoqueeu fizesse sempre resultariana irade
umMoroioudeumdampiro.—Nãoeradasuaconta.—AsegurançadeJillésempredaminhaconta!Setemalgumcaraquegostadela,
euprecisosaber.Adriandeurisada.—SeráqueSagedeviaterpassadoumbilheteparavocêduranteaaula?—Não há nada de errado com Lee— eu disse.—Ele obviamente a adora e, se
estivercomele,elanuncavaiestarsozinha.—Nósnãosabemoscomcertezasenãohánadadeerradocomele—Eddiedisse.—EMicah por acaso é cem por cento confiável?Você checou o histórico dele ou
algoassim?—perguntei.—Não—Eddie respondeu, parecendo envergonhado.—Eu simplesmente sei. É
umasensaçãoqueeutenhoarespeitodele.NãotemproblemaelepassarumtempocomJill.—Tirandoofatodeeleserhumano.—Nãoiaacontecernadasérioentreeles.—Vocênãotemcomosaberdisso.—Jáchega,vocêsdois—Adrianinterrompeu.JilleLeetinhamfinalmentechegado
aoiníciodaTocadoDragão,oquesignificavaquenóspodíamosavançar.Adrianbaixouavoz.—Essadiscussãoéinútil.Querdizer,olheparaeles.Aquelehumanoestáforadequestão.Euolhei.Adriantinharazão.JilleLeeestavammuitoenvolvidos.Algumapartede
mimcheiade culpa ficou imaginando seeudeviameesforçarmaispara cuidarde Jill.FiqueitãoaliviadaporelaestarinteressadaemumMoroiquenempareiparapensarseela devia mesmo namorar alguém. Será que quinze anos era idade suficiente? Eu nãonamoravaquandotinhaquinzeanos.Bom,naverdade,eununcatinhanamorado.—Háumadiferençadeidadeentreeles—admiti,maisparamimmesma.Adriancaçoou.—Podeacreditar,jávidiferençadeidade.Adelesnãoénada.Ele se afastou e, alguns momentos depois, Eddie e eu nos juntamos a ele. Eddie
manteve sua vigília simultânea a Jill, mas dessa vez fiquei com a impressão de que operigoqueelevigiavaestavabemaoladodela.ArisadadeAdriansoouànossafrente.—Sage!—elechamou.—Vocêtemqueveristo.Eddieeeuchegamosaopróximocampoe ficamosolhando, surpresos.Entãoeucaí
narisada.TínhamoschegadoaoCastelodoDrácula.Um castelo enorme, preto e cheio de torres, guardava o buraco a certa distância.
Haviaumtúnelnomeiodelecomumaponteestreitaporondeaboladeviapassar.Seabola caísse pela lateral antes de chegar ao castelo, voltava para o ponto inicial. UmbonecoanimadodocondeDráculaficavaaoladodocastelo.Eleeradeumbrancopuro,comolhos vermelhos, orelhas pontudas e cabelopenteadopara trás.Comgestosmeiodesajeitados,ele ficavaerguendoosbraçosparaexibir suacapaem formademorcego.Nasproximidades,umalto-falantetocavabemaltoumamúsicamisteriosadeórgão.Eu não conseguia parar de dar risada.Adrian e Eddie olharam paramim como se
nuncativessemmevisto.—Achoquenuncatinhaouvidoarisadadela—Eddiedisseaele.—Comcertezanãoeraareaçãoqueeuestavaesperando—Adrianrefletiu.—Eu
estava contandocomum terror absoluto, a julgarpor seu comportamento anteriordealquimista.Nãoacheiquevocêgostassedevampiros.Aindasorrindo,fiqueiobservandooDráculasacudiracapaparacimaeparabaixo.—Issoaquinãoéumvampiro.Nãoédeverdade.Eéporissoqueétãoengraçado.
É a pura cafonice de Hollywood. Os vampiros de verdade são aterrorizantes eantinaturais.Issoaqui?Issoéhilário.Ficou claro, pela expressão deles, que nenhum dos dois estava entendendo por que
aquilotinhatantoapeloaomeusensodehumor.MasAdrianseofereceuparatirarumafotocomomeucelularquandoeupedi.FizumaposeaoladodoDráculaeestampeiumsorrisoenormenorosto.Adrianconseguiutirara fotobemquandooDráculaerguiaacapa.Quandoeuconferi a foto, fiquei felizdeverque tinha saídoperfeita.Atéomeu
cabelotinhasaídobom.Adrianacenoucomacabeçaemaprovaçãoàfotoantesdemeentregarocelular.—Certo,atéeusoucapazdeadmitirqueficoubembonitinha.Eumepegueianalisandoocomentárioexcessivamente.Oqueelequisdizercom“ até
ele era capaz de admitir”? Que eu era bonitinha para uma humana? Ou que eu tinhaatendido a algum padrão de beleza em sua avaliação? Momentos depois, me forcei aparardepensarnisso.Deixeparalá,Sydney.Foiumelogio.Aceite.Jogamospelorestodocampoefinalmentefomosdarnacachoeiraemsi.Aquelefoi
umburacoespecialmentedesafiador,eeudemoreiparacalcularaminhatacada—nãoquefossenecessário.Euestavaganhandodetodomundocombastantefacilidade.Eddieeraoúnicoquechegavaperto.FicouclaroqueJilleLeenemestavamprestandoatençãoaojogo,enoquediziarespeitoaAdrianeseutalentonatural...bom,elesocupavamaúltimaposiçãocomsolidez.Eddie,Adrian e eu ainda estávamos na frente dos outros dois, por isso ficamos
esperandopor elespertoda cachoeira. Jill praticamente correunadireçãodelaquandoteveoportunidade,admirando-acomolhosencantados.—Ah—eladisse,semfôlego.—Issoémaravilhoso.Nãovejotantaáguaassimhá
dias.—Lembre-sedoqueeudissearespeitodoníveldetoxinas—Leebrincou.Masera
óbvioqueeletinhaachadoareaçãodelaumagraça.Quandoolheiparaosoutrosdois,vique eles compartilhavam dos mesmos sentimentos. Bom, não eram exatamente osmesmos.A afeição deAdrian era obviamente a de um irmão.Mas a de Eddie... eradifícildedecifrar,meioqueumamisturadasoutrasduas.Talvezfosseumtipodeafetodeguardião.Jill fezumgestonadireçãodacachoeirae,derepente,partedaágua se separouda
cascataque caía.Essaporção tomoua formadeuma trança e se contorceu altono ar,formandoespirais,antesdesedespedaçaremummilhãodegotasquecaíramcomoumanévoa por cima de nós todos. Eu olhava para aquilo com os olhos arregalados eparalisada,masasgotasquemeatingirammedespertaram.— Jill— eu disse em uma voz quemal reconheci como sendominha.—Nunca
maisfaçaisso.Jill,comosolhosbrilhantes,malmenotouaofazeroutraporçãodeáguadançarno
ar.—Nãotemninguémporaquiparaver,Sydney.Nãoeraporissoqueeuestavatãoaborrecida.Nãotinhasidoissoquemeencherade
tanto pânico que eumal conseguia respirar.Omundo estava começando a girar, e eufiqueicommedodedesmaiar.Ummedofrioeenvolventetomoucontademim,medodo desconhecido. Do antinatural. As leis do meu mundo tinham acabado de serrompidas.Aquilo era magia de vampiro, algo estranho e inacessível aos humanos—
inacessívelporqueeraproibido,umacoisacomquenenhummortaldeviasemeter.Eusó tinha vistomagia sendo usada uma vez, quando duas vampiras usuárias de espíritotinham se voltado uma contra a outra, e eu nunca mais quis ver aquilo. Uma tinhaforçado asplantasda terra a fazerem seu encanto, enquanto aoutrausava a telecinesiaparalançarobjetoscomaintençãodematar.Tinhasidoapavorante,eapesardeoalvonão sereu,me senti encurraladaeesmagadadiantedeumpoder tãodeoutromundo.Aquele foi um lembrete de que essas não eram pessoas divertidas para ter comocompanhia.Eramcriaturascompletamentediferentesdemim.—Parecom isso—eudisse, sentindoopânicocrescer.Eu tinhamedodamagia,
tinhamedoquemetocasse,medodoquepodiafazercomigo.—Nãofaçamaisisso!Jillnemmeescutou.ElasorriuparaLee.—Vocêédoar,certo?Conseguecriarneblinaporcimadaágua?Leeenfiouasmãosnosbolsosedesviouoolhar.—Ah,bom,achoquenãoéboaideia.Querdizer,estamosempúblico...—Vamoslá—elaimplorou.—Nãovaidarnenhumtrabalhoparavocê.Elenaverdadeparecianervoso.—Não,agoranão.— Não me venha com essa você também— ela deu risada.Acima dela e à sua
frente,aquelaáguaendemoniadacontinuavarodando,rodando,rodando...—Jill—Adriandissecomumtomdevozrude,queeununcatinhaescutado.Aliás,
eunãomelembravadealgumavezterescutadoonomeverdadeirodelasaindodabocadele.—Pare.Foiaúnicacoisaqueeledisse,masfoicomoseumaondativessepassadoporJill.Ela
seencolheueasespiraisdeáguadesapareceram,desabandoemgotículas.—Tudobem—eladissecomarconfuso.Houveummomentoconstrangedor,eentãoEddiedisse:—Precisamosandarlogo,senãovamosperderotoquederecolher.Leee Jill foramdar suasúltimas tacadase logo jáestavamdandorisadae flertando
mais umavez.Eddie continuou a observá-los com suamaneira preocupada. SóAdrianprestava atenção emmim. Percebi que ele era o único que realmente entendia o quetinhaacontecido.Seusolhosverdesmeexaminavam,semvestígiodeseuhumoramargodesempre.Maseunãomedeixeienganar.Eusabiaquedeviahaveralgumaobservaçãoespertinhaporvir,paracaçoardaminhareação.—Vocêestábem?—eleperguntoubaixinho.—Estátudobem—eudisseemevireiparaooutrolado.Nãoqueriaqueelevisse
omeu rosto.Ele já tinha vistodemais, já tinha vistoomeumedo.Eunãoqueria quenenhumdeles soubesse comoeu tinhamedo.Ouvi quandodeu alguns passos naminhadireção.—Sage...
—Medeixeempaz—soltei,ríspida.Fuiapressadaemdireçãoàsaídadocampo,certa de que ele não iria me seguir.Tinha razão. Esperei até que eles terminassem apartidaeuseiotempoquetivesozinhaparameacalmar.Quandoelesmealcançaram,eu tinha quase certeza de ter apagado a maior parte das emoções do rosto.Adriancontinuavameolhandocompreocupação,eeunãogosteinadadaquilo,maspelomenoselenãodissemaisnadasobremeuataquedenervosismo.Sem surpresa nenhuma para ninguém, a pontuação final mostrava que eu tinha
ganhado eAdrian tinha ficado emúltimo.Lee tinha ficado em terceiro, e isso pareciaincomodá-lo.—Eucostumavasermelhor—elebalbuciou,comatestafranzida.—Costumava
ser perfeito nesse jogo.— Levando em conta que ele tinha passado amaior parte dotempo prestando atenção em Jill, achei que terceiro lugar tinha sido um desempenhobemrespeitável.Deixei Lee eAdrian em casa primeiro, depois quase não consegui fazer com que
Eddie,JilleeuchegássemosaAmberwoodatempo.Àquelaalturaeujáestavamaisoumenos de volta ao normal, não que alguém fosse notar. Jill flutuava em uma nuvemquandoentramosnonossodormitório,falandosempararsobreLee.—Eunãofaziaideiadequeeleviajavatanto!Talvezelejátenhavisitadoaindamais
lugares do que você, Sydney. Ele ficame dizendo que vai me levar a todos eles, quevamospassarorestodavidaviajandoefazendotudoqueagentequiser.Eele faztodotipo de aula na faculdade porque não tem certeza em que quer se formar. Bom, nãotantoassimneste semestre.Eleestá comohorário leveparapoderpassarmais tempocomopai.Eparamimissoébom.Paranós,querdizer.Segureiumbocejoeassenti,cansada.—Issoéótimo.Elafezumapausadeondeestava,procurandoumpijamanacômoda.—Aliás,queriapedirdesculpa.Congelei.Eunãoqueriaumadesculpapelamagia.Eunemqueriamelembrardeque
aquilotinhaacontecido.— Por ter gritado com você na outra noite— ela prosseguiu.—Você não me
empurrou para cima do Lee. Eu nunca devia ter acusado você de interferir. Elerealmentesempregostoudemim,e,bom...eleéomáximo,deverdade.Solteiarespiraçãoqueestavasegurandoetenteidarumsorrisofraco.—Ficocontentequevocêestejafeliz.Elaretomoutodaalegreassuastarefas,eficoufalandosobreLeeatéeusairpara ir
aobanheiro.Antesdeescovarosdentes,fiqueiparadanafrentedapiaelaveiasmãoseos braços vez após outra, esfregando com a maior força possível para lavar as gotasmágicasdeágua,queeujuravaaindasercapazdesentir.
13
Meucelular tocou aonascerdo solnodia seguinte.Eu jáestavaempé,porestaracostumadaaacordar cedo,mas Jill rolou para o lado na cama e colocou o travesseiro em cima dacabeça.—Façaissoparar—elaresmungou.EuatendiedescobriqueEddieestavadooutroladodalinha.— Eu estou aqui embaixo — ele disse. — Pronto para treinar um pouco de
autodefesaantesquefiquequentedemais.—Vocêsvãoterquefazerissosemmim—eudisse.Estavacomasensaçãodeque
Eddie estava levandomuito a sério a promessa feita aClarencedenos treinar.Eunãosentia aquele tipo de obrigação.—Tenho uma tonelada de lição de casa para fazer.Alémdisso, tenho certezadeque a sra.Terwilliger vaime fazer sair para buscar caféparaelahoje.—Bom,entãomandeJilldescer—Eddiedisse.Eudeiumaolhadaparaocasulodecobertoresnacamadela.—Achoqueissoémaisfácilfalardoquefazer.Surpreendentemente, ela conseguiu acordar o suficiente para escovar os dentes,
tomar uma aspirina para dor de cabeça e vestir uma roupa de ginástica. Ela me deutchau,eeuprometiirvercomoelesestavamsesaindomaistarde.Nãodemoroumuitoparaasra.Terwilligerligarcomseupedidodecafé,eeumeprepareiparamaisumdiadetentarconciliarmeuprópriotrabalhocomodela.Fui até o café Spencer’s e nem reparei queTrey estava lá até parar bem na frente
dele.—É para a sra.Terwilliger?—ele perguntou, e apontou para o cappuccino com
caldadecaramelo.—Hã?— ergui os olhos.Trey era o meu atendente do caixa.—Você trabalha
aqui?
Eleassentiu.—Precisoganhardinheirodealgumjeitoparapagarasminhasdespesas.Entreguei algum dinheiro para ele e reparei que tinha me cobrado a metade do
preço.—Não leve amal,masvocênãopareceestarmuitobem—eu lhedisse.Parecia
cansado emeio desgastado. Um examemais próximomostrou que ele também tinhahematomasecortes.—É,bom,omeudiaontemfoimeiodifícil.Hesitei.Aquele era um comentário que convidava paramais conversa, e não havia
ninguémnafilaatrásdemim.—Oqueaconteceu?—perguntei,cientedequeeraaquiloqueeleesperava.Treyfranziuatesta.—AqueleimbecildoGregSladecausouamaiorconfusãonostestesparaotimede
futebolamericanoontem.Querdizer,osresultadosaindanãosaíram,masébemóbvioqueelevaificarcomaposiçãodelançador.Elepareciaumamáquina,passavaporcimadetodomundo—eleestendeuamãoesquerdaemostroualgunsdedosenfaixados.—Eletambémpisounaminhamão.EumeencolhiaomelembrardaexibiçãoatléticadescontroladadeSladenaeducação
física.Apolíticadoensinomédioeaposiçãodelançadornotimedefutebolamericanonãoeramcoisasmuitorelevantesparamim.AverdadeéquefiqueicompenadeTrey,masoquemeintrigavaeraafonteportrásdastatuagens.OsavisosdeKeitharespeitodenãocriarconfusãoretornaram,maseunãoconseguimesegurar.—Euseidastatuagens—disse.—JuliaeKristinmecontaramsobreelas.Eagora
eu sei por que você ficou desconfiado da minha... mas não é o que você pensa, deverdade.—Nãofoioqueeuouvidizer.Amaioriadaspessoasdizquevocêestáfalandoisso
porquenãoquercontarondefez.Fiqueiumpoucosurpresacomaquilo.Eu tinhaquasecertezadeque JuliaeKristin
tinhamacreditadoemmim.Seráqueelasrealmenteestavamespalhandoooposto?—Eunãofaziaideiadisso.Eledeudeombroscomumsorrisinhonoslábios.—Não sepreocupe.Eu acreditoemvocê.Há algomeio ingênuoe encantadorem
você.Nãopareceserdotipoquetrapaceia.—Ei—deiumabronca.—Eunãosouingênua.—Foiumelogio.—Háquantotempoaspessoasestãofazendoessastatuagens?—perguntei,achando
melhoresclarecerlogo.—Ouvidizerquecomeçounoanopassado.Eleentregouomeucafé,pensativo.—É,masfoinofimdoanopassado.Doanoletivo,querodizer.
—EelasvêmdeumlugarchamadoNevermore?—Peloquesei,sim.—Treymeolhoudesconfiado.—Porquê?—Sóestoucuriosa—respondicomdoçura.Dois universitários vestidos comomendigos ricos entraram na fila atrás demim e
ficaramnosolhandocomimpaciência.—Seráquepodemosseratendidos?Treylheslançouumsorrisoforçadoeentãovirouosolhosparamimenquantoeume
afastava.—Agentesevêporaí,Melbourne.VolteiparaAmberwoodeentregueiocafédasra.Terwilliger.Eunãoestavaa fim
deficaracorrentadaaelaodia todo,por issoperguntei sepodia irparaoutro lugarseficasse com o celular ligado. Ela concordou.A biblioteca tinha muita atividade e—ironicamente—muitobarulhoparaomeugosto.Euqueriaasolidãodomeuquarto.Enquanto atravessava o gramado para pegar o ônibus, avistei algumas silhuetas
conhecidasatrásdeumaglomeradodeárvores.MudeidedireçãoeencontreiJilleEddietreinando emumapequena clareira.Micah estava sentadono chãodepernas cruzadas,assistindoatudocomavidez.Eleacenouparamimquandomeaproximei.—Eunãosabiaqueoirmãodevocêseramestredekungfu—eleobservou.—Nãoékungfu—Eddiedisse,mal-humorado,semnuncatirarosolhosdeJill.—Nãofazdiferença—Micahfalou.—Éincríveldomesmojeito.Eddiedeuumgolpecomose fosseatingira lateraldocorpodeJill.Elareagiucom
bastante rapidez com um bloqueio, apesar de não tão ter sido tão rápida a ponto deimpediroataquedele.Seogolpefossepravaler,eleteriaacertado.Mesmoassim,elepareceusatisfeitocomosreflexosdela.—Muitobem.Issoteriabloqueadopartedeumgolpe,masvocêaindairiasentir.O
melhoréconseguirseabaixaredesviarcompletamente,mas issoexigeumpoucomaisdetreino.Jillassentiu,obediente.—Quandovamospodertrabalharisso?Eddie olhou para ela com orgulho. A expressão se suavizou depois de alguns
momentosdeexame.—Hoje,não.Temsoldemais.Jillcomeçouareclamareentãosedeteve.Elaestavadenovocomaquelaaparência
exaustaporcausadosol,esuavamuito.Elaolhouparaocéuporummomento,comoseestivesse implorandoparaquenosdesseumpoucodenuvens.Comoelepermaneceuinalterado,elaconcordoucomEddie.—Tudobem.Masvamosfazerdenovoamanhãnomesmohorário?Ouquemsabe
maiscedo.Outalvezhojeànoite!Seráquepodemosfazerosdois?Treinarhojeànoitequandoosolestiverbaixandoedenovopelamanhã?Vocêseincomoda?
Eddiesorriu,surpresocomoentusiasmodela.—Comovocêquiser.Jill retribuiu o sorriso e se sentou ao meu lado, colocando-se o máximo possível
embaixodasombra.Eddieficoumeolhando,cheiodeexpectativa.—Oquefoi?—perguntei.—Vocênãotinhaqueaprenderadarunssocos?Eurevireiosolhos.—Não.Quandoéqueeuvouprecisardisso?Jillmecutucoucomocotovelo.—Vailá,Sydney!Comrelutância,permitiqueEddiemedesseumaaularápidasobrecomodarsocos
semmachucaramão.Eumalpresteiatençãoeacheiquesóestavadivertindoosoutros.QuandoEddieterminouminhalição,Micahperguntou:—Ei,vocêpoderiamostraralgunsgolpesdeninjaparamimtambém?—Issonãotemnadaavercomninjas—Eddiereclamou,semparardesorrir.—
Venha.Micah se levantouemumpuloeEddieoconduziupor algunsgolpes rudimentares.
Parecia que Eddie estava sobretudo avaliandoMicah e suas capacidades.Depois de umtempo, Eddie ficou à vontade e permitiu que Micah treinasse alguns golpes ofensivosparaselivrardealgumataque.— Ei — Jill reclamou quando Eddie acertou um chute em Micah. Ele nem se
incomodou, dando de ombros comoosmeninos fazem.—Não é justo.Você nãomeacertouquandonósestávamostreinando.EddiefoipegodesurpresaosuficienteparaqueMicahconseguisseacertarumgolpe
nele.Eddielançouumolharderespeitoacontragostoparaele,eentãodisseaJill:—Aquilofoidiferente.—Porqueeusoumenina?—elaquestionou.—VocênuncaseseguravacomRose.—QueméRose?—Micahperguntou.—Outraamiga—Eddieexplicou.ParaJill,eledisse:—ERose temváriosanos
deexperiênciaamaisdoquevocê.—ElatambémtemmaisdoqueMicah.Vocêestavafacilitandoparamim.EddieficoucoradoemanteveosolhosemMicah.—Nãoestava,não—eledisse.— Estava, sim— ela balbuciou. Quando os rapazes retomaram seu embate, ela
dissebaixinhoparamim:—Comoeuvouaprenderseeletemmedodememachucar?ObserveiosdoiseanaliseioquesabiasobreEddieatéentão.—Achoqueémaiscomplicadodoqueisso.Achoqueeletambémacreditaquevocê
precisa se arriscar... pois se ele estiver fazendo um trabalho bomo bastante você nãoprecisarásedefender.
—Eleestáfazendoumótimotrabalho.Vocêtinhaquetervistoodesempenhodeledurante o ataque— o rosto dela assumiu aquele ar assombrado que sempre apareciaquandooataquequeaobrigaraaseescondereramencionado.—Mas,mesmoassim,euprecisoaprender—elabaixouavozaindamais.—Eurealmentequeroaprenderausaraminhamagiaparalutartambém,nãoqueeuvápodertreinarmuitonessedeserto.Estremeciaomelembrardesuaexibiçãonanoiteanterior.—Vaihaverocasião—eudissedemaneiravaga.Eume levanteiedissequeprecisava fazer liçãodecasa.MicahperguntouaEddiee
Jill se eles queriam almoçar. Eddie disse sim imediatamente. Jill olhou paramim embuscadeajuda.—Ésóumalmoço—Eddiedissecomumamensagemnasentrelinhas.Eusabiaque
elecontinuavaachandoMicahinofensivo.Eunãotinhacerteza,masdepoisdevercomoJill estava apaixonada por Lee, passei a achar que Micah teria de fazer algunsmovimentosbemagressivosparachegaraalgumlugar.—Tenhocertezadequevaificartudobem—eudisse.Jillpareceualiviada,eogruposeafastou.Passeiodiatodoterminandoaquelelivro
miserávelparaasra.Terwilliger.Eucontinuavaachandoqueterdecopiarosfeitiçoserituaisarcaicospalavraporpalavraeraumdesperdíciodetempo.Oúnicopropósitoqueeuvianaquiloeraque,seemalgummomentoelaprecisassefazerreferênciaaelesparasuapesquisa,elateriaumarquivodigitalfácilparachecarsemarriscarestragarolivroantigo.Estavaanoitecendoquandotermineiolivromaisorestodaminhaliçãodecasa.Jill
aindanãotinhavoltado,eeuresolviaproveitaraoportunidadeparaverificarumacoisaqueestavameincomodando.Maiscedo,JilltinhamencionadoqueEddieadefenderanoataque.Euachava,desdeo
começo, que havia algo de estranho naquele ataque inicial, algo que não estavammedizendo.Assim, entrei na rede dos alquimistas e separei tudo que tínhamos sobre osrebeldesMoroi.Naturalmente, estava tudo documentado. Nós precisávamos estar a par dos
acontecimentos principais entre os Moroi, e aquele assunto era um dos maisimportantes. De algum modo, os alquimistas tinham conseguido imagens da corteMoroi,commanifestantesenfileiradosnafrentedeumdosprédiosadministrativos.Osguardiões dampiros eram fáceis de identificar, já que se misturavam e mantinham aordem.Para aminha surpresa, reconheciDimitriBelikov—onamoradodeRose—entre os que estavam controlando amultidão.Ele era fácil de identificar porque quasesempre eramais alto do que todomundo ao seu redor.Os dampiros parecemmuitohumanos, e até eu tinha de reconhecer que ele era bem bonito. Ele tinha uma belezarústica e, até mesmo em uma fotografia, dava para ver sua ferocidade enquantoobservavaamultidão.
Outras fotografias da manifestação confirmaram o que eu já sabia. Sem dúvida, amaior parte das pessoas apoiava a jovem rainha.As pessoas contrárias a ela eram aminoria — mas eram ruidosas e perigosas. Um vídeo de um noticiário humano deDenver mostrava dois Moroi quase se metendo em uma briga de bar. Eles gritavamsobre rainhas e justiça, sendo que a maior parte daquilo não faria sentido para umobservador humano. O que fazia aquele vídeo ser especial era o sujeito que o tinhafilmado— algum humano aleatório comuma câmera de celular— afirmar ter vistocaninos em ambos os homens que discutiam. O dono do vídeo tinha apresentado suagravaçãoafirmandoquetinhapresenciadoumabrigadevampiros,masninguémlhedeumuita credibilidade.A imagem estava granulada demais para qualquer coisa aparecer.Mesmoassim,eraum lembrete sobreoquepoderia acontecer se a situaçãodosMoroificasseforadecontrole.Fui conferir a situação atual e vi que a rainhaVasilisade fato estava tentando fazer
aprovarumaleiparaqueseugovernonãodependessedaexistênciadepelomenosmaisumapessoaemsua famíliareal.Especialistasalquimistasavaliavamquedemoraria trêsmeses, que era mais ou menos o que Rose tinha dito. O número pairava na minhacabeça como uma bomba-relógio tiquetaqueando. Nós precisávamos manter Jill emsegurançadurantetrêsmeses.E,durantetrêsmeses,osinimigosdeVasilisatentariam,maisdoquenunca,pegarJill.Seelamorresse,ogovernodeVasilisa iria terminar—juntocomsuastentativasdeconsertarosistema.Noentanto,nãotinhasidonadadaquiloomotivodaminhapesquisa.Euqueriasaber
sobreoataqueinicialaJill,aquelesobreoqualninguémfalava.Oqueeuencontreinãoajudoumuito.Na época, não havia nenhum alquimista por lá, claro, demodo que asnossasinformaçõestinhamcomobaseoqueasfontesMoroihaviaminformado.Aúnicacoisa que sabíamos era que “a irmã da rainha tinha sido atacada com maldade eseveridade—mas tinha se recuperado completamente”. Pelo que eu tinha observado,aquilocertamenteeraverdade.Jillnãoapresentavasinaisdeferimentoseoataquetinhaocorrido uma semana antes de ela ir para Palm Springs. Será que isso era temposuficiente para se recuperar deum ataque com“maldade e severidade”?E será queumataquecomoaqueleerasuficienteparafazercomqueelaacordasseaosberros?Eu não sabia, mas não conseguia me livrar das minhas desconfianças. Quando Jill
voltou para o quarto,mais tarde, estava de tão bom humor que não tive coragem deinterrogá-la.Tambémme lembrei, tardedemais,deque tinha a intençãodepesquisarsobre o caso da sobrinha deClarence e suamorte bizarra com a garganta cortada.OcasodeJilltinhamedistraído.Deixeiaquestãodeladoefuidormircedo.Amanhã,penseisonolenta.Façoissoamanhã.O dia seguinte chegou bemmais rápido do que eu esperava.Acordei de um sono
profundopor alguémqueme sacudia e, poruma fraçãode segundo, o antigopesadeloestava ali, aquele em que os alquimistas me levavam embora no meio da noite.Ao
reconhecerJill,conseguisegurarmeuberro,masfoiporpouco.—Ei, ei—deiumabronca.Havia luzdo ladode fora,masera arroxeada.O sol
maltinhanascido.—Oqueestáacontecendo?Qualéoproblema?Jillolhouparamimcomorostosombrioeosolhosarregaladosdemedo.—ÉAdrian.Vocêprecisasalvá-lo.
14
—Delemesmo?
Nãoconseguimesegurar.Apiadajátinhasaídoantesqueeumedesseconta.—Não—elaseempoleirounapontadacamaemordeuolábioinferior.—Talvez
“salvar” não seja a palavra certa. Mas precisamos buscá-lo. Ele está preso em LosAngeles.Esfregueiosolhos,sentei-meeretaeespereialgunssegundos,sóparaocasodeaquilo
ser só um sonho. Não. Nada mudou. Peguei meu celular da mesinha de cabeceira eresmungueiaoveratela.—Jill,aindanãosãonemseishoras.ComeceiaquestionarseAdrianestariaacordadoàquelahora,masentãomelembrei
dequeeleprovavelmenteestavafuncionandoemhorárionoturno.Sefizessemascoisasdo seu jeito, osMoroi iriam para a camamais ou menos no horário que é o fim damanhãparaorestodenós.—Eusei—eladissecomavozbaixinha.—Sintomuito,eunãoiriapedirsenão
fosse importante. Ele pegou uma carona para lá ontem à noite porque queria veraquelas...aquelasgarotasMoroidenovo.LeedeviaestaremLosAngelestambém,porissoAdrianachouqueteriacaronaparavoltar.SóqueelenãoconseguefalarcomLee,entãoagoraelenãopodevoltar.Adrian,querodizer.Eleestápresolá,ederessaca.Comeceiavoltaradeitar.—Nãotenhomuitacompaixãoporisso.Talvezeleaprendaumalição.—Sydney,porfavor.Coloqueiumbraçopor cimadosolhos.Talvez se euparecesse estardormindo, ela
me deixaria em paz. Uma pergunta de repente surgiu naminha cabeça e eu afastei obraço.—Como você sabe disso? Ele ligou?— eu não tinha o sono superleve,mas teria
escutadoocelulardelatocar.
Jilldesviouosolhosdemim.Comatestafranzida,eumesenteiereta.—Jill?Comoéquevocêsabedessascoisas?—Porfavor—elasuspirou.—Nósnãopodemossimplesmenteirlábuscá-lo?—Nãoatévocêmedizeroqueestáacontecendo.Umasensaçãoestranhaseespalhavapelaminhapele.Jáfaziaumtempoqueeuestava
me sentindo excluída de algo importante e, naquelemomento, de repente percebi queestavaprestesadescobriroqueosMoroiestavamescondendodemim.—Vocênãopodecontarparaninguém—eladisse,efinalmentemeolhounosolhos
maisumavez.Baticomodedonatatuagemdomeurosto.—Dificilmenteeupoderiacontaralgoassimparaqualquerum.—Não,paraninguém.Nãoparaosalquimistas.NãoparaKeith.Nãoparaqualquer
umdosoutrosMoroioudampirosqueaindanãosaibam.Não contar para os alquimistas? Isso seria um problema. Entre todas as outras
loucuras da minha vida, por mais que as minhas missões me enfurecessem eindependentedo tempoqueeupassassecomosvampiros,eununca tinhaquestionadoaquemdeviaserleal.Eutinhaquecontaraosalquimistasseestivesseacontecendoalgumacoisa com Jill e com os outros. Era a minha obrigação para com eles, para com ahumanidade.Claroquepartedaminhaobrigaçãoparacomos alquimistaseracuidarde Jill, eo
que quer que a estivesse incomodando agora estava ligado a seu bem-estar. Pormeiosegundo,pensei emmentir para elamas imediatamentemandei a ideia para longe.Eunão podia fazer isso. Se eu fosse guardar o segredo dela, eu guardaria. Se não fosseguardar,entãoprecisavadizeraeladeantemão.—Eunãovoucontar—eudisse.Achoqueaspalavrassurpreenderamtantoamim
quantoaela.Jillmeexaminousobaluzfracaedeveterfinalmentechegadoàconclusãodequeeuestavadizendoaverdade.Elaassentiudevagar.—Adrianeeuestamosconectados.Tipo,comumaconexãoespiritual.Sentimeusolhossearregalaremdedescrença.—Como é que isso...— tudo de repente se encaixou, com as peças que estavam
faltando.—Duranteoataque.Você...você...—Eumorri—Jilldissesemrodeios.—Foiamaiorconfusãoquandoosassassinos
Moroichegaram.TodomundoachouqueelesestavamatrásdeLissa,por issoamaiorpartedosguardiões foirodeá-la.Eddiefoioúnicoamedefender,masnãofoirápidoosuficiente.Aquelehomem,ele...—Jillcolocouamãonocentrodopeitoeestremeceu.—Eleme apunhalou. Ele... elemematou. Foi aí queAdrian entrou na história. Eleusouoespíritoparamecurareme trazerdevolta, e agoranós temosum laço.Tudoaconteceutãorápido...Aspessoasqueestavamlánemsederamcontadoqueeletinhafeito.
A minha mente girava. Um laço espiritual. O espírito era um elementoproblemáticoparaosalquimistas,principalmenteportermostãopoucosregistrosdele.Onossomundoerafeitodedocumentoseconhecimento,demodoquequalquerlacunafazia comquenos sentíssemos fracos.Sinaisdousodeespírito tinhamsido registradosao longo dos séculos, mas ninguém tinha percebido que era um elemento por si só.Aqueles acontecimentos tinham sido registrados como fenômenos mágicos aleatórios.Apenasrecentemente,quandoVasilisaDragomirtinhaseexposto,oespíritohaviasidodescoberto,juntocomseusnumerososefeitospsíquicos.ElaeRosehaviamtidoumlaçode espírito, o único registrado na modernidade.A cura era um dos atributos maisnotáveis do espírito, eVasilisa tinha trazido Rose de volta de um acidente de carro.Aquilotinhacriadoumaconexãopsíquicaentreelas,quesósedesfezquandoRoseteveumasegundaexperiênciaquasemortal.—Você consegue enxergar dentro da cabeça dele— eu disse, sem fôlego.—Os
pensamentosdele.Ossentimentosdele.Tantas coisas começaram a fazer sentido. Como por exemplo amaneira como Jill
sempresabiatudosobreAdrian,mesmoquandoeleafirmavanãotercontadonadaparaela.Elaassentiu.—Eunãoqueroenxergar.Acrediteemmim.Masnãopossofazernada.Rosedisse
que,comotempo,euvouaprenderamecontrolarparadeixarossentimentosdeledefora,mas não consigo fazer isso ainda.E ele tem tantos, Sydney.Tantos sentimentos.Elesentetudocomtantaforça...amor,pesar,raiva.Asemoçõesdelesobemedescem,disparam por todos os lados.O que aconteceu entre ele e Rose... faz com que ele sedilacere.Às vezes é difícil se concentrar emmim com tudo isso que está acontecendocom ele. Pelo menos é só durante uma parte do tempo. Eu realmente não consigocontrolarquandoacontece.Eu não disse nada,mas fiquei pensando se alguns daqueles sentimentos voláteis não
eram parte da tendência do elemento espírito de levar as pessoas que o possuíam àloucura. Ou talvez só fosse parte da personalidade inata deAdrian.Tudo isso erairrelevante,porenquanto.—Maselenãopodesentirvocê,certo?Sófuncionaemumsentido?—euperguntei.
RoseeracapazdelerospensamentosdeVasilisaeversuasexperiênciasnodiaadia—masnãofuncionavanaoutradireção.Fiqueiachandoquefosseamesmacoisaagora,mascomoespíritonãosepodiapartirdeideiaspré-concebidas.—Certo—elaconcordou.—Éporissoquevocê...éporissoquevocêsempresabecoisassobreele.Comoas
minhasvisitas.Equandoeletevevontadedepizza.Éporissoqueeleestáaqui,porissoqueAbequeriaqueeleestivesseaqui.Jillfranziuatesta.
—Abe?Não, foimais uma escolha do grupo o fato deAdrian ter vindo para cá.Rose e Lissa acharam que seria melhor se nós dois estivéssemos juntos enquanto nosacostumávamos como laço, e eu tambémqueria que ele estivesse por perto. Por quevocêachouqueAbeestivesseenvolvido?—Hum,pornada—eudisse. Jill nãodevia ter visto a instruçãoqueAbedera a
AdrianparaqueficassenacasadeClarence.—Eusóestavaconfusaarespeitodeumacoisa.—Podemosiragora?—elaimplorou.—Eurespondiàssuasperguntas.— Primeiro, deixe-me ter certeza de que entendi uma coisa — eu disse. —
ExpliquecomoelefoipararemLosAngeleseporquenãotemcomoirembora.Jill juntou as mãos e desviou o olhar mais uma vez, um hábito que eu estava
começandoaassociaràsocasiõesemqueelasabiaquesuasinformaçõesnãoseriambemrecebidas.— Ele, hum, saiu da casa de Clarence ontem à noite. Porque estava entediado.
Pegoucaronaatéacidade...atéPalmSprings...eacaboucaindonabaladacomalgumaspessoasqueestavamindoparaLosAngeles.Então,elefoicomeles.Equandoestavaemumclube,encontrouumasgarotas...umasgarotasMoroi...efoiparacasacomelas.Edaíelepassouanoiteláemeioquedesmaiou.Atéagora.Agoraeleacordou.Equerirparacasa.ParaacasadeClarence.Comtodaessaconversadecairnabaladaegarotas,umaideiadesconcertanteestava
seformandonaminhamente.—Jill,exatamentequantodissotudovocêrealmenteexperienciou?Elaaindaevitavaomeuolhar.—Issonãoéimportante.—Paramim,é—eudisse.NanoiteemqueJilltinhaacordadochorando...Adrian
tambémestavacomaquelasgarotas.Seráqueelaestavavivendoasexperiênciassexuaisdele?—Ondeeleestavacomacabeça?Elesabequevocêestáaqui,quevocêvivetudoqueelefaz,masnuncaparapra...aimeuDeus.Oprimeirodiadeaula.Asra.Changestavacerta,nãoé?Vocêestavaderessaca.Portabela,pelomenos.E ela acordava enjoada quase todas as outras manhãs — porqueAdrian também
estavaderessaca.Jillassentiu.—Nãohavianada físicoque eles pudessem testar... como sangueou algo assim...
paraprovarqueeraisso.Masera.Eracomoseeumesmativessebebido.Eucomtodaacertezamesentiaassim.Foihorrível.Estendiobraçoevireiorostodelanaminhadireção,paraqueela fosseobrigadaa
meencarar.—Eestáagoradenovo.Haviamaisluznoquarto,jáqueosoltinhaseerguidomaisalto,eeuenxergavaos
sinaismaisumavez.Apalidezdoentiaeosolhosvermelhos.Eunãoficariasurpresaemsaber que ela também estava comdor de estômago.Abaixei amão e sacudi a cabeça,aborrecida.—Elepodeficarlá.—Sydney!—Elemerece.Euseiquevocêsente...algo...porele.—Seeraafetofraternalou
romântico, realmente não fazia diferença.—Mas você não pode ficar cuidando delecomosefosseumbebêeatenderatodopedidoqueeleenvia.—Elenãoestápedindo,nãoexatamente—eladisse.—Eusósintoqueéoqueele
quer.—Bom,eledeviaterpensadonissoantesdesemeternessaconfusão.Eleécapazde
descobrirumjeitodevoltar.—Acabouabateriadocelulardele.—Elepodepedirumtelefoneemprestadoparaalgumadas“amigas”novasdele.—Eleestáemagonia—eladisse.—Avidaéassim—eudisse.—Euestouemagonia.Suspirei.—Jill...—Não,estou falando sério.Enãoé sóa ressaca.Querdizer, sim,partedissoé a
ressaca.Ecomoeleestápassandomalsemtomarnada,amesmacoisaestáacontecendocomigo!Alémdomais...ospensamentosdele...Credo.—Jillapoiouatestanamão.—Não consigome livrarda infelicidadedele.Parece... pareceque temumamarretabatendo na minha cabeça. Não consigo evitar isso. Não consigo fazer nada além depensaremcomoeleestásesentindopéssimo!Eissomedeixapéssima.Oueuachoqueestoupéssima.Nãosei—elasuspirou.—Porfavor,Sydney.Podemosir?—Vocêsabeondeeleestá?—perguntei.—Sei.—Tudo bem, então. Eu vou — deslizei pela beirada da cama. Ela se levantou
comigo.—Eutambémvou.—Não—eudisse.—Vocêvoltapara acama.Tomealgumasaspirinaseveja se
consegue ficar melhor. — Também havia algumas coisas que eu queria dizer emparticular aAdrian. Sabia que se ela estava constantemente conectada a ele acabaria“ouvindo”anossaconversa,mas seriabemmais fácildizeraeleoqueeuqueria seelanãoestivessepresenteemcarneeosso,olhandoparamimcomaquelesolhões.—Mascomoéquevocê...—Nãoqueroquevocêfiqueenjoadanocarro.Sómeliguesealgomudarouseele
foremboraoualgoassim.
AsreclamaçõesseguintesdeJillnãoforamassimtãoimpositivas,ouporqueelanãoestavaafimousóporqueestavadispostaasesentiragradecidaporqualquerpessoaquefosse“salvar”Adrian. Ela não tinha o endereço exato,mas tinha uma descriçãomuitodetalhadadoapartamentoemqueeleestava,queeravizinhoaumhotelmuitofamoso.Quando fui ver onde ficava, descobri que o hotel na verdade se localizava em LongBeach, e isso significava que eu teria de atravessar toda a LosAngeles. Eu tinha umaviagemdeduashoraspelafrente.Ocaféseriaindispensável.Odiapelomenosestavabonito,equasenãotinhacongestionamentoassimtãocedo
nodomingo.Olhandoparaosoleparaocéuazul,fiqueipensandoemcomoserialegalse eu estivesse fazendo a viagem a bordo de um conversível, com a capota abaixada.Tambémteriasidolegalseeuestivesseviajandoporoutromotivoquenãofosseresgatarumvampirobaladeiroquenãotinhacomovoltarparacasa.Euaindaestava comdificuldadepara aceitar a ideiade Jill eAdrianunidosporum
laçodeespírito.Anoçãodequealguémpodia trazeroutrapessoadevoltadosmortosnão era algo que se conciliava bem com as minhas crenças religiosas. Era tãodesagradável quanto outra proeza do espírito: restaurar um Strigoi. Nós tambémtínhamosdoiscasosdocumentadosde issoteracontecido—doisStrigoitransformadospormagiadoespíritodevoltaasuaformaoriginal.UmdeleseraumamulherchamadaSonya Karp. O outro era Dimitri Belikov. Entre aquilo e toda essa ressurreição, oespírito realmente estava começando a me apavorar.Tanto poder assim não pareciacorreto.Cheguei a Long Beach bem dentro da minha previsão e não tive problemas para
encontraro condomínio emque ele estava. Ficava bemna frentedeumhotel à beira-marchamadoCascadia.ComoJillnãotinhaligadoparainformarnenhumamudançadelocal, supus que Adrian continuava enfurnado ali. Foi fácil encontrar lugar paraestacionarnaruaàquelahoradodia,eeufizumapausadoladodeforaparaapreciaraextensão azul acinzentada do Pacífico no horizonte a oeste. Foi de tirar o fôlego,principalmente depois da minha primeira semana no deserto de Palm Springs. Quasedesejei que Jill tivesse vindo.Talvez ficar próxima de tanta água a fizesse se sentirmelhor.Osapartamentosficavamemumprédiodeestuquecordepêssegocomtrêsandares,
duasunidadesemcadaandar.PelaslembrançasdeAdrian,Jillserecordavadeeleteridoatéo altodoprédioevirar àdireita.Retracei essespassose cheguei aumaporta azulcomumaaldravapesadadelatão.Bati.Ninguém respondeu durante quase um minuto, então tentei de novo, com mais
força. Estava prestes a fazer a terceira tentativa quando ouvi a porta ser destrancada.Umafrestaseabriueumagarotaespiouparafora.ElaeraobviamenteMoroi,comocorpomagérrimodemodelodepassarela,apele
pálidaeperfeitaquemepareceuespecialmenteirritante,levandoemcontaqueeutinha
certezadequeumaespinhairiasairnaminhatestamuitoembreve.Elatinhaaminhaidade, talvez fosse um pouco mais velha, com cabelo preto liso e olhos de um azulprofundo. Ela parecia uma espécie de boneca de outro planeta.Também estava meiosonolenta.—Oquefoi?—elameolhoudecimaabaixo.—Estávendendoalgumacoisa?PertodaquelaMoroialtaeperfeita,euderepentemesentiacanhadaedesarrumada
comminhasaiadelinhoecamisadeabotoar.—Adrianestáaqui?—Quem?—Adrian.Alto.Cabelocastanho.Olhosverdes.Elafranziuatesta.—VocêquerdizerJet?—Eu...eunãoseibem.Poracasoelefumafeitoumachaminé?Agarotaassentiu,compreensiva.—Fuma.VocêdeveestarfalandodeJet—elaolhouparatrásegritou:—Ei,Jet!
Temumavendedoraaquiquequerfalarcomvocê.—Mandeembora—respondeuumavozconhecida.AMoroiabriumaisaportaefezumsinalparaeuentrar.—Eleestánasacada.Atravessei uma sala de estar que servia como alerta do que iria acontecer caso Jill
perdessetodaanoçãodeorganizaçãoerespeitopróprio.Olugareraumdesastre.Umdesastre feminino. Pilhas de roupa suja cobriam o chão e louças usadas cobriam cadacentímetro quadrado que não estava ocupado por garrafas de cerveja vazias. Umvidrinho de esmalte caído tinha criado umamancha rosa-chiclete no tapete. No sofá,enroladaemcobertores,umagarotaMoroi loiradeuumaolhada sonolenta emmimeemseguidavoltouadormir.Fui desviando de tudo e cheguei até ondeAdrian estava, passando por uma porta
envidraçada de correr. Ele estava em pé na sacada, debruçado sobre o parapeito, decostasparamim.Oardamanhãeraquentee limpo,demodoque,naturalmente,eletentavaestragartudocomseucigarro.—Medigaumacoisa,Sage—eledissesemsevirarparamim.—Porquediabos
alguém coloca um prédio perto domar e não faz as sacadas viradas para a água? Elasforam feitas para dar vista para as montanhas atrás de nós.Amenos que os vizinhoscomecema fazer algo interessante,estouprontoparadeclararqueestaestruturaéumdesperdíciototal.Cruzeiosbraçoseolheicheiaderaivaparaascostasdele.— Fico muito contente de ter a sua opinião tão valiosa a esse respeito.Vou me
assegurar de fazer essa observação quando entrar com a minha queixa sobre ainsuficiênciadevistasparaomarparaoconselhomunicipal.
Elesevirouparatráscomumaespéciedesorrisosecontorcendoemseuslábios.—Oquevocêestáfazendoaqui?Acheiqueiaestarnaigrejaoualgodotipo.—Oquevocêacha?Estouaquiporcausadassúplicasdeumagarotadequinzeanos
quenãomereceoquevocêfazelapassar.Qualquervestígiodesorrisodesapareceu.—Ah.Elacontouparavocê—eleseviroudecostas.—Contou,evocêstodosdeviamtermecontadoantes!Issoésério...édescomunal.—Esemdúvidaéalgoqueosalquimistasadorariamestudar—davaparaimaginar
osorrisinhocínicodeleperfeitamente.—Eu prometi a ela que não vou contar.De todo jeito, vocês tinham que terme
contado.Éumainformaçãoqueeuprecisavasaber,jáquesoueuquemtemdeficardebabádetodosvocês.—“Ficardebabá”émeioexagerado,Sage.—Levandoemcontaacenaatual?Realmente,achoquenão.Adrian não disse nada, e eu fiz uma rápida avaliação dele. Usava uma calça jeans
escura de boa qualidade e uma camisa de algodão vermelha com a qual devia terdormido,ajulgarpeloamassado.Seuspésestavamdescalços.—Vocêtrouxecasaco?—perguntei.—Não.Voltei para dentro e dei uma busca no meio da bagunça.A garota Moroi loira
dormia pesado e a que tinha me deixado entrar estava esparramada em uma camadesfeitaemoutroquarto.FinalmenteencontreiasmeiaseossapatosdeAdrianjogadosem um canto. Eu me apressei em pegar tudo, voltei para fora e joguei no chão dasacada,aoladodele.—Coloqueisto.Estamosdesaída.—Vocênãoéminhamãe.—Não,asuaestácumprindopenaporperjúrioeroubo,semelembrobem.Foiumacoisamuito,muitomaldosadedizer,masaomesmotempoeraaverdade.
Eserviuparachamaraatençãodele.A cabeça deAdrian se virou para trás em um gesto brusco.A raiva brilhava nas
profundezasdeseusolhosverdes;eraaprimeiravezqueeuviaaquilodeverdadenele.—Nuncamaisvolteafalardela.Vocênãofazideiadoqueestádizendo.Araivadeleeraumpoucointimidadora,maseufiqueifirme.— Na verdade, fui eu a responsável por encontrar os registros que ela havia
roubado.—Elateveseusmotivos—eledisseentredentes.—Você tem tanta disposição para defender uma pessoa que foi condenada por um
crimee,noentanto,nãotemnenhumaconsideraçãoporJill...quenãofeznada.—Tenhomuita consideraçãopor ela, sim!—Ele fezumapausapara acenderum
cigarro comasmãos trêmulas edesconfiei que tambémestava tentando controlar suasemoções.—Pensonelaotempotodo.Comoéquepoderianãopensar?Elaestáaqui...Eunão consigo sentir,mas ela está sempre aqui, sempre escutando as coisas naminhacabeça, escutando coisas que eu nem quero que ela escute. Sentindo coisas que eu nãoqueroqueelasinta.—Eletragouocigarroesevirouparaolharavista,apesardeeuduvidarqueeleestivesseenxergandoalgumacoisa.— Se você tem tanta consciência dela, então por que faz coisas assim?— Fiz um
gesto para o entorno.—Como é que você é capaz de beber se sabe que isso a afetatambém?Comofoicapazdefazer—eudissecomumacareta—ascoisasquefezcomessasgarotas,sabendoqueelaeracapazde“ver”?Elatemquinzeanos.—Eusei,eusei—elerespondeu.—Eunãosabiasobreabebida...nãonocomeço.
Quandoela foi atéacasadeClarencedepoisdaescolaemecontou,euparei.Pareideverdade.Masdaí...quandovocêsforamlánasexta,eladisseparaeubeber,porqueerafimdesemana.Achoqueelanãoestavamuitopreocupadaempassarmal.Por isso,eudisseamimmesmo:“Sóvou tomaralgumas”.Sóque,ontemànoite, foimaisdoqueisso. E daí as coisas ficaram meio loucas, e eu vim parar aqui e... o que eu estoufazendo?Nãotenhoquejustificarasminhasaçõesparavocê.—Não acho que você possa justificá-las para ninguém— eu estava furiosa. Meu
sanguefervia.—Olhasóquemfala,Sage—eleapontouumdedoacusatórioparamim.—Pelo
menos eufaço algumacoisa.Mas e você?Vocêdeixaomundo seguir em frente semasuaparticipação.FicaaíparadaenquantoaqueleimbecildoKeithtratavocêfeitomerda,esósorrieconcorda.Vocênãotemamor-próprio.Nãorevida.AtéovelhoAbepareceter vocêna palmadamão. Será queRose estava certa quandodisse que ele tinha algocontra você?Ou seráqueele é apenasmais alguémcontraquemvocênão consegue seopor?Eumeesforceimuitoparanãodeixartransparecercomoaquelaspalavrastinhamme
atingidofundo.—Vocênãosabenadasobremim,AdrianIvashkov.Eurevidosim,emuito.—Quaseacreditei.Lanceiumsorrisocontidoparaele.— Eu só não faço um espetáculo quando demonstro oposição. Isso se chama ser
responsável.—Claro.Qualquercoisaqueteajudeadormirtranquilaànoite.Jogueiasmãosparaoalto.—Bom, esta é a questão: eu não durmomais à noite porque tenho que vir salvar
vocêdesuaprópriaestupidez.Podemosiremboraagora?Porfavor?Comoresposta, ele apagouocigarroe começoua calçar asmeias eos sapatos.Ele
ergueu os olhos para mim ao fazer isso, já totalmente sem raiva. Os humores dele
mudavamcomtantafacilidadecomosefossemacionadosporuminterruptordeluz.—Vocêprecisametirardelá.DacasadeClarence—avozdeleerafirmeeséria.
—Eleéumsujeitobembacana,masvouenlouquecersetiverqueficarlá.—Estácomparandocomoseucomportamentoexcelentequandonãoestálá?—Dei
umaolhadaparaoapartamentoatrásdemim.—Talvezassuasduasfãstenhamlugarparavocê.—Ei,tenhaumpoucoderespeito.Elassãopessoasdeverdadeetêmnome.Carlae
Krissy—elefranziuatesta.—OuseráqueeraMissy?Eususpirei.—Eujádisseantes,nãotenhocontrolenenhumsobreassuasacomodações.Porque
étãodifícilassimparavocêarrumarumlugarparamorar?Porqueprecisademim?—Porqueeunãotenhoquasedinheironenhum,Sage.Omeuvelhomecortou.Ele
medáumamesadaquemalpagaosmeuscigarros.Penseiemsugerirqueeleparassedefumar,masessenãoseriaumrumoútilparaa
nossaconversa.—Sintomuito.Deverdade.Seeupensaremalgo,digoparavocê.Alémdomais,
poracasoAbenãoquerquevocêfiquelá?—resolviabrirojogo.—Euouvivocêsdoisconversandonoprimeirodia.Elepediuparavocêfazeralgoparaele.Adrianseendireitoucomossapatoscalçados.— É, eu não sei que negócio é esse.Você ouviu como ele foi totalmente vago
também?Acho que ele só está tentando sacanear comigo, quer me manter ocupadoporque, em algum lugar daquele coração ferrado dele, ele se sente mal pelo queaconteceucom...Adrianfechouaboca,maseupudeouvironomequenãofoiproferido: Rose.Uma
tristezaterrívelpassoupeloseurosto,eseusolhospareceramperdidosemelancólicos.Eume lembrei de quando estava no carro com Jill e ela tinha falado algo sobreRose,sobrecomoalembrançadelaatormentavaAdrian.Sabendooquesabiaagoraarespeitodolaço,fiqueicomasensaçãodequehaviamuitopoucodeJillnaquelaspalavras.Aquelatinha sido uma linha direta com Adrian. Olhando pra ele, eu mal conseguiacompreenderoalcancedaquelador,etambémnãosabiacomoajudar.Eusósabiaquederepente tinha compreendido um pouquinhomelhor por que ele queria tanto afogar asmágoas,nãoqueissoajudasseatornarovíciomaissaudável.—Adrian—eudissesemjeito.—Eu...—Deixeparalá—eledisse.—Vocênãosabeoqueéamaralguémdaquelejeitoe
depoispegaremesseamorejogaremdevoltanasuacara...Umgritode furaros tímpanosderepentecortouoar.Adrianseencolheumaisdo
queeu,comprovandooladonegativodaaudiçãodevampiro:sonsirritanteseramaindamaisirritantes.Emuníssono, corremospara dentrodo apartamento.A garota loira estava sentada
ereta no sofá, tão sobressaltada quanto nós.A outra garota, que tinha aberto a portaparamim, estava parada na frente do quarto, pálida como amorte, com um celularapertadonamão.—Qualéoproblema?—perguntei.Elaabriuabocapara falareentãomeolhoudecimaabaixoduasvezes,parecendo
lembrarqueeuerahumana.—Tudobem,Carla—Adriandisse.—Elasabesobrenós.Podeconfiarnela.IssoeratudodequeCarlaprecisava.ElasejogounosbraçosdeAdrianecomeçoua
chorardemaneiradescontrolada.—Ah,Jet—eledisseentresoluços.—Nãoacreditoqueaconteceucomela.Como
foiqueissoaconteceu?—Oqueaconteceu?—aoutragarotaMoroiperguntoueselevantoucambaleante.
Assim como Adrian, parecia que ela tinha dormido com aquela roupa. Ousei teresperança de que Jill não tivesse sido submetida a tanta indecência quanto eu tinhaimaginadooriginalmente.— Conte para nós o que aconteceu, Carla—Adrian disse com um tom de voz
gentilqueeusóotinhavistousarpertodeJill.—Eu sou aKrissy— ela fungou.—E a nossa amiga... a nossa amiga...—Ela
enxugouosolhosquandomaislágrimascaíram.—Acabeidereceberaligação.Anossaamiga...outraMoroiqueestudananossafaculdade...elamorreu.—Krissyergueuosolhosparaaoutragarota,queagoraeupresumiserCarla.—FoiMelody.ElafoimortaporumStrigoiontemànoite.Carlaengoliuemsecoecomeçouachorar,causandomaislágrimasemKrissy.Olhei
paraAdrian, nós dois estávamos boquiabertos.Mesmoque não soubéssemos quem eraessa tal deMelody, um assassinato por Strigoi continuava sendo uma coisa terrível etrágica. Minha mente de alquimista entrou em ação imediatamente. Eu precisavagarantir que a cena do crime estivesse protegida e que o assassinato fossemantido emsegredodoshumanos.—Onde?—euperguntei.—Ondefoiqueaconteceu?—EmWestHollywood—Carlarespondeu.—Atrásdeumclubequalquer.Eurelaxeiumpouco,apesardeaindaestarabaladaporaquelatragédiatoda.Erauma
região movimentada e cheia de gente, que com toda a certeza estaria no radar dosalquimistas. Se algumhumano tivesse descoberto, os alquimistas já teriamdado contadoassuntohámuitotempo.—Pelomenoselanão foi transformada—Carladisse,desamparada.—Elapode
descansar em paz. Claro que os monstros não foram capazes de deixá-la em paz semmutilarseucorpo.Fiqueiolhandofixamente,sentindo-megelada.—Comoassim?
15
AdriandormiuduranteboapartedocaminhodevoltaaPalmSprings.ParecequeabaladatardedanoitecomCarlaeKrissytinharesultadoemmuitopoucodescanso.Pensarnissomedeixoupouco àvontade.Pensarque Jill tinhapassadopor isso atravésdelemedeixavaenjoada.Havia muito pouco que pudéssemos fazer por Carla e Krissy, a não ser oferecer
nossascondolências.AtaquesdeStrigoiaconteciam.Eratrágicoeterrível,masaúnicamaneiraqueamaiorpartedosMoroitinhaparaseprotegereraexercercautela,manterosarredoressegurosesemprequepossível terguardiõesporperto.ParaosMoroiquenãopertenciamàrealezaequeestudavampelomundo,comoCarlaeKrissy,guardiõesnãoeramumaopção.MuitosMoroiseviravamassim;sóprecisavamtercuidado.As duas consideraram as circunstâncias relativas à morte da amiga terríveis. Era
verdade.Erammesmo.Masnenhumadasduaspensoumuitoalémdissonemachouquehouvessealgoestranhonofatodeagargantatersidocortada.Eutambémteriaagidodamesma maneira se não tivesse ouvido o relato de Clarence a respeito da morte dasobrinha.LeveiAdrianatéAmberwoodcomigoeocoloqueinalistadevisitantes,achandoque
Jilliriasesentirmelhorseovissepessoalmente.E,éclaro,elaestavaànossaesperanoalojamento quando chegamos. Ela o abraçou e lançou umolhar agradecido paramim.Eddie estava comela e, apesar de não dizer nada, havia uma expressão exasperada emseu rosto que demonstrava que eu não era a única a achar que o comportamento deAdrianeraridículo.—Euestavatãopreocupada—Jilldisse.Adrianbagunçouocabelodela,gestoqueafezseafastar.—Nadacomque sepreocupar,ChavedeCadeia.Desdequeessa camisapossa ser
passadaparadesamassar,nãoaconteceunadaderuim.Não aconteceu nada de ruim, pensei, sentindo a raiva esquentar dentro de mim.
Nada de ruim, tirando o fato de que Jill teve que assistirAdrian ficando com outrasgarotasalémdeaguentarseuconsumoexcessivodeálcool.Nãofaziadiferençaseaquedadela por Lee havia superado sua antiga queda porAdrian. Ela simplesmente era novademaisparatestemunharumacoisadaquelas.Adriantinhasidoegoísta.—Agora—Adrian prosseguiu—, se Sage puder fazer a gentileza de continuar
comochofer,convidotodomundoparaalmoçar.—Acheiquevocênãotivessedinheironenhum—observei.—Eudissequenãotenhomuitodinheiro.JilleEddieseentreolharam.—Nós,hum,íamosnosencontrarcomMicahparaalmoçar—Jilldisse.—Tragameletambém—Adrianfalou.—Assimelepodeconhecerafamília.Micahchegouumpoucodepoiseficoucontenteemconheceronossooutro“irmão”.
EleapertouamãodeAdrianesorriu.— Agora estou vendo uma certa semelhança na família. Estava começando a
imaginarseJilleraadotada,masvocêsdoissãoparecidos.—OnossocarteironaDakotadoNortetambém—Adriandisse.—Do Sul— corrigi. Felizmente,Micah não pareceu achar que houvesse algo de
estranhonodeslize.—Certo—Adriandisse.EleexaminouMicah,pensativo.—Háalgofamiliarem
você.Nósjánosconhecemos?Micahsacudiuacabeça.—EununcaestivenaDakotadoSul.TivequasecertezadeouvirAdrianmurmurar“entãosomosdois”.—Nósdevíamosirandando—Eddieseapressouemdizeresedirigiuparaaporta
doalojamento.—Precisotiraroatrasodaliçãodecasamaistarde.Eu franzi a testa, confusa com amudança de atitude. Eddie não eramau aluno, de
jeito nenhum, mas tinha ficado óbvio para mim, desde que tínhamos chegado aAmberwood,queelenãotinhaomesmointeressepelaescolaqueeu.Aqueleeraumanorepetido para ele, e ele se contentava em representar seu papel e só fazer o que fosserealmentenecessárioparamanterasaparências.Sealguémmaisconsiderouocomportamentodeleestranho,nãodemonstrou.Micah
já estava falando com Jill sobre alguma coisa eAdrian ainda parecia estar tentandodescobrirdeondeconheciaMicah.AofertagenerosadeAdriandepagaroalmoçosóseestendiaafast-food;porisso,anossarefeiçãofoirápida.Mas,depoisdeumasemanadecomida do refeitório, a mudança foi bem-vinda, e já fazia tempo queAdrian tinhadeixadoclarassuasopiniõesarespeitodacomida“saudável”deDorothy.—Vocêdeviaterpedidoumarefeiçãoinfantil—Adrianmedisseapontandoparao
meu hambúrguermeio comido e o resto dasminhas batatas fritas.—Vocême teriafeitoeconomizarmuitodinheiro.Eaindateriaganhadoumbrinquedo.
—“Muito”émeioexagerado—eudisse.—Alémdomais,vocêagoratemsobrasparaajudarcomasuasobrevivência.Elerevirouosolhoseroubouumabatatinhadomeuprato.—Évocêquedevia levarosrestosparacasa.Comoéqueconsegue funcionarcom
tãopoucacomida?—elequestionou.—Umdiadesses,vaisairvoandocomovento.—Parecomisso—eudisse.— Só estou constatando um fato — ele disse e deu de ombros. —Você podia
engordarunsbonscincoquilos.Fiqueiencarando-o,incrédula,chocadademaisparadarqualquerresposta.Oqueum
Moroipodiafalarsobreganhodepeso?Elestinhamasilhuetaperfeita.Nãosabiamoqueeraseolharnoespelhoeveralgoinadequado,nuncasesentirboaosuficiente.Paraeles,issonãoexigianenhumesforço;jáparamim,pormaisqueeumeesforçasse,pareciaqueeununcaconseguiriameequipararasuaperfeiçãoinumana.Os olhos deAdrian se voltaram para onde Jill, Eddie e Micah conversavam bem
animadossobretreinarmaisautodefesajuntos.—Eles sãomeio fofos—Adrian disse com um tom de voz apenas para osmeus
ouvidos. Ele ficou brincando com o canudo enquanto examinava o grupo.—TalvezCastiletivessecertarazãoempermitirqueelanamorassenaescola.—Adrian—resmunguei.—Brincadeirinha—eledisse.—Leeprovavelmenteiriadesafiá-loparaumduelo.
Elenãoconsegueparardefalarsobreela,sabe?Quandonósvoltamosdominigolfe,Leesó ficou repetindo:“Quando nós podemos sair de novo?”. E, no entanto, ele sumiu dafacedaterraquandoestavaemLosAngeleseeuprecisavadele.—Vocês tinham combinado de se encontrar?—perguntei.—Ele tinha dito que
levariavocêdevoltaparacasa?—Não—Adrianreconheceu.—Masqueoutracoisaelerealmenteestavafazendo?NaquelemomentoumhomemdecabelogrisalhopassoueesbarrounacadeiradeJill
enquanto equilibrava uma bandeja de hambúrgueres e refrigerantes. Nada derramou,mas Eddie se levantou de umpulo com a velocidade da luz, pronto para saltar para ooutroladodamesaedefendê-la.Ohomemrecuouebalbuciouumpedidodedesculpas.Adriansacudiuacabeça,surpreso.— É só fazer com queele seja o acompanhante sempre que ela sair com qualquer
um,enósnuncavamosterquenospreocupar.SabendosobreolaçoentreAdrianeJill,pudeobservarosensodeproteçãodeEddie
sob uma luz diferente.Ah, claro, eu sabia que seu treinamento de guardião tinhainstauradoneleessanatureza,mas semprepareciahaveralgoumpoucomais forteali.Algo quase... pessoal. No começo, fiquei imaginando se talvez fosse porque Jillsimplesmentefaziapartedeseucírculomaisamplodeamizades,comoRose.Agora,euficavapensandoque talvez fossemaisdoque isso. Jill tinhaditoqueEddie eraoúnico
que tinha tentado protegê-la na noite do ataque. Ele falhou, provavelmente mais porfaltadetempodoquedehabilidade.Masquetipodemarcaissodeviaterdeixadonele?Eleeraalguémcujaúnicarazãona
vida eradefenderoutraspessoas—e teveque assistir alguémmorrer sob sua guarda.AgoraqueAdrianatinhatrazidodevoltaàvida,seráqueeraquasecomoumasegundachanceparaEddie?Umaoportunidadedeseredimir?Talvezfosseessaasuarazãodesertãovigilante.—Vocêparececonfusa—Adriandisse.Eusacudiacabeçaesuspirei.—Achoquesóestoupensandodemaisemtudo.Eleassentiu,solene.—Éporissoquenuncatentofazerisso.Umaquestãoanteriorsurgiunaminhamente.—Ei,porquevocêdisseparaaquelasgarotasqueoseunomeeraJet?— É uma prática padrão quando você não quer que uma garota encontre você
depois,Sage.Alémdomais,acheiqueestivesseprotegendoestanossaoperação.—É,masporqueJet?Porquenão...seilá...TravisouJohn?Adrianmelançouumolharparadizerqueeuestavadesperdiçandootempodele.—PorqueJetéumnomedecaradurão.Depoisdoalmoço,devolvemosAdrianàcasadeClarenceeorestantedenósvoltou
aAmberwood.JilleMicahforamfazeroquetinhamparafazer,eeuconvenciEddieaircomigoparaabiblioteca.Lá,nósocupamosumamesaeeupegueimeulaptop.—Então,nósdescobrimosumacoisainteressantequandofuibuscarAdrianhoje—
disseaEddie,usandominhavozbaixadebiblioteca.Eddiemeolhoufeio.—ApostoqueaexperiênciatodadebuscarAdrianfoiinteressante...pelomenosde
acordocomoqueJillmecontou.—Poderia ter sidopior—especulei.—Pelomenos ele estava vestidoquandoeu
cheguei.EsóhaviaduasoutrasMoroi lá.Eunãomedepareicomumacasacheiadelasnemnadaassim.Issoofezrir.—ProvavelmentevocêteriatidomaisdificuldadeemtirarAdriandeláseessefosse
ocaso.A tela do meu laptop se acendeu e ganhou vida, e eu dei início ao processo
complicadodeentrarnobancodedadossupersegurodosalquimistas.—Bom,quandonósestávamossaindo,agarotacomquemeleestavadescobriuque
umaamigadelastinhasidomortapelosStrigoinanoiteanterior.TodoohumorsumiudorostodeEddie.Seusolhosendureceram.—Onde?
—Em LosAngeles, não aqui— completei. Eu devia ter sidomais esperta e nãocomeçaraconversa semafirmarantescomclarezaqueelenãoprecisava saircorrendoparaprocurarStrigoipelocampus.—Atéondesabemos,todomundotemrazão...osStrigoinãoestãoafimdecircularporPalmSprings.Eddieficoucercadeumporcentomenostenso.—Mas o negócio é o seguinte...— prossegui.— Essa garotaMoroi... a amiga
delas...supostamentefoimortadomesmomodoqueasobrinhadeClarence.AssobrancelhasdeEddieseergueram.—Comagargantacortada?Assenti.—Issoéestranho.Temcertezadequefoiissomesmoqueaconteceu...comasduas?
Querdizer,nóssóestamosconfiandonorelatodeClarence,certo?Eddieficoubatendocomumlápisnamesaenquantorefletiasobreaquestão.—Clarenceébemlegal,maspor favor...Todossabemosqueelenãobatebemda
cabeça.—Éporissoqueeutrouxevocêaqui.Eéporissoqueeuqueriaconsultarestebanco
dedados.NósacompanhamosamaiorpartedasmortesrelacionadasaStrigoi.Eddie olhou por cima do meu ombro quando eu puxei um texto sobreTamara
Donahuedecincoanosantes.Eláestavaainformação:elatinhasidoencontradacomagarganta cortada.Outra busca sobreMelody Croft— a amiga de Krissy e Carla—tambémrevelouumrelatóriodanoiteanterior.Meupessoaltinhachegadorapidamenteaolocaleenviadoasinformaçõescomrapidez.AgargantadeMelodytambémtinhasidocortada.Haviaoutros relatos sobre assassinatos ligados aosStrigoi emLosAngeles—afinaldecontas,aquelaeraumacidadegrande—,massódoisseencaixavamnoperfil.—Você ainda está pensando sobre o que Clarence disse... sobre os caçadores de
vampiros?—Eddiemeperguntou.—Nãosei.Sóacheiquevaliaapenaconferir.—Osguardiõesderamsuaopiniãoemambososcasos—Eddiedisseeapontoupara
a tela.—Eles tambémdeclararamque foram ataques dos Strigoi... sangue foi tiradodasduas garotas.É issoqueos Strigoi fazem.Não seioqueos caçadoresdevampirosfazem,masnãoachoquebebersanguesejapartedeseusobjetivos.—Eutambémnão.Masnenhumadasgarotasperdeutodoosangue.— Os Strigoi nem sempre bebem todo o sangue das vítimas. Principalmente se
forem interrompidos.Estagarota,Melody, foimortapertodeumclube, certo?Querdizer,seoassassinodelaouviualguémseaproximar,simplesmentefugiu.—Achoquesim.Maseessenegóciodecortaragarganta?Eddiedeudeombros.—Temos toneladas de relatos sobre Strigoi que fazem coisasmalucas. É só olhar
para Keith e o olho dele. Eles são maldosos. Não dá para entender logicamente suas
ações.—Hum, vamos deixar o olho dele fora disso.— Keith não era um caso que eu
desejasse discutir. Eu me recostei na cadeira e suspirei. — É só que tem algo meincomodandonesses assassinatos.O sanguemeiobebido.Agarganta cortada. Sãoduascoisasestranhasqueaconteceramjuntas.Eeunãogostodecoisasestranhas.—Entãovocêestánaprofissãoerrada—Eddiedisse,maisumavezsorridente.Euretribuíosorriso,aindarevirandotudonacabeça.—Achoquesim.Comoeunãodissemaisnada,elemelançouumolharcurioso.—Vocênãopensarealmente...nãoachaquecaçadoresdevampirosexistam,acha?—Não,naverdadenão.Nãotemosevidênciasparapensarqueelesexistam.—Mas...—Eddieofereceu.—Mas—eudisse.—Poracasoaideianãodeixavocêumpoucoapavorado?Quer
dizer, agora você sabe no que deve prestar atenção. Outros Moroi. Strigoi. Eles sedestacam. Mas você imagina um caçador de vampiros humano? — Fiz um gestoindicando os alunos reunidos na biblioteca. —Você não iria saber distinguir umaameaça.Eddiesacudiuacabeça.—Naverdade,ébemfácil.Bastatratartodoscomoameaça.Eu não sabia dizer se isso fazia eu me sentir melhor ou não. Quando voltei ao
alojamento,maistarde,asra.Weathersmechamou.—Asra.Terwilligerdeixouumacoisaaquiparavocê.—Elatrouxealgoparamim?—perguntei,surpresa.—Nãoédinheiro,é?—Até
agora,nenhumdoscafésqueeucompraratinhasidoreembolsado.Comoresposta, a sra.Weathersmeentregouum livroencadernadoemcouro.No
começo,acheiqueeraomesmoqueeutinhaacabadodeterminar.Entãoexamineiacapamaisdepertoe li“Volume2”.Um post-itamarelopresoao
livro trazia a caligrafia fina da sra.Terwilliger:“Próximo”. Suspirei e agradeci à sra.Weathers.Eufariaqualquercoisaqueaminhaprofessorapedisse,masestavatorcendoumpoucoparaelamedarumlivroquefossemaisrelatohistóricoemenosreceitasdefeitiços.Enquanto caminhava pelo corredor, ouvi algumas exclamações assustadas na outra
ponta. Vi uma porta aberta e algumas pessoas aglomeradas ao redor dela. Passeiapressadapelomeupróprioquartoefuiverqualeraoproblema.EraoquartodeJuliaede Kristin.Apesar de eu não ter certeza se realmente tinha o direito, forcei minhapassagementrealgumasmeninas.Ninguémmedeteve.Vi Kristin deitada na cama, contorcendo-se com violência. Ela suavamuito e suas
pupilasestavamtãodilatadasquemaldavaparaver a íris. Juliaestava sentadaao ladodela na cama, junto commais duasmeninas que eu não conhecia bem. Ela ergueu os
olhosquandoeumeaproximei,comoolharcheiodemedo.—Kristin?—exclamei.—Kristin,estátudobemcomvocê?—Comonãohouve
resposta,eumevireiparaasoutras.—Oqueaconteceucomela?Ansiosa,JuliavoltouadobrarumatoalhinhaúmidaeacolocounatestadeKristin.—Nãosabemos.Elaestáassimdesdehojedemanhã.Eufiqueiencarando,incrédula.—Entãoelaprecisairaomédico!Precisamoschamaralguémagora.Vouchamara
sra.Weathers...—Não!—Juliaselevantouemumpuloepegouomeubraço.—Nãopodefazer
isso. O motivo por que ela está assim... bom, nós achamos que é por causa datatuagem.—Tatuagem?UmadasoutrasmeninaspegouopulsodeKristineovirouparaqueeupudessevera
partededentro.Ali,tatuadaemtintacordecobrereluzente,haviaumamargarida.EumelembreidequeKristinqueriafazerumatatuagemcelestial,mas,peloqueeusabia,elanãotinhadinheiroparaisso.—Quandofoiqueelafez?—Hoje, mais cedo— Julia disse. Ela parecia envergonhada.— Eu emprestei o
dinheiroparaela.Fiqueiolhandoparaaquelaflorfaiscante,tãolindaedeaparência inofensiva.Eunão
tinha dúvidas de que ela era a causa da crise.A substânciamisturada à tinta para darbaratonãoestavareagindodamaneiracorretacomosistemadela.—Elaprecisadeummédico—eudissecomfirmeza.—Nãopodefazer isso.Vamosterquecontaraelessobreastatuagens—agarota
que segurava amão deKristin disse.—Ninguém acreditou emTrey,mas se vissemalgoassim...bom,podemacabarcomtudonaNevermore.Quebom!Eupensei.Mas,paraaminha surpresa, aspalavrasdela foramrecebidas
com acenos de cabeça afirmativos das outrasmeninas reunidas. Será que elas estavamloucas?Quantasdelastinhamaquelastatuagensridículas?Eseráqueprotegê-laseramaisimportantedoqueprotegeravidadeKristin?Juliaengoliuemsecoesesentounabeiradadacama.—Nós estávamos esperando que fosse passar.Talvez ela precise de um tempinho
paraseacostumar.Kristingemeu.Umadaspernasdelatremiacomoseestivessesofrendoumespasmo
musculareentãoparou.Seusolhoscomsuaspupilasdilatadasolhavamparaonadaesuarespiraçãoerasuperficial.—Jápassouumdiainteiro!—observei.—Gente,elapodemorrer.—Comoéquevocêsabe?—Juliaperguntou,surpresa.Eunãosabia,nãocomcerteza.Mas,devezemquando,astatuagensdosalquimistas
também não davam certo. Em noventa e nove por cento dos casos, o corpo humanoaceitava o sangue de vampiro usado em uma tatuagem de alquimista, permitindo quesuaspropriedadesseinfundissemnasnossas,maisoumenoscomoumdampirodebaixograu. Nós obtínhamos vigor e vida longa, apesar de não adquirirmos as habilidadesfísicas incríveis que os dampiros possuíam. O sangue era diluído demais para isso.Mesmo assim, sempre havia uma pessoa que ocasionalmente passavamal por causa deuma tatuagemdealquimista.Osangueasenvenenava.Erapior aindaporqueoouroeoutras substâncias químicas funcionavam para fazer com que o sangue se infundisse àpele,demodoquenuncativessecomosair.Quemnãorecebiatratamento,morria.Sanguedevampironãocausavabaratoeufórico,porissoeunãoachavaquehouvesse
algum naquela tatuagem. Mas o tratamento que nós usávamos para as tatuagens dosalquimistasconsistiaemdissociaroscomponentesmetálicosdastatuagensparaliberarosangue,permitindoentãoqueo corpoo limpassenaturalmente.Euprecisava acreditarque o mesmo princípio se aplicava ali. Só que eu não conhecia a fórmula exata docomposto dos alquimistas e nem tinha certeza se conseguiria dissociar o cobre comoaconteciacomoouro.Mordiolábio,pensando,efinalmentetomeiumadecisão.—Jávolto—disseaelasedispareiparaomeuquarto.Duranteotempotodo,uma
voz intername repreendiapelaminha tolice.Eunão tinhanadaque tentar fazeroqueestavaprestesafazer.Deviairdiretofalarcomasra.Weathers.Emvezdisso,abriaportadomeuquartoeencontreiJillcomseulaptop.— Oi, Sydney — ela disse e sorriu. — Estou conversando por mensagem
instantânea com Lee e... — Ela olhou para mim com mais atenção. — Qual é oproblema?Eu liguei omeu próprio laptop e coloquei na cama. Enquanto ele ia começando a
carregar, peguei uma maleta de metal que preparei com todo cuidado, mas que nãoachavaqueiriausar.—Vocêpodepegarumpoucodeáguaparamim?Rápido?Jillhesitousóporuminstanteantesdeassentir.—Jávolto—eladisseesaiudacamaemumpulo.Quando ela saiu do quarto, abri a maleta com uma chave que sempre carregava
comigo.Dentrodelahaviapequenasquantidadesdevárioscompostosdosalquimistas,ostiposdesubstânciasquemisturávamoseusávamoscomopartedonossotrabalho.Haviaumagrandequantidadede alguns ingredientes—comoos que euusavaparadissolvercorposdeStrigoi.Deoutros,eusótinhaamostras.Meu laptopterminoude ligareeuentreinobancodedadosdosalquimistas.Depoisdealgumasbuscas,encontreiafórmuladotratamentoantitatuagem.FoiaíqueJillvoltou,trazendoumacanecacheiadeágua.—Seráque istoéosuficiente?Senósestivéssemosemoutroclima,eupoderia ter
puxadodoar.—Estáótimo—eudisse,contentepeloclimamantê-laafastadadamagia.Dei uma olhada na fórmula, analisando quais ingredientes faziam o quê.
Mentalmente, descartei aqueles que tinha certeza que eram específicos para o ouro.Também não tinha alguns deles, mas tinha quase certeza de que só tratavam odesconfortodapeleenãoeramfundamentais.Comeceiatiraringredientesdomeukit,medindocomcuidado—apesardecontinuarfazendotudocomamaiorrapidezpossível—emoutra caneca. Fiz as substituições necessárias e adicionei um ingrediente que eutinha certeza que iria desmembrar o cobre, mas cuja quantidade necessária tive quesupor. Quando terminei, peguei a água de Jill e adicionei a mesma quantidade dasinstruçõesoriginais.Oresultadofinaleraumlíquidoquepareciasoluçãodeiodo.Ergui a caneca eme senti umpouco como se fosseuma cientistamaluca. Jill tinha
me observado sem fazer comentários, sentindo a urgência. Seu rosto estava cheio depreocupação,maselaestavaengolindotodasasperguntasqueeusabiaquequeriafazer.ElameseguiuquandoeusaídoquartoevolteiparaodeKristin.Haviamaismeninasládoqueantes,esinceramenteeraummilagreasra.Weathersnãoestarescutandotodaaquela algazarra.Paraumgrupo tãodedicadoaproteger suaspreciosas tatuagens, elasnãoestavamagindocommuitadiscrição.RetorneiàcabeceiradeKristineaencontreinomesmoestado.—Mostreopulsodeladenovoesegureobraçoomais imóvelpossívelparamim.
— Não dirigi a ordem para ninguém específico, mas falei com força suficiente parasaberque alguém iriaobedecer.Estava certa.—Senão funcionar, vamos chamarummédico—meutomdevoznãodeixavaespaçoparadiscussão.JuliapareciamaispálidadoqueJill,masmedeuumacenofracocomacabeçapara
concordar. Peguei a toalhinha que ela estava usando e molhei na minha caneca. Naverdade, eu nunca tinha visto ninguém fazer isso, e precisei tirar minhas própriasconclusõesarespeitodecomoaplicar.FizumaoraçãosilenciosaepressioneiatoalhinhacontraatatuagemnopulsodeKristin.Ela soltou um grito estrangulado e seu corpo todo corcoveou. Duas garotas que
estavampertoajudaramasegurá-laporinstinto.Fiosdefumaçasaíamdeondeeuestavasegurandoatoalhinhacontraapeledela,esentiumcheiropungenteeacre.Espereiumaquantidadedetempoquejulgueiadequadaefinalmenteremoviatoalhinha.Amargaridabonitinhasetransformavaperanteosnossosolhos.Suaslinhasdefinidas
começaram a escorrer e ficar borradas. A cor de cobre começou a mudar, foiescurecendoparaumverdeazulado.Empoucotempo,odesenhoestavairreconhecível.Eraumamanchaamorfa.Aoredordela,vergõesapareceramnapele,maspareciamserumairritaçãosuperficial,enãoalgoperigoso.Aindaassim,acoisatodapareciaterrível,eeufiqueiencarando,horrorizada.Oque
eutinhafeito?
Todasasoutrasgarotasestavamemsilêncio,semsaberoquefazer.Algunsminutosse passaram, mas pareceram horas. De repente, Kristin parou de se contorcer.Arespiraçãodelaaindapareciadifícil,maselapiscoueseusolhosentraramemfoco,comose ela estivesse vendo omundo pela primeira vez. Suas pupilas continuavam enormes,maselaconseguiuolharaoredorefinalmentefocaremmim.—Sydney—eladissesemfôlego.—Obrigada.
16
Expliquei a minha experiência química dizendo que era apenas uma substância que eu tinhaguardada da época em que fizera a minha tatuagem, para o caso de ter uma reaçãoalérgica.Certamentenãoreveleiqueeumesmaatinhapreparado.Achoqueelasteriamacreditado nessa história se não fosse pelo fato de que, alguns dias depois, eu conseguicolocarasmãosemuma fórmulaparaajudara tratarasqueimadurasquímicasnapelede Kristin.A mistura não ajudou em nada com a mancha de tinta — parecia serpermanente, a não ser que fosse removida com o uso de laser —, mas os vergõesmelhoraramumpouco.Depois disso, começou a correr o boato de que Sydney Melrose era a nova
farmacêutica de plantão.Como tinha sobrado creme depois de usar emKristin, dei oresto para umamenina que tinha um problema sério de acne, porque também serviapara isso.Aquiloprovavelmentenãomeajudouemnada.Aspessoascomeçaramameprocurarpara tratar todotipodecoisaeaté seofereceramparapagar.Algunspedidoseram inúteis,comocuraparadordecabeça.Paraessaspessoas,eu simplesmentediziaque comprassem aspirina. Outros pedidos estavam fora do meu alcance e não eramcoisasqueeuquisessetratar,comoevitargravidez.Tirandoospedidosestranhos,eunaverdadenãomeincomodavacomoaumentodas
minhas interações sociais diárias. Estava acostumada às pessoas precisando de mim,entãoaqueleeraumterritórioconhecido.Algumaspessoassimplesmentequeriamsabermais sobremimcomopessoa,oqueeraumanovidademais agradáveldoqueeuacheiqueseria.E,aindaassim,outraspessoasqueriam...coisasdiferentesdemim.—Sydney.Euestavaesperandoaminhaauladeinglêscomeçarefiqueiassustadaaoverumdos
amigos de Greg Slade de pé na frente da minha carteira. O nome dele era Bryan, eapesardeeunãotermuitas informaçõessobreele,nãomepareciaser tão insuportávelquantoSlade,oqueeraumpontoafavordeBryan.
—Pois não?—perguntei, imaginando se ele queria pegar asminhas anotações deaulaemprestadas.Ele tinha cabelo castanho despenteado que parecia ter sido cortado daquele jeito de
propósito, e na verdade era bembonitinho. Passou amão no cabelo enquanto escolhiasuaspalavras.—Vocêsabealgumacoisasobrefilmesmudos?—Claro—respondi.—Osprimeirosforamfeitosnofinaldoséculo xixeàsvezes
eram acompanhados pormúsica ao vivo,mas o som só foi realmente incorporado aosfilmesnadécadade1920,eissotornouosfilmesmudosobsoletos.Bryanficoudequeixocaído,comoseaquilofossemaisdoqueestavaesperando.—Ah.Certo.Bom,hum,temumfestivaldecinemamudonocentrodacidadena
semanaquevem.Oquevocêachadeir?Balanceiacabeça.— Não, acho que não. Eu respeito o cinema mudo como forma de arte, mas
realmentenãogostomuitodeassistir.—Hum.Tudobem—elevoltouacolocarocabeloparatrásedeuparaverqueele
estavatentandoteralgumaideia.Porquediaboseleestavameperguntandosobrefilmesmudos?—QuetalStarship30?Estreianasexta.Querassistir?—Naverdade,tambémnãogostodeficçãocientífica—respondi.Eraverdade,eu
achavaaquilocompletamenteimplausível.Bryanpareciaprontoparaarrancartodoaquelecabelodesgrenhado.—Temalgumfilmeemcartazquevocêquerver?Repasseinacabeçaumalistadosfilmesqueestavampassando.—Não.Naverdade,não.Osinaltocou,Bryansacudiuacabeçaevoltouaseafundaremsuacarteira.—Quecoisaestranha—balbuciei.—Eletemmaugostoparafilmes.OlheiparaoladoefiqueisurpresadeverJuliacomacabeçaabaixadasobreamesa,
tremendodetantorirsemfazerbarulho.—Oquefoi?—Aquilo—elarespondeu,semfôlego.—Foihilário.—Oquê?—pergunteidenovo.—Porquê?—Sydney,eleestavaconvidandovocêparasair!Eurepasseiaconversa.—Não,nãoestava.Estavafazendoperguntassobrecinema.Eladavatantarisadaqueprecisouenxugarumalágrima.—Parapoderdescobrirdoquevocêgostavaelevarvocêparasair!—Bom,entãoporqueelesimplesmentenãofalou?—Vocêétãoingênuaeadorável—eladisse.—Esperoestarporpertonodiaem
quevocêdefatorepararquetemalguéminteressadoemvocê.
Continuei sementendernadaeelapassouorestodaaula tendoataquesespontâneosderiso.Enquantome transformava em objeto de fascínio, a popularidade de Jill ia caindo.
Parte disso se devia à própria timidez dela. Ela continuava tão acanhada e preocupadacom o fato de ser diferente que partia do princípio de que todos reparavam em suaestranheza também.Ela continuounão se conectando às pessoas pormedo, e isso faziacomqueparecessearredia.A“licençamédica”deJillfinalmentetinhasidoenviadapelosalquimistas, e isso, surpreendentemente, fez as coisas piorarem.A escola não quiscolocá-la em uma optativa diferente cujas aulas já tivessem começado. Alunos doprimeiro ano não podiam sermonitores, comoTrey. Depois de uma consulta com asrta.Carson, finalmente ficoudecididoque Jill iriaparticipardeatividades internasdeeducação física e fazer“tarefas alternativas” quando as atividades fossem externas. Issogeralmente significava fazer relatórios sobre coisas como a história do beisebol.Infelizmente, o fato de ela ficar separada do resto da turma só serviu para isolar Jillaindamais.Micahcontinuavaadaremcimadela,mesmodiantedasadversidades.— Lee me mandou uma mensagem de texto hoje de manhã— ela me disse no
almoçoumdia.—Elequermelevarparajantarnofimdesemana.Vocêacha...querdizer, eu sei que vocês também teriam que ir...— ela deu uma olhada incerta entremimeEddie.—QueméLee?—Micah perguntou.Ele tinha acabadode se sentar comonosso
grupo.Algunsmomentosdesilêncioconstrangedorseinstalaram.—Ah—Jilldisseedesviouosolhos.—Eleé,hum,umcaraqueagenteconhece.
Elenãoestudaaqui.Estánafaculdade.EmLosAngeles.Micahprocessouainformação.—Eleconvidouvocêparasair?—Convidou...naverdade,nós jásaímos juntosantes.Achoquenósestamosmeio
quenamorando.— Não é nada sério— Eddie se intrometeu. Eu não tinha certeza se ele estava
dizendoissoparapouparossentimentosdeMicahousehaviaalgumanoçãodeproteçãoali,paraimpedirqueJillseaproximassedemaisdequalquerpessoa.Micah era bom em esconder seus sentimentos, admito.Depois de pensarmais um
pouco,elefinalmentelançouumsorrisoaJillquesópareciaumpoucoforçado.—Bom,issoéótimo.EsperoqueeupossaconheceresseLee.Depois disso, a conversa se voltou para o jogo de futebol americano que estava se
aproximando,eninguémmaisvoltouamencionaronomedeLee.FicarsabendodaexistênciadeLeefezMicahpassaraagirdemaneiradiferenteperto
deJill,maselecontinuavaandandoconoscootempotodo.Talveztivesseaesperançade
que Lee e Jill terminassem. Ou poderia ser simplesmente porque Micah e Eddiepassavam muito tempo juntos, e Eddie era um dos poucos amigos de Jill. Mas oproblemanãoeraMicah.EraLaurel.EuachavaqueMicahnão iria se interessarporela,mesmoqueJillnãoestivesseno
meio,mas ela continuava vendo Jill como ameaça—e fazia de tudopara acabar comela.Espalhouboatossobreelaefaziacomentáriosespecíficospeloscorredoresedurantea aula sobre a pele pálida da menina, sua altura e sua magreza — as maioresinsegurançasdeJill.Umaou duas vezes ouvi o nomeGarotaVampira sussurrado pelos corredores. Isso
faziameusanguegelar,pormaisqueeulembrasseamimmesmaqueerapiada.— Não é Jill quem mantém Laurel e Micah separados — observei para Julia e
Kristin um dia. Elas ficavam surpresas com os meus esforços contínuos para aplicarlógica e racionalidade aos comportamentos sociais na escola.— Eu não entendo. ElesimplesmentenãogostadeLaurel.— É, só que fica mais fácil para ela pensar que o problema é Jill, quando, na
verdade,onegócioéqueLaureléumavacaeMicahsabedisso—Juliaexplicou.DesdeaminhainteraçãosemjeitocomBryan,elaeKristintinhamassumidoatarefadetentarmeeducaremrelaçãoàsmaneirascomooshumanos“normais”secomportavam.—Alémdomais,Laurelsimplesmentegostadeteralguémcomquemimplicar—
Kristin disse. Ela raramente falava sobre a tatuagem, mas tinha ficado mais séria esóbriadesdeoacontecimento.—Certo—respondi,tentandoacompanharalógica—,masfui euquemdisseque
elatingiaocabelo.Elamaldirigiuumaúnicapalavraparamim.Kristinsorriu.—Não tem amenor graça implicar comvocê.Você responde. Jill não se defende
muitoetambémnãotemmuitagenteparadefendê-la.Elaéumalvofácil.Pelomenosumacoisapositivaaconteceu.Adrianestavasecomportandobemdepois
dodeslizedeLosAngeles,maseuficavameperguntandoquantotempoaquiloiadurar.Com base no que eu tinha apreendido com Jill, ele continuava entediado e infeliz. Ohorário de Lee era irregular e, de todomodo, não era função dele cuidar deAdrian.Parecianãohavernenhumaboasoluçãopara isso,deverdade.SeAdriancediaaosseusvícios, ela sofria o efeito de suas ressacas e de seus “interlúdios românticos”. Se nãocedia, então ele ficava arrasado, e essa atitude também ia tomando conta dela aospoucos.Aúnicaesperançaqueeles tinhameraque Jillno fimaprendesse a controlar asituação e fosse capaz de bloqueá-lo de suamente,mas pelo que Rose tinha dito, issopodiademorarmuitotempo.Quandochegouahoradofornecimentoseguinte,fiqueidecepcionadaaoverocarro
deKeithestacionadonafrentedacasadeClarence.Seelerealmentenãofossefazernadapara ajudarnaquelamissão,preferiaqueele ficasse longedeumavez.Aparentemente,
ele achava que essas visitas de“supervisão” contavam como trabalho e continuavam ajustificar sua presença. Só que, na hora em que nos encontramos comAdrian na sala,Keithnãoestavaàvista.NemClarence.—Ondeelesestão?—pergunteiaAdrian.Eleestavaestiradonosofáelargouumlivroqueestavalendo.Tiveasensaçãodeque
lereraumaatividaderaraparaeleequasemesentimalpela interrupção.Ele segurouumbocejo.Nãohavia álcool àvista,maseuvioquepareciamser três latasvaziasdebebidaenergética.Eledeudeombros.—Nãosei.Devemestarconversandoporaí.Oseuamigotemumsensodehumor
doentio.AchoqueeleestáalimentandoaparanoiadeClarencerelativaaoscaçadoresdevampiros.Euolhei sem jeitoparaLee, que imediatamente começou a conversar com Jill.Os
doisestavamtãoenvolvidosumcomooutroquenemperceberamsobreoqueorestode nós estava conversando. Eu sabia o quanto a conversa sobre caçadores de vampirosincomodavaLee.ElenãogostariadesaberqueKeithestavaincentivandootema.—Clarenceestá sabendodoassassinatoemLosAngeles?—Eddieperguntou.Não
havia razãoparaqueKeithnão soubesse, jáqueera informaçãoabertaaosalquimistas,maseunãosabiadizerseelefariaaconexãoparaClarenceounão.— Ele não mencionou se sabia—Adrian respondeu.— Juro que Keith só está
fazendoissoportédiooualgodotipo.Nemeuafundeitantoassim.—Éissoquevocêtemfeitoemvezdeseembebedar?—pergunteiaomesentarna
frentedele,apontandoparaasbebidasenergéticas.— Ei, não é vodca nem conhaque nem... bom, qualquer coisa que seja boa —
Adrian suspirouevirouuma lataparabeberasúltimasgotas.—Então,medêalgumcrédito.Eddiedeuumaolhadanaslatas.—Jillporacasonãodissequetinhatidodificuldadeparadormirontemànoite?—Adrian—eudissecomumgemido.Eddietinharazão.EutinhareparadoqueJill
tinha ficado se agitando na cama o tempo todo. Uma enorme quantidade de cafeínaexplicariaisso.— Ei, eu estou tentando—Adrian disse.— Se você conseguir me tirar daqui,
Sage,daínãovouserforçadoaafogarasmágoasnataurinaenoginseng.—Elanãopodefazerisso,Adrian,evocêsabemuitobem—Eddiefalou.—Será
quenãodáparavocê...seilá.Encontrarumpassatempooualgoassim?—Serencantadoréomeupassatempo—Adrianrespondeu,obstinado.—Eusoua
vidadequalquerfesta...mesmosembeber.Nãofuifeitoparaficarsozinho.—Vocêpodiaarrumarumemprego—Eddiedisseeseacomodouemumacadeira
decanto.Ele sorriu, surpresocomaprópriaesperteza.—Vai resolverambosos seus
problemas...podeganharalgumdinheiroeestarpertodeoutraspessoas.Adrianrevirouosolhos.—Cuidado,Castile.Sóháumcomediantenestafamília.Eumeendireitei.—Naverdade,nãoémáideia.—Éumapéssimaideia—AdriandisseeolhoudemimparaEddie.—Porquê?—perguntei.—Éestaaparteemquevocênosdizqueas suasmãos
nãoforamfeitasparaexecutartrabalhospesados?—Émais a parte emque eu digo que não tenho nenhuma contribuição a oferecer
paraasociedade—eleretrucou.—Eupossoajudar—ofereci.—Você vai trabalhar e me dar o pagamento? —Adrian perguntou, cheio de
esperança.—Porqueissorealmentepoderiaajudar.—Eupossodaruma caronapara as entrevistas—respondi.—Eposso fazer um
currículoparaquevocêconsigaqualqueremprego.—Olheiparaeleereconsiderei.—Bom,dentrodoslimites.Adrianvoltouaserecostar.—Desculpe,Sage.Simplesmentenãoestousentidofirmeza.Clarence e Keith entraram bem naquele momento. O rosto de Clarence estava
exuberante.—Obrigado,obrigado—eleiadizendo.—Étãobomconversarcomalguémque
compreendeasminhaspreocupaçõesarespeitodoscaçadores...EunãotinhamedadocontadequeKeithnãocompreendianadaalémdesuaprópria
natureza egoísta. O rosto de Lee se fechou quando ele percebeu que Keith estavaalimentandoairracionalidadedaquelesenhordeidade.Aindaassim,oMoroisegurouoscomentários que sem dúvida tinha vontade de fazer. Era a primeira vez que eu viaqualquer tipo de emoção sombria no rosto de Lee. Parecia que Keith era capaz dedesanimaratéapessoamaisalegre.Clarence ficou feliz em nos ver, assim como Dorothy. Os humanos que davam
sangueparavampirosnãoeramnojentosapenasporcausadoatoemsi.Oqueeramaisapavorante era o vício que resultava disso. Os vampiros soltavam endorfinas paraaqueles de quem se alimentavam, endorfinas que criavam uma espécie de baratoagradável.Os fornecedoreshumanosqueviviamentreosMoroipassavamdias inteirosnessaviagemeacabavamse tornandomuitodependentes.AlguémcomoDorothy,quevivia apenas com Clarence havia anos, não tinha experimentado mordidas suficientespararealmenteseviciar.Agora,comJilleAdrianporperto,Dorothyestavarecebendoumaquantidademaiordeendorfinasnodiaadia.Seusolhos se iluminaramquandoelaviuJill,mostrandoqueestavaansiosapormais.— Ei, Sage—Adrian disse.— Eu não quero entrevista nenhuma,mas será que
vocêpodemedarumacaronaparaeucomprarcigarro?Comeceiadizeraelequenão iriacontribuircomumvíciotão imundo,masentão
repareiqueeleolhavademodosignificativoparaDorothy.Seráqueeleestavatentandometirardali?Fiqueimeperguntando.Queriamedarumadesculpaparanãoestarporperto na hora do fornecimento? Pelo que eu entendia, os Moroi normalmente nãoescondiamseusfornecimentosunsdosoutros.JilleDorothycostumavamsimplesmentesairdasalaparamedeixarmaisàvontade.Eusabiaqueelasprovavelmentefariamissomais uma vez,mas resolvi aproveitar a oportunidade de cair fora.Claro que dei umaolhadaemKeithparaconfirmar,achandoqueele iriareclamar.Elesódeudeombros.Pareciaqueeueraaúltimacoisaqueeletinhanacabeça.—Tudobem—eudisseemelevantei.—Vamos.Nocarro,Adriansevirouparamim.—Mudeideideia—eledisse.—Aceitoasuaajudaparaarrumarumemprego.Quaseperdiocontroledadireçãoebatiocarro.Poucascoisasvindasdelepoderiam
ter me surpreendido mais — e ele dizia coisas bem surpreendentes com bastanteregularidade.—Issofoirápido.Estáfalandosério?—Comonuncafaleiantes.Aindaquermeajudar?—Acho que sim,mas não posso fazermuita coisa. Não posso de fato arrumar o
empregopara você.—Repasseiminha listamental do que eu sabia sobreAdrian.—Acreditoquevocênãotenhaideiadoquerealmentegostariadefazer,tem?—Queroalgodivertido—elerespondeu.Elepensoumaisumpouco.—Equero
ganharmuitodinheiro...mastrabalhandoomínimopossível.—Queadorável—balbuciei.—Issolimitaasopções.Nóschegamosaocentroeeuconsegui fazerumabalizaperfeitaparaestacionarque
nãooimpressionounemdelongeotantoquedeveriaterimpressionado.Estávamosbemna frente de uma loja de conveniência e eu fiquei esperando enquanto ele entrou.Assombras da noite estavam caindo. Eu saía do campus o tempo todo,mas até agora asminhasviagenstinhamsidoatéacasadeClarence,camposdeminigolfeourestaurantesde fast-food. Acontece que a cidade de Palm Springs era muito bonita. Lojas erestaurantes enchiam as ruas e eu podia passar horas só observando as pessoas.Aposentados com roupa de jogar golfe caminhavam ao lado de socialites cheias deglamour. Eu sabia quemuitas celebridades também frequentavamo local,mas eu nãoeraligadaosuficientenomundodoentretenimentoparasaberquemeraquem.—Cara—Adrian disse ao sair da loja.— Subiram o preço daminhamarca de
sempre.Tivequecomprarumavagabunda.— Sabe — eu disse. — Parar de fumar também seria uma maneira ótima de
economizarumpouco...Fiquei paralisada quando avistei algo rua abaixo.A três quarteirões de distância,
através das folhas de algumas palmeiras, eu mal enxerguei uma placa que diziaNevermore em letras góticas rebuscadas. Era o tal lugar.A fonte das tatuagens quecorriamàsoltaemAmberwood.DesdeoincidentedeKristin,euqueria irmaisfundonaquelaquestão,masnãosabiamuitobemcomo.Agoraeutinhaaminhachance.Porummomento,lembreideKeithmedizendoparanãomeenvolveremnadaque
pudesse chamar a atenção ou causar problemas. Então pensei sobre o jeito queKristinficara durante sua overdose.Era aminha oportunidadede realmente descobrir algumacoisa.Tomeiumadecisão.—Adrian—eudisse.—Precisodasuaajuda.Euopuxeinadireçãodoestúdiodetatuagemenquantoexplicavaasituação.Porum
momento,elepareceutãointeressadoemtatuagensquedavambaratoqueeuacheiqueiaquererfazeruma.MasquandoconteiaelesobreKristin,seuentusiasmoarrefeceu.—Mesmo que não seja tecnologia dos alquimistas, estão fazendo algo perigoso—
expliquei.—Não só aKristin.Aquilo que Slade e os outros garotos fazem... usandoesteroidesparasedarbemnofutebol...tambémémuitoruim.Temgentequeacabasemachucando—eupensei,derepente,noscortesehematomasdeTrey.Umpequenobecoseparavaoestúdiodetatuagemdeumrestaurante,enósparamos
diantedele.Umaportaseabriudentrodobeco,doladodoestúdio,eumhomemsaiueacendeuumcigarro.Elesótinhadadodoispassosquandooutrohomemenfiouacabeçaparaforadaportalateralechamou:—Quantotempovocêvaidemorar?Viprateleirasemesasatrásdele.— Só vou até o mercado — disse o homem com o cigarro. —Volto em dez
minutos.Ooutrosujeitovoltouparadentroefechouaporta.Algunsmomentosdepois,nóso
vimospelavitrinedaloja,arrumandoalgonobalcão.—Precisoentraraliatrás—eudisseaAdrian.—Poraquelaporta.Elearqueouasobrancelha.—Comoassim?Vocêvaiinvadir?Masquecoisamaissorrateiradasuaparte.E,ah,
sabecomoé...perigosaetola.— Eu sei — respondi, surpresa por parecer tão calma ao admitir isso. — Mas
precisodescobriralgumacoisa,eestapodeseraminhaúnicachance.—Entãoeuvoucomvocê,paraocasodeaquelesujeitovoltar—eledissecomum
suspiro.—QuenuncaninguémpossadizerqueAdrianIvashkovnãoajudadonzelasemperigo.Além domais, você viu a cara dele? Parecia ummotoqueiro insano.Os doispareciam.—Não quero que você... espere— tive uma ideia.—Vá você conversar com o
sujeitoqueestáládentro.—Hã?
—Entrepelafrente.Façacomqueelefiquedistraídoparaeupoderdarumaolhada.Falecomelesobre...seilá.Vocêvaipensaremalgo.Nós logo traçamos um plano.MandeiAdrian entrar enquanto me esgueirava pelo
becoemeaproximavadaporta.Puxeiamaçanetaeviqueestava...trancada.—Claroquesim—resmunguei.Queestabelecimentocomercialiriadeixaraberta
umaporta tão isoladaeexposta?Meuplanobrilhantecomeçoua sedesfazer atéeumelembrardequetinhaminhasferramentas“essenciais”dealquimistanabolsa.Era raro euprecisar dokit completo, a não ser quandoocorriamcrises de acnena
escola, por isso costumava deixá-lo em casa.Os alquimistas estavam sempre prontos,independentemente do lugar, para encobrir qualquer aparição de vampiro. Por isso,semprelevávamosalgumascoisasconosco.UmadelaseraasubstânciacapazdederreterocorpodeumStrigoiemmenosdeumminuto.Aoutratinhaquaseamesmaeficiênciaparaderretermetal.Era um tipo de ácido que eu guardava em uma ampola protegida na bolsa. Bem
rápido, eu a encontrei e tirei a tampa.Umcheiro amargo saiudela eme fez torceronariz. Com o conta-gotas de vidro da garrafinha, me abaixei com muito cuidado ecoloquei algumas gotas bem nomeio da fechadura. Imediatamente dei um passo paratrásquandoumanévoabrancaseergueucomocontato.Emtrintasegundos,tudotinhase dissipado e havia um buraco no meio da maçaneta da porta. Uma das vantagensdaquela substância, chamada fogo-rápido, era que sua reação ocorria com extremarapidez.Agorajáestavainerteenãorepresentavaperigoparaaminhapele.Empurreiamaçanetaparabaixoeelacedeu.Abriumafrestadaportasóparaconferirsenãohavianinguémporali.Não.Estava
vazio. Eume esgueirei para dentro, fechei a porta atrás demim sem fazer barulho eprendiumatrancainternaparagarantirquepermaneceriafechada.Comoeutinhavistodoladodefora,olugareraumadespensaondetodosostiposdeinstrumentosparafazertatuagens ficavam guardados. Havia três portas ao meu redor. Uma levava a umbanheiro,outraparaumasalaescuraeaúltimaparaafrentedalojaeobalcãoprincipal.Vinhaluzdessaporta,eeuconseguiaescutaravozdeAdrian.—Um amigomeu fez uma— ele ia dizendo.—Eu vi, e ele disse que foi aqui.
Vamoslá,nãomeenrole.—Desculpe— foi a respostamal-humorada.—Não faço ideia do que você está
falando.Lentamente, comecei a examinar os armários e as gavetas, lendo rótulos e
procurandoalgosuspeito.Haviamuitassubstânciasepoucotempo.—Oproblemaédinheiro?—Adrianperguntou.—Porqueeutenhobastante.Só
medigaquantocusta.Houveuma longapausa, e fiquei torcendoparaqueohomemnãopedisse aAdrian
paramostrarodinheiro,jáqueoquesobraraelehaviadoadoparasuacampanhaafavor
docâncer.—Não sei—o sujeito finalmente disse.—Se eu pudesse fazer essa tatuagemde
cobredequevocêestá falando... enãoestoudizendoqueposso...vocêprovavelmentenãoteriadinheiroparapagar.—Estoudizendoquetenho—Adrianrespondeu.—Ésódizeropreço.—Noqueexatamentevocêestáinteressado?—ohomemperguntoudevagar.—Só
nacor?—Achoquenósdois sabemosa resposta—Adriandisse, ardiloso.—Euqueroa
cor.Euqueroos efeitos-bônus.Eeuqueroquefiqueincrível.Vocêprovavelmentenemiriaconseguirfazerodesenhoqueeuquero.—Essaéamenordassuaspreocupações—osujeitogarantiu.—Façoissoháanos.
Consigodesenharqualquercoisaquevocêquiser.—Ah é?Você consegue desenhar um esqueleto andando demoto com fogo saindo
dela? E quero um chapéu de pirata no esqueleto. E um papagaio no ombro dele. Umpapagaio-esqueleto.Ouquemsabeumpapagaio-esqueletoninja?Não,issoseriaexagero.Mas seria legal se o motoqueiro-esqueleto pudesse atirar algunsshurikens. Queestivessempegandofogo.Nessemeio-tempo, eu aindanão tinha encontrado sinal daquilo que euprecisava, e
havia mais um milhão de cantinhos e reentrâncias para serem examinados. O pânicocomeçouacrescerdentrodemim.Nãodariatempo.Entãoavisteioquartoescuroemeapressei até ele. Dei uma olhada rápida para a frente da loja, acendi a luz e prendi arespiração.Ninguémdeviaterreparadoemnada,porqueaconversacontinuoudeondetinhaparado.—Essaéacoisamaisridículaqueeujáouvi—otatuadordisse.—Nãoéoqueasmoçasvãodizer—Adrianrespondeu.— Olhe, garoto — o sujeito disse. — O problema nem é dinheiro. É
disponibilidade. Issoquevocêdescreveuexigemuita tinta, enão tenho tanta assimemestoque.—Bom,equandoéapróximaentregadoseufornecedor?—Adrianperguntou.Fiqueiolhandofixamente,aturdidacomoquehaviaencontrado:euestavanasalaem
que as tatuagens eram feitas.Havia uma espreguiçadeira— bemmais confortável doque a mesa em que eu tinha recebido aminha tatuagem — e uma mesinha lateralcobertacominstrumentosquepareciamrecém-utilizados.—Játenhoalgumaspessoasnalistadeespera.Nãoseiquandovaichegarmais.—Seráquevocêpoderiameavisarquandosouber?—Adrianpediu.—Voudeixar
omeucontatocomvocê.MeunomeéJetSteele.Senãofossepelasituaçãotensa,teriasoltadoumgrunhido.JetSteele?Sériomesmo?
Antes que eu pudesse pensar muito a respeito, finalmente encontrei o que estavaprocurando.Apistoladetatuagemnamesatinhaseuprópriorecipientedetinta,masao
lado havia várias ampolasmenores.Todas estavam vazias,mas algumas ainda tinhamum resíduometálico dos ingredientes suficiente parame ajudar a descobrir o que era.Semnempensarduasvezes,comeceiatampá-losecolocarnabolsa.Aliperto,repareiem algumas ampolas lacradas cheias de um líquido escuro. Fiquei paralisada por uminstante.Comcuidado,pegueiuma,abriecheirei.Eraoqueeutemia.Volteiafecharatampaecoloqueiasampolasnabolsa.Naquele instante ouvi um barulho atrás de mim.Alguém estava tentando abrir a
porta dos fundos. Mas eu tinha fechado a tranca, e ela não cedeu. Ainda assim,significavaqueaminhaespionagemtinhachegadoaofim.Euestavafechandoozíperdabolsaquandoouviaportadafrenteseabrir.—Joey,porqueaportadosfundosestátrancada?—umavozirritadaindagou.—Sempreficatrancada.—Não,atrancaestavafechada.Pordentro.Nãoestavaquandoeusaí.Eraadeixaparaeuirembora.Apagueialuzemeapresseipeladespensa.—Espere!—Adrianexclamou.Haviaumtomdeansiedadenavozdele,comose
estivesse tentandochamar a atençãode alguém.Fiquei coma sensaçãodesagradáveldequeosdoissujeitosquetrabalhavamaliestavamsedirigindoparaos fundosparaveroque tinha acontecido.— Preciso sabermais uma coisa sobre a tatuagem. Será que opapagaiotambémpodeusarchapéudepirata?Tipoemminiatura?—Aguardeummomento.Precisamosconferirumacoisa.—Avozestavamaisalta
doqueantes.Maispróxima.Asminhasmãos se atrapalharampara soltar a tranca.Conseguidestrancare abri a
porta,disparandopara forano exatomomento emqueouvi vozes atrásdemim.Semfazernenhumapausaouolharparatrás,fecheiaportaesaícorrendopelobecoatéarua,devolta ao lugaronde tinhaestacionado.Eu tinhaquase certezadequeos sujeitosnãotinhammevistodireito.Achoqueeuerasóumasilhuetadisparandoportaafora.Aindaassim,fiqueicontentecomamultidãopelasruas.Pudememisturaràspessoasenquantovoltava a atenção para o carro e abria a porta.As minhas mãos estavam suadas etremiamenquantoeuremexianaschaves.Eu queria muito olhar para trás, mas tinha medo de atrair a atenção dos dois
homens, se estivessem à minha procura na rua. Enquanto não tivessem razão paradesconfiardemim...Umamãoagarrouomeubraçoderepenteemepuxou.Engoliemseco.—Soueu—disseumavoz.Adrian.Solteiumsuspirodealívio.—Nãoolheparatrás—eledissecomcalma.—Apenasentrenocarro.Obedeci. Quando nós dois estávamos em segurança lá dentro, respirei fundo,
atordoada com as batidas fortes do meu coração.A adrenalina liberada pelo medoencheuomeupeito,comtantaforçaquedoeu.Fecheiosolhosemeinclineiparatrás.
—Foipormuitopouco—eudisse.—Evocêsesaiumuitobem,aliás.—Eusei—elerespondeu,todoorgulhoso.—E,naverdade,achoquequerofazer
essatatuagemagora.Vocêencontrouoqueestavaprocurando?Abriosolhosesuspirei.—Encontrei.Emuitomais.—Então,oqueé?Estãocolocandodrogasnastatuagens?—Pior—respondi.—Estãousandosanguedevampiro.
17
Aminhadescoberta elevouoproblemada tatuagemaumnívelcompletamentediferente.Antes,euacreditavaquesóestivesse lidandocompessoasqueusavamtécnicassemelhantesaosmétodos dos alquimistas para exporAmberwood às drogas.Tinha sido uma questãomoral.Agora, com sangue de vampiro na equação, passava a ser uma questão dosalquimistas. Toda nossa razão de ser era proteger os humanos da existência dosvampiros. Se alguém estava colocando sangue de vampiro em humanos de maneirailícita, tinha extrapolado os limites que nos esforçávamos muito, todos os dias, paramanter.Eu sabiaquedevia fazerumrelatório sobre aquilo imediatamente.Se alguém tinha
colocado asmãos em sangue de vampiro, os alquimistas precisavam enviar uma forçapara cá para investigar. Se eu seguisse a hierarquia normal, acho que deveria contar aKeithepermitirqueelecontasseaosnossos superiores.Mas seelecontasse,não tenhodúvidasdequetomariaparasiocréditodadescoberta.Eunãopodiapermitirque issoacontecesse—enãoporquequisesseaglóriaparamim.HaviaalquimistasdemaisqueacreditamerroneamentequeKeitheraumapessoadecaráter.Eunãoqueriaalimentaressacrença.Mas, antes de fazer qualquer coisa, precisava descobrir o resto do conteúdo das
ampolas. Eu podia fazer suposições a respeito dos resíduos metálicos, mas não tinhacerteza se, assim como o sangue, eles tinham vindo diretamente do catálogo dosalquimistas ou eram apenas imitações. E se fossem mesmo as nossas fórmulas, nãoficaria óbvio à primeira vista qual era qual. O pó prateado em uma ampola, porexemplo, poderia ser um entre vários compostos dos alquimistas. Eu tinha meios defazer algumas experiências para descobrir, mas uma substância estava me deixandoconfusa. Era um líquido transparente e um pouco grosso, sem cheiro específico. Euachava que era o narcótico usado nas tatuagens celestiais. Sangue de vampiro nãocausaria aquelebarato, apesarde ser capazde explicar a disposição atléticamalucadas
chamadastatuagensdeaço.Porisso,comeceiafazerostestespossíveisenquantoseguiacomasrotinasnormaisdaescola.Estávamos jogando basquete em uma quadra fechada naquela semana na educação
física,por issoJillestavaparticipando—esendosubmetidaaoscomentáriosmordazesde Laurel. Eu ficava ouvindo quando ela dizia coisas como: “Achava que ela iria sermuitomelhor, já que é tão alta. Ela praticamente toca na cesta sempular.Talvez eladevessesetransformaremmorcegoevoaratélá”.Fiz uma careta.Tinha que ficar repetindo amimmesma para não darmuita bola
paraaspiadas,mascadavezqueeuouviauma,opânicotomavacontademim.Maseutinha que esconder. Se eu quisesse ajudar Jill, precisava que as gozações parassemcompletamente— e não apenas a parte sobre ser vampira. Darmais atenção a essescomentáriosnãoiriaajudar.Micah tentava reconfortar Jill depois de cada insulto, o que obviamente enfurecia
Laurel aindamais. Só que os comentários dela não eram os únicos que chegavam aosmeusouvidos.Desdeaminhaincursãoaoestúdiodetatuagem,euandavaouvindomuitainformaçãointeressantevindadeSladeeseusamigos.— Bom, e ele disse quando? —A srta. Carson fazia a chamada e Slade estava
interrogandoumsujeitochamadoTimarespeitodeumavisitarecenteaoestúdio.Timsacudiuacabeça.—Não. Estão com problemas na entrega. Parece que o fornecedor tem,mas não
quervenderpelomesmopreço.—Quedroga—Sladegrunhiu.—Precisodeumretoque.—Opa—Timdisse.—Maseeu?Aindanemfizaprimeira.Nãoeraoúnicocomentárioqueeutinhaouvidodealguémquejátinhaumacelestial
eprecisavaretocar.Eraovícioemação.O rosto de Jill estava rígido quando a educação física terminou, e eu fiquei com a
sensaçãodequeelaestava tentandonãochorar.Tenteiconversarcomelanovestiário,masela sósacudiuacabeçae foiparaochuveiro.Eumesmaestavaprontapara tomarbanhoquandoouviumgritoestridente.Aquelasentrenósqueaindaestavampertodosarmárioscorreramparaoschuveirosparaveroqueestavaacontecendo.Laureljogouacortinadesuacabineparaoladoesaiucorrendo,ignorandoofatode
estar pelada. Fiquei olhando boquiaberta. A pele dela estava coberta por uma finacamadadegelo.Gotasdaáguadochuveirotinhamsecongeladosólidassobresuapeleecabelo, apesarde já estaremcomeçandoaderreter comovapordo restodovestiário.Dei uma olhada no chuveiro em si e reparei que a água que saía da torneira tambémestavacongelada.OsberrosdeLaurelfizeramcomqueasrta.Carsonchegassecorrendo—chocada,
assim como o resto de nós, com o acontecimento aparentemente impossível queacabávamos de presenciar. Ela finalmente declarou que era algum tipo de problema
malucocomoscanoseoaquecedordeágua.Issoeratípicodosmeuscolegashumanos.Semprebuscavamexplicaçõescientíficasmirabolantesantesdeaceitarasfantásticas.Maseunãotinhanenhumproblemacomisso.Tornavaomeutrabalhomaisfácil.Asrta.CarsontentoufazerLaurelentraremoutrochuveiroparatirarogelo,mas
ela recusou. Ficou esperando até tudo derreter e então se enxugou com a toalha. Ocabelo dela estava horroroso quando finalmente saiu para a aula seguinte, e eu dei umsorrisosacana.Fiqueiimaginandoqueelanãopoderiajogarocabelodeumladoparaooutro.—Jill—chameiaovê-latentandosemisturaraumgrupodegarotasqueiasaindo
dovestiário.Eladeuumaolhadacheiadeculpaporcimadoombro,masnão fezmaisnadaparamostrarquetinhameescutado.Fuiatrásdela.—Jill!—chameimaisumavez.Elacomtodaacertezaestavameevitando.Nocorredor,JillavistouMicahecorreuatéele.Esperta.Elasabiaqueeunãofaria
nenhumaperguntaperigosacomeleporperto.Ela conseguiu me evitar durante o resto do dia, mas eu fiquei de tocaia no nosso
quartoatéelafinalmentevoltarparalá,logoantesdotoquederecolher.— Jill— exclamei assim que ela entrou pela porta.—Onde você estava com a
cabeça?Elalargouoslivrosesevirouparamim.Fiqueicomasensaçãodequeeunãoeraa
únicaquetinhapreparadoumdiscursonaqueledia.—EstoucheiadeficarescutandoLaureleasamigasdelafalaremmaldemim.—Eporissovocêcongelouochuveirodela?—perguntei.—Comoéqueissovai
fazerelaparar?Nãoécomosevocêpudessetomarocréditoparasi.Jilldeudeombros.—Fezeumesentirmelhor.— Essa é a sua desculpa?— Mal podia acreditar. Jill sempre tinha parecido tão
razoável.Elatinhasobrevividocomaconsciênciatranquilaaofatodesetornarprincesae de termorrido. Masaquilo a tinha feito perder a cabeça.—Você sabe o quanto searriscou?Anossaintençãoaquiénãoatrairatenção!—Asrta.Carsonnãoachouestranho.—Asrta.Carsoninventouumadesculpafracaparaseconsolar!Éissoqueaspessoas
fazem.Bastaumencanadorparaexaminaroscanosedizerqueelesnãocongelamassimdessejeitoaleatório,principalmenteemPalmSprings!—Edaí?—Jill inquiriu.—Edepois?Poracaso jávãosuspeitarque foimagiade
vampiro?—Claro que não—eu disse.—Mas as pessoas vão comentar.Você despertou a
desconfiançadetodomundo.Elameolhoucommuitocuidado.—Foi realmente isso que deixou você aborrecida?Ou foi o simples fato de eu ter
usadomagia?—Enãoéamesmacoisa?—Não.Querdizer,vocêestáincomodadaporeuterusadomagiaporquevocênão
gostademagia.Vocênãogostadenadaquetenhaavercomvampiros.Achoqueéumaquestãopessoal.Euseioquevocêpensadenós.Eusolteiumgemido.—Jill,eugostodevocê.Mastemrazãoemdizerqueamagiamedeixaumpouco
incomodada. — Certo,muito incomodada. — Mas não são os meus sentimentospessoais que vão fazer as pessoas ficarem imaginando qual foi a causa de a água tercongeladodaquelejeito.—Nãoécorretoelacontinuarfazendoisso!—Eusei,masvocêtemquesersuperioraela.Jillsesentounacamaesuspirou.Daquelamaneira,suaraivapareceusetransformar
emdesespero.—Odeio ficaraqui.QuerovoltarparaSãoVladimir.Ouparaacorte.Ouparao
Michigan.Qualquerlugarquenãosejaaqui.—Elamelançouumolhardesúplica.—Nãotemnenhumanotíciaarespeitodequandoeuvoupodervoltar?—Não—eudisse,semquererrevelarquepoderiademorarumpouco.—Todomundoestásedivertindoaqui—eladisse.—Vocêadora.Temummonte
deamigos.—Eunão...— Eddie também gosta. Ele tem Micah e outros caras do alojamento deles para
conversar.Alémdomais,eletemquecuidardemim,eporissotemumpropósito.—Eununca tinhapensadonaquestãodessamaneira,maspercebiqueela tinha razão.—Mas, e eu? O que eu tenho? Nada além desse laço idiota que me deixa ainda maisdeprimidaporquetenhoqueescutarAdriancompenadesimesmo.—Vou levarAdrian para procurar emprego amanhã— eu disse, sem saber com
certezaseissorealmenteajudava.Jillassentiu,desalentada.—Eusei.Avidadeleprovavelmentetambémvaificarótimaagora.Elaestavaseafundandoemmelodramaeautocomiseração,mas,àluzdetudo,euaté
quesentiaquenaquelemomentoelatinhaodireito.—VocêtemLee—eudisse.Issofezumsorrisosurgiremseurosto.—Eu sei. Ele é ótimo.Gostomuito dele, e nem consigo acreditar... quer dizer,
pareceumaloucuraelegostardemimtambém.—Nãoétantaloucuraassim.Obrilhodelaarrefeceu.—SabiaqueLeeachaqueeupodiasermodelo?Eledizqueeutenhoasilhuetamais
desejável pelos estilistas humanos, e que conhece uma estilista na cidade que estáprocurandonovasmodelos.MasquandoeuconteiaEddie,elefalouqueeraumapéssimaideia, porque eu não posso arriscar que tirem fotosminhas. Ele disse que, se vazasse,outrospoderiammeencontrar.— É verdade — falei. — Em todos os sentidos.Você tem mesmo silhueta de
modelo...masseriaperigosodemais.Elasuspirou,parecendoderrotada.—Estávendo?Nadadácertoparamim.—Sintomuito,Jill,deverdade.Euseiqueédifícil.Aúnicacoisaquepossopediré
que você tente continuar forte.Você tem sido ótima até agora. Só aguente mais umpouco,certo?ApenascontinuepensandoemLee.Asminhaspalavraspareceramvaziasatéparamimmesma.Quasefiqueiimaginando
se devia levá-la comigo eAdrian,mas acabei chegando à conclusão de que eramelhornão.Adrian não precisava de nenhuma distração.Tambémnão tinha certeza se aquiloseria interessanteparaela.SeelarealmenteestivesseassimtãoansiosaparaverAdrianpassarpelasentrevistasdeemprego,poderia“escutar”pelolaço.EumeencontreicomAdriandepoisdaescolanodiaseguintee,pelaprimeiravezem
um tempão, nem Lee nem Keith estavam na casa velha. Mas Clarence estava, epraticamentepassouporcimademimquandoeuentrei.—Vocêsoube?—eleindagou.—Soubedacoitadadamoça?—Quemoça?—perguntei.—AquefoimortaemLosAngelesháumasduassemanas.—Ah, sim — respondi, aliviada por não haver nenhuma morte nova. — Foi
trágico.TemossortepornãohavernenhumStrigoiaqui.Elemeolhoudeumjeitosurpresoecheiodecerteza.— Não foi um Strigoi!Você não presta atenção? Foram eles. Os caçadores de
vampiros.—Masbeberamosanguedela.Osenhornãodissequeoscaçadoresdevampirossão
humanos?NenhumhumanoteriamotivosparabebersanguedeMoroi.Ele me deu as costas e ficou andando de um lado para o outro da sala. Dei uma
olhadaaoredor,imaginandoondeAdrianestaria.—Todo mundo fica repetindo isso! — Clarence falou. — Como se eu já não
soubesse.Nãoseiexplicarporqueelesfazemoquefazem.Éumaturmaestranha.Eleslouvamosoletêmcrençasesquisitasarespeitodomaledahonra...sãoatémais foradocomumdoqueas crençasdevocês.—Bom, isso já era algo.Pelomenosele sabiaqueeuerahumana.Àsvezes,eunãotinhacertezaseelesabia.—Tambémtêmpontosdevistaestranhos,edeacordocomelesosvampirosdevemmorrer.ElesmatamStrigoisemrestrições.ComMoroiedampiros,sãomaisseletivos.—Osenhorcertamentesabemuitosobreeles—eudisse.
—Foioquemepropusa fazerdesdeTamara—elesuspirouederepentepareceumuito,muitovelho.—PelomenosKeithacreditaemmim.Fiqueicomorostoimpassível.—Ah,é?Clarenceassentiu.—Eleéumbomrapaz.Vocêdeveriadarumachanceaele.Meuautocontroleescapou,epercebiqueestavafazendocareta.—Voutentar.NaquelemomentoAdrianchegou,paraomeualívio.EstarsozinhacomClarencejá
eraapavoranteosuficientesemqueeleficasseelogiandoKeithDarnell.—Estápronto?—perguntei.— Pode apostar que sim —Adrian respondeu. — Mal posso esperar para me
transformaremumintegranteprodutivodasociedade.Dei uma examinada na roupa dele e tive que engolirmeus comentários. Era legal,
mas,claro,ele sempre sevestiabem. Jill tinhaditoqueasminhas roupaseramcaras,masasdeAdriandeixavamasminhasnochinelo.Hojeeleestavade jeanspretoeumacamisasocialcordevinho.Acamisapareciaserdealgumtipodemescladeseda,eeleausava solta, comalgunsbotões abertos.Seucabelo tinha sidopenteadocuidadosamenteparaparecerqueele tinhaacabadode sairdacama.Penaqueocabelodelenão tinhaamesmatexturadomeu.Omeuficavadaquelejeitosemeuprecisarfazerabsolutamentenada.Tinha que admitir que ele estava lindo — mas não parecia preparado para uma
entrevistadeemprego.Pareciaqueestavaprontoparacairnanoite.Issomecausouumcerto conflito.Ainda assim,me peguei admirando-o, emais uma vezme lembrei daimpressãoquetinhadevezemquando,dequeeleeraumaespéciedeobradearte.Eraumpoucodesconcertante,principalmenteporqueeutinhaqueficarrelembrandoamimmesma que vampiros não eram bonitos do mesmo jeito que humanos. Felizmente, apartepragmáticaemmimlogoassumiuocontroleemedeuumabronca,dizendoquenão fazia diferença se ele estava bonito ou não.O que importava é que ele não estavaapropriado para uma entrevista de emprego. Mas eu não devia ter ficado surpresa.AqueleeraAdrianIvashkov.—Então,qualéaprogramação?—eleperguntouquandopegamosaestrada.—Eu
realmenteachoque“diretorIvashkov”soabem.—Temumapastanobancodetráscomonossoitinerário,diretor.Adrian se virou para trás e pegou a pasta. Depois de dar uma olhada rápida, ele
declarou:—Você ganhou pontos por variedade, Sage.Mas não acho que nenhum destes vá
conseguirmemantercomoestilodevidaaqueestouacostumado.— O seu currículo está atrás. Eu fiz o que pude, mas estamos operando com
parâmetroslimitadosaqui.Elefolheouospapéiseencontrouocurrículo.—Uau.EufuiassistenteeducacionalnaEscolaSãoVladimir?Deideombros.—Foiacoisamaispróximadeumempregoquevocêjáfez.—ELissaeraminhasupervisora?Esperoqueeladêboasreferênciasminhas.QuandoVasilisaeRoseaindaestavamnaescola,Adrianmoravaláetrabalhavacom
Vasilisaparaaprenderodomíniosobreoespírito.“Assistenteeducacional”eraumcertoexagero,masfaziaparecerqueeleeracapazdecumprirváriastarefasaomesmotempoechegaraotrabalhonahora.Elefechouapasta,recostou-senoassentoefechouosolhos.—ComovaiaChavedeCadeia?Elapareciaprabaixonaúltimavezqueavi.Penseiemmentir,masacheiqueeleprovavelmentedescobririaaverdademaiscedo
oumais tarde, oudiretamentepor ela oupormeiode suas próprias deduções.Adrianpodianão tomarasmelhoresdecisões,maseu tinhadescobertoqueeleeraótimoparadecifrar as pessoas. Eddie alegava que isso advinha do poder que ele tinha sobre oespírito, e haviamencionado algo a respeito de auras,mas não tinhamuita certeza seacreditava naquilo. Os alquimistas não tinham evidências concretas de que elas eramreais.—Elanãoestámuitobem—eudisse,efizorelatóriocompletonocaminho.—Aquelacoisadochuveirofoihilária—eledissequandoeuterminei.—Foiumairresponsabilidade!Porqueninguémenxergaisso?—Aquelavacamereceu.Suspirei.—Vocêsesqueceramporqueestãoaqui?Você,principalmente!Vocêaviumorrer.
Nãoentendecomoéimportanteparaelaficaremsegurançaenãochamaraatenção?Adrianficouemsilênciodurantevários instantes,equandoolheiparaele,seurosto
estavasério,algopoucocomum.—Eusei.Mastambémnãoqueroqueelafiquearrasada.Ela...elanãomerece.Não
écomoorestodenós.—Achoquenóstambémnãomerecemos.—Talvezvocênãomereça—eledissecomumsorrisinho.—Afinal,vocêtemesse
estilodevida tãopuroe tudoomais.Não sei.É sóque Jill é tão... inocente.Foiporissoqueasalvei,sabe?Querdizer,emparte.Estremeci.—Quandoelamorreu?Eleassentiu,comumaexpressãomelancólicanosolhos.—Quandoeuviqueelaestavalá,todaensanguentadaesemsemexer...nãopensei
nasconsequênciasdoqueestavafazendo.Eusósabiaqueprecisavasalvá-la.Elatinhaque
viver.Euagisempararparapensar,semnemsabercomcertezaseeueracapazdefazeraquilo.—Foicorajosodasuaparte.—Talvez.Não sei. Sei que ela passou pormuitas dificuldades.Não quero que ela
passeporissodenovo.—Eutambémnão.—Fiqueicomovidacomapreocupaçãodele.Elecontinuavame
surpreendendodemaneirasbizarras.ÀsvezeseradifícilimaginarqueAdrianrealmenteseimportavacomqualquercoisa,masumladomaissuavedelevinhaàtonaquandoelefalava de Jill.—Vou fazer o que puder. Sei que devia conversarmais com ela... sermaisamiga,ouatémaisumairmãfalsa.Ésóque...Eleolhoufeioparamim.—Realmenteéassimtãoterrívelficarpertodenós?Corei.—Não— respondi.—Mas... é complicado. Me ensinaram certas coisas a vida
toda.Édifícilmelivrardelas.—Asmaioresmudançasnahistóriaaconteceramporqueaspessoasforamcapazesde
selivrardoqueosoutroslhesdiziamparafazer.Eledesviouoolhareficouolhandopelajanela.Aquelaafirmaçãomeincomodou.Pareciaalgobom,claro.Eraotipodecoisaqueas
pessoasdiziamotempotodosementenderasimplicações.Sejavocêmesmo,lutecontraosistema!Masaspessoasquefalavamessascoisas—gentecomoAdrian—nãotinhamvividoaminhavida.Nãotinhamcrescidocomumsistemadecrençastãorígidoquantoo meu; era como ser prisioneira. Elas não tinham sido forçadas a abrir mão de suacapacidadedepensarporsimesmasoudefazersuasprópriasescolhas.Aspalavrasdelenão sóme incomodaram, percebi. Elasme deixaram irritada. Elasme deixaram cominveja.Desdenheielanceiumcomentáriodignodele.—Seráquedevoadicionar“palestrantemotivacional”aoseucurrículo?—Se o pagamento for adequado, estou dentro.Ah—ele endireitou o corpo.—
Finalmentedescobrideondeoconheço.AqueletaldeMicahcomquemvocêsepreocupatanto.—Descobriudeondeoconhece?—É.Porqueelemeparecetãofamiliar.MicahéigualzinhoaMasonAshford.—Quem?—UmdampiroqueestudounaSãoVladimir.ElenamorouRoseporumtempo.—
Adrian bufou e encostou a bochecha na janela.— Bom, tanto quanto qualquer outronamorou Rose. Ela era louca por Belikov, já naquela época. Igual a quando nósnamoramos. Não sei seAshford chegou a perceber ou se ela conseguiu enganá-lo otempotodo.Esperoquesim.Pobrecoitado.
Franziatesta.—Porqueestádizendoisso?—Elemorreu.Quer dizer, foi assassinado.Você sabia disso?Um bando deles foi
capturadoporStrigoinoanopassado.RoseeCastileescaparam.Ashford,não.—Não—respondi,efizumaanotaçãomentalparadarumaolhadanaquilo.—Eu
nãosabia.Eddietambémestavapresente?— Estava. Fisicamente, pelo menos. Os Strigoi ficaram se alimentando dele, por
issoficouinútilamaiorpartedotempo.Quersabersobredanosemocionais?Ésófalarcomele.—CoitadodoEddie—eudisse.Derepente,muitacoisasobreodampirocomeçou
afazersentidoparamim.Chegamos à primeira parada, um escritório de advocacia que precisava de um
assistente de escritório. O título parecia mais glamoroso do que era na verdade, eprovavelmente iria envolvermuitas dasmesmas tarefas queTrey e eu fazíamospara asra.Terwilliger. Mas, das três vagas que eu tinha encontrado, esta também tinha omaiorpotencialparaavançosfuturos.Oescritórioobviamente iabem,a julgarpela recepçãoemque ficamosesperando.
Orquídeas cresciam em vasos gigantescos, bem colocados, e havia até uma fonte nomeiodasala.Trêsoutraspessoasesperavamnarecepçãoconosco.Umaeraumamulhermuitobem-vestida,nacasadosquarentaanos.Nafrentedelahaviaumhomemmaisoumenos damesma idade, sentado comumamulher bemmais nova cuja blusa decotadafariacomquefosseexpulsadeAmberwood.Cada vez que eu olhava para ela, tinha vontade de ir lá cobrir o decote com um
cardigã.Maseraóbvioqueostrêsseconheciam,porqueficavamseentreolhando.Adrianexaminou-os,umporum,eentãosevoltouparamim.— Este escritório de advocacia — disse em voz baixa — é especializado em
divórcio,nãoé?—É,sim—respondi.Ele assentiu e levou alguns momentos para processar a informação. Então, para o
meuhorror,eleseinclinouporcimademimedisseparaamulhermaisvelha:—Elefoiumidiota,obviamente.Vocêéumamulherestonteante,cheiadeclasse.É
sóesperar.Elevaisearrepender.—Adrian!—exclamei.A mulher se contorceu de surpresa, mas não pareceu inteiramente ofendida.
Enquanto isso, do outro lado da sala, a mulher mais nova se aprumou e parou de seaninharnohomem.—Desculpe?—elainquiriu.—Oquevocêquerdizercomisso?Desejeiqueaterrameengolisseemesalvasse.Felizmente,asegundamelhoropção
aconteceu,quandoarecepcionistachamouotrioparaumareuniãocomumadvogado.
—Sério?—pergunteiquandoelessaíram.—Vocêtinhamesmoquedizeraquilo?—Eufalooquepenso,Sage.Vocênãoacreditaquedevemosdizeraverdade?—Claro que sim.Mas tem hora e lugar! Não com completos desconhecidos que
obviamenteestãoemumasituaçãodifícil.—Tanto faz— ele disse, parecendo extremamente satisfeito consigomesmo.—
Semdúvidaeufizodiadaquelamulher.Naquele instante,umamulherde tailleurpretoe saltos altíssimos saiudeuma sala
interna.—MeunomeéJanetMcCade,souagerentedoescritório—eladisse.Olhoupara
nósdois,emdúvida,eentãoapostouemmim.—VocêdeveserAdrian.A confusão do nome era compreensível, mas não caiu bem para ele. A minha
avaliaçãodesuaroupaprontaparaabaladaestavacorreta.Minhasaiamarromeminhablusamarfimpareciammaisapropriadasparaumaentrevista.—EsteéAdrian—disseeapontei.—Souapenasairmãdele,estouaquiparadar
apoiomoral.—Émuitagentilezadasuaparte—Janetdissecomaexpressãoumpoucoperplexa.—Entãopronto.Vamosconversar,Adrian?— Pode apostar— ele disse e se levantou para ir atrás dela, e eu saltei do meu
lugar.—Adrian—sussurrei,puxandoamangadele.—Vocêquerdizeraverdade?Diga
agora.Nãocomecea inventardetalhesrebuscadosnemalegueque já foiprocuradordaJustiça.—Entendi—eledisse.—Issoaquivaisermoleza.Secom“moleza”elequisdizerrápido,entãoestavacerto.Elesaiupelaportadasala
depoisdecincominutos.Quandochegamosnocarro,eudisse:—Não imagino que ela tenha dado o emprego a você com base só no seu visual,
certo?Adrianestavaolhandoparaooutrolado,masentãomelançouumsorrisoreluzente.—Nossa,Sage,comovocêdizpalavrasdoces.—Nãofoioqueeuquisdizer!Oqueaconteceu?Eledeudeombros.—Euconteiaverdade.—Adrian!—Estoufalandosério.Elameperguntouqualeraaminhamaiorforça.Eudisseque
eralidarbemcomaspessoas.—Issonãofoiruim—reconheci.—Daíelaperguntouqualera aminhamaior fraqueza.Eeudisse:“Porondedevo
começar?”.
—Adrian!— Pare de falar meu nome sem parar. Eu contei a verdade. Quando estava no
quartoitem,elamedissequeeupodiairembora.Eusolteiumgrunhidoeresistiàvontadedebatercomacabeçanadireção.— Eu devia ter orientado você. Essa é uma pegadinha padrão. Você tem que
respondercomcoisascomo“mededicodemaisaotrabalho”ou“souperfeccionista”.Elesoltouumagargalhadadedesdémecruzouosbraços.—Issoéumabesteiracompleta.Quemiriadizerumacoisadessas?—Pessoasqueconseguemempregos.Como agora nós tínhamos um tempo extra, dei omelhor demimpara prepará-lo
para as perguntas antes da próxima entrevista. Na verdade, era no café Spencer’s, econsegui fazercomqueTreyajudasse.EnquantoAdrian fazia aentrevistano fundo,eumesenteiemumamesapara tomarumcafé.Treyveiome fazerumavisitadepoisdeunsquinzeminutos.—Eleémesmoseuirmão?—elequissaber.—É,sim—eudisse,comesperançadeparecerconvincente.— Quando você disse que ele estava procurando emprego, imaginei uma versão
masculina de você.Achei que ele iria querer organizar as xícaras por cores ou algoassim.—Oquevocêquerdizercomisso?—perguntei.Treysacudiuacabeça.—Querodizerqueémelhorvocêscontinuaremaprocurar.Acabeidesairládetrás
eouvi ele conversandocomagerente.Ela estavaexplicandocomoé a limpezaqueeleteriaquefazertodanoite.Daíelefaloualgosobreasmãosdeleetrabalhopesado.Eunãoeradotipodefalarpalavrão,mas,naquelemomento,desejeiser.Aúltimaentrevistaeraemumbardamodadocentro.Eutinhapartidodoprincípio
de queAdrian provavelmente conhecia todos os drinques domundo e tinha inventadoumacredencialfalsaparaocurrículo,afirmandoqueelejátinhafeitocursodebarman.Chegandolá,fiqueinocarroeomandeiirsozinho,achandoquesuamelhorchanceeraali.Nomínimo,aroupadeleseriaapropriada.Quandoelesaiudepoisdedezminutos,fiqueiboquiaberta.—Como?—exigisaber.—Comovocêconseguiuferraressa?—Quando cheguei, disseram que o gerente estava ao telefone e que iria demorar
algunsminutos.Entãoeumesenteiepediumabebida.Dessavez,eurealmenteapoieiacabeçanadireção.—Oquevocêpediu?—Ummartíni.— Um martíni. — Ergui a cabeça. —Você pediu um martíni antes de uma
entrevistadeemprego.
—Éumbar,Sage.Acheiquenãoteriaproblema.—Não,nãoachou!—exclamei.Ovolumedaminhavozsurpreendeuanósdoise
eleseencolheuumpouco.—Vocênãoéburro,pormaisquefinjaser!Vocêsabequenãopodefazerisso.Vocêsófezissoparasacanearcomeles.Vocêfezissoparasacanearcomigo! Foi isso.Você não levou nada a sério. Desperdiçou o tempo dessa gente e omeu,sóporquenãotinhanadamelhorparafazer!—Nãoéverdade—eledisse,masparecianãotercerteza.—Euquero,sim,um
trabalho...masnãoestes.—Vocênãoestá emposiçãode serexigente.Quer sairda casadeClarence?Estas
eram as suas chances. Poderia ter conseguido qualquer umdesses empregos se você seesforçasse só um pouquinho.Você consegue ser encantador quando quer. Poderia terconseguidoumempregosópelopapo.—Deiapartidanocarro.—Paramim,chega.—Vocênãoentende—eledisse.— Entendo que você esteja passando por um período difícil. Entendo que esteja
magoado.—Eumerecuseiaolharparaeleecoloqueitodaaminhaatençãonarua.—Mas isso não lhe dá o direito de ficar brincando com a vida das outras pessoas.Tentecuidardesimesmosozinhoparavariar.Ele não respondeu até estarmos de volta à casa de Clarence e, mesmo naquele
momento,eunãoquisescutar.—Sage...—elecomeçou.—Saiadaqui—eudisse.Elehesitoucomose fossediscordar,mas finalmenteassentiucomacabeça.Saiudo
carro em direção à casa e aproveitou para acender um cigarro no caminho. Fúria efrustraçãoqueimavamdentrodemim.Comoéqueumapessoa era capazdeme fazerpassarportantosaltosebaixos?Semprequeeucomeçavaagostardeleesentiaquenósestávamos nos conectando, ele fazia uma coisa dessas. Eu era uma idiota por mepermitircomeçaratersimpatiaporele.Seráqueeutinharealmentepensadoqueelesepareciacomumaobradearteantes?Meus sentimentos ainda estavam agitados quando cheguei aAmberwood. Eu não
estavanemumpoucoafimdeencontrarJillnonossoquarto.NãotinhadúvidadequeelajásabiatudoquehaviaacontecidocomAdrian,enãotinhaomenordesejodeescutarasdefesasqueelateriaparaele.Mas, quando entrei nomeu dormitório, nem passei da recepção.A sra.Weathers
estavanolobbycomEddieeumsegurançadocampus.Micahestavaaliporperto,como rosto pálido. Meu coração parou. Eddie disparou na minha direção, com o pânicoestampadonorosto.—Vocêfinalmenteapareceu!NãoconseguiafalarcomvocênemcomKeith.— M-meu telefone estava desligado. — Olhei para a sra.Weathers e para o
segurançaevinorostodelesamesmapreocupação.—Oqueaconteceu?
18
—Comoassim,“sumiu”?—perguntei.
—Eraparaelaterseencontradocomagenteháumasduashoras—EddiefalouetrocouolharescomMicah.—Acheiquetalvezelaestivessecomvocê.—Não vejo Jill desde a educação física.—Estavame esforçandomuito para não
entrar no modo pânico por enquanto. Havia muitas variáveis em jogo, e não haviaevidências suficientes para começar a pensar que dissidentes Moroi enlouquecidos atinham sequestrado.—Este lugar émuito grande.Quer dizer, são três campi.Temcertezadequeelanãoestásóescondidaemalgumcanto,estudando?—Fizemosumabuscabemabrangente—osegurançadisse.—Eosprofessorese
funcionáriosestãoemalerta,àprocuradela.Ninguémaavistouporenquanto.—Eelanãoestáatendendoocelular—Eddiecompletou.Finalmentepermitiqueomedotomassecontademimdeverdade,emeurostodeve
terdemonstrado.Aexpressãodosegurançaseabrandou.—Não se preocupe.Tenho certeza de que ela vai aparecer— esse era o tipo de
reconfortoqueaspessoasdaprofissãodeletinhamquedizeraosparentes.—Masvocêtemalgumaoutraideiadeondeelapodeestar?—Eosseusoutrosirmãos?—Micahperguntou.Estava commedo que chegasse a isso.Tinha quase certeza absoluta de que ela não
estava com Keith, mas ele provavelmente já devia ter sido notificado dodesaparecimentodela.Nãoeraalgoqueeuestivesseansiosaparaqueacontecesse,porquesabia que um sermão estaria àminha espera.Também seria um sinal domeu fracassoperante os olhos dos outros alquimistas.Eudevia ter ficado ao ladode Jill. Esse era omeu trabalho, certo? Em vez disso, eu— idiota como sou— fui ajudar alguém comtarefas do dia a dia. E não uma pessoa qualquer— um vampiro. Era assim que osalquimistasiamverascoisas.Adoradoradevampiros.—EuestivecomAdrianagorinhamesmo—dissedevagar.—Achoqueelapode
terconseguidoiràcasadeClarencedealgummodoparaesperarporele.Nãochegueiaentrar.—Tambémtenteifalarcomele—Eddiedisse.—Elenãoatendeu.—Desculpe— eu falei.—Nós estávamos nas entrevistas dele, por isso deve ter
desligadootelefone.Quertentarmaisumavez?—Eu,comtodaacerteza,nãoquerialigarparaele.EddieseafastouparaligarparaAdrianenquantoeuconversavacomasra.Weathers
eo segurança.Micahandavadeum ladoparaooutro,comarpreocupado,eme senticulpadaporsemprequererqueeleficasselongedeJill.Adisputaeraumproblema,maselegostavamesmodela.EudisseaosegurançaquaiseramoslugaresqueJillgostavadefrequentarnocampus.Elesconfirmaramquejátinhamverificadotodos.—Conseguiufalarcomele?—pergunteiquandoEddievoltou.Eleassentiu.— Ela não está lá.Mas fiquei meio mal.Agora ele está bem preocupado.Talvez
devêssemosteresperadoparacontarparaele.—Não...naverdade,podeserbom.Olhei Eddie nos olhos e vi uma fagulha de compreensão.As emoções deAdrian
pareciam passar por cima das de Jill quando eram fortes. Se ele ficasse em pânicomesmo,haviaaesperançadeelaperceberqueaspessoasestavampreocupadasevoltar.Issopartindodoprincípiodequeelasóestavaescondidaouquetinhaidoaalgumlugarondenósnãoconseguíamosencontrá-la.Tenteinãolevaremcontaaalternativadealgoteracontecidoeelaestaremalgumlugarondenãopodiaentraremcontatoconosco.—Àsvezesosalunossimplesmentesaemescondidosdaescola—osegurançadisse.
—Éinevitável.Geralmente,tentamvoltarsemqueninguémpercebaantesdotoquederecolher. Espero que este seja o caso. Se ela não aparecer até lá... bom, daí nóschamamosapolícia.Eleseafastouparaentraremcontatocomosoutrossegurançaspelorádioesaberse
havia alguma novidade, e nós agradecemos sua ajuda.A sra.Weathers voltou para amesadarecepção,maselaestavaclaramentepreocupadaeagitada.Àsvezeselapareciaenfezada,mastinhaasensaçãodequeelasepreocupavacomasalunasdeverdade.Micahnos deixou para falar com alguns amigos que trabalhavam no campus, para o caso deteremvistoalgo.Assim, sobramos Eddie e eu. Sem dizer nada, nós nos dirigimos para algumas
cadeirasquehavianosaguão.Assimcomoeu,achoqueelequeriaficardeolhonaporta,paraavistarJillnoinstanteemqueelaaparecesse.—EunãodeviaterdeixadoJillsozinha—eledisse.—Vocêprecisoudeixar—eudisse, racional.—Vocênãopode ficarcomelanas
aulasnemnoquarto.—Estelugarfoimáideia.Égrandedemais.Édifícilparamanterasegurança—ele
suspirou.—Nãoestouacreditandonisso.—Não... foiboa ideia,sim.Jillprecisateralgoquesepareçacomavidanormal.
VocêspoderiamtertrancadoJillemalgumquartinhoefeitocomqueelaficasseisoladadequalquer interação,masdequeadiantaria?Elaprecisa iràescolaeestarrodeadadegente.—Maselanãotemfeitomuitoisso.— Não — reconheci. — Tem sido difícil para ela. Eu fiquei torcendo para
melhorar.—Eusóqueriaqueelaestivessefeliz.—Eutambém.—Endireiteiascostasquandoalgoalarmantemeocorreu.—Você
nãoacha...nãoachaqueelafugiuevoltouparaamãe,acha?Ouparaacorte,ouparaalgumoutrolugar?Orostodeleficouaindamaisdesolado.—Esperoquenão.Vocêachaqueascoisasestavamtãoruinsassim?Penseinanossabrigadepoisdoincidentedochuveiro.—Nãosei.Talvez.Eddieenterrouorostonasmãos.—Nãoestouacreditandonisso—repetiu.—Eufalhei.QuandosetratavadeJill,Eddiecostumavaserapenasviolênciaeraiva.Eununcao
tinhavistotãopróximodadepressão.Viviacommedoda minhaprópriafalhadesdequetinha chegado a Palm Springs,mas só agora tinha percebido queEddie dependia tantodaquilo quanto eu. Eme lembrei das palavras deAdrian sobre Eddie eMason, amigodele, sobre comoEddie se sentia responsável. Se Jill não voltasse, não seria como se ahistóriaestivesseserepetindo?Seráqueelaseriamaisumapessoaqueeleperdeu?Tinha achado que aquela missão poderia ser a redenção para ele. Em vez disso,
poderiafazê-lorevivertudooqueaconteceraaMason.—Vocênão falhou—eudisse.—Asua funçãoéprotegê-la,evocê fez isso.Não
podecontrolarafelicidadedela.Seexistealgumculpado,soueu.Eudeiamaiorbroncanelaporcausadoincidentedochuveiro.—É,mas eu destruí as esperanças dela quandodisse que a ideia deLee de que ela
fossemodelonãoiadarcerto.—Mas você estava certo sobre...Lee!—engoli em seco.—É isso.É lá que ela
está.Elaestácomele,tenhocerteza.Vocêtemotelefonedele?Eddiesoltouumgrunhido.—Comoeusouidiota—disse,pegouocelulareprocurouonúmero.—Eudevia
terpensadonisso.Toqueinacruznomeupescoçoefizumaoraçãoemsilêncio,pedindoparaqueaquilo
tudoseresolvesse logo.Se significassequeJillestavavivaebem,eupoderiadarcontadofatodequeelaeLeehaviamfugidoparaficarjuntos.
—Oi,Lee?ÉEddie.Jillestácomvocê?HouveumapausaquandoLeerespondeu.AlinguagemcorporaldeEddierespondeuà
perguntaantesqueeuescutassequalqueroutrapalavra.Aposturadelerelaxoueoalíviopreencheusuaexpressão.—Certo—Eddie disse algunsmomentos depois.—Bom, traga Jill de volta até
aqui.Agora.Todo mundo está procurando por ela.—Mais uma pausa. O rosto deEddie ficou rígido.—Podemos conversar sobre issomais tarde.—Ele desligou e sevirouparamim.—Estátudobemcomela.— Graças a Deus— eu disse, com um suspiro. Eu me levantei, e foi só aí que
percebicomotinhaficadotensa.—Jávolto.Encontreiasra.Weatherseosegurançaedeianotícia.Osegurançainformouseus
colegas imediatamente e logo foi embora. Para a minha surpresa, a sra.Weatherspareciaestaràbeiradaslágrimas.—Estátudobemcomasenhora?—perguntei.—Está,está—elasevirouapressada,envergonhadaporterficadotãoemotiva.—
Eu só estava preocupada. Eu... eu não queria dizer nada para não assustar vocês,mascada vez que uma aluna desaparece... bom, há alguns anos, outra garota desapareceu.Nós achamos que ela só tinha saído escondida da escola... comoMatt disse, acontece.Mas,nofinal...—Asra.Weathersfezumacaretaedesviouoolhar.—Eunãodeviacontarissoparavocê.Atéparecequeelapodiaparardepoisdeumaintroduçãodessas.—Não,porfavor.Conte.Elasuspirou.—A polícia a encontrou dois dias depois... morta. Ela tinha sido sequestrada e
assassinada. Foi terrível, e nunca pegaram o assassino. Agora, sempre que alguémdesaparece,sópensonisso.Nuncamaisaconteceu,claro.Masumacoisadessasassustaagente.Eu podia imaginar. E quando retornei a Eddie, voltei a pensar nele e emMason.
Parecia que todo mundo carregava um histórico pesado de acontecimentos. Eu, comtoda a certeza, sim.Agora que a segurança de Jill não eramais preocupação, a únicacoisaemqueeupensavaeraaseguinte:Oqueosalquimistasvãodizer?Oqueomeupaivaidizer?Eddieestavaguardandoocelulardenovoquandomeaproximei.— Liguei paraMicah para dizer a ele que está tudo bem— ele explicou.— Ele
estavamuitopreocupado.Todosossinaisdoantigotraumadasra.Weathersdesapareceramnoinstanteemque
Jill e Lee passaram pela porta. Jill na verdade parecia animada, até ver nossasexpressões.Elaparounomeiodocaminho.Ao ladodela,Lee jádemonstravaopesar.Achoqueelesabiaoqueviriapelafrente.Eddie e eu avançamos apressados, mas não tive a oportunidade de falar
imediatamente.A sra.Weathers logo exigiu saber aonde eles tinham ido. Em vez deencobrirofato,Jillconfessouaverdade:elaeLeehaviamsaídodocampuseforamparaPalm Springs. Ela tomou cuidado para ter certeza de que Lee não fosse acusado desequestro,jurandoqueelenãosabiaqueelasópodiasaircomfamiliaresautorizados.Euconfirmeiaquilo—masLeeaindaestavanaminhalistanegra.—Vocêpodeesperarláfora?—pediaele,comeducação.—Gostariadefalarcom
vocêemparticular,maistarde.Lee começou aobedecer e lançouumolhardedesculpaspara Jill.Ele roçou amão
deladeleveparasedespediredeumeia-volta.Foiasra.Weathersqueodeteve.—Espere—ela disse, e ficouolhandopara ele com curiosidade.—Por acaso eu
conheçovocê?Leepareceusurpreso.—Achoquenão.Nuncaestiveaquiantes.—Temalgodefamiliaremvocê—elainsistiu.Suatestasefranziupormaisalguns
momentos.Finalmente,eladeudeombros.—Nãopodeser.Devoestarenganada.Leeassentiu,olhounosolhosdeJillcomcompaixãomaisumavez,esaiu.Asra.WeathersnãotinhaterminadocomJill.Elacomeçouadesfiarumaladainhaa
respeitodecomoaquilotinhasidoperigosoecomoelestinhamsidoirresponsáveis.— Se você queria sair em segredo e desrespeitar as regras, podia pelo menos ter
contadoparaosseusirmãos.Elesestavamempânicoporsuacausa.Era quase engraçado ela dar um conselho sobre como desrespeitar as regras de
maneira “responsável”. Mas, levando em conta como eu tinha ficado apavorada, eradifícil achar qualquer coisa divertida naquelemomento. Ela disse a Jill que aquilo iriaparaafichadelaequeseriacastigada.—Porenquanto—asra.Weathersdisse—,vocêvaificarnoseuquartosemsair
pelorestodanoite.Venhafalarcomigodepoisdocafédamanhãevamosdescobrirseodiretorachaqueéumcasoparasuspensão.— Com licença— Eddie disse.— Será que podemos conversar com ela alguns
minutosemparticular,antesdeelasubir?Gostariadefalarcomela.A sra.Weathers hesitou, e parecia querer que o castigo de Jill entrasse em vigor
imediatamente. Ela então examinouEddie de cima a baixo.A expressão no rosto deleerarígidaeirritada,eachoqueasra.WeatherspercebeuqueoirmãomaisvelhodeJillaplicariaumoutrotipodecastigonela.— Cinco minutos— a sra.Weathers disse e bateu com o dedo no relógio.—
Depoisdisso,elaprecisasubir.—Nãodigamnada—Jill falounoinstanteemqueficamossozinhos.Orostodela
eraumamisturademedoedesafio.—Euseiqueoquefizfoierrado.Nãoprecisolevarsermãodevocês.—Nãoprecisa?—perguntei.—Se você soubesse que era errado, não teria feito
isso!Jillcruzouosbraçosporcimadopeito.—Euprecisavasairdaqui.Deacordocomosmeusprópriostermos.Esemvocês.O comentário nem me atingiu. Parecia infantil e mesquinho. Mas, para a minha
surpresa,Eddierealmentepareciamagoado.—Oquevocêquerdizercomisso?—eleperguntou.—Querodizerqueeusóqueriasairdestelugarsemquevocêsficassemmedizendo
otempotodooqueestoufazendoerrado—foiumaindiretaparamim.—Ouquesesobressaltassemcomcadasombra—essa,claro,eraparaEddie.— Só quero proteger você— ele disse com um tom de mágoa.— Não quero
sufocá-la,masnãopossopermitirquenadaaconteça.Nãodenovo.— Eu corro mais perigo com Laurel do que com qualquer assassino! — Jill
exclamou.— Sabe o que ela fez hoje? Nós estávamos trabalhando no laboratório decomputaçãoeela“semquerer”tropeçounofiodomeucomputador.Euperdimetadedotrabalhoenãopudeterminaratempo,eagoravoulevarnotabaixa.Um sermão sobre fazer backup do trabalho provavelmente não seria útil naquele
momento.—Olhe,issoéhorrívelmesmo—eudisse.—Masnãoestánamesmacategoriade
alguémquerermatarvocê.Nemdelonge.Aondeexatamentevocêsforam?Poruminstante,pareceuqueelanãoiaentregarainformação.Finalmente,eladisse:—LeemelevouaSaltonSea.—Aovernossacaradequemnãoentendeunada,ela
completou: — É um lago fora da cidade. É maravilhoso. — Uma expressão quasesonhadoracruzouseurosto.—Faziatantotempoqueeunãoficavapertodetantaáguaassim...Daí nós fomos para o centro e só ficamos andandopor lá, fazendo compras etomandosorvete.Elemelevouàquelaloja,comaestilistaqueestáprocurandomodelose...— Jill— interrompi.—Nãome importa comoo seu dia foimaravilhoso.Você
nosassustou.Nãoentende?—Leenãodeviaterfeitoisto—Eddiedisse,irritado.—Aculpanãoédele—Jill disse.—EuconvenciLee a fazer isso... fiz comque
acreditasse que vocês não iriam se incomodar. E ele não sabe a verdadeira razão pelaqualestouaquinemoperigoqueeucorro.—Talveznamorartenhasidoumamáideia—balbuciei.—Leeéamelhorcoisaquemeaconteceuaqui!—eladisse,irritada.—Eumereço
sercapazdesairemedivertirigualavocês.—“Diversão”éumexagero—eudisse,aomelembrardatardecomAdrian.Jillprecisavadeumalvoparasuafrustração,eeurecebiahonra.—Nãoéoquemeparece.Vocênuncaestáaqui.E,quandoestá,sóficamedizendo
oqueeufaçodeerrado.Pareceatéqueéminhamãe.
Euestavalidandocomtudoaquilocommuitacalma;mas,derepente,algonaquelecomentáriomefezexplodir.Meucontroletãobemafinadosedespedaçou.—Quersaberdeumacoisa?Eumesintoassimmesmo.Porque,atéondeeusei,sou
aúnicadessegrupoqueagecomoadulta.Vocêachaqueeuestouaquimedivertindo?Sóestou como babá de vocês, consertando as suas confusões. Passei a tarde inteira...desperdiceiatardeinteira...levandoAdriandecarrodeumladoparaooutro,sóparaele ferrar com as entrevistas que consegui. E daí chego aqui e tenho que lidar com oproblema do seu “ passeiozinho”. Entendo que Laurel seja um saco... mas, se Micahtivesse sido alertado desde o início, esses problemas jamais teriam acontecido— esteúltimo comentário foi dirigido a Eddie.— Eu não entendo por que sou a única queenxerga a seriedade das coisas.Vampiros e humanos namorando.A vida de vocês emjogo.Nãosãocoisascomquesepodebrincar!E,noentanto...dealgummodo,éoquevocêstodosfazem.Largamtodasascoisasdifíceisparamim,paraqueeulimpeasujeiraatrásdevocês...e,enquantoisso,tenhoKeitheosoutrosalquimistasnaminhacola,sóesperandoqueeuferrecomtudoporqueninguémconfiaemmimdesdequeajudeiasuaamigaRose.Vocêachaqueissoédivertido?Querviveraminhavida?Então,viva.Podeficarnomeulugarecomeçaraassumirumpoucoderesponsabilidadeparavariar.Eunãotinhagritado,masovolumedaminhavozcertamentetinhaaumentado.Eu
basicamentetinhafeitotodoodiscursosemrespirareagorafaziaumapausaparatomarfôlego. Eddie e Jill ficaram olhando para mim, de olhos arregalados, como se nãoestivessemmereconhecendo.Naquelemomentoasra.Weathersvoltouatéondenósestávamos.—Jábastaporhoje.Vocêprecisasubiragora—eladisseaJill.Jillassentiu,aindaumpoucoatordoada,esaiuapressadasemsedespedirdenenhum
de nós.A sra.Weathers a acompanhou até a escada e Eddie se voltou paramim. Seurostoestavapálidoesolene.—Vocêestácerta—eledisse.—Eunãotenhofeitoaminhaparte.Suspirei,derepentemesentindoexausta.—Vocênãoétãomauquantoeles.Elesacudiuacabeça.— Mesmo assim... Talvez você tenha razão em relação a Micah. Talvez ele
mantenhaalgumadistânciaseeuconversarcomele,edaíLaurelvaiparardepegarnopéde Jill.Vou falar comelehoje ànoite.Mas...—ele franziu a testa, escolhendo aspalavras commuito cuidado.—Tente não ser muito dura comAdrian e Jill. Isso éestressante para ela, e às vezes eu acho que um pouco da personalidade dele estejapassandoparaelaatravésdolaço.Tenhocertezadequefoiporissoqueelafugiuhoje.Éalgoqueelefarianolugardela.—Ninguémaforçouafazeroquefez—eudisse.—Adrianmenosainda.Ofato
deelaterconvencidoLeeenãoternoscontadomostraqueelasabiaqueeraerrado.Isso
sechamalivre-arbítrio.EAdriannãotemessasdesculpas.— É... mas ele é oAdrian — Eddie disse, desanimado. — Às vezes não sei
distinguirquaisatitudessãodeleequaissãodoespírito.—Aqueles que têmo domínio sobre o espírito podem tomar antidepressivos, não
podem?Seeleestápreocupadoemsetornarumproblema,entãoprecisatomarjuízoeassumirocontrole.Eletemumaescolha.Nãoéimpotente.Nãohávítimasaqui.Eddiemeexaminouduranteváriossegundos.—Eeuacheiqueaminhavisãodavidaeradura.—Suavidaédura—corrigi.—Maselaéconstruídaemtornodaideiadequevocê
sempre precisa tomar conta de outras pessoas. Eu fui ensinada que isso às vezes énecessário,masque,mesmoassim,todomundoprecisacuidardesimesmo.—E,noentanto,aquiestávocê.—Nemmediga.QuervircomigoconversarcomLee?QualquerexpressãodearrependimentodesapareceudorostodeEddie.—Quero—eledissecomdeterminação.EncontramosLeesentadoemumbancodo ladode fora,parecendoarrasado.Ele se
levantouemumpuloquandonosaproximamos.—Pessoal,sintomuito!Eunãodeviaterfeitoisso.Maséqueelapareciatãotristee
tãoperdidaeeusóquis...—VocêsabecomonósprotegemosJill—eudisse.—Comopôdepensarquenão
irianosdeixarpreocupados?— E ela é menor de idade— Eddie falou.— Não pode simplesmente levar Jill
emboraefazeroquebementendercomela!Reconheçoque fiqueiumpouco surpresa com suaopçãopormencionar a ameaça à
virtudede Jill.Nãomeentendamal.Eu tambémestavapreocupadacoma idadedela.Mas, depois de ele tê-la visto literalmente morrer, achei que Eddie iria se preocuparcomoutrascoisasalémdeosdoisficaremjuntos.OsolhoscinzentosdeLeesearregalaram.—Nãoaconteceunada!Eu jamais faria algoassimcomela.Eu juro!Eununcame
aproveitariadeumapessoatãoinocente.Nãopossoestragaristo.Elaémaisimportantepara mim do que qualquer garota com quem já namorei. Quero ficar com ela parasempre.Acheique“parasempre”eraumexageroconsiderandoaidadedeles,mashaviauma
sinceridadecomoventeemseusolhos.Mesmoassim,nãoserviadedesculpaparaoquetinha feito. Ele levou nosso sermão a sério e prometeu que aquilo nunca mais iria serepetir.—Mas, por favor... será que eu ainda possome encontrar com ela quando vocês
estiveremporperto?Nóspodemoscontinuarafazerprogramasemgrupo?Eddieeeunosentreolhamos.
—Se ela tiver permissão para sair do campus depois disso, sim— respondi.—Realmentenãoseioquevaiacontecer.Lee foi embora depois demais alguns pedidos de desculpas e Eddie tambémvoltou
paraoalojamentodele.Euestavasubindoasescadasquandomeucelulartocou.DeiumaolhadaefiqueiassustadaaoveronúmerodotelefonedacasadosmeuspaisemSaltLakeCitynoidentificadordechamadas.—Alô?—atendi.Duranteummomentoinquieto,torciparaquefosseZoe.—Sydney.Meupai.Meuestômagoseencheudepavor.—Precisamosconversarsobreoqueaconteceu.Opânicosealastroudentrodemim.Comoéqueelejásabiadodesaparecimentode
Jill? Keith me veio à cabeça como o culpado óbvio. Mas como é que ele haviadescoberto?SeráqueestavanacasadeClarencequandoEddieligouparaAdrian?Apesarde seus defeitos, não podia acreditar queAdrian teria contado a Keith o que tinhaacontecido.—Conversarsobreoquê?—perguntei,tentandoganhartempo.—Sobreoseucomportamento.Keithme ligouontemànoitee,devodizer,estou
muitodecepcionado.—Ontem à noite— aquilo não era a respeito do desaparecimento de Jill. Então,
sobreoqueseria?—OseutrabalhoécoordenarosesforçosparaqueameninaMoroitenhaumaboa
adaptação.Não precisa ser simpática comeles!Mal pude acreditar quandoKeith dissequevocêlevoutodosparajogarboliche.—Eraminigolfe,eKeithdissequenãotinhaproblema!Eupergunteiaeleprimeiro.—E,depois,ouvidizerquevocêestáajudandooutrosvampirosacuidaremdesuas
tarefasrotineirasenãoseimaisoquê.Asuaobrigaçãoéapenascomamenina,eissosóestá relacionadoà sobrevivênciadela... coisaque tambémouvidizerquevocênãoestáfazendo.Keithmedissequehouveumincidenteemquevocênãocuidoudasdificuldadesdelanosoldamaneiraadequada?—Euinformeioproblemaimediatamente!—exclamei.EudeveriasaberqueKeith
tinha planos de usar aquilo contra mim.— Keith...— fiz uma pausa, pensando namelhormaneiradelidarcomaquilo.—Elenãoentendeubemomeurelatórioinicial.—Keithtinhadesprezadoomeurelatórioinicial,masdizeraomeupaiqueoprotegidodele havia mentido só iria servir para fazer meu pai ficar na defensiva. Ele nãoacreditariaemmim.—Eolhasóquemfala!EleestásemprecomClarenceeserecusaadizerporquê.—Provavelmenteépara se assegurardequeele esteja estável.Compreendoqueo
velhonãotemacabeçamuitonolugar.— Ele é obcecado por caçadores de vampiros— expliquei.— Ele acha que tem
humanosporaíquemataramasobrinhadele.— Bom— meu pai disse.— Hámesmo alguns humanos que ficam sabendo do
mundodosvampirosenósnãoconseguimosdissuadi-los.Nãosãoexatamentecaçadores.KeithestácumprindosuaobrigaçãoaoesclarecercomClarence.Você,noentanto,estáequivocada.—Essacomparaçãonãoéjusta!—Honestamente,culpoamimmesmo—eledisse.Dealgummodo,euduvidava
disso.— Eu não devia ter deixado que você fosse mandada para aí.Você não estavapronta... não depois daquilo pelo que passou. Passar tempo com esses vampiros estádeixandovocêconfusa.Éporissoquevoupedirparaquevolte.—Oquê?— Se as coisas fossem do meu jeito, seria imediatamente. Infelizmente, Zoe vai
demorarmaisduassemanasparaseaprontar.Osalquimistasqueremqueelapasseporalgunstestesantesdefazeratatuagem.Quandoissoestiverresolvido,vamosmandá-lanoseulugarearrumar...ajudaparavocê.—Pai!Issoéumaloucura.Estouindobemaqui.Porfavor,nãomandeZoe...—Sintomuito, Sydney—ele disse.—Vocême deixou sem escolha. Por favor,
nãosemetaemconfusãoduranteotempoquelheresta.Eledesligoueeufiqueiparadanocorredorcomocoraçãoapertado.Duassemanas!
Duas semanas e iammandar Zoe. E eu...? Para onde iammemandar? Eu não queriapensar sobre o assunto, mas sabia. Precisava impedir que aquilo acontecesse. Asengrenagens já estavam em movimento. As tatuagens, pensei de repente. Se pudesseterminar meus testes com as substâncias roubadas e descobrir informações sobre ofornecedordesangue,euganhariapontoscomosalquimistas—esperoqueosuficienteparatiraramáculaqueKeithtinhacolocadosobremim.E por que ele tinha feito isso? Por que agora? Eu sabia que ele nunca quis que eu
tivesse idopara lá.Talvezele sóestivesseganhando tempo, juntandoevidências contramim até que pudesse fazer comque eu fosse deposta comumgolpe certeiro.Mas nãoiria permitir que aquilo acontecesse. Eu desvendaria o caso das tatuagens e provariaquem era a estrela dos alquimistas. Eu tinha provas suficientes agora para chamar aatençãodeles,epoderiasimplesmenteentregaroquetinhasenadadenovoviesseàtonaemumasemana.A decisão me encheu de determinação, mas, mesmo assim, tive dificuldade para
dormirquandofuiparaacama,mais tarde.Aameaçadomeupaipairavasobremim,assimcomomeumedodocentrodereeducação.Depoisdemaisoumenosumahorarevirandonacama,finalmentecaínosono.Mas,
mesmoassim,fiqueiagitadaepreocupada.Acordeidepoisdepoucashorasetivequemeesforçarparaconseguirdormirnovamente.Dessavez,eusonhei.
Nosonho,euestavanasaladacasadeClarence.Tudoestavaarrumadoenolugar,amadeira escura e a mobília antiga davam ao ambiente uma sensação agourenta. Osdetalheseramsurpreendentementevívidos,eeracomoseeupudessesentirocheirodoslivrosempoeiradosedocourodamobília.—Hum.Deucerto.Nãotinhacertezaseiadarcomumhumano.EumevireiparatráseviAdrianapoiadonaparede.Ele não estava lá no momento anterior, e tive um flash do medo de vampiros
surgindodonadaqueeutinhanainfância.Entãomelembreidequeerasóumsonho,equeaqueletipodecoisaacontecia.—Sobreoquevocênãotinhacerteza?—perguntei.Elefezumgestoaoredordesi.—Seeuseriacapazdeentraremcontatocomvocê.Trazervocêparadentrodeste
sonho.—Eunãoentendimuitobemoqueelequeriadizerenãofaleinada.Elearqueouumasobrancelha.—Vocênãosabe,sabe?Ondevocêestá?— Na casa de Clarence — respondi, razoável. — Bom, na realidade, estou
dormindonaminhacama.Issoésóumsonho.—Vocêestámeiocerta—eledisse.—Esteéumsonhodeespírito.Éreal.Franziatesta.Umsonhodeespírito.Comoamaiorpartedas informaçõesquenós
tínhamos a respeito do espírito era incerta, não sabíamos quase nada sobre sonhos deespírito.AmaiorpartedoqueeusabiatinhaaprendidocomRose,quecomfrequênciatinha recebido visitas deAdrian enquanto dormia. De acordo com ela, a pessoa quesonhavaeovampirousuáriodeespíritonaverdadeestavamjuntos,emumencontrodementes, comunicando-se através de longas distâncias. Paramim, era difícil apreenderaquilototalmente,maseuhaviatestemunhadoRoseacordandocominformaçõesquenãopoderia ter obtido de outramaneira.Mesmo assim, não tinha evidências para sugerirquedefatoestivesseemumsonhodeespíritoagora.—Esteéapenasumsonhocomooutroqualquer—retruquei.—Temcerteza?—eleperguntou.—Olheaoredor.Concentre-se.Nãoachaquea
sensação édiferente? É como um sonho... mas não é um sonho. E também não éexatamenteigualàvidareal.Chamedoquequiser,masdapróximavezquenosvirmosnomundodesperto,podereidizeravocêexatamenteoqueaconteceuaqui.Olhei ao redor da sala, observando tudo como ele tinha sugerido. Mais uma vez,
fiquei surpresapelanitidez atédosmínimosdetalhes.Certamenteparecia real,masossonhosgeralmentepareciam...certo?Vocêgeralmentenuncasabiaqueestavasonhandoaté acordar. Fechei os olhos e respirei fundo, tentando acalmar amente. E, assim, eusenti. Entendi o que ele quis dizer. Não era exatamente igual a um sonho. Não eraexatamenteigualàvidareal.Meusolhosseabriram.—Parecomisso—exclameiemeafasteidele.—Façaacabar.Metiredaqui.Porque, ao aceitar que aquele realmente era um sonho de espírito, eu teria que
reconheceroutracoisa:euestavarodeadapormagiadevampiro.Aminhamenteestavaentremeada nisso. Eu me senti claustrofóbica. A magia fazia pressão sobre mim,esmagavaoar.—Porfavor—aminhavozfoi ficandocadavezmaisfrenética.—Porfavor,me
deixeirembora.Adrianseendireitou,demonstrandosurpresa.—Nossa,Sage.Acalme-se.Estátudobem.—Não.Nãoestá.Eunãoqueroisto.Eunãoqueroqueamagiametoque.—Nãovaiprejudicarvocê—eledisse.—Nãoénada.—Éerrado—sussurrei.—Adrian,parecomisto.Eleestendeuamãocomosefossetentarmereconfortar,eentãopensoumelhor.—Eunãovouprejudicarvocê—repetiu.—Sóescuteoqueeutenhoadizerevou
dissolvertudo.Prometo.Mesmo no sonho, meu coração estava disparado.Abracei a mim mesma e recuei
paraaparede,tentandomefazerpequena.—Certo—sussurrei.—Andelogo.—Eusóqueriadizer...—Eleenfiouasmãosnosbolsosedesviouoolhar,poucoà
vontade, antesdevoltar aolharparamimmaisumavez.Seráque seusolhosestavammais verdes do que na realidade?Ou será que era apenas aminha imaginação?—Euqueria...queriapedirdesculpas.— Por quê? — perguntei. Não conseguia processar nada além do meu próprio
terror.—Peloqueeufiz.Vocêtinharazão.Desperdiceiseutempoeseutrabalhohoje.Forceiaminhamenteparanãoficarretornandoàslembrançasdaquelatarde.—Obrigada—eudissesimplesmente.—Não sei por que faço essas coisas— ele completou.— É que eu não consigo
evitar.Eucontinuavaapavorada,continuavasufocadapelamagiaquemerodeava.Dealgum
modo,conseguireproduziraminhaconversaanteriorcomEddie.—Vocêécapazdesecontrolar—eudisse.—Vocênãoéumavítima.Adrian estava olhando para o outro lado, incomodado com seus pensamentos. De
repente,comumgestobrusco,voltouaolharparamim.—IgualzinhaaRose.—Oquê?Adrian estendeu a mão e uma rosa vermelha cheia de espinhos de repente se
materializouali.Engoliemsecoetenteirecuarmais.Elebrincoucomocaboentreosdedos,comcuidadoparanãoseespetar.—Eladisse isso.Queeuestavafazendopapeldevítima.Seráqueeusouassimtão
patético?
A rosa murchou e se desfez diante dos meus olhos; primeiro transformou-se emcinzas,edepoisdesapareceucompletamente.Fizosinalcontraomalnoombroetenteimelembrardoquenósestávamosfalando.—Patéticonãoéapalavraqueeuusaria—eudisse.—Quepalavravocêusaria?Aminhamentetinhadadoumbranco.—Nãosei.Confuso?Elesorriu.—Issoéamenizarasituação.—Vou conferir em um dicionário quando acordar e dou um retorno para você.
Podeporfavoracabarcomisto?Osorrisosetransformouemumaexpressãodesurpresa.—Vocêestáassustadamesmo,nãoestá?Deixeimeusilêncioresponderpormim.—Certo, então, sómais uma coisa. Pensei em outro jeito para conseguir sair da
casadeClarenceearrumaralgumdinheiro.Estavalendosobreauxíliofinanceiroparaafaculdade. Se eu estudasse em algum lugar, você acha que eu conseguiria o suficienteparaviver?Aquelaeraumaperguntaconcretaqueeutinhacomoencarar.— É possível.Mas acho que é tarde demais.As aulas já começaram em todos os
lugares.—Encontreiuma faculdadena internet.Carlton.Ficadooutro ladodacidadeeas
aulas ainda não começaram.Mas eu vou ter que ser rápido, e... é isso que eu não seifazer.Apapelada.Osprocedimentos.Masessaéasuaespecialidade,certo?— É triste, mas é verdade— respondi. Uma parte de mim achava que Carlton
pareciafamiliar,maseunãoconseguialocalizarainformação.Elerespiroufundo.—Vocêmeajuda?Euseiqueé fazervocêdarumadebabáoutravez,masnãosei
porondecomeçar.Sóprometoquevoufazeraminhaparte.Digaoquetenhoquefazer,eeufaço.Darumadebabá.EleandoufalandocomJilloucomEddieoucomambos.Masisso
era compreensível. Ele iria querer saber se estava tudo bem com ela. Eu só podiaimaginarcomoomeudiscursotinhasidoparafraseado.—Vocêjáestevenafaculdade—eudisse,aomelembrardosregistrosdele.Euos
tinhaexaminadoquandomonteiseufamigeradocurrículo.—Elargouosestudos.Adrianconcordou.—Foi.—Comoéquevousaberquevocênãovaifazeramesmacoisadestavez?Comovou
saberquevocênãovaisódesperdiçaromeutempodenovo?
—Nãotemcomosaber,Sage—elereconheceu.—Eeunãoculpovocê.Sópossopedirquemedêmaisumachance.Que tente acreditar emmimquandodigoquevoufazeroqueestoudizendo.Queacreditequeeuestoufalandosério.Queconfieemmim.Longosmomentos seestenderamentrenós.Eu tinha relaxadoumpouco, semnem
perceber, apesar de continuar contra a parede. Eu o examinei, desejando que fossemelhoremdesvendaraspessoas.Osolhosdeleeramverdesdaquele jeitonarealidade,concluí.Erasóqueeunãocostumavaolharparaelescomtantaatenção.—Certo—eudisse.—Euconfioemvocê.Umaexpressãochocadatomousuasfeições.—Ésério?Eu não eramelhor em desvendar as pessoas do que tinha sido dez segundos antes,
mas, naquele momento, de repente tive um insight sobre o mistério que eraAdrianIvashkov.Aspessoasnãoacreditavamnelecommuita frequência.Todos tinhambaixasexpectativas em relação a ele, por isso ele agia damesma forma.Até Eddie de certaformaodesprezava:“Eleéo Adrian”.Comosenãohouvessenadaase fazerarespeitodisso.Também percebi de repente que, por mais improvável que fosse, Adrian e eu
tínhamosmuitoemcomum.Nósdoisvivíamos tolhidospelasexpectativasdosoutros.Não fazia diferença se as pessoas esperavam tudo de mim e nada dele. Nóscontinuávamos iguais, ambos sempre tentando fugir dos limites que os outros tinhamdefinido para nós e sermos donos do próprio nariz. Adrian Ivashkov — vampirobaladeiroe irreverente—eramaisparecidocomigodoquequalqueroutrapessoaqueeuconhecia.Aideiaeratãosurpreendentequeeunemconseguirespondernahora.—Confio—eudisse finalmente.—Vouajudarvocê.—Estremeci.Omedodo
sonho tinha voltado, e eu só queria que aquilo terminasse. Teria concordado comqualquer coisa para retornar à minha cama nada sobrenatural.—Mas não aqui. Porfavor...podememandardevolta?Ouacabarcom isso?Ouseja láoquevocê temdefazer?Ele assentiu devagar, ainda com a expressão em choque. A sala começou a
desaparecer,suascorese linhassederreteramcomoumapinturadeixadanasala.Logotudoficoupreto,eeumeviacordandonacamadodormitório.Quandoissoaconteceu,malescuteiosomdavozdelenaminhamente:Obrigado,Sage.
19
Se eu estava com dificuldades para dormir antes, o sonho deAdrian só serviu para piorar ascoisas.Apesardeestardevoltaàminhaprópriacama,emsegurança,eunãoconseguiame livrar da sensação de que tinha sido invadida. Imaginei que aminha pele estivessetodaarrepiadacomamáculadamagia.Fiqueitãoansiosaparasairdosonhoquenãomedeicontadireitodoqueeutinhaconcordadoemfazer.EurespeitavaodesejodeAdriandeirparaafaculdade,masagoraficavaimaginandoserealmentedeviaajudar,depoisdereceberabroncadomeupaiporser“simpática”comvampiros.Eunãoestavanomelhordoshumoresquandofinalmentemelevantei,algumashoras
mais tarde.A tensão no nosso quarto era pesada enquanto Jill e eu nos preparávamosparaasaulas.AatitudededesafiodeJilldanoiteanteriornãoestavamaislá,eelaficavame observando, nervosa, quando achava que eu não estava prestando atenção. Nocomeço,acheiqueaminhaexplosãodanoiteanteriorativessedeixadosemjeito.Mas,quandosaímosdoquartoparatomarcafédamanhã,percebiquenãoerasóisso.—Oquefoi?—pergunteisemrodeios,finalmenterompendoosilêncio.—Oque
vocêquermeperguntar?Jillmeolhoudesoslaiomaisumavezquandonosjuntamosaofluxodasmeninasque
desciamaescada.—Hum,aconteceuumacoisaontem.Muitas coisas aconteceram ontem, pensei. Esse era o meu eu exausto e amargo
falando,esabiaquenãoeraissoqueelaqueriadizer.—Oquê?—perguntei.—Bom...euestavacomeçandoacontarparavocêqueLeemelevouàquelaloja.A
loja de roupas cuja dona ele conhece, sabe? O nome dela é Lia DiStefano. Nósconversamos,eela,hum,meofereceuumtrabalho.Maisoumenos.—Otrabalhodemodelo?—Nóschegamosàfiladacomidanorefeitório,apesarde
euestarsemapetite.Escolhiumiogurte,quepareciatristeesozinhonomeiodaminha
bandejavazia.—Nósjáconversamossobreisso.Nãoéseguro.Aindaassim,erairônicoofatodeumavisitaaleatóriaterrendidoumempregopara
Jill,aomesmotempoquetrêsentrevistasformaisnãoadiantaramnadaparaAdrian.— Mas não é para fotos posadas que seriam publicadas em uma revista ou algo
assim.Éumdesfiledeestilistaslocais.Nóscontamosaelaumahistóriadequefazemospartedeumareligiãoquetemrestriçõesarespeitodefotoseidentidade.Liadisseque,na verdade, estava pensando em fazer as modelos usaremmeia-máscara. Sabe, aqueletipoqueseusaembailesmascarados?Considerandoisso,ailuminaçãoeomovimento...bom,vaiserdifícilmeidentificarsealgumafotofordivulgada.Éumeventoúnico,maseuteriaque ir láantesparaasprovasderoupas...eparaensaiar.Ela tambémiriamepagar,masprecisodecaronaepermissãodospais.Nósnossentamoseeupasseiumaquantidadedetempodesnecessáriamexendoomeu
iogurteenquantorefletiasobreaspalavrasdela.Davaparasentirseuolharemcimademimenquantoeupensava.Comoeunãorespondinada,elaprosseguiu:—Achoqueémeiobobo.Querdizer,eunãotenhonenhumaexperiência.Eeunem
seiporqueelaquerqueeuparticipe.Talvezestejaprocurandoalgumacoisaespecífica.Modelosbizarrasoualgoassim.Finalmentecomiumacolheradadeiogurteeentãoerguiosolhosparaela.—Você não é bizarra, Jill.Você tem o tipo físico ideal para ser modelo. Isso é
difícildeencontrar.Entreoshumanos,pelomenos.—Tenteinãopensaremcomoeradifícilparanós,humanos,atingiraperfeiçãodosMoroi.Tenteinãopensarsobrecomo,anos antes, meu pai tinha criticado a minha silhueta e dito: “Se aqueles monstrosconseguem,comoéquevocênãoconsegue?”.—Masvocêachaqueéumapéssimaideia—eladisse.Não respondi. Eu sabia o que Jill queria, mas ela não conseguia me pedir
diretamente. E eu ainda não podia entregar isso a ela com facilidade.Ainda estavaperturbadademaiscomoquetinhaacontecidonodiaanterior,enãoestava inclinadaafazer nenhum favor.Por outro lado, eu tambémnãopodia dizer“não” a ela.Nãoporenquanto. Apesar da maneira irresponsável como ela tinha agido, suas palavras arespeitodecomoavidadelaera triste tinhammeatingidoprofundamente.Aquiloeraalgopositivoebomquepreencheriaseutempo.Tambémeraumainfladanoegodequeelaestavaprecisandomuito.LaureltinhadeitadoeroladousandoostraçosincomunsdeJillcontraela;seriabomseelavissequeoutraspessoasosviamdemaneirapositiva.Elaprecisava sedar contadeque era especial emaravilhosa.Não sabia se devia xingar ouagradecerLeeporaquelaoportunidade.—Achoquenãopodemosdecidir nada até conversarmos coma sra.Weathers—
finalmentedisse a ela.Dei umaolhada emum relógiopróximo.—Aliás, precisamosfalarcomelaagora.
Deimaisalgumascolheradasnoiogurteantesdejogarfora.Jillpegouumarosquinhapara viagem. Quando voltamos ao saguão do alojamento, descobrimos que haviachegadoumaencomendaparaJill:umbuquêderosasvermelhasperfeitaseumbilhetededesculpadeLee.Jillsederreteutoda,seurostoseenchendodeadoraçãocomogesto.Atéeuadmireiaquelegestoromântico,apesardeumapartesarcásticademimdizerqueLee devia ter mandado flores para mim e Eddie, e não para ela. Ele precisava pedirdesculpas para nós. De todo modo, as flores logo foram esquecidas quando nosacomodamosnasaladasra.WeathersedescobrimosqualseriaoveredictoparaJill.—Converseicomodiretor.Vocênãovai ser suspensa—eladissea Jill.—Mas,
duranteopróximomês, ficará restrita ao seudormitórioquandonãoestiver emaula.Deveseapresentarimediatamenteamimdepoisdofimdasaulas,paraeusaberqueestáaqui.Podeiraorefeitórioduranteasrefeições...massóaodoseualojamento.Nãopodeiraodocampusoeste.Asúnicasexceçõesaestaregrasãonocasodeumatarefaouumprofessor exigir que você vá a algum outro lugar fora do horário de aulas, como abiblioteca.Nósduasassentimose,poruminstante,fiqueisimplesmentealiviadaporJillnãoter
sidoexpulsaoualgodotipo.Entãooproblemarealmeocorreucomoumtapanacara.EutinhaditoaJillqueaquelareuniãoiriasurtirefeitosobrequalquerdecisãorelativaaotrabalhodemodelo,mashaviaalgomuitopioremjogo.—Seelaestiverdecastigonodormitório,entãonãopodesairdaescola—eudisse.Asra.Weathersmelançouumsorrisoseco.—Sim,srta.Melrose.Geralmenteéissoque“estardecastigo”significa.—Elaprecisasair,senhora—argumentei.—Nóstemosreuniõesdefamíliaduas
vezes por semana. — O ideal era que fosse mais vezes do que isso, mas eu tinhaesperanças de que um número baixo pudesse comprar a nossa liberdade. Eraabsolutamente essencial que Jill obtivesse sangue, e dois dias por semana era mais oumenosomínimocomoqualumvampiroeracapazdesobreviver.—Sintomuito.Regrassãoregrase,aodesrespeitá-las,suairmãperdeuoprivilégio
departicipardeatividadesassim.—Osencontrossãoreligiosos—eudisse.Detestavajogarcomacartadareligião,
mas aquilo era algo que a escola teria dificuldade em recusar. E, bom, parecia terfuncionadocomaestilista.—Nósvamosàigrejaemfamílianessesdias...nósenossosirmãos.Orostodasra.Weathersrevelavaqueeutinhaganhadoterreno.—Vamosprecisardeumacartaassinadapelospaisdevocês—elafinalmentedisse.Maravilha.Afinal,issotinhafuncionadotãobemnaeducaçãofísica...—Mas e o nosso irmão? Ele é o nosso guardião legal aqui.— Era certeza que,
naquelecaso,nemKeithpoderiaenrolar,nãoquandoaquestãoerasangue.Elarefletiusobreoassunto.
—Sim.Issopodeseraceitável.— Sinto muito — disse a Jill quando saímos para tomar o ônibus. — Sobre o
trabalho de modelo. Já vai ser bem difícil conseguir fazer você sair para osfornecimentos.Jillassentiu,esforçando-separaesconderadecepção.— Quando é o desfile? — perguntei, achando que talvez ela pudesse participar
depoisqueocastigotivesseterminado.—Daquiaduassemanas.Queideiamaisfurada.—Sintomuito.Paraaminhasurpresa,Jillchegouadarrisada.—Vocênãotemmotivoparasentirmuito.Nãodepoisdoqueeufiz.Euéquetenho
desentirmuito.EtambémsintomuitoporAdrian...pelasentrevistas.—Issoéalgopeloqualvocênãotemquesedesculpar.Maisumavez, fiquei impressionadadevercomotodomundo ficava sedesculpando
em nome dele com tanta facilidade. Ela comprovou essa teoria com seu próximocomentário.—Elenãopodefazernada.Eleéassim.Maselepodefazeralgumacoisa,sim,pensei.Emvezdisso,disse:—Aguentefirme,certo?VoupediraKeithparaassinarasualiberaçãoreligiosa.Elasorriu.—Obrigada,Sydney.Nóscostumávamosnossepararquandooônibuschegavaaocampuscentral,masela
hesitou quando descemos. Mais uma vez, pude ver que ela queria me contar algumacoisa,masestavacomdificuldadedejuntarcoragemparaisso.—Oquefoi?—euperguntei.—Eu...sóqueriadizeravocêquesintomuito,deverdade,pordartantotrabalho.
Vocêfazmuitopornós.Deverdade.Eseestáaborrecida,éporque...bom,euseiqueseimportaconosco.Eissoémaisdoquepossodizerdealgumaspessoasdacorte.—Issonãoéverdade—eudisse.—Aspessoasláseimportam.Elastiverammuita
dificuldadeparamandarvocêparacá,paraquepudesseficarasalvo.— Eu continuo achando que foi mais por Lissa do que por mim — ela disse,
tristonha.—Eaminhamãenãodemonstroumuitaoposiçãoquandodisseramqueiammemandarparalonge.— Querem que você fique em segurança — disse a ela. — Isso significa fazer
escolhasdifíceis...quesãodifíceisparaelestambém.Jill assentiu, mas não sei se acreditou emmim. Fiz o relatório damanhã a Eddie
quandochegueiàauladehistória.Orostodeleexibiutodaumagamadeemoçõesacadanovoavançodahistória.
—VocêachaqueKeithvaiassinaraautorização?—eleperguntouemvozbaixa.—Eletemqueassinar.Aquestãotodadeestarmosaquiéparamantê-laviva.Seela
morrerdefome,meioquevaicontraopropósitoprincipal.NemmedeiaotrabalhodedizeraEddiequeestavaencrencadacommeupaiecom
os alquimistas, e que havia uma grande chance de eu nem estar mais ali em duassemanas.EddiejáestavabemaborrecidocomasituaçãodeJill,eeunãoqueriaqueeletivessemaisumacoisacomquesepreocupar.Quandome encontrei com a sra.Terwilliger no final do dia, entreguei as últimas
anotaçõesdoslivrosantigosquetinhafeitoparaela.Quandoestavameacomodandoemuma carteira, reparei em uma pasta de artigos em cima de uma mesa.As palavrasFaculdadeCarltonestavamgravadasnapastaemletrasdouradas.EntãomelembreiporqueacheionomefamiliarquandoAdrianotinhamencionadonosonho.—Sra.Terwilliger...PoracasodissequeconheciaalguémnaFaculdadeCarlton?Elaergueuosolhosdocomputador.— Humm? Ah, conheço, sim. Jogo pôquer com metade do corpo docente de
história.Atédouaulalánoverão.Dehistória,querdizer,nãodepôquer.— Será que conhece alguém responsável pelas admissões de novos alunos? —
perguntei.—Não exatamente. Suponho que eu conheça pessoas que conhecem as pessoas que
trabalhamcomisso lá.—Elaretornouaatençãoparaa tela.Nãodissenadae,depoisdeváriosminutos,elavoltouaolharparamim.—Porqueestáperguntando?—Pornada.— Claro que há uma razão. Está interessada em estudar lá? Deus sabe que ia
aproveitarmaisládoqueaqui.Claroqueaminhaaulaéexceção.—Não, senhora— respondi.—Mas o meu irmão queria estudar lá. Ele ouviu
dizerqueasaulasaindanãocomeçaram,masnãotemcertezasepodeseraceitoassimdeúltimahora.— Émuito de última hora— a sra.Terwilliger concordou. Elame avaliou com
muitaatenção.—Querqueeudêumaperguntada?—Ah.Ah não, senhora. Só queria ver se conseguia uns nomes para entrar em
contato.Jamaispediriaparaasenhorafazeralgoassim.Assobrancelhasdelaseergueram.—Porquenão?Nãosabiaoqueresponder.Àsvezeseratãodifícilentendê-la...—Porque...asenhoranãotemporquefazerisso.—Eufariacomofavoravocê.Não consegui dizer nada diante daquilo e só fiquei olhando para ela. Ela sorriu e
ajeitouosóculosemcimadonariz.—Vocênãoconsegueacreditarnisso,certo?Quealguémpossafazerumfavorpara
você.—Eu...bom,querdizer...—minhavozfoisumindo,nãosabiabemoquedizer.
—Asenhoraéminhaprofessora.Oseutrabalhoé,bom,meensinar.Sóisso.—Eoseutrabalho—eladisse—éviratéestasaladuranteoúltimoperíodopara
cumprirqualquertarefarotineiraqueeutenhaparavocê,edepoisentregarumtrabalhonofimdosemestre.Vocênãoéobrigada,demaneiranenhuma,abuscarcaféparamim,vir me atender tarde da noite, organizar a minha vida, ou ter que reordenar a suacompletamenteparacumprirosmeuspedidosridículos.—Eu...nãomeincomodo—respondi.—Etudoissoprecisaserfeito.Eladeurisada.— É verdade. E você insiste em fazer muito mais e além das suas tarefas, não é
mesmo?Pormaisinconvenientequesejaparavocê.Deideombros.—Eugostodefazerumbomtrabalho,senhora.—Você fazumtrabalhoexcelente.Muitomelhordoqueprecisa fazer.Eainda faz
sem reclamar. Portanto, o mínimo que eu posso fazer é dar alguns telefonemas paraajudá-la.— Ela deu risada mais uma vez.— Isso é o quemais assusta você, não é?Receberelogios.—Ah,não—respondi,semjeito.—Querdizer,acontece.Elatirouosóculosparameobservarcommaisatenção.Arisadatinhadesaparecido.—Não,estouachandoquenãoacontece.Nãoconheçoasuasituaçãoespecífica,mas
já conhecimuitos alunos como você... alunos que os pais despacharam destamaneira.Aomesmotempoqueaprecioapreocupaçãopelaeducaçãosuperior,cadavezmaisvejoqueumaparcelamuitograndedealunosestudaaquiporqueseuspaissimplesmentenãotêm temponem inclinaçãopara se envolver...ou simplesmenteparaprestar atenção àvidadosfilhos.Estávamos lidando com uma daquelas áreas interpessoais que me deixavam
constrangida,especialmenteporhaverumelementodeverdadeinesperadoali.—Émaiscomplicadodoqueisso,senhora.—Tenhocertezaque sim—ela respondeu.Suaexpressãoganhou sagacidadeeela
ficou bemdiferente da professora estabanada que eu conhecia.—Mas escute o que eudigo.Vocêéumagarotaexcepcional,talentosaebrilhante.Nuncadeixequeninguémafaçasentirinferior.Nuncadeixequeninguémfaçacomquevocêsesintainvisível.Nãopermitaqueninguém...nemmesmoumaprofessoraqueamandabuscarcaféo tempotodo...mandeemvocê.—Elavoltouacolocarosóculosecomeçouaerguerpedaçosdepapelaleatórios.Finalmente,encontrouumacanetaedeuumsorrisodetriunfo.—Então,pronto.Qualéonomedoseuirmão?—Adrian,senhora.—Certo.—Ela pegou um pedaço de papel e escreveu o nome com cuidado.—
AdrianMelbourne.—Melrose,senhora.—Correto. Claro.— Ela rabiscou o erro e balbuciou para si mesma:—Ainda
bem que o primeiro nome dele não é Hobart.— Quando terminou, se recostou nacadeiracomumgestocasual.—Agoraquevocêfalounisso,temumacoisaquequeroquefaça.—Ésódizer—respondi.—Queroquevocêfaçaumdosfeitiçosdaqueleprimeirolivro.—Desculpe.Disseparaeufazerumfeitiço?Asra.Terwilligeracenoucomamão.—Ah,nãosepreocupe.Nãoestoupedindoparavocêabanarumavarinhanemfazer
um sacrifício com animal. Mas estou enormemente intrigada pela complexidade dealgumas das fórmulas e dos passos dos feitiços. Precisome perguntar se as pessoas defatoseguiamessasinstruçõesassimtãodetalhadas.Algumasdelassãobemcomplicadas.—Eusei—respondi,seca.—Digiteitodaselas.— Exatamente. Então, quero que faça um. Siga os passos.Veja quanto tempo
demora.Vejaseasmedidaspedidaschegamaserpossíveis.Depoisescrevaosdadosemumrelatório.Nessaparte,seiquevocêéexcelente.Nãosabiaoquedizer.Asra.Terwilligernãoestavapedindoqueeurealmenteusasse
magia,certamentenãodamesmamaneiraqueosvampirosusavam.Algodaquelejeitonemseriapossível.Magianãoeraocampodoshumanos.Eraantinaturale iacontraasleisdouniverso.Aquiloqueosalquimistasfaziamtinhabasenaciênciaenaquímica.Astatuagenstinhammagia,maseraamagiadosvampirosmoldadadeacordocomanossavontade—nãoausávamospornossaconta.Omaispertoquechegávamosdequalquercoisa sobrenatural eram as bênçãos que invocávamos para nossas poções. Ela só estavame pedindo para recriar um feitiço. Não era real. Não havia mal nenhum. E, noentanto... por que eume sentia tão sem jeito? Eume sentia como se ela estivessemepedindoparamentirouroubar.—Qualéoproblema?—elaperguntou.Porummomento,penseiemusarareligiãomaisumavez,masentãodesisti.Aquela
desculpa já tinha sido usada vezes demais naquele dia, apesar de dessa vez serparcialmentelegítima.—Nada,senhora.Ésóquepareceestranho.Elapegouoprimeirolivrodecouroeabriunametade.— Pronto. Faça este aqui... um amuleto de incineração. É complicado, mas pelo
menos você terá um projeto de artesanato quando terminar.Também deve ser fácilencontraramaiorpartedessesingredientes.Pegueiolivrodelaeoexaminei.—Ondevouarrumarurtiga?
—Pergunteaosr.Carnes.Eletemumjardimdoladodeforadaclassedele.Tenhocertezadequevaipodercompraroresto.E,sabecomoé,vocêpodemetrazerasnotasfiscais. Eu pago sempre que peço para você comprar algo. Já deve ter gastado umafortunaemcafé.Eu me senti um pouco melhor quando vi como os ingredientes eram aleatórios.
Urtiga. Ágata.Um pedaço de seda.Não tinha nada inflamável.Aquilo era bobagem.Assenticomacabeçaedisseaelaqueiriacomeçarnodiaseguinte.Nesseínterim,digiteiumacartaparaAmberwoodemnomedeKeith.Explicavaque
asnossascrençasreligiosasexigiamapresençadafamílianaigrejaduasvezesporsemanaequeJillprecisavareceberlicençadeseucastigonessasocasiões.TambémprometiaqueJill iria se apresentar à sra.Weathers antes e depois das saídas familiares. Quandoterminei,fiqueibemsatisfeitacomomeutrabalhoesentiquetinhafeitoKeithparecerbemmaiseloquentedoquemerecia.Liguei para ele quando as aulas terminaram e fiz um resumo breve do que tinha
acontecidocomJill.Naturalmente,elejogouaculpaemmim.—Vocêtemqueficardeolhonela,Sydney!—Keithexclamou.—Tambémdevo ficar aquidisfarçadadealuna,enãoposso ficarcomela todosos
segundosdodia.Nãovaliaapenamencionarqueeu,naverdade,tinhasaídocomAdrianquandoJill
fugiu—nãoqueKeithpudessefazeralgocontramim.Elejátinhacausadoseudano.—E,assim,euéquetenhoquesofrerasconsequências—eledisseemumtomde
vozexausto.—Euéqueficomalvistoporcausadasuaincompetência.—Malvisto?Vocênãotemquefazernadaalémdeassinaracartaqueeuescrevipara
você.Estáemcasaagora?Ouvaichegarlogo?Vouatéaílevarparavocê.Comoele tinhaseaborrecidocomaquestão,acheique ficaria todocontentecoma
oferta.Porisso,foiumasurpresaquandoelerespondeu:—Não,nãoprecisafazerisso.Voumeencontrarcomvocê.—Nãotemproblema.Possochegaràsuacasaemmenosdedezminutos.—Eunão
queriaqueele tivessemaisummotivoparacontinuarcoma ladainhadequeeuestavadandotrabalho,ouparareclamarcomosalquimistas.—Não—Keithdisse,comuma intensidadesurpreendente.—Voumeencontrar
comvocê.Estousaindoagoramesmo.Nosencontramosnasecretaria?—Certo—eudisse, totalmenteconfusacomamudançadeatitudedele.Seráque
elequeriavirconferirascoisasoualgodotipo?Exigirumainspeção?—Agentesevêdaquiapouco.Eujáestavanocampuscentral,entãochegueiàsecretariabemrápido.Fiqueisentada
do lado de fora, em um banco de pedra esculpido que me dava uma boa visão doestacionamento de visitantes, e esperei. Fazia calor ao ar livre, como sempre, mas asombraerabemagradável.Obancoficavaemumespaçobemgostoso,cheiodeplantas
floridaseumaplacaquediziaMemorialKellyHayes.Parecianova.—Oi,Sydney!KristineJuliaestavamsaindodoprédioeacenaramparamim.Elasseaproximaram
esesentaramaomeuladoparaperguntaroqueeuestavafazendo.—Estouesperandoomeuirmão.—Eleébonito?—Kristinperguntou,cheiadeesperança.—Não—respondi.—Dejeitonenhum.—É, sim—Julia retrucou.—Euovino alojamentono fimde semanapassado.
Quandovocêstodossaíramparaalmoçar.DemoreiumsegundoparaperceberqueelaestavafalandodeAdrian.—Ah.Éoutroirmão.Elesnãosãomuitoparecidos.—Éverdadequeasuairmãsemeteunamaiorconfusão?—Juliaperguntou.Deideombros.—Sóumpouco.Elanãopodesairdocampus,anãoserparacoisasdefamília.Podia
serpior.Mas...custouaelaumtrabalhodemodelo,entãoelaestátristeporisso.—Elaiatrabalhardemodeloparaquem?—Kristinperguntou.Eumeesforceiparalembrar.— Lia DiStefano. Haverá um desfile daqui a duas semanas, e ela queria que Jill
participasse.Maselanãopodeensaiarporquetemqueficaraqui.Osolhosdelassearregalaram.—As roupas da Lia são fantásticas!— Julia disse.— Jill tem que participar. Ela
podeganharcoisasgrátis.—Eujádisse.Elanãovaipoderdesfilar.Kristindeixouacabeçapenderparaolado,pensativa.—Mas e se fosse para a escola?Tipo uma coisa de carreira, vocacional?—Ela se
virouparaJulia.—Oclubedecosturaaindaexiste?—Achoquesim—Juliarespondeu,assentindotodaanimada.—Queboaideia.Jill
tem alguma atividade?—Além de um esporte,Amberwood também exigia que seusalunos participassem de atividades extracurriculares para que sua educação fossecompleta.—Temumclubedecosturaparaoqualelapoderiaentrar...eapostoqueelaconseguefazercomqueotrabalhocomLiacontecomoalgumtipodepesquisaespecial.Aotentarconsertarumfio soltoemseucardigãoutrodia, Jillquasedesfiouapeça
toda.—NãoachoqueJilllevejeitoparaisso.—Nãofazmal—Kristindisse.—Amaiorpartedaspessoasqueestálánemsabe
costurar.Mas,todososanos,oclubefaztrabalhovoluntáriocomosestilistaslocais.Asrta.Yamanisemdúvida iriapermitirqueaparticipaçãoemumdesfilecontassecomotrabalhovoluntário.ElaadoraLiaDiStefano.— E deixariam ela participar de qualquer jeito — Julia disse com expressão
triunfante.—Porqueseriaparaaescola.— Interessante— eu disse, imaginando se havia alguma chance de dar certo.—
VoudizeraJill.—Umcarroazulconhecidoencostounaentradaemelevantei.—Elechegou.Keith estacionou, saiudo carroe ficouolhando ao redor, àminhaprocura.Kristin
soltouumsombaixinhodeaprovação.—Elenãoénadamal.—Podeacreditar—eudisse,efuiemdireçãoaocarro.—Vocênãovaiquererse
metercomele.Keithlançouparaasmeninasalgoquesupostamentedeviaserumsorrisoencantador
eatépiscouparaelas.Noinstanteemqueelasse foram,osorrisodeledesapareceu.Aimpaciência irradiavadele,eera surpreendenteo fatodeelenãoestarbatendoopénochão.—Vamosandarlogocomisto—eledisse.—Seestácomtantapressa,devia termedeixado iratéoseuapartamentoquando
tivessemaistempo.Peguei a pasta que continha a carta e entreguei para ele com uma caneta. Keith
assinousemnemolharedevolveu.—Precisademaisalgumacoisa?—eleperguntou.—Não.—Não arrumemais nenhuma confusão— ele disse e abriu a porta do carro.—
Nãotenhotempoparaficarconsertandoosseuserros.—Efazdiferença?—euodesafiei.—Você já feztudoquepôdeparase livrarde
mim.Elemelançouumsorrisofrio.—Vocênãodeviatertentadomesacanear.Nemagora,nemdaquelavez.Com uma piscadela, ele deumeia-volta para ir embora. Fiquei só encarando, sem
conseguir acreditar em sua audácia. Era a primeira vez que ele fazia referência ao quetinhaacontecidotantosanosantes.— Bom, essa é a questão — gritei para a silhueta que se afastava. — Eu não
consegui sacanear com você daquela vez. Você se safou com facilidade. Não vaiacontecer de novo.Acha que estou preocupada com você? Você é que devia ficar commedodemim.Keith parou e se virou devagar paramim, como rosto inundadode descrença. Eu
nãooculpava.Eumesmafiqueiumpoucosurpresa.Nãomelembravadenenhumavezemque tivesse desafiado demaneira tão escancarada alguémque ocupava uma posiçãohierárquica mais elevada; e certamente não alguém que tinha tanto poder de afetar aminhasituação.—Tomecuidado—eledissefinalmente.—Possotornarasuavidabemdifícil.
Lanceiumsorrisogélidoparaele.— Isso você já fez, e é por isso que a vantagem éminha.Você já fez a pior coisa
possível...masaindanãoviutudoqueeusoucapazdefazer.Foiumblefeenormedaminhaparte,principalmenteporqueeu tinhaquasecerteza
dequeeleaindapodia fazercoisapior.Atéondeeusabia,elepodia fazercomqueZoefosse para lá amanhã. Ele podia fazer com que me mandassem para um centro dereeducaçãoemumpiscardeolhos.Mas,seeucaísse...elecairiacomigo.Ele ficou me encarando por alguns instantes, sem saber o que fazer. Não sei se
realmente o assustei ou se ele resolveu não se dignar a me dar uma resposta, masfinalmente ele se virou e foi embora de vez. Furiosa, entrei para entregar a carta nasecretaria.Asecretáriadarecepção,asra.Dawson,carimboue fezumacópiaparaeuentregaràsra.Weathers.Quandoelameentregouopapel,perguntei:—QueméKellyHayes?Orostodasra.Dawson,normalmentecheiodecovinhas,murchou.—Coitadinha.Elafoialunaaquiháalgunsanos.Minhamemóriadeuumestalo.—Foielaqueasra.Weathersmencionou?Agarotaquedesapareceu?Asra.Dawsonassentiu.—Foi terrível.Ela tambémera tãodoce...Tão jovem...Elanãomereciamorrer
daquelejeito.Nãomereciamorrer,dejeitonenhum.Detestavaterqueperguntar,maseranecessário.—Comoelamorreu?Querdizer, eu sei que foi assassinada,mas nunca soubedos
detalhes.—Provavelmente émelhor assim. Foi tudobemhorrível.—A sra.Dawsondeu
umaolhada ao redor, como se estivesse commedode semeter emconfusãopor fazerfofoca comuma aluna. Ela se debruçou por cima do balcão, naminha direção, comorostosério.—Acoitadinhasangrouatémorrer.Cortaramagargantadela.
20
Quaseperguntei:“Estáfalandosério?”. Mas,vamosencarar:elaprovavelmentenãobrincariacomaquele tipo de coisa, principalmente levando em conta como seu rosto estava sério.Outras perguntas surgiram naminhamente,mas as guardei paramim também. Elasnão eram assimtão estranhas, mas não queria chamar a atenção por demonstrar uminteresse fora do comumpor um assassinato terrível. Em vez disso, apenas agradeci àsra.Dawsonpelaajudacomacartaevolteiparaocampusleste.Asra.Weathersestavaemsuamesaquandoentreinoalojamento.Entregueiacarta
eelaaleuduasvezesantesdeguardaremseuarquivo.—Certo—eladisse.—Apenasgarantaqueasuairmãassinealistaquandosaire
quandovoltar,todasasvezes.—Podedeixar,senhora.Obrigada.—Hesitei, semsaberse iaemboraouse fazia
asperguntasquea informaçãodadapelasra.Dawsontinhasuscitado.Resolvi ficar.—Sra.Weathers...desdeodesaparecimentodeJill, ficopensandosobreaquelagarotadequemasenhoramefalou.Aquemorreu.FicopensandoquepodiatersidoJill.Orostodasra.Weatherssesuavizou.— Está tudo bem com Jill. Eu não devia ter lhe contado isso. Não era minha
intençãoassustá-la.—Éverdadequecortaramagargantadagarota?—É, sim— ela sacudiu a cabeça, tristonha.—Terrível, simplesmente terrível.
Nãoseiquemfazumacoisadessas.—Chegaramadescobriroqueaconteceu?Querdizer,haviaalgoforadocomuma
respeitodela?—Fora do comum?Não, na verdade, não.Quer dizer, era uma garota adorável.
Inteligente, bonita, popular. Era boa... não, ótima atleta.Tinha amigos, namorado.Mas nada que a fizesse se destacar especialmente como alvo.Claro que as pessoas quefazemcoisashorríveisassimprovavelmentenãoprecisamdemotivos.
—Éverdade—murmurei.Fuiatéomeuquartodesejandoqueasra.Weatherstivessedescritoumpoucomaisa
belezadeKelly.Naverdade,queriasaberseKellyeraMoroi.Sefosse,tinhaesperançadequeasra.Weatherstalvezcomentassesobrecomoeraaltaoupálida.Deacordocomos relatos de Clarence e dos alquimistas, não havia nos registros nenhumMoroi quetivesse morado na área de Palm Springs. Mas isso não significava que alguém nãopudesseterpassadodespercebido.Teriaqueencontrararespostasozinha.SeKellyfossemesmoMoroi,então já teríamos trêsgarotasMoroimortasdamesmamaneirano suldaCalifórniaemumperíodorelativamentecurto.Clarencepodiadefendersuateoriadecaçadoresdevampiros,mas,paramim,aquelepadrãoindicavaclaramenteosStrigoi.Jillestavanoquarto,cumprindoseucastigo.Quantomaiso tempopassava,menos
me sentia irritada com ela.Ter acertado a questão do fornecimento ajudou. Ficariamuitomaisaborrecidasenãopudessetirá-ladocampus.—Qualéoproblema?—elaergueuosolhosdolaptopeperguntou.—Porquevocêachaqueháalgumproblema?Elasorriu.— Você está com aquela cara. É uma ruguinha que aparece entre as suas
sobrancelhasquandoestátentandodecifraralgumacoisa.Sacudiacabeça.—Nãoénada.— Sabe — ela falou —, talvez todas essas responsabilidades que você tem não
seriamtãoruinssevocêconversassesobreelasedeixasseoutraspessoasajudarem.—Nãoébemassim.Ésóalgoqueestoutentandodesvendar.—Conteoqueé—elaofereceu.—Podeconfiaremmim.Não era uma questão de confiança. Era uma questão de deixá-la preocupada sem
necessidade.Asra.Weathers tinhamedodemeassustar,mas sehaviamesmoalguémmatando garotas Moroi, não era eu que estava em perigo. Olhei para Jill e para seuolhardeterminadoechegueiàconclusãodeque,seelaeracapazdevivercomofatodeque seu próprio povo estava tentando matá-la, seria capaz de lidar com aquilo.Apresenteiaelaumresumobrevedoqueeusabia.—MasvocênãosabeseKellyeraMoroi—eladisse,quandoterminei.—Não. Essa é a questão central—me sentei de pernas cruzadas na cama como
laptop.—Vou conferir os nossos registros e os jornais locais para ver se encontroalguma foto dela.A única informação que a sra.Weathersme deu é que ela era umaótimaatleta.—Oque pode significar que ela não eraMoroi— Jill disse.—Quer dizer, veja
comoomeudesempenhonosoléhorrível.Eseelanãofosse?Suasteoriasdependemdofatodeela serMoroi.Mase seela fossehumana?Edaí?Podemos ignorar?Aindapodeseramesmapessoa...masoquesignificariaseoassassinotivessematadoduasMoroie
umahumana?Jilltinharazão.—Nãosei—respondi.A minha pesquisa não demorou muito. Os alquimistas não tinham registro do
assassinato, mas, bom, não teriam mesmo se Kelly fosse humana. Muitos jornaistraziamreportagensarespeitodela,masnãoencontreinenhumafoto.—Equetalumanuáriodaescola?—Jillperguntou.—Alguémdeveterumpor
aí.—Naverdade,essaéumaideiaexcelente—eudisse.—Estávendo?Eudisseparavocêquesouútil.Sorriparaelaeentãomelembreidealgo.—Ah,tenhoboasnotíciasparavocê.Talvez.Fizumresumorápidodo“plano”deKristineJuliasobreelaentrarparaoclubede
costura.Jillsealegrou,masdemaneiracautelosa.—Vocêachamesmoquepodedarcerto?—Sótemumjeitodedescobrir.—Nuncatoqueiemumamáquinadecosturanavida—eladisse.—Achoqueéasuaoportunidadedeaprender—disseaela.—Outalvezasoutras
garotasjáfiquemfelizesportervocêporpertocomoamodelodaturma.Jilldeuumarisadinha.—Comovocêsabequesómeninasseinscrevemnisso?—Nãosei—reconheci.—Sóestoumeatendoaosestereótiposdegênero,acho.Meu telefone tocou e o número da sra.Terwilliger piscou na tela.Atendi e jáme
prepareiparabuscarcafé.—Srta.Melbourne?—eladisse.—SevocêeoseuirmãopuderemiratéaCarlton
daqui a uma hora no máximo, poderão falar com alguém na secretaria de admissõesantesquefeche.Vocêsconseguem?Dei uma espiada no relógio e imaginei queAdrian não devia estar fazendonada de
importante.—Hum,conseguimos.Conseguimos,sim,senhora,comcerteza.Obrigada.Muito
obrigadamesmo.—Ohomemcomquemvocêsdevem falar se chamaWesRegan.—Ela fez uma
pausa.—Eseráquepodemetrazerumcappuccinoquandovoltar?Garanti a ela que sim e então liguei para Adrian e dei instruções para que se
aprontasseemeesperasse.Comrapidez,tireiouniformeevestiumablusaesaiaatéosjoelhos.Deiumaolhadanomeureflexoepercebiqueele tinharazão.Realmente,nãohaviamuitadiferençaentreasroupasdeAmberwoodeomeuguarda-roupanormal.—Queria poder ir junto— Jill disse, esperançosa.—Gostaria de verAdrian de
novo.—Masvocênãoovêtodososdias,decertaforma?— É verdade— respondeu.— Mas eu ainda não consigo entrar na cabeça dele
quando quero. Só acontece de um jeito aleatório. E, de todo modo, não é a mesmacoisa.Elenãopodemeresponderpormeiodolaço.Quaserespondiqueaquilopareciamelhordoqueestarpertodelepessoalmente,mas
acheiquenãoiriaajudaremnada.Adrianestavaprontopara sairquandocheguei àcasadeClarence,animadoeávido
poração.—Você não encontrou com o seu amigo por pouco — ele disse ao entrar no
Pingado.—Quem?—Keith.Fizumacareta—Elenãoémeuamigo,naverdade.—Ah,jura?Amaioriadenóspercebeuissonoprimeirodia,Sage.Eume senti um pouco mal com isso. Uma parte de mim sabia que eu não devia
permitir que osmeus sentimentos pessoais em relação a Keith semisturassem com otrabalho.Nóséramosmaisoumenoscolegas,edevíamosnosmantercomoumaequipeunidaeprofissional.Aomesmotempo,estavameiofelizporessaspessoas—apesardeserem vampiros e dampiros—não acharemque eu era simpática comKeith. Eu nãoqueriaqueelesachassemquenóstínhamosmuitacoisaemcomum.Eudefinitivamentenãoqueriatermuitoemcomumcomele.OsignificadocompletodaspalavrasdeAdrianderepentemeocorreu.—Espere.Eleestavaaquiagorahápouco?—Fazmeiahora.Deviateridoparaládiretodaescola.Tivesortedenãomeencontrarcomele.Algo
mediziaqueelenãoiriaaprovarminhaajudacomaeducaçãodeAdrian.—Oqueeleveiofazeraqui?—Sei lá.Acho que veio ver comoClarence estava.O velho não anda se sentindo
muitobem.—Adriantirouummaçodecigarrosdobolso.—Vocêseincomoda?—Meincomodo,sim—respondi.—OquehádeerradocomClarence?— Não sei, mas ele anda descansando muito, e isso deixa as coisas ainda mais
entediantes.Querdizer,elenãoéamelhorpessoaparaseconversar,masalgumasdashistórias malucas dele eram interessantes — Adrian ficou melancólico. —Principalmentecomuísque.— Mantenha-me informada sobre como ele está indo — murmurei. Fiquei
imaginando se era por isso que Keith estava com tanta pressa antes. Se Clarenceestivesse com alguma doença séria, nós teríamos que tomar providências junto a um
médicoMoroi. IssocomplicariaonossoarranjoemPalmSpringsporqueou íamos terque transferirClarenceparaoutro lugar, ou trazer alguémpara cá. SeKeith estivessetrabalhando nisso, então não precisava me preocupar... mas eu simplesmente nãoconfiavaneleparafazerumbomtrabalhoemrelaçãoanada.—Não sei como você aguenta esse cara—Adrian disse.—Eu antes achava que
vocêerafracaesimplesmentenãorevidava...mas,agora,sinceramente,achoquevocêébemdurona.Épreciso teruma forçados infernosparanão reclamarenãoexplodir.Eunãotenhotantoautocontroleassim.—Vocêtemmaisdoqueimagina—eudisse,umpoucosemjeitocomoelogio.Eu
meculpavatantopeloqueconsideravafaltadereaçãoqueaté játinhameocorridoqueaquilotivesseadquiridoforçaprópria.FiqueiaindamaissurpresadetersidonecessárioqueAdrian fizesse aquela observação paramim.—Eu sempre ando na linha.Omeupai,eosalquimistas,sãomuitorígidosemrelaçãoaobediênciaeaseguirasordensdossuperiores. Estou nomeio de uma saia justa dupla porque estou pisando emovos comeles,entãoésuperimportantequeeunãocrieagitação.—PorcausadaRose?—Otomdeleeracontroladocommuitocuidado.Assenti.—É.Oqueeufizfoicomotraiçãoaosolhosdeles.—Do jeito que você fala, parecemuito sério mesmo.—Dava para ver que ele
estavameexaminandodecantodeolho.—Valeuapena?—Atéagora,sim.—Erafácildizeraquilo,jáqueZoeaindanãotinhasidotatuada
e eu não tinha pisado em nenhum centro de reeducação. Se essas coisasmudassem, asminhasrespostaspoderiamseroutras.—Foiacoisacertaa fazer.Achoque justificouumaaçãoradical.—EutambémdesrespeiteimuitasregrasparaajudarRose—eledissecomumtom
de preocupação na voz.— Fiz aquilo por amor.Amor mal direcionado, mas, aindaassim, amor. Não sei se foi algo tão nobre quanto a sua motivação. Principalmenteporque ela estava apaixonada por outra pessoa. A maior parte das minhas “açõesdramáticas”nãofoiemnomedecausanenhuma.Amaiorpartedelasfoisóparairritarosmeuspais.Percebi que,na verdade, fiquei comumpoucode inveja daquilo.Eunão conseguia
nem imaginar provocar em meu pai algum tipo de reação— apesar de certamentedesejarisso.—Achoqueoamorésempreumarazãonobre—disseaele.Euestavafalandode
maneiraobjetiva,éclaro.Nunca tinhameapaixonado,entãonão tinha referênciaparaavaliar.Combase no que eu tinha observado em outras pessoas, achava que devia seralgo maravilhoso... mas, por enquanto, estava ocupada demais com o trabalho pararepararnaquelaausência.Euficavaimaginandosenãodeviamesentirdecepcionadacomaquilo.—Eachoquevocêaindatemtempodesobraparafazeroutrascoisasnobres.
Eledeurisada.—Nuncapenseiqueaminhamaior torcedora seriaalguémquemeconsideravado
maleantinatural.Entãoéramosdois.Hesitante,conseguifazerumaperguntaquequeimavadentrodemim.—VocêaindaamaRose?Além de não saber o que era estar apaixonada, também não sabia quanto tempo
demoravaparaserecuperardoamor.OsorrisodeAdriandesapareceu.Seuolharsevoltouparadentro.—Sim.Não.Édifícilsuperaralguémcomoela.Elasurtiuumefeitoenormesobre
mim,tantobomquantoruim.Édifícilseguiremfrente.Tentonãopensarmuitosobreelaemtermosdeamoreódio.Oprincipaléqueestoutentandotocaraminhavida.Osresultados,infelizmente,nãosãoregulares.Logochegamosàfaculdade.WesReganeraumhomemgordocomcabelogrisalho,
que trabalhava na secretaria de matrículas de Carlton.A sra.Terwilliger tinha dadoaulasparticularesdegraçaparaasobrinhadeWesduranteumverão,eWesachavaquedeviaumfavoraela.— O negócio é o seguinte— ele disse quando nos acomodamos em cadeiras na
frentedamesadele.Adrianusavacalçadesarjaecamisasocialcordesálvia,oqueteriasidoummodeloótimoparaasentrevistasdeemprego.Eraumpoucotardedemaisparaisso. — Eu não posso simplesmente matricular você. Os processos de inscrição nafaculdade são longos e exigem históricos escolares, e não vai ter como você conseguirissoemdoisdias.Oquepossofazeréadmiti-locomoauditor.—Tipodoimpostoderenda?—Adrianperguntou.—Não.Auditorououvintesignificaquevocêfrequentaasaulasefazaslições,mas
nãorecebenota.Adrian abriu a boca para falar, e só fiquei imaginando que tipo de comentário ele
teriaarespeitodeestudarsemrecebercrédito.Eumeapresseieminterrompê-lo.—Edepois,oqueacontece?—Depois,sevocêconseguircumpriroprocessodeadmissão,em,digamos,umaou
duassemanas,eseforaceito,possomudarasuasituaçãoparaadealuno.— E o auxílio financeiro?—Adrian se inclinou para a frente e perguntou.— É
possívelobteralgumdinheiroparaisso?—Sevocêsequalificar,sim—Wesrespondeu.—Masvocêsópodeentrarcomo
pedidodepoisqueforaceito.Adrianlargouocorponacadeiraeeufuicapazdeadivinharseuspensamentos.Sea
matrícula ia demorar umas duas semanas, sem dúvida haveria atraso no pedido deauxílio também.Adrian iria ter que passar pelos menos mais ummês morando comClarence,eesseprovavelmenteeraumprazootimista.FiqueiesperandoqueAdrianse
levantassee colocasse tudoaperder.Emvezdisso,umaexpressãode resolução tomoucontadeseurosto.Eleconcordou.—Certo.Vamoscomeçarcomessenegóciodeouvinte.Fiqueiimpressionada.Também fiquei com inveja quando Wes trouxe o catálogo de cursos. Tinha
conseguidomeconvenceraficarcontentecomasaulasdeAmberwood,masolharparaas oportunidades de uma faculdade de verdade me mostrou que as escolas eram doismundosdiferentes.Asaulasdehistóriaerammaisconcentradasemaisprofundasdoqueeupoderia ter imaginado.MasAdriannão tinha interesse por elas.Ele imediatamenteficoudeolhonodepartamentodearte.Acabou se inscrevendo em dois cursos introdutórios: um sobre pintura a óleo, e o
outro,aquarela.Asaulaseramtrêsvezesporsemanaeumaemseguidadaoutra,oqueerabemconveniente.—Vaisermaisfácilassim,jáquevouterquevirdeônibus—eleexplicouquando
nóssaímos.Olheiespantadaparaele.—Vocêvaivirdeônibus?Elepareceusedivertircomaminhasurpresa.— E de que outro jeito eu viria?As aulas são durante o dia.Você não pode me
trazer.PenseinacasaafastadadeClarence.—Masondediabosvocêvaipegaroônibus?—Tem uma parada a menos de um quilômetro de distância. Dali, posso fazer a
baldeação para outro ônibus que vai para Carlton. O trajeto todo demora mais oumenosumahora.Confesso que aquilo me deixou sem palavras. Fiquei surpresa por Adrian ter
pesquisado tanto assim, isso semmencionar que estava disposto a ter tanto trabalho.Alémdisso, no caminhode volta, ele não soltounenhumcomentário para dizer comoaquiloseriainconvenienteouquantotempoteriaqueesperaratépodersemudardacasadeClarence.Quando voltei aAmberwood, fiquei contente de dar a Jill a notícia a respeito do
sucesso universitário de Adrian — não que ela precisasse que eu dissesse algo,provavelmente.Comolaço,elajádeviasabermaisdoqueeu.Aindaassim,elasemprese preocupava com ele e sem dúvida iria ficar contente de ver algo dando certo paraAdrian.Jill não estava no quarto quando cheguei, mas um bilhete me dizia que ela estava
estudando em outro lugar do alojamento.A única parte positiva do castigo era quelimitava os lugares em que ela poderia estar. Resolvi aproveitar aquela oportunidadeparafazeroamuletomalucodasra.Terwilliger.Faziadoisdiasqueeuestavajuntando
os ingredientese, juntocomacooperaçãodaprofessoradebiologia,a sra.Terwilligertambém tinha garantido o meu acesso a um dos laboratórios de química. Não havianinguémláàquelahoradanoite,por issoeutinhaespaçoetranquilidadedesobraparaprepararafórmula.Como tínhamos observado, as instruções eram extremamente detalhadas e— na
minha opinião— supérfluas. Não era suficiente apenas medir as folhas de urtiga.Asinstruçõespediamqueelas“descansassemduranteumahora”e,duranteesse tempo,eutinha que ficar dizendo para elas“em vós, chamas eu coloco” a cada dezminutos. Eutambém tinha que ferver a pedra de ágata “para infundi-la de calor”. O resto dasinstruçõeseraparecidoeeusabiaquenãoteriacomoasra.Terwilligerdescobrirseeutinhaounãoseguidotudoaopédaletra—principalmenteoscânticos.Mesmoassim,opropósito daquela tarefa era relatar como agia um praticante antigo.Assim, eu seguitudo à risca, e me concentrei tanto em executar cada passo com perfeição que logoentreiemumtranseemquenadaexistiaalémdofeitiço.Terminei duas horas depois e fiquei surpresa de ver como tinha ficado exausta.O
resultado final certamente não parecia justificar toda a energia que eu tinha gastado.Finalizeicomumacordinhadecouroqueamarravaumsaquinhodesedacheiodefolhasepedras.Leveiaquiloeasminhasanotaçõesdevoltaparaoquartonoalojamento,coma intenção de escrever o relatório para a sra.Terwilliger e deixar a tarefa para trás.Quando cheguei ao quarto, engoli em seco ao ver a porta.Alguém tinha pegado tintavermelha e desenhado morcegos e rostos com caninos afiados na porta inteira.Rabiscadasnafrente,emletrasgrandes,estavamaspalavras:
garotavampira
Empânico, irrompi quarto adentro. Jill estava lá— junto com a sra.Weathers eoutraprofessoraqueeunão conhecia.Estavamrevirando todas asnossas coisas. Fiqueiencarando,descrente.—Oqueestáacontecendo?—perguntei.Jillsacudiuacabeça,comumaexpressãototalmenteenvergonhada,enãoconseguiu
responder.Parecequeeutinhachegadoaofinaldabusca,porqueasra.Weathersesuacompanheiralogoterminaramecaminharamatéaporta.Fiqueicontenteporterlevadomeus equipamentos de alquimista comigo para o laboratório naquela noite. O kitcontinha algumas ferramentas de medida que eu achei que talvez fosse precisar.Certamentenãoqueriaexplicarporquemantinhaumacoleçãodesubstânciasquímicasparaasresponsáveispelodormitório.—Bom—asra.Weathersdisse,severa.—Parecenãohavernadaaqui,masposso
fazer outra busca mais tarde... por isso, não tenha nenhuma ideia. Já está bemencrencadasemadicionarmaisumaacusaçãoàlista.—ElasuspirouesacudiuacabeçaparaJill.—Estoumuitodecepcionadacomvocê,srta.Melrose.Jillficoupálidacomopapel.
—Estoudizendo.Étudoumerro!—Vamos torcer para que seja mesmo — a sra.Weathers falou, de maneira
agourenta.—Vamostorcerparaqueseja.Estoumeiotentadaamandarquevocêlimpeovandalismodoladodeforadaporta,mascomonãotenhonenhumaprovaconcreta...bom,vamospedirparaafaxineiradarcontadissoamanhã.Quandoasnossasvisitasseforam,imediatamentequestionei:—Oqueaconteceu?Jilldesabounacamaegemeu.—Laurelaconteceu.Eumesentei.—Explique.— Bom, eu liguei para a biblioteca para saber se eles tinham aqueles anuários...
sabe, com Kelly Hayes? Acontece que eles costumam ter, mas todos tinham sidoretiradospelaequipedo jornalparaumaediçãode aniversáriodeAmberwoodoualgoassim.Evocênãovaiacreditarquemestáàfrentedoprojeto:Laurel.—Temrazão—eudisse.—Jamaisteriaadivinhado.Elanãoestánoprimeiroano
deinglês?—Laureljáeraalunadoúltimoano.—Está,sim.—Achoquetodomundoprecisaterumaatividade—balbuciei.Jillassentiu.—Mas,bom,asrta.Yamaniestavanoprédio,entãofuifalarcomelaparaverseeu
podiaentrarparaoclubedecosturaetrabalharparaLia.Elaficoutodaanimadaedissequeiadarumjeito.— Bom, já é alguma coisa— eu disse com cautela, ainda sem saber muito bem
comoaquilotinhalevadoavandalismoeaumabuscanonossoquarto.—Quando eu estava voltando, cruzei comLaurel no corredor.Resolvi arriscar...
cheguei pra ela e disse: “Olhe, eu sei que nós tivemos as nossas diferenças, mas eurealmenteestouprecisandodeumaajuda”.Daíeuexpliqueiqueprecisavadosanuárioseperguntei se podia pegá-los emprestados só por esta noite e que devolveriaimediatamente.A isso, eu não disse nada. Com certeza foi uma atitude nobre e corajosa de Jill,
principalmente depois de eu tê-la incentivado a ser superior a Laurel. Infelizmente, eunãoachavaqueLaurelteriaamesmaatitudemaduraemrelaçãoaela.Euestavacerta.—Elamedisse...bom,emtermosbemexplícitos,dissequeeununcavouveresses
anuários.—Jillfezumacareta.—Elamedissealgumasoutrascoisastambém.Entãoeu,hum,chameiLaureldevadiadelirante.Provavelmentenãodeviaterfeitoisso,mas,bom, elamereceu! Bom,mas daí ela foi falar com a sra.Weathers com uma garrafade...seilá.Achoqueera schnappsdeframboesa.Eladissequeeutinhavendidoparaelae que tinhamais nomeu quarto.A sra.Weathers não podiame castigar sem provas
concretas,masdepoisde a sra.Chang terme acusadode estarde ressacanoprimeirodia,asra.Weatherschegouàconclusãodequeaquiloerasuficienteparadarumabuscanoquarto.Sacudiacabeça,descrente,comairritaçãocrescendodentrodomeupeito.— Para um lugar tão prestigioso e de elite, esta escola realmente tira conclusões
apressadasarespeitodequalqueracusação!Querdizer,acreditamemqualquercoisaquequalquerpessoadizsobrevocê.Edeondeveioatintanaporta?Lágrimasdefrustraçãobrilharamnosolhosdela.—Ah, foi Laurel, é claro. Ou, sei lá, alguma amiga dela.Aconteceu enquanto
Laurelestavafalandocomasra.Weathers,entãoéclaroqueelatemumálibi.Vocênãoacha...nãoachaquealguémestádesconfiandodeverdade,acha?Antes,vocêtinhaditoqueerasóumabrincadeirademaugosto...equeoshumanosnemacreditamemnós...certo?—Certo—respondinoautomático.Maseuestavacomeçandoameperguntarseeraverdade.Desdeotelefonemadomeu
pai,quandoelemencionouquehaviahumanosquedesconfiavamequenãohaviacomosilenciá-los, fiquei me perguntando se eu tinha me apressado demais em desprezar apiadinha de Laurel. Será que ela simplesmente tinha encontrado uma piada cruel paramaltratarJill?Ouseráqueelaeraumdesseshumanosquesuspeitavamdaexistênciadomundodosvampirosepodiacausarmuitosproblemasporcausadisso?Euduvidavaquealguémfosseacreditarnela,masnósnãopodíamosarriscaratrair a atençãodealguémassim.SerápossívelelarealmentepensarqueJillévampira?AexpressãodesconsoladadeJillsetransformouemraiva.—Talvez eudevessefazeralgumacoisaarespeitodeLaurel.Háoutrasmaneirasde
mevingardelaalémdefazeraáguacongelar.—Não—me apressei emdizer.—Não se rebaixe a isso.Vingança é uma coisa
mesquinha, e você é melhor do que isso. — Além do mais, pensei, se houver maisqualquer atividade sobrenatural, Laurel pode perceber que as provocações dela erammaisverdadeirasdoquepensavanocomeço.Jillmelançouumsorrisotriste.—Você ficamedizendo isso.Masnãoachaquealgoprecisa ser feitoemrelaçãoa
Laurel?Ah,sim.Achavaquesim,comtodaacerteza.Aquilo tinha ido longedemais,eeu
estavaerradapornãodarmuitaimportânciaaofato.Jilltinharazãoaodizerquehaviaoutras maneiras de se vingar. E eu estava certa ao dizer que vingança era uma coisamesquinha e que Jill não devia usar isso para se consolar. Era por isso que eu iria mevingar.—Eucuidodisso—disseaela.—Vou...voupediraosalquimistaspara fazerem
umareclamaçãoformalemnomedosnossospais.Elapareceuduvidar.—Evocêachaqueissovaidarcontadasituação?— Positivo — respondi. Isso porque a reclamação traria algo a mais. Dei uma
olhadanorelógioepercebiqueestavatardedemaisparavoltaraolaboratório.Nãofaziamal.Euapenasajusteimeudespertadorparabemcedo,comaintençãodemelevantareiratéláantesdeasaulascomeçarem.Eutinhamaisumaexperiênciaparafazernofuturo,eLaurelseriaaminhacobaia.
21
Misturaroqueeraprecisofoifácil.Colocarondeeuqueriademorouunsdoisdias.PrimeirotivequeprestaratençãonotipodexampuqueLaurelusavanoschuveirosdaeducaçãofísica.Aescolaforneciaxampuecondicionador,claro,maselanãoconfiavaemalgoassimtãobanal para usar em seu cabelo precioso.Quandodescobri amarca que ela usava, fui auma lojadeprodutosdebeleza localpara comprarum igual, e joguei aquele conteúdocaropeloralo.Enchiofrascocomaminhafórmulacaseira.OpassoseguinteeratrocarofrascocomodeLaurel.RecruteiKristinparaisso.O
armário dela ficava ao lado do de Laurel na educação física, e ela estavamais do quedispostaameajudar.EmparteporqueelanãogostavadeLaurel,assimcomonós.Mastambémporque, desde que eu a tinha salvado de sua reação à tatuagem,Kristin tinhadeixado claroque tinhaumadívida comigo e iriame ajudar emqualquer coisa que euprecisasse.Eunãogostavadaideiadeelamedeveralgo,masaajudaveioacalhar.Elaencontrou uma oportunidade quando Laurel desviou o olhar do armário aberto e,disfarçadamente, fez a troca.Nós então só tivemosque esperar até apróximavezqueLaurelusasseoxampuparaverosresultadosdomeutrabalhomanual.Nessemeio-tempo,aminhaoutraexperiênciadelaboratórionãoobteveexatamente
oreconhecimentoqueeuesperava.Asra.Terwilligeraceitouomeurelatório,masnãooamuleto.—Elenãomeservedenada—elaobservou,aoerguerosolhosdospapéisqueeu
tinhaentregadoaela.—Bom...paramimtambémnão,comcerteza,senhora.Elapousouospapéisnamesa.—Istoaquié tudoverdade?Vocêseguiucadapassocomprecisão?Certamentenão
tenhocomosabersevocê,sabe,passouporcimadealgunsdetalhes.Sacudiacabeça.—Não.Euseguitodosospassos.
—Muitobem,então.Parecequevocêarrumouumamuletodefazerfogo.—Senhora!—eudisse,emtomdereclamação.Elasorriu.—Oquedizemasinstruções?Parajogarerecitaroúltimoencanto?Vocêsabequal
é?—“Em chamas, em chamas”— respondi prontamente. Por ter digitado o feitiço
paraasanotações,edepoisaindarecriá-lo,eradifícilnãoterdecoradotudo.Deacordocom o livro — que era uma tradução para o inglês de um texto em latim —, alinguagemnãoimportavamuito,desdequeosignificadofosseclaro.— Bom, então pronto. Experimente um dia desses e veja o que acontece. Só não
botefogoemnadaquepertençaàescola.Porqueissonãovaisernadaseguro.Erguioamuletopelacordinha.—Mas isso aqui não é real. É uma bobagem. É ummonte de lixo junto em um
saquinho.Eladeudeombros.—Quemsomosnósparaquestionarosantigos?Fiquei encarando-a, tentando descobrir se estava fazendo uma piada. Soube que ela
eraexcêntricadesdeoprimeirodia,mas,aindaassim,passavaa impressãodeserumapesquisadoraséria.—A senhora não pode acreditar nisso. Magia desse tipo... não é real. — Sem
pensar, completei: — E mesmo que fosse, senhora, seres humanos não devem ficarbrincandocompoderesassim.Asra.Terwilligerficouváriosmomentosemsilêncio.—Vocêacreditamesmonisso?Toqueinacruzpenduradanomeupescoço.—Fuicriadaassim.—Entendi. Bom, então, pode fazer o que quiser com o amuleto. Jogue fora, doe
paraalguém,façaexperiênciascomele.Independentedequalquercoisa,euprecisodesserelatoparaomeulivro.Obrigadapordedicarseutempoaisso.Comosempre,vocêfezmaisdoqueeraexigido.Coloqueio amuletonabolsa ao sair, sem termuita certeza a respeitodoque fazer
comele.Erainútil...e,noentanto,tambémtinhamecustadomuitotempo.Euestavadecepcionada por ele não ser mais importante para a pesquisa dela. Tanto esforçodesperdiçado.Masoúltimodosmeusprojetosmostrouseuresultadonodiaseguinte.Emquímica
aplicada,GregSladeealgunsdosamigosdeleentraramnaclassecorrendobemquandoosinaltocou.Aprofessoraolhoufeioparaeles,quenemligaram.Sladeestavaseexibindocom a tatuagem de águia, mostrando a pele para todo mundo ver.A tinta brilhavaprateada mais uma vez.Ao lado dele, um de seus amigos também mostrava, todo
orgulhoso,outra tatuagemprateada.Eraumparde adagas cruzadasestilizadas, sóumpouquinhomenos cafona do que a águia. Era omesmo amigo quemais cedo, naquelamesmasemana,estavapreocupadodenãoconseguirfazeratatuagemdele.Parecequeascoisas tinham se resolvido com o fornecedor. Interessante. Parte do motivo para euaindanão ter feitomeu relatório aos alquimistas era esperarpara ver se aNevermoreiriareporoestoquequeeuroubei.—Éimpressionante—oamigodeSladedisse.—Ovigorquedá.—Seicomoé—Sladeocumprimentoubatendoseupunhofechadonodele.—Bem
atempodeamanhã.Treyobservavaosdoiscomexpressãosombria.—Oquetemamanhã?—sussurreiparaele.Eleolhouparaosdoiscomdesprezodurantealgunsmomentosantesdesevirarpara
mim.—Vocêmoraembaixodeumapedra?Éonossoprimeirojogoemcasa.— Claro que sim — eu disse.A minha experiência no ensino médio não seria
completasemofurorcausadopelosjogosdefutebolamericano.—Eissovaisermuitobomparamim—eleresmungou.—Vocênãoestámaisusandocurativo—observei.—É,maso treinadorestáme fazendopegar leve.Alémdomais, agora souquase
umpesomorto—eleapontoucomacabeçaparaSladeeoamigodele.—Comoéqueelesnão semetememconfusãoporcausadas tatuagens?Elesnão seesforçamnemumpouco para esconder. Esta escola não tem mais disciplina. Estamos praticamente naanarquia.Eusorri.—Praticamente.—Oseuirmãodeviaestarnotime,sabia?Euovinaeducaçãofísica.Elepodiaser
umastrodoesportesetivesseotrabalhodeconcorrernotesteparaalgumamodalidade.—Elenãogostade chamar a atenção—expliquei.—Mas eleprovavelmente vai
assistiraojogo.—Vocêvaiaojogo?—Provavelmentenão.Treyarqueouumasobrancelha.—Temalgumencontrocomumgostosão?—Não!Ésóque...bom,eunãogostodeassistiraesportes.Eachoquedevoficar
comJill.—Vocênãovainemparatorcerpormim?—Vocênãoprecisadaminhatorcida.Treymelançouumolhardedecepçãocomoresposta.—Talvezsejamelhorassim—eledisse.—Porquevocênãomeveriajogandocom
meuníveldeexcelênciatotal.—Éumapena—concordei.—Ah,parelogocomessesarcasmo—elesuspirou.—Meupaiéquevaificarmais
decepcionado.Háexpectativanafamília.Bom,issoeraalgocomqueeueracapazdemeidentificar.—Eletambémjogafutebol?—Quenada,temmenosavercomofutebolemsiemaiscomestarsemprecoma
melhorformafísica.Seromelhor.Estarprontoparaserchamadodeúltimahora.Seromelhor do time estava sendo uma maneira de deixá-lo orgulhoso... até as tatuagenscomeçarem.—Vocêébomsemaajudadenenhumatatuagem.Eledeviasesentirorgulhosode
todojeito—eudisse.—Vocênãoconheceomeupai.—Não,masachoqueconheçoalguémigualzinhoaele—sorri.—Sabe,achoque,
nofinaldascontas,estouprecisandoiraumjogodefutebol.Treysimplesmentesorriueaaulacomeçou.Odia passou calmo,mas Jill veio correndo atémim assim que entrei no vestiário
paraaeducaçãofísica.— Lia me procurou! Ela pediu para eu ir lá hoje à noite. Ela já fez os ensaios
regulares com as outras modelos, mas achou que eu podia aproveitar uma sessãoespecial,jáquenãotenhonenhumaexperiência.Claroqueonegócioéque...eu...sabecomoé,precisodecarona.Vocêachaque...Querdizer,seráquevocêpode...—Claro—respondi.—Éparaissoqueestouaqui.—Obrigada,Sydney!—elameabraçou,emedeixouespantadacomogesto.—
Euseiquevocênãotemmotivonenhumparameajudardepoisdetudoquefiz,mas...—Tudobem, tudobem—eudissemeio sem jeitoedei tapinhasnoombrodela.
Respireifundoparamerecompor.PensenissocomoJilldandoumabraçoemvocê.Nãocomoumavampiradandoumabraçoemvocê.—Ficocontenteemajudar.—Vocêsduasqueremprivacidade?—Laurelcaçoouaoentrarcomseuséquito.—
Sempreacheiquetinhaalgodeestranhonafamíliadevocês.Jilleeunosseparamoseelaficoutodavermelha,coisaquesóserviuparaelasdarem
aindamaisrisada.—MeuDeus,comoeudetestoessasmeninas—Jilldissequandoelasabriramuma
distânciasuficienteparanãoescutar.—Eurealmentequeromevingardelas.—Paciência—murmurei.—Elasvãoreceberotrocodelasumdiadesses.—Dei
umaolhadanoarmáriodeLaurelefiqueipensandoque“umdiadesses”podiaacontecerbemembreve.Jillsacudiuacabeça,maravilhada.—Nãoseicomovocêconsegueperdoartantoassim,Sydney.Nadateatinge.
Eusorri, imaginandooqueJill iriapensar se soubesseaverdade—queeunãoeraassim tãode“perdoar” quantoparecia.E não só noquedizia respeito aLaurel. Se Jillqueriapensarissodemim,entãoquefosse.ClaroqueaminhafachadadeboazinhaquedáaoutrafacesedespedaçouquandooberroestridentedeLaurelencheuovestiárionofimdaaula,umahoramaistarde.Foi quaseuma repetiçãodo incidentedo gelo.Laurel saiudo chuveiro às lágrimas,
enroladaemumatoalha.Elacorreuhorrorizadaatéoespelho,segurandoocabelobempertodele.—Qualéoproblema?—umadasamigasdelaperguntou.—Vocênãoestávendo?—Laurelexclamou.—Temalgodeerrado...nãoparece
certo.Éóleo,ou...nãoseioqueé!Ela pegou um secador e secou uma mecha enquanto todas nós observávamos com
interesse. Depois de alguns minutos, os fios compridos estavam secos, mas mal davapara ver. Realmente parecia que o cabelo dela estava coberto de óleo ou de gordura,como se não tivesse sido lavado havia semanas.O cabelo que normalmente brilhava eesvoaçava agora escorria em molas soltas e feias.A cor também estava um poucodesbotada.Overmelhobrilhanteefogosotinhaassumidoumtomdeamarelodoentio.—Ocheirotambémestáesquisito—elaexclamou.—Lavedenovo—outraamigasugeriu.Foi o que Laurel fez, mas não ia ajudar.Mesmo depois de ela perceber que era o
xampuqueestava causandooproblema,não seria fácil tirar aquela coisaque eu fizdocabelodela.Aáguairiacontinuaralimentandoareação,eelaprecisariaesfregarmuitas,muitasvezes,atéconsertaroproblema.Jillmelançouumolhardesurpresa.—Sydney?—elasussurrou,comummilhãodeperguntas.—Paciência—garantiaela.—Estefoisóoprimeiroato.Naquelanoite,leveiJillatéalojadeLiaDiStefano.Eddienosacompanhou,éclaro.
Lia só era alguns anos mais velha do que eu e quase trinta centímetros mais baixa.Apesardo tamanhodiminuto,havia algograndee cheiode forçanapersonalidadedelaquandonosconfrontou.A lojaeracheiadevestidos formaise casuais lindos, apesardeela própria estar vestida com um jeans rasgado e uma bata bem larga. Ela colocou aplaquinhade“fechado”naporta,eentãofalouconoscocomasmãosnacintura.—Então, JillianMelrose—ela começou.—Temosmenos de duas semanas para
transformá-laemmodelo.—Osolhosdelarecaíramemmim.—Evocêvaiajudar.—Eu?—exclamei.—Eusódoucarona.—Nãosequiserqueasuairmãparticipedomeudesfile.—Elavoltouaolharpara
Jill;adiferençadealturaentreasduaseraquasecômica.—Vocêtemquecomer,bebererespirarcomomodelosequiserfazer issodireito.Eprecisafazertodasessascoisas...usandoistoaqui.
Comum floreio,Lia pegouuma caixa de sapatos próximadeonde retirouumparroxocintilantecomsaltosquedeviamterpelomenostrezecentímetrosdealtura.Jilleeuficamosencarando.—Maselajánãotemalturasuficiente?—finalmenteperguntei.Lia soltouuma gargalhada de desdéme jogouos sapatos em cimade Jill.—Estes
aqui não são para o desfile. Mas, depois de dominar este par, vai estar pronta paraqualquercoisa.Jillpegouos sapatoscheiadeanimaçãoeosergueuparaexaminá-los.Os saltosme
lembravam das estacas de prata que Eddie e Rose usavam para matar Strigoi. Se Jillrealmente quisesse estar preparada para qualquer situação, era só estar com aquelessapatossempreporperto.Acanhadacomofatodetodomundoestarolhandoparaela,finalmentedescalçouossapatosbaixosmarronsqueusavaeprendeuasdiversascorreiastrabalhadas do par roxo.Quando estava calçada, levantou-se devagar—e quase caiu.Levantei-meapressadaparasegurá-la.Liaassentiuemsinaldeaprovação.—Estávendo?Eradistoqueeuestavafalando.Trabalhoemequipedeirmãs.Vocêé
quetemquegarantirqueelanãovaicairequebraropescoçoantesdomeudesfile.Jill me lançou um olhar de pânico que, eu desconfiava, estava refletido no meu
própriorosto.ComeceiasugerirqueEddieficasseresponsávelporajudarJill,maselejátinhasedeslocadocomdiscriçãoparaalateraldalojaparaobservarepareciaterpassadodespercebidoaLia.Achoqueosserviçosdeproteçãodeletinhamlimites.Enquanto Jill tentava simplesmente não cair, ajudei Lia a abrir espaço nomeio da
loja.Liaentãopassoumaisoumenosahoraseguintedemonstrandocomocaminhardamaneira adequadapara amoda, comênfasenapostura enopassoparapoder exibir asroupascomomelhorefeitopossível.Masamaiorpartedosdetalhesmais sutispassoubatidaparaJill,queseesforçavaparasimplesmenteconseguiratravessarasalasemcair.Graçaebelezanãoerampreocupaçõestãograndesquantopermanecerempé.Ainda assim, quando olhei para Eddie, ele observava Jill com uma expressão
encantadanorosto,comosecadapassoqueeladessefossemagiapura.Aoperceberqueeuestavaolhando,eleimediatamenteretomousuaexpressãoprotetoradeguardião.Eufizoquepudeparaoferecerpalavrasde incentivoaJill—e,sim,para impedir
que ela caísse e quebrasse o pescoço.Nomeio da sessão, ouvimos alguém batendo naportadevidro.Liacomeçouafazerumacaretaeentãoreconheceuorostodooutroladodaporta.Elasealegrouefoiabrir.—Sr.Donahue—eladisse,deixandoLeeentrar.—Veiovercomoasuapequena
estrelaestáindo?Lee sorriu e seus olhos cinzentos dispararam na direção de Jill imediatamente. Ela
olhounosolhosdeleesorriutantoquantoele.Leenãotinhaestadopresentenoúltimofornecimento dela, e apesar de os dois se falarem o tempo todo ao telefone e por
mensagemdetexto,eusabiaqueelaestava loucaparaseencontrarcomele.SódedarumaolhadanorostodeEddiepercebiqueelenãoestava,nemdelonge,tãofelizquantoelacomapresençadeLee.—Jáseicomoelaestáindo—Leedisse.—Elaéperfeita.Liadeuumagargalhadadedesdém.—Eunãoiriaassimtãolonge.— Ei — eu disse quando uma ideia me ocorreu. — Lee, você não quer ficar
responsávelporimpedirqueJillquebreopescoço?Euprecisofazerumacoisa.Evidentemente, Lee estavamais do que disposto a fazer aquilo, e eu sabia que não
precisavatemerpelasegurançadelacomEddiedesentinela.Eu os deixei e percorri apressadamente dois quarteirões, até a Nevermore. Desde
que eu tinha ouvido Slade e os amigos dele confirmarem que os tatuadores estavamtrabalhandomais uma vez, estava com vontade de ir até lá pessoalmente.Mas eu nãoqueria irescondida.Oqueeutinharoubadojátinharendidoprovas.Tirandoo líquidotransparente, eu tinha identificado todas as outras substâncias das ampolas.Todos oscompostos metálicos eram combinações exatas das fórmulas dos alquimistas, e issosignificavaouqueessaspessoastinhamumcontatoentreosalquimistas,ouqueestavamroubando.Dequalquermodo,omeucasosóestava ficandocadavezmais importante.Eu só esperava que fosse suficiente para me redimir e manter Zoe longe dali,principalmente porque omomento da chegada dela se aproximava. Já tinha se passadoquaseumasemanadesdequeomeupaihaviaditoqueelairiamesubstituir.Meu plano era ver qual a disposição da Nevermore para fazer uma tatuagem em
mim.Euqueriasaberquaiseramosavisosqueelesdavam(seéquedavamalgum)eseeraounãofácilconseguirumatatuagem,emprimeirolugar.AconversadeAdriannãotinharendidomuitainformação,eprovavelmenteseupedidoporumatatuagemdeumamoto em chamas com um esqueleto e um papagaio não tinha servido muito paraaumentar sua credibilidade.Hoje eu estava armada comdinheiro vivo, e esperava queaquilomelevasseaalgumlugar.Do jeitoque as coisas aconteceram,nempreciseimostrardinheironenhum.Assim
queeuentrei,o sujeitoatrásdobalcão—omesmocomqueAdrian tinhaconversado—pareceualiviado.—GraçasaDeus—eledisse.—Porfavor,digaquetemmais.Essagarotadaestá
medeixandomaluco.Quandonósentramosnessa...eunão fazia ideiadeque iria ficartão grande assim. O dinheiro é bom, mas, por Deus. É uma loucura acompanhar ademanda.Mantivemeurostoisentodaconfusãoqueestavasentindo,imaginandodequediabos
eleestariafalando.Eleagiacomoseeufizessepartedoesquemadele,eaquilonãofaziao menor sentido. Mas então seus olhos dispararam para a minha bochecha e eu derepenteentendi.
Aminhatatuagemdelírio.Não estava escondida, já que as aulas do dia tinham terminado.E foi então que eu
soube, com certeza absoluta, que a pessoa com quem ele trabalhava para obter seumaterialeraumalquimista.Eleachouqueatatuagemfaziademimumaaliada.—Nãotenhonadacomigo—respondi.Eleficoudecaranochão.—Masademanda...—Você perdeu a outra remessa— eu disse, enfezada.—Deixou que roubassem
bemdebaixodoseunariz.Sabequantotrabalhodeuparaarrumaraquilo?—Jáexpliqueiparaoseuamigo!—eleexclamou.—Eledissequeentendia.Disse
quetinhadadocontadoproblemaequenósnãoprecisávamosmaisnospreocupar.Sentiumapertonabocadoestômago.— É, bom, ele não fala em nome de todos nós, e não temos tanta certeza se
queremoscontinuar.Vocêsficaramcomprometidos.—Nóssomoscuidadosos—eleargumentou.—Aqueleroubonãofoinossaculpa!
Agora, fala sério. Ele não contou para você? Há uma demanda enorme para amanhãporque os garotos da escola particular têm jogo. Se pudermos fazer o serviço, vamosganharodobrododinheiro.Lanceiaeleomeumelhorsorrisogélido.—Vamosdiscutiraquestãoentrenósedaremosumretorno.Comisso,deimeia-voltaparairembora.—Espere—ele chamou.Olhei bravapara ele.—Será que vocêpode fazer com
queaquelapessoaparedeligar?— Que pessoa? — perguntei, imaginando se ele estava falando de algum aluno
insistentedeAmberwood.—Aquela que temuma voz bizarra e fica perguntando se apareceu alguma pessoa
alta e pálida por aqui. Gente que parece vampiro.Achei que fosse alguém que vocêconhecesse.Gente alta e pálida? Não gostei nada de ouvir aquilo, mas fiquei com o rosto
impassível.—Desculpe.Nãoseidoquevocêestáfalando.Devetersidoumtrote.Saí e fiz uma anotaçãomental para investigarmelhor a questão. Se alguém estava
fazendoperguntas a respeitodepessoasquepareciamvampiros, eraumproblema.Noentanto, não era o problema imediato.Aminhamente corria em disparada enquantoprocessavaasoutrascoisasqueotatuadortinhamedito.HaviaumalquimistaqueeraofornecedordomaterialdaNevermore.Emcertosaspectos,issonãodeviasersurpresa.Dequeoutramaneiraelesconseguiriamsanguedevampiroetodososoutrosmateriaisnecessáriosparaastatuagens?Eparecequeessealquimistarebeldetinha“dadocontadoproblema”quelevouaoroubodomaterial.Quandofoiqueomeupailigoudizendoque
euseriatiradadamissãoporcausadosrelatóriosdeKeith?LogodepoisdeeuinvadiraNevermore.Eusabiaquemeraoalquimistarebelde.E eu sabia que“o problema” era eu.Keith tinha dado um jeito emmim, tomando
providênciasparaqueeufosseafastadadePalmSpringsequemandassemnomeulugaruma pessoa nova e sem experiência, que não iria interferir em sua operação ilícita detatuagens.EraporissoqueelequeriaZoedesdeocomeço.Euestavachocada. JánãotinhaKeithDarnellemaltaconta,de jeitonenhum.Mas
eununca,jamaistinhaimaginadoqueeleserebaixariaaessenível...Eleeraumapessoaimoral,mas,aindaassim,tinhasidocriadocomosmesmosprincípiosqueeuarespeitodehumanosevampiros.Abandonaressascrençaseexporinocentesaosefeitoscolateraisterríveisdosanguedevampiroemnomedeseupróprioganhomaterial...bom,issoeramaisdoquetraiçãoaosalquimistas.Eratraiçãoatodaaraçahumana.Minha mão estava no celular, pronta para ligar para Stanton. Só seria necessário
aquilo, mais nada. Bastava uma ligação com o tipo de notícia que eu tinha, e osalquimistas iriam dar uma batida em Palm Springs — e em Keith. Mas e se nãohouvesse evidências concretas para ligar Keith ao crime? Era possível que outroalquimistafizesseamesmacoisaqueeu,levandootatuadorapensarqueelefaziapartedaequipedeKeith.Maseraelequeeuqueriapegar.Euprecisavagarantirquenãoteriacomoeleescapardaquilo.Tomeiaminhadecisãoe,emvezdeligarparaosalquimistas,ligueiparaAdrian.QuandovolteiàlojadeLia,viqueoensaiohaviaterminando.LiaestavadandoaJill
alguma instrução de últimominuto enquantoEddie e Lee esperavampor perto. Eddiedeusóumaolhadanomeurostoelogopercebeuquehaviaalgodeerrado.—Qualéoproblema?—Nada—respondi,semconvicção.—Ésóumproblemacomqueeuvouterde
lidarembreve.Lee, seráquevocê se incomodade levar Jill eEddiedevolta àescola?Precisodarcontadealgumascoisinhas.Eddiefranziuatesta.—Estátudobem?Precisadealguémparaprotegervocê?—Játenhoalguém.—Reconsiderei,tendoemvistaquelogomeencontrariacom
Adrian.—Bom,maisoumenos.Detodomodo,nãomemetiemnenhumaconfusão.OseutrabalhoéficardeolhoemJill,estálembrado?Eobrigada,Lee.—Umaideiaderepentemeocorreu.—Espere...euacheiquehojeeraumdosdiasemquevocêtinhaaula à noite. Será que nós estamos prendendo você... ou... bom, quais são os dias emquevocêtemaula?Eunãotinhapensadomuitonaquilo,sótinhareparadoquealgunsdiasLeeestavapor
láe,outros,emLosAngeles.Mas,pensandobem,naverdadenãohaviamuitopadrão.PercebipelorostodeEddiequeeletinhasedadocontadamesmacoisa.
—Éverdade—ele disse e olhoudesconfiadoparaLee.—Que tipode horário éessequevocêtemnafaculdade?Leeabriuabocaeeusentiqueumahistóriaprontaestavaparasair.Entãoeleparou
e lançou um olhar ansioso para Jill, que ainda estava conversando com Lia. Seu rostodesabou.—Porfavor,nãocontemparaela—elesussurrou.—Contaroquê?—perguntei,mantendoavozbaixatambém.—Nãoestouna faculdade.Querdizer... euestava.Masnãoestouneste semestre.
Euqueria darum tempo,mas... nãoqueria decepcionaromeupai.Então, disse a elequeestavaestudandosómeioperíodo,eeraporissoquepodiaficarmaisaqui.—Então,oquevocêtemfeitoemLosAngelesdurantetodoessetempo?—Eddie
perguntou.—Euaindatenhoamigoslá,eprecisomanteromeudisfarce.—Leesuspirou.—
É idiotice, eu sei. Por favor... deixem que eumesmo conte para ela. Eu queria tantoimpressionar Jill emostrarparaelaomeuvalor.Ela émaravilhosa. Sómepegouemummomentoruim.Eddieeeutrocamosolhares.—Eunãovoucontar—eudisse.—Masvocêrealmenteprecisadizeraela.Quer
dizer, achoquenãohámalnenhum...masvocênãodevemanteresse tipodementiraentrevocêsdois.Leepareciaarrasado.—Euseiquenão.Obrigado.Quandoeleseafastouumpouco,Eddiesacudiuacabeçaparamim.—Eunãogostoqueeleminta.Nemumpouco.— Lee tentando manter uma boa fachada é a coisa menos estranha que está
acontecendoaqui—eudisse.FoientãoqueeupercebiqueJill jáconseguiaandardeumladoparaooutrodaloja
semcair.Nãoeranadagracioso,maseraumcomeço.Elaaindaestavabemlongedeseparecercomasmodelosda tv,maslevandoemcontaqueelanemconseguiaficarempésobre aqueles sapatos no começo, achei que tinha feito umprogresso considerável. Elacomeçouatirarosapatodesalto,masLiaadeteve.—Não.Eujádisse.Vocêtemqueusaressessapatosotempotodo.Treine,treine,
treine.Use-osemcasa.Use-osemtodolugar.—Elasevoltouparamim.—Evocê...—Jásei.Precisogarantirqueelanãováquebraropescoço—eudisse.—Masela
nãovaipoderusarissootempotodo.Anossaescolatemumcódigodevestimenta.—Esefordeoutracor?—Liaperguntou.—Nãoachoquesejaapenasacor—Jilldisse,emtomdedesculpa.—Achoqueé
apartedosaltoagulha.Maseuprometousarforadasaulasetreinarnoquarto.AssimestavabomparaLiae,depoisdemaisalgunsconselhos,elanosdeixouir.Nós
prometemos treinar e voltar dali a dois dias.Disse a Jill queme encontraria com elamais tarde,masnão sei se ela ouviu.Ela estava tão envolvida na ideia de queLee irialevá-laparacasaquetudoomaissetornouinsignificante.FuiàcasadeClarenceeAdrianmeencontrouàporta.—Uau—eudisse, impressionada com a iniciativa dele.—Não achava que você
ficariaprontocomtantarapidez.—Nãoestou—elerespondeu.—Precisoquevocêvejaumacoisaimediatamente.Franziatesta.—Certo.—Adrianmelevouparadentrodacasa,paraumlugardepoisdasalaque
eunormalmentefrequentava,eissomedeixounervosa.—Temcertezadequeissonãopodeesperar?Essacoisaqueprecisamosfazerémeiourgente...—Issoaquitambémé.OquevocêachoudeClarencenaúltimavezqueoviu?—Esquisito.—Masoqueachoudasaúdedele?Penseiarespeito.—Bom,euseiqueeleandacansado.Mas,demaneirageral,pareciabem.—É,bom,elenãoestá“bem”agora.Estámuitomaisdoquecansado.Está fraco,
tontoeacamado.ChegamosaumaportademadeirafechadaeAdrianparou.—Você sabe qual a causa?— perguntei, assustada.Tinhame preocupado com as
complicaçõesdeterumMoroidoente,masnãoachavaque iaterde lidarcomissotãocedo.— Tenho uma boa ideia do que aconteceu — Adrian respondeu com firmeza
surpreendente.—FoioseuamigoKeith.—Pare de dizer isso. Ele não é“meu amigo”!— exclamei.—Ele está acabando
comaminhavida!Adrian abriu a porta e revelou uma cama toda entalhada, com dossel. Entrar no
quarto de umMoroi não era algo que me deixasse à vontade, mas o olhar firme deAdrianerafortedemais.Euoseguie fiqueiboquiabertaquandoviClarencedeitadonacama.—Nãoésócomasua—Adriandisseeapontouparaosenhordeidade.OsolhosdeClarenceseabriramumpoucocomosomdanossavozeentãovoltaram
asefecharquandoelecaiunosono.Masnãoforamosolhosdelequechamaramaminhaatenção. Foi a palidez doentia em sua pele— assim como a ferida sangrenta em seupescoço. Era pequena, feita com uma picada só, como se tivesse sido causada por uminstrumentocirúrgico.Adrianolhouparamim,cheiodeexpectativa.—Bom, e então, Sage?Tem alguma ideia por queKeith está tirando o sangue de
Clarence?Engoli em seco, quase sem conseguir acreditar no que estava vendo.Aquela era a
última peça. Eu sabia que Keith fornecia omaterial para os tatuadores, e agora sabiatambémondeeleconseguiaseus“estoques”.—Tenho, sim— respondi finalmente, com a voz bem baixinha.—Tenho uma
ideiamuitoboadomotivodele.
22
Clarence não quis falar conosco a respeito do que tinha acontecido. Aliás, ele negoucategoricamente que houvesse algo de errado, alegando que tinha cortado o pescoçoenquantosebarbeava.—Sr.Donahue—eudissecomamaiorgentilezapossível—,esta ferida foi feita
porumaferramentacirúrgica.EsóaconteceudepoisdavisitadeKeith.—Não,não—Clarenceconseguiudizercomavoz fraca.—Nãotemnadaaver
comele.Naquelemomento,Dorothyenfiou a cabeçanoquarto, trazendoumcopode suco.
Nós a tínhamoschamadopoucodepoisdeeuchegar.Paraperdade sangue,o remédioeraomesmotantoparaMoroiquantoparahumanos:açúcare líquidos.Elaofereceuocopoparaelecomumcanudinho,comorostoenrugadocheiodepreocupação.Eufaziameuinquéritoenquantoelebebia.—Digaoqueestáacontecendo—implorei.—Qualéoacordo?Oqueeledápara
vocêemtrocadoseusangue?—ComoClarencecontinuouquieto,tenteioutratática.—Temgentequeestásendoprejudicada.Eleestádistribuindooseusanguedemaneiraindiscriminada.Issocausouumareação.—Não—Clarencedisse.—Ele estáusandoomeu sangue e aminha salivapara
curaraspessoas.Paracurarhumanosdoentes.Saliva? Eu quase soltei um gemido. Era isso. O líquido transparente misterioso.
Agoraeusabiaoquedavaàstatuagenscelestiaisseubaratoviciante.Quenojo.Adrian e eu trocamos olhares. Cura certamente era um dos usos do sangue de
vampiro.Atatuagemqueeu tinhaeraprovadisso,eosalquimistas tinhamtrabalhadomuito para tentar reproduzir algumas das propriedades do sangue para uso medicinalmais amplo. Até agora, não havia maneira de criar essas propriedades de modosintético,eusarsanguerealsimplesmentenãoeraprático.
—Elementiu—respondi.—Eleestávendendoparaadolescentesricosparaajudarnosesportes.Oqueeleprometeuparavocê?Umapartedodinheiro?Adriandeuumaolhadanoquartoopulento.—Elenãoprecisadedinheiro.Sóprecisadaúnicacoisaqueosguardiõessenegaram
alhedar.JustiçaporTamara,nãoé?Surpresa,mevireiparaClarenceeviaspalavrasdeAdrianconfirmadasnorostodo
velhoMoroi.— Ele... ele está investigando os caçadores de vampiros para mim— ele disse
devagar.—Dizqueestáperto.Pertodedescobrirquemelessão.Sacudiacabeça,comvontadededarumsocoemmimmesmapornãoterpercebido
antes que Clarence era a fonte do sangue. Isso explicava por que Keith sempre estavaaqui sem que eu esperasse— e por que ele ficou tão aborrecido quando apareci semavisar.Aminha“confraternizaçãocomosvampiros”nãotinhanadaavercomisso.— Senhor, garanto que a única coisa que ele está investigando é como gastar o
dinheiroqueandaganhando.—Não...não...elevaimeajudaraencontraroscaçadoresquemataramTamara...Eumelevantei.Nãosuportavaouvirmaisnada.—Tragaumpoucodecomidadeverdadeparaele,evamosveroqueeleconsegue
comer— disse a Dorothy.— Se estiver fraco só por causa da perda de sangue, sóprecisadetempo.FizumsinalparaAdrianmeseguirparafora.Enquantocaminhávamosemdireçãoà
sala,observei:—Bom,há ladosbonseruinsnisto.PelomenospodemostercertezadequeKeith
temumaquantidadedesanguefrescoparapodermospegá-lonoflagra.SintomuitoporClarencetersidotãoafetado...Fiqueiparalisadaquandoentreina sala.Eu sóquis irpara láporque seriaum lugar
familiarparadiscutirmosnossosplanos,umlugarmenosassustadordoqueoquartodeClarence. Levando em conta a maneira como a minha imaginação costumava corrersoltaquandoeuestavanaquelacasavelha,poucascoisasmesurpreendiam.Mas,nunca,nemnosmeussonhosmaisloucos,euimagineiqueasalateriasetransformadoemumagaleriadearte.Cavaletes e telas estavam montados por toda a sala.Até a mesa de sinuca estava
coberta com um rolo grande de papel.As imagens variavam muito em conteúdo.Algumas eram só manchas de cor jogadas. Outras traziam retratos tão realistas deobjetosedepessoasquesurpreendiam.Umaamplavariedadedetintasaóleoeaquarelaseespalhavapelomeiodosquadros.Por um momento, todos os pensamentos a respeito de Clarence e Keith
desapareceramdaminhacabeça.—Oqueéisso?
—Liçãodecasa—Adrianrespondeu.—Você... você não acaboude começar as aulas? Como é possível já ter recebido
tantatarefa?Elecaminhouatéumatelaquemostravaumalinhavermelhaemespiraltraçadapor
cimadeumanuvemnegraeexperimentoudelevecomodedoparaverseatintaestavaseca.Euaexamineie tenteidecidirsede fatoestavavendoumanuvem.Haviaalgodequaseantropomórficonaquilo.—Claroquenãonosderamtantacoisaparafazer,Sage.Maseutinhaqueirbemna
primeira tarefa, de qualquer jeito. É necessário tentar muitas vezes para atingir aperfeição.—Ele fezumapausaparareconsiderar.—Bom,excetoparaosmeuspais.Elesacertaramdeprimeira.Nãopudedeixardesorrir.DepoisdeverohumordeAdrianoscilardemaneiratão
descontroladanasduasúltimassemanas,eralegalvê-loalegre.—Bom, istoébastante fantástico—reconheci.—Oqueelesrepresentam?Quer
dizer,euentendiaqueleali—aponteiparaumquadroqueeraoolhodeumamulher,castanhoecomcílioscompridos,edepoisparaoutroderosas.—Masosoutrosestãoabertosa,hum,umpoucomaisdeinterpretaçãocriativa.—Estão,é?—Adrianperguntouesevoltouparaapinturacomaespiralvermelha.
—Acheiqueeraóbvio.EsteéAmor.Vocênãopercebe?Deideombros.—Talvezeunãotenhaumamentesuficientementeartística.—Talvez—eleconcordou.—DepoisquepegarmososeuamiguinhoKeith,vamos
discutiraminhagenialidadeartísticaotantoquantovocêquiser.—Certo—eudisse,evolteia ficarséria.—Precisamos fazerumabuscanacasa
dele para encontrar evidências.Achei que a melhor maneira de fazer isso seria eu oatrairparalongeevocêinvadirenquantoelenãoestálá.Paraabrirafechadura...Adrianmedispensou.—Euseiarrombar fechaduras.Comovocêachaqueeuabriaoarmáriodebebidas
dosmeuspaisquandoestavanoensinofundamental?—Eudeviateradivinhado—eudisse,seca.—Tenhacertezadeprocuraremtodos
oslugares,nãosónosmaisóbvios.Elepodetercompartimentosescondidosnasparedesounosmóveis.Vocêdeveficaratentoparaampolasdesangueoudelíquidometálico,etambémparaoinstrumentoqueperfurouClarence.—Entendi.—Nósacertamosmais algunsdetalhes, incluindoparaquemeledevia
ligarseencontrassealgo,eestávamosparasairquandoeleperguntou:—Sage,porquevocêmeescolheuparaseroseucúmplicenisso?Penseiarespeito.—Poreliminação, acho. Jill nãodeve semeteremencrenca.Eddie seriaumbom
parceiro,masprecisavavoltarcomelaeLee.Alémdomais,eusabiaquevocênãoteria
nenhumaquestãomoralemrelaçãoainvadiracasadealguém.—Essafoiacoisamaisbacanaquevocêjámedisse—eledeclaroucomumsorriso.Depoisdisso,fomosparaacasadeKeith.Asluzesestavamacesasnoprimeiroandar
doprédiodele,oqueacaboucomaminhaúltimaesperançadequetalveznãoprecisasseatraí-loparafora.Naverdade,euiagostardeajudarnabusca.DeixeiAdrianlápertoefui para um restaurante vinte e quatro horas que ficava do outro lado da cidade, nosarredores.AcheiqueseriaperfeitoparamanterKeithforadecasa.SóotempodepegarocarroeiratélájádariatempoextraparaabuscadeAdrian,apesardesignificarqueAdrian teria que esperar um bom tempo do lado de fora até Keith sair. Quandofinalmentecheguei,senteiaumamesa,pediumcaféedigiteionúmerodoKeith.—Alô?—Keith,soueu.Precisofalarcomvocê.— Então fale — ele disse. Parecia arrogante e cheio de confiança, sem dúvida
contenteporterconseguidorealizaraquelasvendasdetatuagemdeúltimahora.—Nãopelotelefone.Precisoquevocêvenhaseencontrarcomigo.—EmAmberwood?—perguntou,surpreso.—Jánãopassoudahoradotoquede
recolher?Játinhapassadomesmo,masesseeraumproblemaparadepois.—Nãoestounaescola.EstounoMargaret’sDiner, aquele lugarque ficapertoda
estrada.Longosilêncio.Eentão:—Bom,seoseuhoráriojápassou,simplesmentevenhaaqui.—Não—eudissecomfirmeza.—Vocêéquevematéondeeuestou.—Porquê?Hesiteisóumpoucoantesdedaracartadaqueeusabiaqueiriaconvencê-lo,aúnica
coisaqueofariapegarocarroeiratéalisemlevantarsuspeitassobreastatuagens.—ÉsobreCarly.—Oquetemela?—eleperguntoudepoisdeummomentodepausa.—Vocêsabeexatamenteoqueé.Depoisdeumapausadeumsegundo,Keith cedeuedesligou.Repareiqueeu tinha
umamensagemdevozdaquelemesmodia,maiscedo,queeunãohaviaescutado.Ligueieescutei.—Sydney,aquiéWesRegandaFaculdadeCarlton.Eusóqueriarepassaralgumas
coisascomvocê.Emprimeiro lugar,achoquetenhomásnotícias.Parecequenãovoupoder passar o seu irmão da situação de ouvinte para a de aluno regular. Possomatriculá-locomcertezanopróximosemestreseeletiverumbomdesempenhoagora,mas a únicamaneira de continuar frequentando as aulas agora é se permanecer comoouvinte. Por causa disso, ele não poderá obter auxílio financeiro e, inclusive, vocêsprecisarãopagarumataxaparaelepoderfrequentarasaulas.Seelequiserlargartudo,
tambémépossível.Sómeligueparadizeroquevocêsqueremfazer.Fiqueiolhandodesoladaparaotelefonequandoamensagemterminou.Láse iamos
nossossonhosdecolocarAdriannasituaçãodealunoregular,semfalarnossonhosdelede obter auxílio financeiro e sair da casa de Clarence. O semestre seguinte deviacomeçar em janeiro, então Adrian teria que ficar mais quatro meses na casa deClarence.Adrian tambémteriadeenfrentarmaisquatromesesde trajetosdeônibuseaulasdafaculdadesemrecebercréditoporelas.Mas será que os créditos e o auxílio financeiro realmente eram as coisas mais
importantes ali?Lembrei comoAdrian tinha ficado animadodepoisde sóumaspoucasaulas, como ele tinha se lançado à arte.O rosto dele estava radiante nomeio de sua“galeria”.As palavras de Jill também ecoaram pela minha mente, sobre como a artetinhadadoaAdrianumamaneiradecanalizarseussentimentos,etinhafeitocomquesetornassemaisfácilparaelalidarcomolaço.Asaulaseramboasparaosdois.Quantoseriaa taxadeouvinte?Eunãosabiacomcerteza,mas imaginavaqueseria
menosdoqueocursocomcrédito.Tambémeraumcustoúnicoqueeuprovavelmentepoderiaincluirnosmeusgastossemchamaraatençãodosalquimistas.Adrianprecisavadaquelas aulas, disso eu tinha certeza. Se ele soubesse que o auxílio financeiro não eraumaopçãoparaessesemestre,haviaumaboachancedequeeledecidissesimplesmentelargar tudo.Eunãopodiapermitir que aquilo acontecesse.Ele seria informadodequetalvez houvesse um“atraso” até o auxílio financeiro acontecer. Se eu conseguisse fazercomque ele ficasse naCarltonmais umpouco, então talvez ele pudesse se envolver osuficientecomaarteparacontinuar,mesmodepoisquedescobrisseaverdade.Eraumacoisadissimuladadesefazer,masfariabemparaele—eparaJill—nofinal.TelefoneiparaoescritóriodeWesRegan,masjásabiaqueiriacairnacaixapostal.
Deixeiumrecadoparaeledizendoqueeudeixariaumchequeparaa taxadeouvinteequeAdriancontinuariaocursoatépodersematricularnosemestreseguinte.DesligueiefizumaprecesilenciosaparaquedemorasseumpoucoatéAdriandescobriroqueestavaacontecendo.A garçonete ficava me olhando feio porque eu só tinha pedido café, até que eu
finalmentepediumafatiadetortaparaviagem.Elatinhaacabadodecolocaracaixanamesa quando Keith entrou no restaurante, todo irritado. Ele ficou parado à porta,olhandoaoredorcomimpaciência,atémelocalizar.—Certo,oqueestáacontecendo?—elequestionouesesentoucheiodepompa.—
Oqueétãoimportantequevocêsentiuanecessidadededesrespeitarasregrasdaescolaedemearrastaratéooutroladodacidade?Porum instante, fiqueiparalisada.OlharnosolhosdeKeith—tantooverdadeiro
quantooartificial—trouxeàtonatodosossentimentosconflituososqueeuhaviatidoemrelaçãoaeleaolongodoúltimoano.Medoeansiedadeemrelaçãoaoqueeuestavatentando fazer brigavam com o ódio profundo que eu carregava fazia tanto tempo.
Instintosmais básicos desejavam que eu o fizesse sofrer, que jogasse alguma coisa emcimadele.Comoatorta.Ouumacadeira.Ouumtacodebeisebol.—Eu...Antes que pudesse dizer qualquer outra palavra, meu telefone tocou. Olhei para
baixoeviumamensagemdetextodeAdrian:consegui.ligaçãofeita.umahora.Enfiei o celular na bolsa e soltei a respiração.Keith tinha demorado vinteminutos
parachegare,duranteessetempo,Adriantinhafeitoabuscadetalhadanoapartamento.Pareceque tinha sidobem-sucedido.Agoraminha função era segurá-lo até os reforçosaparecerem. Uma hora na verdade era bemmenos tempo do que eu esperava.Tinhadado aAdrian o telefone de Stanton, e ela devia ter despachado os alquimistas queestivessemmaispróximos.AcheiqueissosignificariaLosAngeles,maseradifícildizer,devidoaoalcancedonossotrabalho.Sehouvessealquimistasdoladolestedacidade,eleschegariambemrápido.Tambémerapossívelqueganhassemtemposeviessememumjatinhoparticular.—Oquefoi?—Keithperguntou,irritado.—Umamensagemdetextodeumdos
seusamigosvampiros?—Podeparar comaencenação—eudisse.—Eu seiquenaverdadevocênão se
importacomofatodeeuestarme“aproximandomuito”deles.Eu não tinha a intenção de que aquele fosse o tema para distraí-lo,mas aquilo era
bomosuficiente.—Claroqueeumeimporto.Eumepreocupocomasuaalma.—Foiporissoqueligouparaomeupai?—perguntei.—Éporissoquequerme
verlongedePalmSprings?—Éparaoseuprópriobem—eledisse,eestampounorostoumartodoangelical.
—Você tem ideia de como foi errado você querer este trabalho, para começo deconversa?Nenhumalquimistateriaessedesejo.Masvocêpraticamenteimplorou.—É—respondi,esentiaminhairritaçãocrescer.—ParaqueZoenãotivesseque
passarporisso.—Digaasimesmaoquevocêquiser.Euseiaverdade.Vocêgostadessascriaturas.—Porqueascoisastêmquesertãopretonobranco?Nasuavisão,oueutenhoque
odiá-losoumealiaraeles.Háummeio-termo,sabia?Eupossocontinuarsendolealaosalquimistasesersimpáticacomvampirosedampiros.Keitholhouparamimcomoseeutivessedezanosdeidade.— Sydney, você é tão inocente. Não entende como omundo funciona domesmo
jeito que eu entendo.— Eu sabia tudo a respeito de como ele achava que “o mundofuncionava”,e teriadito issoseagarçonetenãotivessechegadoparapegaropedidodebebidadelebemnaquelemomento.Quandoelaseafastou,Keithcontinuousualadainha.—Querdizer,comoéquevocêpodesaberquerealmenteestásesentindodojeitoquesesente?Osvampirospodemforçar,sabecomoé.Elesusamocontroledamente.Os
quecontrolamoespírito,comoAdrian, sãobonsdeverdadenisso.Atéondesabemos,eletemusadoseuspoderesparaconquistarvocê.PenseiemtodasasvezesquetivevontadedechacoalharAdrianparaverseadquiria
umpoucodenoçãodascoisas.—Entãoelenãoestáfazendoumtrabalhomuitobom,não.Nósficamosdiscutindooassuntoduranteumtempoe,pelomenosdessavez,fiquei
felizcomaobstinaçãodeKeithecomsuarecusaemenxergararazão.Quantomaiseledebatiacomigo,maistempoosalquimistastinhamparachegaraoapartamentodele.SeStanton tinha dito aAdrian que iria demorar uma hora, devia ter sido exata.Mesmoassim,eramelhorgarantir.Agotad’águafoiquandoKeithdisse:—Vocêdeviasesentiragradecidaporeucuidardevocêdestamaneira. Issoaquié
maisabrangentedoqueosvampiros,sabecomoé.Estoudandoliçõesdevidaparavocê.Você podememorizar os livros, mas não entende as pessoas.Você não sabe como seconectaraelas.Vaicarregaressamesmaatitudeingênuacomvocêparaomundoreal,achando que todo mundo tem boas intenções, e alguém... algum garoto,provavelmente...vaisimplesmentetirarvantagemdevocê.—Bom—explodi.—Evocêsabetudoarespeitodisso,nãoémesmo?Keithdeuumagargalhadadedesdém.—Eunãoestouinteressadoemvocê,podeficartranquila.—Nãoestoufalandodemim!EstoufalandodeCarly.Pronto.Eraisso.Omotivooriginaldonossoencontroali.—Oqueelatemavercomtudoisso?—Keithmanteveotomfirme,maseupude
perceber.Amenordascentelhasdeansiedadeapareceuemseuolho.—Euseioqueaconteceuentrevocês.Euseioquevocêfezcomela.Eleficoumuitointeressadoemmexerogelodocopocomocanudinho.—Eunãofiznadacomela.Nãoseidoquevocêestáfalando.—Você sabe exatamente do que estou falando! Elame contou.Veio falar comigo
depoisdoqueaconteceu—me inclineiparaa frente, sentindomuita segurança.—Oquevocêachaqueomeupaifariasedescobrisse?Oqueoseufaria?Keithergueuosolhosemumgestobrusco.—Setemtantacertezadequeumacoisahorrívelaconteceu,entãocomoéqueoseu
pai ainda não soube? Hein?Talvez seja porque Carly tem consciência de que não temnadaparacontar.Qualquercoisaquenóstenhamosfeito,elaquisfazer,podeacreditar.—Comovocêémentiroso—sibilei.—Euseioquevocêfez.Vocêaestuprou.E
nuncavaisofrerobastanteporisso.Deviaterperdidoosdoisolhos.Eleficoutensocomareferênciaaosolhos.—Essa foi forte. E não temnada a ver com isso aqui.Que diabos aconteceu com
você,Sydney?Comofoiquevocêvirouumavacaassim?Talvezlevarvocêaseassociar
com vampiros e dampiros tenha causado mais danos do que nos demos conta. Aprimeira coisa que vou fazer amanhã é ligar para Stanton e pedir para tirarem vocêdaqui imediatamente. Nada de esperar até o final da semana.Você precisa se afastardessa influência sombria.— Ele sacudiu a cabeça eme olhou de um jeito que era aomesmo tempo condescendente e cheio de pena.— Não, você precisa ser reeducada,ponto final. Devia ter acontecido hámuito tempo, assim que pegaram você ajudandoaquelaassassina.—Nãomudedeassunto—faleiemtominsolente,apesardeelemaisumavezter
despertadoumafagulhademedoemmim.EseAdrianeeutivéssemosfalhado?EseosalquimistasdessemouvidosaKeithememandassemparaumcentrodereeducação?Elenunca mais teria que se preocupar comigo. — Não estávamos falando de mim.EstávamostratandodeCarly.Keithrevirouosolhos,irritado.—Paramim,jáchegadefalardasuairmãgalinha.Naquele instante, meu impulso inicial de jogar alguma coisa em cima dele me
venceu.Para a sortedele, foi sóomeu café e nãouma cadeira.Tambémpara a sortedele,ocaféjátinhaesfriado.Aindatinhasobradobastante,eeleseespalhouportodososlados,ensopandoaescolhainfelizdeleporumacamisabranca.Eleficoumeencarando,atordoado,cuspindoaoproferirsuaspalavras:—Suavaca!—eledisseeselevantou.Quandoele começou a sedirigir para aporta, percebi que aminha irritaçãopodia
terestragadooplanotodo.Corriatéeleeopuxeipelobraço.—Espere,Keith.Eu...eusintomuito.Nãováembora.Eledesvencilhouobraçoeficoumeolhandocomódio.—Jáétardedemaisparavocê.Tevesuachanceenãoaproveitou.Euoagarreimaisumavez.—Não,não.Espere.Aindatemmuitacoisasobreoqueprecisamosconversar.Ele abriu a boca para fazer alguma observação espertinha e então prontamente a
fechou.Elemeexaminouduranteváriossegundosesuaexpressãofoificandomaisséria.—Vocêestátentandomeseguraraqui?Oqueestáacontecendo?Comoeunãoconseguidarnenhumaresposta,ele sedesvencilhoue irrompeuporta
afora.Volteicorrendoparaamesae jogueiumanotadevinteemcimadela.Pegueiatortaedisseparaagarçoneteemchoquequeficassecomotroco.Orelógiodomeucarroinformouquenóstínhamosvinteminutosatéohorárioem
que os alquimistas deviam chegar à casa de Keith.Também era o tempo que ele iriademorar para voltar até lá. Fui seguindo na sua cola, sem fazer nenhum esforço paraesconder a minha presença.Agora não era segredo que algo estava acontecendo, algopara longedoqualeuohaviaatraído.Abençoeicadasinalvermelhoquenos fezparar,rezandoparaqueelenãochegassecedodemais.Seissoacontecesse,Adrianeeuteríamos
queatrasá-lo.Nãoseriaimpossível,mastambémnãoeraalgoqueeuquisessefazer.Finalmente chegamos. Keith parou no estacionamento minúsculo do prédio e eu
estacionei semme incomodar emuma área reservada para os bombeiros, à frente.Euestava apenas algunspassos atrásdelequandoele correu até aporta,maspareceunemnotar.Suaatençãoestavanasjanelasiluminadasdoprédioenassilhuetasescurasquemaldavaparadistinguirportrásdascortinaspesadas.Eleirrompeupelaporta;entreiatrásum segundo depois e quase dei um encontrão nele, que tinha ficado completamenteparalisadoali.Eu não conhecia os três homens de terno que estavam comAdrian,mas sabia que
eramalquimistas.Passavamaquelaimpressãofriaepolidaquetodosnósalmejávamos,esuasbochechas traziamamarcado líriodourado.Umdelesexaminavaos armáriosdacozinha de Keith. Outro segurava um bloco de notas e conversava comAdrian, queestavaapoiadoemumaparedeefumava.Elesorriuquandomeviu.Oterceiroalquimistaestavaajoelhadonochãodasala,pertodeumpequenoarmário
embutido.Umapintura cafonadeumamulher comas costasnuas,que aparentementetinha servido para esconder o compartimento, estava jogada ali perto.A porta demadeira tinha sidovisivelmente aberta à força e seu conteúdodiverso estava espalhadopor todos os lados—com algumas exceções.O alquimista estava se dedicandomuitopara separar a pilha de objetos: tubos de metal e agulhas usadas para drenar sangue,junto com ampolas de sangue e pacotinhos de pó prateado. Ele ergueu os olhos com anossaentradarepentinaesefixouemKeithcomumsorrisofrio.—Ah, que bom que está aqui, sr. Darnell.Queríamosmesmo lhe fazer algumas
perguntas.Keithficoudecaranochão.
23
—Oquevocêfez?
Eu estava sentada na ponta de uma fileira de cadeiras no desfile de Jill, quase umasemana depois, no centro de Palm Springs, esperando as coisas começarem. Eu nemsabiaqueTreyestavanodesfileefiqueisurpresaaovê-loderepente,ajoelhadoaomeulado.—Doqueexatamentevocêestáfalando?—pergunteiaele.—Hámaisoumenos
ummilhãodecoisaspelasquaiseupossoassumiraresponsabilidade.Ele desdenhou e manteve a voz baixa, o que não era muito necessário devido ao
barulhodeconversasaonossoredor.Váriascentenasdepessoashaviamcomparecidoaodesfile.—Estou falandodeSladeedosamigosdele,evocêsabemuitobemdisso—Trey
disse.—Eles andammuito aborrecidosporcausade algumacoisaesta semana.Ficamsó reclamando dessas tatuagens idiotas — ele olhou para mim cheio de segundasintenções.—Oquê?—pergunteicomexpressãodeinocêncianorosto.—Porquevocêacha
queissotemalgumacoisaavercomigo?—Estádizendoquenãotem?—eleindagou,semsedeixarenganarnemumpouco.Senti um sorrisinho traidor brincando nos meus lábios. Depois da inspeção ao
apartamento deKeith, os alquimistas haviam garantido que os colegas tatuadores delenãoteriammaismeiosdecontinuarcomastatuagensilícitas.Alémdisso,ninguémmaisfalou sobre Zoe me substituir. Demorou vários dias até que Slade e seus amigospercebessem que a conexão que tinham com aquelas tatuagens que melhoravam odesempenho não estava mais lá. Eu tinha passado a semana toda observando suasconversasfurtivascominteresse,masnãotinhapercebidoqueTreytambémnotara.—Vamos dizer apenas que é possível que Slade em breve já não seja mais o
superastro que tem sido — respondi. — Espero que você esteja pronto para se
apresentareocuparolugardele.Treymeexaminoudurantemaisalgunsmomentos;pareciaqueestavaesperandoque
eudissessealgomais.Comoeunãofaleinada,elesósacudiuacabeçaedeurisada.—Semprequequisercafé,Melbourne,ésófalarcomigo.—Anotado—respondi.Fizumgestoparaopúblicoquecontinuavacrescendo.—
Mas, aliás, o que você está fazendo aqui?Não sabia que você se interessava pelamodamaisquentedaatualidade.— E nãome interessomesmo— ele concordou.—Mas algumas pessoas que eu
conheçoestãotrabalhandonodesfile.—Garotas?—pergunteiemtomdesacanagem.Elerevirouosolhos.—Amigasminhas.Nãotenhotempoparaessabobagemdedistraçãofeminina.—Émesmo?Acheiquetinhasidoporissoquevocêfezasuatatuagem.Asmulheres
gostamdessascoisas.Treyseretesou.—Doquevocêestáfalando?EumelembreidequeKristineJuliatinhammencionadocomoeraestranhoofatode
Treytertatuagem,edepoisEddietinhamencionadoquetinhavistoodesenhonapartebaixadascostasdeTreynovestiário.Eddietinhaditoquepareciaumsolcomdiversosraios, feita com tintamuito comum.Euestava esperando a chancepara tirar sarrodeTreyporcausadela.—Nãosefaçadedesentendido.Estousabendodoseusolbrilhante.Comoéquevocê
sempremecriticatanto,hein?—Eu...Elerealmentenãosabiaoquedizer.Maisdoque isso.Elepareciapoucoàvontade,
preocupado — como se aquilo fosse algo que ele não queria que eu soubesse. Foiestranho. Não era nadatão sério assim. Eu estava prestes a questioná-lomais quandoAdrianderepenteabriucaminhoaténóspelomeiodamultidão.Treydeuumaolhadano rosto perturbado deAdrian e se levantou imediatamente. Dava para entender areaçãodele.AexpressãodeAdriantambémteriameintimidado.— Bom—Trey disse, sem jeito. — Obrigado mais uma vez.A gente se fala
depois.Murmurei umadespedida e observei quandoAdrian passoupormim.Micah estava
sentadoaomeulado,depoisvinhaEddieeemseguidaduascadeirasvaziasquetínhamosguardado. Adrian se sentou em uma delas e ignorou o cumprimento de Eddie.Momentos depois, Lee chegou apressado e ocupou a outra cadeira. Ele pareciaincomodado com algo, mas, mesmo assim, conseguiu ser simpático comAdrian. Elefitavaonada,eomeubomhumor seesvaiu.Dealgummodo, semsaberporquê,eutinhaasensaçãodequeeueraomotivodaquelemauhumortodo.
Mas não tivemos tempo de discutir a questão.As luzes diminuíram e o desfilecomeçou.Aapresentaçãoerafeitapeloâncoradeumtelejornallocal,quefalousobreoscincoestilistasqueiriamseapresentaraquelanoite.AdeJilleraaterceira,eassistiraosquevieramantesnosdeixouaindamaisansiosos.Aquiloestavamuitolongedassessõesde ensaio que eu tinha presenciado antes.As luzes e a música faziam com que tudoassumisseumnívelmaisprofissional, e asoutrasmodelospareciambemmaisvelhaseexperientes. Comecei a compartilhar do receio que Jill havia tido, de que talvez elaestivessetentandofazeralgoforadeseualcance.EntãochegouavezdeLiaDiStefano.Jillfoiumadesuasprimeirasmodelosaentrar,
eapareceucomumvestidodenoiteprateadofluido,feitoumtecidoquepareciadesafiaragravidade.Umameia-máscaradepérolasepratacobriapartedeseurosto,escondendosua identidade daqueles que não soubessem quem ela era. Eu achava que eles fossemamenizar um pouco suas características de vampira, possivelmente lhe dando uma cormaisparecidacomadeumahumana.Emvezdisso,tinhamacentuadoseuvisualforadocomum,comumpópara iluminarapelequeadeixavaaindamaispálida,deumjeitoqueafaziaparecersobrenatural.Cadacachotinhasidoajeitadonolugarecaíaaoredordorostodemaneiraartística;osfiosestavamenfeitadoscompedrinhasbrilhantes.Amaneiradeandardelatinhamelhoradoimensamentedesdeoprimeiroensaio.Ela
praticamente dormia com aqueles saltos e tinha ido além de simplesmente tentar nãocair. Havia uma nova confiança emotivação nela que não existiam antes. De vez emquando,eu captavaumvislumbredenervosismoem seusolhos,ouumajuste em seuspassos enquanto ela controlava os saltos prateados altíssimos. Mas eu duvidava quealguémmais estivesse reparandonessas coisas.Qualquerpessoaquenãoconhecesse Jillnemsuascaracterísticassóiriaverumamulherforteeetéreadesfilandopelapassarela.Era uma coisa fantástica. Se ela era capaz de se transformar tanto assim só com umpoucodeincentivo,oquemaisestariaporvir?Dei umaolhada nos rapazes aomeu lado e vi sentimentos parecidos espelhados em
seus rostos. O de Adrian estava cheio daquele orgulho de irmão que ele sempredemonstravaporela,comtodososvestígiosdeseumauhumoranteriordesaparecidos.Micah e Lee demonstravam adoração pura e sem filtro. Para a minha surpresa, aexpressão deEddie tambémera de adoração, junto commais alguma coisa. Era quasecomo se ele... a idolatrasse.Era isso, percebi.Ao semostrar comoessa criatura comjeito de deusa, maior do que a vida, Jill concretizava todas as fantasias de proteçãoidealizadas de Eddie. Ela era a princesa perfeita agora, com seu cavaleiro prestativoprontoparaservi-la.EladesfiloumaisduasvezesparaalinhadeLia,estonteantetodasasvezes,apesarde
nãoseequipararexatamenteàestreiacomovestidoprateado.Assistiaorestododesfilesó com meia atenção. Meu orgulho e meu afeto por Jill me distraíram demais e,sinceramente, amaior parte das roupas que eu vi naquela noite era chamativa demais
paraomeugosto.Havia uma recepção depois do desfile, em que convidados, estilistas e modelos
podiam interagir e beber alguma coisa. Nosso grupo encontrou um canto perto dossalgadinhosparaesperarJill,queaindanãotinhachegado.Leetinhanasmãosumbuquêenormedelíriosbrancos.Adrianobservouumagarçonetepassarcomumabandejacheiadetaçasdechampanhe.Seusolhosseencheramdedesejo,maselenãofeznadaparaqueelaparasse.Fiqueitãoorgulhosaealiviada!Jill,equilíbrioeálcoolnãoeramcoisasquenósíamosquerermisturar.Quando a garçonete se afastou,Adrian se virou para mim e eu finalmente vi a
irritaçãodeantesretornar.E,comoeudesconfiava,oalvoeraeu.—Quandoéquevocêpretendiamecontar?—eleperguntou.AquiloeratãoenigmáticoquantoafaladeaberturadeTrey.—Contaroquê?—Queoauxíliofinanceironãovairolar!Converseicomasecretariadematrículae
disseramquevocêjásabia.Suspirei.—Eunãoestavaexatamenteescondendodevocê.Sónãotinhatidooportunidadede
contarainda.Haviamaisummontedecoisasacontecendo.Certo, eu na verdade estava adiando, exatamente por este motivo. Bom, não
exatamente.Eunãosabiaqueeleiriaficartãoaborrecidoporcausadaquilo.—Masparecequevocê teve tempo suficienteparapagar a taxadeouvinte.E teve
dinheirobastanteparaisso.Masnãoparafinanciaraminhamoradia.Achoqueoquemaismeincomodavanaquilo,alémdotema,eraainsinuaçãodeque
dealgummodoeuhaviaoptadoporagirdeumamaneirainconvenienteparaele.Comoseeutivessemesubmetidodepropósitoàquilo,apesardehaverumamaneiradeevitar.—Éfácilincluirumpagamentoúniconasdespesas—disseaele.—Maspagarum
alugueltodomês?Nemtanto.—Entãoparaquesedaraotrabalho?—eleexclamou.—Oobjetivotododissoera
conseguirdinheiroparasairdacasadoClarence!Senãofosseporisso,eunãofariaessescursosidiotas.Vocêachaqueeugostodepassarhorasnoônibustodososdias?—As aulas estão te fazendo bem — retruquei, sentindo que eu mesma estava
ficandoirritada.Aminhaintençãonãoeraperderapaciência,nãoaliecertamentenãocom todos os nossos amigos assistindo a tudo. No entanto, fiquei estarrecida com areaçãodeAdrian.Seráqueelenãoeracapazdeenxergarcomoerabomparaele fazeralgo útil? Eu tinha visto o seu rosto quandomemostrara os quadros. Eles tinham lhedadoumcanalsaudávelparalidarcomRose,issosemfalaremumamotivaçãoparaele.Alémdisso,fiqueiarrasadadevercomoelefoicapazdedesprezarcomtantodesdémasaulas“idiotas”.Eramaisumlembretedecomoomundoerainjusto,comoeunãopodiaterascoisasàsquaisosoutrosnãodavamvalor.
Eledesdenhou.—“Mefazendobem”?Falasério,paredebancaraminhamãemaisumavez!Nãoé
oseutrabalhomedizercomoviveravida.Seeuquiserosseusconselhos,eupeço.—Certo—eudisse,ecoloqueiasmãosnacintura.—Nãoéminhafunçãodizera
vocêcomoviveravida... sóéminha função facilitaraomáximoparavocê.PorquesóDeussabecomovocênãopodesofrercomnadaquesejalevementeinconveniente.Oqueaconteceu com todas aquelas coisas que você disse? Sobre como estava determinado amelhorarsuavida?Quandomepediuparaacreditaremvocê?—Paremcomisso,pessoal—Eddiedisse,semjeito.—Nãoéahoranemolugar.Adrianoignorou.—VocênãotemnenhumproblemaemfacilitaravidadeJillomáximopossível.—Estaéaminhafunção—resmungueiemresposta.—Eelaaindaéumamenina.
Eunãoachavaqueumadultocomovocêprecisassedosmesmoscuidadosqueela!OsolhosdeAdrianseencheramdefogocordeesmeraldaquandoeleolhoufeiopara
mim, e então seu olhar se fixou em algo atrás de mim. Eu me virei e vi Jill seaproximar.Elausavao vestidoprateadomais umavez e sua expressão estava cheiadealegria radiante— uma alegria que desabou quando ela se aproximou e percebeu queuma briga se desenrolava. Quando ela parou ao meu lado, toda a animação de ummomentoantestinhasidosubstituídaporpreocupaçãoeinquietação.—Oque está acontecendo?—ela perguntou e olhou deAdrian paramim.Claro
queela jásabia,porcausadolaço.Eraumasurpresaqueossentimentossombriosdelenãotivessematrapalhadoodesempenhodelaantes.—Nada—dissecomavozinalterada.—Bom—disseAdrian.—Issodependedasuadefiniçãode“nada”.Querdizer,se
vocêconsideraquementire...—Pare com isso!—exclamei, erguendo a voz apesar de todos osmeus esforços.
Haviabarulhodemaisno salãopara alguémescutar,mas algumaspessoasque estavampor perto olharam para nós com curiosidade.—Apenas pare com isso,Adrian. Seráquevocêpodenãoestragaressemomentoparaela?Seráquenãopodefingir,apenasporumanoite,queexistemoutraspessoasnomundoalémdevocê?—Estragarascoisasparaela?—eleexclamou.—Comovocêousadizerumacoisa
dessas?Vocêsabeoqueeufizporela!Eufiztudoporela!Abrimãodetudoporela!—Émesmo?—perguntei.—Porquepeloqueeusei,nãopareceque...DeiumaolhadanorostodeJilleprontamentemeinterrompi.Atrásdamáscara,os
olhosdelaestavamarregaladosdedesalentocomasacusaçõesqueAdrianeeuestávamostrocando. Eu tinha acabado de dizer a ele que era egoísta e não pensava em Jill e, noentanto, lá estava eu, brigando semparar com ele na grande noite dela, na frente dosseus amigos. Não importava se eu estava certa— e eu tinha certeza de que estava.Aquele não era o momento de ter aquela discussão. Eu não devia ter permitido que
Adrianmefizessecairnessa,eseelenãotinhasensatezdepararantesquetudopiorasse,entãoeufariaisso.— Estou indo — eu disse. Forcei o sorriso mais sincero possível para Jill, que
pareciaestaràbeiradelágrimas.—Vocêfoimaravilhosa.Deverdade.—Sydney...—Está tudo bem—disse a ela.—Tenho algumas coisas a fazer—me esforcei
parapensaremalgo.—Eupreciso,hum,limparascoisasqueKeithdeixouparatrás.AlgumdevocêspodelevarEddieeeladevoltaaAmberwood?—estaperguntaeufizparaMicaheLee.Eusabiaqueumdelesiriaseoferecer.Nãoacheiqueprecisassetomara mesma providência paraAdrian. Sinceramente não me importava com o que fosseacontecercomeleaquelanoite.—Claro que sim— Lee eMicah responderam em uníssono.Mas, depois de um
momento,Leefranziuatesta.—PorquevocêprecisaarrumarascoisasdeKeith?—Éuma longahistória—balbuciei.—Vamosdizerqueele saiudacidadeenão
vaivoltarporumbomtempo.Talveznãovoltenuncamais.Demaneirainexplicável,Leepareceuincomodadocomaquilo.Talvezdurantetodoo
tempoqueKeith tinhapassadonacasadeClarence,osdois tivessemficadoamigos.Sefosseisso,Leemedeviauma.Jillcontinuavaaborrecida.—Acheiquenóstodosiríamossairparacomemorar,não?—Vocêspodem ir sequiserem—eudisse.—DesdequeEddie esteja comvocê,
para mim não faz diferença— estendi a mão sem jeito para Jill. Quase fiquei comvontade de abraçá-la, mas ela estava tão rebuscada e magnífica com sua roupa e suamaquiagemqueeufiqueicommedodeestragar.Eumecontenteicomumtapinhanãomuitoconvincentenoombro.—Faleisério.Vocêestavadetirarofôlego.Eume afastei apressada, com um pouco demedo de que ouAdrian ou eu não nos
aguentássemos e disséssemos algo idiota um para o outro. Eu precisava sair dali.AminhaesperançaeraqueAdriantivessenoçãosuficienteparadeixaraquestãodeladoenãofizesseanoiteficaraindapiorparaJill.Eunãosabiaporqueabrigacomeletinhameincomodadotanto.Nósvivíamosbrigandodesdequenosconhecemos.Quediferençafaziamaisumadiscussão?Eraporquenósandávamosnosdandobem,percebi.Euaindanãopensavaneleemtermoshumanos,mas,emalgumpontodocaminho,tinhapassadoaconsiderá-lomenoscomomonstro.—Sydney?Fuidetidaporumavozinesperada:Laurel.Elatinhatocadonomeubraçoenquanto
eu passava por um grupo de garotas deAmberwood. Eu devia estar parecendo bemirritadamesmoporque, quando olhei nos olhos dela, ela chegou de fato a estremecer.Deviaseralgoinédito.—Oquefoi?—perguntei.
Elaengoliuemsecoeseafastoudasamigascomosolhosarregaladosedesesperados.Umchapéu cobria amaior parte do cabelo que—pelo que tinha ouvidodizer—elaaindanãotinhaconseguidorecuperarefazervoltaraonormal.—Euouvi...ouvidizerquetalvezvocêpoderiameajudar.Comomeucabelo—
eladisse.Esse eramais um favor queKristin tinha feito paramim.Depois de deixarLaurel
sofrer durante alguns dias, pedi a Kristin que fizesse correr a notícia de que SydneyMelrose— com sua farmácia no dormitório— talvez fosse capaz de consertar o queestavaerrado.MaseutambémtinhameasseguradodedeixarbemclaroqueLaurelnãoera a minha pessoa preferida no mundo e que ela teria muito trabalho para meconvencer.—Talvez—respondi,tentandomanterumaexpressãosevera,oquenãofoidifícil
porqueeuaindaestavamuitobravacomAdrian.— Por favor — ela disse. — Faço qualquer coisa que você quiser se puder me
ajudar! Já tentei tudo nomeu cabelo, e nada funciona.—Para aminha surpresa, elaempurrou alguns anuários para cima de mim.— Pronto.Você queria ver isso, nãoqueria?Fiquecomeles.Fiquecomqualquercoisaquequiser.Mais cinco dias de lavagem com detergente forte iriam na verdade resolver o
problema,maseuéquenãoialhedizeraquilo.Pegueiosanuários.— Se eu ajudar você— falei—, vai ter que deixar a minha irmã em paz. Está
entendendo?—Estou—elaseapressouemresponder.— Não sei se está. Chega de pegadinhas, de bullying ou de falar mal dela pelas
costas. Você não precisa ser a melhor amiga dela, mas não quero que continueinterferindo. Fique fora da vida dela.— Fiz uma pausa.— Bom, menos para pedirdesculpas.Laurelconcordavacomtudoqueeudizia.—Tudobem,tudobem!Voumedesculparagoramesmo!Ergui os olhos para o lugar emque Jill estava com seus admiradores e as flores de
Leenosbraços.—Não.Nãofaçacomqueestanoitesejaaindamaisestranhaparaela.Amanhãestá
bom.—Voupedirdesculpas—Laureldisse.—Prometo.Sómedigaoquefazer.Como
euconsertoisto.Eu não achava que Laurel fosse falar comigo naquela noite específica,mas estava à
esperadelamaisdia,menosdia.Porisso,estavacomovidrinhodeantídotoprontonabolsa.Euopegueieosolhosdelaquasesaltaramparaforadasórbitasquandooestendinasuafrente.—Você só precisa de uma dose. Use como se fosse xampu. Depois, vai ter que
tingirdenovo.—Elaestendeuamãoparapegaro frascoeeuotireidoalcancedela.—Estou falando sério.Vocêvaipararde incomodar Jill agoramesmo.Seeuder istoparavocê,nãoqueromaisouvirdizerquevocêestácausandoproblemasparaela.Chegade ficar ofendida se ela falar com Micah. Chega de piadas dizendo que ela é umavampira. Chega de ligar para a Nevermore e ficar perguntando sobre pessoas altas epálidas.Elaficouboquiaberta.—Chegadoquê?Eununcaligueiparaninguém!Hesitei. Quando o tatuador tinha mencionado que alguém ficava ligando para
perguntar sobre pessoas que pareciam vampiros, achei que era Laurel dandocontinuidade a sua piada. Pela expressão estarrecida no rosto dela, já não achava quefosseverdade.—Bom, se eu ficar sabendo que qualquer uma das outras coisas continua, então o
que aconteceu com o seu cabelo não vai ser nada em comparação com o que vaiaconteceraseguir.Nada.Estáentendendo?Elaassentiu,trêmula.—P-perfeitamente.Entregueiofrascoparaela.—Nãoseesqueça.Laurelcomeçouasevirareentãolançoumaisumolharsemjeitoparamim.—Sabe,àsvezesvocêpodeserassustadoracomoodiabo.Fiquei imaginando se os alquimistas tinham alguma ideia do que eu andava fazendo
emrelaçãoàquelamissão.Pelomenosaconversaserviraparaconfirmarumacoisa.Odesespero de Laurel me convenceu de que as piadas de vampira só tinham sido umatática.Na verdade, ela não acreditava que nada daquilo fosse verdade.Mas, por outrolado, aquilo deixava no ar a pergunta preocupante de quem era a pessoa que estavaligandoparaaNevermoreeperguntandosobrevampiros.Quandofinalmentesaídoprédioeseguianadireçãodocarro,resolviquerealmente
iriaàcasadeKeith.Alguémprecisavasepararospertencesdele,epareciaumamaneiraseguradeevitarosoutros.AindatinhaumasduashorasantesdotoquederecolheremAmberwood.Ninguém tinha mexido no apartamento de Keith desde que os alquimistas haviam
feito a inspeção. Os indícios incriminadores de antes estavam lá, onde tínhamosdescobertosuasreservasdesanguedeClarenceedeprata.Osalquimistaspraticamentesó tinham tirado o essencial e deixado o resto dos pertences dele para trás.Aminhaesperança de ir até lá naquela noite era pegar os outros ingredientes dele, os que nãoeram usados na produção de tatuagens ilícitas. Sempre era útil ter quantidades extrasdessas substâncias químicas à mão, seja para destruir corpos de Strigoi ou para fazerexperiênciasnodormitório.
Nãotivetantasorte.Apesardeosoutrossuprimentosdelenãoseremilegais,pareciaque os alquimistas acharam melhor confiscar tudo. Mas, como eu estava ali, resolviconferir se alguns dos outros bens dele seriamúteis paramim.Keith comcerteza nãotinha se segurado para gastar seus fundos ilícitos incrementando o apartamentotemporário com todos os confortos que ele devia ter em casa.Apague isso.Duvidavaqueele tivesseemcasaqualquercoisadaquele tipo:umacamabemmaiordoqueumaking size, uma tv de tela plana gigantesca, um sistema de som digno de um teatro ecomidasuficienteparadarfestatodasasnoitesduranteummês.Examineiarmárioapósarmário,chocadaporverquantacomidaera sóporcaria.Aindaassim, talvezvalesseapenalevarumpoucoparaJilleEddie,porissocoloqueiosdocesmaistransportáveisemsacolasapropriadas,organizandoporcoretamanho.Tambémfiqueipensandosobreoladopráticodelevara tvparaAmberwood.Parecia
umdesperdíciodeixar alipara a turmadedesmanchedos alquimistas,maseu jápodiaimaginaraexpressãodasra.Weatherssenosvissearrastandoaquiloescadaacimaparaoquarto.NemtinhacertezadequeJilleeutínhamosumaparedegrandeobastanteparacomportá-la. Sentei na cadeira reclinável de Keith para refletir sobre a questão da tv.Até a poltrona era da mais alta qualidade. O couro luxuoso parecia manteiga, e eupraticamente afundei nas almofadas. Pena não haver espaço para ela na sala da sra.Terwilliger.Eueracapazdeenxergá-larelaxandoalienquantotomavaumcappuccinoeliadocumentosantigos.Bom, seja lá o que acontecesse com o resto das coisas de Keith, seria necessário
contratarumcaminhãodemudança,porqueoPingadocomcertezanãoiaterlugarparaa tv, a poltrona e amaior parte das outras coisas.Quando isso ficou decidido, eu nãotinhamaismotivoparaficaralinaquelanoite,masdetestariaterquevoltar.Estavacommedode ver Jill.Eunão iria receber bemnenhuma reaçãodela. Se ela ainda estivessetriste por causa da briga, iria me sentir culpada. Se ela tentasse defenderAdrian, eutambémficariaaborrecida.Suspirei. A cadeira era tão ridiculamente confortável que eu bem que podia
aproveitarmaisumpouco.Remexinaminhabolsaa tiracoloparaacharaminha liçãodecasaemelembreidosanuários.KellyHayes.Quasenãotinhatidotempodepensarnelaounosassassinatos,nãocomtodoodramasobreKeitheastatuagens.Kellyestavanopenúltimoanoquandomorreu, e eu tinhaumanuáriode cadaumdos anosqueelatinhapassadoemAmberwood.Mesmoquandoeracaloura,Kellyocupavamuitoespaçonoanuário.Eumelembrei
de como a sra.Weathers tinha dito que Kelly era boa atleta. Não estava brincando.KellytinhaparticipadodepraticamentetodososesportesoferecidosporAmberwoodetinha sido excepcional em todos eles. Ela entrou para os times competitivos já noprimeiro ano e ganhou todo tipo de prêmios. Outra coisa que eu também descobriimediatamenteeraqueKelly,comtodaacerteza,nãoeraMoroi.Issoeraóbvio,mesmo
embrancoepreto,efoiconfirmadonapáginaduplaemcoresdosegundoano.Seutipofísicoerabemhumanoesuapelebronzeadaobviamenteadoravasol.Eu estava examinando o índice do anuário do penúltimo ano quando ouvi alguém
bateràporta.Porummomento,nãoquisatender.Atéondeeusabia,deviaseralgumamigo fracassado que Keith tinha feito em seu período de estadia, querendo comer acomidadele e assistir à televisão.Mas então fiquei preocupadaquepudesse ser algumacoisa relacionada aos alquimistas. Encontrei a seção de homenagem aKelly que estavaprocurandoepusoanuárionochão,antesdemeaproximardaporta.Espieipeloolhomágicoeavisteiumrostoconhecido.—Lee?—pergunteiaoabriraporta.Elemelançouumsorrisotímido.—Oi.Desculpevirincomodarvocê.—Oqueestáfazendoaqui?—exclameiefizsinalparaqueeleentrasse.—Porque
nãoestácomosoutros?Elemeseguiuatéasala.— Eu... precisava conversar com você. Quando disse que vinha para cá, fiquei
imaginandoseoqueomeupaidisseeraverdade.QueKeithnãoestámaisaqui.Volteiamesentarnapoltronareclinável.Leeseacomodounosofazinhopróximo.—É.Keithsefoi.Ele,hum,recebeuoutramissão.Keithtinhasidoafastadoeestavarecebendoseucastigoemalgumlugar,epormim
estavamaisdoquebom.Leedeuumaolhadaaoredoreabsorveuamobíliacara.—Este lugar é bacana— os olhos dele pousaram no armário onde omaterial de
alquimia ficava guardado.A porta ainda estava pendurada de maneira precária pelasdobradiças,eeunãomedeiaotrabalhodearrumar,jáqueosalquimistastinhamlevadoemboratodooconteúdo.—Estelugar...—Leefranziuatesta.—Estelugarfoiinvadido?— Não exatamente— respondi. — Keith, hum, só precisou pegar umas coisas
apressadoantesdeirembora.Leetorceuasmãoseolhouaoredormaisumpoucoantesdesevirarparamimoutra
vez.—Elevaivoltar?—Provavelmentenão.Leeficoudesolado,eissomedeixousurpresa.Sempretinhatidoaimpressãodeque
elenãogostavadeKeith.—Algumoutroalquimistavaisubstituí-lo?—Não sei— respondi.A questão ainda estava sendo debatida.O fato de eu ter
entregadoKeithtinhaimpedidoqueeufossesubstituídaporZoe,eStantonagoraestavapensandoemsimplesmentemecolocarcomoaalquimistalocal, jáqueasfunçõeseram
leves.—Sealguémformandadoparacá,aindavaidemorarumpouco.— Então você é a única alquimista na área— ele repetiu, parecendo ainda mais
triste.Deideombros.—TemalgunsemLosAngeles.Issoinexplicavelmentefezcomqueelesealegrasseumpouco.—Émesmo?Seráquevocêpodemedizerqualéo...Lee se interrompeu quando sua atenção se voltou ao anuário aberto que estava aos
meuspés.—Ah—eudisseeorecolhi.—Ésóumprojetodepesquisaqueeuestoufazendo
sobre...—KellyHayes—aexpressãoanimadadesapareceu.—É.Vocêouviufalardela?—Estendiobraçoparapegarumpedaçodepapel,para
usarcomomarcadornaseçãodehomenagem.—Pode-sedizerquesim—elerespondeu.Eucomeceiaperguntaroqueelequeriadizer,efoiaíqueeuvi.Napáginaduplaque
tinha sido feita em honra a Kelly, havia fotos de todas as suas atividades no ensinomédio. Como não era de surpreender, na maior parte das fotos ela praticava algumesporte.Haviaalgumasdeoutrasáreasdeseumundosocialeacadêmico,incluindoumadela no baile de formatura. Ela usava um vestido de cetim azul estonteante queressaltava sua silhueta atlética e dava um enorme sorriso para a câmera enquantoabraçavaseulindopar,vestidocomumsmoking.Lee.Ergui a cabeça de supetão e olhei para ele, que agora me observava com uma
expressãoimpassível.Eumevolteidenovoparaafotoeaanaliseicomcuidado.OmaisnotávelnãoeraofatodeLeeestarnafoto—apesarde,podeacreditar,euaindanãoterentendidooquehavia sepassado ali.Oquemepegou foiomomento.Aquele anuáriotinhacincoanos.Leeteriacatorzeanosnaépoca,masosujeitoqueolhavaparamimaoladodeKellycomtodaacertezanãoeratãonovoassim.OLeeda fotoera igualzinhoaorapazdedezenoveanosqueestavasentadoàminhafrente,eaquiloeraimpossível.OsMoroinão tinham imortalidade especial.Eles envelheciamcomoos humanos.Voltei aerguerosolhos,imaginandoseeudeviaperguntarseeletinhaumirmão.MasLeemepoupouapergunta.Elesimplesmentemeolhoucomumaexpressãode
tristezaesacudiuacabeça.—Merda.Eunãoqueriaqueascoisasacontecessemassim.Eentão,elepegouumafaca.
24
É estranho como a gente reage emmomentos de perigo iminente. Parte de mim era pânicopuro,comocoraçãodisparadoearespiraçãorápida.Aquelasensaçãodevazio,quefaziaparecerqueumburacotinhaseformadonomeupeito,voltou.Outrapartedemimfoicapaz de inexplicavelmente continuar pensando com raciocínios lógicos, algo como:Certo,esteéotipodefacaquepoderiacortarumagarganta.Orestodemim?Bom,orestodemimestavaapenasconfuso.Fiqueiondeestavaemantiveminhavozbaixaeinalterada.—Lee,oqueestáacontecendo?Oqueéisso?Elesacudiuacabeça.—Nãofinja.Euseiquevocêsabe.Vocêéinteligentedemais.Sabiaqueiadescobrir
tudo,masnãoacheiqueseriatãorápido.Aminhamente girava.Mais uma vez, alguémme achavamais esperta do que eu
realmente era.Acho que devia ficar lisonjeada com a crença que as pessoas tinhamnaminha inteligência,masaverdadeéqueaindanãosabiaoqueestavaacontecendo.Masnãosabiasedeixarissotranspareceririameajudaroumeprejudicar.Resolviagircomcalmaenquantoconseguisse.—Évocênafoto—eudisse,comcuidadoparanãofazersoarcomoumapergunta.—Claroquesim—elerespondeu.—Vocênãoenvelheceu—ouseidarumaolhadarápidana foto,sóparaconfirmar
porcontaprópria.Aquiloaindaestavameconfundindo.SóosStrigoinãoenvelheciamepermaneciamimortaiscomaidadeemquetinhamsidotransformados.—Isso...issoéimpossível.VocêéMoroi.—Ah,euenvelheci—eledissecomamargor.—Nãomuito.Nãoosuficientepara
vocêpoderperceber,mas,podeacreditar,euenvelheço.Nãoémaiscomoeraantes.Aindanão fazia amenor ideiadoqueele estava falando, aindanão tinha certezade
comotínhamoschegadoaopontodeLee—cujosolhossemprebrilhavamemorriamde
amores por Jill— estarme ameaçando com uma faca.Mas eu também não entendiacomoeletinhaexatamenteamesmaaparênciadeumafotodecincoanosantes.Sóhaviaumacoisaterríveldaqualestavacomeçandoatercerteza.—Você... matou Kelly Hayes— o medo no meu peito se intensificou. Ergui o
olhardalâminaparafitarosolhosdele.—Mas,comcerteza...comcertezanãomatouMelody...nemTamara...Maseleassentiu.—EDina.Mas vocênãodeve ter ouvido falar dela, não émesmo?Ela era apenas
humana,evocêsnãoacompanhamasmorteshumanas.Sóasdosvampiros.Eradifícilnãovoltaraolharparaafaca.Eusóconseguiapensaremcomoeraafiada
e estava perto de mim. Com apenas um golpe eu acabaria igualzinha àquelas outrasgarotas, com a vida se esvaindo em sangue àminha frente.Tentei enlouquecidamenteencontrar algopara dizer, desejandomais uma vez ter aprendido as habilidades sociaisqueeramtãofáceisparaoutraspessoas.—Tamaraerasuaprima—conseguidizer.—Porquematousuaprópriaprima?Ummomentodearrependimentopassoupelorostodele.—Não era o que eu queria... quer dizer, era sim...mas, bom, eu estava fora de
mim quando voltei. Eu só sabia que precisava ser despertado mais uma vez.Tamaraestavano lugarerradonahoraerrada.Eu ataquei aprimeiraMoroiquevi...masnãofuncionou. Foi aí que tentei outros.Achei que com certeza umdos tipos ia funcionar.Humano,dampiro,Moroi...nadadeucerto.Haviaumdesesperoterrívelnavozdelee,apesardomeumedo,umapartedemim
queriaajudá-lo...masestavaperdida,semesperança.—Lee,sintomuito.Nãoestouentendendo.Porquevocêprecisava“tentaroutros”?
Porfavor,largueestafacaevamosconversar.Talvezeupossaajudar.Elemelançouumsorrisotriste.—Epode.Maseunãoqueriaquefossevocê.QueriaquefosseKeith.Elecertamente
merecemorrermaisdoquevocê.EJill...bom,Jillgostadevocê.Euqueriarespeitarissoepoupá-la.—Aindaépossívelfazerisso—eudisse.—Ela...elanãoiaquererquevocêfizesse
isso.Elaficariatristesesoubesse...Derepente,Leeestavaemcimademimemeprendiaàcadeiracomafacanomeu
pescoço.—Você não sabe! — exclamou. — Ela não sabe. Mas vai saber, e vai ficar
agradecida. Ela vai me agradecer, e nós dois seremos jovens e ficaremos juntos parasempre.Vocêé aminhachance.Osoutrosnãoderamcerto,masvocê... elepassou alâminada facapertodaminha tatuagem.—Vocêéespecial.Seusangueémágico.Euprecisodeumalquimista,eagoravocêéaminhaúnicachance.—Deque...chance...vocêestáfalando?—eusoltei,semfôlego.
—Minhachancedeserimortal!—eleexclamou.—MeuDeus,Sydney.Vocênemé capaz de imaginar. Como é ter isso nas mãos e depois perder.Ter força e poderinfinitos...nãoenvelhecer, saberquevocêvaiviverpara sempre.Eentão,acabou!Foitiradodemim.Sealgumdiaeuencontrarousuáriodeespíritofilhodamãequefezissocomigo, eumato.Mato ebeboo sanguedele já que,depois destanoite, voltarei a sercompleto.Voumeredespertar.Umcalafriopercorreuaminhaespinha.À luzde tudo, seriadesepensarqueeu já
estava no nívelmáximo de terror.Que nada.Acontece que ainda haviamais por vir.Porque, com essas palavras, comecei a formar uma teoria frágil a respeito do que elepoderiaestarfalando.“Despertado”eraumtermousadonomundodosvampirosapenassobcircunstânciasmuitoespeciais.—Você era um Strigoi antes — sussurrei, sem nem mesmo ter certeza se eu
mesmaacreditavanoquedizia.Elerecuouumpoucocomosolhoscinzentosarregaladosecomumbrilhofebril.—Anteseueraumdeus!Evouvoltaraser.Issoeujuro.Sintomuito,deverdade.
SintomuitoporservocêenãoKeith.SintomuitoporvocêterdescobertoarespeitodeKelly. Se isso não tivesse acontecido, eu podia procurar outro alquimista em LosAngeles. Mas você não percebe?Agora eu não tenho outra alternativa... — a facacontinuava na minha garganta. — Eu preciso do seu sangue. Não posso continuarassim...nãocomoumMoroimortal.Precisovoltaraseroqueeraantes.Alguémbateunaporta.—Nãodênenhumpio—Leesibilou.—Apessoavaidesistir.Segundosdepois,abatidaserepetiu,seguidapor:— Sage, eu sei que você está aí. Eu vi o seu carro. Sei que você está irada, mas
precisameescutar.Ding-dong,adistraçãoestáchamando.— Adrian! — eu berrei e levantei da cadeira em um salto. Não fiz nenhuma
tentativadedesarmarLee.Omeuúnicoobjetivoeraasegurança.Euoempurreiantesquepudesse reagir e fui nadireçãodaporta,mas ele estavamais preparadodoque euesperava.Elepulouparacimademimemejogounochão;a facapegounomeubraçoquandoeucaí.Griteidedorquandosentiapontadalâminaentrarnaminhapele.Eumedebaticontraele,masissosóserviuparaafacaseenterraraindamais.A porta se abriu de repente e eu fiquei feliz por tê-la deixado destrancada após
convidarLeeparaentrar.Adrianavançouesedeteveaoabsorveracena.—Nãoseaproxime—Leeavisou,eencostoua facanaminhagargantamaisuma
vez.Dava para sentir o sangue quente escorrendo domeu braço.—Feche a porta. Eentão...sente-seecoloqueasmãosatrásdacabeça.MatoSydneysenãofizeristo.— Ele vai me matar de qualquer jeito... ahh! — as minhas palavras foram
interrompidasquandoafacaperfurouaminhapele,nãoosuficienteparamematar,mas
simparacausardor.—Certo, certo—Adriandisse e ergueu asmãos.Ele pareciamais sóbrio emais
sério do que eu jamais tinha visto.Quando se sentou no chão, com asmãos atrás dacabeça conforme tinha sido ordenado, ele disse em tom suave:— Lee, não sei o quevocêestáfazendo,masprecisapararcomissoagora,antesquevámaislonge.Vocênãotemumaarmadefogo.Nãovaitercomosegurarnósdoisaquisócomumafaca.— Já deu certo antes—Lee disse.Ainda sem afastar a faca demim, ele enfiou a
outramãonobolsodocasacoepegouumpardealgemas.Aquilofoiinesperado.JogouparaAdrian.—Coloque issonospulsos.—ComoAdriannãoreagiu imediatamente,Leeforçouafacaatéeuberrar.—Agora!Adriancolocouasalgemas.— Eram para ela, mas você ter vindo pode ser uma coisa boa— Lee disse.—
Provavelmentetereifomequandoforredespertado.Adrianarqueouumasobrancelha.—Redespertado?— Ele era Strigoi — consegui dizer. — É ele que anda matando as garotas...
cortandoagargantadelas...paratentarvoltaraserumdeles.—Fiquequieta—Leedisse,irritado.— Por que você cortava a garganta delas? —Adrian perguntou. —Você tem
caninos.—Porquenãofuncionava!Euusei, sim,osmeuscaninos.Bebiosanguedelas...mas
nãodeucerto.Nãovolteiameredespertar.Então,preciseicobrirosmeusrastros.Osguardiões sabem distinguir as mordidas de Moroi e de Strigoi. De todo modo, euprecisava da faca para dominá-las. Por isso, cortei o pescoço delas para esconder orastro...fazercomqueelespensassemqueeueraumStrigoimaluco.Ouumcaçadordevampiros.DavaparaverAdrianprocessandoaquilotudo.Nãoseiseeleacreditouounão,mas,
detodoomodo,eletinhafacilidadeparaembarcaremideiasmalucas.—Seasoutrasnãofuncionaram,entãoSydneytambémnãovaifuncionar.— Elatemque funcionar—Leedisse em tom fervoroso.Eleme virou, demodo
quefiqueivoltadacomabarrigaparacima,aindapresapelopesodocorpodele,maiordoqueomeu.—Osanguedelaéespecial.Euseiqueé.Esenãodercerto...vouprocurarajuda.
Vouprocurarajudaparameredespertar,eentãovoudespertarJillparapodermosficarjuntosparasempre.Adrianselevantouemumsalto,cheiodeumafúriasurpreendente.—Jill?Nãofaçanadacontraela!Nemtoquenela!—Sente-se—Leevociferou.Adrianobedeceu.—Jamaisfarianadademalcontra
ela. Euamo Jill. E é por isso que voume assegurar de que ela permaneça exatamente
comoé.Parasempre.Voudespertá-ladepoisquemeredespertar.Tentei olhar nos olhos deAdrian, imaginando se seria capaz de transmitir alguma
mensagem silenciosa. Se nós dois atacássemos Lee juntos — mesmo com Adrianalgemado—,talveztivéssemosumachancededominá-lo.Leeestavaapontoderasgaraminhagarganta,eutinhacerteza,naesperançadeque...oquê?DequepudessebeberomeusangueesetornarStrigoi?—Lee—eudissecomavozbaixinha.Movimentodemaisnaminhagargantafaria
comquea facamecortasse.—Nãodeucertocomasoutrasgarotas.Nãoachoqueofatodeeuseralquimista façadiferença.Seja láoqueovampirousuáriodeespírito fezpara salvar você... agora não dámais para voltar atrás.Não importa de quem seja osanguequevocêbeber.—Elenãomesalvou!—Leevociferou.—Eleacaboucomaminhavida.Fazseis
anosqueeutentorecuperá-la.Euestavaquaseprontoparaoúltimorecurso...atévocêeKeithchegarem.Eeuaindatenhoessaúltimaopção.Masnãoqueroquechegueaisso.Pelobemdetodosnós.Eunãoeraoúltimorecurso?Sinceramente,nãoconseguiavercomoqualqueroutro
plano alternativo poderia ser pior para mim. Nesse ínterim,Adrian continuava semolhar na minha direção, coisa que me deixou frustrada— até eu perceber o que eleestavatentandofazer.—Issoéumerro—eledisseaLee.—Olheparamimedigaquevocêrealmente
querfazerissocomela.Algemado ou não,Adrian não tinha a velocidade nem a força de um dampiro,
alguémquepoderiadarumpuloedesarmarLeeantesqueafacacausassedanos.Adriantambémnão tinhaopoderdeusarumelemento físico, comoo fogo, algoquepoderiaser usado como arma concreta.No entanto,Adrian tinha a habilidade de compelir.Acoação era uma habilidade inata a todos os vampiros,mas para os que controlavam oespírito a aptidão era especial. Infelizmente, funcionava melhor quando se olhava nosolhos, e Lee não estava cooperando. Sua atenção estava toda emmim, bloqueando asiniciativasdeAdrian.—Tomei minha decisão há muito tempo — disse Lee. Com a mão livre, ele
molhou os dedos no ferimento domeu braço que sangrava. Levou os dedos aos lábioscomumaexpressãoderesignaçãosombrianorosto.Elelambeuosanguedamão,coisaque não me pareceu nem de longe tão nojenta quanto teria parecido sob outrascircunstâncias. Com tanta coisa acontecendo naquele momento, sinceramente não eramaisterríveldoqueorestoeeusimplesmentedeixeipassar.Uma expressão de choque e surpresa total passou pelo rosto de Lee, que logo se
transformouemnojo.—Não— ele disse sem fôlego. Repetiu omovimento, passandomais sangue nos
dedoselambendo.—Temalgumacoisa...temalgumacoisaerrada...
Ele levou a boca até omeupescoço e eu choraminguei, temendoo inevitável.Masnãoforamosdentesdelequeeusenti,esimapenasumroçarbemdelevedeseuslábiosedalínguanoferimentoqueeletinhacausado,comoalgumaespéciedebeijoperverso.Elerecuoudesupetãoimediatamenteemeencarou,horrorizado.—Oquehádeerradocomvocê?—sussurrou.—Oquehádeerradocomoseu
sangue? — Ele fez a terceira tentativa de experimentar o meu sangue, mas nãoconseguiu terminar. Ele fez uma careta.—Eu não consigo.Não consigo engolir nemumpouco.Porquê?NemAdriannemeu sabíamos responder.Lee ficoumurchocomaderrotadurante
um momento, e eu de repente ousei pensar que ele poderia simplesmente desistir ecolocarfimàquelaloucura.Elerespiroufundoeendireitouocorpo,comdeterminaçãorenovada nos olhos. Fiquei tensa, esperando ele dizer que agora iria tentar beber osangue deAdrian, apesar do fato de que uma Moroi — duas, contando Melody —pareciaterfeitopartedocardápiodeseusfracassosanteriores.Emvezdisso,Lee tirouo celulardobolso, semafastar a facadaminhagarganta e
impedindo que eu tentasse qualquer tipo de fuga. Ele digitou um número e ficouesperandoatenderem.— Dawn? É Lee. É... é, eu sei. Bom, tenho dois para você, prontinhos, só
esperando.UmMoroi e uma alquimista.Não... não é o velho. Sim. Sim, ainda estãovivos.Temqueserhojeànoite.Elessabemsobremim.Podeficarcomeles...massabequal é o acordo.Você sabe o que eu quero... isso.Ã-hã.Certo.—Lee disse o nossoendereço e desligou.Um sorriso de satisfação cruzou seu rosto.—Nós temos sorte.ElasestãonolestedeLosAngeles,entãonãovãodemorarmuitoparachegaratéaqui...principalmenteporquenãoestãomuitopreocupadascomoslimitesdevelocidade.—Quemsão“elas”?—Adrianperguntou.—Eumelembrodevocêligarparauma
tal deDawn emLosAngeles,mas achei que fosse algumadas suas amigas gostosas dafaculdade.—Sãoelasquefazemonossodestino—Leerespondeuemtomsonhador.—Quecoisadeliciosamenteenigmáticaesemsentido—Adrianbalbuciou.LeeolhoufeioeentãoexaminouAdriancomatenção.—Tireagravata.Percebiqueeu tinhapassado tanto tempocomAdrianqueestavaprontapara fazer
algumcomentáriodo tipo:“Ah, fico felizemsaberqueas coisas jánãoestãomais tãoformais”.Aparentemente, a situação era perigosa o suficiente — e a faca na minhagargantaproblemáticaosuficiente—paraAdriannãoretrucar.Eletinhaalgemadoospulsos na frente do corpo e, depois de algumas manobras complexas com as mãos,finalmenteconseguiusoltaragravataquetinhavestidoparaodesfiledeJill.EleajogouparaLee.— Cuidado —Adrian falou. — É de seda. — No final das contas, não estava
completamentedesprovidodesarcasmo.Leemerolouparaqueeu ficassedebarrigaparabaixo;eleme livrouda faca,mas
não me deu tempo para reagir. Com habilidade notável, rapidamente amarrou asminhasmãos nas costas com a gravata deAdrian. Para isso, precisou segurar e puxarumpoucoosmeusbraços,oquedoíabastantedepoisda facada.Eleme largouquandoterminouepermitiuquemesentassecautelosamente,massódetentarforçaragravatajápercebiquenãoconseguiriadesataraquelesnóstãocedo.Inquieta,fiquei imaginandoquantas garotas ele tinha amarrado antes naquela sua tentativa doentia de se tornarStrigoi.Um silêncio estranho e constrangedor recaiu enquanto esperávamos pelas “pessoas
que fazemodestino” chegarem.Osminutos iampassandoe eupensava, enlouquecida,noquefazer.Quantotemponóstínhamosatéqueaspessoasparaquemeletinhaligadochegassem?Pelo que ele tinha dito, imaginava que seria quase uma hora. Sentindo-mecorajosa,finalmentetenteimecomunicarcomAdrian,maisumavezesperandoquenóspudéssemos combinar um ataque conjunto a Lee disfarçadamente— apesar de a nossapossibilidadedesucessoterdiminuídodemaiscomnósdoisdemãosamarradas.—Comofoiquevocêchegouatéaqui?—perguntei.Oolhar deAdrian estava fixado emLee, ainda esperançoso por contato direto dos
olhos,maseledeuumaolhadelarápidaesecaparamim.—Damesmamaneiraqueeuvouatodolugar,Sage.Deônibus.—Porquê?—Porqueeunãotenhocarro.—Adrian! — Impressionante. Mesmo com a nossa vida em perigo, ele ainda
conseguiameenfurecer.EledeudeombrosevoltouaseconcentraremLee,apesardeaspalavrasobviamente
seremparamim.—Para pedir desculpas. Porque eu fui um grande imbecil com você no desfile da
ChavedeCadeia.Poucodepoisdevocê sair,percebique tinhaque ir atrás.—Ele fezuma pausa eloquente e olhou ao redor. —Acho que nenhuma boa ação passa semcastigo.De repente me senti péssima. O fato de Lee ter se transformado em psicopata
certamente não era minha culpa, mas fiquei incomodada por Adrian estar naquelasituaçãoporteridopedirdesculpasparamim.—Tudo bem.Você não foi, hum, assim tão mau— eu disse de um jeito meio
ridículo,naesperançadefazê-losesentirmelhor.Umsorrisinhobrincounoslábiosdele.—Vocêéumapéssimamentirosa,Sage,mas,mesmoassim,estoucomovidopela
suatentativademeconsolar.Dounotadezparaoseuesforço.— É, bom... o que aconteceu lá parece meio pequeno à luz da situação atual—
balbuciei.—Éfácilperdoar.AtestadeLeeiaficandomaisfranzidaàmedidaquenosescutava.—Osoutrossabemquevocêsestãoaqui?—eleperguntouaAdrian.—Não—Adrianrespondeu.—EudissequeiavoltarparaacasadeClarence.Nãosabiaseeleestavamentindoounão.Porummomento,nãoacheiquefossefazer
diferença.Osoutros tinhamouvidoquando eudisse que ia para lá,mas nenhumdelesteriarazãoparairatrásdenós.Nenhumarazãoanãoserolaço.PrendiarespiraçãoeolheinosolhosdeAdrian.Elevirouorosto,talvezcommedo
de entregaroque eu tinha acabadodeperceber.Não importava se a turma toda sabiaondeeuestava.SeJillestivesseconectadaaAdrian,elasaberiaagora.Esaberiaquenósestávamos encrencados. Mas isso era partir do princípio de que aquele era um dosmomentos em que ela era capaz de enxergar dentro da mente dele. Os dois tinhamadmitido que o laço era inconsistente e que emoções fortes podiam causar a conexão.Bom,seissonãocontassecomosituaçãodeemoçãoforte,nãoseioquecontaria.Mesmoque ela se desse conta do que estava acontecendo, haviamuitas questões em jogo. Jillteria que chegar até ali, e não poderia fazer isso sozinha. Ligar para a polícia seria ométodo mais rápido, mas ela podia hesitar se soubesse que era caso de vampiro. Elaprecisaria de Eddie. Quanto tempo eles demorariam se já tivessem voltado para oalojamento?Eunãotinha ideia.Aúnicacoisaqueeusabiaeraqueprecisávamoscontinuarvivos
porque,seconseguíssemos,Jill iriamandarajudaparanósdeumjeitooudeoutro.Sóqueeunãosabiamaisquaiseramnossaschancesdesobrevivência.Adrianeeuestávamosconfinados,encurraladoscomumsujeitoquenãotinhamedodematarcomumafacaeque estava desesperado para voltar a ser Strigoi. Essa era uma péssima combinação, eameaçavapiorar...— Quem está vindo para cá, Lee? — perguntei. — Para quem você ligou? —
Como ele não respondeu, tirei a próxima conclusão lógica. — São Strigoi. VocêchamouStrigoiparaviraqui.—Éoúnicomodo—eledisse,enquantojogavaafacadeumamãoparaaoutra.—
Aúnicamaneiraque restou.Sintomuito.Nãopossomais ficardesse jeito.Nãopossomaissermortal.Jápassoutempodemais.Claro. Os Moroi podiam se tornar Strigoi de duas maneiras. Uma era beber o
sangue de outra pessoa e matá-la no processo. Lee tinha tentado isso, usando todacombinaçãodevítimasqueconseguiu,efracassou.Issoodeixavacomumaúltimaopçãodesesperada: a conversão por meio de outro Strigoi. Normalmente, isso acontecia àforça, quando um Strigoi matava alguém e depois dava seu próprio sangue para avítima. Era o que Lee queria que fizessem com ele, e em troca daria nossas vidas aosStrigoiqueiriamconvertê-lo.EdepoiselequeriafazeromesmocomJill,motivadopor
algumtipodeamorequivocado...—Masnãovaleapena—eudisse,comodesesperoeomedoamedarcoragem.
—Nãovaleapenaopreçodematarinocentesecolocarasuaalmaemperigo.OolhardeLee recaiu sobremime sua expressãode indiferença era tão gélida que
tivedificuldadepara assimilar que a pessoa àminha frente era amesmapara quemeusorriacomindulgênciaenquantopaqueravaJill.— Não vale, Sydney? Como é que você pode saber?Você se privou de prazer a
maiorpartedavida.Vocêédistantedosoutros.Vocênuncasepermitiuseregoísta,eolhesóondeissoafezparar.Asua“moral”fezcomqueasuavidafossecurtaeaustera.Podemedizeragora,quandoestáprestesamorrer,quenãogostariadetersepermitidoumpoucomaisdediversão?—Masaalmaimortal...—Quediferença isso fazparavocê?—ele inquiriu.—Porque se incomodarem
viver uma vida triste, toda regulada, nestemundo, na esperança de que talvez a nossaalmaváparaalgumdomíniocelestial, seeupossoassumirocontroleagora...garantirquevouviverparasemprenestemundo,comtodososseusprazeres,forteejovemparasempre?Issoéreal.Issoéalgoemquepossodepositaraminhafé.—Éerrado—eudisse.—Nãovaleapena.—Vocênãodiria issose tivessepassadopeloqueeupassei.Se tivesse sidoStrigoi,
tambémnãoiaquererperderissonunca.—Como foiquevocêperdeu?—Adrianperguntou.—Qualvampirousuáriodo
espíritosalvouvocê?Leedeuumagargalhadadedesdém.—Vocêquerdizerqualme roubou.Nãosei.Tudoaconteceutãorápido.Masassim
queeuencontraressevampiro...ahh!Um anuário não é a melhor das armas, principalmente se for do tamanho do de
Amberwood,masemumasituaçãodesesperadora—edesurpresa—serve.Eu tinha percebido antes que não ia conseguir soltar os nós da gravata rápido. Era
verdade.Demoreitodoessetempo,masconsegui.Poralgummotivo,darnóseraumahabilidadeútilnocurrículodosalquimistas,queeutinhatreinadonainfânciacomomeupai.AssimquemelivreidagravatadeAdrian,estendiobraçoepegueiaprimeiracoisaqueconsegui:oanuáriodopenúltimoanodeKelly.Eume levanteiemumpuloebaticomtudonacabeçadeLee.Eleseencolheucomoimpactoelargouafacanoprocesso,eeuaproveiteiaoportunidadeparadispararatéooutroladodasalaeagarrarobraçodeAdrian.Elenãoprecisoudaminhaajudaejáestavatentandoselevantar.Não fomos muito longe antes de Lee nos alcançar.A faca tinha escorregado para
algumlugarqueninguémviu,eeleconfiavaapenasnaprópriaforça.Elemearrastoueme separou deAdrian, com uma mão no meu braço machucado e a outra no meucabelo,mefazendotropeçar.AdriansaiuatrásdenósefezoquepôdeparaacertarLee,
apesar das mãos algemadas. Nós não éramos a força de luta mais eficiente, mas sepudéssemossegurarLeeaindaqueporummomento,haviachancedeconseguirmossairdali.Lee estava distraído com nós dois, tentando lutar conosco e nos afastar aomesmo
tempo.Semqueeumedesseconta, a auladeEddiemevoltouàcabeça, aparte sobrecomoum socobemdado era capaz de causar danos sérios a alguémmais forte doquevocê.Avalieia situaçãoemsegundosechegueiàconclusãodeque tinhaumaabertura.FecheiamãodojeitoqueEddietinhameensinadonaquelaaularápidaeposicioneimeucorpodemaneiraadirigiropesodemaneiraeficiente.Deiogolpe.—Ai!Berreidedorquandomeupunhofechadobateunele.Seessaeraamaneira“segura”
de dar um soco, não era capaz de imaginar quanto um golpe desleixado devia doer.Felizmente,parecequecausouomesmoníveldedor—senãomaior—aLee.Elecaiuparatrásebateunapoltronareclináveldeumjeitoqueperdeuoequilíbrioedesabounochão. Fiquei de queixo caído com o que tinha feito, mas Adrian continuava emmovimento.Elemeempurrouparaaporta,aproveitandoadesorientaçãomomentâneadeLee.—Vamoslá,Sage.Éagora.Nós corremos até a porta, prontos para fugir enquanto Lee gritava palavrões para
nós.Estendiamãoparaamaçaneta,masaportaseabriuantesqueeuencostassenela.EduasStrigoientraramnasala.
25
Eu tinha tirado sarro deKeith quandochegamos aPalmSprings,por ficarparalisadopertodeumMoroi.Mas,aliparada,caraacaracomumpesadelo,eusoubeexatamentecomoelese sentiu.Eunão tinhaomenordireitode julgar alguémporperder todoo raciocíniológicoaoseconfrontarcomseusmaioresmedos.Dito isso, seKeithestivesseali,achoqueele iriaentenderporqueosMoroi jánão
eram lá grande coisa para mim. Porque em comparação com os Strigoi... Bom, derepente as pequenas diferenças entre humanos e Moroi se tornavam insignificantes.Apenasumadiferençaimportava:adiferençaentreosvivoseosmortos.Eraessaalinhaquenosdividia,eeueAdriannosencontrávamosjuntosefirmesdeumladodessalinha—defrenteparaasqueseencontravamdooutro.Já tinha visto Strigoi antes. Na época, nãome senti imediatamente ameaçada por
eles.Além domais, estava comRose eDimitri àmão, prontos parame proteger. Eagora?Nãohavianinguémaquiparanossalvar.Sónósmesmos.Elas eram apenas duas, mas poderiam ser duzentas. Os Strigoi operavam em um
nível tão diferente do restante de nós que não era necessáriomuitos deles para fazer abalança pender.As duas mulheres deveriam estar na casa dos vinte anos quando setornaram Strigoi. Há quanto tempo isso tinha sido, não sabia dizer. Lee tinha sepreocupadomuitoemfalarrepetidamentearespeitodecomoserStrigoisignificavaser“jovem para sempre”. Mas, ao olhar para aqueles dois monstros, eu realmente nãopensava assim. Claro que elas tinham a aparência superficial da juventude, mas eramanchada pormaldade e podridão.A pele delas podia não ter rugas, mas era de umbrancodoentio,muitomaisbrancodoqueadequalquerMoroi.Osolhosavermelhadosque nos fitavam não faiscavam com vida ou energia, mas sim com uma espécie dereanimaçãoprofana.Nãoeramexatamentepessoas.Elasnãoeramnaturais.—Que amor— disse uma, loira de cabelo curtinho. Os traços dela me faziam
achar que tinha sido dampira ou humana antes de ser transformada.Ela nos olhava da
mesmamaneira como eu costumava ver o gato daminha família olhandopassarinhos.—Eexatamentedeacordocomadescrição.—Eles são tãããão lindos—entoouaoutra, comumsorriso lascivono rosto. Sua
alturadiziaqueantestinhasidoMoroi.—Nãoseiqualdosdoiseuqueroprimeiro.Aloiraolhoufeioparaela.—Nósvamosdividir.— Igual da última vez— a outra concordou e jogou uma juba de cabelos pretos
encaracoladosporcimadoombro.—Não—aprimeiradisse.—Daúltimavez,vocêmatouosdois.Aquilonãofoi
dividir.—Maseudeixeivocêsealimentardelesdepois.Antes que a outra pudesse retrucar, Lee se recompôs de repente e cambaleou até
ondeaStrigoiloiraestava.— Esperem, esperem. Dawn.Você prometeu. Prometeu que iria me despertar
primeiro,antesdefazerqualquercoisa.AsduasStrigoivoltaramaatençãoparaLee.Euaindaestavaparalisada, incapazde
memexer ou de realmente reagir enquanto estava tão próxima daquelas criaturas doinferno.Mas,dealgummodo,atravésdoterrordensoeesmagadorquemerodeava,euainda assim consegui sentir uma pena inesperada de Lee. Havia um pouco de ódio alitambém,éclaro,levandoemcontaasituação.Mas,namaiorparte,eusentiaumapenaenormedealguémquerealmenteacreditavaquesuavidanãotinhasentidoamenosquesacrificasse sua alma pela imortalidade vazia. Não só isso, eu tinha pena dele porrealmente pensar que poderia confiar nessas criaturas para lhe darem o que queria.Porque,aoexaminá-las,ficouperfeitamenteclaroparamimqueelasestavamdecidindoseiamounãotornaraquiloumarefeiçãodetrêspratos.Lee,eudesconfiava,eraoúnicoquenãosedavaconta.—Porfavor—eledisse.—Vocêprometeu.Mesalve.Mefaçavoltaraseroque
euera.Tambémnãopudedeixardenotarapequenamanchaavermelhadano lugaremque
euo tinhaacertado.Eumepermiti sentirumpouquinhodeorgulhopor isso,masnãoera convencida o suficiente para achar que tivesse qualquer habilidade de luta digna denota para conseguir escapar daquela situação só com a força física.As Strigoi estavampertodemais,enóstínhamosmuitopoucassaídas.—Eu sei onde temmais—ele completou, começando a parecer pouco à vontade
por suas“salvadoras” não estarem agindo imediatamente para realizar seus sonhos.—Uméjovem...umdampiro.—Faz umbom tempoque eunão tenhoumdampiro—disse a Strigoi de cabelo
cacheado,quasedesejosa.Dawnsuspirou.
—Naverdadeeunãomeimporto,Jacqueline.Sequiserdespertá-lo,váemfrente.Eusóqueroestesdois.Elenãoimportaparamim.—Entãoeuficocomodampirosóparamim—Jacquelineavisou.—Tudobem,tudobem—Dawnfalou.—Sóandelogo.Leeficoutãoradiante,tãocontente...eraumacoisarepugnantedesever.—Obrigado—eledisse.—Muitoobrigadomesmo!Faztantotempoqueeuquero
issoquenãoacreditoquevai...ahh!Jacquelinefoitãorápidaquemalviquandoaconteceu.Emummomentoelaestavaà
portae,noseguinte,tinhaprendidoLeecontraacadeirareclinável.Leesoltouumgritosemiabafadoquando elamordeuo pescoçodele, umgrito que logo se aquietou.Dawnfechouaportaenosfezavançar.Eumeencolhitodaquandoelatocouemmim.—Bom—eladisse,divertida.—Vamosnosaproximarparavermelhor.NemAdriannemeurespondemos.Nóssimplesmenteavançamosmaispelasala.Eu
deiumaolhadanele,masnãopudepercebermuitacoisa.Eleeratãobomemesconderseus verdadeiros sentimentos de maneira geral que eu acho que não devia mesurpreendercomsuacapacidadedemascararterrorabjetocomamesmafacilidade.Elenãome deu incentivo nem com a expressão nem com palavras, coisa que na verdadeconsiderei bem adequada. Porque, realmente, eu não estava vendo nenhum final felizparaaquelasituação.De perto, forçada a assistir ao ataque de Jacqueline, eu agora via a expressão de
enlevo que se instalara no rosto de Lee. Era a coisa mais horrível que eu já tinhapresenciado.Minha vontade era de fechar os olhos bem apertados ou de virar para ooutro lado, mas alguma força maior do que eu me fazia olhar fixamente para aqueleespetáculohorripilante.Eununcatinhavistonenhumvampirosealimentar,nemMoroinemStrigoi,masagoraeuentendiaporque fornecedorescomoDorothyeramcapazesdeseentregardetãobomgradoaseuestilodevida.EndorfinasestavamsendoinjetadasnacorrentesanguíneadeLee,tãofortesqueocegavamparaofatodequesuavidaestavasendosugada.Emvezdisso,eleexistiaemumestadodeêxtase,perdidoemumtorporquímico.OutalvezestivesseapenaspensandoemcomoseriafelizquandovoltasseaserStrigoi, se fosse possível manter qualquer tipo de pensamento consciente sob aquelascircunstâncias.PerdianoçãodequantotempodemorouparatodoosanguedeLeesersugado.Cada
momento era agonizanteparamim, como se eu estivesse sentindo a dor pela qualLeedeviaestarpassando.Oprocessopareceudemorarumaeternidadee,aindaassim,haviaumasensaçãoesquisitadevelocidadenele.Pareciaerradoocorpodealguémserdrenadode sangue em tão pouco tempo. Jacqueline bebia sem parar, só fez uma pausa paraobservar:—Osanguedelenãoétãobomquantoeuachavaqueseria.— Então pare — Dawn sugeriu. Ela estava começando a parecer entediada. —
Deixequeelemorraedividaestesdoisaquicomigo.Jacqueline realmente parecia estar considerando a ideia,mais uma vezme fazendo
pensaremcomoLee tinha sidoboboemdepositar suaconfiançanaquelasduas.Depoisdealgunsminutos,eladeudeombros.—Estouquaseacabando.Erealmentequeroqueelemetragaaqueledampiro.Jacquelinevoltouabeber,mas,comotinhadito,nãodemoroumuito.Aestaaltura,
Lee estava quase tão pálido quanto os Strigoi, e sua pele tinha adquirido uma texturaesticadaeestranha.Agoraeleestavaperfeitamente imóvel.Seurostopareciaparalisadoemumsorriso
que era tanto choque quanto êxtase. Jacqueline ergueu o rosto e limpou a boca,examinando sua vítima com prazer. Ela então ergueu amanga da camisa e pousou asunhasnopulso.Masantesquerasgasseaprópriapele,avistoualgumacoisa.—Ah,assimvaifazerbemmenosbagunça—elaseafastoueseabaixouparapegar
a faca de Lee. Tinha escorregado para baixo do sofazinho durante nosso embate.Jacqueline a pegou e, sem esforço nenhum, cortou o próprio pulso; o sangue bemvermelho começou a escorrer. Parte do meu cérebro não achava que o sangue delesdeviasertãoparecidocomomeu.Deviaserpreto.Ouácido.ElacolocouopulsosanguinolentonabocadeLeee inclinouacabeçadeleparatrás,
paraqueagravidadepudesseajudaro fluxo.Cadahorrorqueeutestemunhavanaquelanoite era pior doqueo anterior.Amorte era terrível—mas também fazia parte danatureza.Aquilo?Aquilo não fazia parte do plano da natureza. Eu estava prestes atestemunharomaiorpecadodomundo,acorrupçãodaalmapormeiodamagianegrapara reanimarosmortos.Aquilo fazia eume sentir imunda, e desejei poder fugir.Eunão queria ver. Eu não queria ver um sujeito que eu cheguei a considerar quase umamigoderepenteseerguercomoumaespéciedeperversãodanatureza.Umtoquenaminhamãomesobressaltou.EraAdrian.SeusolhosestavamsobreLee
e Jacqueline, mas ele tinha pegado na minha mão e apertado, apesar de ainda estaralgemado. Fiquei surpresa com o calor de sua pele.Apesar de eu saber que osMoroieramtãovivosquantoeueportantotinhamosanguetãoquentequantoomeu,medosirracionaissempremefaziampensarqueelesseriamfrios.Igualmentesurpreendentefoio confortoe a conexão repentinaque senti comaquele toque.Nãoerao tipode toquequedizia:Olhe,eutenhoumplano,porisso,aguentefirme,porquenósvamosescapardessa.Eramaisotipodetoquequesimplesmentedizia: Vocênãoestásozinha .Essaerarealmenteaúnicacoisaqueelepodiaoferecer.E,naquelemomento,foisuficiente.Então,umacoisaestranhaaconteceu.Oumelhor,nãoaconteceu.OsanguedeJacquelinesederramavaemumfluxocontínuonabocadeLee,eapesar
de não termos muitos casos documentados de conversões de Strigoi, eu sabiabasicamentecomofuncionavam.OsanguedavítimaeradrenadoedepoisoStrigoiquetinhamatado a pessoa dava seu sangue para omorto.Eu não sabia exatamente quanto
tempodemoravaparafuncionar—certamentenãoexigiatodoosanguedoStrigoi—,mas,acertaaltura,Leedeviacomeçaraseagitarealevantarcomoummorto-vivo.Aexpressão fria e arrogante de Jacqueline começou a se transformar em curiosidade e,então,confusão.ElaolhouparaDawncomardequemnãoestavaentendendonada.—Porqueestádemorandotanto?—Dawnperguntou.—Nãosei—Jacquelinerespondeu,esevirouparaLeemaisumavez.Comamão
livre,elacutucouoombrodeLee,comoseissopudesseacordá-lo.Nãoaconteceunada.—Vocênuncafezistoantes?—Dawnperguntou.—Claroquefiz—Jacquelinerespondeu,irritada.Nãodemorou tantoassim,nemde longe.Ele jádeviaestar acordado, andandopor
aí.Háalgoerrado.Eume lembrei das palavras de Lee, quando ele contou que todas as suas tentativas
desesperadasaotirarvidasinocentesnãotinhamfeitocomqueelevoltasseaserStrigoi.Eunãosabiamuitoarespeitodoespírito—emenosaindaarespeitoderestaurarumStrigoi—,masalgomediziaquenãoexistiaforçanaterracapazdefazerLeevoltaraserStrigoi.Maisumlongominutosepassouenquantoobservávamoseesperávamos.Finalmente,
desgostosa, Jacqueline se afastou da poltrona reclinável e ajeitou a manga da camisa.FicouolhandocomraivaparaocorpoimóveldeLee.—Algoestáerrado—elarepetiu.—Eeunãoquerodesperdiçarmaissanguepara
descobriroqueé.Alémdomais,meucortejáestásarando.NãohavianadaqueeuquisessemaisdoqueDawneJacquelineesqueceremaminha
existência, mas as palavras seguintes escaparam da minha boca antes que eu pudessesegurá-las.Acientistaemmimestavaenvolvidademaisemumarevelação.—Elefoirestaurado...eissooafetoudemaneirapermanente.Amagiadoespírito
deixoualgumaespéciedemarca,eagoraelenãopodevoltarasertransformado.AsduasStrigoiolharamparamim.Eumeencolhitodasobaquelesolhosvermelhos.—Eununcaacrediteiemnenhumadessashistóriasdeespírito—Dawndisse.Jacqueline,noentanto,continuavaclaramenteconfusacomseufracasso.—Mashaviaalgodeerradocomele.Nãoseiexplicar...masfoiotempotodo.Ele
nãopareciacerto.Elenãotinhaogostocerto.—Esqueça—Dawndisse.—Eleteveachancedele.Recebeuoquequeria,eagora
vouseguiremfrente.Viaminhamortenosolhosdelaetenteitocaraminhacruz.—Deusmeproteja—disse,bemquandoelaseprojetouparaafrente.Contra todas as probabilidades, Adrian estava pronto para detê-la — ou, pelo
menos,paratentar.Naverdade,elesósecolocounafrentedela.Nãoteveavelocidadenemoreflexonecessáriosparabloqueá-lacomeficiência,eestavaaindamaisatrapalhadoporcausadasmãosalgemadas.Achoqueelesópercebeuoqueaconteceriaemseguida,
que ela ia me atacar, e se colocou na minha frente para evitar o bote, em algumatentativanobre,porémmalsucedida,demeproteger.Ecomofoimalsucedida.Comummovimentoágileaparentementesemesforço,ela
oempurroudeladoeomandouparaomeiodasala.Fiqueisemfôlego.Elecaiunochãoeeucomeceiaberrar.Derepente,sentiumadoragudanagarganta.Semparar,Dawnhaviaprontamentemeagarradoemeerguidonoarparaganharacessoaomeupescoço.Eu balbucieimais uma oração frenética quando a dor se espalhou,mas, em segundos,tantoarezaquantoadordesapareceramdomeucérebro.Tinhamsidosubstituídasporuma sensação doce, tão doce, de felicidade e enlevo e encantamento. Eu não tinhapensamentos, a não ser de que eu de repente existia no estado mais feliz e maisesplêndido que se podia imaginar. Eu queria mais. Mais, mais, mais. Eu queria meafogarnaquilo,meesquecerdemimmesma,esquecertudoaomeuredor...— Ugh— exclamei quando bati no chão de maneira súbita e inesperada.Ainda
naquelanévoadeêxtase,eunãosentiador.Porenquanto.Com a mesma rapidez que tinha me agarrado, Dawn tinha me soltado e me
empurradoparalonge.Porinstinto,estendiobraçoparanãocair,masnãoconseguimesegurar.Euestava fracaedesorientadademaisemeestateleidemaneiranadagraciosano carpete.OsdedosdeDawn tocavam seus lábios comuma expressãodeultraje quecontorciaaindamaisseustraçosjápavorosos.—Oquefoiisso?—elainquiriu.Meucérebro aindanãoestava funcionandodireito.Eu só tinha sentidoumgostinho
daendorfina,masfoisuficienteparamedeixarpodre.Eunãotinharespostaparaela.—Qual é o problema?— Jacqueline exclamou, avançando em nossa direção. Ela
olhoudemimparaDawn,confusa.Dawn fezumacaretaeentãocuspiunochão.O líquidoeravermelhoporcausado
meusangue.Quenojo.—Osanguedela...tinhaumgostohorrível.Nãodavaparaengolir.Imundo.—Ela
cuspiudenovo.OsolhosdeJacquelinesearregalaram.—Igualaooutro.Estávendo?Eudisseparavocê.—Não—Dawn sacudiu a cabeça.—Não pode ser amesma coisa.Você nunca
teria conseguido beber tanto dela.—Cuspiumais uma vez.—Não é só que tivessegostoestranhoouruim...eracomoseestivesseadulterado.—Aoveroolhardescrentede Jacqueline, Dawn deu um soco no braço dela. — Não acredita em mim?Experimenteparaver.Jacquelinedeuumpassonaminhadireção,hesitante.EntãoDawncuspiumaisuma
vezeachoque,dealgummodo,convenceuaoutraStrigoidequeelanãoiaquerersaberdemim.—Nãoquerooutrarefeiçãomedíocre.Caramba.Issoaquiestáficandoabsurdo.—
JacquelinedeuumaolhadaemAdrian,queestavaperfeitamenteimóvel.—Pelomenos,aindatemoseste.—Senãoestiverestragadotambém—Dawnbalbuciou.Meussentidosestavamvoltandoe,durantemeiosegundo,fiqueiimaginandosehavia
algumamaneirainsanadenóssobrevivermosàquilo.TalvezasStrigoinosdispensassemcomorefeiçõesruins.Masnão.Mesmonutrindoessaesperança,eusabiaque,aindaqueelas não se alimentassem de nós, não nos deixariam vivos. Não tinham motivo parasimplesmenteirembora.Iriamnosmatarpordiversãoantesdesair.Comamesmavelocidadenotável,JacquelinesaltounadireçãodeAdrian.—Estánahoradedescobrir.EugriteiquandoJacquelineprendeuAdriancontraaparedeemordeuopescoçodele.
Só demorou alguns segundos para experimentar. Ela ergueu a cabeça e fez uma pausaparasaborearosangue.Umsorrisovagarososeespalhouporseurosto,mostrandoseuscaninosensanguentados.—Este aqui é bom.Muito bom.Compensa o outro.—Ela passou os dedos pela
bochechadele.—Éumapena.Eleétãobonito.Dawnfoipisandofirmeatéondeelesestavam.—Queroexperimentarantesquevocêacabecomtudo!JacquelineaignorouejáestavaseinclinandoporcimadeAdrianmaisumavez;ele
estavacomosolhosvidrados.Nesse ínterim,eu jáestava livreobastantedaendorfinaparaclarearospensamentosmaisumavez.Ninguémestavaprestandoatençãoemmim.Tenteimelevantaresentiomundogirar.Fiqueiagachadaefuiengatinhandonadireçãodaminhabolsa,queestava jogadaeesquecidanocantoda sala. Jacqueline tinhabebidodeAdrianmais uma vez,mas só umpouquinho, antes deDawn a puxar para longe eexigirsuavez,parapodertirarogostodomeusanguedaboca.Assustada com a velocidade com que me movia, remexi na minha bolsa funda,
procurandodesesperadaporalgoquepudesseajudar.Algumapartefriaelógicaemmimdizia que não havia como escaparmos, mas também não havia como ficar lá paradaolhando enquanto as duas secavam o sangue deAdrian. Eu tinha que lutar.Tinha quetentarsalvá-lo,domesmojeitoqueeletinhafeitocomigo.Nãoimportavaseatentativanãodessecertoouseeumorresse.Dealgummodo,euprecisavatentar.Algunsalquimistascarregavamarmas,maseunão.Aminhabolsaeraenorme,cheia
com mais coisas do que eu realmente precisava, mas nada em seu conteúdo seassemelhava a uma arma. Emesmo que se assemelhasse, amaior parte das armas erainútil contra os Strigoi. Uma arma iria detê-las por um tempo, mas não matá-las.Apenasestacasdeprata,decapitaçõesefogopodiammatarumStrigoi.Fogo...Minhamãosefechouemvoltadoamuletoqueeutinhafeitoparaasra.Terwilliger.
Eutinhaenfiadonabolsaquandoelameentregou,semsabermuitobemoquefazercom
aquilo. Só podia supor que a perda de sangue e os pensamentos dispersos tinhammelevadoapegá-loeconsiderarapossibilidadedeusá-lo.Atéessepensamentoeraridículo.Nãodavaparausaralgoquenãofuncionava!Eraumabugiganga,umsaquinhoinútildepedrasefolhas.Nãohaviamagiaalieeueraidiotasódeconsiderarapossibilidade.E,noentanto,eraumsacodepedras.Não era pesado, mas certamente bastava para chamar a atenção de alguém se lhe
batesse na cabeça. Era amelhor coisa que eu tinha.O único objeto que eu tinha paraadiar a morte de Adrian. Coloquei o braço para trás, mirei em Dawn e joguei,recitandooencantotolo:—Emchamas,emchamas!Foi um belo lançamento.A srta. Carson teria ficado orgulhosa. Mas eu não tive
chancedeadmirarminhashabilidadesatléticasporquefiqueidistraídademaiscomofatodequeDawntinhapegadofogo.Meu queixo caiu enquanto eu olhava fixo para o impossível. Não era um fogo
enorme.Nãoeracomoseocorpo tododelaestivesse sendoengolidoporchamas.Masno lugar em que o amuleto a atingiu, um fogo pequeno se acendeu e se espalhou comrapidezporseucabelo.Elaberrouecomeçouabaternacabeçaemgestosfrenéticos.OsStrigoi tinham medo de fogo e, por um instante, Jacqueline recuou. Então, comdeterminação firme,ela soltouAdrianepegouumamanta.ElaaenrolounacabeçadeDawneabafouofogo.— Mas que diabo? — Dawn quis saber quando saiu de baixo da manta. Ela
imediatamente começou a avançar naminhadireção em sua ira.Eu sabia que só tinhaconseguidoacelerarminhaprópriamorte.Dawnmeagarrouebateuaminhacabeçacontraaparede.Omundogiroueeume
sentienjoada.Elaestendeuamãoparamimmaisumavez,masficouparalisadaquandoaportaseabriudesupetãoeEddieapareceucomumaestacadepratanamão.Omais impressionante sobreoque aconteceu a seguir foi a velocidade.Nãohouve
pausa,nenhumlongomomentoparaavaliarasituaçãoenenhumatrocadeprovocaçõesentreoscombatentes.Eddiesimplesmenteatacou;foiparacimadeJacquelineprimeiro.Ela reagiu com igual rapidez, avançando rápido para enfrentar sua única ameaçapresente.DepoisqueelasoltouAdrian,eledesabounochão,aindasobosefeitosdasendorfinas
da Strigoi. Sem me levantar do chão, corri até ele e ajudei-o a se arrastar até a“segurança” do outro lado da sala, enquanto Eddie lutava com a Strigoi. Só dei umaolhadaneles,osuficienteparaperceberanaturezamortaldeseusgolpes,quepareciamuma dança. Ambas Strigoi estavam tentando agarrar Eddie, provavelmente comesperançadequebrarseupescoço,mastomandocuidadoparaescapardosgolpesdesuaestacadeprata.Olhei para Adrian, que estava perigosamente pálido e cujas pupilas tinham se
reduzido ao tamanho de pontas de alfinete. Eu só tinha uma impressão grosseira doquantoJacquelinetinhabebidodeleenãosabiaseoestadodeAdrianeramaisdevidoàperdadesangueouàsendorfinas.—Estoubem,Sage—elebalbuciouepiscoucomosea luzomachucasse.—Mas
estou bem chapado. Isso faz as coisas que eu uso parecerembem fracas—ele piscou,como se estivesse se esforçando para acordar. Suas pupilas se dilataram para umtamanhomais normal e então pareceram se focar emmim.—MeuDeus. Você estábem?—Vouficar—eudisseecomeceiamelevantar.Mas,antesmesmoqueeupudesse
terminar de falar, uma onda de tonturame atingiu e eu cambaleei.Adrian fez o quepôdeparamesegurar,masestavabemdesajeitadoporcausadasmãospresas.Nósnosapoiamosumcontraooutroeeuquasedeirisadadoridículodasituação,umtentandoajudarooutro,sendoquenenhumdosdoisestavaemcondiçõesdefazerisso.Entãoalgochamouaminhaatençãoetodososoutrospensamentossedesfizeram.—Jill—sussurrei.Adrian imediatamente seguiuomeuolhar atéo lugar emque Jill tinha acabadode
aparecernaportadasala.Nãofiqueisurpresaemvê-la.EddiesópodiaestaraliporqueJill devia ter dito a ele o que estava acontecendo comAdrian por meio do laço deespírito.Ali parada, com os olhos faiscando, ela parecia algum tipo de deusa feroz, pronta
paraabatalhaenquantoassistiaaoembatedeEddiecomaStrigoi.Aquilofoiaomesmotempoinspiradoreassustador.Adriancompartilhoudosmeuspensamentos.—Não, não, Chave deCadeia— elemurmurou.— Não faça nenhuma idiotice.
Castilevaiterquedarcontadissosozinho.—Elasabelutar—eudisse.Adrianfranziuatesta.—Maselanãotemnenhumaarma.Assim,elaéumpeso-penanestaluta.Ele tinha razão, é claro.E aomesmo tempoqueeunãoqueriaque Jill arriscasse a
própria vida, não podia evitar pensar que, se ela estivesse equipada adequadamente,poderiasercapazdeajudar.Nomínimo,umadistraçãopoderiaserumbenefício.Eddieestava tomando conta de seu terreno contra as duas Strigoi, mas também não estavafazendo nenhum progresso contra elas. Uma ajuda seria boa. E nós precisávamosgarantir que Jill não entrasse apressada naquilo, só com os próprios punhos para sedefender.Uma inspiração se abateu sobremim e eu consegui ficar em pé.Omundo girava
ainda mais do que antes, mas — apesar das reclamações de Adrian — conseguicambalear até a cozinha.Mal consegui chegar até a pia e abrir a torneira e asminhaspernascederamembaixodemim.Eumeagarrei àbeiradadapiaeconseguicontinuarempé.
—Jill!—berrei.Elasevirounadireçãodomeugrito,viuaáguacorrendoenomesmoinstantesoube
oquefazer.Elaergueuamão.Ojatodeáguaquesaíadatorneiraderepentemudoudedireçãoedisparouparaforadapia,paraooutroladodasala.ElefoiatéJill,quepegouuma grande quantidade com as mãos e, usando magia, forçou a água a assumir umformatocilíndricolongo.Elesesustentounoarassim,umtacodeáguaaparentementesólido,aindaqueondulante.Elaoagarroueentrouna luta,dandoumgolpenascostasde Jacqueline com sua arma. Gotas saíram voando do “taco”, mas ele manteve suarigidez o suficiente para que ela desferisse um segundo golpe antes de ele explodircompletamenteemumborrifodeágua.JacquelinesevirouparatráscomamãoestendidaparaacertarJill.Maselajáestava
esperando por isso e se jogou no chão, desviando-se exatamente da maneira como eutinhavistoEddieensiná-la.ElarecuouparalongedoalcancedeJacquelineeaStrigoifoiatrás— dando assim uma chance a Eddie de acertar suas costas. Eddie aproveitou aoportunidade,esquivando-sedeDawn,eenterrousuaestacanascostasdeJacqueline.Eununca tinha pensado nisso, mas se fosse enfiada com força suficiente, uma estaca eracapazdeperfurarocoraçãodealguémpelascostascomamesmafacilidadequeteriasefosse enfiada pelo peito. Jacqueline ficou rígida, e Eddie arrancou a estaca, pormuitopouco se esquivandodeumgolpedesferido com toda a forçadeDawn.Mesmo assim,ela o acertou um pouco e ele cambaleou de leve antes de retomar o equilíbrio comrapidezevoltaraatençãoparaela.Jillfoiesquecidaelogocorreuaténós,nacozinha.—Está tudobemcomvocês?—elaexclamouaoolharparanósdois.Aexpressão
feroz tinha desaparecido.Agora ela era só uma garota comum preocupada com osamigos.—Ai, meu Deus. Eu estava tão preocupada com vocês dois...As emoçõeseramtãofortes!Eunãoconseguiamefixarnoqueestavaacontecendo,sósabiaquealgoestavamuitoerrado.ArrasteimeuolharparaEddie,quedançavadeumladoparaooutrocomDawn.—PrecisamosajudarEddie...Dei dois passos para longe da pia e comecei a cair. Tanto Jill quanto Adrian
estenderamosbraçosparamesegurar.—PorCristo,Sage—eleexclamou.—Vocêestápéssima.—Nãotantoquantovocê—reclamei,aindapreocupadaemajudarEddie.—Elas
beberammaisdevocê...—É,maseunãotenhoumaferidanobraçoqueestásangrando—eleapontou.—
Nemumapossívelconcussão.Eraverdade.Comtodaaquelaagitação,euestavatãocheiadeadrenalinaquequase
tinhameesquecidodafacadaqueLeetinhamedado.Nãoeraparamenosqueeuestavatão tonta.Ou talvez fossepor terbatido a cabeça com toda a forçanaparede.Àquelaaltura,qualquerumadasalternativaspodiaestarcorreta.
—Pronto—Adrian disse com gentileza. Ele pegou osmeus braços com asmãosalgemadas.—Eucuidodisto.Um calor lento e formigante tomou conta daminha pele.No começo, o toque de
Adrianfoireconfortante,comoumabraço.Sentiatensãoeadorcomeçaremarelaxar.Tudoestavacertonomundo.Eletinhatudosobcontrole.Eleestavacuidandodemim.Eleestavausandosuamagiaemmim.—Não!—solteiumberroestridenteemeafasteidelecomumaforçaqueeunão
sabia ter.Opavoreapercepção totaldoqueestavaacontecendocomigo forammuitofortes.—Nãotoqueemmim!Nãotoqueemmimcomasuamagia!—Sage,vocêvaisesentirmelhor,podeacreditar—eledisseeestendeuamãopara
mimmaisumavez.Eu recuei, agarrada à beirada da pia parame apoiar.A lembrança fugidia daquele
caloreconfortoeradiminuídapelopavorqueeutinhacarregadoavidatodaemrelaçãoàmagiadosvampiros.—Não,não,não.Nadademagia!Nãocomigo.Atatuagemvaimecurar!Eusou
forte!—Sage...—Pare,Adrian.— Jill disse. Ela se aproximou demim, incerta.—Tudo bem,
Sydney.Elenãovaicurarvocê.Juroquenãovai.—Nadademagia—sussurrei.—PeloamordeDeus—Adrianresmungou.—Issoébesteirasupersticiosa.—Nadademagia—Jilldissecomfirmeza.Elatirouacamisadeabotoarqueusava
porcimadeumacamiseta.—Venha aqui eeuvouusar istopara amarrar,paravocênãoperdermaissan...Umberrodeperfurarotímpanofezcomquetodosnósvoltássemosaatençãoparaa
sala.Eddietinhaacertadosuavítima,enfiandoaestacabemnomeiodopeitodeDawn.DuranteminhabrevedisputacomAdrianeJill,DawndeviateracertadoalgunsgolpesemEddie,porquehaviaumamarcavermelhagrandeemumdos ladosdo rostodeleeseulábiosangrava.MasaexpressãoemseusolhoseraduraetriunfantequandoelepuxouaestacaeobservouDawncair.No meio de toda aquela confusão e horror, os instintos básicos de alquimista
tomaramcontademim.Operigotinhaacabado.Haviaprocedimentosqueprecisavamserseguidos.—Os corpos—eu disse.—Precisamos destruí-los.Temuma ampola naminha
bolsa.—Opa,opa—Adriandisse,enquantoeleeJillamarravamacamisaemmim.—
Fiqueondeestá.Castilepodepegar.Oúnicolugaraondevocêvaiéatéummédico.Nãomemexi,masimediatamentediscordeidaúltimaafirmação.—Não!Nadademédicos.Pelomenos,vocêstêmque...vocêstêmquearrumarum
médicoquesejaalquimista.Osnúmerosestãonaminhabolsa...—Vápegarabolsadela—AdriandisseaJill—,antesqueelatenhaumchilique.
Euamarroobraço.—Olheifeioparaele.—Semmagia.Que,porsinal,poderiafazercomqueissofossedezvezesmaisfácil.—Vousararsozinha—eudisseenquantoobservavaJillpegaraminhabolsa.—Você se dá conta—Adrian completou— de que vai precisar superar a sua
fixação por dieta e consumir umas boas calorias para lutar contra a perda de sangue?Açúcar e líquidos, igualzinho aClarence.Ainda bem que alguém embalou todos essesdocesqueestãonobalcão.Eddie caminhou até onde Jill estava, e ela fez uma pausa quando ele perguntou se
estava tudobemcomela. Jillgarantiuquesime,apesardeEddieestarcomo jeitodequemseriacapazdematarmaisunscinquentaStrigoi,tambémhaviaumaexpressãonosolhos dele... algo que eu acreditei nunca ter notado.Algo sobre o que eu teria querefletir.—Droga—disseAdrian, lutandocomopano.—Eddie,vejanocorpodeLeese
temumachaveparaestasalgemasdesgraçadas.Jill tinha se envolvido na conversa com Eddie, mas ficou paralisada ao escutar as
palavras “o corpo de Lee”. O rosto dela ficou tão pálido que ela poderia ser um dosmortos.Nomeio de toda aquela confusão, ela não tinha reparado no corpo de Lee napoltrona.TinhahavidoagitaçãodemaiscomasStrigoi,distraçãodemaiscomaameaçaqueelasrepresentavam.Eladeualgunspassosnadireçãodasalaefoiquandooviu.Suaboca seabriu,masnenhumsomsaiu imediatamente.Entãoeladeuumpassoadianteeagarrouasmãosdele,berrando.—Não!—elaexclamou.—Não,não,não!—elaosacudiu,comoseissopudesse
acordá-lo. Em um piscar de olhos, Eddie estava ao seu lado, abraçando-a, enquantomurmurava coisas sem sentidopara reconfortá-la.Elanão escutou. Seumundo inteiroeraLee.Senti lágrimas brotando nosmeus olhos e detestei o fato de estarem ali. Lee tinha
tentado me matar e depois tinha chamado mais duas para terminar o serviço.Tinhadeixado um rastro de inocentes atrás de si. Eu devia estar contente por ele não estarmaisali;noentanto,eumesentiatriste.EleamavaJill,àsuamaneirainsana,epeladorno rosto dela, era óbvio que ela também o amava. O laço de espírito não tinha lhemostrado a morte dele nem o papel que ele tinha desempenhado para nossa captura.Naquelemomento, ela simplesmente achava que ele tinha sido vítima das Strigoi. Elalogoficariaapardaverdadesobreosintuitosdele.Eunãosabiaseissoiriaaliviaradordelaounão.Estavaachandoquenão.De uma maneira estranha, uma imagem do quadro Amor deAdrian me veio na
cabeça. Pensei no traço vermelho torto, rasgando omeio da escuridão, dilacerando-a.Ao olhar para Jill e sua dor inconsolável, de repente entendi a arte dele um pouco
26
Demoroudiasatéqueeuconseguissereunirahistóriatoda,tantoemrelaçãoaLeequantosobrecomoEddieeJilltinhamchegadoparanossalvarnaquelanoite.Depois de ter Lee como a peça que faltava, foi fácil conectar os assassinatos de
Tamara, Kelly, Melody e Dina, a garota humana que ele tinha mencionado.Todastinhamsidomortasnodecorrerdosúltimoscincoanos,ouemLosAngelesouemPalmSprings,emuitagente tinhaprovasdocumentadasdeconhecê-lo.Elasnão tinhamsidovítimas aleatórias. O pouco que conseguimos descobrir a respeito da história de Leepartiu de Clarence, apesar de nem isso ter ficado muito claro. Pelo que pudemosconcluir, Lee tinha sido transformado em Strigoi à força, cerca de quinze anos antes.Tinhapassadodezanosassim,atéqueumvampirousuáriodeespíritoorestaurou,parao desgosto deLee.Clarence já não tinha a cabeçamuito no lugar naquela época e nãohavia questionado como o filho tinha voltado para casa depois de dez anos semenvelhecer. Ele evitou responder às nossas perguntas relativas a Lee ser Strigoi, e nósnão sabíamos seClarence simplesmentenão sabiaou seestavaemnegação.Damesmamaneira,nãoficouclaroseClarencesabiaounãoqueoprópriofilhoestavaportrásdamortedeTamara.Ateoriamalucadoscaçadoresdevampirosprovavelmenteeramaisfácilparaeleengolirdoqueaverdadesobreocaráterassassinodofilho.InvestigaçõessobreafaculdadedeLeeemLosAngelesmostraramqueelenaverdade
não estivera realmentematriculado desde antes de se tornar Strigoi.Quando voltou aserMoroi, tinhausadoa faculdadecomodesculpapara ficaremLosAngeles,ondeeramais fácil encontrar suasvítimas—enósdesconfiávamosquehaviamaisdelasdoquenossos registrosmostravam.AssimcomoMelodyeDina,parecequeele tinha tentadotomarosanguedealgumasvítimasdecadaraça,naesperançadequealgumadelasfosse“acerta”,queofariavoltaraserStrigoinovamente.A pesquisa mais aprofundada sobre Kelly Hayes revelou algo em que eu devia ter
pensado logo de cara. Ela era dampira.Tinha aparência de humana, mas o histórico
estrelar nos esportes foi o queme deu a dica. Lee tinha se deparado com ela quandovisitavaopaicincoanosantes.Atacarumadampiranãoerafácil,eporissoelepareciateraplicadootruquedenamorá-laparaatraí-la.Nenhum de nós sabia nada sobre o “maldito usuário de espírito” que o tinha
convertido, apesar de isso ser do interesse tanto dos alquimistas quanto dos Moroi.Havia poucos usuários de espírito nos registros, e com tantas informações aindadesconhecidas sobre seus poderes, todo mundo queria saber mais. Clarence afirmavacomveemênciaquenãosabianadaarespeitodesseusuáriodeespíritomisterioso,eeuacreditavanele.Alquimistas passaram a semana toda indo e vindo de Palm Springs, dando jeito na
bagunça e entrevistando todos os envolvidos.Tive reuniões com vários deles, contei aminha história vez após outra, e finalmente tive meu último interrogatório comStanton,nahoradoalmoçoemumsábado.EumeioquetinhauminteresseperversoemsaberoquetinhaacontecidocomKeith,maschegueiàconclusãodequenãodeviatocarnoassuntoà luzdetudoomaisqueestavaacontecendo.Elenãoestavaali,eeraoqueimportavaparamim.—AautópsiadeLeenão revelounada foradocomumparaumMoroinormal,de
acordocomosmédicosdeles—Stantonmedisseentregarfadasdelinguiniàcarbonara.Parece que comer e discutir cadáveres não eram coisas excludentes.—Mas, bom, éprovávelqueumacoisa...mágicanãofosseaparecermesmo.—Masdevehaveralgodeespecialarespeitodele—eudisse.Estavasóremexendo
a comida pelo prato.—O fato de seu envelhecimento ter sido retardado já era umaprovasuficiente...maseoresto?Querdizer,elebebeudetantasvítimas.Eaíeuvioque Jacqueline fez com ele.Aquilo devia ter funcionado. Todos os procedimentoscorretosforamseguidos.Fiqueisurpresadesercapazdefalardemodotãoclínicoarespeitodaquilo,depoder
parecer tão desapegada. Mas, na verdade, era apenas o meu lado de alquimistaassumindoocontrole.Dentrodemim,osacontecimentosdaquelanoitetinhamdeixadoumamarcapermanente.Quandofechavaosolhosnahoradedormir,enxergavaamortedeLee e Jacqueline lhe dando sangue.Lee, que tinha dado flores para Jill e nos levadoparajogarminigolfe.Stantonassentiu,pensativa.—EissosugerequeaquelesquesãorestauradosdepoisdesetornaremStrigoificam
imunesaumanovatransformação.Ficamos ali em silêncio por um momento, deixando o peso das palavras ser
absorvido.—Issoéalgoimportantíssimo—eufinalmentedisse.Nossa,eramuitomaisdoque
isso.Leeapresentavadiversosmistérios.Eletinhacomeçadoaenvelhecerquandovoltoua ser Moroi, mas em ritmo bem mais lento. Por quê? Nós não sabíamos dizer com
certeza, mas essa descoberta por si só era monumental, assim como a minhadesconfiança de que ele não podia mais usar a magia dos Moroi. Eu tinha ficadoapavorada quando Jill pediu a ele que criasse névoa enquanto estávamos jogandominigolfe,mas,pensandomelhor,ocorreu-mequeelenaverdadepareceunervosocomospedidosdela.Maseo resto?O fatodequealgo tinhamudadonele,queoprotegia,aindaquecontrasuaprópriavontade,devoltaraserStrigoi?Poisé.“Importantíssimo”nemcomeçavaadescreveragravidadedaquilo.— Muito — Stanton concordou. — Metade da nossa missão é impedir que os
humanos escolham sacrificar sua alma pela imortalidade. Se houvesse umamaneira decaptaressamagia,descobriroqueprotegeuLee...bom,osefeitosteriamlongoalcance.—ParaosMoroi também—observei.Eu sabiaqueentre eles eosdampiros, ser
forçadoasetransformaremStrigoieraconsideradocomfrequênciaumdestinopiordoqueamorte.Sehouvessealgumamaneiramágicadeseproteger,issosignificariamuito,jáqueelessedeparavamcomStrigoimuitomaisdoquenós.Podíamosestarfalandodealgumtipodevacinamágica.—Claro que sim—disse Stanton, apesar de seu tom implicar que ela não estava
muitopreocupadacomosbenefíciosparaaquelaraça.—Podeatéserpossível impedircriaçõesfuturasdeStrigoi.Mastambémháomistériodoseusangue.VocêdissequeosStrigoinãogostaramdele.Issotambémpodeserumtipodeproteção.Estremecicomalembrança.—Talvez.Aconteceutãorápido...édifícildizer.Ecertamentenãoserviuparame
protegercontraosStrigoiquereremquebraromeupescoço.Stantonassentiu.— Certamente é algo que vamos ter de investigar mais para a frente. Mas,
primeiro,precisamosentenderoqueaconteceucomLee.—Bom— eu disse.—O espírito deve ter um papel importante, certo? Lee foi
restauradoporumusuáriodeespírito.UmgarçomseaproximoueStantonfezumsinalparaquelevasseseuprato.—Exatamente. Infelizmente, temosumaquantidademuitoreduzidadeusuáriosde
espírito comquem trabalhar.VasilisaDragomirmal tem tempode fazer experiênciascomseuspoderes.SonyaKarpseofereceuparaajudar,eestaéumanotíciaexcelente,jáqueelaprópria éumaex-Strigoi.Nomínimo,poderemosobservar adesaceleraçãodoenvelhecimentoemprimeiramão.Ela só temdisponibilidadeporumperíodocurto,eosMoroiaindanãoresponderamaomeupedidoporalgunsoutrosindivíduosúteis.Mas,se tivéssemos outro usuário de espírito àmão, que não tivesse outras obrigações paradistraí-lodesuatarefadenosajudaremtempointegral...Elaolhouparamim,esperandoumareação.—Adrian?—perguntei.—Você acha que ele ajudaria nessa pesquisa? Sobre algumamaneiramágica de se
proteger contra a conversão em Strigoi? Como eu disse, entre Sonya e os outros, eleteria ajuda — ela se apressou em completar. — Falei com os Moroi, e eles estãomontando um grupinho com bastante experiência com os Strigoi. O plano é que osmandemparacáembreve.SóprecisamosqueAdrianajude.—Uau.Vocêssãorápidos—murmurei.Com as palavras“Adrian” e“pesquisa”, aminhamente juntou imagens em que ele
estavaemumlaboratório,comaventalbranco,debruçadoporcimadetubosdeensaioebéqueres.Eusabiaqueapesquisarealnãoserianemumpoucoparecidacomisso,masera uma imagem difícil de desfazer.Também era difícil imaginarAdrian concentradocom seriedade em qualquer coisa. Só que eu ficava pensando e pensando queAdrianpoderia se concentrar se tivesse algo com que se preocupar. Será que aquilo tinhaimportânciasuficiente?Realmentenãosabiadizer.Eradifícildemaisimaginarquemotivopoderiasernobre
o suficienteparachamaraatençãodele.Maseu tinhaquasecertezadeconheceralgunsbenefíciosbemmenosnobresquepoderiamfazercomqueeleficassedonossolado.—Sevocêsarrumaremumlugarparaelemorarsozinho,eleajuda—eufinalmente
disse.—EleestáloucoparasairdacasadeClarenceDonahue.AssobrancelhasdeStantonseergueram.Elanãoestavaesperandoporisso.—Bom.Estenãoéumpedidoenorme,suponho.E,naverdade,estamospagandoa
conta do antigo apartamento de Keith, já que ele tirou um ano de licença. O sr.Ivashkovpoderiasimplesmentesemudarparalá,sóque...—Sóqueoquê?Stantondeudeombrosdeleve.— Eu ia oferecer o lugar paravocê. Depois de muita discussão, resolvemos
simplesmentedeixarvocêcomoaalquimistaresponsávelpelaáreaaqui,tendoemvistaa... partida desafortunada de Keith.Você pode sair deAmberwood,mudar-se para oapartamentodeleesimplesmentesupervisionarasatividadesdelá.Eufranziatesta.—MaseuacheiquevocêsqueriamalguémparaficarcomJillotempotodo.— Queremos, sim. Na verdade, encontramos uma opção melhor... sem querer
ofender.OsMoroiconseguiramlocalizarumagarotadampiradaidadedeJillque,alémdeservircomocolegadequartoparaela,tambémpoderásersuaguarda-costas.Elavaivirparacájuntocomospesquisadores.Vocênãoprecisamaisfazeropapeldealuna.O mundo rodou. Tramoias e planos dos alquimistas estavam sempre em ação.
Parecia quemuita coisa tinha sido decidida naquela semana. Refleti a respeito do queaquilo significava.Nadamais de lição de casa, nadamais de política de ensinomédio.Liberdadedeirevirquandoeubementendesse.Masissotambémsignificavameafastardos amigos que eu tinha feito—Trey,Kristin, Julia. Eu continuariame encontrandocomEddieeJill,masnãotanto.Eseeuestivessesozinha,seráqueosalquimistas—ou
omeupai—iriamajudarapagaraulasnafaculdade?Poucoprovável.—Tenho mesmo que sair da escola? — perguntei a Stanton. — Posso dar o
apartamentoaAdriane ficaremAmberwoodmaisumpouco?Pelomenosatévermosseconseguimosoutrolugarparaeumorar?Stantonnãosedeuaotrabalhodeescondersuasurpresa.—Não achei que você iria querer continuar lá.Achei que ficaria particularmente
felizpornãoprecisarmaisdividiroquartocomumavampira.E, assim, todos osmedos e a pressão que eu tinha enfrentado antes de vir a Palm
Springsdesabaramemcimademim.Adoradoradevampiros .Comoeuera idiota.EudeviateragarradoachancedemeafastardeJill.Qualqueroutroalquimistateriaagidoassim.Aome oferecer para ficar, era provável que eu estivesse levantando suspeitas ameurespeitomaisumavez.Comoeupoderiaexplicarquehaviamuitomaiscoisaemjogonaminhaescolhadoqueapenasumatrocadecolegadequarto?—Ah—eudisse,comexpressãoneutra.—Quandovocêdissequeiaprovidenciar
paraJillumadampiradamesmaidadedela,acheiqueelasficariamnomesmoquartoeeu não precisaria mais ficar com ela.Achei que ia ter um quarto só para mim noalojamento.—Issoprovavelmentepodeserprovidenciado...— E, sinceramente, depois de algumas das coisas que aconteceram, me sentiria
melhorsepudesseficardeolhoemJill.Vaisermaisfácilseeuestivernaescola.Alémdo mais, se é necessário um apartamento para deixar Adrian feliz e trabalhar nomistériodosStrigoi,entãoéoqueprecisamosfazer.Eupossoesperar.Stantonmeexaminoudurantevárioslongossegundosesórompeuosilêncioquando
ogarçomdeixouacontanamesa.—Issoémuitoprofissionaldasuaparte.Voutomarasprovidências.—Obrigada—eudisse.Umasensaçãodealegriatomoucontademim,eeuquase
sorri,imaginandoorostodeAdrianquandoeleficassesabendodesuacasanova.—Sótemmaisumacoisaqueeunãocompreendo—Stantonobservou.—Quando
investigamosoapartamento,encontramosalgunsdanoscausadosporfogo.Masnenhumdevocêsmencionounadaaesserespeito.Franziatestademaneirafingida.— Sinceramente... uma parte grande do que aconteceu ficou confusa na minha
cabeça pela perda de sangue e a mordida... não sei dizer com certeza. Keith tinhaalgumas velas. Não sei se alguma foi acesa... ou, não sei. Só fico pensando naquelesdenteseemcomofoihorrívelsermordida...— Sei, sei — Stanton disse.A minha desculpa era fraca, mas nem ela estava
totalmente imune à ideia de ter seu sangue sugado por um vampiro. Esse erabasicamente o pior pesadelo de um alquimista, e eu tinha direito aomeu trauma.—Bom,nãosepreocupecomisso.Aquelefogoéamenordasnossaspreocupações.
Não era a menor dasminhas preocupações. E quando voltei ao campus naquelemesmodia, finalmente fui dar conta do assunto e achei a sra.Terwilliger emumdosescritóriosdabiblioteca,ondeelaestavatrabalhando.—Você sabia — eu disse, fechando a porta.Todos os protocolos entre aluna e
professora sumiram da minha mente. Eu estava ignorando a minha raiva fazia umasemana, e agora finalmente podia colocá-la para fora.Tinha passado a vida toda sendoensinada a respeitar a autoridade, mas agora uma delas tinha me traído, pura esimplesmente.—Tudooquemefezfazer...copiaraqueleslivrosdefeitiços,produziraqueleamuleto“sóparevercomoera”!—sacudiacabeça.—Eratudomentira.Vocêsabia...sabiaqueera...real.Asra.Terwilligertirouosóculoseolhouparamimcomcuidado.—Ah,entãopresumoquetenhaexperimentado?—Comopôde fazer isso comigo?—exclamei.—Não tem ideia de comoeume
sintoemrelaçãoàmagiaeaosobrenatural!—Ah — ela disse, seca. — Na verdade, eu tenho, sim. Sei tudo sobre a sua
organização—eladisse,batendocomodedonaprópriabochecha,espelhandoaminhaque continha a tatuagem.—Eu seiporque a sua“irmã” tem licençamédicaparanãofazeratividadesexternaseporqueoseu“irmão”éótimoemesportes.Estoumuitobeminformada a respeito das diversas forças que trabalham no nosso mundo, as que seescondemdamaiorpartedosolhoshumanos.Nãosepreocupe,minhacara.Comtodaacerteza,nãovoucontarparaninguém.Nãoestoupreocupadacomvampiros.—Porquê?—perguntei,decididaanãoconfirmarqueela tinhaexposto tudoque
meesforçavatantoparamanteremsegredo.—Porqueeu?Porquemeforçouafazeraquilo...principalmentesealegasabercomoeumesinto?— Mmm... por algumas razões. Os vampiros, como sabe, têm uma espécie de
magia interna. Eles se conectam com os elementos em nívelmuito básico, quase semesforço.Oshumanos,noentanto,nãotêmessamesmaconexão.—Oshumanosnãodevemusarmagia—dissecomfrieza.—Vocêmeobrigoua
fazeralgocontrárioàsminhascrenças.—Paraoshumanos fazeremmagia—elaprosseguiu, como se eunão tivessedito
nada—precisamosarrancá-ladomundo.Issonãonosvemcomtantafacilidade.Claroqueosvampirosusamfeitiçoseingredientesdevezemquando,masnãoénadaparecidocomoquenósprecisamosfazer.Amagiadelessaidedentroparafora.Anossavemdefora para dentro. É necessáriomuito esforço,muita concentração e cálculos exatos...bom,amaiorpartedoshumanosnãotempaciêncianemhabilidadeparaisso.Masumapessoacomovocê?Essastécnicasdetalhadasforamincutidasemvocêdesdequeaprendeuafalar.—Entãoesseéoúnicorequisitoparausarmagia?Capacidadedeorganizaremedir?
—Nãomedeiaotrabalhodeescondermeusarcasmo.
—Claroquenão—eladeurisada.—Certotalentonaturaltambéménecessário.Uminstintoquesecombinaàdisciplina.Eusenti issoemvocê.Sabe,eumesmatenhouma certa proficiência nisso. Ela me dá um status de bruxa, mas é relativamentepequeno.Masvocê?Soucapazdesentirumafontedepoderemvocê,eaminhapequenaexperiênciasóserviuparacomprovarqueeutinharazão.Eumesentigelar.—Issoémentira—eudisse.—Vampirosusammagia.Nãohumanos.Nãoeu.—Aqueleamuletonãopegoufogo sozinho—eladisse.—Nãonegueoquevocêé.
Eagoraque terminamoscom isso,podemos seguirem frente.Oseupoder inatopodesermaiordoqueomeu,maseupossoiniciá-lanotreinamentobásicodemagia.Não dava para acreditar que eu estava ouvindo aquilo.Não era real. Era como se
fossealgosaídodeumfilme,porquenãotinhacomoaquelaseraminhavida.—Não!—exclamei.—Vocêé...vocêélouca!Amagianãoéreal,eeunãotenho
nenhuma!Issoéantinaturaleerrado.Nãovoucolocaraminhaalmaemperigo.—Tantanegaçãoparaumacientistatãoboa...—elarefletiu.—Estoufalandosério—eudisse,malreconhecendominhaprópriavoz.—Eunão
quero ternenhumarelaçãocomestudosdooculto.Ficocontenteemcontinuar fazendoanotações e comprando café para você, mas se continuar fazendo essas afirmações eexigências malucas... vou à secretaria exigir uma mudança de professora. Podeacreditar,quandoénecessáriodarcontadeburocraciaeconvencergentequetrabalhanaadministração,aísimeutenhoumpoderinato.Elaquasesorriu,masentãomurchou.— Você está falando sério? Realmente rejeita este potencial fantástico... essa
descoberta...quevocêpossui?Nãorespondi.—Então,queseja—elasuspirou.—Éumaperda.Eumdesperdício.Mastema
minha palavra de que eu não vou voltar a tocar neste assunto, a não ser que parta devocê.—Issonãovaiacontecermesmo—eudissecomveemência.Asra.Terwilligersódeudeombroscomoresposta.—Muitobem,então.Jáqueestáaqui,entãoémelhorirbuscarumcaféparamim.Eumedirigiparaaportaeentãopenseiemumacoisa.—EravocêqueligavaparaaNevermoreperguntandosobrevampiros?—Porqueraioseufariaisso?—elaperguntou.—Jáseiondeencontrá-los.Mais tarde, cheguei ao refeitório bem quando Eddie, Jill e Micah estavam
terminando de jantar. Compreensivelmente, Jill estava com dificuldade de aceitar amortedeLeeetodasasrevelaçõesquenóstínhamosfeito—incluindoodesejoqueeletinhadetransformá-laemsuarainhamorta-viva.TantoEddiequantoeuconversávamoscomelaomáximopossível,masMicahpareciasurtirumefeitomaisreconfortantepara
ela.Achoque era porque ele nunca abordavao assuntodemaneira explícita.Ele sabiaqueLeetinhamorrido,masachavaquetinhasidoumacidenteenaturalmentenãosabiadas conexões vampirescas do acontecimento. Enquanto Eddie e eu ficávamos tentandodarumadepsicólogosamadores,Micahsimplesmentetentavadistraí-laefazê-lafeliz.— Precisamos ir— ele disse em tom de desculpa quando me sentei.— Rachel
Walkervainosdarumaaulaemumadasmáquinasdecostura.Eddiesacudiuacabeçaparaele.—Aindanãoacreditoquevocêseinscreveunoclubedecostura.Isso,claro,nãoeraverdade.Nósdois sabíamosexatamenteporqueMicahhavia se
inscrito.OrostodeJillestavacomaexpressãogravequenãoaabandonaradesdeamortede
Lee—umaexpressãoqueelaaindacarregariaduranteumtempo,desconfiava—,masofantasmadeumsorrisoseagitouemseuslábios.—Acho queMicah tem tudo para ser um verdadeiro estilista.Quem sabe eu não
desfiloparaeleumdia?Sacudiacabeça,escondendomeuprópriosorriso.—Nadadefazertrabalhodemodeloduranteumtempo.Depoisdodesfile,Liaeoutrosestilistastinhamentradoemcontato,todosquerendo
voltaratrabalharcomJill.Tínhamosprecisadorecusarparaprotegera identidadedelaaqui,masJilltinhaficadotristepornãopoderparticipar.Jillassentiu.—Eusei,eusei—elaselevantoucomMicah.—Vejovocêmaistardenoquarto,
Sydney.Queroconversarmaisumpouco.Euassenti.—Claroquesim.Eddieeeuobservamosenquantoelesseafastavamapressados.Suspirei.—Issovaiserumproblema—disseaele.—Talvez—eleconcordou.—Maselasabeoquepodeeoquenãopodefazercom
ele.Elaéinteligente.Vaiserresponsável.—Maselenãosabe—eudisse.—AchoqueMicahjáestáapaixonadodemaispor
ela.—OlheiparaEddiecomcuidado.—Entreoutraspessoas.Eddie ainda observava Micah e Jill, de modo que demorou um momento para
entenderoqueeuestavadizendo.Voltouoolharparamimemumgestobrusco.—Hein?—Eddie,nãovoudizerque souespecialista emromance,mas até eu sou capazde
verquevocêéloucoporJill.Eleprontamentedesviouoolhar,apesardeseuruborotrair.—Nãoéverdade.— Percebi desde o começo, mas foi só na noite na casa de Keith que realmente
entendioqueeuestavavendo.Euvicomovocêolhavaparaela.Euseioquevocêsenteporela.Então,oqueeuquerosaberéoseguinte:porquenóstemosquecontinuarnospreocupando com Micah? Por que você não a convida para sair e nos poupa muitaconfusão?—Porqueelaéminhairmã—eledisse,seco.—Eddie!Estoufalandosério.Elefezumacareta,respiroufundoeentãosevoltouparamimmaisumavez.—Porqueelapodearrumarcoisamelhordoqueeu.Querfalarsobreregrassociais?
Bom,nolugardeondenósviemos,Moroiedampirosnãotêmrelacionamentossérios.—É,masissoétipoumaquestãodeclasse—eudisse.—Nãoéamesmacoisaque
humanosevampiros.—Talveznão,mas,comela,podemuitobemser.ElanãoéumaMoroiqualquer.
Elaéda realeza.Umaprincesa.Evocêviucomoelaé! Inteligentee fortee linda.Elaestá destinada a coisas grandiosas, e uma delas não é se envolver com um guardiãocontroverso como eu.A linhagemde sangue dela é real.Diabo, eu nem sei quemé omeu pai. Namorar Jill não é possível.A minha função é protegê-la. Mantê-la emsegurança.Énissoquetodaaminhaatençãodeveseconcentrar.— Então você acha que, em vez disso, ela merece ficar com um humano? —
perguntei,incrédula.—Dançandonolimitedeumtabuqueexisteemnossasraças?—Nãoéideal—elereconheceu.—Mas,aindaassim,elapodeterumavidasocial
divertidae...—Mas e se fosse outro cara?— interrompi.—E se outro humano a convidasse
para sair e eles simplesmente tivessem um encontro casual?Você iria achar que tudobem?Elenãorespondeu,eeuviqueaminhaintuiçãoestavacorreta.—IssoaquivaialémdevocênãosesentirdignodeJill—eudisse.—Temaver
comMicahtambém,nãotem?ÉporqueelefazvocêselembrardeMason.Eddieempalideceu.—Comoéquevocêsabedisso?—Adrianmecontou.—Desgraçado—Eddie disse.—Por que ele não é tão desencanado quanto finge
ser?Issomefezsorrir.—Vocênãodevenada aMicah.Certamentenãodeve Jill a ele.Ele não éMason,
pormaisqueosdoissepareçam.—Émaisdoqueovisual—Eddiedisse,pensativo.—Éamaneiracomoeleage
também.Micahéigual:simpático,otimista,animado.Masoneraassim.Existemmuitopoucas pessoas desse jeito no mundo: pessoas boas de verdade. Mason foi levado domundocedodemais.NãovoupermitirqueissoaconteçaaMicah.
—Micahnãoestáemperigo—eudissecomsuavidade.—Maselemerececoisasboas.E,mesmoquesejahumano,continuasendoumadas
melhores combinações que eu conheço para Jill. Elesmerecem um ao outro.Os doismerecemcoisasboas.—E,porisso,vaipermitirseuprópriosofrimentocomoconsequência?Porqueestá
tãoapaixonadoporJilleconvencidodequeelamerecealgumtipodepríncipequevocênãoé?Eporquevocêsentequeé suaobrigaçãodarapoioa todososMasondomundo?—Sacudiacabeça.—Eddie,issoéloucura.Atévocêtemqueperceberisso.—Talvez—elereconheceu.—Maspareceacoisacertaafazer.—Acoisacerta?Issoémasoquismo!Vocêestáincentivandoameninadequemgosta
aficarcomumdosseusmelhoresamigos.—Euqueroqueelasejafeliz.Valeapenamesacrificar.—Nãofazomenorsentido.Eddielançouumpequenosorrisoparamimedeuumtapinhadelevenomeubraço
antesdesedirigiraumônibusqueseaproximava.— Lembra quando você disse que não era especialista em romance? Bom, estava
certa.
27
AchoqueAdrianteriaconcordadocomqualquercoisaparaterumapartamentosódele.ElenãoperdeutempoemtransferirseuspoucospertencesparaoantigoapartamentodeKeith,para o desalento deClarence. Precisei reconhecer que fiqueimeiomal pelo senhor deidade. Ele tinha passado a gostar de Adrian, e perdê-lo logo depois de Lee foiespecialmente difícil. Clarence continuou disponibilizando sua casa e sua fornecedorapara o nosso grupo,mas se recusou a acreditar em qualquer coisa que lhe dissemos arespeitodeLee eos Strigoi.Mesmodepoisde aceitar queLee estavamorto,Clarencecontinuouculpandooscaçadoresdevampiros.Poucodepois deAdrian semudar, fui ver como ele estava.Tinhamnos informado
queo“grupodepesquisa”dosMoroi iachegarnaqueledia,eresolvemosnosencontrarcomosenviadosprimeiro,antesdeapresentarJilleEddieaeles.Comotinhaacontecidoantes,Abe aparentemente iria acompanharos recém-chegados,que incluíamSonyae anovacolegadequartode Jill.Eu tinha a impressãodeque talvezhouvesseoutros comeles,masaindanãotinhasidoinformadasobreosdetalhes.—Opa!—eudissequandoAdrianabriuaportadoapartamentoparamim.Elesóestavaláhaviapoucosdias,masatransformaçãoeraimpressionante.Tirando
atv,nãohaviasobradonenhummóveloriginal.Estavatudodiferente,eatéadisposiçãodoapartamentotinhamudado.Ascoresdadecoraçãotambémeramtodasnovasehaviaumcheiropesadodetintafrescanoar.—Amarelo,é?—pergunteiaoolharparaasparedesdasala.—O tom se chama“junco dourado”— corrigiu.—E, supostamente, é alegre e
calmante.Comeceiacomentarqueasduascaracterísticasnãoandavamjuntas,masentãoachei
que era melhor não falar nada. A cor, apesar de ser levemente detestável, tinhatransformadoa salacompletamente.Com issoeaspersianasque tinhamsubstituídoascortinaspesadasdeKeith,asalaagoraestavacheiadecoreluz,oqueajudavaemmuito
a obscurecer a lembrança da batalha. Estremeci ao me lembrar dela. Mesmo que oapartamentonãotivessesidonecessárioparaconseguiraajudadeAdrian,nãoseidizerseeuoteriaaceitadoememudadoparalá.AlembrançadamortedeLee—edasduasmulheresStrigoi—erafortedemais.—Comofoiquevocêtevedinheiroparacomprarmóveisnovos?—perguntei.Os
alquimistastinhamlhedadoolugar,masnãohaviamaisnenhumaverbaincluída.— Eu vendi as coisas antigas—Adrian disse, aparentementemuito contente.—
Aquela poltrona reclinável... — a voz dele sumiu e uma expressão de perturbaçãocruzouseurostoporuminstante.Fiqueiimaginandoseeletambémficavaselembrandoda vida deLee se esvaindo junto com seu sangue, sugado naquela poltrona.—Aquelapoltrona valiamuito dinheiro.O preço dela é um exagero de caro, até para osmeuspadrões.Masconseguio suficienteporelaparapoder substituiro resto.É tudousado,masqueopçãoeutinha?— Ficou legal— eu disse, passando a mão em um sofá xadrez estofado demais.
Ficavahorrorosocomaquelasparedes,maspareciaestarembomestado.Alémdomais,assimcomoo tomamareloberrantedasparedes, amobílianadaconvidativaajudavaaamenizar as lembrançasdoque tinha acontecido.—Vocêdeve ter feito comprasbemeconômicas. Deixe-me adivinhar: você não está acostumado a comprar muitas coisasusadas.—Fiquesabendoqueeununcatinhafeitoisso—eledisse.—Vocênãofazideiadas
coisas aqueeu tivequeme rebaixar.—Osorriso contentedelediminuiuquandomeobservoucomcuidado.—Comovocêestáindo?Deideombros.—Tudobem.Porqueseriadiferente?Oqueaconteceucomigonãoénemdelonge
tãoruimquantoascoisasporqueJillpassou.Elecruzouosbraços.—Nãosei. Jillnãoviuumsujeitosermortona frentedela.Enãovamosesquecer
queeraomesmosujeitoquequismatarvocêapenasmomentosantes,parapodervoltaraseerguerdosmortos.Essas eram coisas que definitivamente tinham ocupado demais a minha mente na
semana anterior, coisas que eu iria demorar um pouco para superar. Às vezes eu nãosentia absolutamente nada.Outras vezes, a realidadedo que tinha acontecidodesabavasobremimcomtantaforçaepesoqueeunãoconseguiarespirar.PesadeloscomStrigoitinhamsubstituídoosdoscentrosdereeducação.— Na verdade, estou melhor do que você pode imaginar — eu disse devagar,
olhando para nada em específico.—Tipo, o que aconteceu comLee e o que ele fez éterrível,mas sinto que vou superar como tempo.Mas sabe qual é a coisa em que eumaisficopensando?—Oquê?—Adrianperguntoucomgentileza.
Aspalavraspareceramsairsemomeucontrole.Eunãoesperavadizê-lasaninguém,ecertamentenãoaele.—Leetermeditoqueeuestavadesperdiçandoaminhavidaememantendodistante
daspessoas.Edaí,nomeuúltimoencontrocomKeith,elemedissequeeueraingênua,quenãoentendiaomundo.Eéverdadedecertomodo.Querdizer,nãooqueeledissesobre vocês serem do mal... mas, bom, eu fui ingênua. Eu devia ter tomado maiscuidadocomJill.AcrediteinomelhordeLee,masdeviatersidomaisprecavida.EunãosouumalutadoracomoEddie,massouumaobservadoradomundo...oupelomenoséoquegostodepensar.Masfracassei.Nãosouboanotratocomaspessoas.—Sage,oseuprimeiroerroemtudoistoédarouvidosaqualquercoisaqueKeith
Darnelldiz.Osujeitoéumidiota,umimbecilemaisumadúziadepalavrasquenãosãoadequadasparaumadamacomovocê.—Está vendo?—eu disse.—Você acabou de admitir que eu sou algum tipo de
almaintocávelepura.—Nuncadissenadaparecido—eleretrucou.—Querodizerquevocêestáléguas
acimadeKeith,equeoqueaconteceucomLeefoiumazaridiotaeridículo.Elembre-se de que nenhum de nós percebeu o que ia acontecer, não foi só você. Isso não temnenhumarepercussãosobrevocê.Ou...—assobrancelhasdeleseergueram.—Talveztenha.Você não disse que Lee pensou em matar Keith para conseguir o sangue dealquimista?—Disse...masKeithfoiemboracedodemais.—Bom, então pronto.Até um psicopata reconheceu o seu valor o suficiente para
querermataroutrapessoaprimeiro.Eunãosabiaseriaousechorava.—Issonãofazcomqueeumesintamelhor.Adriandeudeombros.—Oqueeutinhaditocontinuavalendo.Vocêéumapessoasólida,Sage.Vocêfaz
bem para os olhos, apesar de ser um poucomagra, e a sua capacidade dememorizarinformação inútil vai sem dúvida fazer algum cara se amarrar.Tire Keith e Lee dacabeça,porqueelesnãoestãonemumpoucoenvolvidosnoseufuturo.—Magra?— perguntei, torcendo para não estar vermelha.Também torcia para
parecer ultrajada o suficiente para que ele não notasse comoo outro comentário tinhamedesarmado.Fazbemparaosolhos.Nãoéexatamenteamesmacoisaquedizerqueeueraagostosuraempessoaoulindademorrer.Masdepoisdepassaravidatodavendoaminhaaparênciaserjulgadacomo“aceitável”,eraumelogioetanto—principalmentevindodele.—Sóestoudizendoascoisascomoelassão.Quasedeirisada.—É,éissomesmo.Agora,porfavor,faledeoutroassunto.Estoucansadadesse.
—Claro que sim—Adrian às vezesme enfurecia,mas eu tinha que admitir queadoravasuacurtacapacidadedeatenção. Isso tornavabemmais fácilevitarosassuntosdesconfortáveis.Oupelomenoseraoqueeupensava.—Estásentindoessecheiro?Umaimagemdoscorpospassoupelaminhacabeçae,porummomento,sóconsegui
pensarqueeleestavafalandodocheirodepodridão.Entãorespireimaisfundo.—Estousentindoocheirodatinta,e...espere...issoépinho?Elepareceuimpressionado.—Nossa,está certa.Produtode limpezacomcheirodepinho.Ou seja,eu limpei
—elefezumgestodramáticoparaacozinha.—Comestasmãos,estasmãosquenãofazemtrabalhopesado.Olheiparaacozinha.—Noquevocêusouoproduto?Nosarmários?—Osarmáriosestãoótimos.Eulimpeiochãoeapia.—Devoterparecidomais
confusadoquesurpresa,porqueeleacrescentou:—Atémeajoelhei.—Vocêusoupinhonopisoenapia?—perguntei.Opisoeradelajotadecerâmica;
apiaeradegranito.Adrianfranziuatesta.—Passei,edaí?Elepareciatãoorgulhosoporrealmenteterlimpadoalgoumaveznavidaqueeunão
tivecoragemdedizeraelequeprodutodelimpezacomcheirodepinhogeralmenteerausadoemmadeira.Lanceiumsorrisodeincentivoparaele.—Bom,estáótimo.Agoraprecisoquevocêváatéomeualojamentoparalimparo
meuquarto.Estácobertodepoeira.—Dejeitonenhum,Sage.Limparaminhaprópriacasajáéruimobastante.—Mas seráquevaleapena?Se ficassenacasadeClarence, teriaumacozinheirae
faxineiraresidente.—Com certeza absoluta, vale a pena. Eu nunca tive uma casaminha de verdade.
Meioquetinhanacorte...masestavamaisparaumdormitóriochique.Mas, isto?Istoaquiémaravilhoso.Mesmoquepreciselimpar.Obrigado.Aexpressãocômicadehorrorqueele tinhanorostoenquanto falavada limpezada
casa tinha sido substituídapor seriedade, enquanto aquelesolhos verdesme avaliavam.Derepentemesentipoucoàvontadesobseuexameemelembreidosonhodeespírito,emqueeutinhaquestionadoseosolhosdeleerammesmotãoverdesnarealidade.—Porquê?—perguntei.—Por isto... eu sei que vocêdeve ter torcido alguns braçosde alquimista.—Eu
nãotinhaditoaelequenaverdadetinharecusadooapartamento.—Eportudoomais.Pornãoterdesistidodemim,mesmoquandoeufuiomaiorimbecil.E,sabe,pelapartedetersalvadoaminhavida.Desvieioolhar.
—Eu não fiz nada. Foi Eddie... e Jill que fizeram isso. Foram eles que salvaramvocê.—Não seimuito bem se estaria vivo para o salvamento deles se você não tivesse
postofogonaquelavaca.Comofezaquilo?—Não foi nada—retruquei.—Foi só, hum,uma reação química do arsenal de
truquesdosalquimistas.Aqueles olhos me examinaram mais uma vez, pesando a verdade das minhas
palavras.Nãotenhocertezaseeleacreditouemmim,masdeixoupassar.—Bom,pelacaracomqueelaficou,asuapontariafoicerteira.Edepoisvocêlevou
otrocoporcausadisso.QualquerpessoaqueapanhaporAdrianIvashkovmerececertocrédito.Eu me virei de costas para ele, ainda tímida com o elogio — e nervosa com a
referênciaaofogo—efuiatéajanela.—Masvocêpode ficar tranquilo,porque foiumatoegoísta.Vocênão faz ideiado
sacoqueépreencherapapeladaquandoumMoroimorre.Ele deu risada, e foi uma das poucas vezes que eu o ouvi rir com humor e calor
verdadeiros—enãoporcausadealgumacoisadistorcidaousarcástica.—Certo,Sage.Seestádizendo...Sabe,vocêhojeémuitomaisespirituosadoque
quandoagenteseconheceu.— É mesmo? Com todos os adjetivos do mundo à sua disposição, você escolhe
“espirituosa”? — Suas brincadeiras eu era capaz de encarar. Desde que ele seconcentrassenaquilo,eunãoiaprecisarpensarnosignificadoportrásdaspalavrasnememcomomeucoraçãocomeçouabatersóumpouquinhomaisrápido.—Sóparavocêsaber,vocêhojeéumpoucomaisestáveldoquequandoagenteseconheceu.Eleseaproximoueparouaomeulado.— Bom, não conte para ninguém, mas acho que sair da corte me fez bem. Este
clima é um saco, mas Palm Springs pode fazer bem para mim... isso e todas asmaravilhas que tem aqui.Vocês.Aulas de arte. Produto de limpeza com cheiro depinho.Nãoconsegui segurarumsorrisoeolheiparaele.Euestava fazendopiada,masera
verdade:eletinhamudadodemaneiranotáveldesdequetínhamosnosconhecido.Aindahavia um homem que sofria lá dentro, que carregava as cicatrizes daquilo queRose eDimitritinhamfeitocomele,masdavaparaverossinaisdemelhora.Agoraeleestavamais firme e mais forte, e se conseguisse continuar nos trilhos, sem crises por umtempo,umatransformaçãonotávelpoderiaacontecerdeverdade.Demorou vários segundos de silêncio para que eu percebesse que estava olhando
fixamenteparaele,enquantoaminhamenteteciaessespensamentos.E,naverdade,eleolhavafixoparamimtambém,comumardeencantamento.—MeuDeus,Sage.Osseusolhos.Comofoiqueeununcarepareineles?
Aquelasensaçãodesconfortávelseespalhavapormimmaisumavez.—Oquetêmeles?—Acor—eledissesemfôlego.—Quandovocêficanaluz.Elessãofantásticos...
comoouroderretido.Eupoderiapintá-los...—eleestendeuamãonaminhadireção,masentãorecuou.—Sãolindos.Vocêélinda.Algonamaneiracomoeleolhavaparamimmeparalisouefezomeuestômagodar
cambalhotas,masnão sabiadeduzirexatamenteporquê.Só sabiaqueelepareciaestarmeenxergandopelaprimeira vez... e aquilome assustou.Conseguia deixarpara lá oselogios fáceis e engraçadinhos dele, mas aquela intensidade era algo completamentediferente, algo a que eu não sabia como reagir. Quando ele olhou para mim daquelejeito,euacrediteiqueeleachavaosmeusolhosbonitos—queeuerabonita.Aquiloeramaisdoqueeuestavaprontaparaouvir.Semjeito,deiumpassoparatrás,paralongedosol,comanecessidadedemeafastardaenergiadoolhardele.Eutinhaouvidodizerqueoespíritopoderiaenviá-loatangentesestranhas,masnãofaziaideiaseeraisso.Fuisalvadaminhatentativaparcadedarformaaalgumcomentárioespertinhoquandoumabatidanaportanoscausouumsobressalto.Adrianpiscou,eumpoucodaquelaconexãosedesfez.Oslábiosdelesetorceramem
umdeseussorrisinhosmaliciososefoicomosenadadeestranhotivesseacontecido.—Estánahoradoshow,hein?Assenti, agitada comumamistura confusa de alívio, nervosismo e... animação. Só
não sabia se os sentimentos tinham sido causados porAdrian ou pelos visitantes quechegavam.A única coisa que eu sabia era que de repente consegui respirar commaisfacilidadedoquealgunsmomentosantes.Ele atravessou a sala e abriu a porta com um floreio. Abe entrou esvoaçante,
resplandecentecomumternocinzaeamareloquecombinavademaneiradesconcertantecomapinturadeparededeAdrian.UmsorrisoenormeseabriunorostodoMoroimaisvelho.—Adrian,Sydney...comoéadorávelvê-losdenovo.Acreditoqueumdevocêsjá
conheçaestamocinha,não?—Elepassoupornóserevelouumagarotadampiramagra,comcabelocastanhoavermelhadoeolhosazuisgrandescheiosdedesconfiança.—Olá,Angeline—eudisse.Quandome disseramqueAngelineDawes iria ser a nova colega de quarto de Jill,
achei que era a coisa mais ridícula que eu já tinha escutado.Angeline fazia parte dosconservadores,umgruposeparatistadedampiros,humanoseMoroiqueviviamjuntosnasflorestasdaVirgíniaOcidental.Elesnãoqueriamsaberda“civilização”denenhumadas nossas raças e tinham diversos costumes bizarros, não sendo o pior deles suaabomináveltolerânciaarelacionamentosinter-raciais.Depois,quandopenseimelhor,chegueiàconclusãodequeAngelinetalveznãofosse
umaescolhatãoruim.ElatinhaamesmaidadequeJill,provavelmenteirialheoferecer
umaconexãomaispróximadoqueeueracapazdedar.Angeline,apesardenãotersidotreinadadamesmamaneiraqueumguardiãocomoEddieera,detodomodoseriacapazdesedarbememumabriga.SealguématacasseJill,teriammuitotrabalhoparapassarporAngeline. E com a aversão que o povo deAngeline tinha em relação aos Moroi“maculados”,elanãoteriamotivoparadarapoioàpolíticadequalquerfacçãorival.Mas,enquantoeuaobservavacomsuasroupasgastas, fiqueipensandoemcomoela
iria se adaptar a ficar longe dos conservadores. Ela tinha uma expressão arrogante norosto que eu tinha visto quando visitara sua comunidade, mas aqui ela ficava menosacentuada, por causa do nervosismo, enquanto ela ia absorvendo a casa deAdrian.Depoisdepassar a vida todamorandona floresta, aquele apartamentinho com sua tv eseusofáxadrezprovavelmenteeraoaugedoluxomoderno.—Angeline—Abedisse.—EsteaquiéAdrianIvashkov.Adrianestendeuamãoeligouseucharmenatural.—Prazer.Elaapertouamãodeledepoisdehesitarporummomento.—Prazeremconhecer—eladissecomseuestranhosotaquedosul.Elaoexaminou
durantemaisalgunssegundos.—Vocêparecebonitodemaisparaserútil.Eu não conseguime segurar e engoli em seco.Adrian deu risada e apertou amão
dela.—Palavrasmaisverdadeirasjamaisforamditas—elefalou.Abedeuumaolhadaemmim.Eudeviaestarcomumaexpressãodeterrornorosto,
porque já estava imaginando o controle de danos que precisaria efetuar seAngelinedissesseoufizessealgocompletamenteerradoemAmberwood.—Sydneysemdúvidavaiquerer...orientarvocêarespeitodoqueesperarantesque
comecenaescola—Abedisse,diplomático.—Semdúvida—repeti.AdriantinhaseafastadodeAngeline,mascontinuavasorrindo.—DeixemqueaChavedeCadeiafaçaisto.Melhorainda,deixemparaCastile.Vai
serbomparaele.Abe fechou a porta, mas não antes que eu desse uma olhada atrás dele, para o
corredorvazio.—Não são sóvocêsdois,nãoémesmo?—perguntei.—Ouvidizerquehaveria
outros.Sonyaéumdeles,certo?Abeassentiu.— Eles já vêm. Estão estacionando o carro. Émuito difícil estacionar na rua por
aqui.Adrianolhouparamim,atingidoporumarevelação.—Ei,eutambémvouherdarocarrodeKeith?—Acreditoquenão—eudisse.—Eradopaidele,quepegoudevolta.
Adrianficoucomacaranochão.Abe enfiou as mãos nos bolsos e caminhou pela sala como quem não quer nada.
Angelinepermaneceuondeestava.Achoqueaindaestavaavaliandoasituação.—Ah, sim —Abe refletiu. — O finado e grande sr. Darnell.Aquele garoto
realmente foi acometido por tragédias, não émesmo?Que vida dura.—Ele fez umapausa e se voltouparaAdrian.—Mas você, pelomenos, parece ter se beneficiadodaruínadele.—Opa—Adriandisse.—Eumereci isso,portantonãovenha fazer comqueeu
mesintamalportersaídodacasadeClarence.Seiquevocêqueriaqueeuficasseláporalgummotivoesquisito,mas...—Deucerto—Abedissecomsimplicidade.Adrianfranziuatesta.—Hã?—Você fezexatamenteoqueeuqueria.Eudesconfiavaquehaviaalgodeestranho
acontecendocomClarenceDonahue,queelepodiaestarvendendooprópriosangue.Euachavaquetervocêporpertoiriadesvendarocaso.—Abemassageouoqueixodaquelejeitodequemtemamentecheiadetramoias.—Claroqueeunãofaziaideiadequeosr.Darnell estivesse envolvido.Nemachava que você e a jovemSydney iriam se unirparadesvendartudo.—Eunãoiriaassimtãolonge—disse,seca.Umpensamentoestranhomeocorreu.
—Porquevocê iria se incomodar seKeitheClarenceestivessemvendendo sanguedevampiro?Querdizer,nós,os alquimistas, temosmotivosparanãodesejar isso...masporquevocêsesentiriaassim?Um brilho de surpresa passou pelos olhos deAdrian, seguido pela iluminação. Ele
examinouAbecomcuidado.—Talvezporqueelenãoqueiraconcorrência.Meu queixo quase caiu.Não era segredo para ninguém, nempara alquimistas nem
paraMoroi, queAbeMazur fazia tráficodebens ilegais.O fatode ele vender grandesquantidades de sangue de vampiro para humanos que desejassem a mercadoria nuncatinhameocorrido.Mas,aoexaminá-lodemaneiramaisprofunda,percebiquedeviaterpensadonisso.—Ora,ora—Abedisse,semsuarnemumpouquinho.—Nãoprecisamostocar
emassuntosdesagradáveis.—Desagradáveis?—exclamei.—Sevocêestáenvolvidoemalgoque...Abeergueuamãoparamedeter.—Basta, por favor. Porque se esta frase terminar com você dizendo que vai falar
comosalquimistas,então,porfavor,traga-osaquiparaquepossamosdiscutirtodotipodemistério.Digamos,porexemplo,comoosr.Darnellperdeuoolho.Fiqueiparalisada.
—ForamStrigoiquearrancaram—Adriandisse,impaciente.—Ah,porfavor—Abedissecomumsorrisotorcendoseuslábios.—Minhaféem
você acabou de ser restaurada. Desde quando Strigoi aleijam alguém de maneira tãoprecisa?Efoiumaleijamentomuitoartístico,devoacrescentar.Nãoquealguémjamaistenhanotado.Umtalentodesperdiçado,voulhesdizer.—Doqueestá falando?—Adrianperguntou, estarrecido.—Não foramStrigoi?
Estádizendoquealguémarrancouoolhodeledepropósito?Estádizendoquevocê...—ele não encontrou as palavras, e simplesmente ficou olhandodemimparaAbe e vice-versa.—Éisso,nãoé?Seusmalditosacordos.Masporquê?Eumeencolhi todaquando trêsparesdeolhos se fixaramemmim,masnãohavia
como reconhecer as peças queAdrian estava começando a encaixar.Talvez eu pudessecontarparaeleseestivéssemossozinhos.Talvez.MaseunãopodiacontarparaelecomAbe com aquele ar de tanta arrogância, e certamente não com uma forasteira comoAngelinealiparada.Nãopodia contar aAdriancomo tinhaencontradoaminha irmãCarly alguns anos
atrás,depoisdeumencontrocomKeith.Foiquandoeleaindaestavamorandoconoscoelogo antes de ela ir para a faculdade. Ela não queria sair com ele, mas o nosso paiadoravaKeithetinhainsistido.Keitheraogarotodosolhosdeleejamaispoderiafazeralgoerrado.Keithtambémacreditavanisso,efoiporissoquenãoconseguiuaceitarum“não” como resposta quando ele e Carly ficaram sozinhos. Ela me procurou depois:esgueirou-separaomeuquartotardedanoiteeficouchorandoenquantoeuaabraçava.A minha reação instantânea era contar para os nossos pais, mas Carly ficou com
muitomedo—principalmentepor causadonossopai.Eu era nova e fiquei quase tãoassustadaquantoela,prontaparaconcordarcomqualquercoisaqueelaquisesse.Carlytinhamefeitoprometerquenãoiacontarparaosnossospais,por issodediqueitodoomeu esforço para garantir a ela que não tinha culpa. Durante todo o tempo, ela medisse,Keith ficou lhedizendocomoela era linda e comonãodeixava escolhapara ele,que era impossível tirar os olhos dela. Eu finalmente a convenci de que ela não tinhafeitonadadeerrado,quenãootinhaencorajado—masaindaassimelamefezmanterapromessadequeficariaemsilêncio.Foi um dosmaiores arrependimentos daminha vida. Eu detestava omeu silêncio,
masnãotantoquantodetesteiKeithporacharquepoderiaestuprarumapessoatãodocee gentil quanto Carly e sair impune. Foi só bem mais tarde, quando recebi a minhaprimeiramissãoeconheciAbeMazur,quepercebiquehaviaoutrasmaneirasparaKeithpagarpeloquehavia feitoe aindaassimeupodermanter aminhapromessa aela.Porisso, fiz o meu acordo com o diabo, sem me importar que aquilo me deixariacomprometida—nemquesignificariamerebaixaraníveisbárbarosdevingança.Abetinhaencenadoumataque falsodeStrigoiearrancadoumolhodeKeithnocomeçodoano.Emtroca,eutinhametransformadoemumaespéciede“alquimistacontratada”de
Abe.Emparte,eraporissoqueeutinhaajudadoRoseafugirdacadeia.Eutinhaumadívidacomele.Emcertos aspectos, refleti comamargor, talvez eu tivesse feitoum favor aKeith.
Com um olho apenas, talvez ele não achasse tão“impossível” ficar afastado de moçasinteressantesnofuturo.Não,eucertamentenãopodiacontaraAdriannadadisso,maseleaindaolhavapara
mim com um milhão de perguntas no rosto enquanto tentava entender o que raiospoderiatermelevadoacontratarAbecomomercenário.As palavras de Laurel de repente me voltaram: Sabe, às vezes você pode ser
assustadoracomoodiabo.Engoliemseco.—Lembraquandovocêmepediuparaconfiaremvocê?—Lembro...—Adrianrespondeu.—Precisoquefaçaamesmacoisapormim.Longosmomentos se seguiram.Não conseguia olhar paraAbe porque eu sabia que
eleteriaumsorrisomaliciosonoslábios.— “Espirituosa” foi meio que uma palavra leve —Adrian disse. Depois de um
tempoquepareceuumaeternidade,eleassentiudevagar.—Certo.Euconfioemvocê,sim,Sage.Confioquevocêtembonsmotivosparaascoisasquefaz.Elenão falava comzombarianemsarcasmo.Estava sendo absolutamente sinceroe,
porummomento,fiqueimeperguntandocomoeutinhaconseguidoganharaconfiançadele demaneira tão intensa.Tive um flashback estranho dosmomentos logo antes deAbechegar,quandoAdriantinhafaladosobremepintareosmeussentimentosficaramtodosconfusos.—Obrigada—eudisse.—Doqueéquevocêsestãofalando?—Angelinequestionou.—Nadadeinteressante,garanto—Aberespondeu.Elerealmenteestavaapreciando
demais tudo aquilo.— Lições de vida, desenvolvimento de caráter, dívidas que nãoforampagas.Essetipodecoisa.—Quenão forampagas?—Surpreendiamimmesmaaodarumpassoà frentee
olharmuitofeioparaele.—Eupagueiaqueladívidacemvezes.Nãodevomaisnadaavocê.Agora aminha lealdadeé apenas aos alquimistas.Nãoavocê.Onossocasoestáterminado.Abe ainda sorria,mas vacilou de leve.Acho que o fato de eume defender o tinha
pegadodesurpresa.—Bom, issoéoqueainda...ah.—Maisbatidasnaporta.—Eisaquiorestodo
nossogrupo.Eleseapressouatéaporta.Adriandeualgunspassosnaminhadireção.
—Nadamal,Sage.AchoquevocêacaboudeassustarovelhoMazur.Sentiumsorrisocomeçaraseformaremmeuslábios.—Nãoseiseissoéverdade,masatéquefezeumesentirbem.—Vocêdeviaconfrontaraspessoascommaisfrequência—eledisse.Nóstrocamos
sorrisos e ele me olhou com carinho; senti a mesma sensação enjoativa de antes. Eleprovavelmente não estava com a mesma sensação, mas havia algo fácil e alegre nele.Raro—emuitoatraente.EleapontoucomacabeçaparaondeAbeabriaaporta.—ÉSonya.Osusuáriosdeespíritoeramcapazesdepressentirunsaosoutrosquandoestavamem
proximidade suficiente, mesmo atrás de portas fechadas. E, claro, quando a porta seabriu,SonyaKarpentroupisandofirmefeitoumarainha,altaeelegante.Comocabeloruivopreso emumcoque, aMoroi poderia ser a irmãmais velha deAngeline. Sonyasorriupara todosnós, apesarde eunãopoderdeixar de estremecer aome lembrardaprimeiravezemquea tinhavisto.Naépoca,elanãopareceutãobonitaeencantadoraquantoagora.Estavacomosolhosvermelhosetentounosmatar.SonyaeraumaStrigoiquetinhasidorestauradaaMoroi,eporissorealmenteeraa
escolha idealpara trabalharcomAdrianedescobrircomousaroespíritopara impedirqueaspessoasfossemtransformadas.Sonya abraçouAdrian e estava caminhando naminha direção quando alguémmais
apareceu à porta. Pensando bem, eu não devia ter me surpreendido com quem era.Afinal de contas, se queríamos descobrir qual era amagia de espírito especial emLeequetinhaimpedidoqueelefossetransformadomaisumavez,entãoiríamosprecisardetodos os dados possíveis. E se ter uma Strigoi restaurada era bom, ter dois era aindamelhor.Adrian empalideceu e ficou totalmente imóvel enquanto olhava fixo para o recém-
chegadoe,naquelemomento, todasasgrandesesperançasqueeutinhaparaelevieramabaixo.Antes, eu havia tido certeza de queAdrian simplesmente seria capaz de ficarlongedeseupassadoedosacontecimentostraumáticosdele,queseriacapazdeencontrarmotivaçãoesefirmar.Bom,pareciaqueseupassadootinhaencontrado,eseissonãosequalificava como acontecimento traumático, não sabia o que poderia se encaixar nessacategoria.O novo parceiro de pesquisa deAdrian entrou porta adentro e eu vi que a paz
desajeitada que tínhamos acabado de estabelecer em Palm Springs estava prestes a sedesfazer.DimitriBelikovhaviachegado.
CORTESIADEMALCOMSMITHPHOTOGRAPHY
RICHELLEMEAD nasceu emMichigan, mas atualmente mora em Seattle, nosEstadosUnidos.Éautoradediversosbest-sellersdefantasiaparaadultosejovens,entre eles a aclamada série Academia de Vampiros, e seus livros já foramtraduzidosparamaisdedozelínguas.Alémdeescritora,Richelleéleitoraassíduaeadoramitologia e humor.Quando não está escrevendo, gosta de passar o tempocomafamília,viajarecomprarvestidos.