BNDES O Setor Florestal No Brasil e a Importância Do Reflorestamento 2002

Embed Size (px)

Citation preview

  • O SETOR FLORESTAL NOBRASIL E A IMPORTNCIA DOREFLORESTAMENTOThais Linhares JuvenalRen Luiz Grion Mattos*

    * Respectivamente, gerente setorial e engenheiro da Gerncia Setorial deProdutos Florestais do BNDES. 6

    (725)/25(67$/

  • O Brasil apresenta grande competitividade nomercado de produtos florestais, em razo de suas carac-tersticas edafoclimticas (solo e clima) e do desenvolvi-mento tecnolgico obtido na rea de silvicultura.

    Em 2001, o PIB florestal brasileiro atingiu R$ 21bilhes e as exportaes somaram US$ 4 bilhes. So-mente a indstria de papel e celulose gerou receitas comvendas externas de US$ 2,2 bilhes, no mesmo ano, eum saldo comercial positivo de US$ 1,4 bilho. Outrosprodutos como carvo vegetal, painis de madeira eserrados contribuem para fazer do Brasil um player im-portante do mercado mundial de produtos florestais, sejacomo produtor, consumidor ou exportador.

    O crescimento da atividade florestal no Pas,contudo, encontra-se ameaado pelo pequeno nvel deinvestimentos na formao de florestas. Nesse contexto,este artigo se prope a caracterizar o setor florestalbrasileiro, abordando suas diversas atividades, e identi-ficando a importncia do reflorestamento para seu cres-cimento e sustentabilidade.

    O Setor Florestal no Brasil e a Importncia do Reflorestamento

    Resumo

    4

  • O presente artigo tem por objetivo caracterizar o setorflorestal no Brasil, buscando trazer subsdios para uma anlise desua importncia para a economia brasileira. Pretende-se contribuirpara o entendimento da dinmica do setor florestal brasileiro, suaspotencialidades, seus pontos crticos e a evoluo de seus diversossegmentos.

    A questo florestal no Brasil, em geral, abordada parcial-mente, atravs dos diversos setores que utilizam a madeira comoinsumo principal freqentemente o de celulose e papel , ou sob aperspectiva ambiental. Observa-se, contudo, que o setor florestal ea atividade de extrao de madeira possuem uma dinmica es-pecfica, determinada pela oferta de madeira e pela produtividadedas florestas. Ainda que cada um dos produtos florestais possua ummercado prprio, as condies para o seu desenvolvimento estoassociadas base florestal, tornando-os interdependentes.

    Um outro ponto a ser ressaltado a dimenso econmicado setor florestal. Em vrios pases do mundo, a atividade madeireirae a cadeia produtiva a ela associada so objeto de investimentos etransaes comerciais de elevado valor. As florestas, mais do quematria-prima, so um ativo de alta liquidez. O Brasil, alm de possuira segunda maior cobertura florestal do mundo, desenvolveu tecno-logia avanada para a explorao de florestas e para a transforma-o industrial da madeira.

    Para efeito de anlise e adotando o conceito utilizado porvrias organizaes internacionais, a atividade florestal ser definidacomo a extrao de madeira para fins industriais e de gerao deenergia, excluindo-se os produtos no-madeireiros. A cadeia produ-tiva da madeira, conforme a Figura 1, contempla a produo demadeira para energia (carvo vegetal e lenha), serrados, painis epolpa para a produo de papel e outras finalidades. Neste trabalho,a nica polpa considerada ser a celulose utilizada para a fabricaode papel.

    De acordo com a Food and Agriculture Organization ofUnited Nations (FAO), em 1999, a produo mundial do setor florestalatingiu US$ 450 bilhes, sendo o setor de celulose e papel res-ponsvel por 62% desse valor. No Brasil, a atividade florestal degrande importncia, no s pela extensa cobertura de florestasexistente no Pas, mas tambm pela capacidade de gerao deemprego e renda do setor. Dados da Sociedade Brasileira de Silvi-

    BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n. 16, p. 3-30, set. 2002

    Introduo

    5

  • cultura (SBS) indicam que, em 2001, o PIB florestal brasileiro atingiuR$ 21 bilhes e as exportaes, US$ 4 bilhes, com a gerao de 2milhes de empregos diretos e indiretos (Tabela 1).

    A cobertura florestal do territrio brasileiro, associada sexcelentes condies edafoclimticas (solo e clima) para a silvicul-tura, confere ao Pas grandes vantagens comparativas para a ativi-dade florestal. Esses fatores, aliados ao desenvolvimento tecnolgi-co no plantio de florestas, transformam as vantagens naturais emcompetitividade real.

    Esse quadro favorvel, contudo, ameaado pelo iminentedficit de oferta interna de madeira, conhecido como apago flores-

    O Setor Florestal no Brasil e a Importncia do Reflorestamento6

    SERRADOS

    PAINIS

    POLPA HDF

    AglomeradosMDFChapas de fibraOSB

    Reconstitudos

    CompensadosLminasMadeira Slida

    Pastas de altorendimentoCelulose

    FINS INDUSTRIAIS

    TORAS DE MADEIRA

    Carvo Lenha

    COMBUSTVEL

    Figura 1Cadeia Produtiva da Madeira

    Tabela 1Brasil: Exportao de Produtos Florestais(Em US$ Milhes)PRODUTOS 1997 1998 1999 2000 2001

    Slidos de Madeira 1.130 967 1.275 1.361 1.349 Madeira Serrada 411 410 483 519 532 Painel de Compensado 264 134 345 374 360 Lminas 97 64 54 49 37 Chapa de Fibra Comprimida 79 64 56 54 62 Outros Produtos de Madeira 279 295 337 365 358Mveis 366 338 385 489 484Celulose 947 970 1.192 1.603 1.248Papel 966 924 901 941 942Total 3.409 3.199 3.753 4.394 4.023Fontes: Bracelpa, Abipa, Abimci e Abimovel.

  • tal, que atingir mais drasticamente as regies Sul e Sudeste e ossegmentos de serraria e laminao, incluindo a indstria moveleira.A indstria dessas regies j deslocou parte de seu abastecimentode matria-prima para as regies Centro-Oeste e Norte e para pasesdo Mercosul. Uma outra fonte de madeira tem sido, em pequenaescala, o excedente de reflorestamentos realizados pela indstria decelulose e papel.

    A situao no Sul/Sudeste/Nordeste diferenciada por tersido a cobertura florestal original dessas regies explorada exaus-to e por ter se reduzido o ritmo dos reflorestamentos. Na regioNorte, onde ainda h uma grande extenso de florestas nativas, oproblema que se coloca a explorao sustentvel dessas florestas,envolvendo proteo s espcies ameaadas, mtodos de explora-o menos invasivos e aumento de produtividade no processamentoindustrial.

    De acordo com o Ministrio do Meio Ambiente (MMA), apartir de 2004, parte da indstria brasileira processadora de madeirater obrigatoriamente que importar sua matria-prima principal. Oreflorestamento, fundamental para o crescimento e competitividadeda cadeia madeireira, teve sua expanso limitada pela ausncia defontes de financiamento adequadas, tendo se restringido, aps o fimdo Fundo de Incentivo Setorial (Fiset), em 1987, basicamente, sindstrias de celulose e papel, siderrgica e de painis de madeira.O BNDES figura, hoje, como a principal alternativa de financiamentopara o plantio de florestas de fins industriais.

    A formulao de estratgias e instrumentos que demapoio atividade florestal, enfrentando as questes relativas ao usodas florestas tropicais e do reflorestamento, tornaram-se cruciaispara a manuteno das vantagens competitivas do Brasil na cadeiaprodutiva da madeira. Nesse contexto, considera-se fundamental areunio de informaes sobre o setor florestal, objetivando identificara importncia do reflorestamento, o crescimento e a sustentabilidadedesse segmento.

    A cobertura florestal no mundo soma 3,9 bilhes dehectares, dos quais 47% correspondem s florestas tropicais, 33%s boreais, 11% s temperadas e 9% s subtropicais. Consideran-do-se a distribuio regional, Europa e Amrica do Sul concentram50% das florestas mundiais, sendo a outra metade dividida entrefrica, sia, Amrica do Norte e, com pequena participao no total,Oceania (Grfico 1).

    Dos 886 milhes de hectares que esto no continentelatino-americano, 61% encontram-se no Brasil, tornando o Pas osegundo em cobertura florestal no mundo, superado apenas pela

    BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n. 16, p. 3-30, set. 2002

    O PotencialFlorestalBrasileiro

    7

  • Rssia. Os principais ecossistemas existentes em territrio brasileiroso a Amaznia, a Caatinga, a Mata Atlntica, o Cerrado, o Pantanale os Campos Sulinos (Grfico 2). Desses, os que se encontrammenos preservados so a Mata Atlntica, cuja cobertura atual cor-responde a apenas 9% da original, e os Campos Sulinos, quepossuem apenas 10% de sua cobertura original. A Amaznia, alvofreqente de denncias de devastao, ainda possui 85% de cober-tura original.

    As regies Nordeste, Sul e Sudeste, onde esto concen-trados 85% da populao brasileira, foram as mais atingidas pordesflorestamentos provocados pelas necessidades de urbanizaoe crescimento econmico. Ocupadas originalmente pela Mata Atln-tica, pela Caatinga e pelos Campos Sulinos, atualmente, a vegetaonativa remanescente nessas regies est protegida, sendo a explo-rao legal restrita aos reflorestamentos.

    O Setor Florestal no Brasil e a Importncia do Reflorestamento8

    frica17% 23%

    14%Europa

    27%

    sia14%

    Oceania5%

    Amricado Norte

    Amricado Sul

    rea total: 3,9 bilhes/ha

    Grfico 1Distribuio Mundial da Cobertura Florestal

    Fonte: FAO.

    0

    150

    300

    450

    Milh

    es

    de h

    a

    Amaznia Cerrado MataAtlntica

    Caatinga CamposSulinos

    Pantanal

    Grfico 2Ecossistemas Brasileiros

    Fonte: MMA.

  • No Sul e Sudeste, as indstrias mais capitalizadas tminvestido recursos significativos na aquisio de florestas plantadas,de novas reas para reflorestamento e em novos plantios. No Nor-deste, a Caatinga continua sob ameaa constante, pois, apesar dasrestries legais, a baixa renda da populao, a ausncia de outrasfontes de energia, inclusive de reflorestamentos, em determinadaslocalidades, tornam a lenha a base da matriz energtica da regio.

    Em paralelo a esse quadro alarmante para as regiesonde se localiza a maior parte da populao e da atividade econ-mica brasileira, cerca de 48,5% do territrio nacional so cobertospor florestas. Com tal extenso de cobertura florestal, alm deposio estratgica nas questes ambientais globais, o Brasil pos-sui um grande potencial produtivo de produtos madeireiros e no-madeireiros.

    Dados do Ministrio de Meio Ambiente indicam que 69%(374,6 milhes de hectares) da cobertura florestal do territrio nacio-nal tm potencial produtivo. Essas florestas encontram-se em suamaior parte sob domnio privado, 67% do total, o que enseja anecessidade de um marco regulatrio consistente com a exploraoprodutiva e a preservao. As florestas privadas constituem-se,basicamente, de florestas nativas, mas existem 6,4 milhes dehectares de florestas plantadas.

    As reas pblicas, que somam 123,2 milhes de hectares,dividem-se em reservas extrativistas, florestas nacionais e reasindgenas, sendo estas ltimas correspondentes a 84% do total. Asflorestas pblicas so todas nativas.

    Correspondentes a 98% da cobertura florestal com poten-cial produtivo no Brasil, as florestas nativas constituem uma impor-tante fonte de gerao de renda e de empregos, se exploradas deforma sustentvel. A execuo de bons planos de manejo florestal,com consistncia econmica, ambiental e social, pode garantir oaumento da produo de madeira ao mesmo tempo em que seprotege a floresta de desmatamentos e ocupaes desordenadas.

    O manejo florestal sustentvel definido como a adminis-trao da floresta para obteno de benefcios econmicos e sociais,respeitando-se os mecanismos de sustentao do ecossistema.Essa atividade, desenvolvida em florestas nativas e no-homog-neas, implica a realizao de uma explorao planejada, aplicandotratamentos silviculturais floresta e com a extrao de espciespreviamente selecionadas. As experincias de manejo sustentveltm mostrado ser possvel:

    BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n. 16, p. 3-30, set. 2002

    Florestas Nativas

    9

  • aumentar a produtividade da extrao de madeira, reduzindo ociclo de corte e a rea necessria;

    preservar a biodiversidade, mantendo a qualidade da gua e doar; e

    gerar benefcios socioeconmicos.

    A etapa fundamental do manejo de florestas nativas arealizao do inventrio florestal, que identificar as espcies comvalor econmico presentes na rea a ser explorada, bem como suaimportncia relativa para a preservao do ecossistema. O inventrioidentificar, ainda, as condies sociais das comunidades presentesna floresta, permitindo que o plano de explorao no resulte emprejuzos de seu bem-estar.

    A partir do inventrio, traado um plano de exploraoque contemple a subdiviso da rea a ser explorada em lotes(talhes), os quais sero explorados em seqncia. Quando o ciclode explorao estiver completo, a extrao de madeira dever ocor-rer novamente no primeiro lote explorado, o qual dever ter seregenerado parcialmente. O manejo florestal pode ser acompanhadode enriquecimento da floresta, ou seja, de plantio de espciesdesejadas. Em geral, os planos de manejo de florestas nativas emexecuo no Brasil envolvem ciclos de explorao de 30 anos.

    A explorao sustentvel de florestas nativas importante,tambm, para a gerao de empregos, ocupando, segundo levanta-mento do Ministrio do Meio Ambiente, 20 pessoas/ha/ano. Deacordo com essa mesma fonte, os investimentos no primeiro ano daimplantao do manejo florestal esto estimados em R$ 300 porhectare, com capacidade de gerar, em mdia, 40 m3/ha de espciesnobres.

    Apesar dos incontestveis avanos na tecnologia de ma-nejo sustentvel de florestas nativas no Brasil, sua adoo aindaenvolve controvrsias. A legislao florestal vigente pouco claraquanto ao conceito de preservao e de uso sustentvel, em quepesem os esforos que o Ministrio do Meio Ambiente tem realizado,nos ltimos anos, para difundir a prtica de manejo.

    Paralelamente, observa-se que os sistemas de monitora-mento e controle da explorao florestal, principalmente na Amaz-nia, so ainda frgeis, de forma que a explorao predatria continuaa existir e a exercer uma concorrncia desleal com a atividadesustentvel. Uma outra questo importante relativa ao manejo flores-tal de florestas nativas, especialmente em reas privadas, a neces-sidade de uma grande quantidade de terras para que o ciclo deexplorao tenha viabilidade econmica.

    O Setor Florestal no Brasil e a Importncia do Reflorestamento10

  • A concesso de Florestas Nacionais (Flonas) para a explo-rao privada realizada de forma sustentvel poder ajudar na regula-o do uso das florestas nativas e na expanso da prtica do manejosustentvel. De acordo com o Plano Nacional de Florestas (PNF), essasflorestas representam atualmente apenas 1,6% do territrio da Amaz-nia Legal e seriam insuficientes para suprir a demanda de madeira emtora dessa regio. A expectativa, contudo, de que, com a implantaoe sucesso do sistema de concesses, seja possvel expandir as Flonasna Amaznia Legal em 50 milhes de hectares em 2010.

    Essa expanso associada a um melhor sistema de fiscali-zao sobre a explorao florestal tende a aumentar a oferta demadeira obtida de forma sustentvel e inibir a explorao predatria.A rentabilidade da atividade tambm aumentaria, uma vez que noseria necessria uma grande imobilizao de capital em terras. Osistema de concesses utilizado nos Estados Unidos, na Malsiae na Indonsia.

    O BNDES tem procurado estimular a adoo do manejosustentvel em florestas nativas e, em 2001, apoiou, pela primeiravez, um projeto de serraria na regio amaznica, no valor de R$ 9milhes, aprovado e acompanhado pelo Ibama e pelo rgo ambien-tal estadual. Foi exigida a certificao da cadeia de custdia dosprodutos da serraria, o que garantir que todo o processo de produ-o seja realizado em bases sustentveis.

    O Brasil situa-se entre os 10 maiores pases em florestasplantadas do mundo, contando com 6,4 milhes de hectares (Gr-fico 3). A maior parte da rea reflorestada existente no Pas formou-se nas dcadas de 1970 e 1980, quando da vigncia do Fiset. Esseinstrumento tornou possvel s empresas a execuo plantios deflorestas em larga escala, contando com um incentivo financeiro, umavez que poderiam abater integralmente do Imposto de Renda asimportncias comprovadamente aplicadas em reflorestamento, res-peitado o limite de 50% do imposto devido.

    O Fiset florestal representou, at sua extino em 1987,cerca de US$ 6 bilhes. O resultado obtido foi a expanso da reareflorestada brasileira em 6,2 milhes de hectares, correspondentea uma mdia anual de plantio de 312,6 mil hectares, segundo oextinto Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF). Ob-serva-se, portanto, que praticamente no existiam florestas planta-das no Brasil anteriormente ao Fiset, bem como uma expressivaindstria de base florestal.

    Atualmente, cerca de 80% (4,8 milhes de hectares) dasflorestas plantadas brasileiras so de pinus e eucalipto (Grfico 4).

    BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n. 16, p. 3-30, set. 2002

    FlorestasPlantadas

    11

  • O eucalipto (inserido na categoria das folhosas), principalmatria-prima do processo de produo da celulose de fibra curta,ocupava, em 2001, aproximadamente 3 milhes de hectares, locali-zados em sua maior parte na regio Sudeste e no Estado da Bahia.J o pinus (inserido na categoria das conferas), utilizado como insu-mo para a produo de celulose de fibra longa, painis de madeirae na indstria moveleira, entre outros, tem 76% de seu plantio nasregies Sul e Sudeste do Pas, onde o clima lhe mais favorvel.

    Liderada pelo setor de celulose e papel, a indstria consu-midora de madeira investiu de forma significativa em tecnologiaflorestal. Graas a esses investimentos, aliados aos esforos deinstituies de pesquisa e de universidades e s condies edafocli-mticas do territrio brasileiro, as florestas de pinus e de eucalipto

    O Setor Florestal no Brasil e a Importncia do Reflorestamento12

    Grfico 3Florestas Plantadas para Uso Industrial(Em %)

    Fonte: FAO.

    Pinus38%

    Eucalipto62%

    rea Total: 4,8 milhes/ha

    Grfico 4Brasil: Reflorestamentos Existentes 2000

    Fonte: SBS.

  • plantadas no Brasil apresentam rpido crescimento, excelente pro-dutividade e custos de implantao/manuteno em declnio.

    Atualmente, o corte raso de eucalipto para celulose ocorrecom 7 anos e o desbaste de pinus com o mesmo fim comea a ocorrerentre 9 e 10 anos. Para a indstria moveleira, esses prazos somaiores: a exigncia mnima de que o eucalipto tenha 12 anos e opinus, entre 15 e 18 anos, para que a tora possa ter bom aproveita-mento.

    possvel observar nos Grficos 5 e 6 que o diferencial deprodutividade das florestas brasileiras de folhosas, frente s euro-pias, muito significativo, evidenciando a adaptao dessa espcieao territrio brasileiro e o sucesso dos experimentos de melhoria

    BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n. 16, p. 3-30, set. 2002 13

    05

    1015202530

    Brasil frica doSul

    EUA (Sul) Portugal Sucia

    m/ha/ano

    Grfico 5Produtividade de Florestas de Folhosas

    Fonte: SBS.

    05

    1015

    2025

    Brasil NovaZelndia

    Chile EUA (Sul) Sucia Canad

    m/ha/ano

    Grfico 6Produtividade de Florestas de Conferas

    Fonte: SBS.

  • gentica. No caso das conferas, a produtividade brasileira tambm superior dos demais pases do mundo, mas a diferena no toacentuada, principalmente se comparada com a do Chile e a da NovaZelndia.

    A tecnologia que permite essa elevada produtividade foigerada principalmente pelo setor industrial e passada para ossilvicultores independentes atravs do fomento florestal. A indstriadoa mudas a produtores existentes ou potenciais, com o objetivo defomentar a expanso da atividade de plantio comercial de florestas.

    Essa iniciativa permite que parte da madeira consumida noprocesso industrial possa ser adquirida de terceiros, estimulando oaumento da oferta e a dinamizao do mercado de madeira, alm depermitir uma menor imobilizao de capital em terras por parte daindstria. O fomento florestal consiste, tambm, em uma oporentvel para pequenos e mdios produtores rurais, os quais podempraticar a silvicultura de forma exclusiva ou consorciada com outrosplantios, utilizando as reas menos favorveis agricultura tradicio-nal (relevos, por exemplo).

    Em resumo, os investimentos no plantio de florestas duran-te as dcadas de 1970 e 1980 tiveram como resultado:

    controle de pragas e doenas;

    definio e diversificao de material gentico e avano nasprticas de clonagem;

    elevao da produtividade entre 1970 e 1997, a produtividadepassou de 15 st/ha para 60 st/ha;

    reduo dos custos de implantao em mais de 50% entre 1970e 1997;

    adoo de prticas silviculturais ambientalmente corretas;

    incorporao da varivel impacto social nos projetos, contribuin-do para o desenvolvimento regional;

    disseminao da importncia do bom manejo florestal; criao de diversas pequenas e mdias empresas especializadas

    em atividades de silvicultura e de explorao de madeira;

    acmulo de reas de preservao de florestas nativas (preserva-o permanente e reserva legal) da ordem de 1,6 milhes dehectares; e

    banco gentico bastante completo das espcies de eucalipto epinus existentes no mundo, contando, inclusive, com material jextinto em suas reas de origem.

    O Setor Florestal no Brasil e a Importncia do Reflorestamento14

  • Um outro fator de grande importncia para a melhoria datecnologia de explorao das florestas plantadas e nativas foi aexigncia da certificao ISO 14001 e de bom manejo florestal.

    O crescimento dos movimentos ecolgicos em todo omundo trouxe enorme presso para a atividade florestal, tida comogrande vil do equilbrio ambiental. Sobretudo a explorao deflorestas tropicais tem sido associada, desde meados da dcadade 1970, extino de espcies, desmatamento e ameaa aospovos das florestas. O avano do conhecimento sobre o chamadoefeito estufa e os danos ambientais causados pela emisso decarbono, bem como as alteraes climticas detectadas nos ltimosanos, tornaram a proteo s florestas ainda mais relevante no

    BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n. 16, p. 3-30, set. 2002

    Certificao

    15

    0

    500

    1.000

    1.500

    2.000

    1970 1985 1997

    US$/ha

    Grfico 7Brasil: Evoluo dos Custos de Implantao de Florestas

    Fonte: SBS.

    0

    20

    40

    60

    1970 1980 1990 1997

    st/ha/ano

    Grfico 8Brasil: Evoluo da Produtividade Florestal

    Fonte: SBS.

  • debate mundial sobre o meio ambiente, uma vez que desempenhampapel fundamental para o equilbrio global.

    Como resultado, foi criado, em 1993, atravs de umaassociao de ambientalistas, indstrias processadoras de madeira,produtores florestais, populaes indgenas e grupos comunit-rios de 25 pases, um conselho de certificao florestal, o ForestStewardship Council (FSC), com o objetivo de auditar as prticas deexplorao florestal, com base em princpios ecolgicos, econmicose sociais. O FSC credencia auditores independentes em todos ospases do mundo para que esses executem o processo de certifica-o, que pode ser de trs tipos: manejo florestal, cadeia de custdiae certificao de grupos (consrcio de florestas com gesto nica).

    A busca pela certificao florestal aumentou medida quegrandes consumidores de madeira passaram a exigir o selo FSC.Os pases onde os grupos ambientalistas so mais fortes, comoAlemanha, Holanda e Reino Unido, so aqueles que maior exignciafazem quanto aos produtos certificados. Observa-se, no entanto,que, apesar das presses dos pases consumidores, ainda existempoucos protocolos de certificao e instituies certificadoras, e ovolume de madeira coberta pela certificao ainda pequeno: atjunho de 2002 havia 29,3 milhes de hectares de florestas certifica-das pelo FSC no mundo, dos quais 1,17 milho de hectares no Brasil.

    No Brasil, a presso mundial pela certificao teve grandeimpacto. Os produtores brasileiros enfrentam restries no mercadomundial, principalmente para aqueles de origem tropical, baseadasem acusaes de desmatamento da Amaznia, desrespeito s reasindgenas etc. Essas restries tm atingido, tambm, os produtosoriginrios das florestas plantadas, que, entre outras alegaes, soacusados de ameaar os ecossistemas e a biodiversidade.

    Em resposta a essas presses e visando manter a compe-titividade, produtores brasileiros tm buscado cada vez mais a certi-ficao florestal. Do total de reas florestais com selo FSC, 69%correspondem a florestas plantadas e 29% esto localizadas nasregies Norte e Centro-Oeste (onde h predominncia de florestastropicais). A predominncia de florestas plantadas entre as reasflorestais certificadas pode ser associada ao alto custo da certifica-o, o que impede que produtores menos capitalizados a adotem.

    O custo do processo de certificao um entrave expan-so da rea certificada no Brasil. Muitos produtores alegam, ainda,que a hegemonia do FSC distorce o sistema de certificao, uma vezque a instituio a nica a estabelecer regras sobre o que o bommanejo florestal. Alm disso, a pequena oferta de produtos certifi-cados tem provocado uma grande valorizao pode atingir 15% ,desse produto que, todavia, para a maior parte dos produtores

    O Setor Florestal no Brasil e a Importncia do Reflorestamento16

  • brasileiros, ainda no compensa a relao custo/benefcio do inves-timento.

    A percepo de que o selo FSC no pode ser a nicaalternativa para assegurar a sustentabilidade da atividade florestallevou outros pases do mundo a criarem seus prprios sistemas decertificao e a buscarem o reconhecimento internacional. Finlndia,Noruega, Sucia, Indonsia e Malsia so alguns dos pases queinvestem em uma certificao nacional, sendo que algumas dessasj so reconhecidas internacionalmente.

    O Brasil tambm tem caminhado nessa direo, atravs daestruturao de um sistema de certificao e criao de um selo demanejo florestal sustentvel, o Cerflor. Iniciativa das entidadesde classe ligadas produo, comercializao e consumo de produ-tos florestais, alm de universidades, instituies de pesquisa ergos governamentais, o Cerflor dever ser lanado no segundosemestre de 2002, com a seguinte estrutura:

    Inmetro Estabelece os critrios para credenciamento de organismosde certificao.ABNT Estabelece os princpios, critrios e indicadores do manejoflorestal e da cadeia de custdia.SCT Certificao Florestal Estabelece regras especficas para aoperacionalizao da certificao pelo organismo credenciado arealiz-la.

    PRINCPIOS, CRITRIOS E INDICADORES PARA PLANTAESFLORESTAIS

    ABNT/CEET - 00:001.39-001

    Princpio 1Cumprimento da lei 3 critrios e 11 indicadores

    Princpio 2Busca da sustentabilidade dos recursos florestais e racionalidade no usoa curto, mdio e longo prazos 4 critrios e 11 indicadores

    Princpio 3Zelo pela diversidade biolgica 6 critrios e 27 indicadores

    Princpio 4Respeito s guas, ao solo e ao ar 4 critrios e 24 indicadores

    Princpio 5Desenvolvimento ambiental, econmico e social das regies em que seinsere a atividade florestal 2 critrios e 14 indicadores

    Observe-se que vrias empresas brasileiras buscaram acertificao ISO 14001 para suas florestas, a qual garante o cumpri-mento de normas tcnicas de produo/explorao. Existem, atual-mente, cerca de 912 mil hectares de florestas em conformidade comessa norma, entre as quais esto as de propriedade das maiores

    BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n. 16, p. 3-30, set. 2002 17

  • empresas de celulose e papel. A maior parte dessas empresasinforma que aguarda o lanamento do Cerflor e seu reconhecimentointernacional para buscarem uma certificao abrangente comoaquela realizada pelo FSC.

    O consumo de madeira no Brasil foi estimado em 400milhes m3/ano pela SBS, em 2001. Desse total, 300 milhes dem3/ano referem-se ao consumo de florestas nativas e plantadas pa-ra todos os fins, e 100 milhes de m3/ano, a florestas plantadas parauso industrial (Grfico 9). As florestas nativas so utilizadas predo-minantemente nas serrarias, para laminao, fbricas de compensa-do e como lenha. J as florestas plantadas so utilizadas na produode celulose, madeira serrada, lminas, compensados, painis re-constitudos, carvo vegetal, lenha e na construo civil.

    Observe-se que a origem da madeira consumida distribui-se entre florestas nativas e plantadas de acordo com o segmento daindstria florestal. As indstrias de produtos de maior valor agregadoe que necessitam de maior homogeneidade da matria-prima utili-zam predominantemente madeira de reflorestamento. Tambm alocalizao um fator determinante para a origem da madeira,prevalecendo o consumo de florestas plantadas nas regies Sudestee Sul e o de florestas nativas, no Norte e Centro-Oeste.

    A produo de 6,3 milhes de toneladas de carvo vegetal,em 2000, consumiu aproximadamente 45,2 milhes de m3 de madei-ra, dos quais 74% tiveram origem em florestas plantadas. O segmen-to de lenha industrial tambm apresenta um expressivo consumo demadeira, cuja origem divide-se entre florestas nativas e plantadasquase que igualmente.

    O Setor Florestal no Brasil e a Importncia do Reflorestamento

    ProdutosFlorestais e

    Consumo deMadeira

    18

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    Celulose ePapel

    CarvoVegetal

    LenhaIndustrial

    Serrados Lminas eCompensados

    PainisReconstitudos

    F. Nativas F. Plantadas

    Milhes m

    Grfico 9Brasil: Consumo de Madeira em Toras

    Fonte: Bracelpa, Abracave, SBS, Abimci, STCP, Abipa.

  • Dados do ano 2000 apontam o segmento de serradoscomo aquele com maior consumo anual de madeira industrial emtoras cerca de 49 milhes de m3, dos quais 69% provm deflorestas nativas. A produo de serrados, no mesmo ano, totalizou23 milhes de m3, evidenciando um elevado coeficiente de perdasno processo produtivo. A madeira serrada produzida no Brasil consumida quase que integralmente pelo mercado interno, tendosido exportados apenas 1,8 milho de m3 (Grfico 10).

    A indstria de celulose e papel, no ano 2000, consumiu 32milhes de m3 de toras industriais, exclusivamente de florestasplantadas, para a produo de 7,5 milhes de toneladas de celulosee pastas e 7 milhes de toneladas de papel (Grfico 11). Naquelemesmo ano, a exportao de celulose foi de 2,9 milhes de toneladase o consumo aparente foi de 4,9 milhes de toneladas. As exporta-

    BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n. 16, p. 3-30, set. 2002 19

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000

    Produo Consumo

    Milhes de m

    Grfico 10Brasil: Evoluo da Produo e do Consumo de Serrados

    Fonte: SBS.

    2,0

    3,0

    4,0

    5,0

    6,0

    7,0

    8,0

    1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001

    Milhes de m

    Produo CeluloseProduo Papel

    Consumo CeluloseConsumo Papel

    Grfico 11Brasil: Evoluo da Produo e do Consumo de Celulose e Papel

    Fonte: Bracelpa.

  • es de papel totalizaram 1,2 milho de toneladas e o consumoaparente foi de 6,8 milhes de toneladas. Em valor, o segmento decelulose e papel exportou US$ 2,5 bilhes em valores absolutos eUS$ 1,3 bilho se descontadas as importaes.

    A produo de lminas e painis consumiu 11 milhes dem3 de toras industriais no ano 2000, dos quais 5 milhes correspon-dem aos painis reconstitudos (chapas de fibra, aglomerados,MDF/HDF e OSB), que utilizam exclusivamente matria-prima origi-nria de reflorestamentos (Grficos 12, 13 e 14). Os painis compen-sados apresentaram um acentuado declnio em seu consumo, noano 2000, provocado pela perda de mercado para o MDF e para oaglomerado. O crescimento da produo foi absorvido pelas expor-taes, uma vez que o produto brasileiro tem expressiva participaono mercado mundial.

    O Setor Florestal no Brasil e a Importncia do Reflorestamento20

    0

    500

    1.000

    1.500

    2.000

    2.500

    3.000

    1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001

    Produo

    Consumo

    Milm

    Grfico 12Brasil: Evoluo da Produo e do Consumo de Compensados

    Fonte: Abimci, STCP.

    400

    800

    1.200

    1.600

    2.000

    1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001

    Produo Consumo

    Milm

    Grfico 13Brasil: Evoluo da Produo e do Consumo de Aglomerados

    Fonte: Abipa.

  • A tendncia de produo e consumo de todos esses pro-dutos, com exceo do carvo vegetal e da chapa de fibra, de ele-vao. Principalmente os segmentos de celulose e papel e de painisreconstitudos apresentaro taxas de crescimento e de consumo demadeira elevadas nos prximos 10 anos, tendo em vista o aumentoda capacidade instalada nos primeiros anos da dcada de 2000.

    A produo de painis de madeira slida, especialmentede compensados tropicais, exigir, tambm, uma oferta crescente dematria-prima, porm de madeira nativa. Os pases asiticos, comdestaque para a Indonsia, esto reduzindo sua oferta desse produ-to, em razo do controle sobre a explorao predatria de matasnativas. Os produtores brasileiros de compensados tropicais, casoadotem a explorao sustentvel e modernizem suas estruturas deproduo, podero, portanto, aumentar sua participao no mercadomundial.

    De acordo com o Ministrio do Meio Ambiente, observadasas tendncias de crescimento de produo e consumo para cada umdesses produtos, as necessidades de reflorestamento no Brasil sode 630 mil hectares por ano, assim distribudos:

    lenha 80 mil ha/ano;

    madeira serrada 130 mil ha/ano;

    carvo vegetal 250 mil ha/ano; e

    celulose e papel 170 mil ha/ano.

    Observe-se que, mesmo com a tendncia de estabilizaono consumo e na produo, o carvo vegetal o produto florestalque exigir maior necessidade de novos plantios de florestas, devido

    BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n. 16, p. 3-30, set. 2002 21

    0100200300400500600700

    1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001

    Produo Consumo

    Milm

    Grfico 14Brasil: Evoluo da Produo e do Consumo de MDF

    Fonte: Abipa.

  • ao esgotamento dos macios prximos s indstrias consumidorase s exigncias cada vez mais restritivas utilizao de matasnativas, conforme a legislao florestal em vigor.

    De acordo com regulamentao do Cdigo Florestal brasi-leiro pelo Decreto 97.628/89, o consumo anual de carvo vegetalsuperior a 12 mil st/ano obriga o consumidor a manter florestasprprias destinadas ao seu suprimento, cuja explorao racional sejaequivalente totalidade de seu consumo.

    Visando atender s necessidades de implantao, explo-rao e conservao de florestas, foi lanado em 2000, atravs deDecreto do Sr. Presidente da Repblica, o Programa Nacionalde Florestas (PNF). Esse programa nasceu com a preocupao deinserir o planejamento do uso das florestas brasileiras no mbito doplanejamento macrorregional.

    Nesse sentido, o PNF foi elaborado com o objetivo deinserir a questo florestal no estudo dos eixos de desenvolvimentoe, consequentemente, no Plano Plurianual de Investimentos (PPA),discutido naquele mesmo ano. O PNF busca atender, tambm, sdemandas de desregulamentao e descentralizao na polticaflorestal.

    Esses objetivos esto explcitos na formulao do PNF,que prope:

    estimular o uso sustentvel de florestas nativas e plantadas;

    fomentar as atividades de reflorestamento, notadamente em pe-quenas propriedades rurais;

    recuperar reas de preservao permanente, de reserva legal ealteradas;

    apoiar as iniciativas econmicas e sociais das populaes tradi-cionais e indgenas que vivem nas florestas;

    reprimir desmatamentos ilegais e a extrao predatria de produ-tos e subprodutos florestais; e

    prevenir e conter queimadas e incndios florestais.

    O PNF se prope, ainda, a

    apoiar o desenvolvimento das indstrias de base florestale ampliar os mercados interno e externo de produtos esubprodutos, assim como valorizar os aspectos ambien-tais, sociais e econmicos dos servios e benefcios pro-

    O Setor Florestal no Brasil e a Importncia do Reflorestamento

    ProgramaNacional de

    Florestas

    22

  • porcionados pelas florestas pblicas e privadas e estimulara proteo da biodiversidade e dos ecossistemas. (Progra-ma Nacional de Florestas PNF. Braslia: MMA/SBF/Diflor,2000.)

    Observa-se, pois, que esse programa, se implementadoem todas as suas dimenses, pode representar um marco em termosde poltica florestal no Brasil, pois alia, de forma definitiva, preocupa-es econmicas, ambientais e sociais.

    A abrangncia dos objetivos do PNF enseja a articulaode todas as esferas de governo, alm de uma integrao intersetorialnas esferas pblicas e privadas. No governo federal, a criao doprograma foi acompanhada da criao de um Grupo de TrabalhoInterministerial que congrega os Ministrios da Agricultura, Trans-portes, Cincia e Tecnologia, Reforma Agrria e DesenvolvimentoComrcio e Indstria.

    Alguns resultados j podem ser atribudos a essa iniciativa:

    a instalao do Frum de Competitividade da Cadeia Madeira-M-veis, coordenado pelo Ministrio do Desenvolvimento, Indstria eComrcio;

    a criao do Cerflor, sob a coordenao do Ministrio da Cinciae Tecnologia, mas envolvendo, tambm, outros ministrios e ainiciativa privada;

    a criao do Pronaf-Florestal, em uma parceria do MMA com oMinistrio da Reforma Agrria, os ministrios da rea econmicae o BNDES; e

    a incluso da silvicultura no crdito rural, pelo Ministrio da Agri-cultura.

    A descentralizao na gesto do PNF tem provocado tam-bm bons resultados, uma vez que os estados vm aplicando recur-sos para diagnosticar sua situao florestal e implementar aes quecontribuam para solucionar os problemas identificados. O programaconta com recursos que so repassados aos estados para que sejamaplicados na gerao de emprego e renda.

    O Estado de Santa Catarina merece destaque pela criaode um programa de incentivo ao reflorestamento para pequenosprodutores rurais, que j beneficiou cerca de 14.000 famlias de 68%dos municpios do estado. Estima-se que j tenham sido plantados9.614 hectares. O programa consiste na concesso de recursos paraimplantao e custeio por quatro anos e na garantia de assistnciatcnica; os recursos so concedidos sob a forma de crdito e aamortizao ser feita em produto, ou seja, em madeira, em trspagamentos, aos 12, aos 16 e aos 21 anos.

    BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n. 16, p. 3-30, set. 2002 23

  • A grande questo que se coloca para o sucesso do PNF a necessidade de recursos para sua implantao. Na Tabela 2 soapresentadas as fontes de financiamento previstas no PNF.

    Os recursos previstos, contudo, no so suficientes paraque se atinjam as metas de reflorestamento e explorao sustentvelde florestas nativas e plantadas. Clculo do MMA estima emR$ 800,00 por hectare o custo do reflorestamento e em R$ 300,00por hectare, o custo do manejo florestal.

    Considerando a meta de implantao de 630 mil ha/ano deflorestas e de incorporao ao regime de produo sustentvelde 20,5 milhes de hectares em 10 anos, seriam necessrios, apro-ximadamente, R$ 1 bilho por ano de investimentos. Cabe, portanto,uma articulao dos setores produtivo, financeiro e governamentalpara a captao de recursos para a atividade florestal.

    O BNDES tem sido uma das principais fontes de financia-mento ao reflorestamento, atravs do apoio s unidades industriaisque possuem florestas prprias ou a empresas florestais que pos-suem contratos de fornecimento de longo prazo. Entre 1991 e 2001,o BNDES desembolsou cerca de US$ 435 milhes para o reflores-tamento (inclui reforma, implantao de viveiros e pesquisas flores-tais) de cerca de 528 mil hectares (Grfico 15).

    Esta linha, com prazo total de 10 anos para o eucalipto ede 12 anos para outras espcies, tem sido adequada para os setoresmais capitalizados e que necessitam de toras de menor dimetro,como celulose e papel e painis de madeira.

    O Setor Florestal no Brasil e a Importncia do Reflorestamento

    Financiamentodo PNF

    Indicativo deFontes para o

    PNF (junho/2002)

    24

    Tabela 2Indicativo de Fontes para o PNF (junho/2002)(Em R$ Milhes)FONTES VALOR

    PPA Florestal 71Fundo Setorial 100FNE Verde 100FNO, FCO, FNE, Finam e Finor 100Pronaf 90FNMA 4Doaes 20Recursos Privados 200Total 685Fonte: MMA.Notas: 1) FNE, FNO e FCO so os fundos constitucionais para as regies Nordeste,Norte e Centro-Oeste, respectivamente.2) FNMA o Fundo Nacional de Meio Ambiente.

  • Uma das potenciais fontes de recursos para o setorflorestal so os servios ambientais, em particular, a fixao decarbono, a proteo de reas de mananciais de gua, a conservaodas margens das hidrovias e a preservao da biodiversidade. Emtodo o mundo tm sido criados fundos de investimentos que aplicamrecursos em projetos florestais, visando ao retorno financeiro eambiental. Destacadamente na Europa Ocidental existem fundosgovernamentais e privados, alguns dos quais tm realizado aplica-es no Brasil.

    Atualmente os servios ambientais mais comercializadostm sido os relativos preservao e conservao. Existe umagrande expectativa, contudo, pela implementao do comrcio deemisses de carbono, previsto no Protocolo de Kyoto, que poderbeneficiar especificamente a implantao de novas florestas.

    O Protocolo de Kyoto (1997) acordo atravs do qual ospases desenvolvidos se comprometem a reduzir a emisso de gasesde efeito estufa , estabeleceu trs gases como os principais res-ponsveis pelas alteraes climticas do planeta: dixido de carbono(CO2), metano (CH4) e xido nitroso (N2O); seguidos de mais trscom importncia menor: hidrofluorcarbonos (HFCs), perfluoarcarbo-nos (PFCs) e hexafluoreto de enxofre (SF6). Entre eles, o volume deemisses de CO2 representa cerca de 65% do total de emisses degases de efeito estufa e o tempo de sua permanncia na atmosfera de cerca de 140 anos.

    Ao lado das fontes de emisses naturais desses gasesexistem aquelas ditas antrpicas, que decorrem das atividades hu-manas e que contribuem para acelerar as emisses desses gases,como a queima de combustveis fsseis (carvo, petrleo e gs

    BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n. 16, p. 3-30, set. 2002

    ServiosAmbientais

    25

    0

    20

    40

    60

    80

    1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001

    US$ Milhes

    Grfico 15Desembolsos do BNDES para Financiamento a Reflorestamento

    Fonte: BNDES.

  • natural) em usinas termoeltricas e indstrias, veculos em circulaoe sistemas domsticos de aquecimento. Tambm os reservatriosnaturais e os sumidouros, que so capazes de absorver o CO2 doar, so afetados pela ao do homem ao fazer queimadas e desma-tamentos.

    A intensificao do efeito estufa, a partir do advento darevoluo industrial, responsvel por acelerar o aquecimento glo-bal, gerando mudanas no clima do planeta que causam, entreoutros: o derretimento de geleiras e calotas polares, a elevao donvel dos oceanos, mudanas no regime de chuvas e ventos, inten-sificao do processo de desertificao e alteraes de fenmenoscomo furaces, tempestades tropicais etc.

    O Protocolo de Kyoto separou os pases do mundo em doisgrupos: os do Anexo I que compreendem os pases pertencentes Organizao para a Cooperao e Desenvolvimento Econmico(OCDE), Unio Econmica Europia e s antigas repblicas socia-listas da Unio Sovitica , e um outro, que incorpora os demaispases no listados no Anexo I.

    Tomando por base o ano de 1990, as emisses de CO2devido queima de combustveis fsseis e para a fabricao decimento dos pases listados no Anexo I representavam 63% dasemisses mundiais, enquanto sua populao era de 25% da popu-lao mundial. J o outro grupo de pases, com 37% das emisses,detinha uma populao correspondente a 75% da populao global.

    No Protocolo de Kyoto os pases do Anexo I acordaramque, no horizonte de 2008 a 2012, iro reduzir suas emisses deCO2, metano e xido nitroso em 5,2% tomando como base os nveisde 1990. Para os demais gases, os nveis tomados como padro soos de 1995. Foram estabelecidos alguns mecanismos de flexibiliza-o para uso no cumprimento dos compromissos de reduo, quaissejam:

    Comrcio de Emisses (international emissions trading);

    Implementao Conjunta (joint implementation);

    Bolhas (bubble); e

    Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (clean development me-chanism) MDL.

    Os mecanismos de flexibilizao induzem criao de ummercado para crditos de carbono cujos tamanho e potencial aindano tm limites precisos. No mbito do MDL sero usados osCertificados de Reduo de Emisses (Certified Emissions Reduc-tions CERs).

    O Setor Florestal no Brasil e a Importncia do Reflorestamento26

  • Uma estratgia para seqestro de carbono no mbito doMDL atravs de projetos florestais (florestamento e refloresta-mento), tendo como origem as Florestas de Kyoto.

    As florestas fixam carbono durante seu crescimento arma-zenando-o como constituinte de suas partes. E as florestas plantadaso fazem mais eficientemente j que so mantidas em p no seuperodo de maior crescimento, quando, alm do carbono usado parase alimentar, elas fixam a substncia na forma de madeira. Nasrvores adultas existe um equilbrio entre a quantidade de carbonoconsumido durante a fotossntese e o liberado pela respirao.

    O Brasil apresenta vantagens comparativas na exploraode florestas plantadas para a produo de celulose, carvo, madeiraserrada e painis de madeira, empregando tecnologia avanada decultivo, manejo e explorao, alm da curta rotao desses macios.

    Em 2000, segundo a SBS (Sociedade Brasileira de Silvi-cultura), os produtos florestais produzidos a partir do corte de 106milhes de m3 de florestas plantadas no Pas continham 21 milhesde toneladas de carbono. Essa entidade estima que sejam plantados200 mil hectares anualmente.

    O Protocolo de Kyoto foi aberto para ratificao em16/03/1998 e entrar em vigor 90 dias aps ser confirmado por, pelomenos, 55 pases que participaram da Conveno que o instituiu,englobando os pases do Anexo I que contabilizem pelo menos 55%das emisses totais (desse Anexo) de CO2 em 1990. At agora jfoi assinado pelos pases da Unio Europia, Brasil e outros. necessrio que Rssia e Japo tambm o ratifiquem para que possaentrar em vigor, j que Estados Unidos, Canad e Austrlia seposicionaram contra.

    BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n. 16, p. 3-30, set. 2002 27

    Tabela 3Produditividade Mdia de Florestas e Carbono FixadoPASES PRODUTIVIDADE

    (m3/ha/ano)CARBONO FIXADO

    (t C/ha/ano)FolhosasBrasil 30 9,2frica do Sul 18 4,4Estados Unidos (Sul) 15 3,5Portugal 12 2,9Sucia 5,5 1,4ConferasBrasil 25 7,0Chile 22 5,4Estados Unidos (Sul) 10 2,5Sucia 3,5 0,8Canad 2,5 0,6Fontes: FBDS e SBS.

  • Neste artigo buscou-se caracterizar e dimensionar o setorflorestal brasileiro, com o objetivo de suscitar uma discusso sobreseu potencial de crescimento e contribuir para a formulao deestratgias de apoio ao seu desenvolvimento.

    Os dados apresentados evidenciaram que o Brasil detmavanada tecnologia no plantio de florestas e um imenso macioflorestal nativo com potencial de explorao econmica.

    Essas caractersticas permitiram que o Brasil tivesse omenor custo mundial de produo de celulose do mundo, ancoradono desenvolvimento de uma tecnologia florestal que garante altaprodutividade e baixo custo de sua matria-prima principal, a madeira.

    Outras indstrias, como a de painis de madeira, tambmse beneficiaram da tecnologia de plantio de florestas, expandindosua produo e, estimuladas pela elevada produtividade, internali-zando novas tecnologias industriais de processamento de madeira. o caso, por exemplo, da introduo de painis como o MDF e oOSB no mercado brasileiro.

    Geradoras de receitas e importantes na pauta de exporta-es do Brasil, as atividades de base florestal so importantestambm para o desenvolvimento regional. Os vrios produtos per-tencentes cadeia produtiva da madeira esto ligados a diferentesestruturas de produo, as quais requisitam padres diferenciadosde capital e mo-de-obra. Nesse sentido, a importncia do setorflorestal no est apenas na gerao de renda e de emprego emtermos agregados, mas tambm na irradiao dos benefcios de seucrescimento por todas as regies do Pas e por vrias camadassociais.

    A grande ameaa competitividade do setor florestal,contudo, a oferta de sua principal matria-prima, a madeira. Osprodutores que exigem florestas homogneas para a obteno dequalidade e produtividade adequadas a seus mercados tm inves-tido, ao longo dos ltimos 30 anos, no reflorestamento e no desen-volvimento de tecnologia florestal. Esse o caso das indstrias decelulose, papel e painis de madeira, especialmente reconstituda. Amaior parte das empresas produtoras desses produtos possui flores-tas prprias e tem seu abastecimento garantido pela reforma eexpanso de suas reas reflorestadas.

    J as serrarias e a produo de madeira para energiapossuem uma condio menos confortvel, uma vez que dependem,ainda, dos estoques de florestas plantadas durante o Fiset, que estna iminncia de se esgotar.

    A ausncia de um mercado florestal que desvincule aproduo de florestas da transformao industrial da madeira impe-

    O Setor Florestal no Brasil e a Importncia do Reflorestamento

    Concluses

    28

  • de que produtores rurais e investidores em geral vislumbrem aspossibilidades de retorno da aplicao de recursos no plantio deflorestas.

    Esse quadro afeta, de forma mais aguda, a indstria deprodutos florestais das regies Sul/Sudeste do Brasil, mas tambmdificulta a explorao das florestas nativas de forma profissionalizadae em bases sustentveis.

    Urge, portanto, que sejam formuladas, por agentes pbli-cos e privados, estratgias de fomento de um mercado florestal noBrasil. A observao de experincias de pases como Finlndia,Sucia, Canad, EUA, Portugal, Frana e Chile, que tm um setorflorestal desenvolvido e consolidado, pode ajudar nesse processo.Cabe, tambm, investigar a atuao dos fundos de investimentos ematividades florestais, verificando as bases de sua estrutura (inves-tidores, retorno etc.).

    BNDES/MINISTRIO DE CINCIA E TECNOLOGIA. Efeito Estufa e aConveno sobre Mudana do Clima. Rio de Janeiro, 1999.

    FAO. State of the World Forests, 2001. Rome: FAO Forestry, 2002.

    FINNISH FOREST INDUSTRIES FEDERATION. The Finnish Forest IndustryFacts and Figures. Helsinki: FFIF, 2001.

    INTERNATIONAL TROPICAL TIMBER ORGANIZATION. Annual Review andAssessment of the World Timber Situation. Yokohama: ITTO,2001.

    MINISTRIO DO MEIO AMBIENTE. Programa Nacional de Florestas PNF. Braslia: MMA/SBF/DIFLOR, 2000.

    BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n. 16, p. 3-30, set. 2002

    RefernciasBibliogrficas

    29

  • 30