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Comunicado de Imprensa BÊNÇÃO E CONCERTO INAUGURAL DO GRANDE ÓRGÃO DA IGREJA DO COLÉGIO DO FUNCHAL TON KOOPMAN 23 de Novembro de 2008 às 21:00h Igreja do Colégio do Funchal Serviço à cultura, serviço à comunidade A inauguração do Grande Órgão da Igreja do Colégio marca um momento alto da cultura na Madeira. Concebido e executado como um projecto de raiz para o coro alto da igreja de São João Evangelista (Colégio), o novo órgão plenifica o trabalho de restauro que vem sendo feito no interior deste templo, tirando partido da excelente acústica das igrejas jesuítas barrocas do século XVII, de que esta é um magnífico exemplar. Com os seus mais de 1500 tubos e uma planificação tonal que o adapta para amplos repertórios de música de órgão antes e depois de Bach, a entrada em funcionamento do Grande Órgão da Igreja do Colégio permite introduzir uma significativa riqueza na oferta cultural existente na Região, deixando perspectivar não só a sua utilização regular no espaço próprio da liturgia, mas sobretudo por criar a possibilidade de uma programação de elevada qualidade neste âmbito da música erudita, com a criação de um Festival de Órgão e a vinda à Madeira dos maiores nomes nacionais e estrangeiros para concertos ao longo do ano. Projectado e executado pelo organeiro Dinarte Machado, que desde há anos tem vindo a recuperar importantes exemplares dos órgãos históricos da Madeira (séculos XVII a XIX), o Grande Órgão da Igreja do Colégio dispõe de uma vasta gama de recursos sonoros que o capacitam para outros repertórios de música antiga, também porque integra os conhecimentos resultantes da experiência acumulada de mais de vinte anos de trabalho de restauro daquele mestre, na área da organaria ibérica. Possa, assim, o Grande Órgão da Igreja do Colégio servir a causa da Beleza e da Grande Música, desde sempre tão intimamente associadas à vivência destes espaços pelas populações e ao brilho da alta cultura europeia, possibilitando também na Madeira a fruição nova e partilhada de uma cultura viva. João Henrique Silva (Director Regional dos Assuntos culturais)

BÊNÇÃO E CONCERTO INAUGURAL DO GRANDE · PDF fileantes e depois de Bach, numa forma de ouvir actual, ... harmónico mais baseado em sons fundamentais e menos nos sons resultantes

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Comunicado de Imprensa

BÊNÇÃO E CONCERTO INAUGURAL DO GRANDE ÓRGÃO

DA IGREJA DO COLÉGIO DO FUNCHAL TON KOOPMAN

23 de Novembro de 2008 às 21:00h

Igreja do Colégio do Funchal

Serviço à cultura, serviço à comunidade A inauguração do Grande Órgão da Igreja do Colégio marca um momento alto da cultura na Madeira. Concebido e executado como um projecto de raiz para o coro alto da igreja de São João Evangelista (Colégio), o novo órgão plenifica o trabalho de restauro que vem sendo feito no interior deste templo, tirando partido da excelente acústica das igrejas jesuítas barrocas do século XVII, de que esta é um magnífico exemplar. Com os seus mais de 1500 tubos e uma planificação tonal que o adapta para amplos repertórios de música de órgão antes e depois de Bach, a entrada em funcionamento do Grande Órgão da Igreja do Colégio permite introduzir uma significativa riqueza na oferta cultural existente na Região, deixando perspectivar não só a sua utilização regular no espaço próprio da liturgia, mas sobretudo por criar a possibilidade de uma programação de elevada qualidade neste âmbito da música erudita, com a criação de um Festival de Órgão e a vinda à Madeira dos maiores nomes nacionais e estrangeiros para concertos ao longo do ano. Projectado e executado pelo organeiro Dinarte Machado, que desde há anos tem vindo a recuperar importantes exemplares dos órgãos históricos da Madeira (séculos XVII a XIX), o Grande Órgão da Igreja do Colégio dispõe de uma vasta gama de recursos sonoros que o capacitam para outros repertórios de música antiga, também porque integra os conhecimentos resultantes da experiência acumulada de mais de vinte anos de trabalho de restauro daquele mestre, na área da organaria ibérica. Possa, assim, o Grande Órgão da Igreja do Colégio servir a causa da Beleza e da Grande Música, desde sempre tão intimamente associadas à vivência destes espaços pelas populações e ao brilho da alta cultura europeia, possibilitando também na Madeira a fruição nova e partilhada de uma cultura viva.

João Henrique Silva (Director Regional dos Assuntos culturais)

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Programa Anónimo Battalia famosa, em Dó Maior Pablo Bruna Tiento sobra la laetania delle Virgen, em Sol Menor Juan Cabanilles Tiento em Sol Menor Dieterich Buxtehude Prelúdio e Chaconne, em Dó Maior, BuxWV 137 Passacaglia em Ré Menor, BuxWV 161 Prelúdio de Coral «Wie schön leuchtet der Morgenstern», em Sol Maior, BuxWV 223 Fuga em Dó Maior, BuxWV 174 Prelúdio em Ré Maior, BuxWV 139 Prelúdio de Coral «Komm Heiliger Geist, Herre Gott», em Fá Maior, BuxWV 199 Johann Sebastian Bach Fantasia em Sol Maior, BWV 572 Prelúdio de Coral «Wachet auf, ruft uns die Stimme», em Mi bemol Maior, BWV 645 Prelúdio de Coral «Nun komm der Heiden Heiland», em Sol Menor, BWV 659 Fuga em Sol Menor, BWV 578 TON KOOPMAN

Ton Koopman nasceu em Zwolle (Países Baixos) em 1944. Depois de ter recebido uma educação clássica, estudou Órgão, Cravo e Musicologia em Amesterdão, sendo posteriormente laureado com o «Prix d’Excellence» em ambos os instrumentos. Desde o começo dos seus estudos musicais que se deixou fascinar pela autenticidade dos instrumentos e o seu estilo de execução, de acordo com as capacidades sonoras que os caracteriza. Isso levá-lo-ia a constituir, em 1969, graças a um subsídio, a sua primeira orquestra barroca. Em 1971, outra vez por sua iniciativa, viria a fundar a Amsterdam Baroque Orchestra e, em 1992, o Amsterdam Baroque Choir. As suas impressionantes actividades como solista, acompanhador e

maestro encontram-se documentadas através de um vasto número de LPs e CDs que gravou para etiquetas tão prestigiadas como a Erato, Teldec, Sony, Philips e Deutsche Grammophon, sem referir as que registou para a sua própria marca, a «Antoine Marchand», cuja distribuição se encontra a cargo da firma Challenge Records. Ao longo de 44 anos de carreira, apresentou-se nas mais importantes salas de espectáculo e festivais dos cinco continentes. Na qualidade de organista, já se deu a ouvir nos mais prestigiados instrumentos históricos da Europa, e, como cravista e maestro da Amsterdam Baroque Orchestra and Choir, tem sido convidado regularmente a actuar no Concertgebouw (Amesterdão), no Teatro dos Campos Elíseos (Paris), na Filarmonia de Munique, na Ópera Antiga de Frankfurt e no Lincoln Center e no Carnegie Hall (Nova Iorque), para além de outras salas de concerto em Viena, Londres, Berlim, Bruxelas, Madrid, Roma, Salzburg, Tóquio e Osaka.

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Entre 1994 e 2004, empenhou-se num projecto único, que foi o de dirigir e gravar todas as cantatas existentes de Johann Sebastian Bach, um trabalho de grande fôlego, o qual viria a obter o Prémio Alemão do Disco «Echo Klassik», o Prémio BBC 2008, o Prémio «Hector Berlioz» e uma nomeação para os Grammy (EUA) e para o Prémio Gramophone (Reino-Unido). Em 2002 recebeu um grau honorário pela Universidade de Utrecht (Países Baixos), em virtude do seu trabalho académico sobre as cantatas e paixões de J. S. Bach, e foi ainda galardoado com os prestigiosos prémios Silver Phonograph e VSCD Classical Music. Finalmente, em 2006, foi-lhe outorgada pela cidade de Leipzig a «Bach-Medaille». Recentemente, abraçou um novo projecto de grandes dimensões, que consiste na gravação integral da obra de Dieterich Buxtehude, um dos grandes inspiradores de J. S. Bach quando jovem. Esse trabalho será concluído em 2010, englobando um total de 30 CDs. Ton Koopman é actualmente presidente da International Dieterich Buxtehude Society. Da sua actividade como maestro convidado, importa realçar as suas actuações à frente de algumas das maiores orquestras da Europa, da América e do Japão, a saber, Orquestra de Câmara da Rádio dos Países Baixos, Orquestra do Concertgebouw de Amesterdão, DSO de Berlim, Orquestra da Tonhalle de Zurique, Orquestra da Radiodifusão da Baviera, Sinfónica de Boston, Sinfónica de Chicago, Orquestra Filarmónica da Rádio Francesa, Orquestra de Cleveland, Orquestra de Santa Cecília (Roma), Orquestra Filarmónica Alemã de Câmara e Sinfónica de Viena. Na próxima temporada, tem agendados concertos com a Filarmónica de Nova Iorque, com a DSO de Berlim, com a Orquestra da RAI de Turim, com a Filarmónica de Estocolmo e com a Orquestra da Tonhalle de Zurique. Devido ao grande sucesso que alcançou durante uma tournée que fez recentemente, foi nomeado Artista Residente da Orquestra de Cleveland até 2011. Enquanto investigador, há vários anos que se encontra a preparar, para a firma Breitkopf & Härtel, a edição completa dos concertos de Georg Friedrich Haendel para órgão, e publicou ultimamente o Messiah, deste compositor, e Das Jüngeste Gericht, de D. Buxtehude, ambas as obras com a chancela da editora Carus. Director artístico do festival francês Itinéraire Baroque (Périgord), Ton Koopman desempenha funções docentes no Real Conservatório de Haia (Países Baixos), onde é igualmente director da classe de Cravo, além das de professor na Universidade de Leiden (Países Baixos) e de membro honorário da Real Academia de Música de Londres. O INSTRUMENTO

O órgão aqui apresentado, que construí para a Igreja do Colégio, no Funchal, é um instrumento concebido dentro da linha da minha escola. Trata-se daquilo que eu entendo por um instrumento construído em Portugal, cuja escola se distingue das demais escolas de organaria dos outros países. Personalizar um instrumento não é fácil, nem na concepção nem na afirmação. Foi, acima de tudo,

a experiência retirada de mais de setenta restauros efectuados em Portugal e o conhecimento profundo da escola portuguesa de organaria que gerou em mim a confiança necessária a essa personalização. Não sou um fabricante de órgãos, mas sim um construtor que estudou em profundidade a especificidade da organaria portuguesa antiga e que procura compreender a realidade que nos envolve por meio da compreensão das necessidades dos organistas actuais, aprendendo com as suas inúmeras ideias, cujo processo, felizmente, tem sido evolutivo no âmbito do conhecimento recíproco. Sintetizando, tive tudo isto em conta e criei um órgão que tem por objectivo estar mais colocado, em termos sonoros e de recursos, para a execução de música de época, um pouco antes e depois de Bach, numa forma de ouvir actual, inserindo neste instrumento uma certa

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latinidade sonora que permite a execução de música antiga das escolas italiana, espanhola e portuguesa. De outra forma não teria aceitado construir um instrumento com estas dimensões. Um outro aspecto que pesou muito na concepção deste órgão foi, sem dúvida, o local a que se destina: a Igreja do Colégio, no Funchal. Trata-se de uma igreja de arquitectura típica dos colégios jesuítas, de uma só nave e de admirável amplitude, cuja acústica é bastante amena e exige na concepção do instrumento, especialmente nas medidas da tubaria, um cuidado muito especial e singular. Assim, toda a tubaria deste instrumento, talhada em medidas largas, soa com fundo, e cada registo emite uma sonoridade com personalidade própria, fazendo parte de um conjunto harmónico mais baseado em sons fundamentais e menos nos sons resultantes harmónicos. Deste modo, os mais de 1.500 tubos soarão em pleno e individualmente, fazendo ecoar melodias nesta magnífica Igreja do Colégio do Funchal. Outro aspecto tomado em conta foi o de criar um complemento ao panorama actual e local. Conhecedor da realidade organística da Madeira, percebi a necessidade de construir um instrumento mais indicado para a execução de música antiga, abrangendo uma época para a qual não se encontra um mais apropriado no conjunto dos 24 órgãos históricos existentes na Ilha. Também é um facto que a existência de um instrumento desta natureza vem proteger os instrumentos antigos restaurados de alguns anos a esta parte. A própria decisão de o colocar na Igreja do Colégio teve em conta, não só o espaço acústico, estético, etc., como também o facto de nele existir um órgão histórico, que está a ser restaurado neste momento. Este último foi concebido por António Xavier Machado e Cerveira, um dos mais importantes organeiros da época áurea da construção de órgãos em Portugal e o criador da escola portuguesa de organaria. Embora tenha sido desvirtuado pelas diversas intervenções feitas até ao presente, estamos a restaurar a totalidade deste pequeno instrumento com base em dados da sua origem. Findo o restauro, será novamente colocado na Igreja do Colégio, agora em baixo, como órgão de coro. Assim, em conjunto com o grande órgão novo, facultará, não só, um maior enriquecimento musical durante as liturgias como possibilitará também recitais a dois órgãos, o que no País é uma situação rara. São todos estes aspectos que dão origem a um projecto desta natureza, o qual, como obra de criação própria, será o número nove. Certamente que a minha obra não agradará a todos, mas o trabalho prossegue, encontrando-se já em fase avançada cinco outros instrumentos de menores dimensões, que em breve sairão do meu atelier.

Dinarte Machado Mafra, 5 de Outubro de 2008

Para mais informações: Direcção Regional dos Assuntos Culturais Telf: 291 211 830 www.culturede.com